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| 1 Professora Ilza Maria da Silva Facundes UNIDADE IV – LIMITAÇÕES CONSTITUCIONAIS AO PODER DE TRIBUTAR: 4.1. Limites ao Exercício da Competência Tributária ..………..………....... 2 4.2. Princípios Constitucionais Tributários …………..……………..….….… 4 4.2.1. Princípio da Legalidade …………………………………………………... 5 Contribuições Previdenciárias Novas ou Residuais ……………………………. 6 Imposto sobre Grandes Fortunas …………………………………………………. 6 4.2.1.1. Tributos e as Medidas Provisórias …….…………………………….….. 7 4.2.1.2. Instituição do Tributo ……………………………...………………........... 9 4.2.1.3. Exceções ao Princípio da Legalidade ………………………………..…11 4.2.2. Princípio da Anterioridade Anual ………………..…...…………….…..14 4.2.2.1. Exceções ao Princípio da Anterioridade Anual …………………….….16 4.2.3. Princípio da Anterioridade Nonagesimal ……….……………........... 17 4.2.3.1. Exceções ao Princípio da Noventena ………………………...…….… 19 4.2.3.2. Princípios da Anterioridade e Noventena e as Medidas Provisórias ……………………………………………………………………………..…….….... 20 4.2.4. Princípio da Irretroatividade ……………………………………………. 25 4.2.4.1. Exceção ao Princípio da Irretroatividade ………..…...…..…………... 31 4.2.4.1.1. Lei Expressamente Interpretativa e Lei Mais Benéfica acerca de Infrações e Penalidades ……………………………………...…………………... 34 4.2.5. Princípio da Isonomia/Igualdade Tributária …..………….…………. 37 4.2.6. Princípio da Capacidade Contributiva …….…………………………. 42 4.2.6.1. Impostos Progressivos …………………………..…………………… 45 4.2.6.1.1. Imposto de Renda ………………………………………………..…… 45 4.2.6.1.2. Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural ………………..…... 46 4.2.6.1.3. Imposto Predial ………………………………………………………… 47 4.2.6.2. Princípio da Capacidade Contributiva e o Sigilo Bancário …..…….. 51 4.2.7. Princípio do Não Confisco ……………………………………………… 51 4.2.7.1. Princípio do Não Confisco e a Tributação do Patrimônio ………….. 57 4.2.8. Princípio da não limitação ao tráfego de pessoas e bens ………. 58 | 2 Professora Ilza Maria da Silva Facundes 4.2.9. Novos princípios expressos na CF/88 …………................................62 4.2.9.1. Princípio da Simplicidade …………................................................62 4.2.9.2. Princípio da Transparência …………........................................... 63 4.2.9.3. Princípio da Justiça Tributária …………........................................63 4.2.9.4. Princípio da Cooperação ………….................................................64 4.2.9.5. Princípio da Defesa do Meio Ambiente …………..............................65 4.2.9.6. Princípio da Atenuação a modificações com efeitos regressivos.66 4.2.10.- Uniformidade geográfica ………….................................................. 66 4.2.11 – Princípio da Uniformidade na Tributação da Renda............................68 4.2.12 – Princípio da vedação às isenções heterônomas.................................70 4.2.13. - Princípio da não discriminação baseada em procedência ou destino.73 | 3 Professora Ilza Maria da Silva Facundes 4.1. Limites ao Exercício da Competência Tributária. Um dos aspectos mais importantes do Sistema Tributário Nacional, previsto na CF, são as limitações constitucionais à competência tributária. Vimos anteriormente, as competências dos entes federados em relação as espécies tributárias. Quando a CF atribui a competência tributária à União, aos Estados, ao DF e aos Municípios, também estabelece limitações ao exercício dessa competência. Portanto, ao mesmo tempo que a CF atribui a competência, também limita, com o objetivo de evitar o excesso de exação (cobrança), na medida em que o Poder Público está sempre ávido por receita, principalmente as tributárias. Essas limitações são, portanto, o aspecto mais importante dentro do Sistema Tributário Nacional. O Direito Tributário compõe o universo do Direito Público. Como nós já vimos anteriormente sua natureza é obrigacional, pois se refere à relação de crédito e débito que surge entre os sujeitos da relação jurídica tributária. Porém, esta relação possui uma nota dissonante da obrigação de direito privado: o dever jurídico não é escolhido pela parte, a prestação que se deve pagar não surge da livre vontade do sujeito passivo, pois já vem definida em lei. A relação jurídica tributária é polarizada: • No Polo Ativo (credor) aparecem os entes tributantes, são as pessoas jurídicas de Direito Público Interno (fisco): União, Estados, Municípios e o Distrito Federal. • No Polo Passivo (devedor) aparece a figura do contribuinte: que pode ser Pessoa Física ou Jurídica. O vínculo que os une é a ocorrência da Hipótese de Incidência Tributária. Por intermédio das leis o Estado cria os tributos para arrecadar os recursos financeiros suficientes para custear o gasto público. Este é o cenário afeto à natural invasão patrimonial, que caracteriza a relação obrigacional, em que o credor (fisco) avança em direção ao patrimônio do devedor (contribuinte) de maneira compulsória, com objetivo | 4 Professora Ilza Maria da Silva Facundes de “retirar” os valores, denominados tributos, dos particulares para os cofres públicos. Não há como ser evadir desta “invasão” no seu patrimônio, exceto se: I. O tributo for ilegítimo; II. Não ocorrer o Fato Gerador, ou III. O lançamento for feito de forma ilegal. O contribuinte fica então em posição inferior em relação ao Estado, e é justamente por isto, que a CF impõe limites ao poder de tributar. A evolução do Direito Tributário é justamente no sentido de limitar o poder estatal em amealhar recursos da iniciativa privada. Desde a Magna Carta imposta pelos barões ingleses ao rei João sem terra, uma tentativa de fazer com que o Rei parasse de abusar do seu poder e fazer com que os ingleses sofressem com isso, os súditos, que hoje conhecidos como contribuintes tentam limitar este poder que já foi absoluto e com sucesso. Isso porque, atualmente, temos a Constituição Federal para impor limites ao poder de tributar, através de Princípios e Normas. A relação jurídico-tributária não é meramente uma relação de poder, pois, como toda relação jurídica, é balizada pelo direito e, em face da interferência que o poder de tributar gera sobre o direito de propriedade, o legislador constituinte originário resolveu traçar as principais diretrizes e limitações ao exercício de tal poder diretamente na Constituição Federal. No concurso realizado pelo CESPE, para Juiz do Estado de Sergipe, considerou errada a seguinte assertiva: “O poder de tributar decorre de uma relação de poder e não de uma relação jurídica, de modo que seu exercício não depende de previsão expressa no texto constitucional”. Na mesma linha, no concurso para advogado da União, CESPE, considerada correta a seguinte afirmativa: “O poder de o Estado criar e cobrar tributos não é ilimitado no Estado democrático de direito; no caso brasileiro, esse poder sofre diversas limitações: boa parte delas, mas nem todas, está no capítulo que regula o Sistema Tributário Nacional”. | 5 Professora Ilza Maria da Silva Facundes Esquema de Limitações Constitucionais ao Poder de Tributar: ATENÇÃO: Com a reforma tributária, Emenda Constitucional 132/2023, novos princípios e regras de imunidade foram inseridos no sistema tributário brasileiro. Art. 145, § 3º, CF. 4.2. Princípios Constitucionais Tributários Em qualquer Ciência, princípio é começo, alicerce, ponto de partida. Pressupõe, sempre, a figura de um patamar privilegiado, que torna mais fácil o entendimento de algo. Nesta medida, é ainda, a pedra angular de qualquer sistema. Os princípios são os fundamentos do ordenamento jurídico e prevalecem sobre todas as demais normas, que só têm validade se estiverem em estrita consonância com eles. As principais limitações encontram-se nos Arts. 145, 150, 151 e 152 da CF/88 e também são conhecidas como Princípiosque ganha um salário-mínimo sequer paga imposto de renda, já aquele individuo que ganha R$ 20.000,00, pagará 27,5 % de imposto de renda, nos termos da tabela do IR. É corolário do princípio da igualdade definido no Art. 5o da CF de que todos são iguais perante a lei. A lógica deste comando é tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais. Exemplo: Discriminação para ME (Microempresa) e EPP (Empresa de Pequeno Porte), o tratamento tributário concedido a essas empresas é mais favorecido, em face de que essas empresas não se encontram na mesma situação das demais Pessoas Jurídicas, ou seja, representam menor capacidade de contribuírem (menos condição no mercado). Outro exemplo são os atos cooperativos (exercidos por entidades cooperativas), que não se igualam a um ato empresarial. Os tributos diretos que incidem sobre propriedade e a renda, também denominados de pessoais, devem respeitar a capacidade econômica do sujeito passivo, ou seja, incidir de acordo com o valor da propriedade e faixa de renda do contribuinte, assegurando, dessa forma, que os que se encontrem em melhor situação econômica contribuam mais, diminuindo a carga tributária dos que têm pouca renda e menor patrimônio. Exemplos: Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ), Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), Imposto Territorial rural (ITR), Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), etc. Capacidade econômica é a expressão usada no § 1º do Art. 145 da CF. Entretanto, a doutrina e a jurisprudência preferem substituí-la por “capacidade contributiva”. Os tributos indiretos que incidem sobre a produção e venda de bens ou serviços são repercutidos no preço, ou seja, são calculados e repassados para o preço final. | 42 Professora Ilza Maria da Silva Facundes Assim, há um contribuinte de direito que responde pelo recolhimento do tributo e um contribuinte de fato (consumidor) que suporta toda a carga tributária embutida no preço, não importando sua capacidade econômica. Exemplos: Imposto sobre a Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS), Imposto sobre Produtos Industrializado (IPI), Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza de competência do Município (ISS), Contribuição social para financiamento da seguridade social (COFINS) etc. Ocorre, porém, que no caso dos tributos indiretos, a realização da justiça econômica e social é assegurada pelo princípio da essencialidade do produto, que estabelece a tributação de acordo com a necessidade de consumo básico deste, dispondo que, quanto mais essencial um produto, menor é a incidência tributária que ele sofre e, quanto menos essencial, ou seja, mais supérfluo, maior é a tributação que sobre ele incide, facilitando destarte o consumo dos produtos mais necessários. Exemplo: Alimentos sofrem pouca ou nenhuma tributação, enquanto cigarros, perfumes, cosméticos e outros supérfluos são tributados com alíquotas mais altas. Entretanto a CF estabeleceu a observância do princípio da essencialidade do produto como obrigatória no IPI, e facultativa no ICMS. A própria CF/88 traz exceções fundadas em justificativas relevantes, notadamente de relevante interesse público. Vejamos a parte final do Art.151, I: Art. 151. É vedado à União: I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do País. Exemplos: Zona Franca De Manaus – foi prorrogada por mais 50 anos, vai até 2073 – EC nº 83/2014 (cria, efetivamente, o Art. 92-A no Ato das disposições Constitucionais | 43 Professora Ilza Maria da Silva Facundes Transitórias – ADCT) – Área de Livre Comércio de Macapá e Santana (Lei 8.387/91). Ressalte-se que, a simples concessão de benéfico fiscal que não esteja vinculado ao desenvolvimento econômico, ofende o princípio da uniformidade. Vale lembrar que a União somente poderá conceder isenção de tributos de sua competência (federal). 4.2.6. Princípio da Capacidade Contributiva (§ 1º, Art. 145, CF/88) Primeiramente, devemos ressaltar que o princípio da capacidade contributiva não se limita a um parâmetro de isonomia tributária, mesmo que ande de mãos dada com este. Na verdade, ele existe para a busca da justiça na tributação, que pode ser considerada, grosso modo, sinônimo de equidade. Nesse contexto, surgem duas acepções para a equidade na tributação, quais sejam: • Equidade Vertical: contribuintes que possuem capacidade contributiva diferente devem contribuir de forma desigual. • Equidade Horizontal: contribuintes que possuem igual capacidade contributiva devem ser tributados de maneira igual. O Princípio da Capacidade Contributiva está expresso no Art.145, §1º: § 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. Embora o dispositivo em análise só faça menção aos impostos, o entendimento que o STF (RE 406.955-AgR) tem é o de que esse princípio (capacidade contributiva) também pode ser extensível a outras espécies tributárias, obedecendo, é claro, as singularidades de cada uma delas. Partindo desse pressuposto, a capacidade contributiva é aferida de várias formas, adequando-se aos diversos impostos, bem como aos demais tributos aos quais se | 44 Professora Ilza Maria da Silva Facundes aplica o princípio. Imposto pessoal é aquele que leva em conta as características pessoais do contribuinte. Exemplo clássico é o imposto de renda pessoa física (IRPF), que leva em consideração os gastos do contribuinte com educação, dependentes e saúde. Afinal, não se pode cobrar o mesmo valor de IRPF de um indivíduo que ganha R$ 5.000,00 e é solteiro, morando sozinho, e outro indivíduo que ganha os mesmos R$ 5.000,00 e tem mulher que somente cuida dos filhos e mais três filhos para criar. Há que se considerar as despesas deste último para se perquirir sua efetiva renda (renda = receita menos despesa). Por exemplo, a progressividade ocorre quando a incidência tributária é mais gravosa sobre aqueles que possuem maior capacidade contributiva. É o que ocorre com o Imposto de Renda, em que as pessoas que auferem maiores rendas contribuem com alíquotas maiores. Para facilitar o seu entendimento, note a diferença entre a proporcionalidade e a progressividade. Alíquotas progressivas ocorrem quando o percentual a ser aplicado sobre a renda aumenta, à medida que a renda aumenta. Já a proporcionalidade está presente quando a mesma alíquota é aplicada sobre qualquer renda. Impostos reais são impostos incidentes sobre o patrimônio, desconsiderando as características pessoais dos contribuintes. Exemplificando: Se uma senhora que vive de pensão, com salário mínimo, ganhou uma mansão para morar, pagará o mesmo valor de IPTU que um empresário rico e bem- sucedido que tem mansão de valor venal idêntico. Com base nessa definição, o STF entendia que a progressividade somente seria aplicável aos impostos pessoais, já que os impostos reais não consideram as características pessoais dos contribuintes. Em relação a estes, a progressividade somente seria possível se houvesse norma constitucional dispondo neste sentido. Foi com base nesta linha de raciocínio que o STF editou a Súmula 656, vedando a | 45 Professora Ilza Maria da Silva Facundes progressividade das alíquotas do ITBI, e também a Súmula 668, permitindoa progressividade fiscal do IPTU apenas após a sua permissão no texto constitucional, que ocorreu com a EC 29/00. Contudo, em 2013, o STF demonstrou estar alterando seu entendimento, ao julgar o RE 562.045, relativamente à progressividade das alíquotas do ITCMD, típico imposto real. Vejamos: “EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. LEI ESTADUAL: PROGRESSIVIDADE DE ALÍQUOTA DE IMPOSTO SOBRE TRANSMISSÃO CAUSA MORTIS E DOAÇÃO DE BENS E DIREITOS. CONSTITUCIONALIDADE. ART. 145, § 1°, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. PRINCÍPIO DA IGUALDADE MATERIAL TRIBUTÁRIA. OBSERVÂNCIA DA CAPACIDADE CONTRIBUITIVA. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO.” (…) Transcrição parcial do voto da Min. Ellen Gracie: “Por revelar efetiva e atual capacidade contributiva inerente ao acréscimo patrimonial, o imposto sobre transmissão “causa mortis” também conhecido como imposto sobre heranças ou sobre a sucessão, é um imposto que bem se vocaciona à tributação progressiva.” Não obstante a citada jurisprudência, as súmulas continuam em vigor, de modo que recomendamos considerá-las corretas, caso sejam cobradas em prova. Por outro lado, se a mencionar o caso específico do ITCMD, é mais coerente respondê- la com base na mais recente jurisprudência desta Corte. Deve-se considerar também que, para o STF (AI 583.636-MS), a adequação do tributo de acordo com a capacidade contributiva não é obtida apenas como a alteração de alíquotas, mas também pode ser concretizada, por meio do escalonamento das bases de cálculo. Como assim? A base de cálculo do IPTU, por exemplo, é o valor venal do imóvel. Contudo, para se chegar ao valor venal, vários critérios são utilizados pelos municípios. Um dos critérios poderia ser o tipo de construção (precário, popular, médio, fino e luxo). Ou seja, | 46 Professora Ilza Maria da Silva Facundes à medida que o padrão da construção aumenta, haverá consequente escalonamento da base de cálculo. Como o tributo é calculado multiplicando-se a base de cálculo pela alíquota, de acordo com a Suprema Corte, trata-se de “índice hábil à mensuração da frivolidade ou da essencialidade do bem, além de lhe conferir mais matizes para definição da capacidade contributiva”. Voltando nossa análise do Art. 145, o dispositivo confere alguns poderes à administração tributária, para que ela seja capaz de aplicar o princípio da capacidade contributiva com efetividade. Dessa forma, é facultado a ela identificar o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. 4.2.6.1. Por expressa previsão legal na CF são progressivos: 4.2.6.1.1. Imposto de Renda O Imposto de Renda (alíquotas diferenciadas com o fito de promover a justiça fiscal) vide Art. 153, §2o, I da CF/88. Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: III - renda e proventos de qualquer natureza; (...) § 2º - O imposto previsto no inciso III: I - será informado pelos critérios da generalidade, da universalidade e da progressividade, na forma da lei; Tabela Progressiva Mensal do Imposto de Renda a partir do mês de fevereiro do ano- calendário 2024, nos termos do que dispõe a Medida Provisória nº 1.206/2024. Base de Cálculo (R$) Alíquota (%) Parcela a Deduzir do IR (R$) Até 2.259,20 - - De 2.259,21 até 2.826,65 7,5 169,44 De 2.826,66 até 3.751,05 15,0 381,44 | 47 Professora Ilza Maria da Silva Facundes De 3.751,06 até 4.664,68 22,50 662,77 Acima de 4.664,68 27,50 896,00 4.2.6.1.2. Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR) O ITR (a progressividade de suas alíquotas tem como finalidade desestimular a manutenção de propriedades improdutivas) – Art. 153, §4o, I da CF – Emenda Constitucional nº 42/03. Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: VI - Propriedade territorial rural; (...) § 4º O imposto previsto no inciso VI do caput: I - será progressivo (Progressividade Fiscal) e terá suas alíquotas fixadas de forma a desestimular a manutenção de propriedades improdutivas (Progressividade Extrafiscal); 4.2.6.1.3. Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) O IPTU (localização, valor, uso - comércio, residência, indústria-, função social) vide Art. 156, da CF – Emenda Constitucional nº 29/00. Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: I - propriedade predial e territorial urbana; (...) § 1º Sem prejuízo da progressividade no tempo a que se refere o art. 182, § 4º, inciso II, o imposto previsto no inciso I poderá: I - ser progressivo em razão do valor do imóvel; e II - ter alíquotas diferentes de acordo com a localização e o uso do imóvel. | 48 Professora Ilza Maria da Silva Facundes Exemplos: Um imóvel situado no centro da cidade pagará um valor de IPTU maior do que aquele situado numa área periférica. O valor do imóvel também é levado em consideração para o estabelecimento da alíquota, bem como a sua utilização como: residência, comércio ou indústria. A função social visa a progressividade extrafiscal (Art. 182, § 4º, II, CF), ou seja, o tempo que permanecer o imóvel subutilizado ou não utilizado, de forma progressiva, no tempo a alíquota vai sendo majorada. Utilizando o imóvel para qualquer finalidade a alíquota retorna ao que era antes. Percebe-se, portanto que o tributo nesse caso é usado de maneira punitiva sobre o proprietário, é uma forma de sanção em decorrência do não aproveitamento do imóvel. Tem como objetivo a função social da propriedade urbana. Portanto, um imóvel que cumpre a função social paga menos, enquanto aquele que não cumpre a função social, paga mais. Jurisprudência: Súmula nº 668: É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da emenda constitucional 29/2000, alíquotas progressivas para o IPTU, salvo se destinada a assegurar o cumprimento da função social da propriedade urbana. Ademais, temos a redação do Art.182, § 4°, II: Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. (...) § 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; | 49 Professora Ilza Maria da Silva Facundes Constata-se que a CF, ao prever a progressividade do IPTU, exige a expedição de uma lei ordinária municipal que venha materializar, em âmbito local, a permissão constitucional, caso contrário, haverá lesão ao Princípio da Legalidade. Corrente doutrinária entende que o IPVA também deve seguir a progressividade pelo comando inserto no Art. 155, § 6o, II da CF, ao determinar que as alíquotas sejam diferenciadas em função do tipo e da utilização do veículo. Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: III - propriedade de veículos automotores. (...) § 6º O imposto previsto no inciso III: I - terá alíquotas mínimas fixadas pelo Senado Federal; II - poderá ter alíquotas diferenciadas em função do tipo e utilização. O IPVA - Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores - é imposto estadual, de competência dos Estados, nos termos do que preconiza o artigo 155, III, da Constituição Federal. O fato gerador do IPVA é a propriedade de veículo automotor de qualquer espécie, sendo considerado como sujeito passivo do imposto o proprietário do veículo automotor, pessoa física ou jurídica, cuja base de cálculo é o valor venal de referido veículo. Nos termos do artigo 155, § 6º, da CF/88, o IPVA terá suas alíquotas mínimas fixadas pelo Senado Federal,podendo, ainda, possuir alíquotas diferenciadas em razão do tipo e da utilização do veículo, situação esta que segundo o Professor Eduardo Sabbag (Elementos do Direito Tributário, 7ª ed. pág. 34) com a Emenda Constitucional nº 42/2003, veio a lume de forma implícita a progressividade do IPVA, "conforme se depreende do comando inserto no Art. 155, § 6º, II, da CF/88, ao viabilizar a diferenciação de suas alíquotas, em função do tipo e da utilização do veículo". Todavia, o STF manifestou-se sobre o assunto nos seguintes termos: “Não há tributo | 50 Professora Ilza Maria da Silva Facundes progressivo quando as alíquotas são diferenciadas segundo critérios que não levam em consideração a capacidade contributiva.” “IPVA. Lei estadual. Alíquotas diferenciadas em razão do tipo do veículo. Os Estados-membros estão legitimados a editar normas gerais referentes ao IPVA, no exercício da competência concorrente prevista no artigo 24, § 3º, da Constituição do Brasil. Não há tributo progressivo quando as alíquotas são diferenciadas segundo critérios que não levam em consideração a capacidade contributiva.” (RE 414.259-AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 24-6-08, DJE de 15-8-08) Exemplo: Estaria proibida a progressividade do IPVA porque não se pode presumir que o proprietário de um carro de R$ 235.000,00 tenha maior capacidade contributiva do que o proprietário de um carro de R$ 75.000,00. O ITBI deve-se levar em consideração a súmula 656 abaixo, e o entendimento do STF no RE nº 562.045, exposto anteriormente. Súmula. 656 - “É inconstitucional a lei que estabelece alíquotas progressivas para o imposto de transmissão inter vivos de bens imóveis -ITBI com base no valor venal do imóvel.” “Imposto de transmissão de imóveis, inter vivos – ITBI: alíquotas progressivas: a Constituição Federal não autoriza a progressividade das alíquotas, realizando- se o princípio da capacidade contributiva proporcionalmente ao preço da venda.” (RE 234.105, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 31/03/00) ITCMD – ver entendimento do STF no RE nº 562.045 Ø Proporcionalidade e Progressividade Essa progressividade, em função da base de cálculo, é a Progressividade Fiscal. | 51 Professora Ilza Maria da Silva Facundes Mas há a Progressividade Extrafiscal, em que a alíquota aumenta em razão de outros fatores, como vimos acima no caso do ITR, Art. 153, § 4º, CF/88 e IPTU, Art. 182, § 4º, CF/88. 4.2.6.2. Princípio da Capacidade Contributiva e o Sigilo Bancário Na segunda parte do § 1º, do Art. 145, da CF/88, ao tratar do princípio da capacidade contribuinte, foi dito que é “facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte”. Com base nesse dispositivo, a LC 105/2001 estabeleceu o seguinte: Art. 6º. As autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios somente poderão examinar documentos, livros e registros de instituições financeiras, inclusive os referentes a contas de depósitos e aplicações financeiras, quando houver processo administrativo instaurado ou procedimento fiscal em curso e tais exames sejam considerados indispensáveis pela autoridade administrativa competente. Isso significa que as autoridades e os agentes fiscais tributários, sejam eles da União, dos Estados, do DF e dos Municípios podem examinar as informações bancárias do contribuinte, independentemente de ordem judicial nesse sentido, bastando que haja processo administrativo instaurado ou procedimento fiscal em curso e que tais exames sejam considerados indispensáveis pela autoridade administrativa competente. | 52 Professora Ilza Maria da Silva Facundes 4.2.7. Princípio do Não Confisco (Art. 150, IV, CF) Dando continuidade ao estudo dos princípios constitucionais tributários, veremos agora o Princípio do Não Confisco, previsto no Art. 150, IV, da CF/88. Na realidade, embora majoritariamente conhecido por princípio do não confisco, o que a Constituição quis proteger foi a tributação com efeito confiscatório, que é diferente do confisco em si. Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) IV - utilizar tributo com efeito de confisco; Este princípio decorre diretamente da garantia à propriedade privada, estatuída no Art. 5º, XXII e XXIII, da Constituição. O princípio da vedação ao confisco também poderia ser denominado de princípio da razoabilidade ou proporcionalidade da carga tributária. A ideia subjacente é que o legislador, ao se utilizar do poder de tributar que a CF/88 lhe confere, deve fazê-lo de forma razoável e moderada, sem que a tributação tenha por efeito impedir o exercício de atividades lícitas pelo contribuinte, dificultar o suprimento de suas necessidades vitais básicas ou comprometer seu direito a uma existência digna. O Art. 150, IV, determina a proibição de utilizar tributo com efeito de confisco. Em primeiro lugar, perceba-se, é um preceito aplicável a qualquer tributo, seja imposto, taxa ou contribuição de melhoria. O Princípio do Não-Confisco é uma inovação no Sistema Tributário Nacional, visto que o constituinte de 1988 preocupou-se em conferir à sociedade um elemento positivo que impossibilitasse o livre-arbítrio, ou seja a liberdade estatal na instituição de tributos. Ressalte-se que o princípio do não confisco deve ser analisado de acordo com a carga tributária de cada ente tributante e não para cada tributo isoladamente, como já deixaram claras as decisões emanadas do Supremo Tribunal Federal (ADC 8- MD/DF). | 53 Professora Ilza Maria da Silva Facundes A tributação não pode violar o direito à propriedade, até por não conter, na sua essência, o caráter punitivo (o tributo não constitui sanção por um ato ilícito cometido – Art. 3.º do CTN). Caso a intenção do administrador público seja o confisco, deve ele se servir das opções do Direito Administrativo e, não, de relações tributárias. Significa dizer que os tributos não podem ser abusivos ou confiscatórios. Não podem ser onerosos demais, a ponto de vir a ferir a garantia de propriedade do contribuinte. Os tributos devem ser, portanto, razoáveis, suportáveis ao contribuinte. Não pode a lei, através do estabelecimento dos elementos quantitativos do tributo (base de cálculo e alíquota, esta principalmente), fazer resultar uma carga tributária excessivamente pesada sobre o cidadão ou empresa. Em resumo, podemos dizer que o princípio do não-confisco significa uma limitação quantitativa aos tributos. O princípio em apreço pretende estabelecer uma linha divisória que contenha o apetite tributante do Estado, protegendo, assim, o direito de propriedade do contribuinte. A tributação, não há dúvida, consiste na subtração patrimonial do contribuinte pelo Estado, para a sustentação deste. No entanto, tal subtração deve ser razoável, a fim de resguardar a garantia da propriedade privada. É grande a dificuldade de se controlar o respeito a esse princípio, eis que isso sempre dependerá de uma análise bastante subjetiva daquilo que se entende ou não como razoável ou, por outro lado, abusivo. O controle, por exemplo, do respeito ao princípio da anterioridade é, pelo contrário, nitidamente objetivo; basta verificar a data da publicação da lei no Diário Oficial e perceber quando a lei começou a ser aplicada. No controle do princípio agora em estudo a análise é decididamente subjetiva, eis que a Constituição não fixa um critério objetivo de aferição. Em verdade, tal controle é feito pelo Poder Judiciário, quando provocado por contribuinte que se sinta ferido em seu direito de propriedade, por estar sendocobrado em relação a um tributo que entenda quantitativamente abusivo. Em última análise, competirá ao juiz ou tribunal, através da decisão, reconhecer a abusividade ou razoabilidade do tributo questionado, à luz das circunstâncias do caso. | 54 Professora Ilza Maria da Silva Facundes Tentemos um exemplo para ilustrar a questão. No caso do IPTU, a base de cálculo do imposto é o valor de mercado do imóvel (valor venal). A respectiva alíquota é fixada pelo próprio Município tributante. Temos no Brasil cerca de 5.565 deles. De efeito, cada Município estabelece, mediante lei, a alíquota que bem entender, desde que não seja abusiva. Vemos em alguns casos, alíquotas fixadas em 0,5%. Sendo assim, o proprietário de imóvel que vale R$100.000 ficará sujeito ao imposto no valor de R$500 ao ano. Suponhamos que isso seja razoável. Pois bem, é difícil determinar, na hipótese de aumento de alíquota, até que patamar seria razoável tal majoração: 0,75%; 1%; 1,5%, etc. Assim sendo, diante de uma área cinzenta (de transição entre o que é nitidamente razoável e o que é nitidamente abusivo), o julgamento é fundado em critérios subjetivos do julgador. No entanto, não raras as vezes, haverá situações de certeza positiva da abusividade do tributo. Suponhamos, por exemplo, uma alíquota de IPTU de 20%, onde, a cada cinco anos, o proprietário pagará ao Fisco o valor do imóvel. Na hipótese, parece indiscutível a abusividade. Por derradeiro, cabe colocar um aspecto que entendo ser bastante relevante. Suponhamos que o valor do tributo seja razoável. No entanto, o sujeito passivo não oferece o pagamento na época própria. De efeito, a Fazenda Pública promove uma ação de cobrança (ação de execução fiscal). Nesta, o sujeito passivo é citado pelo juiz que preside o litígio para que venha oferecer o pagamento. Este não é oferecido. Em decorrência, a Fazenda requererá a penhora dos bens do devedor (a penhora torna o bem indisponível para o proprietário e disponível para o juízo promover leilão, com vistas a arrecadação dos recursos para a quitação da dívida). Perguntar-se-ia: a penhora e o consequente leilão dos bens do sujeito passivo ferem o princípio do não-confisco? A resposta é negativa. | 55 Professora Ilza Maria da Silva Facundes A regra do não-confisco, é uma limitação quantitativa ao tributo. Sendo ele quantitativamente razoável, é exigível do devedor. A regra do não-confisco não significa a impenhorabilidade dos bens do devedor. Caso tal ideia prevalecesse, o devedor seria estimulado a não pagar suas dívidas. Vide, Art. 184 do CTN. ATENÇÃO: Embora o referido artigo faça menção unicamente a tributos, o STF tem entendimento no sentido de que a multa também não pode ter caráter confiscatório, dando, portanto, uma interpretação extensiva à palavra tributo, considerando que a vedação é para qualquer exigência tributária. Citamos como exemplo a decisão decorrente de uma ação de inconstitucionalidade movida contra dispositivo da Constituição do Estado do Rio de Janeiro, que exigia uma multa mínima de 500% sobre a falta de recolhimento de qualquer tributo estadual. Neste sentido vem sinalizando os Ministros do STF, "ao conceder liminar ao julgar a ADIn MC 1.075-DF, promovido pela Federação Nacional do Comércio, suspendendo a vigência do Art. 3º, parágrafo único, da Lei n. 8.846/94, que comina multa de trezentos por cento do valor da operação de venda de mercadorias ou de prestações de serviços, para a hipótese de não emissão do correspondente documento fiscal" (MACHADO, 2003, p. 259). Jurisprudência: Multa de Ofício e confisco STF– AI 851.038 AgR- O entendimento desta Corte é no sentido de que a abusividade da multa punitiva apenas se revela naquelas arbitradas acima do montante de 100% do valor do tributo. “A desproporção entre o desrespeito à norma tributária e sua consequência jurídica, a multa, evidencia o caráter confiscatório desta, atentando contra o patrimônio do contribuinte, em contrariedade ao art. 150, IV da Constituição Federal. Ação Julgada procedente.” (STF, Adin 551, Informativo 297 do STF (fev/2003) | 56 Professora Ilza Maria da Silva Facundes Multa de Ofício e confisco STF – AI 851.038 AgR- O entendimento desta Corte é no sentido de que a abusividade da multa punitiva apenas se revela naquelas arbitradas acima do montante de 100% do valor do tributo. Multa de Mora e confisco STF– AI 727.872 AgR/RS– 2. Considerando que as multas moratórias constituem um mero desestímulo ao adimplemento tardio da obrigação tributária, nos termos da jurisprudência da Corte, é razoável a fixação do patamar de 20% do valor da obrigação principal. 