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NEUROMARKETING AULA 1 Prof. Felipe Augusto Nasser Costa 2 CONVERSA INICIAL Compreender os conceitos iniciais da neurociência aplicada ao marketing e ao comportamento de consumo, atualmente, são primícias de ter sucesso nas estratégias de comunicação e vendas. Desde que podemos entender sobre a evolução do relacionamento entre empresas e consumidores, temos a área de vendas e de relacionamento interpessoal (com clientes) tentando desvendar os principais comportamentos em relação ao consumo, utilização, destinação e satisfação em relação ao produto ou serviço adquirido. Nesta introdução ao tema de neuromarketing, você terá o contato com um breve histórico do que é neuromarketing e quais as principais contextualizações, podendo diferenciar entre marketing e neuromarketing e saber como é a divisão comportamental do cérebro e sua evolução. Compreender os conceitos iniciais são fundamentais para que toda a temática desta incrível área possa ser aprofundada e estuda de forma a agregar aos novos negócios e aos produtos e serviços já comercializados em nossa sociedade. Esta aula está dividida em cinco temas principais, que são: • Breve histórico da neurociência e do marketing: o que é neuromarketing?; • Diferença entre marketing e neuromarketing; • A divisão trina do cérebro: o sistema reptiliano ou R-complex; • A divisão trina do cérebro: o sistema límbico; • A divisão trina do cérebro: neocórtex. As informações com as quais você terá contato não exaurem o tema, mas são um incentivo a novas pesquisas e ao aprofundamento. CONTEXTUALIZANDO Desde os tempos mais remotos, o ser humano tem se dedicado a estudar sua ancestralidade e entender a sua própria biologia, visando aperfeiçoar-se de maneira tal que possa diminuir os riscos de morte, aumentar as probabilidades de adaptação ambiental, estabelecer novos meios de relacionamento entre seus pares (da mesma espécie) e com outras biologias (seres vivos). Já imaginou compreender como as pessoas que mais ama pensam e reagem a cada palavra que você expressa a ela? Já teve momentos os quais 3 quis entrar no pensamento de alguém para saber o que esta pessoa iria fazer ou estava planejando? Já tentou adivinhar o que algumas pessoas iriam fazer somente olhando para elas e tentando descobrir quais as próximas ações? É neste intuito que os estudos da neurociência têm provocado mudanças significativas na maneira como vivemos e vemos nosso mundo, nossas ações, nossas responsabilidades, nossas atitudes, nossas relações e nossos sentimentos. E com este turbilhão de sentidos e emoções temos a interação das mídias off-line e on-line indubitavelmente interferindo no fornecimento das informações processadas por nossos cérebros e na influência comportamental por meio da persuasão cognitiva e do processo de sugestão cerebral. TEMA 1 – O SER HUMANO – UM ANIMAL (IR)RACIONAL – E SEU COMPORTAMENTO Há aproximadamente 14 bilhões de anos havia somente matéria e energia pairando pelo que podemos chamar de espaço, é o começo do universo que conhecemos ou que ainda estamos explorando para iniciar sua descoberta real. E nesta ordenação cronológica temos a formação do planeta Terra por volta de 4,5 bilhões de anos e os organismos vivos começaram a surgir somente há 3,8 bilhões de anos. Com a evolução das espécies (adaptações territoriais, modificações genéticas e miscigenação gênica), o último ancestral em comum entre humanos e chipanzés está há 6 milhões de anos de diferença conosco, com isto temos a evolução do gênero Homo, na África, por volta de 2,5 milhões de anos atrás. E de lá até hoje já tivemos inúmeras alterações nos quesitos de natureza, fauna, flora, modificações e mutações genéticas, evolução e extinção de espécies. O que torna interessante este processo evolutivo é o fato de a miscigenação genética que tivemos entre todos os nossos ancestrais, agregando diversos fatores de adaptabilidade aos mais variados fenômenos naturais que poderiam determinar a extinção de nossa espécie, pois somos muito novos se levarmos em consideração a história de vida na Terra. Assim, houve tantas modificações no ambiente terrestre que o processo evolutivo, além da alteração genética, determinou o mantimento das espécies que mais se adaptaram ao ambiente no qual estavam alocadas. Este fator de sobrevivência é uma das duas características básicas de qualquer animal, sendo o outro fator a reprodução. 4 O processo evolutivo da fauna, flora e reino animal tiveram profundas modificações com o decorrer dos milênios, tanto agregando novas espécies quanto extinguindo outras. Assim como os dinossauros já foram os animais dominantes, agora temos uma mistura preponderando de domínio em diversos biossistemas diferentes, todavia o homem coloca-se no patamar do animal com maior interação nos ecossistemas existentes, em razão de seu potencial de adaptabilidade e migração. 1.1 Breve histórico: neurociência e marketing. O que é neuromarketing? Quando pensamos na história humana, frequentemente fazemos a alusão que estamos no topo da cadeia alimentar, porém depende do ponto de vista este tipo de pensamento, visto que nem sempre fomos tão evoluídos e tão pouco conseguimos sobreviver mais do que 100 anos de idade, vide a expectativa de vida de nosso país. A importância de pensar no processo de ancestralidade e permanência de vários comportamentos nos faz remeter à necessidade de entender a evolução do mundo e do ser humano nos contextos da filogenia, história evolutiva da espécie, e da ontogenia, história evolutiva do indivíduo, assim podemos entender a afirmação de Harari (2011) com o relato de “muito antes de haver história, já havia seres humanos. Animais bastante similares aos humanos modernos surgiram por volta de 2,5 milhões de anos atrás. Mas, por incontáveis gerações, eles não se destacaram da miríade de outros organismos com os quais partilhavam seu habitat”. Porém, é muito comum concebermos a nós, humanos, como um animal separado dos demais animais, como se fossemos únicos, sem parentescos anteriores em nossa árvore genealógica mais longa que você possa imaginar. Felizmente não somos indissociáveis dos demais animais e tão pouco estamos órfãos de família ou gênero. Nossa família é numerosa, grande, extensa, chamada grandes primatas. Perceba, na imagem a seguir, um quadro da evolução dos humanos, ou seja, nossa evolução. Figura 1 – Evolução do ser humano 5 Fonte: Doodley, 2018. De acordo com Collins (2010, p. 167): A sequência de DNA (Ácido Desoxirribonucleico) de quaisquer indivíduos é idêntica em 99,6%, exceto no que tange às partes do mundo das quais vieram seus ancestrais. Comparados com o resto do reino animal, os humanos são extraordinariamente similares: muitas outras espécies possuem consideravelmente mais diversidade em suas sequências de DNA do que a nossa. A maioria das variações genéticas na espécie humana encontra-se presente dentro de populações geográficas. Somente cerca de 10% dessas diferenças são úteis para definir a que população alguém pertence. TEMA 2 – DIFERENÇAS ENTRE MARKETING E NEUROMARKETING Muito tem-se falado sobre esta linha de estudos, porém é preciso entender os conceitos básicos que estão por detrás deste termo neuromarketing, pois é a aplicação de duas áreas distintas com um mesmo objetivo – estudar o comportamento humano. Conforme a American Marketing Association (AMA, 2018) “marketing é a atividade, conjunto de instituições e processos para criar, comunicar, entregar e trocar ofertas que tenham valor para clientes, clientes, parceiros e a sociedade em geral”. De acordo com Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010), o marketing passou por evoluções significativas para a projeção e abertura de mercado por parte das empresas. Este amadurecimento de mercado por parte do marketingdeu-se de forma tal que podemos identificar na tabela a seguir. Tabela 1 – Comparação entre Marketing 1.0, 2.0 e 3.0 6 Marketing 1.0 Marketing centrado no produto Marketing 2.0 Marketing voltado para o consumidor Marketing 3.0 Marketing voltado para os valores Objetivo Vender produtos Satisfazer e reter os consumidores Fazer do mundo um lugar melhor Forças propulsoras Revolução Industrial Tecnologia da Informação Nova onda de tecnologia Como as empresas veem o mercado Compradores de massa, com necessidades físicas Consumidor inteligente, dotado de coração e mente Ser humano pleno, com coração, mente e espírito Conceito de Marketing Desenvolvimento de produto Diferenciação Valores Diretrizes de marketing da empresa Especificação do produto Posicionamento do produto e da empresa Missão, visão e valores da empresa Proposição de valor Funcional Funcional e emocional Funcional, emocional e espiritual Interação com consumidores Transação do tipo um para um Relacionamento um para um Colaboração um para muitos Fonte: Kotler; Kartajaya; Setiawan, 2010. Além disso, o marketing tradicional como conhecemos tem mudado constantemente, pois o marketing digital alterou o modelo de comunicação e relacionamento com consumidores, veja a tabela a seguir. Tabela 2 – Os papéis permutáveis do marketing tradicional e digital Fonte: Kotler; Kartajaya; Setiawan, 2017. 7 A permutação entre as diferentes áreas de interação com os consumidores propicia uma nova interação entre empresas e clientes, tornando a relação mais estreita, intimista e rápida. O marketing 4.0, no qual é identificado o relacionamento econômico digital com o consumidor, Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017) evidenciam: que o marketing deve se adaptar à natureza mutável dos caminhos do consumidor na economia digital. O papel dos profissionais de marketing é guiar os clientes por sua jornada desde o estágio de assimilação até se tornarem advogados (defensores ou embaixadores) da marca. Após este breve entendimento sobre o tão explanado marketing, podemos, então, entender o que realmente é neuromarketing. Para isso, vamos a alguns conceitos determinados por diversos autores de renome e mundialmente conhecidos. Conforme Roger Dooley (2018): Neuromarketing é a aplicação da neurociência ao marketing. O neuromarketing inclui o uso direto de imagens do cérebro, escaneamento ou outra tecnologia de medição de atividade cerebral para medir a resposta de um sujeito a produtos específicos, embalagens, publicidade ou outros elementos de marketing. Em alguns casos, as respostas cerebrais medidas por essas técnicas podem não ser conscientemente percebidas pelo sujeito; portanto, esses dados podem ser mais reveladores do que o autorrelato de pesquisas, grupos focais, etc. Mais geralmente, o neuromarketing também inclui o uso de pesquisas em neurociência no marketing. Por exemplo, usando ressonância magnética funcional ou outras técnicas, os pesquisadores podem descobrir que um determinado estímulo causa uma resposta consistente no cérebro dos participantes e que essa resposta está correlacionada com um comportamento desejado (por exemplo, tentar algo novo). Uma campanha de marketing que incorpore especificamente o estímulo que espera criar esse comportamento pode ser considerado como incorporando o neuromarketing, mesmo que nenhum teste físico de assuntos tenha sido feito para essa campanha”. Já Fisher, Chin e Klitzman (2010) contam que: O primeiro uso relatado da palavra neuromarketing parece estar em um comunicado de imprensa de junho de 2002 de uma firma de publicidade de Atlanta, a BrightHouse, anunciando a criação de uma divisão de negócios usando fMRI para pesquisa de marketing. Esta empresa rapidamente atraiu críticas por potenciais conflitos de interesse envolvendo a Emory University; a nova divisão de negócios da BrightHouse foi estabelecida pelo corpo docente da Emory, incluindo pelo menos um professor de psiquiatria, e os estudos de imagem usaram as instalações da Emory. O grupo cívico anti- publicidade Commercial Alert apresentou algumas das críticas mais contundentes a esse trabalho - por exemplo, a disseminação de “doenças relacionadas ao marketing” resultantes da promoção de empresas de junk food - e logo solicitaram ao Departamento Federal de Pesquisa Humana. Proteções e o Senado dos EUA para investigar 8 a pesquisa da BrightHouse. O site da BrightHouse Neurostrategies, como era chamado, foi rapidamente retirado e a nova empresa desapareceu da atenção do público. Muito antes desse tipo de trabalho adquirir seu neuro-prefixo, no entanto, e muito antes de a Emory University e a BrightHouse anunciarem sua parceria, as empresas patrocinaram pesquisas neurofisiológicas sobre temas de marketing - por exemplo, estudando as reações dos consumidores à programação televisiva com eletroencefalografia (EEG). De nota, quatro anos antes do termo neuromarketing ser cunhado, os professores Gerald Zaltman e Stephen Kosslyn, da Universidade de Harvard registrou uma patente para “Neuroimagem como ferramenta de marketing”; no entanto, Zaltman rapidamente mudou seu foco para a “Técnica de Elucidação da Metáfora Zaltman”, uma entrevista estruturada que não emprega tecnologia de imagem, e Kosslyn parece não estar envolvido no neuromarketing até 2008, quando se juntou ao conselho consultivo de uma empresa chamada NeuroFocus. Mais recentemente, pesquisadores propuseram definições conflitantes de neuromarketing, preferindo vê-lo como essencialmente um campo científico e não como um negócio. Especificamente, Lee e seus colegas definiram o neuromarketing como bolsa acadêmica: “um campo de estudo válido” e não simplesmente “a aplicação de técnicas de neuroimagem para vender produtos”. Algumas empresas que descrevem suas atividades como neuromarketing não publicaram seus resultados em pares. Revistas, no entanto, e seus esforços parecem contidos em grande parte dentro do setor privado. Assim, em contraste com Lee e seus colegas, Hubert e Kenning viram o neuromarketing como uma atividade comercial e não como um campo acadêmico voltado para a erudição. Eles propõem que o campo mais amplo da pesquisa do consumidor neurocientífico (ao que Lee e seus colegas se referem como neuromarketing) deveria ser rotulado de “neurociência do consumidor”, e eles definem o neuromarketing mais estreitamente como “a aplicação dessas descobertas no escopo da prática gerencial.” Uma comparação útil pode ser feita com a neuroeconomia, uma disciplina acadêmica que estuda vários aspectos da tomada de decisão econômica. Esse campo também atraiu a atenção recentemente e frequentemente usa tecnologia de imagem, mas é mais claramente uma disciplina acadêmica. Comentaristas recentes ecoam a distinção acima entre bolsa de estudos e aplicação, afirmando que a neuroeconomia deve ser considerada à parte de investigações específicas para fins de marketing. Neuroeconomia passou por um extenso desenvolvimento teórico como campo, e já produziu uma riqueza de evidências sobre a tomada de decisões em contextos do mundo real. Pesquisadores em neuroeconomia geralmente usam objetos comumente reconhecidos como produtos de consumo para estudar conceitos gerais como processamento sensorial, escolha e avaliação de perdas e recompensas, mas esses estudos não são feitos para uma determinada empresa ou aplicativo de marketing. Por exemplo, McClure e colegas examinaram as respostas dos sujeitos à Coca-Cola e Pepsi usando fMRI. Esse modelo foi escolhido para entender a percepção sensorial de símbolos culturais comuns, não para ajudar a Coca-Cola Company ou a PepsiCo em seu design de marketing. Mais amplamente, muita pesquisa em neurociência e psicologia é potencialmente útil para entender a escolha e a preferência, mas não é neuroeconomia (ou neuromarketing) em si. A comunidade de neuroeconomiaagora compreende mais de uma dúzia de centros de pesquisa de base universitária, uma sociedade científica e uma considerável literatura que inclui vários livros didáticos. Em contraste, os fundamentos acadêmicos do neuromarketing como um campo são difíceis de identificar. Não está claro no momento se o neuromarketing se qualifica como um campo acadêmico e, se isso acontece, o que o distingue da neuroeconomia. Encontramos apenas um punhado de relatórios acadêmicos sobre os resultados do 9 neuromarketing patrocinado pela indústria. Em 2002, cientistas da Universidade de Ulm, na Alemanha, apoiada pela Daimler Chrysler, publicou um relatório sobre a percepção visual de automóveis, 26 e cientistas da UCLA recebeu financiamento parcial da consultoria política FKF Research para analisar as reações neurais de republicanos registrados e Democratas às faces dos candidatos presidenciais. Curiosamente, algumas empresas também realizaram estudos de neuromarketing, mas não publicaram seu trabalho em periódicos revisados por pares. Por exemplo, pesquisadores do Laboratório de Neurociência Cognitiva Social da Caltech fizeram uma parceria com a Lieberman Research para ajudar os estúdios de Hollywood a selecionar trailers de filmes. Mas, além desses poucos casos, não está claro até que ponto o neuromarketing difundido é ou mesmo exatamente o que é. Assim, várias questões críticas permanecem: o neuromarketing envolve mais do que esse punhado de empresas? Como essas empresas se apresentam e o próprio neuromarketing? Até que ponto os profissionais médicos e acadêmicos estão envolvidos em seu trabalho? Quais alegações eles estão fazendo? Quais são as obrigações éticas dos profissionais da área médica, incluindo psiquiatras, em relação a essa nova prática? Para examinar esses temas, realizamos um estudo exploratório para captar a percepção do alcance, variedade e frequência das principais características das empresas de neuromarketing. Uma vez que uma quantidade cada vez maior de informações médicas está sendo oferecida pela Internet, decidimos examinar esses problemas por meio de sites de neuromarketing. Para Peruzzo (2014, p. 17), o neuromarketing possui o seguinte conceito: É a união dos ecossistemas, neurociência e marketing, com o objetivo de mensurar os estados mentais conscientes e inconscientes do consumidor, transformando esse conhecimento em bens de consumo que curem, provisoriamente, a insatisfação do cliente, gerando um estado de fidelidade circunstancial”. Para Pedro de Camargo (2013, p. 119), o termo neuromarketing é: O ramo daquela teoria (neuroeconomia) que, por enquanto, trata da pesquisa de comportamento do consumidor de propaganda, isto é, do estudo de como os anúncios, as marcas, as embalagens, as cores e vários outros fatores realmente influenciam as pessoas e até que ponto o fazem. Assim como a neuroeconomia, o neuromarketing se utiliza da neurologia como, por exemplo, a ressonância magnética funcional (fMRI), para estudar a localização das áreas estimuladas no cérebro humano e as respostas deste a uma informação de marketing. Então, podemos também determinar que neuromarketing pode ser considerado feridas que nunca se fecham, levando em consideração três aspectos importantes: cicatrizes da infância; replicação de comportamentos e escolhas; e repleção de sentimentos e anseios. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3152487/#R26 10 2.1 Cicatrizes da infância Toda cicatriz na pele remete a algo que você fez e deixou uma marca profunda nas diferentes faixas epiteliais. Essas marcas são, normalmente, para o resto de sua vida, assim como cicatrizes de cirurgias, por exemplo. O processo de “cicatrizes da infância” no que diz respeito às questões de aspectos do neuromarketing quer remeter ao processo de cristalização da memória (memória de longo prazo) na área cerebral chamada hipotálamo, localizada dentro da região do diencéfalo. Todo o processo de recordação ou memória que já tenha certo tempo de ocorrência nos permite inferir que esta memória é caracterizada como sendo de longo prazo e permeia as nossas recordações, propiciando o acesso de fragmentos ou partes ou memória inteira da ação daquele momento passado. Você por acaso se lembra do que estava fazendo no dia 11 de setembro de 2001? Lembra-se do que ocorreu nesse dia? E no ano de 2014? Caso não se lembre, em 2001 ocorreu o ataque terrorista às Torres Gêmeas na cidade de Nova Iorque e também ao Pentágono. Já em 2014 tivemos a copa do mundo no Brasil, mas provavelmente você já sabia disso. Essas recordações estão fixadas de maneira permanente, pois foram marcantes para sua vida naquele momento. Essas marcas de longo prazo fazem parte do processo de memória que condicionam nossos comportamentos, nossos sentidos, nossa sensação de medo, prazer, desgosto, injustiça, satisfação e desejo. 2.2 Replicação de comportamentos e escolhas Com base em experiências anteriores, tendemos a ter ações que possam nos manter dentro do processo de inserção social, psicológica, biológica e reprodutiva. Dessa maneira condicionamos nossas decisões de maneira que possamos também obter o máximo prazer e segurança possível objetivando duas destinações básicas: sobrevivência e reprodução. Quando se verifica que o meio está seguro (sobrevivência física e biológica), tendemos a nos movimentar conforme a manada, pois a replicação do comportamento é o espelhamento do neurônio, ou seja, é o processo de adequação neural que identifica e determina que algumas ações sejam simplesmente replicadas para que tenhamos o máximo de conforto cognitivo, consumindo a menor quantidade de energia corporal. 11 Um dos motivos pelos quais copiamos e depois replicamos comportamentos é que estamos o tempo todo tentando manter nossa aparência social e conjugal para que possamos ser aceitos na sociedade ou, como preferir, no bando. Esse aceite social determina nossas escolhas, visto que estamos constantemente num processo de interação com o meio e partimos do pressuposto da aprovação dos nossos pares. Um exemplo que podemos verificar constantemente é a questão de lojas em promoção, as quais mobilizam pessoas para compras. Os clientes passeiam pelas calçadas ou shoppings centers com sacolas da loja, demonstrando o poder de compra e incitando inconscientemente outras pessoas a passarem pela frente da loja e, pelo menos, olharem o que teria de tão benéfico para que tantas outras pessoas estejam consumindo. O que torna a aceitabilidade maior referente à loja, pois se uma massa de pessoas está a consumir na loja, significa para o “animal humano” que ali não representa perigo e que pode ser um lugar seguro de se estar. 2.1 Repleção de sentimentos e anseios O processo de amadurecimento dos sentimentos e ansiedades faz parte do ser humano como um aprendizado de evolução e concepção estrutural psicológica. A repleção dos sentimentos está intrinsicamente ligada às emoções, as quais determinam boa parte de nosso comportamento, visto que a influência destas de maneira mais forte ativa os batimentos cardíacos – maior aceleração de sangue na corrente sanguínea –, e intensifica as conexões sinápticas cerebrais. Toda vez que estamos intimamente ligados aos nossos sentimentos, sejam eles referidos em raiva, tristeza, medo, desprezo, nojo, felicidade ou surpresa, temos a experiência que nos permite realizar novas conexões sinápticas e permear nossas ações com base nas memórias emocionais e racionais. As memórias emocionais ligadas diretamente aos sentimentos, às emoções, às expectativas que temos no vetor de acionamento do sistema límbico ou mediano e do sistema reptiliano. Já as memórias racionais estão ligadas diretamente à memória de curto prazo, aquela que organizará a realidade percebida ou produzida pelo nosso cérebro. Nesse sentido, podemos destacar um trecho do filme Uma mentebrilhante, o qual relata uma história adaptada de John Nash, ganhador do prêmio 12 Nobel de economia no ano de 1994. Na parte final do filme, quando Nash é convidado para tomar um chá com um representante acadêmico, ao entrar na sala onde se situam diversos outros professores, Nash é abordado por outros professores lhe cumprimentando e lhe dando uma caneta como sinal de respeito, consideração e admiração. Esse efeito da caneta nos permite fazer a alusão dos sentimentos maduros na questão desse filme. A primeira caneta entregue era uma Montblanc, uma caneta de marca reconhecida mundialmente. Outro conceito mundialmente difundido e com grande repercussão nos meios de estudos, embora ainda não exaurida a possibilidade de alteração deste, foi publicado em 1990, pelo médico e neurocientista Paul Maclean, chamado de Teoria do Cérebro Trino ou pelo nome do livro The Triune Brain in evolution: Role a Paleocerebral functions, o qual contextualiza a divisão cerebral em três partes identificadas como sistema reptiliano – R-complex ou cérebro basal, sistema límbico ou das emoções e neocórtex, também identificado como processador de dados. TEMA 3 – A DIVISÃO TRINA DO CÉREBRO: SISTEMA REPTILIANO Basicamente, os animais possuem o cérebro reptiliano, uma área cerebral o qual compartilhamos com répteis e pássaros e nos faz manter o sistema de alerta e impulso (instintos básicos) ativos durante toda a vida. Dentro do sistema reptiliano, segundo a Teoria do Cérebro Trino, os gânglios estão vinculados a essa estrutura base, pois é ela quem está no controle de nossos padrões de comportamento inconsciente e de autopreservação, que garantem nossa sobrevivência e a de nossa espécie. O cérebro primitivo ou reptiliano também é encarregado de quatro premissas básicas de sobrevivência: • Alimentação; • Luta; • Fuga; • Reprodução. 13 TEMA 4 – A DIVISÃO TRINA DO CÉREBRO: SISTEMA LÍMBICO O sistema das emoções ou sistema límbico talvez seja a parte mais estudada dentro do sistema 1 – sistema determinado por ter proeminência de ser rápido, automático, impulsivo, associativo, emocional e inconsciente, traduzido por decisões com bases dicotômicas. Nesse sistema encontram-se algumas estruturas importantes para a manutenção da vida conforme figura a seguir. Figura 2 – Ilustração anatômica de áreas importantes do sistema límbico Algumas estruturas possuem fundamental importância, tais como: • Tálamo: classifica a informação do sistema sensorial e emocional, ligando ao sistema nervoso central. • Hipotálamo: controla a temperatura do corpo, produção de hormônios, os batimentos cardíacos fazendo relação com o sistema endócrino. Ainda regula o apetite, o sono, a temperatura corporal é responsável pela sensação de dor, quente ou frio e o desejo sexual. • Amígdala: responsável pelas respostas e memórias emocionais, em caráter especial a função como identificação do momento de perigo, estimulando o aumento da sensação de medo e aumento da frequência cardíaca pela ansiedade. Ela também permite que tenhamos o estímulo a três ações básicas frente ao perigo, as quais são: fugir, paralisar ou lutar. 