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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E BIOLÓGICAS 
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E EDUCAÇÃO 
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA 
 
 
 
Flavia Negretti Bezerra 
 
 
 
 
EDUCAÇÃO PRISIONAL: A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE 
REINSERÇÃO SOCIAL DE PESSOAS PRIVADAS DE LIBERDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sorocaba 
2023 
Flavia Negretti Bezerra 
 
 
EDUCAÇÃO PRISIONAL: A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE 
REINSERÇÃO SOCIAL DE PESSOAS PRIVADAS DE LIBERDADE 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao 
curso de Licenciatura em Pedagogia, do 
Departamento de Ciências Humanas e Educação 
(DCHE) da Universidade Federal de São Carlos 
Campus Sorocaba, para obtenção do título de 
licenciada em Pedagogia. 
 
Orientação: Profº. Drº Marcos Garcia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sorocaba 
2023 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FOLHA DE APROVAÇÃO 
 
 
 
 
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS 
COORDENAÇÃO DO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA - CCPedL-
So/CCHB 
 
Rod. João Leme dos Santos km 110 - SP-264, s/n - Bairro Itinga, Sorocaba/SP, 
CEP 18052-780 
Telefone: (15) 32295978 - http://www.ufscar.br 
DP-TCC-FA nº 6/2024/CCPedL-So/CCHB 
 
 
Graduação: Defesa Pública de Trabalho de Conclusão de Curso 
Folha Aprovação (GDP-TCC-FA) 
FOLHA DE APROVAÇÃO 
 
FLÁVIA NEGRETTI BEZERRA 
 
EDUCAÇÃO PRISIONAL: A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE REIN-
SERÇÃO SOCIAL DE PESSOAS PRIVADAS DE LIBERDADE 
Trabalho de Conclusão de Curso 
 
Universidade Federal de São Carlos – campus Sorocaba 
 
 
Sorocaba, 7 de fevereiro de 2024 
 
 
 
ASSINATURAS E CIÊNCIAS 
Cargo/Função Nome Completo 
Orientador Prof. Dr. Marcos Roberto Vieira Garcia 
Membro da Banca 1 Prof.ª Dr.ª Rosa Aparecida Pinheiro 
Membro da Banca 2 Prof. Dr. Gilberto Geribola Moreno 
 
 
Documento assinado eletronicamente por Rosa Aparecida Pinheiro, Professor(a) 
Efetivo(a), em 14/02/2024, às 17:32, conforme horário oficial de Brasília, com 
fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015. 
 
 
Documento assinado eletronicamente por Marcos Roberto Vieira 
Garcia, Professor(a), em 15/02/2024, às 18:43, conforme horário oficial de Brasília, 
com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015. 
 
 
Documento assinado eletronicamente por Gilberto Geribola Moreno, Professor(a) 
Efetivo(a), em 16/02/2024, às 11:49, conforme horário oficial de Brasília, com 
fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015. 
 
 
A autenticidade deste documento pode ser conferida no 
site https://sei.ufscar.br/autenticacao, informando o código verificador 1335130 e o 
código CRC D27F6BE8. 
 
 
 
Referência: Caso responda a este documento, indicar expressamente o Proces-
so nº 23112.001588/2024-32 
SEI nº 1335130 
Modelo de Documento: Grad: Defesa TCC: Folha Aprovação, versão de 02/Agosto/2019 
 
 
 
 
 
 
 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Decreto/D8539.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Decreto/D8539.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Decreto/D8539.htm
https://sei.ufscar.br/autenticacao?cv=1335130&crc=D27F6BE8
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a todos aqueles que amam a liberdade, que se organizam e 
revolucionam sua existência. 
Agradecimentos 
 
 
Agradeço aos meus pais, por terem me ensinado a estudar, e o conceito dessa 
ação. Ao meu companheiro Vinicius que, mesmo estando longe de mim neste 
momento, me deu força e me ajudou em muitos aspectos desta monografia, e à 
minha sogra que não me deixou desistir da graduação. É preciso muito estudo para 
fazer qualquer coisa. Hoje entrego esta escrita após ter oportunidades que só foram 
possíveis através da Universidade. Agradeço a mim por todo o esforço e por não 
desistir! Obrigada filha, Lua, que, em sua ingenuidade, me ajuda a ser uma pessoa 
melhor a cada segundo, a ver a vida com alegria independente da situação, ao 
companheirismo dessa jornada. Sobrevivemos à pandemia, e agora nessa reta final, 
muitos passeios, graffitis, sorvetes, piscinas e muita diversão teve que ser cancelada 
pra que eu pudesse me dedicar a minha escrita. Obrigada pela compreensão do 
silencio, e pelos lanchinhos-surpresa que me deram força nas madrugadas 
escrevendo. Agradeço à UFSCAR pela oportunidade, além da vaga, por aceitar 
estudantes com base na nota do Enem, essa porta é a melhor de se atravessar! 
Todas as noites enquanto jantava no RU pensava o quanto iria sentir saudade dali, e 
o quanto eu fui feliz e brava no campus, e hoje escrevendo essas linhas sinto a 
saudade que eu tanto temia, sair da graduação vai deixar um vazio, mas quem sabe 
eu não volto em breve para fazer o mestrado?! O tema já temos: Educação 
Prisional. 
Obrigada aos meus professores, que sempre estiveram prontos a tirar minhas 
dúvidas, e a orientar novos horizontes nas pesquisas, e no incentivo a minha 
capacidade. 
Sou grata à vida que tenho, às oportunidades que se abrem e as que vou atrás, 
porque é com determinação, humildade e resistência que conquistarei meu espaço 
nessa sociedade dominada pelo egoísmo e por cifrões. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Sempre que a moralidade baseia-se na teologia, sempre que o 
correto torna-se dependente da autoridade divina, as coisas 
mais imorais, injustas e infames podem ser justificadas e 
impostas.” 
 LUDWIG FEUERBACH 
RESUMO 
 
BEZERRA, Flavia Negretti. EDUCAÇÃO PRISIONAL: A IMPORTÂNCIA DA 
EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE REINSERÇÃO SOCIAL DE PESSOAS 
PRIVADAS DE LIBERDADE. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em 
Pedagogia) - Universidade Federal de São Carlos, Sorocaba - SP, 2023. 
 
A educação prisional, sendo ela EJA, representa um dos grandes desafios à 
educação. Pretendemos discutir aqui algumas contribuições e limites sobre o 
processo de reinserção social de pessoas privadas de liberdade, baseada em 
minhas experiências neste contexto. Deste modo, observaremos se a instituição 
realizou sua função de "reeducar" um cidadão, a fim de diminuir o índice de 
reincidência. A pesquisa foi realizada através do estudo da Lei de Execução Penal, 
bibliografia e pela experiência durante minha trajetória de 2010 a 2023, na qual 
ainda sou atuante, na área através de Projetos oferecidos pela Associação na qual 
estou inserida. Se a educação prisional deve ser ofertada com a finalidade de 
reinserir os indivíduos na sociedade com visão de transformação, é necessário que 
os docentes motivem os reeducandos através do respeito mútuo, sendo de extrema 
importância considerar a história de cada indivíduo. Sabemos que o sistema punitivo 
não é eficaz, portanto, é necessário que o investimento na educação prisional 
aconteça de forma integral, pois só assim será possível apoiar o desenvolvimento 
das potencialidades humanas e libertadoras, superando o estigma e a exclusão 
social. 
 
Palavras-chave: Educação prisional, Reinserção social, Educação Jovens e Adultos 
no sistema penitenciário. 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
BEZERRA, Flavia Negretti. PRISON EDUCATION: THE IMPORTANCE OF 
EDUCATION IN THE PROCESS OF SOCIAL REINSERTION OF PEOPLE 
DEPRIVED OF FREEDOM. Course Completion Work (Degree in Pedagogy) - 
Universidade Federal de São Carlos, Sorocaba - SP, 2023. 
 
Prison education, being EJA, represents one of the greatest challenges to education. 
We intend to discuss here some contributions and limits on the process of social 
reintegration of people deprived of their liberty, based on my experiences in this 
context. In this way, we will observe whether the institutionde oportunidades 
para praticar as habilidades desenvolvidas no ambiente educacional da unidade em 
que esteve. Por isso é de extrema urgência a criação de núcleos que apoiem o pós-
cárcere, viabilizando subsistência, moradia, ocupação, e autoconfiança, na prática 
de suas ações diante do convívio interpessoal. Por fim, é necessário que os núcleos 
ofereçam atenção adequada aos reeducandos e que as oportunidades oferecidas 
atendam a demanda encaminhada das unidades, a fim de proporcionar 
continuamente acompanhamento durante o processo de reinserção social. 
 
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
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ensino de 1° e 2º graus, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 
DF, 12 ago. 1971. 
 
BRASIL. Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases 
da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 dez. 1996. 
 
