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38 Unidade II AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 Unidade II 5 OS MATERIAIS E SUAS APLICAÇÕES NAS EDIFICAÇÕES E NAS CIDADES 5.1 Tipos de material A arquitetura sustentável busca maior moderação no uso dos materiais, da energia e do espaço. Em relação aos materiais, a moderação não significa abrir mão de determinado material ou nunca mais utilizá-lo, mas sim usá-lo de forma consciente. Como exemplo, temos as madeiras de lei, a sucupira, o pau-brasil e o jacarandá-da-baía. Sabemos que as árvores são recursos totalmente renováveis; porém, a exploração indiscriminada dessas espécies e a total falta de replantio quase levaram à sua extinção. Os materiais de construção podem ser simples ou compostos, obtidos diretamente da natureza ou como resultado de trabalho industrial. O conhecimento do profissional é que permite a escolha dos mais adequados a cada situação. Do seu correto uso dependem, em grande parte, a solidez, a durabilidade, o custo e a beleza (acabamento) das obras. As condições econômicas de um material de construção dizem respeito à facilidade de aquisição, dependendo de sua obtenção e do transporte, e a seu emprego, dependendo de sua manipulação e conservação. As condições técnicas (solidez, durabilidade e beleza) são examinadas especialmente quanto à trabalhabilidade, durabilidade, higiene e estética. A durabilidade implica a estabilidade e a resistência a agentes físicos, químicos e biológicos, oriundos de causas naturais ou artificiais, como luz, calor, umidade, insetos, micro-organismos, sais etc. Os requisitos de higiene visam à saúde e ao bem-estar do usuário da construção. Observa-se, sob esse ângulo, o poder isolante do calor e do som, o poder impermeabilizante e a ausência de emanações de elementos prejudiciais. O fator estético é observado quanto ao aspecto do material colocado, de cujo emprego simples ou combinado se pode tirar partido para a beleza da obra. Os primeiros materiais de construção utilizados pelo homem foram a argila e as argamassas de cinza e cal, na antiga Mesopotâmia. No mesmo período, o Egito fabricava seus tijolos utilizando uma mistura de argila e palha. É interessante destacar aqui que as adições, de cinza e palha, por exemplo, eram fundamentais para a estabilização e a resistência dos materiais de construção. Isso denota que havia, por parte das pessoas da época, uma preocupação tecnológica. Posteriormente, os tijolos passaram a ser queimados em fornos para que pudessem ter ganho de resistência. Cada material apresenta uma tensão limite, ou seja, pode suportar maior ou menor carregamento. No caso dos tijolos egípcios feitos com palha e secos ao sol (tipo adobe), sua resistência era muito 39 AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 ArquiteturA sustentável inferior à dos tijolos queimados, ou seja, para um mesmo carregamento, era necessária uma quantidade muito maior do adobe do que do tijolo queimado. Uma vez que se consumiam menos tijolos, o consumo da argila também diminuía. Há, porém, algo a se considerar: a queima do tijolo leva à produção de CO2, um dos gases do efeito estufa. A questão da utilização de um ou outro, agora, passa a ser mais abrangente: o que o profissional quer? Do que ele precisa? Quais critérios de escolha devem ser levados em consideração? As questões relacionadas à sustentabilidade vão muito mais além da economia dos recursos naturais, uma vez que é impossível não se fazer uso deles, passam também pela tecnologia, pelo conforto, pela capacidade de uso, entre outros. Vamos falar um pouco sobre os diversos tipos de material utilizados na construção civil. • Materiais cerâmicos Produtos cerâmicos são materiais de construção obtidos pela moldagem, secagem e cozimento de argilas ou misturas de materiais que contêm argilas. Exemplos para a construção: tijolos, telhas, azulejos, ladrilhos, lajotas, manilhas, refratárias etc. Eles podem ser classificados da seguinte forma: — materiais de cerâmica vermelha - porosos: tijolos, telhas etc. - vidrados ou gresificados: ladrilhos, tijolos especiais, manilhas etc. — materiais de louça - pó de pedra: azulejos, materiais sanitários etc. - grés: materiais sanitários, pastilhas e ladrilhos etc. - porcelana: pastilhas e ladrilhos, porcelana elétrica etc. — materiais refratários - tijolos para fornos, chaminés etc. • Madeira Um dos mais antigos materiais de construção utilizados pelo homem. É um material de grande beleza e de larga utilização nas construções. No entanto, é muitas vezes mal-empregado, de forma intuitiva, 40 Unidade II AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 ocasionando uma série de problemas. Suas características devem ser bem estudadas, a fim de que não sejam nem superestimadas nem subestimadas e seu uso seja mais econômico e com maior garantia de qualidade. Atualmente, com a industrialização, surgiram novos produtos de madeira, ampliando seu uso na construção civil e em outras indústrias. • Metal Pode ser definido como elemento químico que existe como cristal ou agregado de cristais, no estado sólido, caracterizado pelas seguintes propriedades: alta dureza, resistência mecânica, elevada plasticidade (grandes deformações sem ruptura) e alta condutibilidade térmica e elétrica. Os metais são um dos grupos mais importantes entre os materiais de construção, devido às propriedades que possuem (diversos empregos na construção). A utilização de ligas metálicas, melhorando ou comunicando certas propriedades, fez ampliar o campo de aplicações desse material. Eles aparecem na natureza em estado livre ou compostos, concentrados em jazidas. • Plástico No sentido estrito, plástico significa material artificial deformável. Geralmente, é tido como barato e inferior aos materiais tradicionais. No entanto, há aplicações importantes e pesquisas melhorando sua qualidade, tornando-o um dos mais recomendados para diversas situações, desde que respeitadas suas propriedades. A maior parte dos plásticos é usada para fins industriais importantes, como na indústria aeronáutica, mecânica, automobilística etc. Somente uma pequena parte é usada para fabricação de peças de baixo custo. Na construção, tem aumentado o consumo desse material, tendo destaque junto a materiais tradicionalmente empregados. • Vidro É uma substância inorgânica, homogênea e amorfa (sem forma), obtida pelo resfriamento de uma massa de fusão; suas principais qualidades são a transparência e a dureza. Distingue-se de outros materiais por várias características: não é poroso nem absorvente, é ótimo isolante, possui baixo índice de dilatação e condutividade térmica. • Tintas e vernizes A forma mais comum de combater a deterioração dos materiais é proteger as superfícies. Vernizes são soluções de gomas ou resinas, naturais ou sintéticas, em um veículo (óleo com a aplicação de uma película resistente que impede a ação dos agentes de destruição ou corrosão). Essa película pode ser obtida pela aplicação de tintas, vernizes, lacas ou esmaltes. Tinta é a dispersão de um ou mais pigmentos em um veículo (resina). Quando aplicada em uma camada adequada, forma um filme opaco e aderente no substrato; portanto, é uma composição líquida pigmentada que se converte em película sólida quando aplicada. A tinta tem a função básica de proteger e embelezar as superfícies contra a ação do sol, da chuva, da maresia e de diversos outros agentes. Atualmente, são fabricados tipos com as mais diversas finalidades: luminescentes, que inibem o ataque de fungos, bactérias, algas e outros organismos, resistentes ao calor, à prova de fogo etc. 41 AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 ArquiteturA sustentável Observação Existem ainda outros materiais que tambémconteúdo trabalhado neste livro-texto de Arquitetura sustentável. Prédio sustentável imita estrutura do DNA O arquiteto belga Vincent Callebaut projetou uma torre torcida que imita a dupla-hélice da molécula do DNA. O prédio unirá a microbiologia e a jardinagem vertical na cidade de Taipei, em Taiwan. O edifício residencial usará plantas para parecer uma selva viva e deixar a construção sustentável. A ideia é que a construção incorpore também pomar, jardim vegetal, espaços e plantas medicinais e aromáticas, além de um sistema de captura de adubo e água da chuva. Outro ponto de destaque da torre é que ela deverá funcionar parcialmente com energia solar. Uma chaminé de luz circular levará os raios solares para um sistema que fará uso da energia quando necessário. Colheita da água da chuva e compostagem também são itens da lista de tecnologias verdes que estará no prédio. A torre com a forma de uma das estruturas moleculares mais famosas da ciência terá 20 andares, com 2 apartamentos por andar. O formato diferente da torre permite que os habitantes tenham uma vista pouco convencional. Dependendo de onde a pessoa estiver, a vista mudará e se transformará com a própria construção. Os designers afirmam que a construção será toda feita com materiais reciclados ou recicláveis. O projeto está previsto para ficar pronto em 2016. Fonte: Daraya (2013). 