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22 INSTITUTOS PRELIMINARES DA RECUPERAÇÃO E DA FALENCIA A Lei n. 11.101/2005 inicia a regulamentação do tratamento dispensado aos empresários em crise econômico-financeira, estabelecendo disposições preliminares, as quais orientarão, de forma comum, o objeto, os sujeitos atingidos, a competência, as suspensões e a participação do Ministério Público nos processos de falência e de recuperação judicial, o que passamos a analisar. 22.1. LEGISLAÇÃO E OBJETO 22.1.1. Os procedimentos regulados pela Lei n. 11.101/2005 A Lei n. 11.101/2005, que regula a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, trata os sujeitos por ela alcançados, simplesmente, com uma expressão: devedor. É o que estatui o seu art. 1º: “Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, doravante referidos simplesmente como devedor”. Os objetos da Lei n. 11.101/2005, então, são os seguintes: Recuperação Extrajudicial; Recuperação Judicial; Recuperação Judicial Especial para Microempresas ou Empresas de Pequeno Porte; e Falência. Os sujeitos e os objetos da Lei n. 11.101/2005 podem ser esquematizados assim: “re Ordinária | . =| Recuperação judicial | ESET ue APENAS EMPRESA RIO —» Especial para ME e EPP | E SOCIEDADE a a 4 ê EMPRESÁRIA, | Falência ) pecado e Consensual ) VERO “+| Recuperação extrajudicial | o, E e Majoritária | 22.1.2. A Lei n. 11.101/2005 e a aplicação subsidiária do CPC e do CPP A Lei n. 11.101/2005 é complementada pelo CPC de 1973! e pelo CPP, e complementa os regimes estatuídos para a intervenção e para a liquidação extrajudicial. Na Lei n. 11.101/2005, podemos conferir o que se estatuiu a respeito: Art. 188. Aplicam-se subsidiariamente as disposições do Código de Processo Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei. Art. 189. Aplica-se a Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973 — Código de Processo Civil, no que couber, aos procedimentos previstos nesta Lei. Art. 197. Enquanto não forem aprovadas as respectivas leis específicas, esta Lei aplica-se subsidiariamente, no que couber, aos regimes previstos no Decreto-lei n. 73, de 21 de novembro de 1966, na Lei n. 6.024, de 13 de março de 1974, no Decreto-lei n. 2.321, de 25 de fevereiro de 1987, e na Lei n. 9.514, de 20 de novembro de 1997. O CPC vigente, Lei n. 13.105/2015, ao revogar parcialmente e substituir os regramentos da Lei n. 5.869/1973, poderá e deverá ser utilizado subsidiariamente, seja no rito da recuperação judicial, seja no rito da falência. Uma interpretação lógico-sistemática do ordenamento jurídico impõe tal raciocínio, buscando-se o diálogo e a compatibilização das normas especiais do microssistema criado pela Lei n. 11.101/2005 e as normas processuais do atual CPC que complementem ou se demonstrem hábeis a superar eventual lacuna do referido microssistema. Tal diálogo será salutar e se fundamenta na coexistência de regimes jurídicos paralelos, como expressamente prevê a Lei de Introdução das Normas do Direito Brasileiro (art. 2º, 8 2): “A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior”. Exemplo de tal diálogo será a possibilidade de extensão do manejo do agravo de instrumento — aplicável ao rito das execuções singulares e aos processos de inventário — também ao rito recuperacional e falimentar, conforme orientação do Enunciado 69 da I Jornada de Estudos do Conselho da Justiça Federal sobre o CPC: “A hipótese do art. 1.015, parágrafo único, do CPC abrange os processos concursais, de falência e recuperação”. 22.1.3. A ultra-atividade do Decreto-lei n. 7.661/45 No que se refere à legislação falimentar, é oportuno salientar, ainda, que a Lei n. 11.101/2005 revogou o Decreto-lei n. 7.661/45, todavia manteve vigentes dispositivos que permitem a conclusão de concordatas iniciadas em sua vigência, bem como a eventual conversão de concordata em recuperação judicial, ou, ainda, a continuidade e o encerramento de falências decretadas em sua vigência. Portanto, a revogada Lei de Falências (Decreto-lei n. 7.661/45) operará o fenômeno da ultra-atividade para alcançar procedimentos iniciados em sua vigência. Por sua vez, a Lei n. 11.101/2005 será aplicada às falências decretadas na sua vigência, mesmo que requeridas na vigência da lei anterior. Isso é o que estatui a regra de transição: Art. 192. Esta Lei não se aplica aos processos de falência ou de concordata ajuizados anteriormente ao início de sua vigência, que serão concluídos nos termos do Decreto-lei n. 7.661, de 21 de junho de 1945. No que concerne ao revogado instituto da concordata, o mesmo artigo continuou o regramento de transição: Art. 192. (...) 8 1º Fica vedada a concessão de concordata suspensiva nos processos de falência em curso, podendo ser promovida a alienação dos bens da massa falida assim que concluída sua arrecadação, independentemente da formação do quadro geral de credores e da conclusão do inquérito judicial. Isso porque não há mais a necessidade de oportunizar ao falido prazo último para tentar se recuperar, pois a Lei n. 11.101/2005 não permite nenhuma modalidade de recuperação suspensiva, ou seja, depois de decretada a falência já não se pode conceder outra oportunidade de manter-se o devedor à frente dos seus negócios. 82º A existência de pedido de concordata anterior à vigência desta Lei não obsta o pedido de recuperação judicial pelo devedor que não houver descumprido obrigação no âmbito da concordata, vedado, contudo, o pedido baseado no plano especial de recuperação judicial para microempresas e empresas de pequeno porte a que se refere a Seção V do Capítulo II desta Lei. Esse parágrafo permite a recuperação incidental à concordata ou, ainda, a convolação dela em recuperação. 8 3º No caso do 8 2º deste artigo, se deferido o processamento da recuperação judicial, o processo de concordata será extinto e os créditos submetidos à concordata serão inscritos por seu valor original na recuperação judicial, deduzidas as parcelas pagas pelo concordatário. Sendo o caso de conversão de concordata em recuperação, os credores concordatários restabelecerão seu crédito originário, descontando-se o que já tiverem pago no curso da concordata, a qual será extinta. Os processos de falência iniciados antes da vigência da Lei n. 11.101/2005 têm sua tramitação regulada no último parágrafo do mesmo art. 192: 8 4º Esta Lei aplica-se às falências decretadas em sua vigência resultantes de convolação de concordatas ou de pedidos de falência anteriores, às quais se aplica, até a decretação, o Decreto- lei n. 7.661, de 21 de junho de 1945, observado, na decisão que decretar a falência, o disposto no art. 99 desta Lei. Esquematizando a aplicação das duas leis no tempo: Falências requeridas e decretadas em sua vigência, até o seu encerramento re DECRETO-LEI HM. 7.665 Falências requeridas em sua E = vigência, até a decretação ei sob a égide da LRE | Concordatas iniciadas em sua vigência até o encerramento A todas as falências decretadas | a partir da sua vigência (junho de 2005), mesmo as | requeridas anteriormente LEIN. 11,101/2005, LHE À todas as recuperações judiciais | | Du extrajudiciais, mesmo as APLICARSE-A: decorrentes de concordata convolada |] às concordatas ou recuperações | judiciais corvoladas em falência + Esquematizando a legislação aplicável: CRISE FINANCEIRA DA EMPRESA — REGIME JURÍDICO APLICÁVEL Legislação Aplicação Lei n. 11.101/2005 Às falências decretadas na sua vigência (inclusive as requeridas anteriormente) e às concordatas convoladas em falência ou em recuperação judicial. Decreto-lei n. 7.661/45 Às concordatas decretadas na sua vigência, até o encerramento; e às falências requeridas e decretadas na sua vigência. CRE Subsidiariamente.Plano. Com o programa (PROER), cerca de oito bilhões de reais foram destinados a sanear as instituições deficitárias, as quais, após o reequilíbrio, foram alienadas a outras instituições financeiras. Naquele momento, houve uma maior regulamentação do setor, visando a redução de riscos sistêmicos e demasiada exposição dos bancos a investimentos instáveis. Recentemente, em 2009, uma crise financeira abalou os bancos internacionais. Trilhões de dólares foram gastos para socorrer bancos, segurados e outras instituições, e fala-se em melhor regulamentação do setor financeiro. No Brasil, a crise quase não foi sentida. Todo esse investimento público utilizado para socorrer empresas do setor financeiro demonstra como o mundo considera importante a existência, a atuação e a preservação dessas empresas, hoje tidas como indispensáveis ao funcionamento da economia. As empresas excluídas pelo inc. II, do art. 2º, da Lei n. 11.101/2005, serão submetidas a um regime especial de intervenção e liquidação extrajudicial ou à administração especial temporária. Existem normas próprias estabelecendo como o Estado promoverá sua atuação ante a crise econômico-financeira delas, conferindo-lhes discricionariedade na forma de gerir tal crise e permitindo evitar a extinção da empresa. É oportuno lembrar que o art. 197, da Lei n. 11.101/2005, estabelece a aplicação subsidiária da legislação falimentar enquanto não forem aprovadas leis específicas tratando do processo de liquidação e intervenção extrajudicial das sete atividades previstas em seu art. 2º, inc. II. Daí decorre a exclusão relativa das sete atividades da aplicação da LRE, ao menos enquanto não se aprovam as legislações específicas. Assim dispõe o art. 197, da Lei n. 11.101/2005: “Enquanto não forem aprovadas as respectivas leis específicas, esta Lei aplica-se subsidiariamente, no que couber, aos regimes previstos no Decreto-lei n. 73, de 21 de novembro de 1966, na Lei n. 6.024, de 13 de março de 1974, no Decreto-lei n. 2.321, de 25 de fevereiro de 1987, e na Lei n. 9.514, de 20 de novembro de 1997”. Cada uma das leis citadas refere-se a um dos tipos de empresas excluídas. Outras deixaram de ser citadas, mas serão tratadas nas seções seguintes. 22.3.3.1. Instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito e consórcio As instituições financeiras têm sua atividade definida na Lei n. 4.595/64, a qual lhes atribui o exercício profissional de operações de crédito como atividade principal. Já o art. 39, da Lei n. 11.795/2008, estabelece quais são as instituições financeiras do sistema legal brasileiro. São elas: os bancos; as distribuidoras e corretoras de títulos e valores mobiliários; as casas de câmbio; as operadoras de leasing; e as administradoras de consórcio. A intervenção e a liquidação extrajudicial das referidas instituições financeiras encontram-se regulamentadas pela Lei n. 6.024/74, que equipara o Banco Central ao juiz da falência, e o interventor/liquidante ao síndico da falência (nos termos do Decreto-lei n. 7.661/45). O Decreto-lei n. 2.321/87 estabeleceu, ainda, o RAET — Regime de Administração Especial Temporária. As instituições financeiras submetidas ao Regime de Administração Especial Temporária não podem ter sua falência requerida, nem subsidiariamente, todavia podem ter o referido regime convertido em liquidação extrajudicial. Havendo intervenção extrajudicial, o interventor poderá requerer a falência se: verificar que o ativo não é suficiente para pagar ao menos a metade dos créditos quirografários; entender não seja conveniente a liquidação extrajudicial; ou a complexidade dos negócios ou a gravidade dos fatos apurados recomendarem tal medida judicial. Havendo liquidação extrajudicial direta ou decorrente de intervenção ou de RAET convertida em liquidação, o liquidante poderá requerer a falência se: verificar que o ativo não é suficiente para pagar ao menos a metade dos créditos quirografários; houver fundados indícios de crimes falimentares. Deve-se considerar, ainda, que, se o Banco Central do Brasil, na sua atividade fiscalizadora das empresas financeiras, não promover um dos regimes especiais diante da crise econômico-financeira de uma instituição financeira, isso permitirá a qualquer credor o requerimento de falência, bem como a sua decretação, em face do princípio constitucional da inafastabilidade da jurisdição, insculpido no art. 5º, inc. XXXV, da Constituição Federal, o qual dispõe: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Nessa hipótese, o juiz deverá, ao receber a petição inicial, provocar o Banco Central, o qual poderá decretar um dos regimes especiais, obstando o prosseguimento do pedido de falência. Caso o Banco Central não se manifeste, o feito prosseguirá com a possível decretação da falência, ao final, pois, nesse caso, se a autarquia federal “em sua função fiscalizadora, não quis decretar nenhum dos regimes especiais, há um claro sinal de que aquela instituição financeira não merece esforços de recuperação por parte do Estado”*. Por fim, é importante esclarecer que a decretação de intervenção ou de liquidação extrajudicial limita a legitimidade para o pedido de falência às pessoas do interventor ou do liquidante, ambos nomeados pelo Banco Central. Em razão disso, enquanto estiverem os regimes extrajudiciais se processando, não se poderá requerer a falência da instituição financeira. Eventual pedido nesse sentido deverá levar ao indeferimento da petição inicial, sob o fundamento de ausência de uma das condições da ação, a legitimidade do autor, ou, ainda, pela ausência de interesse de agir, uma vez que a decisão judicial não terá qualquer efeito prático, pois teria que se aguardar o deslinde da intervenção e liquidação extrajudicial, ou de regime de administração especial temporária. Diante desse quadro de possibilidades, podemos sistematizar o que ocorrerá a uma instituição financeira, em caso de crise econômico- financeira: + nmed À EA e ': Administração mM BA liquidação Ê Conversão em ano ojos judicial falência | Conversão em liquidação r y = a extrajudicial E Intervenção | | 4 extrajudicial ————, INSTITUIÇÕES || Conversão em FINANCEIRAS falência Liquidação Conversão em extrajudicial falência a Falência | No que se refere à possibilidade de recuperação judicial ou extrajudicial, a Lei n. 11.101/2005, no seu art. 198, impôs a vedação absoluta de utilização de referidos procedimentos não somente pelas instituições financeiras, mas por todas as atividades excluídas por seu art. 2º, inc. II. Preceitua o art. 198, da LRE: “Os devedores proibidos de requerer concordata nos termos da legislação específica em vigor na data da publicação desta Lei ficam proibidos de requerer recuperação judicial ou extrajudicial nos termos desta Lei”. O regime jurídico próprio das instituições financeiras e os regimes jurídicos das demais empresas excluídas da Lei n. 11.101/2005 excluem expressamente a possibilidade de requerimento de concordata, o que as impede de requerer recuperação em qualquer das suas modalidades. Assim, incabível o instituto da recuperação para as atividades previstas no art. 2º, da Lei n. 11.101/2005. Importante destacar, quanto ao tema, que as empresas de transporte aéreo, apesar da vedação expressa do art. 198, da Lei n. 11.101/2005, foram excepcionadas pelo art. 199 da mesma lei. Destarte, apesar de haver vedação expressa quanto ao pedido de concordata de empresas aéreas, O citado art. 199 permite que elas se socorram do instituto da recuperação. À época da aprovação da Lei n. 11.101/2005, as maiores empresas aéreas do País passavam por crise econômico-financeira, o que influenciou o texto de tal legislação, para possibilitar alternativas à preservação daquelas empresas, como a VASP e a VARIG. Dispõe o art. 199, da Lei n.11.101/2005: “Não se aplica o disposto no art. 198 desta Lei às sociedades a que se refere o art. 187 da Lei n. 7.565, de 19 de dezembro de 1986”. Os consórcios foram recentemente regulados pela Lei n. 11.795/2008. A referida norma manteve a referência às regras de liquidação e intervenção E extrajudiciais já vigentes, ou seja, não alterou a forma de abordagem de eventual crise econômico-financeira de empresas de consórcios. A referida lei faz duas menções ao regime especial de abordagem do consórcio. Confira-se o que afirma o art. 39: “A administração especial e a liquidação extrajudicial de administradora de consórcio são regidas pela Lei n. 6.024, de 13 de março de 1974, pelo Decreto-lei n. 2.321, de 25 de fevereiro de 1987, pela Lei n. 9.447, de 14 de março de 1997, e por legislação superveniente aplicável às instituições financeiras, observado o disposto nesta Lei”. Sobre eventual decretação de regime de administração temporária, determinou o art. 40: “A decretação da administração especial temporária ou da liquidação extrajudicial da administradora de consórcio não prejudicará a continuidade das operações dos grupos por ela administrados, devendo o conselho diretor ou o liquidante dar prioridade ao funcionamento regular dos grupos”. 22.3.3.2. Entidades de previdência complementar Encontram-se reguladas na Lei Complementar n. 109/2001, que trata das entidades de previdência privada abertas e fechadas. Ambas têm a finalidade de administrar e executar planos de benefícios previdenciários, captando recursos dos seus clientes no intuito de garantir-lhes uma complementação de renda ou uma renda equivalente aos proventos da aposentadoria. A Lei n. 11.101/2005 trata das entidades de previdência complementar abertas, uma vez que as fechadas estão completamente excluídas do conceito de empresa, até porque têm que adotar a forma de associação ou fundação, fugindo completamente ao âmbito de aplicação da referida lei. As entidades fechadas são aquelas acessíveis apenas a um grupo definido de pessoas, como empregados das empresas que instituíram o plano de previdência ou de servidores públicos federais, estaduais, municipais ou autárquicos. Não há aqui o objetivo de lucro, o que afasta a condição de empresário ou de sociedade empresária. O art. 47, da Lei Complementar n. 109/2001, exclui, expressamente, a incidência de falência ou recuperação (concordata) sobre tais entidades. As entidades fechadas serão submetidas à liquidação ou intervenção extrajudicial e a regime de administração especial, nos termos dispostos na Lei n. 12.154/2009. Elas serão fiscalizadas pela PREVIC — Superintendência Nacional de Previdência Complementar. No que se refere às entidades de previdência complementar abertas, aquelas que oferecem renda ou complementação dela ao público em geral, vendendo “aposentadoria privada”, encontramos uma típica atividade empresarial, com fins lucrativos, portanto. Elas devem adotar a forma de sociedade anônima, nos termos do art. 36, da Lei Complementar n. 109/2001. A elas são aplicadas as disposições da Lei n. 11.101/2005, subsidiariamente. A fiscalização delas é desempenhada pela Superintendência de Seguros Privados — SUSEP, a qual poderá promover a intervenção e a liquidação extrajudicial nas entidades de previdência complementar abertas, o que justificaria a exclusão de aplicação da Lei n. 11.101/2005. Todavia, tal exclusão deve ser tida como relativa, pelos mesmos motivos que já apresentamos ao estudarmos a situação das instituições financeiras, até porque o art. 62, da Lei Complementar n. 109/2001, determina a aplicação das normas relativas à liquidação e intervenção extrajudicial das instituições financeiras às entidades de previdência complementar e, portanto, possibilita a decretação da falência. Esquematizando a abordagem das entidades de previdência privada, temos o seguinte diagrama: dplica-se a Lei Complementar m. 108/2001 — —+ a qual impediria a aplicação da LRE somente às entidades fechadas) ENTIDADES DE Todavia, por força doart 62 daquela Lei PREVIDÉNCIA Complementar, aplica-se, quanto à intervenção PRIVADA ABERTAS | e à liquidação extrajudicial, o regime das instituições financeiras [ Por força daregra anterior, a falência prevista + na LRE poderá ser decretada, na forma estudada quanto às instituições financeiras 22.3.3.3. Sociedade operadora de plano de assistência à saúde O art. 1º, inc. I, da Lei n. 9.656/98, define as operadoras de planos de assistência à saúde, afirmando que desempenham a “prestação continuada de serviços ou cobertura de custos assistenciais a preço pré ou pós- estabelecido, por prazo indeterminado, com a finalidade de garantir, sem limite financeiro, a assistência à saúde, pela faculdade de acesso e atendimento por profissionais