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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E EDUCAÇÃO LICENCIATURA EM PEDAGOGIA Flavia Negretti Bezerra EDUCAÇÃO PRISIONAL: A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE REINSERÇÃO SOCIAL DE PESSOAS PRIVADAS DE LIBERDADE Sorocaba 2023 Flavia Negretti Bezerra EDUCAÇÃO PRISIONAL: A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE REINSERÇÃO SOCIAL DE PESSOAS PRIVADAS DE LIBERDADE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Licenciatura em Pedagogia, do Departamento de Ciências Humanas e Educação (DCHE) da Universidade Federal de São Carlos Campus Sorocaba, para obtenção do título de licenciada em Pedagogia. Orientação: Profº. Drº Marcos Garcia Sorocaba 2023 FOLHA DE APROVAÇÃO FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS COORDENAÇÃO DO CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA - CCPedL- So/CCHB Rod. João Leme dos Santos km 110 - SP-264, s/n - Bairro Itinga, Sorocaba/SP, CEP 18052-780 Telefone: (15) 32295978 - http://www.ufscar.br DP-TCC-FA nº 6/2024/CCPedL-So/CCHB Graduação: Defesa Pública de Trabalho de Conclusão de Curso Folha Aprovação (GDP-TCC-FA) FOLHA DE APROVAÇÃO FLÁVIA NEGRETTI BEZERRA EDUCAÇÃO PRISIONAL: A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE REIN- SERÇÃO SOCIAL DE PESSOAS PRIVADAS DE LIBERDADE Trabalho de Conclusão de Curso Universidade Federal de São Carlos – campus Sorocaba Sorocaba, 7 de fevereiro de 2024 ASSINATURAS E CIÊNCIAS Cargo/Função Nome Completo Orientador Prof. Dr. Marcos Roberto Vieira Garcia Membro da Banca 1 Prof.ª Dr.ª Rosa Aparecida Pinheiro Membro da Banca 2 Prof. Dr. Gilberto Geribola Moreno Documento assinado eletronicamente por Rosa Aparecida Pinheiro, Professor(a) Efetivo(a), em 14/02/2024, às 17:32, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015. Documento assinado eletronicamente por Marcos Roberto Vieira Garcia, Professor(a), em 15/02/2024, às 18:43, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015. Documento assinado eletronicamente por Gilberto Geribola Moreno, Professor(a) Efetivo(a), em 16/02/2024, às 11:49, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015. A autenticidade deste documento pode ser conferida no site https://sei.ufscar.br/autenticacao, informando o código verificador 1335130 e o código CRC D27F6BE8. Referência: Caso responda a este documento, indicar expressamente o Proces- so nº 23112.001588/2024-32 SEI nº 1335130 Modelo de Documento: Grad: Defesa TCC: Folha Aprovação, versão de 02/Agosto/2019 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Decreto/D8539.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Decreto/D8539.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Decreto/D8539.htm https://sei.ufscar.br/autenticacao?cv=1335130&crc=D27F6BE8 Dedico este trabalho a todos aqueles que amam a liberdade, que se organizam e revolucionam sua existência. Agradecimentos Agradeço aos meus pais, por terem me ensinado a estudar, e o conceito dessa ação. Ao meu companheiro Vinicius que, mesmo estando longe de mim neste momento, me deu força e me ajudou em muitos aspectos desta monografia, e à minha sogra que não me deixou desistir da graduação. É preciso muito estudo para fazer qualquer coisa. Hoje entrego esta escrita após ter oportunidades que só foram possíveis através da Universidade. Agradeço a mim por todo o esforço e por não desistir! Obrigada filha, Lua, que, em sua ingenuidade, me ajuda a ser uma pessoa melhor a cada segundo, a ver a vida com alegria independente da situação, ao companheirismo dessa jornada. Sobrevivemos à pandemia, e agora nessa reta final, muitos passeios, graffitis, sorvetes, piscinas e muita diversão teve que ser cancelada pra que eu pudesse me dedicar a minha escrita. Obrigada pela compreensão do silencio, e pelos lanchinhos-surpresa que me deram força nas madrugadas escrevendo. Agradeço à UFSCAR pela oportunidade, além da vaga, por aceitar estudantes com base na nota do Enem, essa porta é a melhor de se atravessar! Todas as noites enquanto jantava no RU pensava o quanto iria sentir saudade dali, e o quanto eu fui feliz e brava no campus, e hoje escrevendo essas linhas sinto a saudade que eu tanto temia, sair da graduação vai deixar um vazio, mas quem sabe eu não volto em breve para fazer o mestrado?! O tema já temos: Educação Prisional. Obrigada aos meus professores, que sempre estiveram prontos a tirar minhas dúvidas, e a orientar novos horizontes nas pesquisas, e no incentivo a minha capacidade. Sou grata à vida que tenho, às oportunidades que se abrem e as que vou atrás, porque é com determinação, humildade e resistência que conquistarei meu espaço nessa sociedade dominada pelo egoísmo e por cifrões. “Sempre que a moralidade baseia-se na teologia, sempre que o correto torna-se dependente da autoridade divina, as coisas mais imorais, injustas e infames podem ser justificadas e impostas.” LUDWIG FEUERBACH RESUMO BEZERRA, Flavia Negretti. EDUCAÇÃO PRISIONAL: A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE REINSERÇÃO SOCIAL DE PESSOAS PRIVADAS DE LIBERDADE. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Pedagogia) - Universidade Federal de São Carlos, Sorocaba - SP, 2023. A educação prisional, sendo ela EJA, representa um dos grandes desafios à educação. Pretendemos discutir aqui algumas contribuições e limites sobre o processo de reinserção social de pessoas privadas de liberdade, baseada em minhas experiências neste contexto. Deste modo, observaremos se a instituição realizou sua função de "reeducar" um cidadão, a fim de diminuir o índice de reincidência. A pesquisa foi realizada através do estudo da Lei de Execução Penal, bibliografia e pela experiência durante minha trajetória de 2010 a 2023, na qual ainda sou atuante, na área através de Projetos oferecidos pela Associação na qual estou inserida. Se a educação prisional deve ser ofertada com a finalidade de reinserir os indivíduos na sociedade com visão de transformação, é necessário que os docentes motivem os reeducandos através do respeito mútuo, sendo de extrema importância considerar a história de cada indivíduo. Sabemos que o sistema punitivo não é eficaz, portanto, é necessário que o investimento na educação prisional aconteça de forma integral, pois só assim será possível apoiar o desenvolvimento das potencialidades humanas e libertadoras, superando o estigma e a exclusão social. Palavras-chave: Educação prisional, Reinserção social, Educação Jovens e Adultos no sistema penitenciário. ABSTRACT BEZERRA, Flavia Negretti. PRISON EDUCATION: THE IMPORTANCE OF EDUCATION IN THE PROCESS OF SOCIAL REINSERTION OF PEOPLE DEPRIVED OF FREEDOM. Course Completion Work (Degree in Pedagogy) - Universidade Federal de São Carlos, Sorocaba - SP, 2023. Prison education, being EJA, represents one of the greatest challenges to education. We intend to discuss here some contributions and limits on the process of social reintegration of people deprived of their liberty, based on my experiences in this context. In this way, we will observe whether the institutionde oportunidades para praticar as habilidades desenvolvidas no ambiente educacional da unidade em que esteve. Por isso é de extrema urgência a criação de núcleos que apoiem o pós- cárcere, viabilizando subsistência, moradia, ocupação, e autoconfiança, na prática de suas ações diante do convívio interpessoal. Por fim, é necessário que os núcleos ofereçam atenção adequada aos reeducandos e que as oportunidades oferecidas atendam a demanda encaminhada das unidades, a fim de proporcionar continuamente acompanhamento durante o processo de reinserção social. 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Lei nº. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e 2º graus, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 ago. 1971. 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The research was carried out through the study of the Penal Execution Law, bibliography and through experience during my career from 2010 to 2023, in which I am still active, in the area through Projects offered by the Association in which I am part. If prison education must be offered with the aim of reinserting individuals into society with a vision of transformation, it is necessary for teachers to motivate those re-educated through mutual respect, and it is extremely important to consider the history of each individual. We know that the punitive system is not effective, therefore, it is necessary that investment in prison education takes place in full, as only in this way will it be possible to support the development of human and liberating potential, overcoming stigma and social exclusion. Keywords: Prison education, Social reinsertion, Youth and Adult Education in the penitentiary system. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 12 2 MEMORIAL ........................................................................................................ 14 3 O COLONIALISMO COMO FONTE DE ACULTURAÇÃO ................................ 17 4 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL (BREVE HISTÓRICO)18 5 POLÍTICAS PÚBLICAS E O DIREITO DO PRESO: EDUCAÇÃO E TRABALHO COMO GARANTIA DE DIGNIDADE PARA SOBREVIVÊNCIA ............................... 22 6 OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL NO ESTADO DE SÃO PAULO ............................................................................................................. 28 7 EMANCIPAÇÃO X ADESTRAMENTO: A EDUCAÇÃO COMO PRINCIPAL FERRAMENTA NO PROCESSO DE REINSERÇÃO SOCIAL ................................ 32 7.1 PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO OFERECIDOS PELO ESTADO DE SÃO PAULO .................................................................................................................. 35 7.2 O PROJETO FUNAP - FUNDAÇÃO DE AMPARO AO TRABALHADOR PRESO .................................................................................................................. 37 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 38 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 39 1 INTRODUÇÃO Tendo a educação prisional como tema principal, está pesquisa apresenta indicadores reais sobre a finalidade da educação nas penitenciárias, questões financeiras, estrutura, corpo docente e o principal: os reeducandos. Ao analisar algumas de minhas vivências diante da situação em que a população carceraria vive hoje (2023), me instiga entender a lógica punitiva e o esvaziamento social da população estigmatizada como marginalizada. Será função do Estado desvalorizar pessoas por sua classe social ou sua cor de pele, retirando-as da sociedade para que haja um controle social, e limitar suas relações interpessoais e afetivas? Como é a educação num campo que o Estado acredita como “corretivo”, a fim de diminuir o crime? São tantas as minhas inquietações que, para esta pesquisa, delimitarei o tema ao estado de São Paulo, onde tenho experiência, em projetos na Fundação Casa, em 2010, e estagiária na FUNAP, de 2020 a 2022. O debate em pauta apresenta os desafios que o contexto de privação de liberdade enfrenta tanto nas questões políticas como pedagógicas. Essas razões perpassam pela função real da educação no processo de reinserção social, pois a realidade que a prisão oferece reforça o modelo de educação tradicional que o sujeito muitas vezes já recebeu quando criança: uma educação formal que molda e controla o ser humano e que ignora a realidade de cada um, o que dificulta a aprendizagem. Para Paulo Freire (1996) a função da educação é humanizar o sujeito, mas me pergunto como essa ação é possível em um ambiente controlado por armas, opressões, violências, superlotação, fome, abandono, castigo, sofrimento e desumanização? Como educar um sujeito dentro desse ambiente, a fim que ele supere a desumanização e compreenda sua existência na sociedade? Dentre os moldes que o sistema dominador impõe sobre nós, uma educação emancipadora detém a força de transformar condutas, o que vai na contramão do que o Estado defende, e isso vai na contramão da opressão. A população bem informada se organiza e desenvolve oportunidades, ações que geram renda de forma honesta, muitos saem da EJA e montam seu próprio negócio, gerando oportunidades para a comunidade do entorno. É necessário ressaltar que a população marginalizada, que vive em favelas, periferias ou ocupações, é diariamente rotulada como analfabeta, invisibilizada pela maior parte dos investimentos públicos, e a que mais sofre com o esvaziamento social. Ao longo de minha experiência, pude constatar que a “limpeza social” acontece através das prisões arbitrarias que acontecem no Brasil, na maioria das vezes de jovens negros entre 18 e 25 anos. Quando digo prisões arbitrarias, me refiro também à extensão de violência e de penas fechadas que não contribuem na melhora da qualidade de vida de quem está ali para cumprir pena. A educação prisional é um tema de grande relevância social e política, pois se relaciona diretamente com a questão da ressocialização/reinserção das pessoas privadas de liberdade. A educação é um direito fundamental de todos, inclusive das pessoas que estão cumprindo pena. Ela é essencial para o desenvolvimento pessoal e profissional dos indivíduos e, também, para a construção de uma sociedade menos controladora. No Brasil, a educação prisional é regulamentada pela Lei de Execuções Penais (LEP), que prevê a oferta de ensino fundamental, médio e profissionalizante às pessoas privadas de liberdade. No entanto, a implementação dessa lei ainda enfrenta muitos desafios, como a falta de recursos financeiros, a ausência de profissionais qualificados e a superlotação das prisões. Esta dissertação tem como objetivo analisar a educação prisional no Brasil, com foco nos seguintes aspectos: a história da educação prisional no Brasil; a contexto atual da educação prisional no Brasil; os desafios da educação prisional no Brasil; e as perspectivas para a educação prisional no Brasil. Considero o debate sobre a Educação Prisional de extrema importância, por ela ser um direito fundamental de todas as pessoas. Por último, ressalto que a educação prisional contribui com a redução da criminalidade e a reincidência, pois quando o sujeito tem pleno conhecimento social e intelectual da sua existência em comunidade, é mais fácil direcionar ações que favoreçam a si mesmo de forma prazerosa, sem prejudicar a si e ao outro. Apesar dos desafios, a educação prisional tem o potencial de contribuir significativamente para a ressocialização das pessoas privadas de liberdade. Para que isso ocorra, é necessário que o Estado invista na educação prisional, garantindo recursos financeiros, formação específica para os profissionais e condições adequadas para a oferta de educação. Esta pesquisa visa contribuir para a discussão sobre a educação prisional no Brasil, e buscará identificar os desafios da educação prisional no país, bem como as perspectivas para sua implementação. Os resultados da pesquisa podem contribuir para a formulação de políticas públicas mais efetivas para a educação prisional. A pesquisa será realizada a partir de uma revisão bibliográfica da literatura sobre o tema, bem como de entrevistas com egressas do sistema, atuais reeducandas, e profissionais que atuam na área. 2 MEMORIAL Quando ainda era muito pequena, lembro das brincadeiras e as ideias de ser professora, moradora da periferia. Era 1990, os jornaismostravam o sangue puro nas transmissões de notícias. Aquilo assusta uma criança, além dos perigos que a rua mesmo oferece, seja no trajeto de ir e vir da escola, seja na frente de casa. Frente ao contexto em que cresci, junto com o meu eu mais puro, decidimos ser estudiosas, as brincadeiras de pequena, passaram a ser a realidade de verdade, quando apareciam as dúvidas e questionamentos em minha cabeça, fossem eles sociais, ou físicos. Ia até a biblioteca e descobria incríveis novidades, e com a ampliação de meu conhecimento, fui buscando cada vez mais aprender, até que um dia, foi anunciada a transferência da biblioteca central para a zona leste, totalmente fora do caminhos de muitas escolas e de pessoas que realmente usavam aquele espaço. Acredito que essa tenha sido a primeira vez que senti revolta dentro de mim, fiquei muito triste, pensei inúmeras maluquices do que poderia fazer para impedir este fato de acontecer. Acredito também que o motivo tenha contribuído muito para esse sentimento aparecer com tanta força: a construção de um shopping que ocuparia o prédio de nossa amada biblioteca central. Ela era muito linda, as mesinhas, os braços de apoio aos jornais abertos, as prateleiras com aquele cheiro de livro, um silencio de um lado, e murmúrios na área coletiva. Às vezes ela estava cheia, muitas pessoas que passavam pelo Terminal Santo Antônio entravam na biblioteca só pra ver como era, e acabava sempre saindo com um livro. Aquele lugar tinha um movimento lindo, tive sorte de ter pais que confiavam em mim e me deixavam sair da escola e ficar um pouco na biblioteca, ou ir mais cedo passar na biblioteca e subir pra escola, esse trajeto era normal para mim. Saber que iria perder aquele espaço para um centro de futilidade, doía demais meu coração, por isso digo que foi a primeira vez que senti essa revolta mais forte; Já com 12 anos eu pesquisava sobre a sociedade. Antes da biblioteca, tive as contestações na igreja, minha mãe me levava na missa, o padre falava, falava e falava e eu não vi nada acontecer. Resolvi perguntar a ele sobre sua fala, o livro bíblia, e dali não