14 Além das estruturas mencionadas anteriormente, é nesta área do cérebro que se processam as emoções, as quais podem ser isoladamente ou em conjunto da raiva, da tristeza, do medo, do desprezo, do nojo, da felicidade e/ou da surpresa. Vale ressaltar que a emoção da raiva é iniciada no sistema reptiliano, R-complex, e depois desencadeada nas demais áreas cerebrais, pois essa emoção está ligada diretamente às questões de sobrevivência e reprodução. Conforme Roxo et al. (2011), MacLean trouxe estudos efetivos em relação ao processo do sistema límbico, assim refere-se: MacLean postulou que a expressão de comportamentos sociais tem uma função central no desenvolvimento evolucionário do neocórtex. MacLean inicialmente considerou o sistema olfativo como não essencial para o desenvolvimento da espécie humana, apesar da ênfase dada por Broca à associação entre estruturas límbicas e olfativas. Ele entendeu que o Circuito de Papez representava um substrato para o comportamento emocional. MacLean também percebeu que as estruturas límbicas são estrategicamente exibidas entre as áreas responsáveis por funções somáticas e aquelas que envolvem o sistema nervoso visceral. Uma das ideias essenciais promulgados por MacLean foi que as experiências emocionais foram formados pela soma das percepções externas e sensações corporais internas. De fato, o sistema límbico também integra atividades autônomas, bem como fenômenos somáticos através do neocórtex, com suas projeções para o tálamo, mesencéfalo e medula espinhal. No entanto, uma “sobreposição extensa” entre essas estruturas na integração de esferas autonômicas e somáticas foi relatada. Ambas as reações das esferas autonômicas e somáticas resultam da estimulação elétrica e química localizada das estruturas límbicas. TEMA 5 – A DIVISÃO TRINA DO CÉREBRO: NEOCÓRTEX O neocórtex ou cérebro processador de informações é a maior parte estrutural do cérebro, sendo a área que se percebe visualmente ao olhar um cérebro, além de ocupar cerca de 80% da massa cerebral e conter 16 bilhões de neurônios. Como somos descendentes da família dos primatas, de acordo com Kaas (2013): Apesar de uma enorme variabilidade no tamanho absoluto do cérebro, e o tamanho do neocórtex, um padrão característico de organização de área foi encontrado em todos os primatas estudados. Números de áreas corticais, padrões de conexão e organização estrutural e funcional de áreas variam. No entanto, existe um conjunto de áreas corticais em todos os primatas, e algumas dessas áreas parecem ser exclusivas dos primatas. Toda a estrutura do neocórtex está ligada ao sistema 2 de características: devagar, consciente, reflexivo, deliberativo, analítico, racional. Conforme 15 Peruzzo (2014, p. 27), “o cérebro neocórtex regula as emoções do sistema límbico e é capaz de entender a linguagem formal e simbólica, cálculos e a própria criatividade”. Essa estrutura cerebral é dividida em lobos, os quais estão distribuídos por quatro grandes regiões: frontal, parietal, temporal e occipital. De acordo com Pradeep (2010, p. 52), “funções como visão, audição e linguagem falada estão distribuídas nessas regiões. Algumas regiões desempenham mais de uma função”, como percebe-se na figura a seguir: Figura 3 – Lobos cerebrais Assim, é possível entender, de maneira simplificada, as estruturas cerebrais constantes nos estudos nas áreas de neuromarketing e comportamento do consumidor. TROCANDO IDEIAS Imagine que você está dentro de uma sala de reuniões e precisa decidir sobre quais produtos deve manter no portfólio da indústria na qual é gestor e quais produtos precisam ser descontinuados. Os produtos analisados são batons de diferentes cores e linhas de comunicação (cores básicas, cores especiais vinculadas a artistas, cores com brilho e cores de tonalidades forte). A questão principal analisada em reunião estratégica é que as cores possuem uma tonalidade muito próxima uma das outras, confundindo os clientes e tendo um custo de fabricação alto. Alguns modelos de batons não têm um grande volume de vendas, porém sempre existe a busca por clientes. 16 Assuma um posicionamento de quais seriam os procedimentos a serem adotados na decisão dos produtos a serem descontinuados, observando as questões comportamentais de nossos estudos. NA PRÁTICA A empresa Olhos Vivos, atuante no ramo varejista de ótica, possui uma clientela fixa e que conhece a empresa desde que era apenas uma pequena porta de atendimento. Hoje, a Olhos Vivos possui uma loja de 150 m² e está localizada na mesma localização de sua fundação. A ótica recebe com certa frequência novos clientes, os quais não necessariamente adquirem um par de óculos ousolicitam algum serviço de manutenção ou confecção de lentes. Toda a equipe é treinada para atender a qualquer demanda de informações do cliente, ou seja, todos têm o mesmo conhecimento sobre todos os serviços e produtos da loja. Os clientes antigos apresentam um vínculo com a marca da ótica, com o proprietário (era quem sempre atendia no começo da ótica) e com o ambiente. A loja atualmente passou por uma reforma completa, objetivando manter o ambiente com percepção de mais arejado, livre para trafegar internamente e “clean”. Os clientes antigos trazem seus filhos e filhas para comprarem na loja, como uma passagem de gerações no consumo dos produtos da ótica, tendo assim uma fidelidade daqueles clientes que mantêm um relacionamento estreito com todos, todavia o que não acontece na mesma proporção com clientes novos e até mesmo com os filhos e filhas dos clientes antigos. A comunicação era sempre objetivando o produto, mostrando a qualidade de resistência, durabilidade e preço dos produtos, porém de maneira mais objetiva e sem a humanização da comunicação. A principal problemática neste contexto é: como fazer com que os novos clientes possam estar vinculados emocionalmente à ótica? Como poderiam ser planejadas as ações de marketing e comunicação da Olhos Vivos? FINALIZANDO A fundamentação e aplicação do neuromarketing permite aprimorar as técnicas de aumento de desempenho em comunicação, relacionamento e 17 vendas de qualquer empresa, visto que as análises comportamentais deveriam ser dadas de maneira a monitorar os indicadores biológicos e não somente racionais. O processo de estratégias mercadológicas voltadas a uma análise de massa, objetivando impactar o maior número possível de possíveis clientes com uma mesma estratégia estatística e racional faz com que o marketing atual tenha que se remodelar e buscar novas ferramentas e ambientes de comunicação para que o público impactado seja coerente com a capacidade de atendimento da empresa, todavia, ainda sim, a diferença entre volume de impactados pela comunicação em massa e o resultado da empresa é baixa se mantido um padrão percentual de retorno. Neste intuito, o neuromarketing vem a auxiliar nas estratégias mercadológicas buscando informações de reação e ativação comportamental por meio de dados de estimulação biológica, compondo diversos aspectos como frequência cardíaca, dilatação da pupila, sudorese da pele, ativação cerebral, variação térmica, liberação ou inibição de neurotransmissores, entre outros. Esses monitoramentos auxiliam na tomada de decisões estratégicas visando ao melhoramento das ações de propaganda, comunicação e marketing. 18 GLOSSÁRIO Commercial Alert: Projeto da organização Public Citizen (organização sem fins lucrativos) criado em 2011. A missão do Commercial Alert é manter a cultura comercial dentro de sua esfera adequada e impedir que ela explore as crianças e subverta os valores mais altos da família, comunidade, integridade ambiental e democracia estadunidense. DNA: Sigla que significa ácido desorribonucleico, que é uma molécula presente tanto no núcleo celular quanto nas mitocôndrias e nos cloroplastos, e que possui filamentos nos quais estão as informações genéticas. fMRI: Abreviação do termo em inglês functional Magnetic Resonance Imaging, é um conjunto de métodos de imagens desenvolvidos para demonstrar, medir e mapear as mudanças regionais do cérebro, de maneira não invasiva e segura. Homo: Homo significa “igual”, “semelhante”, porém é a determinação do gênero da espécie humana. Mídias off-line: composição de anúncios que não precisam da internet para serem visualizados, tais como anúncios na televisão, em outdoor, rádio, panfletos impressos ou qualquer outro meio Mídia on-line: conjunto de anúncios que se utilizam dos meios digitais e internet para impactar pessoas. Neuroeconomia: conjunto interdisciplinar de áreas, tais como neurociência, psicologia, biologia e economia, que estuda o processo de tomada de decisão econômica. Neuroimagem: conjunto de técnicas para monitorar imagens cerebrais por meio de resultados com fMRI ou eletroencefalograma. 19 REFERÊNCIAS AMA – American Marketing Association. Definition of Marketing. Disponível em: <https://www.ama.org/AboutAMA/Pages/Definition-of-Marketing.aspx>. Acesso em: 2 jul. 2018. HISTORY of life on Earth. BBC Nature. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/nature/history_of_the_earth>. Acesso em: 2 jul. 2018. CAMARGO, P. C. J. Comportamento do consumidor: biologia, anatomia e fisiologia do consumo. Ribeirão Preto: Novo Conceito, 2010. _____. Eu compro, sim! Mas a culpa é dos hormônios. Ribeirão Preto: Novo Conceito, 2013. _____. Neuromarketing: a nova pesquisa de mercado. Porto: Atlas, 2013. COLLINS, S. A linguagem da vida: o DNA e a revolução na sua saúde. São Paulo: Gente, 2010. DAWKINS, R. O gene egoísta. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. DOODLEY, R. Como influenciar a mente do consumidor. São Paulo: Campus, 2013. _____. What is neuromarketing? 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Esta aula está dividida em cinco temas principais: 1. Emoções; 2. Processo de tomada de decisão; 3. Memórias: curto e longo prazos; 4. Genética como fator de comportamento; 5. Influência da memética no dia a dia. As informações com que você terá contato não exaurem o tema, mas sim são um incentivo a novas pesquisas e ao aprofundamento. CONTEXTUALIZANDO O dia a dia de todo ser humano é repleto das mais variadas situações, as quais, muitas vezes, não são programadas ou planejadas, porém acabam por fazer parte do contexto diário e, na normalidade, o dia acaba bem. Assim, as nossas atitudes determinam nosso comportamento, e este determina as consequências dos fatos, pois interagimos de tal forma com o meio no qual estamos inseridos que somos capazes de alterar a percepção de realidade ou a ocorrência da vida. É a utilização das emoções, que nos tomam conta, que faz com que tenhamos maior ou menor intensidade de respostas para com os estímulos que recebemos, como alguém buzinando para você, ouvir um “muito obrigado” ou “por que você fez isso?”. O resultado de nossa convivência no dia é reflexo de toda nossa experiência anterior, pois é a composição de decisões tomadas com base nas experiências e memórias que nos mantém sobrevivendo todos os dias. Esse 3 comportamento de sobrevivência reflete a interação com o meio ambiente, no qual replicamos comportamentos e escolhas com objetivos como reprodução, convívio social e posição de status ou poder, ou seja, o poder da memética. TEMA 1 – EMOÇÕES No nosso dia a dia tendemos a tomar decisões de maneira inconsciente e influenciada por emoções, as quais necessitam ser estudadas para que tenhamos a melhor compreensão de sua aplicabilidade no que tange às principais estratégias de marketing, economia comportamental, vendas e gestão empresarial. Como já dito na nossa primeira aula, temos as seguintes emoções: • Raiva; • Tristeza; • Medo; • Desprezo; • Nojo; • Felicidade; • Surpresa. As emoções são de responsabilidade do sistema límbico, o qual controla e processa tais sensações perante nosso cérebro. Esta parte estrutural cerebral contém diversas áreas, as quais são de fundamental importância para o registro de memória, liberação de neurotransmissores e processamento e distribuição das ativações neurais emocionais. Tais ativações cerebrais possibilitam identificar uma região destinada a nos fazer sentir prazer denominada sistema de recompensa. Segundo Silva (2014, p. 149), “anatomicamente falando, o sistema de recompensa, também chamado de sistema mesolímbico dopaminérgico, corresponde à área tegmental ventral (ATV) e ao núcleo accumbens”. Segundo Esperidião-Antonio et al. (2008, p. 58): As emoções mais “primitivas” e bem estudadas pelos neurofisiologistas – com a finalidade de estabelecer suas relações com o funcionamento cerebral – são a sensação de recompensa (prazer, satisfação) e de punição (desgosto, aversão), tendo sido caracterizado, para cada uma delas, um circuito encefálico específico. “Centro de recompensa” está relacionado, principalmente, ao feixe prosencefálico medial – nos núcleos lateral e ventromedial do hipotálamo –, havendo conexões com o septo, a amígdala, algumas áreas do tálamo e os gânglios da base. Já o “centro de punição” é descrito com localização na área cinzenta 4 central que rodeia o aqueduto cerebral de Sylvius, no mesencéfalo, estendendo-se às zonas periventriculares do hipotálamo e tálamo, estando relacionado à amígdala e ao hipocampo e, também, às porções mediais do hipotálamo e às porções laterais da área tegmental do mesencéfalo. Tais áreas de interação emocional possuem conexão e interação por meio de feixes elebiotroquímicos, ou seja, por moléculas químicas chamadas de neurotransmissores. Assim, como colocado na primeira aula, temos três interações básicas no neuromarketing – cicatrizes da infância; replicação de comportamentos e escolhas; repleção de sentimentos e anseios. Para Mlodinow (2013, p. 216): as emoções, na perspectiva neojamesiana atual, são como percepções e memórias – reconstruídas a partir de dados à mão. Muitos desses dados vêm da mente inconsciente, à medida que ela processa estímulos ambientais captados por seus sentidos e cria uma resposta psicológica. O cérebro também emprega outros dados, como convicções e expectativas preexistentes e informações sobre as circunstâncias correntes. 1.1 Raiva A raiva é uma das emoções com maior predominância na percepção fisionômica de outros para com a pessoa raivosa, pois notadamente as microexpressões faciais são decodificadas pela leitura corporal que fazemos da pessoa, e nosso sistema 1 determina reações em prol da sobrevivência, uma vez que a raiva pode ser identificada como perigo ou estado de alerta e proteção. Os mamíferos possuem esta emoção de maneira primitiva, a qual determina o poder de sobrevivência frente aos perigos eminentes ou em ocorrência. Tal poder é denotado com o processo de luta ou fuga. A raiva, segundo Hendricks (2013), De acordo com a teoria do comportamento cognitivo, é atribuída a vários fatores, tais como: • Experiências passadas • Comportamento aprendido de outras pessoas • Predisposições genéticas • Falta de capacidade de resolução de problemas (Loo, 2005, para. 1). Todos nós sentimos isso, mais do que gostamos de admitir. Experimentar a raiva varia de pessoa para pessoa e nem todos lidam com a raiva da mesma forma. Há indivíduos que se irritaram com muita facilidade e há aqueles que raramente demonstram raiva. Algumas pessoas estão conscientes de sua raiva e sabem como controlá-la e lidar com ela. Por outro lado, há outros que não reconhecem os sinais de raiva e se encontram em uma situação desconfortável e muitas vezes desagradável. 5 A raiva é um compêndio de interações vivenciadas ou mesmo sugestionadas pelo nosso inconsciente para determinadas situações ou pessoas. A raiva possui variações de intensidade e de aplicação, tudo depende dos gatilhos emocionais e de interferência comportamental. Segundo Ekman (2011), uma das maiores autoridades em comportamento e psicologia quando o assunto é emoções e comportamento, a raiva possui variações que vão desde aborrecimento leve até fúria. Essa variação deve ser interpretada de maneira cautelosa, visto que a intermitência ou permanência da raiva pode ser gerada por diferentes vetores. Para compreender melhor a raiva, temos que entender que ela aciona diferentes áreas de nosso corpo, tais como hipotálamo, amígdala, coração, músculos etc. A raiva aciona o sistema nervoso simpático, aumentando a pressão arterial, acelera os batimentos cardíacos, estimula a produção de adrenalina e noradrenalina, e a respiração se intensifica. Assim, podemos identificar a face da raiva como, por exemplo, a figura a seguir: Figura 1 – Raiva Crédito: Ollyy/Shutterstock. Dessa maneira, Hendricks (2013) também afirma: O cérebro serve como centro de controle do nosso corpo. De acordo com Addotta (2006), a raiva vem da parte reptiliana do nosso corpo conhecida como amígdala. A amígdala é uma estrutura em forma de amêndoa localizada logo acima da glândula hipotálamo do cérebro. Temos duas amígdalas situadas a poucos centímetros de cada orelha. Consistindo de vários nervos que se conectam a várias partes do cérebro, como o neocórtex e o córtex visual, a amígdala forma uma parte importante do nosso sistema nervoso. [...] Quando a amígdala inicia a emoção da raiva, o córtex pré-frontal pode resultar em comportamento violento. 6 Então a amígdala é considerada a área de identificação do medo e do perigo iminente, ativando o sistema de alerta cerebral e as emoções, e possibilitandoque o cérebro tenha reações inconscientes rapidamente, antes que a parte do córtex pré-frontal seja estimulada e as ações conscientes sejam realizadas. 1.2 Tristeza O estado de melancolia, de estar triste, de ativação negativa tem vários acionadores que devem culminar com momentos específicos, sejam de influência física, visual, psicológica ou auditiva. O início do processo de tristeza pode ser dado como angústia, na qual há certo tipo de protesto psicológico e de pensamentos e é mais ativa. Na fase mais posterior inicia-se a tristeza, com suas variações de superficialidade ou profundidade. Nela a resignação e desesperança são mais concentradas, então a tristeza é mais passiva. Segundo Ekman (2011, p. 100): A tristeza é uma das emoções de mais longa duração. Após um período de angústia protestante, há, em geral, um período de tristeza resignada, em que a pessoa se sente totalmente desamparada. Em seguida, novamente, a angústia retorna, numa tentativa de recuperar a perda. Então volta a tristeza e, em seguida, angústia, repetidas vezes. Quando as emoções são suaves ou moderadas, podem durar poucos segundos ou alguns minutos, até outra emoção (ou nenhuma específica) ser sentida. Após um contínuo processo de tristeza, o ser humano passa pela resignação e pode sentir outras emoções em conjunto, como raiva e desprezo. Imagine a perda de um ente querido. Num primeiro momento, você sente a dor da perda, de não poder mais conviver com ele e tampouco escutar a voz dele. Posteriormente ao sentimento de perda, podemos ter o sentimento de raiva, se esse ente querido morreu em um acidente de trânsito ou assassinado; ressentimento, caso você sinta que poderia ter feito qualquer ação para impedir a morte; ou medo, pela ativação da amígdala cerebral, desde que a ação que gerou a morte represente um perigo iminente à sua vida. É possível identificar um rosto triste, conforme figura a seguir. 7 Figura 2 – Tristeza Crédito: Marcos Mesa Sam Wordle/Shutterstock. Assim, podemos concluir que a tristeza pode ser um dos estágios iniciais da ativação da raiva, pela ativação possível da ínsula, área cerebral responsável, de certa forma, pela interpretação de odores, sabores, sons e identificação de sentimentos de nojo, desprezo, dor, sensação de injustiça, culpa e outros. 1.3 Medo O medo é uma das emoções mais estudadas, pois a ativação desta emoção pode ser realizada em praticamente todos os animais. O medo é uma reação cerebral com foco, entre outros aspectos, na sobrevivência, tanto biológica quanto psicológica e social, e que permite ser identificada facilmente devido às respostas fisiológicas inconscientes, conforme é possível verificar na figura a seguir. Figura 3 – Medo Crédito: Traveliving/Shutterstock. 8 Esta emoção sempre foi crucial para a sobrevivência e perpetuação das espécies, pois o medo de predadores fez com que os animais – incluindo os seres humanos – procurassem maneiras pelas quais pudessem manter a si mesmos e sua prole seguros. Segundo Ekman (2011), o medo possui variações, as quais são determinadas por três fatores interligados e que possibilitam o entendimento do comportamento sob esta emoção. Os três fatores são: intensidade (gravidade), timing (tempo) e enfrentamento (fugir ou lutar). Com a emoção sendo ativada, nosso cérebro aciona diversas estruturas para criar e dar sentido ao medo, tais como: • Glândula Suprarrenal: glândula que faz parte do sistema endócrino. • Amígdala: área que organiza a parte emocional do cérebro e também identifica se a ameaça deve ser considerada ou não. • Hipocampo: área que a memória é cristalizada (armazenada). • Hipotálamo: local onde iniciam-se as respostas emocionais como luta e fuga. • Glândula Pituitária: também parte do sistema endócrino, atua no sistema de feedback, o qual controla as reações de estresse, humor e emoção. • Córtex Sensorial: área cerebral que recebe informações sensoriais. 1.4 Desprezo Assim como a surpresa, o desprezo vem sendo pouco estudado até o momento, pois também é difícil de ser identificado, visto que ele pode ser de cima para baixo ou de baixo para cima. Por exemplo, em uma situação envolvendo subordinado e superior. Podemos ter uma emoção de desprezo pelo subordinado, e o subordinado pode sentir desprezo por seu superior. Porém, esta é uma relação difícil de ser monitorada ou identificada, pois, por vezes, é menos estimulada do que outras emoções. O desprezo pode ocorrer quando há a observância de superioridade em algo familiar, com o qual se está contextualizado e acredita poder fazer melhor, mais rápido ou com melhor desenvoltura. O desprezo precisa ser compreendido a partir da ideia de que não é necessariamente ruim sentir esta emoção. Durante a ocorrência desta emoção, a pessoa não se sente mal ou triste, normalmente o estado emocional fica ativo 9 e positivo, porém depois podem haver variações no módulo emocional (positivo ou negativo). 1.5 Nojo Também conhecido como aversão, o nojo é uma emoção vinculada a algo desagradável, contaminante, asqueroso ou depreciativo. O nojo caracteriza-se como reação a algo ou a situação que possa ser uma ofensa biológica ou psicológica para o observador. Figura 4 – Nojo Crédito: Wayhome Studio/Shutterstock. Segundo Ekman (2011), o psicólogo Paul Rozin “descobriu que os gatilhos universais mais potentes são produtos corporais: fezes, vômito, urina, muco e sangue”. Provavelmente esta seja uma característica intrínseca a todos os seres humanos, porém com maior intensidade em alguns do que em outros, e se diferenciando também por faixa etária. As áreas que estão envolvidas diretamente com o nojo são a ínsula e o putâmen. Normalmente crianças possuem menos aversão a coisas ou situações que nos causam nojo do que jovens e adultos. A variação do entendimento cerebral referente aos estímulos para o nojo possui diferenças entre homens e mulheres, mas mais ainda entre crianças e adultos, pois a maturação cerebral é diferente. 10 1.6 Felicidade Embora o termo felicidade já remeta a algo positivo, é possível e interessante trocá-lo por alegria, pois esta é mais intensa do que aquela. A felicidade é um estado emocional e psicológico ligado ao sistema de recompensa cerebral. Segundo Kringelbach e Berridge (2010): Felicidade é, no entanto, um conceito delicado (Gilbert, 2006; Bloom, 2010). Uma maneira de abordá-la é seguir a percepção de Aristóteles de que a felicidade pode ser utilmente pensada como consistindo em dois aspectos fundamentais: hedonia (prazer) e eudaimonia (uma vida bem vivida). Na psicologia contemporânea, esses aspectos são geralmente referidos como prazer e significado, psicólogos propuseram recentemente adicionar um terceiro componente de envolvimento relacionado ao significado, envolvendo sentimentos de comprometimento e participação na vida (Seligman et al., 2005). A felicidade pode variar desde uma ação simples de satisfação, prazer, diversão, entusiasmo, alívio, excitação até êxtase, como é possível verificar na imagem a seguir. Figura 5 – Felicidade Crédito: Mimagephotography/Shutterstock. Todas essas possibilidades dependerão dos estímulos alocados para ativação desta emoção, conjuntamente com a liberação de neurotransmissores, como a dopamina e a serotonina. 11 1.7 Surpresa A emoção mais breve de todas, a surpresa, tende a durar poucos segundos, pois refere-se a fato não aguardado por nosso cérebro. Posteriormente ao sentimento de surpresa, iniciamos o processo de racionalização e o sentimento se modifica. A surpresa pode ser boa ou ruim, e não necessariamente sempre terá o mesmo sentido ou sensação. Confira na figura a seguir uma expressão de surpresa. Figura 6 – Surpresa Crédito: Wayhome Studio/Shutterstock. Apesar de alguns pesquisadores da área emocional nãoconsiderarem a surpresa como uma emoção, por não ter um resultado emocional e simplesmente ser uma sensação com momento curtíssimo, apresentamos a surpresa como mais uma possibilidade de reter ou criar atenção nos outros, pois ela pode ser uma condutora para outras emoções. TEMA 2 – PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO Quando necessitamos tomar a decisão por determinadas escolhas ou caminhos a serem seguidos, temos sempre a intenção de escolher aquela com o melhor resultado, porém nem sempre nossa escolha é a mais assertiva. Há uma explicação para isso, porém a pergunta mais importante para este momento é: temos realmente livre arbítrio? Quando determinamos a medida de livre arbítrio ou liberdade de escolha de decisão, estamos imputando a racionalidade aos fatos e ao processamento de dados cerebrais de forma que tenhamos a maior quantidade possível de 12 informações para tomarmos uma decisão. Apesar de os dados estarem à disposição, nossas decisões são baseadas nas premissas emocionais, visto que as emoções influenciam diretamente o comportamento e a maneira como determinamos as análises desses dados em detrimento dos objetivos propostos. Segundo Klaric (2017, p. 96-97), nossa mente, como um todo, necessita de três possibilidades de comparação ou cenários para que faça a modelagem perceptiva e determine qual a melhor resolução do problema. Tais cenários levam em consideração os frutos do sistema reptiliano e sistema límbico, os quais determinam condições de decisão levando em consideração: • Aceitabilidade social; • Obtenção de poder e empoderamento; • Menor gasto energético cognitivo; • Funcionalidade; • Exclusividade. Além disso, temos as percepções sensoriais vinculadas aos nossos sentidos, os quais também influenciam diretamente as decisões. Exemplificando esta interação poderíamos ter, como denota Pradeep (2012): • Visão: quando percebemos algo belo, bonito segundo nossos conceitos, temos inconscientemente uma vibração positiva em relação ao produto. Digamos que queremos comprar um terno. Existem diversos modelos e estilos de cortes na área de confecções, porém aquele que mais lhe atrairá provavelmente será o de corte que enaltece seu corpo e lhe deixa mais elegante, pois todos querem ver pessoas bonitas e bem arrumadas. • Audição: o som percebido por nosso sistema auditivo nos remeterá a algo novo ou já conhecido, perigoso ou não. O processo sonoro é capaz de nos fazer movimentar no intuito de ficarmos mais calmos ou mais agitados – por exemplo, músicas calmas num volume baixo nos tranquilizam, já músicas mais agitadas e com batidas mais frenéticas tendem a nos fazer acelerar nossas decisões, nossos batimentos cardíacos, nossas ações. • Tato: talvez o sentido mais antigo de que podemos ter referência em nossas vidas, pois a real compreensão do mundo em que vivemos iniciou- se com o tocar. A liberação de neurotransmissores, como dopamina, dá- se também pelo tato, pois temos o maior órgão do corpo humano sendo tocado – a pele. A sensibilidade da pele nos permite ter sensações de 13 prazer, arrepio, angústia e até mesmo medo. Imagine você neste momento recebendo aquele abraço apertado e duradouro, com muito carinho e amor, um abraço de quem você ama e de quem está com saudades. Esse tocar das peles propiciará uma sensação de êxtase, permitindo o acionamento do sistema dopaminérgico e você ficará feliz. • Olfato: talvez um dos pontos menos abordados nas áreas de comunicação e vendas, o olfato possui menor dedicação cerebral do que os demais sentidos. O processo do olfato aciona o corpo amigdaloide (amígdala) e o hipocampo. Um perfume característico que sentíamos na infância e na fase adulta voltamos nos remete à época anterior, ou seja, viajamos no tempo e nos lembramos dos detalhes que fizeram aquele perfume ser especial. • Paladar: Um dos sentidos que nos permite entender se determinado alimento nos fará bem ou não. É o paladar o inibidor de coisas que podem prejudicar nossa sobrevivência, ou seja, ele nos permite criar resistência ou aversão a sabores que estão desalinhados com os interesses corporais. Acredito que se lembre do gosto de uma torta de maracujá. E o de um suco puro de limão? Depois de lembrar do limão puro, você deve ter sentido o gosto ácido dele na memória e na boca. Justamente o paladar provoca isso. Assim, a importância de compreender o processo de tomada de decisão é fato relevante na interação entre inconsciente, consciente, emoções, memória e sentidos. 