Prévia do material em texto
Radiação de Corpo Negro e Quantização de Energia FÍ SI C A 67Bernoulli Sistema de Ensino Outra equação relacionada à radiação de corpo negro é a chamada Lei de Stefan-Boltzmann. Segundo ela, a taxa de energia eletromagnética emitida por um corpo negro é proporcional à quarta potência da sua temperatura absoluta T. A expressão matemática dessa lei é: P = σ.S.T4 A taxa de emissão eletromagnética P é calculada em watt (W). O primeiro fator da equação é a constante de Stefan-Boltzmann σ = 5,67 . 10–8 W/(m2.K4), S é a área da superfície do corpo negro (m2) e T é a sua temperatura absoluta (K). Observe que a constante σ é muito pequena. Por isso, o fluxo de energia eletromagnética emitida (W/m2) é expressivo apenas quando o corpo apresenta temperaturas mais altas, como o carvão em brasa ou as paredes de um forno aquecido. Você não precisa memorizar as últimas duas equações. Nos vestibulares, em geral, essas equações são fornecidas nas questões em que o assunto é explorado. PARA REFLETIR Por que uma estrela muito massiva e quente tende para a cor azul? O que você pode dizer sobre a cor de uma estrela mais fria? A equação de Planck da radiação No fim do século XIX, alguns físicos buscavam uma maneira de determinar teoricamente as curvas de radiação de um corpo negro. Esse corpo é um sistema que absorve toda a radiação eletromagnética que nele incide. Um objeto, pintado de preto fosco e exposto às radiações na faixa do visível, é uma boa aproximação de um corpo negro. Um corpo negro não precisa, necessariamente, ser da cor preta. O pequeno orifício no objeto oco mostrado na figura 4, por exemplo, é um corpo negro, pois a radiação que entra na cavidade tem pouca chance de sair. Após sofrer múltiplas reflexões internas, a radiação é praticamente toda absorvida pelo corpo. À medida que o corpo absorve essa radiação, ele também se aquece. Quanto maior a sua temperatura, maior a quantidade de radiação que ele emite (observe que os picos na figura 3 são mais altos para as temperaturas maiores). Assim, o corpo atingirá uma temperatura de equilíbrio, na qual a taxa de radiação recebida se torna igual à taxa de radiação emitida. No fim do século XIX, os cientistas procuraram estudar o corpo negro nessa situação de equilíbrio. Figura 4. Uma pequena cavidade é um corpo negro. Alguns físicos propuseram equações para reproduzir as curvas de radiação de corpos negros. Na figura 5, os pequenos círculos representam os pontos obtidos experimentalmente para a curva de radiação de um corpo negro. As outras curvas resultam de equações propostas por cientistas da época. Observe que a curva de Wien reproduz bem a curva de radiação. No entanto, por ser uma lei de natureza empírica, isto é, por se valer apenas de informações experimentais, ela não constitui uma teoria. A outra curva representa a Lei de Rayleigh-Jeans, que concorda com os resultados experimentais apenas para os comprimentos de ondas muito grandes, mas discorda completamente para comprimentos de ondas curtos. Ainda assim, essa lei tem o mérito de ser baseada nos argumentos teóricos da Física Clássica. Rayleigh-Jeans Wien Comprimento de onda In te n si d ad e d a ra d ia çã o Figura 5. Leis para reproduzir a curva de radiação de um corpo negro. Inspirado na Teoria Atômica, o físico alemão Max Planck propôs um modelo inteiramente teórico para a radiação do corpo negro. Ele supôs que os átomos do corpo negro agem como pequenos osciladores eletromagnéticos, cada um com uma frequência de oscilação própria. São esses osciladores que emitem e absorvem a energia eletromagnética em um corpo negro. Planck os imaginou oscilando com inúmeras frequências, o que explicaria por que a radiação emitida por um corpo negro apresenta as frequências variando de zero a infinito. Em seu modelo, Planck introduziu uma ideia que nada tinha a ver com a Física daquela época. Ele considerou que um oscilador não pode ter um valor de energia qualquer, mas certos valores dados por: E = n.h.f Nessa expressão, f é a frequência do oscilador, h é uma constante, hoje chamada de constante de Planck, cujo valor é 6,63 . 