66 Unidade II AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 Resumo Os materiais de construção podem ser simples ou compostos, obtidos diretamente da natureza ou como resultado de trabalho industrial. É o conhecimento do profissional que permite a escolha dos materiais mais adequados a cada situação. Do seu correto uso dependem, em grande parte, a solidez, a durabilidade, o custo e a beleza (acabamento) das obras. O fato de a madeira ser o resultado do crescimento de um ser vivo implica variações das suas características em função do meio ambiente em que a árvore se desenvolve. A essa variabilidade acrescenta-se que a madeira é produzida por diferentes espécies de árvores, cada qual com características anatômicas, físicas e mecânicas próprias. A maioria dos problemas ambientais sociais e econômicos que o mundo de hoje enfrenta está localizada nas megalópoles, sendo ainda pior em países subdesenvolvidos, onde há falta de recursos. No Brasil, cidades como São Paulo e Rio de Janeiro e outras do mesmo porte deparam-se com grandes desafios. O padrão de vida dos moradores dessas cidades vem decaindo rapidamente, os órgãos públicos são praticamente incapazes de agir com eficiência no planejamento, no controle e na execução de medidas eficazes para alterar o estado das coisas. New Songdo é uma tentativa de colocar em prática o conceito de Ubiquitous City (U-City), traduzido livremente como cidade ubíqua. Um ambiente ubíquo é aquele onde toda tecnologia de informação está aplicada e todos os sistemas estão interligados. Essa conexão pode ser feita de diferentes maneiras, desde simples redes sem fio até identificação por frequência de rádio. Em outras palavras, um ambiente ubíquo pode ser usado facilmente, convenientemente e com segurança por qualquer pessoa, a qualquer hora e em qualquer lugar. Um ambiente ubíquo também pode ser chamado de onipresente. Casas, hospitais, empresas e outras esferas compartilham dados. Computadores e chips estão presentes em residências, ruas e escritórios. 67 AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 ArquiteturA sustentável Exercícios Questão 1. Das questões a seguir, qual não está relacionada com os problemas das ilhas de calor? A) O tamanho do terreno. B) A orientação solar. C) A forma e a altura da edificação. D) A orientação e o tamanho das vedações transparentes. E) As características do entorno da edificação. Análise A) Alternativa incorreta. Justificativa: apenas o tamanho do terreno em si, sem levar em consideração as demais características, não altera o microclima de uma região. Questão 2. A eficiência energética é geralmente associada a que termo? A) Menores preços. B) Taxas mais acessíveis. C) Maior consumo de energia. D) Utilização racional de energia. E) Má utilização de energia. Análise D) Alternativa correta. Justificativa: pressupõe-se a adoção de medidas que permitam uma melhor utilização da energia, tanto no setor doméstico como no de serviços e industrial. 68 FIGURAS E ILUSTRAÇÕES Figura 1 PUT, J. Recycling of C&DW: success factors. In: Reciclagem de resíduos da construção e as normas técnicas para sua utilização, Anais. São Paulo, 2001. Figura 2 LEITE. B. M. Avaliação de propriedades mecânicas de concretos produzidos com agregados reciclados de resíduos de construção e demolição. 2001. Tese (Doutorado em Engenharia Civil)– Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001. Figura 3 Disponível em: . Acesso em: 11 abr. 2013. Figura 6 Disponível em: . Acesso em: 11 abr. 2013. Figura 7 Disponível em: . Acesso em: 11 abr. 2013. Figura 8 Disponível em: Acesso em: 11 abr. 2013. REFERÊNCIAS AGOPYAN, V. O desafio da sustentabilidade na construção civil. São Paulo: Blucher, 2011. ANGEOLETTO, F. Pelos quintais de Sarandi: ecologia urbana e planejamento ambiental. Minas Gerais: Editora PUC Minas, 2011. BRAGA, B. et al. Introdução à engenharia ambiental. São Paulo: Prentice Hall, 2002. BREGATTO, P. R.; D’AVILA, M. R.; FERREIRA, M. S. Coordenação modular e arquitetura: tecnologia, inovação e sustentabilidade. Unitau, São Paulo. Disponível em: . Acesso em: 14 abr. 2013. 69 BRUNDTLAND, G. H. Our common future: The World Commission on Environment and Development. Oxford: Oxford University, 1987. ERBER, P. Uma política energética para o desenvolvimento sustentável. Instituto Nacional de Eficiência energética, 2011. Disponível em: . Acesso em 11 abr. 2013. FARIAS, L.; SELLITTO, M. Uso da energia ao longo da história: evolução e perspectivas futuras. Revista Liberato, Novo Hamburgo, v. 12, p. 7-16, 2011. Disponível em: . 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(Coletâneado uso do aço) OLMOS, F. Espécies e ecossistemas. São Paulo: Blucher, 2011. OS VERDADEIROS impactos da construção civil. AECweb. Disponível em: . Acesso em: 11 abr. 2013. PINTO, T. P. De volta à questão do desperdício. Construção, São Paulo, Ed. Pini, n. 2491, nov. 1995. PRÉDIO sustentável imita estrutura do DNA. GreenBuilding, São Paulo, 27 mar. 2013. Disponível em: . Acesso em: 11 abr. 2013. 70 TOMAZ, P. Aproveitamento da água da chuva. São Paulo: Navegar, 2003. ZENID, G. J. Madeiras na construção civil. São Paulo: Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A., [s.d.]. Disponível em: . Acesso em: 11 abr. 2013. 71 72 Informações: www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000são usados na construção civil, como vidro e isopor. Agora que já temos uma pequena noção sobre os diversos tipos de material, veremos como a cadeia produtiva deles pode interferir no meio ambiente. Para chegar ao mercado consumidor, todo e qualquer produto industrializado depende da participação de uma série de elementos, como matéria-prima, insumos, equipamentos, design, embalagens, que chamamos de cadeia produtiva. Lembrete A cadeia produtiva é o conjunto de diversos segmentos de produção e serviços (indústria de insumos, produtores, indústrias processadoras, distribuidores etc.) que se inter-relacionam e interagem no ambiente institucional em que se inserem. A sinergia e a interação dos fornecedores desses elementos forma uma cadeia produtiva, cujos elos influenciam diretamente na competitividade do produto final. Sabendo o quão abrangente uma cadeia produtiva pode ser, observaremos impactos que podem ocorrer com os materiais ao longo de sua produção. Os impactos ambientais na produção de materiais para uso na construção civil começam já na sua extração, visto que muitas das matérias-primas (como argila, ferro, areia) não são renováveis. A natureza levou eras geológicas para transformar uma rocha magmática em argilominerais; logo, não podemos imaginar que esses recursos são inesgotáveis. A cidade de São Paulo enfrenta problemas para a obtenção de areia para concreto, já que as jazidas próximas à capital foram totalmente utilizadas. Outro impacto que podemos citar é relativo ao transporte dos materiais (matérias-primas para as indústrias ou mesmo dos produtos já industrializados para o canteiro de obras). Dependendo do modal de transporte adotado, os impactos podem ser maiores ou menores: se a opção for a mais comumente utilizada, ou seja, veículos que queimam combustível fóssil, maiores serão os impactos, tanto na emissão de poluentes (CO2) como na utilização de uma fonte não renovável de energia. Uma vez na obra, os materiais são utilizados na fase de execução. Nessa etapa, há também a geração de resíduos, muitas vezes relacionada com as técnicas construtivas empregadas. Quanto menos otimizado for o processo construtivo, maiores serão as perdas e, consequentemente, a geração de resíduos. 42 Unidade II AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 Pronta a edificação, durante toda sua vida útil, haverá o consumo de energia, água e a geração de resíduos (sanitários, por exemplo). Quando, na fase de projeto, são levados em consideração os consumos desses materiais, podem-se desenvolver projetos em que a geração de resíduos é minimizada, bem como o consumo de energia elétrica e água. Grande parte das obras passa por reforma ou mesmo chega ao limite de sua vida útil. Assim, atingimos a fase de demolição, na qual grandes volumes de resíduos são gerados. Um dos materiais mais utilizados na construção civil é o concreto. O cimento portland está no centro dos problemas ambientais causados por esse material. Cerca de uma tonelada de dióxido de carbono (CO2), o principal responsável pelo efeito estufa, é emitido para cada tonelada de cimento produzido. De todos os materiais de construção, o cimento é o que mais emite CO2 na atmosfera durante sua produção. Sua fabricação envolve basicamente a queima de pedra calcária e de outros minerais a cerca de 1.500°C, criando um produto intermediário chamado clinker; cada tonelada desse material produzida na fabricação do cimento corresponde, aproximadamente, a uma tonelada de gás carbônico emitida na atmosfera, às custas, inclusive, de ponderável consumo de energia. A referência ao clinker justifica-se porque o cimento portland, atualmente, é um produto composto, ou seja, uma mistura homogeneizada do cimento portland comum, obtido da moagem do clinker, com aditivos minerais. A indústria de cimento mundial, ao produzir 1,6 bilhão de toneladas anuais desse material, é responsável pela parcela de 7% do total de dióxido de carbono lançado na atmosfera. O nosso país, com produção anual de 40 milhões de toneladas, contribui com 2,5% desse total. Os concretos produzidos em todo o mundo consomem areia e outros agregados à razão estimada de 10 a 11 bilhões de toneladas por ano. A exploração, o processamento e o transporte dessa enorme quantidade de matéria-prima para produção de cimento e agregados consomem muita energia e afetam desfavoravelmente o meio ambiente. A indústria do concreto utiliza também grande quantidade de água potável, cerca de 1 trilhão de litros a cada ano, só como água de amassamento, à qual ainda se somam grandes parcelas de água de lavagem das concreteiras e de cura do concreto. De acordo com Agopyan (2011), apesar da conscientização tardia, a construção civil vem tomando ações decisivas para se tornar menos agressiva à natureza, por meio de posturas cada vez mais proativas. 