BRASIL. Lei nº. 11.494, de 20 de junho de 2007. Regulamenta o Fundo de 
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos 
Profissionais da Educação – FUNDEB 
 
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https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMWE0YWJkMTQtNzQ4Mi00NDQ1LWE5ZDMtODA5NDA0ZTZkYjg0IiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/view/8639689
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/view/8639689
https://www.nucleodoconhecimento.com.br/administracao/educacao-como-processo
https://www.nucleodoconhecimento.com.br/administracao/educacao-como-processoperformed its function of 
"re-educating" a citizen, in order to reduce the recidivism rate. The research was 
carried out through the study of the Penal Execution Law, bibliography and through 
experience during my career from 2010 to 2023, in which I am still active, in the area 
through Projects offered by the Association in which I am part. If prison education 
must be offered with the aim of reinserting individuals into society with a vision of 
transformation, it is necessary for teachers to motivate those re-educated through 
mutual respect, and it is extremely important to consider the history of each 
individual. We know that the punitive system is not effective, therefore, it is necessary 
that investment in prison education takes place in full, as only in this way will it be 
possible to support the development of human and liberating potential, overcoming 
stigma and social exclusion. 
 
Keywords: Prison education, Social reinsertion, Youth and Adult Education in the 
penitentiary system. 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 12 
2 MEMORIAL ........................................................................................................ 14 
3 O COLONIALISMO COMO FONTE DE ACULTURAÇÃO ................................ 17 
4 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL (BREVE HISTÓRICO)18 
5 POLÍTICAS PÚBLICAS E O DIREITO DO PRESO: EDUCAÇÃO E TRABALHO 
COMO GARANTIA DE DIGNIDADE PARA SOBREVIVÊNCIA ............................... 22 
6 OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL NO ESTADO DE 
SÃO PAULO ............................................................................................................. 28 
7 EMANCIPAÇÃO X ADESTRAMENTO: A EDUCAÇÃO COMO PRINCIPAL 
FERRAMENTA NO PROCESSO DE REINSERÇÃO SOCIAL ................................ 32 
7.1 PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO OFERECIDOS PELO ESTADO DE SÃO 
PAULO .................................................................................................................. 35 
7.2 O PROJETO FUNAP - FUNDAÇÃO DE AMPARO AO TRABALHADOR 
PRESO .................................................................................................................. 37 
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 38 
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 39 
 
 
 
 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Tendo a educação prisional como tema principal, está pesquisa apresenta 
indicadores reais sobre a finalidade da educação nas penitenciárias, questões 
financeiras, estrutura, corpo docente e o principal: os reeducandos. Ao analisar 
algumas de minhas vivências diante da situação em que a população carceraria vive 
hoje (2023), me instiga entender a lógica punitiva e o esvaziamento social da 
população estigmatizada como marginalizada. Será função do Estado desvalorizar 
pessoas por sua classe social ou sua cor de pele, retirando-as da sociedade para 
que haja um controle social, e limitar suas relações interpessoais e afetivas? Como é 
a educação num campo que o Estado acredita como “corretivo”, a fim de diminuir o 
crime? São tantas as minhas inquietações que, para esta pesquisa, delimitarei o 
tema ao estado de São Paulo, onde tenho experiência, em projetos na Fundação 
Casa, em 2010, e estagiária na FUNAP, de 2020 a 2022. 
O debate em pauta apresenta os desafios que o contexto de privação de 
liberdade enfrenta tanto nas questões políticas como pedagógicas. Essas razões 
perpassam pela função real da educação no processo de reinserção social, pois a 
realidade que a prisão oferece reforça o modelo de educação tradicional que o 
sujeito muitas vezes já recebeu quando criança: uma educação formal que molda e 
controla o ser humano e que ignora a realidade de cada um, o que dificulta a 
aprendizagem. 
Para Paulo Freire (1996) a função da educação é humanizar o sujeito, mas me 
pergunto como essa ação é possível em um ambiente controlado por armas, 
opressões, violências, superlotação, fome, abandono, castigo, sofrimento e 
desumanização? Como educar um sujeito dentro desse ambiente, a fim que ele 
supere a desumanização e compreenda sua existência na sociedade? Dentre os 
moldes que o sistema dominador impõe sobre nós, uma educação emancipadora 
detém a força de transformar condutas, o que vai na contramão do que o Estado 
defende, e isso vai na contramão da opressão. A população bem informada se 
organiza e desenvolve oportunidades, ações que geram renda de forma honesta, 
muitos saem da EJA e montam seu próprio negócio, gerando oportunidades para a 
comunidade do entorno. É necessário ressaltar que a população marginalizada, que 
vive em favelas, periferias ou ocupações, é diariamente rotulada como analfabeta, 
invisibilizada pela maior parte dos investimentos públicos, e a que mais sofre com o 
esvaziamento social. Ao longo de minha experiência, pude constatar que a “limpeza 
social” acontece através das prisões arbitrarias que acontecem no Brasil, na maioria 
das vezes de jovens negros entre 18 e 25 anos. Quando digo prisões arbitrarias, me 
refiro também à extensão de violência e de penas fechadas que não contribuem na 
melhora da qualidade de vida de quem está ali para cumprir pena. 
A educação prisional é um tema de grande relevância social e política, pois se 
relaciona diretamente com a questão da ressocialização/reinserção das pessoas 
privadas de liberdade. A educação é um direito fundamental de todos, inclusive das 
pessoas que estão cumprindo pena. Ela é essencial para o desenvolvimento pessoal 
e profissional dos indivíduos e, também, para a construção de uma sociedade 
menos controladora. No Brasil, a educação prisional é regulamentada pela Lei de 
Execuções Penais (LEP), que prevê a oferta de ensino fundamental, médio e 
profissionalizante às pessoas privadas de liberdade. No entanto, a implementação 
dessa lei ainda enfrenta muitos desafios, como a falta de recursos financeiros, a 
ausência de profissionais qualificados e a superlotação das prisões. 
Esta dissertação tem como objetivo analisar a educação prisional no Brasil, com 
foco nos seguintes aspectos: a história da educação prisional no Brasil; a contexto 
atual da educação prisional no Brasil; os desafios da educação prisional no Brasil; e 
as perspectivas para a educação prisional no Brasil. 
Considero o debate sobre a Educação Prisional de extrema importância, por ela 
ser um direito fundamental de todas as pessoas. Por último, ressalto que a 
educação prisional contribui com a redução da criminalidade e a reincidência, pois 
quando o sujeito tem pleno conhecimento social e intelectual da sua existência em 
comunidade, é mais fácil direcionar ações que favoreçam a si mesmo de forma 
prazerosa, sem prejudicar a si e ao outro. Apesar dos desafios, a educação 
prisional tem o potencial de contribuir significativamente para a ressocialização das 
pessoas privadas de liberdade. Para que isso ocorra, é necessário que o Estado 
invista na educação prisional, garantindo recursos financeiros, formação específica 
para os profissionais e condições adequadas para a oferta de educação. 
Esta pesquisa visa contribuir para a discussão sobre a educação prisional no 
Brasil, e buscará identificar os desafios da educação prisional no país, bem como as 
perspectivas para sua implementação. Os resultados da pesquisa podem contribuir 
para a formulação de políticas públicas mais efetivas para a educação prisional. 
A pesquisa será realizada a partir de uma revisão bibliográfica da literatura sobre 
o tema, bem como de entrevistas com egressas do sistema, atuais reeducandas, e 
profissionais que atuam na área. 
 