obtive respostas alguma, mais um motivo para procurar respostas nos livros, porque meus pais não me respondiam também. Nas explicações dos livros encontrei, Bakunin, Emma Goldman, Feuerbach, Marx, Freud, Platão, Zapata, Proudhon, dentre muitos outros estudiosos, com ideias magnifica. Minha preferida é a do EZLN, todos os dias penso no dia que poderei conhecer a comunidade em Chiapas, meu norte na vida se deu a partir desses conceitos filosóficos e sociais, e sendo moradora da periferia, fui consumada pela resistência, organização, e amor pela terra. Sempre muito contraventora, escrevi zines com diversas informações sobre organização dos pensamentos ideológicos, e ação direta, facções, coletivos, feiras, além das pinturas artísticas, que nunca faltaram em meu repertorio. Já com 18 anos, e o ensino médio concluso, fui para a área de Produção Cultural, e foi aí que me encontrei com alguns amigos e escrevemos um projeto para a antiga FEBEM, junto a uma escola de Salto. A proposta contemplava os internos com oficinas de pintura, introdução teórica sobre a arte e a prática de técnicas e desenho. Na apresentação o projeto foi muito bem-aceito, mas as condições para que ele fosse executado causaram um desfavorecimento na finalidade da proposta, pois foi nos colocado as seguintes exigências: não poderíamos usar lápis, nem pincel (por serem pontiagudos e eles poderem utilizar como armas, causar uma rebelião e fugir), não pode trocas afetivas físicos (abraços, aperto de mão), os internos permaneceriam algemados, as aulas seriam apenas expositivas. A princípio topamos, com a intenção de tentar ao máximo ministrar a oficina como planejamos. Tentamos muitas vezes, mas em nenhuma delas foi autorizada a entrada dos materiais e nem que os internos fossem “desalgemados”. Levamos até aqueles meninos palavras de acolhimento e força. Até o dia que fiquei no projeto, minha fala foi sobre superação, questionamentos sociais, sobre quem se é, e o porquê estamos ali, naquela situação, seja ela na unidade ou na rua, além de realizarmos exercícios de reflexão e respiração. Foi então que eu decidi tentar mudar alguma coisa nesse cenário terrível que é o cárcere no Brasil. Penso que as notícias que ouvia quando criança, continuam acontecendo, talvez hoje de uma forma mais mascarada, e em maior escala. Busquei estudar algumas Leis, mais um pouco de filosofia, um pouco de Foucault, e entendi que, para eu conseguir estar nesse ambiente, com toda minha vontade de transformação, eu precisaria estar formada, com plenos conhecimentos para atuar de forma segura e clara, a fim de alcançar o objetivo de ampliar a escola nas penitenciarias do Brasil. Sei que é um sonho gigantesco, mas, pelo menos, eu já tinha começado a me movimentar, e meus resultados eram muito bons! Então parti fazer a prova do ENEM, entrei na UFSCAR e, durante o período da graduação, consegui oportunidades dentro do sistema prisional de São Paulo, que fizeram ter mais certeza de que minha contribuição é muito importante. Com o apoio de um coletivo de pessoas incríveis, realizamos a montagem de bibliotecas, ou sua ampliação, com o objetivo de que a instituição que está recebendo a doação implemente o projeto do governo federal “Lendo a Liberdade”, que oferece livros para leitura, e fichas para refletir sobre a história, para então contabilizar horas a fim de que o leitor tenha direito a diminuir sua pena. Essa ação visa fortalecer o oferecimento da extensão da EJA no ambiente prisional para aqueles que ainda estão no regime fechado, o que possibilita a aprendizagem desde o ensino fundamental, até os cursos profissionalizantes que são oferecidos em parceria com o SENAI, e as ETECs. Defender a educação no ambiente prisional é fundamental para evitar a reincidência e diminuir a criminalidade. Pois é no processo de ensino e aprendizagem que o indivíduo manifesta múltiplos sentimentos, podendo compreender melhor sua existência no mundo e sua contribuição social. Portanto, buscar atribuir funções efetivas através de práticas pedagógicas nas unidades prisionais do estado de São Paulo é um dos desafios que escolhi para minha trajetória na área da educação. Acredito que se pode alcançar grandes transformações pelo caminho do conhecimento, pois não é fácil atravessar a vida vivendo a maioria do tempo sendo discriminado por ser pobre, e estigmatizado pela comunidade em que se encontra, e por aquelas que se autointitulam superiores. Sentimos diariamente os resultados da corrupção no nosso país, a desigualdade é causada propositalmente desde muito antes do que a história conta. A disputa pelo poder se mostra cada dia mais cruel, condicionando o ser humano desde criança com as imposições tanto da escola tradicional e seu molde infalível de preparação para o mercado de trabalho, como da mídia, que direciona padrões de consumo em grupos sociais, a partir da concordância coletiva por determinados costumes. Ser capaz de se compreender, e decidir por si, já é uma grande revolução dentro de cada um. Por isso gosto tanto de me comunicar com as pessoas, pois, a partir dessa troca, posso construir novas ideias, aumentando meu repertório de conhecimento e alcançando pessoas que também compartilham suas identidades sem medo de julgamentos perversos e desmotivadores. Desta forma escolhi o tema Educação Prisional para concluir minha graduação e seguir com projetos e lutas por uma sociedade menos alienada e com uma visão de mundo mais humanizada e crítica. Por meio de ações e movimentos sociais que estejam engajados na defesa por uma educação mais organizada, por políticas públicas que realmente façam a diferença na vida das pessoas, podemos, quem sabe, chegar mais perto da possibilidade de que o investimento real destinadoa educação aconteça de forma plena, o que contribuirá muito com o desenvolvimento de milhares de crianças, jovens, adultos e sociedade em geral. 3 O COLONIALISMO COMO FONTE DE ACULTURAÇÃO O colonialismo foi uma das principais fontes de aculturação dos povos indígenas, africanos e afro-brasileiros. A educação colonial, voltada para a formação de uma elite branca e religiosa, teve como objetivo a assimilação cultural desses povos. A catequese foi uma das principais ferramentas de aculturação utilizada pelos colonizadores. Através da catequese, os povos indígenas e africanos eram forçados a abandonarem suas crenças e práticas religiosas. A educação colonial também teve como objetivo a difusão da língua portuguesa, considerada a língua da civilização, enquanto as línguas indígenas e africanas eram consideradas línguas inferiores. A aculturação promovida pelo colonialismo teve consequências profundas para os povos indígenas, africanos e afro-brasileiros. Esses povos perderam parte de sua identidade cultural, e até hoje sofrem com a exclusão de uma sociedade que invadiu suas terras, e que está equivocada na relação com o outro. A sociedade brasileira ainda se organiza seguindo modelos europeus, mesmo após a independência do país, reproduz em seus costumes a constante dominação colonial. É evidente que a miscigenação é a base do Brasil, e que a maioria da população é pobre e vive em áreas vulneráveis, mas, com o aumento da população, a renda nacional também aumentou, mas a distribuição dessa renda privilegia apenas uma pequena classe. Infelizmente todo esse processo de modernização é para fortalecer a ampliação do mercado, para que os países possam comercializar entre si, gerando lucros e alcançando patamares de reconhecimento mundial. Porém, para que essa engrenagem funcione é preciso muito trabalho e, embora muitos que sabem dos direitos trabalhistas não aceitem ser explorados, há, ainda, muitos se submetem a trabalhos que comprometem a condição humana, em troca da ilusão de sobrevivência. Essa dominação de poder que poucos detém condiciona padrões eurocêntricos, que se caracteriza pela submissão a culturas de países desenvolvidos, ou seja, o colonizado perde sua identidade e deve se adaptar a um sistema novo imposto por forças hegemônicas. Usarei o latifúndio como exemplo de dominação: o mais poderoso se apropria de terras, e ali mantém a monocultura que gera muito lucro, apenas para ele, que se diz proprietário das terras e de todo o investimento, mas o que ocorre com quem realmente trabalhou para movimentar a economia? Continua sendo explorado, dormindo no quartinho dos fundos e comendo marmita fria com os pés no chão. Portanto, os países periféricos como o Brasil precisam reconhecer que a condição de subalternidade pode ser superada através da produção de conhecimento de forma subjetiva. A expressão do próprio ser confronta o condicionamento que foi imposto historicamente na sociedade. Sendo assim, desenvolver coletivamente novos modelos e práticas que sejam resistentes à homogeneidade das massas se torna indispensável na articulação das demandas que partam da população, a fim de compreender suas particularidades. Esta ação mostra aos sujeitos as diversas formas de dominação, e isso busca resultar em emancipação. 