5.2 Aplicações nas edificações Quando em um projeto especificamos os materiais e equipamentos a serem utilizados naquela edificação, estamos determinando não apenas as questões relacionadas à Arquitetura em si (estética, conforto, funcionalidade), mas também os impactos ambientais que serão gerados. Entenda que não há qualquer construção que não gere impactos ao meio ambiente: todas geram. O que se deve fazer é mitigá-los. Uma vez entendido isso, cabe ao projetista escolher as melhores técnicas construtivas, bem como os materiais mais adequados para a diminuição dos impactos. Já falamos sobre os impactos causados pela produção de cimento, o que leva qualquer profissional da área da construção a querer reduzir o consumo na obra. Para tanto, já existem variedades com 43 AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 ArquiteturA sustentável adições minerais, ou seja, parte do cimento é substituída por adições de resíduos de outras indústrias, como cinza de casca de arroz, resíduos de aciaria, materiais pozolânicos, entre outros. Essas adições não diminuem a resistência do material, pelo contrário: o uso de cimentos com adição de pozolana apresenta maior ganho de resistência ao longo do tempo, além de produzir concretos mais impermeáveis; logo, com maior durabilidade. Outra forma de diminuir o consumo de cimento é por meio do que os engenheiros chamam de estudo granulométrico, no qual as dimensões dos agregados são estudadas de tal forma que os espaços a serem preenchidos pelo cimento são reduzidos, levando a um menor consumo de concreto. Quando o projetista opta pela utilização de estruturas metálicas, ele garante o uso de um material totalmente reciclável, como é o caso do aço. Além disso, as estruturas metálicas são muito mais leves do que as de concreto, o que diminui o peso total do edifício, levando a uma economia das fundações. De acordo com Maringoni (2004), a relação entre o aço e a sustentabilidade pode ser listada: • é um dos materiais mais abundantes da Terra; • a energia consumida é cogerada; • o processo é controlado e não lança poluentes na atmosfera; • consome 41% menos água no processo que o concreto; • todos os componentes gerados pela produção são aproveitados; • a fabricação da estrutura elimina os desperdícios na obra, pois o processo é industrializado; • o menor peso da estrutura requer fundações menores, diminuindo o impacto das mesmas no solo; • a rapidez na montagem reduz o impacto na comunidade local; • permite grandes vãos, fachadas abertas e coberturas que facilitam a utilização da energia solar; • é um dos componentes da construção industrializada; • sua sucata tem alto valor agregado; • o processo de reciclagem é simples e eficiente; • o aço é 100% reciclável; • metade da produção anual de aço é resultado de reciclagem. 44 Unidade II AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 Para o biólogo Geraldo José Zenid, da Divisão de ProdutosFlorestais do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A. (IPT), a madeira possui diversas propriedades que a tornam muito atraente em relação a outros materiais. São comumente citados o baixo consumo de energia para seu processamento, a alta resistência específica, as boas características de isolamento térmico e elétrico, além de ser um material muito fácil de ser trabalhado manualmente ou por máquinas. O aspecto, no entanto, que distingue a madeira dos demais materiais é a possibilidade de produção sustentada nas florestas nativas e plantadas e nas modernas técnicas silviculturais empregadas nos reflorestamentos, permitindo alterar a qualidade da matéria-prima de acordo com o uso final desejado. O fato de a madeira ser o resultado do crescimento de um ser vivo implica variações das suas características, em função do meio ambiente em que a árvore se desenvolve. A essa variabilidade acrescenta-se que a madeira é produzida por diferentes espécies de árvores, cada qual com características anatômicas, físicas e mecânicas próprias. A madeira é um material higroscópico, sendo que várias de suas propriedades são afetadas pelo teor de umidade presente. Sua natureza biológica submete-a aos diversos mecanismos de deterioração existentes na natureza. Acrescenta-se às características negativas sua susceptibilidade ao fogo. Suas desvantagens podem ser eliminadas ou, ao menos, minimizadas, bastando para tal o emprego de tecnologias já disponíveis e de uso consagrado nos países desenvolvidos. Uma reportagem publicada no jornal Estado de Minas tratou do uso sustentável da madeira na construção civil: Madeira tratada é opção econômica e sustentável na construção civil A utilização da madeira na construção civil e na decoração é cada vez mais recorrente, e quando o assunto é madeira tratada de florestas plantadas as vantagens são incontáveis. Além de ser 10% a 20% mais barato que estrutura com madeira nativa serrada barata, esse tipo de madeira tem beleza singular, oferece resistência a pragas, dura mais e é uma opção sustentável. No entanto, esse material ainda não é muito utilizado no Brasil. De acordo com o diretor da ABPM (Associação Brasileira de Preservadores de Madeira), Flavio Carlos Geraldo, esse fator afeta o setor industrial-madeireiro nacional. “No Brasil o alicerce construtivo baseia- se em construções feitas de alvenaria, bem diferente do que acontece nos Estados Unidos e Austrália”, constata. Segundo ele, a falta de conhecimento interfere diretamente no uso da madeira tratada na construção civil. “Muitos arquitetos não conhecem os benefícios do uso desse material, que pode oferecer maior empenho nas composições estruturais, pois a robustez aliada ao tratamento químico resulta em longevidade, fica de 10% a 20% mais barato que estrutura com madeira nativa serrada, oferece boas características técnicas, beleza singular e acima de tudo é uma opção sustentável”, destaca Flavio. 45 AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 ArquiteturA sustentável São produzidos por ano, no Brasil, 1,2 milhão de metros cúbicos de madeira tratada, considerando que 10% se destinam à construção civil, para os setores elétrico e ferroviário 15%, os outros 60% ao setor rural, com a elaboração de mourões, esticadores, entre outros. Na construção civil como um todo não existe restrição para o uso da madeira tratada. As opções de projetos estruturais são várias, entre elas casas, pontes, passarelas, playgrounds, coberturas, mirantes, telhados, galpões. (...) Segundo Flavio Carlos Geraldo, a madeira cultivada tratada na construção emprega muitos benefícios, além de ser ecologicamente correta, poupando o planeta e diminuindo a pressão sobre matas nativas. Considerado um recurso 100% renovável de ciclo curto, além de garantir maior durabilidade para peça final. Fonte: Madeira... (2011). 6 O USO DA ÁGUA 6.1 A influência da arquitetura e do urbanismo na qualidade ambiental da água A maioria dos problemas ambientais sociais e econômicos que o mundo de hoje enfrenta está localizada nas megalópoles, sendo ainda pior em países subdesenvolvidos, onde há falta de recursos. No Brasil, cidades como São Paulo e Rio de Janeiro e outras do mesmo porte se deparam com grandes desafios. O padrão de vida dos moradores dessas cidades vem decaindo rapidamente, os órgãos públicos são praticamente incapazes de agir com eficiência no planejamento, no controle e na execução de medidas eficazes para alterar o estado das coisas. Particularmente, o saneamento básico das grandes cidades brasileiras encontra-se numa situação caótica, principalmente no que diz respeito à coleta e ao tratamento dos esgotos domésticos e à drenagem urbana. A ação do homem tem papel determinante para o estágio deplorável em que se encontra o saneamento básico no país. As causas determinantes são: • remoção da cobertura vegetal nativa, o que causa o assoreamento de rios, influenciando diretamente no caminho natural percorrido pela água. A erosão, o aquecimento e a nebulosidade são fatores que não só estão ligados diretamente à drenagem urbana mas também com o meio ambiente; • falta de profissionais qualificados para execução e planejamento de obras de grande e médio porte; • impermeabilização, já que os terrenos antes cobertos com mata, hoje, com os aglomerados urbanos, são cobertos com asfalto, calçadas etc.; • conscientização da população em geral sobre o risco que pode haver ao ocupar áreas de mananciais de forma irregular, além de lixo jogado em via públicas, entupindo os bueiros e as bocas de lobo. 46 Unidade II AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 A drenagem urbana tem sido desenvolvida dentro de premissas estruturais, em que os impactos são transferidos de montante para jusante sem nenhum controle de suas fontes. No escoamento, esse processo tem provocado aumento da frequência das enchentes, entupimento dos condutos e canais por sedimentos e a degradação da qualidade da água. Dentro desse contexto, o controle da erosão urbana é fundamental tanto na manutenção da capacidade de escoamento do sistema de drenagem como na qualidade ambiental. As características da produção dos sedimentos em bacias urbanas e de seu controle dentro da experiência internacional são descritas. Buscando destacar indicadores que possam ser aplicados às condições de urbanização de cidades brasileiras, são apresentadas estimativas de