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22 
INSTITUTOS PRELIMINARES DA 
RECUPERAÇÃO E DA FALENCIA 
A Lei n. 11.101/2005 inicia a regulamentação do tratamento dispensado 
aos empresários em crise econômico-financeira, estabelecendo disposições 
preliminares, as quais orientarão, de forma comum, o objeto, os sujeitos 
atingidos, a competência, as suspensões e a participação do Ministério 
Público nos processos de falência e de recuperação judicial, o que 
passamos a analisar. 
22.1. LEGISLAÇÃO E OBJETO 
22.1.1. Os procedimentos regulados pela Lei n. 11.101/2005 
A Lei n. 11.101/2005, que regula a recuperação judicial, a recuperação 
extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, trata 
os sujeitos por ela alcançados, simplesmente, com uma expressão: devedor. 
É o que estatui o seu art. 1º: “Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a 
recuperação extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade 
empresária, doravante referidos simplesmente como devedor”. Os objetos 
da Lei n. 11.101/2005, então, são os seguintes: 
Recuperação Extrajudicial; 
Recuperação Judicial; 
Recuperação Judicial Especial para Microempresas ou Empresas de 
Pequeno Porte; e 
Falência. 
Os sujeitos e os objetos da Lei n. 11.101/2005 podem ser esquematizados 
assim: 
“re Ordinária | 
. =| Recuperação judicial | ESET ue APENAS EMPRESA RIO —» Especial para ME e EPP | 
E SOCIEDADE a a 4 ê 
EMPRESÁRIA, | Falência ) 
pecado e Consensual ) 
VERO “+| Recuperação extrajudicial | o, 
E e Majoritária | 
22.1.2. A Lei n. 11.101/2005 e a aplicação subsidiária do CPC e do CPP
A Lei n. 11.101/2005 é complementada pelo CPC de 1973! e pelo CPP, 
e complementa os regimes estatuídos para a intervenção e para a 
liquidação extrajudicial. 
Na Lei n. 11.101/2005, podemos conferir o que se estatuiu a respeito: 
Art. 188. Aplicam-se subsidiariamente as disposições do Código de Processo Penal, no que não 
forem incompatíveis com esta Lei. 
Art. 189. Aplica-se a Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973 — Código de Processo Civil, no que 
couber, aos procedimentos previstos nesta Lei. 
Art. 197. Enquanto não forem aprovadas as respectivas leis específicas, esta Lei aplica-se 
subsidiariamente, no que couber, aos regimes previstos no Decreto-lei n. 73, de 21 de novembro 
de 1966, na Lei n. 6.024, de 13 de março de 1974, no Decreto-lei n. 2.321, de 25 de fevereiro de 
1987, e na Lei n. 9.514, de 20 de novembro de 1997. 
O CPC vigente, Lei n. 13.105/2015, ao revogar parcialmente e substituir 
os regramentos da Lei n. 5.869/1973, poderá e deverá ser utilizado 
subsidiariamente, seja no rito da recuperação judicial, seja no rito da 
falência. Uma interpretação lógico-sistemática do ordenamento jurídico 
impõe tal raciocínio, buscando-se o diálogo e a compatibilização das 
normas especiais do microssistema criado pela Lei n. 11.101/2005 e as 
normas processuais do atual CPC que complementem ou se demonstrem 
hábeis a superar eventual lacuna do referido microssistema. Tal diálogo será 
salutar e se fundamenta na coexistência de regimes jurídicos paralelos, 
como expressamente prevê a Lei de Introdução das Normas do Direito 
Brasileiro (art. 2º, 8 2): “A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou 
especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior”. 
Exemplo de tal diálogo será a possibilidade de extensão do manejo do 
agravo de instrumento — aplicável ao rito das execuções singulares e aos 
processos de inventário — também ao rito recuperacional e falimentar, 
conforme orientação do Enunciado 69 da I Jornada de Estudos do Conselho 
da Justiça Federal sobre o CPC: “A hipótese do art. 1.015, parágrafo único, 
do CPC abrange os processos concursais, de falência e recuperação”. 
22.1.3. A ultra-atividade do Decreto-lei n. 7.661/45 
No que se refere à legislação falimentar, é oportuno salientar, ainda, que 
a Lei n. 11.101/2005 revogou o Decreto-lei n. 7.661/45, todavia manteve 
vigentes dispositivos que permitem a conclusão de concordatas iniciadas 
em sua vigência, bem como a eventual conversão de concordata em 
recuperação judicial, ou, ainda, a continuidade e o encerramento de
falências decretadas em sua vigência. 
Portanto, a revogada Lei de Falências (Decreto-lei n. 7.661/45) operará o 
fenômeno da ultra-atividade para alcançar procedimentos iniciados em sua 
vigência. Por sua vez, a Lei n. 11.101/2005 será aplicada às falências 
decretadas na sua vigência, mesmo que requeridas na vigência da lei 
anterior. Isso é o que estatui a regra de transição: 
Art. 192. Esta Lei não se aplica aos processos de falência ou de concordata ajuizados 
anteriormente ao início de sua vigência, que serão concluídos nos termos do Decreto-lei n. 7.661, 
de 21 de junho de 1945. 
No que concerne ao revogado instituto da concordata, o mesmo artigo 
continuou o regramento de transição: 
Art. 192. (...) 
8 1º Fica vedada a concessão de concordata suspensiva nos processos de falência em curso, 
podendo ser promovida a alienação dos bens da massa falida assim que concluída sua 
arrecadação, independentemente da formação do quadro geral de credores e da conclusão do 
inquérito judicial. Isso porque não há mais a necessidade de oportunizar ao falido prazo último 
para tentar se recuperar, pois a Lei n. 11.101/2005 não permite nenhuma modalidade de 
recuperação suspensiva, ou seja, depois de decretada a falência já não se pode conceder outra 
oportunidade de manter-se o devedor à frente dos seus negócios. 
82º A existência de pedido de concordata anterior à vigência desta Lei não obsta o pedido de 
recuperação judicial pelo devedor que não houver descumprido obrigação no âmbito da 
concordata, vedado, contudo, o pedido baseado no plano especial de recuperação judicial para 
microempresas e empresas de pequeno porte a que se refere a Seção V do Capítulo II desta Lei. 
Esse parágrafo permite a recuperação incidental à concordata ou, ainda, a 
convolação dela em recuperação. 
8 3º No caso do 8 2º deste artigo, se deferido o processamento da recuperação judicial, o processo 
de concordata será extinto e os créditos submetidos à concordata serão inscritos por seu valor 
original na recuperação judicial, deduzidas as parcelas pagas pelo concordatário. 
Sendo o caso de conversão de concordata em recuperação, os credores 
concordatários restabelecerão seu crédito originário, descontando-se o que 
já tiverem pago no curso da concordata, a qual será extinta. 
Os processos de falência iniciados antes da vigência da Lei n. 
11.101/2005 têm sua tramitação regulada no último parágrafo do mesmo 
art. 192: 
8 4º Esta Lei aplica-se às falências decretadas em sua vigência resultantes de convolação de 
concordatas ou de pedidos de falência anteriores, às quais se aplica, até a decretação, o Decreto- 
lei n. 7.661, de 21 de junho de 1945, observado, na decisão que decretar a falência, o disposto no 
art. 99 desta Lei.
Esquematizando a aplicação das duas leis no tempo: 
Falências requeridas 
e decretadas em sua vigência, 
até o seu encerramento 
re 
DECRETO-LEI HM. 7.665 Falências requeridas em sua 
E = vigência, até a decretação 
ei sob a égide da LRE 
| Concordatas iniciadas em sua 
vigência até o encerramento 
A todas as falências decretadas | 
a partir da sua vigência 
(junho de 2005), mesmo as 
| requeridas anteriormente 
LEIN. 11,101/2005, LHE À todas as recuperações judiciais | | Du extrajudiciais, mesmo as 
APLICARSE-A: decorrentes de concordata 
convolada |] 
às concordatas ou recuperações | 
judiciais corvoladas em falência 
+ 
Esquematizando a legislação aplicável: 
CRISE FINANCEIRA DA EMPRESA — REGIME JURÍDICO APLICÁVEL 
Legislação Aplicação 
Lei n. 11.101/2005 Às falências decretadas na sua vigência (inclusive as requeridas 
anteriormente) e às concordatas convoladas em falência ou em recuperação 
judicial. 
Decreto-lei n. 7.661/45 Às concordatas decretadas na sua vigência, até o encerramento; e às 
falências requeridas e decretadas na sua vigência. 
CRE Subsidiariamente.Plano. Com o programa (PROER), cerca de oito bilhões de reais 
foram destinados a sanear as instituições deficitárias, as quais, após o 
reequilíbrio, foram alienadas a outras instituições financeiras. Naquele 
momento, houve uma maior regulamentação do setor, visando a redução de 
riscos sistêmicos e demasiada exposição dos bancos a investimentos 
instáveis. 
Recentemente, em 2009, uma crise financeira abalou os bancos 
internacionais. Trilhões de dólares foram gastos para socorrer bancos, 
segurados e outras instituições, e fala-se em melhor regulamentação do 
setor financeiro. No Brasil, a crise quase não foi sentida. Todo esse 
investimento público utilizado para socorrer empresas do setor financeiro 
demonstra como o mundo considera importante a existência, a atuação e a 
preservação dessas empresas, hoje tidas como indispensáveis ao 
funcionamento da economia. 
As empresas excluídas pelo inc. II, do art. 2º, da Lei n. 11.101/2005, 
serão submetidas a um regime especial de intervenção e liquidação 
extrajudicial ou à administração especial temporária. Existem normas 
próprias estabelecendo como o Estado promoverá sua atuação ante a crise 
econômico-financeira delas, conferindo-lhes discricionariedade na forma 
de gerir tal crise e permitindo evitar a extinção da empresa. 
É oportuno lembrar que o art. 197, da Lei n. 11.101/2005, estabelece a 
aplicação subsidiária da legislação falimentar enquanto não forem 
aprovadas leis específicas tratando do processo de liquidação e intervenção 
extrajudicial das sete atividades previstas em seu art. 2º, inc. II. Daí decorre 
a exclusão relativa das sete atividades da aplicação da LRE, ao menos 
enquanto não se aprovam as legislações específicas. 
Assim dispõe o art. 197, da Lei n. 11.101/2005: “Enquanto não forem 
aprovadas as respectivas leis específicas, esta Lei aplica-se 
subsidiariamente, no que couber, aos regimes previstos no Decreto-lei n. 
73, de 21 de novembro de 1966, na Lei n. 6.024, de 13 de março de 
1974, no Decreto-lei n. 2.321, de 25 de fevereiro de 1987, e na Lei n. 
9.514, de 20 de novembro de 1997”. Cada uma das leis citadas refere-se a 
um dos tipos de empresas excluídas. Outras deixaram de ser citadas, mas
serão tratadas nas seções seguintes. 
22.3.3.1. Instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito e consórcio 
As instituições financeiras têm sua atividade definida na Lei n. 4.595/64, 
a qual lhes atribui o exercício profissional de operações de crédito como 
atividade principal. Já o art. 39, da Lei n. 11.795/2008, estabelece quais são 
as instituições financeiras do sistema legal brasileiro. São elas: os bancos; 
as distribuidoras e corretoras de títulos e valores mobiliários; as casas 
de câmbio; as operadoras de leasing; e as administradoras de consórcio. 
A intervenção e a liquidação extrajudicial das referidas instituições 
financeiras encontram-se regulamentadas pela Lei n. 6.024/74, que 
equipara o Banco Central ao juiz da falência, e o interventor/liquidante ao 
síndico da falência (nos termos do Decreto-lei n. 7.661/45). O Decreto-lei 
n. 2.321/87 estabeleceu, ainda, o RAET — Regime de Administração 
Especial Temporária. 
As instituições financeiras submetidas ao Regime de Administração 
Especial Temporária não podem ter sua falência requerida, nem 
subsidiariamente, todavia podem ter o referido regime convertido em 
liquidação extrajudicial. 
Havendo intervenção extrajudicial, o interventor poderá requerer a 
falência se: 
verificar que o ativo não é suficiente para pagar ao menos a metade 
dos créditos quirografários; 
entender não seja conveniente a liquidação extrajudicial; ou 
a complexidade dos negócios ou a gravidade dos fatos apurados 
recomendarem tal medida judicial. 
Havendo liquidação extrajudicial direta ou decorrente de intervenção 
ou de RAET convertida em liquidação, o liquidante poderá requerer a 
falência se: 
verificar que o ativo não é suficiente para pagar ao menos a metade 
dos créditos quirografários; 
houver fundados indícios de crimes falimentares. 
Deve-se considerar, ainda, que, se o Banco Central do Brasil, na sua 
atividade fiscalizadora das empresas financeiras, não promover um dos
regimes especiais diante da crise econômico-financeira de uma instituição 
financeira, isso permitirá a qualquer credor o requerimento de falência, 
bem como a sua decretação, em face do princípio constitucional da 
inafastabilidade da jurisdição, insculpido no art. 5º, inc. XXXV, da 
Constituição Federal, o qual dispõe: “a lei não excluirá da apreciação do 
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Nessa hipótese, o juiz deverá, 
ao receber a petição inicial, provocar o Banco Central, o qual poderá 
decretar um dos regimes especiais, obstando o prosseguimento do pedido 
de falência. Caso o Banco Central não se manifeste, o feito prosseguirá 
com a possível decretação da falência, ao final, pois, nesse caso, se a 
autarquia federal “em sua função fiscalizadora, não quis decretar nenhum 
dos regimes especiais, há um claro sinal de que aquela instituição financeira 
não merece esforços de recuperação por parte do Estado”*. 
Por fim, é importante esclarecer que a decretação de intervenção ou de 
liquidação extrajudicial limita a legitimidade para o pedido de falência às 
pessoas do interventor ou do liquidante, ambos nomeados pelo Banco 
Central. Em razão disso, enquanto estiverem os regimes extrajudiciais se 
processando, não se poderá requerer a falência da instituição financeira. 
Eventual pedido nesse sentido deverá levar ao indeferimento da petição 
inicial, sob o fundamento de ausência de uma das condições da ação, a 
legitimidade do autor, ou, ainda, pela ausência de interesse de agir, uma vez 
que a decisão judicial não terá qualquer efeito prático, pois teria que se 
aguardar o deslinde da intervenção e liquidação extrajudicial, ou de regime 
de administração especial temporária. 
Diante desse quadro de possibilidades, podemos sistematizar o que 
ocorrerá a uma instituição financeira, em caso de crise econômico- 
financeira:
+ 
nmed À EA e 
': Administração mM BA liquidação Ê Conversão em 
ano ojos judicial falência | 
Conversão em 
liquidação 
r y = a extrajudicial 
E Intervenção | | 4 
extrajudicial ————, 
INSTITUIÇÕES || Conversão em 
FINANCEIRAS falência 
Liquidação Conversão em 
extrajudicial falência 
a Falência | 
No que se refere à possibilidade de recuperação judicial ou extrajudicial, 
a Lei n. 11.101/2005, no seu art. 198, impôs a vedação absoluta de 
utilização de referidos procedimentos não somente pelas instituições 
financeiras, mas por todas as atividades excluídas por seu art. 2º, inc. II. 
Preceitua o art. 198, da LRE: “Os devedores proibidos de requerer 
concordata nos termos da legislação específica em vigor na data da 
publicação desta Lei ficam proibidos de requerer recuperação judicial ou 
extrajudicial nos termos desta Lei”. O regime jurídico próprio das 
instituições financeiras e os regimes jurídicos das demais empresas 
excluídas da Lei n. 11.101/2005 excluem expressamente a possibilidade de 
requerimento de concordata, o que as impede de requerer recuperação em 
qualquer das suas modalidades. Assim, incabível o instituto da recuperação 
para as atividades previstas no art. 2º, da Lei n. 11.101/2005. 
Importante destacar, quanto ao tema, que as empresas de transporte 
aéreo, apesar da vedação expressa do art. 198, da Lei n. 11.101/2005, foram 
excepcionadas pelo art. 199 da mesma lei. Destarte, apesar de haver 
vedação expressa quanto ao pedido de concordata de empresas aéreas, O 
citado art. 199 permite que elas se socorram do instituto da recuperação. 
À época da aprovação da Lei n. 11.101/2005, as maiores empresas aéreas 
do País passavam por crise econômico-financeira, o que influenciou o texto 
de tal legislação, para possibilitar alternativas à preservação daquelas 
empresas, como a VASP e a VARIG. Dispõe o art. 199, da Lei n.11.101/2005: “Não se aplica o disposto no art. 198 desta Lei às sociedades a 
que se refere o art. 187 da Lei n. 7.565, de 19 de dezembro de 1986”. 
Os consórcios foram recentemente regulados pela Lei n. 11.795/2008. A 
referida norma manteve a referência às regras de liquidação e intervenção 
E
 
extrajudiciais já vigentes, ou seja, não alterou a forma de abordagem de 
eventual crise econômico-financeira de empresas de consórcios. A referida 
lei faz duas menções ao regime especial de abordagem do consórcio. 
Confira-se o que afirma o art. 39: “A administração especial e a liquidação 
extrajudicial de administradora de consórcio são regidas pela Lei n. 6.024, 
de 13 de março de 1974, pelo Decreto-lei n. 2.321, de 25 de fevereiro de 
1987, pela Lei n. 9.447, de 14 de março de 1997, e por legislação 
superveniente aplicável às instituições financeiras, observado o disposto 
nesta Lei”. Sobre eventual decretação de regime de administração 
temporária, determinou o art. 40: “A decretação da administração especial 
temporária ou da liquidação extrajudicial da administradora de consórcio 
não prejudicará a continuidade das operações dos grupos por ela 
administrados, devendo o conselho diretor ou o liquidante dar prioridade ao 
funcionamento regular dos grupos”. 
22.3.3.2. Entidades de previdência complementar 
Encontram-se reguladas na Lei Complementar n. 109/2001, que trata 
das entidades de previdência privada abertas e fechadas. Ambas têm a 
finalidade de administrar e executar planos de benefícios previdenciários, 
captando recursos dos seus clientes no intuito de garantir-lhes uma 
complementação de renda ou uma renda equivalente aos proventos da 
aposentadoria. 
A Lei n. 11.101/2005 trata das entidades de previdência complementar 
abertas, uma vez que as fechadas estão completamente excluídas do 
conceito de empresa, até porque têm que adotar a forma de associação ou 
fundação, fugindo completamente ao âmbito de aplicação da referida lei. 
As entidades fechadas são aquelas acessíveis apenas a um grupo definido 
de pessoas, como empregados das empresas que instituíram o plano de 
previdência ou de servidores públicos federais, estaduais, municipais ou 
autárquicos. Não há aqui o objetivo de lucro, o que afasta a condição de 
empresário ou de sociedade empresária. O art. 47, da Lei Complementar n. 
109/2001, exclui, expressamente, a incidência de falência ou recuperação 
(concordata) sobre tais entidades. 
As entidades fechadas serão submetidas à liquidação ou intervenção 
extrajudicial e a regime de administração especial, nos termos dispostos 
na Lei n. 12.154/2009. Elas serão fiscalizadas pela PREVIC —
Superintendência Nacional de Previdência Complementar. 
No que se refere às entidades de previdência complementar abertas, 
aquelas que oferecem renda ou complementação dela ao público em geral, 
vendendo “aposentadoria privada”, encontramos uma típica atividade 
empresarial, com fins lucrativos, portanto. Elas devem adotar a forma de 
sociedade anônima, nos termos do art. 36, da Lei Complementar n. 
109/2001. A elas são aplicadas as disposições da Lei n. 11.101/2005, 
subsidiariamente. 
A fiscalização delas é desempenhada pela Superintendência de Seguros 
Privados — SUSEP, a qual poderá promover a intervenção e a liquidação 
extrajudicial nas entidades de previdência complementar abertas, o que 
justificaria a exclusão de aplicação da Lei n. 11.101/2005. Todavia, tal 
exclusão deve ser tida como relativa, pelos mesmos motivos que já 
apresentamos ao estudarmos a situação das instituições financeiras, até 
porque o art. 62, da Lei Complementar n. 109/2001, determina a aplicação 
das normas relativas à liquidação e intervenção extrajudicial das 
instituições financeiras às entidades de previdência complementar e, 
portanto, possibilita a decretação da falência. 
