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2 3 Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Katty Anne de Souza Nunes - CRB 11/826 4 AUTORES Aldenize Pinto de Melo do Nascimento Ana Karoliny Mota Sampaio Ana Paula Brandão da Silva Bruno B. de Abreu Rocha Caroline Souza da Silva Dayane Brenda Lira Edcléia Silva de Oliveira Nogueira Gisele dos Santos Ribeiro Ildeneti de Jesus Alves Costa Isamara Lira Tiago João Luiz Nunes do Nascimento Jocélia Barbosa Nogueira Josué Miguel de Oliveira Kellen Cristina da Silva Gasque Maria Daise da Cunha Matos Maria Tereza de Moraes Longh Michele Lins Aracaty e Silva Nerine Lucia Alves de Carvalho Rafael de Azevedo Melo Rosilene de Oliveira Brito Sabrina Gama Shirley Maria Silva Nogueira Soraya Monteiro Neves Welliton dos Santos Batista 5 CONSELHO EDITORIAL Christiane Alves Byron de Mello Fábio Silva de Souza Gleycia Letícia Rodrigues dos Santos José Celso de Mello Sampaio Filho Kellen Cristina da Silva Gasque Leonardo Marcelo dos Reis Braule Pinto Luiza Maria Bessa Rebelo Malinália Ines Rocha Marcião Mariana Faria Filard Massilene Mesquita Nágila Lima da Silva Nerine Lucia Alves de Carvalho Raimunda Mota dos Santos 6 APRESENTAÇÃO É com sentimento de gratidão que nós, Educadores pela Democratização dos Conhecimentos -EDEC, apresentamos o livro "Didática no Século XXI - Vol. III". Ele é composto de nove trabalhos resultantes do trabalho árduo de professores e alunos, bem como da equipe de Organizadores, Conselheiros Editoriais, Capistas, Bibliotecários, dentre outros. Os títulos dos capítulos revelam a riqueza dessa nova obra: I. Internet e educação em tempos de pandemia: o sinal da desigualdade; II. Educação de jovens, adultos e idosos: Políticas educacionais de inclusão, permanência e aprendizagem no contexto municipal de Manaus III. As contribuições das artes visuais no processo de desenvolvimento da criança na Educação Infantil IV. Revista Espia Lindoso: Uso das TDIC’s como ferramenta para combate ao preconceito linguístico V. A perspectiva deweyana como recurso didático utilizado em cursos autoinstrucionais para qualificação profissional de trabalhadores da saúde. VI. Webtoon Literário - um romance com a leitura e sua produção VII. A Interdisciplinaridade da didática na perspectiva de dois projetos escolares no Ensino Médio realizados em uma escola pública VIII. Educação para o mundo do trabalho e o voluntariado por meio da ABP IX. A musicalização como ferramenta de ensino da Língua Espanhola: um comparativo lexical Contando com vossa generosidade peço licença para trazer a apresentação do livro em forma de uma singela poesia, pois ao ler os manuscritos saltou dentro de mim o espírito de poetisa medíocre que sou. Como disse anteriormente, rogo que usem de bondade para comigo ao ler as estrofes simples que vos exponho abaixo: 7 "Bricolagem de Ensinagem" Abertura: No Século XXI, que saberes brotam de ti? Professor, o que te faz ser assim? Teu olhar é de caçador Na verdade de um "ensinador" Caça maneiras e formas de ensinar De romper barreiras e de brincar Capítulo 1: No capítulo um é evidenciada a desigualdade Alunos sem recurso e fraternidade Pandemia de Covid-19 agravou O abismo educacional alargou E o governo tem que tratar a exclusão digital Dessa forma irá diminuir a desigualdade social Capítulo 2: Aprendizagem e permanência Pra quem já tem mais vivência Em forma da EJA vem Pois o foco no fazer a EJA tem Por meio do Círculo e Leitura e aceitação E da OLIMEJA se faz a inclusão Capítulo 3: Fez da arte visual o seu verso Cooperando com o processo Do crescer na Educação Infantil Rompendo o preconceito fia a fio Com análise situacional Usou a comunicação visual 8 Capítulo 4: E pensando em preconceito Esse tão conhecido conceito É combatido com as TDIC’s e o esperançar Pertencimento e falares vem se entrelaçar Linguística e vidas Em aprendizagens percorridas Capítulo 5: A perspectiva deweyana para qualificação Tem como forte a prática e a ação No processo emancipatório E aprendizado exploratório Os cursos da sáude online e abertos Permite resgates de vivências, certos Capítulo 6: O Webtoon Literário Tirou a criatividade do armário Disse não as metodologias tradicionais De forma ousada fez aulas sem iguais E Machado de Assis e José de Alencar O PCE fez experimentar Capítulo 7: E o ensinar interdisciplinar Nesse livro não podia faltar Buscando favorecer a forma de ver As lendas amazônicas do viver Dos diversos contextos abrangidos E com nossos alunos envolvidos Capítulo 8: A norma não é fazer por fazer 9 A lei é fazer por querer Ensinar com Projetos e Voluntariados De forma moderna, apresentados Com uma didática coletiva Aliada a matética criativa Capítulo 9: Na correria do dia Oportunidades tu vias De ensinar Língua Espanhola Com canto e uma viola E em um comparativo lexical Fez a aula ficar magistral Fechamento: E nessa bricolagem Onde se costura a aprendizagem O EDEC busca impulsionar De maneira humilde cooperar Nessa ensinagem e nesse vivendo E assim continuamos juntos querendo E esse professor constrói um novo mundo E encontra lá no fundo O aprender de seu aprendiz Que alegre lhe fala: "Fui eu que fiz" Aldenize Pinto de Melo do Nascimento, Manaus, 2022. 10 Sumário Capítulo I .......................................................................................................... 12 Internet e educação em tempos de pandemia: o sinal da desigualdade. Michele Lins Aracaty e Silva, Nerine Lucia Alves de Carvalho Capítulo II ......................................................................................................... 30 Educação de jovens, adultos e idosos: Políticas educacionais de inclusão, permanência e aprendizagem no contexto municipal de Manaus. Maria Daise da Cunha Matos, Soraya Monteiro Neves, Jocélia Barbosa Nogueira, Rafael de Azevedo Melo Capítulo III ........................................................................................................ 46 As contribuições das artes visuais no processo de desenvolvimento da criança na Educação Infantil. Jocélia Barbosa Nogueira, Bruno B. de Abreu Rocha, Soraya Monteiro Neves Capítulo IV ........................................................................................................ 61 Revista Espia Lindoso: Uso das TDC's como ferramentas para combate ao preconceito linguístico. Caroline Souza da Silva Capítulo V ......................................................................................................... 79 A perspectiva deweyana como recurso didático utilizado em cursos autoinstrucionais para qualificação profissional de trabalhadores da saúde. Josué Miguel de Oliveira, Maria Tereza de Moraes Longh, Welliton dos Santos Batista, Kellen Cristina da Silva Gasque Capítulo VI ........................................................................................................ 95 Webtoon Literário - um romance com a leitura e sua produção. Gisele dos Santos Ribeiro, Ildeneti de Jesus Alves Costa Capítulo VII ..................................................................................................... 106 A Interdisciplinaridade da didática na perspectiva de dois projetos escolares no Ensino Médio realizados em uma escola pública. Aldenize Pinto de Melo do Nascimento, Isamara Lira Tiago, Shirley Maria Silva Nogueira, Edcléia Silva de Oliveirapedagógico em relação com os projetos abordados 41 e, a sua intencionalidade pedagógica, pois, concordamos com Creswell (2010, p.26) “é um meio para entender o significado que os indivíduos ou os grupos atribuem a um problema social ou humano”. Resultados e discussões A implantação dos projetos: Círculo de Leitura e Escrita e OLIMEJA desenvolvidos nas escolas do município de Manaus, vem favorecendo a inclusão, a permanência do estudante e o aprimoramento da aprendizagem, seja no âmbito da leitura, escrita, seja na ampliação da proficiência matemática. Todas as orientações acerca do desenvolvimento dessas ações são repassadas por meio de reunião com os coordenadores e assessores pedagógicos das DDZs, no início de cada ano letivo e o material de apresentação enviado em mídias para serem socializados nas escolas. Em ambas as ações não podemos deixar de registrar a importância do professor durante todas as rodadas do Círculo de Leitura e Escrita e nas etapas da OLIMEJA. O docente enquanto articulador dessas ações pedagógicas tem exercido um papel relevante no processo de aprendizagem, pois demonstram ter clareza dos objetivos que pretendem alcançar e das metodologias que devem aplicar. As ações relatadas contribuem também para o cumprimento do currículo, visto que os conteúdos de Língua Portuguesa e Matemática são requeridos nas etapas e rodadas dos projetos Círculo de Leitura e Escrita e OLIMEJA, e dialogam com os outros componentes curriculares das Propostas Pedagógicas do 1º e 2º segmentos da EJA. Os resultados dessas ações se refletiram nos índices de rendimentos alcançados nos anos 2018-2019. 42 Os resultados dos anos de 2018 e 2019 apresentados no quadro acima, evidenciam que no 1º segmento de EJA o índice de aprovação de 2019 aumentou quando comparado ao ano de 2018 e, consequentemente, o índice de reprovação e abandono diminuíram neste mesmo período. No que tange ao 2º Segmento a aprovação aumentou e o abandono diminuiu, mas a reprovação aumentou. Referente ao 1º Segmento do CEMEAPI, o abandono diminuiu, contudo, aprovação e reprovação aumentaram. Embora os índices de reprovação e abandono não apresentem resultados satisfatórios em todos os segmentos de EJA, pode-se dizer que a análise do quadro acima evidencia um resultado positivo no contexto global. Em outras palavras, dos 9 (nove) resultados apresentados do ano de 2019, quando comparados a 2018, apenas 3(três) não estavam como o esperado. É oportuno dizer que, entende-se por evasão escolar a situação do aluno que abandou a escola ou reprovou em determinado ano letivo, e que no ano seguinte não efetuou a matrícula para dar continuidade aos estudos (CAMPOS, 2003). Por isso, é importante mensurar os resultados e fortalecer o desenvolvimento de ações e projetos que contribuem para a permanência e aprovação do estudante. Quando o estudante interage de forma significativa no mundo em que vive, desperta em si a curiosidade, o prazer na busca de novos saberes, fazendo com que o aprendizado se torne mais fácil e natural. Essas constatações podem ser confirmadas após análises dos resultados expostos, 43 que demonstram um aumento significativo nos índices de aprovação e permanência dos estudantes de EJA nas escolas da rede municipal de Manaus, alcançados com a significativa contribuição da aplicação dos projetos Círculo de Leitura e Escrita e OLIMEJA. Considerações finais À pista de alcançar os objetivos de possibilitar vivências nos processos pedagógicos inovadores no campo da EJA, nós, professores e assessores, temos nos mobilizados em planejar e sistematizar projetos pedagógicos que possam ser considerados específicos para o atendimento dos jovens, adultos e idosos que buscam a escola da sua comunidade, depois de uma jornada de trabalho intenso para sobreviver. No campo da ação curricular, precisamos organizar os tempos e os percursos desta modalidade de ensino, conscientes dos desafios que ainda não foram enfrentados no campo das construções coletivas do currículo da EJA, com a participação desses sujeitos de direitos que são os jovens, adultos e idosos que compõem o universo escolar da cidade de Manaus. Para tanto, podemos desenvolver projetos onde estes protagonistas sejam valorizados naquilo que sabem fazer com suas culturas. As ações desenvolvidas na escola com o currículo das disciplinas a serem estudadas na EJA, podem ser as oficinas a qualificar esses saberes, que por sua vez, devem ser o centro de interesse dos sujeitos da EJA. Em relação ao desenvolvimento dos projetos, entendemos que necessitam de apropriação formativa dos docentes, a partir de uma relação com a Proposta Pedagógica da EJA no município de Manaus, a fim de vincular os referidos projetos com a abordagem teórica e metodológica proposta nos documentos orientadores das práticas pedagógicas, e, assim, favorecer um desenvolvimento qualitativo e intencionalmente significativo ao processo de aprendizagem de Língua Portuguesa e Matemática. A GEJA, como setor responsável pela elaboração de Políticas Educacionais para pessoas jovens, adultas e idosas, entende a educação como um direito fundamental para a formação humana e de aprendizagem ao longo da vida, e vem propondo ações mediadas por estratégias inovadoras e 44 que possibilitam o desenvolvimento da leitura, escrita e das competências matemáticas para estudantes de 1º e 2º segmentos da EJA, articuladas com as equipes técnicas, administrativas e pedagógicas da Semed e DDZs, visando garantir uma educação de qualidade, inclusiva, bem como a permanência e a escolarização de estudantes manauaras. Vale ressaltar que os resultados apresentados nessas experiências são apenas parte das atividades realizadas pela GEJA, mas que todos os seus processos estão voltados para o fortalecimento do direito e garantia da aprendizagem, a construção do conhecimento, a socialização, o incentivo ao estudante a ser protagonista da própria história, de maneira que desperte a inquietação, a curiosidade, mas principalmente a equidade para aqueles que estão buscando concluir seus estudos nessa modalidade de ensino. Referências ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith; GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 1998. BRASIL, Lei N. 9394, de 20/12/1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. ______, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução. 3 ed. Brasília, DF, 1998. ______, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Proposta Curricular para a educação de jovens e adultos: segundo segmento do ensino fundamental: 5a a 8a série: introdução / Secretaria de Educação Fundamental, 2002. CAMPOS, Edna Lúcia Ferreira. A Infrequência dos alunos adultos trabalhadores, em processo de alfabetização na Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, MG: UFMG, 2003. CARNEIRO. Moaci. Alves. LDB fácil: leitura crítico-compreensiva artigo a artigo. Rio de Janeiro: Vozes, 2015. CRESWELL, John W. Projeto de Pesquisa: Métodos qualitativos, quantitativos e Mistos. Porto Alegre: Artmed, 2010. FONSECA, Maria da Conceição Ferreira Reis. Educação matemática de jovens e adultos: especificidades, desafios e contribuições. 2. ed. 3. reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970. Paulo. A Importância do ato de ler. 23 ed. São Paulo: Cortez, 2003. Paulo: Educação de Adultos: algumas reflexões. IN: GADOTTI, Moacir; ROMÃO, 45 José. Educação de Jovens e Adultos: Teoria, prática e proposta. 10 ed. São Paulo: Cortez, 2008. GADOTTI, Moacir; ROMÃO, José. Educação de Jovens e Adultos: Teoria, prática e proposta.10 ed. São Paulo: Cortez, 2008. NOGUEIRA, Jocélia Barbosa. Trabalho e educação: precarização da formação e profissão do pedagogo na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Amazonas. Manaus, AM, 2017 (Tese de Doutorado) SIGEAM. Sistema de Gestão Educacional do Amazonas. 2016-2017. Disponível em: www.sigeam.prodam.am.gov.br. Acesso em jun de 2021. SEMED, Secretaria Municipal de Educação. A Proposta Pedagógica para Educação de Jovens, Adultos e Idosos da Rede Pública Municipal de Ensino de Manaus. Manaus, 2021. SOARES. Magda. Letramento: O tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autentica, 2010. http://www.sigeam.prodam.am.gov.br/ 46 Capítulo III ______________________________________________________________ As contribuições das artes visuais no processo de desenvolvimento da criança na Educação Infantil Jocélia Barbosa Nogueira – Doutora em Educação/UFAM Bruno B. de Abreu Rocha – Egresso do Curso de Pedagogia/UFAM Soraya Monteiro Neves – Mestre em Ciências da Religião/ FUV Resumo No contexto atual do mundo em que vivemos, vemos a comunicação visual presente em todas as esferas da sociedade, relacionando-se intrinsecamente com a cultura das crianças desde o seu nascimento, atuando como mediadora do processo de desenvolvimento infantil. Esse estudo trata a respeito da relação da criança com as artes visuais, sua importância no desenvolvimento de competências cognitivas e sociais e sua relação interdisciplinar, no que tange à formação necessária ao educador na aquisição de conhecimentos práticos das artes visuais para aplicar na escola. O objetivo geral é desmistificar preconceitos com relação ao ensino da arte na educação infantil, visto que são inúmeros os benefícios das atividades de artes como instrumento que desenvolva as competências e habilidades das crianças pequenas. Os objetivos específicos estão voltados para a reflexão sobre os efeitos positivos do ensino das artes visuais na escola, reconhecendo o papel do educador como mediador desse processo. A pesquisa é de natureza qualitativa, de caráter bibliográfico e descritivo. Foi realizada análise documental dos seguintes documentos oficiais: Projeto Político-Pedagógico, Regimento Escolar, RCNEI, Proposta da SEMED-Manaus e Plano de Aula de um Centro Municipal de Educação Infantil/CMEI. Além disso, foram utilizados os instrumentos como formulário e entrevistas semiestruturadas. O referido estudo indica que o ensino das artes e o Projeto Político-Pedagógico atendem os objetivos e metas para o ensino de artes visuais e indicam que o plano de aula da professora corresponde aos objetivos do ensino de artes 47 visuais contidos no RCNEI e na Proposta Pedagógica da SEMED-Manaus. Palavras-chaves: Artes visuais, educação infantil, desenvolvimento infantil, cultura visual, educador. 1. INTRODUÇÃO Toda e qualquer criança em sua posição como sujeito de um processo educacional carrega em si uma “bagagem” socioafetiva, que a influência e a acompanha em toda a sua jornada na escola, tendo grande impacto em relação à possíveis dificuldades ou facilidades dentro do processo de aprendizagem. Há muito preconceito e desconhecimento sobre os reais benefícios da prática artística no desenvolvimento da criança e da relação das artes com a educação infantil. Por isso, faz-se necessário o levantamento da seguinte questão: Quais são os benefícios das Artes Visuais no desenvolvimento cognitivo da criança? O objetivo geral desse trabalho vem da necessidade de desmistificar preconceitos em relação ao ensino da arte na educação infantil e de explicitar o benefício das atividades nela compreendida, além da apresentação das atividades e das competências que devem ser trabalhadas na escola com as crianças. Os objetivos específicos desse estudo compreendem aprofundar quais são os reais benefícios que as artes visuais proporcionam à criança em seus momentos específicos de desenvolvimento e construção de competências cognitivas de integração da criança ao seu meio, sua realidade e outras áreas de conhecimento, tendo como procedimento metodológico a análise de leis, dos documentos oficiais da escola - o Projeto Político-Pedagógico/PPP, da proposta curricular pedagógica da SEMED, do material didático e do RCNEI, visando sanar de forma satisfatória as questões levantadas durante a elaboração do projeto de pesquisa. Para a construção de um projeto de pesquisa e relatório, foi realizada uma construção do estado da arte, que é um quadro de mapeamento que possibilitará o conhecimento e reconhecimento de estudos que estão sendo, ou já foram realizados dentro de seu tema e área de conhecimento. 48 A obra de TITO (2016) foi de grande importância para o desenvolvimento teórico da pesquisa ao tratar da linguagem artística a partir do princípio da relação dela com a linguagem escrita e oral, tendo esta importância apesar de não ter o mesmo reconhecimento. A obra de Souza, Martini e Jordão (2007) apresenta grande foco no alinhamento das atividades lúdicas com a realidade das crianças. Essa obra auxiliou no momento de observação do lócus, das atividades da criança e da importância do lúdico na educação infantil. A proposta da Semed acrescentou ao projeto de pesquisa e relatório de pesquisa um ponto de vista legal e organizado das práticas pedagógicas na educação infantil, no que diz respeito à disponibilização de materiais, recursos, organização da sala, do lócus de pesquisa e da prática pedagógica, diante dos levantamentos dos objetivos gerais e específicos. Ademais, nesse estudo, são registrados além das questões teóricas sobre as Artes Visuais, com boa fundamentação em obras importantes, leis e grandes estudiosos que servem de referência, e também são objetivadas as práticas, com propostas, procedimentos e recursos didáticos para uma aula saudável e lúdica. REFERENCIAL TEÓRICO Ao longo da história da relação das artes visuais com a educação infantil, sempre foi destacada uma grande diferença rítmica em relação aos caminhos trilhados pela educação teórica, na qual, por muitas vezes, as artes são utilizadas nas escolas apenas como uma forma de inserir a criança no cotidiano escolar, com o caráter decorativo de sala em épocas de festividades, deixando muito de lado a questão da troca de informações entre as crianças, e excluindo a importância do caráter artístico no desenvolvimento cognitivo da criança e da sua relação com as demais matérias no decorrer de sua vida escolar, sendo de profundo benefício e enriquecimento das crianças participantes do processo social e consequentemente educativo. 2.1. Definição de artes visuais e cultura visual. As artes visuais recebem esse nome por designar um conjunto de 49 representações do mundo real ou imaginário, em que tem como principal forma de avaliação e apreensão o uso da visão, sendo uma ferramenta de grande importância no âmbito educacional infantil, pois representa um essencial estímulo estruturado em diferentes etapas do desenvolvimento infantil. Arte é conhecimento. E, partindo desse princípio, pode-se dizer que é uma das primeiras manifestações da humanidade, pois serve como maneira do ser humano marcar sua presença criando objetos que representam sua vivência no mundo, o seu expressar de ideias, sensações e sentimentos e uma forma de comunicação (AZEVEDO JÚNIOR, 2007). Para Tabosa (2005), o termo arte é derivado do latim ars, que tem sentido de origem grega de arte manual, ofício, habilidade, obra, que significa, em um aspecto mais geral, um conjunto de regras que conduzem a atividade humana. Segundo Fischer (1983, p. 01) cabe a arte: Papel de clarificação das relações sociais, ao papel de iluminação dos homens em sociedades quese tornavam opacas, ao papel de ajudar o homem a reconhecer e transformar a realidade social. Uma sociedade altamente complexificada, com suas relações e contradições sociais multiplicadas, já não pode ser representada à maneira dos mitos. Para Freedman (2003, p. 59), "a cultura é a forma de viver, e a cultura visual dá forma ao nosso mundo, ao mesmo tempo em que é nossa forma de olhar o mundo". Relacionando-se com a manifestação das artes visuais de forma ampla na nossa sociedade, podendo ser definida como cultura visual, apresentando um acréscimo qualitativo na compreensão das relações da criança não só na escola, mas em qualquer ambiente educativo fora dela. Segundo Mirzoeff (1999, p. 17), “o primeiro passo para estudos de cultura visual é um reconhecimento de que a imagem visual não é estável, mas muda a sua relação com a realidade exterior em momentos particulares da modernidade”. Para John Berger (1972), a cultura visual é um campo de estudos que aborda as artes visuais sob um aspecto antropológico de processos culturais, costumes visuais e hábitos de um povo, tendo como pioneiros em seus estudos John Berger, 1972, e Laura Mulvey, 1975. A utilização dessas obras no processo da construção do referencial teórico da obra de forma qualitativa e 50 analítica enxerga a criança não só como membro de um grupo social, um ser passivo no meio da sociedade, mas também como um ser produtor de arte e consequentemente cultura visual. Nesse sentido, segundo John Berger: “Ver precede as palavras. A criança olha e reconhece, antes mesmo de poder falar”. Essa fala de Berger apresenta a linguagem artística como uma manifestação mesmo anterior à linguagem oral, sendo uma forma anterior de se expressar. 