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ARA0127 - Direito Internacional
Público e Privado
Material de Aula
2023.2
3. SUJEITO DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO
Quem são os sujeitos do Direito Internacional Público? 
O que é personalidade jurídica internacional?
3.1 CONCEITO DE PERSONALIDADE JURÍDICA INTERNACIONAL E OS ELEMENTOS 
FORMADORES DO ESTADO PARA DIFERENCIÁ-LO DAS DEMAIS ENTIDADES
Personalidade jurídica é conferida à entidade que possui capacidade de ser titular de direitos e obrigações 
internacionais.
Conforme vemos no material da sala de aula virtual, abaixo reproduzido:
“Em Direito Internacional, a personalidade é um reflexo da capacidade de Direito acrescida da capacidade de 
fato. A definição anterior demonstra exatamente esta ideia: é a capacidade de ser titular de direitos e deveres e 
a capacidade de exercer esses mesmos direitos por meio de reclamação internacional. O conceito de 
personalidade jurídica é dinâmico e tem caráter histórico: os sujeitos de direito não são sempre os mesmos e 
podem variar a depender do contexto considerado” (CALIL, 2022).
O Estado é a principal entidade dotada de personalidade jurídica internacional.
O Estado, segundo Mazzuoli (2022, p. 654), é um ente jurídico, dotado de personalidade jurídica internacional é 
formado por indivíduos organizados em determinado território, sob autoridade de um governo independente, 
cuja a finalidade de atuação é tutelar aqueles que o habitam.
Conforme já mencionado em sala de aula, os elementos constitutivos do Estado são: povo, território e governo. 
Alguns autores incluem, ainda, soberania e finalidade.
Segundo CALIL (2022), governo é o conjunto de pessoas encarregadas de conceder eficácia ao ordenamento 
jurídico nacional. Trata-se das pessoas que conferem eficácia ao ordenamento jurídico interno. É quem é “capaz 
de decidir de modo definitivo dentro do território estatal, não admitindo a ingerência de nenhuma outra 
autoridade exterior” 
O exercício do governo pelo Estado tem dois planos (CALIL, 2022):
1. Nacional (Trata-se do governo no plano interno, compreendendo a administração realizada pelo Poder
Executivo).
2. Internacional (Diz respeito ao Estado como representando do país na sociedade internacional ao participar 
das relações internacionais).
O elemento soberania deve ser analisado de forma crítica, uma vez que, atualmente, não há mais a 
compreensão de que a soberania como um poder supremo. A soberania no Direito Internacional, portanto, 
deve ser compreendida como a não subordinação ao Direito interno de outro Estado, o que não significa a 
não subordinação ao Direito Internacional (CALIL, 2022).
Apesar da presença dos elementos constitutivos, existem exceções, como Taiwan e Palestina que não são 
reconhecidos internacionalmente como Estados.
Segundo Calil (2022), a personalidade jurídica internacional do Estado é:
 
• Originária (não é necessário nenhum ato jurídico para afirmar a existência do Estado)
• Plena (não se submete a quaisquer limitações, salvo as impostas pelo Direito Internacional)
Por sua vez, a personalidade jurídica plena se exprime em três direitos: 
• Jus tractum: Direito de celebrar tratados. 
• Jus legationem: Direito de enviar e receber representação diplomática. 
• Jus ad bellum: Direito de fazer guerra.
“Além do Estado, as entidades interestatais (Organizações internacionais) possuem também personalidade 
jurídica internacional, que, no entanto, tem algumas peculiaridades em relação aos Estados” (CALIL, 2022). 
A personalidade jurídica internacional das entidades interestatais pode ser classificada como: 
a) Derivada (depende da reunião de Estados para sua criação) 
b) Restrita (não têm - ou têm de forma restrita - os direitos jus tractum, jus legationem e jus ad bellum.
Segundo Calil (2022), “a única organização internacional que possui jus ad bellum é a ONU, por meio do 
Conselho de Segurança. O jus tractum das organizações internacionais é altamente limitado às finalidades para 
as quais a entidade foi criada. Ainda, as organizações internacionais não estabelecem relações diplomáticas (e, 
por isso, não detêm jus legationem) — o máximo que realizam são os chamados acordos de sede. Além disso, 
as organizações não governamentais são criadas por instrumentos de direito público interno e não de direito 
internacional (como os tratados internacionais, por exemplo)”.