2.1 Aceitabilidade social Segundo Camargo (2013), “o comportamento social não é exclusivamente humano, portanto não pode ser analisado de maneira separada dos fatores biológicos evolucionistas – é uma questão de sobrevivência”. Assim sendo, “a sociabilidade é uma plesiomorfia, o que significa dizer que é um traço que vem desde os primórdios da espécie e não é exclusivamente humana”. O processo de aceitabilidade social está ligado diretamente às funções básicas de sobrevivência e reprodução, visto que o ser humano, assim como os demais primatas, necessita viver em bandos ou sociedade. Somos seres sociáveis, com necessidades de compartilhamento. Num agrupamento, os 14 custos de busca alimentar, reprodução e segurança são menores, perfazendo assim uma das premissas básicas da necessidade humana – a segurança. Então, a tomada de decisões parte da premissa de uma escalada à hierarquia social, visando estar receptivo e ser aceitável numa sociedade na qual se convive e vive, mesmo que temporariamente. 2.2 Poder e empoderamento O processo de tomada de decisão é fonte de poder, pois quem determina o que irá ocorrer ou a decisão final possui a autoridade em relação aos demais; sendo assim, o processo hierárquico de liderança ou o papel de “macho (ou fêmea)-alfa” possibilita a manutenção da figura centralizadora e detentora das escolhas. O fato de haver a possibilidade de escolhermos o que será realizado e o que não deve ser feito nos permite ter a sensação de poderio sobre as demais pessoas. Isso libera neurotransmissores em nossa corrente sanguínea, como dopamina (prazer) e serotonina (felicidade). Esse processo dopaminérgico e serotoninérgico possibilita o autoempoderamento ou o empoderamento de outras pessoas, visando à tomada de decisões mais rápidas e assertivas. Todavia, temos sempre que lembrar que o processo de poder envolver todo o sistema emocional e impulsivo (reptiliano), pois diferentes áreas cerebrais são ativadas para diferentes tipos de poder. Em face disto, é preciso analisar que poder e empoderamento tornam nossas condições de tomada de decisão mais voltadas para aspectos emocionais ativados do que somente a racionalidade. 2.3 Menor gasto energético cognitivo Buscamos, de maneira inconsciente, o menor gasto energético para nosso corpo, visto que nosso processo de consumo de energia tem maior utilização no mantimento do corpo inteiro, sendo 20% desse gasto somente com o cérebro – é por este motivo que pensar cansa. O objetivo corporal é gastar a menor quantidade de energia possível tendo em vista a necessidade de mantimento da sobrevivência corporal e de todos os órgãos internos. Todavia, processar diferentes resoluções de problemas consome tempo, pensamento e energia, pois temos que avaliar as melhores 15 opções. Quanto mais escolhas temos que fazer, mais gastamos energia pensando. A nossa mente tende a nos fazer escolher opções que sejam mais simplificadas e mais corriqueiras, de tal forma que diminuam o tempo e os pensamentos gastos com a decisão. Por esse motivo buscamos atalhos nas atividades que realizamos e nas que são novas, pois é preciso diminuir o consumo de energia. O neurocientista David Eagleman (2017) nos remete uma experiência bem interessante quanto ao consumo de energia numa brincadeira que todos devemos conhecer – empilhamentode copos. Essa brincadeira consiste em empilhar copos de três maneiras diferentes no menor tempo possível. Se pensamos que as pessoas que fazem essa atividade competindo e com tempos extraordinariamente pequenos estão consumindo maior quantidade de energia no cérebro, estamos enganados, pois o processo repetitivo da ação já tornou conhecidos a novidade, as diversidades e todos os atalhos, então o cérebro desses competidores utiliza menos energia para processar as informações do meio e do caminho a ser percorrido para a finalização da brincadeira. Contrariamente, nós, não competidores, demoramos muito tempo para realizar as três tarefas de empilhamento de copos pois não estamos habituados a realizá-las. Assim, nosso cérebro gasta mais tempo e energia processando as informações e transmitindo as sinapses para que você faça o empilhamento. 2.4 Funcionalidade Quando determinamos a funcionalidade de algo, na verdade estamos querendo que o produto ou serviço nos seja de fácil manipulação ou compreensão e que tenha o menor gasto energético possível na sua utilização. Também visamos, inconscientemente, ao processo de funcionalidade em função direta à comodidade. A comodidade nos permite entender que, segundo Eagleman (2017), “existe um capricho que costuma atrapalhar a boa tomada de decisão: as opções que estão diante de nós tendem a receber valor mais alto do que aquelas que meramente simulamos”, ou seja, o processo de comodismo nos impulsiona a tomar decisões baseadas mais no presente do que num futuro projetado. Uma aplicação disto é a questão de empréstimos financeiros a juros extremamente altos. As pessoas que contraem esses empréstimos normalmente acabam por não processar racionalmente todas as informações e não realizam, 16 de forma automática, o planejamento futuro de pagamento, tampouco entendem as possíveis consequências do não pagamento dessa nova dívida (tecnicamente, com juros maiores). Porém, elas estão decidindo pela funcionalidade de aplicação desse dinheiro, seja para comprar um carro, para pagar uma cirurgia, para comprar uma casa, para realizar uma viagem ou qualquer outra coisa. O processo de decisão foi baseado na funcionalidade, na aplicação imediata – no presente, e não num planejamento a longo prazo. 2.5 Exclusividade Ser ou ter algo único é tão almejado quanto substancial no mundo corporativo, visto que nos é cobrado, o tempo todo, que tenhamos um desempenho superior ao dos demais pares de trabalho. Esse processo de exclusividade permite que tenhamos comportamentos e tomadas de decisão únicas, pois a realidade de cada pessoa é específica a ela. Nosso inconsciente busca padrões comportamentais, o que denota uma forte tendência a mantermos as mesmas linhas de decisão para diferentes situações devido ao conforto cognitivo (já mencionado anteriormente). Todavia, a busca pela exclusividade permite que tenhamos comportamentos distintos e maneiras difusas de tomar decisão. Por exemplo, as mulheres inconscientemente buscam estar vestidas com algo que ainda ninguém usou, sentindo-se únicas, especiais e exclusivas. A exclusividade gera também a percepção de valor agregado, refletindo-se em produtos e serviços com preços mais altos a serem cobrados de seus consumidores. TEMA 3 – MEMÓRIAS: CURTO E LONGO PRAZOS O cérebro possui uma limitação inicial de memorização de coisas, números, endereços etc., pois não possuímos o hábito de estar sempre em contato com as mesmas coisas. Porém, é possível melhorar o desempenho da memória trabalhando de forma ordenada e tendo um contato mais constante com aquilo que se quer memorizar. As nossas memórias são tão voláteis que precisamos repetir para lembrar. É comum para algumas pessoas memorizar números ou nomes de pessoas. Para elas é possível codificar esse processo de memorização por meio de associações comuns e de impacto emocional. Em sala de aula, com uma 17 quantidade grande de alunos, normalmente não conseguiremos decorar o nome de todos os nossos colegas, caso sejamos novos naquela turma. Porém, para melhorar o desempenho nesse ponto, podemos repetir o nome da pessoa e fazer uma referência ao visual dela, por exemplo: “David está com camiseta preta com estampa de rock e eu gosto de rock”. Essa é uma ação simples que permite uma melhoria contínua no processo de memorização, conforme denota Medina (2018). A memória possui duas divisões básicas, as quais são estudadas com mais veemência: memória de curto prazo e memória de longo prazo. Mesmo diferentes, as memórias não são exclusivamente armazenadas num único local no cérebro. As diferentes tipologias de memória estão associadas a conexões cerebrais distintas, então ativam diferentes áreas para diferentes recordações. Uma mesma memória pode ativar a área da ínsula – responsável, entre outros fatores, pela associação à dor e à sensação de injustiça –, e também pode ativar o sistema de recompensa positiva. 3.1 Memória de curto prazo Apesar de termos a capacidade de recordação de fatos extremamente antigos que vivenciamos, uma parte da memória – de curto prazo – está diretamente ligada à retenção da informação ou de dados de caráter temporário, especificadamente para conseguirmos finalizar uma tarefa que aciona diversas áreas cerebrais, mais proeminentemente o córtex pré-frontal, como se pode observar na figura a seguir: 18 Figura 7 – Memória de curto prazo e córtex pré-frontal Crédito: Alila Medical Media/Shutterstock. A região do córtex pré-frontal é altamente desenvolvida nos seres humanos, com estrutura fisicamente maior nas mulheres, segundo Schlaepfer et al. (1995). Então, estreitamente relacionado à memória de "trabalho", a memória de curto prazo é o tempo muito curto que alguém mantém algo em mente antes de descartá-lo ou transferi-lo para a memória de longo prazo. 3.2 Memória de longo prazo É o registro de informações ou dados em nossa memória de forma que tenhamos acesso àquilo que foi armazenado num período maior do que a memória de curto prazo, podendo ser uma memória que dura dias, meses, anos ou para o resto de sua vida. Todavia, as memórias de longo prazo surgem das memórias de curto prazo, ou seja, o cérebro transfere as informações de curto prazo para a área do hipocampo, e ali se cristaliza a memória de longo prazo. A memória de longo prazo pode ser dividida em: • Memória explícita: a memória explícita (ou memória declarativa) é um tipo de memória de longo prazo que requer um pensamento consciente. É o que a maioria das pessoas tem em mente quando pensa em uma memória. • Memória implícita: a memória implícita é uma forma importante de memória de longo prazo que não requer pensamento consciente. Isso 19 permite que você faça as coisas de cada vez. As memórias implícitas dependem dos gânglios da base e do cerebelo. Para que a memória se torne cristalizada, uma estratégia é torná-la um hábito contínuo, uma rotina. Segundo Duhigg (2012), o processo de criação da rotina torna a ação um hábito de custo energético baixo. Com a ativação da área de recompensa, o processo torna-se emocional e a cristalização desse hábito vira memória emocional, ativando também outras regiões cerebrais, como o sistema límbico. Então é possível compreender que as memórias de curto e longo prazo determinam nossos registros de vida de tal forma que influenciam nosso comportamento cotidiano. TEMA 4 – GENÉTICA COMO FATOR DE COMPORTAMENTO Quando falamos de genética, normalmente nos lembramos das ervilhas de Mendel e o processo de hereditariedade das ervilhas amarelas e verdes. Todavia, para entendermos com melhor acuracidade o processo da genética como fator de comportamento, temos que lembrar que somos compostos por cerca de 10 milhões de SNPS (polimorfismo de nucleotídeo único, em inglês single nucleotide polymorphism), que são pequenas variaçõesda sequência de DNA nas quais encontram-se as bases conhecidas como Adenina (A), Citosina (C), Guanina (G) e Timina (T). As variações gênicas permitem estabelecer determinadas probabilidades de comportamentos, tais como: • Liderança: pelo gene RS4950 possibilita-se saber se existe a questão intrínseca de alguém tornar-se líder e não seguidor de um líder, conforme pesquisa publicada em 2013 por Neve et al. • Felicidade: pelo gene 5-HTTLPR determina-se o grau de capacidade de transporte do neurotransmissor chamado serotonina através dos alelos, constatado por Goldman et al. (2010). Segundo Collins (2010), “geneticistas populacionais, observando as variações no genoma humano em todo o mundo, concluíram que todos os 6 bilhões de membros atuais da espécie Homo sapiens são descendentes de um conjunto comum de aproximadamente 10 mil ancestrais”. Então a frequência de certas variações gênicas pode ser diferente nas mais diversas localidades de nosso planeta. 20 O processo de herança genética permite estabelecer que determinadas probabilidades comportamentais estarão sendo mais ou menos influenciadas pelas mutações genéticas que temos em nossa constituição. Outro fator importante a ser levado em consideração é a influência do meio em que vivemos, pois ele pode determinar diferentes comportamentos e até mesmo auxiliar na modificação genética do indivíduo. 4.1 Genética comportamental Assim como Gregor Mendel provou a hereditariedade genética, nossos genes são capazes de perpetuar comportamentos e interações por meio da composição de nosso DNA. Embora a maior parte da população seja de pessoas que utilizam o lado direito do corpo para realizar suas atividades (por exemplo a mão, sendo chamados destros), uma outra parte populacional utiliza majoritariamente o lado esquerdo (são os canhotos), e isso provém dos genes herdados. Moalem (2016) argumenta que é preciso levar em consideração a expressividade variável do gene, a qual é “a medida do quanto alguém é afetado por uma mutação ou condição genética”. Outro ponto interessante detalhado por Moalem (2016, p. 197) é: Você está se perguntando quais as implicações médicas de ter nascido canhoto? Talvez você se surpreenda ao saber que foi descoberto que mulheres canhotas podem ter uma probabilidade duas ou mais vezes maior que as destras de desenvolver câncer de mama antes da menopausa. E alguns pesquisadores acreditam que esse efeito pode estar ligado à exposição a certas substâncias químicas quando ainda no útero, afetando os genes da pessoa e, dessa maneira, preparando o cenário tanto para a dominância da mão esquerda quanto para a suscetibilidade ao câncer, abrindo, assim, mais uma probabilidade de que a história de vida venha a modificar as predisposições inatas. As diversas descobertas no campo da genética comportamental têm permitido que neurocientistas e a sociedade entendam as influências gênicas e ambientais, as quais permeiam nossas ações, nossa biologia e nossa sobrevivência. Conforme relata Saudino (2005): [...] os fatores genéticos representam entre 20% e 60% da variância fenotípica da personalidade, o que significa que os 80% a 40% restantes da variância são atribuídos a fatores ambientais. Claramente, o ambiente é muito importante para o temperamento. No entanto, a pesquisa em genética comportamental sugere que os tipos de ambientes tradicionalmente considerados como influenciadores do comportamento infantil podem não funcionar da maneira como pensamos que eles fazem. Estudos com gêmeos e adoção constatam consistentemente que o ambiente familiar compartilhado representa apenas uma pequena parcela da variância na maioria das dimensões 21 de temperamento. [...] Os membros da família são semelhantes em temperamentos principalmente por causa do DNA compartilhado. Embora a genética seja um fator de extrema importância no quesito de herdabilidade comportamental, é o meio um dos principais influenciadores da ativação ou não de determinados comportamentos ou reações a certos tipos de influenciadores comportamentais. TEMA 5 – INFLUÊNCIA DA MEMÉTICA NO DIA A DIA Ao tomarmos alguma atitude em detrimento de um pensamento, por vezes, diferente do que teríamos feito algum tempo antes, estamos lidando com um comportamento influenciado pelo meio. Esse comportamento pode ser a replicação de falas, gestos, ações e resposta a algum fato que, ativa ou reativamente, permite-nos interagir com o meio no qual estamos inseridos. Esse processo de replicação comportamental chama-se meme. Meme é a replicação de informação, desde a ordem genética até habitual, e ações as quais nos permitem ter uma mesma estrutura comportamental. Diversos autores de renome internacional definem de maneiras diferentes o que é meme, mas o percursor deste termo foi Richard Dawkins (2007, p. 330-331) que, em seu livro O Gene Egoísta, cunhou o termo: Os memes devem ser considerados estruturas vivas, não apenas metafóricas, como também tecnicamente. Quando planta um meme fértil na minha mente, você literalmente parasita o meu cérebro, transformando-o num veículo de propagação do meme, da mesma maneira que um vírus pode parasitar o mecanismo genético de uma célula hospedeira. E isso não é apenas modo de dizer – o meme para “a crença na vida depois da morte”, por exemplo, é de fato efetuado fisicamente, milhões de vezes seguidas, como uma estrutura nos sistemas nervosos de seres humanos individuais espalhados por todo o mundo. Com isto, é possível entender que o organismo humano detém o comportamento tanto imediato quanto ancestral – ou seja, de poucos segundos atrás até séculos ou milênios – pois a mutabilidade comportamental está ligada também aos genes, os quais são "órgãos reprodutivos de organismos vivos, sujeito à seleção natural", segundo Morat. Segundo Collins (2010, p.209): O fato de meros 20 mil genes humanos contidos dentro de um manual de instruções de DNA com 3 bilhões de letras serem suficientes para especificar um órgão tão maravilhoso, continua a surpreender todos aqueles que pensam sobre isto um pouco mais profundamente. 22 A mutabilidade comportamental de determinados genes direciona o meme. Para Peruzzo (2014), "meme é qualquer informação que substitua, atualize ou insira um comportamento na mente humana". Tal comportamento pode ser replicável dependendo do processo memético do indivíduo. Sobre isto, Luckesi (2011, p. 220-221) relata: Muitas vezes compreendemos novos conceitos e discursamos sobre eles, mas nossa prática permanece atrelada a um modo comum, antigo e insatisfatório de agir, pois que, em grande parte de nossos dias de vida, somos guiados pela atuação do nosso inconsciente. Mudar hábitos é uma das condutas mais difíceis em nossa vida, uma vez que estão vinculados a crenças incrustadas profundamente em nosso inconsciente como resultado de anos e anos de vida num contexto a elas favorável. É como imaginar nossas ações no dia a dia, as quais tomam por base um mesmo procedimento para execução. Essa execução padronizada, de tanto ser repetida, após um tempo não precisa mais de tanta intensidade de processamento de decisão cerebral para ser concretizada, pois as conexões neurais estão fortalecidas pela repetitividade. É imaginar o processo de escovar os dentes para um adulto. Não pensamos em como deve ser feito todo o processo, pois de tanto o fazermos durante muitos anos já se tornou um hábito – uma memória cristalizada no hipotálamo com acesso fácil. Normalmente não paramos para pensar que devemos pegar o creme dental, desrosquear a tampa no sentido horário, colocar uma pequena quantidade em cima das cerdas da escova dental, inserir a escova dentro da boca e realizar movimentos circulares pressionando as cerdas contra os dentes, perfazendo toda a higiene bucal. TROCANDO IDEIAS A troca de experiências tanto profissionais quanto pessoais gera possibilidade denovas conexões das sinapses cerebrais e permite que tenhamos uma melhor qualidade no processo de tomada de decisão. Para podermos chegar a níveis mais complexos de decisão precisamos adentrar o mundo das complexidades e das novas experiências. Para isso, é preciso começar a questionar as nossas decisões automatizadas do dia a dia, então se sugere o diálogo com seus pares com objetivo de aprimorar os questionamentos a respeito das principais decisões empresariais e pessoais do dia a dia, tais como: 23 • Qual o melhor formato para fazer uma crítica a outra pessoa e ao processo de trabalho? • Como podemos manter nossas decisões intactas em relação a outras tantas opiniões divergentes e demasiadamente concretas? • Como se relacionar com pessoas que nos mantêm em um mau estado de humor? Como interpretar cada reação? Após a opinião de cada pessoa, sugere-se começar um questionamento para se chegar a uma única opinião sobre os pontos anteriores. NA PRÁTICA Resolva o caso abaixo por escrito, levando em consideração a variação que sentimos com cada emoção que temos, como tomamos as decisões com base no nosso histórico de vida e na influência do meio no qual estamos inseridos, e nossas memórias, recordações e experiências. Você é o(a) gestor(a) na área de marketing e responsável pela criação e pelo desenvolvimento de um novo produto na área de saúde. Após algum tempo de pesquisa de mercado identificando as principais situações ainda não resolvidas por seus concorrentes e pelo mercado em geral, você percebe uma oportunidade de novo produto para que seus clientes possam melhorar suas vidas. Ao apresenta-la para a diretoria da empresa, sugere-se prioridade no desenvolvimento do novo produto, porém é preciso pensar em diversas situações que englobam todo esse novo cenário para a sua empresa, tais como: • A empresa tem condições de fabricar internamente o produto? • A empresa possui caixa (dinheiro) para elaborar os moldes dos produtos antes de iniciar a fabricação? • Será que é mais vantajoso terceirizar a produção? • Temos espaço no galpão para estocagem desse novo produto? • A distribuição para as atacadistas e varejistas é viável? Eles saberão expor o produto de tal forma que seja um chamariz de vendas? • As estratégias de marketing da empresa podem contemplar esse novo produto na mesma linha de comunicação atual dos demais produtos? Após pensar e trabalhar arduamente em todos os quesitos, você se depara com a seguinte situação: 24 • O gerente de logística da empresa não gostou de ter que reformular toda a área de armazenagem por causa de um novo produto. • A equipe de vendas está ansiosa e fica lhe perguntando sobre quando poderão vender o novo produto e quais as condições comerciais que poderão ser ofertadas. • O departamento financeiro não se pronunciou sobre o produto, somente argumentou que tem condições de dinheiro em caixa para o pagamento aos fornecedores. • A diretoria da empresa inicia uma cobrança árdua de todas as atividades da área de marketing. Você, como gerente da área de marketing, percebe que os ânimos (percepções) estão muito diferentes para cada área de relacionamento interno. Como resolver essa discrepância de opiniões e sentimentos entre toda a empresa? FINALIZANDO Inevitavelmente, a maior parte de nosso comportamento será sempre baseada em diversos fatores que não controlamos de forma racional, tais como a influência de nosso humor no que fazemos, nossa disposição para concretizar algo e o fato de decidirmos por uma opção neste momento e posteriormente mudarmos de opinião, seja por influência de outras pessoas ou por causa do novo momento que vivemos. O processo de sobrevivência biológica, psicológica e social afeta diretamente nosso processo de tomada de decisões e também atua sobre nossas atenuações comportamentais por consequência de nossas emoções, pois agora estamos felizes por esta aula, mas depois ficaremos na expectativa pela próxima aula, e ao se concluir este tema ficaremos com a vontade de querer saber mais – e é neste momento que decidiremos se iremos aprofundar nosso conteúdo ou se nos limitaremos ao que nos foi fornecido, podendo criar uma frustração pela necessidade posterior de conhecimento. Jamais saberemos o futuro, mas podemos mudar o presente buscando mais conteúdo. Esta simplificação dos fatos permite entender que somos influenciados diariamente pelas nossas aptidões naturais e herdadas pela genética de nossos pais, que nos permitem ter a probabilidade de determinados comportamentos. 25 Da mesma maneira, compreendemos até a questão de sofrermos as pressões de mudarmos de opinião, pensamentos e decisões em detrimento de outra pessoa ou de uma determinada situação: trata-se de um aglomerado de resultados das decisões atuais que forem influenciadas pelas nossas memórias de curto e longo prazo. 26 REFERÊNCIAS AMARGO, P. C. J. Eu compro, sim! Mas a culpa é dos hormônios. Ribeirão Preto: Novo Conceito, 2013. COLLINS, F. S. A linguagem da vida: o DNA e a revolução na sua saúde. São Paulo: Gente, 2010. DAWKINS, R. O gene egoísta. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. DUHIGG, C. O poder do hábito: por que fazemos o que fazemos na vida e nos negócios. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012 EAGLEMAN, D. Cérebro: uma biografia. Rio de Janeiro: Rocco, 2017. 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Método neuroconexão As informações com que você terá contato não exaurem os temas, mas sim são um incentivo a novas pesquisas e ao aprofundamento dos estudos. CONTEXTUALIZANDO Pesquisar sempre é um desafio para qualquer empresa que vise entender seu consumidor e a interação entre seus vendedores e os compradores. Não necessariamente as empresas possuem contato direto ao final da cadeia de consumo, pois diversos são os produtos e serviços que interagem com o processo, com o meio e com o comprador, e não estão diretamente à vista de quem os consome realmente. A busca pelo entendimento dos fatores que podem influenciar as escolhas e interações são de interesse de qualquer área de mercado e de qualquer profissional, pois saber como o cliente decide pode e deve permitir que você tenha a melhor oferta de produto ou serviço e receba as melhores ofertas por causa disso. Então, o processo empresarial deve levar em consideração que somos seres irracionais na medida em que precisamos tomar decisões que nos inserem 3 no conflito emoção-razão. Considere-se a emoção no sentido de que nos permitirá conduzir nossas decisões pela interação entre nossos sentimentos, nossos anseios, no cruzamento de produto de neurotransmissores e na satisfação pré-, durante e pós-evento. Permitir que as principais áreas de negócios (marketing e vendas) possam desenhar os conceitos de elaboração de produtos, de oferta publicitária e da amostragem dos produtos é de total relevância para o sucesso empresarial. Isso porque tanto vendedores quanto produtos terão interação contínua e irrestrita com seu público. Para que essas propriedades possam ter os melhores resultados é preciso estudar cada detalhe da pesquisa de mercado e das interações entre vendedores e clientes, e aplicar metodologias que permitam agregar valor e obter resultados minimamente satisfatórios. TEMA 1 – PESQUISA DE MERCADO Toda empresa já realizou, está realizando ou realizará algum tipo de pesquisa. Independentemente da área de atuação, as empresas necessitam trabalhar com dados primários (elaborados por ela) ou dados secundários (de fontes externas) para desenvolver seus produtos e serviços ou conseguir se relacionar com seus clientes internos e externos. Toda pesquisa parte da premissa de um conjunto de parâmetros que devem ser analisados e objetivos constituídos para serem respondidos. Segundo Kmeteuk Filho (2005, p. 15), a pesquisa é [...] o processo formal, sistemático, controlado e crítico de desenvolvimento do método científico, e se constitui no caminho para conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais. Seu objetivo fundamental é a solução de problemas teóricos ou práticos com o emprego de processos científicos. A pesquisa parte de uma dúvida ou problema e, com o uso do método científico, busca uma resposta ou solução. Tendo em vista que as pesquisa tradicionais se dividem em três categorias — exploratória, descritiva e explicativa —, as análises de comportamento tendem a se desenvolver na categoria explicativa, a qual tem como foco a identificação dos fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência de determinados fenômenos (Kmeteuk Filho, p.17). Assim, os estudos dessas causalidades são os principais focos das pesquisas de neuromarketing. 