produção de sedimentos para bacias urbanas em algumas cidades do país. O desenvolvimento urbano brasileiro tem produzido aumento significativo na frequência das inundações, na produção de sedimentos e na deterioração da qualidade da água. À medida que a cidade se urbaniza, em geral, ocorrem os seguintes impactos: aumento das vazões máximas, devido ao aumento da capacidade de escoamento pelos condutos e canais e impermeabilização das superfícies; aumento da produção de sedimentos, devido à desproteção das superfícies e à produção de lixo; deterioração da qualidade da água, devido à lavagem das ruas, ao transporte de material sólido e às ligações clandestinas de esgoto. A partir do momento em que se retira a vegetação nativa, há um aumento significativo no volume do escoamento, pois não há mais vegetação para drenar a água. O aumento da velocidade de escoamento aumenta a produção de sedimentos, devido à desproteção do solo, tornando-o cada vez menos resistente à erosão. Isso ocorre no início do desmatamento para ocupação populacional e, por várias vezes, de maneira clandestina, colocando em risco o meio ambiente e a população. Um exemplo claro de deposição de sedimentos e crescimento desordenados ocorreu com a região metropolitana de São Paulo, nas bacias do rio Tietê e Pinheiros. O solo frágil da cabeceira e a topografia acidentada resultaram num depósito de todo o material sólido ede frequentes cheias, sendo a dragagem desse material indispensável para minimizar os impactos. Observa-se um sistema inapropriado de ocupação da população ribeirinha, exposta a inundações de áreas que antes não eram alagáveis, devido à subtração de espaço nas várzeas. Deve-se também lembrar de que a ocupação populacional traz consigo uma demanda excessiva com o meio ambiente, que, na maioria das vezes, é reformulada por técnicos e engenheiros; estes acabam por alterar o curso natural de rios com a construção de galerias pluviais e a canalização de rios, tudo isso para aumentar a área construtiva para moradia populacional. A impermeabilização do terreno impede que a água pluvial infiltre-se no solo. Dessa forma, não há aumento no lençol freático, e sim aumento totalitário no pico da vazão, devido à aceleração do escoamento; porém, há uma drástica diminuição da condução de sedimentos. 47 AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 ArquiteturA sustentável No Brasil, institucionalmente, a infraestrutura de microdrenagem é reconhecida como da competência dos governos municipais, que devem ter total responsabilidade para definir as ações no setor, ampliando-se essa competência em direção aos governos estaduais, na medida em que crescem em relevância as questões de macrodrenagem, cuja referência fundamental para o planejamento são as bacias hidrográficas. Assim, deve ser de competência da Administração Municipal, a Prefeitura, os serviços de infraestrutura urbana básica, relativos à microdrenagem e serviços correlatos, incluindo- se terraplenagens, guias, sarjetas, galerias de águas pluviais, pavimentações e obras de contenção de encostas, para minimização de risco à ocupação urbana. Quanto à extensão, não se dispõe de dados confiáveis em relação à drenagem urbana. Estima-se que a cobertura desse serviço, em especial a microdrenagem, atinja patamar superior ao da coleta de esgotos sanitários. Quanto à macrodrenagem, são conhecidas as situações críticas ocasionadas por cheias urbanas, agravadas pelo crescimento desordenado das cidades, em especial, a ocupação de várzeas e fundos de vales. De modo geral, nas cidades brasileiras, a infraestrutura pública em relação à drenagem, como em outros serviços básicos, apresenta-se insuficiente. Na situação de bacias urbanizadas, a ocupação das margens, e mesmo da calha do rio, encontra- se consolidada e, nesses casos, a renaturalização e mesmo uma revalorização ecológica são limitadas, restando ao administrador intervir a montante do trecho, buscando reduzir os picos de vazão. As soluções para minimizar as enchentes devem ser voltadas à infiltração das águas superficiais para o solo. A seguir, algumas opções: • pequenos reservatórios em condomínios, parques, escolas; • bacia para amortecimento de cheias; • não pavimentação das ruas; • parques e áreas gramados; • medidas de apoio à população, sistema de alerta, de evacuação e de atendimento à comunidade atingida; • programa de educação ambiental; • implantação de interceptores de esgotos, viabilizando futuro tratamento. 6.2 O uso adequado da água Já tratamos aqui sobre o ciclo da água e vimos que a quantidade dessa substância no planeta não se alterou, e nem irá se alterar. Os problemas decorrentes de sua falta se devem ao aumento no consumo de água potável, quer seja por parte da população, da indústria ou da agropecuária. 48 Unidade II AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 Uma vez utilizada, ela se torna “suja”, ou seja, precisa voltar ao ciclo para tornar-se novamente potável. O que ocorre, no entanto, é que ela está demorando cada vez mais para retornar ao ciclo. Há água suficiente para todos no planeta, mas algumas razões levam à escassez: • a não distribuição de modo uniforme no planeta. Cerca de 60% de toda a água doce estão no território de menos de dez países. No Brasil, 78% estão nos rios da Amazônia. A região Sudeste, onde vivem mais de 40% da população brasileira, tem apenas 6%; • superexploração das reservas de água e alterações nos ecossistemas que sustentam o ciclo da água, como os desmatamentos; • a demanda não para de crescer. Nos últimos sessenta anos, a população mundial duplicou e o consumo de água multiplicou-se por sete. Em vinte anos, a necessidade de água será 40% maior do que hoje. Nos países em desenvolvimento, aumentará mais de 50%; • desperdício e mau uso. Nas grandes cidades, de 50% a 70% da água disponível é desperdiçada, começando nas redes de distribuição, que perdem de 40% a 60% da água que maneja; • poluição (torna a água imprópria para o consumo). No Brasil, 80% dos esgotos domésticos e 70% de efluentes industriais são lançados, sem tratamentos, nas águas de rios e lagos; 64% das empresas brasileiras não coletam o esgoto que geram. A bacia hidrográfica do Alto Tietê, na região metropolitana da capital paulista, tem acesso a um volume de água reduzido, em virtude da limitação da captação. Para suprir suas necessidades, a alternativa foi trazer água de uma bacia vizinha, a do rio Piracicaba-Jundiaí-Capivari, que abastece a metade da metrópole paulistana. Atualmente, 58 municípios compartilham esse manancial. A solução foi criar o Banco das Águas, um acordo que estabelece cotas de captação para a região metropolitana de São Paulo e para o conjunto dos municípios da região de Piracicaba. O sistema tem sido capaz de gerenciar o conflito de interesses no uso da água; contudo, não resolve o problema da escassez: a oferta continua sendo limitada diante da demanda atual. Resultado: entraves para instalação e ampliação de fábricas na região da bacia do rio Piracicaba, em virtude da dificuldade de obtenção de novas outorgas de uso de água. Como agir, então? Adoção de práticas e utilização de equipamentos que permitam a racionalização (uso mais eficiente), redução do desperdício, reúso e tratamento da água, com tecnologias e processos mais limpos e econômicos. Os equipamentos de uso racional são aqueles que promovem uma redução significativa no consumo de água sem perder o conforto. Muitos são de fácil instalação, acessíveis, e podem promover reduções 49 AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 ArquiteturA sustentável em grande escala, chegando a 70% do consumo, dependendo do perfil do projeto e do tipo de aparelho empregado. De nada adianta ter os melhores equipamentos se as atitudes continuarem as mesmas. Muitas vezes, a melhor economia está na prática consciente das pessoas, no cuidado diário e na manutenção dos equipamentos. De acordo com a ONU, cada pessoa precisa de 110 l de água por dia para atender suas necessidades de higiene e de consumo. No Brasil, o consumo diário chega a ultrapassar 200 l, ou seja, há um desperdício considerável. Para diminuir o consumo e o desperdício, algumas boas práticas para o uso racional da água podem ser adotadas, como: não deixar os equipamentos abertos sem necessidade, reduzir o tempo do banho, entre outros. Entretanto, estas são medidas individuais. Como medidas com caráter arquitetônico, temos a utilização de equipamentos economizadores. Aliadas ao uso adequado, as tecnologias economizadoras são armas poderosas contra o desperdício. Elas podem controlar o volume de água usado, o tempo de uso ou os dois ao mesmo tempo. São elas: • dual flush: sistema de descarga com válvula que regula a quantidade de água liberada no vaso sanitário. No momento da descarga, pode-se optar pelo uso de 3 ou 6 litros; • arejador: acessório para torneiras e chuveiros cuja função é misturar ar à água, dando a sensação de maior volume. Torneiras com arejadores podem reduzir o consumo de água em até 75%; • restritor de vazão: instalado em torneiras, regula a quantidade de água expelida; • torneiras com fechamento automático: funcionampor meio de um sensor ou do toque de um botão, que, acionados, liberam água por alguns segundos e voltam a fechá-la. Já em jardins, podemos lançar mão do sistema de irrigação por gotejamento, que fornece uma vazão lenta e permanente de água à lavoura, gerando vários benefícios: • redução do consumo de água; • maior qualidade e rendimento; • menor incidência de fungos e ervas daninhas. Na hora de construir uma casa ou um prédio, é preciso lembrar-se de que a água da chuva precisa ser drenada pelo solo. Coberto por cimento, ele torna-se impermeável, contribuindo para a ocorrência de enchentes. Existem tecnologias que permitem não só escoar a água da chuva como retê-la e reaproveitá- la. Se aplicadas ao projeto de forma integrada, geram benefícios ambientais, além de economia para o empreendimento. 