4 A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL (BREVE HISTÓRICO) A Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil tem uma história marcada pela desigualdade e pela exclusão. Desde o período colonial, a educação é usada como ferramenta de adestramento social, primeiro pela escravização de pessoas, segundo pela imposição de qual cultura um povo vai seguir. Foi sob a égide do Estado português e com a permissão do Papa que iniciativas dos Jesuítas se voltaram para a conversão dos gentios e a instrução das crianças na colônia. A Companhia de Jesus tinha a função missionária como objetivo primeiro, contudo ela se revelou uma “Ordem docente” ao se debruçar sobre a formação da mocidade, além da formação dos seus próprios membros (CHAMBOULEYRON, 2004). A imposição da educação veio junto com a invasão das terras na América. Catequizar os índios foi a execução de um plano que os Portugueses aplicaram para dominar o Brasil. Neste período, a educação era restrita aos colonizadores portugueses e aos seus descendentes. Os povos indígenas e africanos eram proibidos de aprender a ler e escrever, pois isso era considerado uma ameaça à ordem colonial. Eram frequentemente submetidos à catequese e à assimilação cultural, escravizados e proibidos de estudar: “Mas era principalmente na vida religiosa que os meninos eram preparados para formar a ‘nova cristandade’ sonhada pelos religiosos da Companhia de Jesus. A educação das crianças implicava, assim, uma transformação radical da vida dos jovens índios.” (CHAMBOULEYRON, 2004, p. 61). Com a “independência” do Brasil, em 1822, a educação formal passou a ser regulamentada pelo Estado. No entanto, a desigualdade e a exclusão continuaram a ser marcas da educação brasileira. A Lei Geral da Instrução Pública, de 1827, estabeleceu a obrigatoriedade do ensino primário para crianças de ambos os sexos, mas a lei não foi implementada de forma efetiva. No início do século XX, o movimento republicano e a Reforma de 1911 promoveram mudanças na educação brasileira. A educação primária passou a ser gratuita e obrigatória para crianças de 7 a 14 anos, mas as desigualdades entre as diferentes classes sociais e grupos étnicos continuaram a ser significativas. Em 1934, mudanças acontecem no cenário educacional, com a criação do Plano Nacional de Educação, que orienta o Estado como gestor do ensino primário gratuito e que também atenderia ao público adulto também como direito constitucional. Depois de muitas críticas aos adultos analfabetos, a educação na EJA ganha destaque na sociedade. Em 1947, uma campanha abre discussão sobre o analfabetismo e é criado o Serviço Nacional da Educação de Adultos (SNEA) o supletivo. Na sequência, a Campanha Nacional de Educação de Adolescentes e Adultos (CEAA), para a redução do analfabetismo; o Congresso Nacional de Educação de Adultos, em 1950, e a Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo (CNEA). Nesta época, Paulo Freire trabalha na alfabetização de adultos no nordeste do país, e em 1961 funda o movimento “Cultura Popular”, um serviço de extensão cultural oferecido pela Universidade de Recife, e que teve como principal novidade educacional o método praticado através da troca de conhecimentos entre os demais participantes. Freire e sua equipe identificavam as capacidades de cada um e, a partir disso, conscientizavam de forma coletiva pessoas oprimidas e excluídas de toda e qualquer decisão política que envolvesse suas próprias vidas. O método de Paulo Freire emancipa politicamente os indivíduos, e foi isso que incomodou os militares. que já tinham tomado o poder no Brasil em 1964, período em que Freire foi capturado e exilado com sua família para no Chile, Estados Unidos e Genebra, lugares nos quais continuou a contribuir com a educação. Ao retornar para o Brasil após dezesseis anos de exílio, foi convidado para atuar na UNICAMP e PUC em São Paulo e na Secretaria Municipal de Educação. A partir de 1991 se afasta da prefeitura e atua junto a sua equipe no MOVA – Movimento de Alfabetização, um modelo de projeto público para apoiar salas de alfabetização para Jovens e Adultos. Aí trabalha até 1997 quando morre, nos deixando um legado admirável e inspirador. Para ser um ato de conhecimento o processo de alfabetização de adultos demanda, entre educadores e educandos, uma relação de autêntico diálogo. Aquela em que os sujeitos do ato de conhecer (educador-educando; educando-educador) se encontram mediatizados pelo objeto a ser conhecido. Nesta perspectiva, portanto, os alfabetizandos assumem, desde o começomesmo da ação, o papel de sujeitos criadores. Aprender a ler e escrever já não é, pois, memorizar sílabas, palavras ou frases, mas refletir criticamente sobre o próprio processo de ler e escrever e sobre o profundo significado da linguagem. (FREIRE, 2002, p. 58) Retomando a linha cronológica desta monografia, em 1960 surge o Movimento da Educação de Base (MEB); durante o Regime Militar cria-se o MOBRAL - Movimento Brasileiro de Alfabetização, que tentou alfabetizar de forma funcional as pessoas, apenas com a intenção de produzir mais mão de obra aceita pelas burocracias da constituição (STRELHOW, 2010). Na década de 70, o ensino supletivo tem destaque pela criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (nº. 5.92/71) (BRASIL, 1971). Em 1980, foi criada a Fundação Nacional para Educação de Jovens e Adultos (Fundação Educar), que tinha como objetivo financiar as iniciativas de alfabetização vinculadas ao Ministério da Educação (VIEIRA, 2004). As novas Leis foram começar a ser discutidas em 1996, quando surge a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (nº. 9.394/96), que reafirma o direito dos jovens e adultos trabalhadores ao ensino básico e ao dever público sua oferta gratuita, estabelecendo responsabilidades aos entes federados através da identificação e mobilização da demanda, com garantia ao acesso e permanência (BRASIL, 1996). Em 2003, o Governo Federal criou a Secretaria Extraordinária de Erradicação do Analfabetismo, e lança o Programa Brasil Alfabetizado, que contempla os estudantes com os projetos Escola de Fábrica. que oferece formação profissional, PROJOVEM, que qualifica os jovens para o mercado de trabalho e para contribuir com as ações sociais, e o Programa de Integração da Educação Profissional ao Ensino Médio para Jovens e Adultos (PROEJA) (VIEIRA, 2004). No século XX, com a criação do Ministério da Educação e Cultura (MEC), houve um avanço na educação de jovens e adultos. O MEC criou programas e projetos para promover a alfabetização e a educação básica para adultos. No entanto, esses programas e projetos ainda enfrentam desafios, como a falta de recursos, a baixa qualidade do ensino e a dificuldade de acesso à educação para pessoas em situação de vulnerabilidade social. O MEC, em 2007 aprova a criação do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB), o que resulta em que os recursos financeiros destinados à Educação atendam a todas as modalidades de ensino (BRASIL, 2007). Atualmente a sociedade vê os jovens e adultos analfabetos marginalizados, mas, quando o problema é apontado, a maioria foge da responsabilidade que tem em contribuir por uma sociedade mais justa. No Brasil, as políticas públicas não ouvem as vozes de quem realmente precisa, descumprindo os direitos que temos diante da Constituição de 1988. Frequentemente os programas criados não surtem o efeito definido em sua finalidade, ela não garante que os alunos estejam continuamente frequentando as aulas, o que o torna vítima de uma sociedade excludente e projetada para poucos privilegiados. 5 POLÍTICAS PÚBLICAS E O DIREITO DO PRESO: EDUCAÇÃO E TRABALHO COMO GARANTIA DE DIGNIDADE PARA SOBREVIVÊNCIA De acordo com o Decreto nº 678, de seis de julho de 1850, é feito pela primeira vez a menção a uma educação intelectual formalizada destinada às pessoas em privação de liberdade, conforme se lê no artigo 167: “Crearseha logo que for possível em cada huma das divisões da Casa de Correcção huma escola, onde se ensinará aos presos a ler e a escrever, e as quatro operações de arithmetica” (BRASIL, 1850). Sabemos por meio do mesmo regulamento que: Art. 119. Ao Capellão da Casa de Correcção, alêm do que lhe fica encarregado pelos Art. 95, 97 e 99, incumbe o seguinte: 1º Ajudar o Director na educação moral dos presos, e concorrer quanto em si couber para a sua correcção e reforma. 