2.2. A importância das artes no desenvolvimento da criança. De acordo com o RCNEI (1998.p.85,86), “As artes visuais englobam muitas formas de artes tradicionais, desde os primeiros desenhos feitos pelos homens das cavernas, até os filmes e jogos em realidade virtual da atualidade”. Mas de que forma elas atuam no desenvolvimento de uma criança no âmbito escolar e familiar? Como resultado de intenso trabalho de pesquisa, percebo que presente desde o início da humanidade e da escola, as artes visuais assumiram diferentes formas no modo de se adequar à época na qual era vivida. O reconhecimento da disciplina de Artes, anteriormente conhecida pelo nome de Educação Artística, ocorreu na década de 90, no Brasil, fazendo parte da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB n°9.394/96), ocupando o artigo 26, parágrafo 2°: “O ensino da Arte constituiria componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”. As artes na educação infantil representam um importante elemento do desenvolvimento cognitivo da criança nos seus processos de aprendizagem, nos quais a ludicidade apresenta a forma com a qual a criança irá exercitar suas habilidades sociais, motoras e emocionais. De acordo com o RCNEI (1998. p.89), as Artes Visuais devem ser concebidas como uma linguagem com diversas especificidades, em que, no campo prático e reflexivo, a aprendizagem ocorre por intermédio dos seguintes aspectos: Fazer artístico — centrado na exploração, expressão e comunicação de produção de trabalhos de arte por meio de práticas artísticas, propiciando o desenvolvimento de um percurso de criação pessoal; Apreciação — percepção do sentido que o objeto propõe, 51 articulando-o tanto aos elementos da linguagem visual quanto aos materiais e suportes utilizados, visando desenvolver, por meio da observação e da fruição, a capacidade de construção de sentido, reconhecimento, análise e identificação de obras de arte e de seus produtores; Reflexão — considerado tanto no fazer artístico como na apreciação, é um pensar sobre todos os conteúdos do objeto artístico que se manifesta em sala, compartilhando perguntas e afirmações que a criança realiza instigada pelo professor e no contato com suas próprias produções e as dos artistas. (RCNEI (1998. p.89) O fazer artístico tem fundamentos diretos na exploração e também da prática artística como um objeto de conhecimento, tão valorizado quanto o resultado final da intervenção artística, tendo em seguida a apreciação, que trata da percepção da proposição de sentindo dada pelo objeto artístico à análise de materiais, de cores e suportes, construindo assim uma temática, uma lógica, um sentido, e em seguida a reflexão, que é a consideração das técnicas utilizadas, dos resultados. No geral, é uma compilação de tudo da obra, acompanhada de perguntas e afirmações que a criança expõe sobre a própria produção e a dos demais artistas. Esses aspectos se relacionam de forma complementadora, assim possibilitando a prática plena das artes visuais. 2.3. Objetivos das artes visuais na educação infantil em relação à faixa etária. Para essa fase, os objetivos estabelecidos para a faixa etária de zero a três anos deverão ser aprofundados e ampliados. De acordo com o RCNEI: Crianças de zero a três anos é necessário ampliar a sua percepção de mundo, por meio do contato e manipulação de diversos materiais e objetos, com o intuito de explorar e conhecer suas características, propriedades e as diversas possibilidades de manuseio, além de entrar em contato com diversas formas de expressão por meio da linguagem visual, com a utilização de tais materiais sobre diferentes situações e superfícies, assim permitindo expandir sua habilidade de expressar e comunicar.(RCNEI, 1998, p.95) As artes visuais e suas diversas manifestações na realidade da criança serão inseridas em seu processo educacional a partir de atividades lúdicas e da manipulação de materiais, desenvolvendo suas competências emocionais, sociais, culturais e cognitivas. De acordo com o RCNEI: Crianças de quatro a seis anos, é necessário o aprofundamento dos objetivos dados ao momento anterior do desenvolvimento da criança, 52 garantindo-as oportunidades que as auxiliem a tornar capazes de se interessar pelas suas próprias produções, pelas produções de outras crianças (comunicação) e em demais produções, sejam regionais, nacionais ou internacionais, fazendo com que aumentem a lente com a qual enxergam o mundo e a cultura, reforçando a questão de cuidado e respeito pelo processo de produção, criação e manutenção.(RCNEI, 1998, p.85) A continuidade, a prática e a evolução progressiva se apresentam como processo crucial do desenvolvimento das competências relacionadas ao ensino das artes visuais, garantindo que a criança esteja sempre se deparando com novos desafios e formas novas e interessantes da arte visual. 2.4. Orientações didáticas a respeito do ensino das artes visuais. De acordo com TITO (2016p.11), é de suma importância organizar os conteúdos relacionados ao ensino das Artes e suas especificidades, de forma que seja permitido que a criança utilize um conhecimento prévio com o qual possua familiaridade, ao mesmo tempo em que entra em contato com situações e desafios que a faça entrar em contato com novas relações, servindo como uma lente de alargamento do conhecimento e capacidades cognitivas da criança, conhecido como: “Assimilação e Acomodação”, como dizia Piaget em sua obra: “A equilibração das estruturas cognitivas” (1996 p. 35). O professor, atuando como alicerce do processo do ensino das artes visuais na educação infantil, tendo conhecimento teórico e prático da importância do processo artístico no desenvolvimento da criança, deverá garantir que a criança deva compreender e conhecer a diversidade das produções artísticas, que ela tenha a possibilidade de manipular diferentes tipos de materiais, que o respeito ao ponto de vista das criançasvenha a acontecer dentro de suas singularidades e que a valorização da ação artística e o respeito pela diversidade dessa produção sejam elementos sempre presentes. A arte promove o desenvolvimento de competências, habilidades e conhecimentos necessários a diversas áreas de estudo, entretanto não é isso que justifica a sua inserção no currículo escolar, mas seu valor intrínseco como construção humana, como patrimônio comum a ser apropriado por todos(LAVELBERG, 2003, p. 43) As artes visuais são de valor imensurável no desenvolvimento da criança, 53 acompanhando-as por toda a vida e sendo sua válvula de escape para as angústias da existência, os descontentamentos, as alegrias, realizando a passagem da criança de um ser individual para um ser social, fazendo-as conhecer seus limites e habilidades, trabalhando com sua expressão de sentimentos e consequentemente tornando um ser humano melhor e ciente de suas relações com outros seres sociais. Segundo a Proposta Pedagógica Curricular da SEMED, as atividades manuais da criança sob a mediação do professor devem se basear em conceitos de autonomia. Essas atividades fazem parte do dia a dia das crianças em idade de Creche e Pré-Escola, dando a autonomia para que elas possam tomar decisões, expressar sentimentos e valores, conhecendo a si próprios e os outros, expressando sua individualidade e identidade.(PPC SEMED, 2016, p. 37) As atividades de manipulação nas artes visuais constituem de construção de identidade e individualidade, no qual a criança se identifica com um grupo cultural, com uma corrente de criação, com um grupo, pois esse reforço de identidade se constrói também de forma coletiva. Metodologia. Método. As pesquisas realizadas são de cunho qualitativo, bibliográfico e descritivo, atentando-se a suas especificidades e qualidades únicas, buscando expor resultado de pesquisa bibliográfica e de campo em relação ao ensino das Artes Visuais na Educação Infantil, sua integração como a cultura e realidade da criança, seus reais benefícios e cuidados a serem tomados em relação a uma produção de um quadro teórico que aborda o assunto, a partir da construção do artesanato intelectual. Nesse aspecto, a pesquisa qualitativa é definida como um tipo de investigação voltada para os aspectos qualitativos de uma determinada questão. Considera a parte subjetiva do problema. Isto significa que ela é capaz de identificar e analisar dados que não podem ser mensurados numericamente. Podemos citar como exemplo a observação e análise de sentimentos, percepções, intenções e comportamentos. 54 O papel da pesquisa bibliográfica é definido como: A pesquisa bibliográfica é então feita com o intuito de levantar um conhecimento disponível sobre teorias, a fim de analisar, produzir ou explicar um objeto sendo investigado. A pesquisa bibliográfica visa então analisar as principais teorias de um tema, e pode ser realizada com diferentes finalidades. (CHIARA, KAIMEN, et al., 2008). A pesquisa descritiva é uma classificação da pesquisa científica, na qual seu objetivo é descrever as características de uma população, um fenômeno ou experiência para o estudo realizado. Instrumentos de coleta de dados. Foram utilizados os instrumentos de coleta de dados utilizados na pesquisa com o objetivo de responder às questões surgidas a partir da construção do referencial teórico, objetivos gerais e específicos. Além da pesquisa bibliográfica, que busca um alicerce e funciona como elemento norteador das práticas de pesquisa no relatório final, também foi utilizado o formulário de perguntas enviadas para os alvos da pesquisa, nos quais foram ouvidos cinco professores de rede pública e privada. Entrevistas não estruturadas também serviram como instrumento de coleta de dados, nas quais foram ouvidos funcionários da escola e professores. A entrevista semiestruturada deu origem ao momento da análise de dados. Foram levantadas questões sobre o ensino das artes visuais, sua prática metodológica e seu embasamento teórico e legal. Também surgem questões com relação ao abastecimento e distribuição de recursos didáticos e de recursos de merenda. A análise do lócus da pesquisa surge para complementar e confirmar as práticas ditas nas entrevistas, em que foi observada a infraestrutura do CMEI, no qual foram realizadas as práticas de pesquisa de campo, a organização do espaço da sala e a disponibilidade de materiais de construção artística, também sendo observada a situação socioeconômica do bairro onde se encontra. Lócus da pesquisa Situada em uma “área vermelha” no bairro Corado III, na zona leste de Manaus, o CMEI onde foi realizada a pesquisa de campo atende cento e quarenta e duas crianças divididas em primeiro e segundo período, atendendo 55 crianças de quatro a cinco anos, de acordo com a LDB. O CMEI conta com uma infraestrutura de cinco salas, uma secretaria e diretoria, além de dois banheiros para alunos e dois para funcionários. Também conta com um refeitório e um consultório odontológico, uma área externa com chuveiros e uma horta orgânica, que abastece a cozinha do refeitório. O deslocamento até o local de pesquisa de campo foi realizado a pé para ter melhor contato com o ambiente no qual se situa o CMEI. Roteiro de observação de campo No primeiro dia de pesquisa de campo, foi realizado um primeiro contato com a equipe da escola, que se baseou nas apresentações e em explicar o objetivo da presença naquele lugar. Foi realizada uma entrevista semiestruturada com uma professora do CMEI. Depois da realização da entrevista, foi solicitada uma consulta com o Plano Político-Pedagógico da instituição. Após um período de tempo para uma análise satisfatória e detalhada do PPP, como previsto no roteiro de observação previamente elaborado, foi realizado um percurso guiado através das salas de aula, dos espaços de armazenamento e da sala multimídia. O processo de observação e análise documental se baseia nas competências previstas no RCNEI a respeito das artes visuais, sua definição, suas manifestações, especificidades e importância no desenvolvimento da criança, ligado aos objetivos do trabalho de pesquisa. Também foram utilizadas na análise documental as medidas previstas na Proposta Pedagógica Curricular da SEMED, relacionando-se com os objetivos levantados no trabalho de pesquisa ao tratar das orientações aos professores, aos direitos das crianças, e das obrigações da instituição de ensino. Resultados e discussão Em um primeiro momento, antes da realização da entrevista semiestruturada, foi realizado um diálogo introdutório com a professora, que será referida como Professora C, durante esse momento de análise de dados. Quando questionada sobre quais os seus entendimentos a respeito do 56 termo artes visuais, a resposta obtida a partir da professora entrevistada foi: “Entendo por artes visuais tudo aquilo que engloba a estética, a criatividade da visão humana.” Relacionando-se com os objetivos gerais da pesquisa, nos quais foi levantada a necessidade em primeiro lugar de uma clara definição do que são as artes visuais, pois a implementação de qualquer disciplina das amplas ramificações de campos, mesmo na educação infantil, é dada como o primeiro passo para um processo de desenvolvimento satisfatório e saudável da criança, também de acordo com a definição das artes visuais presente no RCNEI (volume 3, página 85, 1998): As Artes Visuais expressam, comunicam e atribuem sentido a sensações, sentimentos, pensamentos e realidade por meio da organização de linhas, formas, pontos, tanto bidimensional como tridimensional, além de volume, espaço, cor e luz na pintura, no desenho, na escultura, na gravura, na arquitetura, nos brinquedos,bordados, entalhes etc. O movimento, o equilíbrio, o ritmo, a harmonia, o contraste, a continuidade, a proximidade e a semelhança são atributos da criação artística Os benefícios da relação da criança com as artes visuais se fazem importantíssimos para a relação da criança com a realidade que a cerca, com sua cultura, na qual passa a atuar ativamente também como produtora dela, e não só indivíduo incluso. Em seguida, foi levantada a seguinte indagação: As artes visuais estão no cotidiano da criança dentro da escola? Há oficinas de artes na escola? A resposta da professora entrevistada foi: “Sim, estão presente nas atividades, nos feriados e nos planos de aula. Buscamos integrar os eventos e feriados aos calendários que nos são passados.” A maioria das escolas busca inserir as crianças no calendário de datas comemorativas a partir das artes visuais, com cartões, cartazes e filmes. Porém é crucial o contato diário e livre com as diferentes manifestações de artes visuais e cultura visual. Assim previsto na Proposta Pedagógica Curricular do Ensino Infantil, da SEMED (p. 37, ano 2016) Deve-se permitir que as crianças manipulem livremente ou direcionar tais materiais, objetivando prazer às crianças e possibilitando o desenvolvimento de habilidades motoras finas, situações imaginárias e de construção do conhecimento. 57 O contato com as manifestações das artes visuais, quando mediado por um professor com uma base de pesquisa didática, é uma prática saudável e de grandes resultados, porém no processo a liberdade e não intervenções em certos momentos se fazem tão importante quanto. O questionado levantado a partir das perguntas anteriores diz respeito ao seguinte questionamento: As crianças participam da criação dos quadros e cartazes? Nesse momento da entrevista, a professora fez uma revelação, um desabafo inesperado: “Quando temos material para a confecção sim, mas infelizmente aqui na escola temos muitas vezes que tirar as coisas do nosso próprio bolso; nos são repassados poucos materiais do tipo cola, tinta guache, cartolinas e pincéis, e muitas das vezes chega no meio do ano e já não temos mais nada, e aí precisamos comprar nós mesmas”. Nesse momento da coleta de dados, foram apresentados problemas de escassez de recursos, diferente da Proposta Pedagógica Curricular do Ensino Infantil, da SEMED (p. 23, ano 2016). O provimento de materiais como papel ofício, papel 40k, cartolina, tinta guache, cola colorida, massa de modelar, cola branca, tesoura, pincel hidrocor, pincel de pelo, lápis, borracha, apontador, lápis de cor, giz de cera, entre outros, é de responsabilidade da Secretaria Municipal de Educação, que deve sempre observar a qualidade e validade dos materiais oferecidos às crianças. Isso representa um problema de concordância entre a proposta pedagógica da Semed e a fala da Professora 1. A última pergunta do roteiro de entrevista semiestruturada diz respeito ao planejamento das atividades pedagógicas: As aulas de artes (ou momentos artísticos) são planejadas? Se forem planejadas, quais são os livros didáticos que você utiliza como material? Diante do questionamento, foi respondido pela professora: “São planejadas e sequem os conteúdos previstos para idade e série correspondentes, trabalhando a partir de projetos elaborados previamente, utilizamos os livros indicados pela secretaria de educação” Como previsto no (RCNEI, volume 3, p. 110, ano 1998). Os projetos podem ter como ponto de partida um tema, um problema sugerido pelo grupo ou decorrente da vida da comunidade, uma notícia de televisão ou de jornal, um interesse particular das crianças etc. 58 Para a criação de um projeto, o educador precisa realizar uma construção conjunta não só com toda a equipe escolar, mas com indivíduos atuantes na realidade da criança e das redondezas da escola, para garantir um objetivo condizente com a realidade sociocultural que se encontra. Após o término da entrevista semiestruturada com a professora C, foi realizada uma visita guiada, na qual foram observadas as estruturas físicas e as atividades expostas. No que diz respeito às atividades expostas em sala e nos demais espaços do CMEI, foi constatado que seguem de acordo com a entrevista e com as informações previstas no RCNEI e na Proposta Pedagógica Curricular da SEMED, em que se detectou a participação ativa das crianças na produção das manifestações nas artes visuais, e também o contato com exibições de vídeos educativos e musicais. Também foi registrado que as ferramentas do processo de criação das variedades das artes visuais se encontram no alcance das crianças durante as aulas, não sendo escondidas ou colocadas em armários ou estantes altas. Considerações Finais Nessa pesquisa o objetivo geral se baseia na necessidade de desmistificação do ensino das Artes Visuais na educação infantil, a partir da análise de documentos como o PPP da instituição, da Proposta Curricular da SEMED. A pesquisa revelou que o ensino das artes visuais está bem representado nas propostas oficiais e planos escolares, tendo sua importância e visibilidade cada dia mais ampliado e reconhecido, porém ainda se fazendo necessária uma futura pesquisa a respeito da modernização das artes visuais aliadas ao currículo na educação. A observação em campo corroborou com as informações previstas nos documentos analisados, incluindo o PPP do CMEI, no qual foi realizado o trabalho de coleta de dados. Nesse sentido, constatou-se uma prática docente consciente, plural e sensível para com as capacidades e habilidades das crianças, de forma bem estruturada e planejada. O objetivo específico, que foi respondido durante o processo de coleta e análise de dados, foi o da arte como um catalisador no processo de aprendizagem da criança em outros campos de conhecimentos presentes nas 59 escolas, foi esclarecido durante a entrevista e observação das atividades exposta, conforme afirma o RCNEI: As Artes Visuais têm sido também bastante utilizadas como reforço para a aprendizagem dos mais variados conteúdos. São comuns as práticas de colorir imagens feitas pelos adultos em folhas mimeografadas, como exercícios de coordenação motora para fixação e memorização de letras e números.(1998, p. 87) Foi observado que as crianças que apresentam uma familiaridade e contato maior nos conceitos da arte visual, como traços, pontilhados, movimentos e coordenação motora, apresentam uma capacidade que, mesmo que não saiba escrever no momento, são capazes de mimetizar a escrita. Em uma visão ampla da realização dessa pesquisa, chegamos à conclusão de que as artes visuais são tão presentes na educação infantil quanto no nosso cotidiano e nas relações sociais. Além disso, contribuem para o desenvolvimento de competências e habilidades das crianças pequenas, no que tange ao processo de integração, socialização e futuras aprendizagens. São habilidades motoras, visuais, socializadoras e convencionais pertinentes a crianças da educação infantil. Em outras palavras, as artes visuais podem ser entendidas como um instrumento que favorece o avanço ou a consolidação da aprendizagem da criança, preconizadas nos documentos oficiais da Educação Infantil. Referências AZEVEDO JUNIOR, José Garcia de. Apostila de Arte – Artes Visuais. São Luís: Imagética Comunicação e Design, 2007. 59 p.: il. BERGER, John. Modos de ver. Rocco, 1980 BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996 BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil / Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF,1998. 3v.: il. Volume 1: Introdução BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil / 60 Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998. 3v.: il. volume 2: Formação pessoal e social BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil / Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998. 3v.: il. volume 3: Conhecimento de mundo. FERREIRA, A. P. A importância do ensino de artes visuais na educação infantil. Belo Horizonte: Escola de Belas Artes da UFMG, 39f. 2015 FISCHER, Ernst. A Necessidade da Arte. Rio de Janeiro: Zahar, 1983. PUC- RIO. Conceito Ampliado de Arte e Escultura Social. Certificação Digital n° 0410534/CA. P. 45-58. IAVELBERG, R. Para gostar de aprender arte: sala de aula e formação de professores. Porto Alegre: Artmed,2003. MIRZOEFF, Nicholas. Uma Introdução à Cultura Visual. PIAGET, J. A Equilibração das Estruturas Cognitivas. Problema central do desenvolvimento. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1976 PUC-RIO. Conceito Ampliado de Arte e Escultura Social. Certificação Digital n° 0410534/CA. P. 45-58. TABOSA, Adriana. A perda do conceito original de arte. Oficina Cinema História, Copyright ©, 2005. TITO, C. S. Q. Artes visuais na educação infantil. 2016. 24 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Pedagogia) - Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2016. 61 Capítulo IV ______________________________________________________________ Revista Espia Lindoso: Uso das TDC's como ferramentas para combate ao preconceito linguístico Caroline Souza da Silva - Graduada em Letras Língua Portuguesa - Uninorte/AM RESUMO O discente deve compreender que seu papel na sociedade é fundamental para as relações interpessoais e fortalecimento de uma sociedade mais democrática e equitativa, isso exige, cada vez mais, competências, formação e domínio do conhecimento. Este artigo tem por objetivo relatar a criação do projeto Espia Lindoso, que visa à compreensão dos diversos falares das regiões norte e nordeste, e os preconceitos linguísticos estigmatizados na sociedade brasileira. Esta proposta consiste em um estudo qualitativo e quantitativo, no qual se buscou promover aulas envolvendo leitura e interpretação de texto, produção textual, pesquisas e discussões. Evidencia- se o estímulo ao protagonismo e a criatividade estudantil, através de leitura e produção textual, tendo em vista a importância da utilização de diferentes atividades lúdicas na sala de aula e no contexto do processo ensino aprendizagem. Constata que as relações interpessoais são fundamentais para a construção do conhecimento e para o desempenho da aprendizagem, na aceitação das diferenças e nas relações de pertencimento começando por seu dialeto. Assim, compreendendo as diversas variedades linguísticas existentes, possa refletir sobre as causas do preconceito linguístico, tem-se uma oportunidade formativa diferenciada tanto aos estudantes quanto aos docentes envolvidos no projeto. Palavras-chaves: Espia Lindoso; Protagonismo juvenil; Variedade Linguística; Preconceito Linguístico. 62 INTRODUÇÃO No século XXI os jovens têm cada vez mais acesso às informações e com mais celeridade, imersão na cibercultura (LÉVI, 1999) que propicia vivências múltiplas e diferenciadas que trazem às escolas e seus docentes o desafio de buscar formas de construir práticas educativas que se adequem a essa nova realidade e favoreçam o processo ensino-aprendizagem da juventude estudantil. Diversos temas podem ser abordados com uso de Tecnologias Digitais de Comunicação e Informação (TDIC´S) de forma a oportunizar uma aprendizagem reflexiva e ativa. Oportunizando-se o protagonismo juvenil, conforme orientado na Base Nacional Comum Curricular - BNCC (BRASIL, 2018) quando afirma que: Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. Ocasionando maiores e melhores possibilidades de intervenção nas escolas, em suas comunidades e no mundo. Nesse sentido, compreende-se que as práticas de ensino docente com uso de TDIC´s podem colaborar para promoção de uma educação com equidade e que viabilize construção de cidadania em meio físico e digital. Tal entendimento, tornou-se significativamente mais claro a partir da necessidade de inserção de TDIC´s devido ao contexto pandêmico. Se por um lado, foi possível perceber a carência de conhecimentos necessários à construção de práticas pedagógicas que utilizassem tais tecnologias e da pouca infraestrutura escolar para tal. Por outro lado, pôde-se na busca de aprender a construir as referidas práticas compreender a importância dessas para o contexto educacional atual, principalmente a partir da aprovação da BNCC e do desafio de sua implementação. Nesse sentido, foi desafiador buscar formas de construir um projeto que inserisse o uso de TDIC´s, discutisse a variedade linguística e o preconceito linguístico, estimula a pesquisa e produção escrita dos estudantes e mobilizasse a escola em torno dos temas abordados de forma a possibilitar reflexões que estimulem o respeito às particularidades das pessoas, seus grupos e suas comunidades. 63 Como os indivíduos têm suas particularidades, a língua também possui as suas, visto que, “Conscientizar-se de que toda língua muda e varia. O que hoje é visto como “certo” já foi “erro” no passado. O que hoje é considerado “erro” pode vir a ser perfeitamente aceito como “certo” no futuro da língua” (Bagno, 2007. p 142). Considerando a grande variedade linguística brasileira e que seu desconhecimento, por parte do alunado, pode ocasionar situações de preconceito ao falar do outro, considerado como errado para quem desconhece tal falar, entende-se de grande importância trazer e propiciar momentos de reflexão e discussão sobre esse tema ao ambiente escolar. Nesse sentido, o trabalho com projetos mostra-se uma possível estratégia pedagógica. Da referida compreensão, pensou-se em construir um projeto de ensino que fomentasse essa discussão de forma que os estudantes pudessem ser protagonistas ao longo de todo o processo educativo. Ao abordar situações de preconceito vivenciado na escola ou em suas comunidades devido à maneira de falar característica do povo nortista (amazonense) e nordestino, compreender que não se trata de erro, uma vez que, “Nós somos a língua que falamos. A língua que falamos molda nosso modo de ver o mundo e nosso modo de ver o mundo molda a língua que falamos.” (Bagno, 2007, p. 143.). Assim, buscou-se construir e desenvolver o projeto concernente às variedades linguísticas como parte integrante na constituição do ser humano, já que: A língua, em sua infinitude, em sua heterogeneidade e em seu constante processo de mudança, é, no fundo, incontornável – como dizia o filósofo alemão Martin Heidegger. Isto é, não dispomos de meios para cercá-la, para riscar um traço a seu redor, para desenhar uma linha que a contenha. (FARACO, 2008, p. 104). É finalidade deste trabalho relatar a experiência do desenvolvimento do projeto de ensino: Revista Digital Espia Lindoso, realizado com cinco turmas de 1.ª série do Ensino Médio do turno matutino, da Escola Estadual Prof. José Bernardino Lindoso, idealizada pela professora, autora deste relato, emparceria colaborativa com a pedagoga da instituição de ensino referida, localizada na zona norte de Manaus – AM, pertencente à Coordenadoria Distrital de Ensino 6 (CDE-6). Este relato, encontra-se organizado em etapas 64 sendo essas diagnóstico, planejamento, implementação, avaliação e divulgação PRÁTICAS ESCOLARES E AS VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS Uma das práticas que visam uma educação de qualidade está relacionada com o ensino da língua e domínio sobre ela, o que inclui a leitura, escrita e a variedade linguística, essas competências avançam respectivamente com as práxis socioculturais das diversas regiões do nosso país. Considerando o grau de rejeição social das variedades ditas populares, parece que o que nos desafia é a construção de toda uma cultura escolar aberta à crítica da discriminação pela língua e preparada para combatê-la, o que pressupõe uma adequada compreensão da heterogeneidade linguística do país, sua história social e suas características atuais. Essa compreensão deve alcançar, em primeiro lugar, os próprios educadores e, em seguida, os educandos. (ZILLES, FARACO, 2015, p 9.) Do dito pelos autores, compreende-se que através de práticas pedagógicas que integrem uma reflexão sobre a importância da multiplicidade da nossa língua, pode-se ampliar a compreensão acerca da utilização da linguagem em variados contextos sociais, compreende-se que a língua passar por processos de adaptabilidade de acordo com o principal responsável pelo uso dela, o falante. Construir esta compreensão faz-se indispensável para combater práticas preconceituosas na escola e na sociedade. Já que. Apreende-se que as novas práticas de abordagem dessa temática necessária ao ensino dos discentes, faz-se indispensável a realização de aulas com leituras de textos de variados gêneros como músicas, cordéis, poemas, debate etc., abordando tanto a variedade linguística quanto o preconceito linguístico. Em sala de aula, percebe-se as diferenças e semelhanças dos falares das regiões norte e nordeste, o estudo sobre os tipos de variedades linguísticas diatópica, diacrônica, diastrática e diafásica, e o que ocasiona o preconceito linguístico em cada um desses aspectos. A variação linguística é uma realidade que, embora razoavelmente, bem estudada pela sociolinguística, pela dialetologia e pela linguística histórica, provoca, em geral, reações sociais muito negativa. O senso comum tem escassa percepção da língua como um fenômeno heterogênea que alberga grande variação regional demoniza a variação social e tende a interpretar as mudanças como sinais de deterioração da língua. (ZILLES, FARACO, 2015, p 27.) 65 Nesse sentido, discutir os temas referidos torna-se primordial no ensino de Língua Portuguesa, pois favorece a construção de conhecimentos de forma crítica, ao invés de meramente memorizar regras ortográficas. Ao pesquisar as variedades da língua como a regional, por exemplo, os estudantes não têm contato apenas com palavras, mas sim com culturas diferentes. E nestas poderão identificar pontos em comum ou divergentes da sua. Poderão a partir de discussões em grupo perceber que o escárnio sobre a maneira de falar do outro, constituem uma prática agressiva à cultura alheia. Podendo ser configuradas como atos de discriminação que podem contribuir para fortalecer diversas formas de preconceito, dentre eles, o linguístico. Segundo Leite: Do ponto de vista filosófico, o preconceito é um fenômeno que se verifica quando um sujeito discrimina ou exclui outro, a partir de concepções equivocadas, oriundas de hábitos, costumes, sentimentos ou impressões. (LEITE, MARLI QUADROS, 2012, p 27.) Ademais, propiciar tal vivência educativa pode contribuir para valorização cultural do povo nortista e amazônico. Dessa forma, o ensino de nossa língua materna, perpassa pelo ensino da diversidade cultural presente em nosso país. Diversidade que precisa ser valorizada e respeitada. Docentes e escolas, tem sua importância e responsabilidade nesse sentido. A seguir relata-se o projeto de ensino que objetivou trazer essa discussão para o ambiente escolar. RELATO DE EXPERIÊNCIA O projeto Revista Espia Lindoso foi desenvolvido no período de 10 de agosto a 29 de setembro do ano letivo de 2021. Para sua escrita, observaram- se os conhecimentos prévios dos estudantes sobre as temáticas abordadas, valorizando-se o diálogo, respeitando-se o contexto social discente, e enfatizando-se a responsabilidade social, coletiva, democrática e inclusiva. Realizou-se um estudo e observação das variedades linguísticas presente na escola e se haviam ocorrências de situações de preconceito linguístico na mesma, e qual seria a importância desses temas para o convívio social dos alunos. Abriram-se assim, as discussões sobre os temas abordados, utilizando- se como estratégias didático-pedagógicas: redes sociais (Instagram, whatsapp e facebook), pesquisas em sites, realização de entrevistas, construção de 66 cartazes e painéis temáticos, através dos quais estudantes com habilidades para desenho puderam expressar sua compreensão dos temas abordados de forma mais crítica e criativa. O projeto, também foi construído em consonância com o Projeto Político Pedagógico da Escola (PPP), pois este defende a construção do conhecimento a partir do Construtivismo, da dialogicidade freireana e trabalho pedagógico de forma interdisciplinar. O projeto teve como objetivo geral: Compreender os diversos falares das regiões Norte e Nordeste brasileiras e os preconceitos linguísticos estigmatizados na sociedade brasileira, e como objetivos específicos: Conhecer as diferentes variações linguísticas do norte e nordeste brasileiro; discutir os diversos falares das regiões Norte e Nordeste brasileiras e os preconceitos linguísticos estigmatizados na sociedade brasileira. Refletir sobre a causa do preconceito linguístico nessas regiões e suas consequências a essa população; estimular o protagonismo e a criatividade juvenil em produções textuais; estimular a leitura de produções literárias (Contos, Crônicas e Poemas) de escritores da Região Norte e Nordeste. inseri Tecnologias Digitais de Comunicação e Informação (TDIC´S) nas práticas pedagógicas para o ensino de Língua Portuguesa. A seguir, dispõe-se a sua metodologia. METODOLOGIA O projeto foi desenvolvido em seis etapas, conforme descrito abaixo. Quadro 1. Etapa Diagnóstica 1ª etapa: Diagnóstica Foi realizado o diagnóstico do conhecimento prévio dos estudantes sobre as variedades linguísticas e o preconceito linguístico, e sobre a relevância dos temas para os alunos e demais comunidade escolar. Foram utilizados pesquisas e debates sobre o tema variedade e preconceito linguístico nas aulas para desenvolver esta etapa. Esta etapa foi realizada sob forma de rodas de conversa com alguns alunos das turmas e foi produzida uma live com alguns discentes que aceitaram participar da discussão ao vivo via Instagram do projeto. 67 Figura 1. Live transmitida no Instagram Quadro 2. Etapa Planejamento 2ª etapa: Planejamento: Organização de grupos de estudantes para o desenvolvimento do projeto: Equipe de coordenação e Equipe de pesquisa e desenvolvimento composta por alunos. Professores Convidados: Prof.a Andrea Fonseca - Física Prof.o Gean Oliveira - Filosofia Prof.a Auciléia Augusto - Língua Inglesa Prof.a Maria Goreth Farias - Artes Apoio Pedagógico e Administrativo: Prof.a Ildeneti de Jesus Alves - Pedagoga Prof.a Luciana Mara Carvalho Aguiar- Gestora Familiarização e aprofundamento dos conhecimentos dos estudantes com os temas. As estratégias didáticas utilizadas foram: orientação à realização de pesquisas em sites e posterior, problematização em sala de aula; uso de músicas e vídeos do YouTube sobre ostemas e sua análise em sala de aula, dentre elas, a música: O Amazonês do cantor nortista, Nicolas Junior, que demonstra vários falares nortistas, principalmente o amazônico. 68 2ª etapa: Planejamento: Organização de grupos de estudantes para o desenvolvimento do projeto: Em seguida, apresentação do vídeo do poeta e cordelista nordestino Bráulio Bessa que explica sobre o preconceito linguístico que sofreu por ser do Nordeste, e através de um cordel de Josenir Alves de Lacerda que se intitula Cordel Dicionário, exemplifica as variedades linguísticas da região nordestina. E por último, o vídeo do Rap Emicida que fala sobre as diversas formas de se comunicar. Todas as atividades foram feitas sob forma dialógica. Sempre estimulando a reflexão discente. Nesta segunda etapa, utilizou-se uma caixinha de som, um tablet, internet e vídeos do YouTube. Figura 2. Planejamento Quadro 3. Etapa Implementação 3ª etapa: Implementação: Pesquisa e Discussões Apresentação oral com uso de slides para os alunos os aspectos que compõe as variedades linguísticas Abordando-se: variação histórica, regional, social e de estilo, e o que ocasiona o preconceito linguístico em cada um desses aspectos. 69 Nesta etapa, propôs-se em uma aula, uma atividade de pesquisa (em meio físico e digital) e observação livre sobre como os grupos sociais dos quais cada aluno participa, como grupo familiar, amigos, comunidade escolar, para a verificação das diversas formas de falar nesses grupos. Na aula posterior, foi promovido debate sobre as descobertas dos estudantes. Os alunos observaram as diferentes formas de se comunicar de acordo com o grupo social que está inserido, que o jeito que falam com os pais é diferente do jeito que eles se comunicam com o grupo de amigos. Observou-se que as descobertas feitas geraram interação entre os estudantes e com a professora. Figura 3. Atividade Implementação Figura 4. Pesquisa Quadro 4. Etapa Produção 4ª etapa: Produção da Revista 70 Nesta etapa, propôs-se em uma aula, uma atividade de pesquisa (em meio físico e digital) e observação livre sobre como os grupos sociais dos quais cada aluno participa, como grupo familiar, amigos, comunidade escolar, para a verificação das diversas formas de falar nesses grupos. Na aula posterior, foi promovido debate sobre as descobertas dos estudantes. Os alunos observaram as diferentes formas de se comunicar de acordo com o grupo social que está inserido, que o jeito que falam com os pais é diferente do jeito que eles se comunicam com o grupo de amigos. Observou-se que as descobertas feitas geraram interação entre os estudantes e com a professora. Os estudantes foram divididos por turma e construíram roteiros de entrevista com convidados de outras regiões para falar sobre as expressões regionais, como a participação do Professor e Administrador Antônio de Marabá que explica seu entendimento por preconceito linguístico, pesquisas de músicas, poemas, contos, crônicas, produção de artigo de opinião, resenha, resumo crítico e entretenimento relacionadas às variações linguística, produções textuais e artes digitais para a mesma, como produção de tirinhas e desenhos de autorias dos alunos. Figura 5. Produção: Mão na massa 71 Figura 6. Produção: Equipe de Coordenação Quadro 5. Etapa 5ª etapa: Avaliação e Criação da Revista Digital Criação de QRCode para facilitar o acesso à revista, através de aparelhos de Smartphone, e por fim. Foi utilizado o aplicativo QRCode Generator para a criação da revista digital nesta penúltima etapa. 72 Figura 5. Revista Digital Quadro 6. Etapa Divulgação 6ª etapa: Divulgação: Culminância/Socialização à comunidade escolar Exposição presencial para o público escolar, exposição de cartazes com estrangeirismo e desenhos produzidos pelos estudantes, músicos e convidados. 73 Figura 6. Equipe de Apresentação Figura 7. Socialização 74 Avaliação do Projeto A avaliação foi realizada de duas formas, contínua para verificação da aprendizagem do discente e avaliação final do projeto. Para a primeira os aspectos a serem considerados foram: em relação às produções textuais, observa-se dificuldade de escrita como a ortografia, pontuação e concordância verbal e nominal, em relação aos prazos de entrega, houve dificuldade em cumprir o tempo determinado, tanto pela dificuldade de internet e agravado pelo contexto vivenciado, a pandemia. Para a segunda, os aspectos considerados foram: as produções textuais a leitura e interpretação de texto com o tema abordado. Os Indicadores dessas produções demonstram os efeitos e transformações provocados pelo projeto na conscientização das diversas elocuções existentes nas regiões norte e nordeste. Tendo em vista que, aspectos a serem avaliados pela professora orientadora serão a trajetória e conhecimentos adquiridos, tendo em vista a singularidade de cada participante, e a contribuição de práticas voltadas à prevenção e ao enfrentamento do preconceito linguístico. RESULTADO E DISCUSSÃO Por meio do Projeto conseguiu-se conhecer os diversos falares das regiões norte e nordeste, e os preconceitos linguísticos estigmatizados na sociedade brasileira. A revista digital Espia Lindoso, revela os falares da região norte, a palavra "Espia", significa "olha ou observa" e Lindoso é maneira popular em que a Escola Estadual Professor José Bernardino Lindoso é conhecido, por seu corpo docente e discente. Desenvolveu atividades diversificadas e lúdicas com diferentes gêneros textuais, integrou os alunos em atividades criativas através de Contos, Crônicas, Poemas, desenhos e jogos. Aprendeu-se sobre as causas do preconceito linguístico e como buscar formas de combater esse tipo de discriminação. A seguir exemplos de expressões utilizadas na região, exposta na Revista. • À Perigo = Essa expressão pode ter dois significados: sem dinheiro, ou, muito tempo sem manter relações sexuais. • Agorinha = Diferente de São Paulo, agorinha não corresponde ao futuro. Aqui a expressão está no passado e quer 75 dizer “há pouquíssimo tempo”. • Baiacu = Até tem relação com o peixe que infla ao se sentir em perigo: a gíria é para dizer que uma pessoa está um pouquinho acima do seu peso, gordinha. • Caixa-prego = Lugar distante. • Dança de rato e sapateado de catita = Sabe quando alguém está te enrolando? O homem do departamento vizinho está protelando aquele relatório que era para ser entregue semana passada? Essa pessoa está de dança de rato e sapateado de catita. • Ê, caroço! = Usada quando alguém se safa por pouco de uma situação complicada. • Ketchback = Está de rolo com o “boy” da faculdade, com aquela “gatinha” da rua de cima? Então, você está em um Ketchback. • Lavar a égua ou lavar a burrinha = Deixar o balde d’água e o sabão de lado. Essa expressão representa levar vantagem, ter um momento de felicidade, ter sorte com alguma coisa, ganhar algum prêmio. •Menino barrigudo = Nem obesidade infantil, nem verminose. Essa gíria se refere a alguém que só faz besteira. • No olho = Expressão utilizada para indicar que alguém recebeu uma resposta certeira. • Tá, cheiroso! = Não mesmo! De forma alguma! • Leso ou Leseira = Um leso é alguém que sofre de leseira. Leseira é um “abestalhamento” momentâneo que é intrínseco do leso. Se a leseira for uma característica contínua, algo que acontece com muita frequência, esse leso sofre de “leseira baré”. • Pitiú = Mau cheiro. Geralmente associado ao odor de peixe. • Telezé = É a mesma coisa que “tu és leso é?” • Borimbora = Vamos embora. • Nem com nojo = É uma negativa veemente de que algo realmente não irá acontecer. 