Esquematizando a abordagem das entidades de previdência privada, 
temos o seguinte diagrama: 
dplica-se a Lei Complementar m. 108/2001 — 
—+ a qual impediria a aplicação da LRE 
somente às entidades fechadas) 
ENTIDADES DE Todavia, por força doart 62 daquela Lei 
PREVIDÉNCIA Complementar, aplica-se, quanto à intervenção 
PRIVADA ABERTAS | e à liquidação extrajudicial, o regime das 
instituições financeiras 
[ Por força daregra anterior, a falência prevista 
+ na LRE poderá ser decretada, na forma 
estudada quanto às instituições financeiras 
22.3.3.3. Sociedade operadora de plano de assistência à saúde 
O art. 1º, inc. I, da Lei n. 9.656/98, define as operadoras de planos de 
assistência à saúde, afirmando que desempenham a “prestação continuada 
de serviços ou cobertura de custos assistenciais a preço pré ou pós- 
estabelecido, por prazo indeterminado, com a finalidade de garantir, sem 
limite financeiro, a assistência à saúde, pela faculdade de acesso e 
atendimento por profissionais ou serviços de saúde, livremente escolhidos,
integrantes ou não de rede credenciada, contratada ou referenciada, visando 
a assistência médica, hospitalar e odontológica, a ser paga integral ou 
parcialmente às expensas da operadora contratada, mediante reembolso ou 
pagamento direto ao prestador, por conta e ordem do consumidor”. 
A fiscalização da referida atividade é incumbência da ANS — Agência 
Nacional de Saúde —, que busca investigar e monitorar o equilíbrio 
econômico-financeiro das operadoras, justamente porque o objeto da 
prestação dos serviços envolve a vida e a saúde humanas. 
É preciso, contudo, desde já, observar que existem planos de saúde que 
adotam a forma associativa, e não a empresarial. Nesses casos, nem 
sequer se cogita da aplicação da Lei n. 11.101/2005, uma vez que não seria 
empresarial a atividade desempenhada por tais planos, bastante comuns 
entre servidores do Estado, que se organizam na forma associativa ou 
fundacional. Nesses casos, seria cabível a insolvência civil, como forma 
última de abordagem de eventual crise econômico-financeira. 
Nos termos do art. 24, da Lei n. 9.656/98, verificando a insuficiência de 
garantias do equilíbrio patrimonial, evidenciado por anormalidades 
econômico-financeiras ou administrativas graves, capazes de colocarem em 
risco a continuidade e a qualidade dos serviços que prestam à saúde, 
poderá a Agência Nacional de Saúde determinar: 
a alienação da carteira; 
o regime de direção fiscal ou técnica, por prazo superior a 365 dias; 
a liquidação extrajudicial. 
Diante das disposições supra, podemos concluir que a Lei n. 
11.101/2005 não será automaticamente aplicada às operadoras de planos 
de saúde empresariais. Aliás, no que se refere à possibilidade de 
recuperação, de forma alguma poderá ser aplicada. 
Todavia, quanto à possibilidade de decretação da falência, o art. 23, da 
Lei n. 9.656/98, admite-a. Para tal hipótese única, devem concorrer os 
seguintes pressupostos, durante o processo de liquidação extrajudicial 
iniciado pela ANS: 
verificado que o ativo da operadora em liquidação não é suficiente para 
o pagamento de pelo menos metade dos créditos quirografários; 
verificado que o ativo da operadora em liquidação não é suficiente para
custear ao menos as despesas administrativas e operacionais do 
processamento da liquidação extrajudicial; 
houver indícios da prática de crime falimentar; ou 
houver autorização da ANS para que o liquidante requeira a falência. 
Esquematizando 
l Desde que a operadora esteja em 
liquidação extrajudicial 
[ad Desde que o liquidante seja autorizado 
pela ANS a requerer falência 
APLICAÇÃO DA LRE AS , , 
OPERADORAS DE PLANO DER Se o ativo não for suficiente para pagar 
DE SAUDE (APENAS pelo menos 50% dos créditos quirografários 
FALÊNCIA) 7 
| Sewativo não for suficiente para pagar 
pelo menos as despesas administrativas 
da liquidação extrajudicial 
—s 
Se houver indícios da prática de 
crime falimentar 
22.3.3.4. Sociedade seguradora 
É aquela que mais se aproxima das instituições financeiras no que se 
refere aos riscosde sua atividade. Assim como as demais atividades 
excluídas pelo art. 2º, inc. II, da Lei n. 11.101/2005, jamais será aplicada a 
recuperação judicial ou extrajudicial a ela, em face da combinação dos 
arts. 197 e 198 da mesma lei. 
O risco da atividade das seguradoras é um paradoxo, pois, ao passo que 
visam cobrir eventuais infortúnios em toda sorte de relações jurídicas, desde 
aquelas familiares até as mais sofisticadas relações empresariais, devem 
inspirar confiança de que serão capazes da cobrir os valores segurados. 
O Decreto-lei n. 73/66 cria regimes especiais para tratar as eventuais 
crises econômico-financeiras das seguradoras, prevendo a possibilidade de 
decretação da falência. 
Os regimes especiais, no caso das seguradoras, seguem um formato 
progressivo. 
Primeiro. A SUSEP — Superintendência de Seguros Privados —, 
verificando a insuficiência de cobertura das reservas técnicas ou, ainda, má 
situação econômico-financeira, poderá determinar: 
intervenção extrajudicial na sociedade seguradora;
medidas especiais de fiscalização na sociedade seguradora. 
Segundo. Caso as medidas anteriores não produzam resultados 
satisfatórios, capazes de reverter o quadro identificado, a SUSEP 
encaminhará proposta de cassação da autorização de funcionamento da 
sociedade seguradora ao CNSP — Conselho Nacional de Seguros Privados. 
Ante a proposta, poderão ser adotadas as seguintes medidas: 
se acatada a proposta, a liquidação poderá ser promovida 
voluntariamente pela sociedade seguradora ou pela SUSEP; 
se a própria sociedade seguradora decidir, em assembleia, pela cessação 
das suas atividades, a liquidação poderá ser promovida voluntariamente 
ou pela SUSEP; 
intervenção extrajudicial na sociedade seguradora, determinada pelo 
CNSP; 
Regime de Administração Especial Temporária — RAET, nos termos 
do art. 3º, da Lei n. 10.190/2001. 
Terceiro. O art. 26, do Decreto-lei n. 73/66, dispõe que, durante a 
liquidação extrajudicial das sociedades seguradoras, o liquidante poderá 
requerer a falência delas, caso fique constatado que: 
o ativo da seguradora em liquidação não é suficiente para o pagamento 
de pelo menos metade dos créditos quirografários; 
há indícios da prática de crime falimentar. 
Há doutrinadores que entendem que, no caso de omissão da SUSEP ou 
do CNSP, seria cabível o pedido de falência pelos credores prejudicados 
em consequência do não recebimento de suas apólices. Não é esse o 
entendimento da maioria, todavia, em uma interpretação conforme a 
Constituição, como já analisado quando do estudo das instituições 
financeiras: deve-se levar em conta o princípio constitucional da 
inafastabilidade da jurisdição, insculpido no art. 5º, inc. XXXV, da 
Constituição Federal, o qual dispõe: “a lei não excluirá da apreciação do 
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Nessa hipótese, o juiz deverá, 
ao receber a petição inicial de falência, provocar a SUSEP e o CNSP, os 
quais poderão decretar um dos regimes especiais, obstando o 
prosseguimento do pedido de falência. Caso tais órgãos não se manifestem, 
o feito prosseguirá com a possível decretação da falência.
Esquematizando: 
Desde que a seguradora astefa am | 
liquidação extrajudicial 
[ Se o ativo não for suficiente para pagar ] 
—+ pelomenos 50% dos créditos quirografários, 
APLICAÇÃO DA LRE desde que requerida pelo liquidante 
AS SODIEDADES semsfi É a 
SEGURADORAS — ERES: = = E 
(APENAS FALÊNCIA) Se houver indícios da prática de crime 
me falimentar, desde que requerida 
pelo liquidante 
mM Requerida pelo credor prejudicado, com | 
base no art. 5º, inc. 50004 da Constituição 
22.3.3.5. Sociedade de capitalização 
Tudo o que estudamos sobre as sociedades seguradoras aplica-se às 
sociedades de capitalização, isso porque o Decreto-lei n. 261/67 faz 
expressa referência à aplicação do Decreto-lei n. 73/66 às sociedades de 
capitalização. Assim, os regimes especiais das sociedades seguradoras 
consistentes nas fiscalizações especiais, intervenção e liquidação voluntária, 
encerramento e liquidação extrajudicial alcançam, também, as sociedades 
de capitalização. 
As sociedades de capitalização atuam contratando com clientes que lhes 
entregam uma prestação pecuniária mensal durante certo período, 
obrigando-se a devolver-lhes, ao final do prazo pactuado, o montante 
acumulado acrescido de correção monetária e juros. A devolução poderá 
ocorrer em data anterior, com desconto sobre o montante acumulado. Pode 
ser instituído, ainda, um sorteio periódico de clientes, garantindo-lhes a 
devolução antecipada e valores superiores ao saldo acumulado. O risco 
dessa atividade encontra-se na ausência de uma contraprestação imediata, 
o que implicaria um prejuízo total para o cliente consumidor, pois não 
existe qualquer forma de assegurar-lhe a devolução do saldo acumulado, em 
caso de falência. 
A falência das sociedades de capitalização poderá ser decretada naquelas 
mesmas hipóteses cabíveis para as sociedades seguradoras e, também, a 
nosso ver, a pedido dos credores, em respeito ao princípio da 
inafastabilidade da jurisdição. 
Esquematizando:
[ Desde que a capitalizadora esteja em 
liquidação extrajudicial 
[ Se o ativo não for suficiente para pagar 
-— pelo menos 50% dos créditos quirografários, 
APLICAÇÃO DA LRE AS | desde que requerida pelo liquidante 
SOCIEDADES DE , 
GAPENAS FA LÉNCIA) Se houver indícios da prática de crime 
om falimentar, desde que requerida 
pelo liquidante 
J Requerida pelo credor prejudicado, com 
base no art. 5º, inc 55004 da Constituição 
22.4. COMPETÊNCIA 
A competência para processar e julgar os procedimentos previstos na Lei 
n. 11.101/2005 deve observar a matéria cível e a criminal previstas na 
referida legislação. Diferentemente da lei anterior, a LRE estabelece 
competências distintas para o processo civil e para o criminal. Na verdade, 
a intenção do legislador apontou para a necessidade de juízes distintos 
atuando nos processos cíveis e criminais da lei referida, enquanto a lei 
anterior estabelecia a competência do juízo cível até o recebimento da 
denúncia no processo criminal. 
A atuação dos juízos cíveis na falência e nas recuperações está definida 
no art. 3º, da Lei n. 11.101/2005, o qual estabelece que “é competente para 
homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a recuperação 
judicial ou decretar a falência o juízo do local do principal estabelecimento 
do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil”. 
Já a competência criminal está determinada pelo art. 183, da Lei n. 
11.101/2005, nos seguintes termos: “compete ao juiz criminal da jurisdição 
onde tenha sido decretada a falência, concedida a recuperação judicial ou 
homologado o plano de recuperação extrajudicial, conhecer da ação penal 
pelos crimes previstos nesta Lei”. 
Em razão da matéria, certamente é o Juízo Cível o competente para 
apreciar as matérias não penais previstas na Lei n. 11.101/2005. Em razão 
do território, é o do local onde se encontra o principal estabelecimento da 
empresa. 
No que respeita à matéria criminal, a definição quanto ao território 
depende da identificação do juízo cível. Assim, serão competentes para 
processar e julgar os crimes falimentares os juízes criminais do local onde 
foi:
decretada a falência; 
concedida a recuperação judicial; ou 
homologado plano de recuperação extrajudicial. 
A Justiça Estadual será a competente para o processo e julgamento das 
recuperações, das falências das empresas e dos crimes falimentares. É essa 
a consequência do que determina o art. 109, inc. I, parte final, da 
Constituição Federal, texto que determina a competência dos Juízes 
Federais para o processo e julgamento de todas as causas em que haja 
interesse da União, excluindo expressamente o processo de falência. Não 
fosse tal exclusão expressa, a Justiça Federal seria competente para todos os 
processos de falência, uma vez que, tanto pelos créditosprevidenciários 
quanto pelos demais tributos federais, certamente haveria interesse da 
União em todos os processos falimentares. O mesmo interesse da União 
não se verificaria quanto à Recuperação Judicial ou Extrajudicial, uma vez 
que os créditos tributários não são atingidos nos respectivos processos, 
como veremos posteriormente. 
Destarte, podemos concluir, inicialmente, que a competência para 
processar e julgar as recuperações e as falências previstas na Lei n. 
11.101/2005 é do juiz estadual cível do local onde estiver o principal 
estabelecimento da empresa, ao passo que a competência para processar e 
julgar os crimes falimentares será do juiz estadual criminal do local onde 
foram concedidas as recuperações ou decretada a falência. É possível que as 
leis de organização judiciária estaduais criem juízos especializados, 
excluindo a competência cível. Isso ocorre tanto na capital do Rio de 
Janeiro, onde existem varas empresariais, quanto na capital de São Paulo, 
onde atuam varas falimentares. 
No Distrito Federal, ocorre uma situação ímpar, pois a lei de 
organização judiciária, que é federal, em face de a justiça distrital compor o 
Poder Judiciário da União, determina que haja apenas uma Vara de 
Falências e Recuperações Judiciais em todo o Distrito Federal, a qual será 
competente para processar e julgar as falências, recuperações e crimes 
falimentares. Assim, no Distrito Federal, o mesmo juiz cível será 
competente também para processar e julgar os crimes falimentares. Apesar 
de tal norma contrariar a vontade do legislador da Lei n. 11.101/2005, não 
nos parece haver qualquer inconstitucionalidade no dispositivo distrital,
diante da especialidade da lei de organização judiciária em face da LRE. Na 
verdade, a Lei n. 11.101/2005 cria um critério de distribuição da 
competência, enquanto as leis de organização judiciária locais estabelecem 
as varas competentes para as matérias cíveis e criminais. 
Até este momento, podemos esquematizar, assim, a competência para 
julgamento dos processos previstos na Lei n. 11.101/2005: 
al Juízes estaduais, 
sempre | 
Do local onde | 
+ estiver o principal a gs 
| estabelecimento -» Varas Clveis | 
Julzos [a 
Dao |,| q fatênciae 
ven torcãos PRM 
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Recuperações | Empresariais 
[| Varas de 
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Crimes Êo o Naras 
Falimentares | Criminais 
F 
Le 
à Varas de competência | 
Falência, 
* Recuperações e + geral, por ca E 
Crimes Falimentares ILOJDF) Done rara 
, única no município 
A Lei n. 11.101/2005 não define o que seria principal estabelecimento 
para efeito de delimitar o juízo cível competente para processar a falência e 
a recuperação daquelas empresas que tenham mais de um estabelecimento. 
Do mesmo modo, não define o que seria principal filial para aquelas 
empresas com sede no exterior. 
Há vários critérios para identificar o que seria “principal 
estabelecimento”, como: 
22.4.1. Cível 
a sede estatutária ou contratual; 
o local onde houver a maior concentração de atividades; 
o local onde estiver a administração; 
o local onde estiver a principal atividade; 
o local onde estiver a produção, entre outros. 
No direito italiano, optou-se pelo critério da sede principal. No francês, 
a sede declarada pelo empresário. Na Argentina, o lugar da 
administração.
No Brasil, o critério de definição está em construção. 
Isso porque, no caso que envolveu a falência da Construtora Encol, no 
fim da década de 1990, o STJ, julgando conflito de competência entre os 
judiciários do Distrito Federal e de Goiás, decidiu que seria competente a 
justiça goiana, uma vez que a administração da empresa de quem se 
pedia a falência estava situada no estado de Goiás, de modo que uma vara 
cível de Goiânia foi declarada competente e até hoje processa aquela 
falência, apesar de o maior volume de atividades concentrar-se no 
Distrito Federal e em São Paulo. A mesma solução foi adotada para o 
pedido de concordata das Fazendas Boi Gordo, empresa que tinha sua 
principal atividade em Mato Grosso e administração em São Paulo. O STJ 
decidiu pela competência da justiça paulista (CC-STJ-36.349/SP, Ministro 
Fernando Gonçalves, Publicação no DJ 10/11/2003). 
Já no caso que envolveu a falência da SHARP do Brasil, o critério 
utilizado foi aquele que considerou o local do maior volume de atividades 
da empresa, no caso, no estado do Amazonas. O inusitado julgamento do 
STJ desconsiderou concordata que já se processava em São Paulo havia 
anos. Em São Paulo, estava concentrada toda a atividade administrativa 
da SHARP, enquanto, na zona franca de Manaus, encontrava-se a linha de 
produção daquela indústria. Assim, o critério utilizado aqui foi o do maior 
volume de atividade econômica, atividade de produção, ou principal 
atividade (STJ, CC 37.736/SP, Min. Nancy Andrighi, DJ 16/08/2004, p. 
130), desconsiderando-se o local da administração. Confira-se parte da 
ementa do referido julgamento: “O juízo competente para processar e julgar 
pedido de falência e, por conseguinte, de concordata é o da comarca onde se 
encontra “o centro vital das principais atividades do devedor”, conforme o 
disposto no art. 7º, da Lei de Falências (Decreto-lei n. 7.661/45), e o firme 
entendimento do Superior Tribunal de Justiça a respeito do tema. — A 
competência do juízo falimentar é absoluta”. 
Todavia, tem prevalecido na jurisprudência o entendimento de que 
principal estabelecimento é o local onde a empresa tem a sua 
administração (STJ, CC 21.775/DF, Min. Bueno de Souza, DJ 04/06/2001; 
CC 21.899/MG, Min. Sálvio de Figueiredo, DJ 08/09/1998). Entendemos 
que seja essa a melhor orientação, uma vez que a maior parte das 
diligências posteriores à decretação da falência ou concessão da
recuperação contará com a participação do devedor empresário, e 
demandará a comprovação documental, bem como a movimentação de 
contas bancárias e aferições contábeis. Sendo o Brasil um país de vasta 
dimensão geográfica, a proximidade do juízo falimentar da sede dos 
negócios da empresa, da real sede administrativa, facilitará a atuação do 
administrador judicial, de seus peritos e de avaliadores, além dos próprios 
atos dos oficiais de justiça e do Ministério Público. Não se pode olvidar, 
também, dos interesses dos credores, em sua maior parte contratados no 
local da administração da empresa. 
No mesmo acórdão que julgou o conflito de competência da SHARP 
(STJ, CC 37.736/SP, Min. Nancy Andrighi, DJ 16/08/2004, p. 130), o voto 
vencido do Ministro Antônio de Pádua Ribeiro encampou o entendimento 
de que o principal estabelecimento é o lugar onde se encontra a 
administração da empresa que tenha mais de um estabelecimento. 
Confiram-se os contundentes argumentos de parte do voto, os quais 
esclarecem os principais pontos da polêmica e o entendimento do STF e do 
STJ: 
(...) Havendo, portanto, pedido de concordata aceito, mediante decisão que não foi objeto de 
qualquer impugnação e, por conseguinte, com trânsito em julgado, não tendo sido 
desconstituída, não vejo como aceitar-se o pedido de falência sem ofender o art. 4º, V, do Decreto- 
lei n. 7.661/45 (...). Não anulados os atos decisórios proferidos pelo Juízo de São Paulo, a Sharp e 
seus credores quirografários estão sujeitos aos efeitos da concordata preventiva aceita por aquele 
Juízo, mediante decisão não impugnada por qualquer recurso. De outra parte, atento às funções 
desempenhadas pelo juiz no processo de falência, o legislador estatuiu: “Art. 7º. É competente 
para declarar a falência o juiz em cuja jurisdição o devedor tem o seu principal estabelecimento 
ou casa filial de outra situada fora do Brasil”. Doutrina e jurisprudência tentam definir o que é 
“principal estabelecimento”. O Prof. Rubens Requião, após afirmar que não se leva em conta, 
para a definição desse conceito, a dimensão física dos estabelecimentos, conclui: “Conceitua-se 
tendo em vista o local onde se fixa a chefia da empresa, onde efetivamenteatua o empresário no 
governo ou no comando de seus negócios, de onde emanam as ordens e instruções, em que se 
procedem as operações comerciais e financeiras de maior vulto e em massa, onde se encontra a 
contabilidade geral (...) A sede administrativa é, com efeito, o ponto central dos negócios, de onde 
partem todas as ordens, que imprimem e regularizam o movimento econômico dos 
estabelecimentos produtores. As relações externas, com fornecedores, clientes, bancos, etc., 
realizam-se por seu intermédio” (In Curso de direito falimentar, Ed. Saraiva, 17. ed., vol. 1, p. 
93). José da Silva Pacheco também entende que: “Principal estabelecimento, para os efeitos do 
art. 7º da Lei de Falências, é o local onde a empresa tem o comando de seus negócios, o cérebro 
de suas decisões, onde o empresário, efetivamente, atua, realizando a política da empresa e as 
operações comerciais e financeiras de maior vulto” (Processo de falência e concordata, Ed. 
Forense, 11. ed., p. 165). Trajano de Miranda Valverde também segue a mesma linha 
(Comentários à Lei de Falências, 4. ed., vol. I, p. 183). A jurisprudência desta Corte não destoa
desse entendimento, como se pode ver das seguintes ementas: “COMPETÊNCIA. CONFLITO. 