3. Agravo regimental parcialmente provido para reduzir a multa ao patamar de 20%. Pena de perdimento e confisco STF “Importação – Regularização fiscal – Confisco. Longe fica de configurar concessão, a tributo, de efeito que implique confisco decisão que, a partir de normas estritamente legais, aplicáveis a espécie, resultou na perda de bem móvel importado” (STF - 2T - AI 173.689- AgR/DF) Embora, o conceito de confisco não seja preciso, o STF, em importante julgado, declarou a inconstitucionalidade da famosa lei que pretendeu elevar a alíquota da contribuição previdenciária dos servidores públicos ao patamar de até 25%. Um dos principais vícios apresentados pela lei, o qual serviu de base para a sua fulminação, foi justamente à afronta ao Princípio do Não-Confisco que representaria tal carga tributária. No mesmo julgado, o Tribunal Excelso explicitou a tese de que o caráter de confisco do tributo deve ser avaliado tendo-se em conta todo o sistema tributário, ou seja, em relação à carga tributária total resultante dos tributos em conjunto, declarando que: “O exame da questão do efeito confiscatório deve ser feito em função da totalidade do sistema tributário e não em função de cada tributo isoladamente”. (ADInMC 2.010-DF, rel. Min. Celso de Mello, 29.09.1999) (ALEXANDRINO, 2004). | 57 Professora Ilza Maria da Silva Facundes Ademais, o efeito de confisco se caracterizaria, sobretudo, no fato, por exemplo, de o servidor, em razão da exigência fiscal, ter que se privar de bens ou utilidades de que vinha se utilizando. Jurisprudência: "A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal entende cabível, em sede de controle normativo abstrato, a possibilidade de a Corte examinar se determinado tributo ofende, ou não, o princípio constitucional da não- confiscatoriedade, consagrado no Art. 150, IV, da Constituição. Precedente: ADI 2.010-MC/DF, Rel. Min. Celso de Mello. A proibição constitucional do confisco em matéria tributária nada mais representa senão a interdição, pela Carta Política, de qualquer pretensão governamental que possa conduzir, no campo da fiscalidade, à injusta apropriação estatal, no todo ou em parte, do patrimônio ou dos rendimentos dos contribuintes, comprometendo-lhes, pela insuportabilidade da carga tributária, o exercício do direito a uma existência digna, ou a prática de atividade profissional lícita ou, ainda, a regular satisfação de suas necessidades vitais (educação, saúde e habitação, por exemplo). A identificação do efeito confiscatório deve ser feita em função da totalidade da carga tributária, mediante verificação da capacidade de que dispõe o contribuinte considerado o montante de sua riqueza (renda e capital) — para suportar e sofrer a incidência de todos os tributos que ele deverá pagar, dentro de determinado período, à mesma pessoa política que os houver instituído (a União Federal, no caso), condicionando-se, ainda, a aferição do grau de insuportabilidade econômico-financeira, à observância, pelo legislador, de padrões de razoabilidade destinados a neutralizar excessos de ordem fiscal eventualmente praticados pelo Poder Público. Resulta configurado o caráterconfiscatório de determinado tributo, sempre que o efeito cumulativo — resultante das múltiplas incidências tributárias estabelecidas pela mesma entidade estatal — afetar, substancialmente, de maneira irrazoável, o patrimônio e/ou os rendimentos do contribuinte. O Poder Público, especialmente em sede de tributação (as contribuições de seguridade social revestem-se de caráter tributário), não pode agir imoderadamente, pois a atividade estatal acha-se essencialmente | 58 Professora Ilza Maria da Silva Facundes condicionada pelo princípio da razoabilidade." (ADC 8-MC, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 04/04/03) 4.2.7.1. Princípio do Não Confisco e a Tributação do Patrimônio A tributação sobre o patrimônio ocorre de várias formas. No ordenamento jurídico pátrio, existe a possibilidade de os entes Federados instituírem impostos sobre a propriedade de bens imóveis (urbanos e rurais) e veículos automotores. Não podemos nos esquecer que também há competência tributária para se tributar a transmissão dos bens imóveis e móveis. Dessa forma, a doutrina considera que a tributação do patrimônio pode ser analisada sob as perspectivas estática e dinâmica. Na perspectiva estática, a tributação do patrimônio é analisada desconsiderando-se quaisquer alterações no valor do bem, bem como os rendimentos porventura gerados. Assim sendo, analisando-se a tributação dos impostos sobre o patrimônio com base nesta perspectiva, percebe-se que há efeito confiscatório, já que a propriedade do bem móvel ou imóvel só se adquire uma única vez, quando da aquisição do bem, ao passo que a tributação ocorre todos os anos, enquanto se mantiver a propriedade sobre o bem. Assim ocorre com o IPTU, ITR e IPVA. De outra banda, Ricardo Alexandre argumenta que, ao analisar a tributação do patrimônio com base na perspectiva dinâmica, percebe-se que a propriedade do bem é capaz de gerar acréscimos patrimoniais, como é o caso dos rendimentos produzidos pelos aluguéis. Logo, sob a perspectiva dinâmica a incidência tributária sobre o patrimônio não seria confiscatória. Por fim, cabe destacar um detalhe cobrado pela ESAF em uma de suas provas anteriores, no que diz respeito à tributação da transmissão da propriedade. Seguindo o entendimento de Aires Barreto, a ESAF considerou que a incidência tributária sobre a transmissão de propriedade pode ser confiscatória, já que a transmissão da propriedade imobiliária não caracteriza riqueza renovável. | 59 Professora Ilza Maria da Silva Facundes 4.2.8. Princípio da não limitação ao tráfego de pessoas e bens (Art. 150, V, da CF/88) Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) V - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público; Segundo se depreende do comando supra, a intermunicipalidade e a interestadualidade não poderão configurar-se fatos geradores de tributos (Federais, Estaduais ou Municipais). Percebe-se, portanto, que o referido postulado se refere a todos os tributos, e não apenas a tributos Municipais e Estaduais. Este princípio é decorrência direta da garantia de liberdade de locomoção, prevista no Art. 5º, XV, da Constituição. O Art. 150, V, do Texto Maior, regula que é proibido estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos internos. Perceba que o que se quis proteger com esse dispositivo foi a liberdade de tráfego das pessoas e seus bens dentro do território nacional, direito individual expressamente previsto no art. 5°, XV, da própria CF. Essa regra deve ser entendida à luz do que já comentamos a respeito do princípio do não- confisco. Ou seja, nada impede que existam tributos que atinjam a circulação (ICMS, por exemplo). No entanto, eles devem se mostrar razoáveis, para que a tributação não signifique embaraço à liberdade de circulação das pessoas, bem como de seus bens. O referido princípio busca a defesa da unidade federativa, evitando que Estados e Municípios façam uso de tributos de suas competências na busca de privilégios para suas jurisdições. Este princípio leva em conta que o Brasil é uma federação (estados) e | 60 Professora Ilza Maria da Silva Facundes não uma confederação (países), que permitiria tais barreiras alfandegárias. O referido princípio determina aos entes tributantes que a simples passagem de um Município para o outro ou de um Estado para outro não podem constituir-se como hipótese de incidência tributária. Assim, se Fulano desejar ir de Macapá/AP para Belém/PA, ambos os Estados não poderão impor exações tentando impedir esse deslocamento. ATENÇÃO!!! A regra possui EXCEÇÕES, ou seja, há duas ressalvas: A primeira para a cobrança do ICMS estadual exigido pelos postos fiscais nas fronteiras. Perceba que o ICMS é devido pela circulação de mercadorias – que é o fato gerador da exação (cobrança) - e não pelo tráfego entre os estados e municípios. Assim, o ICMS cobrado nos postos fiscais estaduais, seja na entrada ou na saída de mercadorias, não seria afronta a esse princípio, sendo cobrado pelo Estado tributante em razão do fato gerador do ICMS, qual seja, a circulação de mercadorias, e não porque essas simplesmente transpuseram os limites de um Estado. A segunda para o Pedágio, exceção constitucionalmente prevista. Caso determinado ente resolva instituir pedágio em razão da circulação de pessoas ou bens por vias públicas por ele conservadas, é possível a criação dessa exação. Sobre pedágio, é relevante trazer a decisão unânime do STF, no sentido de que o pedágio cobrado pela utilização das vias conservadas pelo Poder Público não possui natureza tributária. STF (ADI. 800/RS) EMENTA: TRIBUTÁRIO E CONSTITUCIONAL. PEDÁGIO, NATUREZA JURÍDICA DE PREÇO PÚBLICO, DECRETO 34.417/92, DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. CONSTITUCIONALIDADE. 1. O pedágio cobrado pela efetiva utilização de rodovias conservadas pelo Poder Público, cuja cobrança está autorizada pelo inciso V, parte final, do art. 150 da Constituição de 1988, não tem natureza jurídica de taxa, mas sim de preço público, não estando a sua instituição, consequentemente, sujeita ao princípio da legalidade estrita. 2. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente. (STF, Plenário, ADI 800/RS, Rel. Min. Teori Zavascki, Julgamento em 11/06/2014) | 61 Professora Ilza Maria da Silva Facundes 4.2.9. Novos princípios expressos na CRFB/88 – EC 132-23 (Art. 145, §§ 3º e 4º, da CF/88) A reforma tributária realizada pela EC. 132/23, fortalece a base constitucional dos princípios tributários tornando expressos princípios antes implícitos – como os da simplicidade, da justiça tributária, da cooperação e da atenuação a modificações com efeitos regressivos – e exaltando a importância de outros já contemplados pelo texto constitucional – como os da transparência e da defesa do meio ambiente. 4.2.9.1. Princípio da Simplicidade (Art. 145, § 3º, da CF/88) O princípio da simplicidade também conhecido como princípio da praticabilidade ou da praticidade, tem a ver com a criação de mecanismos de racionalização (clareza e simplificação) que tornem a norma tributária mais fácil de ser compreendida e aplicada em massa. A dimensão da clareza determina que tanto as obrigações tributárias principais quanto as obrigações acessórias sejam estruturadas da maneira mais certa quanto possível. Com isso, facilita-se a compreensão e o cumprimento das obrigações por todos os contribuintes, minimizando a quantidade de litígios. A dimensão da praticidade ou praticabilidade -, sempre foi considerado um princípio geral do direito, estando implícito na Constituição. Com a EC 132/23, passoua constar expressamente, sendo possível percebê-lo em muitas das mudanças trazidas pela reforma tributaria. O referido princípio exige que as obrigações acessórias sejam tanto mais simples quanto possíveis. Assim, em existindo múltiplos meios capazes de atingir o objetivo visado à arrecadação e fiscalização dos tributos, todos com igual idoneidade, deve a legislação e o administrador público exigir aquele que seja menos oneroso ao contribuinte. Com isso, diminui-se o custo de conformidade e promove-se o cumprimento voluntário dos deveres legais. Quando a complexidade do sistema é reduzida, o cidadão consegue compreender a legislação, identificar e cumprir mais facilmente as suas obrigações, perceber o quanto | 62 Professora Ilza Maria da Silva Facundes o quanto paga de tributos e exigir do Estado a adequada aplicação dos recursos arrecadados, Assim, a simplificação favorece q transparência - próximo princípio a ser estudado -, com ela andando de mãos dadas. 4.2.9.2. Princípio da Transparência (Art. 145, § 3º, da CF/88) O princípio da transparência tributária está expressamente previsto na CF/88 desde a sua origem, nos termos do art. 150, § 5º, “a lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços”. Em observância a norma constitucional, foi editada a Lei 12. 741/2012, estabelecendo dentre outras medidas, que documentos fiscais ou equivalente informem o valor aproximado de todos os tributos (federais, estaduais e municipais) cuja incidência tenha influído na formação dos respectivos preços de venda. O legislador ordinário fez mais do que pediu o constituinte, estipulando uma regra de transparência não limitada a imposto, e não só os incidentes sobre mercadorias e serviços, mas todos aqueles que tenham de algum modo interferido no valor da operação realizada. O princípio da transparência determina aos entes federativos a adoção de práticas que tornem simples o acesso à legislação tributária, às práticas administrativas e às informações sobre a carga tributária, incluindo benefícios fiscais. O objetivo é fomentar o diálogo e a participação pública informada. 4.2.9.3. Princípio da Justiça Tributária (Art. 145, § 3º, da CF/88) Independentemente de qualquer previsão expressa o princípio da justiça tributária compõe a base de qualquer sistema tributário e está atrelado à ideia de equidade na distribuição da carga tributária, a ser alcançada através da observação da capacidade contributiva das pessoas e do respeito ao mínimo essencial que deve ser a elas garantido. No Estado Democrático de Direito, a tributação deixou de ser apenas fonte de obtenção de recursos para ser também instrumento de redistribuição de riqueza e redução de desigualdades. Nesse sentido, a noção de justiça tributária acaba sendo pressuposto | 63 Professora Ilza Maria da Silva Facundes da justiça social, concretizando-se quando a carga tributária é distribuída de forma justa entre os cidadãos, quando não são exigidas obrigações não previstas na lei e quando o sistema tributário é, em geral, progressivo, ou seja, arrecada mais de quem de fato detém mais renda e patrimônio. A justiça em questão é a justiça distributiva, relacionada a impostos, tributos não vinculados, cujo fato gerador consiste em uma situação independente de qualquer atividade estatal específica relativa ao contribuinte. Nesse caso, como a tributação decorrer da simples manifestação de riqueza do sujeito passivo, deve então, ser calibrada de acordo com a sua capacidade econômica. Em relação a tributos vinculados, como taxas e contribuições de melhoria, fala-se em justiça comutativa. Aqui, a lógica é um pouco diferente, porque a obrigação de pagar tributo decorrer de uma atividade estatal (exercício do poder de polícia ou prestação de serviços públicos) especificamente relacionada ao contribuinte, de tal forma que justa será a cobrança de tributo que guarde correspondência com o custo dessa atividade. Na EC132/23, a menção expressa à justiça tributária como princípio geral do Sistema Tributário Nacional, feita através do § 3º no art. 145 da CRFB/88, foi acompanhada de outras medidas que corroboram a busca pela efetiva realização desse valor jurídico. Exemplos: Criação da cesta básica nacional de alimentos (art. 8º da EC 132/23) e a previsão do mecanismo de cashback para devolução de tributos a pessoas físicas de baixa renda (156-A, § 5º e 195, § 18, CF/88). 