4 Tais focos partem da premissa de se tentar descobrir os principais motivadores e respostas para estímulos, os quais terão sido fornecidos pelos respondentes por meio de suas respostas fisiológicas. Todavia, o ponto em que se estabelecem os diferentes métodos de pesquisa normalmente compete às empresas, as quais tendem a realizar pesquisas de forma mais tradicional. No entanto, esse tipo de pesquisa tem sérias ressalvas a serem consideradas, tais como: processo de amostragem, nível de assertividade das perguntas e do ambiente de pesquisa e, principalmente, a veracidade das respostas fornecidas. A mentira, embora não seja considerada como correta perante a sociedade, é uma prática instintiva dos animais, uma ação para manter o status quo, a sobrevivência e a possibilidade de reprodução. Então, nesses moldes, como é possível estabelecer um processo verdadeiro e correto de pesquisa tradicional com base em opinião sem ao menos ter a exata referência da veracidade das respostas? Considere a seguinte situação: queremos estabelecer uma pesquisa que possa referenciar uma preferência de consumo por todo o Brasil. Estatisticamente realizamos os cálculos de amostragem e posteriormente estabelecemos o erro amostral e nível de confiança da amostra. Então, vamos aos dados que podem ser levantados oficialmente: • População brasileira em 2018: estimada em 208.494.900 pessoas, segundo dados do IBGE (2018). • Erro amostral: 1%. • Nível de confiança: 99%. • Amostra necessária: 16.586 pessoas a serem pesquisadas. • Quantidade de municípios no Brasil: 5.570, segundo dados do IBGE (2018). Com esses dados é possível entender que, numa pesquisa tradicional, teríamos uma amostra de, aproximadamente, três pessoas para responderem à pesquisa e com isso referenciarmos estatisticamente a resposta para toda a população. Será que essas três pessoas realmente representam você, seus familiares, seus amigos e sua cidade? Tudo dependerá do momento do dia em que essa pessoa dá suas respostas, do local em que está sendo realizada a pesquisa — levando em consideração que o meio é um grande influenciador de opiniões e 5 comportamento —, do nível de estresse ou do humor do pesquisado, da faixa etária do pesquisador, do nível de instrução e dos benefícios que o respondente possui, da existência ou não de algum tipo de restrição, desde alimentar ou física até psicológica. Enfim, são tantas as situações que podem desencadear diferentes comportamentos que se a pesquisa não é realizada num ambiente controlado, podemos ter pouca certeza quanto às reais respostas e, consequentemente, às conclusões sobre os dados de pesquisa. Agora, pensar que as pesquisas podem ser complementares é uma das formas que propiciam a contraprova no mérito científico, ou seja, sempre que estamos realizando uma pesquisa de caráter científico necessitamos obter, pelo menos, duas análises ou fontes de dados distintas para realizar comparação, além de um grupo controle, o qual serve como validação, substituição ou descarte de amostragem. Poresses motivos (e ainda outros que poderiam ser elencados) é preciso diagnosticar as principais ocorrências no que tange ao processo de pré- utilização dos produtos ou serviços, isto é, o projeto de vendas. TEMA 2 – VENDAS E NEUROCIÊNCIA Desde os tempos mais remotos a humanidade vem comercializando produtos e serviços — desde a era de trocas ou escambos (nos primórdios da história humana), passando pelas eras tribais, feudais, coloniais e nacionais, e chegando aos dias atuais como uma das premissas inseparáveis para qualquer empresa ou pessoa. O processo de aquisição de produto é uma evolução da elaboração das ferramentas primitivas que alguns hominídeos confeccionavam e outros não. Segundo Pradeep (2012), o processo que levou a vocábulos com mais capacidade expressiva tornou a sociabilização do homem um método de adequação ao meio e sobrevivência biológica, visto que, unidos, esses hominídeos tornaram-se mais fortes no combate pela própria manutenção de suas vidas. No âmbito da biologia comportamental temos, por exemplo, o neurotransmissor chamado dopamina, que age na estimulação do sistema nervoso central e, segundo Camargo (2013a, p. 33): está associada a desordens psíquicas, como o mal de Parkinson e a esquizofrenia. Porém, está ligada a alguns comportamentos de 6 dependência de jogo, sexo, drogas, álcool e, certamente, do consumo também. Verdade é que a dopamina é um neurotransmissor que ativa o centro do prazer em certas partes do cérebro e, por isso, nos induz ao vício, que é nada mais nada menos do que a vontade de repetir uma experiência gratificante. Além das ações que realizamos no cotidiano do consumo, podemos pressupor que um vendedor também possui uma experiência prazerosa no momento em que efetiva uma venda e agrada seu cliente, seja pelo atendimento, pela satisfação de suprir uma necessidade ou pelo bem-estar ofertado pelo produto ou pela compra deste. Então, conseguir alcançar a ativação do comportamento inconsciente é a busca de qualquer estrategista, marqueteiro ou vendedor. Normalmente, pensa-se numa relação de possibilidade que torne essa realidade palpável. Diante disto, é factível elencar que todas as áreas do conhecimento necessitam da interação social porque somos animais sociais e necessitamos de comunicação e interação com o meio no qual estamos envolvidos para que nossos sentidos, emoções e processamentos racionais estejam em conformidade com uma linha basal comportamental, sendo que, segundo Assad (2017, p. 108): [...] as interações sociais são tão fortes que chegam a moldar o cérebro por meio da neuroplasticidade, através de experiências que se repetem e esculpem a forma, o tamanho e o número de neurônios e suas ligações sinápticas, que são o ponto de encontro entre os neurônios. Direcionando repetidamente o cérebro em um determinado registro, nossos principais relacionamentos podem, aos poucos, moldar alguns circuitos neurais. Mágoas crônicas ou relacionamentos positivos com pessoas com as quais nos relacionamentos diariamente ao longo de anos podem moldar nosso cérebro. Temos também o processo de vendas cotidianamente realizado em todas as esferas de nossas vidas. Basta elencarmos todas as situações, desde as mais corriqueiras até as exceções, para entendermos que estamos num processo mental de ativação ou calmaria em 100% de nosso tempo e buscamos os melhores resultados de satisfação, prazer, conquista, alegria, motivação com o menor esforço biofísico e cognitivo possível. Como é possível identificar na Figura 1, a seguir, a busca pela saciedade do ter, que é uma característica de prazer temporária na qual haverá um processo repetitivo e com escalas cada vez maiores para se alcançar um prazer novo, torna o ser humano compulsivo por compras. Na medida em que vemos outros tendo os mesmos ou maiores prazeres, buscamos nos igualar a eles ou 7 superá-los como forma de satisfazer um dos nossos desejos primitivos primários: ser superior e vencer. Figura 1 – Compras em detrimento da saciedade Crédito: RAWPIXEL.COM/SHUTTERSTOCK Para essa sistemática cunha-se o termo neurovendas, que é a junção entre o processo de vendas e as aplicações possíveis dos resultados analisados que a neurociência do comportamento pode fornecer. Embora as pesquisas ainda sejam poucas, se comparadas a outras áreas do conhecimento, há uma evolução gradativa nos princípios comportamentais que estão regendo diversas equipes de vendas e seus gestores, ambos na busca pela excelência de resultados. Essa junção se faz extremamente necessária pois o processo de vendas sempre está conectado ou interligado diretamente a pessoas, as quais possuem padrões cognitivos e comportamentais. Esses padrões podem ter variações dependendo de vários fatores, tais como: • ritmo circadiano individual; • variações de produção de neurotransmissores; • alterações corporais, como problemas no sistema endócrino; • transtornos como bipolaridade, do sono, depressão e ansiedade; • vícios, como diversos tipos de fumos, drogas, álcool, entre outros. Apesar de o processo de vendas ser um dos itens mais trabalhados em treinamentos, a neurovendas volta-se aos comportamentos biológicos e instintivos do vendedor e do comprador, buscando entender neurologicamente 8 quais são as ações que podem ativar determinadas áreas do cérebro e motivar ou auxiliar a tomada de decisão e a efetivação da aquisição do produto ou serviço. Entender onde está o “botão de compra” cerebral e como acioná-lo é a busca incessante dessa área. TEMA 3 – O VENDEDOR DE SONHOS No processo de vendas sempre há alguém querendo consumir ou deter a propriedade e alguém querendo se desfazer de algo ou prestar um serviço. Essa base de troca serve para manter a expectativa primitiva de conjunto, de grupo, de sociabilidade e de aceitação. Normalmente vemos os vendedores buscarem sempre as vendas que permitam uma remuneração imediata maior e tentarem aumentar o volume de compra de seus clientes, porém os vendedores estipulam seu foco em atender seu cliente de maneira objetiva e racional. Esse fato está ligado ao poder do agora, ou seja, é a valorização do momento imediato em detrimento de uma mera simulação ou expectativa futura e, segundo Eagleman (2017, p. 142): [...] para o cérebro, o futuro só pode ser uma sombra pálida do agora. O poder do agora explica por que as pessoas tomam decisões que, no momento, parecem boas, mas têm consequências ruins no futuro: quem toma uma bebida ou uma droga mesmo que saiba que não devia; atletas que fazem uso de esteroides anabolizantes, embora estes possam subtrair anos de suas vidas; parceiros casados que têm casos extraconjugais. Como já é de conhecimento geral, nosso comportamento é um conglomerado, em menor proporção, da racionalidade e, em maior proporção, das partes sentimentais, emocionais e impulsivas. Então o sistema de vendas deve focar as percepções sensoriais, emocionais, psíquicas e de estímulos cerebrais de ordem. Nossa motivação de vendas está enraizada no processo de sobrevivência social e biológica, no qual monitoramos nossos comportamentos de maneira inconsciente na medida em que estamos cada vez mais focados e perto da concretização do objetivo, seja ele uma promoção no trabalho, uma venda complexa, uma negociação árdua que se destina a um fechamento vitorioso para ambas as partes ou qualquer outro momento impactante na memória. Naturalmente, é possível verificar nos meios de comunicação a venda de veículos para todas as classes sociais, como na Figura 2, a seguir. Porém, as principais questões são: será que todos precisam realmente de um carro? E por 9 que esse carro precisa ter potência? Por que o carro precisa estar impecável, com o famoso “cheiro de novo” e ser atraente? Figura 2 – Venda de carro Crédito: LUCKY BUSINESS/SHUTTERSTOCK Apesar de as respostassobre as questões anteriormente colocadas poderem ter um foco maior no consumidor e comprador do que propriamente no vendedor, precisamos analisar com apreço a situação deste nesse momento tão particular. O vendedor de sonhos busca manter seu cliente cheio de emoção, aspirando estar com seu carro (pelo exemplo de nossa figura), juntamente com sua família ou dirigindo como se estivesse num desfile, preocupado com a necessidade de ser visto e ter a aprovação social. Os sonhos são as perspectivas futuras, de maneira que possam ser reais, porém não fáceis de serem conquistadas. É uma busca por algo que ativa mais facilmente o sistema de recompensa futura e propicia o aumento de todo o sistema ligado à recompensa, ativando e liberando neurotransmissores como dopamina, adrenalina, noradrenalina e serotonina. Vender sonhos é ativar o processo de ansiedade pela concretização da aquisição de algum produto. Segundo Teles (2018, p. 36), “hoje sabemos que a gênese da ansiedade depende da interação e da interpretação de diversas regiões cerebrais”. Segundo o dicionário Michaelis (2018), sonho é: 1 Ato ou efeito de sonhar. 2 MED Conjunto de sensações, percepções e representações mais ou menos realistas, geralmente visuais, que 10 aparecem durante o sono, de caráter confuso e incoerente. 3 Conjunto de pensamentos, imagens, ideias e fantasias que se experimenta enquanto se dorme. 4 Ato, objeto ou pessoa vista ou imaginada durante o sono. Então, é preciso oferecer estímulos diferentes para obtermos o maior número possível de reações instintivas e fisiológicas para que nossos clientes tenham a percepção de realização, prazer, satisfação e fixação de memória positiva de longo prazo cristalizada no hipocampo. As aspirações ou desejos perante um produto são totalmente distintos para cada gênero e cada agrupamento de faixa etária, sendo preciso ajustar discurso e pesquisar, com profundidade, quais são as tendências comportamentais de cada segmentação, pois a replicação comportamental será um dos indícios que possibilitam a qualquer vendedor se tornar um vendedor de sonhos. Assim, diversas considerações precisam analisadas para que o vendedor de sonhos tenha efetividade em seu trabalho, tais como: • Somos mais propensos a dizer não quando estamos com fome e, em conjunto, quando necessitamos tomar decisões mais complexas e que exijam maior raciocínio lógico. • Operamos segundo nossas necessidades biológicas, como se alimentar, descansar, dormir, se entreter etc. • Buscamos suprir nossas necessidades de sobrevivência social, psíquica e emocional pela interação com pessoas, produtos ou processos (trabalho). • Nossas necessidades psicológicas determinam nossos comportamentos em detrimento do bem-estar, da aceitação e aprovação social e do prazer. • Os sentidos básicos (visão, audição, tato, olfato e paladar) determinam o conjunto de informações processadas pelo nosso cérebro, o qual determina a realização de ações. • A experimentação gera aumento da estimulação da memória, o que torna a experiência mais significativa. • Segundo Steimer (2002): “Embora a ansiedade seja uma reação adaptativa natural, ela pode se tornar patológica e interferir na capacidade de lidar com sucesso com vários desafios e/ou eventos estressantes, e até mesmo alterar a condição corporal.” • A falta de informação com solidez e procedência aumenta o medo a e insegurança. 11 • Gerar momentos de estresse alto aumentará a irritabilidade de nosso cliente. • Vender sonhos é entregar produtos com senso de urgência, pois o cliente não quer uma espera excessiva após ter pagado pelo produto. TEMA 4 – O COMPRADOR DE RAZÃO Desde que se conhece o ser humano e a economia existe a troca de produtos visando minimizar o impacto da não propriedade ou não utilização de tal produto. O fato de buscarmos suprir nossos anseios e aspirações está terminantemente ligada a: • fatores de percepções de nosso juízo de valor; • adequações e interpretações das ocorrências com base em memórias — momentos vivenciados, observados ou criados por nosso cérebro; • escolhas com base na ancoragem e no neurônio-espelho; • mantimento de nossa sobrevivência (psicológica, física, social e cognitiva); • necessidade de socialização e reprodução. No processo de vendas, sempre há o vendedor e o comprador, porém nem sempre o comprador é o consumidor — veja o caso das mães que compram fraldas para seus bebês. As mães são as compradoras, porém quem usará as fraldas (consumidor) será o bebê, então há uma diferença estratégica nesses dois perfis, embora eles possam incorrer numa mesma pessoa – por exemplo, quando você compra um refrigerante e o consome, nesse momento você é comprador e também o consumidor, como podemos ver no exemplo da Figura 3, a seguir: 12 Figura 3 – Negociação Crédito: MARVENT/SHUTTERSTOCK Todavia, quando nos deparamos com momentos de decisão, nossas percepções e nosso inconsciente agem rapidamente para permitir que nosso cérebro racional possa tomar a melhor decisão com base nos dados fornecidos pelos cérebros límbico e reptiliano. Segundo a neurociência cognitiva, nossas decisões, incluindo decisões de compras, são baseadas em nossas experiências passadas, nossas expectativas futuras e nossas criações inconscientes de realidades paralelas (imaginação). Isto se dá na área cerebral chamada corpo estriado, a qual, para Ito e Doya (2015), é: [...] um importante local de entrada dos gânglios basais, que desempenham um papel essencial na tomada de decisão. Estudos anteriores sugeriram que as subáreas do estriado têm papéis distintos: o estriado dorsolateral (DLS) funciona em ação habitual, o estriado dorsomedial (DMS) em ações direcionadas por objetivos e o estriado ventral (SV) em motivação. Então o fato de nosso cérebro estabelecer padrões de escolhas anteriores à disponibilidade racional de dados ou fatos permite induzirmos que nosso processo de escolha não se dá, na maioria das vezes, pela razão e sim pelas adaptações dos estímulos físico-químicos para a manutenção e perpetuação de nossa vida, ou seja, pela emoção e pelo instinto. Para melhor compreensão desse aspecto, observe-se que é comum termos decisões diferentes quando estamos sozinhos, quando estamos em pares ou grupos pequenos e quando estamos em grupos maiores. Essas decisões em comum acordo com o meio é que chamamos de efeito bandwagon, que, segundo Camargo (2013b, p. 63), é o termo que “dá significado ao viés, que 13 acontece quando as pessoas têm uma tendência de seguir as ações ou ideais preconcebidas de outras sem sobre elas refletir ou mesmo sem saber se é bom ou não para si”. Essa replicação comportamental, também identificada na Aula 1, é uma necessidade de adequação e aceitabilidade ao meio no qual estamos inseridos; assim, entende-se que tal efeito nada mais é que uma ativação do neurônio-espelho que temos. Em muitos casos os compradores tornam-se impulsivos ou compulsivos, porém para ambas as ocorrências existem variâncias comportamentais que podem promover ou interromper um estado de consumo ou expectativa pelo produto. A compulsividade se dá pela estimulação de um impulso ou acionamento de gatilho que projetará o indivíduo à aquisição ou ao consumo de algo, porém precisa-se de estimulação, normalmente realizada de forma psicológica e que não necessariamente fixa um parâmetro de dependência ou vício. Já o comportamento obsessivo é uma ruptura comportamental psicológica e neural que se repete e possui maior ênfase quanto maior o processo de aumento da ansiedade, como podemos verificar na Figura 4, sobre a interação entre o transtorno compulsivo-obsessivo e o espectro autista. Figura 4 – Espectro obsessivo-compulsivo e espectro autista Fonte: Ting; Feng, 2011. O processo cerebral de consumo apresenta diferença segundo nossasfaixas etárias, permitindo que tenhamos experiências únicas em cada estágio de nosso ciclo biológico. Se no estágio infantil buscamos o consumo de produtos 14 que possam nos proporcionar prazer imediato e tendemos a um egoísmo natural, à medida que envelhecemos temos a necessidade de consumir para expor poder, vitalidade e plenas capacidades biofísicas, isto é, tendemos a consumir produtos que nos garantam melhor convívio social e que nos permitam conquistas maiores do que almejávamos quando éramos mais novos. Então, quanto mais utilizamos nossos recursos energéticos, mais temos a propensão de evitarmos, conforme Pradeep (2012): • tarefas extremamente desgastantes e com duração longa; • demasiados estímulos visuais, os quais requerem um processamento cerebral contínuo; • racionalização de mensagens que nos desviam do ponto focal ou que consideramos irrelevantes Para melhorar esse processo entre vendedor, comprador e consumidor e a experiência integral do processo de interação, a neurociência nos permite estabelecer métodos de interação entre produtos e pessoas que estimulam a produção positiva das sensações e das emoções. Nesse sentido, podemos destacar o método chamado neuroconexão. TEMA 5 – MÉTODO NEUROCONEXÃO Estabelecer conexão entre as práticas comerciais, como abordagem ao cliente, elaboração de discurso de vendas, negociação, processo de fechamento e condução para um relacionamento posterior, juntamente com técnicas de neurociência comportamental exige a formulação de um padrão testado e implantado em diversas empresas, as quais apresentam melhores resultados após a aplicação de uma metodologia criada com base naquilo que chamamos de 3Rs da neurovendas. Para tanto, aplica-se método que denominei neuroconexão, o qual engloba: • Rentabilidade: oportunizar uma melhor negociação para ambas as partes, com vistas à melhor rentabilidade dos negócios e dos produtos ou serviços comercializados. • Relacionamento com cliente: manter uma relação de cumplicidade, confiança, boas memórias e elementos agregadores com os clientes. • Relação emocional: ativar as emoções com base na experiência de consumo e de atendimento ao cliente, visando a estimulações fisiológicas 15 tais como sorriso (alegria), risos (euforia), sobriedade (neutralidade), atenção fixa (tensão), descontentamento (tristeza leve) e raiva. Como visto na Aula 1, somos um conglomerado de memórias inscritas em nossas cicatrizes infantis, que permeiam todas as nossas decisões, visando a um ambiente mais seguro e próximo das experiência que já tivemos anteriormente, pela replicação de comportamentos e anseios, e definido pelo entendimento das consequências de ações realizadas e por aquelas que não foram realizadas, buscando apaziguar nossa relação de amadurecimento (repleção) de sentimentos e anseios. Assim, temos a perspectiva de separação das três áreas iniciais do método, que são: Racional, Emocional e Instinto. 5.1 Área iniciais do Método Neuroconexão A separação das áreas Racional, Emocional e Instinto se faz necessária para que a composição inicial das ideias seja elencada de forma a atingir corretamente cada formato de comportamento e estímulo por meio dos sentidos, como pode-se verificar a seguir: Tabela 1 – Tabela do método-base da neuroconexão Racional Emocional Instinto Tangibilizar as ações, tornando-as factíveis de serem comparadas. Elencar frases que auxiliam na estimulação das emoções e desencadeiam reações emocionais. Frases de comando direto ao cérebro. A área racional deve ser diretamente ligada à necessidade de elementos táteis, contáveis, visuais e que permitam ser tangibilizados. A área emocional está vinculada ao que sentimos no momento do estímulo, ou seja, quais sentimentos temos e como acionar tais sentimentos que desejamos que outras pessoas tenham. Já para a área do instinto há a necessidade de se elencar quais são os parâmetros que desencadeiam uma ação imediata do cérebro, como uma ordem que é dada. Como exemplo, temos: compre agora; faça sua inscrição; reserve neste momento. Assim, a separação dos padrões a serem estabelecidos, por exemplo para o atendimento ao cliente ou para o processo de vendas, deve ser elencado parte a parte dentro de cada área. Então se elencam as principais palavras- chave do discurso de vendas e colocam-se essas palavras ou conjunto de palavras em uma das três áreas da Tabela 1. Após a realização da etapa inicial 16 é preciso diagnosticar se cada uma das palavras ou o composto delas respondem aos seguintes questionamentos: • Cada conjunto de palavras destacadas ou individualizadas chama a atenção de meus clientes? • Meus clientes ficam emocionados com meu discurso? Eu consigo ativar quais diferentes emoções? • Quando se ouve meu discurso eu consigo fazer meu cliente lembrar de algo? Eu faço ele imaginar algo? Ativo alguma recordação? É possível que determinadas palavras ou composto de palavras não forneçam o sim para as três perguntas, então uma análise com maior profundidade é necessária, levando em consideração a necessidade de se apresentar pelo menos um sim, todavia este sim deve compreender as seguintes temáticas: • A palavra é comum para quem ouve? • Quando pronunciamos a palavra ela possui fácil compreensão e fácil aplicação prática? • Caso seja necessário explicá-la, seu cliente pode fazê-lo sem grandes dificuldades? Todo esse processo auxilia na geração de uma gama mais profunda de palavras-chave que irão compor um discurso de vendas, um texto de apresentação empresarial, um roteiro de atendimento ou uma negociação. Estabelecer as conexões com as recompensas emocionais por meio do acionamento cerebral por conta das palavras possibilita um aumento nas vendas, no relacionamento, no engajamento e nos resultados financeiros de qualquer empresa, quando bem aplicado. Esse processo de conexão entre cliente, empresa, produto e marca requer uma condição de entendimento das aspirações de cada participante do processo empresarial visando à construção da familiaridade desse processo e tornando o uso dos produtos ou serviços um hábito. TROCANDO IDEIAS Os processos de interação de dados e de informação nem sempre são condizentes com as tomadas de decisões empresariais, por vezes devido às 17 interferências de preferências pessoais de cada pessoa que está diretamente ligada ao processo decisório e sua influência para com os demais pares de trabalho. Por vezes é preciso dialogar sobre como devem ser as relações humanas e como as obrigações e regras devem ser seguidas para a obtenção dos melhores resultados empresariais. Normalmente as regras para áreas que interagem diretamente com o público-alvo são mais flexíveis devido à demasiada quantidade de possibilidades de ocorrências. Nesses casos, sugere-se o diálogo com seus pares com objetivo de aprimorar os questionamentos a respeito das principais decisões empresariais e pessoas do dia a dia, tais como: • Como podem ser melhoradas as pesquisas de mercado que visam às respostas conscientes do consumidor e não levam em consideração as interferências emocionais e respostas fisiológicas? • Como as equipes de vendas podem interagir entre si para melhor adequar seus discursos de vendas e seus processos de fechamento de negócios? • Como os clientes das empresas atuais que você conhece podem auxiliar as empresas na melhoria dos produtos e serviços prestados? Após a opinião de cada pessoa, sugere-se elencar todas as respostas em formato de tópicos para que sejam analisadas em conjunto. Com isso em mãos, elaborem um parecer sobre as melhores práticas a serem aplicadas no âmbito empresarial. NA PRÁTICA É muito comum nos depararmos com situações de comercialização de produtos que seguem uma linha rígida de atendimento, visando ao processo comercial e focando os atributosdos produtos. Porém, por vezes esquecem que o ser humano precisa ter sua interação analisada e o processo comercial ajustado para esta interação. Você, estando num cargo executivo dentro de uma rede de lojas de varejo de calçados, deve pensar que os padrões de atendimento atuais estão obsoletos e não estão conferindo os resultados mais adequados ou esperados dentro de um planejamento comercial e financeiro. Com base em seu conhecimento, elabore a tabela do método neuroconexão, a qual servirá como base para o treinamento de toda a estrutura 18 da rede varejista. Lembre-se de responder a todas as questões-base para que as premissas fisiológicas sejam abrangidas e, posteriormente, cruze as informações com os dados de pelo menos três produtos distintos (um sapato, uma bota e uma sapatilha). FINALIZANDO Pesquisar sempre foi uma ação natural de qualquer animal, seja para buscar indícios na selva de onde poderiam estar suas presas, seja para interação social entre os diversos animais — desde que eles não estivessem caçando ou sendo caçados. Os seres vivos identificam padrões comportamentais com base em instintos e interações fisiológicas de sobrevivência e reprodução, porém nós, seres humanos, buscamos respostas para os fatos e acontecimentos futuros de maneira lógica, racional e sem a devida profundidade da biologia comportamental. A pesquisa de mercado sempre deve levar em consideração os mais distintos fatores de interação humana que visem à análise de riscos naturais entendidos pelo cérebro e suas repercussões em ações físicas e emocionais. O objetivo central do mercado, entendendo os resultados pesquisados de maneira que tenhamos respostas fisiológicas, é poder ofertar a maior quantidade de itens, com as melhores qualidades perceptíveis e que tragam os melhores retornos financeiros, de marca e de posicionamento mercadológico. Por isso, é preciso o entendimento do processo da biologia comportamental no que diz respeito às interações entre aqueles profissionais que estão diretamente conectados aos nossos clientes e consumidores – os vendedores. Desenvolver aptidões de permitam a diminuição da ansiedade, a correta elaboração de um processo de interação entre discurso de vendas, produto, entendimento do cliente e efetivação de compra e, por fim, a fixar a experiência positiva na memória de longo prazo devem ser os principais pontos focais de qualquer organização que prime pelo sucesso real e duradouro. Para que esse sucesso possa ser buscado de maneira ordenada e tenha critérios sólidos que permitam resultados consistentes, é preciso realizar a aplicação de método previamente testado (tanto na área comportamental quanto na área organizacional e comercial) e que traga resultados. Um método plausível é o método neuroconexão, que estabelece padrões simples de interação entre as diversas áreas comportamentais que influenciam inconscientemente os 19 consumidores a tomarem decisões concretas com bases em estimulações neurais e fisiológicas. Aplicar o método é melhorar consideravelmente os resultados empresariais. Ele também pode (e se sugere que de fato seja) ser aplicado na vida cotidiana de cada pessoa, com objetivo de melhorar as relações humanas, tornando o mundo mais justo, fraterno, sólido, consistente, valoroso e prazeroso. 