FALÊNCIA. FORO DO ESTABELECIMENTO PRINCIPAL DA RÉ. PRECEDENTES. 
MUDANÇA DE DOMICÍLIO. INTENÇÃO DE FRAUDAR. CONFLITO CONHECIDO. I — 
Segundo o art. 7º do Decreto-lei 7.661/45, “é competente para declarar a falência o juiz em cuja 
jurisdição o devedor tem o seu principal estabelecimento ou casa filial de outra situada fora do 
Brasil”. II — Consoante entendimento jurisprudencial, respaldado em abalizada doutrina, 
“estabelecimento principal é o local onde a atividade se mantém centralizada”, não sendo, de outra 
parte, “aquele a que os estatutos conferem o título principal, mas o que forma o corpo vivo, o 
centro vital das principais atividades do devedor” (...) (CC n. 32.988-RJ, Rel. Min. Sálvio de 
Figueiredo, DJ 04/02/2002). “Competência. Falência. Foro do estabelecimento principal do 
devedor. 1 — A competência para o processo e julgamento do pedido de falência é do Juízo onde 
o devedor tem o seu principal estabelecimento, e este “é o local onde a atividade se mantém 
centralizada”, não sendo, de outra parte, “aquele a que os estatutos conferem o título principal, 
mas o que forma o corpo vivo, o centro vital das principais atividades do devedor” (CC n. 
21.896-MG, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo). II — Conflito conhecido para declarar competente o 
Juízo de direito da 8º Vara Cível de São Paulo-SP, suscitado” (CC n. 27.835-DF, de minha 
relatoria, DJ de 09/04/2001). “CONCORDATA PREVENTIVA. FORO COMPETENTE. 
Processa-se a concordata no local do estabelecimento principal, entendendo-se como tal onde se 
acha a sede administrativa da empresa, isto é, o comando dos negócios. Conflito conhecido e 
declarado competente o suscitado” (CC n. 1.779-PR, Rel. Min. Nilson Naves, DJ de 09/09/1991). 
O colendo Supremo Tribunal Federal, em Sessão Plena, também já decidiu que: “1. Foro 
competente para declarar a falência nos termos do art. 7º, caput, da Lei falencial. De como se 
define o estabelecimento básico mencionado na sobredita regra. Não é aquele a que os estatutos 
da sociedade conferem o título de principal, mas o que forma concretamente o corpo vivo, o 
centro vital das principais atividades comerciais do devedor, a sede ou núcleo dos negócios em 
sua palpitante vivência material. 2. Conflito de competência decidido pelo Supremo Tribunal na 
consideração do que acima é definido como estabelecimento principal ou básico do devedor” (CJ 
n. 6.025/SP, Rel. Min. Antônio Néder, DJ de 16/02/1977). No caso dos autos, a questão reside 
fundamentalmente em saber-se onde está o “corpo vivo”, o centro vital das principais atividades 
comerciais do devedor, se em Manaus, onde está localizado o parque industrial das empresas 
em exame, ou em São Paulo, local onde está o comando e a administração delas. Salientou a 
ilustre Ministra Relatora deste conflito que a competência é do Juízo de Manaus, porque lá se 
encontra o parque fabril da Sharp, e a legislação assim o exige para o recebimento de incentivos 
fiscais. A Lei Estadual n. 1.939, de 27 de dezembro de 1998, que regulamentou a política de 
incentivos fiscais e extrafiscais do Estado do Amazonas, em seu art. 19 determina: “Art. 19. As 
empresas beneficiadas com incentivos fiscais deverão cumprir as seguintes exigências: (...) VI — 
Manter a administração, inclusive a contabilidade, no Estado do Amazonas, bem como utilizar a 
infraestrutura de serviço local”. Pode-se argumentar que esse dispositivo determina que a sede 
estatutária da Sharp está em Manaus. Acontece que, como se viu da doutrina e do entendimento 
da Suprema Corte, esse não é o critério utilizado para definir-se “principal estabelecimento” para 
os fins da Lei Falimentar, que considera o local de comando, de poder de decisão, a chamada 
“alma da empresa”. Como salientou o Ministro Antônio Néder, do STF: “Não é aquele a que os 
estatutos da sociedade conferem o título de principal, mas o que forma concretamente o corpo 
vivo, o centro vital das principais atividades comerciais do devedor, a sede ou núcleo dos 
negócios em sua palpitante vivência material” (grifos nossos). No memorial de fls. 1.121/1.128 
juntado aos autos, os autores afirmam: “Em primeiro lugar, destaca-se que a SHARP DO 
BRASIL S.A. INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS ELETRÔNICOS, conquanto produzisse 
equipamentos eletroeletrônicos na fábrica de Manaus, desenvolvia também diversas outras
atividades mercantis — comércio, importação e exportação de produtos diversos e prestação de 
serviços de assistência técnica. E todas essas atividades, de grande relevo na composição do 
faturamento global da empresa, eram deliberadas e implementadas em São Paulo, sede 
administrativa e centro de decisões da empresa, na qual se encontrava sua direção e de onde partia 
a planificação e o comando geral dos negócios. No mais, é certo também que em São Paulo se 
concentram os principais fornecedores, clientes e lojas de serviços autorizados (só no 
Município de São Paulo eram cerca de 112 lojas de serviços autorizados “Sharp”) da SHARP DO 
BRASIL S.A. INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS ELETRÔNICOS. Além disso, tem-se que os 
investimentos, a captação de recursos financeiros e os grandes contratos eram aprovados e 
efetivados pela SHARP DO BRASIL S.A. INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS ELETRÔNICOS 
em São Paulo, tanto que seus maiores credores lá se concentram, tais como instituições 
financeiras, fornecedores nacionais, transportadoras, dentre outras empresas. É de se ressaltar, 
ainda, que todos os membros da Diretoria da SHARP DO BRASIL S.A. INDÚSTRIA DE 
EQUIPAMENTOS ELETRÔNICOS, à época do pedido de concordata que veio a ser distribuído à 
39º Vara Cível do Foro Central da Comarca de São Paulo, residiam no Estado de São Paulo, 
reunindo-se em Manaus, no Estado do Amazonas, apenas uma vez por ano, e apenas para 
cumprimento de formalidades — realização de assembleias gerais... Por fim, cumpre mencionar 
que o fato de se encontrar em São Paulo o maior volume de negócios, a centralização da 
influência econômica, a direção, o comando e a administração geral da SHARP DO BRASIL S.A. 
INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS ELETRÔNICOS, tudo como mencionado acima, é que 
levou a empresa a requerer concordata nesse Foro, absolutamente convicta do cumprimento ao 
art. 7º do Decreto-lei n. 7.661/45. A fábrica de Manaus, se por um lado representava 
considerável parcela da atividade da empresa, de outra parte nunca foi eleita como o centro 
comercial dos negócios, assim como lá igualmente não se encontrava o centro decisório da 
empresa (fls. 1.126/1.127). 
Acreditamos que o centro vital das principais atividades comerciais da 
Sharp, “a sede ou núcleo dos negócios em sua palpitante vivência material”, 
como salientado no acórdão do Supremo Tribunal Federal, é em São Paulo, 
local de decisões da empresa,o centro comercial dos negócios, onde são 
feitos a captação de recursos financeiros e o fechamento dos contratos. É lá 
onde estão fixados os membros da Diretoria da empresa, especialmente os 
da empresa holding, e onde se concentra o maior volume de negócios. 
Assim, a orientação que mais se coaduna com a Lei n. 11.101/2005 é a 
que define o local onde se encontra a administração da empresa como seu 
principal estabelecimento. Tal entendimento repete o que já era adotado 
para a antiga Lei Falimentar, Decreto-lei n. 7.661/45, pois os fundamentos 
de tal interpretação são os mesmos aplicáveis à lei atual. 
Apesar disso, é bom destacar que Gladston Mamede entende que deve 
ser analisado caso a caso o que seria principal estabelecimento. Jorge 
Pereira Andrade defende ser a sede contratual ou estatutária. Osvaldo 
Barreto Filho afirma ser o lugar de maior concentração patrimonial. Fábio
Ulhoa Coelho considera a importância econômica para definir qual seria o 
principal estabelecimento. Por fim, para Marlon Tomazette, seria o lugar de 
maior movimentação econômica, para facilitar a arrecadação dos bens, na 
falência, e a manifestação do devedor empresário, nas recuperações. 
Caso a empresa tenha cessado suas atividades, por ocasião do 
ajuizamento do processo de falência ou de recuperação, deve ser 
considerado foro competente o do local onde ela tenha exercido, por 
último, suas atividades, ou a última sede declarada perante as juntas 
comerciais. 
A competência para processar e julgar os processos previstos na Lei n. 
11.101/2005 é de natureza absoluta, apesar de ser territorial. Tal conclusão 
decorre dos interesses coletivos e públicos que tais processos ensejam. 
Interesses não somente dos credores, mas de toda a coletividade, na medida 
em que a preservação da empresa interessa a toda a sociedade. 
Se a sede da empresa que requereu recuperação ou de quem se pediu a 
falência é situada fora do Brasil, a competência para os processos previstos 
na Lei n. 11.101/2005 será do local onde estiver situada a principal filial 
no Brasil. Se houver apenas uma filial no Brasil, no local onde ela estiver 
instalada será fixada a competência. Havendo mais de uma filial no País, a 
competência será fixada no local onde estiver a administração das filiais 
no Brasil. Tudo, segundo os critérios já identificados para a interpretação 
da expressão “principal estabelecimento”, conforme estudado 
anteriormente. 
Esquematizando os critérios para definição de principal estabelecimento, 
temos o seguinte diagrama:
/ Localondese. 
Í . situa a 
| administração 
1, REAd e STh 
a e % = =, 
f Maior f 
[| movimentação | Sede contratual 
| econúmica | ou estatutária 
| (Marlon | Aorge Pereira 
A Tomazette) Andrade) 
CRITÉRIOS 
PARA 
DEFINIÇÃO 
DE "PRINCIPAL 
= ESTABELECIMENTO” | 
Cy Analisado 
| caso.a caso 
[| Gladston 
Mamede) 
Importância 
econômica 
(Fábio-Ulhoa 
Coalho) 
/ Maior 
f concentração 
[ patrimonial 
| (Osvaldo Barreto 
% Filho) 
», 
Podemos, também, sistematizar os diversos critérios de fixação da 
competência cível da seguinte forma: 
Empresa com apenas 
—s» uma unidade: local 
onde atua 
[vários estabelecimentos: 
e localonde está a 
CRITÉRIOS DE administração 
FIXAÇÃO 
DA COMPETÊNCIA ; 
TERRITORIAL CÍVEL | Sede fora do Brasil: 
a administração no Brasil uma unidade: local 
- onde atuava 
+. local da filial onde está Empresa com apenas 
Se as atividades já f 
foram encerradas Vários estabelecimentos: 
do local onde estava 
| atuando, por último, 
ou da sede declarada 
na junta comercial 
22.4.2. Juízo universal da falência 
Os critérios anteriormente estabelecidos definem o juízo competente para 
processar e julgar a falência, as recuperações e os crimes previstos na Lei n. 
11.101/2005. Tanto o Juízo da recuperação quanto o criminal atuarão 
apenas nos respectivos processos, sendo que, na recuperação judicial, o
juízo cível poderá julgar, também, eventuais impugnações de crédito no 
ambito das respectivas habilitações de crédito ou, ainda, ações ordinárias 
de retificação de quadro geral de credores, previstas nos arts. 8º e 19, da 
Lei n. 11.101/2005. Já o juízo que processar e julgar a falência terá sua 
competência estendida, após a decretação dela. Desde o pedido de 
falência ou processamento da recuperação judicial, o juiz da falência será 
competente apenas para prestar jurisdição nos autos da falência ou da 
recuperação judicial. 
No momento em que o juiz decreta a falência, passa a exercer o Juízo 
falimentar a vis attractiva para processar e julgar todas as ações de 
interesse da massa falida. Se a sentença do processo de falência denegá-la, 
termina a competência do juízo falimentar, e, se houver processo por 
crime falimentar ou inquérito policial pendentes, eles deverão ser extintos, 
sem resolução de mérito. 
Ao ser decretada a falência, fica estabelecido o juízo universal e 
indivisível da falência. Por força dele, todas as ações e execuções que 
interessem à massa falida serão processadas e julgadas pelo juízo 
falimentar. Todavia, essa regra não é absoluta, pois a lei traz exceções ao 
juízo universal da falência, bem como determina a continuidade e o 
julgamento das ações que já estavam tramitando, continuando elas nas 
mesmas varas onde se iniciaram. 
Destarte, é preciso distinguir as ações que já estavam em andamento 
daquelas iniciadas após a decretação da falência. A regra é a seguinte: 1) as 
ações que já estiverem em andamento serão suspensas pelo decreto de 
falência, até que o administrador judicial substitua o falido no respectivo 
polo, voltando a tramitar no mesmo juízo onde se iniciara, até final 
sentença, ocasião em que deverá ser providenciada a habilitação na 
falência; 2) as execuções que estiverem em andamento serão suspensas 
pelo decreto de falência até o trânsito em julgado da sentença que encerrá- 
la, devendo o exequente habilitar-se nos autos da falência; 3) novas ações 
propostas contra o falido após a decretação da falência serão ajuizadas e 
processadas no juízo falimentar; 4) novas execuções propostas contra O 
falido após a decretação da falência não serão admitidas, tendo em vista 
que a falência é uma execução coletiva e para ela deverão concorrer e 
habilitar-se todos os credores que tenham prova escrita do seu crédito, sob
pena de ocorrência da litispendência entre a execução individual nova e a 
execução coletiva. 
As conclusões do parágrafo anterior, quanto à suspensão das ações e 
execuções contra o falido, podem ser facilmente lidas no texto expresso do 
art. 6º, da Lei n. 11.101/2005, o qual assevera que “a decretação da falência 
ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o 
curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, 
inclusive aquela dos credores particulares do sócio solidário”. No que se 
refere à continuidade das ações no juízo em que originalmente foram 
propostas, o 8 1º do mesmo artigo conclui: “terá prosseguimento no juízo 
no qual estiver se processando a ação que demandar quantia ilíquida”. 
Ações que demandam quantias ilíquidas são aquelas ações de 
conhecimento já ajuizadas quando da decretação da falência, ainda não 
sentenciadas (até o trânsito em julgado da sentença). 
A vis attractiva do juízo falimentar encontra seu fundamento legal no 
caput do art. 76, da Lei n. 11.101/2005, o qual normatiza que “o juízo da 
falência é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, 
interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e 
aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido figurar como autor ou 
litisconsorte ativo”. Já a legitimidade e a necessária habilitação do 
administrador judicial em lugar do falido estarão determinadas no 
parágrafo único, do mesmo artigo, assim redigido: “todas as ações, 
inclusive as excetuadas no caput deste artigo, terão prosseguimento com o 
administrador judicial, quedeverá ser intimado para representar a massa 
falida, sob pena de nulidade do processo”. 
É possível sistematizar na figura a seguir o que estudamos até agora 
sobre o juízo universal. 
Com base, ainda, nas regras expostas, a Lei n. 11.101/2005 exclui 
expressamente da competência do juízo falimentar as seguintes ações: 
I — reclamações trabalhistas; 
Il — ações de natureza fiscal; 
HI — ações em que o falido seja autor ou litisconsorte ativo, desde que 
não previstas na Lei n. 11.101/2005; 
IV — ações cuja competência esteja prevista na Constituição Federal e 
que não sejam disciplinadas na Lei n. 11.101/2005.
| Antes da decretação 
da falência: Suspensas 
— — atéa habilitação do 
administrador judicial, 
voltando a tramitar 
E] Ações já ajuizadas k 
" Depois da decretação | 
—s da falência: Competente 
o juízo falimentar 
JUÍZO UNIVERSAL Eid Gi 
EINDIVISIVEL a talincia: 
DA FALÊNCIA —+ Suspendem-se até o 
encerramento 
, da falência 
+ Execuções já ajuizadas F e H 
Depois da decretação 
— - da falência: 
Ações excluídas do juízo Indeferimento da 
universal da falência E petição inicial — 
tquadro posterior) litispendência com 
a execução coletiva 
22.4.2.1. O crédito trabalhista 
As reclamações trabalhistas não são atraídas para o juízo falimentar, 
independentemente do momento do seu ajuizamento. O art. 114 da 
Constituição Federal fixa a competência da Justiça do Trabalho para 
apreciar tais ações, competência absoluta, em razão da matéria. 
A Lei n. 11.101/2005 foi taxativa ao tratar da competência da Justiça 
Trabalhista, pois não se limitou a excluir as reclamações trabalhistas do 
seu alcance. Mais do que isso, estabeleceu uma regulamentação completa, 
ratificando a competência da justiça obreira para as execuções, 
impugnações de crédito e ações de retificação de quadro geral de credores. 
Indispensável citarmos as seguintes disposições da Lei n. 11.101/2005: 
Art. 76. O juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, 
interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não 
reguladas nesta Lei em que o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo. 
Parágrafo único. Todas as ações, inclusive as excetuadas no caput deste artigo, terão 
prosseguimento com o administrador judicial, que deverá ser intimado para representar a 
massa falida, sob pena de nulidade do processo. 
Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial 
suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive 
aquela dos credores particulares do sócio solidário. 
$ 2º É permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitação, exclusão ou modificação 
de créditos derivados da relação de trabalho, mas as ações de natureza trabalhista, inclusive as 
impugnações a que se refere o art. 8º desta Lei, serão processadas perante a justiça especializada 
até a apuração do respectivo crédito, que será inscrito no quadro geral de credores pelo valor 
determinado em sentença. 
Art. 19. O administrador judicial, o Comitê, qualquer credor ou o representante do Ministério
Público poderá, até o encerramento da recuperação judicial ou da falência, observado, no que 
couber, o procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil, pedir a exclusão, 
outra classificação ou a retificação de qualquer crédito, nos casos de descoberta de falsidade, 
dolo, simulação, fraude, erro essencial ou, ainda, documentos ignorados na época do julgamento 
do crédito ou da inclusão no quadro geral de credores. 
8 1º A ação prevista neste artigo será proposta exclusivamente perante o juízo da recuperação 
judicial ou da falência ou, nas hipóteses previstas no art. 6º, 88 1º e 2º, desta Lei, perante o 
juízo que tenha originariamente reconhecido o crédito. 
Assim, o crédito trabalhista não pode ser discutido no juízo falimentar, 
mesmo que possa ser impugnado ou objeto de ação de retificação de 
quadro geral de credores, ainda que possa ter sua execução embargada. 
Em todas as hipóteses, será o juízo trabalhista o competente para 
processar e julgar quaisquer ações ou incidentes que incidam sobre os 
créditos trabalhistas de devedor empresário em crise econômico-financeira. 
Por sua vez, o pagamento de todos os créditos trabalhistas e dos demais 
débitos do falido deverá ser feito no juízo falimentar, exclusivamente, de 
modo que os credores trabalhistas deverão habilitar seu crédito no juízo 
falimentar. Tal regra impede que o juízo trabalhista, ou qualquer outro juízo, 
determine qualquer restrição ao patrimônio do devedor empresário, bem 
como que efetue qualquer pagamento com o patrimônio dele, depois de 
decretada a falência ou deferida a recuperação judicial. Eventual venda de 
bem penhorado nos autos da execução trabalhista impõe a imediata remessa 
dos valores da arrematação ao juízo falimentar. 
Apesar de todas as exceções para o processamento de ações no juízo 
falimentar, não existem exceções à competência para os pagamentos dos 
débitos do falido ou do devedor em recuperação. Essa competência é 
absoluta e, portanto, exclusiva do juízo falimentar. Na prática, um 
verdadeiro “caixa único” é estabelecido com a decretação da falência. 
Essa interpretação decorre, inclusive, do que determina expressamente o 
art. 108, 8 3º, da Lei n. 11.101/2005, inovando quanto à legislação anterior. 
Ali, o legislador foi contundente ao determinar que “ato contínuo à 
assinatura do termo de compromisso, o administrador judicial efetuará a 
arrecadação dos bens e documentos e a avaliação dos bens, separadamente 
ou em bloco, no local em que se encontrem, requerendo ao juiz, para esses 
fins, as medidas necessárias. (...) 8 3º O produto dos bens penhorados ou 
por outra forma apreendidos entrará para a massa, cumprindo ao juiz 
deprecar, a requerimento do administrador judicial, às autoridades
competentes, determinando sua entrega”. 
Tal mudança, introduzida pela Lei n. 11.101/2005, é tão marcante que 
não se faz mais necessária a indicação da hora da decretação da falência. 
É que o Decreto-lei n. 7.661/45 fazia distinção entre execuções com leilões 
já realizados e aquelas em que o leilão ainda não se realizara, por ocasião da 
decretação da falência, sendo a hora da decretação marco imprescindível 
para tal definição. Hoje, todos os bens penhorados ou leiloados serão 
destinados ou terão seu produto destinado à massa falida, mesmo que a 
arrematação no leilão tenha-se dado em juízo trabalhista, antes da 
decretação da quebra. 