 
2 MEMORIAL 
 
Quando ainda era muito pequena, lembro das brincadeiras e as ideias de ser 
professora, moradora da periferia. Era 1990, os jornaismostravam o sangue puro 
nas transmissões de notícias. Aquilo assusta uma criança, além dos perigos que a 
rua mesmo oferece, seja no trajeto de ir e vir da escola, seja na frente de casa. 
Frente ao contexto em que cresci, junto com o meu eu mais puro, decidimos ser 
estudiosas, as brincadeiras de pequena, passaram a ser a realidade de verdade, 
quando apareciam as dúvidas e questionamentos em minha cabeça, fossem eles 
sociais, ou físicos. Ia até a biblioteca e descobria incríveis novidades, e com a 
ampliação de meu conhecimento, fui buscando cada vez mais aprender, até que um 
dia, foi anunciada a transferência da biblioteca central para a zona leste, totalmente 
fora do caminhos de muitas escolas e de pessoas que realmente usavam aquele 
espaço. Acredito que essa tenha sido a primeira vez que senti revolta dentro de 
mim, fiquei muito triste, pensei inúmeras maluquices do que poderia fazer para 
impedir este fato de acontecer. Acredito também que o motivo tenha contribuído 
muito para esse sentimento aparecer com tanta força: a construção de um shopping 
que ocuparia o prédio de nossa amada biblioteca central. Ela era muito linda, as 
mesinhas, os braços de apoio aos jornais abertos, as prateleiras com aquele cheiro 
de livro, um silencio de um lado, e murmúrios na área coletiva. Às vezes ela estava 
cheia, muitas pessoas que passavam pelo Terminal Santo Antônio entravam na 
biblioteca só pra ver como era, e acabava sempre saindo com um livro. Aquele lugar 
tinha um movimento lindo, tive sorte de ter pais que confiavam em mim e me 
deixavam sair da escola e ficar um pouco na biblioteca, ou ir mais cedo passar na 
biblioteca e subir pra escola, esse trajeto era normal para mim. Saber que iria perder 
aquele espaço para um centro de futilidade, doía demais meu coração, por isso digo 
que foi a primeira vez que senti essa revolta mais forte; Já com 12 anos eu 
pesquisava sobre a sociedade. Antes da biblioteca, tive as contestações na igreja, 
minha mãe me levava na missa, o padre falava, falava e falava e eu não vi nada 
acontecer. Resolvi perguntar a ele sobre sua fala, o livro bíblia, e dali não obtive 
respostas alguma, mais um motivo para procurar respostas nos livros, porque meus 
pais não me respondiam também. Nas explicações dos livros encontrei, Bakunin, 
Emma Goldman, Feuerbach, Marx, Freud, Platão, Zapata, Proudhon, dentre muitos 
outros estudiosos, com ideias magnifica. Minha preferida é a do EZLN, todos os dias 
penso no dia que poderei conhecer a comunidade em Chiapas, meu norte na vida se 
deu a partir desses conceitos filosóficos e sociais, e sendo moradora da periferia, fui 
consumada pela resistência, organização, e amor pela terra. 
Sempre muito contraventora, escrevi zines com diversas informações sobre 
organização dos pensamentos ideológicos, e ação direta, facções, coletivos, feiras, 
além das pinturas artísticas, que nunca faltaram em meu repertorio. Já com 18 anos, 
e o ensino médio concluso, fui para a área de Produção Cultural, e foi aí que me 
encontrei com alguns amigos e escrevemos um projeto para a antiga FEBEM, junto 
a uma escola de Salto. A proposta contemplava os internos com oficinas de pintura, 
introdução teórica sobre a arte e a prática de técnicas e desenho. Na apresentação 
o projeto foi muito bem-aceito, mas as condições para que ele fosse executado 
causaram um desfavorecimento na finalidade da proposta, pois foi nos colocado as 
seguintes exigências: não poderíamos usar lápis, nem pincel (por serem 
pontiagudos e eles poderem utilizar como armas, causar uma rebelião e fugir), não 
pode trocas afetivas físicos (abraços, aperto de mão), os internos permaneceriam 
algemados, as aulas seriam apenas expositivas. A princípio topamos, com a 
intenção de tentar ao máximo ministrar a oficina como planejamos. Tentamos muitas 
vezes, mas em nenhuma delas foi autorizada a entrada dos materiais e nem que os 
internos fossem “desalgemados”. Levamos até aqueles meninos palavras de 
acolhimento e força. Até o dia que fiquei no projeto, minha fala foi sobre superação, 
questionamentos sociais, sobre quem se é, e o porquê estamos ali, naquela 
situação, seja ela na unidade ou na rua, além de realizarmos exercícios de reflexão 
e respiração. Foi então que eu decidi tentar mudar alguma coisa nesse cenário 
terrível que é o cárcere no Brasil. Penso que as notícias que ouvia quando criança, 
continuam acontecendo, talvez hoje de uma forma mais mascarada, e em maior 
escala. Busquei estudar algumas Leis, mais um pouco de filosofia, um pouco de 
Foucault, e entendi que, para eu conseguir estar nesse ambiente, com toda minha 
vontade de transformação, eu precisaria estar formada, com plenos conhecimentos 
para atuar de forma segura e clara, a fim de alcançar o objetivo de ampliar a escola 
nas penitenciarias do Brasil. Sei que é um sonho gigantesco, mas, pelo menos, eu já 
tinha começado a me movimentar, e meus resultados eram muito bons! Então parti 
fazer a prova do ENEM, entrei na UFSCAR e, durante o período da graduação, 
consegui oportunidades dentro do sistema prisional de São Paulo, que fizeram ter 
mais certeza de que minha contribuição é muito importante. 
Com o apoio de um coletivo de pessoas incríveis, realizamos a montagem de 
bibliotecas, ou sua ampliação, com o objetivo de que a instituição que está 
recebendo a doação implemente o projeto do governo federal “Lendo a Liberdade”, 
que oferece livros para leitura, e fichas para refletir sobre a história, para então 
contabilizar horas a fim de que o leitor tenha direito a diminuir sua pena. Essa ação 
visa fortalecer o oferecimento da extensão da EJA no ambiente prisional para 
aqueles que ainda estão no regime fechado, o que possibilita a aprendizagem desde 
o ensino fundamental, até os cursos profissionalizantes que são oferecidos em 
parceria com o SENAI, e as ETECs. Defender a educação no ambiente prisional é 
fundamental para evitar a reincidência e diminuir a criminalidade. Pois é no processo 
de ensino e aprendizagem que o indivíduo manifesta múltiplos sentimentos, 
podendo compreender melhor sua existência no mundo e sua contribuição social. 
Portanto, buscar atribuir funções efetivas através de práticas pedagógicas nas 
unidades prisionais do estado de São Paulo é um dos desafios que escolhi para 
minha trajetória na área da educação. Acredito que se pode alcançar grandes 
transformações pelo caminho do conhecimento, pois não é fácil atravessar a vida 
vivendo a maioria do tempo sendo discriminado por ser pobre, e estigmatizado pela 
comunidade em que se encontra, e por aquelas que se autointitulam superiores. 
Sentimos diariamente os resultados da corrupção no nosso país, a desigualdade é 
causada propositalmente desde muito antes do que a história conta. A disputa pelo 
poder se mostra cada dia mais cruel, condicionando o ser humano desde criança 
com as imposições tanto da escola tradicional e seu molde infalível de preparação 
para o mercado de trabalho, como da mídia, que direciona padrões de consumo em 
grupos sociais, a partir da concordância coletiva por determinados costumes. Ser 
capaz de se compreender, e decidir por si, já é uma grande revolução dentro de 
cada um. Por isso gosto tanto de me comunicar com as pessoas, pois, a partir dessa 
troca, posso construir novas ideias, aumentando meu repertório de conhecimento e 
alcançando pessoas que também compartilham suas identidades sem medo de 
julgamentos perversos e desmotivadores. Desta forma escolhi o tema Educação 
Prisional para concluir minha graduação e seguir com projetos e lutas por uma 
sociedade menos alienada e com uma visão de mundo mais humanizada e crítica. 
Por meio de ações e movimentos sociais que estejam engajados na defesa por uma 
educação mais organizada, por políticas públicas que realmente façam a diferença 
na vida das pessoas, podemos, quem sabe, chegar mais perto da possibilidade de 
que o investimento real destinadoa educação aconteça de forma plena, o que 
contribuirá muito com o desenvolvimento de milhares de crianças, jovens, adultos e 
sociedade em geral. 
 
3 O COLONIALISMO COMO FONTE DE ACULTURAÇÃO 
 
O colonialismo foi uma das principais fontes de aculturação dos povos 
indígenas, africanos e afro-brasileiros. A educação colonial, voltada para a formação 
de uma elite branca e religiosa, teve como objetivo a assimilação cultural desses 
povos. 
A catequese foi uma das principais ferramentas de aculturação utilizada pelos 
colonizadores. Através da catequese, os povos indígenas e africanos eram forçados 
a abandonarem suas crenças e práticas religiosas. A educação colonial também 
teve como objetivo a difusão da língua portuguesa, considerada a língua da 
civilização, enquanto as línguas indígenas e africanas eram consideradas línguas 
inferiores. A aculturação promovida pelo colonialismo teve consequências profundas 
para os povos indígenas, africanos e afro-brasileiros. Esses povos perderam parte 
de sua identidade cultural, e até hoje sofrem com a exclusão de uma sociedade que 
invadiu suas terras, e que está equivocada na relação com o outro. A sociedade 
brasileira ainda se organiza seguindo modelos europeus, mesmo após a 
independência do país, reproduz em seus costumes a constante dominação colonial. 
É evidente que a miscigenação é a base do Brasil, e que a maioria da 
população é pobre e vive em áreas vulneráveis, mas, com o aumento da população, 
a renda nacional também aumentou, mas a distribuição dessa renda privilegia 
apenas uma pequena classe. Infelizmente todo esse processo de modernização é 
para fortalecer a ampliação do mercado, para que os países possam comercializar 
entre si, gerando lucros e alcançando patamares de reconhecimento mundial. 
Porém, para que essa engrenagem funcione é preciso muito trabalho e, embora 
muitos que sabem dos direitos trabalhistas não aceitem ser explorados, há, ainda, 
muitos se submetem a trabalhos que comprometem a condição humana, em troca 
da ilusão de sobrevivência. Essa dominação de poder que poucos detém condiciona 
padrões eurocêntricos, que se caracteriza pela submissão a culturas de países 
desenvolvidos, ou seja, o colonizado perde sua identidade e deve se adaptar a um 
sistema novo imposto por forças hegemônicas. Usarei o latifúndio como exemplo de 
dominação: o mais poderoso se apropria de terras, e ali mantém a monocultura que 
gera muito lucro, apenas para ele, que se diz proprietário das terras e de todo o 
investimento, mas o que ocorre com quem realmente trabalhou para movimentar a 
economia? Continua sendo explorado, dormindo no quartinho dos fundos e 
comendo marmita fria com os pés no chão. 
Portanto, os países periféricos como o Brasil precisam reconhecer que a 
condição de subalternidade pode ser superada através da produção de 
conhecimento de forma subjetiva. A expressão do próprio ser confronta o 
condicionamento que foi imposto historicamente na sociedade. Sendo assim, 
desenvolver coletivamente novos modelos e práticas que sejam resistentes à 
homogeneidade das massas se torna indispensável na articulação das demandas 
que partam da população, a fim de compreender suas particularidades. Esta ação 
mostra aos sujeitos as diversas formas de dominação, e isso busca resultar em 
emancipação. 
 