2º Visitar os presos, exhortando-os ao trabalho, e bom comportamento, ao menos huma vez por semana, e no meio della, alêm do dia de guarda que possa haver (Brasil, 1850). No Brasil, o modelo penal foi estabelecido a partir da adaptação dos sistemas penitenciários vigentes nos Estados Unidos e na Europa, durante o final do século XVIII até o início do século XIX (VASQUEZ, 2008). Durante períodos anteriores ao século XVIII, o Direito Penal tinha como principal característica castigos desumanos, que violentavam o corpo, e que não contribuíam na reflexão das próprias ações. A pena privativa de liberdade começa aparecer no fim do mesmo século, tendo como ponto de partida a aglomeração de pessoas, sem saneamento, alimentação e dignidade. As primeiras experiências da educação para jovens e adultos no sistema penitenciário do Brasil aconteceram em meados dos anos 50 do século passado, de forma voluntária, através de tentativas de ações pedagógicas isoladas. As unidades que aceitavam a experiência recebiam projetos de alfabetização, que aconteciam com recursos insuficientes e em espaços improvisados. O governo não fornecia material para contribuir com as práticas, o que obrigava as equipes idealizadoras da iniciativa arrecadavam doações para realizar as atividades. Foi a partir desse cenário que alguns Estados começaram a regulamentar os projetos, atribuindo demandas à escola próxima da unidade penal. Em muitos casos, a turma era coordenada pelos próprios reeducandos, pois o Estado não oferecia profissionais para ministrar as aulas. Embora o Brasil tenha recebido fortes influências europeias sobre a forma de punir, devemos igualmente levar em conta nessa época a vigência da escravidão, que veio alterar profundamente a implantação dos métodos punitivos, ou seja, associaram-se de modo indivisível nos regimentos penais prisão, suplícios e trabalho forçado até o final do século XIX. Tivemos no referido século uma transformação do conceito de pena, primeiro para a equação “pena-suplício físico”, “pena-privação de liberdade” e por último o paradigma “pena- educação”, que tem introduzido a educação como forma de tratamento e restauração social das pessoas em privação de liberdade. No entanto, é curioso saber que o modelo “pena-educação” não é fato recente na história das instituições carcerárias de nosso país, havendo registros de seus primórdios nas casas de correção imperial (DUARTE; SIVIERI-PEREIRA, 2018, p. 346). Observo que não basta apenas o decreto ou legislação serem oficiais, é preciso que o investimento chegue até as unidades a fim de equipar as salas e capacitar profissionais que contribuam com a autoestima e o desenvolvimento dos reeducandos. De norte a sul do país, é possível ouvir falar de experiências isoladas que foram se consolidando com o tempo em ações públicas de educação para jovens e adultos no sistema penitenciário. Assim, aos poucos, vão surgindo escolas nas unidades penais que oferecem desde aulas de alfabetização, de ensino fundamental e até de ensino médio em todo o país (JULIÃO, 2003). Em São Paulo, na década de 1970, há a criação da Fundação Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel (FUNAP), com a aplicação de aulas regulares de alfabetização nas unidades. Em 2005 o Brasil esse campo se expande com a articulação entre Ministério da Educação e da Justiça, com apoio ao Programa Nacional de Educação para o Sistema Penitenciário, e pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD), que assume o tema como uma das suas demandas na política de educação (UNESCO, 2006). Em 2010 são aprovadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação no Sistema Prisional, pelo Conselho Nacional de política Criminal e Penitenciaria (CNPCP) e Conselho Nacional de Educação (CNE) (UNESCO, 2009). Com essas medidas se esperava que os Estados implementassem definitivamente a educação como direito dos reeducandos, reconhecendo-a como política pública da educação. A educaçãopara jovens e adultos no cárcere não é benefício, e sim direito previsto em Lei — Constituição Federal (BRASIL, 1988), Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) (BRASIL, 1996) e Lei de Execução Penal (BRASIL, 1984). Embora reconhecido o direito do preso à educação, segundo dados da SENAPPEN, em 2023 a quantidade total de pessoas no Sistema penitenciário do Brasil é de 839.672, mas apenas 21.432 estavam no processo de alfabetização nas respectivas unidades. Para além deste dado, são comuns relatos sobre superlotações, denúncias de abuso de poder e falta de investimento, o que impacta diretamente no funcionamento das escolas nas penitenciarias, resultando no não- ganho da remição daquele dia, o que afeta diretamente o preso, quem mais precisa de atenção e respeito nesse momento. No Congresso Nacional, em junho de 2011, foi aprovada a Lei nº 12.433 (BRASIL, 2011) que altera a Lei de Execução Penal, Lei nº 7.210 (BRASIL, 1984), para dispor sobre a remição de parte do tempo de execução da pena por estudo ou por trabalho. A aprovação desta Lei contribuiu com o incentivo à procura da escola e permanência nela, fortalecendo o movimento de alfabetização. Muitas vezes os próprios reeducandos ensinam uns aos outros, se ajudando, formando um ciclo de estudo, na busca por diminuir os dias da pena. Os que não são alfabetizados procuram a escola para participar das oportunidades oferecidas - às vezes só com o intuito de diminuir a pena, mas, às vezes, também para aprender algo novo e evoluir os pensamentos de forma crítica sobre a sociedade e sua própria existência. As tabelas a seguir mostram os investimentos na educação para cada preso por Estado do país, e o grau de escolaridade do Brasil de forma mais ampla. Ao analisar esses dados, e vivenciar o sistema penitenciário diariamente, posso afirmar que esses investimentos declarados no site da transparência da SENAPPEN são criticáveis. A partir da superlotação, a intenção de castigo se torna muito forte dentro dos muros das prisões. A intenção de tornar os internos submissos leva os agentes penitenciários a agirem com abuso de poder. Para Michel Foucault (2001), o sujeito é sempre o resultado de uma prática, ou seja, o sujeito é sempre fabricado. Desta forma ao analisar os dados, penso que a exclusão social é uma prática conservadora e reacionária enraizada em algumas pessoas, que ainda defendem a “limpeza da sociedade” através de hábitos que fortalecem a miséria e o esquecimento. As escolas estão cada vez mais precárias, a fome prevalece a todo instante, e a criminalidade aumenta dia após dia. figura 1: Escolaridade do Preso Fonte: SENAPPEN, junho/2023. Os dados apresentados acima apontam uma quantidade pequena de pessoas iletradas para um país imenso como o Brasil. Como acreditar que há apenas 14.385 analfabetos presos em todo o país? Só quem está lá dentro sabe da realidade real de cada região. Assim como estes dados, muitos outros são provavelmente “maquiados” a fim de cumprir com as metas solicitadas. É importante refletir também sobre o papel que a escola tem a desempenhar o ambiente em que ela está inserida é controlado e dominado por autoridades que exigem a submissão humana. Entendemos que a escola no Brasil não deixa de servir o mercado e, infelizmente, sua finalidade atual é formar mão de obra para atender as necessidades do mercado de trabalho. Figura 2: Atividades Educacionais Fonte: SENAPPEN, junho, 2023 A educação é essencial para o desenvolvimento pessoal e profissional dos indivíduos. No entanto, a educação prisional no Brasil ainda enfrenta muitos desafios, como a falta de recursos financeiros, a ausência de profissionais qualificados e a superlotação das prisões. Esses desafios contribuem para o esvaziamento social da educação prisional, tornando-a incapaz de cumprir seu papel de ressocialização e alfabetização nas unidades. A falta de recursos financeiros é um dos principais desafios da educação prisional no Brasil. De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ, 2021), o Brasil gasta, em média, R$ 1.373,00 por mês com as necessidades de cada pessoa privada de liberdade no Estado de São Paulo. Essa quantia é insuficiente para garantir, saneamento básico, higiene, limpeza, alimentação e educação de qualidade. A figura a seguir ilustra os valores investidos por preso em cada Estado: Figura 3: Custo Mensal de investimento por preso Fonte: CNJ, 2021, Calculando Custos Prisionais: Panorama Nacional e Avanços Necessários A educação prisional é essencial para a reinserção social das pessoas privadas de liberdade, pois pode ajudá-las no desenvolvimento de novas habilidades e competências, o que facilita sua reintegração social após o cumprimento da pena. No entanto, os desafios a se enfrentar vão além da educação, e esses obstáculos dificultam a sua implementação efetiva, o que contribui para o aumento da criminalidade e da violência. É preciso valorizar uma concepção educacional que privilegie e ajude a desenvolver potencialidades e competências que favoreçam a mobilidade social dos internos e não os deixem se sentir paralisados diante dos obstáculos que serão encontrados (JULIÃO, 2009). Assim como Julião aponta, sem preparo os reeducandos saem das unidades prisionais estigmatizados, com isso se inferiorizam e acabam reincidindo. A importância da valorização das capacidades desenvolvidas por cada um que passou pelo sistema prisional se torna indispensável no processo de reinserção social. 