Após a publicação da Lei n. 11.101/2005, diversos conflitos de 
competência foram levados ao STJ, especialmente envolvendo juízos 
trabalhistas e falimentares. Outras tantas reclamações foram ajuizadas 
naquele tribunal por devedores e credores que discordavam da continuidade 
da jurisdição trabalhista sobre os bens da massa falida ou do devedor 
empresário. Em todos os julgados, o STJ tem reiterado o mesmo 
entendimento, deferindo ao juízo falimentar competência única e 
exclusiva para definir o destino dos bens do falido, bem como dos valores 
levantados com a venda deles. Importante anotar as seguintes ementas, 
esclarecedoras e condizentes com os princípios que orientaram a Lei n. 
11.101/2005: 
EMENTA: FALÊNCIA. ADJUDICAÇÃO EM EXECUÇÃO TRABALHISTA APÓS 
DEFERIMENTO DA RECUPERAÇÃO OU DECRETAÇÃO DA QUEBRA. CONFLITO DE 
COMPETÊNCIA. JUÍZOS FALIMENTAR E DO TRABALHO. AÇÕES E EXECUÇÕES 
TRABALHISTAS EM CURSO. FALÊNCIA DA EXECUTADA. PENHORA DE BENS JÁ 
REALIZADA NO JUÍZO TRABALHISTA. AGRAVO REGIMENTAL PREJUDICADO. 
COMPETÊNCIA DO JUÍZO FALIMENTAR. PRECEDENTES. NULIDADE DO ATO QUE 
DEFERIU A ADJUDICAÇÃO. 1. Tanto após a aprovação do plano de recuperação judicial da 
empresa, quanto após a decretação da quebra, as ações e execuções trabalhistas em curso, terão 
seu prosseguimento no Juízo Falimentar, mesmo que já realizada a penhora de bens no Juízo 
Trabalhista.Precedentes. 2. Conflito de Competência conhecido declarando-se a competência do 
Juízo Falimentar, com a consequente nulidade do ato que deferiu a adjudicação (STJ, CC 
262.818/SP, Min. Sidnei Beneti, Segunda Seção, DJe 26/06/2009). 
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO 
FALIMENTAR E JUSTIÇA DO TRABALHO. EXECUÇÃO TRABALHISTA. 
ARREMATAÇÃO. REMESSA DO PRODUTO AO JUÍZO UNIVERSAL DA FALÊNCIA. 
1. Decretada a quebra, a Justiça do Trabalho é competente para definir o crédito trabalhista, que 
será, então, habilitado no juízo universal e atrativo da falência; excepcionalmente, porém, se os 
bens já estiverem em praça, a arrematação terá curso, mas o produto será transferido para o juízo 
falimentar. Precedentes. 2. Eventual pedido de não repetição dos valores levantados na 
execução trabalhista deve ser formulado perante o juízo competente, na espécie, o juízo 
falimentar (STJ, Agra no CC 95.001/BA, Min. Fernando Gonçalves, Segunda Seção, DJe 
29/04/2009). 
EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO POSITIVO. AGRAVO REGIMENTAL. 
FALÊNCIA. EXECUÇÃO TRABALHISTA. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE 
JURÍDICA DA EMPRESA. CONSTRIÇÃO DO PATRIMÔNIO DOS SÓCIOS. MEDIDA 
ADOTADA POR AMBOS OS ÓRGÃOS JUDICIAIS. PREVALÊNCIA DO JUÍZO 
UNIVERSAL. PROVIMENTO. I. Havendo decretação da desconsideração da personalidade 
jurídica da falida/executada tanto pela Justiça do Trabalho como pelo Juízo falimentar, com a 
consequente arrecadação dos bens dos sócios, deve a execução ser processada perante o Juízo 
universal. II. Estendidos os efeitos da quebra também a estes, a penhora anterior realizada na 
Justiça Especializada cede em face da falência superveniente. III. Agravo regimental provido, 
para declarar a competência do Juízo falimentar, o suscitado (STJ, AgRg no CC 98.498/RJ, Min. 
Aldir Passarinho Júnior, Segunda Seção, DJe 27/03/2009). 
Destarte, concluímos diferenciando a competência para processar e 
julgar ações e execuções de interesse do falido daquela para efetuar os 
pagamentos e decidir sobre bens e direitos do falido e do devedor 
empresário em recuperação judicial. Tais competências são normalmente 
confundidas pelos aplicadores do direito. 
Para processar e julgar as ações e as execuções, contamos com todas as 
exceções legais e com a continuidade delas nos juízos onde já eram 
processadas, como visto anteriormente. Assim, nessas hipóteses, a 
competência do juízo falimentar é relativa, cedendo espaço para outros 
juízos competentes. 
Agora, na falência, para processar o pagamento de todas as 
obrigações, inclusive fiscais e trabalhistas, teremos a competência 
exclusiva do juízo falimentar, tanto em relação aos processos iniciados 
antes como em relação àqueles ajuizados após a decretação da falência. 
Assim, nessas hipóteses, a competência do juízo falimentar é absoluta, 
não cedendo qualquer espaço para outros juízos competentes. 
No que se refere à recuperação judicial, essa competência exclusiva 
para os pagamentos alcançará todos os créditos existentes na data do 
pedido de recuperação, mas não aqueles originados após tal data. Para 
novos créditos, novas ações e execuções, as quais serão ajuizadas, julgadas 
e executadas nos juízos competentes, inclusive quanto aos pagamentos. 
Assim, o deferimento da recuperação judicial atingirá os créditos, ações e 
execuções existentes ao tempo do pedido, diga-se, do ajuizamento da
recuperação judicial, fixando a competência do juízo falimentar para 
referidos créditos contemporâneos ao pedido, somente. Assim, nessas 
hipóteses, a competência do juízo falimentar é relativa, cedendo espaço 
para outros juízos competentes. Isso será estruturado mais adiante. 
Podemos esquematizar a atuação da Justiça Trabalhista na falência e 
na recuperação judicial, assim:
| Reclamações trabalhistas anteriores e posteriores | 
—+ à decretação da falência ou ao deferimento 
da recuperação judicial 
tm incidentes, salvo para pagamento 
A JUSTIÇA | des cráditos trabalhistas 
Execuções de sentenças trabalhistas e seus | 
TRABALHISTA 
CONTINUA f E : 
COMPETENTE RARA RR Processamento das impugnações ao crédito 
trabalhista no juízo falimentar 
* decredores homologado no juízo falimentar, 
questionando crédito trabalhista 
[ Ação ordinária de retificação de quadro geral | 
22.4.2.2. O crédito fiscal 
Para as ações e execuções que discutam o crédito fiscal, permanecem as 
competências estabelecidas: 1) na Constituição Federal, quanto aos 
créditos da União e suas autarquias; 2) nas leis de organização judiciária 
locais, quanto aos créditos estaduais e municipais. 
A decretação da falência e a concessão da recuperação judicial não 
alteram a referida competência. Todavia, como já assinalado, os 
pagamentos deverão ser postulados perante o juízo falimentar, ante a 
competência absoluta dele para essa finalidade. 
As únicas exceções à competência originária para processar e julgar o 
crédito fiscal recaem sobre a impugnação de tal crédito no juízo falimentar 
e sobre a ação de retificação de quadro geral de credores quanto ao crédito 
estatal. Poder-se-ia argumentar que o art. 76, da Lei n. 11.101/2005, ao 
determinar que “o juízo da falência é indivisível e competente para 
conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido, 
ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta 
Lei em que o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo”, alcançaria, 
também, o crédito fiscal. 
Ocorre que o crédito trabalhista encontra-se na mesma situação do 
crédito fiscal, alcançado pelo texto do citado art. 76. Todavia, no que se 
refere ao crédito trabalhista, o 8 2º, do art. 6º, da Lei n. 11.101/2005, exclui 
a competência falimentar para processar e julgar a impugnação ao referido 
crédito, estabelecendo que “é permitido pleitear, perante o administrador 
judicial, habilitação, exclusão ou modificação de créditos derivados da 
relação de trabalho, mas as ações de natureza trabalhista, inclusive as 
impugnações a que se refere o art. 8º desta Lei, serão processadas perante 
a justiça especializada até a apuração do respectivo crédito, que será
inscrito no quadro geral de credores pelo valor determinado em sentença”. 
O credor fiscal não conta com a mesma regra de exclusão, de modo que a 
eventual impugnação ao crédito fiscal será processada e julgada no juízo 
falimentar. 
Ocorre o mesmo quando tratamos da ação de retificação de quadro 
geral de credores, pois o art. 19, da Lei n. 11.101/2005, preceitua que “o 
administrador judicial, o Comitê, qualquer credor ou o representante do 
Ministério Público poderá, até o encerramento da recuperação judicial ou da 
falência, observado, no que couber, o procedimento ordinário previsto no 
Código de Processo Civil, pedir a exclusão, outra classificação ou a 
retificação de qualquer crédito, nos casos de descoberta de falsidade, dolo, 
simulação, fraude, erro essencial ou, ainda, documentos ignorados na época 
do julgamento do crédito ou da inclusão no quadro geral de credores”. Isso 
inclui os créditos fiscais. O 8 1º, do referido artigo, exclui o crédito 
trabalhista e aqueles decorrentes das demandas sobre quantias ilíquidas da 
competência falimentar para julgar tal ação, não excluindo o crédito fiscal. 
O texto legal assim determina: “A ação prevista neste artigo será proposta 
exclusivamente perante o juízo da recuperação judicial ou da falência ou, 
nas hipóteses previstas no art. 6º, 84 1º e 2º, desta Lei, perante o juízo 
que tenha originariamente reconhecido o crédito”. Desse modo, o juízo 
falimentar será o competente para o processo e o julgamento das ações de 
retificação de quadro geral de credores relativas aos créditos de natureza 
fiscal. 
Os créditos fiscais têm sido geralmente impugnados para exclusão dos 
encargos legais do seu montante. É que a fazenda pública entende que os 
encargos legais tenham a mesma natureza dos créditos fiscais, enquanto o 
Ministério Públicoe os credores têm pugnado pela equivalência dos 
encargos legais às multas fiscais. A definição da natureza do referido 
crédito implicará a sua inclusão no quadro geral de credores como crédito 
fiscal, privilegiado, portanto, ou como crédito subquirografário. Tal 
discussão será feita no estudo das habilitações de crédito e do quadro geral 
de credores, mais adiante. 
A inclusão do crédito fiscal no quadro geral de credores da falência 
prescindirá de prévia habilitação de crédito. Bastará a remessa da 
certidão positiva de crédito fiscal para o juízo falimentar, onde será
efetuada a penhora no rosto dos autos. A certidão da dívida ativa goza 
de presunção de existência do crédito fiscal e de legitimidade, bem como 
já especifica a categoria do referido crédito, o que dispensa a habilitação 
nos autos da falência; basta a mencionada penhora no rosto dos autos. 
Diante dela, o administrador judicial incluirá o crédito fiscal na categoria 
própria. Com a publicação da relação de credores, prevista no art. 7º, 8 2º, 
da Lei n. 11.101/2005, poderá ser apresentada a impugnação já 
mencionada. 
A dispensa de habilitação no juízo falimentar não implica a dispensa 
de inclusão no quadro geral de credores do falido, ou seja, apesar de não 
estar obrigado a habilitar-se no juízo falimentar, deverá o credor fiscal 
buscar o seu crédito no respectivo juízo, na forma especificada no parágrafo 
anterior. 
No que se refere à recuperação judicial, impende, desde já, constatar 
que os créditos fiscais não serão atingidos, tanto que o mesmo art. 6º, da 
Lei n. 11.101/2005, no seu 8 7º, estatui que “as execuções de natureza 
fiscal não são suspensas pelo deferimento da recuperação judicial, 
ressalvada a concessão de parcelamento nos termos do Código Tributário 
Nacional e da legislação ordinária específica”. Mais adiante, o legislador 
condicionará a concessão da recuperação judicial, e a própria 
homologação do Plano de recuperação judicial, à exibição de certidões 
negativas tributárias, ou ao parcelamento do referido crédito junto às 
respectivas fazendas públicas. É o que encontramos disposto nos arts. 57 e 
68, da Lei n. 11.101/2005, assim prescritos: “Art. 57. Após a juntada aos 
autos do plano aprovado pela assembleia geral de credores ou decorrido o 
prazo previsto no art. 55 desta Lei sem objeção de credores, o devedor 
apresentará certidões negativas de débitos tributários nos termos dos arts. 
151, 205, 206 da Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966 — Código 
Tributário Nacional”. “Art. 68. As Fazendas Públicas e o Instituto Nacional 
do Seguro Social — INSS poderão deferir, nos termos da legislação 
específica, parcelamento de seus créditos, em sede de recuperação judicial, 
de acordo com os parâmetros estabelecidos na Lei n. 5.172, de 25 de 
outubro de 1966 — Código Tributário Nacional”. Por ocasião da 
abordagem sobre a recuperação judicial, aprofundaremos o estudo desses 
artigos, os quais têm sido desconsiderados pela jurisprudência para efeito
de concessão da recuperação judicial?. Para o momento, basta constatar que 
o credor fiscal não é atingido pela recuperação judicial, o que afasta 
qualquer efeito quanto à competência para processar, julgar e pagar as ações 
e execuções de natureza fiscal, em face da concessão dela. 
Esquematizando: 
Para as ações e 05 
o incidentes das 
execuções martém-se 
| a competência originária 
ã “| Impugnações ao crédito 
+ Na falência | fiscal serão julgadas 
no juizo falimentar 
| ações de retificação de 
Ma recuperação judicial, 
COMPETÊNCIA mantêm-se a E 
RARA PROCESSAR competéncia originária | |» quadro geral serão 
O CRÉDITO FISCAL julgadas no juizo 
geral de credores da 
falência independerá de 
É | falimentar 
& inclusão no quadro , 
habilitação prévia 
22.4.2.3. Falido como autor ou litisconsorte ativo 
A atração das ações e execuções para o juízo falimentar visa a 
apreciação mais especializada das demandas que incidam sobre os bens e 
direitos do falido, especialmente aquelas ações que tenham por objetivo 
retirar patrimônio da massa falida ou impor-lhe obrigações. O juízo 
universal da falência pode atrair um número absurdo de processos para a 
vara falimentar, como no caso Encol, em que milhares de consumidores 
tiveram problemas envolvendo seus contratos imobiliários e tiveram que se 
socorrer junto ao juízo cível goiano competente. 
As ações em que o falido é autor ou litisconsorte ativo não imporão à 
massa falida eventuais obrigações nem servirão para impor eventual ônus 
sobre os bens dela. Serviriam para inflacionar ainda mais a quantidade de 
demandas no juízo falimentar, sem que houvesse qualquer motivo especial 
para tanto. 
Se a ação foi ajuizada antes da decretação da falência, fosse o falido 
autor ou réu, já não seria declinada a competência para o juízo falimentar, 
em razão de a referida ação ter que ser encerrada no juízo originário, 
ainda que seja apresentado pedido contraposto ou que haja reconvenção. 
Agora, se a ação em que o falido é autor foi proposta após o decreto de 
falência, ela tramitará fora do juízo falimentar; todavia, havendo pedido
contraposto ou reconvenção, o feito deverá ser declinado para o juízo 
falimentar, ante a possibilidade de condenação do falido naqueles autos. 
As ações previstas na Lei n. 11.101/2005 e que sempre serão da 
competência do juízo falimentar, mesmo que o falido seja autor ou 
litisconsorte ativo, são as seguintes: 
Ação de retificação de quadro geral de credores (art. 19), salvo se 
forem créditos trabalhistas (pois a competência, nesse caso, é exclusiva 
da Justiça do Trabalho); 
Ação de impugnação aos créditos da relação de credores (art. 8º), 
salvo se forem créditos trabalhistas (pois a competência, nesse caso, é 
exclusiva da Justiça do Trabalho); 
Ação de responsabilização (art. 82); 
Ação de ineficácia (art. 129, parágrafo único); 
Ação revocatória (art. 132); 
Pedido de Restituição (art. 87); e 
Embargos de terceiros (art. 93). 
Esquematizando: 
Ações ajuizadas antes da decretação: não são atraídas, 
mesmo que haja recorvenção ou pedido contraposto 
COMPETÊNCIA MAS 
AÇÕES EM QUE =D www no 
O FALIDO SEJA Ações ajuizadas após a decretação: não são atraídas, 
AUTOR OU salvo se houver recomvenção ou pedido contraposto 
LTISCONSORTE 
ATIVO 
j Ações previstas na LRE: sempre serão da competência 
do juízo falimentar, salvo se de natureza trabalhista 
F, 
22.4.2.4. Ações cuja competência esteja prevista na Constituição Federal 
A competência fixada na Constituição Federal deve ser prestigiada 
perante toda a legislação infraconstitucional, inclusive a falimentar. 
A exceção prevista na parte final do art. 109, inc. I, da Constituição 
Federal, no qual se lê que, apesar de a Justiça Federal ser competente para 
processar e julgar todas as causas onde houver interesse da União, as 
causas de falência ficam excluídas daquela competência, reforça o 
entendimento de que as demais causas continuam sob a jurisdição federal. 
Explicamos. Se a Constituição excepciona apenas as ações de falência, 
não pode o intérprete incluir outras ações, mesmo que ajuizadas após a 
decretação da falência do devedor.
Há autores que defendem que, uma vez decretada a falência, a 
competência constitucional da Justiça Federal estaria afastada em todas 
as hipóteses de ações que envolvessem interesses da União, sendo devedor 
o falido, todas aquelas em que a natureza da demanda não se referisse a 
tributos, pois essas últimas estariam excluídas pelo art. 76, da Lei n. 
11.101/2005. Ocorre que a Constituição não estabeleceu tal exclusão da 
competência federal. Pelo contrário, limitou-se a excluir as ações de 
falência. 
Por sua vez, a Lei n. 11.101/2005 excluiu do alcance da competência 
falimentar apenas as ações de natureza fiscal, sem fazer menção a ações 
de interesse dos entes estatais, todavia não as inclui no seu âmbito de 
competência, como o faz em relação às suas ações típicas,excluindo apenas 
a competência trabalhista. 
Desse modo, parece mais acertado o entendimento que conclui ser 
incompetente o juízo falimentar para as ações cuja competência para o 
processo e julgamento esteja prevista na Constituição Federal e que, por 
ela, não foram excepcionadas, tampouco incluídas pela legislação 
falimentar. 
Contudo, as impugnações ao crédito fiscal, as ações de retificação de 
quadro geral de credores, os pedidos de restituição, as ações revocatórias e 
de ineficácia, além da ação de responsabilização, serão processadas e 
julgadas pelo juízo falimentar, pois previstas apenas na Lei n. 11.101/2005, 
mesmo que haja competência constitucional diversa. 
A exceção a essa regra alcança apenas a competência trabalhista para as 
impugnações e ações de retificação de quadro geral de credores, previstas 
nos arts. 6º, 8 2º, e 19, 8 1º, da mesma lei, pois referidos artigos fazem 
exclusão expressa da competência falimentar. 
À ação de falência estã excluída expressamente: 
tramitará no juízo estadual 
AÇÕES COM 
mid Áções com competência constitucional, não excluldas: 
tramitarão no juízo fixado constitucionalmente 
CONSTITUIÇÃO 
FEDERAL 
' à ções previstas unicamente na legislação falimentar: | 
tramitarão na justiça falimentar, salvo trabalhistas 
Esquematizando a competência do juízo falimentar para o processo e 
julgamento das ações e execuções, em caso de deferimento da recuperação 
judicial, chegamos ao seguinte enquadramento:
DEFERIDO O PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUPHCIAL 
Nessas duas primeiras 
situações, a competência 
do juízo falimentar 
será apenas para 
o pagamento 
Áções & execuções Concedida a Ações E Execuções, 
são suspensas por recuperação, propostas após o 
180 dias nos juízos todos os credores 'deferimento, tramitarão 
onde tramitavam, aguardarão seu normalmente nos 
até a concessão da cumprimento, e as juízos originários, 
recuperação ou ações E execuções até o pagamento 
corvolação dela serão extintas 
em falência 
| Após 180 dias, sem sentença 
de concessão da recuperação, 
as ações voltam a comer 
mos juízos originários 
Percebe-se, portanto, que a Lei n. 11.101/2005, em seu art. 6º, 8 8º, 
determina que “a distribuição do pedido de falência ou de recuperação 
judicial previne a jurisdição para qualquer outro pedido de recuperação 
judicial ou de falência, relativo ao mesmo devedor”. Em razão disso, caso a 
competência precise ser definida pela prevenção, deverá ser considerado o 
pedido que primeiro foi distribuído, e não o primeiro a ser despachado, 
para determinar o juízo competente. 