4 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL (BREVE HISTÓRICO) 
 
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil tem uma história marcada pela 
desigualdade e pela exclusão. Desde o período colonial, a educação é usada como 
ferramenta de adestramento social, primeiro pela escravização de pessoas, segundo 
pela imposição de qual cultura um povo vai seguir. 
Foi sob a égide do Estado português e com a permissão do 
Papa que iniciativas dos Jesuítas se voltaram para a conversão 
dos gentios e a instrução das crianças na colônia. A 
Companhia de Jesus tinha a função missionária como objetivo 
primeiro, contudo ela se revelou uma “Ordem docente” ao se 
debruçar sobre a formação da mocidade, além da formação 
dos seus próprios membros (CHAMBOULEYRON, 2004). 
 
A imposição da educação veio junto com a invasão das terras na América. 
Catequizar os índios foi a execução de um plano que os Portugueses aplicaram para 
dominar o Brasil. Neste período, a educação era restrita aos colonizadores 
portugueses e aos seus descendentes. Os povos indígenas e africanos eram 
proibidos de aprender a ler e escrever, pois isso era considerado uma ameaça à 
ordem colonial. Eram frequentemente submetidos à catequese e à assimilação 
cultural, escravizados e proibidos de estudar: “Mas era principalmente na vida 
religiosa que os meninos eram preparados para formar a ‘nova cristandade’ sonhada 
pelos religiosos da Companhia de Jesus. A educação das crianças implicava, assim, 
uma transformação radical da vida dos jovens índios.” (CHAMBOULEYRON, 2004, 
p. 61). 
Com a “independência” do Brasil, em 1822, a educação formal passou a ser 
regulamentada pelo Estado. No entanto, a desigualdade e a exclusão continuaram a 
ser marcas da educação brasileira. A Lei Geral da Instrução Pública, de 1827, 
estabeleceu a obrigatoriedade do ensino primário para crianças de ambos os sexos, 
mas a lei não foi implementada de forma efetiva. No início do século XX, o 
movimento republicano e a Reforma de 1911 promoveram mudanças na educação 
brasileira. A educação primária passou a ser gratuita e obrigatória para crianças de 7 
a 14 anos, mas as desigualdades entre as diferentes classes sociais e grupos 
étnicos continuaram a ser significativas. 
Em 1934, mudanças acontecem no cenário educacional, com a criação do 
Plano Nacional de Educação, que orienta o Estado como gestor do ensino primário 
gratuito e que também atenderia ao público adulto também como direito 
constitucional. Depois de muitas críticas aos adultos analfabetos, a educação na 
EJA ganha destaque na sociedade. Em 1947, uma campanha abre discussão sobre 
o analfabetismo e é criado o Serviço Nacional da Educação de Adultos (SNEA) o 
supletivo. Na sequência, a Campanha Nacional de Educação de Adolescentes e 
Adultos (CEAA), para a redução do analfabetismo; o Congresso Nacional de 
Educação de Adultos, em 1950, e a Campanha Nacional de Erradicação do 
Analfabetismo (CNEA). Nesta época, Paulo Freire trabalha na alfabetização de 
adultos no nordeste do país, e em 1961 funda o movimento “Cultura Popular”, um 
serviço de extensão cultural oferecido pela Universidade de Recife, e que teve como 
principal novidade educacional o método praticado através da troca de 
conhecimentos entre os demais participantes. Freire e sua equipe identificavam as 
capacidades de cada um e, a partir disso, conscientizavam de forma coletiva 
pessoas oprimidas e excluídas de toda e qualquer decisão política que envolvesse 
suas próprias vidas. O método de Paulo Freire emancipa politicamente os 
indivíduos, e foi isso que incomodou os militares. que já tinham tomado o poder no 
Brasil em 1964, período em que Freire foi capturado e exilado com sua família para 
no Chile, Estados Unidos e Genebra, lugares nos quais continuou a contribuir com a 
educação. Ao retornar para o Brasil após dezesseis anos de exílio, foi convidado 
para atuar na UNICAMP e PUC em São Paulo e na Secretaria Municipal de 
Educação. A partir de 1991 se afasta da prefeitura e atua junto a sua equipe no 
MOVA – Movimento de Alfabetização, um modelo de projeto público para apoiar 
salas de alfabetização para Jovens e Adultos. Aí trabalha até 1997 quando morre, 
nos deixando um legado admirável e inspirador. 
Para ser um ato de conhecimento o processo de 
alfabetização de adultos demanda, entre educadores e 
educandos, uma relação de autêntico diálogo. Aquela em 
que os sujeitos do ato de conhecer (educador-educando; 
educando-educador) se encontram mediatizados pelo 
objeto a ser conhecido. Nesta perspectiva, portanto, os 
alfabetizandos assumem, desde o começomesmo da 
ação, o papel de sujeitos criadores. Aprender a ler e 
escrever já não é, pois, memorizar sílabas, palavras ou 
frases, mas refletir criticamente sobre o próprio processo 
de ler e escrever e sobre o profundo significado da 
linguagem. (FREIRE, 2002, p. 58) 
 
Retomando a linha cronológica desta monografia, em 1960 surge o 
Movimento da Educação de Base (MEB); durante o Regime Militar cria-se o 
MOBRAL - Movimento Brasileiro de Alfabetização, que tentou alfabetizar de forma 
funcional as pessoas, apenas com a intenção de produzir mais mão de obra aceita 
pelas burocracias da constituição (STRELHOW, 2010). Na década de 70, o ensino 
supletivo tem destaque pela criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional (nº. 5.92/71) (BRASIL, 1971). Em 1980, foi criada a Fundação Nacional 
para Educação de Jovens e Adultos (Fundação Educar), que tinha como objetivo 
financiar as iniciativas de alfabetização vinculadas ao Ministério da Educação 
(VIEIRA, 2004). As novas Leis foram começar a ser discutidas em 1996, quando 
surge a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (nº. 9.394/96), que 
reafirma o direito dos jovens e adultos trabalhadores ao ensino básico e ao dever 
público sua oferta gratuita, estabelecendo responsabilidades aos entes federados 
através da identificação e mobilização da demanda, com garantia ao acesso e 
permanência (BRASIL, 1996). Em 2003, o Governo Federal criou a Secretaria 
Extraordinária de Erradicação do Analfabetismo, e lança o Programa Brasil 
Alfabetizado, que contempla os estudantes com os projetos Escola de Fábrica. que 
oferece formação profissional, PROJOVEM, que qualifica os jovens para o mercado 
de trabalho e para contribuir com as ações sociais, e o Programa de Integração da 
Educação Profissional ao Ensino Médio para Jovens e Adultos (PROEJA) (VIEIRA, 
2004). 
No século XX, com a criação do Ministério da Educação e Cultura (MEC), 
houve um avanço na educação de jovens e adultos. O MEC criou programas e 
projetos para promover a alfabetização e a educação básica para adultos. No 
entanto, esses programas e projetos ainda enfrentam desafios, como a falta de 
recursos, a baixa qualidade do ensino e a dificuldade de acesso à educação para 
pessoas em situação de vulnerabilidade social. O MEC, em 2007 aprova a criação 
do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB), o que resulta em 
que os recursos financeiros destinados à Educação atendam a todas as 
modalidades de ensino (BRASIL, 2007). Atualmente a sociedade vê os jovens e 
adultos analfabetos marginalizados, mas, quando o problema é apontado, a maioria 
foge da responsabilidade que tem em contribuir por uma sociedade mais justa. 
No Brasil, as políticas públicas não ouvem as vozes de quem realmente precisa, 
descumprindo os direitos que temos diante da Constituição de 1988. 
Frequentemente os programas criados não surtem o efeito definido em sua 
finalidade, ela não garante que os alunos estejam continuamente frequentando as 
aulas, o que o torna vítima de uma sociedade excludente e projetada para poucos 
privilegiados. 
 
5 POLÍTICAS PÚBLICAS E O DIREITO DO PRESO: EDUCAÇÃO E TRABALHO 
COMO GARANTIA DE DIGNIDADE PARA SOBREVIVÊNCIA 
 
De acordo com o Decreto nº 678, de seis de julho de 1850, é feito pela 
primeira vez a menção a uma educação intelectual formalizada destinada às 
pessoas em privação de liberdade, conforme se lê no artigo 167: “Crearseha logo 
que for possível em cada huma das divisões da Casa de Correcção huma escola, 
onde se ensinará aos presos a ler e a escrever, e as quatro operações de 
arithmetica” (BRASIL, 1850). Sabemos por meio do mesmo regulamento que: 
Art. 119. Ao Capellão da Casa de Correcção, alêm do que 
lhe fica encarregado pelos Art. 95, 97 e 99, incumbe o seguinte: 
1º Ajudar o Director na educação moral dos presos, e concorrer 
quanto em si couber para a sua correcção e reforma. 2º Visitar 
os presos, exhortando-os ao trabalho, e bom comportamento, ao 
menos huma vez por semana, e no meio della, alêm do dia de 
guarda que possa haver (Brasil, 1850). 
 