ou serviços de saúde, livremente escolhidos, integrantes ou não de rede credenciada, contratada ou referenciada, visando a assistência médica, hospitalar e odontológica, a ser paga integral ou parcialmente às expensas da operadora contratada, mediante reembolso ou pagamento direto ao prestador, por conta e ordem do consumidor”. A fiscalização da referida atividade é incumbência da ANS — Agência Nacional de Saúde —, que busca investigar e monitorar o equilíbrio econômico-financeiro das operadoras, justamente porque o objeto da prestação dos serviços envolve a vida e a saúde humanas. É preciso, contudo, desde já, observar que existem planos de saúde que adotam a forma associativa, e não a empresarial. Nesses casos, nem sequer se cogita da aplicação da Lei n. 11.101/2005, uma vez que não seria empresarial a atividade desempenhada por tais planos, bastante comuns entre servidores do Estado, que se organizam na forma associativa ou fundacional. Nesses casos, seria cabível a insolvência civil, como forma última de abordagem de eventual crise econômico-financeira. Nos termos do art. 24, da Lei n. 9.656/98, verificando a insuficiência de garantias do equilíbrio patrimonial, evidenciado por anormalidades econômico-financeiras ou administrativas graves, capazes de colocarem em risco a continuidade e a qualidade dos serviços que prestam à saúde, poderá a Agência Nacional de Saúde determinar: a alienação da carteira; o regime de direção fiscal ou técnica, por prazo superior a 365 dias; a liquidação extrajudicial. Diante das disposições supra, podemos concluir que a Lei n. 11.101/2005 não será automaticamente aplicada às operadoras de planos de saúde empresariais. Aliás, no que se refere à possibilidade de recuperação, de forma alguma poderá ser aplicada. Todavia, quanto à possibilidade de decretação da falência, o art. 23, da Lei n. 9.656/98, admite-a. Para tal hipótese única, devem concorrer os seguintes pressupostos, durante o processo de liquidação extrajudicial iniciado pela ANS: verificado que o ativo da operadora em liquidação não é suficiente para o pagamento de pelo menos metade dos créditos quirografários; verificado que o ativo da operadora em liquidação não é suficiente para custear ao menos as despesas administrativas e operacionais do processamento da liquidação extrajudicial; houver indícios da prática de crime falimentar; ou houver autorização da ANS para que o liquidante requeira a falência. Esquematizando l Desde que a operadora esteja em liquidação extrajudicial [ad Desde que o liquidante seja autorizado pela ANS a requerer falência APLICAÇÃO DA LRE AS , , OPERADORAS DE PLANO DER Se o ativo não for suficiente para pagar DE SAUDE (APENAS pelo menos 50% dos créditos quirografários FALÊNCIA) 7 | Sewativo não for suficiente para pagar pelo menos as despesas administrativas da liquidação extrajudicial —s Se houver indícios da prática de crime falimentar 22.3.3.4. Sociedade seguradora É aquela que mais se aproxima das instituições financeiras no que se refere aos riscosde sua atividade. Assim como as demais atividades excluídas pelo art. 2º, inc. II, da Lei n. 11.101/2005, jamais será aplicada a recuperação judicial ou extrajudicial a ela, em face da combinação dos arts. 197 e 198 da mesma lei. O risco da atividade das seguradoras é um paradoxo, pois, ao passo que visam cobrir eventuais infortúnios em toda sorte de relações jurídicas, desde aquelas familiares até as mais sofisticadas relações empresariais, devem inspirar confiança de que serão capazes da cobrir os valores segurados. O Decreto-lei n. 73/66 cria regimes especiais para tratar as eventuais crises econômico-financeiras das seguradoras, prevendo a possibilidade de decretação da falência. Os regimes especiais, no caso das seguradoras, seguem um formato progressivo. Primeiro. A SUSEP — Superintendência de Seguros Privados —, verificando a insuficiência de cobertura das reservas técnicas ou, ainda, má situação econômico-financeira, poderá determinar: intervenção extrajudicial na sociedade seguradora; medidas especiais de fiscalização na sociedade seguradora. Segundo. Caso as medidas anteriores não produzam resultados satisfatórios, capazes de reverter o quadro identificado, a SUSEP encaminhará proposta de cassação da autorização de funcionamento da sociedade seguradora ao CNSP — Conselho Nacional de Seguros Privados. Ante a proposta, poderão ser adotadas as seguintes medidas: se acatada a proposta, a liquidação poderá ser promovida voluntariamente pela sociedade seguradora ou pela SUSEP; se a própria sociedade seguradora decidir, em assembleia, pela cessação das suas atividades, a liquidação poderá ser promovida voluntariamente ou pela SUSEP; intervenção extrajudicial na sociedade seguradora, determinada pelo CNSP; Regime de Administração Especial Temporária — RAET, nos termos do art. 3º, da Lei n. 10.190/2001. Terceiro. O art. 26, do Decreto-lei n. 73/66, dispõe que, durante a liquidação extrajudicial das sociedades seguradoras, o liquidante poderá requerer a falência delas, caso fique constatado que: o ativo da seguradora em liquidação não é suficiente para o pagamento de pelo menos metade dos créditos quirografários; há indícios da prática de crime falimentar. Há doutrinadores que entendem que, no caso de omissão da SUSEP ou do CNSP, seria cabível o pedido de falência pelos credores prejudicados em consequência do não recebimento de suas apólices. Não é esse o entendimento da maioria, todavia, em uma interpretação conforme a Constituição, como já analisado quando do estudo das instituições financeiras: deve-se levar em conta o princípio constitucional da inafastabilidade da jurisdição, insculpido no art. 5º, inc. XXXV, da Constituição Federal, o qual dispõe: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Nessa hipótese, o juiz deverá, ao receber a petição inicial de falência, provocar a SUSEP e o CNSP, os quais poderão decretar um dos regimes especiais, obstando o prosseguimento do pedido de falência. Caso tais órgãos não se manifestem, o feito prosseguirá com a possível decretação da falência. Esquematizando: Desde que a seguradora astefa am | liquidação extrajudicial [ Se o ativo não for suficiente para pagar ] —+ pelomenos 50% dos créditos quirografários, APLICAÇÃO DA LRE desde que requerida pelo liquidante AS SODIEDADES semsfi É a SEGURADORAS — ERES: = = E (APENAS FALÊNCIA) Se houver indícios da prática de crime me falimentar, desde que requerida pelo liquidante mM Requerida pelo credor prejudicado, com | base no art. 5º, inc. 50004 da Constituição 22.3.3.5. Sociedade de capitalização Tudo o que estudamos sobre as sociedades seguradoras aplica-se às sociedades de capitalização, isso porque o Decreto-lei n. 261/67 faz expressa referência à aplicação do Decreto-lei n. 73/66 às sociedades de capitalização. Assim, os regimes especiais das sociedades seguradoras consistentes nas fiscalizações especiais, intervenção e liquidação voluntária, encerramento e liquidação extrajudicial alcançam, também, as sociedades de capitalização. As sociedades de capitalização atuam contratando com clientes que lhes entregam uma prestação pecuniária mensal durante certo período, obrigando-se a devolver-lhes, ao final do prazo pactuado, o montante acumulado acrescido de correção monetária e juros. A devolução poderá ocorrer em data anterior, com desconto sobre o montante acumulado. Pode ser instituído, ainda, um sorteio periódico de clientes, garantindo-lhes a devolução antecipada e valores superiores ao saldo acumulado. O risco dessa atividade encontra-se na ausência de uma contraprestação imediata, o que implicaria um prejuízo total para o cliente consumidor, pois não existe qualquer forma de assegurar-lhe a devolução do saldo acumulado, em caso de falência. A falência das sociedades de capitalização poderá ser decretada naquelas mesmas hipóteses cabíveis para as sociedades seguradoras e, também, a nosso ver, a pedido dos credores, em respeito ao princípio da inafastabilidade da jurisdição. Esquematizando: [ Desde que a capitalizadora esteja em liquidação extrajudicial [ Se o ativo não for suficiente para pagar -— pelo menos 50% dos créditos quirografários, APLICAÇÃO DA LRE AS | desde que requerida pelo liquidante SOCIEDADES DE , GAPENAS FA LÉNCIA) Se houver indícios da prática de crime om falimentar, desde que requerida pelo liquidante J Requerida pelo credor prejudicado, com base no art. 5º, inc 55004 da Constituição 22.4. COMPETÊNCIA A competência para processar e julgar os procedimentos previstos na Lei n. 11.101/2005 deve observar a matéria cível e a criminal previstas na referida legislação. Diferentemente da lei anterior, a LRE estabelece competências distintas para o processo civil e para o criminal. Na verdade, a intenção do legislador apontou para a necessidade de juízes distintos atuando nos processos cíveis e criminais da lei referida, enquanto a lei anterior estabelecia a competência do juízo cível até o recebimento da denúncia no processo criminal. A atuação dos juízos cíveis na falência e nas recuperações está definida no art. 3º, da Lei n. 11.101/2005, o qual estabelece que “é competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a recuperação judicial ou decretar a falência o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil”. Já a competência criminal está determinada pelo art. 183, da Lei n. 11.101/2005, nos seguintes termos: “compete ao juiz criminal da jurisdição onde tenha sido decretada a falência, concedida a recuperação judicial ou homologado o plano de recuperação extrajudicial, conhecer da ação penal pelos crimes previstos nesta Lei”. Em razão da matéria, certamente é o Juízo Cível o competente para apreciar as matérias não penais previstas na Lei n. 11.101/2005. Em razão do território, é o do local onde se encontra o principal estabelecimento da empresa. No que respeita à matéria criminal, a definição quanto ao território depende da identificação do juízo cível. Assim, serão competentes para processar e julgar os crimes falimentares os juízes criminais do local onde foi: decretada a falência; concedida a recuperação judicial; ou homologado plano de recuperação extrajudicial. A Justiça Estadual será a competente para o processo e julgamento das recuperações, das falências das empresas e dos crimes falimentares. É essa a consequência do que determina o art. 109, inc. I, parte final, da Constituição Federal, texto que determina a competência dos Juízes Federais para o processo e julgamento de todas as causas em que haja interesse da União, excluindo expressamente o processo de falência. Não fosse tal exclusão expressa, a Justiça Federal seria competente para todos os processos de falência, uma vez que, tanto pelos créditosprevidenciários quanto pelos demais tributos federais, certamente haveria interesse da União em todos os processos falimentares. O mesmo interesse da União não se verificaria quanto à Recuperação Judicial ou Extrajudicial, uma vez que os créditos tributários não são atingidos nos respectivos processos, como veremos posteriormente. Destarte, podemos concluir, inicialmente, que a competência para processar e julgar as recuperações e as falências previstas na Lei n. 11.101/2005 é do juiz estadual cível do local onde estiver o principal estabelecimento da empresa, ao passo que a competência para processar e julgar os crimes falimentares será do juiz estadual criminal do local onde foram concedidas as recuperações ou decretada a falência. É possível que as leis de organização judiciária estaduais criem juízos especializados, excluindo a competência cível. Isso ocorre tanto na capital do Rio de Janeiro, onde existem varas empresariais, quanto na capital de São Paulo, onde atuam varas falimentares. No Distrito Federal, ocorre uma situação ímpar, pois a lei de organização judiciária, que é federal, em face de a justiça distrital compor o Poder Judiciário da União, determina que haja apenas uma Vara de Falências e Recuperações Judiciais em todo o Distrito Federal, a qual será competente para processar e julgar as falências, recuperações e crimes falimentares. Assim, no Distrito Federal, o mesmo juiz cível será competente também para processar e julgar os crimes falimentares. Apesar de tal norma contrariar a vontade do legislador da Lei n. 11.101/2005, não nos parece haver qualquer inconstitucionalidade no dispositivo distrital, diante da especialidade da lei de organização judiciária em face da LRE. Na verdade, a Lei n. 11.101/2005 cria um critério de distribuição da competência, enquanto as leis de organização judiciária locais estabelecem as varas competentes para as matérias cíveis e criminais. Até este momento, podemos esquematizar, assim, a competência para julgamento dos processos previstos na Lei n. 11.101/2005: al Juízes estaduais, sempre | Do local onde | + estiver o principal a gs | estabelecimento -» Varas Clveis | Julzos [a Dao |,| q fatênciae ven torcãos PRM Waras Recuperações | Empresariais [| Varas de il Falência Crimes Êo o Naras Falimentares | Criminais F Le à Varas de competência | Falência, * Recuperações e + geral, por ca E Crimes Falimentares ILOJDF) Done rara , única no município A Lei n. 11.101/2005 não define o que seria principal estabelecimento para efeito de delimitar o juízo cível competente para processar a falência e a recuperação daquelas empresas que tenham mais de um estabelecimento. Do mesmo modo, não define o que seria principal filial para aquelas empresas com sede no exterior. Há vários critérios para identificar o que seria “principal estabelecimento”, como: 22.4.1. Cível a sede estatutária ou contratual; o local onde houver a maior concentração de atividades; o local onde estiver a administração; o local onde estiver a principal atividade; o local onde estiver a produção, entre outros. No direito italiano, optou-se pelo critério da sede principal. No francês, a sede declarada pelo empresário. Na Argentina, o lugar da administração. No Brasil, o critério de definição está em construção. Isso porque, no caso que envolveu a falência da Construtora Encol, no fim da década de 1990, o STJ, julgando conflito de competência entre os judiciários do Distrito Federal e de Goiás, decidiu que seria competente a justiça goiana, uma vez que a administração da empresa de quem se pedia a falência estava situada no estado de Goiás, de modo que uma vara cível de Goiânia foi declarada competente e até hoje processa aquela falência, apesar de o maior volume de atividades concentrar-se no Distrito Federal e em São Paulo. A mesma solução foi adotada para o pedido de concordata das Fazendas Boi Gordo, empresa que tinha sua principal atividade em Mato Grosso e administração em São Paulo. O STJ decidiu pela competência da justiça paulista (CC-STJ-36.349/SP, Ministro Fernando Gonçalves, Publicação no DJ 10/11/2003). Já no caso que envolveu a falência da SHARP do Brasil, o critério utilizado foi aquele que considerou o local do maior volume de atividades da empresa, no caso, no estado do Amazonas. O inusitado julgamento do STJ desconsiderou concordata que já se processava em São Paulo havia anos. Em São Paulo, estava concentrada toda a atividade administrativa da SHARP, enquanto, na zona franca de Manaus, encontrava-se a linha de produção daquela indústria. Assim, o critério utilizado aqui foi o do maior volume de atividade econômica, atividade de produção, ou principal atividade (STJ, CC 37.736/SP, Min. Nancy Andrighi, DJ 16/08/2004, p. 130), desconsiderando-se o local da administração. Confira-se parte da ementa do referido julgamento: “O juízo competente para processar e julgar pedido de falência e, por conseguinte, de concordata é o da comarca onde se encontra “o centro vital das principais atividades do devedor”, conforme o disposto no art. 7º, da Lei de Falências (Decreto-lei n. 7.661/45), e o firme entendimento do Superior Tribunal de Justiça a respeito do tema. — A competência do juízo falimentar é absoluta”. Todavia, tem prevalecido na jurisprudência o entendimento de que principal estabelecimento é o local onde a empresa tem a sua administração (STJ, CC 21.775/DF, Min. Bueno de Souza, DJ 04/06/2001; CC 21.899/MG, Min. Sálvio de Figueiredo, DJ 08/09/1998). Entendemos que seja essa a melhor orientação, uma vez que a maior parte das diligências posteriores à decretação da falência ou concessão da recuperação contará com a participação do devedor empresário, e demandará a comprovação documental, bem como a movimentação de contas bancárias e aferições contábeis. Sendo o Brasil um país de vasta dimensão geográfica, a proximidade do juízo falimentar da sede dos negócios da empresa, da real sede administrativa, facilitará a atuação do administrador judicial, de seus peritos e de avaliadores, além dos próprios atos dos oficiais de justiça e do Ministério Público. Não se pode olvidar, também, dos interesses dos credores, em sua maior parte contratados no local da administração da empresa. No mesmo acórdão que julgou o conflito de competência da SHARP (STJ, CC 37.736/SP, Min. Nancy Andrighi, DJ 16/08/2004, p. 130), o voto vencido do Ministro Antônio de Pádua Ribeiro encampou o entendimento de que o principal estabelecimento é o lugar onde se encontra a administração da empresa que tenha mais de um estabelecimento. Confiram-se os contundentes argumentos de parte do voto, os quais esclarecem os principais pontos da polêmica e o entendimento do STF e do STJ: (...) Havendo, portanto, pedido de concordata aceito, mediante decisão que não foi objeto de qualquer impugnação e, por conseguinte, com trânsito em julgado, não tendo sido desconstituída, não vejo como aceitar-se o pedido de falência sem ofender o art. 4º, V, do Decreto- lei n. 7.661/45 (...). Não anulados os atos decisórios proferidos pelo Juízo de São Paulo, a Sharp e seus credores quirografários estão sujeitos aos efeitos da concordata preventiva aceita por aquele Juízo, mediante decisão não impugnada por qualquer recurso. De outra parte, atento às funções desempenhadas pelo juiz no processo de falência, o legislador estatuiu: “Art. 7º. É competente para declarar a falência o juiz em cuja jurisdição o devedor tem o seu principal estabelecimento ou casa filial de outra situada fora do Brasil”. Doutrina e jurisprudência tentam definir o que é “principal estabelecimento”. O Prof. Rubens Requião, após afirmar que não se leva em conta, para a definição desse conceito, a dimensão física dos estabelecimentos, conclui: “Conceitua-se tendo em vista o local onde se fixa a chefia da empresa, onde efetivamenteatua o empresário no governo ou no comando de seus negócios, de onde emanam as ordens e instruções, em que se procedem as operações comerciais e financeiras de maior vulto e em massa, onde se encontra a contabilidade geral (...) A sede administrativa é, com efeito, o ponto central dos negócios, de onde partem todas as ordens, que imprimem e regularizam o movimento econômico dos estabelecimentos produtores. As relações externas, com fornecedores, clientes, bancos, etc., realizam-se por seu intermédio” (In Curso de direito falimentar, Ed. Saraiva, 17. ed., vol. 1, p. 93). José da Silva Pacheco também entende que: “Principal estabelecimento, para os efeitos do art. 7º da Lei de Falências, é o local onde a empresa tem o comando de seus negócios, o cérebro de suas decisões, onde o empresário, efetivamente, atua, realizando a política da empresa e as operações comerciais e financeiras de maior vulto” (Processo de falência e concordata, Ed. Forense, 11. ed., p. 165). Trajano de Miranda Valverde também segue a mesma linha (Comentários à Lei de Falências, 4. ed., vol. I, p. 183). A jurisprudência desta Corte não destoa desse entendimento, como se pode ver das seguintes ementas: “COMPETÊNCIA. CONFLITO. FALÊNCIA. FORO DO ESTABELECIMENTO PRINCIPAL DA RÉ. PRECEDENTES. MUDANÇA DE DOMICÍLIO. INTENÇÃO DE FRAUDAR. CONFLITO CONHECIDO. I — Segundo o art. 7º do Decreto-lei 7.661/45, “é competente para declarar a falência o juiz em cuja jurisdição o devedor tem o seu principal estabelecimento ou casa filial de outra situada fora do Brasil”. II — Consoante entendimento jurisprudencial, respaldado em abalizada doutrina, “estabelecimento principal é o local onde a atividade se mantém centralizada”, não sendo, de outra parte, “aquele a que os estatutos conferem o título principal, mas o que forma o corpo vivo, o centro vital das principais atividades do devedor” (...) (CC n. 32.988-RJ, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo, DJ 04/02/2002). “Competência. Falência. Foro do estabelecimento principal do devedor. 