20 REFERÊNCIAS ASSAD, A. Liderança tóxica: você é líder contagiante ou contagioso? Descubra o que a Neuroliderança pode fazer por você. Rio de Janeiro: Alta Books, 2017. CAMARGO, P. C. J. Eu compro, sim! Mas a culpa é dos hormônios. Ribeirão Preto: Novo Conceito, 2013a. CAMARGO, P. C. J. Neuromarketing: a nova pesquisa de mercado. São Paulo: Atlas, 2013b. COSTA, F. A. N. A satisfação no desenvolvimento humano na fase do aprender. Dissertação (MBA em Neuromartketing) – Florida Christian University, Orlando, 2015. DUHIGG, C. O poder do hábito: por que fazemos o que fazemos na vida e nos negócios. 1. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. EAGLEMAN, D. Cérebro: uma biografia. 1. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2017. ELLARD, C. Places of the heart: the psychogeography of everyday life. New York: Bellevue Literary Press, 2015. KMETEUK FILHO, O. Pesquisa e análise estatística. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 2005. HARRISON, B. J.; PUJOL, J.; CARDONER, N.; DEUS, J.; ALONSO, P. L.; LOPEX-SOLA, M.; SORIANO-MAS, C. (2013). Brain corticostriatal systems and the major clinical symptom dimensions of obsessive-compulsive disorder. 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NEUROMARKETING AULA 4 Prof. Felipe Augusto Nasser Costa 2 CONVERSA INICIAL Evolução do comportamento Muitas pesquisas comportamentais de marketing visam estabelecer critérios para oferta de produtos e serviços a uma determinada segmentação demográfica, seja ela por localidade, por faixa etária, por gênero ou qualquer outra divisão possível. Todavia, o ser humano possui uma indescritível forma de evoluir biofísica e quimicamente, no qual permite a interação com o meio e o aumento da plasticidade cerebral. Para compreendermos como é possível estabelecer tanto pesquisas quanto a interação social, comercial e psicológica com o ser humano, é preciso detalhar cada fase de sua evolução biológica. Imagine um diálogo entre uma criança, um adolescente e uma pessoa da terceira idade: provavelmente será uma conversa na qual um dos três participantes vai querer sair ou ficará disperso nos assuntos. Então, como é possível profissionais de comunicação, marketing, recursos humanos e todos que possuem interação com públicos distintos não compreenderem a evolução comportamental e ter uma performance adequada? Esta aula está dividida em cinco temas principais, que são: 1. Evolução do comportamento humano: fase infantil; 2. Evolução do comportamento humano: fase juvenil; 3. Da juventude aos 30 anos; 4. Dos 30 aos 49 anos; 5. A vida começa aos 50 anos? As informações que você terá contato não exaurem o tema, mas sim são um incentivo a novas pesquisas e ao aprofundamento. CONTEXTUALIZANDOO ser humano possui uma grande variabilidade de comportamento no transcorrer de sua vida. Muito naturalmente se ouve “Uau, eu não imaginava que ele/ela teria esse comportamento ou teria essa atitude”. Essa variação nas percepções transcorre de maneira diferente com o passar do tempo e de nossas experiências. Cada fase de vida possui um desenvolvimento específico no que tange ás áreas biológicas, físicas, psicológicas e cognitivas. 3 A diferença entre uma criança, um adolescente, um jovem, um adulto e um idoso parece trivial de se saber, porém, existem grandes modificações no corpo humano e no ambiente que o envolve as quais tornam necessário se conhecer de maneira mais ordenada e profunda cada etapa dessa evolução. Conhecer como aprendemos e evoluímos nossos comportamentos, optando por determinados produtos ou lugares, por pessoas ou por grupos étnicos, por marcas ou por produtos alternativos. Tudo isso envolve a evolução do ser humano e de seu comportamento. É claro que muito há de se descobrir sobre todas as interferências que nos ensejam durante a vida, que podem mudar totalmente nosso foco natural de evolução. É como comparar preferências e maneiras de se comportar de gêmeos idênticos (univitelinos), pois eles possuirão várias divergências de gosto, de causas com que se identificam, de preferências e, principalmente, de carreira e de meio social que os envolve. Então, descobrir como cada fase etária se desenvolve é descortinar os preceitos iniciais para entender como as pessoas se comportam e de que forma é possível aperfeiçoar a interação com elas em cada etapa da vida. TEMA 1 – EVOLUÇÃO DO COMPORTAMENTO HUMANO: FASE INFANTIL Quando se ouve sobre a fase infantil, normalmente se pensa nas crianças brincando, andando e correndo para todos os lados, questionando frequentemente sobre isso ou aquilo, fazendo bagunça e interagindo com tudo e com todos. Porém, essa fase inicia-se ao nascer, pois a interação desse ser humano em fase inicial está sendo direcionada para determinadas reações, e o corpo já inicia a adaptação ao meio no qual está inserido. Essa fase caracteriza- se pelo desenvolvimento humano do 0 (zero) aos 14 anos, aproximadamente, levando em consideração as alterações biológicas, físicas e psíquicas de cada indivíduo. Desde os primeiros momentos do nascimento, os pais acompanham o desenvolvimento de seus filhos, os quais crescem e se desenvolvem, na percepção dos adultos, rapidamente. Dificilmente um pai ou uma mãe vai se esquecer do primeiro sorriso de seus filhos, dos primeiros passos e das primeiras palavras. Para a Organização dos Estados Americanos – OEA (2010), pela Oficina de Educação e Cultura, esses adultos são como cuidadores temporários, 4 sendo considerados os “cérebros externos” da criança antes que esta possa interagir individualmente com o meio. À medida que o tempo se encarrega do amadurecimento social, cognitivo e biológico, a criança passa de uma posição de expectadora para atuante no quesito de interatividade com o meio. Segundo Bartoszeck e Bartoszeck (2004), “há uma intensa interação entre a estimulação precoce, via órgãos dos sentidos e a carga genética. Como consequência, produz um efeito decisivo no desenvolvimento cerebral da criança, com impacto de longa duração na fase adulta”. Esse processo de herdabilidade possui estimativas que são proporções baseadas na diversidade ambiental e genética, assim, o processo de herança genética propicia a extensão das influências ambientais, bem como influências genéticas. Tais estimativas são calculadas com base em processos de amostragem gênica e de indivíduos, todavia, a mudança de faixa etária, interação social, debilitação física ou biológica pode alterar esses valores. Outro fator importante na contribuição do comportamento infantil é a carga de influência ambiental, pela qual temos uma variabilidade de aptidões, preferências e desejos por consequência de nossa interação com o meio no qual estamos interagindo. Segundo Lievegoed (2007), autor de referência em conceitos das fases evolutivas da infância e da adolescência, existem três períodos biológicos importantes que culminam com os setênios iniciais de vida (fase temporal de 7 anos), os quais também caracterizam o ritmo do aprendizado infantil: 1.º setênio: entre o nascimento e a troca de dentes; 2.º setênio: entre a troca de dentes e a puberdade; 3.º setênio: entre a puberdade e a maioridade. 5 Figura 1 – Os três períodos evolutivos Fonte: Lievegoed, 2007. Esses processos temporais na evolução do indivíduo possuem um modelo de comportamento baseado nas experiências vivenciadas, visto que é a aglomeração dessas experiências e conhecimentos que faz com que o ser humano se adapte e evolua. Contudo, é importante compreender esse relacionamento da criança com o mundo, interação esta que ocorre naturalmente, com perceptíveis diferenciações entre o indivíduo, sua sexualidade (masculino e feminino) e o social. Para a fase infantil, temos o desencadeamento dos dois períodos iniciais evolucionários em relação ao comportamento. 1.1 Primeiro período evolutivo A criança, ainda pequena, embora esteja sob cuidados de alguém responsável, já está apta a receber toda a influência do meio. As restrições de absorção se darão pelo processo de tolhimento por parte do adulto cuidador, ou seja, será o adulto quem interferirá com maior veemência no processo daquilo que estará à disposição, seja por meio do processo visual, auditiva, tátil, olfativo ou pelo paladar da criança. É nesse processo inicial (dos zero aos sete anos) que a criança compreenderá as interações sociais por meio da absorção comportamental do meio, ou seja, ela aprenderá replicando aquilo que vê ou ouve. Então, a criança realiza um processo de repetição por meio da confiança estabelecida com a pessoa que a cuida, conforme palavras de Steiner: A criança nos primeiros dois anos e meio de vida se encontra – quando a pessoa de referência se comporta corretamente – num tipo de vínculo 6 anímico-perceptual com essa pessoa, e começa a imitá-la em alto grau. Surge-nos então a tarefa não de querer ensinar à criança todo tipo de coisas por nossa vontade, mas – o que exige um esforço maior – comportar-nos perto dela de modo que ela possa imitar a atividade em questão; pois a criança é receptiva a tudo o que fazemos, à maneira como nos movimentamos. Tudo isso a criança imita, seja logo em seguida ou talvez só mais tarde, mas desenvolve dentro de si as tendências a imitar e as impregna, mediante as forças orgânico- anímicas, em seu organismo físico. (Steiner, 2008, p. 124) Outros fatores importantes de serem investigados e observados nessa faixa etária são as percepções sensações que são experimentadas. Essa condição de experimentação da vivência do prazer e do desprazer é desenvolvida por meio do reconhecimento das noções dos sentidos básicos: tato, visão, olfato, audição e paladar. Para Schoorel (2013), "quando crianças experimentam orgulho, alegria, estar apaixonadas, o humor de sua mãe ou a humilhação, há envolvimento de algo mais do que apenas percepção sensória. O mesmo vale para sentimentos como tristeza, depressão, dor ou solidão". Sendo essa interação ativa e constante na fase infantil, os pais possuem enorme responsabilidade em relação à criança. Justamente todo o processo de entendimento consciente e inconsciente, não enfrentado com atitude cognitiva, penetra em camadas profundas do subconsciente, produzindo mais tarde determinados sentimentos, tendências e maneiras de agir (Lievegoed, 2007). 1.2 Segundo período evolutivo Quando falamos no segundo período evolutivo, queremos determinar a fase dos 7 até, aproximadamente, 14 anos. Esse momento é definido como a segunda repleção, na qual a conformação física da criança torna-se mais madura e cheia, como se elaestivesse num autoajuste para todas as direções. Temos também o segundo estirão (ato do alongamento corporal), este diferido entre meninos (11 a 15 anos) e meninas (11 a 14 anos), com o crescimento acentuado inicialmente dos membros inferiores. Ou seja, segundo Lourenço e Queiroz: O estirão de crescimento ou estirão puberal é composto, portanto, pelo período de aceleração da velocidade de crescimento (VC), até atingir um valor de pico (PVC), e subsequente desaceleração até o término do crescimento. O PVC no sexo masculino pode chegar a valores de 10-12 cm/ano e, no sexo feminino, de 8-10 cm/ano. O estirão puberal não ocorre de maneira uniforme. Inicia-se pelos membros, seguindo uma direção distal-proximal, ou seja, pés e mãos, inicialmente, seguindo-se pernas e membros superiores, conferindo ao corpo do adolescente um aspecto desarmônico ou de desproporcionalidade, que volta a ser harmônico e proporcional ao término do estirão, após o crescimento do tronco, principal responsável pela estatura final do indivíduo. (Lourenço; Queiroz, 2010) 7 Nessa fase, que finaliza no começo da puberdade, temos algumas variações fisiológicas e psíquicas. Para Mesquita (2011), o desenvolvimento compreendido entre 8 a 14 anos pode ser classificado como o início da maturação sexual, ou seja, uma emancipação da vida meramente corporal, porém, é possível perceber uma acentuação nessa fase de crescimento e maturação próximo dos 12 anos, conforme demonstra-se na figura a seguir. Figura 2 – Diversos padrões de crescimento Fonte: Almuzian, 2014. Podemos verificar que, no primeiro setênio, a criança replicava comportamentos e estava iniciando a criação de seu vocabulário. No segundo setênio, a criança passa a interagir com o meio no qual está inserida, propiciando um desvendar de nossas interações e relacionamentos sociais e psíquicos. Assim, fica claro ressaltar sobre a receptividade infantil, como se denota a seguir: “a criança deixa de ser puramente receptiva aos estímulos sensoriais que recebe e se torna predisposta a interagir e reagir frente aos mesmos. Sua vivência passa a ter um eixo ao redor dos sentimentos quando antes se centrava nos cinco sentidos. Esse é o período do sentir” (Mesquita, 2011). É a passagem da percepção para a imagem conceitual de uma nova linguagem; a predominância da fala. Na fase predecessora, a criança conquistou 8 seu mundo por meio da imitação; agora é o processo da comunicação oral que fará ela descobrir. Segundo Lievegoed: “A palavra que proporciona ao pensar a oportunidade de passar por uma primeira metamorfose e assumir um novo caráter. A criança só pode compreender com a ajuda da palavra falada; só pode compreender ao falar ela própria” (Lievegoed, 2007, p. 61). É o momento de as emoções serem mais notórias do que a imitação. A autoridade, que anteriormente era dos pais, agora é dos educadores (professores). Estes que detêm a admiração das crianças por serem participantes ativos e constantes dos sentidos e dos estudos. Essa mudança de referência, normalmente, não traz grandes problemas aos anos iniciais desse setênio. Nessa metamorfose do sentir, “se a ânsia por uma veneração de heróis, ora nascente, não for conduzida ao caminho certo, a criança se apegará a ídolos, o que necessariamente a levará a desilusões” (Lievegoed, 2007). Já na fase dos 12 aos 14 anos, a criança está na pré-puberdade, instante na vida do ser humano no qual, por exemplo, os meninos gostam de formar seus “clubes” e grupos para atividades das mais variadas e com diversas dificuldades possíveis, beirando até mesmo a certas complexidades como construção de uma casa na árvore, brigas com “grupos rivais” etc. É também nessa idade que há diferenciação entre meninos e meninas com maior acentuação. As meninas possuem seu desenvolvimento fisiológico mais precoce do que os meninos, culminando num amadurecimento social mais rápido (evolução psíquica). Elas acabam por focar mais suas forças vitais na evolução de seu corpo, causando assim a diminuição de seu desempenho objetivo. É o sentimento de incapacidade, fadiga rápida, ocorre momentos de depressão por causa de sua metamorfose e novos sentidos de seu conhecimento. Esse progresso se estabiliza com a chegada da menstruação, voltando a vitalidade normal, chegando assim a verdadeira puberdade psíquica. Já os meninos, para essa mesma faixa etária, é a explosão de vitalidade, de energia para ser gasta com atividades físicas. Possui ideais mais amplos, por conhecer com mais realidade o mundo que o cerca. É a época de sonhos com profissões das mais diversas e diferentes possíveis, pensando que pode sair do convívio familiar, tendo sua liberdade plena e desbravar o mundo afora. É o início das oscilações da voz entre grossa e fina, graves e agudos. 9 TEMA 2 – EVOLUÇÃO DO COMPORTAMENTO HUMANO: FASE JUVENIL A fase juvenil ou, como mais popularmente chamada, adolescência, é na qual há a terceira repleção. As mudanças corpóreas fazem com que as crianças – nesse estágio, já as chamaremos de adolescentes – entrem numa curiosidade fisiológica relacionada com a reprodução. A maturação corporal é marcante para as meninas, devido à sua primeira menstruação, criando uma esfera de maturidade e de futuro inesperado. Já para os meninos, é menos incisivo, pois, além de ocorrer mais tardiamente os efeitos de evolução corpórea, a primeira ejaculação e a primeira polução não deixam marcas profundas, inicialmente. É o momento de mudança do ponto de ancoragem, em que, no primeiro setênio, eram os pais e a família, no segundo setênio, os educadores e professores, e agora, no terceiro setênio, temos a priorização dos amigos, assim relata Lievegoed. E o menino procura um colega mais velho, a menina uma amiga mais velha a quem possa abrir o coração e também venerar com calor renovado. Todos procuram seu guia amigo. A heterossexualidade passou para o segundo plano, passando a prevalecer tendências homoeróticas. O “amor entre rapazes” ainda era, na cultura grega, um fator publicamente reconhecido. É nesse período que se enraíza a atual “camaradagem” no esporte, no estudo e no serviço militar. Esse período fisiológico passageiro não deve, de maneira alguma, ser confundido com a questão da homossexualidade. (Lievegoed, 2007, p. 74) A puberdade é uma fase na qual os adolescentes buscam um novo significado para sua identidade. É a área do pensar, pois até a puberdade o adolescente, anteriormente criança, viveu como um ser humano genérico, sendo copista dos influenciadores que até aquele momento conviveram com ele. Após isso, o adolescente começa a entender a existência da diferenciação entre homem e mulher e não mais entre crianças. Por natureza intrínseca, esse momento traz um enigma da condição humana do sentir. É o momento da afirmação do eu, da experimentação da liberdade e início das condições e habilidades técnicas. Fase de puro convívio social, no qual as interações relacionais tendem a ser mais volatilizadas, pois todo aquele mundo, ora criado para ser seu ambiente seguro, agora é demonstrado com maior realidade. Para enfrentar esse novo mundo, o adolescente busca uma fonte de segurança, porém, possui dificuldades em selecionar o amigo com o qual poderá 10 dialogar sobre deficiências, mágoas, sentimentos em geral. Nessa fase, pode surgir a paixão pelo sexo oposto, todavia, esse sentimento é de forma platônica, sem qualquer conotação sexual. É quando se tem a maior interatividade do adolescente com seu diário de confissões. Outro fator dessa nova realidade, que não lhe traz a segurança das fases precedentes, é a busca religiosa para, além da identificação de seu eu, a sensação de segurança, mesmo que de forma espiritual, embasado na percepção do sentir. Esse novo relacionamento afetivo e espiritual transforma o adolescente no jovem e a síntese da concepçãode convivência do eu-mundo transforma-se no eu-humano, eu-comunidade e eu-Deus. É a ânsia religiosa que prevalece, nesse instante, no sentimento do indivíduo. Próximo ao final do ciclo desse setênio, temos a prevalência do sentido crítico, para o efeito do agir. É o instante inicial para a preparação profissional, porém, muitos jovens já iniciaram suas carreiras antes mesmo da proximidade do final desse setênio, ou seja, ingressaram no mercado de trabalho com quatorze anos, fim da puberdade. Com início cedo na área profissional, é possível perceber a mudança de profissão uma ou diversas vezes antes mesmo de chegar aos 21 anos. Levando em consideração tais fases evolutivas e os setênios, é possível compreender que cada fase possui sua evolução e interdependência com sua predecessora. O ser humano necessita evoluir constantemente e passar por todas as etapas dos setênios. Essa evolução pode ser observada na tabela a seguir. 11 Quadro 1 – A evolução humana no três setênios iniciais 0 - 2 anos Época da percepção sensorial Postura ereta – Andar – Falar (Silhueta de recém-nascido) Pensar Sentir Querer M a tu ra ç ã o f is io ló g ic a A partir dos 2 anos Desenvolvimento do pensar. Associação dos conteúdos da percepção. Transição para a forma corporal da criança pequena. A partir dos 4 anos Desenvolvimento do sentir. Fantasia criativa. Silhueta de criança pequena (primeira repleção). A partir dos 5,5 anos Desenvolvimento da vontade intencional. Maturidade escolar. Transição para silhueta da criança escolar (primeiro estirão). M a tu ra ç ã o p s ic o ló g ic a A partir dos 7 anos Metamorfose do pensar. Mundo fechado de imagens conceituais. Silhueta da criança escolar. A partir dos 9 anos Metamorfose do sentir. Despertar da crítica. Separação eu-mundo exterior (segunda repleção) A partir dos 11- 12 anos Metamorfose do querer. Pré-puberdade (segundo estirão). M a tu ra ç ã o s o c ia l A partir dos 14 anos Síntese do pensar. Imagem do mundo. Maturação sexual. A partir dos 16 anos Síntese do sentir. Ânsia religiosa (terceira repleção). A partir dos 18 anos Síntese na vontade. Responsabilidade social. Preparação profissional. Maturação em homem/mulher. Fonte: Lievegoed, 2007, p. 84. TEMA 3 – DA JUVENTUDE AOS 30 ANOS A fase da juventude finaliza próximo aos 21 anos. A partir dessa idade, temos a fase do amadurecimento psicológico humano, no qual cada indivíduo busca fatores ambientais e sociais para estabelecer as conexões necessárias para a manutenção de sua sobrevivência social, financeira, psíquica e emocional. 12 O processo de amadurecimento dos comportamentos de cada indivíduo é delineado nessa fase, pois novas interações são frequentemente expostas e novas responsabilidades começam a se tornar mais intensas. Por exemplo, normalmente inicia-se as responsabilidades na relação trabalho x estudos, ou seja, fase na qual a sociedade, de alguma forma, cobra de cada indivíduo a busca pelo posicionamento de lugar perante os papéis sociais que lhes é imputado, embora algumas pessoas tentem modificar essa cobrança por meio de atitudes e traços de personalidades fortes. Segundo Nave et al. (2010), existe uma forte correlação entre os traços de personalidade da fase infantil e da fase adulta. Para a execução de pesquisa a fim de diagnosticar essa congruência, foram relacionadas seis condições difíceis de serem analisadas em conjunto, conforme a figura a seguir. Figura 3 – Condições necessárias para demonstrar a influência da personalidade no comportamento ao longo de 40 anos Fonte: Nave et al., 2010. Dentre os diversos dados e interações da pesquisa de Nave et al. (2010), houve a preocupação de se evitar uma redundância de análises e cruzamentos, sendo selecionados apenas quatro atributos que tinham padrões relativamente distintos de correlatos comportamentais, os quais tiveram as seguintes identificações. Verbalmente fluentes: possuíam uma preferência maior por questões intelectuais, com controle na fluência verbal. Também possuem distinção no quesito de controle situacional e exibem um alto grau de inteligência. Adaptáveis: determinadas como pessoas que lidam com maior facilidade e sucesso às situações novas e estranhas e enfrentam mais 13 vigorosamente a incerteza. Crianças classificadas como altamente adaptáveis tendem, como adultos, a exibir comportamentos de maneira alegre, possuem fluência verbal ao falar e demonstram certo interesse por questões intelectuais. Impulsivas: como o próprio termo já diz, o impulsivo acaba por ser mais superficial no comportamento, tendo uma frequência em agir ou falar sem mensurar as consequências. Adultos com essas características na fase infantil tendem a falar em voz alta, a demonstrar um vasto interesse sobre assuntos diversos e serem falantes. Autominimizadoras: pessoas que tendem a se autominimizar, ou seja, diminuir a sua importância; um exemplo disso é a própria humilde comportamental, pois tende a não se vangloriar da conquista ou exibi-la, e também tende a se satisfazer com tarefas de menor relevância. Adultos com esse traço de personalidade tendem a serem inseguros, se autoculpam e autodenigrem com palavras negativas. Assim, é possível entender o posicionamento individual dessa fase inicial da vida adulta, a qual é emoldurada por grande variação nas emoções. Outro ponto crucialmente importante é a relação do amadurecimento psíquico com as variação etária, pois, segundo estudos da linha antroposófica, criada pelo filósofo Rudolf Steiner, essa fase da vida adulta, também chamada de fase da luta, está delineada com o início na impulsividade, destacando-se as habilidades técnicas (“mão na massa”), pois a pessoa já possui algum conhecimento, embora não vasto, adquiridos em cursos específicos, cursos de graduação ou relacionamento contínuo com alguma área profissional. É a fase de vivência de um mundo novo, no qual está para ser descoberto. Porém, a exploração desse novo mundo também intensifica a questão de impetuosidade, na qual pode ser evidenciado certo grau de instabilidade emocional e a falta de experiência profissional. Com o passar dos poucos anos, o indivíduo tende a ser mais arrojado nas ações, pois percebe que existe uma necessidade interna de possuir as coisas, como ter um carro, comprar um imóvel, ter o celular recém-lançado, enfim, ele necessariamente precisa ter a posse dos objetos, pois, por volta dos 28 anos de idade, inicia-se uma fase de consolidação do posicionamento profissional e pessoal, ou seja, é a fase de conquistar o reconhecimento profissional para, posteriormente, ter a consolidação desse posicionamento. Ainda assim, é uma 14 fase racional, na qual há certo questionamento sobre as relações sociais, econômicas, psicológicas e ambientais que cercam esse mundo etário. TEMA 4 – DOS 30 AOS 49 ANOS Após a terceira década de vida, ou seja, a fase a partir dos 30 anos, inicia- se o processo de mudança importando em dois quesitos fundamentais: evolução intelectual e declínio biológico. Isso se dá pelo processo de envelhecimento e diminuição da vitalidade natural, se comparado aos áureos anos da juventude. Desde o nascimento, o corpo entra em um ritmo desenfreado de amadurecimento e evolução, chegando aos 9 anos, aproximadamente, com o despertar para um ciclo de desenvolvimento sexual que culminará na puberdade em diante, posteriormente maturando até chegar no ciclo de desenvolvimento pleno dos órgãos e dos neurotransmissores. Já próximo dos 35 anos, finalmente nosso ciclo biológico tende a entrar num ritmo mais lento e inicia-se o declínio biológico, ou seja, começamos a envelhecer mais rapidamente. Nessa fase, o processamento biológiconão possui mais o mesmo ritmo que tinha quando jovens ou iniciantes na fase adulta. Nosso metabolismo tende a demorar um pouco mais para o processamento de gorduras, açúcares e de diversos nutrientes, podendo culminar, se não houver cuidado, no aumento de peso. Nessa etapa da vida, o indivíduo continua a busca pela conquista de seu lugar, seu espaço de reconhecimento social, familiar e profissional. As conquistas de posses já se iniciaram e novas possibilidades surgem com a abertura de uma visão mais holística do mundo, pois, teoricamente, já se passou pelas etapas anteriores de maneira completa, fases que contemplam a repleção do corpo biológico, etéreo e psicológico. A partir de, aproximadamente, 35 anos, temos a concentração dos questionamentos em relação às indagações sobre valores e percepções da vida, tais como: quais meus objetivos de vida? Há algo de errado comigo? Eu me conheço? Eu sei os meus limites? Será que aquilo que acredito espiritualmente realmente é verdadeiro ou existe? Estas são indagações constantes nessa fase etária. É um processo de autocrítica constante, pois o meio impele aos aspectos conscientes individuais. Então, o ditado popular “a vida começa aos 40 anos” não necessariamente está correto, pois na insinuação de que o envelhecimento se inicia nessa faixa etária, é preciso ajustá-lo para “a vida começa aos 35 anos”. 