76 • Maceta = Grande,imenso, de proporções anormais. • Mano ou Mana = Tratamento carinhoso entre conhecidos ou não. •Pai d’égua = Algo ou alguém muito bom, muito legal. Figura 8. Cartaz com expressões regionais CONSIDERAÇÕES FINAIS O desenvolvimento deste trabalho com os alunos da 1ª série do ensino médio, constata que as produções realizadas pelos estudantes foram claramente observado com objetivo de elencar teoria e prática nas aulas de Língua Portuguesa e com interdisciplinaridade, focando no protagonismo estudantil, utilizando o processo criativo para expressar seu aprendizado através dos diversos gêneros textuais, artísticos e de observação do espaço social que está inserido, a importância do envolvimento dos discentes no projeto produziu um resultado satisfatório. Porém, no processo de desenvolvimento do projeto, houve adversidades, pois o contexto pandêmico vivenciado ao longo da proposta dificultou o progresso global das atividades a serem desenvolvidas pelos estudantes, todavia a internet foi uma ferramenta indispensável para avanço das temáticas trabalhadas no plano, isto foi 77 constatado na condução deste trabalho, houve a necessidade de encontros dos estudantes com convidados para que esses pudessem relatar as suas experiências em relação aos fenômenos das variantes linguísticas, no entanto o encontro com esses partícipes só foi possível através de aplicativos de redes sociais, como WhatsApp e Instagram. Ao longo do seguimento as aulas ministradas foram expositivas e dialogadas com a temática da Variação Linguística (V.L.) e Preconceito Linguístico (P.L.), essas aulas foram fundamentais para elucidar as dúvidas e dificuldades que surgiram nesse processo possibilitando uma aprendizagem contínua, e tornando imprescindível a presença de um educador como facilitador da aprendizagem. Portanto, as ferramentas digitais constituíram-se em recursos adicionais, mas não substituem o orientador. Ao visualizar o andamento do roteiro torna-se evidente que alguns assuntos relativos à V.L. e P.L., chamaram a atenção dos adolescentes, visto o interesse demonstrado por eles, por ser uma temática complexa que compreende uma série de contextos que vão desde o histórico (diacrônico), regional (diatópico), social (diastrático) e de estilo ( diafásico), mostrou uma problemática enfrentada por esses adolescentes, pois quando se trata da língua, que é um órgão vivo e em constante mudança, demanda uma compreensão de amplitude de todos os fatores que envolvem as transformações da língua. A guisa de conclusão, reitera-se que o presente projeto, contextualiza o socioeducacional com o sociocultural para uma construção de experiências, entendimentos e preservação dos conhecimentos adquiridos ao logo do encadeamento realizado por este planejamento de atividades realizadas pelos envolvidos no processo, considere-se que o conhecimento adquirido nesta experiência impulsiona a continuidade do projeto desenvolvido na escola. Referências BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br. Acesso em 05 jan. 2022. ZILLES, Ana Maria Stahl.; FARACO, Carlos Alberto. (Org.). Pedagogia da variação linguística: língua, diversidade e ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2015. 78 BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. 56. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2015. FARACO, Carlos Alberto. Norma Culta brasileira: desatando alguns nós. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. LABOV, William. Padrões Sociolinguístico. São Paulo: Parábola, 2008. LEITE, Marli Quadros. Preconceito e intolerância na linguagem. São Paulo: Contexto, 2012 79 Capítulo V ______________________________________________________________ A perspectiva deweyana como recurso didático utilizado em cursos autoinstrucionais para qualificação profissional de trabalhadores da saúde Josué Miguel de Oliveira – Mestrando em Odontologia (Saúde Bucal Coletiva), Universidade de Brasília/DF. Maria Tereza de Moraes Longhi – Acadêmica de Odontologia, Universidade Federal de Alfenas/MG. Welliton dos Santos Batista – Acadêmico de Odontologia, Universidade de Brasília/DF. Kellen Cristina da Silva Gasque – Doutora em Odontologia (FOB[1]USP). Pesquisadora em Saúde Pública, Fiocruz Brasília/DF Resumo Introdução: surgidos no fim da década de 2000, os cursos autoinstrucionais inovaram ao utilizar das ferramentas de internet para fornecer cursos, gratuitos ou não, à população ao redor do mundo. No Brasil, são empregados em diversas áreas, por diferentes instituições, públicas ou não, destacando-se a implementação na área de saúde como ferramenta de capacitação desses profissionais. Como forma de aproximação e quebra da quarta parede no ensino virtual, têm se empregado a didática da problematização para aumento da eficácia de aprendizagem. Objetivos: o presente manuscrito almeja compreender o modo de operação da didática da problematização, preconizada por John Dewey e muito utilizada em cursos abertos online e massivos para a qualificação de profissionais da área da saúde na realidade brasileira. Metodologia: foi realizada uma pesquisa bibliográfica de natureza qualitativa, através da busca em bases de dados, no intuito de analisar trabalhos que abordassem o papel da problematização de Dewey em cursos autoinstrucionais para à área de saúde. Resultados: conforme a teoria preconiza, os cursos autoinstrucionais para área de saúde precisam considerar o processo educativo como emancipatório e resgatar as vivências cotidianas dos profissionais para estabelecer efetivamente o aprendizado. Condições de acesso devem ser superadas para democratização do acesso. Considerações 80 finais: baseado nisso, conclui-se que a perspectiva deweyana utilizada em cursos autoinstrucionais a reforça como uma excelente abordagem didática, e a capacitação dos trabalhadores da saúde é facilitada através deles, aumentando o alcance para novos profissionais interessados e aprimorar a oferta de cuidado nos diferentes cenários de atuação do SUS. Palavras-chave: Recursos Humanos em Saúde; John Dewey; MOOC; SUS. Introdução Surgidos em meados de 2008, os cursos autoinstrucionais são um modelo em formato aberto, online, gratuito, disponíveis em plataformas como Edx e Coursera. Em geral, esses cursos são oferecidos por instituições e organizações de renome, abordando diversas disciplinas e são idealizados com o intuito de atingir o maior número de pessoas possível, as quais são aproximadas conforme suas habilidades, objetivos, conhecimentos e interesses, uma vez que, na maioria das vezes, o curso é escolhido de acordo com a temática. Os cursos autoinstrucionais representam importante estratégia de aprendizagem com repercussão nas áreas tecnológica e educacional (FASSBINDER; DELAMARO; BARBOSA, 2014). Além disso, os comentários e “feedbacks’’ sobre os cursos que são disponibilizados nas plataformas permitem que o participante consiga escolher o curso de forma certeira, considerando a opinião de outros participantes (LIYANAGUNAWARDENA et al., 2019). A depender da instituição ofertante, os cursos online podem ter a presença de fóruns de discussão que permitem a interação e comunicação entre alunos, professores e demais participantes de formato assíncrono, o que facilita o engajamento do público online, além de contribuir para a formação de um conhecimento colaborativo, por meio da troca de conhecimento e experiências (SAADATDOOST et al., 2019). Esse formato de cursos online, aberto e gratuito têm apresentado crescente expansão no século XXI, com a era digital, e ganhou ainda mais expressividade em decorrência da pandemia da Covid-19, período em que as estratégias de ensino remoto foram otimizadas. Aopasso que Blanco e colaboradores afirmam que os Cursos autoinstrucionais são uma tendência tecnológica e pedagógica para educação, outros especialistas duvidam da efetividade desse formato de curso na aprendizagem dos participantes, visto que as estratégias de aprendizagem podem não seguir uma metodologia clara 81 e objetiva, além da taxa de conclusão dos cursos ser menor quando comparada a outros formato de cursos, como os cursos presenciais tradicionais (BLANCO; GARCÍA-PEÑALVO; SEIN-ECHALUCE, 2013; FASSBINDER; DELAMARO; BARBOSA, 2014). Nesse sentido, a evasão dos alunos a distância pode ser justificada devido a demanda de trabalho, família e responsabilidades sociais, somado a necessidade de disciplina para gerenciamento do tempo (AYDIN; YAZICI, 2020). Devido à crescente expansão de público, as plataformas provedoras de Cursos autoinstrucionais têm constantemente desenvolvido e experimentado abordagens dotadas de tecnologia como sessões de acompanhamento e cursos individualizados em diferentes modalidades de formação (LEIRE et al., 2016). No que se estende à realidade brasileira, as maiores redes provedoras de capacitação profissional em saúde, tais como a Rede Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (UNA-SUS) e sistema TELELAB, utilizam da problematização como metodologia ativa preferencial para a produção de suas ações educativas. De acordo com Gasque e colaboradores, em dezembro de 2019, a Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS) já havia ofertado 256 cursos autoinstrucionais (em que não há tutoria) em 467 ofertas, totalizando mais 2,6 milhões de matrículas (GASQUE et al., 2021). Em relação às metodologias de ensino e aprendizagem, cabe citar as mais conhecidas, tais como a aprendizagem pela interação social desenvolvida por Lev Vygotsky, a aprendizagem pela experiência – ou problematização/método de problemas – de John Dewey (objeto de pauta desse manuscrito), bem como a aprendizagem significativa preconizada por David Ausubel e a perspectiva da autonomia de Paulo Freire (DIESEL; BALDEZ; MARTINS, 2017). Dewey é considerado o maior teórico estadunidense do século passado. Contribuiu em diversas publicações reconhecidamente valiosas para a ciência, como a teoria da Escola Nova, que se contrapôs ao sistema educacional da época – evocando uma perspectiva de ensino-aprendizagem voltado ao aluno como sujeito de si mesmo e preconiza que deve partir de conhecimentos prévios do aluno (PEREIRA; MARTINS; et al., 2009). Sua teoria visa o sujeito como ativo no seu próprio processo de problematizar, assumindo que o aluno possui interesses, que as atividades a 82 serem trabalhadas deveriam ter propósitos definidos para estimulação do pensamento através da observação de informações e instrumentos sendo utilizados para que o resultado fosse algo concreto e passível de utilidade – oportunizando ao aluno que possa desenvolver suas ideias através da aplicação (ZANOTTO; ROSE, 2003). Sua ideia básica está centrada no desenvolvimento da capacidade de raciocínio e espírito crítico por parte do educando. O deweynismo pode ser remetido a um exercício constante de prática docente em favor da liberdade de pensamento para que o aluno obtenha suas próprias certezas, conhecimentos e regras morais. Põe o educador não somente em posição de atenção à aprendizagem discente, mas de reconhecer que circunstâncias práticas levam à experiências de produção de conhecimento (PEREIRA; MARTINS; et al., 2009). Tendo em vista a grande adesão de profissionais em Cursos autoinstrucionais voltados para capacitação em recursos humanos, o presente trabalho tem o intuito de aprofundar a busca acerca da metodologia didática do pensamento Deweyano, utilizada em cursos autoinstrucionais direcionados à área da saúde em geral, a fim de compreender seu modo de operação na realidade brasileira. Revisão de literatura Cursos autoinstrucionais Os cursos autoinstrucionais, surgiram como uma forma de milhões de alunos em todo o mundo acessarem oportunidades de aprendizagem de forma mais flexível com o advento de milhares de cursos, atraindo milhões de alunos. Para permitir o aprendizado em tal escala e reduzir o custo do suporte ao aprendizado, os Cursos autoinstrucionais tendem a ser projetados em torno de um formato autoguiado, utilizando de ambientes virtuais de aprendizagem baseados em web, pressupondo que os alunos sejam capazes de regular seu próprio aprendizado, em vez de depender do controle de tutores ou professores (MILLIGAN; LITTLEJOHN, 2016). Para Maxwell e colaboradores, os cursos autoinstrucionais tendem a se enquadrar em um dos dois modelos a seguir. O primeiro é conectivista, 83 originado em 2008, e em que comunidades online se formam em torno de um assunto de interesse mútuo, normalmente fora dos contextos educacionais tradicionais. O segundo é normalmente oferecido por provedores com fins lucrativos como Coursera ou edX (MAXWELL et al., 2018). Os cursos autoinstrucionais possuem muitas vantagens, tais como conveniência, flexibilidade e acessibilidade, além de oferecer aprendizado colaborativo e social. Todavia, é impossível ignorar os desafios associados aos cursos autoinstrucionais, que incluem principalmente baixas taxas de conclusão, falta de interação do tutor com os alunos e avaliação limitada da aprendizagem, assim como não ter conhecimentos prévios, o que pode prejudicar a autoconfiança e a capacidade de alguns alunos (JIA et al., 2019). Assim, não se pode comparar o número de participantes que concluíram o curso com o número de participantes que se inscreveram, pois os métodos e a aplicabilidade para as taxas de conclusão e retenção de cursos autoinstrucionais variam de acordo com o tipo de curso, a modalidade de oferta e a importância da área para o engajamento de profissionais (LEIRE et al., 2016). Há que se considerar também que existem aqueles estudantes que fazem a matrícula para buscar uma determinada informação, sem ter o interesse em certificação. Para ilustrar o acima exposto, Jia e colaboradores compararam as diferenças entre os alunos de enfermagem em ofertas virtuais e híbridas em cursos autoinstrucionais, reportando que os alunos híbridos tiveram melhor desempenho e melhor uso dos recursos do curso (como discussões e testes) do que os alunos virtuais, demonstrando que alunos híbridos se beneficiaram mais do modelo, e que as abordagens combinadas síncronas e assíncronas são recomendadas para o futuro ensino de enfermagem (JIA et al., 2019). Qualificação de profissionais da saúde Embarcando na realidade do Brasil, a oferta de cursos para qualificação de profissionais de saúde tem iniciativa e financiamento pelo SUS, por meio de programas gratuitos como a UNA-SUS, Sistema TELELAB de Educação Permanente, AVASUS e outros de menor alcance. Para ampliar o debate, é necessário compreender que muitos profissionais da área de saúde possuem 84 acesso dificultado às ofertas, seja por falta de engajamento de sua unidade de saúde ou empecilhos domiciliares que afunilam e restringem a adesão às ofertas educacionais. Bussotti e colaboradores ressaltam a importância de adequar a modalidade oferecida ao perfil dos participantes, pois no modelo autoinstrucional, é importante manter o incentivo do aluno a fim de superar barreiras inerentes à modalidade e à sua habilidade com a ferramenta web. A adesão de um curso online sem tutoria pode resultar na ausência motivacional, como resposta imediata das dúvidas quanto ao conteúdo, o que contribuiria no estímulo de continuidade no desenvolvimento do aluno nos módulos (BUSSOTTI et al., 2016). Quadro 1. Contribuições dos cursos autoinstrucionais para questões nacionais e internacionais na educação e prática médica. Natureza da contribuição Prevenção Práticas baseadas em evidências MediçãoNogueira, João Luiz Nunes do Nascimento 11 Capítulo VIII .................................................................................................... 119 Educação para o mundo do trabalho e o voluntariado por meio da Aprendizagem Baseada em Projetos. Aldenize Pinto de Melo do Nascimento, João Luiz Nunes do Nascimento, Sabrina Gama, Dayane Brenda Lira, Ana Paula Brandão da Silva Capítulo IX ...................................................................................................... 129 A musicalização como ferramenta de ensino da Língua Espanhola: um comparativo lexical. Rosilene de Oliveira Brito, Ana Karoliny Mota Sampaio 12 Capítulo I ______________________________________________________________ Internet e educação em tempos de pandemia: o sinal da desigualdade Michele Lins Aracaty e Silva - Doutora em Desenvolvimento Regional/ UNISC Nerine Lucia Alves de Carvalho – Mestre em Engenharia de Produção/ UFAM Resumo: A discussão acerca da conectividade e uso da internet no processo educacional e a evidência de desigualdade social já pode ser medida através de números no Brasil desde 2005, ano em que a IBGE/ PNAD iniciou o levantamento. Em 2020, foram 134 milhões de acessos à internet no país, bem acima dos 31,9 milhões que fizeram uso da internet para pesquisas, aquisição de bens e serviços em 2005. Apesar do expressivo avanço, o acesso à internet revela inúmeras desigualdades bem como um abismo educacional já evidente nas crises econômicas e que se agravou em meio à pandemia de Covid-19 que atingiu o Brasil em 2020. Assim, temos como objetivo analisar como a escassez de conectividade e a falta do letramento digital intensificam as desigualdades educacionais. Para tanto, esta pesquisa é de caráter bibliográfico e documental, com o uso de material já publicado para a construção da base teórica e de documentos do MCTIC, Anatel, IBGE/PNAD e IPEA. Quanto aos resultados, fez-se uso de análise de conteúdo. O fato é que a desigualdade social favorece a exclusão digital que por sua vez, reforça a desigualdade social, é preciso uma nova postura e um novo olhar por parte do governo para diminuir o quadro perverso da desigualdade brasileira, que é histórica. Palavras-chave: Desigualdades educacionais; Conectividade; Letramento; Pandemia de Covid-19. Introdução É razoável, no contexto das nações modernas, presumir a persistência de considerar ainda o aprimoramento daquilo que é indispensável para o sujeito, seja no campo da informatização de sistemas, na melhoria de comunicação entre os indivíduos e outros elementos admitidos na própria realidade. Dessa maneira, desponta um movimento logístico que pretende promover sensíveis mudanças no cotidiano das pessoas e a melhoria de vida com a ajuda tecnológica. Tal 13 orientação recai sobre o modelo de estudo que conduz a educação de muitos estudantes, sobretudo no Brasil. Desse modo, lidar com a inserção do uso da internet no ensino brasileiro e as competências necessárias para leitura e escrita no mundo tecnológico, especialmente na pandemia de Covid-19, bem como a má gestão desse modelo articulando o abismo educacional brasileiro, mas não apenas isso, como também o letramento digital de professores e alunos é o objeto de investigação proposto ao longo desse estudo. Tratar da conectividade enquanto recurso pedagógico que propõe um direcionamento conveniente da educação, dentro do aspecto brasileiro, exige lançar luz sobre os componentes imprescindíveis os quais possibilitam a construção do ambiente de democratização do acesso à internet aos estudantes: projetos sociais municipais, estaduais ou federais, iniciativa mútua por parte do corpo docente a fim de entender o uso dos instrumentais, subsídios escolares contundentes, ampliação do acesso a conexão de qualidade justa e adequada, além do aprendizado no uso dessas ferramentas, sem as quais é impossível utilizar as anteriores. Sabe-se, no entanto, que durante todo o episódio de isolamento domiciliar do ano de 2020 e subsequentemente no ano de 2021, em razão da pandemia do Novo coronavírus, muitas instituições de ensino restringiram suas atuações e optaram por dar continuidade ao trabalho por meio das plataformas virtuais ou ensino remoto a distância por meio da internet, onde professores transferiam o conteúdo escolar aos alunos no ambiente digital e os alunos precisavam dispor dos meios físicos necessários para acompanhar esses conteúdos, e não apenas isso, era necessário que soubessem manusear os dispositivos e os “caminhos” para acessar as aulas. De acordo com dados estatísticos realizados pelo IBGE, 134 milhões de pessoas com idade de 10 anos ou mais acessaram a internet pelo menos uma única vez em território brasileiro e comparativamente com o ano de 2005, onde eram 31,9 milhões, tem-se um expressivo aumento quantitativo dos usuários brasileiros na internet. Esse ponto positivo é ainda insuficiente na tentativa de sustentar a ideia de democracia educacional em termos virtuais visto que 46 milhões de brasileiros não tem acesso à internet de acordo com a pesquisa TIC 14 Domicílios1, realizada pelo Centro Regional e Estudos para Desenvolvimento da Sociedade da Informação (CETIC). Conflitando os levantamentos e lançando mão da intepretação de outros estudos estatísticos pertinentes podemos traçar um roteiro da compreensão do abismo educacional resultante da não disposição de recursos tecnológicos e desconhecimento do ambiente virtual. Desse modo, cabe analisar como a escassez de conectividade e a falta do letramento digital intensificam as desigualdades educacionais: a) levantar a situação da conectividade nas regiões brasileiras; b) avaliar o impacto da falta de conectividade sobre a educação e c) analisar o reflexo da falta de conectividade e o agravamento das desigualdades sociais/educacionais no Brasil durante o cenário da pandemia de Covid-19. Democratização Tecnológica e Educacional Certamente é de conhecimento concreto que um dos principais pilares responsáveis por causar o desenvolvimento social, econômico de uma nação é a adoção, implementação e o fomento da educação de qualidade. Além disso, a ampla disseminação das tecnologias, sobretudo a internet, compreende recurso extraordinário ao estudante no desenvolvimento de suas aptidões, competências na medida que o insere na “sociedade conectada”. Caminhando nessa linha, Nazari (2002) elabora sobre a contribuição das tecnologias no processo de aprendizagem, repousando em como as tecnologias têm estimulado a criação de grupos de estudos e de pesquisas multidisciplinares, focalizando a interfaces entre as áreas da Educação e da Ciência da Informação no atual contexto de mudança, social e tecnológica. Em meio ao episódio de crise sanitária provocada pelo novo coronavírus e suas implicações, como o isolamento domiciliar, repensou-se a maneira pela qual poderia retomar o ensino dos estudantes de maneira não presencial. O aparato tecnológico (computadores, smartphone, tablets etc.) e a disponibilidade de internet mostrou-se recorrente e útil uma vez que estica a corda de possibilidades de aprendizagem. Seguindo com a abordagem, Moran (2009) aponta que a internet é um grande apoio a educação, uma âncora indispensável a embarcação. Ele afirma que a internet traz saídas e levanta problemas. No entanto, a realidade de atuação conjunta de educação e internet enquanto 1 Disponível em: Cetic.br - TIC Domicílios https://cetic.br/pesquisa/domicilios/ 15 modelo de ensino formalmente disseminado, no Brasil, ainda está longe do ideal. Admitindo essas considerações de Moran, a interação com o mundo virtual pode propiciar a construção do espaço de democratização tecnológica e educacional. Desse modo, Andrew Feenberg (2001, p. 138-139) fornece sua contribuição sobreautêntica, centrada no paciente e baseada em resultados Aumentar a alfabetização em saúde pública. ✓ ✓ ✓ Proporcionar educação profissional continuada. ✓ ✓ ✓ Facilitar métodos inovadores de ensino e aprendizagem. ✓ ✓ ✓ Melhorar a comunicação entre as comunidades internacionais de pacientes e médicos, incluindo médicos estudantes. ✓ ✓ ✓ Obtenção de dados em grande escala. ✓ ✓ ✓ Foco nas necessidades centradas no paciente e na família, incluindo influências ambientais, culturais e linguísticas. ✓ ✓ ✓ Fonte: extraído e adaptado de Goldberg e Crocombe (GOLDBERG; CROCOMBE, 2017). 