1 — A competência para o processo e julgamento do pedido de falência é do Juízo onde o devedor tem o seu principal estabelecimento, e este “é o local onde a atividade se mantém centralizada”, não sendo, de outra parte, “aquele a que os estatutos conferem o título principal, mas o que forma o corpo vivo, o centro vital das principais atividades do devedor” (CC n. 21.896-MG, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo). II — Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de direito da 8º Vara Cível de São Paulo-SP, suscitado” (CC n. 27.835-DF, de minha relatoria, DJ de 09/04/2001). “CONCORDATA PREVENTIVA. FORO COMPETENTE. Processa-se a concordata no local do estabelecimento principal, entendendo-se como tal onde se acha a sede administrativa da empresa, isto é, o comando dos negócios. Conflito conhecido e declarado competente o suscitado” (CC n. 1.779-PR, Rel. Min. Nilson Naves, DJ de 09/09/1991). O colendo Supremo Tribunal Federal, em Sessão Plena, também já decidiu que: “1. Foro competente para declarar a falência nos termos do art. 7º, caput, da Lei falencial. De como se define o estabelecimento básico mencionado na sobredita regra. Não é aquele a que os estatutos da sociedade conferem o título de principal, mas o que forma concretamente o corpo vivo, o centro vital das principais atividades comerciais do devedor, a sede ou núcleo dos negócios em sua palpitante vivência material. 2. Conflito de competência decidido pelo Supremo Tribunal na consideração do que acima é definido como estabelecimento principal ou básico do devedor” (CJ n. 6.025/SP, Rel. Min. Antônio Néder, DJ de 16/02/1977). No caso dos autos, a questão reside fundamentalmente em saber-se onde está o “corpo vivo”, o centro vital das principais atividades comerciais do devedor, se em Manaus, onde está localizado o parque industrial das empresas em exame, ou em São Paulo, local onde está o comando e a administração delas. Salientou a ilustre Ministra Relatora deste conflito que a competência é do Juízo de Manaus, porque lá se encontra o parque fabril da Sharp, e a legislação assim o exige para o recebimento de incentivos fiscais. A Lei Estadual n. 1.939, de 27 de dezembro de 1998, que regulamentou a política de incentivos fiscais e extrafiscais do Estado do Amazonas, em seu art. 19 determina: “Art. 19. As empresas beneficiadas com incentivos fiscais deverão cumprir as seguintes exigências: (...) VI — Manter a administração, inclusive a contabilidade, no Estado do Amazonas, bem como utilizar a infraestrutura de serviço local”. Pode-se argumentar que esse dispositivo determina que a sede estatutária da Sharp está em Manaus. Acontece que, como se viu da doutrina e do entendimento da Suprema Corte, esse não é o critério utilizado para definir-se “principal estabelecimento” para os fins da Lei Falimentar, que considera o local de comando, de poder de decisão, a chamada “alma da empresa”. Como salientou o Ministro Antônio Néder, do STF: “Não é aquele a que os estatutos da sociedade conferem o título de principal, mas o que forma concretamente o corpo vivo, o centro vital das principais atividades comerciais do devedor, a sede ou núcleo dos negócios em sua palpitante vivência material” (grifos nossos). No memorial de fls. 1.121/1.128 juntado aos autos, os autores afirmam: “Em primeiro lugar, destaca-se que a SHARP DO BRASIL S.A. INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS ELETRÔNICOS, conquanto produzisse equipamentos eletroeletrônicos na fábrica de Manaus, desenvolvia também diversas outras atividades mercantis — comércio, importação e exportação de produtos diversos e prestação de serviços de assistência técnica. E todas essas atividades, de grande relevo na composição do faturamento global da empresa, eram deliberadas e implementadas em São Paulo, sede administrativa e centro de decisões da empresa, na qual se encontrava sua direção e de onde partia a planificação e o comando geral dos negócios. No mais, é certo também que em São Paulo se concentram os principais fornecedores, clientes e lojas de serviços autorizados (só no Município de São Paulo eram cerca de 112 lojas de serviços autorizados “Sharp”) da SHARP DO BRASIL S.A. INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS ELETRÔNICOS. Além disso, tem-se que os investimentos, a captação de recursos financeiros e os grandes contratos eram aprovados e efetivados pela SHARP DO BRASIL S.A. INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS ELETRÔNICOS em São Paulo, tanto que seus maiores credores lá se concentram, tais como instituições financeiras, fornecedores nacionais, transportadoras, dentre outras empresas. É de se ressaltar, ainda, que todos os membros da Diretoria da SHARP DO BRASIL S.A. INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS ELETRÔNICOS, à época do pedido de concordata que veio a ser distribuído à 39º Vara Cível do Foro Central da Comarca de São Paulo, residiam no Estado de São Paulo, reunindo-se em Manaus, no Estado do Amazonas, apenas uma vez por ano, e apenas para cumprimento de formalidades — realização de assembleias gerais... Por fim, cumpre mencionar que o fato de se encontrar em São Paulo o maior volume de negócios, a centralização da influência econômica, a direção, o comando e a administração geral da SHARP DO BRASIL S.A. INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS ELETRÔNICOS, tudo como mencionado acima, é que levou a empresa a requerer concordata nesse Foro, absolutamente convicta do cumprimento ao art. 7º do Decreto-lei n. 7.661/45. A fábrica de Manaus, se por um lado representava considerável parcela da atividade da empresa, de outra parte nunca foi eleita como o centro comercial dos negócios, assim como lá igualmente não se encontrava o centro decisório da empresa (fls. 1.126/1.127). Acreditamos que o centro vital das principais atividades comerciais da Sharp, “a sede ou núcleo dos negócios em sua palpitante vivência material”, como salientado no acórdão do Supremo Tribunal Federal, é em São Paulo, local de decisões da empresa,o centro comercial dos negócios, onde são feitos a captação de recursos financeiros e o fechamento dos contratos. É lá onde estão fixados os membros da Diretoria da empresa, especialmente os da empresa holding, e onde se concentra o maior volume de negócios. Assim, a orientação que mais se coaduna com a Lei n. 11.101/2005 é a que define o local onde se encontra a administração da empresa como seu principal estabelecimento. Tal entendimento repete o que já era adotado para a antiga Lei Falimentar, Decreto-lei n. 7.661/45, pois os fundamentos de tal interpretação são os mesmos aplicáveis à lei atual. Apesar disso, é bom destacar que Gladston Mamede entende que deve ser analisado caso a caso o que seria principal estabelecimento. Jorge Pereira Andrade defende ser a sede contratual ou estatutária. Osvaldo Barreto Filho afirma ser o lugar de maior concentração patrimonial. Fábio Ulhoa Coelho considera a importância econômica para definir qual seria o principal estabelecimento. Por fim, para Marlon Tomazette, seria o lugar de maior movimentação econômica, para facilitar a arrecadação dos bens, na falência, e a manifestação do devedor empresário, nas recuperações. Caso a empresa tenha cessado suas atividades, por ocasião do ajuizamento do processo de falência ou de recuperação, deve ser considerado foro competente o do local onde ela tenha exercido, por último, suas atividades, ou a última sede declarada perante as juntas comerciais. A competência para processar e julgar os processos previstos na Lei n. 11.101/2005 é de natureza absoluta, apesar de ser territorial. Tal conclusão decorre dos interesses coletivos e públicos que tais processos ensejam. Interesses não somente dos credores, mas de toda a coletividade, na medida em que a preservação da empresa interessa a toda a sociedade. Se a sede da empresa que requereu recuperação ou de quem se pediu a falência é situada fora do Brasil, a competência para os processos previstos na Lei n. 11.101/2005 será do local onde estiver situada a principal filial no Brasil. Se houver apenas uma filial no Brasil, no local onde ela estiver instalada será fixada a competência. Havendo mais de uma filial no País, a competência será fixada no local onde estiver a administração das filiais no Brasil. Tudo, segundo os critérios já identificados para a interpretação da expressão “principal estabelecimento”, conforme estudado anteriormente. Esquematizando os critérios para definição de principal estabelecimento, temos o seguinte diagrama: / Localondese. Í . situa a | administração 1, REAd e STh a e % = =, f Maior f [| movimentação | Sede contratual | econúmica | ou estatutária | (Marlon | Aorge Pereira A Tomazette) Andrade) CRITÉRIOS PARA DEFINIÇÃO DE "PRINCIPAL = ESTABELECIMENTO” | Cy Analisado | caso.a caso [| Gladston Mamede) Importância econômica (Fábio-Ulhoa Coalho) / Maior f concentração [ patrimonial | (Osvaldo Barreto % Filho) », Podemos, também, sistematizar os diversos critérios de fixação da competência cível da seguinte forma: Empresa com apenas —s» uma unidade: local onde atua [vários estabelecimentos: e localonde está a CRITÉRIOS DE administração FIXAÇÃO DA COMPETÊNCIA ; TERRITORIAL CÍVEL | Sede fora do Brasil: a administração no Brasil uma unidade: local - onde atuava +. local da filial onde está Empresa com apenas Se as atividades já f foram encerradas Vários estabelecimentos: do local onde estava | atuando, por último, ou da sede declarada na junta comercial 22.4.2. Juízo universal da falência Os critérios anteriormente estabelecidos definem o juízo competente para processar e julgar a falência, as recuperações e os crimes previstos na Lei n. 11.101/2005. Tanto o Juízo da recuperação quanto o criminal atuarão apenas nos respectivos processos, sendo que, na recuperação judicial, o juízo cível poderá julgar, também, eventuais impugnações de crédito no ambito das respectivas habilitações de crédito ou, ainda, ações ordinárias de retificação de quadro geral de credores, previstas nos arts. 8º e 19, da Lei n. 11.101/2005. Já o juízo que processar e julgar a falência terá sua competência estendida, após a decretação dela. Desde o pedido de falência ou processamento da recuperação judicial, o juiz da falência será competente apenas para prestar jurisdição nos autos da falência ou da recuperação judicial. No momento em que o juiz decreta a falência, passa a exercer o Juízo falimentar a vis attractiva para processar e julgar todas as ações de interesse da massa falida. Se a sentença do processo de falência denegá-la, termina a competência do juízo falimentar, e, se houver processo por crime falimentar ou inquérito policial pendentes, eles deverão ser extintos, sem resolução de mérito. Ao ser decretada a falência, fica estabelecido o juízo universal e indivisível da falência. Por força dele, todas as ações e execuções que interessem à massa falida serão processadas e julgadas pelo juízo falimentar. Todavia, essa regra não é absoluta, pois a lei traz exceções ao juízo universal da falência, bem como determina a continuidade e o julgamento das ações que já estavam tramitando, continuando elas nas mesmas varas onde se iniciaram. Destarte, é preciso distinguir as ações que já estavam em andamento daquelas iniciadas após a decretação da falência. A regra é a seguinte: 1) as ações que já estiverem em andamento serão suspensas pelo decreto de falência, até que o administrador judicial substitua o falido no respectivo polo, voltando a tramitar no mesmo juízo onde se iniciara, até final sentença, ocasião em que deverá ser providenciada a habilitação na falência; 2) as execuções que estiverem em andamento serão suspensas pelo decreto de falência até o trânsito em julgado da sentença que encerrá- la, devendo o exequente habilitar-se nos autos da falência; 3) novas ações propostas contra o falido após a decretação da falência serão ajuizadas e processadas no juízo falimentar; 4) novas execuções propostas contra O falido após a decretação da falência não serão admitidas, tendo em vista que a falência é uma execução coletiva e para ela deverão concorrer e habilitar-se todos os credores que tenham prova escrita do seu crédito, sob pena de ocorrência da litispendência entre a execução individual nova e a execução coletiva. As conclusões do parágrafo anterior, quanto à suspensão das ações e execuções contra o falido, podem ser facilmente lidas no texto expresso do art. 6º, da Lei n. 11.101/2005, o qual assevera que “a decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquela dos credores particulares do sócio solidário”. No que se refere à continuidade das ações no juízo em que originalmente foram propostas, o 8 1º do mesmo artigo conclui: “terá prosseguimento no juízo no qual estiver se processando a ação que demandar quantia ilíquida”. Ações que demandam quantias ilíquidas são aquelas ações de conhecimento já ajuizadas quando da decretação da falência, ainda não sentenciadas (até o trânsito em julgado da sentença). A vis attractiva do juízo falimentar encontra seu fundamento legal no caput do art. 76, da Lei n. 11.101/2005, o qual normatiza que “o juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo”. Já a legitimidade e a necessária habilitação do administrador judicial em lugar do falido estarão determinadas no parágrafo único, do mesmo artigo, assim redigido: “todas as ações, inclusive as excetuadas no caput deste artigo, terão prosseguimento com o administrador judicial, quedeverá ser intimado para representar a massa falida, sob pena de nulidade do processo”. É possível sistematizar na figura a seguir o que estudamos até agora sobre o juízo universal. Com base, ainda, nas regras expostas, a Lei n. 11.101/2005 exclui expressamente da competência do juízo falimentar as seguintes ações: I — reclamações trabalhistas; Il — ações de natureza fiscal; HI — ações em que o falido seja autor ou litisconsorte ativo, desde que não previstas na Lei n. 11.101/2005; IV — ações cuja competência esteja prevista na Constituição Federal e que não sejam disciplinadas na Lei n. 11.101/2005. | Antes da decretação da falência: Suspensas — — atéa habilitação do administrador judicial, voltando a tramitar E] Ações já ajuizadas k " Depois da decretação | —s da falência: Competente o juízo falimentar JUÍZO UNIVERSAL Eid Gi EINDIVISIVEL a talincia: DA FALÊNCIA —+ Suspendem-se até o encerramento , da falência + Execuções já ajuizadas F e H Depois da decretação — - da falência: Ações excluídas do juízo Indeferimento da universal da falência E petição inicial — tquadro posterior) litispendência com a execução coletiva 22.4.2.1. O crédito trabalhista As reclamações trabalhistas não são atraídas para o juízo falimentar, independentemente do momento do seu ajuizamento. O art. 114 da Constituição Federal fixa a competência da Justiça do Trabalho para apreciar tais ações, competência absoluta, em razão da matéria. A Lei n. 11.101/2005 foi taxativa ao tratar da competência da Justiça Trabalhista, pois não se limitou a excluir as reclamações trabalhistas do seu alcance. Mais do que isso, estabeleceu uma regulamentação completa, ratificando a competência da justiça obreira para as execuções, impugnações de crédito e ações de retificação de quadro geral de credores. Indispensável citarmos as seguintes disposições da Lei n. 11.101/2005: Art. 76. O juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo. Parágrafo único. Todas as ações, inclusive as excetuadas no caput deste artigo, terão prosseguimento com o administrador judicial, que deverá ser intimado para representar a massa falida, sob pena de nulidade do processo. Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquela dos credores particulares do sócio solidário. $ 2º É permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitação, exclusão ou modificação de créditos derivados da relação de trabalho, mas as ações de natureza trabalhista, inclusive as impugnações a que se refere o art. 8º desta Lei, serão processadas perante a justiça especializada até a apuração do respectivo crédito, que será inscrito no quadro geral de credores pelo valor determinado em sentença. Art. 19. O administrador judicial, o Comitê, qualquer credor ou o representante do Ministério Público poderá, até o encerramento da recuperação judicial ou da falência, observado, no que couber, o procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil, pedir a exclusão, outra classificação ou a retificação de qualquer crédito, nos casos de descoberta de falsidade, dolo, simulação, fraude, erro essencial ou, ainda, documentos ignorados na época do julgamento do crédito ou da inclusão no quadro geral de credores. 8 1º A ação prevista neste artigo será proposta exclusivamente perante o juízo da recuperação judicial ou da falência ou, nas hipóteses previstas no art. 6º, 88 1º e 2º, desta Lei, perante o juízo que tenha originariamente reconhecido o crédito. Assim, o crédito trabalhista não pode ser discutido no juízo falimentar, mesmo que possa ser impugnado ou objeto de ação de retificação de quadro geral de credores, ainda que possa ter sua execução embargada. Em todas as hipóteses, será o juízo trabalhista o competente para processar e julgar quaisquer ações ou incidentes que incidam sobre os créditos trabalhistas de devedor empresário em crise econômico-financeira. Por sua vez, o pagamento de todos os créditos trabalhistas e dos demais débitos do falido deverá ser feito no juízo falimentar, exclusivamente, de modo que os credores trabalhistas deverão habilitar seu crédito no juízo falimentar. Tal regra impede que o juízo trabalhista, ou qualquer outro juízo, determine qualquer restrição ao patrimônio do devedor empresário, bem como que efetue qualquer pagamento com o patrimônio dele, depois de decretada a falência ou deferida a recuperação judicial. Eventual venda de bem penhorado nos autos da execução trabalhista impõe a imediata remessa dos valores da arrematação ao juízo falimentar. Apesar de todas as exceções para o processamento de ações no juízo falimentar, não existem exceções à competência para os pagamentos dos débitos do falido ou do devedor em recuperação. Essa competência é absoluta e, portanto, exclusiva do juízo falimentar. Na prática, um verdadeiro “caixa único” é estabelecido com a decretação da falência. Essa interpretação decorre, inclusive, do que determina expressamente o art. 108, 8 3º, da Lei n. 11.101/2005, inovando quanto à legislação anterior. Ali, o legislador foi contundente ao determinar que “ato contínuo à assinatura do termo de compromisso, o administrador judicial efetuará a arrecadação dos bens e documentos e a avaliação dos bens, separadamente ou em bloco, no local em que se encontrem, requerendo ao juiz, para esses fins, as medidas necessárias. (...) 8 3º O produto dos bens penhorados ou por outra forma apreendidos entrará para a massa, cumprindo ao juiz deprecar, a requerimento do administrador judicial, às autoridades competentes, determinando sua entrega”. Tal mudança, introduzida pela Lei n. 11.101/2005, é tão marcante que não se faz mais necessária a indicação da hora da decretação da falência. É que o Decreto-lei n. 7.661/45 fazia distinção entre execuções com leilões já realizados e aquelas em que o leilão ainda não se realizara, por ocasião da decretação da falência, sendo a hora da decretação marco imprescindível para tal definição. Hoje, todos os bens penhorados ou leiloados serão destinados ou terão seu produto destinado à massa falida, mesmo que a arrematação no leilão tenha-se dado em juízo trabalhista, antes da decretação da quebra. Após a publicação da Lei n. 11.101/2005, diversos conflitos de competência foram levados ao STJ, especialmente envolvendo juízos trabalhistas e falimentares. Outras tantas reclamações foram ajuizadas naquele tribunal por devedores e credores que discordavam da continuidade da jurisdição trabalhista sobre os bens da massa falida ou do devedor empresário. Em todos os julgados, o STJ tem reiterado o mesmo entendimento, deferindo ao juízo falimentar competência única e exclusiva para definir o destino dos bens do falido, bem como dos valores levantados com a venda deles. Importante anotar as seguintes ementas, esclarecedoras e condizentes com os princípios que orientaram a Lei n. 11.101/2005: EMENTA: FALÊNCIA. ADJUDICAÇÃO EM EXECUÇÃO TRABALHISTA APÓS DEFERIMENTO DA RECUPERAÇÃO OU DECRETAÇÃO DA QUEBRA. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. JUÍZOS FALIMENTAR E DO TRABALHO. AÇÕES E EXECUÇÕES TRABALHISTAS EM CURSO. FALÊNCIA DA EXECUTADA. PENHORA DE BENS JÁ REALIZADA NO JUÍZO TRABALHISTA. AGRAVO REGIMENTAL PREJUDICADO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO FALIMENTAR. PRECEDENTES. NULIDADE DO ATO QUE DEFERIU A ADJUDICAÇÃO. 1. Tanto após a aprovação do plano de recuperação judicial da empresa, quanto após a decretação da quebra, as ações e execuções trabalhistas em curso, terão seu prosseguimento no Juízo Falimentar, mesmo que já realizada a penhora de bens no Juízo Trabalhista.Precedentes. 2. Conflito de Competência conhecido declarando-se a competência do Juízo Falimentar, com a consequente nulidade do ato que deferiu a adjudicação (STJ, CC 262.818/SP, Min. Sidnei Beneti, Segunda Seção, DJe 26/06/2009). EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO FALIMENTAR E JUSTIÇA DO TRABALHO. EXECUÇÃO TRABALHISTA. ARREMATAÇÃO. REMESSA DO PRODUTO AO JUÍZO UNIVERSAL DA FALÊNCIA. 1. Decretada a quebra, a Justiça do Trabalho é competente para definir o crédito trabalhista, que será, então, habilitado no juízo universal e atrativo da falência; excepcionalmente, porém, se os bens já estiverem em praça, a arrematação terá curso, mas o produto será transferido para o juízo falimentar. Precedentes. 2. Eventual pedido de não repetição dos valores levantados na execução trabalhista deve ser formulado perante o juízo competente, na espécie, o juízo falimentar (STJ, Agra no CC 95.001/BA, Min. Fernando Gonçalves, Segunda Seção, DJe 29/04/2009). EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO POSITIVO. AGRAVO REGIMENTAL. FALÊNCIA. EXECUÇÃO TRABALHISTA. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA DA EMPRESA. CONSTRIÇÃO DO PATRIMÔNIO DOS SÓCIOS. MEDIDA ADOTADA POR AMBOS OS ÓRGÃOS JUDICIAIS. PREVALÊNCIA DO JUÍZO UNIVERSAL. PROVIMENTO. I. Havendo decretação da desconsideração da personalidade jurídica da falida/executada tanto pela Justiça do Trabalho como pelo Juízo falimentar, com a consequente arrecadação dos bens dos sócios, deve a execução ser processada perante o Juízo universal. II. Estendidos os efeitos da quebra também a estes, a penhora anterior realizada na Justiça Especializada cede em face da falência superveniente. III. Agravo regimental provido, para declarar a competência do Juízo falimentar, o suscitado (STJ, AgRg no CC 98.498/RJ, Min. Aldir Passarinho Júnior, Segunda Seção, DJe 27/03/2009). Destarte, concluímos diferenciando a competência para processar e julgar ações e execuções de interesse do falido daquela para efetuar os pagamentos e decidir sobre bens e direitos do falido e do devedor empresário em recuperação judicial. Tais competências são normalmente confundidas pelos aplicadores do direito. Para processar e julgar as ações e as execuções, contamos com todas as exceções legais e com a continuidade delas nos juízos onde já eram processadas, como visto anteriormente. Assim, nessas hipóteses, a competência do juízo falimentar é relativa, cedendo espaço para outros juízos competentes. Agora, na falência, para processar o pagamento de todas as obrigações, inclusive fiscais e trabalhistas, teremos a competência exclusiva do juízo falimentar, tanto em relação aos processos iniciados antes como em relação àqueles ajuizados após a decretação da falência. Assim, nessas hipóteses, a competência do juízo falimentar é absoluta, não cedendo qualquer espaço para outros juízos competentes. No que se refere à recuperação judicial, essa competência exclusiva para os pagamentos alcançará todos os créditos existentes na data do pedido de recuperação, mas não aqueles originados após tal data. Para novos créditos, novas ações e execuções, as quais serão ajuizadas, julgadas e executadas nos juízos competentes, inclusive quanto aos pagamentos. Assim, o deferimento da recuperação judicial atingirá os créditos, ações e execuções existentes ao tempo do pedido, diga-se, do ajuizamento da recuperação judicial, fixando a competência do juízo falimentar para referidos créditos contemporâneos ao pedido, somente. Assim, nessas hipóteses, a competência do juízo falimentar é relativa, cedendo espaço para outros juízos competentes. Isso será estruturado mais adiante. Podemos esquematizar a atuação da Justiça Trabalhista na falência e na recuperação judicial, assim: | Reclamações trabalhistas anteriores e posteriores | —+ à decretação da falência ou ao deferimento da recuperação judicial tm incidentes, salvo para pagamento A JUSTIÇA | des cráditos trabalhistas Execuções de sentenças trabalhistas e seus | TRABALHISTA CONTINUA f E : COMPETENTE RARA RR Processamento das impugnações ao crédito trabalhista no juízo falimentar * decredores homologado no juízo falimentar, questionando crédito trabalhista [ Ação ordinária de retificação de quadro geral | 22.4.2.2. O crédito fiscal Para as ações e execuções que discutam o crédito fiscal, permanecem as competências estabelecidas: 1) na Constituição Federal, quanto aos créditos da União e suas autarquias; 2) nas leis de organização judiciária locais, quanto aos créditos estaduais e municipais. A decretação da falência e a concessão da recuperação judicial não alteram a referida competência. Todavia, como já assinalado, os pagamentos deverão ser postulados perante o juízo falimentar, ante a competência absoluta dele para essa finalidade. As únicas exceções à competência originária para processar e julgar o crédito fiscal recaem sobre a impugnação de tal crédito no juízo falimentar e sobre a ação de retificação de quadro geral de credores quanto ao crédito estatal. Poder-se-ia argumentar que o art. 76, da Lei n. 11.101/2005, ao determinar que “o juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo”, alcançaria, também, o crédito fiscal. Ocorre que o crédito trabalhista encontra-se na mesma situação do crédito fiscal, alcançado pelo texto do citado art. 76. Todavia, no que se refere ao crédito trabalhista, o 8 2º, do art. 6º, da Lei n. 11.101/2005, exclui a competência falimentar para processar e julgar a impugnação ao referido crédito, estabelecendo que “é permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitação, exclusão ou modificação de créditos derivados da relação de trabalho, mas as ações de natureza trabalhista, inclusive as impugnações a que se refere o art. 8º desta Lei, serão processadas perante a justiça especializada até a apuração do respectivo crédito, que será inscrito no quadro geral de credores pelo valor determinado em sentença”. O credor fiscal não conta com a mesma regra de exclusão, de modo que a eventual impugnação ao crédito fiscal será processada e julgada no juízo falimentar. Ocorre o mesmo quando tratamos da ação de retificação de quadro geral de credores, pois o art. 19, da Lei n. 11.101/2005, preceitua que “o administrador judicial, o Comitê, qualquer credor ou o representante do Ministério Público poderá, até o encerramento da recuperação judicial ou da falência, observado, no que couber, o procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil, pedir a exclusão, outra classificação ou a retificação de qualquer crédito, nos casos de descoberta de falsidade, dolo, simulação, fraude, erro essencial ou, ainda, documentos ignorados na época do julgamento do crédito ou da inclusão no quadro geral de credores”. Isso inclui os créditos fiscais. O 8 1º, do referido artigo, exclui o crédito trabalhista e aqueles decorrentes das demandas sobre quantias ilíquidas da competência falimentar para julgar tal ação, não excluindo o crédito fiscal. O texto legal assim determina: “A ação prevista neste artigo será proposta exclusivamente perante o juízo da recuperação judicial ou da falência ou, nas hipóteses previstas no art. 6º, 84 1º e 2º, desta Lei, perante o juízo que tenha originariamente reconhecido o crédito”. Desse modo, o juízo falimentar será o competente para o processo e o julgamento das ações de retificação de quadro geral de credores relativas aos créditos de natureza fiscal. Os créditos fiscais têm sido geralmente impugnados para exclusão dos encargos legais do seu montante. É que a fazenda pública entende que os encargos legais tenham a mesma natureza dos créditos fiscais, enquanto o Ministério Públicoe os credores têm pugnado pela equivalência dos encargos legais às multas fiscais. A definição da natureza do referido crédito implicará a sua inclusão no quadro geral de credores como crédito fiscal, privilegiado, portanto, ou como crédito subquirografário. Tal discussão será feita no estudo das habilitações de crédito e do quadro geral de credores, mais adiante. A inclusão do crédito fiscal no quadro geral de credores da falência prescindirá de prévia habilitação de crédito. Bastará a remessa da certidão positiva de crédito fiscal para o juízo falimentar, onde será efetuada a penhora no rosto dos autos. A certidão da dívida ativa goza de presunção de existência do crédito fiscal e de legitimidade, bem como já especifica a categoria do referido crédito, o que dispensa a habilitação nos autos da falência; basta a mencionada penhora no rosto dos autos. Diante dela, o administrador judicial incluirá o crédito fiscal na categoria própria. Com a publicação da relação de credores, prevista no art. 7º, 8 2º, da Lei n. 11.101/2005, poderá ser apresentada a impugnação já mencionada. A dispensa de habilitação no juízo falimentar não implica a dispensa de inclusão no quadro geral de credores do falido, ou seja, apesar de não estar obrigado a habilitar-se no juízo falimentar, deverá o credor fiscal buscar o seu crédito no respectivo juízo, na forma especificada no parágrafo anterior. No que se refere à recuperação judicial, impende, desde já, constatar que os créditos fiscais não serão atingidos, tanto que o mesmo art. 6º, da Lei n. 11.101/2005, no seu 8 7º, estatui que “as execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento da recuperação judicial, ressalvada a concessão de parcelamento nos termos do Código Tributário Nacional e da legislação ordinária específica”. Mais adiante, o legislador condicionará a concessão da recuperação judicial, e a própria homologação do Plano de recuperação judicial, à exibição de certidões negativas tributárias, ou ao parcelamento do referido crédito junto às respectivas fazendas públicas. É o que encontramos disposto nos arts. 57 e 68, da Lei n. 11.101/2005, assim prescritos: “Art. 57. Após a juntada aos autos do plano aprovado pela assembleia geral de credores ou decorrido o prazo previsto no art. 55 desta Lei sem objeção de credores, o devedor apresentará certidões negativas de débitos tributários nos termos dos arts. 151, 205, 206 da Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966 — Código Tributário Nacional”. “Art. 68. As Fazendas Públicas e o Instituto Nacional do Seguro Social — INSS poderão deferir, nos termos da legislação específica, parcelamento de seus créditos, em sede de recuperação judicial, de acordo com os parâmetros estabelecidos na Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966 — Código Tributário Nacional”. Por ocasião da abordagem sobre a recuperação judicial, aprofundaremos o estudo desses artigos, os quais têm sido desconsiderados pela jurisprudência para efeito de concessão da recuperação judicial?. Para o momento, basta constatar que o credor fiscal não é atingido pela recuperação judicial, o que afasta qualquer efeito quanto à competência para processar, julgar e pagar as ações e execuções de natureza fiscal, em face da concessão dela. Esquematizando: Para as ações e 05 o incidentes das execuções martém-se | a competência originária ã “| Impugnações ao crédito + Na falência | fiscal serão julgadas no juizo falimentar | ações de retificação de Ma recuperação judicial, COMPETÊNCIA mantêm-se a E RARA PROCESSAR competéncia originária | |» quadro geral serão O CRÉDITO FISCAL julgadas no juizo geral de credores da falência independerá de É | falimentar & inclusão no quadro , habilitação prévia 22.4.2.3. Falido como autor ou litisconsorte ativo A atração das ações e execuções para o juízo falimentar visa a apreciação mais especializada das demandas que incidam sobre os bens e direitos do falido, especialmente aquelas ações que tenham por objetivo retirar patrimônio da massa falida ou impor-lhe obrigações. O juízo universal da falência pode atrair um número absurdo de processos para a vara falimentar, como no caso Encol, em que milhares de consumidores tiveram problemas envolvendo seus contratos imobiliários e tiveram que se socorrer junto ao juízo cível goiano competente. As ações em que o falido é autor ou litisconsorte ativo não imporão à massa falida eventuais obrigações nem servirão para impor eventual ônus sobre os bens dela. Serviriam para inflacionar ainda mais a quantidade de demandas no juízo falimentar, sem que houvesse qualquer motivo especial para tanto. Se a ação foi ajuizada antes da decretação da falência, fosse o falido autor ou réu, já não seria declinada a competência para o juízo falimentar, em razão de a referida ação ter que ser encerrada no juízo originário, ainda que seja apresentado pedido contraposto ou que haja reconvenção. Agora, se a ação em que o falido é autor foi proposta após o decreto de falência, ela tramitará fora do juízo falimentar; todavia, havendo pedido contraposto ou reconvenção, o feito deverá ser declinado para o juízo falimentar, ante a possibilidade de condenação do falido naqueles autos. As ações previstas na Lei n. 11.101/2005 e que sempre serão da competência do juízo falimentar, mesmo que o falido seja autor ou litisconsorte ativo, são as seguintes: Ação de retificação de quadro geral de credores (art. 19), salvo se forem créditos trabalhistas (pois a competência, nesse caso, é exclusiva da Justiça do Trabalho); Ação de impugnação aos créditos da relação de credores (art. 8º), salvo se forem créditos trabalhistas (pois a competência, nesse caso, é exclusiva da Justiça do Trabalho); Ação de responsabilização (art. 82); Ação de ineficácia (art. 129, parágrafo único); Ação revocatória (art. 132); Pedido de Restituição (art. 87); e Embargos de terceiros (art. 93). Esquematizando: Ações ajuizadas antes da decretação: não são atraídas, mesmo que haja recorvenção ou pedido contraposto COMPETÊNCIA MAS AÇÕES EM QUE =D www no O FALIDO SEJA Ações ajuizadas após a decretação: não são atraídas, AUTOR OU salvo se houver recomvenção ou pedido contraposto LTISCONSORTE ATIVO j Ações previstas na LRE: sempre serão da competência do juízo falimentar, salvo se de natureza trabalhista F, 22.4.2.4. Ações cuja competência esteja prevista na Constituição Federal A competência fixada na Constituição Federal deve ser prestigiada perante toda a legislação infraconstitucional, inclusive a falimentar. A exceção prevista na parte final do art. 109, inc. I, da Constituição Federal, no qual se lê que, apesar de a Justiça Federal ser competente para processar e julgar todas as causas onde houver interesse da União, as causas de falência ficam excluídas daquela competência, reforça o entendimento de que as demais causas continuam sob a jurisdição federal. Explicamos. Se a Constituição excepciona apenas as ações de falência, não pode o intérprete incluir outras ações, mesmo que ajuizadas após a decretação da falência do devedor. Há autores que defendem que, uma vez decretada a falência, a competência constitucional da Justiça Federal estaria afastada em todas as hipóteses de ações que envolvessem interesses da União, sendo devedor o falido, todas aquelas em que a natureza da demanda não se referisse a tributos, pois essas últimas estariam excluídas pelo art. 76, da Lei n. 11.101/2005. Ocorre que a Constituição não estabeleceu tal exclusão da competência federal. Pelo contrário, limitou-se a excluir as ações de falência. Por sua vez, a Lei n. 11.101/2005 excluiu do alcance da competência falimentar apenas as ações de natureza fiscal, sem fazer menção a ações de interesse dos entes estatais, todavia não as inclui no seu âmbito de competência, como o faz em relação às suas ações típicas,excluindo apenas a competência trabalhista. Desse modo, parece mais acertado o entendimento que conclui ser incompetente o juízo falimentar para as ações cuja competência para o processo e julgamento esteja prevista na Constituição Federal e que, por ela, não foram excepcionadas, tampouco incluídas pela legislação falimentar. Contudo, as impugnações ao crédito fiscal, as ações de retificação de quadro geral de credores, os pedidos de restituição, as ações revocatórias e de ineficácia, além da ação de responsabilização, serão processadas e julgadas pelo juízo falimentar, pois previstas apenas na Lei n. 11.101/2005, mesmo que haja competência constitucional diversa. A exceção a essa regra alcança apenas a competência trabalhista para as impugnações e ações de retificação de quadro geral de credores, previstas nos arts. 6º, 8 2º, e 19, 8 1º, da mesma lei, pois referidos artigos fazem exclusão expressa da competência falimentar. À ação de falência estã excluída expressamente: tramitará no juízo estadual AÇÕES COM mid Áções com competência constitucional, não excluldas: tramitarão no juízo fixado constitucionalmente CONSTITUIÇÃO FEDERAL ' à ções previstas unicamente na legislação falimentar: | tramitarão na justiça falimentar, salvo trabalhistas Esquematizando a competência do juízo falimentar para o processo e julgamento das ações e execuções, em caso de deferimento da recuperação judicial, chegamos ao seguinte enquadramento: DEFERIDO O PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO JUPHCIAL Nessas duas primeiras situações, a competência do juízo falimentar será apenas para o pagamento Áções & execuções Concedida a Ações E Execuções, são suspensas por recuperação, propostas após o 180 dias nos juízos todos os credores 'deferimento, tramitarão onde tramitavam, aguardarão seu normalmente nos até a concessão da cumprimento, e as juízos originários, recuperação ou ações E execuções até o pagamento corvolação dela serão extintas em falência | Após 180 dias, sem sentença de concessão da recuperação, as ações voltam a comer mos juízos originários Percebe-se, portanto, que a Lei n. 11.101/2005, em seu art. 6º, 8 8º, determina que “a distribuição do pedido de falência ou de recuperação judicial previne a jurisdição para qualquer outro pedido de recuperação judicial ou de falência, relativo ao mesmo devedor”. Em razão disso, caso a competência precise ser definida pela prevenção, deverá ser considerado o pedido que primeiro foi distribuído, e não o primeiro a ser despachado, para determinar o juízo competente. Esquematizando as ações previstas na Lei n. 11.101/2005: fe àção de | E O É) Talência Fá Zu h | Ação de ' | retificação | Ações de | de quadro geral y esaPE raio: + decradores fo Ação de AÇÕES | impugnação REGULADAS acréditos PELA 4 habilitados LEI HM: 1110102005 f | Ação de | resporuabilização N 22.4.3. Criminal A competência criminal, como já mencionado, dependerá da definição da competência do juízo cível, conforme determina o art. 183, da Lei n. 11.101/2005. Assim, reiteramos, serão competentes para processar e julgar os crimes falimentares os juízes criminais do local onde foi: decretada a falência; concedida a recuperação judicial; ou homologado o plano de recuperação extrajudicial. A competência aqui referida diz respeito aos crimes falimentares, somente. É muito costumeira a prática de crimes comuns antes da decretação da falência ou do deferimento da recuperação judicial. A gestão temerária, a apropriação indébita e o estelionato são os que mais ocorrem. Esses crimes serão processados regularmente, sem qualquer vinculação com a falência decretada ou com a recuperação judicial deferida. Competentes serão os juízos definidos no Código de Processo Penal para processar e julgar os crimes comuns. À guisa de exemplo, apesar de a falência da Encol tramitar em Goiânia, alguns processos criminais contra seus administradores tramitaram normalmente em varas criminais comuns do Distrito Federal, inclusive com sentenças condenatórias. Uma delas proferida por mim. Outra questão importante é a necessidade da sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou a extrajudicial para que se possa punir o crime falimentar, o que não é necessário para a punição do crime comum. Determina o art. 180, da Lei n. 11.101/2005, que “a sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou concede a recuperação extrajudicial de que trata o art. 163 desta Lei é condição objetiva de punibilidade das infrações penais descritas nesta Lei”. Por ser condição de punibilidade, o processo penal poderá ser iniciado regularmente, todavia a condenação esperará alguma das sentenças mencionadas no art. 180, ou seja, aguardará a sentença que decreta a falência, concede a recuperação judicial ou homologa a recuperação extrajudicial. Esquematizando a competência para processar os crimes falimentares: Decretada a falência ) SERA COMPETENTE PARA PROCESSAR O ppa - Ra CRIME FALIMENTAR, Concedida a recuperação judicial | OD JUMZ CRIMINAL DE ONDE FOI Homologado o plano de recuperação extrajudicial | 22.5. ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO 22.5.1. Noções preliminares O Ministério Público tinha sua atuação regulada no art. 4º, da Lei n. 11.101/2005, o qual estabelecia a participação genérica do Ministério Público no processo falimentar. Todavia, o referido artigo foi vetado, o que causou séria restrição à atuação do Órgão Ministerial no processo de recuperação judicial e de falência das empresas. É oportuno conferir a redação dada ao eliminado artigo. Confiramos: “O representante do Ministério Público intervirá nos processos de recuperação judicial e de falência. Parágrafo único. Além das disposições previstas nesta Lei, o representante do Ministério Público intervirá em toda ação proposta pela massa falida ou contra esta”. A vontade do legislador foi dirigida à participação do Ministério Público em todos os processos de recuperação e de falência, além de todas as ações propostas pela massa ou contra ela. O veto eliminou essa intenção. Não fossem algumas disposições expressas determinando a participação do Ministério Público em alguns atos, como se vê em dezoito artigos da Lei n. 11.101/2005, o parquet restaria alijado dos processos estatuídos pela mencionada lei. A versão da Lei de Recuperação e Falências aprovada pelo Senado Federal estatuía a participação do Ministério Público apenas quando houvesse indício de fraude ou de crime falimentar. A Câmara dos Deputados, casa de origem da Lei n. 11.101/2005, primeiro aprovou a versão que foi vetada. Tal versão foi alterada no Senado, na forma explicitada no parágrafo anterior. Voltando o projeto à Câmara dos Deputados, ela restaurou a redação original do texto do art. 4º e, com isso, expandiu tal participação, alcançando todos os processos de interesse da massa. Mas isso não foi consolidado, ante o veto presidencial. O veto presidencial justificou-se afirmando que a instituição Ministério Público restaria desprestigiada em ter que atuar em causas de menor importância. Tal justificativa mostra-se inconsistente, já que, se o motivo da eliminação do artigo fosse apenas esse, bastaria que se vetasse o parágrafo único da redação, pois o caput autorizava a participação do Ministério Público apenas nos processos de Recuperação e de Falência, como acentuou o Senado Federal, e não em pequenos incidentes, como queria a Câmara dos Deputados. 22.5.2. Hipóteses legais no contexto do microssistema da Lei n. 11.101/2005 A indagação presente é de se o Ministério Público tem que ser ouvido em todos os processos de falência e de recuperação judicial, participando de todas as suas fases. A pergunta deve ser respondida em três momentos distintos. Primeiro, restaram na Lei n. 11.101/2005 dezenove menções específicas ao Ministério Público,Novo CPC Supletivamente. CPP Subsidiariamente. Decreto-lei n. 73/66, Lein. A algumas atividades empresariais excluídas pelo art. 2º, da Lein. 6.024/74, Decreto-lei n. 2.321/87 e | 11.101/2005, com aplicação subsidiária da LRE. 9.656/98 22.2. LEGITIMIDADE 22.2.1. Legitimidade passiva Ao definir o seu objeto, a Lei n. 11.101/2005, no art. 1º, também delimita o seu sujeito. Afirma a LRE que sua aplicação atinge apenas o empresário e a sociedade empresária, a quem passa a denominar simplesmente como devedor. Os conceitos de empresário e sociedade empresária não foram delineados na Lei n. 11.101/2005, de modo que devemos nos socorrer às disposições do Código Civil, em que tais sujeitos encontram-se definidos assim: A LEGITIMIDADE PASSIVA NO REGIME FALIMENTAR Instituto Conceito Empresário Art. 966, do CC: Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica individual organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Não empresário | - Art. 966, parágrafo único, do CC: Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. Sociedade Art. 982, do CC: Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem empresária por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro, e, simples, as demais. Empresa Art. 980-A, do CC: A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída por uma individual de única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será responsabilidade | inferior a 100 (cem) vezes o maior salário mínimo vigente no país (instituída pela Lei n. limitada 12.441/2011). Complementando as referidas definições, o art. 967, do CC, estabelece que “é obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade”. No mesmo passo, o art. 982, parágrafo único, determina que “Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa”. No que concerne ao registro, completa, ainda, o art. 985, do CC: “A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos”. Se a sociedade é empresária, seu registro será feito no Registro Público de Empresas Mercantis, a cargo das Juntas Comerciais, nos termos do art. 1.150, do CC. No próximo tópico, analisaremos a necessidade ou não de registro prévio para caracterizar o empresário alcançado pela Lei n. 11.101/2005. Antes, porém, é importante lembrar que o trabalhador rural e a sociedade rural receberam tratamento diferenciado do legislador, uma vez que foram definidos como única atividade econômica que tem a faculdade de enquadrar-se no regime empresarial (regulado pelo Direito Empresarial) ou no regime não empresarial (regulado pelo Direito Civil). Aqueles que exercem atividade rural podem registrar-se no Registro Público de Empresas Mercantis e, em razão disso, tornarem-se empresários, a contar da data do registro. Assim, aquele que exerce atividade rural poderá ser alcançado pela Lei n. 11.101/2005 somente se estiver registrado em uma Junta Comercial. O enquadramento da atividade rural encontra-se nas disposições dos arts. 971 e 984, do CC. Por sua vez, a sociedade simples e a sociedade cooperativa não são alcançadas pela Lei n. 11.101/2005, apesar de desempenharem atividade com fins lucrativos. Isso decorre da atividade desenvolvida por elas, considerada não empresarial, como já descrito na parte geral desta obra. Ambas poderão ser submetidas à insolvência civil, caso lhes advenha crise patrimonial. A sociedade em conta de participação também não pode falir. As disposições dos arts. 991 a 996 do Código Civil regulam a referida sociedade, estabelecendo que é composta por um ou alguns sócios ostensivos e por um ou alguns sócios participantes. Não formam uma pessoa jurídica, mesmo que registrem o contrato estabelecido entre si. Os sócios ostensivos respondem perante os credores, e os participantes apenas perante os ostensivos. Desse modo, não podem os credores requerer a falência da sociedade em conta de participação incluindo todos os participantes, mas apenas poderão acionar os sócios ostensivos. Por fim, é oportuno destacar que a atividade de advocacia, apesar de ser econômica, não pode adotar a forma empresarial, por expressa vedação do art. 16, da Lei n. 8.906/94, Estatuto da OAB. Em razão disso, advogados e sociedades de advogados não serão alcançados pela Lei n. 11.101/2005, mesmo que adotem estrutura empresarial. Esquematicamente: ATIVIDADES ECONÔMICAS SUJEITAS À LRE SR = | E | E | Empresa que Trabalhador ou trio sito as Sociedade sociedade Megan empresário Ariônima rural registrados individual de individual ou “responsabilidade sempre na Junta ii sociedade G retal limitada | empresária ATIVIDADES ECONÔMICAS NÃO SUJEITAS À LRE | = 1 TESS Ea - pio ; alhador | edades em ibn ou sociedade Conta de Sociedade rural não Atividade de Participação, autónomos & f É F Cooperativa registrados advocacia sahro quanto sociedade 7 simples na Junta ao sócio | | Comercial |, | ostersivo 22.2,1.1. Na falência A legitimidade passiva na falência é um assunto que restaura a discussão quanto à caracterização de quem deve ser considerado empresário. Constata-se, de forma pacífica e empírica, que a empresa é uma realidade objetiva, pois, conceituada como atividade econômica organizada, revela-se um fenômeno palpável, visível, real. Enquanto isso, o Código Civil exige o registro prévio do empresário (art. 967) e da sociedade empresária (art. 985) para conferir-lhes existência jurídica. Importa, então, saber se a empresa, atividade, caracteriza seu titular, o empresário e a sociedade empresária, independentemente do registro, pelo exercício fático da atividade econômica, ou se apenas com o registro é que tal titular torna-se empresário, enquadrando-se na legislação empresarial. Repetimos a indagação da parte geral desta obra para sabermos se o registro é constitutivo ou declaratório da caracterização do empresário. A resposta encontra-se no art. 105, inc. IV, da Lei n. 11.101/2005, segundo o qual pode requerer autofalência o empresário ou a sociedade empresária que comprovarem essa condição por meio da prova do registro, ou, na ausência dele, pela qualificação dos titulares da empresa. Tal disposição deixa evidente a possibilidade de falência para quem não tem registro, e não somente na hipótese de autofalência, mas sim em qualquer hipótese de falência. Conclui-se, assim, que, para o requerimento e decretação da falência, basta o exercício da atividade empresarial, com ou sem registro. Isso corrobora a natureza declaratória do registro empresarial. No dia 12 de julho de 2011, foi publicada a Lei n. 12.441, criando a empresa individual de responsabilidade limitada. Nela, a empresa será titularizada por apenas uma pessoa, a qual terá responsabilidade limitada ao capital social estabelecido, capital este igual ou superior a cem salários mínimos, totalmente integralizados, no momento da sua criação. Tal empresa, também, submeter-se-á à Lei n. 11.101/2005. Devemos destacar, também, nos termos da atual legislação falimentar combinada com o CC, que a pessoa menor de 18 anos pode falir. O falido pode ser até um recém-nascido, caso ele tenha sucedido a empresa de seus pais ou do autor da herança, desde que esteja autorizado pelo juiz e auxiliado por seu representante legal, nos termos do art. 974, do CC, com a especial ressalva de que os bens que compunham seu patrimônio pessoal, por ocasião da abertura da herança, não serão alcançados pelo processo falimentar. Oportunoque demandarão dezoito atuações dele, as quais merecem ser elencadas para melhor visualização de tal participação. Confira-se: ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO CONTEXTO DA LEI N. 11.101/2005 Art. 8º Legitimidade Art. 8º No prazo de 10 (dez) dias, contado da publicação da relação referida no art. para 7º, 8 2º, desta Lei, o Comitê, qualquer credor, o devedor ou seus sócios ou o impugnação Ministério Público podem apresentar ao juiz impugnação contra a relação de de crédito credores, apontando a ausência de qualquer crédito ou manifestando-se contra a legitimidade, importância ou classificação de crédito relacionado. Art. 19 Legitimidade Art. 19. O administrador judicial, o Comitê, qualquer credor ou o representante do para ação de | Ministério Público poderá, até o encerramento da recuperação judicial ou da falência, retificação de | observado, no que couber, o procedimento ordinário previsto no Código de Processo QGC Civil, pedir a exclusão, outra classificação ou a retificação Art. 19 Legitimidade de qualquer crédito, nos casos de descoberta de falsidade, dolo, simulação, fraude, para ação de | erro essencial ou, ainda, documentos ignorados na época do julgamento do crédito retificação de | ou da inclusão no quadro geral de credores. QGC Art. 22,8 | - Ciência do Art. 22, 8 4º Se o relatório de que trata a alínea “e” do inciso III do caput deste artigo 4º relatório apontar responsabilidade penal de qualquer dos envolvidos, o Ministério Público será preliminar do | intimado para tomar conhecimento de seu teor. administrador judicial (denunciar crime) Legitimidade para Art. 30, 8 2º O devedor, qualquer credor ou o Ministério Público poderá requerer Art. | requerer a substituição ao juiz a substituição do administrador judicial ou dos membros do Comitê de administrador judicial | nomeados em desobediência aos preceitos desta Lei. 8 | oude membros do 2º | comitê de credores Ciência do deferimento |- Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o juiz Art. | da recuperação judicial deferirá o processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato: (...) V— 52, ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação por carta às Fazendas inc. Públicas Federal e de todos os Estados e Municípios em que o devedor tiver V estabelecimento. Legitimidade para Art. 59, 8 2º Contra a decisão que conceder a recuperação judicial caberá agravo, Art. | agravar a decisão que que poderá ser interposto por qualquer credor e pelo Ministério Público. 59, | conceder a recuperação 8 | judicial 2º Ciência da sentença Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras Art. | que decretar a falência determinações: (...) XIII — ordenará a intimação do Ministério Público e a 99, | (poderá agravar) comunicação por carta às Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados e inc. Municípios em que o devedor tiver estabelecimento, para que tomem XII conhecimento da falência. Art. 104. A decretação da falência impõe ao falido os seguintes deveres: (...) VI — prestar as Art. | Legitimidade | informações reclamadas pelo juiz, administrador judicial, credor ou Ministério Público sobre 104, | para requerer | circunstâncias e fatos que interessem à falência. inc. | informações VI | | do falido Art. 132. A ação revocatória, de que trata o art. 130 desta Lei, deverá ser proposta pelo Art. | Legitimidade | administrador judicial, por qualquer credor ou pelo Ministério Público no prazo de 3 (três) anos 132 | para propor | contado da decretação da falência. ação revocatória Ciência de Art. 142, 8 7º Em qualquer modalidade de alienação, o Ministério Público será intimado Art. | todas as pessoalmente, sob pena de nulidade. 142, | alienações 87º | de bens da massa falida Art. 143. Em qualquer das modalidades de alienação referidas no art. 142 desta Lei, poderão Art. | Legitimidade | ser apresentadas impugnações por quaisquer credores, pelo devedor ou pelo Ministério 143 | para Público, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas da arrematação, hipótese em que os autos apresentação | serão conclusos ao juiz, que, no prazo de 5 (cinco) dias, decidirá sobre as impugnações e, de julgando-as improcedentes, ordenará a entrega dos bens ao arrematante, respeitadas as impugnações | condições estabelecidas no edital. às alienações Legitimidade para |- Art. 154. Concluída a realização de todo o ativo, e distribuído o produto entre os Art. | manifestar-se sobre | credores, o administrador judicial apresentará suas contas ao juiz no prazo de 30 154, | as contas (trinta) dias. (...) 8 3º Decorrido o prazo do aviso e realizadas as diligências necessárias 83º | apresentadas pelo | à apuração dos fatos, administrador judicial Legitimidade para o juiz intimará o Ministério Público para manifestar-se no prazo de 5 (cinco) dias, findo Art. | manifestar-se sobre | o qual o administrador judicial será ouvido se houver impugnação ou parecer contrário 154, | as contas do Ministério Público. 83º | apresentadas pelo administrador judicial Figura como Art. 171. Sonegar ou omitir informações ou prestar informações falsas no processo de Art. | vítima formal do falência, de recuperação judicial ou de recuperação extrajudicial, com o fim de induzir a 171 | crime de indução a | erro o juiz, o Ministério Público, os credores, a assembleia geral de credores, o Comitê erro ou o administrador judicial. Pode figurar como | - Art. 177. Adquirir o juiz, o representante do Ministério Público, o administrador judicial, Art. | sujeito ativo do o gestor judicial, o perito, o avaliador, o escrivão, o oficial de justiça ou o leiloeiro, por si 177 | crime de Violação | ou por interposta pessoa, bens de massa falida ou de devedor em recuperação judicial, de Impedimento ou, em relação a estes, entrar em alguma especulação de lucro, quando tenham atuado nos respectivos processos. Legitimidade ativa Art. 184, Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada. Art. | para denunciar os Parágrafo único. Decorrido o prazo a que se refere o art. 187, 8 1º, sem que o 184 | crimes falimentares representante do Ministério Público ofereça denúncia, qualquer credor habilitado ou que são todos de ação | o administrador judicial poderá oferecer ação penal privada subsidiária da pública, penal pública observado o prazo decadencial de 6 (seis) meses. incondicionada Promover a ação Art. 187. Intimado da sentença que decreta a falência ou concede a recuperação Art. | penal ou requisitar a judicial, o Ministério Público, verificando a ocorrência de qualquer crime previsto 187 | abertura de inquérito nesta Lei, promoverá imediatamente a competente ação penal ou, se entender policial necessário, requisitará a abertura de inquérito policial. Prazo para Art. 187, 8 1º O prazo para oferecimento da denúncia regula-se pelo art. 46 do Art. | propositura da Ação Decreto-lei n. 3.689, de 3 de outubro de 1941 — Código de Processo Penal, salvo 187, | Penal, podendo decidir | se o Ministério Público, estando o réu solto ou afiançado, decidir aguardar a 8 1º | pela Denúncia em apresentação da exposição circunstanciada de que trata o art. 186 desta Lei, outro momento devendo, em seguida, oferecer a denúncia em 15 (quinze) dias. Ciência de qualquer Art. 187, 8 2º Em qualquer fase processual, surgindo indícios da prática dos crimes Art. | indício da prática de previstos nesta Lei, o juiz da falência ou da recuperação judicial ou da recuperação 187, | crimes extrajudicial cientificará o Ministério Público. 