6 OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL NO ESTADO DE SÃO PAULO É de responsabilidade do Estado garantir os direitos (obrigatório e gratuito) aos reeducandos: "Incumbe ao Estado o dever de assistência ao preso com o objetivo de prevenir o crime e orientar o seu retorno à convivência em sociedade (LEP, art. 10). Uma das formas desta assistência é a educacional (LEP, art. 11, inc. IV), que compreenderá a instrução escolar e a formação profissional do preso (LEP, art. 17), sendo que o ensino de primeiro grau ou fundamental será obrigatório (LEP, art. 18)." A educação é um direito social de todos (CF, art. 6º), inclusive do preso (LEP, art. 41,inc. VII), e dever do Estado, que deve promover o "pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho" (CF, art. 205), sendo o seu acesso uma das formas de realização da democracia para concretização do Estado Democrático de Direito. Por ser um direito social, o objetivo não é uma prestação individualizada, mas a realização de políticas públicas, com sua titularidade estendendo-se aos grupos vulneráveis (DUARTE, 2006, p. 271). Para contribuir com o processo formativo, a educação auxilia no desenvolvimento das relações sociais e interpessoais de cada ser humano, possibilitando a autorreflexão a fim de entender seu posicionamento político, seus direitos e seu lugar de pertencer a sociedade, e essa transformação acontece através da formação cultural e intelectual. No ambiente prisional, a educação tem o papel de nortear novas perspectivas de ações diante da sociedade, através de um olhar mais crítico, estimulando o diálogo, as trocas de ideias baseadas no respeito, a criatividade a autoconfiança entre outras ações que valorizam as potencialidades do indivíduo de forma única. O Estado como fonte “organizacional” de atuação nos presídios, carrega a grande responsabilidade de administrar as políticas públicas que norteiam as ações desenvolvidas nesse espaço. No entanto, é imprescindível observar o quanto os presídios no Brasil são negligenciados, e fica evidente que o Estado não está cumprindo o seu papel. As necessidades identificadas deixam claro que o objetivo principal da reinserção social não está acontecendo, e que os reeducandos utilizamesse espaço para criar grupos que vão na contramão da convivência harmoniosa e saudável em sociedade. É importante ressaltar que a cidadania está relacionada às políticas públicas e que esta está relacionada diretamente às necessidades sociais, cujos interesses são garantidos pelos Direitos dispostos na Constituição Federal. A princípio o direito primordial garantido ao reeducando é o de cursar o ensino fundamental, o que garante a ele conseguir se comunicar com a família através de cartas e possibilita melhor relacionamento com as autoridades e comportamento social. Subsequentemente, o reeducando alcança novas oportunidades por meio dos projetos educacionais, como terminar o ensino médio, participar de cursos de capacitação, fomentando a produção de conhecimento e a valorização aos direitos humanos. Além de oferecer os cursos, é de suma importância que os profissionais que trabalharão nesta área, tenham formação adequada, e contínua, para desenvolver atividades que ajude na emancipação dos reeducandos e atendam à finalidade da reinserção social. Valorizar os professores em todas as categorias é indispensável, porém, os menos vistos na educação prisional são os que estão por trás das grades. A articulação do Estado é justamente colocar para trabalhar nesses espaços pessoas que defendem a punição corpórea, que tratarão os apenados mal, com ofensas, e muita violência. Se fossem tratados de forma diferente, talvez as coisas pudessem começar a melhorar, por ser um ambiente controlado por duas faces, o Estado de um lado, e o crime organizado, de outro, com esses dois lados brigando constantemente por poder, resultando no fechamento de portas para avanços no cuidado dos reeducandos. Sendo a reinserção social um dos principais objetivos das unidades prisionais no Brasil, a educação e o trabalho se tornam a base para todo esse caminho de novas conquistas para aqueles que estão dispostos a começar uma vida com mais dignidade. Porém, diante da realidade do sistema penitenciário brasileiro, o discurso de reinserção social e a garantia de direitos passa longe de alcançar a finalidade da proposta dos projetos de educação. O grande desafio é a superlotação, a falta de estrutura, desvalorização dos professores e o tratamento desumanizado que é oferecido. Sendo assim, se abre uma menor possibilidade de eficácia de reinserção, o que resultará em provável aumento na reincidência nas infrações penais. Como pressupor que o indivíduo que está preso possa ressocializar-se e ser reintegrado ao sistema produtivo se não há a menor possibilidade de que aprenda um ofício e possa trabalhar no interior do sistema penitenciário? Como pensar em dar trabalho ao homem encarcerado, se bem que este é um direito do preso sempre propalado pelo discurso jurídico, se não há trabalho para os indivíduos que não cumprem pena, se o desemprego é absoluto? Como colocar em funcionamento real a ideia de ressocializar pessoas que estão sob o poder de controle direito do Estado, se o binômio que fundamenta o sistema penitenciário ou qualquer instituição correcional é o binômio disciplina/segurança, e não trabalho/educação? (CAPELLER 1985, p. 132) O Estado deve promover mecanismos que possibilitem a socialização entre os reeducandos, o que me faz refletir sobre que tipo de educação está sendo oferecida nas escolas das unidades prisionais. Será que os profissionais estão capacitados para esta função? A qualidade do ensino precisa ter como principal objetivo a emancipação do reeducando, o que contribuirá diretamente no desenvolvimento humanizado, formando cada um para exercitar a cidadania, de forma libertadora a fim de que cada sujeito possa transformar sua realidade social, superando a exclusão imposta pela desigualdade social. O trabalho prisional voltado à ocupação e capacitação dos presos tem-se revelado do ponto de vista administrativo e burocrático praticamente inadministrável pela gestão prisional. Em geral, tal atividade está entregue a fundações, fundos e até organizações da sociedade, sem que os gestores diretos da custódia tenham poder decisório sobre os tipos de atividades de trabalho, escoamento dos produtos e etc. A estrutura administrativa de órgãos como as fundações implica, em tese, numa agilidade maior nos negócios, no entanto, a convivência difícil destes órgãos paralelos como o poder decisório dos gestores prisionais tem obstaculizado a dinâmica do trabalho prisional. (LEMGRUBER, 2004, p.327). A expansão da formação cultural e intelectual, por meio da visão crítica de mundo, auxilia os reeducandos na compreensão da garantia dos direitos e no acesso aos projetos ofertados nas unidades prisionais. A EJA, responsável pelos componentes fundamentais de ensino nas unidades prisionais, apresenta em suas práticas a relação entre os recursos materiais e humanos, e a partir daí o cotidiano na escola se desenvolve (ou não) com base em uma educação de qualidade, buscando valorizar os reeducandos, suas habilidades e capacidades de aprendizagem. A educação no sistema prisional brasileiro enfrenta diversos desafios, incluindo a invisibilidade. Os reeducandos são frequentemente vistos como uma população marginalizada, que não merece ou não tem capacidade de aprender. Essa visão é reforçada por uma série de fatores, como: • A alta taxa de analfabetismo e de baixa escolaridade da população carcerária: Segundo dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública, 58% dos presos brasileiros não concluíram o ensino fundamental. • A falta de recursos e de infraestrutura adequada para a oferta de educação nas prisões: Muitas unidades prisionais não possuem salas de aula, bibliotecas ou outros equipamentos necessários para a educação. • A falta de articulação entre os sistemas prisional e educacional: O sistema prisional não está integrado ao sistema educacional, o que dificulta o acesso dos presos à educação de qualidade. • A invisibilidade da educação no sistema prisional brasileiro tem um impacto negativo na ressocialização dos presos. Sem acesso à educação, os presos têm menos chances de