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Relato de experiência da prática de aventura

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Nomes: Alex Vasconcelos de Oliveira e Gustavo Raposo Queiróz 
IES: UFAM/Manaus 
O uso do método interacionista na unidade temática prática de aventura 
INTRODUÇÃO 
 
Os jogos, as lutas, as danças, as modalidades esportivas e as ginásticas 
foram alavancados ao posto de temas da Educação Física Escolar por diversos 
documentos oficiais publicados no Brasil nas esferas nacional, estaduais e 
municipais. A Base Nacional Comum Curricular por sua vez consolidou o tema da 
aventura como obrigatório para o Ensino Fundamental II, oficializando esse tópico 
nas escolas brasileiras (Brasil, 2017). 
Antes disso, Pereira e Armbrust (2010) propunham que a aventura poderia 
contribuir renovando as práticas corporais, com a abordagem interacionista 
juntamente com o conceito de vertigem (ilinx), criado por Roger Callois e que 
atribuía um sentido diferente da vertente competitiva à cultura corporal, sugerindo 
que brincar com o risco e o perigo pudesse proporcionar novas experiências de 
movimento e aprendizagem. Pedagogizar uma manifestação da cultura equivale a 
uma espécie de tradução; quanto melhor a tradução, mais o aluno perceberá a 
essência da manifestação em questão sem que os princípios da Educação Física 
Escolar sejam escanteados. 
As dificuldades encontradas no esforço de transformar uma manifestação da 
cultura em conteúdo pedagógico remontam à necessidade de implementar sabores 
aos saberes ora desenvolvidos nas aulas. Mauro Betti (1995), ao resenhar 
criticamente a obra Da Cultura do Corpo, de Jocimar Daolio (1994), deu pistas sobre 
o caminho a ser trilhado por pesquisadores da área de Educação Física que se 
dedicam à sua nuance escolar ao afirmar que os avanços apresentados pela obra 
indicam que é fundamental levar em consideração as representações sociais dos 
 
 
professores acerca de sua visão de corpo, área de conhecimento e finalidades da 
Educação. 
Para além do apontamento, ele registra os seguintes questionamentos: 
 
Enquanto profissionais da Educação Física, concordamos 
com os valores que ele (sic) dissemina? Como vamos nos comportar 
frente a isto? Se existe uma cultura que permanece, e as mudanças 
são possíveis somente a longo prazo, qual é a responsabilidade dos 
indivíduos, ou de cada um de nós, hoje? (Betti, 1995, p. 140). 
 
A questão lançada por Betti em 1995 pode ser traduzida como um gatilho 
para a realização da intervenção pedagógica que será relatada a seguir. Nela, os 
valores da Educação Física foram revisitados e apropriados ao cenário imagético 
produzido por dois professores de Educação Física que dedicam suas energias, 
entre outras coisas, a fazer uma Educação formal propriamente emancipatória. Betti 
(1995, p. 141) trouxe à tona uma questão que jamais será extemporânea: “qual é a 
responsabilidade dos indivíduos, ou de cada um de nós, hoje?” A adoção do 
advérbio de tempo “hoje” carrega a inquietude característica aos professores e 
professoras que buscam ser mais. 
Desenvolver e registrar o desenvolvimento dessas intervenções pedagógicas 
e divulgá-las, transformando-as em sementes que poderão germinar novas formas 
de fazer Educação Física Escolar. 
 
Relato de experiência 
 
A EE Prof. Nelson Cabrini é uma escola que possui 10 salas na modalidade 
do ensino de tempo integral. Usualmente, as aulas de 50 minutos têm um tempo que 
se faz interessante para o desenvolvimento de uma ação; no entanto, para que 
houvesse a possibilidade de atender o maior número de alunos, as oficinas foram 
organizadas com o tempo máximo de trinta minutos. 
 
 
As oficinas foram ofertadas aos alunos das 10 (dez) turmas do 6º ao 9° ano e 
foram elencadas três práticas corporais de aventura: o skate, o slackline e o parkour. 
A EE é um local com infraestrutura diferenciada, quando comparada às demais 
escolas públicas de Educação Básica da rede estadual no município, com destaque 
especial para a estrutura física. Graças a isso foi possível organizar as práticas 
de parkour e slackline em uma quadra coberta, e as práticas de skate em outra 
quadra sem cobertura. A sistematização da prática se baseou nas propostas de 
Pereira (2019) sobre as temáticas da cultura corporal. 
 