85 A utilização de Cursos autoinstrucionais na educação e prática médica tem sido assunto em diversas publicações, como Goldberg e Crocombe (2017) que detalharam os benefícios de sua aplicação na formação de profissionais da medicina, embasando aspectos como prevenção, práticas baseadas em evidências científicas e medição autêntica (Quadro 1). Seu uso pôde beneficiar Ruanda a partir da transformação da educação das profissões médicas baseado em tecnologia por meio de registros detalhados das atividades reais dos alunos em uma estrutura de sistema, indicando que os participantes estavam cientes dos benefícios do uso do e-learning na educação. Os temas mesclados foram I) O e-learning promove uma abordagem centrada no aluno; II)O e-learning é aprendizagem combinada; e III) O e-learning pode ser ferramenta para trilhar a produção da força de trabalho de enfermagem, levando em consideração a história de Ruanda (HARJANTO et al., 2021). Os Cursos autoinstrucionais oferecem oportunidades para distribuição do conhecimento em larga escala, globalmente, para um público de aluno diversos. Diversas instituições de educação em saúde demonstram suas experiências utilizando os cursos abertos como complementares aos programas de ensino tradicionais como forma de apoio e expansão, embora não sejam utilizados como forma de competição entre os alunos. A partir disso, Maxwell e colaboradores afirmam que permanece a necessidade de pesquisas adicinais para avaliar os resultados do ensino e aprendizagem baseados em Cursos autoinstrucionais, pois a educação em saúde inevitavelmente se envolverá com a inovação advinda dessa modalidade educacional (MAXWELL et al., 2018). A respeito da aprendizagem de profissionais em cursos autoinstrucionais, para Milligan e Littlejohn, existem alunos altamente autorregulados que têm uma compreensão clara do que querem aprender e como isso afetará sua carreira, trabalho ou desenvolvimento pessoal, assumindo o controle de seu aprendizado, monitorando seu progresso e ajustando seu esforço para aproveitar ao máximo o benefício que obtêm com seus estudos. Esses estudantes costumam ir além das tarefas principais do curso, buscando recursos adicionais e se envolvendo com outras pessoas nos fóruns para desenvolver suas ideias e aumentar sua rede de aprendizado. Por outro lado, existem alunos que não autogerem de sua aprendizagem, 86 concentrando-se na conclusão e na certificação como medida de sucesso e não em consideração ao benefício que o desenvolvimento do curso trará. Eles se contentam em não acompanhar a estrutura do curso, que inclui vídeos, leituras e questionários, dedicando a mesma quantidade de tempo a cada semana, mas podem engajar-se caso achem o material mais desafiador (MILLIGAN; LITTLEJOHN, 2016). Didática da problematização Para compreender a perspectiva dialógica do uso da problematização em cursos para a área de saúde, é necessário compreender que, na realidade brasileira, muitos profissionais da área encontram-se lotados em unidades de saúde com pouca ou nenhuma carga horária disponibilizada para qualificação, e a inviabilidade de capacitar periodicamente de forma presencial todos os profissionais atuantes no SUS. O método de problemas de John Dewey inseriu uma tendência pedagógica liberal progressista que surgiu como contramovimento ao modelo tradicional que valorizava o ensino humanista, no qual a interação docente- discente não visava a qualquer relação com o cotidiano do estudante ou com sua realidade social. Esse movimento denominado de Escola Nova se contrapôs ao modelo tradicional de ensino, no entanto não chegou a representar uma ruptura com o modelo de educação vigente (PEREIRA; MARTINS; et al., 2009). Com sua visão educativa, propôs que a aprendizagem fosse estimulada através de problemáticas ou vivências que procuram de uma forma intencional gerar dúvidas e inquietações intelectuais. A metodologia da problematização valoriza observações concretas e com alta motivação prática e estimulação cognitiva com intuito de fomentar abordagens e resoluções criativas. Para isso, utiliza de diversas abordagens, tais como a capacidade de levantar hipóteses, comparar, analisar, interpretar, avaliar, e da corresponsabilidade por sua formação (PEREIRA; MARTINS; et al., 2009). Assim, diante da oposição ao método tradicional, em que os educandos apresentam modo passivo de aprendizado teórico, o modo ativo propõe o movimento oposto, ou seja, passam a ser envolvidos como cidadãos históricos 87 e, portanto, a adquirir um papel ativo no aprendizado, posto que têm suas experimentações, habilidades e princípio valorizadas como ponto de partida para constituição do saber. Portanto, o método ativo visa estimular a autoaprendizagem e a curiosidade do aluno para pesquisar, refletir e analisar opções para a decisão, e o professor toma forma adjuvante no envolvimento (DIESEL; BALDEZ; MARTINS, 2017). A ideia deweyana traduz inquietações como novas formas para ensinar, transitando com metodologias que primavam pelo conhecimento brusco e concreto, sem conhecimento realmente útil a ser aprofundado pelo aluno. Preocupava-se também com instituições que utilizavam esse método duro como didática ou que se perdiam em superficialidade, atingindo a desvalorização da teoria científica (DEWEY, 1971; SOUZA; GALTER; VIEIRA, 2020). O método de Dewey tem a iniciativa e independência como bases para a autonomia social e democrática, contrapondo-se ao modelo tradicionalista voltado para a obediência e leniência. Para John, educação é uma necessidade social pois indivíduos conscientes asseguram a continuidade social, rompendo com ideias hegemônicas de controle social (PEREIRA; MARTINS; et al., 2009). Em sua perspectiva, experiência é sinônimo de vida, portanto um fenômeno da natureza pois faz parte dela ao mesmo tempo em sua essência e também o social evocando ampliação e compartilhamento – elucidando assim a natureza de experiências educativas e deseducativas (SANTOS; HENNING, 2014). Para Zanotto e Rose (2003), o deweynismo exerce forte influência no cognitivismo e assim define que a problematização pode ser objeto de aprendizagem pois é passível de ser ensinada e aprendida. Também afirmam que aprender esse processo envolve a aprendizagem por reestruturação – em que o indivíduo reaprende a síntese do aprendizado, portanto, aprender a problematizar estimula o desenvolvimento cognitivo do indivíduo. A teoria inova ao afirmar que a experiência de vida é campo empírico de origem e destino do pensamento, assim como pensar acarreta originalidade para transformar a situação. Complementa ainda que aprender a pensar os problemas decorrentes da experiência é condição primordial da educação e abre portas para a vivência democrática, pois não é baseada em repetição de fórmulas ou modelos definitivos memorizados e sim contínua no que tange à 88 reconstrução da experiência e conteúdos que são imprescindíveis (MURARO, 2013). Esses conceitos vão de encontro à definição de metodologias ativas de ensino, pois utilizam da problematização como uma estratégia facilitadora para o ensino e aprendizagem, com o intuito de alcançar e motivar o aluno que diantedo problema o examina, reflete, o relaciona com suas vivências e ressignifica seu processo de descobrir. Portanto, ao perceber esse novo processo de aprendizagem como um instrumento necessário para ampliação de possibilidades e escolhas, poderá exercitar sua liberdade com autonomia para escolhas e tomadas de decisões de forma libertadora (CYRINO; TORALLES-PEREIRA, 2004; MITRE et al., 2008). Metodologia Como metodologia, foi realizada uma pesquisa bibliográfica de natureza qualitativa, através da busca em bases de dados, no intuito de analisar trabalhos que abordassem o papel da problematização deweyana em cursos autoinstrucionais para à área de saúde. De maneira geral, foram utilizados artigos publicados nos idiomas português, inglês e espanhol, publicados em periódicos nacionais e internacionais - bem como livros que sustentam a teoria didática do assunto. As bases de dados utilizadas na pesquisa foram: Eric (Education Resources Information Center), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scielo, Google Scholar e literatura cinzenta. O recorte temporal não foi utilizado como critério de seleção dos materiais consultados. O estudo foi desenvolvido a partir da elaboração da pergunta norteadora: “Como a teoria da problematização de John Dewey se envolve com a metodologia didática utilizada em cursos autoinstrucionais para a educação de profissionais da área de saúde?”. Resultados e discussão Na prática educacional médica, é visto um crescente objetivo de integralizar a transição do ciclo básico para a clínica em termos de competências curriculares. Pensando nisso, Cursos autoinstrucionais têm sido empregados com sucesso como estratégia de entrega de simulação médica 89 juntamente com o uso de mídias sociais, animação e aplicações de e-learning (HARJANTO et al., 2021). Como todo modelo em aprimoramento e constante expansão, os cursos autoinstrucionais possuem fragilidades tais como taxas de conclusão baixas que variam de 2% a 10%-15% mesmo com a alta taxa de adesão aos cursos. Observa-se também que os papéis dos tutores como promotores de discussão e interações são baixos devido a falta de contato presencial ou tecnologias digitais que incentivem essa interação. Bem como questiona-se a credibilidade relacionada às avaliações online, pois não englobam de forma satisfatória a execução de práticas mesmo que bem instrucionadas (JIA et al., 2019). Percebendo as limitações dos cursos autoinstrucionais, os educadores passaram a repensar estratégias para melhor aproveitamento e maior rendimento, tais como a hibridização dos cursos a partir de pequenos grupos como uma forma complementar ao modelo tradicional já conhecido. Tal definição seria organizada a partir de atividades síncronas e assíncronas para melhora da eficácia do ensino, tais como palestras e salas de aula invertidas – onde o aluno recebe a atividade para realização assíncrona e traz consigo à sessão síncrona para discussão sob orientação do tutor. Jia defende que essa forma de avaliação poderia ser mais abrangente e aumentaria a credibilidade da qualificação (JIA et al., 2019). Os autores Diesel, Baldez e Martins definem cinco condições para uma aprendizagem que integra diretamente a vida com o método ativo: só se aprende o que se pratica, contudo, não basta praticar, é preciso haver reconstrução consciente da experiência; aprende-se por associação; não se aprende nunca uma coisa só; toda aprendizagem deve ser integrada à realidade cotidiana (DIESEL; BALDEZ; MARTINS, 2017). Tais conceitos são opostos às práticas de ensino hegemônico tradicionalista e, por vezes, autoritarista pois não promove humanidade ou pensamento crítico-reflexivo ao discente sobre suas próprias decisões. Imerso nisso, não encontra possibilidades para autonomia de pensamento e sobre seu comportamento e aprendizagem, submetendo-se de forma passiva e ilógica à autoridade docente – em um modelo de pouca ou nenhuma valorização de suas experiências. Dessa forma, perpetua-se o status quo aristocrático e falsamente democrático (SANTOS; HENNING, 2014). 90 A perspectiva Freireana aproxima-se do Deweynismo quando problematiza o ato de ensinar e de aprender ao afirmar que a prática da liberdade acontece como princípio para o pensamento libertador emancipatório, através da conscientização e, socialmente, pela democratização societária, ou seja, o indivíduo torna-se livre quando possui de consciência crítica em uma sociedade democrática (FREIRE, 1979). Exatamente por isso, a educação precisa partir do contexto do discente, da vivência social, de sua realidade situacional, baseada em sua comunidade, para uma aprendizagem pautada no conhecimento científico (DALBOSCO; BERTOTTO; SCHWENGBER, 2020; FREIRE, 1996). Portanto, baseado nessas ideias é possível associar as formas de transmissão de conteúdo em cursos como da UNA-SUS e Telelab à ambientação dos problemas e objetivos de aprendizagem da realidade do profissional atuante no serviço de saúde e provedor de cuidado à população de sua comunidade. Com o advento desses cursos, usuários de locais remotos puderam se conectar com educadores em todo o mundo, sendo capazes de manter discussões e interagir com pessoas de diversas culturas e ideologias. Contudo, para tornar a educação universal em realidade, é necessário aprimorar os ambientes de aprendizagem online existentes, com isso, se poderá obter um público mais amplo e diversificado. Gul e colaboradores afirmam ainda que a linguagem do conteúdo deve ser simples, lúcida e de fácil compreensão, que é preciso haver flexibilidade no cronograma dos cursos. Os usuários devem conseguir realizá-los como e quando desejarem e devem ter liberdade para concluí-los em seu próprio ritmo. Além disso, os conteúdos devem ser criados em formatos que exijam menos consumo de internet e devem ser acessíveis mesmo em dispositivos de baixo custo ou oriundos de tecnologias considerada ultrapassada (GUL et al., 2018). Bussotti e colaboradores, em sua experiência de implantação de cursos autoinstrucionais em serviços de saúde mostraram que, em instituições cujos gestores mostraram-se participativos, envolvidos e comprometidos em compartilhar informações com a sua equipe, a adesão de profissionais foi superior. O Brasil apresenta dimensões continentais com grande pluralidade política, social, econômica e cultural, de modo que a oferta de cursos mediante 91 a utilização de dispositivos tecnológicos constitui um desafio a ser superado (BUSSOTTI et al., 2016). Considerações finais A teoria da problematização de John Dewey abriu caminhos para a educação nos mais diferentes níveis, especialmente na graduação e pós- graduação, e mais recentemente como recurso didático em cursos livres disponibilizados via EaD. Considerando sua atuação em cursos autoinstrucionais na qualificação de profissionais de saúde: I. A perspectiva deweyana utilizada em cursos autoinstrucionais para qualificação de profissionais de saúde reafirma-se como uma excelente abordagem didática, pois resgata os conhecimentos prévios do aluno e os ambienta na realidade profissional, de forma a contextualizar o conteúdo programático, reforçando a valorização da experiência pregressa do profissional. II. A capacitação dos trabalhadores da saúde é facilitada através de cursos autoinstrucionais, dessa forma pode-se aumentar o alcance para novos profissionais interessados e aprimorar a oferta de cuidado nos diferentes cenários de atuação do SUS. III. Como um modelo relativamente recente, os cursos autoinstrucionais possuem fragilidades inerentes aos processos em constante expansão, relacionados à gestão e operacionalização, aprendizagem e avaliação discente, contudo espera-se que mais estudos busquem soluções para aprimorar e estabelecer efetivamente a aprendizagem à distância como um ensinoplenamente democrático e eficaz ao alcance de todos. Referências AYDIN, İ. E.; YAZICI, M. DROP-OUT in MOOCs. The Turkish Online Journal of Educational Technology, v. 19, n. 3, p. 9–17, 2020. BLANCO, Á. F.; GARCÍA-PEÑALVO, F. J.; SEIN-ECHALUCE, M. A methodology proposal for developing adaptive cMOOC. Proceedings of the First International Conference on Technological Ecosystem for Enhancing Multiculturality - TEEM ’13. Anais... In: THE FIRST INTERNATIONAL 92 CONFERENCE. Salamanca, Spain: ACM Press, 2013. Disponível em: . Acesso em: 14 mar. 2022 BUSSOTTI, E. A. et al. Capacitação on-line para profissionais da saúde em três regiões do Brasil. 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Realizado no segundo semestre de 2021 em uma escola estadual de Manaus que teve como objetivo geral: Analisar a contribuição do uso do gênero digital Webtoon no incentivo das práticas de leitura de textos literários e sua produção em colaboração com as metodologias ativas (sala de aula invertida) fazendo uso de dispositivos móveis com as turmas da segunda série do ensino médio de uma escola pública manauara. A pesquisa qualitativa foi realizada como pesquisa-ação e derivou da inquietação docente sobre o desinteresse e resistência dos alunos em estudar Literatura Brasileira. A investigação teve como participantes: 150 estudantes; uma professora- coordenadora e uma pedagoga-colaboradora. Teve-se como questão norteadora: Como tornar as práticas de leitura e escrita dos textos literários de José de Alencar e Machado de Assis mais atrativas, contextualizadas e significativas para os alunos da 2ª série do Ensino Médio? Na busca de práticas de ensino que contribuíssem ao engajamento discente, buscou-se verificar seus hobbies, tecnologias digitais que utilizavam e o que liam. A partir das respostas obtidas, resolveu-se utilizar como estratégias pedagógica: metodologias ativas, Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC´s) e webtoons. Os resultados da pesquisa evidenciaram que as webtoons com uso de metodologia ativa e TDIC´s, contribuíram nos seguintes aspectos ao ensino aprendizagem literário: mobilizaram à motivação e engajamento discente, estimulou a colaboração entre os discentes, contribuiu para reduzir a inassiduidade habitual, possibilitou que os estudantes fossem mais interativos e criativos nas produções escritas, que dessem significado às aprendizagens e que desenvolvessem competências e habilidades em diferentes aspectos. Dessa forma, as práticas pedagógicas utilizadas demonstraram êxito para o ensino literário do Romantismo brasileiro e para o desenvolvimento de competências a nível socioemocional, atitudinais e procedimental. Palavras-chave: ensino de literatura; metodologias ativas; TDIC´s; webtoon. 96 Introdução A resistência e desinteresse do alunado em relação ao estudo de textos literáriosem sala de aula, tem sido um dos desafios enfrentados cotidianamente nas escolas por professores de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. Conhecer as causas da referida resistência e do desinteresse é um importante passo para superar ou amenizar a problemática e suas consequências na aprendizagem estudantil. Da dificuldade enfrentada durante as aulas sobre o Romantismo, surgiu a inquietação em buscar as causas e possíveis soluções para propiciar a construção dos conhecimentos literários necessários na 2ª série do ensino médio. Dialogando com os estudantes, percebeu-se que a relutância advinha de formas tradicionais do ensino literário que haviam vivenciado – leitura das obras e respostas ao questionário de perguntas sobre elas. Observando-se os discentes, percebeu-se que rotineiramente traziam e liam em sala de aula, mangás; gostavam de doramas e animes, e eram “ligados” em tecnologias digitais. Dessa percepção, construiu-se um questionário - no Google Forms - voltado a identificar, conforme Felder (1993), o estilo de aprendizagem dos estudantes. O resultado evidenciou que em torno de 60% dos estudantes eram visuais, ou seja, aprendiam mais pelo que viam (uso de ilustrações e outros estímulos visuais). 40% evidenciavam estilo serem mais ativos (aprendizagem por discussões, trabalhos de grupo) e cenestésicos (aprender fazendo, mão na massa). Essa identificação, foi vital para compreender-se que a metodologia de ensino (leitura- escrita) que vinham vivenciando não contemplava seus estilos de aprendizagem. O ensino era algo monótono e entediante para os alunos. Tal constatação propiciou que se construísse a questão norteadora: Como tornar as práticas de leitura e escrita dos textos literários de José de Alencar e Machado de Assis mais atrativas, contextualizadas e significativas para os alunos da 2ª série do Ensino Médio? Dessa questão, e da busca por respostas, nasceu o projeto de pesquisa submetido ao Programa Ciência na Escola (PCE) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (FAPEAM), desenvolvido no ano letivo de 2021. É sobre ele que trata este relato. 97 Correlacionando ensino literário, metodologias ativas, TDIC´s e Webtoon Em relação ao cânone literário, Santos e Oliveira (2008) afirmam que este pode ser definido como um conjunto modelar de obras que podem funcionar como um guia para leitores e escritores. Conforme os autores, ele constitui uma referência, um símbolo da nação, uma identidade literária cultural construída a partir de um ou mais autores consagrados pela crítica literária pelo valor e qualidades de suas obras. A partir do dito pelos autores, situou-se a proposta do PCE de forma a manter a importância do texto literário canônico, mas buscando-se espaço para novas práticas de ensino literário que fossem ao encontro dos estilos de aprendizagem dos estudantes, ao mesmo tempo que se desse espaço para que se tornassem protagonistas de seu processo de aprendizagem, em consonância ao disposto na Base Comum Curricular (BNCC), em suas Competências Gerais. A leitura vai muito além de fins utilitários ou pragmáticos. Atualmente, exige-se do aluno um leitor proficiente, capaz ler, entender e produzir diferentes gêneros textuais que circulam socialmente e nas diferentes mídias sociais. Mas por vezes, essas exigências não são atendidas através do desenvolvimento de práticas educativas que, por sua vez, apresentam-se defasadas no que se refere às práticas de leitura e escrita em sala de aula. Há que buscar formas de promover a interação e novas formas de estimular o aluno a construir saberes. Referente ao ensino literário, Mortatti (2008), afirma que [...] os (bons) textos literários encantam e ensinam (obviamente, se lidos, ou pelo menos ouvidos), porque fazem diferença em nossas vidas, constituem experiências profundamente humanas [...], porque nos ajudam a formular perguntas para nossa vida, estimulam nossa sabedoria, nossa busca de conhecimento de nós mesmos e do mundo. Nesse sentido, encantam e ensinam, porque, lendo-os, aprendemos algo sobre nossa vida, ao mesmo tempo em que aprendemos sobre a importância da literatura na formação do ser humano [...] (MORTATTI, 2008, p. 27). Considerando o dito pelo autor, entende-se que o ensino literatura brasileira trabalhado de forma atrativa aos estudantes podem propiciar a formação de leitores e escritores críticos. Nesse sentido, o estudo literário torna- se um meio para que docentes tragam a literatura para a vivência estudantil e problematizem diferentes aspectos dos textos e de suas “entrelinhas”. Conforme Magnani (1992), 98 [...] o que o caracteriza como literário não é apenas o assunto ou seu conteúdo. E, se queremos oferecer condições de avanço com a literatura, é necessário levar em conta que se lida com o todo de um texto: o que, como, quando, quem, onde, por que, para que, para quem se diz. É nessa unidade que o leitor se movimenta quando lê; é esse conjunto de relações que forma e não a moral da história ou as lições de comportamento, ou os conteúdos revolucionários... (MAGNANI, 1992, p. 104). A afirmativa do autor sobre o ensino literário, entende-se que está diretamente ligada à produção escrita dos estudantes. Para que consiga escrever é preciso imergir em um processo reflexivo permeado por perguntas norteadoras a tal processo. Ensino que reconhece no outro a capacidade de aprender ativamente, de tornar-se autonômo, criativo. Enfim, protagonista e não mero figurante da atividade do aprender. Rompe-se assim, com o ensino livresco da literatura como fim em si mesmo, para torná-la meio de construção de diversas aprendizagens. Não para “fazer uma prova”, mas para aprender para a vida. Para tanto, faz-se necessário utilizar metodologias de ensino ativas. Sobre as metodologias ativas, Bacich e Moran (2018), nos falam de seu uso como estratégia de ensino centradas na participação efetiva dos estudantes na construção do processo aprendizagem, de forma flexível, interligada e híbrida. Dessa forma, implica uma série de técnicas, procedimentos e processos a serem utilizados pelos docentes durante as aulas, a fim de auxiliar a aprendizagem dos alunos. O fato de elas serem ativas, relaciona-se com a realização de diversas práticas pedagógicas que visam o envolvimento discente, seu engajamento em atividades práticas. Dessa forma, os estudantes tornam-se o centro do processo educativo e os professores atuam na mediação do processo de ensino- aprendizagem. Dentre as metodologias ativas, há a sala de aula invertida que tem como uma de suas vantagens, a possibilidade de complementar as aulas, acompanhar remotamente e avaliar os alunos em tempo real com apoio de ferramentas como aplicativo disponíveis no celular. O professor interage com seus alunos fora da sala de aula, orientando de uma forma mais direta quando ele precisa tirar alguma dúvida quando não tem mais tempo na sala de aula. Por meio de mensagens de texto, áudio ou vídeo. Por esse fato, trabalhar 99 aprendizagem com tais tecnologias facilita a colaboração entre colegas de classe e com o professor, estando eles próximos ou distantes. Conforme Moran (2015) “tecnologias móveis” mostram a contradição de utilizá-las em um espaço fixo como a sala de aula. Ele afirma que elas foram feitas para o movimento, para serem levadas a qualquer lugar, utilizadas a qualquer hora e de muitas formas. O uso de multimídias contribui para aumentar essa dinamicidade e oferecer diversas possibilidades de acesso e construção de conteúdo. No contexto do século XXI, o uso de Tecnologia Digital de Informação e Comunicação (TDIC´s) vem demonstrando a cada dia, mais potencial para enriquecer as metodologias ativas. De acordo com Rojo (2012), deve-se considerar a inclusão dessas ferramentas e tecnologias digitais para que promovam a interaçãoe novas formas de relações sociais em acordo com novas configurações de produção de conhecimento pelos alunos que possa ter uma nova perspectiva de novas formas de aprendizagem quanto às práticas de leitura e escrita. A sociedade atual, exige da escola a adoção de metodologia de ensino literário que insira às práticas de leitura contextualizadas, que representem ou possam, de alguma forma, dialogar ou fomentar reflexão sobre a realidade dos alunos. Acompanhando as mudanças de um mundo cada vez mais cheio de inovações tecnológicas e virtualização da vivência cotidiana. Isso se relaciona com o que Rojo diz: “As tecnologias digitais estão introduzindo novos modos de comunicação, como a criação e o uso de imagens, de som, de animação e a combinação dessas modalidades” (ROJO, 2012, p.37). Em uma busca nos bancos de dados do Scielo e Google Acadêmico utilizando-se as mesmas palavras chaves de nosso projeto de pesquisa, percebeu-se carência sobre o tema. Na primeira base de dados não foi identificado artigo. Retirando-se as palavras-chave: webtoon e TDIC´s encontrou-se 15 artigos. Um abordando metodologias ativas no processo ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa, sem abordar Literatura, e os demais considerando metodologias ativas, porém sem conexão ou similaridade com a pesquisa pretendida. Na plataforma Google Acadêmico o resultado foi similar. Dessa constatação, buscou-se referencial em autores consagrados sobre o uso de metodologias ativas, com ênfase naquelas que se pretendia usar e assim, iniciou-se a caminhada teórica. 