50 Unidade II AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 Telhado verde Telhado verde (ou teto vivo) é o nome dado para jardins instalados no topo de prédios ou casas. Como qualquer jardim, colaboram com a biodiversidade, embelezam a paisagem e retêm a água da chuva, evitando enchentes. Ainda, a camada de terra e a vegetação no telhado funcionam como excelente isolante térmico, evitando que o calor penetre na construção. Pavimentos drenantes Como o nome já diz, são coberturas permeáveis para o solo. Devido a sua permeabilidade, esses pavimentos permitem a drenagem da água da chuva, recarregando o lençol freático e a irrigação ativa da vegetação local. Podem ser compostos por blocos, placas pré-moldadas e até pavimentos asfálticos especiais. Captação e reúso de água da chuva Permitem, ao mesmo tempo, combater enchentes, diminuir a demanda por água encanada e, claro, gastar menos. Embora não sirva para beber, a água da chuva pode ser usada em 90% das nossas atividades. Reúso da água de chuveiros, lavatórios e tanques Não é só a água da chuva que pode ser reutilizada. Para isso, podem-se instalar pequenas estações de tratamento na construção ou mesmo lançar mão de ações simples, como utilizar um balde para aproveitar a água do chuveiro, do tanque ou da lavadora para lavar o quintal. Além da drenagem da água da chuva, há muitos outros cuidados relacionados ao uso racional da água para se levar em conta na hora de construir, reformar, ampliar ou manter uma edificação. • Se captar água de poços, nascentes ou córregos deve-se devolvê-la à natureza tão limpa quanto antes, ou ainda melhor. • Planeje o paisagismo de forma inteligente. Próximos à construção, pequenos lagos ajudam a regular a temperatura. Já quando posicionados entre a construção e a direção de maior insolação, podem colaborar com a iluminação, refletindo luz natural para o ambiente interno. • Construa sua edificação em local seguro, fora de regiões onde possa haver grande fluxo natural de água, para evitar ser atingido por enxurradas ou deslizamentos de terra. • Proteja os reservatórios de água da incidência do sol para evitar perdas pela evaporação. • Use a gravidade a favor da construção. Em terrenos inclinados, armazene água nas áreas mais elevadas, deixando a distribuição por conta da gravidade. • Crie conexões entre os elementos do projeto. Por exemplo: a água dos chuveiros do edifício A pode ser direcionada para a irrigação de árvores que sombreiam o edifício B. 51 AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 ArquiteturA sustentável • Evite água parada para impedir contaminação. Se houver pequenos lagos, onde a água não circula, insira espécies de peixes (de preferência, nativos) que se alimentem de larvas de mosquitos. Esvazie ou proteja todos recipientes com água parada. • Para bombear água, prefira sistemas que dispensem energia elétrica, como rodas d’água, carneiros hidráulicos, bombas eólicas ou solares. • Evite equipamentos tecnológicos que exijam manutenção dispendiosa, complicada ou muito frequente. Aproveitamento das águas das chuvas Outra forma de economizar água é fazer o aproveitamento de água da chuva. Para isso, pode-se construir e instalar um sistema usando a tecnologia da minicisterna, criada e desenvolvida baseada na norma ABNT NBR 15.527:2007: "Água de chuva – aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis". Os principais objetivos do aproveitamento da água da chuva são: • incentivar a população a fazer o aproveitamento correto da água da chuva; • fazer com que toda casa urbana tenha pelo menos um sistema simples de aproveitamento da água de chuva; • minimizar o escoamento do alto volume de água nas redes pluviais durante as chuvas fortes; • usar a água para irrigações nos jardins e lavagens de pisos externos. Assim, ela vai infiltrar na terra e ir para o lençol freático, preservando seu ciclo natural; • usar a água para lavagens de pisos, carros, máquinas e nas descargas no vaso sanitário. Antes de iniciar a construção de um sistema de aproveitamento da água da chuva, conheça um pouco mais sobre as chuvas que caem em sua região, os princípios e componentes básicos de um sistema de aproveitamento da água da chuva. Quando se fala em tratamento de efluentes, o princípio mais importante é devolver a água tão limpa ou melhor do que se captou. Tratamentos naturais de efluentes Não dá para falar em sustentabilidade sem prever o tratamento dos efluentes (esgoto ou água residuais), que pode ser feito de forma natural e econômica. Em ambientes com disponibilidade de espaço para plantio de árvores ou arbustos frutíferos, a “água cinza” (aquela que sai de lavadoras, pias ou chuveiros) pode ser usada para irrigar plantas, com a vantagem de carregar nutrientes. 52 Unidade II AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 Nos últimos anos, a tecnologia aplicada ao tratamento de água de piscinas evoluiu bastante, chegando até à eliminação dos produtos químicos industrializados. O mais comum hoje é usar geradores de ozônio, lâmpadas ultravioletas e salinizadores, que, além de estarem livres dos efeitos adversos dos produtos convencionais, demandam manutenção mais simples e proporcionam bem- estar aos banhistas. Outra novidade interessante, ainda incomum no Brasil, são as piscinas naturais (ou biológicas), que utilizam plantas para fazer o tratamento da água. Observação O Programa de Uso Racional da Água (PURA), criado pela Sabesp, obteve resultados expressivos ao ser empregado pela USP nos seus campi: reduziu o consumo de água em 36%, baixando o gasto anual de 17,57 para 14,66 milhões de reais entre 1997 e 2005 (apesar de 96% de aumento de tarifa no período). Saiba mais Saiba mais sobre o PURA acessando: A água da chuva é uma das formas de ocorrência de água na natureza e faz parte do processo de trocas do ciclo hidrológico. As chuvas são fundamentais para a recarga dos rios, dos aquíferos, para o desenvolvimento das espécies vegetais e também para carregar partículas de poeira e poluição existentes na atmosfera. A qualidade das águas pluviais pode variar em relação ao grau de poluição do ambiente. Os requisitos de qualidade e segurança sanitária das águas pluviais estão diretamente relacionados com o fim a que se destinam. O aproveitamento da água da chuva caracteriza-se por ser um processo milenar, adotado pelas civilizações astecas, maias e incas. Tomaz (2003) relata que um dos registros mais antigos do aproveitamento da água da chuva data de 850 a.C., referindo-se às inscrições na Pedra Moabita, no Oriente Médio, onde o rei Mesha sugere a construção de reservatórios de água de chuva em cada residência. O autor faz referência ainda ao Palácio de Knossos, na Ilha de Creta, onde há aproximadamente 2000 a.C. a água da chuva era aproveitada na descarga das bacias sanitárias. Assim sendo, o aproveitamentoda água da chuva refere-se a um sistema relativamente simples, que consiste na captação, na filtragem, no armazenamento e na distribuição da água que cai no telhado da edificação. A tecnologia para o uso da água da chuva nas edificações é a soma das seguintes técnicas: • coletar a água que precipita no telhado; • eliminar a água do início da chuva (descarte inicial); 53 AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 ArquiteturA sustentável • unidades de sedimentação, filtragem, tratamento e melhoria da qualidade da água; • armazenar a água da chuva em reservatórios; • abastecer os locais de uso; • drenar o excesso da água da chuva, em caso de chuvas intensas; • completar a falta de água em caso de estiagem prolongada. Em se tratando de sistemas de aproveitamento da água da chuva, a manutenção e higienização dos equipamentos componentes de tal sistema são fundamentais para a preservação da qualidade da água. Não obstante, ressalta-se que a superfície de coleta da água da chuva pode influenciar na qualidade da mesma, seja pelo material da superfície ou devido a substâncias presentes em tais superfícies, como fezes de aves e roedores, artrópodes e outros animais mortos em decomposição, poeira, folhas e galhos de árvores, revestimento do telhado, fibras de amianto, resíduos de tintas, entre outros, que ocasionam tanto a contaminação por compostos químicos quanto por agentes patogênicos. Devemos destacar algumas recomendações de suma importância na implantação de sistemas de aproveitamento da água da chuva nas edificações: • a desinfecção da água da chuva armazenada antecipadamente ao uso; • a higienização frequente do reservatório de água da chuva; • a análise da concepção do método de dimensionamento, a fim de subsidiar a escolha mais adequada a cada situação, preferencialmente aqueles que contemplem a abordagem holística do aproveitamento da água da chuva contextualizada na sustentabilidade hídrica; • a construção de sistemas independentes para água da chuva e potável a fim de evitar o risco de contaminação. 