4.2.9.4. Princípio da Cooperação (Art. 145 § 3º, da CF/88) O princípio da cooperação exige que as relações entre o fisco e o contribuinte sejam menos adversariais e mais colaborativas. Segundo esse princípio, o papel do fisco transcende o de uma autoridade punitiva, assumindo o de um parceiro orientador que colabora ativamente para a prosperidade das atividades econômicas dos contribuintes. Em Direito Tributário, o princípio da cooperação já podia ser parcialmente extraído do art. 37, XXII, da CRFB/88, introduzido pela EC 42/2003. A EC 132/2023, contudo, deu- lhe maior peso, inserindo-o expressa e nominalmente no § 3º do art. 145 e considerando- o princípio geral do Sistema Tributário Nacional. | 64 Professora Ilza Maria da Silva Facundes Em artigo escrito sobre o assunto, Fábio Brun Goldschmidt e Leonardo Aguirra de Andrade exemplificam algumas práticas que são exigidas por esse princípio: i) as administrações tributárias devem adotar uma abordagem que trate os contribuintes mais como clientes a serem auxiliados do que como adversários, alinhando-se com modelos de sucesso como o programa holandês "Horizontal Monitoring", que se baseia na confiança mútua entre o fisco e as empresas; ii) o fisco deve atuar como um orientador proativo, prevenindo litígios e ajudando os contribuintes a evitarem erros de boa-fé́, adotando uma postura que seja ao mesmo tempo orientadora e reguladora; iii) a Receita deve auxiliar na otimização da carga tributária das empresas, oferecendo um serviço que contribua para a eficiência fiscal dentro das alternativas legais; iv) os contribuintes devem colaborar para uma arrecadação eficiente por meio de adimplência, transparência, agilidade e qualidade na prestação de informações. 4.2.9.5. Princípio da Defesa do Meio Ambiente (Art. 145 § 3º, da CF/88) O princípio de proteção ao meio ambiente, sob a perspectiva do direito tributário, é um mandato de otimização que determina aos entes federativos a utilização de instrumentos fiscais para incentivar a proteção ambiental e desencorajar práticas prejudiciais ao meio ambiente. Este princípio está alinhado com o conceito mais amplo de desenvolvimento sustentável e reflete a crescente conscientização sobre a importância de integrar considerações ambientais nas políticas econômicas e fiscais. No contexto do Direito Tributário, este princípio pode ser implementado de várias maneiras: Tributação Ambiental: Impostos específico podem ser aplicados a atividades ou produtos que são prejudiciais ao meio ambiente. A Emenda Constitucional no 132/2023 trouxe essa possibilidade ao criar o Imposto Seletivo, previsto pelo artigo 153, inciso VIII. Segundo o dispositivo, esse imposto pode incidir, dentre outras situações, sobre bens e serviços que sejam prejudiciais ao meio ambiente. | 65 Professora Ilza Maria da Silva Facundes Incentivos Fiscais para Práticas Sustentáveis: Oferecer reduções de impostos, créditos fiscais ou outros benefícios para empresas e indivíduos que adotam práticas ambientalmente sustentáveis. Desoneração Fiscal de Produtos Ecológicos: Redução de impostos sobre produtos que são considerados ambientalmente amigáveis, como veículos elétricos. Taxas e Contribuições Ambientais: Cobrança de taxas por uso de recursos naturais ou por impactos ambientais, como taxas de extração de recursosnaturais, taxas de poluição, ou contribuições para fundos de conservação ambiental. Regulamentação de Subsídios Nocivos ao Meio Ambiente: Revisão e possível eliminação de subsídios fiscais que promovem atividades prejudiciais ao meio ambiente, como subsídios para combustíveis fósseis. 4.2.9.6. Princípio da Atenuação a modificações com efeitos regressivos (Art. 145, § 4º, da CF/88) O parágrafo quarto, dispõe que “as alterações na legislação tributária buscarão atenuar efeitos regressivos”. Os efeitos regressivos em direito tributário referem-se a uma características de alguns tipos de tributação que tendem a onerar proporcionalmente mais os indivíduos de menor renda em comparação aos de maior renda. Ao criar esse dispositivo, a Constituição criou o princípio da atenuação a modificações com efeitos regressivos. Trata-se de um mandamento de otimização que determina ao Estado considerar, ao modificar suas leis tributárias, o impacto da tributação sobre a população de maior renda, e a desenvolver mecanismos para mitigar esses efeitos. 4.2.10.- Princípio da Uniformidade geográfica (CF, art. 151, I). Art. 151. É vedado à União: (...) I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais | 66 Professora Ilza Maria da Silva Facundes destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do País; Nos termos da Constituição, o princípio proíbe que a União institua tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do País. A integridade da federação não suportaria a determinação, por parte da União, de privilégios em prol deste ou daquele Estado ou Município. Em regra, seria proibido à União dispor que, para os produtos produzidos no Estado do Amapá seria aplicada a alíquota de IPI para produtos agropecuários no percentual de 10%, sendo, para os demais Estados e DF, aplicada a alíquota de 15%. Teríamos tratamento desigual, EM REGRA, vedado pela Constituição. O propósito dessa regra é evitar que a União estabeleça, por pressão política ou econômica, privilégios odiosos em favor de algumas regiões do País. Se assim procedesse, a União estaria dispensando, a alguma Unidade da Federação ou a algum Município, um tratamento privilegiado em relação aos demais. Configurada essa hipótese, estaria havendo quebra do princípio da forma federativa de Estado e da autonomia municipal, que impõe a ideia da paridade jurídica entre os entes políticos, não se podendo admitir privilégios discriminatórios em favor de qualquer esfera governamental. O princípio aqui estudado, portanto, tem íntima relação com o primado da forma federativa de Estado, que se exterioriza, dentre outros dispositivos, no art. 1º, caput, e art. 19, III, in fine, da Constituição. O princípio da uniformidade geográfica visa, basicamente, evitar que as pressões políticas ou econômicas façam surgir privilégios tributários para aquelas regiões que já são privilegiadas. Ou seja, a Constituição não ficou insensível às desigualdades regionais do ponto de vista social e econômico. De efeito, no intuito de diminuir tais desigualdades, permite que a União estipule incentivos fiscais (como isenções, reduções de tributos e diferimentos), no âmbito dos tributos federais, em favor de áreas menos desenvolvidas do País, como as Regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste. Sobre o tema, vide também art. 43, §2º, III, da Constituição. | 67 Professora Ilza Maria da Silva Facundes Art. 43. Para efeitos administrativos, a União poderá articular sua ação em um mesmo complexo geoeconômico e social, visando a seu desenvolvimento e à redução das desigualdades regionais. § 2º - Os incentivos regionais compreenderão, além de outros, na forma da lei: III - isenções, reduções ou diferimento temporário de tributos federais devidos por pessoas físicas ou jurídicas; Portanto, o princípio da uniformidade geográfica não impede a concessão, pela União, de incentivos fiscais regionais. No entanto, exige que as áreas beneficiadas sejam aquelas econômica ou socialmente mais carentes. EXEMPLOS: ZONA FRANCA DE MANAUS – foi prorrogada por mais 50 anos, vai até 2073 – EC nº 83/2014 (cria, efetivamente, o Art. 92-A no Ato das disposições Constitucionais Transitórias – ADCT) – Área de Livre Comércio de Macapá e Santana (Lei 8.387/91). ATENÇÃO: Vale ressaltar, que a União – e somente ela – está autorizada a estipular tratamento tributário diferenciado entre Estados da federação tendo por meta diminuir as desigualdades socioeconômicas tão comuns no Brasil (exceção ao princípio da uniformidade geográfica da tributação). JURISPRUDÊNCIA "A Constituição na parte final do art. 151, I, admite a ‘concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do país’. A concessão de isenção é ato discricionário, por meio do qual o Poder Executivo, fundado em juízo de conveniência e oportunidade, implementa suas políticas fiscais e econômicas e, portanto, a análise de seu mérito escapa ao controle do Poder Judiciário. Precedentes: RE 149.659 e AI 138.344-AgR." (RE 344.331, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 14/03/03) 4.2.11 – Princípio da Uniformidade na Tributação da Renda (CF, art. 151, II). Art. 151. É vedado à União: (...) | 68 Professora Ilza Maria da Silva Facundes II - tributar a renda das obrigações da dívida pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como a remuneração e os proventos dos respectivos agentes públicos, em níveis superiores aos que fixar para suas obrigações e para seus agentes; Nesse ponto está a se falar sobre dois tipos de rendimentos. De efeito, significa uma regra dirigida à União, eis que só ela pode instituir imposto sobre a renda. A restrição, aplicável exclusivamente ao imposto sobre a renda, visa evitar que a União utilize o tributo como um meio de concorrer deslealmente no “mercado” de títulos da dívida pública e na seleção de servidores públicos. Em primeiro lugar, faz-se alusão à renda das obrigações da dívida pública. Obrigações da dívida pública significam as dívidas que o Poder Público assume junto ao meio privado. Normalmente isso é feito através da emissão de títulos públicos. Estes são papéis emitidos pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, nas hipóteses previstas na legislação. Tais papéis são vendidos no mercado a quem se interesse em comprar (geralmente bancos e fundos de investimento). Com isso, o Poder Público consegue captar recursos de que esteja necessitando. É obvio que os compradores não adquirem tais títulos por altruísmo ou solidariedade com o Estado, mas porque ganharão com isso. Tais títulos possuem um valor de rosto e um prazo para o resgate. Durante esse prazo, correm juros a favor do comprador; juros esses que serão pagos pela Fazenda emitente. O particular, então, além de receber ao final do prazo o valor do título em devolução, angaria renda com os juros respectivos. Pois bem, as obrigações da dívida produzem rendimentos (os juros). Rendimentos em favor do particular que comprou os títulos (significando despesa do Poder Público). O auferimento desses rendimentos está sujeito ao imposto sobre a renda, de competência federal. De efeito, a Constituição determina a cláusula de que a União, embora possa tributar os rendimentos aludidos, não poderá fazê-lo de forma mais gravosa (com uma alíquota maior, porexemplo) sobre os rendimentos que são produzidos pelos títulos estaduais, distritais e municipais, quando em comparação com a tributação estabelecida para atingir os rendimentos oriundos de seus próprios títulos. Caso a União descumprisse o preceito proibitivo, atingindo as rendas das obrigações estaduais, distritais e municipais com uma alíquota de, por exemplo, 20%, e os rendimentos produzidos pelos | 69 Professora Ilza Maria da Silva Facundes títulos federais a uma alíquota de, por exemplo, 10%, ela estaria simplesmente aniquilando a possibilidade de negociação dos títulos estaduais, distritais e municipais, eis que os potenciais compradores iriam sempre preferir aqueles papéis cuja tributação dos rendimentos é mais suave – os títulos federais. Em segundo lugar, faz-se alusão aos rendimentos auferidos pelos agentes públicos. Obviamente, a renda auferida por servidor público ou pessoa que preste serviços ao governo, seja ele federal, estadual ou municipal, é tributável. De efeito, embora a União possa atingir tais rendas com seu imposto, não poderá fazê-lo em níveis superiores sobre os rendimentos dos servidores estaduais e municipais, quando em comparação à tributação determinada sobre os servidores federais. Desrespeitada a proibição, os Estados, Distrito Federal e Municípios teriam desvantagem ou dificuldade em colher no mercado bons profissionais que lhe prestassem serviços, eis que estes teriam sempre a tendência de buscar uma remuneração que sofresse tributação menos onerosa. Vê-se, pois, que as regras aqui discutidas têm origem na forma federativa de Estado, fixando-se a ideia de que a União não pode impor privilégios para si, em detrimento das outras entidades políticas. A meu modo de ver, há também influência do princípio da isonomia. Trocando em miúdos: A União pode tributar a renda das obrigações da dívida pública e dos proventos dos agentes públicos, porém, não poderá tributá-los em percentuais maiores ao que ela (a União) tributa as situações em que faz parte (servidores federais, títulos da dívida pública federal) 4.2.12 – Princípio da vedação às isenções heterônomas - não intervenção nos tributos dos Estados, Distrito Federal e Municípios (CF, art. 151, III). Essa regra também tem relação direta com a forma federativa de Estado e a autonomia municipal. Estados-membros, Distrito Federal e Municípios são entes politicamente autônomos cabendo a eles, a princípio, regular o regime jurídico de seus próprios tributos. De efeito, determina o princípio a proibição de a União instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios. Fixa-se a regra de que apenas quem é competente para instituir o tributo será capaz de dispensar do pagamento, mediante isenção. | 70 Professora Ilza Maria da Silva Facundes Art. 151. É vedado à União: (...) III - instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios. Percebe-se, portanto, a PROIBIÇÃO da instituição das chamadas isenções heterônomas, em que um ente tributante podia estabelecê-las quanto a tributos de competência de outro ente – situação existente no nosso ordenamento jurídico anterior, que previa a possibilidade da União, atendendo a relevante interesse econômico ou social nacional, conceder isenções de impostos estaduais e municipais (art. 19, parágrafo 2.º, da CF/1967). Todavia, hoje, no Brasil vigora a regra geral das isenções autonômicas, respeitando a autonomia das unidades federadas. Devemos observar: - a vedação se refere à instituição de isenções, reforçada, ainda, pelo art. 150, parágrafo 6º, da CF. Art. 150. § 6.º, CF- Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g. - O art. 155, parágrafo 2.º, XII, “e”, com o art. 156, parágrafo 3º, II, refere-se a hipóteses em que lei complementar excluirá certas situações da incidência dos respectivos impostos (ICMS e ISS, respectivamente). Parte da doutrina entende que tal exclusão é hipótese de isenção (art. 175, I e 176, do CTN), e, como lei complementar é de competência da União, teríamos duas hipóteses em que a isenção poderia ser instituída por pessoa jurídica de direito público diversa da competente para instituí-lo. Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (...) II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; § 2.