Esquematizando as ações previstas na Lei n. 11.101/2005:
fe àção de | E 
O É) Talência Fá 
Zu h | Ação de 
' | retificação 
| Ações de | de quadro geral 
y esaPE raio: + decradores 
fo Ação de AÇÕES 
| impugnação REGULADAS 
acréditos PELA 
4 habilitados LEI HM: 1110102005 
f 
| Ação de 
| resporuabilização 
N 
22.4.3. Criminal 
A competência criminal, como já mencionado, dependerá da definição 
da competência do juízo cível, conforme determina o art. 183, da Lei n. 
11.101/2005. 
Assim, reiteramos, serão competentes para processar e julgar os crimes 
falimentares os juízes criminais do local onde foi: 
decretada a falência; 
concedida a recuperação judicial; ou 
homologado o plano de recuperação extrajudicial. 
A competência aqui referida diz respeito aos crimes falimentares, 
somente. 
É muito costumeira a prática de crimes comuns antes da decretação da 
falência ou do deferimento da recuperação judicial. A gestão temerária, a 
apropriação indébita e o estelionato são os que mais ocorrem. Esses crimes 
serão processados regularmente, sem qualquer vinculação com a 
falência decretada ou com a recuperação judicial deferida. 
Competentes serão os juízos definidos no Código de Processo Penal 
para processar e julgar os crimes comuns. À guisa de exemplo, apesar de a 
falência da Encol tramitar em Goiânia, alguns processos criminais contra 
seus administradores tramitaram normalmente em varas criminais comuns
do Distrito Federal, inclusive com sentenças condenatórias. Uma delas 
proferida por mim. 
Outra questão importante é a necessidade da sentença que decreta a 
falência, concede a recuperação judicial ou a extrajudicial para que se possa 
punir o crime falimentar, o que não é necessário para a punição do crime 
comum. Determina o art. 180, da Lei n. 11.101/2005, que “a sentença que 
decreta a falência, concede a recuperação judicial ou concede a recuperação 
extrajudicial de que trata o art. 163 desta Lei é condição objetiva de 
punibilidade das infrações penais descritas nesta Lei”. Por ser condição de 
punibilidade, o processo penal poderá ser iniciado regularmente, todavia 
a condenação esperará alguma das sentenças mencionadas no art. 180, ou 
seja, aguardará a sentença que decreta a falência, concede a recuperação 
judicial ou homologa a recuperação extrajudicial. 
Esquematizando a competência para processar os crimes falimentares: 
Decretada a falência ) 
SERA COMPETENTE 
PARA PROCESSAR O ppa - Ra 
CRIME FALIMENTAR, Concedida a recuperação judicial | 
OD JUMZ CRIMINAL 
DE ONDE FOI 
Homologado o plano de recuperação extrajudicial | 
22.5. ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO 
22.5.1. Noções preliminares 
O Ministério Público tinha sua atuação regulada no art. 4º, da Lei n. 
11.101/2005, o qual estabelecia a participação genérica do Ministério 
Público no processo falimentar. Todavia, o referido artigo foi vetado, o que 
causou séria restrição à atuação do Órgão Ministerial no processo de 
recuperação judicial e de falência das empresas. É oportuno conferir a 
redação dada ao eliminado artigo. Confiramos: “O representante do 
Ministério Público intervirá nos processos de recuperação judicial e de 
falência. Parágrafo único. Além das disposições previstas nesta Lei, o 
representante do Ministério Público intervirá em toda ação proposta pela 
massa falida ou contra esta”. 
A vontade do legislador foi dirigida à participação do Ministério 
Público em todos os processos de recuperação e de falência, além de todas 
as ações propostas pela massa ou contra ela. O veto eliminou essa intenção.
Não fossem algumas disposições expressas determinando a participação 
do Ministério Público em alguns atos, como se vê em dezoito artigos da 
Lei n. 11.101/2005, o parquet restaria alijado dos processos estatuídos pela 
mencionada lei. 
A versão da Lei de Recuperação e Falências aprovada pelo Senado 
Federal estatuía a participação do Ministério Público apenas quando 
houvesse indício de fraude ou de crime falimentar. 
A Câmara dos Deputados, casa de origem da Lei n. 11.101/2005, 
primeiro aprovou a versão que foi vetada. Tal versão foi alterada no 
Senado, na forma explicitada no parágrafo anterior. Voltando o projeto à 
Câmara dos Deputados, ela restaurou a redação original do texto do art. 4º 
e, com isso, expandiu tal participação, alcançando todos os processos de 
interesse da massa. Mas isso não foi consolidado, ante o veto presidencial. 
O veto presidencial justificou-se afirmando que a instituição Ministério 
Público restaria desprestigiada em ter que atuar em causas de menor 
importância. Tal justificativa mostra-se inconsistente, já que, se o motivo da 
eliminação do artigo fosse apenas esse, bastaria que se vetasse o parágrafo 
único da redação, pois o caput autorizava a participação do Ministério 
Público apenas nos processos de Recuperação e de Falência, como acentuou 
o Senado Federal, e não em pequenos incidentes, como queria a Câmara 
dos Deputados. 
22.5.2. Hipóteses legais no contexto do microssistema da Lei n. 11.101/2005 
A indagação presente é de se o Ministério Público tem que ser ouvido 
em todos os processos de falência e de recuperação judicial, participando de 
todas as suas fases. A pergunta deve ser respondida em três momentos 
distintos. 
Primeiro, restaram na Lei n. 11.101/2005 dezenove menções específicas 
ao Ministério Público,Novo CPC Supletivamente. 
CPP Subsidiariamente. 
Decreto-lei n. 73/66, Lein. A algumas atividades empresariais excluídas pelo art. 2º, da Lein. 
6.024/74, Decreto-lei n. 2.321/87 e | 11.101/2005, com aplicação subsidiária da LRE. 
9.656/98 
22.2. LEGITIMIDADE 
22.2.1. Legitimidade passiva 
Ao definir o seu objeto, a Lei n. 11.101/2005, no art. 1º, também delimita 
o seu sujeito. Afirma a LRE que sua aplicação atinge apenas o empresário 
e a sociedade empresária, a quem passa a denominar simplesmente como 
devedor. Os conceitos de empresário e sociedade empresária não foram
delineados na Lei n. 11.101/2005, de modo que devemos nos socorrer às 
disposições do Código Civil, em que tais sujeitos encontram-se definidos 
assim: 
A LEGITIMIDADE PASSIVA NO REGIME FALIMENTAR 
Instituto Conceito 
Empresário Art. 966, do CC: Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica 
individual organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. 
Não empresário | - Art. 966, parágrafo único, do CC: Não se considera empresário quem exerce profissão 
intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou 
colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. 
Sociedade Art. 982, do CC: Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem 
empresária por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro, e, simples, as demais. 
Empresa Art. 980-A, do CC: A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma 
individual de única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será 
responsabilidade | inferior a 100 (cem) vezes o maior salário mínimo vigente no país (instituída pela Lei n. 
limitada 12.441/2011). 
Complementando as referidas definições, o art. 967, do CC, estabelece 
que “é obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de 
Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade”. 
No mesmo passo, o art. 982, parágrafo único, determina que 
“Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade 
por ações; e, simples, a cooperativa”. No que concerne ao registro, 
completa, ainda, o art. 985, do CC: “A sociedade adquire personalidade 
jurídica com a inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus 
atos constitutivos”. Se a sociedade é empresária, seu registro será feito no 
Registro Público de Empresas Mercantis, a cargo das Juntas Comerciais, 
nos termos do art. 1.150, do CC. No próximo tópico, analisaremos a 
necessidade ou não de registro prévio para caracterizar o empresário 
alcançado pela Lei n. 11.101/2005. 
Antes, porém, é importante lembrar que o trabalhador rural e a 
sociedade rural receberam tratamento diferenciado do legislador, uma vez 
que foram definidos como única atividade econômica que tem a faculdade 
de enquadrar-se no regime empresarial (regulado pelo Direito 
Empresarial) ou no regime não empresarial (regulado pelo Direito Civil). 
Aqueles que exercem atividade rural podem registrar-se no Registro 
Público de Empresas Mercantis e, em razão disso, tornarem-se 
empresários, a contar da data do registro. Assim, aquele que exerce 
atividade rural poderá ser alcançado pela Lei n. 11.101/2005 somente se
estiver registrado em uma Junta Comercial. O enquadramento da atividade 
rural encontra-se nas disposições dos arts. 971 e 984, do CC. 
Por sua vez, a sociedade simples e a sociedade cooperativa não são 
alcançadas pela Lei n. 11.101/2005, apesar de desempenharem atividade 
com fins lucrativos. Isso decorre da atividade desenvolvida por elas, 
considerada não empresarial, como já descrito na parte geral desta obra. 
Ambas poderão ser submetidas à insolvência civil, caso lhes advenha crise 
patrimonial. 
A sociedade em conta de participação também não pode falir. As 
disposições dos arts. 991 a 996 do Código Civil regulam a referida 
sociedade, estabelecendo que é composta por um ou alguns sócios 
ostensivos e por um ou alguns sócios participantes. Não formam uma 
pessoa jurídica, mesmo que registrem o contrato estabelecido entre si. Os 
sócios ostensivos respondem perante os credores, e os participantes apenas 
perante os ostensivos. Desse modo, não podem os credores requerer a 
falência da sociedade em conta de participação incluindo todos os 
participantes, mas apenas poderão acionar os sócios ostensivos. 
Por fim, é oportuno destacar que a atividade de advocacia, apesar de ser 
econômica, não pode adotar a forma empresarial, por expressa vedação do 
art. 16, da Lei n. 8.906/94, Estatuto da OAB. Em razão disso, advogados e 
sociedades de advogados não serão alcançados pela Lei n. 11.101/2005, 
mesmo que adotem estrutura empresarial. 
Esquematicamente: 
ATIVIDADES ECONÔMICAS SUJEITAS À LRE 
SR = | E | E | 
Empresa que Trabalhador ou 
trio sito as Sociedade sociedade Megan 
empresário Ariônima rural registrados individual de 
individual ou “responsabilidade 
sempre na Junta ii 
sociedade G retal limitada 
| empresária 
ATIVIDADES ECONÔMICAS NÃO SUJEITAS À LRE 
| = 1 TESS Ea - 
pio ; alhador | edades em 
ibn ou sociedade Conta de 
Sociedade rural não Atividade de Participação, 
autónomos & f É 
F Cooperativa registrados advocacia sahro quanto 
sociedade 7 
simples na Junta ao sócio 
| | Comercial |, | ostersivo 
22.2,1.1. Na falência
A legitimidade passiva na falência é um assunto que restaura a 
discussão quanto à caracterização de quem deve ser considerado 
empresário. Constata-se, de forma pacífica e empírica, que a empresa é 
uma realidade objetiva, pois, conceituada como atividade econômica 
organizada, revela-se um fenômeno palpável, visível, real. Enquanto isso, 
o Código Civil exige o registro prévio do empresário (art. 967) e da 
sociedade empresária (art. 985) para conferir-lhes existência jurídica. 
Importa, então, saber se a empresa, atividade, caracteriza seu titular, o 
empresário e a sociedade empresária, independentemente do registro, 
pelo exercício fático da atividade econômica, ou se apenas com o registro é 
que tal titular torna-se empresário, enquadrando-se na legislação 
empresarial. Repetimos a indagação da parte geral desta obra para sabermos 
se o registro é constitutivo ou declaratório da caracterização do 
empresário. 
A resposta encontra-se no art. 105, inc. IV, da Lei n. 11.101/2005, 
segundo o qual pode requerer autofalência o empresário ou a sociedade 
empresária que comprovarem essa condição por meio da prova do registro, 
ou, na ausência dele, pela qualificação dos titulares da empresa. Tal 
disposição deixa evidente a possibilidade de falência para quem não tem 
registro, e não somente na hipótese de autofalência, mas sim em qualquer 
hipótese de falência. 
Conclui-se, assim, que, para o requerimento e decretação da falência, 
basta o exercício da atividade empresarial, com ou sem registro. Isso 
corrobora a natureza declaratória do registro empresarial. 
No dia 12 de julho de 2011, foi publicada a Lei n. 12.441, criando a 
empresa individual de responsabilidade limitada. Nela, a empresa será 
titularizada por apenas uma pessoa, a qual terá responsabilidade limitada 
ao capital social estabelecido, capital este igual ou superior a cem salários 
mínimos, totalmente integralizados, no momento da sua criação. Tal 
empresa, também, submeter-se-á à Lei n. 11.101/2005. 
Devemos destacar, também, nos termos da atual legislação falimentar 
combinada com o CC, que a pessoa menor de 18 anos pode falir. O falido 
pode ser até um recém-nascido, caso ele tenha sucedido a empresa de seus 
pais ou do autor da herança, desde que esteja autorizado pelo juiz e 
auxiliado por seu representante legal, nos termos do art. 974, do CC, com a
especial ressalva de que os bens que compunham seu patrimônio pessoal, 
por ocasião da abertura da herança, não serão alcançados pelo processo 
falimentar. 
Oportunoque demandarão dezoito atuações dele, as quais 
merecem ser elencadas para melhor visualização de tal participação. 
Confira-se:
ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO CONTEXTO DA LEI N. 11.101/2005 
Art. 8º Legitimidade Art. 8º No prazo de 10 (dez) dias, contado da publicação da relação referida no art. 
para 7º, 8 2º, desta Lei, o Comitê, qualquer credor, o devedor ou seus sócios ou o 
impugnação Ministério Público podem apresentar ao juiz impugnação contra a relação de 
de crédito credores, apontando a ausência de qualquer crédito ou manifestando-se contra a 
legitimidade, importância ou classificação de crédito relacionado. 
Art. 19 Legitimidade Art. 19. O administrador judicial, o Comitê, qualquer credor ou o representante do 
para ação de | Ministério Público poderá, até o encerramento da recuperação judicial ou da falência, 
retificação de | observado, no que couber, o procedimento ordinário previsto no Código de Processo 
QGC Civil, pedir a exclusão, outra classificação ou a retificação 
Art. 19 Legitimidade de qualquer crédito, nos casos de descoberta de falsidade, dolo, simulação, fraude, 
para ação de | erro essencial ou, ainda, documentos ignorados na época do julgamento do crédito 
retificação de | ou da inclusão no quadro geral de credores. 
QGC 
Art. 22,8 | - Ciência do Art. 22, 8 4º Se o relatório de que trata a alínea “e” do inciso III do caput deste artigo 
4º relatório apontar responsabilidade penal de qualquer dos envolvidos, o Ministério Público será 
preliminar do | intimado para tomar conhecimento de seu teor. 
administrador 
judicial 
(denunciar 
crime) 
Legitimidade para Art. 30, 8 2º O devedor, qualquer credor ou o Ministério Público poderá requerer 
Art. | requerer a substituição ao juiz a substituição do administrador judicial ou dos membros do Comitê 
de administrador judicial | nomeados em desobediência aos preceitos desta Lei. 
8 | oude membros do 
2º | comitê de credores 
Ciência do deferimento |- Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o juiz 
Art. | da recuperação judicial deferirá o processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato: (...) V— 
52, ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por carta às Fazendas 
inc. Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver 
V estabelecimento. 
Legitimidade para Art. 59, 8 2º Contra a decisão que conceder a recuperação judicial caberá agravo, 
Art. | agravar a decisão que que poderá ser interposto por qualquer credor e pelo Ministério Público. 
59, | conceder a recuperação 
8 | judicial 
2º 
Ciência da sentença Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras 
Art. | que decretar a falência determinações: (...) XIII — ordenará a intimação do Ministério Público e a 
99, | (poderá agravar) comunicação por carta às Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e 
inc. Municípios em que o devedor tiver estabelecimento, para que tomem 
XII conhecimento da falência. 
Art. 104. A decretação da falência impõe ao falido os seguintes deveres: (...) VI — prestar as 
Art. | Legitimidade | informações reclamadas pelo juiz, administrador judicial, credor ou Ministério Público sobre 
104, | para requerer | circunstâncias e fatos que interessem à falência. 
inc. | informações 
VI | | do falido 
Art. 132. A ação revocatória, de que trata o art. 130 desta Lei, deverá ser proposta pelo 
Art. | Legitimidade | administrador judicial, por qualquer credor ou pelo Ministério Público no prazo de 3 (três) anos 
132 | para propor | contado da decretação da falência. 
ação 
revocatória 
Ciência de Art. 142, 8 7º Em qualquer modalidade de alienação, o Ministério Público será intimado 
Art. | todas as pessoalmente, sob pena de nulidade. 
142, | alienações 
87º | de bens da 
massa falida 
Art. 143. Em qualquer das modalidades de alienação referidas no art. 142 desta Lei, poderão 
Art. | Legitimidade | ser apresentadas impugnações por quaisquer credores, pelo devedor ou pelo Ministério 
143 | para Público, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas da arrematação, hipótese em que os autos 
apresentação | serão conclusos ao juiz, que, no prazo de 5 (cinco) dias, decidirá sobre as impugnações e, 
de julgando-as improcedentes, ordenará a entrega dos bens ao arrematante, respeitadas as 
impugnações | condições estabelecidas no edital. 
às 
alienações 
Legitimidade para |- Art. 154. Concluída a realização de todo o ativo, e distribuído o produto entre os 
Art. | manifestar-se sobre | credores, o administrador judicial apresentará suas contas ao juiz no prazo de 30 
154, | as contas (trinta) dias. (...) 8 3º Decorrido o prazo do aviso e realizadas as diligências necessárias 
83º | apresentadas pelo | à apuração dos fatos, 
administrador 
judicial 
Legitimidade para o juiz intimará o Ministério Público para manifestar-se no prazo de 5 (cinco) dias, findo 
Art. | manifestar-se sobre | o qual o administrador judicial será ouvido se houver impugnação ou parecer contrário 
154, | as contas do Ministério Público. 
83º | apresentadas pelo 
administrador 
judicial 
Figura como Art. 171. Sonegar ou omitir informações ou prestar informações falsas no processo de 
Art. | vítima formal do falência, de recuperação judicial ou de recuperação extrajudicial, com o fim de induzir a 
171 | crime de indução a | erro o juiz, o Ministério Público, os credores, a assembleia geral de credores, o Comitê 
erro ou o administrador judicial. 
Pode figurar como | - Art. 177. Adquirir o juiz, o representante do Ministério Público, o administrador judicial, 
Art. | sujeito ativo do o gestor judicial, o perito, o avaliador, o escrivão, o oficial de justiça ou o leiloeiro, por si 
177 | crime de Violação | ou por interposta pessoa, bens de massa falida ou de devedor em recuperação judicial, 
de Impedimento ou, em relação a estes, entrar em alguma especulação de lucro, quando tenham atuado 
nos respectivos processos. 
Legitimidade ativa Art. 184, Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada. 
Art. | para denunciar os Parágrafo único. Decorrido o prazo a que se refere o art. 187, 8 1º, sem que o 
184 | crimes falimentares representante do Ministério Público ofereça denúncia, qualquer credor habilitado ou 
que são todos de ação | o administrador judicial poderá oferecer ação penal privada subsidiária da pública, 
penal pública observado o prazo decadencial de 6 (seis) meses. 
incondicionada 
Promover a ação Art. 187. Intimado da sentença que decreta a falência ou concede a recuperação 
Art. | penal ou requisitar a judicial, o Ministério Público, verificando a ocorrência de qualquer crime previsto 
187 | abertura de inquérito nesta Lei, promoverá imediatamente a competente ação penal ou, se entender 
policial necessário, requisitará a abertura de inquérito policial. 
Prazo para Art. 187, 8 1º O prazo para oferecimento da denúncia regula-se pelo art. 46 do 
Art. | propositura da Ação Decreto-lei n. 3.689, de 3 de outubro de 1941 — Código de Processo Penal, salvo 
187, | Penal, podendo decidir | se o Ministério Público, estando o réu solto ou afiançado, decidir aguardar a 
8 1º | pela Denúncia em apresentação da exposição circunstanciada de que trata o art. 186 desta Lei, 
outro momento devendo, em seguida, oferecer a denúncia em 15 (quinze) dias. 
Ciência de qualquer Art. 187, 8 2º Em qualquer fase processual, surgindo indícios da prática dos crimes 
Art. | indício da prática de previstos nesta Lei, o juiz da falência ou da recuperação judicial ou da recuperação 
187, | crimes extrajudicial cientificará o Ministério Público. 
82º 
22.5.3. A participação do Ministério Público é obrigatória em todos os processos de 
recuperação judicial e de falência? 
Não haveria obrigatoriedade, então, de participação do Ministério 
Público em todos os processos de recuperação judicial e de falência, ante o 
veto do art. 4º. Se há participações específicas, não é necessária a 
participaçãodo Ministério Público em todo o processo, mas apenas 
naqueles atos definidos na Lei n. 11.101/2005. 