7 REDUZIR OS IMPACTOS NOS ECOSSISTEMAS 7.1 Edifícios verdes A preocupação ambiental tem se tornado cada vez mais frequente no mundo contemporâneo. Problemas como aquecimento global, poluição e escassez dos recursos naturais cobram da sociedade maior conscientização e adoção de práticas positivas voltadas para o desenvolvimento sustentável, que atendam às necessidades do presente sem comprometer as gerações futuras. Nesse contexto, surge, no setor da construção civil, um novo tipo de imóvel, que está atraindo construtoras, incorporadoras e clientes. Trata-se dos green buildings (prédios verdes), construções ecologicamente corretas, limpas, sem desperdícios e com pouco impacto ambiental, possibilitando, ainda, economia de até 50% no consumo de água e de energia elétrica. 54 Unidade II AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 A ideia principal é minimizar o uso de insumos e, ao mesmo tempo, ampliar a utilização de material renovável ou reciclável nas edificações como maneira de compensar a agressão à natureza decorrente do processo de crescimento vertical das cidades. Os green buildings proporcionam grandes benefícios para seus consumidores. Quem não quer ter um apartamento claro, termicamente confortável, com ambiente saudável e que gaste menos água e energia? Estudos realizados em prédios comerciais com a Certificação Verde (Leadership in Energy Leed and Environmental Design) comprovaram que há uma melhora efetiva no bem-estar de quem trabalha neles. Como exemplo, temos o caso da sede da empresa americana de biotecnologia Genzyme, localizada em Cambridge, nos Estados Unidos. A vista privilegiada proporcionada pela extensa fachada envidraçada e o teto de vidro parecem ter feito muito bem aos funcionários. A produtividade do pessoal que dá expediente na nova sede, inaugurada em 2004, aumentou 15%. Além disso, o índice de ausências devido a doenças tornou-se 5% menor que o registrado nos demais edifícios da companhia. O edifício verde, além de beneficiar o meio ambiente, garante o bem-estar de seu usuário: faz bem para a saúde, para o bolso e para o planeta. Os green buildings são planejados para que os recursos naturais sejam otimizados, o que acaba por refletir na redução também da taxa condominial em até 30%. Para obter a Certificação Verde, vale investir em energia solar, sistema de sensores de presença, tecnologia para o reúso da água, churrasqueira ecológica (não produz fuligem nem consome carvão vegetal), medidores individuais de gás e água, para incentivar o controle dos recursos por apartamento, e sistema de ventilação natural. O custo de construção de um edifício desse porte pode ser maior do que o de projetos convencionais (atualmente, cerca de 2% a 5%), mas esse valor extra acaba se pagando pela economia gerada depois que o edifício entra em operação (de 30% a 50% de economia dos recursos durante o uso e a ocupação do imóvel). O Poder Público Municipal pode exercer papel importante no desenvolvimento e na implantação da construção sustentável das cidades. Por meio de significativas mudanças no Plano Diretor, o prédio verde poderá ter o mesmo grau de competitividade em valor que um prédio convencional. A prefeitura poderá, por exemplo, como incentivo, conceder mais pavimentos ao prédio verde, aumentando o índice de área construída. Poderá, ainda, reduzir o IPTU, implantar projetos de coleta seletiva de lixo etc. Por outro lado, práticas atuais têm demonstrado que a adoção de soluções ambientalmente sustentáveis na construção não acarretam aumento de preço, se tomadas durante as fases de concepção do projeto. Em alguns casos, podem até reduzir custos. Esse nicho de mercado é, hoje, um diferencial, mas no futuro se transformará em requisito, pois está dentro da necessidade urgente de melhores indicativos de qualidade de vida, que também implicam 55 AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 ArquiteturA sustentável meio ambiente saudável, tanto natural como artificial. De acordo com o Green Building Council, o Brasil ocupa hoje o quarto lugar no ranking de maior número de prédios verdes certificados, perdendo apenas para os Estados Unidos, os Emirados Árabes e a China. Ao todo, são 37 edifícios nessa categoria e 367 em processo de certificação. Um levantamento feito pela organização mostrou que os prédios verdes permitem uma diminuição do consumo de energia de até 30% e queda da demanda de água em até 50%. Edifícios verdes não custam realmente muito mais do que os convencionais. Na realidade, reduzem as contas de energia e também agregam valor ao imóvel. Materiais reciclados são também muito mais ecológicos do que os demais. Há uma demanda crescente por mercadorias que sejam ou possam ser recicladas na construção de casas. A reciclagem de materiais causa danos muito menores para o meio ambiente. Assim, estamos também seguindo o caminho das construções verdes apenas fazendo uso de produtos ecologicamente corretos. Os materiais precisam ter um impacto insignificante para o ambiente, especialmente em termos de produção de resíduos, energia de emissão e capacidade de se reconstituir, a fim de diminuir os recursos retirados da natureza, devido à sua produção. O consumo de energia em edifícios verdes, particularmente pelo uso de “produtos verdes”, é considerado mais significativo do que aqueles desviados para longe dos aterros pela reciclagem durante a construção. As iniciativas governamentais crescentes, os subsídios ao consumidor e o aumento do número de profissionais e construtores voltados para a indústria de construção de edifícios verdes contribuem para que essa tendência chegue a um novo patamar. O que começou com iniciativas isoladas em várias cidadesdos EUA aumentou, agora, para abranger toda a comunidade e bairros de grandes cidades, como Nova Iorque. Segundo uma pesquisa realizada em 2006, cerca de dois terços dos apartamentos construídos na cidade nesse ano teriam o uso de materiais e produtos ecologicamente corretos. Edifícios verdes são, com certeza, o nicho principal. Conceitos verdes começam a aumentar em todos os lugares, assim como o número de pessoas que querem reformar suas casas dentro desse conceito. Arquitetos e desenvolvedores estão se especializando cada vez mais para atender essa crescente demanda. Edifícios verdes são mais procurados e apreciados do que edifícios convencionais. Apresentamos a seguir alguns edifícios sustentáveis construídos no Brasil. Rio de Janeiro, Porto Brasilis A Gafisa conta ainda com outro empreendimento com o selo LEED, desta vez no Rio de Janeiro. O primeiro edifício comercial de alto padrão fica na esquina da Avenida Rio Branco com a Rua São Bento e tem área total de 18.600 m², distribuídos em 16 pavimentos de escritórios e três de estacionamento. Dentre as características sustentáveis, estão o sistema de tratamento e reaproveitamento da água da chuva, medição individual do consumo de água e energia, uso de materiais de construção com baixos compostos orgânicos voláteis, louças e metais sanitários economizadores de água, reatores e lâmpadas 56 Unidade II AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 de alta eficiência, separação e armazenamento de lixo reciclável, vagas preferenciais para veículos com baixa emissão e recuperadores de energia instalados no sistema de exaustão dos sanitários. Figura 6 – Porto Brasilis, Rio de Janeiro São Paulo, JK 1455 O imponente prédio da avenida Presidente Juscelino Kubitschek, em São Paulo, conquistou a primeira certificação LEED ouro do país em novembro de 2012. Na realidade, o edifício passou por uma adequação para que sua estrutura passasse a ser sustentável, aprimorando várias técnicas para a redução do impacto ambiental. Com 13 pavimentos de escritórios, o prédio foi entregue em 2008 pela Cyrela. Hoje, dentre as soluções verdes, estão estratégias para a redução do consumo de energia elétrica, melhor uso da água – já que não tem produtos químicos nas fontes do prédio, reaproveitando o líquido para as torres de resfriamento – e maior eficácia na limpeza, pois implementa políticas visando à eficiência com mínimo uso de produtos químicos. Figura 7 – Edifício JK 1455, São Paulo 57 AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 ArquiteturA sustentável Paraíba, Energisa Não são apenas os grandes centros que possuem prédios verdes. Prova disso é o conjunto de prédios da Energisa, que fica no sertão da Paraíba e tem o selo LEED. Como há escassez de recursos na região, além de o clima ser semiárido, a preocupação com a qualidade de vida do usuário foi o que motivou o projeto. Assim, o terreno de 10 mil m² recebeu um conjunto de prédios com 1.902 m² de área construída, erguidos com materiais renováveis, reutilizáveis e recicláveis, como madeira com certificação de reflorestamento, vidros laminados com baixo fator solar, tijolos cerâmico-prensados maciços e cercas de divisas com metal reciclado. Foram incorporados, ainda, recursos como telhas de alumínio com preenchimento de poliuretano para proteção térmica e acústica do ambiente e instalações com sistema de captação de água da chuva. Figura 8 – Energisa, Pernambuco Fonte: Haydeé (2013). 