100 Buscando-se alinhar: estilos de aprendizagem, interesse discente, metodologias ativas e TDIC´s, chegou-se a Webtoon. De acordo com Ganiko (2020), o sucesso dos quadrinhos sul-coreanos tem sido um verdadeiro fenômeno. Surgida da combinação das palavras “web” e “cartoon”, a Webtoon tem como principais características: história em quadrinhos periódica, com lançamento digital, desenvolvida para leitura em rolagem vertical - seja de um navegador ou dos próprios aplicativos no celular. Os capítulos são coloridos, com ordem de leitura da esquerda para a direita, de cima para baixo, o formato é de “rolagem infinita”, sem separação por páginas, adotando um formato de “rolagem infinita”. Alguns títulos podem conter trechos com trilha sonora ou pequenas animações no meio dos capítulos. Facilitando e aumentando assim, a imersão do leitor na história proposta pelo autor. Os quadrinhos digitais, Webtoon, por fazerem parte da vivência dos estudantes e por serem algo que se percebeu que gostavam, indicaram o caminho para abordar os conteúdos literários. A proposta foi lançada e acolhida com bastante entusiasmo pelas turmas, o que indicou, inicialmente, um possível sucesso na estratégia pedagógica. Para tanto, construiu-se colaborativamente com eles, a metodologia do projeto. Para que assim, fossem sujeitos ativos do projeto. Do início ao fim. É sobre a metodologia utilizada que se discorre a seguir. Metodologia Neste item, dispõe-se o percurso metodológico do projeto de pesquisa realizado de julho a dezembro de 2021 que propiciou a prática de ensino exitosa, aqui relatada. A pesquisa-ação (THIOLLENT, 1988) teve como público-alvo, cinco turmas – 150 estudantes - da 2ª série do ensino médio de uma escola pública estadual, localizada na zona norte de Manaus. Teve como objetivo geral: Analisar a contribuição do uso do gênero digital Webtoon no incentivo das práticas de leitura de textos literários e sua produção em colaboração com as metodologias ativas (sala de aula invertida) fazendo uso de dispositivos móveis com as turmas dos segundos anos do ensino médio de uma escola pública manauara. Como objetivos específicos: utilizar TDIC’s como ferramentas de ensino para o incentivo das práticas de leitura de textos literários e sua produção em relação as obras de José de Alencar e Machado de Assis; usar metodologias ativas (sala de aula invertida) utilizando os dispositivos móveis 101 para realizar uma releitura das obras de José de Alencar e Machado de Assis - respeitando o enredo de cada história; construir webtoons literários usando aplicativos multimídias de forma a tornar o estudo de obras do Romantismo de forma mais atrativas, contextualizadas e significativas para os alunos da 2ª série do Ensino Médio. O projeto de pesquisa foi desenvolvido por etapas: diagnóstico, planejamento, implementação, avaliação e divulgação. A primeira, referiu-se à identificação das causas de desinteresse e resistência dos alunos no estudo literário e a seus estilos de aprendizagem, assim como seu nível de conhecimento dos aplicativos e ferramentas digitais que foram utilizados. Na segunda, planejou-se com os estudantes como se desenvolveria o projeto. Ficando disposto da seguinte forma: metodologia ativa: sala de aula invertida; aplicativos: WhatsApp-para comunicação e disponibilização de orientações e acompanhamento on line; Instagram e Facebook para divulgação; edição de fotos -Toon me, Faceapp, Inshot, Remove, aplicativos de edição de vídeos - Capcut, Inshot, X- Recorder- e aplicativos de edição de imagens - Canva, Adobe Acrobat. A divulgação ficou planejada para ocorrer sob forma de mostra literária. Quanto aos recursos: tablet, smartfone, notebook, internet, livros literários, produtos de papelaria e os aplicativos selecionados. Na implementação foram feitas as orientações às pesquisas sobre os aplicativos e seus usos, O Romantismo (características, autores, contexto histórico e principais obras). Em casa, os estudantes procediam às pesquisas e presencialmente, discutia-se o resultado das pesquisas e tiravam-se as dúvidas. Posteriormente, movidos pela necessidade de conhecer as obras para então, adaptá-las, os estudantes passaram às atividades de leitura e discussão das leituras feitas. Após, foram realizadas oficinas com os estudantes para que aprendessem a utilizar os aplicativos necessários à produção das webtoons. Nesse momento, os alunos que já sabiam usar, ajudaram os outros. A seguir, foram divididas as obras literárias entre as salas e as atribuições e tarefas dentro das equipes para construção escrita das releituras das histórias e as adaptações ao formato webtoon. Devido as várias tarefas inerentes, esta foi a fase mais extensa e intensa. Durante seu desenvolvimento, os estudantes em sua maioria mostraram significativo engajamento e desenvolvimento de habilidades voltadas ao uso de tecnologias digitais, criatividade no desenho das salas para 102 as apresentações e nas artes cênicas. Surgiram alguns conflitos, entre os discentes, relativos ao não cumprimento de acordos e prazos que precisaram de mediação docente para serem resolvidos. A implementação durou dois meses (setembro a novembro). Nesta etapa, as turmas construíram as narrativas adaptadas, fizeram os registros fotográficos, a gravação dos áudios, criaram as ilustrações, produziram as webtoons e construíram todos os recursos necessários à mostra literária. A seguir, mostra-se a produção das capas das webtoons produzidas. Figura 1: Webtoons produzidas Figura 2: Webtoons produzidas Fonte: Acervo da pesquisa Fonte: Acervo da pesquisa As avaliações dadas de forma contínua, conforme as etapas, foram desenvolvidas sob forma de realização das pesquisas, discussão das obras, trabalhos práticos, produção escrita, organização e apresentação da mostra, e atitudes (engajamento, assiduidade, responsabilidade, trabalho em equipe, respeito, solidariedade). A avaliação final, da mostra e das webtoons, foi feita por professores convidados e por voto popular (enquete nas redes sociais) nas obras adaptadas. A fase final, divulgação, foi realizada como mostra literária no dia 29 de novembrode 2021. Momento em que os estudantes se caracterizaram e transformaram suas salas em palco para as apresentações das webtoons: Dom Casmurro, A cartomante, Senhora, Cinco minutos e A viuvinha. Para essa fase, os alunos criaram QrCode para que os visitantes pudessem ler as obras on line e acompanhar a live da mostra via Instagran. 103 Considerações finais A contribuição do uso do gênero digital webtoon no incentivo das práticas de leitura de textos literários e sua produção, a partir das obras dos autores José de Alencar e Machado de Assis, utilizando-se metodologias ativas com inserção de dispositivos móveis para a criação de narrativas baseadas nas obras “Cinco minutos”, “ A viuvinha “, “Senhora”, ”A cartomante e “Dom Casmurro“, favoreceu uma compreensão do quanto se pode e deve investir em práticas de ensino inovadoras através de novas metodologias que contribuam para aprendizagem significativa dos estudantes. A experiência educativa através do PCE foi rica não só para os discentes, mas para as educadoras envolvidas também, pois possibilitou construir saberes ao desenvolvimento profissional de ambas, na medida que ao mesmo tempo foram pesquisadoras e construtoras de novas práticas de trabalho e ensino. Quanto à pesquisa realizada, esta evidenciou que o desinteresse do estudo literário por parte dos discentes dava-se por uso de metodologias tradicionais de ensino e descontextualização com o cotidiano juvenil, assim como o não contemplar aos seus estilos de aprendizagem. Ao serem conduzidos ao centro do processo e tornarem-se protagonistas, a atitude dos estudantes foi paulatinamente mudando. No que tange à leitura das obras, ao invés de “obrigá-los a ler”, conduziu-se o processo de forma que eles tiveram a necessidade da leitura para que pudessem proceder à posterior elaboração da releitura delas. Discutiram entre eles vários possíveis desfechos, adaptações, pensaram e desenharam as cenas, adaptaram as falas dos personagens. Enfim, deram “a cara da turma” para cada história. O que se percebeu que favoreceu o aumento do empenho nos estudos, na assiduidade, na melhora da relação interpessoal nas classes em um sentimento de parceria entre a professora e os estudantes. Os resultados avaliativos foram notórios, tanto em relação ao conteúdo quanto às atitudes. Um dos casos mais significativos foi o de uma aluna que era muito faltosa e introspectiva e ao longo do projeto, desenvolveu um ótimo relacionamento com a turma, passou a ser muito participativa, crítica nas discussões e com características de liderança. O que permite perceber a afirmativa de Moran (2015, p. 16) quando afirma que quando se quer alunos proativos, engajados e capazes de realizar atividades complexas, serem criativos, faz-se necessário utilizar metodologias que propiciem que tais objetivos sejam alcançados. 104 Nesse sentido, os resultados foram além dos esperados, pois a preocupação inicial foi voltada ao estudo literário, mas intrínseco a este estavam diversas situações e possibilidades de desenvolvimento de aprendizagens para muito além do conteúdo. Do aqui disposto, evidenciou-se que as webtoons, pedagogicamente planejadas, com uso de metodologia ativa e TDIC´s, contribuem nos seguintes aspectos às práticas de leitura e produção de textos literários: mobilizam à motivação e engajamento, estimula a colaboração entre os discentes, contribui para reduzir inassiduidade habitual, possibilita que os estudantes sejam mais interativos e criativos nas produções escritas, deem significado ao que aprendem e desenvolvam competências e habilidades em diferentes aspectos (socioemocionais, conceituais, atitudinais e procedimentais). As atividades mão na massa, produção dos cenários, das ilustrações, vídeos, narrativas, dentre outros, deu vida as aulas e estimulou a criatividade dos estudantes quando apoiados e devidamente orientados pelo professor. Outro ponto positivo das webtoons foi a autonomia dada às turmas para contextualizarem as histórias para os dias atuais. De forma que puderam usar seus saberes advindos da realidade vivida. Cumpre destacar que devido a repercussão da mostra no ambiente escolar e nas redes sociais, o projeto foi destaque no site da Secretaria de Estado de Educação e Desporto2 e matéria na TV A Crítica. Portanto, conclui-se que o ensino literário é favorecido quando utiliza metodologias ativas e TDIC´s, a partir do diagnóstico discente. Sendo esta, uma estratégia pedagógica viável e necessária ao ensino da juventude atual. Encontrou se vários problemas e dificuldades para construir a prática aqui relatada: falta de infraestrutura na escola (recursos tecnológicos necessários), falta de tempo para dedicação aos estudos necessários, falta de internet, dentre outros. Porém, o que não pode faltar é a vontade e a disposição de vencer esses desafios e lutar para construir novas possibilidades, melhores condições de trabalho nas escolas que favoreçam a inovação didática, tão necessária neste século XXI. 2 http://www.educacao.am.gov.br/escola-da-zona-norte-de-manaus-cria-historias-em-quadrinhos-com- releitura-de-classicos-da-literatura-brasileira/ http://www.educacao.am.gov.br/escola-da-zona-norte-de-manaus-cria-historias-em-quadrinhos-com-releitura-de-classicos-da-literatura-brasileira/ http://www.educacao.am.gov.br/escola-da-zona-norte-de-manaus-cria-historias-em-quadrinhos-com-releitura-de-classicos-da-literatura-brasileira/ 105 Referências BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC/SEB, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/Acesso em: 27 mar. 2022. FELDER, R. Reaching the Second Tier: Learning and Teaching Styles in College Science Education. J. 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SANTOS, J. F.; OLIVEIRA, L. E. (org.). Literatura e Ensino. Maceió: EDUFAL, 2008. THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez & Autores Associados, 1988. 106 Capítulo VII ______________________________________________________________ A Interdisciplinaridade da didática na perspectiva de dois projetos escolares no Ensino Médio realizados em uma escola pública Aldenize Pinto de Melo do Nascimento – MSc. em Educação/UFAM Isamara Lira Tiago – Doutoranda em Educação/UNR Shirley Maria Nogueira – Dr.ª em História Social do Brasil/ UFBA Edcléia Silva de Oliveira Nogueira – MSc. em Educação/SAN Carlos João Luiz Nunes do Nascimento – Esp. Gestão de Pessoas e Pedagogo/UEA RESUMO: O presente relato aborda o tema da Interdisciplinaridade na perspectiva de dois projetos escolares realizados em uma escola pública da cidade de Manaus. A reunião de diversas áreas do conhecimento em torno de uma ação comum proporcionouuma experiência singular em termos de engajamento e protagonismo juvenil, unindo esforços de toda a escola com o intuito de favorecer o processo de ensino e aprendizagem relacionado ao preconceito racial/religioso e os diversos contextos envolvidos em algumas lendas do folclore amazônico. O planejamento detalhado, o trabalho didático e de pesquisa, a práxis dos professores e a forte participação das turmas lograram êxito e os resultados foram muito positivos e significantes. Foram realizadas palestras, exibição de filme, exposições e apresentações artísticas, fazendo dos projetos uma verdadeira demonstração de empenho, conhecimento, trabalho em equipe e cooperação escolar. PALAVRAS CHAVES: Interdisciplinaridade; Protagonismo Juvenil; Didática; Práxis do Professor. INTRODUÇÃO Os processos educativos nos dias atuais passam por muitos desafios em função das mudanças geracionais presentes na escola, o advento das Tecnologias da Informação e Comunicação, o acesso aos meios virtuais, especialmente as mídias sociais e internet e a necessidade crescente de empregabilidade. Estamos vivenciando uma transição importante que vai determinar os modelos educacionais e as metodologias que serão utilizadas no processo de ensino e aprendizagem a fim de atender as necessidades reais dos alunos. O antigo e engessado modelo de educação não pontuava aspectos primordiais para o fortalecimento de conhecimentos laborais, ou se ainda feito, 107 eram princípios ainda muito básicos. Desta forma, os alunos não aprendiam conceitos que ajudassem na formação do profissional pretendido, os inúmeros prejuízos sintetizam a deficiência deste formato. O mundo evoluiu, a realidade cruel e gritante ecoa nos muitos resultados que nada expressam a “educação moderna”, tão buscada e necessária. Esta, prepara tais sujeitos do momento que adentram a escola até sua saída. Economicamente, evoluímos para um mercado que muito projeta um conceito simples e fortemente notado, do “apagão laboral”, entende-se por isso, uma sociedade que não "fabrica" da melhor forma sua mão-de-obra, pouco treina e aumenta a taxa de ociosidade (desemprego). Para a juventude, de 1990 para cá, fora inserido decretos como mecanismo de apresentá-los no cenário empresarial, louvemos tão grandioso ato, conquanto ainda saibamos que, de nada adianta programas rasos que mitigam o supérfluo, ao invés de contingenciar na base, na estrutura. Por sua vez, para a população, as políticas públicas educacionais exercem papel secular tanto na introdução, bem como na permanência destes jovens neste contexto. Determinar e levantar os problemas ajudou no entendimento de como e quem tratará. Sabendo disso, faz-se necessário pensarmos em questões interdisciplinares: A interdisciplinaridade implica em “[...] um processo de inter-relação de processos, conhecimentos e práticas que transborda e transcende o campo da pesquisa e do ensino no que se refere estritamente às disciplinas científicas e a suas possíveis articulações” (LEFF, 2000, p. 22). Essas atitudes precisam ser reconhecidas como pontos básicos para uma revisão nas práticas pedagógicas e nas áreas do conhecimento em todos os níveis de ensino, adotando-se metodologias e instrumentos que objetivem desenvolver nos estudantes o pensamento de contexto - oportunizando a análise multidimensional das questões ambientais e a busca de alternativas metadisciplinares, solidárias e inclusivas para seu equacionamento, na perspectiva local, regional e planetária (MORIN, 2003). (OLIVEIRA, 2021, p. 05) Muitas e grandes ações já foram tomadas, isto é, apenas um ponto frente a necessidades reais e constantes pelo qual o ensino vem passando. Pontuamos aqui a relevância de programas que envolvam palestras motivacionais, mecanismos que ajudam na conscientização, na reflexão, assim como as mesas redondas (onde aproximamos profissionais de áreas distintas e alunos), o elo entre instituições, empresas, secretarias municipais e estaduais garantem o sucesso deste. 108 Claro, devemos falar deste que ensina, que ministra aulas, que têm consciência que muito ainda deve ser feito. O incremento nos cursos superiores que coadunem matérias específicas com a realidade atual, a especulação futura, de maneira simples, interpretativa, acolhedora e inovadora promoverá teoria & prática. Portanto, a interdisciplinaridade precisa articular ações que busquem o interesse geral, isto é, papel das famílias, do poder público, das escolas (fusão de muitas disciplinas) da indústria, o comércio e assim teremos condições de enfrentar ou minimizar a ausência de temas centrais tão importantes para o bem comum e fortalecimento do mercado. Lembrando que a prática interdisciplinar procura romper com padrões tradicionais que objetivam a construção do conhecimento de maneira fragmentada, revelando pontos em comum e favorecendo análises críticas a respeito das diversas abordagens para um mesmo assunto. Isso permite que os alunos apreendam o conhecimento de forma integral e supõe que a sua formação também o seja. A escola precisa preparar para a vida cidadã e suas especificidades assim como, também, para o mundo do trabalho. INTERDISCIPLINARIDADE NO NOVO ENSINO MÉDIO Durante a elaboração da Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio – BNCC EM, e do Referencial Curricular Amazonense do Ensino Médio – RCA EM a ideia da interdisciplinaridade costurou toda a tessitura epistemológica desses documentos oficiais que regem o ensinar e o aprender no Amazonas: A BNCC e os currículos se identificam na comunhão de princípios e valores que, como já mencionado, orientam a LDB e as DCN. Dessa maneira, reconhecem que a educação tem um compromisso com a formação e o desenvolvimento humano global, em suas dimensões intelectual, física, afetiva, social, ética, moral e simbólica. [...] decidir sobre formas de organização interdisciplinar dos componentes curriculares e fortalecer a competência pedagógica das equipes escolares para adotar estratégias mais dinâmicas, interativas e colaborativas em relação à gestão do ensino e da aprendizagem; [...] (BNCC EM, p.16) Esses diálogos resultam no compartilhamento das boas práticas e na ação em conjunto envolvendo as áreas de Linguagens e suas Tecnologias, matemáticas e suas Tecnologias, Ciências da natureza e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, caracterizando ações interdisciplinares e transdisciplinares [...] (RCA do EM, p. 12) 109 Esse cuidado ocorreu por conta da necessidade de ampliar os olhares discentes quanto à conectividade das disciplinas reveladas na realidade do dia a dia, que não dá para ver o mundo somente de forma filosófica ou matemática, mas é necessário ler a vida com a complexidade interdisciplinar que ela se apresenta. Nessa mesma perspectiva o documento dos Temas Transversais de 2019 sinaliza: Nesse sentido, os Temas Contemporâneos Transversais (TCTs) têm a condição de explicitar a ligação entre os diferentes componentes curriculares de forma integrada, bem como de fazer sua conexão com situações vivenciadas pelos estudantes em suas realidades, contribuindo para trazer contexto e contemporaneidade aos objetos do conhecimento descritos na Base Nacional Comum. Curricular (BNCC). Dentre os vários pesquisadores que investigam e discorrem sobre a relevância e responsabilidade da educação, parece ser consenso que, para atingir seus objetivos e finalidades há que se adotar uma postura que considere o contexto escolar, o contexto social, a diversidade e o diálogo. (http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/implementacao/guia _pratico_temas_contemporaneos.pdf acesso: 13/02/2022). O construto epistemológico que dá a base para o desafio da interdisciplinaridade tem vários autores como Ivani Fazenda (2003): Através da interdisciplinaridade o conhecimento passa de algo setorizado e especializadopara um conhecimento integrado onde as disciplinas científicas interagem entre si. Para Fazenda (2003), uma postura interdisciplinar é uma atitude de busca, inclusão, acordo e sintonia diante do conhecimento. Hoje percebe-se a interdisciplinaridade como um conceito polissêmico, pois a atitude interdisciplinar depende da história vivida, ou seja, das concepções apropriadas e possibilidades de um olhar de diferentes perspectivas a partir de um mesmo tema. Para Fazenda (2003) “[...] é impossível a construção de uma única, absoluta e geral teoria da interdisciplinaridade, mas é necessária a busca ou o desvelamento do percurso teórico pessoal de cada pesquisador que se aventurou a tratar as questões deste tema”. (OLIVEIRA, 2021) Não é tarefa fácil realizar atividades de caráter interdisciplinar, alguns entraves se apresentam para o desenvolvimento de ações dessa natureza. Nos relatos abaixo se perceberá alguns desses desafios encontrados ao longo das experiências pedagógicas concretizadas no ano de 2021: tempo insuficiente para um planejamento em conjunto com os demais professores, carência de recursos materiais, ausência de vontade de aprender de alguns alunos e a falta de cooperação de alguns professores que ainda são resistentes a interdisciplinaridade. http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/implementacao/guia_pratico_temas_contemporaneos.pdf http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/implementacao/guia_pratico_temas_contemporaneos.pdf 110 DESCRIÇÃO DAS EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS INTERDISCIPLINARES Abaixo a descrição de dois eventos interdisciplinares que foram desenvolvidos em uma escola de tempo integral da zona Norte da cidade de Manaus: EVENTO 01 - Nome do Evento: Semana da Consciência Negra. Dias: Novembro de 2021, Local: Escola de Tempo Integral localizada na Zona Norte de Manaus. Público Alvo: Alunos de Ensino Médio da rede pública. Tempo total do desenvolvimento do evento: 20 horas Disciplinas envolvidas: História, Geografia, Filosofia e Sociologia. Coordenação do Evento: Prof.