º O imposto previsto no inciso II (ICMS) atenderá ao seguinte: X - não incidirá: | 71 Professora Ilza Maria da Silva Facundes a) sobre operações que destinem mercadorias para o exterior, nem sobre serviços prestados a destinatários no exterior, assegurada a manutenção e o aproveitamento do montante do imposto cobrado nas operações e prestações anteriores; XII - cabe à lei complementar: e) excluir da incidência do imposto, nas exportações para o exterior, serviços e outros produtos além dos mencionados no inciso X, "a" Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar. (...) § 3º Em relação ao imposto previsto no inciso III do caput deste artigo, cabe à lei complementar: II - excluir da sua incidência exportações de serviços para o exterior. Isenções Heterônomas e tratados internacionais STF – RE 229.096 A isenção de tributos estaduais prevista no Acordo Geral de Tarifas e Comércio para as mercadorias importadas dos países signatários, quando o similar nacional tiver o mesmo benefício, foi recepcionada pela Constituição da República de 1988. O art. 98 do CTN "possui caráter nacional, com eficácia para a União, os Estados e os Municípios" (voto do eminente ministro Ilmar Galvão). No direito internacional, apenas a República Federativa do Brasil tem competência para firmar tratados (art. 52, § 2º, da CRFB), dela não dispondo a União, os Estados-membrosn ou os Municípios. O presidente da República não subscreve tratados como chefe de Governo, mas como chefe de Estado, o que descaracteriza a existência de uma isenção heterônoma, vedada pelo art. 151, III, da Constituição. STJ– Súmula 20 – “A mercadoria importada de país signatário do GATT é isenta de ICM, quando contemplado com esse favor o similar nacional”. STJ– Súmula 71 – “O bacalhau importado de país signatário do GATT é isento do ICM”. STF – Súmula 575 – “À mercadoria importada de país signatário do (GATT), ou membro da (ALALC), estende-se a isenção do imposto de circulação de mercadorias concedida a similar nacional”. | 72 Professora Ilza Maria da Silva Facundes 4.2.13. - Princípio da não discriminação baseada em procedência ou destino (CF, art. 152). Art. 152. É vedado aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino. O art. 152 do Texto Magno nos traz regra dirigida especificamente aos Estados, Distrito Federal e Municípios. Determina que a eles é proibido estabelecer diferença tributária entre bens e serviços, de qualquer natureza, em razão de sua procedência ou destino. É um princípio que visa assegurar a indissolubilidade da Federação (vide também art. 1º, caput, da CF), ou seja, é garantidor do federalismo brasileiro, ou seja, é regra protetiva do pacto federativo, visto que se proíbeque os entes locais se discriminem entre si. EXEMPLO: Determinado Estado não pode estabelecer uma alíquota mais ou menos elevada porque o produto tem origem no Rio Grande do Sul, ou seja, não é lícito a um Estado criar adicionais, redutores ou qualquer outras diferenças de tratamento tomando por base a procedência ou o destino da mercadoria. É regra que pretende unir todas as Unidades Federadas e Municípios brasileiros, evitando a formação de comunidades econômicas parciais dentro do País, o que seria um passo para o surgimento de movimentos separatistas. O princípio determina que Estados-membros, por exemplo, não possam fazer discriminação tributária levando em conta a origem ou o destino das mercadorias que sofrem a incidência de seu imposto (ICMS). Ou seja, não é lícito aos Estados estabelecerem normas em sua legislação que venham a privilegiar mercadorias vindas ou destinadas a certos Estados, em prejuízo dos demais. Desrespeitando o princípio, estaria configurada uma espécie de comunidade econômica parcial, dentro do País, provocando, pois, o isolamento em relação às outras localidades nacionais. Da mesma forma a regra vale para os Municípios. Não é lícito ao Município estipular em sua legislação tributária benefícios, levando em conta a procedência ou o destino do serviço por ele tributado. Tal prática, igualmente, provocaria a aproximação econômica de algumas localidades e a | 73 Professora Ilza Maria da Silva Facundes exclusão de outras. A prática é, energicamente, repugnada pela Constituição, eis que a união entre Estados Distrito Federal e Municípios é indissolúvel (CF, art. 1º, caput). É interessante que se diga que os Estados, Distrito Federal e Municípios estão irreversivelmente ligados pelo pacto federativo, firmado pelo povo através da Carta Constitucional. Eles não possuem, no âmbito interno do País, a soberania que a União possui no contexto internacional. Os Estados, Distrito Federal e Municípios devem conviver entre si segundo a ideia da indissolubilidade. Por outro lado, a União convive com os outros Países orientada pelo princípio da independência nacional (vide art. 4º, I). De efeito, a União não se submete à regra ora estudada. Nada impede que ela, em relação às operações internacionais, dê tratamento diferenciado a mercadorias (através do imposto de importação e de exportação), dependendo da procedência ou destino das mesmas. Essas diferenças de tratamento, regra geral, são estabelecidas através de tratados internacionais. Tratados esses que a União livremente celebra e também livremente denuncia (a denúncia significa seu rompimento em relação ao tratado). Relembre-se, entretanto, que a União – e somente ela – está autorizada a estipular tratamento tributário diferenciado entre Estados da federação tendo por meta diminuir as desigualdades socioeconômicas tão comuns no Brasil (exceção ao princípio da uniformidade geográfica da tributação). Esta é a única limitação à competência tributária que não obriga à União, que pode estabelecer diferenças tributárias entre bens e serviços devido a sua procedência ou destino nos casos de: importação, exportação e fixação de alíquotas interestaduais do ICMS. Finalizamos com o esquema destes princípios por ente federativo: | 74 Professora Ilza Maria da Silva Facundes REFERÊNCIAS ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário esquematizado. Rio de Janeiro, Forense; São Paulo: Método, 2017. ALEXANDRE, Ricardo e TATIANE, Costa Arruda. Reforma tributária. A nova tributação do consumo no Brasil. São Paulo, Forense; São Paulo: JusPodivm, 2024. ALEXANDRINO, Marcelo e PAULO, Vicente, Direito tributário na constituição e no STF: teoria e jurisprudência. Rio de Janeiro: Impetus, 2007. _____, ALEXANDRE, Ricardo. Direito tributário esquematizado. Rio de Janeiro, Forense; São Paulo: Método, 2013. _____, Manual de direito tributário. Niterói, RJ: Ímpetos, 200 AMARO, Luciano, Direito tributário brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2010. BORBA, Cláudio. Direito tributário. Teoria e questões. 24 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. CARVALHO, Paulo de Barros, Curso de direito tributário. São Paulo: Saraiva, 2012. CASSONE. Vittorio. Processo tributário. São Paulo: Atlas, 2009. COELHO, Sacha Calmon Navarro. Manual de Direito Tributário Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2002. FABRETTI, Láudio Camargo. FABRETTI, Dilene Ramos. Direito tributário. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2009. FREITAS, Vladimir Passos de (Coord.) Código tributário nacional comentado, São Paulo: RT, 2005 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. São Paulo: Malheiros, 2011. _____, Direito tributário e financeiro, 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2009. PONTALTI, Mateus, Reforma Tributária Detalhada. O guia completo sobre a reforma tributária. E-book, 2024. PAULSEN, Leandro. Direito tributário: constituição e código tributário à luz da doutrina e da jurisprudência. 12 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado: ESMAFE, 2010. _____, Curso de direito tributário. 2º Ed. Ver. Atual. – Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2008. MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2005. ______, Direito constitucional. 24. ed. 2007, Rio de Janeiro, Forense. SABBAG, Eduardo de Moraes. Elementos do direito. Direito tributário. 7ª Ed. São Paulo: Prima Cursos Preparatórios, 2004. ______, Manual de direito tributário. 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017. | 75 Professora Ilza Maria da Silva Facundes ______, Manual de direito tributário. 15 ed. São Paulo: Saraiva, 2023. ______, Direito Tributário Essencial. 6ª ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2018. SEGUNDO, Hugo de Brito Machado. Processo tributário. São Paulo: Atlas, 2009. ______,Hugo de Brito Machado. Processo tributário. São Paulo: Atlas, 2018.Constitucionais Tributários. Nesse sentido, vamos analisar cada uma delas separadamente. | 6 Professora Ilza Maria da Silva Facundes 4.2.1. Princípio da Legalidade Tributária (Art. 150, I, CF/88 e Art. 97, I e II, CTN) Consagrado pelo Direito Tributário como o primeiro grande princípio a ser respeitado, está inserido dentro da própria definição legal de tributo. É, talvez, a mais importante limitação da competência tributária, proibindo a qualquer ente tributante exigir ou aumentar tributo por qualquer outro instrumento que não seja a lei. Nesse sentido, o artigo 150 da CF estabelece diversos princípios constitucionais em matéria tributária e o seu inciso I, trata diretamente do Princípio da Legalidade Tributária: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; Nesse sentido, somente a Lei, pode criar (instituir/exigir) ou aumentar um tributo. Se trata de entendimento decorrente (corolário) do direito fundamental inserido no inciso II, Art. 5º, CF/88 de que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo, sem lei que o estabeleça. Alguns doutrinadores chamam esse direito previsto no Art. 5º, II, CF/88, de Princípio da Legalidade e o inserido no Art.150, I, CF/88, de Princípio da Legalidade Estrita. Mas a lei, que exige ou aumenta tributo, deve ser lei ordinária ou lei complementar? Vejamos: ATENÇÃO: Os impostos trazidos pela reforma tributária (EC 132/23), Imposto Seletivo | 7 Professora Ilza Maria da Silva Facundes Lembre-se: Os tributos trazidos pela EC 132/23: Imposto sobre a produção, extração, comercialização ou importação de bens e serviços prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente (Art. 153, VIII, CF) e Imposto Sobre Bens e Serviços (156-A, CF), assim como, a Contribuição sobre Bens e Serviços (Art. 195, c, CF), serão instituídos através de lei complementar. Ø Contribuições Previdenciárias Novas ou Residuais (Art. 195, § 4°, CF/88) Diz a Jurisprudência: “O § 4º do Art. 195 da Constituição prevê que a lei complementar pode instituir outras fontes de receita para a seguridade social; desta forma, quando a Lei nº 8.870/94 serve-se de outras fontes, criando contribuição nova, além das expressamente previstas, é ela inconstitucional, porque é lei ordinária, insuscetível de veicular tal matéria.” (ADI 1.103, Rel. Min. Néri da Silveira, DJ 25/04/97) • Imposto sobre Grandes Fortunas (Art. 153, § 7°, CF/88) O Art.153, VII, CF/88, diz que compete à União instituir impostos sobre grandes fortunas, nos termos de lei complementar. A discussão na doutrina é que o “nos termos” não deixaria claro se é a lei complementar que teria que criá-lo, ou se ela apenas estabeleceria as normas gerais do IGF e ele poderia ser criado por lei ordinária. Na banca da ESAF, esse ponto específico só caiu uma vez (de meu conhecimento), na prova para Técnico da Receita Federal (2002.2). Em uma alternativa que dizia assim: “A instituição do Imposto sobre grandes fortunas dependerá de lei complementar e de resolução do Senado, fixando as alíquotas mínima e máxima”. Essa alternativa foi considerada errada (se bem que a questão foi anulada por outros motivos), mas a certeza do erro só vem por causa da “resolução do Senado, fixando as alíquotas mínima e máxima”, que inexiste para fins de IGF. Repare que se só tivesse o “dependerá de lei complementar” estaria correta, independentemente de entendermos que precisa de lei complementar para instituir ou para estabelecer normas gerais. | 8 Professora Ilza Maria da Silva Facundes Minha opinião: Como há discordância na própria doutrina, penso que a banca só colocará a alternativa dessa forma, que dependerá de lei complementar, e aí estará correta, com certeza. 4.2.1.1. Tributos e as Medidas Provisórias As Medidas Provisórias podem instituir e majorar tributos, desde que a CF/88 não exija Lei Complementar para sua criação. Entretanto há três regras que devem ser observadas: 1. Para os Tributos em Geral: a validade é desde a edição (publicação) respeitados os princípios da anterioridade anual e nonagesimal; Ressalte-se que a restrição relativa à necessidade da conversão em lei no exercício da edição da Medida Provisória aplica-se exclusivamente aos IMPOSTOS, de forma que, no tocante às demais espécies tributárias a regra da anterioridade deve ser observada, tomando como referência a data da publicação da MP e não de sua conversão em lei. No concurso para Auditor-Fiscal da Receita Federal, da ESAF foi considerada incorreta a seguinte assertiva: “a medida provisória que majore contribuição para o financiamento da Previdência Social somente poderá surtir efeitos no exercício seguinte se convertida em lei até o último dia do exercício precedente”. 2. Impostos: Os impostos até a edição da Emenda Constitucional nº 42/03 possuíam regra especial, isto é, só valiam após a conversão em lei e não desde a publicação (edição) da Medida Provisória, respeitados os limites da anterioridade. Ou seja, devem ser convertidas em lei dentro do prazo de 60 dias, prorrogáveis por mais 60 (Art. 62, § 7º), mas só produzem efeitos no exercício financeiro seguinte daquele, que foi convertida em lei (Art. 62, § 2°). Art. 62. § 2º. Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos nos Arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada. | 9 Professora Ilza Maria da Silva Facundes (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) ATENÇÃO: A EC 42/03, estabeleceu a anterioridade de 90 dias (Art. 150, III, alínea c, CF/88), mas não estabeleceu a conversão da MP em lei como critério para a sua contagem. Assim, a majoração de impostos, decorrente de MP, poderá incidir desde que publicada e convertida em lei antes do final do exercício, observada a anterioridade de 90 dias CONTADOS DA EDIÇÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA. De acordo com entendimento do STF, somente em caso de alteração substancial pelo Congresso Nacional, o prazo não será contado da data da publicação (edição), mas sim, da data de sua conversão. Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: III - cobrar tributos: c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003) EXEMPLO: ITR instituído por Medida Provisória: se a MP que majorou o ITR foi instituída (editada) em setembro de 2023 e convertida em lei em dezembro de 2024, sem qualquer alteração substancial pelo Congresso Nacional, o novo valor será cobrado em janeiro de 2024, contando-se os 90 dias da data de instituição (setembro) e não da conversão (dezembro). Todavia, se a Medida Provisória fosse instituída (editada) em setembro de 2023 e convertida em lei em meados de dezembro de 2023, com alteração substancial pelo Congresso Nacional, conta-se os 90 dias da data da conversão (dezembro). Desta maneira, o imposto somente poderá ser cobrado em meados de março de 2024. Aplicando-se nas duas situações os dois princípios: Anterioridade Anual e Nonagesimal. 3. Os Impostos de Importação, Exportação, Produtos Industrializados, Operações Financeiras e Extraordinário de Guerra: valem desde a edição, sendo que para o IPI deve | 10 Professora Ilza Maria da Silva Facundes se observar o Art. 150, III, “c”, ou seja, deve respeitar a regra nonagesimal. Foi considerada incorreta pela ESAF, na prova de DireitoConstitucional do concurso para analista tributário: “Majoração do imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários, feita por meio de medida provisória, por força de disposição constitucional, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se a medida provisória houver sido convertida em lei até o último dia do exercício financeiro em que foi editada”. Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê- las de imediato ao Congresso Nacional. § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria (...) III - reservada a lei complementar; § 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos nos Arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada. Lembre-se: “Onde a Lei complementar versar, a Medida Provisória não irá APITAR” Exemplo: O Empréstimo Compulsório é instituído por lei Complementar, portanto, repudia a Medida Provisória Dessa forma, todo e qualquer tributo tem que ser instituído por lei, sem exceção. 4.2.1.2. Instituição do Tributo E o que é INSTITUIR (= CRIAR) o tributo? É criar: I. o Fato Gerador do tributo II. o Sujeito Passivo do tributo III. a Base de Cálculo do tributo IV. a Alíquota do tributo De acordo com o Art. 97 do Código Tributário Nacional, a lei que cria (institui) o tributo | 11 Professora Ilza Maria da Silva Facundes deverá conter pelo menos: 1. Fato Gerador (Hipótese de incidência): É a descrição hipotética de um fato da vida que, ao ocorrer, gera a obrigação tributária (prestação), é o aspecto material, isto é, a condição de fato ou de direito, que ocorrendo gera a obrigação tributária, também conhecido como fato príncipe, hipótese de incidência, fato signo presuntivo, entre outros (Arts. 114 e 115, CTN); 2. Base de Cálculo: É o montante tributável, é a riqueza do particular que será alcançada pela tributação. Ex. rendimento tributável, folha de salários, faturamento, lucro líquido; 3. Alíquota: É o percentual a ser retirado da base de cálculo. Ex. IRPF: 7,5% e 27,5%; 4. Sujeito Passivo: É o aspecto pessoal da relação tributária, define quem será o contribuinte ou responsável; 5. Multa: Que ocorre pelo descumprimento das obrigações, e como toda penalidade, deverá vir prevista em lei; 6. Sujeito Ativo: É o ente tributante que cria o tributo, este, pode definir outra pessoa para exercer a capacidade tributária ativa. Ex. União institui e define que o INSS, tem a capacidade tributária ativa em relação às contribuições previdenciárias. Segundo o Art. 97, CTN, também tem que ser estabelecido por lei: I - a instituição ou extinção de tributos; II - a majoração ou redução de tributos; VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dispensa ou redução de penalidades. ATENÇÃO: Definição do Prazo para Recolhimento pode ser por instrumento infralegal (por legislação) [RE 172.394 SP, RE 195.218 MG]. Ou seja, o prazo para a exigência do tributo pode ser estabelecido até mesmo por Portaria ou Instrução Normativa, desde que não contrariem as normas específicas a cada situação. | 12 Professora Ilza Maria da Silva Facundes Em relação a tributos, obedecendo ao Princípio da Legalidade, temos: ATENÇÃO: Em relação a Base de Cálculo: Modificação da sua base de cálculo, que importe em torná-lo mais oneroso = Majoração do Tributo CTN, Art. 97. (...) § 2º Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso II deste artigo, a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo. Assim, atualização do valor monetário da base de cálculo NÃO É majoração de tributo. Para esse ponto, em relação ao IPTU, há a Súmula 160, STJ: “É defeso, ao município, atualizar o IPTU, mediante decreto, em percentual superior ao índice oficial de correção monetária.” STF - RE 648.245/MG (Tema 211) - Tese: “A majoração do valor venal dos imóveis para efeito da cobrança de IPTU não prescinde da edição de lei em sentido formal, exigência que somente se pode afastar quando a | 13 Professora Ilza Maria da Silva Facundes atualização não excede os índices inflacionários anuais de correção monetária”. 