Em regra, empresas e organizações não governamentais não possuem personalidade jurídica internacional. No entanto, 
pode-se citar algumas exceções, conforme pontual Calil (2022): 
ITAIPU BINACIONAL = “é uma coletividade interestatal que tem personalidade internacional, podendo celebrar tratados 
de cessão de energia elétrica com o Brasil e com o Paraguai”.
CRUZ VERMELHA = “manifesta sua personalidade como observadora geral da ONU, com direito a voz (e não voto) nas 
reuniões, e como fiscalizadora das Convenções de Genebra, que versam sobre direito humanitário”.
SANTA SÉ = “foi criada pelo Acordo de Latrão, celebrado entre Igreja Católica e o Estado da Itália, sua personalidade 
jurídica internacional se manifesta pelo jus tractum e jus legationem irrestritos, mas não conta com o jus ad bellum”.
ORDEM DOS CAVALEIROS DE MALTA = “O Grão-Mestre da ordem detém imunidade de jurisdição no mesmo formato dos 
diplomatas, bem como o jus legationem. O jus tractum da Ordem é limitado aos acordos de sede que realizam com os 
Estados, para pactuar o recebimento e a organização da Ordem no Estado”.
Atualmente, discute-se se o indivíduo deve ser considerado um sujeito de Direito Internacional. É possível?
3.2 FORMAS DE RECONHECIMENTO DOS ESTADOS DE CONHECIMENTO DOS ESTADOS E DE GOVERNO
“Assim como o Direito interno de cada Estado define quem são os seus sujeitos e o respectivo 
início de sua personalidade por meio de leis, que possuem efeito erga omnes, o Direito 
Internacional deve regular a partir de que momento ocorre o reconhecimento de uma coletividade 
como Estado” (CALIL, 2022). 
“Nesse sentido, não existe uma grande autoridade internacional central com a atribuição de 
reconhecer Estados com efeitos erga omnes. Dessa maneira, o reconhecimento dos Estados no 
Direito Internacional produz apenas efeitos interpartes – parte que reconhece e parte reconhecida” 
(CALIL, 2022).
O reconhecimento do estado é um “ato livre pelo qual um ou mais estados reconhecem a 
existência, em um território determinado, de uma sociedade humana politicamente organizada, 
independente de qualquer outro estado existente e capaz de observar as prescrições do direito 
internacional”, conforme definição do Institut de Droit International (CALIL, 2022)
Existem várias formas de reconhecimento de um Estado (CALIL, 2022):
Expresso = realizado “por meio de ato jurídico internacional que expressamente reconhece determinada 
coletividade como Estado”. 
Tácito = feito através de “ato não formalmente expresso reconhecendo determinada coletividade como 
Estado. Por exemplo, a forma como o Reino Unido reconheceu o Brasil, que ocorreu por meio do Tratado 
de Comércio de Navegação e Amizade em 1810”.
Unilateral = feito por ato unilateral do Estado que reconhece.
Bilateral = realizado através de “tratado entre o Estado que reconhece e o Estado reconhecido. Tratados 
multilaterais não são instrumentos aptos a produzir o reconhecimento de Estados, pois, neles, perde-se a 
reciprocidade”.
“A mesma sistemática do reconhecimento de Estado pode ser aplicada ao instituto do reconhecimento de 
governo, que, no entanto, possui certas peculiaridades. O reconhecimento de governo é utilizado apenas 
quando há transições revolucionárias da ordem constitucional do país” (CALIL, 2022).
“Assim como o reconhecimento de Estado, o reconhecimento de governo pode ser utilizado como meio de 
manipulação política. Para torná-lo um instituto menos aberto a eventuais manipulações políticas, foram 
criadas algumas doutrinas com o objetivo de estabelecer critérios objetivos para o reconhecimento de 
governos. A maioria delas,na verdade, acabou falhando. Apenas duas tiveram maior sucesso,ainda que 
parcial: a) doutrina Tobar; b) doutrina Estrada” (CALIL, 2022)
DOUTRINA TOBAR
“Criada por Carlos Tobar, Ministro das Relações Exteriores do Equador em 1907, tem como fundamento 
o Princípio da Busca da Paz. Segundo ele, todo e qualquer governo que tenha usado da força para 
tomar o poder seria ilegítimo, mesmo que fosse ideologicamente alinhado com o Equador”
(CALIL, 2022)
DOUTRINA ESTRADA
“Oriunda de Genaro Estrada, Ministro das Relações Exteriores do México em 1930, entende que o 
reconhecimento de governo é um instituto imperialista. Com fundamento no Princípio da Não 
Intervenção, a doutrina Estrada define que todo e qualquer governo deve ser reconhecido, ainda que 
tacitamente” (CALIL, 2022)
SUCESSÃO DE ESTADOS
Se um Estado deixa de existir, as obrigações deste Estado passam para os Estados sucessores, eis o 
princípio da continuidade.