82º 22.5.3. A participação do Ministério Público é obrigatória em todos os processos de recuperação judicial e de falência? Não haveria obrigatoriedade, então, de participação do Ministério Público em todos os processos de recuperação judicial e de falência, ante o veto do art. 4º. Se há participações específicas, não é necessária a participaçãodo Ministério Público em todo o processo, mas apenas naqueles atos definidos na Lei n. 11.101/2005. A rigor, somente quando houvesse indício de crime é que o Ministério Público deveria ser intimado em qualquer fase dos processos de falência e de recuperação judicial. Todavia, a disposição do art. 187, 8 2º, da Lei n. 11.101/2005, aponta para a possibilidade, e até necessidade, de ser conferida vista de todos os processos de recuperação judicial e de falência ao Ministério Público, desde o início, isso porque compete a ele verificar se existe ou não tal indício de crime. O assunto é polêmico, pois há entendimento, com base no veto presidencial, de que o Ministério Público somente seria chamado aos feitos de recuperação judicial e de falência nos casos expressos em lei, as hipóteses dos dezoito artigos mencionados na tabela anterior. Tomando por base esse entendimento, é preciso anotar que, na falência, o Ministério Público somente toma ciência do referido processo por ocasião da sentença que a decreta, nos termos do art. 99, inc. XIII, da Lei n. 11.101/2005. Não há qualquer disposição específica determinando a atuação do Ministério Público desde o momento do pedido até a referida decretação da falência. Porém, a Lei n. 11.101/2005 prevê hipóteses de crimes pré-falimentares (anteriores à sentença que decreta a falência), o que recomenda que o órgão do Ministério Público tome ciência do processo falimentar em etapa anterior à sentença que decreta a falência, para que adote as providências pertinentes quanto aos crimes pré-falimentares. A mesma recomendação de vista ao Ministério Público, anterior ao decreto de falência, torna-se um imperativo, quando, na mesma sentença que decreta a falência, o juiz tiver que decretar a prisão preventiva do falido, a pedido do Ministério Público, conforme preceitua o art. 99, inc. VII, da Lei n. 11.101/2005. Relembremos o que diz referido artigo: “Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras determinações: (...) VII — determinará as diligências necessárias para salvaguardar os interesses das partes envolvidas, podendo ordenar a prisão preventiva do falido ou de seus administradores quando requerida com fundamento em provas da prática de crime definido nesta Lei”. Cabe perguntar: a requerimento de quem será decretada a segregação cautelar, se o Ministério Público somente seria intimado da falência após a sentença que, em tese, estaria, também, decretando tal prisão? A única resposta aponta para a vista ao Ministério Público anterior à sentença que decreta a falência, ocasião em que lhe será possibilitado requerer a prisão preventiva. Na Jurisprudência, as primeiras decisões dos Tribunais de segunda instância firmaram o entendimento de que seria obrigatória a participação do Ministério Público, em face do interesse público envolto nas matérias falimentares e de recuperação judicial, desde o início do processo. Tal entendimento baseou-se no que dispõe o art. 178, inc. I, do CPC, impositivo legal da atuação do Ministério Público nos processos em que se revolva matéria que interesse à coletividade, além dos interesses particulares envolvidos. Ocorre que o referido entendimento cedeu lugar à interpretação de que o interesse público na falência surge apenas no momento em que ela é decretada. Desse modo, na fase de instrução do feito, fase pré-falimentar, investigativa ou preliminar da falência, o que existe é mera especulação quanto ao estado de crise econômico-financeira do devedor, não havendo interesse da coletividade em descortinar ou não dito estado de crise, o qual seria ônus do credor que o alega. Agora, uma vez decretada a falência, o interesse público torna-se patente. Assim, a atuação do Ministério Público estaria baseada no interesse público do momento em que é proferida a sentença que decreta a falência em diante. Nesse caso, para a atuação posterior, a decretação da falência, considerando que o art. 99, inc. XIII, da Lei n. 11.101/2005, determina a intimação do Ministério Público quanto à sentença que decreta a falência, dispensável seria a aplicação do art. 178, inc. I, do CPC. O veto presidencial aleijou a participação do Ministério Público nos processos previstos na Lei n. 11.101/2005. Todavia, é recomendável que ele tenha participação desde o início do processo de falência, especialmente se o fundamento dela situar-se no art. 94, inc. III, da referida lei, ou seja, se tiver por fundamento um ato de falência, terreno fértil à prática concomitante de crimes falimentares. Lembre-se, ainda, de que, sem a participação do Ministério Público, nenhum agente do Estado ou da Coletividade acompanhará o processo, sendo oportuno lembrar, também, que há interesse público no tratamento dispensado à empresa em crise econômico-financeira, seja pelo vil metal, pois os tributos devidos interessam a toda a coletividade, seja pelo interesse social, estampado na preservação de postos de trabalho, de unidades produtivas e de circulação de riqueza, prestigiando-se a livre-concorrência. Parece precipitado dizer que fiscalizar os processos de falência e de recuperação judicial desprestigiaria a instituição Ministério Público. Assim, a atuação do Ministério Público nos processos de falência e de recuperação judicial mostra-se condizente com o interesse público e com a estrutura da Lei n. 11.101/2005, além de refletir a vontade do legislador, apesar do veto ao seu art. 4º. Para tal conclusão, não se faz necessária a aplicação do que dispõe o art. 178, inc. I, do CPC. Basta constatar que: O art. 187, 8 2º, da Lei n. 11.101/2005, aponta para a possibilidade, e até mesmo necessidade, de ser conferida vista de todos os processos de recuperação judicial e de falência ao Ministério Público, desde o início, isso porque compete a ele verificar se existe ou não indício de crime falimentar. Os incs. VII e o XIII, do art. 99, da Lei n. 11.101/2005, recomendam que se dê vista dos autos ao Ministério Público, desde o início do processo falimentar, porque a prisão preventiva poderá ser decretada pelo juiz quando da decretação da falência, a requerimento do Ministério Público, o que somente é possível se houver vista anterior dos autos. Apesar de o interesse público na falência tornar-se efetivo somente após a decretação dela, e na recuperação judicial, somente após o seu deferimento, a ausência de participação do Ministério Público implicaria a total ausência de qualquer membro do Estado na fiscalização dos referidos processos, especialmente ante a inafastável possibilidade de uso fraudulento das disposições protecionistas da legislação recuperacional. Tanto a redação da Câmara dos Deputados quanto a do Senado Federal optaram pela participação do Ministério Público nos processos de falência e de recuperação judicial. A divergência das duas casas legislativas situou-se apenas nas demais ações decorrentes daquelas. Por fim, quanto às demais ações que corram contra o falido ou a favor dele, não há que se falar em participação do Ministério Público. Nelas, interesses particulares estarão em disputa entre a massa falida ou o devedor empresário e seus credores e devedores, respeitada, então, a paridade de armas. Nada obsta ao Ministério Público questionar eventual crédito obtido nessas ações, por ocasião da habilitação delas no juízo falimentar. Esquematizando:lembrar que o sócio de responsabilidade ilimitada também tem sua falência decretada com a sociedade empresária da qual faz parte. São sócios de responsabilidade ilimitada no nosso ordenamento jurídico: a) o sócio em nome coletivo; b) o sócio comanditado; e c) o sócio da sociedade em comum (sociedade irregular e sociedade de fato). No caso, os sócios de responsabilidade ilimitada terão que ser citados para o processo falimentar, como se fossem a própria sociedade falida, o que lhes dará a oportunidade de promover sua defesa. Também podem ter a falência requerida e decretada o empresário e a sociedade empresária que baixaram seu registro empresarial até dois anos antes do pedido de falência. O empresário individual e o sócio de responsabilidade ilimitada, mesmo falecidos, poderão ter sua falência requerida até um ano após o Óbito e, nesse caso, figurará no polo passivo da falência o espólio do devedor falecido. Contudo, a sociedade anônima que tiver liquidado seu patrimônio não poderá mais falir, depois de distribuído o saldo da referida operação. A Lei n. 11.101/2005 regula a matéria nos seguintes dispositivos: Art. 81. A decisão que decreta a falência da sociedade com sócios ilimitadamente responsáveis também acarreta a falência destes, que ficam sujeitos aos mesmos efeitos jurídicos produzidos em relação à sociedade falida e, por isso, deverão ser citados para apresentar contestação, se assim o desejarem. 8 1º O disposto no caput deste artigo aplica-se ao sócio que tenha se retirado voluntariamente ou que tenha sido excluído da sociedade, há menos de 2 (dois) anos, quanto às dívidas existentes na data do arquivamento da alteração do contrato, no caso de não terem sido solvidas até a data da decretação da falência. 8 2º As sociedades falidas serão representadas na falência por seus administradores ou liquidantes, os quais terão os mesmos direitos e, sob as mesmas penas, ficarão sujeitos às obrigações que cabem ao falido. Art. 96. A falência requerida com base no art. 94, inc. I do caput, desta Lei, não será decretada se o requerido provar: (...) VII — cessação das atividades empresariais mais de 2 (dois) anos antes do pedido de falência, comprovada por documento hábil do Registro Público de Empresas, o qual não prevalecerá contra prova de exercício posterior ao ato registrado. 8 1º Não será decretada a falência de sociedade anônima após liquidado e partilhado seu ativo nem do espólio após 1 (um) ano da morte do devedor. Destarte, podemos esquematizar o polo passivo da falência assim: JP Ro E = | Empresário E a a indvidual com 4 Sadiade =, Tá Empresa | Du sem registro “responsabilidade” | individual de [ Himitada, inclusive | responsabilidade o que deixou a | sociedade até “dois anos antes 4 limitada PODEM SER e SUJEITOS A dá PASSIVOS DA Pd Sociedades” f FALÉNCIA ie E ou empresário ári baixados na Junta | empresária com | 15.1 ' Comercial até | stro | id | dois anos antes x ad pe do pedido da Espóliodo + f Sociedade | devedor Anônima, | empresário, | enquanto | até um anó | não liquidado * apósamorte aativo a Para concluir este item, é preciso analisar o que ocorre aos sócios de responsabilidade limitada e aos administradores e controladores da sociedade falida. Eles não falirão com a sociedade, contudo poderão responder em processo que vise apurar sua responsabilidade pessoal na falência. A Lei n. 11.101/2005 estabeleceu a ação de responsabilização como meio para apurar se a conduta dos sócios de responsabilidade limitada, dos administradores e dos controladores contribuiu para o estado falimentar. Não existe uma previsão legal dos motivos que poderiam ser aventados para responsabilizar tais pessoas, no contexto falimentar. Porém, os motivos que levariam à desconsideração da personalidade jurídica ou, ainda, à responsabilização dos sócios que excederam o mandato, praticando atos contrários ao contrato social ou à lei, não seriam os fundamentos para a ação de responsabilização. Isso porque, havendo motivos para a desconsideração ou para o reconhecimento do excesso de mandato, não seria necessária a propositura da referida ação de responsabilização, uma vez que incidentalmente seria possível alcançar o patrimônio pessoal dos sócios por aqueles motivos ou fundamentos. A ação de responsabilização terá, então, por motivação, fato ou ato que não caracterize as hipóteses de desconsideração da personalidade jurídica da sociedade, nem que justifiquem o reconhecimento do excesso de mandato. A Lei n. 11.101/2005 impõe, assim, a possibilidade de um leque ilimitado de fundamentos para a mencionada ação, estabelecendo o procedimento ordinário e o prazo de dois anos para a prescrição dela, prazo que contará do trânsito em julgado da sentença que encerrar a falência. Destaque-se que, para a propositura da ação de responsabilização, não será necessário comprovar que a sociedade não possui patrimônio suficiente para pagamento dos credores e, ainda assim, que o juiz poderá ordenar a indisponibilidade dos bens particulares dos sócios, administradores ou controladores que figurarem no polo passivo. Confira-se o que dispõe a Lei n. 11.101/2005: Art. 82. A responsabilidade pessoal dos sócios de responsabilidade limitada, dos controladores e dos administradores da sociedade falida, estabelecida nas respectivas leis, será apurada no próprio juízo da falência, independentemente da realização do ativo e da prova da sua insuficiência para cobrir o passivo, observado o procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil. 8 1º Prescreverá em 2 (dois) anos, contados do trânsito em julgado da sentença de encerramento da falência, a ação de responsabilização prevista no caput deste artigo. 8 2º O juiz poderá, de ofício ou mediante requerimento das partes interessadas, ordenar a indisponibilidade de bens particulares dos réus, em quantidade compatível com o dano provocado, até o julgamento da ação de responsabilização. Julgada procedente a ação de responsabilização, que tramita no juízo falimentar, o dispositivo da sentença declarará a responsabilidade solidária dos requeridos (sócios de responsabilidade limitada) pelas dívidas da sociedade falida. Mas os sujeitos declarados responsáveis solidários não terão sua falência decretada, apesar da responsabilização pessoal. Em razão da sentença, os bens particulares dos sócios de responsabilidade limitada serão arrecadados para pagamento das dívidas da sociedade falida. Esquematizando a ação de responsabilização: A E É Atinge os — sócios de Foi [rd a limitada | Atinge, ainda, os ii controladores e 05 | administradores N | da sociedade Ed Ed ! Prescreve dois I anos após a sentença de encerramento É RESPONSABILIZAÇÃO SR ART. E2 DA-LRE q [ ee dn | prova de ae | | nda ) 0 | iróufdni mi Pode impor a Patrimonial a | indisponibilidade A | dos bers + dossócios 22.2.1.2. Na recuperação judicial A recuperação judicial e a extrajudicial não têm polo passivo. Na recuperação judicial, os credores atingidos funcionam como julgadores, pois a concessão dela e a homologação do plano de recuperação judicial estarão condicionadas à aprovação dos credores atingidos, tanto pelo silêncio no prazo para objeção ao plano quanto pela deliberação na assembleia geral de credores. Cumpre destacar que, segundo o art. 49, da Lei n. 11.101/2005, todos os credores do empresário devedor existentes ao tempo do pedido serão atingidos pela recuperação judicial, mesmo aqueles cujo crédito não esteja vencido. Ocorre que os arts. 57 e 68, da Lei n. 11.101/2005, exigem, antes da homologação do plano de recuperação judicial, a apresentação de certidões negativas de débitos tributários ou o parcelamento de tal débito, junto às Fazendas Públicas. Assim, podemos concluir que os credores tributários (União, Estados ou Municípios) não serãoatingidos pela Recuperação Judicial. Os credores são tratados como contratantes, na recuperação extrajudicial, e não podem ser credores trabalhistas, de acidente do trabalho nem tributários. O plano de recuperação é definido e aprovado extrajudicialmente e, em seguida, apresentado ao juiz para homologação. Como existe a hipótese de essa modalidade de recuperação ser obtida perante a maioria dos credores, será possível também a instauração de um procedimento judicial para que se possa colher a manifestação da minoria que não o aprovou, sendo permitida a impugnação ao plano e até o seu indeferimento, como veremos em capítulo próprio. Na recuperação judicial especial para microempresas e empresas de pequeno porte, a partir da vigência da Lei Complementar n. 147/2014, todos os credores não serão consultados, apenas se submeterão ao plano de recuperação judicial previsto na Lei n. 11.101/2005, todavia podem se reunir e deliberar pela rejeição ao plano de recuperação, o que levaria à decretação da falência. Fixando parâmetro para todos os tipos de recuperação, o art. 48, da Lei n. 11.101/2005, exige o exercício regular da atividade empresarial há mais de dois anos, pelo devedor empresário requerente, para que se permita seu deferimento. Assim, será necessário o registro prévio do empresário e da sociedade empresária, há mais de dois anos, para que se conceda a recuperação pleiteada e, somente aí, serão alcançados os credores. Conclui-se, assim, que, para a recuperação, além do exercício da atividade empresarial, exige-se que estejam o empresário ou a sociedade empresária registrados há mais de dois anos. Confira o esquema: TIPOS DE RECUPERAÇÃO DA LRE pato x Função dos Credores Credores Atingidos Recuperação Judicial Julgadores: decisão pelo voto na assembleia geral |- Todos. Excepcionados os tributários e os dos de credores ou pelo silêncio na fase de objeções parágrafos do art. 49 da Lei n. 11.101/2005 Extrajudicial | - Contratantes Todos, salvo os trabalhistas, os de acidente do trabalho e os tributários Especial Participantes Todos, exceto repasse de recursos oficiais, os para ME e fiscais e os previstos nos 88 3º e 4º do art. 49 EPP 22.2.2. Legitimidade ativa A Lei n. 11.101/2005 disciplina o sujeito ativo da recuperação e da falência nos arts. 1º; 22, W, “b”; 48; 70; 97; e 161. Nas referidas disposições, o legislador enumera as pessoas naturais e jurídicas que podem figurar no polo ativo da falência e da Recuperação Judicial. Nos tópicos seguintes, examinaremos a situação de cada processo regido pela lei suprarreferida, especialmente no que se refere aos titulares das ações. Nesta introdução, contudo, devemos atentar para as seguintes regras gerais: o devedor empresário sempre poderá ser o sujeito ativo de todos os processos previstos na Lei n. 11.101/2005; a condição de empresário ou sociedade empresária deverá ser verificada no caso concreto, independentemente de eventual registro; neste particular, para os casos de recuperação judicial, os enunciados 96 e 97 da III Jornada de Direito Empresarial cuidaram de flexibilizar o tempo mínimo de registro, para que o devedor do agronegócio proponha eventual plano de salvamento: — Enunciado 96: “A recuperação judicial do empresário rural, pessoa natural ou jurídica, sujeita todos os créditos existentes na data do pedido, inclusive os anteriores à data da inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis”. — Enunciado 97: “O produtor rural, pessoa natural ou jurídica, na ocasião do pedido de recuperação judicial, não precisa estar inscrito há mais de dois anos no Registro Público de Empresas Mercantis, bastando a demonstração de exercício de atividade rural por esse período e a comprovação da inscrição anterior ao pedido”. as recuperações extrajudiciais não têm polo ativo, nem passivo, pois já são apresentadas em Juízo na forma de acordo extrajudicial. Todavia, a recuperação extrajudicial majoritária terá um procedimento no qual os credores dissidentes serão tratados como requeridos e poderão impugná- la; o empresário que requerer falência, com base em título decorrente de negócio empresarial, terá que demonstrar sua condição de empresário (registro regular); o administrador judicial pode ser sujeito ativo da falência, incidentalmente, em processo de recuperação judicial no qual esteja atuando (art. 22, II, “b”, da Lei n. 11.101/2005). Esquematizando: ps E, a * Devedor | empresário é | parte legítima | am todos N Os processos Pi A Bi! a | Recuperações Audministrador | Extrajudiciais. Erg blçm | judicial pode | não têm polo DISROSI DES requerer falência (ativo nem pasepáio + durante a No passivo » recuperação j me polo ativo | da falência! " Tecuperação |judicial, em regra, o empresário registrado hm J 22.2.2.1. Na falência Podem requerer a falência do devedor empresário, nos termos dos arts. 22, II, “b”, 97 e 105, da Lei n. 11.101/2005: o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107, da Lei n. 11.101/2005; o quotista do devedor, na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade; o acionista do devedor, na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade; o inventariante; o cônjuge sobrevivente; qualquer herdeiro do devedor; qualquer credor; e o administrador judicial (na forma do art. 22, II, “b”, da Lei n. 11.101/2005). Dos dispositivos mencionados e sujeitos ativos legitimados, uma primeira conclusão deve ser destacada: o juiz não decreta a falência de ofício. Será necessário o ajuizamento do regular pedido de falência autônomo ou incidental. Ocorre, contudo, que o deferimento do processamento de uma Recuperação Judicial pode levar à convolação dela em falência. Assim, a falência sempre terá origem em um pedido do próprio devedor, de seus sócios, ou de algum credor ou sucessor do devedor. No caso do credor empresário, deverá ele apresentar certidão do Registro Público de Empresas que comprove a regularidade de suas atividades empresariais, caso queira requerer a falência de outro empresário. O credor que não tiver domicílio no Brasil deverá prestar caução relativa às custas processuais e ao pagamento da indenização de que trata o art. 101, da Lei n. 11.101/2005, caso seja julgado improcedente o pedido e denegada a falência, uma vez que, nessa hipótese, a lei determina ao juiz falimentar que condene o autor do pedido de falência ao pagamento de perdas e danos ao réu, caso constate dolo do autor do pedido de falência ao imputar ao devedor empresário a condição de falido. A caução servirá a garantir o pagamento do valor que vier a ser fixado em liquidação de sentença contra o autor do pedido de falência domiciliado no exterior. Existem importantes detalhes quanto aos sujeitos ativos da falência, o que passamos a descrever: 1) Autofalência — nos termos do art. 105, da Lei n. 11.101/2005, pode o devedor empresário, seja ele pessoa natural, seja sociedade empresária, requerer sua própria falência. Considerando a previsão do inc. IV, do mesmo artigo, não é necessário que o devedor empresário tenha registro no Registro Público de Empresas Mercantis, mantido e operado pelas Juntas Comerciais, para que requeira sua falência. É com base nessa possibilidade de autofalência para quem não tem registro que chegamos à conclusão de que, no Brasil, a condição de empresário dispensa o registro prévio e, por isso, teríamos um sistema objetivo de qualificação do empresário. Em outras palavras, a condição de empresário é atribuída ao titular de uma empresa (atividade econômica organizada para produzir ou fazer circular bens e serviços), condição definida pelo exercício da atividade, e não pela constituição formal dela pelo registro. Agora, é basilar destacar que a ausência de registro permitirá a autofalência e a falência requeridas por terceiros, todavia não viabiliza a recuperaçãoem qualquer de suas formas, pois o benefício legal de composição com os credores para permitir a preservação da empresa somente pode ser deferido ao empresário regular, nos exatos termos dos arts. 48 e 161, da Lei n. 11.101/2005, ou seja, deverá o devedor-empresário comprovar o exercício regular da atividade empresarial há mais de dois anos. O sócio de responsabilidade ilimitada, também, poderá requerer a autofalência da sociedade de que participe. Isso decorre da regra do art. 81, da Lei n. 11.101/2005, uma vez que, em caso de falência da sociedade, os sócios de responsabilidade ilimitada terão sua falência determinada na sentença, devendo ser citados para que se defendam. A autofalência visa impedir um aumento desmesurado do passivo do devedor empresário. Desse modo, para inibir esse aumento desmesurado do passivo da sociedade, o qual poderá lhe ser imputado, o sócio de responsabilidade ilimitada pode pedir autofalência da sociedade, colocando um freio no referido aumento. 