15 Após essa década de mudanças comportamentais, a partir dos 42 anos, em média, uma etapa mais artística toma conta de nosso ser, na qual já dominamos as capacidades intelectuais vigentes para a realização de nosso trabalho e temos as habilidades exigidas para a eficácia dos projetos. Todavia, embora tenhamos uma maior capacidade de realização, é uma fase em que fazemos o que é essencial. A realização da essência advém de entregar ou executar aquilo que realmente é o princípio norteador do trabalho, ou seja, ainda trabalhamos com a entrega profissional no que tange além do necessário, visando ao aumento da qualidade e dos resultados. Ainda nessa fase, temos o início de crescimento da presença de espírito, ou seja, já temos o discernimento das mais variadas etapas de execução de nossas atividades e buscamos compor a influência que temos perante o meio de forma mais graduada. Então, já próximo dos 49 anos, temos uma fase que se denota como a nova criatividade, ou seja, temos uma a percepção de possibilidades de novas experiências, as quais tivemos em nossa fase de adolescente, como que espelhando a fase dos 14 a 21 anos. Assim, temos uma maior experimentação da vida no que lhe é necessária, tornando os sentimentos mais nostálgicos. A parte da moralidade tem maior intensidade nessa faixa etária, visto que já passamos por diversas experiências as quais nos permitiram ter maturidade para discernir sobre o que é mais recomendado e certo, em função do conjunto de princípios, valores e relacionamentos que tivemos, em detrimento dos resultados que esperamos. Segundo Lievegoed (1997, p. 63), a fase em questão representa mudanças drásticas de comportamento de ambos os gêneros (masculino e feminino), pois as experiências foram totalmente distintas. Esta fase da vida começa com considerável turbulência. Biologicamente, ela pressagia o início do declínio da força vital. Para as mulheres é claramente marcada com o fim da fase fisicamente criadora. Para os homens é uma fase de necessidades sexuais intensificadas, as quais geralmente são mal interpretadas por suas esposas. Psicologicamente, estes anos significam um período de dúvida, desorientação e tendências para soluções ilusórias, com breves períodos de felicidade. Espiritualmente, estes anos significam lutar com o vazio, com a sensação de ter perdido todo o antigo terreno e ainda não ter encontrado nenhum novo. 16 Assim, as fases que compreendidas entre 30 a 49 anos constituem mudanças físicas, biológicas e psicológicas tanto para homens quanto para mulheres. São, ainda, facilmente identificadas nos contextos profissional e pessoal, pois com o conflito de falta de entendimento sobre a estrutura temporal de cada gênero, o seu oposto necessita ter maturidade e conhecimento para lidar com todos os paradigmas e indagações existentes. TEMA 5 – A VIDA COMEÇA AOS 50? Apesar das várias opiniões sobre quando realmente a vida começa, podemos subjetivamente falar que ela pode ter vários inícios, sendo um deles a partir dos 50 anos. Com o direcionamento da energia biológica para o veio intelectual e espiritual, a vida nessa fase transforma-se consideravelmente, pois a liberdade conquistada de dar sentido às ações, coisas, pessoas e circunstâncias começa a se transformar na liberdade de querer e não somente de sentir. Com uma visão inicial do conjunto, visão mais holística e preocupada com o todo, o autodesenvolvimento nessa esfera da sapiência projeta o aumento da criatividade, como identificada no capítulo anterior. É um caminho sendo percorrido, no qual é preciso passar por todas as partes, culminando posteriormente no apego e na idealização do passado, no qual fica muito comum se ouvir: “os jovens eram mais respeitosos na minha época”, “quanto tinha a sua idade tudo era mais seguro”, “a tecnologia que eu tinha disponível era outra e não tínhamos tanta interação e informação quanto temos agora”, e vários outros verbetes. Nesse ciclo de vida, já possuímos uma grande quantidade de experiências profissionais, as quais nos permitem a busca de uma nova missão e estilo de vida. Conseguimos estabelecer novas conexões com objetivos de vida, incluindo o aumento abrupto da espiritualidade, na qual há o apego com maior veemência. Na esfera profissional, há um processo de liberação para a sucessão profissional entre mais velhos e mais jovens, possibilitando se desenvolver em novas perspectivas e novos segmentos, principalmente voltados para hobbies ou áreas nas quais se manteve por muito tempo e cultivou-se amizades fortes e duradouras. 17 Com o passar dos anos, próximo dos 63 anos, fase também identificada como a fase da luz, o indivíduo busca a selenidade, ou seja, o ato de envelhecer com o máximo de saúde possível. Enquanto que alguns pensadores e críticos identificam popularmente como a “fase da melhor idade”, verdadeiramente seria a “fase do final da idade”, pois, ao envelhecer, estamos cientes de que estamos cada vez mais pertos da morte, do fim de tudo. Então, por consequência dessa linha inconsciente de pensamento, busca-se a coletividade ao invés do processo egoísta, culminando na busca de uma vida com mais saúde, mais dignidade e mais respeito, embora seja uma fase na qual tenhamos um decréscimo do processo de interação familiar. Isso porque, com o aumento das casas lares, asilos e casas de repousos, as famílias estão priorizando diversas outras atividades ou situações em que não são inseridos seus parentes mais velhos, ou seja, são atividades adequadas para pessoas com melhor vitalidade física e biológica. Dessa forma, as modificações ambientais tornam o processo de envelhecimento mais atenuado. Segundo Rolison et al. (2013), nesse processo há a tendência de os mais velhos terem menores propensões a atitudes de riscos, tais como na área financeira, devido à diminuição da expectativa de vida. Da mesma forma, ocorre a área de domínio social, na qual se envolve menores riscos de conflitos e consequências negativas. Todavia, na parte recreativa, existe uma tendência de se aumentar o risco se comparado ao processo na fase adulta ou jovem. Dessa forma, conforme explicita a American Psychological Association (2018), a população está envelhecendo, aumentando o topo da pirâmide etária, e com isso, muitos idosos continuam a atuar em suas vidas profissionais, seja de forma assalariada ou em forma de voluntariado. Essas interações regulares com novos segmentos de mercado, com diferentes redessociais e o envolvimento de familiares auxiliam os idosos a serem mais saudáveis. Essa interação permite que ele aprenda novas habilidades, cujo aprendizado, para essa faixa etária, não exige pressa. TROCANDO IDEIAS Lidar com pessoas sempre foi o grande desafio de qualquer empresa e de qualquer ser humano. Somos uma “caixinha de surpresas” o tempo todo. 18 Nesse intuito, é de suma importância poder aprofundar a maior quantidade de experiências possíveis sobre como cada gênero e faixa etária se comporta. Um recém-adolescente terá preferências de compras voltadas para a aceitação pelo meio no qual está inserido, sendo influenciado de maneira volumosa por amigos ou pelos ídolos, buscando ideais de personalidade, comportamento, vestimenta e intelectual para esse público. Já um adulto de meia-idade (por volta de 45 a 50 anos) terá preferências totalmente diferentes, tanto nos estilos de vestimentas quanto em gostos musicais, profundidade de diálogos e desejos por produtos. Qual seriam as melhores estratégias para se ter uma comunicação mais eficiente com ambas faixas etárias? NA PRÁTICA Para uma melhor aplicação dos conceitos, sugere-se a resolução do estudo de caso a seguir, levando-se em consideração a variação das faixas etárias e as influências ambientais que as envolve. A empresa Star Telecomunicação possui uma atuação em âmbito nacional, com vendas de linhas telefônicas (fixa e móvel), conexão de internet e canais fechados (“televisão à cabo”). Seu pool de clientes é demasiadamente variado, ou seja, possui desde jovens menores de idade até idosos em sua base de dados. A sua comunicação virtual pelos meios tradicionais de propaganda (televisão, rádio, outdoor, panfletos e ações promocionais) não tem surtido o efeito desejado na captação de novos clientes e na manutenção da carteira de clientes atuais. Um dos diretores da empresa entende que toda a linha de posicionamento deve ser alterada, pois algumas campanhas de marketing têm conquistado mais a preferência de jovens do que de adultos e idosos. Sabe-se que esses jovens são menos fiéis à manutenção dos serviços e constantemente mudam de operadora. Levando em consideração as possíveis estratégias de foco para adequação do novo posicionamento, qual deveriam ser as principais preocupações da área estratégica de marketing para atingir a todos os públicos de clientes, prospects e suspects? 19 FINALIZANDO A compreensão do comportamento das faixas etárias permite que haja uma melhor adequação no relacionamento interpessoal, no autoconhecimento e nas estratégias de com clientes e colaboradores. Cada fase da vida evolutiva humana permite que tenhamos estratégias diferenciadas no que tange à melhor forma possível de se relacionar e obter resultados. Desde pequenos (bebês), somos instruídos a termos determinados comportamentos aceitáveis por aquele meio no qual estamos inseridos, todavia esse meio varia conforme a localização na qual nos encontramos. Questões como cultura, educação, qualidade de vida e disponibilidade alimentar fazem total diferença entre um lar ou outro. Com o passar do tempo, já na adolescência, temos uma explosão de hormônios e de novos posicionamentos, os quais são considerados, por vezes, como revoltas ou comportamentos inadequados para os adultos que envolvem o ambiente. É uma fase de muitas mudanças e descobertas, principalmente relacionadas ao emocional e ao biológico. Já na fase jovem até o início do ser adulto, muitas novas interações acontecem, permitindo moldarmos nosso comportamento em função mais do ambiente do que propriamente de nossa genética, buscando conhecer novos padrões de relacionamentos, emprego e estudos. O adulto possui uma variação mais atenuante no quesito de modificação emocional e busca se solidificar no âmbito profissional e familiar. Na fase da adulta mais próxima da idosa temos uma mudança considerável nas preferências e objetivos de vida, tornando a comparação entre as faixas etárias anteriores mais destoantes, porém, com motivações semelhantes, como um espelhamento do ciclo de vida humano. Para compor melhor todas as estratégias mercadológicas, é preciso compreender nossa biologia e evolução. 20 REFERÊNCIAS ALMUZIAN, M. Growth prediction (amount, spurt and direction). University of Glasgow, 2014. AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION. Older adults: health and age- related changes. Disponível em <http://www.apa.org>. Acesso em: 31 jul. 2018. BARTOSZECK, A. B.; BARTOSZECK, F. B. Neurociência dos seis primeiros anos: implicações educacionais. Harpia, v. 1, n. 2, p. 1-25, 2004. BURKHARD, G. K. Tomar a vida nas próprias mãos: como trabalhar na própria biografia – O conhecimento das leis gerais do desenvolvimento humano. 5. ed. São Paulo: Antroposófica, 2012. COSTA, F. A. N. A satisfação no desenvolvimento humano na fase do aprender. Dissertação (Mestrado) – Florida Christian University, Orlando, 2015. KOEPKE, H. A criança aos 9 anos: a queda do paraíso. São Paulo: Antroposófica, 2014. LIEVEGOED, B. 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Risk-taking differences across the adult life span: a question of age and domain. Journals of Gerontology, Series B: Psychological Sciences and Social Sciences, 69, p. 870–880, out. 2013. SCHOOREL, E. Os primeiros sete anos: fisiologia da infância. São Paulo: Antroposófica; Federação das Escolas Waldorf no Brasil (FEWB), 2013. STEINER, R. O desenvolvimento saudável do ser humano. São Paulo: Federação das Escolas Waldorf no Brasil, 2008. THE SCOTTISH GOVERNMENT. A guide to getting it right for every child. Disponível em: <http://goo.gl/8aFXiI>. Acesso em: 31 jul. 2018. http://goo.gl/8aFXiI NEUROMARKETING AULA 5 Prof. Felipe Augusto Nasser Costa 2 CONVERSA INICIAL As distinções comportamentais e as aplicações do neuromarketing As distinções comportamentais podem ser identificadas nas mais variadas formas e meios de comunicação. Cada área profissional possui suas especificidades, porém a igualdade entre elas está na utilização do ser humano como fonte principal de interação comportamental. Sempre que é possível parar para observar uma marca ou uma campanha publicitária, seja ela on-line ou off-line, nos deparamos com aspectos que nos identificam àquela marca, pessoa, produto, palavras ou ao conjunto de palavras (frases). Essa vinculação é ativada de maneira inconsciente e determina grande parte de nossa relação com o meio no qual estamos inseridos e sendo influenciados e influenciando. Essa influência e esse comportamento humano possuem variações que permitem identificar o impulso e a motivação por gênero envolvido, masculino ou feminino. Esta aula está dividida em 5 temas principais: 1. Diferenças comportamentais entre homem e mulher; 2. Neuromarketing aplicado ao design, comunicaçãoe publicidade; 3. Neuromarketing aplicado ao branding; 4. Neuromarketing aplicado ao mundo digital; 5. Redes sociais e as influências comportamentais. As informações com as quais você terá contato não exaurem o tema, mas são um incentivo a novas pesquisas e ao aprofundamento. CONTEXTUALIZANDO As diversas estratégias elaboradas pelas áreas de marketing, comerciais e de gestão buscam a comunicação, posicionamento e interação com o mercado de forma holística, tratando os gêneros de maneira igualitária no momento da compreensão das expectativas e de campanhas publicitárias. Evidentemente que há o respeito e entendimento sobre a igualdade de gêneros no que tange a todos os fatores econômicos e ambientes em que estamos inseridos, todavia vamos tratar e delinear as estruturas neurais e comportamentais que diferem o gênero masculino do feminino. 3 Com o entendimento das diferenças cognitivas e neurais ditas acima é possível realizar melhores ações no que tange aos resultados para posicionamentos nas áreas da comunicação, publicidade e do mercado digital, os quais vigorosamente trazem resultados efetivos para qualquer organização. Outro ponto crucial nas estratégias é o posicionamento de marca, também chamado de branding e as influências comportamentais humanas por consequência da interação com o meio. TEMA 1 – DIFERENÇAS COMPORTAMENTAIS ENTRE HOMEM E MULHER Desde bebês diferenciamos meninos e meninas com adereços e objetos que, segundo um padrão social, ditam as regras sociais para a delimitação de gêneros. Ainda é possível ver a diferença nas cores como azul para meninos e rosa para as meninas. Os meninos tendem a receber presentes como caminhões, carrinhos, utensílios de esportes como bola e chuteira. Meninas recebem bonecas, roupas mais delicadas e com babados e bordados, casinhas de brinquedos. Também vemos, em menor escala, meninos com bonecas e meninas com utensílios esportivos como chuteiras e bola, porém são situações fora do padrão estipulado nas regras sociais subjetivas atuais. Segundo estudos de Miller e Halpern (2014), as diferenças comportamentais entre homens e mulheres são notadas em diversos aspectos, tais como visão espacial, interação social, processo de empatia e outros, porém há diversos outros espectros do comportamento que ainda não foram correlacionados por serem muito complexos para serem identificados ou devido a serem temporários. Outro fator de dificuldade de identificação de comportamentos por gênero é que as experiências ambientais provocam mudanças cognitivas e estruturais no cérebro, mesmo na fase adulta. Por exemplo, os hormônios pré-natais podem influenciar as habilidades cognitivas pós-natais, mas indiretamente através de preferências [48]. A maior exposição pré-natal aos andrógenos pode fazer com que as mulheres busquem atividades tipicamente masculinas que provavelmente aumentam a cognição espacial, de acordo com análises mediacionais em um estudo recente da HAC. (Miller; Halpern, 2014) 4 1.1 Cérebro masculino As vantagens masculinas no cérebro dependem de diversos fatores, como a intensidade do nível de testosterona e o fator ambiental, além da interferência de outros neurotransmissores e da prática alimentar desde a era pré-natal. Um exemplo dessa interferência ambiental em conjunto com aspectos neurológicos é que homens possuem vantagens na interpretação espacial mental. Outro fator é que o desempenho espacial e matemático tende a ser mais acentuado no cérebro masculino, culminando em vantagens nesses aspectos, porém essa tendência é mais perceptível em nações mais desenvolvidas e em estruturas familiares com maior status socioeconômico (Miller e Halpern, 2013). Para Ingalhalikara et al. (2014), o cérebro masculino possui uma conectividade inter-hemisférica, ou seja, apesar de utilizarmos diversas áreas do cérebro ao mesmo tempo, nossa tendência natural são as conectividades num mesmo lado do cérebro para algumas conexões, conforme a Figura 1. Figura 1 – Conectividade do cérebro masculino Fonte: Ingalhalikara et al., 2014. Essa conectividade inter-hemisférica também é confirmada por Tunc et al. (2015), levando em consideração que os homens apresentaram menor conectividade intermodular e maior intramodular. Nos estudos de Ingalhalikara et al. (2014), foram identificadas diferenças significativas nas questões de processamento espacial e motor e maior velocidade sensório-motor. 5 Assim, para a aplicação prática das estratégias de comunicação para o cérebro masculino, é preciso observar o seguinte: Ofereça prazer ao homem, status e alegria: ofereça produtos que dão aos homens prazer, status e alegria. Isso fará com que o processo de venda seja mais fácil. Atenção, emoção e memória: homens são estimulados pela orientação emocional aos produtos, ou seja, desperte nele os 3 princípios do comportamento e facilite a tomada de decisão de compra. Use os 5 sentidos: o homem tende a comprar usabilidade e praticidade. O homem precisa usar todos os sentidos, como tocar, cheirar, saborear, ver e ouvir. Homens são mais táteis e visuais: o homem precisa estar confortável para comprar. O homem possui uma tendência de comprar comodidade antes de beleza. Homem é dominante: o homem tem necessidade primitiva de dominar sua casa com comida, sexo para dar sentido à sua sensação de dominação. Homens falam 3 vezes menos que as mulheres: o homem utiliza metade das palavras utilizadas por uma mulher, durante seu dia. Por esse motivo, a venda para homens deve ser mais focada e objetiva. O homem sente-se “líder”: os homens precisam sentir-se líderes de suas famílias e de seus grupos, comumentemente chamados de macho-alfa. Ofereça produtos que permitam que ele se sinta protetor e sustentador da família e de sua mulher. 1.2 Cérebro feminino O cérebro feminino possui variações em detrimento dos estímulos misturados com sua fase temporal, ou seja, depende de sua fase hormonal. Segundo Upadhayay e Guragain (2014): No entanto, comparando as funções cognitivas das funções cognitivas da fase pós-ovulatória do gênero feminino em comparação com o masculino, encontramos diferenças significativas nos tempos de reação visual atencional e no teste de Stroop (precisões de cor). Os homens apresentaram tendência geral de desempenho inferior ao das mulheres em fase pós-ovulatória no VRT (tempo de resposta visual) Go / No-Go (porcentagem de resposta correta), VRT Go / No-Go (geral), Teste de Stroop (tempo de leitura normal e tempo de interferência) e memória de trabalho (tempo médio). 6 Segundo Miller e Halpern (2013), as mulheres possuem vantagens na leitura, uma denotação em que detalhes e foco são mais fortes cognitivamente neste gênero. Outro ponto importante é que, mesmo o cérebro masculino possuindo mais vantagens na característica espacial, quando se trata de utilizar a memória para essa função, o cérebro feminino é favorecido moderadamente a mais do que o masculino. Essa situação está alinhada com as habilidades de memória. Assim, é também explicado por Ingalhalikara et al. (2014): o cérebro feminino possui uma conectividade intra-hemisférica, ou seja, as conectividades cerebrais acontecem na intercalação entre os hemisférios, conforme a Figura 2. Figura 2 – Conectividade do cérebro feminino Fonte: Ingalhalikara et al., 2014. Nos estudos dos autores supracitados, o cérebro feminino supera o cérebro masculino em atenção, memória a respeito de palavras e faces e testes de cognição social (Ingalhalikara et al., 2014). Algumas aplicações de relacionamento diretas com o cérebro feminino devem levar em consideração que este gênero possui melhores aptidões em competências sociais, como relacionamento interpessoal, e memorização de faces, palavras, números e detalhes. O poder da empatia também é mais acentuadono comportamento feminino, visto a necessidade biológica e instintiva com relação à prole. Assim, para melhorar a relação de comunicação estratégica com o cérebro feminino, sugerem-se algumas ponderações: 7 As mulheres, por se socializarem mais, tendem a dialogar mais, então falam mais palavras que os homens, durante um dia todo. Então deixe a mulher falar para que se tenha as expectativas dela em relação ao assunto abordado; Por serem mais empáticas, as mulheres possuem uma preferência por histórias e metáforas; Pesquisas demonstram que mulheres são mais focadas em detalhes do que os homens, incluindo diferenciação de cores, formas e formatos; A variação hormonal provoca diferentes reações e atitudes na mulher. Essa variação ocorre durante fases de menstruação, ovulação e menopausa; Por ser quem gestiona e cuida da prole, o cérebro feminino possui um processo de vinculação emocional maior com aspectos familiares. TEMA 2 – NEUROMARKETING APLICADO AO DESIGN, COMUNICAÇÃO E PUBLICIDADE Quais são os impactos em nosso cérebro quando estamos olhando um outdoor ou na frente da televisão ou ouvindo a propaganda no rádio? Será que o impacto da mídia entre homens e mulheres está sendo diferente ou igual? Talvez esses sejam os principais questionamentos das empresas e das agências de comunicação que investem intensivamente em mídia. Entender e contabilizar por meio de indicadores o comportamento e o impacto da comunicação e do design no cérebro é fundamental para que se tenha maior retorno possível em função dos investimentos que são realizados nas diversas mídias disponíveis, tais como televisão, rádio, redes sociais, blogs, portais de notícias, carros de som, panfletagens, outdoor, displays interativos, entre outros. Por um lado, os planejamentos de criação, design e mídia seguem os padrões de arte e concepção há tempos ensinada nas universidades, tendo pequenas adaptações no contexto de inovação. Por outro lado, as conexões cerebrais determinam o ritmo de interação, envolvimento e respostas emocionais aos estímulos comerciais, pois eles são feitos para encantar o telespectador e criar a sensação de saciedade temporária pós-compra, com objetivo claro de 8 ditar o ritmo de recompra e distribuição de produtos. Com isso, nos tornamos reféns da compra impulsiva, que, segundo Silva (2014, p. 45-46), é feita sem nenhum planejamento prévio, de maneira totalmente irracional, e tem como único objetivo a satisfação imediata de uma vontade momentânea e, com certeza, passageira. Como diz o ditado popular, “vontade dá e passa! [...] Tudo é feito para você se encantar, não pensar por alguns segundos e se permitir àquele prazer. As compras impulsivas podem não gerar grandes transtornos às pessoas quando são eventuais e não chegam a comprometer o orçamento. Mas sempre representam gastos desnecessários, que poderiam ter seu valor mais vem empregado, em coisas de fato necessárias ou mesmo mais úteis, ou ainda, poupado para melhor uso futuro. Segundo Pradeep (2012), existem 10 elementos que melhoram o desempenho da comunicação (no quesito mais amplo dessa linha profissional), os quais são: Atenção, emoção e memória: as respostas a esses estímulos auxiliam na determinação das partes que são mais eficazes na comunicação. Esses parâmetros neurométricos possibilitam melhorias contínuas como num processo de ciclo de planejamento, execução, controle e correção (PDCA) cerebral; Respostas neurológicas intervalar: com o objetivo de mensurar o alcance da mensagem veiculada dentro de intervalos de 300 milissegundos