No Brasil, o modelo penal foi estabelecido a partir da adaptação dos sistemas 
penitenciários vigentes nos Estados Unidos e na Europa, durante o final do século 
XVIII até o início do século XIX (VASQUEZ, 2008). Durante períodos anteriores ao 
século XVIII, o Direito Penal tinha como principal característica castigos desumanos, 
que violentavam o corpo, e que não contribuíam na reflexão das próprias ações. A 
pena privativa de liberdade começa aparecer no fim do mesmo século, tendo como 
ponto de partida a aglomeração de pessoas, sem saneamento, alimentação e 
dignidade. 
As primeiras experiências da educação para jovens e adultos no sistema 
penitenciário do Brasil aconteceram em meados dos anos 50 do século passado, de 
forma voluntária, através de tentativas de ações pedagógicas isoladas. As unidades 
que aceitavam a experiência recebiam projetos de alfabetização, que aconteciam 
com recursos insuficientes e em espaços improvisados. O governo não fornecia 
material para contribuir com as práticas, o que obrigava as equipes idealizadoras da 
iniciativa arrecadavam doações para realizar as atividades. Foi a partir desse 
cenário que alguns Estados começaram a regulamentar os projetos, atribuindo 
demandas à escola próxima da unidade penal. Em muitos casos, a turma era 
coordenada pelos próprios reeducandos, pois o Estado não oferecia profissionais 
para ministrar as aulas. 
 
Embora o Brasil tenha recebido fortes influências europeias sobre a 
forma de punir, devemos igualmente levar em conta nessa época a 
vigência da escravidão, que veio alterar profundamente a implantação 
dos métodos punitivos, ou seja, associaram-se de modo indivisível nos 
regimentos penais prisão, suplícios e trabalho forçado até o final do 
século XIX. Tivemos no referido século uma transformação do 
conceito de pena, primeiro para a equação “pena-suplício físico”, 
“pena-privação de liberdade” e por último o paradigma “pena-
educação”, que tem introduzido a educação como forma de tratamento 
e restauração social das pessoas em privação de liberdade. No 
entanto, é curioso saber que o modelo “pena-educação” não é fato 
recente na história das instituições carcerárias de nosso país, havendo 
registros de seus primórdios nas casas de correção imperial 
(DUARTE; SIVIERI-PEREIRA, 2018, p. 346). 
 Observo que não basta apenas o decreto ou legislação serem oficiais, é 
preciso que o investimento chegue até as unidades a fim de equipar as salas e 
capacitar profissionais que contribuam com a autoestima e o desenvolvimento dos 
reeducandos. De norte a sul do país, é possível ouvir falar de experiências isoladas 
que foram se consolidando com o tempo em ações públicas de educação para 
jovens e adultos no sistema penitenciário. Assim, aos poucos, vão surgindo escolas 
nas unidades penais que oferecem desde aulas de alfabetização, de ensino 
fundamental e até de ensino médio em todo o país (JULIÃO, 2003). 
Em São Paulo, na década de 1970, há a criação da Fundação Prof. Dr. 
Manoel Pedro Pimentel (FUNAP), com a aplicação de aulas regulares de 
alfabetização nas unidades. Em 2005 o Brasil esse campo se expande com a 
articulação entre Ministério da Educação e da Justiça, com apoio ao Programa 
Nacional de Educação para o Sistema Penitenciário, e pela Secretaria de Educação 
Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD), que assume o tema como uma 
das suas demandas na política de educação (UNESCO, 2006). Em 2010 são 
aprovadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação no Sistema 
Prisional, pelo Conselho Nacional de política Criminal e Penitenciaria (CNPCP) e 
Conselho Nacional de Educação (CNE) (UNESCO, 2009). Com essas medidas se 
esperava que os Estados implementassem definitivamente a educação como direito 
dos reeducandos, reconhecendo-a como política pública da educação. 
 
A educaçãopara jovens e adultos no cárcere não é benefício, e 
sim direito previsto em Lei — Constituição Federal (BRASIL, 
1988), Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 
(LDBEN) (BRASIL, 1996) e Lei de Execução Penal (BRASIL, 
1984). 
 
Embora reconhecido o direito do preso à educação, segundo dados da 
SENAPPEN, em 2023 a quantidade total de pessoas no Sistema penitenciário do 
Brasil é de 839.672, mas apenas 21.432 estavam no processo de alfabetização nas 
respectivas unidades. Para além deste dado, são comuns relatos sobre 
superlotações, denúncias de abuso de poder e falta de investimento, o que impacta 
diretamente no funcionamento das escolas nas penitenciarias, resultando no não-
ganho da remição daquele dia, o que afeta diretamente o preso, quem mais precisa 
de atenção e respeito nesse momento. 
No Congresso Nacional, em junho de 2011, foi aprovada a Lei nº 12.433 
(BRASIL, 2011) que altera a Lei de Execução Penal, Lei nº 7.210 (BRASIL, 1984), 
para dispor sobre a remição de parte do tempo de execução da pena por estudo ou 
por trabalho. A aprovação desta Lei contribuiu com o incentivo à procura da escola e 
permanência nela, fortalecendo o movimento de alfabetização. Muitas vezes os 
próprios reeducandos ensinam uns aos outros, se ajudando, formando um ciclo de 
estudo, na busca por diminuir os dias da pena. Os que não são alfabetizados 
procuram a escola para participar das oportunidades oferecidas - às vezes só com o 
intuito de diminuir a pena, mas, às vezes, também para aprender algo novo e evoluir 
os pensamentos de forma crítica sobre a sociedade e sua própria existência. 
As tabelas a seguir mostram os investimentos na educação para cada preso 
por Estado do país, e o grau de escolaridade do Brasil de forma mais ampla. Ao 
analisar esses dados, e vivenciar o sistema penitenciário diariamente, posso afirmar 
que esses investimentos declarados no site da transparência da SENAPPEN são 
criticáveis. A partir da superlotação, a intenção de castigo se torna muito forte dentro 
dos muros das prisões. A intenção de tornar os internos submissos leva os agentes 
penitenciários a agirem com abuso de poder. Para Michel Foucault (2001), o sujeito 
é sempre o resultado de uma prática, ou seja, o sujeito é sempre fabricado. Desta 
forma ao analisar os dados, penso que a exclusão social é uma prática 
conservadora e reacionária enraizada em algumas pessoas, que ainda defendem a 
“limpeza da sociedade” através de hábitos que fortalecem a miséria e o 
esquecimento. As escolas estão cada vez mais precárias, a fome prevalece a todo 
instante, e a criminalidade aumenta dia após dia. 
 
figura 1: Escolaridade do Preso 
Fonte: SENAPPEN, junho/2023. 
 
Os dados apresentados acima apontam uma quantidade pequena de pessoas 
iletradas para um país imenso como o Brasil. Como acreditar que há apenas 14.385 
analfabetos presos em todo o país? Só quem está lá dentro sabe da realidade real 
de cada região. Assim como estes dados, muitos outros são provavelmente 
“maquiados” a fim de cumprir com as metas solicitadas. 
 É importante refletir também sobre o papel que a escola tem a desempenhar 
o ambiente em que ela está inserida é controlado e dominado por autoridades que 
exigem a submissão humana. Entendemos que a escola no Brasil não deixa de 
servir o mercado e, infelizmente, sua finalidade atual é formar mão de obra para 
atender as necessidades do mercado de trabalho. 
 
Figura 2: Atividades Educacionais 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: SENAPPEN, junho, 2023 
 
A educação é essencial para o desenvolvimento pessoal e profissional dos 
indivíduos. No entanto, a educação prisional no Brasil ainda enfrenta muitos 
desafios, como a falta de recursos financeiros, a ausência de profissionais 
qualificados e a superlotação das prisões. Esses desafios contribuem para o 
esvaziamento social da educação prisional, tornando-a incapaz de cumprir seu papel 
de ressocialização e alfabetização nas unidades. 
A falta de recursos financeiros é um dos principais desafios da educação 
prisional no Brasil. De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ, 2021), o 
Brasil gasta, em média, R$ 1.373,00 por mês com as necessidades de cada pessoa 
privada de liberdade no Estado de São Paulo. Essa quantia é insuficiente para 
garantir, saneamento básico, higiene, limpeza, alimentação e educação de 
qualidade. A figura a seguir ilustra os valores investidos por preso em cada Estado: 
 
 
Figura 3: Custo Mensal de investimento por preso 
Fonte: CNJ, 2021, Calculando Custos Prisionais: Panorama Nacional e Avanços 
Necessários 
 
A educação prisional é essencial para a reinserção social das pessoas 
privadas de liberdade, pois pode ajudá-las no desenvolvimento de novas habilidades 
e competências, o que facilita sua reintegração social após o cumprimento da pena. 
No entanto, os desafios a se enfrentar vão além da educação, e esses obstáculos 
dificultam a sua implementação efetiva, o que contribui para o aumento da 
criminalidade e da violência. 
 
