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Tema: O inconsciente kleiniano • Mecanismos esquizoides: Ansiedades arcaicas de natureza paranoide (perseguição) e esquizoide (divisão) são centrais. Mecanismos de defesa arcaicos surgem na infância e são fundamentais no desenvolvimento psicótico. • Ego arcaico e fantasias: O ego, relações de objetos e impulsos libidinais e destrutivos surgem desde o nascimento. Fantasias representam as pulsões de vida e morte, originárias desde a infância. • Pulsão de morte e ansiedade persecutória: A pulsão de morte é percebida como uma ameaça concreta de aniquilação pelos objetos primários. Ansiedade persecutória surge da projeção dessa pulsão nos objetos. • Mecanismos de defesa: Projeção e Introjeção: Projeção: expulsa sensações e sentimentos penosos, atribuindo-os a outros. Introjeção: internaliza o objeto externo, distorcido pelas fantasias do bebê. • Cisão, Idealização e Identificação Projetiva: Cisão: separa objetos e impulsos em bons e maus; é essencial para a formação do mundo interno do bebê. Idealização: exagera aspectos bons do objeto como defesa contra a ansiedade persecutória. Identificação projetiva: projeta aspectos intoleráveis de si em outros, enquanto a introjetiva internaliza características de outros. • Relações de objeto e desenvolvimento do ego: O desenvolvimento do ego envolve uma transição da relação com objetos parciais para totais (como a mãe). A integração do self e das pulsões ocorre com a superação das ansiedades iniciais. A cisão violenta do self e a projeção excessiva podem transformar o objeto em perseguidor. A origem da culpa está ligada ao processo de projeção. Posição Depressiva: • Transição: A posição depressiva surge por volta dos 4-5 meses, quando o ego do bebê se torna mais integrado, e ele começa a perceber os objetos como totais e não mais como fragmentados. • Reconhecimento do Objeto Total: O bebê começa a ver a mãe como uma pessoa completa, que ele tanto ama quanto teme perder. Ele desenvolve a capacidade de perceber a ambivalência – a coexistência de sentimentos bons e maus em relação ao mesmo objeto. • Ansiedade Depressiva: Com essa nova percepção, surge a ansiedade depressiva, marcada por sentimentos de culpa por ter atacado o objeto amado (na fantasia) e medo de perdê-lo. O bebê começa a se preocupar com a preservação do objeto e sente necessidade de reparar o dano que acredita ter causado. • Necessidade de Reparação: A criança desenvolve um impulso para reparar o objeto amado, o que é fundamental para o desenvolvimento de uma consciência moral e para a capacidade de formar vínculos saudáveis na vida adulta. • Integração e Segurança: A internalização do "objeto bom" (ex: a mãe amorosa) se torna fonte de segurança e fortalece o ego. Essa internalização permite à criança suportar frustrações e privações, pois ela confia que o objeto bom está sempre disponível internamente. Sentimento de Culpa e Defesas Maníacas: • Klein argumenta que a culpa aparece antes dos 3 anos, ligada aos impulsos agressivos. • A criança sente culpa por ataques reais ou imaginários ao objeto amado. • Defesas maníacas (triunfo, desprezo, controle onipotente) emergem para anular a culpa e o medo da perda do objeto. Luto: • Definição e Processo: O luto, na perspectiva kleiniana, é o processo emocional desencadeado pela perda de um objeto amado. Klein estende o conceito de luto não apenas à perda de pessoas, mas também à perda de abstrações ou ideais. • Trabalho de Luto: O processo de luto envolve o enfrentamento da dor e a gradual aceitação da perda. O luto saudável é marcado pela capacidade de vivenciar plenamente a tristeza e reorganizar-se internamente, eventualmente sublimando o sofrimento em atividades criativas ou produtivas. • Relação com a Posição Depressiva: O trabalho de luto está intimamente ligado à posição depressiva. Assim como a criança na posição depressiva precisa lidar com a culpa e a perda em fantasia, o adulto enlutado precisa enfrentar a realidade da perda e encontrar maneiras de preservar internamente o objeto amado. • Fracasso no Luto: Se o indivíduo não tem um "objeto bom" internalizado de forma estável (resultado de uma elaboração bem-sucedida da posição depressiva), ele pode falhar no trabalho de luto, o que pode levar a distúrbios como depressão e mania. O luto patológico ocorre quando o sujeito não consegue processar a perda adequadamente, permanecendo preso em um estado de negação ou desespero. • Luto em Klein: O luto é uma experiência universal e necessária para o crescimento emocional e psíquico, mas sua elaboração depende da estrutura interna do indivíduo, formada principalmente na primeira infância durante as posições esquizoparanóide e depressiva. Posição Esquizo-paranóide: • Estado Inicial: Essa posição ocorre nos primeiros meses de vida, quando o ego do bebê ainda é rudimentar, fragmentado e está em processo de formação. • Cisão do Objeto: O bebê divide o mundo em partes "boas" e "más". Por exemplo, o seio materno é visto como dois objetos separados: o "seio bom" que alimenta e o "seio mau" que frustra. Essa cisão reflete a incapacidade do bebê de integrar aspectos bons e maus em um único objeto. • Ansiedade Persecutória: Predomina nesta posição a ansiedade de ser perseguido ou aniquilado pelos objetos "maus" que ele mesmo projetou. Isso se manifesta como medo do bebê de que suas fantasias agressivas voltem contra ele. • Defesas Arcaicas: O bebê utiliza mecanismos de defesa como a projeção (projetar seus impulsos destrutivos no objeto), cisão (divisão do objeto em bom e mau), e negação (rejeitar aspectos indesejados da realidade). Essas defesas são estratégias para lidar com a intensa ansiedade persecutória. • Importância do Seio: A gratificação recebida pelo "seio bom" (nutridora) é crucial para a construção de uma base emocional estável. No entanto, essa relação nunca é completamente livre de perturbações, pois a ansiedade persecutória é inevitável devido aos impulsos agressivos do bebê. • KLEIN, M. Notas sobre alguns mecanismos esquizoides (1946). In: KLEIN, M. Inveja e Gratidão. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991. • KLEIN, M. Psicogênese dos estados maníaco-depressivos (1935). In: KLEIN, M. Obras Completas: Amor, culpa e reparação e outros trabalhos. Vol. I. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997. • KLEIN, M. O luto e suas relações com os estados maníaco-depressivos (1940). In: KLEIN, M. Obras Completas: Amor, culpa e reparação e outros trabalhos. Vol. I. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997.