ou menos, esses indicadores permitem a realização de teste para validação da fixação da marca e da mensagem; Eficiência da repetição publicitária: é importante entender se o processo de repetição de veiculação de uma mesma peça publicitária se mantém com as mesmas codificações e impactos no cérebro do telespectador ou se aumentam ou diminuem esses impactos. Escalonar esses indicadores permite melhorar a disseminação da comunicação e determinar os melhores meios de veiculação; Relevância e uniformização neurológica: a compressão dos comerciais veiculados deve ser realizada de maneira a manter os principais estímulos neurológicos para o envolvimento emocional e impulsivo. Em geral, comerciais mais curtos com “intenção de compra” são mais indicados para televisão, já os comerciais que agregam novidades são favoráveis na veiculação mobile ou internet; Estimule os sentidos: a estimulação da região parietal do cérebro permite que a comunicação seja mais efetiva, pois esta região concilia o paladar, 9 o tato e olfato na integração com a campanha veiculada, ou seja, estimular esta área cerebral é ativar os sentidos e possibilitar a interação com a história de maneira mais emocional e impulsiva; Aquisição e consumo imediato pelo neurônio-espelho: a replicação comportamental é uma ativação efetuada pelo sistema de neurônio- espelho, ou seja, quando, na campanha publicitária, o ator ou atriz está utilizando o produto ou serviço, temos ativada a ação no próprio cérebro; Experiência de consumo com altos níveis de engajamento: a integração entre vídeo e áudio deve possibilitar o envolvimento emocional. Comerciais que possuem elevados níveis de engajamento tendem a gerar maior intenção de compra. Coerência e eficácia do áudio: sabe-se que determinados ritmos musicais estimulam maior intensidade da frequência cardíaca e de respiração, permitindo o acionamento do sistema límbico com maior força; Personagens: a vinculação inconsciente a um personagem no comercial pode determinar uma melhor eficácia da campanha publicitária. Caso o impacto neurológico seja profundo a ponto de aumentar o engajamento do cliente, a continuidade desse personagem em outros veículos de comunicação pode aumentar os resultados positivos; Avaliar sua comunicação na prateleira: a identificação do momento de intenção de compra dentro de um comercial pode ser inserida na comunicação visual em lojas ou em mídias de veiculação externa, como um outdoor ou display interativo, gerando aumento nos resultados de vendas. Assim, é preciso elaborar as campanhas de tal forma que gerem ativações cerebrais capazes de envolver cada cliente e quando se fala em design na comunicação, área criativa e estratégica que possui o propósito de tangibilizar a ideia ou mensagem da campanha, é preciso avaliar os segundos iniciais do impacto da criação, pois esses estímulos iniciais são as respostas emocionais inconscientes que determinam o comportamento inicial de interação e que podem gerar melhores resultados às campanhas publicitárias, como destaca Pradeep (2012, p. 239): “Descobrimos” que os comerciais que têm calmarias (pontos baixos de eficácia neurológica) com mais de 4 segundos correm o risco de perder o telespectador Análise cuidadosa de milhares de comerciais eficazes 10 e ineficazes revelou que existem ritmos naturais de eficácia neurológica nos comerciais bem-sucedidos. TEMA 3 – NEUROMARKETING APLICADO AO BRANDING Quando falamos em branding, ou marca, estamos relatando o nome da empresa, do produto, do serviço ou pessoal que inserimos para ser identificado e lembrado. Todavia nem todas as marcas conseguem ser fixadas na memória de longo prazo. Normalmente as estratégias de branding visam à fixação da marca para que possa agregar valor ao produto, serviço ou pessoa, todavia esse processo não leva em consideração os fatores comportamentais, emocionais e neurais interligados. Tal junção propicia a construção da marca na memória e na gestão das expectativas cerebrais, as quais ativam o sistema de recompensa cerebral e neurotransmissores, como a dopamina (prazer). As marcas fortes ativam redes de áreas corticais e áreas envolvidas no processamento emocional e associadas à autoidentificaçãoe ao processo de recompensa. Elas são processadas com menor esforço cognitivo por parte do cérebro. Já marcas fracas apresentam níveis mais altos de ativação em áreas de memória de trabalho e resposta emocional negativa. As criações de marca são projetadas para terem uma vida longa, ou seja, que se mantenham ativas no mercado durante muito tempo, todavia a complexidade da criação por vezes não leva em consideração pontos cruciais de atenção às percepções cerebrais, tais como: As estruturas das marcas precisam ser de fácil compreensão, pois quanto mais complexa a marca, mais tempo e dispêndio de esforço cognitivo temos, gastando assim mais energia; Para uma melhor percepção, é importante a utilização de componentes familiares aos nossos clientes, ou seja, elementos que sejam diagnosticados no dia a dia da utilização daquele produto ou serviço; Entenda qual é o impacto emocional e a profundidade de sentimentos que sua marca gera em seu cliente. Esse impacto, traduzido em formas, formatos, cores e movimento, auxilia o cérebro a distinguir você de seu concorrente; 11 O monitoramento dos movimentos oculares e de dilatação da pupila é importante para que haja uma melhor adaptação da marca, slogan, cores e formas com o objetivo de melhorar a retenção e memorização da marca; Somos atraídos por elementos que nos trazem segurança e de fácil entendimento, por esse motivo os desenhos rupestres foram tão importantes na evolução cognitiva e de leitura do ser humano; Com alguns elementos pensados, consegue-se melhorar a efetividade da associação da marca com valores, percepções e julgamentos, criando a favorabilidade, melhorando a memorização da marca e seu know-how e aumentando a lealdade pela marca. Outros fatores de interferência na preferência por marca levam em consideração: Medos associados à marca: a percepção de ausência de segurança torna a marca frágil em relação aos concorrentes e ao mercado. Fornecer elementos tangíveis melhora a percepção de solidez e autoridade; A novidade torna o cérebro curioso e com percepção de exclusividade; Criar desejos e aspirações para sonhos disseminados no inconsciente fortalece a fixação da marca com a causa do cliente; Associação com reativação da memória aumenta a fixação da marca, pois o processo de ancoragem mantém a marca ativa no inconsciente. Portanto as escolhas dos elementos da marca e sua linha de comunicação devem levar em consideração a identidade visual mais agradável ao cérebro, permitindo a identificação de harmonia da marca. Outra necessidade é a criação de um history board da marca, ou seja, a marca precisa ter uma história, uma vida própria com objetivos e uma causa, permitindo assim que nosso cliente participe dela em todos os sentidos. TEMA 4 – NEUROMARKETING APLICADO AO MUNDO DIGITAL Um dos maiores desafios atuais é a integração entre as mídias tradicionais e virtuais. Cada uma delas possui um tempo de interação diferente e os estímulos visuais, auditivos e táteis concorrem em proporções diferentes, o que podemos chamar de competição das três telas, parafraseando o conceito de Pradeep (2012). 12 A competitividade entre as mídias disponíveis e o constante aumento do número de competidores pela audiência geram necessidades de estratégias distintas entre televisão, internet (computador e notebooks) e mobile (celular e tablets). Mas uma das questões indagadas pelas empresas é: “Os estímulos e resultados de comportamentos de nossos clientes são diferentes em relação à televisão e internet?” Talvez essa questão tenha como resposta um simplista “talvez”. A comunicação pode ter linhas diferentes de veiculação, porém os estímulos necessitam ser próximos para o consumo do mesmo produto. A fixação da marca ou do preço ou da localidade deve ter consonância entre os veículos, e as criações diferenciadas para um mesmo produto precisam gerar as mesmas motivações de intenção de compra, porém se as motivações forem distintas, isso pode incorrer em modificação do impacto e das ações inconscientes de seus clientes, devido à mídia poder ter públicos diferentes. Para Pradeep (2012, p. 270): Mas será que o cérebro processa todas as imagens em movimento da mesma maneira? A resposta é não. Funcionalmente, o cérebro recebe estímulos de vídeo de modo idêntico, qualquer que seja a fonte. Contudo, como ocorre com outros aspectos do neuromarketing, essa descoberta constitui apenas uma parte do quadro total. Há implicações de marketing a serem examinadas a partir do que já aprendemos sobre a forma como o subconsciente responde ao vídeo nos diversos formatos, desde o telão nos estádios à tela do menor telefone celular na palma da mão. Segundo dados da Global Web Index, as mídias sociais são as principais responsáveis por interações de escolhas de produtos ou serviços, superando pesquisas de comparação com os buscadores para as novas gerações de usuários. Assim, a aplicação dos conceitos e técnicas de engajamento emocional, ativação de memória e retenção de atenção são de fundamental importância para os resultados que qualquer empresa espera – aumento de vendas, engajamento com a marca, fortalecimento de posicionamento, entre outros. Um ponto importante no contexto de envolvimento cerebral com o produto é a ação tátil, a qual ainda não conseguimos obter pelo mundo virtual, com exceção da tecnologia de realidade virtual pela utilização de óculos especial (EVR). Como o ser humano é tátil, as estratégias para substituição deste sentido por outros deve contemplar aspectos de estimulação do cérebro reptiliano ou cérebro primitivo, como denota, em alguns aspectos, Renvoisé e Morin (2007): 13 Concentro os esforços de leitura ou áudio na centralização do “eu”. O nosso cérebro é programado para obter os resultados que melhor se adequam à necessidade individual, ou seja, é um processo egoísta de sobrevivência social, psicológica, biológica e familiar; Embora não tenhamos como tocar objetivos efetivamente no mundo digital, podemos realizar comparações visuais práticas a ponto de contrastar a utilização do produto em detrimento dos benefícios que ele oferece; Aumentamos o engajamento no mundo digital quando elencamos informações familiares e que possibilitem grau de comparação, também chamado de entradas tangíveis. Quanto menor o esforço cognitivo de entendimento, maior a possibilidade de ação em vez de indagação; Estímulos visuais são de extrema importância, pois nosso sentido visão está mais próximo do cérebro do que qualquer outro. Nossos nervos ópticos são estimuladores de compras, ou seja, a ação de vinculação emocional dá-se, num primeiro momento, pela interação visual. O cérebro do impulso (reptiliano) é visual, então as utilizações de imagens que gerem memes comportamentais são de extrema importância. Outro ponto que merece real atenção em relação ao mundo digital é que somos atraídos por coisas que possamos demarcar com segurança e que possamos mapear inconscientemente, como um rosto, por exemplo. A leitura de dados da face nos permite acionar as emoções e juízos de valor, como as intenções de entendimento subjetivo. Assim, quanto maior for a tela de visualização digital (por exemplo, a televisão), maior será nossa percepção sobre a face de uma pessoa, porém para telas pequenas, como celular, temos uma dificuldade maior de entender as microexpressões faciais, dificultando nossa vinculação emocional; e se não vinculamos emoção à imagem, temos a possibilidade de não reter as informações e não cristalizar na memória aquela experiência, por isso o efeito da imagem será negativo para os resultados esperados. TEMA 5 – REDES SOCIAIS E AS INFLUÊNCIAS COMPORTAMENTAIS As redes sociais já ditam algumas regras de consumo há algum tempo. As interações positivas e negativas nas mais diversas redes sociais impactam14 positiva ou negativamente marcas, vendas de produtos e fidelização de clientes. Como relatado anteriormente, as mídias sociais já ultrapassam em grau de importância por pesquisa comparativas de produtos ou serviços, aumentando assim a convergência de importância das redes sociais em detrimento da influência comportamental social. Dados da Global Web Index denotam que a busca por conteúdos divertidos tem crescido, assim como pesquisas para encontrar ou comprar produtos e aumento da rede de contatos de trabalho. Essa linha de tendência comportamental em muito é influenciada pelas interações nas redes sociais existentes. Quanto maior a interação da rede social, mais as pessoas tendem a serem influenciadas sugestivamente por ela, pois, segundo Althoff, Jindal e Leskovec (2017), “a influência social é responsável por 55% das mudanças observadas no comportamento do usuário (redes sociais), enquanto os 45% restantes podem ser explicados pela maior motivação do usuário em usar o aplicativo”. Esta influência comportamental está inserida em nosso cérebro primitivo, cujos esforços destinamos para a sobrevivência. Assim, nossa tendência é nos mantermos realizando ações conforme o bando realiza, pois inconscientemente não queremos ser destoantes do meio no qual estamos inseridos e estamos tendo relacionamentos e informações. Para Camargo (2013), os três elementos básicos que nos levam às compras, também podendo entender que são fatores de influência comportamental, são: o comportamento de bando, a abstração do processamento da ínsula e o cérebro ancestral (primitivo). Esta replicação comportamental de influência social é a ação do sistema de neurônio-espelho ativo, no qual, por observação, nos colocamos nas mesmas experiências de outrem e acabamos por acionar nossas emoções e sentidos de tal forma que nosso cérebro estará estimulado a proceder à mesma ação pela mesma motivação. Pradeep (2012, p. 122) afirma que: Para o neurocientista V. Ramachandran, o objetivo dos neurônios é ajudar a disseminar informações rapidamente. Por exemplo, por volta de cem mil anos atrás, os seres humanos de repente desenvolveram a cultura (uso de ferramentas, fogo, abrigo, linguagem, teoria da mente, etc.). O dr. Ramachandran afirma que, durante esse mesmo período, nós também desenvolvermos neurônios-espelho para nos ajudar a duplicar as ações alheias. Em vez de aprende e reaprender a produzir fogo, por exemplo, várias pessoas podiam observar o fogo sendo produzido e, enquanto isso, seus neurônios-espelho as faziam sentir como se elas mesmas estivessem executando a ação. Como resultado dessa capacidade de pegar carona na experiência de outrem, 15 habilidades importantes que contribuem para o aprimoramento da espécie são difundidas rapidamente por intermédio da cultura. Essas fortes relações entre comportamento do outro e replicação comportamental estão difundidas em todas as esferas das redes sociais, pois cada rede social, por mais específica que seja na atuação e interação, estimulará seus usuários a terem comportamentos previamente definidos, e a interação desses comportamentos será replicada em outras redes sociais, pois somos seres biológicos replicadores. TROCANDO IDEIAS Os meios de comunicação são diversos, porém os objetivos inconsciente são os mesmos, se pararmos para realizar uma análise neurocientífica e comportamental. Homens tendem a ser mais objetivos em suas análises, enquanto que mulheres apreciam mais o detalhamento. Sendo assim, uma empresa que não se preocupa com o seu posicionamento na mente do mercado não consegue estabelecer conexões neurais de maneira a ativar a memorização, o prazer, a alegria e o saudosismo. Pelo contrário, ativará áreas ligadas ao medo, ao receio e à sensação de injustiça para com a própria marca ou produto, como a ativação da ínsula. Pensar estrategicamente em como monitorar o comportamento de cada cliente ou grupo de clientes é importante, visando à proliferação das emoções positivas por meio do neurônio-espelho e da competitividade biológica. NA PRÁTICA Para uma melhor aplicação dos conceitos, sugere-se a resolução do estudo de caso a seguir, tendo como referência as aplicações diretas de envolvimento emocional, atenção e memória para negócios. A concessionária de veículos EPS realiza a revenda de carros usados em condições de reparação, ou seja, os carros vendidos sempre são arrumados, desde lataria até mecânica. A rotação do estoque da empresa é alto, se comparada às suas concorrentes menores, porém baixo se comparada aos concorrentes maiores e a outras concessionárias que são ligadas diretamente a uma única marca. 16 Como estratégia para melhoria dos indicadores de vendas, a empresa necessita de uma readequação no padrão de atendimento e na abordagem com os clientes atuais, sabendo que: A maior parte das negociações financeiras acontece diretamente entre os vendedores e o comprador masculino; Nas visitas para conhecer o estoque de carros os homens levam suas esposas para conhecer os veículos; Mais de 75% dos clientes buscam carros que podem ser 100% financiados; A empresa é conhecida pela sua irreverência nas propagandas televisivas e pelo grande número de aprovações de financiamentos; Quase que uma normalidade a comunicação veiculada destoam da comunicação visual da concessionária; O principal questionamento atual é: como fazer com que a concessionária tenha um padrão de atendimento e confiança de marca sendo que o atendimento é igualitário para ambos os gêneros e a comunicação é divergente nos meios de veiculação? FINALIZANDO O relacionamento social, apesar de ser disseminado com muita veemência nos meios digitais, não substitui o caráter pessoal, pois somos seres biológicos e necessitamos desse contato para aprovação social. Os efeitos dessa relação social imperam no mecanismo de replicação de comportamento para uma aceitabilidade social, para a imposição de respeito e submissão, para a angariação de parceria sexual e de sobrevivência biológica, porém existem preferências destoantes entre homens e mulheres, pois a biologia de cada gênero difere, principalmente nos quesitos cerebrais e nas produções de neurotransmissores, os quais são capazes de modificar comportamentos inconscientes de tal maneira que alteram ciclos de vida bruscamente. Agora imaginar essas possibilidades nas esferas de relacionamento com clientes e com o mercado no quesito de posicionamento de marca, monitoramento de vendas e estratégias de marketing para abertura de mercados ou aumento da participação de mercado torna a atividade de ajustar as 17 estratégias empresariais muito mais complexa. Evidentemente que as relações interpessoais também são afetadas diretamente. Assim, o monitoramento das atividades de clientes é fundamental para entender que todos querem ter a sensação de pertencimento a um agrupamento social, buscam se entreter e receber recompensas emocionais por meio de seus desejos e anseios. Assim, é preciso controlar os resultados mercadológicos com base nos indicadores emocionais e cerebrais e para isso equipamentos e aplicações precisam ser utilizados. 18 REFERÊNCIAS ALTHOFF, T.; JINDAL, P.; LESKOVEC, J. Online actions with offline impact: how online social networks influence online and offline user behavior. 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Saber como são as pesquisas de Neuromarketing, quais equipamentos devem ser utilizados e trabalhar com ética para uma contribuição efetiva na sociedade são os balizadores do sucesso nessa área que cresce constantemente no mundo. Esta aula está dividida em cinco temas: 1. Pesquisa de Neuromarketing; 2. Equipamentos de pesquisas em Neuromarketing; 3. Equipamentos e tecnologias de contraprova em pesquisas; 4. Ética em Neuromarketing; 5. Contribuições do Neuromarketing para as estratégias de marketing. As informações com as quais você terá contato não exaurem este assunto, mas são um incentivo a novas pesquisas e ao aprofundamento do tema. CONTEXTUALIZANDO Quando você pensa em pesquisa, normalmente lembra daqueles formulários que precisam de preenchimentos longos, realizados por voluntários ou pesquisadores nas ruas enquanto abordam todos que por ali passam. Correto? Embora seja uma estratégia de abordagem e um tipo de pesquisa, as pesquisas na área de Neuromarketing demandam cuidados excepcionais e distintos, utilizando equipamentos que, por vezes, são extremamente caros devido à sofisticação da busca por dados (como na ressonância magnética). Para a realização de pesquisa em Neuromarketing, é preciso compreender que nem todo o cérebro deve ou conseguirá ser estudado em somente uma pesquisa. Seria pretencioso afirmar que apenas uma pesquisa 3 seja capaz de determinar as relações mais profundas que existem dentro do cérebro. Para que tenhamos acesso a diversos dados diferentes, precisamos de equipamentos, técnicas e análises diferentes. Todavia, é sempre factível um questionamento: Será que as pesquisas de Neuromarketing não possuem algum viés cognitivo ou interpretativo? São questões como essa que permitem o adensamento do conhecimento e das contribuições para a sociedade, na busca por entender o comportamento inconsciente do ser humano. TEMA 1 – PESQUISA DE NEUROMARKETING Muito tradicionalmente, temos pesquisas de marketing sendo divulgadas em vários meios de comunicação, por se tratarem de investigações tradicionais que permitem certo grau de erro amostral e seguindo padrões aceitáveis pela sociedade. Com as novas necessidades de mercado, as pesquisas iniciaram uma nova temática: a de serem multidisciplinares e abrangerem aspectos que, anteriormente, eram negligenciados. Diversas pesquisas são elaboradas e executadas no âmbito da medicina, biologia animal, fisioterapia, psicologia e psiquiatria para entender as reações fisiológicas; todavia, os comportamentos resultantes das análises podem ser incorporados na área de negócios, visando melhor desempenho de produtos no que tange à melhoria de facilidade e comodidade no uso. Embora já existam muitas pesquisas que abordam a biologia do comportamento de consumo do ser humano, sua expressividade ainda é pouca se comparada às divulgações das pesquisas ditas como tradicionais. Pesquisas com o termo neuromarketing foram iniciadas no ano de 2002 pela empresa de publicidade BrightHouse, que, na época, anunciou a utilização de FMRI (Functional Magnetic Ressonance Imaging) para as pesquisas de marketing; porém, houve diversos impactos e críticas, como denota Fisher, Chin e Klitzman (2010): Esta empresa rapidamente atraiu críticas por potenciais conflitos de interesse envolvendo a Emory University; a nova divisão de negócios da BrightHouse foi estabelecida pelo corpo docente da Emory, incluindo pelo menos um professor de psiquiatria, e os estudos de imagem usaram as instalações da Emory O grupo cívico antipublicidade Commercial Alert apresentou algumas das críticas mais contundentes a esse trabalho – por exemplo, a disseminação de “doenças relacionadas ao marketing” resultantes da promoção de empresas de junk food – e logo solicitaram ao Departamento Federal 4 de Pesquisa Humana, Proteções e ao Senado dos Estados Unidos da América para investigar a pesquisa da BrightHouse. O site da BrightHouse, Neurostrategies, como era chamado, foi rapidamente removido, e a nova empresa desapareceu da atenção do público. A identificação das reações inconscientes dos consumidores por vezes traz à tona a questão da ética em pesquisa e as possíveis consequências de descobertas, como: identificação dos fatores que levam à compra compulsiva, manipulação comportamental, criação de estereótipos por preferênciasbiológicas de consumo etc. Diversas áreas do conhecimento aumentaram suas preocupações em relação às interações com o cérebro; assim, a aplicação do prefixo “neuro” sofreu um aumento acentuado, como, por exemplo, em neurocoaching, neuroestética, neuroeducação, neuroteologia etc. As pesquisas de Neuromarketing utilizam, além de técnicas, equipamentos para monitoramento do cérebro e das variações fisiológicas humanas, como FMRI, eletroencefalograma, pupilometria, monitoramento de movimento ocular, magnetoencefalograma, estimulação magnética transcraniana, entre outros que serão descritos posteriormente. Algumas descrições em relação à aplicação dos equipamentos e investigações possíveis podem ser visualizadas na Tabela 1. Tabela 1 – Uma visão geral da técnica psicofisiológica predominante (continua) Acrônimo Medida física Medida aplicada Resolução temporária Resolução espacial Tecnologias de Neuroimagem Imagem por Ressonância Magnética RMI Mudança no estado de energia do hidrogênio Matéria cinzenta e branca Dias <1–3 mm Imagem por Ressonância Magnética Funcional FMRI Nível de oxigenação do sangue Atividade metabólica Segundos 1 a 5 mm Imagem por tensor de difusão DTI Gradiente de difusão magnética de água Tratos da substância branca Dias 1 mm Tomografia por emissão de pósitrons PET Radioativo 2 – desoxiglicose Atividade metabólica Segundos 3 a 5 mm Espectroscopia de infravermelho próximo NIRS Nível de oxigenação do sangue Atividade metabólica Segundos 2 cm Tomografia computadorizada CT Absorção de raios X Matéria cinzenta e branca N / D <1 mm Magnetoencephalografia MEG Campos magnéticos Atividade neural da população Milissegundos Centímetros 5 (Continuação da Tabela 1) Fonte: Perrachione; Perrachione, 2008. Além da preocupação com equipamentos e metodologias de pesquisa, existem diversas empresas no mundo com foco em neurociência do comportamento humano que têm buscado identificar e aprofundar estímulos para melhoria da qualidade de vida, do consumo e da evolução social. Para que exista uma coerência e união na disseminação das informações, há a entidade Neuromarketing Science & Business Association (NMSBA), associação global que integra as principais empresas e pesquisas nessa área do conhecimento. TEMA 2 – EQUIPAMENTOS DE PESQUISAS EM NEUROMARKETING Diversos são os equipamentos que potencialmente podem ser utilizados em pesquisa de Neuromarketing; tudo dependerá de quais serão os objetivos das pesquisas e do valor financeiro disponibilizado para tal, pois determinados equipamentos ou exames são mais onerosos do que outros. As pesquisas de Neuromarketing utilizam-se de tecnologias já conhecidas pela área médica, já que os estudos são focados nos estímulos fisiológicos e neurais, estudados pela Medicina há várias décadas com a finalidade de promoção à saúde. Dentre essas tecnologias, temos EEG, FMRI, Eyetracking e RGC/GSR. 2.1 EEG (Eletroencefalograma) O EEG é um exame utilizado há tempos na Medicina para identificação das correntes elétricas intracranianas. Segundo Teplan (2002): Eletroencefalografia Eletroencefalograma Campos elétricos Atividade neural da população Milissegundos Centímetros Estimulação magnética transcraniana TMS N / D Precisão e tempo de reação Milissegundos > 1 cmb Outras técnicas psicofisiológica Análise de pitch de voz VPA Vibração do cordão vocal Excitação Segundos fracionários N/D Resposta Galvânica da Pele GSR Resistência elétrica Excitação Segundos fracionários N/D Eyetracking Refletividade da córnea Atenção Espacial Milissegundos N/D 6 Durante mais de 100 anos de sua história, a encefalografia sofreu um enorme progresso. A existência de correntes elétricas no cérebro foi descoberta em 1875 por um médico inglês chamado Richard Caton. Caton observou o EEG do cérebro exposto de coelhos e macacos. Em 1924, Hans Berger, um neurologista alemão, usou seu equipamento de rádio para amplificar e medir a atividade elétrica do cérebro no couro cabeludo humano. Ele anunciou que correntes elétricas fracas geradas no cérebro podem ser registradas sem abrir o crânio, e representadas graficamente em uma tira de papel. A atividade que ele observou mudou de acordo com o status funcional do cérebro, como no sono, anestesia, falta de oxigênio e em certas doenças neurais, como na epilepsia. Berger estabeleceu as bases para muitas das aplicações atuais da eletroencefalografia. Ele também usou a palavra eletroencefalograma como o primeiro para descrever os potenciais elétricos do cérebro em humanos. Para o Hospital Albert Einsten (S.d.), o EEG é: um exame que analisa a atividade elétrica cerebral espontânea, captada por meio da utilização de eletrodos colocados sobre o couro cabeludo. Como a atividade elétrica espontânea está presente desde o nascimento, o EEG pode ser útil em todas as idades, desde recém- nascidos até pacientes idosos. O objetivo desse exame é obter registro da atividade elétrica cerebral para o diagnóstico de eventuais anormalidades dessa atividade. Utiliza-se o EEG para captar os ritmos fisiológicos e atividades cerebrais em correspondência com os estímulos ofertados ao voluntário da pesquisa. Figura 1 – EEG – Eletroencefalograma Fonte: YAKOBCHUK VIACHESLAV/Shutterstock. As respostas aos estímulos podem oferecer, com precisão, parâmetros relevantes à neurociência do comportamento humano, como atenção aos estímulos, engajamento emocional por meio das emoções ativadas e codificação da memória. Tais resultados podem ser aprofundados para que se obtenham outros direcionamentos para pesquisas no que tange às respostas cerebrais imediatas (análise dos primeiros 500 milésimos de segundo, ou 0,5 segundo). 