É preciso valorizar uma concepção educacional que 
privilegie e ajude a desenvolver potencialidades e 
competências que favoreçam a mobilidade social dos 
internos e não os deixem se sentir paralisados diante 
dos obstáculos que serão encontrados (JULIÃO, 2009). 
Assim como Julião aponta, sem preparo os reeducandos saem das unidades 
prisionais estigmatizados, com isso se inferiorizam e acabam reincidindo. A 
importância da valorização das capacidades desenvolvidas por cada um que 
passou pelo sistema prisional se torna indispensável no processo de reinserção 
social. 
 
6 OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL NO ESTADO DE 
SÃO PAULO 
 
É de responsabilidade do Estado garantir os direitos (obrigatório e gratuito) aos 
reeducandos: "Incumbe ao Estado o dever de assistência ao preso com o objetivo 
de prevenir o crime e orientar o seu retorno à convivência em sociedade (LEP, art. 
10). Uma das formas desta assistência é a educacional (LEP, art. 11, inc. IV), que 
compreenderá a instrução escolar e a formação profissional do preso (LEP, art. 17), 
sendo que o ensino de primeiro grau ou fundamental será obrigatório (LEP, art. 18)." 
 
A educação é um direito social de todos (CF, art. 6º), inclusive do preso (LEP, 
art. 41,inc. VII), e dever do Estado, que deve promover o "pleno desenvolvimento da 
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o 
trabalho" (CF, art. 205), sendo o seu acesso uma das formas de realização da 
democracia para concretização do Estado Democrático de Direito. Por ser um direito 
social, o objetivo não é uma prestação individualizada, mas a realização de políticas 
públicas, com sua titularidade estendendo-se aos grupos vulneráveis (DUARTE, 
2006, p. 271). 
Para contribuir com o processo formativo, a educação auxilia no 
desenvolvimento das relações sociais e interpessoais de cada ser humano, 
possibilitando a autorreflexão a fim de entender seu posicionamento político, seus 
direitos e seu lugar de pertencer a sociedade, e essa transformação acontece 
através da formação cultural e intelectual. No ambiente prisional, a educação tem o 
papel de nortear novas perspectivas de ações diante da sociedade, através de um 
olhar mais crítico, estimulando o diálogo, as trocas de ideias baseadas no respeito, a 
criatividade a autoconfiança entre outras ações que valorizam as potencialidades do 
indivíduo de forma única. O Estado como fonte “organizacional” de atuação nos 
presídios, carrega a grande responsabilidade de administrar as políticas públicas 
que norteiam as ações desenvolvidas nesse espaço. No entanto, é imprescindível 
observar o quanto os presídios no Brasil são negligenciados, e fica evidente que o 
Estado não está cumprindo o seu papel. As necessidades identificadas deixam claro 
que o objetivo principal da reinserção social não está acontecendo, e que os 
reeducandos utilizamesse espaço para criar grupos que vão na contramão da 
convivência harmoniosa e saudável em sociedade. É importante ressaltar que a 
cidadania está relacionada às políticas públicas e que esta está relacionada 
diretamente às necessidades sociais, cujos interesses são garantidos pelos Direitos 
dispostos na Constituição Federal. 
A princípio o direito primordial garantido ao reeducando é o de cursar o ensino 
fundamental, o que garante a ele conseguir se comunicar com a família através de 
cartas e possibilita melhor relacionamento com as autoridades e comportamento 
social. Subsequentemente, o reeducando alcança novas oportunidades por meio 
dos projetos educacionais, como terminar o ensino médio, participar de cursos de 
capacitação, fomentando a produção de conhecimento e a valorização aos direitos 
humanos. Além de oferecer os cursos, é de suma importância que os profissionais 
que trabalharão nesta área, tenham formação adequada, e contínua, para 
desenvolver atividades que ajude na emancipação dos reeducandos e atendam à 
finalidade da reinserção social. Valorizar os professores em todas as categorias é 
indispensável, porém, os menos vistos na educação prisional são os que estão por 
trás das grades. A articulação do Estado é justamente colocar para trabalhar nesses 
espaços pessoas que defendem a punição corpórea, que tratarão os apenados mal, 
com ofensas, e muita violência. Se fossem tratados de forma diferente, talvez as 
coisas pudessem começar a melhorar, por ser um ambiente controlado por duas 
faces, o Estado de um lado, e o crime organizado, de outro, com esses dois lados 
brigando constantemente por poder, resultando no fechamento de portas para 
avanços no cuidado dos reeducandos. 
Sendo a reinserção social um dos principais objetivos das unidades prisionais 
no Brasil, a educação e o trabalho se tornam a base para todo esse caminho de 
novas conquistas para aqueles que estão dispostos a começar uma vida com mais 
dignidade. Porém, diante da realidade do sistema penitenciário brasileiro, o discurso 
de reinserção social e a garantia de direitos passa longe de alcançar a finalidade da 
proposta dos projetos de educação. O grande desafio é a superlotação, a falta de 
estrutura, desvalorização dos professores e o tratamento desumanizado que é 
oferecido. Sendo assim, se abre uma menor possibilidade de eficácia de reinserção, 
o que resultará em provável aumento na reincidência nas infrações penais. 
Como pressupor que o indivíduo que está preso possa 
ressocializar-se e ser reintegrado ao sistema produtivo se não 
há a menor possibilidade de que aprenda um ofício e possa 
trabalhar no interior do sistema penitenciário? Como pensar em 
dar trabalho ao homem encarcerado, se bem que este é um 
direito do preso sempre propalado pelo discurso jurídico, se 
não há trabalho para os indivíduos que não cumprem pena, se 
o desemprego é absoluto? Como colocar em funcionamento 
real a ideia de ressocializar pessoas que estão sob o poder de 
controle direito do Estado, se o binômio que fundamenta o 
sistema penitenciário ou qualquer instituição correcional é o 
binômio disciplina/segurança, e não trabalho/educação? 
(CAPELLER 1985, p. 132) 
 
O Estado deve promover mecanismos que possibilitem a socialização entre 
os reeducandos, o que me faz refletir sobre que tipo de educação está sendo 
oferecida nas escolas das unidades prisionais. Será que os profissionais estão 
capacitados para esta função? A qualidade do ensino precisa ter como principal 
objetivo a emancipação do reeducando, o que contribuirá diretamente no 
desenvolvimento humanizado, formando cada um para exercitar a cidadania, de 
forma libertadora a fim de que cada sujeito possa transformar sua realidade social, 
superando a exclusão imposta pela desigualdade social. 
O trabalho prisional voltado à ocupação e capacitação dos presos 
tem-se revelado do ponto de vista administrativo e burocrático 
praticamente inadministrável pela gestão prisional. Em geral, tal 
atividade está entregue a fundações, fundos e até organizações da 
sociedade, sem que os gestores diretos da custódia tenham poder 
decisório sobre os tipos de atividades de trabalho, escoamento dos 
produtos e etc. A estrutura administrativa de órgãos como as 
fundações implica, em tese, numa agilidade maior nos negócios, no 
entanto, a convivência difícil destes órgãos paralelos como o poder 
decisório dos gestores prisionais tem obstaculizado a dinâmica do 
trabalho prisional. (LEMGRUBER, 2004, p.327). 
 
A expansão da formação cultural e intelectual, por meio da visão crítica de 
mundo, auxilia os reeducandos na compreensão da garantia dos direitos e no 
acesso aos projetos ofertados nas unidades prisionais. A EJA, responsável pelos 
componentes fundamentais de ensino nas unidades prisionais, apresenta em suas 
práticas a relação entre os recursos materiais e humanos, e a partir daí o cotidiano 
na escola se desenvolve (ou não) com base em uma educação de qualidade, 
buscando valorizar os reeducandos, suas habilidades e capacidades de 
aprendizagem. 
A educação no sistema prisional brasileiro enfrenta diversos desafios, incluindo a 
invisibilidade. Os reeducandos são frequentemente vistos como uma população 
marginalizada, que não merece ou não tem capacidade de aprender. Essa visão é 
reforçada por uma série de fatores, como: 
 