2) O quotista ou acionista do devedor, bem como o liquidante, na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade — possibilidade bastante remota, uma vez que o sócio que entenda não ter a sociedade condições de manter-se no mercado, pode retirar-se dela, promovendo uma dissolução parcial, caso seja quotista, ou vender suas ações, caso seja acionista. Mostra-se, também, remota a hipótese porque, estando a sociedade em crise econômico-financeira, pode o administrador requerer a autofalência dela, de acordo com os arts. 1.011 e 1.015, do CC, na forma do item anterior; ou podem os sócios decidir pelo requerimento de falência, na forma do art. 1.071, do CC. Deve-se destacar, ainda, a legitimidade do liquidante da sociedade, aquele que é nomeado para promover a parte executiva da dissolução dela, pois, apesar de não ter sido indicado como um dos legitimados ativos no art. 97, da Lei n. 11.101/2005, consta como titular (e obrigado) dessa legitimidade, nos termos do art. 1.103, inc. VII, do CC, e do art. 210, inc. VII, da Lei n. 6.404/76 — LSA. É que, no momento da liquidação da sociedade dissolvida, pode o liquidante constatar crise econômico- financeira insuperável, o que o impedirá de alcançar saldo positivo líquido, após a venda do ativo e pagamento do passivo. Diante dessa hipótese, restará o requerimento de falência, com a consequente liquidação judicial do patrimônio, em lugar da liquidação promovida pelo liquidante. Como sócios legitimados na forma da lei, podemos destacar: a) o sócio majoritário; b) o sócio controlador; c) o sócio-administrador; d) o membro do conselho de administração; e) o sócio membro do conselho fiscal; e f) a assembleia geral da sociedade anônima. A legitimidade dos demais sócios dependeria da concordância de outros, que, somados, representassem mais da metade do capital social. 3) O inventariante, o cônjuge sobrevivente ou qualquer herdeiro do devedor — a legitimidade conferida ao inventariante, na condição de representante do espólio, é tanto para requerer autofalência quanto para requerer a falência de empresário devedor do falecido. Isso decorre da legitimidade extraordinária conferida ao inventariante para defender os interesses da universalidade patrimonial deixada pelo falecido, bem como para solver suas dívidas. O mesmo inciso confere legitimidade para autofalência ao cônjuge sobrevivente e aos herdeiros, pois afirma que o cônjuge sobrevivente e qualquer herdeiro do devedor terão legitimidade para requerer falência do devedor. A melhor interpretação que se pode dar ao dispositivo legal, contudo, é no sentido de que eles terão, também, legitimidade ativa para requerer a falência de empresário devedor do falecido, assim como se conferem tais legitimidades ao inventariante. Não há razão jurídica plausível para excluir a dupla legitimidade para os três sujeitos previstos no mesmo inciso do art. 97. É preciso lembrar que a falência do espólio somente poderá ser requerida até um ano após o falecimento do devedor empresário. 4) Qualquer credor — a legitimidade dos credores para requerer falência é a que mais se coaduna com o processo falimentar regular, ordinário. São eles os titulares dos créditos não pagos pelo devedor empresário, o que ocasiona real interesse econômico na execução coletiva que decorre da decretação da falência. Aos credores do devedor empresário é dado o direito de cobrança ordinária de seus créditos — extrajudicialmente (com o protesto, por exemplo) e judicialmente (por via da cobrança, ação monitória e execução) — ou ao pedido de falência, instrumento de potente eficácia para se alcançar o adimplemento da obrigação, como afirma Waldo Fazzio Júnior. Caso o credor do devedor empresário seja também empresário, terá que comprovar tal condição por certidão emitida pela Junta Comercial, confirmando seu registro regular naquele órgão. A exigência baseia-se na necessidade de registro do empresário que queira exercer algum benefício decorrente da legislação empresarial, além de incentivar a regularização do exercício da atividade empresarial, como intencionavam os arts. 967 e 985, do CC. Importante destacar que o credor domiciliado no exterior terá que prestar caução no juízo falimentar, visando garantir o pagamento das custas do processo e de eventual indenização ao devedor empresário, caso seja denegada a falência e reconhecido o dolo do autor. Parece-nos, ainda, ser a caução também exigível para garantir o pagamento dos honorários advocatícios suportados pelo empresário que foi vítima da má-fé do credor estrangeiro. A referida caução não será exigida de credores domiciliados na Argentina, no Paraguai e no Uruguai, em face do art. 4º, do Protocolo de Cooperação e Assistência Jurisdicional firmado pelo Brasil e ratificado pelo Decreto n. 2.057/96. O Decreto-lei n. 7.661/45 exigia que o credor com garantia real renunciasse a ela para requerer a falência do devedor empresário, podendo, ainda, demonstrar que a sua garantia não era suficiente, o que dispensaria a renúncia. Contudo, a Lei n. 11.101/2005 não estabeleceu a mesma exigência, de modo que o credor com garantia real não precisa mais renunciar a ela, nem precisa demonstrar sua insuficiência, caso queira requerer a falência do seu devedor. Essa é uma alteração substancial da nova Lei Recuperacional em relação à antiga Lei de Falências. A expressão “qualquer credor” deixa de lado algumas polêmicas travadas pelos doutrinadores antes mesmo da Lei n. 11.101/2005, que diziam respeito ao credor único (já que a falência é um processo de execução coletiva), ao credor fiscal e ao credor de crédito não vencido. Não há qualquer óbice legal ou econômico à falência de empresário que tenha credor único. A fase preliminar da falência investiga o estado jurídico do devedor empresário, ou seja, intenta verificar se o empresário enquadra-se em alguma das nove hipóteses previstas no art. 94, da Lei n. 11.101/2005, o que será estudado mais adiante. Desse modo, não importa se o devedor tem apenas um credor. Demonstrado pelo solitário credor que o devedor empresário está inserido em alguma das hipóteses referidas, a falência será decretada. Somente na fase executória é que se verificará a existência de mais credores. Caso haja apenas um, ainda assim será realizado o ativo para pagamento do passivo único. Seguindo a mesma orientação, poderá o credor de crédito vincendo requerer a falência do devedor empresário. As hipóteses falimentares do inc. II, do art. 94, da Lei n. 11.101/2005, reclamam atitudes urgentes de “qualquer credor”. Até daquele cujo crédito não esteja vencido, pois, se o empresário está liquidando precipitadamente seu patrimônio, usando meios ruinosos para efetuar pagamentos, ou vendendo seu estabelecimento sem comunicação aos seus credores, entre outras condutas, não se pode exigir que os titulares de créditosnão vencidos assistam passivamente à evaporação de suas chances creditícias. Como afirmaremos diversas vezes nesta obra, a falência não é um estado meramente de fato, econômico ou patrimonial, mas, antes, de direito, jurídico e legal. Até porque, como afirma o art. 75, da Lei n. 11.101/2005: “a falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa”. Tal objetivo não pode ser limitado às situações de inadimplência do devedor, nem desautorizado pela ausência de dívida vencida. Outra situação de credor que gera polêmica é a do Estado-credor, em razão do crédito fiscal. Deixando à parte uma minoria que reconhece o credor fiscal incluído na expressão “qualquer credor”, mostra-se mais adequada ao novo regime falimentar a corrente que entende que o credor fiscal não teria interesse de agir para o processo falimentar. Como primeiro argumento, invoca-se a continuidade do processo de execução fiscal, durante o processo falimentar, bem como a não atração dele para o juízo falimentar como razões suficientes para se constatar a inutilidade de um pedido de falência a partir do Estado. De fato, o art. 6º, da Lei n. 11.101/2005, determina a suspensão da prescrição, das ações e das execuções contra o devedor, todavia aquelas demandas em que o Estado figura como parte não se suspendem, a teor do que preceitua o 8 7º daquele artigo, a saber: “as execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento da recuperação judicial, ressalvada a concessão de parcelamento nos termos do Código Tributário Nacional e da legislação ordinária específica”. Essa continuidade da execução fiscal também será observada na falência, em que a penhora do crédito fiscal é realizada no rosto dos autos, sem a necessidade de habilitação da Fazenda Pública na Vara Falimentar. Além disso, eventual decretação da falência não atrairá para o juízo falimentar as demandas que busquem o crédito fiscal, pois, a teor do art. 76, da Lei n. 11.101/2005, “O juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo”. Como segundo argumento, o art. 187, do CTN, estabelece que o crédito fiscal não se submete ao concurso de credores, o que afastaria mais uma vez o interesse de agir do Estado para requerer a falência, o que se soma ao art. 38, da Lei n. 6.830/80, que determina que a discussão sobre a dívida ativa da Fazenda Pública deve ser realizada na execução fiscal, somente. Aparecendo como terceiro argumento, um último óbice seria verificado, ainda, no que se refere à eleição de quais seriam os empresários de quem o credor fiscal pediria falência. O princípio da impessoalidade que rege a atuação do Estado levaria a uma séria restrição e rebuscada fundamentação dos critérios de escolha de determinado devedor empresário de quem se pediria a falência, pois o fisco não poderia aleatoriamente determinar esse sujeito. A alternativa a isso seria requerer a falência de todos os devedores empresários inscritos em dívida ativa, o que se mostra um absurdo, já que atentaria contra o princípio da preservação da empresa, do qual o Estado deve ser o primeiro guardião. O entendimento adotado pela corrente dos que compreendem ser o credor fiscal ilegítimo para requerer falência coincide com a conclusão dos especialistas em Direito Comercial, participantes da I Jornada de Direito Comercial do Conselho de Justiça Federal. O Enunciado 56 das referidas jornadas pontuou o seguinte: “A Fazenda Pública não possui legitimidade ou interesse de agir para requerer a falência do devedor empresário”. Por ocasião da análise da caracterização da falência, especialmente aquela prevista no art. 94, inc. I, da Lei n. 11.101/2005, será verificada a configuração de um eventual litisconsórcio ativo necessário, para permitir que credores interessados na falência do devedor empresário possam atingir o valor que supere quarenta salários mínimos, como exige o referido dispositivo. 5) O administrador judicial (na forma do art. 22, II, “b”, da Lei n. 11.101/2005). A legitimidade do administrador judicial para requerer falência é extraordinária, pois ele não é credor do devedor empresário, nem tem funções administrativas na recuperação judicial, processo no qual tem a referida legitimidade. A função do administrador judicial na recuperação judicial é de fiscalização, sendo que ele atua no interesse dos credores, principalmente. Verificando o administrador judicial a ausência de cumprimento de alguma obrigação assumida no plano de recuperação, deverá ele próprio requerer a convolação da recuperação judicial em falência, com fundamento no art. 73, inc. IV, da Lei n. 11.101/2005, desde que a obrigação tenha sido descumprida dentro do prazo de dois anos de duração da recuperação judicial deferida. Tal encargo encontra-se no art. 22, da mesma lei. Confira-se: “Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do Comitê, além de outros deveres que esta Lei lhe impõe: (...) II — na recuperação judicial: (...) b) requerer a falência no caso de descumprimento de obrigação assumida no plano de recuperação”. Esquematizando a legitimidade ativa na falência: LEGITIMIDADE ATIVA NA FALÊNCIA O próprio devedor Não é necessário que seja registrado, basta o exercício da atividade empresarial. A empresa individual de responsabilidade limitada poderá requerer autofalência da mesma forma que o empresário individual. O sócio de responsabilidade ilimitada pode requerer a autofalência da sociedade de que participe. O sócio e o acionista | - Há a alternativa de o sócio deixar a sociedade, promovendo a dissolução parcial dela ou vendendo suas ações. O sócio-administrador pode requerer a falência da sociedade. Por decisão da maioria dos sócios, isso também pode ser feito. O liquidante da sociedade pode requerer a falência dela. Inventariante, A legitimidade é conferida a todos, tanto para requerer a falência da atividade empresarial herdeiro e cônjuge da qual fazia parte o falecido quanto para requerer a falência de devedor empresário dele. sobrevivente O pedido de falência contra o falecido deverá ser feito até um ano após a morte. Qualquer credor Credor empresário deverá comprovar seu registro regular. Credor domiciliado no exterior deverá prestar caução. Credor com garantia real não precisa mais renunciar a ela para requerer falência do devedor empresário. Mesmo sendo credor único, pode ser requerida e decretada a falência. O credor fiscal não tem interesse de agir para requerer falência. O titular de crédito não vencido pode requerer falência nas hipóteses do inc. III, do art. 94, da Lei n. 11.101/2005. Formação de litisconsórcio ativo para a caracterização da falência prevista no inc. |, do art. 94, da Lei n. 11.101/2005. Administrador Somente é cabível em caso de recuperação judicial deferida, em que o devedor deixou de judicial cumprir alguma obrigação prevista no plano de recuperação judicial, dentro do prazo de dois anos. 22.2.2.2. Na recuperação judicial O art. 48, da Lei n. 11.101/2005, estabelece os pressupostos para a concessão de recuperação judicial, os quais deverão ser observados, também, para a recuperação especial e para a recuperação extrajudicial. Desse tema, trataremos mais adiante. Agora, interessa-nos apenas tratar da única condição imposta por aquele dispositivo (já que as demais exigências são apenas impedimentos), qual seja: ser o requerente empresário que exerça regularmente sua atividade empresarial há mais de dois anos. O exercício regular da atividade empresarial envolve dois aspectos: o real — exercício, defato, de uma atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens e serviços; e o formal — arquivamento dos atos constitutivos do empresário ou da sociedade empresária no Registro Público de Empresas, a cargo das Juntas Comerciais estaduais?. O que se observa na referida condição é a repetição do reconhecimento dos benefícios da legislação empresarial apenas ao empresário registrado. Desde o revogado Código Comercial de 1850, a doutrina e a jurisprudência reconhecem a prescindibilidade do registro para a caracterização do comerciante/empresário, exigindo tal requisito formal apenas para o exercício dos benefícios da legislação empresarial. A Recuperação, em qualquer de suas formas, é benefício. Portanto, o registro prévio e o exercício da atividade empresarial terão que ser comprovados para a sua concessão. Diante da regra exposta, podem requerer recuperação judicial ou extrajudicial: a) Os empresários registrados, há mais de dois anos, no Registro Público de Empresas. b) As sociedades empresárias registradas, há mais de dois anos, no Registro Público de Empresas. c) O inventariante, o cônjuge sobrevivente ou qualquer herdeiro do devedor — considerando a legitimidade para requerer falência reconhecida aos sucessores do empresário falecido, nada mais proporcional que lhes conferir legitimidade ativa para a recuperação. É que o foco precípuo da Lei n. 11.101/2005 é a preservação da empresa e, se os sucessores têm legitimidade para extinguirem o titular da atividade empresarial pela falência, ainda mais interesse terão em preservá-lo por meio da recuperação. No caso, a recuperação judicial recairá sobre a empresa que pertencia ao empresário falecido ou à sociedade da qual participava o extinto. d) O sócio remanescente — tal expressão não restou definida na Lei n. 11.101/2005, em que o art. 48, parágrafo único, estabeleceu que: “A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente”. Podemos entender por sócio remanescente aquele que se enquadre em uma das três seguintes situações: 1º) aquele que restou na sociedade após a saída dos demais, inclusive no caso de a pessoa jurídica tornar-se unissocietária (art. 1.033, inc. IV, do CC, e art. 206, inc. 1, alínea “d”, da LSA); 2º) o sócio dissidente (o que deixou a sociedade por ter sido vencido em deliberação da maioria); 3º) o sócio que tiver que fazer o pedido em face de alguma impossibilidade ou impedimento dos demais. No caso, a recuperação judicial recairá sobre a empresa que pertence à sociedade da qual participa o remanescente. e) Empresários e sociedades empresárias que tiveram sua falência requerida, desde que o pedido de recuperação judicial seja feito até o fim do prazo para a Defesa (10 dias após a citação na falência) e apresentem os pressupostos do art. 48, da Lei n. 11.101/20052. Esquematizando: Requerida ordinariamente ou e pelo inventariante e sucessores ou pelo sócio remanescente Empresário registrado | e em atividade há mais LEGITIMA DOS À de dois anos RECUPERAÇÃO ; JUCHCIAL Sociedade Empresária registrada — e am atividade há mais de dois anos | Empresário ou Sociedade