“Para que um Estado deixe de existir, é necessária alguma mudança drástica em algum de seus 
elementos: governo, território e povo, em especial estes dois últimos. A análise de que um Estado deixou 
de existir e deu origem a outro passa pelo princípio da efetividade, ou seja, a verificação se outras 
autoridades passam a exercer de modo efetivo os atributos da soberania em determinado lugar. A 
sucessão é uma matéria fruto de costume preexistente e, por isso, não há um nome específico para suas 
formas. No entanto, podem ser identificadas as seguintes formas: fusão; incorporação; secessão, divisão 
ou cisão; desmembramento” (CALIL, 2022)
FUSÃO = Ocorre na união de dois Estados, que dão origem a um terceiro. Exemplo: a unificação alemã de 
1870.
INCORPORAÇÃO = Ocorre com a incorporação de um Estado por outro. Exemplo: a reunificação alemã de 
1989.
SECESSÃO, DIVISÃO OU CISÃO = Ocorre quando um Estado deixa de existir e, em seu lugar, surgem 
vários outros. Um exemplo clássico é o fim da URSS(União das Repúblicas Socialistas Soviéticas).
DESMEMBRAMENTO = Um Estado pode sofrer desmembramento dando origem a outros Estados.
Importante:
Em caso de ausência de regras para a sucessão em tratados, o Direito Internacional costumeiro regerá a 
sucessão. 
Existem dois tipos de sucessão: a) em matéria de tratados; b) em matéria de bens e dívidas
a) Em matéria de tratados
Regras são do Direito Internacional geral. Ou seja, não cabe aos Estados definirem quem fica obrigado a determinado 
tratado.
Caso de fusão e incorporação: “O Estado sucessor é membro de todos os tratados que os Estados anteriores faziam 
parte. Somam-se todos os tratados, inclusive aqueles que possuem obrigações incompatíveis entre si” (CALIL, 2022).
Caso da secessão e do desmembramento: “A regra é que os Estados sucessores serão membros de todos os tratados 
que o Estado anterior fazia parte” (CALIL, 2022).
b) Em matéria de bens e dívidas
“As regras são oriundas de tratado e, na sua ausência, caberá ao Direito Internacional costumeiro regular as situações” 
(CALIL, 2022).
Fusão e incorporação: “Somam-se todos os bens e dívidas do Estado antecessor” (CALIL, 2022).
Casos de secessão e desmembramento: “Deve haver uma repartição ponderada dos bens e das dívidas de acordo com 
o critério da destinação da dívida. Exemplo: Imagine-se que R tenha adquirido uma dívida com o Fundo Monetário 
Internacional (FMI) paraa construção de usina nuclear situada em BT, que consegue se tornar independente. BT, mesmo 
sendo apenas 20% do antigo território de R, será responsável pela integralidade da dívida com o FMI” (CALIL, 2022).
IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO
“Imunidade de jurisdição é a isenção, por força de normas internacionais, originalmente costumeiras e 
principiológicas ultimamente convencionais, da jurisdição penal, civil e administrativa do Estado 
Nacional. Existe, portanto, uma norma de Direito Internacional que exclui a jurisdição nacional. A imunidade 
de jurisdição é uma decorrência da soberania. Sobre o tema, vige o princípio par in parem non habet 
imperium/jurisdictionis (o par entre seus pares não exerce império/jurisdição). Originalmente, tal brocardo 
utilizava a denominação imperium, porém jurisdictionis é considerada uma versão mais moderna. Esse 
princípio é uma decorrência direta da ideia de soberania. É preciso entender que a imunidade de jurisdição 
não é do diplomata, mas sim do Estado. Assim, o diplomata possui imunidade de jurisdição porque ele é um 
funcionário público brasileiro que está no estrangeiro. Dessa maneira, quando esse diplomata realiza um ato 
oficial, este ato oficial também não pode ser apreciado pelo Judiciário norte-americano” (CALIL, 2022).