• A alta taxa de analfabetismo e de baixa escolaridade da população carcerária: 
Segundo dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública, 58% dos 
presos brasileiros não concluíram o ensino fundamental. 
• A falta de recursos e de infraestrutura adequada para a oferta de educação 
nas prisões: Muitas unidades prisionais não possuem salas de aula, 
bibliotecas ou outros equipamentos necessários para a educação. 
• A falta de articulação entre os sistemas prisional e educacional: O sistema 
prisional não está integrado ao sistema educacional, o que dificulta o acesso 
dos presos à educação de qualidade. 
• A invisibilidade da educação no sistema prisional brasileiro tem um impacto 
negativo na ressocialização dos presos. Sem acesso à educação, os presos 
têm menos chances de encontrar um emprego após saírem da prisão, o que 
aumenta o risco de reincidência criminal. Para superar o desafio da 
invisibilidade, é necessário promover uma mudança de mentalidade na 
sociedade. É preciso reconhecer que os presos são pessoas que têm direito à 
educação e que a educação é um instrumento fundamental para a 
ressocialização. 
• A falta de recursos financeiros: a educação prisional é uma política pública 
que exige recursos financeiros para sua implementação. No entanto, o 
sistema prisional brasileiro é cronicamente subfinanciado. 
• A ausência de profissionais qualificados: a educação prisional exige 
profissionais qualificados para atuarem no ambiente prisional. No entanto, a 
falta de formação específica para a educação prisional é um problema 
recorrente. 
• A superlotação das prisões, que dificulta a oferta de educação de qualidade. 
Em muitas prisões, as salas de aula são improvisadas e os professores 
precisam lidar com número excessivo de alunos. O sistema prisional brasileiro 
é cronicamente superlotado. Em setembro de 2023 a SENAPPEN divulgou o 
total de apenados no Brasil, sendo 644.794 em celas físicas e 190.080 em 
prisão domiciliar. Em uma de minhas atuações observei que a disposição de 
vagas era de 12 pessoas por cela, mas sua ocupação ultrapassava as 34 
pessoas por cela. Essa situação dificulta a oferta de educação de qualidade, 
pois as salas de aula são improvisadas e os professores precisam lidar com 
um grande número de alunos, sem recursos adequados para atender aos 
reeducandos. 
Assumindo diferentes contornos e incidindo sobre múltiplos 
aspectos, esse processo teve como uma das suas mais 
importantes marcas a intenção de forjar os futuros cidadãos, 
desdobrando-se em dispositivos civilizatórios, configuradoscom vistas a garantir a socialização das crianças. A difusão da 
escolarização não se deu sem uma intervenção sobre o corpo 
e a mente infantis, balizada pelo afã de produzir um 
conhecimento científico sobre as crianças, o qual deveria 
orientar a organização da instituição escolar e os 
procedimentos pedagógicos (Marques; Pimenta, 2003, p. 45-
49). 
 
7 EMANCIPAÇÃO X ADESTRAMENTO: A EDUCAÇÃO COMO PRINCIPAL 
FERRAMENTA NO PROCESSO DE REINSERÇÃO SOCIAL 
Apesar de muitas tentativas de tornar o sistema de reinserção social eficaz 
(tentativas feitas pelo Estado, sem finalidade alguma), ele ainda continua dentro das 
diretrizes do conservadorismo. Em 2011, a Lei 12.433 alterou o artigo 126 da LEP e 
acrescentou que os estudos poderiam contribuir para a redução da pena, se 
cumpridas 12 horas de estudo em 3 dias, desde que a pessoa estivesse matriculada 
em uma das etapas oferecidas pela unidade, ou seja, ensino fundamental, médio, 
profissionalizante ou superior, e com isso, o reeducando reduziria 1 dia em sua 
pena. Esse espaço que a educação conquistou nos mostra o quanto pode incentivar 
os indivíduos a buscar novos caminhos. Já em 2021 foi aprovada pelo Plenário a 
decisão que favorece o reeducando através da leitura, acompanhada por síntese da 
história, ampliando as possibilidades de reinserção social, e desenvolvimento de 
novos conhecimentos. Vejamos a ementa: 
AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. REMIÇÃO DE 
PENAS. APROVAÇÃO NO ENCCEJA. POSSIBILIDADE. ART. 126 
DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL. RECOMENDAÇÃO 44/2013 DO 
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. BASE DE CÁLCULO. 
RESOLUÇÃO 3/2010 DO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO 
EM CONJUGAÇÃO COM A LEI 9.394/1996. INTERPRETAÇÃO MAIS 
BENÉFICA À AGRAVANTE. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE DÁ 
PROVIMENTO. I – A tese defensiva encontra respaldo na legislação 
de regência, pois, para o cálculo de dias remidos pelo estudo, a 
Recomendação 44, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), orienta-se 
pelos parâmetros previstos na Resolução 3/2010, do Conselho 
Nacional de Educação (CNE), a qual, todavia, deve ser conjugada com 
a carga horária prevista na Lei 9.394/1996, por tratar-se de 
interpretação mais benéfica à recorrente. II – Agravo regimental a que 
se dá provimento. (STF - HC: 190806 SC 0101977-48.2020.1.00.0000, 
Relator: RICARDO LEWANDOWSKI, Data de Julgamento: 
30/03/2021, Segunda Turma, Data de Publicação: 02/06/2021). 
Desta forma, fica evidente que os programas de atenção aos reeducandos 
contribuem positivamente no processo de reflexão das ações e busca por novas 
possibilidades de existência. Ocupar o ócio é uma tarefa quase impossível, quando 
pensamos nas celas disponíveis para agrupar e receber os condenados pela lei, que 
são espaços limitados, frequentemente superlotados, e, muitas vezes, impossíveis 
de abrigar qualquer ação de ressocialização. Os espaços disponíveis para a escola 
até conseguem oferecer algumas aulas, mas, como citado durante o texto, os 
recursos e materiais não estão chegando ao seu destino, dificultando alcançar maior 
número de unidades prisionais. A educação, sendo ela o maior fomento de formação 
cidadã, merece mais investimentos nas casas de detenção. Melhorar a estrutura e o 
tratamento com os apenados contribuiria com a melhora do convívio: é evidente que 
quando tratamos alguém bem, o clima social muda, o ambiente é transformado pela 
alegria e respeito. Esse é o grande poder que a educação tem, ela transita pelos 
lugares com humildade, ela está nos piores e melhores ambientes do planeta, 
sempre na tentativa de proporcionar melhores condições de vida e convívio social. A 
Educação de Jovens e Adultos deve fundamentar-se na consciência da realidade 
cotidiana. Não no conhecer letras, palavras ou frases..., o processo de alfabetização 
não pode se dar sobre, nem para o educando, ele tem que se dar com o educando. 
Há que se estimular nele a colaboração, a decisão, a participação e a 
responsabilidade social e política. Isso horrorizou, quase à todos os presentes, e 
Paulo Freire disse: 
“Não, o aluno deve conhecer-se enquanto sujeito e conhecer os 
problemas que o aflige no dia a dia. Portanto, o aluno deve programar 
em parte o que num período ele quer aprender. E aprender não se 
aprende. Não é uma educação bancária. Não se aprende tentando 
depositar numa cabeça vazia uma porção de conhecimento. Conhecer 
é um ato que é aprendido existencialmente, na existência, no 
cotidiano, pelo conhecimento local (FREIRE, A. M. A., 2001, p. 10). 
 Com isso, Paulo Freire mostrou o respeito ao conhecimento popular, ao 
senso comum. Ele tinha ouvido o povo. Aparece aí Paulo Freire como o pedagogo 
dos oprimidos, sem ter ainda escrito “A Pedagogia do Oprimido”. Estimular um 
reeducando através da educação significa possibilitar que ele conheça o mundo, 
confie em si, e veja a sociedade como uma oportunidade de construir caminhos 
saudáveis junto aos demais. No entanto, o próprio discurso jurídico envolve 
contradições que são estruturais: 
O discurso jurídico sobre a ressocialização e consequentemente, a 
construção do conceito, nasceu ao mesmo tempo que a tecnificação 
do castigo. Quando o “velho” castigo, expresso nas penas 
inquisitoriais, foi substituído pelo castigo “humanitário” dos novos 
tempos, por uma nova maneira de disposição dos corpos, já não 
agora dilacerados, mas encarcerados; quando se cristaliza o sistema 
prisional e a pena é, por excelência, a pena privativa de liberdade; 
quando se procura mecanizar os corpos e as mentes para a disciplina 
do trabalho nas fábricas, aí surge, então, o discurso da 
ressocialização, que é em seu substrato, ou retreinamento dos 
indivíduos para a sociedade do capital. Neste sentido, o discurso dos 
"bons" no alto da sua caridade, é o de pretender recuperar os "maus" 
(CAPELLER, 1985, P.131). 
Ao aprisionar a liberdade de pensamento de um indivíduo, este se torna um 
dos piores castigos. Nem mesmo a educação é capaz de confrontar esse momento. 
Qualquer diploma alcançado no ambiente prisional, durante o tempo que o 
reeducando estiver ali, não terá validade alguma, neste espaço de submissão, ter 
qualquer grau de escolaridade não tem valor nenhum, como diz alguns alunos “ao 
entrar no sistema você deixa de ser pessoa, não vale nada até sair”, toda 
qualificação que aprendem ali só será utilizada posterior ao cumprimento da medida 
ressocializadora, é contraditório o funcionamento dessa instituição. Se por um lado a 
intenção da educação é capacitar, e valorizar os sujeitos, por outro ela é manipulada 
para captação e desvio de verbas públicas, o que reverbera na precariedade que já 
citamos nos capítulos anteriores. Portanto, como cita Freire (1996, p.15) o 
pensamento crítico é o alicerce da emancipação. [...] a educação pode tanto reforçar 
a reprodução da ideologia dominante, quanto, por meio da prática educativa-crítica, 
desmascarar essa ideologia. Liberdade existencial! 
 