Empresária +» cuja falência foi requerida no prazo de Defesa do processo falimentar 22.3. EMPRESÁRIOS NÃO ALCANÇADOS A Lei n. 11.101/2005 inicia sua regulamentação indicando seu objeto e seus sujeitos já no art. 1º. Logo em seguida, exclui aqueles sujeitos indicados no art. 1º, caso exerçam certas atividades especiais ou se organizem a partir de capital oriundo do Estado. Ao tratarmos dos sistemas falimentares, destacamos que o Brasil adotou, processualmente, três abordagens legais da pessoa que esteja em crise patrimonial. Insolvência civil, para os devedores comuns. Falência e recuperação, para os devedores empresários. Liquidação e intervenção extrajudicial, para alguns devedores empresários especiais. Pois bem, são esses empresários especiais, não alcançados pela falência e recuperação, os que estão excluídos expressamente pelo art. 2º, da Lei n. 11.101/2005. Eles estariam submetidos à liquidação e à intervenção extrajudicial ou a outro procedimento administrativo qualquer, a ser regulado pelo Direito Administrativo. As atividades empresariais excluídas da aplicação da Lei n. 11.101/2005, aqui chamadas de especiais, seguem dois critérios de definição. São organizadas com a participação do Estado em seu capital social ou desempenham alguma atividade considerada estratégica para a política econômica estatal. Assim, o inc. I, do art. 2º, da Lei n. 11.101/2005, contempla aquelas atividades empresariais de que participa o Estado, enquanto o inc. II abarca as atividades que interessam à política econômica estatal. Destarte, no lugar da falência e da recuperação, para as atividades previstas no art. 2º, da Lei n. 11.101/2005, aplicaremos a liquidação e a intervenção extrajudicial. Assim, a condução do processo de liquidação caberá a um órgão do Poder Executivo, seguindo um critério de conveniência e oportunidade, próprio dos atos administrativos. Ocorre que o regime falimentar poderá, subsidiariamente, ser aplicado a referidas atividades, enquanto não houver legislação própria regulando-as, ou complementando a legislação existente, conforme determinado pelo art. 197, da Lei n. 11.101/2005. Podemos, então, definir as empresas públicas e as sociedades de economia mista como atividades das quais o Estado participa, ao passo que as atividades previstas no inc. II como aquelas que interessam à estratégia da política econômica estatal. Todas serão alcançadas por procedimentos extrajudiciais, em que a conveniência e a oportunidade substituirão a necessidade de decisão fundamentada exigida nas decisões judiciais. As sociedades anônimas, depois de liquidado e partilhado o seu ativo, também estão excluídas da aplicação da Lei n. 11.101/2005, nos termos do seu art. 96. Tal exclusão visa trazer segurança aos arrematantes da sociedade anônima liquidada, ao mesmo tempo em que define a situação dos seus sócios anônimos, sem possibilidade de revisão da situação das suas responsabilidades relativas às suas ações. É que a responsabilidade limitadíssima dos acionistas não permite a continuação de eventual execução contra eles depois de esgotado o patrimônio da sociedade, sendo, então, sem qualquer utilidade eventual falência depois de liquidado o ativo e pago o passivo. As atividades excluídas estão assim indicadas na Lei n. 11.101/2005: EMPRESAS EXCLUÍDAS DO REGIME DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL 1) Empresa pública 2) Sociedade de economia mista 3) Instituição financeira pública ou privada 4) Cooperativa de crédito 5) Consórcio 6) Entidade de previdência complementar 7) Sociedade operadora de plano de assistência à saúde 8) Sociedade seguradora 9) Sociedade de capitalização 10) Sociedade anônima, depois de liquidado e partilhado o seu ativo Diante da regra exposta, as referidas atividades empresariais não poderão requerer recuperação judicial ou extrajudicial. O mesmo se diz quanto à falência, salvo em caso de ausência de regulamentação específica, ou aplicação supletiva da legislação falimentar por expressa disposição legal. É oportuno lembrar que eventuais falências decretadas à luz da legislação anterior, Decreto-lei n. 7.661/45, podem ter alcançado instituições hoje não atingidas pela Lei n. 11.101/2005. Nesse caso, as referidas falências continuarão sendo reguladas até o seu encerramento pela lei anterior, na forma determinada pelo art. 192, da Lei n. 11.101/2005, o qual dispõe que “esta Lei não se aplica aos processos de falência ou de concordata ajuizados anteriormente ao início de sua vigência, que serão concluídos nos termos do Decreto-lei n. 7.661, de 21 de junho de 1945”. Por fim, há que se fazer distinção entre a exclusão relativae a absoluta. A exclusão relativa ocorre em relação àquelas empresas que têm seu regime próprio de liquidação extrajudicial, todavia com a possibilidade de aplicação da legislação falimentar supletivamente. A exclusão absoluta alcança as empresas a que não se aplicará a legislação falimentar em hipótese alguma, como no caso das empresas públicas. 22.3.1. Empresas públicas As empresas públicas são criadas pelo Estado, e seu capital social é composto na sua totalidade de investimento público. A legislação permite que ela adote qualquer forma empresarial. O que importa é saber que o único titular da empresa pública é o Estado. Eventual falência dela lançaria suspeita sobre a própria saúde financeira do Estado, ante a eventual responsabilidade subsidiária, em face da administração exclusiva por agente estatal. Eis um primeiro motivo para que não se submeta à legislação falimentar. Como já dito anteriormente, o processo falimentar, por ser judicial, exige do judiciário uma resposta fundamentada, de modo que confere ao credor- autor um direito subjetivo à resposta estatal e, presentes os requisitos de um dos tipos falimentares, à própria decretação da falência. Desse modo, a sorte da empresa pública estaria nas mãos de seus credores. Isso tiraria do Estado o controle de sua atuação no mercado ou na prestação de serviços públicos, especialmente em situações de vultosos investimentos em setores estratégicos para a referida atuação. Deve-se considerar, ainda, que as empresas públicas atuam, geralmente, em setores em que o interesse público está presente, seja porque a iniciativa privada não imobiliza grandes investimentos para retorno demorado, seja porque há localidades que não seriam atendidas pela iniciativa privada na exploração de alguma atividade econômica, tal como aquela desenvolvida pelos correios, por exemplo, em municípios longínquos e de baixa renda, em face do desequilíbrio entre o investimento necessário e o retorno financeiro almejado. Os doutrinadores divergem quanto à constitucionalidade do art. 2º, da Lei n. 11.101/2005. Isso porque, para uma primeira corrente, a Constituição Federal não admite tratamento diferenciado entre as empresas privadas e as de capital público (art. 173, 8 1º, da Constituição Federal). Eis o principal argumento daqueles que defendem a referida inconstitucionalidade, a qual, se admitida, levaria à aplicação da Lei n. 11.101/2005 às paraestatais. Aqui, o critério é estritamente legal. Há, ainda, doutrinadores que defendem a inconstitucionalidade parcial do art. 2º. O argumento defendido por eles aponta para dois tipos de atividades desempenhadas pelo Estado, quando se utiliza de sociedades de economia mista e de empresas públicas. Distinguem as paraestatais que prestam serviços públicos (art. 175, da Constituição Federal) daquelas que exercem atividade econômica (art. 173, 8 1º, da Constituição Federal), concorrendo com empresas privadas. As primeiras não poderiam ser submetidas à Lei n. 11.101/2005, por desempenharem atividades de interesse coletivo, pois eventual falência imporia a descontinuidade do serviço público. Já aquelas que desempenham atividade econômica deveriam se submeter à referida lei, pois concorrem no mercado com empresas privadas, sendo inconstitucional o tratamento desigual. O critério, segundo esses doutrinadores, é a convergência entre o interesse público e o privado, compatibilizando a norma do art. 2º, da Lei n. 11.101/2005, com a norma constitucional. Uma terceira corrente doutrinária, a que nos parece mais técnica, defende a constitucionalidade da exclusão das empresas públicas e sociedades de economia mista das disposições da Lei n. 11.101/2005. São bem mais consistentes os argumentos. Vejamos: 1º) As empresas públicas e sociedades de economia mista são criadas por autorização legal. Assim, são fruto do interesse coletivo expresso pelos representantes da sociedade, por meio do Poder Legislativo. Sendo criadas por lei, no interesse de toda a coletividade, somente por meio de lei é que deveriam ser liquidadas, dissolvidas e extintas, também no interesse coletivo, e não de credor individual. 2º) O art. 2º da Lei n. 11.101/2005 não exclui apenas as empresas públicas e sociedades de economia mista das suas disposições. Exclui mais sete atividades privadas, em um rol aberto a outras atividades que poderão ser excluídas por lei, caso detectado interesse maior na sua preservação e proteção. Desse modo, não haveria como defender que a exclusão é um privilégio de entes paraestatais, uma vez que as demais atividades excluídas independem de sua natureza pública ou privada. O que ocorre, de fato, é uma exclusão estratégica, voltada a preservar interesses macroeconômicos e sociais. 3º) A eventual responsabilidade subsidiária ou solidária dos sócios controladores tornaria a falência e a recuperação incompatíveis com um sócio estatal. O art. 82, da Lei n. 11.101/2005, prevê a ação de responsabilidade dos sócios de responsabilidade limitada, em caso de falência. Imaginemos o Estado no polo passivo de referida ação, bem como a sua condenação à responsabilidade solidária pelas obrigações contraídas pela empresa paraestatal. Tal situação equivaleria à decretação da falência do próprio Estado. 4º) Seja prestando serviços tipicamente públicos, seja intervindo na atividade econômica privada, as empresas públicas e sociedades de economia mista desempenham atividade de interesse público. Atuando em setores nos quais a economia privada não atua, ou complementando e competindo onde ela atua, o Estado supre a ausência da atividade privada ou cria um parâmetro para o equilíbrio do seu desempenho. Estado liberal, socialista ou de bem-estar social é opção coletiva, no interesse coletivo. Ao optar por um Estado de bem-estar social, a Constituição Federal preserva o interesse privado e a livre-iniciativa, todavia se resguarda no direito de intervenção para garantir a função social da propriedade e o desenvolvimento equilibrado do País, especialmente no que diz respeito à economia e ao mercado. 5º) Se é papel do Estado garantir a livre-iniciativa, em razão do comando constitucional, também o é buscar a redução das desigualdades e promover o desenvolvimento equilibrado do País. Assim, ponderando os princípios constitucionais da livre-iniciativa e da propriedade privada com aqueles que orientam o desenvolvimento equilibrado, a função social da propriedade e a continuidade dos serviços públicos, é de se enxergar na própria Constituição Federal os fundamentos para o tratamento diferenciado, se é que essa distinção tem por critério a atividade empresarial estatal em confronto com a atividade privada. 6º) O critério de exclusão do art. 2º, da Lei n. 11.101/2005, não adota a dicotomia público/privado como divisor de categorias. Ali, o que se observa é a eleição de atividades estratégicas para a manutenção do equilíbrio e da estabilidade econômica, tudo sob a óptica da intervenção mínima do Estado e da necessidade de financiamento público e privado da atividade produtiva. 22.3.2. Sociedades de economia mista Seguindo o mesmo raciocínio aplicado às empresas públicas, as sociedades de economia mista também não serão submetidas à Lei n. 11.101/2005. Nesse caso, tais sociedades são constituídas pela soma de investimentos públicos e privados. O Estado detém a maior parte das ações com direito a voto, as ordinárias, de modo que possui o poder de dirigir a empresa de acordo com seus interesses, escolhendo a maioria dos membros do Conselho de Administração e, assim, o presidente e os principais componentes da Diretoria da companhia. Em razão da preponderância do poder de voto e na composição da administração, a sociedade de economia mista é orientada no interesse estatal. Seus resultados são distribuídos aos investidores privados, e a sua falência imporiaprejuízos também ao setor privado. Normalmente, as referidas empresas desempenham atividade econômica, concorrendo no mercado com o setor privado. Além dos motivos expressos anteriormente, no caso das sociedades de economia mista, eventual falência poderia impor, a diretores e membros dos conselhos de administração e fiscal, responsabilidade pessoal e ilimitada. Não haveria qualquer inconveniente jurídico nisso, caso alguns desses conselheiros e diretores não fossem servidores públicos que, por dever de ofício, têm de compor tais órgãos sociais nas companhias de economia mista, representando o ente estatal a que estão vinculados. Por sua vez, para atender à conveniência e à oportunidade que compõem o mérito do ato administrativo, em muitas decisões, os órgãos da diretoria da companhia distanciam-se de fundamentos econômicos e de mercado, voltando-se para o interesse público. Por todos esses fundamentos, tanto a sociedade de economia mista quanto as empresas públicas foram excluídas da Lei n. 11.101/2005, sendo que sua liquidação dependerá de lei específica ou de uma decisão discricionária do órgão do Poder Executivo ao qual estiver vinculada a mencionada empresa paraestatal. Tal instrumento decisório (lei ou ato equivalente do Executivo) definirá como serão pagos os credores e encerradas as atividades. Não caberia, por fim, a aplicação da insolvência civil, nem da intervenção e liquidação extrajudicial, pois tais práticas retirariam do órgão a que se vincula a paraestatal a discricionariedade de mantê-la ou extingui-la, sempre no interesse público. Sistematizando a exclusão da empresa pública e da sociedade de economia mista da aplicação da Lei n. 11.101/2005, bem como a constitucionalidade de tal dispositivo: F É Seelasso + triadas por lei, | somente pela | lai podem Ec 4 ser liquidadas ER a à N ER he “Quan 2º da RE, / responsabilidade [ não exclui | | subsidiária do apenas as Estado poderia empresas implicar sua paraestatais própria falência a EXCLUSÃO DAS ; EMPRESAS PRBLICAS E SOCIEDADES E: DE ECONOMIA e A opção MISTA DA LHE A ; [Am Às paraestatais pelo Estado de prestam serviço de | bem-estar social | interesse público, permite a | mesmo quando distinção de | Rise tratamento E a Aí dicotomia XY (públicoiprvado não | A ceritério de | exclusão do art. 2º da LRE 22.3.3. Atividades financeiras O art. 2º, inc. 1, da Lei n. 11.101/2005 elenca, em rol aberto, sete atividades empresariais que não se submeterão à aplicação da LRE. São elas: ROL ABERTO DE EMPREENDEDORES QUE NÃO SE SUBMETEM À LEIN. 11.101/2005 1) Instituição financeira pública ou privada 2) Cooperativa de crédito 3) Consórcio 4) Entidade de previdência complementar 5) Sociedade operadora de plano de assistência à saúde 6) Sociedade seguradora 7) Sociedade de capitalização Trataremos tais atividades empresariais como financeiras lato sensu, uma vez que todas elas captam dinheiro no mercado para desempenhar suas atividades, ou seja, financiam-se da poupança popular, sem uma contraprestação instantânea. Em todas as atividades previstas no inc. II, do art. 2º, da Lei n. 11.101/2005, exige-se uma relação de confiança entre o cliente e a empresa, ante o risco que decorre da entrega de valores pelo cliente à empresa, sem uma contraprestação imediata, isto é, o cliente entrega numerário à empresa confiando que, no momento em que precisar dos respectivos valores ou da prestação dos serviços contratados, poderá contar com eles. As referidas atividades, então, envolvem sério risco de prejuízo aos consumidores e inspiram a necessidade de confiança acima do que o mercado normalmente exige. Isso para garantir a própria sobrevivência da empresa. A eventual falência de uma empresa que desempenhe uma dessas atividades poderia ocasionar uma crise setorial que colocaria em risco todas as empresas que componham o referido setor do mercado. A título de ilustração, basta comparar o efeito da falência de um supermercado de que se é cliente, para a falência de um banco, de uma empresa de previdência privada ou de um plano de saúde dos quais se é cliente. No caso do supermercado, a falência não traria qualquer consequência para o cliente consumidor. Todos os contratos firmados com o supermercado tiveram cumprimento imediato, em que o pagamento em dinheiro recebeu a imediata contraprestação de entrega da mercadoria. Já no caso do banco, da previdência privada e do plano de saúde, o dinheiro pago pelo cliente não teve qualquer contraprestação imediata. Pelo contrário, os pagamentos efetuados ficaram retidos e, agora, decretada a falência, o cliente teria que se habilitar, com todos os demais credores, na intenção de receber o que foi pago, restando frustrada a futura aposentadoria, a prestação dos serviços de saúde ou dos serviços bancários. Tal quadro exemplificativo levaria a uma desconfiança em todo o sistema financeiro, securitário, previdenciário e dos demais indicados no art. 2º, inc. II, da Lei n. 11.101/2005. Eventual pedido indevido de falência poderia ser confundido com uma crise econômico-financeira de determinada empresa, o que poderia levar todos os clientes ao inadimplemento coletivo ou à busca desenfreada e coletiva pelo resgate de valores depositados. Por isso, a opção legislativa de retirar dos credores dessas empresas a opção pela aplicação da Lei n. 11.101/2005. Como veremos mais adiante, o processo de falência possui duas fases. A primeira delas, chamada investigativa, pré-falimentar ou preliminar, tem a finalidade de caracterizar o estado falimentar, ou seja, em um verdadeiro processo contencioso, determinado credor busca comprovar a crise econômico-financeira do devedor empresário, havendo uma fase postulatória e outra probatória. Caso não reste caracterizada a falência, o juiz a denegará. Ocorre que o simples pedido de falência já promove imediato prejuízo às atividades de qualquer empresa. Se ela depende da extrema confiança de seus clientes, o singelo pedido de falência inviabiliza a captação de novos clientes e põe em desespero os já existentes. Isso levaria a uma verdadeira crise na referida empresa, capaz de contaminar todo o setor de mercado. A segunda fase da falência, iniciada pela sentença que a decreta, é a execução coletiva, em que todos os bens e ativos do falido são alienados para pagamento de seus credores. A liquidação do ativo leva, geralmente, ao encerramento da atividade. A exclusão das atividades financeiras do regime falimentar visa, justamente, impedir essa possibilidade de encerramento pela vontade dos credores, ainda que haja, de fato, crise econômico-financeira da empresa. O Estado, portanto, elegeu atividades consideradas estratégicas para o regular funcionamento do mercado. Considerou a importância do crédito, da securitização, da previdência e assistência à saúde a partir da iniciativa privada, da formação de poupança para rendimentos futuros ou para aquisição de bens. Nesses setores, impediu-se aos credores o direito subjetivo à execução coletiva, e aos devedores, o direito subjetivo a uma recuperação deferida pelo Poder Judiciário. Exemplo histórico de forma alternativa de tratamento dado às empresas consideradas estratégicas pelo Estado é o PROER, programa instituído pelo governo de Fernando Henrique Cardoso para socorrer bancos que teriam sua falência decretada caso fossem acionados no Poder Judiciário. À época, logo após a implantação do Plano Real, com a estabilização da economia e o fim da ciranda inflacionária, os bancos perderam sua maior fonte de rendimentos, justamente aquela decorrente dos altos índices inflacionários. Era o ano de 1995, e o País vinha de alguns planos econômicos fracassados. O Plano Real, então, não poderia correr o mesmo risco. A falência de instituições financeiras naquele momento poderia implodir o novo