10−34 J.s, e o fator n é um número inteiro positivo conhecido como número quântico, que define o valor (ou estado) de energia do oscilador. Um oscilador não irradia (nem absorve) energia enquanto permanece em um determinado estado. Dessa forma, ele irradia energia quando passa de um estado para outro. Essa energia não é emitida de forma contínua, mas sim de forma quantizada, isto é, por meio de pulsos ou de pacotes de energia dados por: Energia emitida = ∆n.h.f Em que ∆n é a diferença entre o número quântico do estado inicial e do estado final. Por exemplo, quando o oscilador passa do estado 5 para o estado 3 (∆n = –2), a sua energia diminui, e o oscilador emite radiação. Frente C Módulo 16 68 Coleção 6V Quando ocorre o contrário, o oscilador absorve radiação. Quando a transição ocorre entre dois níveis de energia adjacentes (por exemplo, entre os níveis 2 e 3, ou 5 e 6), temos ∆n = 1. Nesse caso, a energia irradiada vale: E = h.f Esse valor corresponde ao pulso de menor energia possível. Planck o chamou de quantum (em latim, quantum significa quantidade; aqui, devemos pensar em quantum como uma quantidade mínima e indivisível). Agora, vamos fazer alguns cálculos para exemplificar a quantização da energia. Considere um oscilador com frequência f = 6,0 . 1014 Hz. De acordo com a equação de Planck, a energia de um quantum emitida por esse oscilador é (lembre-se de que Hz = s−1): E = h.f = 6,63 . 10−34.6,0 . 1014 = 4,0 . 10−19 J Essa energia é muito pequena. Vamos convertê-la para uma unidade mais adequada, o elétron-volt (eV). Como você sabe, 1 eV = 1,6 . 10−19 J. Assim: E 4,0 . 10 1,6 . 10 2,5 eV 19 19 = = − − Segundo Planck, esse oscilador pode emitir (ou absorver) pacotes energéticos de 2,5 eV. De acordo com a transição de estados, o oscilador pode emitir 2,5 eV (1 pacote), ou 5,0 eV (2 pacotes), e assim por diante. Todavia, ele não pode emitir uma energia, por exemplo, de 4,0 eV, pois esse valor representa 1,6 quantum, que é uma quantidade fracionária. A ideia da quantização não é um conceito físico novo para você. A eletricidade é quantizada, pois a carga de qualquer corpo eletrizado é um múltiplo inteiro da carga do elétron. A massa também é quantizada. Por exemplo, a massa de um bloco de cobre (admitindo cobre puro) é igual ao número de átomos de cobre presentes no bloco multiplicado pela massa de apenas um átomo de cobre. O conceito de fóton No início do século XX, experiências mostravam que radiações de frequências altas, como um feixe de luz azul, particularmente, eram capazes de extrair elétrons quando incidiam sobre metais alcalinos. Nenhuma explicação baseada na Teoria Eletromagnética Clássica conseguia esclarecer essa emissão de elétrons, que, mais tarde, foi denominada de efeito fotoelétrico. Em 1905, Albert Einstein explicou o fenômeno, usando como base a teoria da quantização da energia de Planck. Para isso, ele considerou que a própria radiação eletromagnética, emitida por uma fonte, propaga-se pelo espaço concentrada em pacotes de energia, denominados de fótons. Esses pacotes são, de fato, partículas de massa zero, dotados de uma energia dada pela equação de Planck, E = h.f. Planck pensava que a quantização da energia era restrita aos átomos oscilantes da fonte de radiação. Einstein foi além dessa ideia, afirmando que a quantização da energia também ocorria com a radiação emitida pela fonte. Einstein percebeu que a frequência f dos osciladores da fonte é igual à frequência da radiação emitida. Substituindo f por c/λ (c e λ são a velocidade e o comprimento de onda da luz) na equação de Planck, obtemos a seguinte equação alternativa para calcular a energia de um fóton: E hc= . λ A quantização da energia eletromagnética desencadeou uma revolução na Física. Após a sua descoberta, sucedeu-se umacorrida desenfreada pela compreensão do átomo, levando à edificação da Mecânica Quântica nos primeiros 30 anos do século XX. A figura 6 mostra a energia eletromagnética por fóton estendida para todo o espectro eletromagnético conhecido. 10–4 10–6 10–8 10–10 10–12 106 104 102 100 10–2 2 . 10–21 2 . 10–19 2 . 10–17 2 . 10–15 2 . 10–13 2 . 10–31 2 . 10–29 2 . 10–27 2 . 10–25 2 . 10–23 3 . 1012 3 . 1014 3 . 1016 3 . 1018 3 . 1020 3 . 102 3 . 104 3 . 106 3 . 108 3 . 1010 E (J) λ (m) Ra io s γ Ra io s X M ic ro -o nd as Ra di of re qu ên ci a Tr an sm is sã o de e le tr ic id ad e Lu z In fr av er m el ho U ltr av io le ta f (Hz) Figura 6. Frequência, comprimento de onda e energia por fóton do espectro eletromagnético. EXERCÍCIO RESOLVIDO 02. A figura mostra os trajetos de dois fótons de luz, sendo um de luz vermelha e o outro de luz azul, que são emitidos simultaneamente por um laser. Os fótons atravessam uma placa de vidro e atingem um detector muito sensível. Embora os fótons tenham sido disparados ao mesmo tempo, o detector registra a chegada de um primeiro fóton (I) e, depois, a chegada do outro (II). Além disso, a energia do segundo fóton (representada pelo pico II na tela) é maior que a do primeiro fóton.