A rigor, somente quando houvesse indício de crime é que o Ministério 
Público deveria ser intimado em qualquer fase dos processos de falência e 
de recuperação judicial. Todavia, a disposição do art. 187, 8 2º, da Lei n. 
11.101/2005, aponta para a possibilidade, e até necessidade, de ser 
conferida vista de todos os processos de recuperação judicial e de falência 
ao Ministério Público, desde o início, isso porque compete a ele verificar se 
existe ou não tal indício de crime. 
O assunto é polêmico, pois há entendimento, com base no veto 
presidencial, de que o Ministério Público somente seria chamado aos feitos 
de recuperação judicial e de falência nos casos expressos em lei, as 
hipóteses dos dezoito artigos mencionados na tabela anterior. 
Tomando por base esse entendimento, é preciso anotar que, na falência, o 
Ministério Público somente toma ciência do referido processo por ocasião 
da sentença que a decreta, nos termos do art. 99, inc. XIII, da Lei n.
11.101/2005. Não há qualquer disposição específica determinando a 
atuação do Ministério Público desde o momento do pedido até a referida 
decretação da falência. 
Porém, a Lei n. 11.101/2005 prevê hipóteses de crimes pré-falimentares 
(anteriores à sentença que decreta a falência), o que recomenda que o órgão 
do Ministério Público tome ciência do processo falimentar em etapa 
anterior à sentença que decreta a falência, para que adote as providências 
pertinentes quanto aos crimes pré-falimentares. A mesma recomendação de 
vista ao Ministério Público, anterior ao decreto de falência, torna-se um 
imperativo, quando, na mesma sentença que decreta a falência, o juiz tiver 
que decretar a prisão preventiva do falido, a pedido do Ministério 
Público, conforme preceitua o art. 99, inc. VII, da Lei n. 11.101/2005. 
Relembremos o que diz referido artigo: “Art. 99. A sentença que decretar a 
falência do devedor, dentre outras determinações: (...) VII — determinará as 
diligências necessárias para salvaguardar os interesses das partes 
envolvidas, podendo ordenar a prisão preventiva do falido ou de seus 
administradores quando requerida com fundamento em provas da prática 
de crime definido nesta Lei”. 
Cabe perguntar: a requerimento de quem será decretada a segregação 
cautelar, se o Ministério Público somente seria intimado da falência após a 
sentença que, em tese, estaria, também, decretando tal prisão? A única 
resposta aponta para a vista ao Ministério Público anterior à sentença 
que decreta a falência, ocasião em que lhe será possibilitado requerer a 
prisão preventiva. 
Na Jurisprudência, as primeiras decisões dos Tribunais de segunda 
instância firmaram o entendimento de que seria obrigatória a participação 
do Ministério Público, em face do interesse público envolto nas matérias 
falimentares e de recuperação judicial, desde o início do processo. Tal 
entendimento baseou-se no que dispõe o art. 178, inc. I, do CPC, 
impositivo legal da atuação do Ministério Público nos processos em que se 
revolva matéria que interesse à coletividade, além dos interesses 
particulares envolvidos. 
Ocorre que o referido entendimento cedeu lugar à interpretação de que 
o interesse público na falência surge apenas no momento em que ela é 
decretada. Desse modo, na fase de instrução do feito, fase pré-falimentar,
investigativa ou preliminar da falência, o que existe é mera especulação 
quanto ao estado de crise econômico-financeira do devedor, não havendo 
interesse da coletividade em descortinar ou não dito estado de crise, o qual 
seria ônus do credor que o alega. Agora, uma vez decretada a falência, o 
interesse público torna-se patente. 
Assim, a atuação do Ministério Público estaria baseada no interesse 
público do momento em que é proferida a sentença que decreta a falência 
em diante. Nesse caso, para a atuação posterior, a decretação da falência, 
considerando que o art. 99, inc. XIII, da Lei n. 11.101/2005, determina a 
intimação do Ministério Público quanto à sentença que decreta a falência, 
dispensável seria a aplicação do art. 178, inc. I, do CPC. 
O veto presidencial aleijou a participação do Ministério Público nos 
processos previstos na Lei n. 11.101/2005. Todavia, é recomendável que 
ele tenha participação desde o início do processo de falência, 
especialmente se o fundamento dela situar-se no art. 94, inc. III, da referida 
lei, ou seja, se tiver por fundamento um ato de falência, terreno fértil à 
prática concomitante de crimes falimentares. 
Lembre-se, ainda, de que, sem a participação do Ministério Público, 
nenhum agente do Estado ou da Coletividade acompanhará o processo, 
sendo oportuno lembrar, também, que há interesse público no tratamento 
dispensado à empresa em crise econômico-financeira, seja pelo vil metal, 
pois os tributos devidos interessam a toda a coletividade, seja pelo interesse 
social, estampado na preservação de postos de trabalho, de unidades 
produtivas e de circulação de riqueza, prestigiando-se a livre-concorrência. 
Parece precipitado dizer que fiscalizar os processos de falência e de 
recuperação judicial desprestigiaria a instituição Ministério Público. 
Assim, a atuação do Ministério Público nos processos de falência e de 
recuperação judicial mostra-se condizente com o interesse público e com a 
estrutura da Lei n. 11.101/2005, além de refletir a vontade do legislador, 
apesar do veto ao seu art. 4º. Para tal conclusão, não se faz necessária a 
aplicação do que dispõe o art. 178, inc. I, do CPC. Basta constatar que: 
O art. 187, 8 2º, da Lei n. 11.101/2005, aponta para a possibilidade, e 
até mesmo necessidade, de ser conferida vista de todos os processos de 
recuperação judicial e de falência ao Ministério Público, desde o início, 
isso porque compete a ele verificar se existe ou não indício de crime
falimentar. 
Os incs. VII e o XIII, do art. 99, da Lei n. 11.101/2005, recomendam 
que se dê vista dos autos ao Ministério Público, desde o início do 
processo falimentar, porque a prisão preventiva poderá ser decretada 
pelo juiz quando da decretação da falência, a requerimento do Ministério 
Público, o que somente é possível se houver vista anterior dos autos. 
Apesar de o interesse público na falência tornar-se efetivo somente 
após a decretação dela, e na recuperação judicial, somente após o seu 
deferimento, a ausência de participação do Ministério Público implicaria 
a total ausência de qualquer membro do Estado na fiscalização dos 
referidos processos, especialmente ante a inafastável possibilidade de uso 
fraudulento das disposições protecionistas da legislação recuperacional. 
Tanto a redação da Câmara dos Deputados quanto a do Senado 
Federal optaram pela participação do Ministério Público nos processos 
de falência e de recuperação judicial. A divergência das duas casas 
legislativas situou-se apenas nas demais ações decorrentes daquelas. 
Por fim, quanto às demais ações que corram contra o falido ou a favor 
dele, não há que se falar em participação do Ministério Público. Nelas, 
interesses particulares estarão em disputa entre a massa falida ou o 
devedor empresário e seus credores e devedores, respeitada, então, a 
paridade de armas. Nada obsta ao Ministério Público questionar eventual 
crédito obtido nessas ações, por ocasião da habilitação delas no juízo 
falimentar. 
Esquematizando:lembrar que o sócio de responsabilidade ilimitada também 
tem sua falência decretada com a sociedade empresária da qual faz parte. 
São sócios de responsabilidade ilimitada no nosso ordenamento jurídico: a) 
o sócio em nome coletivo; b) o sócio comanditado; e c) o sócio da 
sociedade em comum (sociedade irregular e sociedade de fato). No caso, 
os sócios de responsabilidade ilimitada terão que ser citados para o processo 
falimentar, como se fossem a própria sociedade falida, o que lhes dará a 
oportunidade de promover sua defesa. Também podem ter a falência 
requerida e decretada o empresário e a sociedade empresária que baixaram 
seu registro empresarial até dois anos antes do pedido de falência. 
O empresário individual e o sócio de responsabilidade ilimitada, mesmo 
falecidos, poderão ter sua falência requerida até um ano após o Óbito e, 
nesse caso, figurará no polo passivo da falência o espólio do devedor 
falecido. Contudo, a sociedade anônima que tiver liquidado seu 
patrimônio não poderá mais falir, depois de distribuído o saldo da 
referida operação. A Lei n. 11.101/2005 regula a matéria nos seguintes 
dispositivos: 
Art. 81. A decisão que decreta a falência da sociedade com sócios ilimitadamente responsáveis 
também acarreta a falência destes, que ficam sujeitos aos mesmos efeitos jurídicos produzidos 
em relação à sociedade falida e, por isso, deverão ser citados para apresentar contestação, se 
assim o desejarem. 
8 1º O disposto no caput deste artigo aplica-se ao sócio que tenha se retirado voluntariamente 
ou que tenha sido excluído da sociedade, há menos de 2 (dois) anos, quanto às dívidas 
existentes na data do arquivamento da alteração do contrato, no caso de não terem sido solvidas 
até a data da decretação da falência. 
8 2º As sociedades falidas serão representadas na falência por seus administradores ou 
liquidantes, os quais terão os mesmos direitos e, sob as mesmas penas, ficarão sujeitos às 
obrigações que cabem ao falido. 
Art. 96. A falência requerida com base no art. 94, inc. I do caput, desta Lei, não será decretada se 
o requerido provar: 
(...) VII — cessação das atividades empresariais mais de 2 (dois) anos antes do pedido de 
falência, comprovada por documento hábil do Registro Público de Empresas, o qual não 
prevalecerá contra prova de exercício posterior ao ato registrado. 
8 1º Não será decretada a falência de sociedade anônima após liquidado e partilhado seu ativo 
nem do espólio após 1 (um) ano da morte do devedor. 
Destarte, podemos esquematizar o polo passivo da falência assim:
JP Ro 
E = | Empresário E 
a a indvidual com 4 Sadiade =, 
Tá Empresa | Du sem registro “responsabilidade” 
| individual de [ Himitada, inclusive 
| responsabilidade o que deixou a 
| sociedade até 
“dois anos antes 
4 limitada 
PODEM SER 
e SUJEITOS A 
dá PASSIVOS DA Pd Sociedades” 
f FALÉNCIA ie E ou empresário 
ári baixados na Junta 
| empresária com | 15.1 
' 
Comercial até 
| stro 
| 
id | dois anos antes 
x ad pe do pedido 
da Espóliodo + f Sociedade 
| devedor Anônima, 
| empresário, | enquanto 
| até um anó | não liquidado 
* apósamorte aativo 
a 
Para concluir este item, é preciso analisar o que ocorre aos sócios de 
responsabilidade limitada e aos administradores e controladores da 
sociedade falida. Eles não falirão com a sociedade, contudo poderão 
responder em processo que vise apurar sua responsabilidade pessoal na 
falência. 
A Lei n. 11.101/2005 estabeleceu a ação de responsabilização como 
meio para apurar se a conduta dos sócios de responsabilidade limitada, dos 
administradores e dos controladores contribuiu para o estado falimentar. 
Não existe uma previsão legal dos motivos que poderiam ser aventados 
para responsabilizar tais pessoas, no contexto falimentar. Porém, os 
motivos que levariam à desconsideração da personalidade jurídica ou, 
ainda, à responsabilização dos sócios que excederam o mandato, praticando 
atos contrários ao contrato social ou à lei, não seriam os fundamentos para a 
ação de responsabilização. Isso porque, havendo motivos para a 
desconsideração ou para o reconhecimento do excesso de mandato, não 
seria necessária a propositura da referida ação de responsabilização, uma 
vez que incidentalmente seria possível alcançar o patrimônio pessoal dos 
sócios por aqueles motivos ou fundamentos. 
A ação de responsabilização terá, então, por motivação, fato ou ato que 
não caracterize as hipóteses de desconsideração da personalidade jurídica 
da sociedade, nem que justifiquem o reconhecimento do excesso de 
mandato.
A Lei n. 11.101/2005 impõe, assim, a possibilidade de um leque 
ilimitado de fundamentos para a mencionada ação, estabelecendo o 
procedimento ordinário e o prazo de dois anos para a prescrição dela, 
prazo que contará do trânsito em julgado da sentença que encerrar a 
falência. 
Destaque-se que, para a propositura da ação de responsabilização, não 
será necessário comprovar que a sociedade não possui patrimônio 
suficiente para pagamento dos credores e, ainda assim, que o juiz poderá 
ordenar a indisponibilidade dos bens particulares dos sócios, 
administradores ou controladores que figurarem no polo passivo. 
Confira-se o que dispõe a Lei n. 11.101/2005: 
Art. 82. A responsabilidade pessoal dos sócios de responsabilidade limitada, dos controladores 
e dos administradores da sociedade falida, estabelecida nas respectivas leis, será apurada no 
próprio juízo da falência, independentemente da realização do ativo e da prova da sua 
insuficiência para cobrir o passivo, observado o procedimento ordinário previsto no Código de 
Processo Civil. 
8 1º Prescreverá em 2 (dois) anos, contados do trânsito em julgado da sentença de encerramento 
da falência, a ação de responsabilização prevista no caput deste artigo. 
8 2º O juiz poderá, de ofício ou mediante requerimento das partes interessadas, ordenar a 
indisponibilidade de bens particulares dos réus, em quantidade compatível com o dano 
provocado, até o julgamento da ação de responsabilização. 
Julgada procedente a ação de responsabilização, que tramita no juízo 
falimentar, o dispositivo da sentença declarará a responsabilidade 
solidária dos requeridos (sócios de responsabilidade limitada) pelas dívidas 
da sociedade falida. Mas os sujeitos declarados responsáveis solidários não 
terão sua falência decretada, apesar da responsabilização pessoal. Em 
razão da sentença, os bens particulares dos sócios de responsabilidade 
limitada serão arrecadados para pagamento das dívidas da sociedade falida. 
Esquematizando a ação de responsabilização:
A E 
É Atinge os 
— sócios de 
Foi [rd 
a limitada 
| Atinge, ainda, os ii 
controladores e 05 
| administradores 
N | da sociedade 
Ed 
Ed 
! Prescreve dois 
I anos após a 
sentença de 
encerramento 
É RESPONSABILIZAÇÃO SR 
ART. E2 DA-LRE 
q 
[ ee dn | prova de ae | 
| nda ) 0 | iróufdni 
mi Pode impor a Patrimonial 
a | indisponibilidade A 
| dos bers 
+ dossócios 
22.2.1.2. Na recuperação judicial 
A recuperação judicial e a extrajudicial não têm polo passivo. 
Na recuperação judicial, os credores atingidos funcionam como 
julgadores, pois a concessão dela e a homologação do plano de 
recuperação judicial estarão condicionadas à aprovação dos credores 
atingidos, tanto pelo silêncio no prazo para objeção ao plano quanto pela 
deliberação na assembleia geral de credores. Cumpre destacar que, 
segundo o art. 49, da Lei n. 11.101/2005, todos os credores do empresário 
devedor existentes ao tempo do pedido serão atingidos pela recuperação 
judicial, mesmo aqueles cujo crédito não esteja vencido. 
Ocorre que os arts. 57 e 68, da Lei n. 11.101/2005, exigem, antes da 
homologação do plano de recuperação judicial, a apresentação de certidões 
negativas de débitos tributários ou o parcelamento de tal débito, junto às 
Fazendas Públicas. Assim, podemos concluir que os credores tributários 
(União, Estados ou Municípios) não serãoatingidos pela Recuperação 
Judicial. 
Os credores são tratados como contratantes, na recuperação 
extrajudicial, e não podem ser credores trabalhistas, de acidente do 
trabalho nem tributários. O plano de recuperação é definido e aprovado 
extrajudicialmente e, em seguida, apresentado ao juiz para homologação.
Como existe a hipótese de essa modalidade de recuperação ser obtida 
perante a maioria dos credores, será possível também a instauração de um 
procedimento judicial para que se possa colher a manifestação da minoria 
que não o aprovou, sendo permitida a impugnação ao plano e até o seu 
indeferimento, como veremos em capítulo próprio. 
Na recuperação judicial especial para microempresas e empresas de 
pequeno porte, a partir da vigência da Lei Complementar n. 147/2014, 
todos os credores não serão consultados, apenas se submeterão ao plano 
de recuperação judicial previsto na Lei n. 11.101/2005, todavia podem se 
reunir e deliberar pela rejeição ao plano de recuperação, o que levaria à 
decretação da falência. 
Fixando parâmetro para todos os tipos de recuperação, o art. 48, da Lei 
n. 11.101/2005, exige o exercício regular da atividade empresarial há mais 
de dois anos, pelo devedor empresário requerente, para que se permita seu 
deferimento. Assim, será necessário o registro prévio do empresário e da 
sociedade empresária, há mais de dois anos, para que se conceda a 
recuperação pleiteada e, somente aí, serão alcançados os credores. 
Conclui-se, assim, que, para a recuperação, além do exercício da 
atividade empresarial, exige-se que estejam o empresário ou a sociedade 
empresária registrados há mais de dois anos. 
Confira o esquema: 
TIPOS DE RECUPERAÇÃO DA LRE 
pato x Função dos Credores Credores Atingidos 
Recuperação 
Judicial Julgadores: decisão pelo voto na assembleia geral |- Todos. Excepcionados os tributários e os dos 
de credores ou pelo silêncio na fase de objeções parágrafos do art. 49 da Lei n. 11.101/2005 
Extrajudicial | - Contratantes Todos, salvo os trabalhistas, os de acidente do 
trabalho e os tributários 
Especial Participantes Todos, exceto repasse de recursos oficiais, os 
para ME e fiscais e os previstos nos 88 3º e 4º do art. 49 
EPP 
22.2.2. Legitimidade ativa 
A Lei n. 11.101/2005 disciplina o sujeito ativo da recuperação e da 
falência nos arts. 1º; 22, W, “b”; 48; 70; 97; e 161. Nas referidas 
disposições, o legislador enumera as pessoas naturais e jurídicas que podem 
figurar no polo ativo da falência e da Recuperação Judicial.
Nos tópicos seguintes, examinaremos a situação de cada processo regido 
pela lei suprarreferida, especialmente no que se refere aos titulares das 
ações. Nesta introdução, contudo, devemos atentar para as seguintes regras 
gerais: 
o devedor empresário sempre poderá ser o sujeito ativo de todos os 
processos previstos na Lei n. 11.101/2005; a condição de empresário ou 
sociedade empresária deverá ser verificada no caso concreto, 
independentemente de eventual registro; neste particular, para os casos 
de recuperação judicial, os enunciados 96 e 97 da III Jornada de Direito 
Empresarial cuidaram de flexibilizar o tempo mínimo de registro, para 
que o devedor do agronegócio proponha eventual plano de salvamento: 
— Enunciado 96: “A recuperação judicial do empresário rural, pessoa 
natural ou jurídica, sujeita todos os créditos existentes na data do pedido, 
inclusive os anteriores à data da inscrição no Registro Público de 
Empresas Mercantis”. 
— Enunciado 97: “O produtor rural, pessoa natural ou jurídica, na 
ocasião do pedido de recuperação judicial, não precisa estar inscrito há 
mais de dois anos no Registro Público de Empresas Mercantis, 
bastando a demonstração de exercício de atividade rural por esse 
período e a comprovação da inscrição anterior ao pedido”. 
as recuperações extrajudiciais não têm polo ativo, nem passivo, pois 
já são apresentadas em Juízo na forma de acordo extrajudicial. Todavia, 
a recuperação extrajudicial majoritária terá um procedimento no qual os 
credores dissidentes serão tratados como requeridos e poderão impugná- 
la; 
o empresário que requerer falência, com base em título decorrente de 
negócio empresarial, terá que demonstrar sua condição de empresário 
(registro regular); 
o administrador judicial pode ser sujeito ativo da falência, 
incidentalmente, em processo de recuperação judicial no qual esteja 
atuando (art. 22, II, “b”, da Lei n. 11.101/2005). 
Esquematizando:
ps E, a 
* Devedor 
| empresário é 
| parte legítima 
| am todos 
N Os processos 
Pi 
A Bi! a 
| Recuperações Audministrador 
| Extrajudiciais. Erg blçm | judicial pode 
| não têm polo DISROSI DES requerer falência 
(ativo nem pasepáio + durante a 
No passivo » recuperação j 
me polo ativo 
| da falência! 
" Tecuperação 
|judicial, em regra, 
o empresário 
registrado 
hm J 
22.2.2.1. Na falência 
Podem requerer a falência do devedor empresário, nos termos dos arts. 
22, II, “b”, 97 e 105, da Lei n. 11.101/2005: 
o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107, da Lei n. 
11.101/2005; 
o quotista do devedor, na forma da lei ou do ato constitutivo da 
sociedade; 
o acionista do devedor, na forma da lei ou do ato constitutivo da 
sociedade; 
o inventariante; 
o cônjuge sobrevivente; 
qualquer herdeiro do devedor; 
qualquer credor; e 
o administrador judicial (na forma do art. 22, II, “b”, da Lei n. 
11.101/2005). 