encontrar um emprego após saírem da prisão, o que aumenta o risco de reincidência criminal. Para superar o desafio da invisibilidade, é necessário promover uma mudança de mentalidade na sociedade. É preciso reconhecer que os presos são pessoas que têm direito à educação e que a educação é um instrumento fundamental para a ressocialização. • A falta de recursos financeiros: a educação prisional é uma política pública que exige recursos financeiros para sua implementação. No entanto, o sistema prisional brasileiro é cronicamente subfinanciado. • A ausência de profissionais qualificados: a educação prisional exige profissionais qualificados para atuarem no ambiente prisional. No entanto, a falta de formação específica para a educação prisional é um problema recorrente. • A superlotação das prisões, que dificulta a oferta de educação de qualidade. Em muitas prisões, as salas de aula são improvisadas e os professores precisam lidar com número excessivo de alunos. O sistema prisional brasileiro é cronicamente superlotado. Em setembro de 2023 a SENAPPEN divulgou o total de apenados no Brasil, sendo 644.794 em celas físicas e 190.080 em prisão domiciliar. Em uma de minhas atuações observei que a disposição de vagas era de 12 pessoas por cela, mas sua ocupação ultrapassava as 34 pessoas por cela. Essa situação dificulta a oferta de educação de qualidade, pois as salas de aula são improvisadas e os professores precisam lidar com um grande número de alunos, sem recursos adequados para atender aos reeducandos. Assumindo diferentes contornos e incidindo sobre múltiplos aspectos, esse processo teve como uma das suas mais importantes marcas a intenção de forjar os futuros cidadãos, desdobrando-se em dispositivos civilizatórios, configuradoscom vistas a garantir a socialização das crianças. A difusão da escolarização não se deu sem uma intervenção sobre o corpo e a mente infantis, balizada pelo afã de produzir um conhecimento científico sobre as crianças, o qual deveria orientar a organização da instituição escolar e os procedimentos pedagógicos (Marques; Pimenta, 2003, p. 45- 49). 7 EMANCIPAÇÃO X ADESTRAMENTO: A EDUCAÇÃO COMO PRINCIPAL FERRAMENTA NO PROCESSO DE REINSERÇÃO SOCIAL Apesar de muitas tentativas de tornar o sistema de reinserção social eficaz (tentativas feitas pelo Estado, sem finalidade alguma), ele ainda continua dentro das diretrizes do conservadorismo. Em 2011, a Lei 12.433 alterou o artigo 126 da LEP e acrescentou que os estudos poderiam contribuir para a redução da pena, se cumpridas 12 horas de estudo em 3 dias, desde que a pessoa estivesse matriculada em uma das etapas oferecidas pela unidade, ou seja, ensino fundamental, médio, profissionalizante ou superior, e com isso, o reeducando reduziria 1 dia em sua pena. Esse espaço que a educação conquistou nos mostra o quanto pode incentivar os indivíduos a buscar novos caminhos. Já em 2021 foi aprovada pelo Plenário a decisão que favorece o reeducando através da leitura, acompanhada por síntese da história, ampliando as possibilidades de reinserção social, e desenvolvimento de novos conhecimentos. Vejamos a ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. REMIÇÃO DE PENAS. APROVAÇÃO NO ENCCEJA. POSSIBILIDADE. ART. 126 DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL. RECOMENDAÇÃO 44/2013 DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. BASE DE CÁLCULO. RESOLUÇÃO 3/2010 DO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO EM CONJUGAÇÃO COM A LEI 9.394/1996. INTERPRETAÇÃO MAIS BENÉFICA À AGRAVANTE. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE DÁ PROVIMENTO. I – A tese defensiva encontra respaldo na legislação de regência, pois, para o cálculo de dias remidos pelo estudo, a Recomendação 44, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), orienta-se pelos parâmetros previstos na Resolução 3/2010, do Conselho Nacional de Educação (CNE), a qual, todavia, deve ser conjugada com a carga horária prevista na Lei 9.394/1996, por tratar-se de interpretação mais benéfica à recorrente. II – Agravo regimental a que se dá provimento. (STF - HC: 190806 SC 0101977-48.2020.1.00.0000, Relator: RICARDO LEWANDOWSKI, Data de Julgamento: 30/03/2021, Segunda Turma, Data de Publicação: 02/06/2021). Desta forma, fica evidente que os programas de atenção aos reeducandos contribuem positivamente no processo de reflexão das ações e busca por novas possibilidades de existência. Ocupar o ócio é uma tarefa quase impossível, quando pensamos nas celas disponíveis para agrupar e receber os condenados pela lei, que são espaços limitados, frequentemente superlotados, e, muitas vezes, impossíveis de abrigar qualquer ação de ressocialização. Os espaços disponíveis para a escola até conseguem oferecer algumas aulas, mas, como citado durante o texto, os recursos e materiais não estão chegando ao seu destino, dificultando alcançar maior número de unidades prisionais. A educação, sendo ela o maior fomento de formação cidadã, merece mais investimentos nas casas de detenção. Melhorar a estrutura e o tratamento com os apenados contribuiria com a melhora do convívio: é evidente que quando tratamos alguém bem, o clima social muda, o ambiente é transformado pela alegria e respeito. Esse é o grande poder que a educação tem, ela transita pelos lugares com humildade, ela está nos piores e melhores ambientes do planeta, sempre na tentativa de proporcionar melhores condições de vida e convívio social. A Educação de Jovens e Adultos deve fundamentar-se na consciência da realidade cotidiana. Não no conhecer letras, palavras ou frases..., o processo de alfabetização não pode se dar sobre, nem para o educando, ele tem que se dar com o educando. Há que se estimular nele a colaboração, a decisão, a participação e a responsabilidade social e política. Isso horrorizou, quase à todos os presentes, e Paulo Freire disse: “Não, o aluno deve conhecer-se enquanto sujeito e conhecer os problemas que o aflige no dia a dia. Portanto, o aluno deve programar em parte o que num período ele quer aprender. E aprender não se aprende. Não é uma educação bancária. Não se aprende tentando depositar numa cabeça vazia uma porção de conhecimento. Conhecer é um ato que é aprendido existencialmente, na existência, no cotidiano, pelo conhecimento local (FREIRE, A. M. A., 2001, p. 10). Com isso, Paulo Freire mostrou o respeito ao conhecimento popular, ao senso comum. Ele tinha ouvido o povo. Aparece aí Paulo Freire como o pedagogo dos oprimidos, sem ter ainda escrito “A Pedagogia do Oprimido”. Estimular um reeducando através da educação significa possibilitar que ele conheça o mundo, confie em si, e veja a sociedade como uma oportunidade de construir caminhos saudáveis junto aos demais. No entanto, o próprio discurso jurídico envolve contradições que são estruturais: O discurso jurídico sobre a ressocialização e consequentemente, a construção do conceito, nasceu ao mesmo tempo que a tecnificação do castigo. Quando o “velho” castigo, expresso nas penas inquisitoriais, foi substituído pelo castigo “humanitário” dos novos tempos, por uma nova maneira de disposição dos corpos, já não agora dilacerados, mas encarcerados; quando se cristaliza o sistema prisional e a pena é, por excelência, a pena privativa de liberdade; quando se procura mecanizar os corpos e as mentes para a disciplina do trabalho nas fábricas, aí surge, então, o discurso da ressocialização, que é em seu substrato, ou retreinamento dos indivíduos para a sociedade do capital. Neste sentido, o discurso dos "bons" no alto da sua caridade, é o de pretender recuperar os "maus" (CAPELLER, 1985, P.131). Ao aprisionar a liberdade de pensamento de um indivíduo, este se torna um dos piores castigos. Nem mesmo a educação é capaz de confrontar esse momento. Qualquer diploma alcançado no ambiente prisional, durante o tempo que o reeducando estiver ali, não terá validade alguma, neste espaço de submissão, ter qualquer grau de escolaridade não tem valor nenhum, como diz alguns alunos “ao entrar no sistema você deixa de ser pessoa, não vale nada até sair”, toda qualificação que aprendem ali só será utilizada posterior ao cumprimento da medida ressocializadora, é contraditório o funcionamento dessa instituição. Se por um lado a intenção da educação é capacitar, e valorizar os sujeitos, por outro ela é manipulada para captação e desvio de verbas públicas, o que reverbera na precariedade que já citamos nos capítulos anteriores. Portanto, como cita Freire (1996, p.15) o pensamento crítico é o alicerce da emancipação. [...] a educação pode tanto reforçar a reprodução da ideologia dominante, quanto, por meio da prática educativa-crítica, desmascarar essa ideologia. Liberdade existencial! 