3.3 ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DO ESTADO
As regras de responsabilidade internacional são costumeiras, porém são mais complexas que as referentes 
à responsabilidade civil. Apenas em algumas áreas existem regras firmadas por tratados: comércio e 
direitos humanos. “Exemplo: Em matéria de Direito do Comércio Internacional, os acordos constitutivos da 
Organização Mundial do Comércio (OMC) criaram um sistema de responsabilidade próprio, envolvendo um 
órgão de solução de controvérsias. Em matéria de direitos humanos, há dois tipos de sistemas de proteção 
dos direitos humanos: o sistema universal e os sistemas regionais, com previsão de responsabilidade nos 
tratados. No entanto, de modo geral, não há regras escritas para a responsabilidade internacional do 
Estado, elas derivam, sobretudo, do costume”(CALIL, 2022)
Ressalte-se, ainda que a “responsabilidade internacional do Estado é completamente independente da 
responsabilidade civil. Desde 1950, a Comissão de Direito Internacional (CDI) da Assembleia Geral da 
ONU trabalha em um projeto de tratado sobre a responsabilidade internacional dos Estados. Para tanto, 
utiliza diversos costumes do Direito Internacional e sistematiza-os, transformando-os em texto único. Trata-
se de um projeto, não está em vigor, mas é um bom reflexo para a compreensão dos costumes 
relacionados à matéria da responsabilidade internacional do Estado” (CALIL, 2022)
3.4 SISTEMA INTERNACIONAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
“O sistema internacional de proteção aos direitos humanos é composto por dois subsistemas e cada 
subsistema possui diversos institutos. Os subsistemas são o Direito Internacional dos Direitos Humanos 
(DIDH) e o Direito Internacional Humanitário (DIH). O DIDH tem origem em 1945 com a Carta da ONU e com 
a Declaração Universal de Direitos Humanos. O DIH é mais antigo, originado em 1864, com a criação da Cruz 
Vermelha” (CALIL, 2022).
“Existem três correntes sobre como se estabelece a relação entre os dois sistemas: 1) Defendida 
principalmente por militantes do DIH, entende que os dois ramos devem ser distinto se devem ter o mínimo de 
relações possível, justamente para garantir a maior autonomia do DIH— o DIH é considerado mais eficaz e 
não pode ser contaminado pelos modos de solução de controvérsia do DIDH; 2) Entende que os dois ramos 
são dependentes, pois ambos devem ser para proteção de direitos humanos, além de defender que direitos 
humanos em tempos de guerra e em tempos de paz possuem o mesmo tratamento; 3) Do professor Celso de 
Albuquerque Melo, defende o integracionismo, ou seja, que os dois ramos têm de se relacionar, porque 
ambos estão versando sobre direitos humanos, mas é bom salvaguardar a autonomia de um e de outro em 
alguns aspectos” (CALIL, 2022).
“O Direito Internacional dos Direitos Humanos se origina depois da Segunda Guerra Mundial, com a 
Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948. Tal declaração foi emblemática, pois é uma 
declaração da Assembleia Geral da ONU e, portanto, soft law, mas é uma soft law que tem um valor 
histórico alto, tanto que Norberto Bobbio, no livro a Era dos Direitos, afirmou que havia se tornado hard law 
[...] A declaração de direitos humanos possui uma estrutura pré-definida. Inicia-se sempre com uma 
cláusula de não discriminação ou um non discrimini.Em seguida, são elencados os direitos humanos de 
primeira geração. A formulação clássica de que “são os direitos que exigem uma abstenção do Estado” 
pode induzir ao erro, pois, mesmo os direitos negativos podem exigir uma prestação e não uma simples 
abstenção do Estado. Por exemplo, o direito à vida, que é um direito negativo de primeira geração, propõe 
que o Estado não pode matar seus súditos, mas deve também prover segurança (CALIL, 2022).
Referências:
GUERRA, Sidney. Curso de Direito Internacional Público. São Paulo: Saraiva, 2022.
CALIL, Ana Luíza Fermandes. Fontes do Direito Internacional Público. Material didático, disponível na Sala de 
Aula Virtual, da Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, 2022.
TEIXEIRA, Carla Noura. Manual de Direito Internacional Público e Privado. São Paulo: Saraiva, 2020.
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