4.2.1.3. Exceções ao Princípio da Legalidade Apesar de não haver exceção ao princípio da legalidade no que tange à instituição de tributo por lei, há exceção a esse princípio quanto à alteração dos valores: majoração e redução Existem hipóteses em que o próprio Poder Executivo Federal, mediante decreto presidencial, por exemplo (ato formalmente infralegal), pode alterar os valores de alguns tributos. Nesse momento, é de se observar que a alteração quantitativa de um tributo pode ser feita através da alteração da alíquota ou da base de cálculo. Pois bem, a possibilidade de alteração mediante ato do Executivo restringe-se às alterações nas alíquotas. Ou seja, existem tributos que poderão ter suas alíquotas majoradas por ato do Poder Executivo: Art. 153, § 1º - É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos incisos I, II, IV e V. Abaixo, os tributos em que há exceção ao princípio da legalidade para a Alteração ou Redução e Restabelecimento de Alíquotas: | 14 Professora Ilza Maria da Silva Facundes OBSERVAÇÃO 1: CONFAZ – Conselho Nacional de Política Fazendária é o órgão composto pelos representantes dos Estados e do Distrito Federal em que esses celebram e ratificam convênios concedendo isenções, incentivos e benefícios fiscais. OBSERVAÇÃO 2: Na “Alteração”, o Executivo, atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei, mexe nas alíquotas como achar melhor. Já na “Redução e Restabelecimento”, o Executivo (ou CONFAZ) pode somente reduzir a alíquota, e depois retorná-la ao patamar inicial. Mais que isso, tem que ser por lei. Na “Definição, Redução e Restabelecimento” do ICMS Monofásico Combustíveis, o CONFAZ pode reduzir a alíquota e retorná-la ao patamar inicial e também a definir, não necessitando de lei para tal. OBSERVAÇÃO 3: A EC 132/23, inseriu mais uma exceção, em relação a legalidade tributária, concernente ao IPTU. CF, art. 156. § 1º Sem prejuízo da progressividade no tempo a que se refere o art. 182, § 4º, inciso II, o imposto previsto no inciso I poderá: (...) III - ter sua base de cálculo atualizada pelo Poder Executivo, conforme critérios estabelecidos em lei municipal. LEMBRE-SE: É a única exceção a legalidade tributária referente à base de cálculo. | 15 Professora Ilza Maria da Silva Facundes A legalidade “suficiente” – matéria técnica e caráter contraprestacional Lei 6.994/1982, Art 2º - Cabe às entidades referidas no art. 1º desta Lei a fixação dos valores das taxas correspondentes aos seus serviços relativos e atos indispensáveis ao exercício da profissão, restritas aos abaixo discriminados e observados os seguintes limites máximos: Parágrafo único - O disposto neste artigo não se aplica às taxas referentes à Anotação de Responsabilidade Técnica - ART, criada pela lei nº 6.496, de 7 de dezembro de 1977, as quais poderão ser fixadas observado o limite máximo de 5 MVR. Lei 12.514/2011, Art. 11. O valor da Taxa de Anotação de Responsabilidade Técnica - ART, prevista na Lei nº 6.496, de 7 de dezembro de 1977, não poderá ultrapassar R$ 150,00 (cento e cinquenta reais). STF - RE 838284 / SC (Tema 829) 1. Na jurisprudência atual da Corte, o princípio da reserva de lei não é absoluto. Caminha-se para uma legalidadesuficiente, sendo que sua maior ou menor abertura depende da natureza e da estrutura do tributo a que se aplica. No tocante às taxas cobradas em razão do exercício do poder de polícia, por força da ausência de exauriente e minuciosa definição legal dos serviços compreendidos, admite-se o especial diálogo da lei com os regulamentos na fixação do aspecto quantitativo da regra matriz de incidência. Tese: “Não viola a legalidade tributária a lei que, prescrevendo o teto, possibilita ao ato normativo infralegal fixar o valor de taxa em proporção razoável com os custos da atuação estatal, valor esse que não pode ser atualizado por ato do próprio conselho de fiscalização em percentual superior aos índices de correção monetária legalmente previstos” A legalidade “insuficiente” Lei 11.000/2004, Art. 2º Os Conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas são autorizados a fixar, cobrar e executar as contribuições anuais, devidas por pessoas físicas ou jurídicas, bem como as multas e os preços de serviços, relacionados com suas atribuições legais, que constituirão receitas próprias de cada Conselho. | 16 Professora Ilza Maria da Silva Facundes STF - RE 704.292/PR (Tema 540) – Tese: “É inconstitucional, por ofensa ao princípio da legalidade tributária, lei que delega aos conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas a competência de fixar ou majorar, sem parâmetro legal, o valor das contribuições de interesse das categorias profissionais e econômicas, usualmente cobradas sob o título de anuidades, vedada, ademais, a atualização desse valor pelos conselho em percentual superior aos índices legalmente previstos” APLICANDO: (ANALISTA DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO - APO 2008 ESAF) A competência tributária, assim entendida como o poder que os entes políticos – União, Estados-Membros, Distrito Federal e Municípios – têm para instituir tributos, não é ilimitada. Ao contrário, encontra limites na Constituição Federal, entre os quais destacamos o princípio da legalidade tributária, segundo o qual nenhum tributo poderá ser instituído ou majorado a não ser por lei. Porém, a própria Constituição Federal excetua da obrigatoriedade de ser majorados por lei (podendo sê-lo por ato do Poder Executivo) alguns tributos. São exemplos desses tributos: A) Imposto sobre Renda e Proventos / Imposto sobre Importação de Produtos Estrangeiros / Contribuição para o PIS/PASEP. B) Imposto sobre Produtos Industrializados / CIDE combustível / Contribuição para o PIS/PASEP. C) Imposto sobre Importação de Produtos Estrangeiros / Imposto sobre Exportação de Produtos Nacionais ou Nacionalizados / Imposto sobre Renda e Proventos. D) CIDE combustível / Imposto sobre Produtos Industrializados / Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros. E) Contribuição para o PIS/PASEP / Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros / Imposto sobre Produtos Industrializados. 4.2.2. Princípio da Anterioridade Tributária (Anual) Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é | 17 Professora Ilza Maria da Silva Facundes vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] III - cobrar tributos: b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; (EC. Nº 42/03) § 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos Arts. 148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I. (Nova redação dada ao § 1º pela EC 42/03) Este princípio não decorre diretamente de nenhum outro primado da Constituição. Em verdade, podemos dizer que é uma figura exclusivamente tributária. Em razão disso, o princípio deve ser analisado à luz de um enfoque restrito ao texto do Art. 150, III, “b” e “c”, que cuida do tema, sem a influência de outros dispositivos da CF. Também chamado de princípio da não surpresa, tem como objetivo proteger o contribuinte de uma eventual surpresa, quando o Estado pretende impor-lhe um sacrifício ainda maior do que aquele que já suporta. Aplica-se aos casos em que o tributo está sendo instituído ou majorado, apenas. O dispositivo constitucional estabelece a proibição de cobrança do tributo no mesmo ano da publicação da lei que veio a instituí-lo ou majorá-lo. A lei que estabelece uma maior carga tributária aos cidadãos deve ser do conhecimento da sociedade desde o ano anterior ao do início da cobrança. Em outras palavras, o princípio pretende dar ao contribuinte uma certa margem de previsibilidade desse elemento que é negativo em suas finanças (o tributo), de modo que a lei que pretende lhe submeter a um maior sacrifício seja de seu conhecimento dentro de determinado ano – através da publicação –, para que os efeitos dessa lei possam se operar a partir do ano seguinte. | 18 Professora Ilza Maria da Silva Facundes Na hipótese de a lei pretender reduzir o tributo ou extingui-lo, não há que se pensar em regra da anterioridade. Podemos dizer, portanto, que a anterioridade é o princípio que pretende evitar a surpresa mais gravosa e negativa às finanças do contribuinte. Quando a surpresa é essencialmente satisfatória, como na redução ou extinção de um tributo, ela já pode operar efeitos de forma imediata, sem restrição constitucional. Assim, a verdadeira lógica do Princípio da Anterioridade é preservar a segurança jurídica, postulado doutrinário que irradia efeitos a todos os ramos do Direito, vindo a calhar na Disciplina em estudo. Diz a Jurisprudência: "O princípio da anterioridade da lei tributária - imune, até mesmo, ao próprio poder de reforma constitucional titularizado pelo Congresso Nacional (RTJ 151/755-756) - representa um dos direitos fundamentais mais relevantes outorgados ao universo dos contribuintes pela Carta da República, além de traduzir, na concreção do seu alcance, uma expressiva limitação ao poder impositivo do Estado. Por tal motivo, não constitui demasia insistir na asserção de que o princípio da anterioridade das leis tributárias - que se aplica, por inteiro, ao IPTU (RT 278/556) - reflete, em seus aspectos essenciais, uma das expressões fundamentais em que se apoiam os direitos básicos proclamados em favor dos contribuintes." (Pet. 1.466, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 02/09/98) “Substituição legal dos fatores de indexação — alegada ofensa às garantias constitucionais do direito adquirido e da anterioridade tributária — inocorrência — simples atualização monetária que não se confunde com majoração do tributo. (...) A modificação dos fatores de indexação, com base em legislação superveniente, não constitui desrespeito a situações jurídicas consolidadas (CF, Art. 5º, XXXVI), nem transgressão ao postulado da não-surpresa, instrumentalmente garantido pela cláusula da anterioridade tributária (CF, Art. 150, III, b).” (RE 200.844-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 16/08/02) | 19 Professora Ilza Maria da Silva Facundes 4.2.2.1. Tributos que são Exceções ao Princípio da Anterioridade Anual Os tributos que constituem exceções ao princípio ora estudado são os seguintes: Perceba que todos os tributos considerados extrafiscais (Imposto de Importação e Exportação, Imposto sobre Produtos Industrializados e Imposto sobre Operações Financeiras) foram excepcionados para conceder plena eficácia aos fins que lhes foram propostos. Além disso, os Impostos Extraordinários de Guerra e os Empréstimos Compulsórios (guerra e calamidade) foram excluídosda aplicação do princípio, por conta da situação urgente a que se referem. ATENÇÃO: Os empréstimos compulsórios instituídos com base na hipótese de investimento público de caráter urgente não foram excepcionados da anterioridade. Então, a princípio, os investimentos não são tão urgentes assim! No que se refere às Contribuições destinadas ao Financiamento da Seguridade Social, vale ressaltar que, desde a promulgação da CF/88, elas estiveram sujeitas apenas ao princípio da noventena (será visto a seguir), constituindo, portanto, exceção | 20 Professora Ilza Maria da Silva Facundes ao princípio da anterioridade. Há ainda os casos específicos do ICMS – Combustíveis (também denominado ICMS – Monofásico – Combustíveis) e da CIDE – Combustíveis, que são exceção à anterioridade apenas em caso de redução (dedução óbvia do próprio princípio) e do restabelecimento. Se houver majoração das alíquotas, portanto, haverá a consequente sujeição ao princípio estudado. 4.2.3. Princípio da Noventena (Anterioridade Nonagesimal) O princípio da noventena (também denominado anterioridade nonagesimal) prega que a cobrança de tributos deve ocorrer apenas 90 dias após a publicação de uma lei que institua ou majore tributos. ATENÇÃO: NÃO SÃO 3 MESES. São 90 dias! Nem todos os meses tem 30 dias. O princípio da noventena também é denominado de: Anterioridade Nonagesimal, Privilegiada, Qualificada ou até mesmo Mitigada. Conforme explicamos no tópico anterior, as Contribuições para o Financiamento da Seguridade Social estão sujeitas apenas ao princípio da noventena. Aliás, elas são a única hipótese prevista no texto constitucional, na data da sua promulgação, em 1988. Contudo, ficou provado que o princípio da anterioridade, na verdade, não protegia de forma efetiva os contribuintes, tendo em vista que se uma lei que torne um tributo mais oneroso seja publicada no dia 31 de dezembro de determinado ano, no dia seguinte tal lei já estaria surtindo efeitos. Diante do exposto, a Emenda Constitucional 42/2003 trouxe uma alteração, ampliando o rol de tributos que estariam sujeitos ao princípio da noventena. Portanto, agora a regra é a aplicação desse princípio, ficando de fora apenas as hipóteses previstas no Art. 150, § 1°, da CF/88. A única diferença entre o dispositivo supramencionado e o § 6° do Art. 195 (princípio da noventena aplicável às contribuições para seguridade social) é que o primeiro fala em instituição ou aumento, e o segundo, instituição ou modificação, o que, para o STF, não há nenhuma diferença, pois o objetivo é proteger o contribuinte de normas | 21 Professora Ilza Maria da Silva Facundes que o onerem. Um detalhe a ser guardado é que, no entendimento do STF (RE 584.100), a simples prorrogação de alíquota já aplicada anteriormente não está sujeita ao prazo nonagesimal, tendo em vista que não há nenhuma surpresa para o contribuinte. 4.2.3.1. Tributos que constituem Exceções ao Princípio da Noventena Com algumas diferenças e semelhanças em relação ao princípio da anterioridade, os tributos que constituem exceções ao princípio ora estudado são os seguintes: 4.2.3.1.1. Alíquotas de referência e noventena A alteração de alíquotas de reverência dos impostos e as contribuições incidentes sobre bens e serviços, IBS e CBS, Art. 156-A e 195, V, não devem observância ao princípio da anterioridade nonagesimal. ADCT, Art. 130. Resolução do Senado Federal fixará, para todas as esferas federativas, as alíquotas de referência dos tributos previstos nos arts. 156-A e 195, V, da Constituição Federal, observados a forma de cálculo e os limites previstos em lei complementar, de forma a assegurar: I - de 2027 a 2033, que a receita da União (...) II - de 2029 a 2033, que a receita dos Estados e do Distrito Federal (...) III - de 2029 a 2033, que a receita dos Municípios e do Distrito Federal (...) | 22 Professora Ilza Maria da Silva Facundes § 1º As alíquotas de referência serão fixadas no ano anterior ao de sua vigência, não se aplicando o disposto no art. 150, III, "c", da Constituição Federal, com base em cálculo realizado pelo Tribunal de Contas da União. Observe que, dos impostos extrafiscais, apenas o IPI está sujeito à noventena. Essa opção pode ter sido feita, pois o IPI já é considerado por parte da doutrina como tributo com finalidade fiscal. No que se refere ao IEG e aos Empréstimos Compulsórios, segue- se a mesma regra aplicável ao princípio da anterioridade. Trata-se de tributos que se referem a situações de urgência. No tocante ao Imposto de Renda, percebe-se que há sujeição apenas ao princípio da anterioridade, o que torna a proteção ao contribuinte bastante insignificante, pois uma majoração no dia 31/12/23, por exemplo, pode repercutir efeitos no dia 01/01/24. Já as exceções referentes às bases de cálculo do IPVA e do IPTU foram estabelecidas para facilitar que os entes competentes para instituir tais tributos possam fazer revisões dos valores dos bens imóveis e veículos sobre os quais estes tributos incidem. Se tivessem que aguardar 90 dias, não seria possível fazer tais revisões com precisão. Por fim, eu gostaria de auxiliá-los a guardar tais minúcias deste ponto da matéria. Observem que o II, IE, IOF, IEG e Empréstimos Compulsórios decorrentes de guerra ou calamidade constituem exceções aos dois princípios. Além disso, todos os demais tributos que não constam nas exceções estudadas ficam sujeitos aos dois princípios. Ou seja, a instituição de uma contribuição de melhoria, por exemplo, fica sujeita aos dois princípios constitucionais tributários. Portanto, se tal tributo for instituído em 2 janeiro, terá que aguardar até o próximo ano para produzir efeitos (prevalece, neste caso, o princípio da anterioridade, tendo em vista que faltam mais do que 90 dias para o próximo ano). Por outro lado, se a instituição ocorrer em 15 de novembro, há que se aguardar 90 dias, pois este prazo | 23 Professora Ilza Maria da Silva Facundes superará o intervalo entre a data da publicação da lei e o primeiro dia do ano subsequente. Compreendido? 