ª Shirley Maria Silva Nogueira. Desenvolvimento da Experiência Pedagógica: A consciência negra é comemorada no dia 20 de novembro e, em muitas cidades e municípios, é feriado. O dia da consciência negra é comemorado no dia da morte de Zumbi de Palmares, que foi executado 20 de novembro de 1695. Essa data foi escolhida pelo movimento negro em detrimento a da Abolição da escravatura, assinada em 13 de maio de 1888. Em 1995 o movimento negro colocou em contraste a figura de Zumbi e da princesa Izabel. “Ela, a liberdade inconclusa e oficial dos livros didáticos e a imagem da dádiva imperial; Zumbi, a marca do guerreiro que resiste até a morte contra a opressão colonial, ganhava a leitura da luta contemporânea contra a discriminação racial” (GOMES, 2011). Assim, se passou a comemorar o dia 20 de novembro como o símbolo das lutas contra a discriminação racial. Então a Semana da Consciência Negra na escola foi direcionada a discutir a situação do povo preto no país, sua cultura e a nossa ligação com a África. Objetivo Geral: O objetivo da Semana da Consciência Negra foi introduzir os alunos do Ensino Médio, 1o, 2o e 3o anos, no conhecimento sobre a cultura afro-brasileira, a ligação do Brasil com a África e o racismo. Objetivos específicos: Promover um debate dos alunos com as religiões de matriz africana; apresentar a ligação do Brasil com a África e enfatizar junto aos alunos como o racismo promove desigualdade social. Metodologia: A metodologia desenvolvida na aula foi de participação ativa dos alunos que não foram apenas expectadores passivos do processo. Cada aluno poderia contribuir e questionar o conteúdo apresentado, contando com auxílio do docente, que era apenas o facilitador. As atividades começaram no dia 16 de novembro com a palestra sobre religião de matriz africana. Primeiramente foi exibido um documentário intitulado “Nas rotas dos orixás”. Esse documentário procura estabelecer uma ligação do Brasil com a África por meio das religiões de matriz africana principalmente o Candomblé. As religiões de matriz africanas são as que mais aproximam o Brasil da África. Depois da exibição do vídeo, houve a palestra do sacerdote (pai de santo) da Tenda de Umbanda Ogum, Pedro Pessoa, que tirou várias dúvidas sobre os elementos 111 da Umbanda. Procurou-se com essa atividade romper com o preconceito que existe sobre o Candomblé e a Umbanda. Figura 1: Palestra do umbandista Pedro Pessoa. Fonte: Acervo pessoal Figura 2: Palestra de Otum de Oxum Fonte: Acervo Pessoal 112 Dia 17 de novembro houve uma palestra ministrada pelo professor Otom de Oxum do instituto “Um Pé na África”, localizado na cidade de Manaus. O público alvo foi os alunos da 3ª série. O palestrante tratou do tema sobre o racismo e sua influência para a desigualdade social. Destacou o racismo que existe na sociedade e como ele causa danos psicológicos nas pessoas que sofrem esse preconceito. Lembrou também da pouca frequência de pretos nas escolas como forma de enfatizar as desigualdades sociais que levam à população preta estar pouco presente nas escolas. No dia 19 apresentou-se as turmas das 1ª séries, o filme "Hotel Ruanda" que trata da guerra étnica entre os Tutse e Hutus em Ruanda, um país de colonização francesa. O filme retrata a limpeza étnica feita pelos Hutus com a matança de um milhão de Tutse. Foi explicado aos alunos que esse não é caso único na história e nem próprio das sociedades africanas. Deu-se como exemplo a limpeza ética promovida pelos sérvios durante a guerra da Bósnia na Europa oriental. Esses casos acontecem devido a construção da identidade étnica que vê no outro o seu oposto. Segundo Oliveira (1976), o outro é tudo o que ele não é. Atribuindo valores negativos a esse outro. Recursos: O evento foi realizado no mini auditório da escola e para se efetivar a tarefa foram utilizados projetor multimídia, microfone, caixa de som, o filme "Hotel Ruanda". Interdisciplinaridade: Um conceitual utilizado pela geografia e história é o de desigualdade social, foi utilizado como forma de explicar a situação do preto na sociedade brasileira. Entendendo desigualdade social, a colocação de indivíduos à margem de direitos sociais, como direito à saúde, à educação, à moradia, ao trabalho, ao transporte e alimentação. Percebe-se por meio desse conceito que o povo preto passou por um processo de marginalização social a partir do momento que houve a abolição da escravatura que não garantiu direitos a esses indivíduos, deixando-os a própria sorte. Essa situação se perpetuou ao longo desses 134 anos de abolição. Os aspectos filosóficos foram abordados a partir da análise do que é ético e moral no comportamento atual em relação às pessoas pretas e as heranças culturais afro. Utilizou-se o conceito do sociólogo Hasemblag (2005) que define que o racismo é um dos fatores da desigualdade no país. Segundo ele, o racismo tem sido retirado da equação que explica as desigualdades no país, a mudança no extrato social ou a mobilidade social, tem sido atribuída a quesitos pessoais dos atores sociais. A meritocracia seria a marca dessas análises, deixando de lado os aspectos estruturais que explicariam as diferenças sociais, uma vez que a posição em que se nasce determina as oportunidades para se obter status sociais mais elevados. Essas condições independem da vontade o indivíduo. Para Hasemblag (2005), um outro fator que determinaria a situação social dos indivíduos seria determinada pela cor. Assim, ser negro em uma sociedade racista diminuiria ainda mais as oportunidades dos indivíduos. 113 Resultados: O resultado foi alcançado. Conseguiu-se atingir os alunos das 1ª, 2ª e 3ª séries com informaçõese debates sobre a cultura afro-brasileira e a ligação do Brasil com a África por meio das religiões de matriz africana. Desafio: O desafio é fazer com que os alunos se tornem antirracistas. Para isso, é necessário que o debate seja reforçado no cotidiano da sala de aula com o ensino da cultura afro-brasileira. Para a equipe de professores o desafio é encontrar tempo para planejar em conjunto com os demais professores, pois o grande número de turmas e o excesso de trabalho burocrático sobrecarregam o professor. EVENTO 02 - Nome do Evento: Dia do Folclore - Feira interdisciplinar Dias: Agosto de 2021, Local: Escola de Tempo Integral localizada na Zona Norte de Manaus. Público Alvo: Alunos de Ensino Médio da rede pública. Tempo total do desenvolvimento das atividades: 20 horas Disciplinas envolvidas: História, Geografia, Filosofia, Artes e Sociologia. Coordenação do Evento: Prof.ª Isamara Lira Tiago. Desenvolvimento da Experiência Pedagógica: Diante das muitas mudanças e transformações que o mundo vem passando, as novas gerações são verdadeiros amontoados de informações instantâneas e conceitos rápidos. A escola e o ensino estão lentamente tentando acompanhar tantas movimentações, até o próprio Ensino Médio se viu na hora de mudar e ganhar novas formas. Esses estudantes são ágeis pelo novo, pelo moderno, pelo tecnológico, com uma ânsia do futuro; esses alunos precisam saber equilibrar ânsia pelo "novo" com os conhecimentos do "passado". O dia do folclore que é comemorado dia 22 de agosto aparece nas escolas como um momento lúdico, muito relacionado à ‘‘historinhas infantis”, como forma de atrair os alunos das séries iniciais. Nos anos finais do ensino básico os alunos que têm outra forma de pensar o mundo não estão mais interessados em contos ou fábulas, mas na contramão, profundamente ansiosos por entender o mundo. Objetivo geral: Proporcionar reflexões em torno da importância do conhecimento lendário amazônico em seus aspectos geográficos, históricos, sociológicos, artísticos e filosóficos. Objetivo especifico: Desenvolver atividades escolares significativas para essa geração acelerada com o intuito de entender o passado, compreender as mudanças atuais e responder a questões de comportamentos sociais de outras épocas. Metodologia: Cada turma foi organizada com dois temas ou duas lendas amazônicas, lendas como: O boto, Iara, Vitória Régia, Curupira, Boitatá, Cobra Grande, Mapinguari, Pirarucu, Guaraná, Matinta Pereira. Essas lendas estão na nossa vivência, de uma forma ou outra o contato com elas faz parte da nossa cultura e imaginário. Utilizamos a investigação e o questionamento das narrativas para pensar em que contexto social, econômico, cultural, filosófico, histórico e geográfico que aquele conto se tornou uma explicação, um exemplo ou uma sabedoria popular da nossa região. O 114 entendimento desses aspectos é o nosso fato histórico. Toda a escola se envolveu direta ou indiretamente no trabalho e buscou bons resultados a fim de responder os questionamentos, cada componente pedagógicos teve sua importância e dever com o evento. Os critérios de avaliação da exposição foram: explicação embasada em referenciais teóricos, ludicidade, criatividade artística e envolvimento com o tema. Aos grupos de alunos ficou destinado a pesquisa intensa e a escolha da forma de apresentar. Obedecendo aos critérios estabelecidos, a análise das lendas assim como respeitar o momento e a situação que deu origem a essa lenda, buscando compreender o espaço vivido. Aos professores ficou incutido o suporte crítico pedagógico e estrutural para avançar na leitura das histórias. A sugestão de material a ser utilizado e a organização da produção dos alunos na apresentação também ficou a cargo dos mestres, cada educador ficou responsável por uma turma. Figura 3: Encenação da lenda do Guaraná Fonte: Acervo Pessoal 115 Figura 4: Encenação da lenda da Vitória Régia. Fonte: Acervo pessoal Recursos: A escola proporcionou aos estudantes ambientes de busca e investigação do conteúdo, acesso a ambientes virtuais, computadores, chrome books e internet. A exposição dos trabalhos foi realizada na quadra poliesportiva da escola, foram utilizados: microfone e caixa de som. Cada equipe escolheu a forma de apresentação das lendas, vários recursos foram usados, priorizando reutilização de materiais: papelão, tintas guache, colas de isopor, cartolinas, papéis 40Kg, lápis de cor, pinceis hidrocor, papéis cartões, emborrachados, entre outros. Interdisciplinaridade: A educação só pode ser explicada a partir da utilidade dela, o ambiente escolar precisa fazer sentido, existe a necessidade do aluno entender o por que que ele está em sala de aula, se não tem essa compreensão não tem efeito, fica apenas um monte de assuntos dissociados da realidade. É pertinente propor essas atividades ao colegiado, professores e alunos têm a oportunidade de sair um pouco do automático. A ideia de se comemorar o folclore então pode ter outro contexto a partir de aspectos interdisciplinares e transdisciplinares abordando os aspectos históricos, geográficos, filosóficos e sociológicos a partir do entendimento das lendas regionais amazônicas. Foi uma possibilidade de repensar e ressignificar conceitos. A história já nos mostra que o fato pode ter vários aspectos e enredos a partir de quem está contando, portanto, nossos estudantes puderam pensar temas já contados de forma mais analítica e crítica dentro de uma nova 116 visão, mas pensando em elementos importantes como: Tempo, lugar, contexto econômico, social, cultura e visão de mundo. Resultados: A cultura é uma parte importante do homem e de suas organizações sociais, logo compreender tudo acerca de nossas histórias regionais são imprescindíveis. A exposição trouxe a luz pontos importantes dos enredos das lendas como: sentimentos de uma época, preconceitos vividos, valores morais, dores mascaradas de fantasias, abordagem levantadas pelo corpo discente que trouxe muita reflexão e ponderação sobre os temas. A "sala de aula" proporcionou uma aproximação com a habitual fala dos pais, avós e tios, uma experiência compartilhada, a teoria finalmente se revelou mais perto da realidade do aluno. A exposição da temática foi um dinamismo a parte com muita interação entre os grupos, foram elaborados musicais, teatros, monólogos, coreografias. O uso de materiais reaproveitados para confeccionar vestimentas, adereços, instrumentos. O esforço em mostrar os resultados foi imenso, demonstrando que o colegiado se interessa por atividades extraclasses com um foco mais interdisciplinar e carregado de sentido recreativo, transformando temas como a lenda do boto em dois momentos distintos, um com o sofrimento das mulheres grávidas lidando solitariamente com seus filhos sem pai, escondendo dores e dissabores, e o outro sem perder o misticismo que a estória carrega apresentando uma dança coreografada. Desafios: Para os discentes o desafio é a busca para entender a realidade por trás do conto, ter um olhar profundo sobre as motivações que levaram ao encantamento de algumas estórias imensamente fantasiosas, mas que pode ter dolorosas realidades por trás. Para o corpo docente o tempo para pensar e planejar é de suma necessidade, porém com uma carga horária cheia, o docente não consegue desenvolver um trabalho como esse, que muda toda a rotina da escola e precisa de uma visão macro para garantir o sucesso do mesmo. Outro ponto substancial é a falta de ajuda financeira para colaborar com a exposição dos alunos, deixando o trabalho limitado ao que se pode fazer e não ao que se consegue pensar. A criatividade esbarra na falta de dinheiro, definindo-seem um trabalho mais reduzido e menos expressivo. Outro item desafiador é estimular a participação de todo o colegiado da escola, lamentavelmente alguns profissionais não se engajaram com a tarefa, deixando o trabalho exaustivo, pois não houve divisão na labuta. CONSIDERAÇÕES FINAIS A escola é o espaço mais adequado e que oferece as maiores oportunidades de desenvolvimento das capacidades, competências e habilidades necessárias aos alunos para conviver em sociedade e ter condições de empregabilidade. É preciso estar atento aos avanços tecnológicos de nosso tempo sem abrir mão de nossas origens que nos legam a identidade enquanto 117 seres sociais e nos projetam para o futuro. Planejar e colocar em prática projetos interdisciplinares no ambiente escolar pode ser um motor a impulsionar o aprendizado significativo e que proporciona um maior engajamento por parte de toda a comunidade escolar. Os projetos citados no presente relato foram ações bem sucedidas que servem de referência em termos de planejamento, cooperação e resultados obtidos. É importante que os educandos, ao longo de sua formação, passem do senso comum à consciência filosófica, que segundo Saviani (2009, p. 2) significa “passar de uma concepção fragmentária, incoerente, desarticulada, implícita, degradada, mecânica, passiva e simplista a uma concepção unitária, coerente, articulada, explícita, original, intencional, ativa e cultivada”. Afinal, “a passagem do senso comum à consciência filosófica é condição necessária para situar a educação numa perspectiva revolucionária” (OLIVEIRA, 2021, p.03) A interdisciplinaridade tem a capacidade de desenvolver potencialidades extremamente valiosas nos alunos, como a curiosidade, o interesse pelo aprendizado e a habilidade de trabalhar em grupo. Isso por si só já representaria um modelo muito interessante uma vez que a vida em sociedade exige indivíduos críticos, criativos e atuantes, Por sua vez, o mundo do trabalho avança em busca de pessoas que saibam desempenhar vários papéis, sejam naturalmente engajadas e tenham uma forte inclinação para atingir resultados – exatamente o que ocorre nos projetos interdisciplinares. REFERÊNCIA BRASIL. Base Nacional Curricular Comum do Ensino Médio – BNCC EM. https://bityli.com/Y9miQcG Acesso: 04/01/2022 FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 11. ed. Campinas: Papirus, 2003. GOMES, Flavio dos Santos. De Olho em Zumbi dos Palmares: histórias, símbolos e memória social. 2a edição. São Paulo: Claroenigma, 2011. HASENBALG, Carlos. Mobilidade Social. Discriminação e desigualdades raciais no Brasil. 2a ed. 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Ambos são apresentados por meio de uma prática escolar cuja Didática é moderna e atual, não visa apenas o aprendizado de conteúdos curriculares, mas abrange a vida do cotidiano e a preparação para o mundo do trabalho. A fim de mostrar o potencial educativo de tais práticas, voluntários descrevem suas vivências nos projetos e demonstram o quanto tais metodologias podem ter êxito tanto em relação a si mesmos quanto em relação ao público alcançado por meio dos seus diversos trabalhos. Palavras-chaves: ABP; Mundo do Trabalho; Voluntariado; Didática. Introdução Em um país que apresenta a ideia da "Lei de Gérson" como algo cultural e presente no dia a dia dos brasileiros, falar de voluntariado ou convocar alguém ao voluntariado chega a ser algo destoante da regra "de levar vantagem em tudo": E tal “lei” passou a ser conhecida como a “Lei da Vantagem”, fazendo- se uma analogia com o cigarro Vila Rica que poderia ser comparado à boa qualidade de outras marcas famosas daquele tempo e com preço mais barato. Então, o jogador fazia alusão de que nós, brasileiros, temos que levar vantagem em tudo e, por esse motivo, tinha que enxergar uma grande vantagem ao comprar o cigarro Vila Rica, pagando-se mais barato por ele e obtendo-se as mesmas vantagens e prazeres de outras marcas mais famosas. Dizia ele na propaganda, cujo vídeo para acesso está no link no final deste texto: “É difícil dizer por que se gosta de um bom cigarro, certo? Por que pagar mais caro se o Vila me dá tudo aquilo que eu quero de um bom cigarro. Nós temos que levar vantagem em tudo, certo?” (PRADO, 2020) 120 Mais que um recurso didático da Educação Maker (EM) ou das Metodologias Ativas de Ensino (MAE), o voluntariado é uma ferramenta de amadurecimento cognitivo, emocional e social, além disso, por meio da Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP) os alunos conseguem: Segundo Larmer, Mengendoller e Boss (2015), a ABP desenvolve habilidades essenciais aos desafios do século XXI, na qual se destacam a habilidade na resolução de problemas, sentido de responsabilidade, trabalho em pares, pensamento crítico, autoconfiança, gerenciamento de tempo, transmissão de ideias e pensamentos por meio da comunicação com outras pessoas. Logo, a ABP é um método de ensino que estimula a aprendizagem dos conteúdos programáticos por meio do envolvimento dos alunos em situações reais e desafiadoras. Desse modo, os alunos podem gerar suas próprias ideias e hipóteses, aplicando-as e aprendem fazendo. (apud OLIVEIRA, 2020) A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estimula essa transformação cultural da mentalidade de "só faço algo se for a meu favor" e incita mudança comportamental do "cuidado e empatia". A educação socioemocional é um dos focos da nova BNCC: Para cumprir essas finalidades, a escola que acolhe as juventudes tem de garantir o prosseguimento dos estudos a todos aqueles que assim o desejarem, promovendo a educação integral dos estudantes no que concerne aos aspectos físicos, cognitivos e socioemocionais (LDB, Art. 35-A, § 7º), por meio: [...] da promoção de atitudes cooperativas e propositivas para o enfrentamento dos desafios da comunidade, do mundo do trabalho e da sociedade em geral. (BNCC, p. 465) A importância do voluntariado no processo de aprendizagem para o mundo do trabalho por meio da ABP De acordo com a Lei 9.608 de 18 de fevereiro de 1998 no Art.1° considera-se serviço voluntário, para os fins desta Lei, a atividade não remuneradaestar introduzido no contexto virtual. Esse relacionamento interativo com o meio e através dele para outros usuários, mostra-se desprovido de hierarquia e ao mesmo tempo libertador. (...) A internet não apenas transporta os indivíduos de uma localização para outra, mas se constitui em um mundo 'virtual', em que a lógica da ação é participativa e a iniciativa individual é apoiada e não meramente suprimida pela tecnologia. (tradução livre) Segundo Bicudo e Silva Junior (1999), os processos de comunicação e interatividade são considerados sempre vantajosos nos processos educativos assistidos pelo computador, ou melhor, que se utilizam esse meio para tal. Os sistemas multimídia são anunciados como interativos, se