7.2 Minimização dos problemas de ilha de calor e impacto no microclima É imprescindível a compreensão dos fatores climáticos locais (orientação solar, umidade do ar, ventos predominantes de cada local) para observar o custo versus os benefícios que podem ser obtidos pela utilização de estratégias de projeto que melhoram o conforto térmico de uma construção. Todavia, é importante que o custo seja analisado do ponto de vista do usuário final, pois os benefícios se estendem por toda a vida útil da edificação. Os fatores dinâmicos do clima afetam diretamente o desempenho térmico do edifício. Os ganhos e as perdas de calor da edificação também dependem de algumas variáveis arquitetônicas. Podemos destacar os seguintes fatores como influências térmicas dos elementos da arquitetura: • as características dos materiais das fachadas externas (expostas às condições climáticas); • a cor utilizada nas fachadas externas; • a orientação solar; 58 Unidade II AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 • a forma e a altura da edificação; • a orientação e o tamanho das vedações transparentes; • as características do entorno da edificação; • a orientação em relação a ventilação; • o desempenho das aberturas, quanto às possibilidades de iluminação natural, bem como suas devidas proteções à insolação inadequada; • a localização estratégica dos condicionadores de ar artificiais. Vale ressaltar que cada região tem estratégias específicas para as soluções arquitetônicas a serem adotadas nas edificações, já que as cidades brasileiras apresentam características climáticas bem diferenciadas. Observação Nas regiões predominantemente quentes do Brasil, a arquitetura deve contribuir para minimizar a diferença entre as temperaturas externas e internas do ar. Um desempenho térmico satisfatório da arquitetura, com a utilização apenas de recursos naturais, pode não ser possível em condições climáticas muito rígidas. Mesmo nesses casos, devem-se procurar propostas que maximizem o desempenho térmico natural, pois, assim, se pode reduzir a potência necessária dos equipamentos de refrigeração ou aquecimento, visto que a quantidade de calor a ser retirada ou fornecida ao ambiente resultará menor. Há também a possibilidade de não ser preciso o uso contínuo desses equipamentos nas épocas do ano cujas condições térmicas climáticas não sejam tão severas. As diferenças quanto à umidade relativa do ar vão requerer partidos arquitetônicos distintos, em função da consequente variação da temperatura diária, a qual, basicamente, definirá as vantagens ou não da ventilação interna. Tomando-se como referência a amplitude climática de um clima seco, por exemplo, o da cidade de Brasília, onde a mínima (noturna) é de 15,4°C e a máxima (diurna) de 30,7°C, vê-se que, idealmente, a arquitetura nos climas secos e quentes deveria possibilitar, durante o dia, temperaturas internas abaixo das externas e, durante a noite, acima. A ventilação não seria útil, pois o vento externo estaria, em um mesmo instante, ou mais frio ou mais quente que a temperatura do ar interno. Desse modo, podem-se adotar partidos arquitetônicos que tenham, primordialmente, uma inércia elevada, a qual acarretará grande amortecimento do calor recebido e um atraso significativo no número de horas que esse calor levará para atravessar os vedos da edificação. Assim, é possível obter-se um 59 AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 ArquiteturA sustentável desempenho térmico tal do espaço construído, de modo que o calor que atravessa os vedos só atinja o interior da edificação à noite, quando a temperatura externa já está em declínio acentuado. Então, parte do calor armazenado pelos materiais durante o dia será devolvido para fora, não penetrando na edificação. Outro fator a se considerar no projeto é o tamanho das aberturas. Já que não há conveniência de ventilação, pode-se ter pequenas aberturas, o que também facilitará a sua proteção de excessiva radiação solar direta. Quanto à proteção da radiação solar direta, é vantajoso terem-se soluções arquitetônicas onde as construções sejam as mais compactas possíveis, para possibilitar que menores superfícies fiquem expostas tanto à radiação quanto ao vento, que normalmente, em clima seco,trazem também consigo poeira em suspensão. As edificações no conjunto urbano podem ser pensadas de modo a se adotar em partidos onde estejam localizadas de maneira aglutinada, para fazerem sombras umas às outras. A circulação urbana também pode ser planejada com características mais adequadas aos climas locais. Além dos aspectos topográficos do sítio no qual se assenta, a malha urbana pode ser direcionada, no caso de clima quente seco, prevendo que as ruas de maior largura sejam aquelas com direção leste- oeste, pois a inclinação dos raios solares ao longo do ano não atingirá com muito rigor as fachadas voltadas para essas ruas. O uso da água como elemento de alteração de microclimas também pode ser incorporado às construções, principalmente se localizadas nos pátios internos. Se as condições desses pátios forem tais que permitam que as paredes laterais opostas se autossombreiem em partes do dia, é possível criar condições microclimáticas bastante agradáveis nesses espaços, já que a maior umidade do ar resultará também em melhores condições térmicas. 7.3 Eficiência energética No período clássico, Vitrúvio entendia a arquitetura como um espaço habitável que deveria equilibrar os aspectos estruturais, funcionais e formais. Hoje em dia, a arquitetura também deve ser vista como um elemento que precisa ter eficiência energética, que pode ser entendida como a obtenção de um serviço com baixo dispêndio de energia. Portanto, um edifício é mais eficiente energeticamente que outro quando proporciona as mesmas condições ambientais com menor consumo de energia. Assim, o triângulo conceitual clássico de Vitrúvio pode ser acrescido de um vértice (o da eficiência energética), transformando-se no conceito ideal da arquitetura contemporânea. Muito se tem ouvido falar sobre economia de energia elétrica em edifícios. Além das campanhas contra o desperdício que vêm sendo feitas, surgem cada vez mais equipamentos de baixo consumo e maior eficiência energética, como alguns eletrodomésticos. 60 Unidade II AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 Entretanto, além da utilização dos recursos tecnológicos, a elaboração de projetos que incluam estudos sobre o comportamento energético do edifício pode melhorar a eficiência da arquitetura. O século XX foi particularmente fértil para a arquitetura e, hoje, o panorama arquitetônico é jovem e pluralista. Estilos como o pós-modernismo, o high-tech, o construtivismo e o desconstrutivismo mostram experiências significativas da preocupação crescente dos arquitetos com a melhoria da qualidade das edificações, inclusive considerando aspectos de eficiência energética e de conforto ambiental. Da energia elétrica consumida no Brasil, 42% é utilizada por edificações residenciais, comerciais e públicas. No setor residencial, o consumo chega a 23% do total nacional, sendo que nos setores comercial e público chega a 11% e 8%, respectivamente. Se os arquitetos e engenheiros tivessem mais conhecimento sobre a eficiência energética na arquitetura, em nível do projeto ou da especificação de materiais e equipamentos, esses valores poderiam ser reduzidos. Além de evitar a necessidade de maior produção de eletricidade no país, isso retornaria em forma de benefícios para os usuários, como economia nos custos da obra e no consumo de energia. O consumo de energia elétrica no setor residencial foi o que mais cresceu nos últimos anos, sendo que o consumo total de energia no país quase triplicou nos últimos dezoito anos. Nesse ritmo, o potencial elétrico instalado no Brasil se tornará insuficiente em breve, tornando inevitável a construção de novas usinas e o consequente impacto ambiental. Também é importante ressaltar que as reservas de combustíveis necessários às usinas termelétricas vão diminuindo com o tempo e que não é possível construir hidrelétricas indefinidamente, pois são limitados os locais que viabilizam sua implantação. O cenário energético atual torna evidente para o mercado futuro de energia elétrica a necessidade de conservação. Observação Eficiência energética pode ser definida como o aprimoramento que podemos fazer no consumo de energia. Antes de se transformar em calor, frio, movimento ou luz, a energia sofre um percurso mais ou menos longo de transformação, durante o qual uma parte é desperdiçada e a outra, que chega ao consumidor, nem sempre é devidamente aproveitada. A eficiência energética pressupõe a implantação de estratégias e medidas para combater o desperdício de energia ao longo do processo de transformação desde que a energia é transformada e, mais tarde, quando é utilizada. A eficiência energética acompanha todo o processo de produção, distribuição e utilização da energia. Assim, têm-se multiplicado as iniciativas para a promoção da eficiência energética. Empresas, governos e ONGs por todo o mundo têm investido fortemente na melhoria dos processos e na pesquisa de novas tecnologias energéticas mais eficientes e amigas do ambiente, bem como no aproveitamento das energias renováveis. 61 AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 ArquiteturA sustentável A eficiência energética é frequentemente associada ao termo Utilização Racional da Energia (URE), que pressupõe a adoção de medidas que permitem uma melhor utilização da energia, tanto no setor doméstico como no de serviços e industrial. Por meio da escolha, aquisição e utilização adequada dos equipamentos, é possível alcançar significativas poupanças de energia, manter o conforto e aumentar a produtividade das atividades dependentes de energia, com vantagens do ponto de vista econômico e ambiental. A eficiência energética não gira em torno apenas da utilização racional da energia, mas também, do ponto de vista arquitetônico, de edifícios que sejam projetados de forma a aproveitar/reaproveitar melhor os recursos naturais, como a iluminação e a ventilação natural, reaproveitamento da água das chuvas, aquecimento solar, entre outras alternativas que deixam o edifício eficiente e diminuem a necessidade de utilização de energia elétrica. 