7.1 PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO OFERECIDOS PELO ESTADO DE SÃO 
PAULO 
A FUNAP - Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso – foi criada em 22 de 
dezembro de 1976, por meio da Lei Estadual 1238, com seu estatuto aprovado pelo 
Decreto nº 10.235, constituindo-se como uma Fundação de direito e fins públicos, 
vinculada primeiramente à Secretaria de Segurança Pública tendo nas suas 
prerrogativas e objetivos estatutários obrigação na elevação do nível moral e 
material do preso e colaboração com a Coordenadoria dos Estabelecimentos 
Penitenciários (COESPE) na assistência aos reclusos. Essa Fundação passou a ser 
cobrada pelos dirigentes, para que auxiliasse na garantia e na implantação de 
atividades laborais, educativas e culturais, sendo que em um primeiro momento, de 
forma não-oficial, (FUNAP, 1995), as ações educacionais se voltaram para que essa 
administração estivesse a frente da educação nas unidades. A Fundação investiu 
nas escolas prisionais do estado com recursos e materiais, e contratouos próprios 
reeducandos para estagiar nas escolas. A FUNAP como administradora da 
educação assumiu a responsabilidade de se distanciar da gestão prisional com suas 
práticas exclusivamente em caráter educativo, lúdico, pedagógico e crítico. 
A partir dessa iniciativa, muitas questões começaram a aparecer. A principal 
delas é o controle da gestão penitenciária e da escola que funciona no espaço 
prisional. As contradições entre tratamentos e comportamentos pelos dois lados 
geravam conflitos e, infelizmente, a posição da área da educação estava em 
desvantagem, correndo riscos de ser cancelada, por supostamente oferecer “riscos” 
a organização disciplinar que o cárcere oferece. Para isso reuniões de alinhamento 
começaram a surgir. Porém, a manifestação da Secretaria de Segurança foi a de 
submissão da FUNAP às normas das unidades, em troca de “considerações dos 
Direitos Humanos”. Segundo Rusche (1995, p.57) faltava buscar uma metodologia 
que atendesse aos objetivos do trabalho em relação ao homem preso e que 
correspondesse às reais necessidades dos nossos alunos, além de atentar para as 
características próprias de um sistema prisional com diferentes tipos de 
estabelecimentos penais e uma alta taxa de rotatividade dos presos. Sendo assim, é 
fundamental a capacitação dos profissionais da educação para atender as escolas 
prisionais, além de disponibilizar também cursos preparatórios para os reeducandos 
que trabalharão na educação. A criação de condições adequadas para o 
desenvolvimento da aprendizagem, a valorização das potencialidades dos 
reeducandos, a preparação para o exercício da cidadania, o estimular a consciência 
de cada um como base na participação ativa na sociedade, podem resultar em 
sujeitos transformadores, libertados do condicionamento econômico e controlador 
em que vivemos e essa emancipação se dá através da superação da condição. 
Desta forma, a educação tende a negar tudo aquilo que a penitenciária propõe como 
processo educativo e reintegrador do reeducando. 
No interior das prisões, a metodologia é o fator diferencial do trabalho educativo, 
na medida em que possibilita a constituição desse trabalho enquanto uma das 
possibilidades concretas para a preservação dos indivíduos punidos pela 
subjugação carcerária (PORTUGUÊS, 2001 p.141). 
 
 
7.2 O PROJETO FUNAP - FUNDAÇÃO DE AMPARO AO TRABALHADOR 
PRESO 
 
O Projeto FUNAP Educação Prisional é uma iniciativa da Fundação Professor 
Manoel Pedro Pimentel (FUNAP), órgão responsável pela administração da 
Educação do sistema prisional do Estado de São Paulo. O projeto tem como objetivo 
promover a educação prisional, visando a ressocialização das pessoas privadas de 
liberdade. 
Os benefícios do Projeto FUNAP Educação Prisional são diversos, tanto para as 
pessoas privadas de liberdade quanto para a sociedade como um todo. Para as 
pessoas privadas de liberdade, os benefícios incluem: 
• Acesso à educação: O projeto oferece cursos de ensino fundamental, médio e 
profissionalizante, atendendo às necessidades e interesses dos alunos. 
• Desenvolvimento pessoal e profissional 
• Redução da reincidência: Estudos mostram que a educação prisional pode 
contribuir para a redução da reincidência criminal. 
Para a sociedade, os benefícios incluem: 
• Redução da criminalidade: A educação prisional pode contribuir para a 
redução da criminalidade, pois pode ajudar a prevenir a reincidência criminal. 
• Construção de uma sociedade mais justa: A educação prisional pode 
contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, pois pode ajudar a 
reintegrar as pessoas privadas de liberdade na sociedade. 
O Projeto FUNAP Educação Prisional é uma iniciativa importante para a 
promoção da educação prisional no Brasil. O projeto tem o potencial de contribuir 
para a ressocialização das pessoas privadas de liberdade e para a redução da 
criminalidade. 
O Projeto é um exemplo de que a educação prisional pode ser uma ferramenta 
eficaz para a ressocialização das pessoas privadas de liberdade e para a redução 
da criminalidade. Alguns dos programas ativos no Estado de São Paulo: 
• Escola de Empreendedorismo em Arte – ARCOS 
• Programa de Alocação de Mão de Obra 
• Programa de Assistência Jurídica Suplementar – JUS 
• Programa de Capacitação e Qualificação Profissional 
• Programa de Desenvolvimento Humano e Cultural 
• Programa de Educação para o Trabalho e Cidadania 
• Programa de Incentivo à Leitura – “Lendo a Liberdade” 
Apesar dessa iniciativa tentar contribuir significativamente na recuperação dos 
reeducandos, suas ações se tornam limitadas diante do controle econômico e 
reacionário do Estado. Portanto fica evidente que, sem investimento adequado, e 
comprometimento com o progresso social, físico e intelectual dos reeducandos, o 
sistema prisional continuará sendo um espaço conservador, que utiliza o ser 
humano como fonte de mão de obra barata para benefício próprio. 
 
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
O tema educação e trabalho como proposta de reinserção social para os 
reeducandos do sistema penitenciário ainda é pouco explorado por estudiosos. Por 
isso, pesquisas que são importantíssimas para contribuir com o processo de 
melhorias nessa área. A relevância dessa discussão ressalta o quanto a educação 
desde o princípio da vida é de extrema importância. Infelizmente durante minha 
trajetória de acompanhamento dos reeducandos, e no período da pesquisa não 
presenciei investimentos ou melhorias no sistema prisional, e a escola foi tratada 
como secundária, deixando claro o quanto a educação nesse ambiente é indiferente. 
O que compreendi foi o quanto o trabalho é discutido, mas não com intenção de 
contribuir com a recuperação do reeducando: o foco parece ser o da utilização de 
mão-de-obra barata. A educação e o trabalho são direitos reservados aos 
reeducandos, segundo a LEP, mas não são reconhecidos como especificados na 
Constituição. A seleção dos estudantes e trabalhadores demora muito, e muitas 
vezes o preso cumpre a pena na fila para entrar na escola. O descaso no ambiente 
prisional é infinitamente gigante, mas os repasses financeiros são realizados 
mensalmente, e “direitinho”, conforme publicado no Portal da Transparência e na 
prestação de contas da SENAPPEN. 
Nesse sentido acredito ser necessário: (1) garantir os direitos dos reeducandos; 
(2) modificar as estruturas prisionais e sua forma de tratamento diante do 
comportamento do reeducando; (3) acompanhamento psicológico para todos os 
internos que necessitarem; (4) ampliar vagas na escola e seu espaço físico; (5) 
investimento em todos os setores que trabalham nesse ambiente; (6) programas 
integrados a empresas a fim de garantir trabalho digno após o cumprimento da 
medida; (7) acompanhamento após o reeducando sair do sistema prisional; (8) 
qualificar os profissionais que trabalharão no sistema prisional; (9) ressignificação do 
ambiente prisional, o que implica mais investimento em limpeza, educação, 
dignidade e valorização do ser humano enquanto ser histórico-social. São muitas as 
considerações a serem colocadas nesta monografia para que o sistema prisional no 
Brasil possa começar a ter efeitos, mas o principal de todos é o investimento em 
educação na infância, a fim de prevenir a desigualdade social e a criminalidade. 
A superação dos desafios da educação prisional no Brasil é uma tarefa 
complexa, mas essencial para a construção de uma sociedade mais crítica e 
acolhedora. É importante destacar que, para se alcançar a finalidade da medida 
ressocializadora, são necessárias mudanças nas políticas públicas que administram 
a estrutura do sistema prisional, pois se formos depender apenas da punição, não 
será obtido o resultado esperado e proposto no projeto das penitenciárias. O ato de 
educar, reeducar, emancipar, e humanizar o indivíduo que está privado de liberdade 
evitará que ele volte a praticar crimes, mas também ele precisa

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