7 2.2 FMRI (Ressonância Magnética por Imagem Funcional) Assim como o EEG, o FMRI também mede as ativações das regiões cerebrais; todavia, o FMRI possui análises mais aprofundadas do cérebro, visto que utiliza o monitoramento do fluxo sanguíneo. Segundo Glover (p. 134): Os estudos de fMRI de ativação de tarefas buscam induzir diferentes estados neurais no cérebro à medida que o estímulo visual, auditivo ou outro estímulo é manipulado durante a varredura, e os mapas de ativação são obtidos comparando os sinais registrados durante os diferentes estados. Portanto, é importante coletar cada imagem em um modo de instantâneo para evitar movimentos da cabeça e processos fisiológicos da respiração e funções cardiovasculares da injeção de sinais de ruídos não relacionados ao processamento neural sendo interrogado. Figura 2 – FMRI (Ressonância Magnética por Imagem Funcional) Fonte: Hakaba/Shutterstock. O FMRI é frequentemente utilizado em pesquisas comportamentais com objetivo de estudar as reações emocionais por meio de estímulos visuais e auditivos. 2.3 Eyetracking Também conhecido como rastreamento do movimento ocular, o Eyetracking consegue monitorar diversos movimentos oculares por segundo, fornecendo respostas de sinais fisiológicos aos estímulos recebidos. A variação de captação da quantidade de movimentos ocular por segundo depende do potencial de frequência que o equipamento possui. Ele revela como, quando e o que as pessoas estão olhando, em qual posição do ambiente está o foco ocular e a dilatação da pupila 8 Figura 3 – Óculos Eyetracking Fonte: Imotions, S.d. Existem alguns tipos de equipamento para medição da variação ocular, podendo ser fixos ou móveis, e com variação de frequência partindo de 30 hertz. 2.4 RGC/GSR (Resposta Galvânica Cutânea/Galvanic Skin Response) O RGC/GSR é um dos marcadores mais sensíveis à variação da excitação emocional. Também conhecido como atividade eletrodérmica ou EDA (Electrodermal activity), define as mudanças autonômicas nas propriedades elétricas da pele. A aplicação mais utilizada é a condutânciade pele, na qual são medidos os potenciais elétricos entre dois pontos de contato com a pele e o fluxo de corrente elétrica resultante entre eles. Segundo Braithwaite et al. (2015): A EDA é indiscutivelmente o índice mais útil de mudanças na excitação simpática que são tratáveis para estados emocionais e cognitivos, pois é a única variável psicofisiológica autonômica que não é contaminada pela atividade parassimpática. A EDA está intimamente ligada ao processamento autonômico emocional e cognitivo, e a EDA é amplamente usada como um índice sensível de processamento emocional e atividade simpática. Além das dessas tecnologias, existem outras análises que podem ser realizadas com finalidades de pesquisa, tais como: • EMT – Varredura Eletromagnética Transcraniana; • ECP – Estimulação Cerebral Profunda; • Optogenética; • Clarity – transparência de órgãos. TEMA 3 – EQUIPAMENTOS E TECNOLOGIAS DE CONTRAPROVA EM PESQUISAS Além dos equipamentos tradicionais em pesquisa de Neuromarketing, podemos citar outras ferramentas tecnológicas úteis para identificação das 9 reações fisiológicas que servem para contraprova dentro das pesquisas, ou seja, para uma segunda análise de dados cruzados, a fim de confirmar ou refutar a hipótese proposta, caso a análise amostral inicial tenha resultados não conclusivos. Essas ferramentas são: eletrocardiograma, eletromiografia, DNA e, mais recentemente, Transdermal Optical Imaging. 3.1 Eletrocardiograma O monitoramento da frequência cardíaca é um elemento importante para a verificação das respostas fisiológicas, embora tenha menor índice de utilização em pesquisas. À medida que existam alterações cerebrais que modifiquem o estado basal das respostas fisiológicas em relação aos estímulos, temos um aumento no bombeamento da corrente sanguínea, o que denota uma aceleração nos batimentos cardíacos. Quanto maior o envolvimento emocional com os estímulos, maior será a variabilidade da frequência cardíaca, tornando possível identificar o estado emocional do voluntário – excitado ou calmo. 3.2 Eletromiografia ou microexpressões faciais Este teste mede a valência e as reações emocionais (feliz ou triste) por meio dos estímulos musculares, interpretados como expressões faciais. Essa técnica auxilia no reconhecimento das emoções básicas inerentes ao voluntário estudado. Os estímulos que acionam os motores musculares, fazendo com que tenhamos expressões que denotem nossas emoções, na maioria das vezes são inconscientes e não controláveis. Segundo Ekman (2011), podemos ter diversas emoções que nos permitem fornecer diferentes respostas emocionais, movimentando desde sobrancelhas até partes maiores do corpo, como o tronco. Todos esses estímulos emocionais desencadeiam a liberação de neurotransmissores, capazes de nos fazer alterar até a coloração da pele (ruborização, por exemplo). 10 3.3 Transdermal Optical Imaging Este método também é chamado de Tecnologia de Imagem Óptica Transdérmica, e capta a variação térmica da face do voluntário, a fim de obter as variações das respostas cutâneas em detrimento do aumento de hemoglobina. Segundo Weil et al. (2018): A análise de imagem óptica transdérmica é um novo método de imagem que é capaz de isolar a concentração de hemoglobina (HC) de imagens de rosto humano tiradas de uma câmera digital convencional. Esta análise baseia-se no fato de que a pele facial humana é translúcida (Brunsting; Sheard, 1929; Edwards; Duntley, 1939; Dawson et al., 1980). A luz viaja sob a pele e reemite depois de percorrer os diferentes tecidos da pele. A luz reemitida pode então ser capturada por câmeras ópticas (Anderson, 1991; Stamatas et al., 2004; Demirli et al., 2007). Os cromóforos dominantes que afetam a luz reemitida são hemoglobina e melanina (Nishidate et al., 2004). Como a hemoglobina e a melanina têm assinaturas de cores diferentes, descobriu-se que é possível obter imagens refletindo principalmente HC sob a epiderme. Capitalizando sobre isso, a análise TOI primeiro obtém cada imagem capturada e, em seguida, realiza operações sobre a imagem para gerar uma imagem HC otimizada correspondente da face de um participante. Para melhor visualização, confira a demonstração de como funciona o processo de captação térmica. Figura 4 – Ilustração da estrutura da pele e do modelo de cor da pele Fonte: Thyago Macson. TEMA 4 – ÉTICA EM NEUROMARKETING Para entender o impacto da ética nas pesquisas de Neuromarketing, é preciso iniciar essa reflexão com uma resposta para: O que é ética?, ou “Para quem a pesquisa é ética? Muitos são os pensadores que retratam diferentes visões da ética e das frações comportamentais que permeiam a conduta 11 humana. Porém, quando se fala sobre ética em pesquisa de Neuromarketing, adentramos a esfera da Bioética, que perpassa outras esferas, como: • Cultural, ambiental e política; • Psicológica; • Educacional e científica; • Econômicas e financeiras; • Legais, morais e éticas; • Assistenciais e sociais; • Espirituais. O processo ético iniciou-se, em níveis internacionais, no ano de 1947, por meio do Código de Nuremberg, um conglomerado de textos que visava iniciar o processo de ética em pesquisas com seres humanos. Posteriormente, vieram outros tratados e textos que buscaram aperfeiçoar o processo de pesquisa, principalmente na área médica. Diversos são os documentos atuais que tratam sobre a ética em pesquisas: Código de Nuremberg, Declaração de Helsing, Relatório de Belmont, Diretrizes Éticas para a Pesquisa Biomédica em Seres Humanos e código de ética da NMSBA. No Brasil, devido à grande miscigenação, há grande diversidade de cultura e de crenças, tornando o posicionamento sobre “ética” um aglomerado de valores distintos. No entanto, a própria legislação brasileira institui os padrões éticos inicias, como determina a Constituição Federal: • Princípios fundamentais, vigorando os arts. 1º e 5º: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui- se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] III – a dignidade da pessoa humana; [...] Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; [...] III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; [...] V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; [...] X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. (Brasil, 1988) • Seção II, Da Saúde, vigorando o art. 196. • Seção IV, Da Assistência Social, vigorando os arts. 203, 204. 12 • Capítulo IV, Da Ciência, Tecnologia e Inovação, vigorando o art. 218. • Capítulo VI, Do Meio Ambiente, vigorando o art. 225. • Capítulo VII, Da Família, da criança, do adolescente, do jovem e do idoso, vigorando os arts. 227 e 230. Para a NMSBA, temos que a ética em pesquisas de Neuromarketing deve seguir um conjunto protocolar que garanta e reflita adequadamente os mais altos padrões éticos para esse setor. Saiba mais Os artigos que regem o código de ética da NMSBA são: • Artigo 1: Princípios Essenciais – a. Os pesquisadores de Neuromarketing devem cumprir os mais altos padrões de pesquisa aplicados em seus respectivos países e usar princípios científicos aceitos; b. Os pesquisadores não devem agir de forma que possa impactar negativamente a reputação e a integridade da profissão de pesquisa do Neuromarketing;c. Os resultados do Neuromarketing devem ser entregues aos clientes sem exagerar ou deturpar as percepções de Neuromarketing além do que é cientificamente aceito. • Artigo 2: Integridade – a. Pesquisadores de Neuromarketing devem tomar todas as precauções razoáveis para garantir que os participantes não sejam prejudicados ou estressados como resultado de seu envolvimento em um projeto de pesquisa de Neuromarketing; b. Pesquisadores de Neuromarketing não devem enganar os participantes ou explorar sua falta de conhecimento da Neurociência; c. Nenhuma oferta de venda deve ser feita a um participante como resultado direto de seu envolvimento em um projeto; d. Pesquisadores de Neuromarketing devem ser honestos sobre suas habilidades e experiência. • Artigo 3: Credibilidade – a. Preocupações ou críticas sobre projetos de Neuromarketing publicamente conhecidos devem ser primeiramente apresentadas à atenção do NMSBA antes de serem amplamente compartilhadas; b. Pesquisadores de Neuromarketing envolvidos em imagens funcionais do cérebro devem divulgar um protocolo para lidar com achados incidentais. • Artigo 4: Transparência – a. A participação em um projeto de pesquisa de Neuromarketing será sempre inteiramente voluntária; b. Pesquisadores de Neuromarketing devem manter um site público descrevendo seus serviços e as credenciais de seus principais membros da equipe, bem como publicar um endereço físico onde os funcionários da empresa possam ser contatados; c. Pesquisadores de Neuromarketing devem permitir que seus clientes auditem o processo pelo qual os insights de Neuromarketing são coletados e processados; d. Os pesquisadores de Neuromarketing devem garantir que os projetos de pesquisa do Neuromarketing sejam criados, entregues e documentados com transparência, e relatados com tantos detalhes quanto os clientes precisariam para entender o escopo e a relevância do projeto. • Artigo 5: Consentimento – a. Pesquisadores de Neuromarketing devem explicar as ferramentas que eles usam para os participantes em termos leigos; b. Antes de fornecer consentimento, os participantes da pesquisa de Neuromarketing devem expressar explicitamente sua compreensão dos protocolos, bem como os objetivos gerais do estudo; c. Os participantes devem ser totalmente informados sobre o projeto antes que qualquer técnica de Neuromarketing possa ser usada para coletar suas percepções de Neuromarketing; d. Uma vez iniciado o estudo de Neuromarketing, os participantes estarão livres para se retirar. • Artigo 6: Privacidade – a. Pesquisadores de Neuromarketing devem garantir que os participantes estejam cientes do propósito de coletar insights; b. Pesquisadores de Neuromarketing devem ter uma política de privacidade que seja facilmente acessível aos participantes de quem eles coletam insights; c. A identidade dos participantes não será revelada ao cliente sem o consentimento explícito; d. As informações pessoais coletadas devem ser coletadas para fins específicos de pesquisa do Neuromarketing, e não usadas para qualquer outra finalidade; e. As informações pessoais não podem ser mantidas por mais tempo do que o necessário para o objetivo do projeto de Neuromarketing; f. Pesquisadores de Neuromarketing devem garantir que medidas de segurança adequadas sejam usadas para proteger o acesso aos insights coletados durante qualquer projeto; g. Os próprios dados de 13 pesquisa do Neuromarketing, incluindo varreduras cerebrais e dados do cérebro, permanecerão como propriedade da empresa de pesquisa e não serão compartilhados. • Artigo 7: Direitos dos Participantes – a. Os participantes de qualquer projeto de pesquisa de Neuromarketing devem confirmar que não são obrigados a participar do projeto; b. Os participantes de qualquer projeto de pesquisa de Neuromarketing poderão retirar-se da pesquisa a qualquer momento; c. Os participantes de qualquer projeto de pesquisa de Neuromarketing devem ter a garantia de que seus dados pessoais não serão disponibilizados para outras pessoas; d. Os participantes de qualquer projeto de pesquisa de Neuromarketing devem ter a garantia de que os insights serão excluídos ou modificados mediante solicitação; e. Deve ser tomado especial cuidado para manter os direitos de proteção de dados dos participantes quando os dados pessoais são transferidos do país em que são recolhidos para outro país. Quando o processamento de dados é realizado em outro país, os princípios de proteção de dados deste Código devem ser respeitados. • Artigo 8: Crianças e Jovens – Os estudos de Neuromarketing envolvendo participantes com menos de 18 anos de idade somente serão realizados com o consentimento informado dos pais do participante. • Artigo 9: Subcontratação – Pesquisadores de Neuromarketing devem divulgar, antes do início do trabalho, quando qualquer parte do projeto deve ser subcontratada fora da própria organização dos pesquisadores de Neuromarketing (incluindo o uso de quaisquer consultores externos). • Artigo 10: Publicação – Quando os resultados de um projeto são compartilhados publicamente, os pesquisadores de Neuromarketing devem articular claramente qual parte do relatório representa a interpretação dos dados e quais partes dos dados representam as principais conclusões. Os pesquisadores de Neuromarketing não devem associar seus nomes a um projeto de pesquisa de Neuromarketing, a menos que tenham participado ativamente do projeto e sejam capazes de defender os resultados. • Artigo 11: Compromisso – Pesquisadores de Neuromarketing comprometem-se a aplicar este código e garantir que seus próprios clientes e outras partes cumpram com seus requisitos. Não fazer isso resultará no término de sua associação. • Artigo 12: Implementação – a. Os pesquisadores de Neuromarketing e seus clientes devem reconhecer que conhecem o código e também respeitam outras diretrizes de autorregulação relevantes para uma região ou projeto em particular; O Código é aplicável a todos os envolvidos em um projeto de Neuromarketing; b. Os membros do NMSBA deverão demonstrar sua aceitação do código publicando-o em seu site ou publicando um link para <www.nmsba.com/ethics>. (NMSBA, 2018) As pesquisas no Brasil têm por base a utilização, além da Constituição Federal, de diversos protocolos e leis geridos pelo Ministério da Saúde – MS, área que determina os padrões possíveis de pesquisas dentro da legislação e das políticas nacionais. O MS utiliza a Plataforma Brasil, site específico para cadastro e aprovação de protocolos de pesquisas em animais, inclusive em seres humanos, de maneira invasiva ou não invasiva, de caráter ético, científico e legal. A Plataforma Brasil é uma base nacional e unificada de registros de pesquisas envolvendo seres humanos para todo o sistema CEP/Conep. Ela permite que as pesquisas sejam acompanhadas em seus diferentes estágios – desde sua submissão até a aprovação final pelo CEP e pela Conep, quando necessário –, possibilitando inclusive o acompanhamento da fase de campo, o envio de relatórios parciais e dos relatórios finais das pesquisas (quando concluídas). O sistema permite, ainda, a apresentação de documentos também em meio digital, propiciando à sociedade o acesso aos dados públicos de todas as pesquisas aprovadas. Pela Internet é possível a todos os envolvidos o acesso, por meio de um ambiente compartilhado, às informações em conjunto, diminuindo de forma significativa o tempo de trâmite dos projetos em todo o sistema CEP/Conep. (Brasil, S.d.) 14 Alguns pontos relevantes a considerar nas pesquisas de Neuromarketing são: • Transparência: o processo de pesquisa deve ser realizado de maneira transparente, tendo todos os participantes sido notificados tanto dos procedimentos quantos dos resultados. A correta aplicação do processo em transparência garante veracidade e credibilidade da pesquisa. • Respeito mútuo: independentemente do participante ou da cobaia (animais), deve-se mantero respeito à vida na utilização de fração ou de partes bioquímicas dos animais; deve-se manter igualmente a integridade na condução da pesquisa. • Veracidade de informações: as informações coletadas e analisadas devem seguir critérios detalhados para sua execução, permitindo que outros pesquisadores ou sociedade possam utilizar os resultados de maneira coesa e fidedigna para melhor aplicação final. • Contribuição para a sociedade: a pesquisa deve servir para aprimorar e evoluir a sociedade num todo, permitindo que essa contribuição possa ser base ou adensadora das ações e decisões futuras para o bem da vida. TEMA 5 – CONTRIBUIÇÕES DO NEUROMARKETING PARA AS ESTRATÉGIAS DE MARKETING Há tempos o marketing tradicional precisava de uma nova modelagem para entender realmente os anseios e as aspirações dos clientes. Entender o ser humano jamais foi uma tarefa simples ou de pouco investimento, seja de tempo, de conhecimento ou financeiro. A grande problemática nas estratégias de marketing eram os vieses cognitivos das respostas de pesquisas mercadológicas, que tinham como resultados finais dados estimados de respostas conscientes, as quais, normalmente, são respostas para autoproteção, sobrevivência (em todos os âmbitos) e engajamento social. Um dos objetivos do Neuromarketing é estabelecer o elo entre a interpretação das reações emocionais e inconscientes dos clientes e os estímulos de mídia, das embalagens, da manipulação dos produtos e do pós- venda. Muitos são os veículos de comunicação e as artes em veiculação que poluem todo o ambiente visual, dificultando o processo de decisão de cada 15 cliente. Os estímulos sensoriais são tantos, que nosso cérebro não consegue processar grande parte. Segundo Pradeep (2012), sofremos cerca de 11 milhões de estímulos em formato de informações por segundo; porém, nosso cérebro consegue processar somente 40 dados de informações desses estímulos, ou seja, apenas 0,00036% correspondem às respostas elaboradas com base nos estímulos recebidos. A obtenção de um feedback correto, biologicamente verdadeiro e preciso somente pode se dar por meio de testes neurocientíficos que trabalhem os aspectos cerebrais e as estruturas de ativações emocionais, como frequência cardíaca, galvânica de pele e monitoramento ocular. Outro ponto substancial contributivo é a relação Custos x Tempo do desenvolvimento de produtos. Com a possibilidade de obtenção das respostas inconscientes em relação à manipulação dos produtos e seu grau de envolvimento emocional na vida dos consumidores, fica mais claro saber quais adaptações poderiam ser realizadas para melhoria contínua do produto ou serviço. O tempo de desenvolvimento dessas adequações seria menor, e a assertividade das correções seria elevada, diminuindo o exercício de teste de acerto e erro. Campanhas publicitárias, on-line e off-line, também teriam seus custos diminuídos devido à assertividade no impacto das mídias; assim, os custos de veiculação poderiam diminuir, já que seria necessário um menor número de veiculações para ter o mesmo efeito anterior, quando não havia adaptações neurocientíficas nas peças publicitárias. Outro ponto na área de Publicidade refere-se à alteração das análises de efetividade de mídia, também conhecidas como GRP (Gross Rating Points ou “Pontos de Audiência Bruta”), “um indicador da intensidade com a qual o anunciante está se comunicando com o público utilizando determinada programação. Isso permite comparar programações diferentes e saber, por exemplo, qual é a ‘mais forte’. Ou escolher a alternativa que dá a maior quantidade de comunicação pelo menor custo” (Rede Globo, 2015, p. 12). O GRP é medido com a utilização de aparelhos específicos distribuídos em diversas residências, dentro de um processo de amostragem. As casas selecionadas para fazer parte dessa pesquisa utilizam o aparelho de monitoramento, e é com base na sua utilização que os cálculos são feitos; porém, o comportamento de preferência e de estimulação emocional é diferente 16 em localidades distintas (por exemplo, realizar a mesma pesquisa com os mesmos critérios e ferramentais no Sul e no Nordeste brasileiros). Com o desenvolvimento tecnológico, essas métricas não biológicas ficam, com o tempo, obsoletas. Entre as diversas aplicações do Neuromarketing, a contribuição que talvez possa gerar maior impacto refere-se à melhoria do relacionamento social: com maior conhecimento de como nos comportamos, é possível melhorar nosso comportamento perante a sociedade e suas aspirações. Sabemos que as tomadas de decisões são sempre em benefício individual ou em prol do coletivo, no qual estamos inseridos de alguma forma, porém, com as contribuições do Neuromarketing, será possível entender como as pessoas contribuem e como podem fazê-lo daqui a algum tempo. TROCANDO IDEIAS As pesquisas em Neuromarketing, embora sejam fascinantes, necessitam de precisão e de recursos (tempo, disponibilidade de pessoas e finanças). Embora pesquisas nesse formato ou área sejam de vital importância para todas as empresas, ainda há uma carência gigante em relação ao entendimento dos benefícios que pesquisas de Neuromarketing podem proporcionar. Já imaginou economizar no lançamento de produtos, tendo acertado no projeto de elaboração e confecção? Conseguir um melhor desempenho nas campanhas de marketing com seu público-alvo? Melhorar sua relação de convívio e oferta de produtos junto ao seu cliente? São exatamente as perguntas nesse formato que as pesquisas em Neuromarketing buscam auxiliar, trazendo respostas e fornecendo subsídios para você e sua empresa terem o melhor resultado. NA PRÁTICA Para melhor aplicação dos conceitos aprendidos nesta aula, sugere-se a resolução do estudo de caso abaixo, tendo como referência as aplicações possíveis das pesquisas na área de Neurociência do Consumo. Um novo produto de higiene corporal foi lançado no mercado – um sabonete líquido. Para que a empresa tenha mais aceitação de seu produto na gôndola supermercadista, é preciso desenvolver algumas pesquisas tanto com 17 o público quanto com o produto em si. Embora haja um estoque do produto especialmente selecionado para esse fim, é preciso comover voluntários para que o utilizem conforme as especificações da pesquisa. Estes são alguns dados que servirão de subsídio para a tomada de decisão: • A necessidade de pesquisa foi levantada pela diretoria da empresa e está na fase inicial de concepção. • Serão necessários voluntários que não tenham alergia a alguns componentes específicos da formulação do produto. • É preciso saber quais serão as reações dos voluntários ao utilizarem o produto. • É preciso saber quais elementos visuais chamaram mais a atenção na embalagem. • Será necessário realizar uma publicação científica sobre a pesquisa. A principal necessidade é: quais ferramentas devem ser utilizadas para a realização dessa pesquisa? Quais procedimentos deverão ser adotados para que essa pesquisa mercadológica se torne científica? FINALIZANDO Mediante a necessidade de melhorar o desempenho de lançamento de produtos, de aperfeiçoar as campanhas de marketing e de diminuir os custos envolvidos em todo o processo, as pesquisas de comportamento de consumo com base em Neurociência, popularmente conhecidas como pesquisas de Neuromarketing, possibilitam que empresas melhorem seus resultados com base em indicadores cerebrais, ou seja, dados coletados em pesquisas de Neurociência aplicadas ao consumo e ao comportamento, vislumbrando indicações comportamentais e ativações cerebrais que levem o consumidor à melhor experiência possível. Todavia, para que empresas e pessoas possam entender o comportamento humano, são necessários equipamentos de monitoramento cerebral, fisiológico e biológico. Para que as pesquisas tenham efeitos científicose, também, maior grau de acuracidade e efetividade de análises, é importante a realização de prova e contraprova, ou seja, que exista uma população-controle 18 pesquisada e, outra, efetiva. Tudo isso com, pelo menos, dois indicadores diferentes e equipamentos diferentes. Os resultados trarão uma plena e aceitável contribuição para a sociedade e a vida. 19 REFERÊNCIAS BRAITHWAITE, J. J. et al. A Guide for Analysing Electrodermal Activity (EDA) & Skin Conductance Responses (SCRs) for Psychological Experiments. Reino Unido: Behavioural Brain Sciences Centre, University of Birmingham, 2015. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. BRASIL. Ministério da Saúde. Plataforma Brasil. Disponível em: <http://plataformabrasil.saude.gov.br/login.jsf>. Acesso em: 24 out. 2018. EKMAN, P. 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