7.1 PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO OFERECIDOS PELO ESTADO DE SÃO PAULO A FUNAP - Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso – foi criada em 22 de dezembro de 1976, por meio da Lei Estadual 1238, com seu estatuto aprovado pelo Decreto nº 10.235, constituindo-se como uma Fundação de direito e fins públicos, vinculada primeiramente à Secretaria de Segurança Pública tendo nas suas prerrogativas e objetivos estatutários obrigação na elevação do nível moral e material do preso e colaboração com a Coordenadoria dos Estabelecimentos Penitenciários (COESPE) na assistência aos reclusos. Essa Fundação passou a ser cobrada pelos dirigentes, para que auxiliasse na garantia e na implantação de atividades laborais, educativas e culturais, sendo que em um primeiro momento, de forma não-oficial, (FUNAP, 1995), as ações educacionais se voltaram para que essa administração estivesse a frente da educação nas unidades. A Fundação investiu nas escolas prisionais do estado com recursos e materiais, e contratouos próprios reeducandos para estagiar nas escolas. A FUNAP como administradora da educação assumiu a responsabilidade de se distanciar da gestão prisional com suas práticas exclusivamente em caráter educativo, lúdico, pedagógico e crítico. A partir dessa iniciativa, muitas questões começaram a aparecer. A principal delas é o controle da gestão penitenciária e da escola que funciona no espaço prisional. As contradições entre tratamentos e comportamentos pelos dois lados geravam conflitos e, infelizmente, a posição da área da educação estava em desvantagem, correndo riscos de ser cancelada, por supostamente oferecer “riscos” a organização disciplinar que o cárcere oferece. Para isso reuniões de alinhamento começaram a surgir. Porém, a manifestação da Secretaria de Segurança foi a de submissão da FUNAP às normas das unidades, em troca de “considerações dos Direitos Humanos”. Segundo Rusche (1995, p.57) faltava buscar uma metodologia que atendesse aos objetivos do trabalho em relação ao homem preso e que correspondesse às reais necessidades dos nossos alunos, além de atentar para as características próprias de um sistema prisional com diferentes tipos de estabelecimentos penais e uma alta taxa de rotatividade dos presos. Sendo assim, é fundamental a capacitação dos profissionais da educação para atender as escolas prisionais, além de disponibilizar também cursos preparatórios para os reeducandos que trabalharão na educação. A criação de condições adequadas para o desenvolvimento da aprendizagem, a valorização das potencialidades dos reeducandos, a preparação para o exercício da cidadania, o estimular a consciência de cada um como base na participação ativa na sociedade, podem resultar em sujeitos transformadores, libertados do condicionamento econômico e controlador em que vivemos e essa emancipação se dá através da superação da condição. Desta forma, a educação tende a negar tudo aquilo que a penitenciária propõe como processo educativo e reintegrador do reeducando. No interior das prisões, a metodologia é o fator diferencial do trabalho educativo, na medida em que possibilita a constituição desse trabalho enquanto uma das possibilidades concretas para a preservação dos indivíduos punidos pela subjugação carcerária (PORTUGUÊS, 2001 p.141). 7.2 O PROJETO FUNAP - FUNDAÇÃO DE AMPARO AO TRABALHADOR PRESO O Projeto FUNAP Educação Prisional é uma iniciativa da Fundação Professor Manoel Pedro Pimentel (FUNAP), órgão responsável pela administração da Educação do sistema prisional do Estado de São Paulo. O projeto tem como objetivo promover a educação prisional, visando a ressocialização das pessoas privadas de liberdade. Os benefícios do Projeto FUNAP Educação Prisional são diversos, tanto para as pessoas privadas de liberdade quanto para a sociedade como um todo. Para as pessoas privadas de liberdade, os benefícios incluem: • Acesso à educação: O projeto oferece cursos de ensino fundamental, médio e profissionalizante, atendendo às necessidades e interesses dos alunos. • Desenvolvimento pessoal e profissional • Redução da reincidência: Estudos mostram que a educação prisional pode contribuir para a redução da reincidência criminal. Para a sociedade, os benefícios incluem: • Redução da criminalidade: A educação prisional pode contribuir para a redução da criminalidade, pois pode ajudar a prevenir a reincidência criminal. • Construção de uma sociedade mais justa: A educação prisional pode contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, pois pode ajudar a reintegrar as pessoas privadas de liberdade na sociedade. O Projeto FUNAP Educação Prisional é uma iniciativa importante para a promoção da educação prisional no Brasil. O projeto tem o potencial de contribuir para a ressocialização das pessoas privadas de liberdade e para a redução da criminalidade. O Projeto é um exemplo de que a educação prisional pode ser uma ferramenta eficaz para a ressocialização das pessoas privadas de liberdade e para a redução da criminalidade. Alguns dos programas ativos no Estado de São Paulo: • Escola de Empreendedorismo em Arte – ARCOS • Programa de Alocação de Mão de Obra • Programa de Assistência Jurídica Suplementar – JUS • Programa de Capacitação e Qualificação Profissional • Programa de Desenvolvimento Humano e Cultural • Programa de Educação para o Trabalho e Cidadania • Programa de Incentivo à Leitura – “Lendo a Liberdade” Apesar dessa iniciativa tentar contribuir significativamente na recuperação dos reeducandos, suas ações se tornam limitadas diante do controle econômico e reacionário do Estado. Portanto fica evidente que, sem investimento adequado, e comprometimento com o progresso social, físico e intelectual dos reeducandos, o sistema prisional continuará sendo um espaço conservador, que utiliza o ser humano como fonte de mão de obra barata para benefício próprio. 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS O tema educação e trabalho como proposta de reinserção social para os reeducandos do sistema penitenciário ainda é pouco explorado por estudiosos. Por isso, pesquisas que são importantíssimas para contribuir com o processo de melhorias nessa área. A relevância dessa discussão ressalta o quanto a educação desde o princípio da vida é de extrema importância. Infelizmente durante minha trajetória de acompanhamento dos reeducandos, e no período da pesquisa não presenciei investimentos ou melhorias no sistema prisional, e a escola foi tratada como secundária, deixando claro o quanto a educação nesse ambiente é indiferente. O que compreendi foi o quanto o trabalho é discutido, mas não com intenção de contribuir com a recuperação do reeducando: o foco parece ser o da utilização de mão-de-obra barata. A educação e o trabalho são direitos reservados aos reeducandos, segundo a LEP, mas não são reconhecidos como especificados na Constituição. A seleção dos estudantes e trabalhadores demora muito, e muitas vezes o preso cumpre a pena na fila para entrar na escola. O descaso no ambiente prisional é infinitamente gigante, mas os repasses financeiros são realizados mensalmente, e “direitinho”, conforme publicado no Portal da Transparência e na prestação de contas da SENAPPEN. Nesse sentido acredito ser necessário: (1) garantir os direitos dos reeducandos; (2) modificar as estruturas prisionais e sua forma de tratamento diante do comportamento do reeducando; (3) acompanhamento psicológico para todos os internos que necessitarem; (4) ampliar vagas na escola e seu espaço físico; (5) investimento em todos os setores que trabalham nesse ambiente; (6) programas integrados a empresas a fim de garantir trabalho digno após o cumprimento da medida; (7) acompanhamento após o reeducando sair do sistema prisional; (8) qualificar os profissionais que trabalharão no sistema prisional; (9) ressignificação do ambiente prisional, o que implica mais investimento em limpeza, educação, dignidade e valorização do ser humano enquanto ser histórico-social. São muitas as considerações a serem colocadas nesta monografia para que o sistema prisional no Brasil possa começar a ter efeitos, mas o principal de todos é o investimento em educação na infância, a fim de prevenir a desigualdade social e a criminalidade. A superação dos desafios da educação prisional no Brasil é uma tarefa complexa, mas essencial para a construção de uma sociedade mais crítica e acolhedora. É importante destacar que, para se alcançar a finalidade da medida ressocializadora, são necessárias mudanças nas políticas públicas que administram a estrutura do sistema prisional, pois se formos depender apenas da punição, não será obtido o resultado esperado e proposto no projeto das penitenciárias. O ato de educar, reeducar, emancipar, e humanizar o indivíduo que está privado de liberdade evitará que ele volte a praticar crimes, mas também ele precisa