4.2.3.2. Os Princípios da Anterioridade e Noventena e as Medidas Provisórias Estudamos que as medidas provisórias são atos normativos com força de lei, e por isso mesmo podem instituir tributos, desde que observados os requisitos de urgência e relevância, expressos no caput do Art. 62, da CF/88. O § 2° do referido dispositivo menciona que a medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, só produzirá efeitos no exercício seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada. Destaque-se que nem todos os impostos estão sujeitos a essa regra, pois o II, IE, IPI, IOF e IEG constituem exceções estampadas na própria norma. ATENÇÃO: A regra só vale para a espécie de tributos IMPOSTO, ficando de fora os seguintes: II, IE, IPI, IOF e IEG. Em primeiro lugar, fiquemos atentos, pois, a partir da EC 32/2001, as Medidas Provisórias passaram a ter vigência de 60 dias prorrogáveis por igual período (mais 60 dias). A regra geral que temos de observar são os princípios da anterioridade e noventena, considerando as exceções. Isso é o que é aplicável, ainda que sejam instituídos ou majorados por MPs. No entanto, quando se tratar de impostos, que não sejam aqueles excepcionados pelo próprio § 2º do Art. 62 da CF (II, IE, IPI, IOF e IEG), além dos princípios da anterioridade e noventena, há que se obedecer a regra, segundo a qual só haverá produção de efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que a Medida Provisória foi editada. Assim, por exemplo, a majoração do IPI não fica sujeita a essa regra, ao passo que um aumento nas alíquotas do ITR sujeita-se, além da anterioridade enoventena, também à | 24 Professora Ilza Maria da Silva Facundes regra do Art. 62, § 2º. Vejamos um caso hipotético do ITR. Digamos que uma Medida Provisória foi publicada em outubro de 2023, sendo que a conversão desta MP em lei ocorreu apenas em janeiro de 2024. Quando essa majoração produzirá efeitos? Ora, como o ITR está sujeito à anterioridade e à noventena, a regra seria a lei vigorar 90 dias, contados de outubro (já que também seria obedecido o princípio da anterioridade). Contudo, com a aplicação dessa regra que estamos estudando, somente haverá produção de efeitos no dia 1º de janeiro de 2025. Por fim, no que se refere ao termo inicial de contagem do prazo nonagesimal, referente à majoração de Contribuições Sociais destinadas à Seguridade Social, caso a MP venha a ser convertida em lei, tal prazo é contato é contado da edição da MP ou da sua conversão em lei? Conforme dissemos, após o término do prazo de 90 dias, a MP produz efeitos por 30 dias. Se, dentro desse período, a MP for convertida em lei sem alterações substanciais em tal conversão, a cobrança continua. De outra forma, se houver alterações substanciais (conversão parcial da MP em lei) no texto originário da MP, reinicia-se o prazo de contagem a partir da publicação da lei de conversão. Esse é o entendimento do STF. ATENÇÃO: Se a questão não fizer nenhuma ressalva quanto às alterações substanciais, consideraremos que o prazo se conta a partir da publicação da medida provisória. Há ainda a hipótese de a Medida Provisória ser rejeitada no Congresso Nacional (CN) ou vir a perder sua eficácia por decurso do prazo de 120 dias. Nestes casos, o tributo deixa de ser cobrado. Contudo, cabe ao Congresso Nacional disciplinar as relações jurídicas que foram geradas nesses 30 dias de cobrança do tributo, por meio de decreto legislativo. Vale dizer, o Congresso Nacional decidirá se haverá ou não a devolução dos valores pagos pelos contribuintes. Se o CN não deliberar sobre isso no prazo de 60 dias após a rejeição ou perda de eficácia, as relações jurídicas (os valores pagos) são mantidas, valendo-se o que foi disposto na Medida Provisória. | 25 Professora Ilza Maria da Silva Facundes organograma das Exceções às duas Anterioridades: Tributos Sujeitos Apenas à Noventena: • IPI; | 26 Professora Ilza Maria da Silva Facundes • Contribuições Sociais (CBS, CSLL, PIS, COFINS, Contribuição Previdenciária, Contribuições ao Sistema S); • Cide-Combustíveis; • ICMS-Combustíveis. • Alíquotas de referência IBS e CBS. Tributos Sujeitos Apenas à Anterioridade anual: • Imposto de Renda; • Fixação da base de cálculo do IPVA; • Fixação da base de cálculo do IPTU; Tributos Sujeitos à Noventena e à Anterioridade: • ICMS (exceto para o ICM monofásico sobre os combustíveis); • ISS; • ITR; • ITCMD; • ITBI; • Alíquota do IPVA; • Alíquota do IPTU; • Contribuições em geral, caput do Art. 149, CF. • Empréstimos compulsórios no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, 148, II, CF. • Contribuição para o custeio, a expansão e a melhoria do serviço de iluminação pública e de sistemas de monitoramento para segurança e preservação de logradouros públicos. • Imposto Seletivo, 153, VIII, CF. Tributos que Não estão Sujeitos à Anterioridade e à Noventena: • Imposto de Importação; • Imposto de Exportação; • IOF; | 27 Professora Ilza Maria da Silva Facundes • Empréstimos Compulsórios para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de Calamidade Pública, de Guerra Externa ou sua iminência; • Imposto Extraordinário na iminência ou no caso de Guerra Externa – IEG 4.2.4. Princípio da Irretroatividade Tributária (Art. 150, III, “a”, da CF/88 c/c Art. 144 do CTN) Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] III - cobrar tributos: a) em relação aos fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os aumentou ou criou. Este princípio tributário é corolário do princípio constitucional geral de que a lei nova não pode vir a prejudicar direitos já adquiridos e atos jurídicos já aperfeiçoados (CF, art. 5º, XXXVI). Significa dizer que o tempo rege o fato. A lei vigente à época do acontecimento do fato é que lhe deve servir de regramento, de modo que a lei nova apenas atingirá fatos que ainda estão por vir e não aqueles que já se aperfeiçoaram. Na dicção do Art. 150, III, “a”, da Constituição, fica estabelecida a proibição da cobrança de tributo em relação a fato gerador ocorrido antes da vigência da lei que o institui ou o majora. Esta limitação determina que o sujeito ativo da obrigação tributária só pode cobrar tributos daqueles fatos geradores que aconteceram depois de sua edição. Ela, a lei, não pode retroagir. A irretroatividade da lei vem preservar o passado da atribuição de novos efeitos tributários, reforçando a própria garantia da legalidade, porquanto resulta na exigência de lei prévia. O que inspira a garantia da irretroatividade é o princípio da segurança jurídica, que nela encontra um instrumento de otimização no sentido de prover uma maior certeza do direito. | 28 Professora Ilza Maria da Silva Facundes O tributo devido pelo contribuinte é aquele segundo a lei vigente à época do fato gerador. Na eventualidade de uma lei nova vir a modificar a estrutura quantitativa do tributo, por certo, só valerá para os fatos que ainda vierem a acontecer posteriormente. É importante que se entenda que a relação jurídica de débito e crédito, entre Fazenda Pública e sujeito passivo, se instaura no exato instante do acontecimento do fato gerador. Aliás, este é exatamente gerador da obrigação tributária que envolve Fisco e sujeito passivo. A obrigação surge no acontecimento do fato a que a lei atribui esse efeito (auferir renda, importar mercadoria, etc.). Lei essa, vigente no momento em que o fato acontece. De efeito, todos os elementos que colaboram na contextura da obrigação (base de cálculo, alíquota, sujeito passivo e a própria definição do fato gerador) são colhidos na lei da época do fato, instaurando-se uma perfeita relação jurídica, em que o Estado possui o direito de exigir e o sujeito passivo o dever de pagar determinado montante. Nesse sentido, se uma lei posterior a um fato gerador já ocorrido pretende mudar o regime jurídico quantitativo do tributo, ela encontrará uma relação jurídica perfeita já instaurada, ocasionada pelo referido fato pretérito. Dessa forma, a lei nova não tem como influir na situação passada, operando efeitos apenas para o futuro, vale dizer, para os novos fatos geradores. O tema acaba sendo repetido pelo Art. 105 do Código Tributário Nacional, que enuncia que a lei tributária se aplica aos fatos geradores futuros. Quando uma lei institui um tributo, prevê-se na norma um fato que, ocorrido, faz surgir o vínculo entre o contribuinte e o fisco. A essa previsão na norma denominamos hipótese de incidência. Ao fato ocorrido no mundo real, chamamos de fato gerador. Por fim, denomina-se obrigação tributária a relação jurídica constituída entre o fisco e o contribuinte, quando da ocorrência do fato gerador. Para a doutrina, a hipótese de incidência (previsão do fato gerador na lei) é estruturada em 5 aspectos: material, temporal, espacial, pessoal e quantitativo. (objeto do estudo do próximo semestre) O aspecto material se refere ao fato descrito na norma como ensejador do surgimento da obrigação tributária. Por exemplo, o fato de auferir rendas faz com | 29 Professora Ilza Maria da Silva Facundes que a pessoa se sujeite à tributação peloImposto de Renda. Já o aspecto temporal da hipótese de incidência diz respeito ao momento em que a lei considerar consumado o fato gerador da obrigação tributária. Por exemplo, o Imposto de Renda Pessoa Física tem o seu fato gerador ocorrido em 31 de dezembro de cada ano, muito embora decorra de vários fatos isolados ao longo do ano-calendário. Com base no exposto, vamos analisar a aplicação da irretroatividade a dois tributos que possuem jurisprudência importante para provas de concurso. Trata-se da CSLL e do IR. A CSLL é uma contribuição para a seguridade social, estando sujeita apenas ao princípio da noventena (Art. 195, § 6°, da CF/88). Além disso, considera-se que o fato gerador deste tributo ocorre no dia 31 de dezembro, embora ele decorra de vários eventos surgidos durante todo o ano. Surge, portanto, a seguinte dúvida: se uma lei editada no dia 2 de outubro majorar o tributo, em 31 de dezembro (após 90 dias) ela produzirá efeitos sobre o fato gerador? Para o STF (AI-AgR-ED 333.209/PR), a resposta foi positiva até o cancelamento da Súmula 584. Ainda que nos pareça injusto, pois o contribuinte havia planejado certa carga de tributação sobre seus lucros, quando uma alteração no final do ano repercutiu sobre todas as suas atividades durante todo o exercício financeiro, devemos considerar o posicionamento antes adotado pelo STF acerca do tema. Ainda nesse contexto, há que se observar que o STF tinha como referência, para análise da irretroatividade, o aspecto temporal da hipótese de incidência. Ou seja, para a Corte, o que importava era o momento definido na lei como ocorrido o fato gerador do tributo. Registre-se, contudo, que a Suprema Corte (RE 587.008) reviu o seu posicionamento, adotando como referência o aspecto material da hipótese de incidência, conforme se vê na ementa desse Recurso Extraordinário: “É o aspecto material - e não o aspecto temporal da norma - que deve ser considerado para fins de resguardo da irretroatividade e da anterioridade da | 30 Professora Ilza Maria da Silva Facundes lei tributária (...). Havendo afirmação constitucional expressa da irretroatividade da lei ao fato gerador, bem como da anterioridade da lei tributária, e considerando-se que tais garantias constituem desdobramentos inequívocos do princípio da segurança jurídica, pode-se concluir que não tem lugar, no direito tributário brasileiro, a chamada retroatividade imprópria.” (STF, RE 587.008; Voto da Min. Ellen Gracie, Relator: Dias Toffoli, J. 02/02/2011, DJ 05/05/2011) No que se refere ao IR, a problemática é ainda maior. Como sabemos, o Imposto de Renda está sujeito unicamente ao princípio da anterioridade. Portanto, uma lei que majore este tributo começa a produzir efeitos no primeiro dia do exercício seguinte ao que foi editada. Agora que você já sabe distinguir os princípios, e sabe também os que se aplicam e os que não se aplicam ao IR, vamos entender como funciona o fato gerador desse imposto. O fato gerador do IR é denominado periódico, tendo em vista que se prolonga durante um período estabelecido em lei, sendo considerado ocorrido no final deste período. Ademais, diferentemente do que ocorre com o IPVA ou IPTU, o fato gerador do IR é composto de diversos eventos ocorridos dentro do período citado, fazendo com que seja chamado de fato gerador período composto (ou complexivo). ATENÇÃO: O IPTU e o IPVA possuem fatos geradores periódicos simples, pois são constituídos de um único evento no período, qual seja a propriedade de veículo automotor ou de imóvel urbano. | 31 Professora Ilza Maria da Silva Facundes Assim, por exemplo, no regime de tributação anual do IRPF, o imposto é apurado com base nos rendimentos recebidos pelo contribuinte no decorrer do exercício financeiro. O fato gerador considera-se ocorrido no dia 31 de dezembro, embora seja constituído do conjunto de fatos isolados durante o ano. No ano seguinte, o contribuinte tem um prazo para entregar a declaração à Receita Federal, demonstrando a apuração do IRPF anual e o pagamento, se houver, do imposto. Vamos ilustrar para facilitar: Em matéria de tributos – que não correspondem a sanções de atos ilícitos –, a irretroatividade da lei tributária impera de forma absoluta, quando pretende instituir ou mudar a respectiva sistemática quantitativa (majoração ou redução). Você já deve estar se perguntando onde os princípios estudados neste tópico entram em toda essa explicação. Ora, foi necessário te fornecer toda essa explicação, para que você seja capaz de responder a seguinte pergunta: caso uma lei que majore o IR seja publicada exatamente no meio do ano de 2023, essa lei produziria efeitos sobre todo o IR apurado em 2023? De acordo com a Súmula 584, parecia que sim. Senão, vejamos: Súmula STF 584 - Ao imposto de renda calculado sobre os rendimentos do ano base aplica-se a lei vigente no exercício financeiro em que deve ser apresentada a declaração. Em termos práticos, o STF quis dizer que, se aquela lei que foi publicada em 2023 estiver produzindo efeitos em 2022, ela será aplicada sobre os rendimentos de 2022, pois a Ano 2024 31/12/24 Ano 2015 2201024 | 32 Professora Ilza Maria da Silva Facundes norma estava em vigor quando ocorreu a entrega da declaração (2023). Perceba que havia total agressão ao princípio da irretroatividade. Aí vocês me perguntam e o Princípio da Anterioridade? Também agredido, caro acadêmico, pois a lei acabou por produzir efeitos sobre o fato gerador ocorrido no mesmo exercício de sua publicação. Destaque-se que o fenômeno a que a Súmula 584 do STF nos remete é o da retroatividade imprópria, que ocorre quando uma lei tem aplicação sobre fatos que se iniciaram no passado, mas que ainda não foram concluídos. Nesse sentido, a lei é publicada no final do ano e alcança os fatos que ocorreram desde o início do mesmo ano. ATENÇÃO: A retroatividade imprópria ocorre quando se considera apenas o aspecto temporal da norma, desconsiderando o seu aspecto material. Ou seja, ainda que a lei tenha sido publicada no meio ou no final do ano, ela se aplica a todos os rendimentos daquele período, mesmo que anteriores a ela, bastando apenas que esteja vigente em um determinado momento. Caso se considere o aspecto material da norma, ficaria evidente que a lei ofende o princípio da irretroatividade, tendo em vista que os rendimentos auferidos até a publicação desta sofrem a majoração do IR. É importante ressaltar que o STF (RE 587.008) se posicionou contrariamente à retroatividade imprópria, defendendo, assim, o princípio da segurança jurídica. É o que diz o voto da Min. Ellen Gracie, no julgamento do RE 587.008, transcrito nas páginas anteriores. STF - 159.180/MG – LEI – APLICAÇÃO NO TEMPO – IMPOSTO DE RENDA – ADICIONAL – DECRETO-LEI Nº 2.462/1988– APLICAÇÃO NO ANO BASE DE 1988 – IRRETROATIVIDADE E ANTERIORIDADE– INOBSERVÂNCIA– INCONSTITUCIONALIDADE. É inconstitucional a aplicação, a fatos ocorridos no ano- base de 1988, do adicional do imposto de renda sobre o lucro real instituído pelo Decreto- Lei nº 2.462, de 30 de agosto de 1988, considerada a violação dos princípios da | 33 Professora Ilza Maria da Silva Facundes irretroatividade e da anterioridade. ATENÇÃO: Encontra-se superado o entendimento exposto na Súmula 584 do STF. Esse enunciado é incompatível com os princípios da irretroatividade e da anterioridade. Por essa razão, o STF decidiu pelo cancelamento do verbete. (STF. Plenário. RE 159180, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/06/2020) Vocês ainda irão estudar no próximo semestre a questão da retroatividade prevista no CTN, sobre o tema: vigência e aplicação da legislação tributária. APLICANDO: Se o Congresso Nacional aprovar lei instituindo o IR sobre os rendimentos dos Planos Garantidores de Benefícios Livres (PGBLs) e essa lei for publicada no DiárioOficial do dia 31.12.2023, o imposto incidirá sobre os fatos geradores ocorridos a partir de quando? 