Dos dispositivos mencionados e sujeitos ativos legitimados, uma 
primeira conclusão deve ser destacada: o juiz não decreta a falência de 
ofício. Será necessário o ajuizamento do regular pedido de falência 
autônomo ou incidental. Ocorre, contudo, que o deferimento do 
processamento de uma Recuperação Judicial pode levar à convolação dela 
em falência. Assim, a falência sempre terá origem em um pedido do próprio
devedor, de seus sócios, ou de algum credor ou sucessor do devedor. 
No caso do credor empresário, deverá ele apresentar certidão do 
Registro Público de Empresas que comprove a regularidade de suas 
atividades empresariais, caso queira requerer a falência de outro 
empresário. 
O credor que não tiver domicílio no Brasil deverá prestar caução relativa 
às custas processuais e ao pagamento da indenização de que trata o art. 101, 
da Lei n. 11.101/2005, caso seja julgado improcedente o pedido e denegada 
a falência, uma vez que, nessa hipótese, a lei determina ao juiz falimentar 
que condene o autor do pedido de falência ao pagamento de perdas e 
danos ao réu, caso constate dolo do autor do pedido de falência ao imputar 
ao devedor empresário a condição de falido. A caução servirá a garantir o 
pagamento do valor que vier a ser fixado em liquidação de sentença contra 
o autor do pedido de falência domiciliado no exterior. 
Existem importantes detalhes quanto aos sujeitos ativos da falência, o 
que passamos a descrever: 
1) Autofalência — nos termos do art. 105, da Lei n. 11.101/2005, pode o 
devedor empresário, seja ele pessoa natural, seja sociedade empresária, 
requerer sua própria falência. Considerando a previsão do inc. IV, do 
mesmo artigo, não é necessário que o devedor empresário tenha registro 
no Registro Público de Empresas Mercantis, mantido e operado pelas Juntas 
Comerciais, para que requeira sua falência. 
É com base nessa possibilidade de autofalência para quem não tem 
registro que chegamos à conclusão de que, no Brasil, a condição de 
empresário dispensa o registro prévio e, por isso, teríamos um sistema 
objetivo de qualificação do empresário. Em outras palavras, a condição de 
empresário é atribuída ao titular de uma empresa (atividade econômica 
organizada para produzir ou fazer circular bens e serviços), condição 
definida pelo exercício da atividade, e não pela constituição formal dela 
pelo registro. 
Agora, é basilar destacar que a ausência de registro permitirá a 
autofalência e a falência requeridas por terceiros, todavia não viabiliza a 
recuperaçãoem qualquer de suas formas, pois o benefício legal de 
composição com os credores para permitir a preservação da empresa 
somente pode ser deferido ao empresário regular, nos exatos termos dos
arts. 48 e 161, da Lei n. 11.101/2005, ou seja, deverá o devedor-empresário 
comprovar o exercício regular da atividade empresarial há mais de dois 
anos. 
O sócio de responsabilidade ilimitada, também, poderá requerer a 
autofalência da sociedade de que participe. Isso decorre da regra do art. 
81, da Lei n. 11.101/2005, uma vez que, em caso de falência da sociedade, 
os sócios de responsabilidade ilimitada terão sua falência determinada na 
sentença, devendo ser citados para que se defendam. 
A autofalência visa impedir um aumento desmesurado do passivo do 
devedor empresário. Desse modo, para inibir esse aumento desmesurado do 
passivo da sociedade, o qual poderá lhe ser imputado, o sócio de 
responsabilidade ilimitada pode pedir autofalência da sociedade, colocando 
um freio no referido aumento. 
2) O quotista ou acionista do devedor, bem como o liquidante, na 
forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade — possibilidade bastante 
remota, uma vez que o sócio que entenda não ter a sociedade condições de 
manter-se no mercado, pode retirar-se dela, promovendo uma dissolução 
parcial, caso seja quotista, ou vender suas ações, caso seja acionista. 
Mostra-se, também, remota a hipótese porque, estando a sociedade em 
crise econômico-financeira, pode o administrador requerer a autofalência 
dela, de acordo com os arts. 1.011 e 1.015, do CC, na forma do item 
anterior; ou podem os sócios decidir pelo requerimento de falência, na 
forma do art. 1.071, do CC. 
Deve-se destacar, ainda, a legitimidade do liquidante da sociedade, 
aquele que é nomeado para promover a parte executiva da dissolução dela, 
pois, apesar de não ter sido indicado como um dos legitimados ativos no art. 
97, da Lei n. 11.101/2005, consta como titular (e obrigado) dessa 
legitimidade, nos termos do art. 1.103, inc. VII, do CC, e do art. 210, inc. 
VII, da Lei n. 6.404/76 — LSA. É que, no momento da liquidação da 
sociedade dissolvida, pode o liquidante constatar crise econômico- 
financeira insuperável, o que o impedirá de alcançar saldo positivo líquido, 
após a venda do ativo e pagamento do passivo. Diante dessa hipótese, 
restará o requerimento de falência, com a consequente liquidação judicial 
do patrimônio, em lugar da liquidação promovida pelo liquidante. 
Como sócios legitimados na forma da lei, podemos destacar: a) o sócio
majoritário; b) o sócio controlador; c) o sócio-administrador; d) o 
membro do conselho de administração; e) o sócio membro do conselho 
fiscal; e f) a assembleia geral da sociedade anônima. A legitimidade dos 
demais sócios dependeria da concordância de outros, que, somados, 
representassem mais da metade do capital social. 
3) O inventariante, o cônjuge sobrevivente ou qualquer herdeiro do 
devedor — a legitimidade conferida ao inventariante, na condição de 
representante do espólio, é tanto para requerer autofalência quanto para 
requerer a falência de empresário devedor do falecido. Isso decorre da 
legitimidade extraordinária conferida ao inventariante para defender os 
interesses da universalidade patrimonial deixada pelo falecido, bem como 
para solver suas dívidas. 
O mesmo inciso confere legitimidade para autofalência ao cônjuge 
sobrevivente e aos herdeiros, pois afirma que o cônjuge sobrevivente e 
qualquer herdeiro do devedor terão legitimidade para requerer falência do 
devedor. A melhor interpretação que se pode dar ao dispositivo legal, 
contudo, é no sentido de que eles terão, também, legitimidade ativa para 
requerer a falência de empresário devedor do falecido, assim como se 
conferem tais legitimidades ao inventariante. Não há razão jurídica 
plausível para excluir a dupla legitimidade para os três sujeitos previstos 
no mesmo inciso do art. 97. 
É preciso lembrar que a falência do espólio somente poderá ser requerida 
até um ano após o falecimento do devedor empresário. 
4) Qualquer credor — a legitimidade dos credores para requerer falência 
é a que mais se coaduna com o processo falimentar regular, ordinário. São 
eles os titulares dos créditos não pagos pelo devedor empresário, o que 
ocasiona real interesse econômico na execução coletiva que decorre da 
decretação da falência. 
Aos credores do devedor empresário é dado o direito de cobrança 
ordinária de seus créditos — extrajudicialmente (com o protesto, por 
exemplo) e judicialmente (por via da cobrança, ação monitória e execução) 
— ou ao pedido de falência, instrumento de potente eficácia para se 
alcançar o adimplemento da obrigação, como afirma Waldo Fazzio Júnior. 
Caso o credor do devedor empresário seja também empresário, terá que 
comprovar tal condição por certidão emitida pela Junta Comercial,
confirmando seu registro regular naquele órgão. A exigência baseia-se na 
necessidade de registro do empresário que queira exercer algum benefício 
decorrente da legislação empresarial, além de incentivar a regularização do 
exercício da atividade empresarial, como intencionavam os arts. 967 e 985, 
do CC. 
Importante destacar que o credor domiciliado no exterior terá que 
prestar caução no juízo falimentar, visando garantir o pagamento das 
custas do processo e de eventual indenização ao devedor empresário, caso 
seja denegada a falência e reconhecido o dolo do autor. Parece-nos, ainda, 
ser a caução também exigível para garantir o pagamento dos honorários 
advocatícios suportados pelo empresário que foi vítima da má-fé do credor 
estrangeiro. A referida caução não será exigida de credores domiciliados 
na Argentina, no Paraguai e no Uruguai, em face do art. 4º, do Protocolo de 
Cooperação e Assistência Jurisdicional firmado pelo Brasil e ratificado pelo 
Decreto n. 2.057/96. 
O Decreto-lei n. 7.661/45 exigia que o credor com garantia real 
renunciasse a ela para requerer a falência do devedor empresário, podendo, 
ainda, demonstrar que a sua garantia não era suficiente, o que dispensaria 
a renúncia. Contudo, a Lei n. 11.101/2005 não estabeleceu a mesma 
exigência, de modo que o credor com garantia real não precisa mais 
renunciar a ela, nem precisa demonstrar sua insuficiência, caso queira 
requerer a falência do seu devedor. Essa é uma alteração substancial da 
nova Lei Recuperacional em relação à antiga Lei de Falências. 
A expressão “qualquer credor” deixa de lado algumas polêmicas 
travadas pelos doutrinadores antes mesmo da Lei n. 11.101/2005, que 
diziam respeito ao credor único (já que a falência é um processo de 
execução coletiva), ao credor fiscal e ao credor de crédito não vencido. 
Não há qualquer óbice legal ou econômico à falência de empresário que 
tenha credor único. A fase preliminar da falência investiga o estado 
jurídico do devedor empresário, ou seja, intenta verificar se o empresário 
enquadra-se em alguma das nove hipóteses previstas no art. 94, da Lei n. 
11.101/2005, o que será estudado mais adiante. Desse modo, não importa se 
o devedor tem apenas um credor. Demonstrado pelo solitário credor que o 
devedor empresário está inserido em alguma das hipóteses referidas, a 
falência será decretada. Somente na fase executória é que se verificará a
existência de mais credores. Caso haja apenas um, ainda assim será 
realizado o ativo para pagamento do passivo único. 
Seguindo a mesma orientação, poderá o credor de crédito vincendo 
requerer a falência do devedor empresário. As hipóteses falimentares do 
inc. II, do art. 94, da Lei n. 11.101/2005, reclamam atitudes urgentes de 
“qualquer credor”. Até daquele cujo crédito não esteja vencido, pois, se o 
empresário está liquidando precipitadamente seu patrimônio, usando meios 
ruinosos para efetuar pagamentos, ou vendendo seu estabelecimento sem 
comunicação aos seus credores, entre outras condutas, não se pode exigir 
que os titulares de créditosnão vencidos assistam passivamente à 
evaporação de suas chances creditícias. 
Como afirmaremos diversas vezes nesta obra, a falência não é um estado 
meramente de fato, econômico ou patrimonial, mas, antes, de direito, 
jurídico e legal. Até porque, como afirma o art. 75, da Lei n. 11.101/2005: 
“a falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa 
a preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos 
produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa”. Tal objetivo não pode ser 
limitado às situações de inadimplência do devedor, nem desautorizado pela 
ausência de dívida vencida. 
Outra situação de credor que gera polêmica é a do Estado-credor, em 
razão do crédito fiscal. Deixando à parte uma minoria que reconhece o 
credor fiscal incluído na expressão “qualquer credor”, mostra-se mais 
adequada ao novo regime falimentar a corrente que entende que o credor 
fiscal não teria interesse de agir para o processo falimentar. 
Como primeiro argumento, invoca-se a continuidade do processo de 
execução fiscal, durante o processo falimentar, bem como a não atração 
dele para o juízo falimentar como razões suficientes para se constatar a 
inutilidade de um pedido de falência a partir do Estado. 
De fato, o art. 6º, da Lei n. 11.101/2005, determina a suspensão da 
prescrição, das ações e das execuções contra o devedor, todavia aquelas 
demandas em que o Estado figura como parte não se suspendem, a teor 
do que preceitua o 8 7º daquele artigo, a saber: “as execuções de natureza 
fiscal não são suspensas pelo deferimento da recuperação judicial, 
ressalvada a concessão de parcelamento nos termos do Código Tributário 
Nacional e da legislação ordinária específica”. Essa continuidade da
execução fiscal também será observada na falência, em que a penhora do 
crédito fiscal é realizada no rosto dos autos, sem a necessidade de 
habilitação da Fazenda Pública na Vara Falimentar. 
Além disso, eventual decretação da falência não atrairá para o juízo 
falimentar as demandas que busquem o crédito fiscal, pois, a teor do art. 76, 
da Lei n. 11.101/2005, “O juízo da falência é indivisível e competente para 
conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido, 
ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei 
em que o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo”. 
Como segundo argumento, o art. 187, do CTN, estabelece que o crédito 
fiscal não se submete ao concurso de credores, o que afastaria mais uma 
vez o interesse de agir do Estado para requerer a falência, o que se soma ao 
art. 38, da Lei n. 6.830/80, que determina que a discussão sobre a dívida 
ativa da Fazenda Pública deve ser realizada na execução fiscal, somente. 
Aparecendo como terceiro argumento, um último óbice seria verificado, 
ainda, no que se refere à eleição de quais seriam os empresários de quem o 
credor fiscal pediria falência. O princípio da impessoalidade que rege a 
atuação do Estado levaria a uma séria restrição e rebuscada fundamentação 
dos critérios de escolha de determinado devedor empresário de quem se 
pediria a falência, pois o fisco não poderia aleatoriamente determinar esse 
sujeito. A alternativa a isso seria requerer a falência de todos os devedores 
empresários inscritos em dívida ativa, o que se mostra um absurdo, já que 
atentaria contra o princípio da preservação da empresa, do qual o Estado 
deve ser o primeiro guardião. 
O entendimento adotado pela corrente dos que compreendem ser o credor 
fiscal ilegítimo para requerer falência coincide com a conclusão dos 
especialistas em Direito Comercial, participantes da I Jornada de Direito 
Comercial do Conselho de Justiça Federal. O Enunciado 56 das referidas 
jornadas pontuou o seguinte: “A Fazenda Pública não possui 
legitimidade ou interesse de agir para requerer a falência do devedor 
empresário”. 
Por ocasião da análise da caracterização da falência, especialmente 
aquela prevista no art. 94, inc. I, da Lei n. 11.101/2005, será verificada a 
configuração de um eventual litisconsórcio ativo necessário, para permitir 
que credores interessados na falência do devedor empresário possam atingir
o valor que supere quarenta salários mínimos, como exige o referido 
dispositivo. 
5) O administrador judicial (na forma do art. 22, II, “b”, da Lei n. 
11.101/2005). 
A legitimidade do administrador judicial para requerer falência é 
extraordinária, pois ele não é credor do devedor empresário, nem tem 
funções administrativas na recuperação judicial, processo no qual tem a 
referida legitimidade. 
A função do administrador judicial na recuperação judicial é de 
fiscalização, sendo que ele atua no interesse dos credores, principalmente. 
Verificando o administrador judicial a ausência de cumprimento de 
alguma obrigação assumida no plano de recuperação, deverá ele próprio 
requerer a convolação da recuperação judicial em falência, com 
fundamento no art. 73, inc. IV, da Lei n. 11.101/2005, desde que a 
obrigação tenha sido descumprida dentro do prazo de dois anos de 
duração da recuperação judicial deferida. Tal encargo encontra-se no art. 22, 
da mesma lei. Confira-se: “Ao administrador judicial compete, sob a 
fiscalização do juiz e do Comitê, além de outros deveres que esta Lei lhe 
impõe: (...) II — na recuperação judicial: (...) b) requerer a falência no caso 
de descumprimento de obrigação assumida no plano de recuperação”. 
Esquematizando a legitimidade ativa na falência:
LEGITIMIDADE ATIVA NA FALÊNCIA 
O próprio devedor Não é necessário que seja registrado, basta o exercício da atividade empresarial. 
A empresa individual de responsabilidade limitada poderá requerer autofalência da mesma 
forma que o empresário individual. 
O sócio de responsabilidade ilimitada pode requerer a autofalência da sociedade de que 
participe. 
O sócio e o acionista | - Há a alternativa de o sócio deixar a sociedade, promovendo a dissolução parcial dela ou 
vendendo suas ações. 
O sócio-administrador pode requerer a falência da sociedade. 
Por decisão da maioria dos sócios, isso também pode ser feito. 
O liquidante da sociedade pode requerer a falência dela. 
Inventariante, A legitimidade é conferida a todos, tanto para requerer a falência da atividade empresarial 
herdeiro e cônjuge da qual fazia parte o falecido quanto para requerer a falência de devedor empresário dele. 
sobrevivente O pedido de falência contra o falecido deverá ser feito até um ano após a morte. 
Qualquer credor Credor empresário deverá comprovar seu registro regular. 
Credor domiciliado no exterior deverá prestar caução. 
Credor com garantia real não precisa mais renunciar a ela para requerer falência do 
devedor empresário. 
Mesmo sendo credor único, pode ser requerida e decretada a falência. 
O credor fiscal não tem interesse de agir para requerer falência. 
O titular de crédito não vencido pode requerer falência nas hipóteses do inc. III, do art. 94, 
da Lei n. 11.101/2005. 
Formação de litisconsórcio ativo para a caracterização da falência prevista no inc. |, do art. 
94, da Lei n. 11.101/2005. 
Administrador Somente é cabível em caso de recuperação judicial deferida, em que o devedor deixou de 
judicial cumprir alguma obrigação prevista no plano de recuperação judicial, dentro do prazo de dois 
anos. 
22.2.2.2. Na recuperação judicial 
O art. 48, da Lei n. 11.101/2005, estabelece os pressupostos para a 
concessão de recuperação judicial, os quais deverão ser observados, 
também, para a recuperação especial e para a recuperação extrajudicial. 
Desse tema, trataremos mais adiante. Agora, interessa-nos apenas tratar da 
única condição imposta por aquele dispositivo (já que as demais exigências 
são apenas impedimentos), qual seja: ser o requerente empresário que 
exerça regularmente sua atividade empresarial há mais de dois anos. O 
exercício regular da atividade empresarial envolve dois aspectos: o real — 
exercício, defato, de uma atividade econômica organizada para a produção 
ou circulação de bens e serviços; e o formal — arquivamento dos atos 
constitutivos do empresário ou da sociedade empresária no Registro Público 
de Empresas, a cargo das Juntas Comerciais estaduais?. 
O que se observa na referida condição é a repetição do reconhecimento 
dos benefícios da legislação empresarial apenas ao empresário registrado.
Desde o revogado Código Comercial de 1850, a doutrina e a jurisprudência 
reconhecem a prescindibilidade do registro para a caracterização do 
comerciante/empresário, exigindo tal requisito formal apenas para o 
exercício dos benefícios da legislação empresarial. 
A Recuperação, em qualquer de suas formas, é benefício. Portanto, o 
registro prévio e o exercício da atividade empresarial terão que ser 
comprovados para a sua concessão. 
Diante da regra exposta, podem requerer recuperação judicial ou 
extrajudicial: 
a) Os empresários registrados, há mais de dois anos, no Registro 
Público de Empresas. 
b) As sociedades empresárias registradas, há mais de dois anos, no 
Registro Público de Empresas. 
c) O inventariante, o cônjuge sobrevivente ou qualquer herdeiro do 
devedor — considerando a legitimidade para requerer falência 
reconhecida aos sucessores do empresário falecido, nada mais 
proporcional que lhes conferir legitimidade ativa para a recuperação. É 
que o foco precípuo da Lei n. 11.101/2005 é a preservação da empresa e, 
se os sucessores têm legitimidade para extinguirem o titular da atividade 
empresarial pela falência, ainda mais interesse terão em preservá-lo por 
meio da recuperação. No caso, a recuperação judicial recairá sobre a 
empresa que pertencia ao empresário falecido ou à sociedade da qual 
participava o extinto. 
d) O sócio remanescente — tal expressão não restou definida na Lei n. 
11.101/2005, em que o art. 48, parágrafo único, estabeleceu que: “A 
recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge 
sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou sócio 
remanescente”. Podemos entender por sócio remanescente aquele que se 
enquadre em uma das três seguintes situações: 1º) aquele que restou na 
sociedade após a saída dos demais, inclusive no caso de a pessoa jurídica 
tornar-se unissocietária (art. 1.033, inc. IV, do CC, e art. 206, inc. 1, 
alínea “d”, da LSA); 2º) o sócio dissidente (o que deixou a sociedade por 
ter sido vencido em deliberação da maioria); 3º) o sócio que tiver que 
fazer o pedido em face de alguma impossibilidade ou impedimento dos 
demais. No caso, a recuperação judicial recairá sobre a empresa que
pertence à sociedade da qual participa o remanescente. 
e) Empresários e sociedades empresárias que tiveram sua falência 
requerida, desde que o pedido de recuperação judicial seja feito até o 
fim do prazo para a Defesa (10 dias após a citação na falência) e 
apresentem os pressupostos do art. 48, da Lei n. 11.101/20052. 