8 EXEMPLOS DE ARQUITETURA SUSTENTÁVEL 8.1 O caso da Coreia New Songdo é uma tentativa de colocar na prática o conceito de Ubiquitous City (U-City), traduzido livremente como cidade ubíqua. Um ambiente ubíquo é aquele onde toda tecnologia de informação está aplicada e todos os sistemas estão interligados. Essa conexão pode ser feita de diferentes maneiras, desde simples redes sem fio até identificação por frequência de rádio. Em outras palavras, um ambiente ubíquo pode ser usado facilmente, convenientemente e com segurança por qualquer pessoa a qualquer hora e em qualquer lugar. Um ambiente ubíquo também pode ser chamado de onipresente. Casas, hospitais, empresas e outras esferas compartilham dados: computadores e chips estão presentes em residências, ruas e escritórios. New Songdo é a cidade ubíqua mais avançada do mundo, sendo construída do zero. Não é a primeira cidade da Coreia do Sul, no entanto. Dongtan, por exemplo, já oferece diversos serviços interligados de um ambiente. Contudo, New Songdo é considerada diferente pela aplicação do U-City em toda cidade e pelo aspecto global de negócios, uma vez que a cidade quer atrair companhias do mundo todo para a consolidação de um avançado complexo empresarial. A área de construção ocupa 6 quilômetros quadrados (equivalente a 735 campos de futebol), localizada na costa de Incheon, cidade que fica a 65 quilômetros da capital Seul. A localização não é à toa, muito menos aleatória. Distante 15 minutos do Aeroporto Internacional de Incheon, New Songdo alcança um terço da população mundial em pouco mais de três horas de voo. Mercados regionais como Rússia, China e Japão estão muito próximos, o que faz dessa cidade o epicentro comercial asiático. Na inauguração oficial, New Songdo terá 65 mil habitantes. Candidatosjá estão na fila. O primeiro bloco, com 2.600 apartamentos, foi posto à venda em 2006, e a procura foi de oito pessoas para cada apartamento. Outros 1.000 apartamentos devem ser colocados à venda, e todos devem ser vendidos mesmo em tempos de crise. Além dos habitantes, 300 mil pessoas trabalharão na região. 62 Unidade II AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 Songdo tem o projeto para ser uma das cidades mais verdes do planeta. Um programa de comprometimento de sustentabilidade com seis objetivos pretende determinar um novo padrão para design ambientalmente responsável para outros projetos de larga escala em todo o mundo. Todos os prédios deverão ter certificados de padrões internacionais de design e construção sustentáveis. O canal do parque central usará água do mar, economizando milhões de litros de água potável por dia. O consumo por sistemas de encanamento será reduzido em até 40% dependendo do projeto utilizado. A água das chuvas será utilizada ao máximo, devido ao tipo de clima e ao padrão de quantidade de chuva da região. Essa água será mais bem aproveitada por telhados especialmente desenvolvidos, os quais também amenizarão o efeito estufa. Uma instalação movida a gás natural vai fornecer energia limpa e água quente para toda a cidade. As luzes das ruas serão de LED, mais eficientes. Um sistema centralizado de coleta será instalado para coletar lixo seco e molhado, eliminando a necessidade de usar veículos para isso; e 75% do lixo dos materiais de construção de Songdo poderá ser reciclado. Materiais reciclados, além dos produzidos ou manufaturados localmente, serão utilizados na maior extensão possível. Cerca de 40% da cidade é de espaço aberto e todas as quadras levam pedestres a esses espaços. Todas as instalações terão, em contrato, determinações para utilizar métodos e oferecer produtos com nenhuma ou pouca emissão de carbono. Fumar será proibido em áreas públicas e prédios comerciais, exceto em áreas especiais para isso. Segundo os desenvolvedores do projeto, New Songdo terá como objetivo diminuir o uso de veículos automotivos, considerado o grande responsável pela emissão de poluentes na Ásia. O transporte pelo distrito, incluindo metrô e ônibus, fornecerá acesso para residentes e visitantes. As paradas de ônibus estarão localizadas sempre a menos de 500 metros de todos os prédios residenciais ou comerciais. A extensão da linha de metrô de Incheon também ficará próxima de todas as áreas residenciais. Nas ruas, 5% do espaço para estacionamento de cada quadra será destinado a veículos econômicos e com menor emissão de poluentes. Quadras comerciais terão mais 5% das vagas para carros com carona. O sistema de estacionamento será subterrâneo ou coberto, para minimizar o efeito de calor urbano e deixar mais espaço aberto para pedestres. Garagens terão integração com infraestrutura necessária para carregamento de veículos elétricos, com objetivo de facilitar a transição para transportes de pouca emissão. Uma rede de 25 quilômetros de pistas para bicicletas facilitará e incentivará o uso de transportes livres de carbono. Pistas para bicicletas serão extensamente disponibilizadas, e será possível até mesmo alugar bicicletas públicas. As pistas serão adjacentes a todas as ruas principais. No canal, táxis aquáticos serão implantados. Talvez não tão românticos quanto os de Veneza, mas eficientes ecologicamente. 63 AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 ArquiteturA sustentável Saiba mais Veja mais sobre New Songdo em: 8.2 O Hidroanel O Hidroanel Metropolitano de São Paulo é uma rede de vias navegáveis, composta pelos rios Tietê e Pinheiros, pelas represas Billings e Taiaçupeba, além de um canal artificial ligando essas represas, totalizando 170 quilômetros de hidrovias urbanas. O projeto, desenvolvido pela FAU/USP, baseia-se no conceito de uso múltiplo das águas, estabelecido na Política Nacional de Recursos Hídricos, que considera as águas um bem público e um recurso natural limitado, cujo uso deve ser racionalizado e diversificado, de maneira a permitir seu acesso a todos. A política prevê o transporte hidroviário na utilização integrada dos recursos hídricos, visando a um desenvolvimento urbano sustentável. Ao transformar os principais rios da cidade em hidrovias, e considerando também suas margens como espaço público principal da metrópole, o caráter público das águas de São Paulo é reforçado. Dessa forma, os rios urbanos colocam-se como vias para transporte de cargas e passageiros, uso turístico e de lazer, além de contribuir para a regularização da macrodrenagem urbana. Criam-se, assim, áreas funcionais e lúdicas para a população. O projeto do hidroanel também está alinhado às diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana, que tem entre seus objetivos contribuir para o acesso universal à cidade e mitigar custos ambientais, sociais e econômicos dos deslocamentos de pessoas e bens. Intimamente relacionados com o desenvolvimento urbano e bem-estar social, os bens deslocados na cidade são compreendidos no Estudo de Pré-viabilidade do Hidroanel como sendo as cargas públicas e comerciais que transitam no meio urbano. As cargas públicas consideradas nesse estudo são sedimentos de dragagem de canais e lagos; lodo de ETEs e ETAs; lixo urbano; entulho; terra, solo e rocha de escavação. Segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a gestão integrada dessas cargas é de responsabilidade do poder público e devem ser, além de coletadas e transportadas, triadas e enviadas aos destinos ambientalmente adequados. Essa política é orientada sob os conceitos de logística reversa, instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios e destinado a facilitar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos a empreendimentos de cunho público ou privado. Assim, os resíduos podem ser reaproveitados no ciclo de fabricação de novos produtos, na forma de insumos, visando à redução e a não geração de rejeitos ou incineração. 64 Unidade II AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 Conceitos norteadores • Reestabelecer os rios urbanos como principais eixos estruturadores das cidades, com parques, praças e bulevares fluviais às suas margens. • Consolidação de um território com qualidade ambiental urbana nas orlas fluviais que comporte infraestrutura, equipamentos públicos e habitação social. • Navegação fluvial urbana: portos de origem e destino inseridos na área urbana. • Navegação fluvial em canais estreitos e rasos em águas restritas (confinadas entre barreiras artificiais). • Transporte fluvial urbano de cargas públicas. • Logística reversa: reinserção no mercado dos resíduos sólidos transformados em matéria-prima. Cargas fluviais • Públicas: — sedimentos de dragagem de canais e lagos (carga pública pioneira); — lodo das ETEs e ETAs; — lixo urbano; — entulho; — terra: solos e rochas de escavações. • Comerciais — resíduos sólidos reversíveis comercializáveis, processados nos tri-portos (carga comercial pioneira); — insumos para construção civil; — hortifrutigranjeiros. Portos • Origem: draga-portos, lodo-portos, trans-portos e eco-portos. • Destino: tri-portos. • Passageiros: turismo, travessias lacustres em represas. 65 AS SO C - Re vi sã o: A nd re ia /C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io r - 19 /0 4/ 20 13 ArquiteturA sustentável Números • 170 Km de extensão • 20 eclusas • 3 subsistemas • 3 tri-portos • 14 trans-portos • 60 eco-portos • 36 Draga-portos • 4 lodo-portos • 24 portos passageiros 8.3 Outros exemplos A seguir, uma reportagem que exemplifica o