4.2.4.1. Exceção ao Princípio da Irretroatividade Não há, no texto constitucional, qualquer atenuação ou exceção à irretroatividade. A lei instituidora (que cria) ou majoradora (que aumenta) de tributos tem de ser, necessariamente, prospectiva (isto é, voltar-se para regular os fatos futuros), não se admitindo nenhum tipo de retroatividade, seja máxima, média ou mínima ou, ainda, restrospectiva ou imprópria. Ou seja, não há que se falar em retroatividade tampouco na sua variante conhecida por retrospectividade, mas apenas em prospectvidade da lei tributária impositiva mais onerosa. Aliás, a Constituição Federal não apenas se abstém de admitir qualquer exceção à irretroatividade como estabelece garantias adicionais, quais sejam, os interstícios mínimos entre a publicação da lei tributária impositiva mais onerosa e o início da sua incidência estampados nas anterioridades de exercício e nonagesimal. Percebe-se, portanto, que não há que se perquirir, pois, de flexibilizações ou de fragilizações à irretroatividade, mas, sim, do seu reforço pelas anterioridades. No que se refere ao princípio da irretroatividade disciplinada no CTN, a abrangência é mais ampla, o que dá ensejo ao surgimento de EXCEÇÕES. | 34 Professora Ilza Maria da Silva Facundes A maior amplitude ocorre porque o CTN trata da irretroatividade de toda a legislação tributária e não apenas da lei que institua ou majore tributos. Já as exceções terão vez em situações bem específicas, não relacionadas á majoração ou instituição de tributo. Em princípio, o fato regula-se pela lei em vigor na época de sua ocorrência. Assim, deve- se utilizar sempre a lei do momento da ocorrência do fato gerador para cobrança de tributo e aplicação de alíquotas, nos termos do Art. 144, do CTN: Art. 144. O lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato gerador da obrigação e rege-se pela lei então vigente, ainda que posteriormente modificada ou revogada. § 1º Aplica-se ao lançamento a legislação que, posteriormente à ocorrência do fato gerador da obrigação, tenha instituído novos critérios de apuração ou processos de fiscalização, ampliado os poderes de investigação das autoridades administrativas, ou outorgado ao crédito maiores garantias ou privilégios, exceto, neste último caso, para o efeito de atribuir responsabilidade tributária a terceiros. § 2º O disposto neste artigo não se aplica aos impostos lançados por períodos certos de tempo, desde que a respectiva lei fixe expressamente a data em que o fato gerador se considera ocorrido. A lei nova que regula formalidades é aplicável à apuração de fatos que ocorreram em época passada. Isso se justifica na medida em que tal lei não altera, cria ou extingue direitos materiais, mas apenas regula a maneira de se apurar ou demonstrar certo direito pré-existente. Com relação ao lançamento, podemos dizer que os critérios formais, tais como, a competência da autoridade fiscal ou os seus poderes de investigação, são regulados pela lei vigente à época da realização do lançamento. É o que expressa o §1º do Art. 144 do CTN. Citemos alguns exemplos que podem ajudar no esclarecimento do tema: Suponhamos que certo servidor ocupe um cargo na Administração fazendária, mas cuja | 35 Professora Ilza Maria da Silva Facundes lei de regência não lhe dê poderes para efetuação de lançamento. Algum tempo depois, sobrevem lei que passa a dispor que os ocupantes daquele cargo passam a ter atribuição para proceder ao lançamento tributário. Pergunta-se: é válido o lançamento feito hoje por esse servidor, no qual formaliza dívida relativa a fato gerador acontecido em época em que não tinha competência para realizá-lo? Obviamente que sim. As regras de procedibilidade do lançamento são aquelas vigentes à época de sua realização. Outro exemplo: A Lei Complementar 105/2001, que outorgou às autoridades fazendárias o poder de obterem, diretamente das instituições financeiras, as informações bancárias dos contribuintes fiscalizados, para que sejam usadas como elementos de prova. Pergunta-se: pode a autoridade fiscal utilizar-se desse novo poder investigatório para efetuar lançamento relativo a fato gerador ocorrido na época em que tal poder não existia? Sim, e pelos mesmos motivos. Perceba que os aspectos formais que cercam o lançamento não influem na realidade da dívida, nem no seu devedor, muito menos no seu montante. As leis novas citadas nos exemplos não mudam a verdade dos fatos, mas apenas dispõe sobre a maneira pela qual tal verdade será deslindada. Garantias do crédito tributário são mecanismos estabelecidos em lei que tornam mais efetiva a atividade de cobrança da dívida fiscal. Trata-se de prerrogativas em prol da Fazenda, criando meios pelos quais esta consiga mais facilmente ingressar no patrimônio do particular, evitando que o sujeito passivo venha a frustrar a cobrança. Seriam exemplos os mecanismos de bloqueio dos bens do sujeito passivo. Privilégios ou preferências são mecanismos que outorgam ao crédito tributário a prioridade de pagamento, em detrimento a créditos de outra natureza, na hipótese de haver um concurso de credores contra o sujeito passivo. É de se notar, portanto, que tais leis não influenciam nos aspectos materiais da dívida (definição do sujeito passivo, valor da dívida, definição da hipótese de incidência). Elas também possuem caráter procedimental e, como tal, aplicam-se de imediato às dívidas já existentes. | 36 Professora Ilza Maria da Silva Facundes 4.2.4.1.1. Lei Expressamente Interpretativa e Lei Mais Benéfica acerca de Infrações e Penalidades Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito: I - em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados; II - tratando-se de ato não definitivamente julgado: a) quando deixe de defini-lo como infração; b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo; c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática. O referido artigo 106 aponta para o aspecto de que a legislação tributária só poderá ser aplicada em face de situações prévia e expressamente estabelecidas. Apesar da discussão doutrinária acerca da existência de leis interpretativas, o STF, expressamente admite a existência das leis interpretativas, como demonstra o seguinte excerto, retirado do acórdão proferido na ADI 605/DF. “É plausível, em face do ordenamento constitucional brasileiro, o reconhecimento da admissibilidade das leis interpretativas, que configuram instrumento juridicamente idôneo de veiculação da denominada interpretação autêntica. As leis interpretativas – desde que reconhecida a sua existência em nosso sistema de direito positivo – não traduzem usurpação das atribuições institucionais do Judiciário e, em consequência, não ofendem o postulado fundamental da divisão funcional do poder – mesmo as leis interpretativas expõem-se ao exame e à interpretação dos juízes e tribunais. Não se revelam, assim, espécies normativas imunes ao controle Jurisdicional.” STF,Tribunal Pleno, ADI-MC 605/DF, Rel. Min. Celso de Mello, j. | 37 Professora Ilza Maria da Silva Facundes 23.10.1991, DJ 05.03.1993, P. 2.897. Se a lei que se afirma interpretativa trouxer efetivas modificações de institutos jurídicos, ela terá caráter normativo e não interpretativo, sendo impedida de retroagir. As distintas hipóteses aptas a permitir que se aplique a lei quanto a atos ou fatos a ela anteriores, sempre em benefício do contribuinte, devem ser consideradas exaustivas (ou seja, não comportaampliação além do que previsto na lei), tendo em conta que tal se insere no campo da exceção. A regra, porém, é de que a lei não retroage. Pode-se constatar, portanto, que não há exceção para esta limitação, no que concerne à instituição ou majoração de tributos, admitindo-se a retroatividade da lei somente em caso de interpretação de lei anterior ou quando, tratando-se de ato não definitivamente julgado, a nova legislação a respeito de infração venha a beneficiar o sujeito passivo, nos termos do Art. 106 do CTN. APLICANDO: A Constituição não prevê exceção alguma ao principio da irretroatividade da lei? O princípio da irretroatividade da lei tributária não é incompatível com a existência de leis tributárias que produzam efeitos jurídicos sobre atos pretéritos? ATENÇÃO: Quando a lei diminuir a multa, ela retroage para beneficiar, NUNCA PARA PREJUDICAR. A regra geral é a regulação do fato pela lei vigente em sua época (ultratividade da lei tributária- princípio tempus regit actum, o que significa a aplicação da lei da época da ocorrência do fato imponível), e que a lei nova deve ser prospectiva, isto é, voltar-se para regular os fatos futuros, Art. 106, II, “c” do CTN. Exemplo: Caso a lei posterior estabeleça uma multa inferior àquela estabelecida pela lei aplicável à época do fato gerador, o Fisco, fica compelido (obrigado) a se valer da lei mais benéfica ao contribuinte. Trata-se neste caso de “retroação mais benéfica para multas tributárias ou retroatio in melius”, Art. 106, II, “c” do CTN. Podemos concluir, portanto, que essa exceção à irretroatividade, não se refere a tributos ou alíquotas, mas a multas. Lembre-se: não se trata de exceção concernente a tributos, mas a multas, isto é, sanção distinta de tributo. | 38 Professora Ilza Maria da Silva Facundes Exemplo: Se alguém deixou de pagar imposto de renda (tributo) enquanto a alíquota era de 27,5%, não será beneficiado por uma posterior redução da alíquota para 25%, pois, em se tratando das regras materiais sobre tributos (alíquotas, bases de cálculo, contribuintes, fatos geradores), a legislação a ser aplicada será sempre a vigente na data do fato gerador. A Lei 9.784/99, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal assim dispõe: Art. 2° A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência. (...) Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os critérios de: XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação. Diz a Jurisprudência: "Ofensa ao princípio da irretroatividade (Art. 150, III, a, CF) decorrente da inexigibilidade das contribuições sociais dentro do prazo de noventa dias da publicação da Lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no Art. 150, III, b, da Constituição Federal. A Lei nº 7.856/89, majorando a alíquota da Contribuição Social sobre o lucro das empresas de 8% para 10%, somente entraria em vigor noventa dias depois de sua publicação, sendo inalcançável pelo aumento de alíquota, por conseguinte, o resultado do balanço apurado em 31.12.89, vez que o princípio constitucional da irretroatividade não pode ser elidido por disposições de lei ordinária." (RE 195.712, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ 16/02/96) "Imposto de importação: alteração das alíquotas, por ato do Executivo, atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei: CF, Art. 153, § 1º. (...) O que a Constituição exige, no Art. 150, III, a, é que a lei que institua ou que majore | 39 Professora Ilza Maria da Silva Facundes tributos seja anterior ao fato gerador. No caso, o decreto que alterou as alíquotas é anterior ao fato gerador do imposto de importação." 4.2.5. Princípio da Isonomia/Igualdade Tributária (Art. 150, II, da CF/88) O Princípio da Isonomia consiste em: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos; Este princípio é chamado por alguns doutrinadores de Princípio da Proibição dos Privilégios Odiosos. O princípio da isonomia decorre da cláusula geral prevista no Art. 5º, caput, da Constituição, que determina que todos são iguais perante a lei. É a regra da igualdade. Que todos a quem a lei se destina a regular as relações jurídicas sejam iguais perante seu texto, não há o que se objetar. No entanto, a partir disso, surge a especulação: será que a lei deve dispensar o mesmo tratamento a todas as pessoas? A resposta é negativa. Para que o Estado possa promover a igualdade, não se pode pensar em tratamento | 40 Professora Ilza Maria da Silva Facundes absolutamente igualitário, eis que, assim, estaríamos abonando as inegáveis desigualdades já existentes. É da essência do Estado moderno manter uma posição ativa e não passiva frente as desigualdades. Ainda nos primórdios da República brasileira, já dizia Rui Barbosa que igualdade é tratar de forma desigual aqueles que são desiguais. Falar em isonomia ou igualdade significa impedir que se trate de forma diferente aqueles que se mostrem iguais, e, a contrário sensu, permitir que se trate de forma diferente aqueles que são diferentes. A atenção especial a ser dada a esse princípio decorre da trajetória política traçada em nosso País nas últimas décadas, marcadas pelo regime militar, quando, e lamentavelmente, foram constatadas inúmeras “desigualdades tributárias”. É obvio que as pessoas são tidas pela lei como iguais ou desiguais a partir de um determinado critério. Ou seja, o valor igualdade é bastante abstrato e precisa sofrer um processo de concreção. Certo também nos parece que tal critério deve possuir um nexo lógico com o tema que vier a ser tratado pela lei respectiva. Pois bem, em matéria tributária, este critério varia, em função da espécie de tributo. Nos tributos contraprestacionais (taxa e contribuição de melhoria), cuja essência repousa na ideia de que o contribuinte usufrui ou provoca alguma atividade estatal, os contribuintes serão iguais ou desiguais em função do critério da contraprestação. Ou seja, sofrerão com maior volume a incidência da taxa aqueles que usufruem (efetiva ou potencialmente) em maior escala o serviço oferecido. Sofrerão com maior intensidade a contribuição de melhoria aqueles que lograrem maior valorização imobiliária. Vale ressaltar, a regra da isonomia, em matéria de tributos vinculados ou contraprestacionais, concretiza-se através da ideia do custo/benefício. Já no caso dos impostos, cuja essência repousa na ideia da manifestação de riqueza dos contribuintes, a aferição da igualdade deverá ser feita em função do quantum de riqueza manifestada. Portanto, podemos dizer que a regra da isonomia se concretiza em matéria de impostos pela ideia da capacidade econômica ou capacidade contributiva. Ou seja, o objetivo desse princípio é proibir aos sujeitos ativos de estabelecer diferenças | 41 Professora Ilza Maria da Silva Facundes ou desigualdades tributárias para aqueles sujeitos passivos que se encontrem na mesma situação ou em situação equivalente (igual valor). Não significa que todos devem ser tratados de maneira isonômica, o que o princípio veda é o tratamento desigual para aqueles que se encontram em situações equivalentes. Exemplo: O indivíduo