Esquematizando: 
Requerida ordinariamente ou 
e pelo inventariante e sucessores 
ou pelo sócio remanescente 
Empresário registrado 
| e em atividade há mais 
LEGITIMA DOS À de dois anos 
RECUPERAÇÃO ; 
JUCHCIAL Sociedade Empresária registrada 
— e am atividade há mais 
de dois anos 
| Empresário ou Sociedade Empresária 
+» cuja falência foi requerida no prazo 
de Defesa do processo falimentar 
22.3. EMPRESÁRIOS NÃO ALCANÇADOS 
A Lei n. 11.101/2005 inicia sua regulamentação indicando seu objeto e 
seus sujeitos já no art. 1º. Logo em seguida, exclui aqueles sujeitos 
indicados no art. 1º, caso exerçam certas atividades especiais ou se 
organizem a partir de capital oriundo do Estado. 
Ao tratarmos dos sistemas falimentares, destacamos que o Brasil adotou, 
processualmente, três abordagens legais da pessoa que esteja em crise 
patrimonial. Insolvência civil, para os devedores comuns. Falência e 
recuperação, para os devedores empresários. Liquidação e intervenção 
extrajudicial, para alguns devedores empresários especiais. Pois bem, são 
esses empresários especiais, não alcançados pela falência e recuperação, 
os que estão excluídos expressamente pelo art. 2º, da Lei n. 11.101/2005. 
Eles estariam submetidos à liquidação e à intervenção extrajudicial ou a 
outro procedimento administrativo qualquer, a ser regulado pelo Direito 
Administrativo. 
As atividades empresariais excluídas da aplicação da Lei n. 11.101/2005, 
aqui chamadas de especiais, seguem dois critérios de definição. São 
organizadas com a participação do Estado em seu capital social ou 
desempenham alguma atividade considerada estratégica para a política
econômica estatal. Assim, o inc. I, do art. 2º, da Lei n. 11.101/2005, 
contempla aquelas atividades empresariais de que participa o Estado, 
enquanto o inc. II abarca as atividades que interessam à política econômica 
estatal. 
Destarte, no lugar da falência e da recuperação, para as atividades 
previstas no art. 2º, da Lei n. 11.101/2005, aplicaremos a liquidação e a 
intervenção extrajudicial. Assim, a condução do processo de liquidação 
caberá a um órgão do Poder Executivo, seguindo um critério de 
conveniência e oportunidade, próprio dos atos administrativos. Ocorre 
que o regime falimentar poderá, subsidiariamente, ser aplicado a referidas 
atividades, enquanto não houver legislação própria regulando-as, ou 
complementando a legislação existente, conforme determinado pelo art. 
197, da Lei n. 11.101/2005. 
Podemos, então, definir as empresas públicas e as sociedades de 
economia mista como atividades das quais o Estado participa, ao passo 
que as atividades previstas no inc. II como aquelas que interessam à 
estratégia da política econômica estatal. Todas serão alcançadas por 
procedimentos extrajudiciais, em que a conveniência e a oportunidade 
substituirão a necessidade de decisão fundamentada exigida nas decisões 
judiciais. 
As sociedades anônimas, depois de liquidado e partilhado o seu ativo, 
também estão excluídas da aplicação da Lei n. 11.101/2005, nos termos do 
seu art. 96. Tal exclusão visa trazer segurança aos arrematantes da 
sociedade anônima liquidada, ao mesmo tempo em que define a situação 
dos seus sócios anônimos, sem possibilidade de revisão da situação das 
suas responsabilidades relativas às suas ações. É que a responsabilidade 
limitadíssima dos acionistas não permite a continuação de eventual 
execução contra eles depois de esgotado o patrimônio da sociedade, sendo, 
então, sem qualquer utilidade eventual falência depois de liquidado o 
ativo e pago o passivo. As atividades excluídas estão assim indicadas na Lei 
n. 11.101/2005:
EMPRESAS EXCLUÍDAS DO REGIME DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL 
1) Empresa pública 
2) Sociedade de economia mista 
3) Instituição financeira pública ou privada 
4) Cooperativa de crédito 
5) Consórcio 
6) Entidade de previdência complementar 
7) Sociedade operadora de plano de assistência à saúde 
8) Sociedade seguradora 
9) Sociedade de capitalização 
10) Sociedade anônima, depois de liquidado e partilhado o seu ativo 
Diante da regra exposta, as referidas atividades empresariais não 
poderão requerer recuperação judicial ou extrajudicial. O mesmo se diz 
quanto à falência, salvo em caso de ausência de regulamentação 
específica, ou aplicação supletiva da legislação falimentar por expressa 
disposição legal. 
É oportuno lembrar que eventuais falências decretadas à luz da 
legislação anterior, Decreto-lei n. 7.661/45, podem ter alcançado 
instituições hoje não atingidas pela Lei n. 11.101/2005. Nesse caso, as 
referidas falências continuarão sendo reguladas até o seu encerramento 
pela lei anterior, na forma determinada pelo art. 192, da Lei n. 
11.101/2005, o qual dispõe que “esta Lei não se aplica aos processos de 
falência ou de concordata ajuizados anteriormente ao início de sua vigência, 
que serão concluídos nos termos do Decreto-lei n. 7.661, de 21 de junho 
de 1945”. 
Por fim, há que se fazer distinção entre a exclusão relativae a absoluta. A 
exclusão relativa ocorre em relação àquelas empresas que têm seu regime 
próprio de liquidação extrajudicial, todavia com a possibilidade de 
aplicação da legislação falimentar supletivamente. A exclusão absoluta 
alcança as empresas a que não se aplicará a legislação falimentar em 
hipótese alguma, como no caso das empresas públicas. 
22.3.1. Empresas públicas 
As empresas públicas são criadas pelo Estado, e seu capital social é 
composto na sua totalidade de investimento público. A legislação permite
que ela adote qualquer forma empresarial. O que importa é saber que o 
único titular da empresa pública é o Estado. Eventual falência dela 
lançaria suspeita sobre a própria saúde financeira do Estado, ante a eventual 
responsabilidade subsidiária, em face da administração exclusiva por 
agente estatal. Eis um primeiro motivo para que não se submeta à legislação 
falimentar. 
Como já dito anteriormente, o processo falimentar, por ser judicial, exige 
do judiciário uma resposta fundamentada, de modo que confere ao credor- 
autor um direito subjetivo à resposta estatal e, presentes os requisitos de 
um dos tipos falimentares, à própria decretação da falência. Desse modo, a 
sorte da empresa pública estaria nas mãos de seus credores. Isso tiraria do 
Estado o controle de sua atuação no mercado ou na prestação de serviços 
públicos, especialmente em situações de vultosos investimentos em setores 
estratégicos para a referida atuação. 
Deve-se considerar, ainda, que as empresas públicas atuam, geralmente, 
em setores em que o interesse público está presente, seja porque a 
iniciativa privada não imobiliza grandes investimentos para retorno 
demorado, seja porque há localidades que não seriam atendidas pela 
iniciativa privada na exploração de alguma atividade econômica, tal como 
aquela desenvolvida pelos correios, por exemplo, em municípios 
longínquos e de baixa renda, em face do desequilíbrio entre o investimento 
necessário e o retorno financeiro almejado. 
Os doutrinadores divergem quanto à constitucionalidade do art. 2º, da Lei 
n. 11.101/2005. Isso porque, para uma primeira corrente, a Constituição 
Federal não admite tratamento diferenciado entre as empresas privadas e 
as de capital público (art. 173, 8 1º, da Constituição Federal). Eis o 
principal argumento daqueles que defendem a referida 
inconstitucionalidade, a qual, se admitida, levaria à aplicação da Lei n. 
11.101/2005 às paraestatais. Aqui, o critério é estritamente legal. 
Há, ainda, doutrinadores que defendem a inconstitucionalidade parcial 
do art. 2º. O argumento defendido por eles aponta para dois tipos de 
atividades desempenhadas pelo Estado, quando se utiliza de sociedades de 
economia mista e de empresas públicas. Distinguem as paraestatais que 
prestam serviços públicos (art. 175, da Constituição Federal) daquelas que 
exercem atividade econômica (art. 173, 8 1º, da Constituição Federal),
concorrendo com empresas privadas. As primeiras não poderiam ser 
submetidas à Lei n. 11.101/2005, por desempenharem atividades de 
interesse coletivo, pois eventual falência imporia a descontinuidade do 
serviço público. Já aquelas que desempenham atividade econômica 
deveriam se submeter à referida lei, pois concorrem no mercado com 
empresas privadas, sendo inconstitucional o tratamento desigual. O critério, 
segundo esses doutrinadores, é a convergência entre o interesse público e 
o privado, compatibilizando a norma do art. 2º, da Lei n. 11.101/2005, com 
a norma constitucional. 
Uma terceira corrente doutrinária, a que nos parece mais técnica, 
defende a constitucionalidade da exclusão das empresas públicas e 
sociedades de economia mista das disposições da Lei n. 11.101/2005. São 
bem mais consistentes os argumentos. Vejamos: 
1º) As empresas públicas e sociedades de economia mista são criadas 
por autorização legal. Assim, são fruto do interesse coletivo expresso 
pelos representantes da sociedade, por meio do Poder Legislativo. Sendo 
criadas por lei, no interesse de toda a coletividade, somente por meio de lei 
é que deveriam ser liquidadas, dissolvidas e extintas, também no interesse 
coletivo, e não de credor individual. 
2º) O art. 2º da Lei n. 11.101/2005 não exclui apenas as empresas 
públicas e sociedades de economia mista das suas disposições. Exclui mais 
sete atividades privadas, em um rol aberto a outras atividades que poderão 
ser excluídas por lei, caso detectado interesse maior na sua preservação e 
proteção. Desse modo, não haveria como defender que a exclusão é um 
privilégio de entes paraestatais, uma vez que as demais atividades excluídas 
independem de sua natureza pública ou privada. O que ocorre, de fato, é 
uma exclusão estratégica, voltada a preservar interesses 
macroeconômicos e sociais. 
3º) A eventual responsabilidade subsidiária ou solidária dos sócios 
controladores tornaria a falência e a recuperação incompatíveis com um 
sócio estatal. O art. 82, da Lei n. 11.101/2005, prevê a ação de 
responsabilidade dos sócios de responsabilidade limitada, em caso de 
falência. Imaginemos o Estado no polo passivo de referida ação, bem como 
a sua condenação à responsabilidade solidária pelas obrigações contraídas 
pela empresa paraestatal. Tal situação equivaleria à decretação da falência
do próprio Estado. 
4º) Seja prestando serviços tipicamente públicos, seja intervindo na 
atividade econômica privada, as empresas públicas e sociedades de 
economia mista desempenham atividade de interesse público. Atuando em 
setores nos quais a economia privada não atua, ou complementando e 
competindo onde ela atua, o Estado supre a ausência da atividade privada 
ou cria um parâmetro para o equilíbrio do seu desempenho. Estado liberal, 
socialista ou de bem-estar social é opção coletiva, no interesse coletivo. Ao 
optar por um Estado de bem-estar social, a Constituição Federal preserva 
o interesse privado e a livre-iniciativa, todavia se resguarda no direito de 
intervenção para garantir a função social da propriedade e o 
desenvolvimento equilibrado do País, especialmente no que diz respeito à 
economia e ao mercado. 
5º) Se é papel do Estado garantir a livre-iniciativa, em razão do comando 
constitucional, também o é buscar a redução das desigualdades e 
promover o desenvolvimento equilibrado do País. Assim, ponderando os 
princípios constitucionais da livre-iniciativa e da propriedade privada 
com aqueles que orientam o desenvolvimento equilibrado, a função 
social da propriedade e a continuidade dos serviços públicos, é de se 
enxergar na própria Constituição Federal os fundamentos para o 
tratamento diferenciado, se é que essa distinção tem por critério a 
atividade empresarial estatal em confronto com a atividade privada. 
6º) O critério de exclusão do art. 2º, da Lei n. 11.101/2005, não adota a 
dicotomia público/privado como divisor de categorias. Ali, o que se 
observa é a eleição de atividades estratégicas para a manutenção do 
equilíbrio e da estabilidade econômica, tudo sob a óptica da intervenção 
mínima do Estado e da necessidade de financiamento público e privado 
da atividade produtiva. 
22.3.2. Sociedades de economia mista 
Seguindo o mesmo raciocínio aplicado às empresas públicas, as 
sociedades de economia mista também não serão submetidas à Lei n. 
11.101/2005. Nesse caso, tais sociedades são constituídas pela soma de 
investimentos públicos e privados. O Estado detém a maior parte das 
ações com direito a voto, as ordinárias, de modo que possui o poder de 
dirigir a empresa de acordo com seus interesses, escolhendo a maioria dos
membros do Conselho de Administração e, assim, o presidente e os 
principais componentes da Diretoria da companhia. 
Em razão da preponderância do poder de voto e na composição da 
administração, a sociedade de economia mista é orientada no interesse 
estatal. Seus resultados são distribuídos aos investidores privados, e a sua 
falência imporiaprejuízos também ao setor privado. Normalmente, as 
referidas empresas desempenham atividade econômica, concorrendo no 
mercado com o setor privado. 
Além dos motivos expressos anteriormente, no caso das sociedades de 
economia mista, eventual falência poderia impor, a diretores e membros 
dos conselhos de administração e fiscal, responsabilidade pessoal e 
ilimitada. Não haveria qualquer inconveniente jurídico nisso, caso alguns 
desses conselheiros e diretores não fossem servidores públicos que, por 
dever de ofício, têm de compor tais órgãos sociais nas companhias de 
economia mista, representando o ente estatal a que estão vinculados. 
Por sua vez, para atender à conveniência e à oportunidade que 
compõem o mérito do ato administrativo, em muitas decisões, os órgãos da 
diretoria da companhia distanciam-se de fundamentos econômicos e de 
mercado, voltando-se para o interesse público. 
Por todos esses fundamentos, tanto a sociedade de economia mista 
quanto as empresas públicas foram excluídas da Lei n. 11.101/2005, sendo 
que sua liquidação dependerá de lei específica ou de uma decisão 
discricionária do órgão do Poder Executivo ao qual estiver vinculada a 
mencionada empresa paraestatal. Tal instrumento decisório (lei ou ato 
equivalente do Executivo) definirá como serão pagos os credores e 
encerradas as atividades. 
Não caberia, por fim, a aplicação da insolvência civil, nem da 
intervenção e liquidação extrajudicial, pois tais práticas retirariam do 
órgão a que se vincula a paraestatal a discricionariedade de mantê-la ou 
extingui-la, sempre no interesse público. 
Sistematizando a exclusão da empresa pública e da sociedade de 
economia mista da aplicação da Lei n. 11.101/2005, bem como a 
constitucionalidade de tal dispositivo:
F 
É Seelasso 
+ triadas por lei, 
| somente pela 
| lai podem 
Ec 4 ser liquidadas ER 
a à N ER he 
“Quan 2º da RE, / responsabilidade 
[ não exclui | | subsidiária do 
apenas as Estado poderia 
empresas implicar sua 
paraestatais própria 
falência 
a EXCLUSÃO DAS ; 
EMPRESAS 
PRBLICAS E 
SOCIEDADES 
E: DE ECONOMIA e 
A opção MISTA DA LHE A ; 
[Am Às paraestatais 
pelo Estado de prestam serviço de 
| bem-estar social | interesse público, 
permite a | mesmo quando 
distinção de | Rise 
tratamento E 
a 
Aí dicotomia XY 
(públicoiprvado não 
| A ceritério de 
| exclusão do 
art. 2º da LRE 
22.3.3. Atividades financeiras 
O art. 2º, inc. 1, da Lei n. 11.101/2005 elenca, em rol aberto, sete 
atividades empresariais que não se submeterão à aplicação da LRE. São 
elas: 
ROL ABERTO DE EMPREENDEDORES QUE NÃO SE SUBMETEM À LEIN. 11.101/2005 
1) Instituição financeira pública ou privada 
2) Cooperativa de crédito 
3) Consórcio 
4) Entidade de previdência complementar 
5) Sociedade operadora de plano de assistência à saúde 
6) Sociedade seguradora 
7) Sociedade de capitalização 
Trataremos tais atividades empresariais como financeiras lato sensu, 
uma vez que todas elas captam dinheiro no mercado para desempenhar 
suas atividades, ou seja, financiam-se da poupança popular, sem uma
contraprestação instantânea. 
Em todas as atividades previstas no inc. II, do art. 2º, da Lei n. 
11.101/2005, exige-se uma relação de confiança entre o cliente e a 
empresa, ante o risco que decorre da entrega de valores pelo cliente à 
empresa, sem uma contraprestação imediata, isto é, o cliente entrega 
numerário à empresa confiando que, no momento em que precisar dos 
respectivos valores ou da prestação dos serviços contratados, poderá contar 
com eles. 
As referidas atividades, então, envolvem sério risco de prejuízo aos 
consumidores e inspiram a necessidade de confiança acima do que o 
mercado normalmente exige. Isso para garantir a própria sobrevivência da 
empresa. A eventual falência de uma empresa que desempenhe uma dessas 
atividades poderia ocasionar uma crise setorial que colocaria em risco 
todas as empresas que componham o referido setor do mercado. 
A título de ilustração, basta comparar o efeito da falência de um 
supermercado de que se é cliente, para a falência de um banco, de uma 
empresa de previdência privada ou de um plano de saúde dos quais se é 
cliente. No caso do supermercado, a falência não traria qualquer 
consequência para o cliente consumidor. Todos os contratos firmados com o 
supermercado tiveram cumprimento imediato, em que o pagamento em 
dinheiro recebeu a imediata contraprestação de entrega da mercadoria. Já no 
caso do banco, da previdência privada e do plano de saúde, o dinheiro 
pago pelo cliente não teve qualquer contraprestação imediata. Pelo 
contrário, os pagamentos efetuados ficaram retidos e, agora, decretada a 
falência, o cliente teria que se habilitar, com todos os demais credores, na 
intenção de receber o que foi pago, restando frustrada a futura 
aposentadoria, a prestação dos serviços de saúde ou dos serviços bancários. 
Tal quadro exemplificativo levaria a uma desconfiança em todo o 
sistema financeiro, securitário, previdenciário e dos demais indicados no 
art. 2º, inc. II, da Lei n. 11.101/2005. Eventual pedido indevido de falência 
poderia ser confundido com uma crise econômico-financeira de 
determinada empresa, o que poderia levar todos os clientes ao 
inadimplemento coletivo ou à busca desenfreada e coletiva pelo resgate 
de valores depositados. Por isso, a opção legislativa de retirar dos credores 
dessas empresas a opção pela aplicação da Lei n. 11.101/2005.
Como veremos mais adiante, o processo de falência possui duas fases. 
A primeira delas, chamada investigativa, pré-falimentar ou preliminar, 
tem a finalidade de caracterizar o estado falimentar, ou seja, em um 
verdadeiro processo contencioso, determinado credor busca comprovar a 
crise econômico-financeira do devedor empresário, havendo uma fase 
postulatória e outra probatória. Caso não reste caracterizada a falência, o 
juiz a denegará. Ocorre que o simples pedido de falência já promove 
imediato prejuízo às atividades de qualquer empresa. Se ela depende da 
extrema confiança de seus clientes, o singelo pedido de falência inviabiliza 
a captação de novos clientes e põe em desespero os já existentes. Isso 
levaria a uma verdadeira crise na referida empresa, capaz de contaminar 
todo o setor de mercado. 
A segunda fase da falência, iniciada pela sentença que a decreta, é a 
execução coletiva, em que todos os bens e ativos do falido são alienados 
para pagamento de seus credores. A liquidação do ativo leva, geralmente, 
ao encerramento da atividade. A exclusão das atividades financeiras do 
regime falimentar visa, justamente, impedir essa possibilidade de 
encerramento pela vontade dos credores, ainda que haja, de fato, crise 
econômico-financeira da empresa. O Estado, portanto, elegeu atividades 
consideradas estratégicas para o regular funcionamento do mercado. 
Considerou a importância do crédito, da securitização, da previdência e 
assistência à saúde a partir da iniciativa privada, da formação de 
poupança para rendimentos futuros ou para aquisição de bens. Nesses 
setores, impediu-se aos credores o direito subjetivo à execução coletiva, e 
aos devedores, o direito subjetivo a uma recuperação deferida pelo Poder 
Judiciário. 
Exemplo histórico de forma alternativa de tratamento dado às empresas 
consideradas estratégicas pelo Estado é o PROER, programa instituído 
pelo governo de Fernando Henrique Cardoso para socorrer bancos que 
teriam sua falência decretada caso fossem acionados no Poder Judiciário. 
À época, logo após a implantação do Plano Real, com a estabilização da 
economia e o fim da ciranda inflacionária, os bancos perderam sua maior 
fonte de rendimentos, justamente aquela decorrente dos altos índices 
inflacionários. 
Era o ano de 1995, e o País vinha de alguns planos econômicos
fracassados. O Plano Real, então, não poderia correr o mesmo risco. A 
falência de instituições financeiras naquele momento poderia implodir o 
novo

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