 
 
 
 
Figuras 1, 2 e 3: Espaços das atividades de skate, parkour e slackline 
O material pedagógico utilizado para a intervenção (skates e fitas 
de slackline) foi gentilmente cedido pela unidade escolar. 
As oficinas de skate e slackline utilizaram os mesmos instrumentos 
pedagógicos para sua realização; em um primeiro momento criou-se um ambiente 
no qual os alunos pudessem se familiarizar com os equipamentos utilizados na 
oficina; logo após foram apresentadas tarefas incipientes à especificidade de cada 
prática corporal; em seguida, uma tarefa específica para cada uma das modalidades 
vivenciadas. Na atividade de parkour, o instrumento metodológico escolhido para a 
aprendizagem foi um circuito. A seguir serão apresentados mais detalhes. 
A começar pelo skate. O primeiro passo foi questionar quais alunos tiveram 
experiências anteriores com essa manifestação da cultura. De modo geral, poucos 
alunos se apresentavam como tal; aqueles que o faziam eram convidados a ajudar 
os colegas que estavam em sua primeira experiência. A seguir foi apresentada uma 
brincadeira com o objetivo de familiarizar alunos e alunas com o equipamento; a 
brincadeira foi chamada de Carrinho de Skate. 
 
Figura 4: Atividade de skate 
 
 
Nessa brincadeira os alunos foram organizados em duplas; um membro da 
dupla se acomodava sentado no skate e tinha como objetivo manter-se equilibrado, 
enquanto seu colega calmamente o empurrava até um ponto demarcado na quadra. 
Ao chegar nesse ponto, os colegas trocavam de posição e repetiam a ação com os 
papéis invertidos. 
A segunda tarefa apresentou como desafio ficar em pé e equilibrado 
no skate parado. Para execução desse desafio, um dos alunos ficava parado em 
frente ao skate e oferecia suas mãos para o colega que iria subir no skate se apoiar. 
Após o aluno conseguir subir e se equilibrar, era adicionado ao desafio soltar as 
mãos do colega e se manter equilibrado. Após determinado tempo os alunos 
trocavam de lugar com seus pares. 
 
Figura 5: Experimentando o equilíbrio no skate 
Para finalizar a oficina, os alunos foram desafiados a movimentar-se pela 
quadra utilizando o skate. Como o tempo de oficina era exíguo, não foi possível 
oferecer desafios suficientes para que os alunos pudessem apreender algumas das 
técnicas para se locomover com o skate com certa independência. Nesse sentido, 
esta última tarefa propiciou aos alunos experiências de movimentação em cima 
do skate com o auxílio dos colegas e, quando possível, sem esse auxílio. 
 
 
 
Figura 6: Deslocando-se no skate 
Outra oficina realizada neste processo de intervenção foi o parkour. Os 
circuitos oferecidos propiciaram para a totalidade dos educandos os primeiros 
contatos com técnicas especificas de parkour. A atividade era cansativa, pois os 
estudantes seguiam para uma sequência de movimentos de saltar, rolar e deslocar-
se em quadrupedia por cima de um banco de forma contínua. 
Os alunos apresentaram grande interesse pela temática; no entanto, o pouco 
tempo para execução não permitiu avançar em novos movimentos e explorações 
pelos alunos. 
 
Figura 7: Circuito de parkour 
 
 
 
A última oficina a ser descrita neste relato de experiência é a que tematizou 
o slackline. Essa intervenção seguiu os moldes das oficinas de skate. Em um 
primeiro momento, os alunos foram convidados a subir no slackline e sentir seu 
corpo em cima da fita com o apoio dos colegas. 
 
 Figura 8: Auxílio com bastão no slackline 
Em seguida, eram convidados a se deslocar pelo slackline, primeiro com o 
apoio de dois colegas, um segurando de cada lado, e depois com o apoio de apenas 
um colega. 
A utilização do cabo de vassoura presente na Figura 8 refere-se ao grau de 
dificuldadeque pode ser atrelado à atividade proposta. A ideia é utilizá-lo como 
apoio para facilitar o equilíbrio daquele que vai se deslocar na fita. Outra opção seria 
dar a mão, porém dessa forma torna-se mais difícil que a pessoa se concentre no 
seu próprio corpo e ela acaba escorando-se mais no apoio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Referências 
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Terceira versão 
revista. Brasília: MEC, 2017. 
DAOLIO, Jocimar. Da cultura do corpo. São Paulo: Papirus, 1994. 
PEREIRA, Dimitri Wuo; ARMBRUST, Igor. Pedagogia da aventura: os esportes 
radicais, de aventura e de ação na escola. Várzea Paulista: Fontoura, 2010. 
PEREIRA, Dimitri Wuo (org.). Pedagogia da aventura na escola: proposições para a 
base nacional comum curricular. Jundiaí: Fontoura, 2019. 
SÃO PAULO. Currículo da cidade: Ensino Fundamental – componente curricular 
Educação Física. 2ª ed. São Paulo: SME/Coped, 2019.

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