diz que com os novos programas o usuário deixa de ser um receptor passivo, adquirindo a faculdade de decidir quais informações quer receber a cada momento, uma vez que pela não linearidade da constituição das informações nesse tipo de material. Assim o processo de aprendizagem passa a ser mediado não somente pela figura do professor, mas também por outras vias. Ademais, Mihir Shukla (2019) alega que quando a tecnologia é criada por pessoas, para pessoas, seu maior propósito não é apenas melhorar o desempenho do negócio. Ela precisa melhorar a vida das pessoas. Precisa ajudar a criar um mundo no qual as pessoas prosperem. No qual o intelecto humano voe. No qual a capacidade humana de fazer o espetacular se torne mais possível do que em qualquer outra época da história. De acordo com ele, este deve ser o perfil do estado democrático da tecnologia. Pensando nos elementos do processo de inserção da tecnologia, abre- se margem para compreender razoavelmente uma etapa que pode possibilitar a democratização educacional. Desse modo, é cabível entender como é definido a democratização do ensino. Assim, de acordo com Azanha (2004), a democratização do ensino é entendida sob duas maneiras principais: tanto como política de extensão de oportunidades educativas para todos, quanto como prática pedagógica pautada na liberdade dos estudantes, de modo que uma abordagem valoriza os aspectos quantitativos e a outra os aspectos 16 qualitativos do processo. Andando sobre a mesma linha de compreensão do termo, Carvalho (2004) entende que há divergências no tratamento de aspectos educacionais como democratização e qualidade do ensino, e mesmo em relação à formação docente. Vulnerabilidade Social, Pobreza e Extrema Pobreza Neste outro degrau de discussão, abre-se margem para tratar a respeito das mazelas sociais que afugentam e assombram o acesso à tecnologia e consequentemente internet, além de alimentar os impasses para a democratização tecnológica e educacional. Assim, o objeto de avaliação, nessa etapa, irá consistir no entendimento acerca da relação existente entre essas mazelas (vulnerabilidade social, pobreza e extrema pobreza) e o distanciamento da internet e da educação. As medidas de políticas econômica adotadas nos últimos anos, no Brasil, promoveram sensíveis transformações para o quadro de indivíduos em situação de vulnerabilidade social, pobreza e extrema pobreza. Apesar de haver esforços para mitigar as condições de riscos as quais estão sujeitos os indivíduos dito excluídos, ainda é fator alarmante em função da relevância do tema. Esse reflexo das ações do poder público atingiu de forma assimétrica diversos grupos sociais no território brasileiro. Esse campo de vulnerabilidade naturalmente está associado a fatores socioeconômico estruturais e negligência de acesso a direitos básicos e inviabiliza a realização dos exercícios sociais enquanto cidadão pleno. Na linha de raciocínio, Petrini (2003) afirma que à medida que a família encontra dificuldades para cumprir satisfatoriamente suas tarefas básicas de socialização e de amparo/serviços aos seus membros, criam-se situações de vulnerabilidade. Carneiro e Veiga (2004) definem vulnerabilidade como exposição a riscos e baixa capacidade material, simbólica e comportamental de famílias e pessoas para enfrentar e superar os desafios com que se defrontam. Assim, há como relacionar as dificuldades e desafios sociais com quais os indivíduos em situação de vulnerabilidade social se defrontam com fatores de ordem estruturais. Fatalmente o cenário exposto persiste e revela-se como elemento a se pensar meios de contornar e reduzir os números aqui no Brasil. Segundo a 17 projeção da FVG, 12,8% dos brasileiros passaram a viver com menos de R$ 246 ao mês (R$ 8,20 ao dia) espreitando a linha da pobreza extrema. Para Yasbek (2003), são pobres aqueles que, de modo temporário ou permanente, não têm acesso a um mínimo de bens e recursos sendo, portanto, excluídos em graus diferenciados da riqueza social. A Pandemia e a Conectividade Ao tratar da temática ainda sensível da conectividade, convém destacar o episódio pandêmico de Covid-19 que, com o isolamento domiciliar, escancarou um fato social preocupante: a falta de conectividade persiste e gera desigualdades educacionais (CORDEIRO, 2020). O andamento do isolamento social, em razão do novo coronavírus se mostrar uma ameaça à saúde pública, modelou notoriamente a rotina de dezenas de milhares de brasileiros. Serviços como de alimentação delivery tiveram suas demandas impulsionadas em função dessa circunstância excepcional (Churkin, 2020). Além disso, empregos adotaram o home office, serviço realizado através de computadores e celulares com acesso à internet, como alternativa a fim de contornar os aspectos negativos atrelados ao distanciamento social. Dessa maneira, algumas instituições de ensino lançaram mão de um recurso indispensável, o qual se traduz diretamente em uma inclusão progressiva e democrática para o ensino que são as plataformas de educação virtual (LEMOS, 2010). Apesar da realidade brasileira ter sido transformada pelo avanço das tecnologias digitais de informação e comunicação nos domicílios brasileiros, é na pandemia que as TDIC se sujeitam a objeto de discussão do quanto essa realidade transformada atingiu a população menos favorecida. Castells (2003) considera que as TDIC promoveram o surgimento de “um espaço híbrido, feito de lugares e fluxos: um espaço de lugares interconectados”. Nesse sentido, esse lugar interconectado viabilizado pela atuação dessas tecnologias define- se como um ambiente que não inclui a todos em razão dos mais de 26% de indivíduos distantes do campo virtual (Pesquisa TIC domicílios). Letramento digital 18 Incialmente vamos apresentar a origem das palavras “letramento”, segundo Britto (2005) e Gasque (2012), o termo letramento aparece pela primeira vez no livro intitulado “No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística” (1986), sem ainda uma definição do conceito. Mais adiante o conceito viria com Angela Kleiman, no livro Significados do Letramento (1995), onde define letramento como “um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, como sistema simbólico e como tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos.” (Kleiman, 1995, p.18). Magda Soares (2009), afirma que letramento “é o resultado da ação de ensinar e aprender a ler e escrever. O estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequências de ter-se apropriado da escrita.”, (p.18), diferente daquele que é alfabetizado, que apenas aprendeu a ler e escrever, mas não adquiriu o estado ou condição de quem se apropriou da escrita para aplicá-la nas práticas sociais que a demandam, (Soares, 2009). Em outras palavras, o indivíduo alfabetizado sabe ler e escrever, enquanto o letrado sabe utilizar a leitura e escrita no seu cotidiano sabendo aplicá-la nas mais diversas situações. Já o letramento digital, segundo Araujo e Glotz (2014), é a capacidade que o indivíduo tem de direcionar o uso das tecnologias daprestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza ou a instituição privada de fins não lucrativos que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência à pessoa. A palavra “voluntário” vem do latim voluntários que quer dizer "aquilo que se faz por vontade", por aí já se vê a importância do voluntariado que se dá no momento em que a pessoa se pré-dispõe a fazer um trabalho por vontade própria tendo em vista que este tipo de ação pode gerar um grande desempenho não somente na vida daqueles que são agraciados com os frutos 121 dessas ações mas também na vida social de quem participa de trabalho voluntário (RIBEIRO, 2019). Segundo a definição dada pelas Nações Unidas o voluntário é definido, sendo ele um jovem ou um adulto que, através dos seus interesses pessoais e da sua vida cívica, realiza atividades e passa a dedicar parte do seu tempo, sem nenhuma remuneração, para o bem estar social, ou até mesmo em outros campos (CORULLÓN, 2022). Um voluntário é um grande ator social, que apesar de não prestar serviço remunerado, ainda assim doa seu tempo para atender as necessidades do próximo, sendo assim desenvolvendo trabalhos que contribuem para a sociedade como um todo, ou para um grupo étnico. Dessa forma, podemos dizer que o trabalho voluntário é um meio de transformação social. Um trabalho que gera essa transformação certamente tem sua importância dentro do sistema educacional em nosso país. Sabendo disso, é possível aprimorar as metodologias já utilizadas dentro das salas de aulas, com dinâmicas criadas pelos próprios voluntariados. Dessa forma, a qualidade de ensino tanto para quem ouve, quanto para aquele que ensina é mútua, em uma proporção muito maior, pois é possível inserir nesse aluno voluntário o desejo de aprender e de se tornar um propagador de tal aprendizagem. Os voluntários tendem a ter grandes chances no mercado de trabalho, levando em consideração os cargos que são ocupados, pois com isso vem a adquirir conhecimento sobre diversas áreas da vida o que pode ajudar a fazer um belo currículo fazendo assim também com que se torne um profissional muito competente. Por meio do trabalho voluntário podemos fazer algumas observações como notar que uma pessoa consegue trabalhar em equipe e ver o seu desenvolvimento, as pessoas que participam dessas ações geralmente criam vínculos uns com os outros a partir do momento que há um trabalho para se fazer em equipe onde todos se ajudam a ajudar os outros. Onde existe um grupo de voluntários há grandes possibilidades de nascerem inúmeros projetos vindos de um determinado projeto inicial. 122 O voluntariado proporciona oportunidades múltiplas de crescimento cognitivo e socioemocional. São pontos positivos do voluntariado: Oportunidade de aprender com os outros; Obter experiência dentro da área de atuação; Aumentar as chances de arrumar um emprego; Possibilidade de desenvolver ideias inovadoras; Maior bem-estar; Afastar-se do tédio; Aprimorar a sensibilidade e empatia. (https://www.usjt.br/blog/conheca-8-beneficios-de-fazer-trabalho- voluntario/ acesso 07/03/2022) A Aprendizagem Baseada em Projeto (ABP) é uma das Metodologias Ativas que mais coopera para que haja um aprendizado significativo para os alunos participantes: A ABP pode ser definida pela utilização de projetos autênticos e realistas, baseados em uma questão, tarefa ou problema altamente motivador e envolvente, para ensinar conteúdos acadêmicos aos alunos no contexto do trabalho cooperativo para a resolução de problemas. [...] A investigação dos alunos é profundamente integrada à aprendizagem baseada em projetos, e como eles têm, em geral, algum poder de escolha em relação ao projeto do seu grupo e aos métodos a serem usados para desenvolvê-los, eles tendem a ter uma motivação muito maior para trabalhar de forma diligente na solução de problemas (BENDER, 2014, p. 15). Por meio da ABP é possível dar ao estudante a experiência de uma aprendizagem sólida e estimuladora, já que este aluno irá exercitar sua criatividade, trabalho em equipe, protagonismo, resolução de problemas e pensamento computacional. Metodologia A experiência pedagógica aqui relatada é uma pesquisa ação que por meio do voluntariado buscou fortalecer o exercício da cidadania plena com as perspectivas de direitos e deveres dos alunos de uma escola pública localizada na Zona Norte de Manaus. Na atualidade não há mais espaço para um ensino de via única onde o professor imputa informações e os alunos somente processam sem muitas reações. Por meio do GEIF - Grupo de Estudos Inutilidades Filosóficas, as ações de protagonismo dos alunos de ensino médio são realizadas, segue abaixo o passo a passo da metodologia utilizada: https://www.usjt.br/blog/conheca-8-beneficios-de-fazer-trabalho-voluntario/ https://www.usjt.br/blog/conheca-8-beneficios-de-fazer-trabalho-voluntario/ 123 • É realizada a captação dos alunos voluntários para compor a equipe do GEIF, essa captação é realização por meio de convites presenciais e online via mídias sociais do repositório midiático "Inutilidades Filosóficas". • Os voluntários ficam cientes nas normas para atuação no GEIF: a participação é associada à autorização dos responsáveis, os alunos devem estar com as notas na média da escola, as tarefas escolares precisam estar em dia, à convivência nos encontros físicos ou virtuais tem como base a alteridade e o respeito mútuo. • A partir da inserção do voluntário no grupo, antes de elaborar algo, deve estudar sobre o assunto de sua futura criação, tendo como base os Direitos Humanos. Ele recorrerá a artigos científicos, livros, vídeo educativos, entre outros. E ainda contará com a colaboração dos voluntários mais antigos no GEIF que darão o suporte técnico e teórico para o novo voluntário. • Em seguida o voluntário escolhe o produto criativo ou atividade que deseja desenvolver: elaboração de cards, produção de vídeos, curadoria de conteúdo e fotos, edição de vídeos, realização de lives, entre outros. • O voluntário desenvolve o produto criativo conforme a disposição de seu tempo e de recursos de internet. Ressaltamos que o que é gasto financeiramente é custeado pelo próprio voluntário. • A elaboração dos produtos criativos é orientada e supervisionada pela coordenação do GEIF. Somente após essa verificação que o produto é postado nas mídias sociais. • Atualmente o repositório Inutilidades Filosóficas é alimentado por produtos criativos oriundos de quatro projetos que os alunos ajudaram a criar, sendo eles: 1. REFLEXÃO E AÇÃO: enfrentamento à violência contra a mulher, debate sobre a cultura do estupro, machismo estrutural, Lei Maria da Penha, Lei Carolina Dieckmann, entre outros. 124 2. VIDA EM VÍDEOS: ensinado e aprendendo por meio de vídeos os assuntos atuais e para o ENEM. Os alunos "traduzem" os conteúdos em uma linguagem mais coloquial para facilitar o entendimento dos mesmos. 3. VOZES EM NÓS: debater sobre tabus e preconceitos, promover o exercício da alteridade de raça, gênero, religiosa, de classe, entre outros. 4. CRIANDO O FUTURO: cooperar para a formação para o mundo do trabalho, estimulando debates sobre geração de trabalho digno, empreendedorismo e renda sustentável, debates e reflexões sobre a construção do projeto de vida do estudante. Contribuir para as melhores tomadas de decisões sobre a vida após o Ensino Médio. RELATOS É muito valorosa uma atitude altruísta e cheia de empatia, o voluntariado oportuniza experiência dessa natureza. Os ganhos sociais e pessoais são reais: resolução de problemáticas atuais, criar e aumentar o network, exercitar a alteridade, inserção e ascensão no mundo do trabalho, entre outros. No GEIF, cada ação voluntária gera resultados práticose impulsiona a reflexão filosófica, histórica e sociológica sobre a vida, estimulando os participantes a continuarem engajados. Quadro 01: Exemplos de card, live, vídeo e palestra realizada pelas voluntárias. 125 Fonte: Elaboração própria. Abaixo apresentamos relatos de voluntários do GEIF que compartilharam um pouco de suas experiências durante o tempo em que contribuíram com a equipe: Relato de Dayane Lira – Voluntária desde 2018 "O ano era 2018, quando por meio de uma das aulas da professora Aldenize Nascimento, surgiu em mim o interesse em participar voluntariamente dos projetos que a mesma coordenava na escola da Zona Norte de Manaus. Inicialmente começamos inúmeras pesquisas a respeito da Lei Maria da Penha e a Lei do "Feminicídio". Houve todo um preparo psicológico com os voluntário para podermos fazer a sensibilização com os demais alunos da escola. O principal objetivo do projeto era alcançar os adolescentes, jovens e mulheres 126 para levar informações a respeito das devidas leis, assim sendo fizemos uma série de palestras dentro da escola abordando o tema, uma entrevista foi feita para o "Portal Tucumã" onde tivemos a oportunidade de compartilhar de nosso projeto, contudo partilhar de nossa caminhada na luta para levar informação a todas aquelas vítimas de violência doméstica que se encontram nesse momento sem saber como agir e como proceder mediante a um crime destes. Sendo assim, nesses 5 anos de participação voluntária nesses projetos que pude adquirir conhecimentos, conhecimentos esses que vivi e soube como enfrentar a situação, fui uma vítima da violência doméstica, fui acolhida pelo SAPEM (Sistema de Apoio Emergencial a Mulher) tive apoio psicológico dentro da delegacia da mulher, medidas protetivas foram colocadas contra meu agressor, atualmente ainda me encontro sob medidas protetivas, ainda estou em processo na justiça contra o criminoso que insiste constantemente em tirar meu filho de mim, porém tanto eu como meu filho estamos sob medidas protetivas por 10 meses. Posso então afirmar que com base no meu relato de experiência e relato de vida, minha importância como voluntária foi bastante significante que contribuiu para ajudar a mim mesma e a outras mulheres." Relato de Sabrina Gama - voluntária desde 2018 "Ser voluntária é gratificante, apesar disso, o trabalho que tem como a força de vontade e dedicação, como um dos seus pilares, também tem suas dificuldades. Uma das maiores dificuldades que eu enquanto voluntária no Projeto Inutilidade Filosóficas – IF enfrentei e acredito que não só eu, mas outros voluntários também foi o fator principal que é a falta de estrutura para que tais trabalhos fossem desenvolvidos no ambiente educacional. Somos sabedores do quanto é difícil uma escola pública ter uma estrutura adequada para que sejam realizados trabalhos do cotidiano de ensino, então imagina em um âmbito maior, que é o trabalho voluntário para que se desenvolva pesquisas científicas, essa dificuldade aumenta muito mais. Outro fator que dificultou em parte o trabalho voluntário, pode-se dizer que foi a falta de programas de incentivo para tal, tendo em vista que muitos alunos do ensino básico não tem uma visão ampla sobre esse trabalho, muito menos os benefícios que ele pode trazer tanto para a vida acadêmica, quanto para a vida social. Acredito que tais programas de incentivo poderiam contribuir e facilitar ainda mais a disseminação do que é o voluntariado, além de ajudar para que tais trabalhos realizados por eles também fossem divulgados. Apesar das dificuldades apresentadas até então, vale lembrar também os pontos proveitosos do trabalho voluntário, da qual eu posso falar por experiência própria que são de grande valia não somente durante o trabalho, mas para a vida toda. As ações voluntárias carregam em si a essência de contribuição social, algo que é desenvolvido de maneira muito pessoal daquele que se 127 submete a este trabalho. Sendo assim, nós passamos por muitas mudanças, sendo elas internas enquanto seres e enquanto acadêmicos. Pois tal laboração é de grande valia não somente para aquele aluno do Ensino Básico, mas também para aquele aluno do Ensino Superior, que foi o meu caso. Iniciei o trabalho voluntário na minha adolescência, mas as mudanças foram tantas, que contribuíram também para a minha vida pessoal e acadêmica que perpetuei esse trabalho quando ingressei no Ensino Superior. Hoje já me encontro formada no Ensino Superior em Marketing, e ainda nesta fase o trabalho voluntário se faz presente e necessário na minha vida pessoal e acadêmica, é uma contribuição mutua que parte de mim para o meio social, e vice-versa, dessa forma posso afirmar o que é verdadeiramente o trabalho voluntário e a sua importância através da simples e objetiva frase do Administrador Peter F. Drucker (1990) que diz que "a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo", e acredito que o voluntariado tem uma grande força e perspectiva para criar um novo futuro em aspectos sociais.” Relato da Ana Paula Brandão – Voluntária desde 2019 "Quando entrei para o Grupo de Estudos Inutilidades Filosóficas - GEIF tive a oportunidade de conhecer pessoas incríveis, aprender sobre inúmeras coisas, melhorar a minha forma de me relacionar com as pessoas e ainda tive a chance de poder colaborar com a elaboração de um capítulo no livro "Didática do Século XXI. VOL.2" como coautora, o que faz com que tenha um currículo muito bom e que eu aprenda com os assuntos que são estudados e explanados por mim e por meu colegas de grupo. Estar em um projeto onde eu sei que posso ajudar outras pessoas a obterem conhecimento sobre diversos assuntos é muito importante para mim, pois gravar vídeos simplificando um determinado conteúdo fazendo com que as pessoas que estão consumindo do nosso trabalho possam nos dar de volta o que queremos que é ver que despertamos o interesse do pensar e do agir que é quando vemos que estas mesmas pessoas compreendem o que fazemos e veem o bem que isso faz a elas e a nós é muito gratificante, e é aí que percebemos que nossos esforços não foram em vão e que podemos prosseguir pois o nosso trabalho como voluntários está sendo feito levando conhecimento para que possamos melhorar a nossa sociedade cada vez mais, assim como disse o criador da Apple, Steve Jobs: "as pessoas que estão suficientemente loucas para acreditar que podem mudar o mundo são aquelas que conseguem" de acordo com o site “Tecmundo”. De fato é assim que acontece, posso até citar um momento que passei quando estava conversando com um conhecido que achava bonito a minha forma de querer mudar o mundo, mas que também achava que as pessoas estavam mais interessadas no presente do que pensar no futuro então seria uma perca de tempo se eu investisse em um assunto que as pessoas não iriam ligar e 128 não que dariam a mínima, então basicamente ele quis dizer que pessoas com a esperança de tempos melhores talvez estivessem loucas por quererem mudar o mundo que ele acha estar cheio de pessoas com desinteresse social e é aí que eu voluntária do "Inutilidades Filosóficas" entro para levar ajuda, conhecimento e até mesmo uma palavra para pessoas que estão desacreditadas da humanidade." Considerações finais Os relatos das voluntárias evidencia a teoria sobre a ABP e sinaliza que há resultados cognitivos e socioemocionais. Uma aprendizagem que vai além do foco no mundo do trabalho, ela permite um aprendizado para a vida cidadã pautada na ética e nos direitos humanos. REFERÊNCIAS ARAUJO, Jairo Melo. Voluntariado - na Contramão dos Direitos Sociais. Cortez Editora, 2008. BENDER, William. N. Aprendizagem baseada em projetos: educação diferenciada para o século XXI. Porto Alegre: Penso, 2014. BRASIL. Base Nacional CurricularComum do Ensino Médio - BNCC CORULLÓN, Mónica. Trabalho Voluntário. 2020. In: https://voluntarios.com.br/oque_e_voluntariado.htm - acesso 16/02/2022 DRUCKER, Peter F. O Gestor Eficaz. LTC; 11ª edição, 1990. OLIVEIRA, Sebastião Luís de. (et al) Aprendizagem Baseada em Projetos no Ensino Médio: estudo comparativo entre métodos de ensino. In: Bolema, Rio Claro (SP), v. 34, n. 67, p.764-785, ago. 2020. PRADO, Wagner. A importância de se revogar a “Lei de Gerson” no Brasil. Portal RCIA, 2020. https://rciararaquara.com.br/artigo/a-importancia-de-se- revogar-a-lei-de-gerson-no-brasil/ acesso: 27/02/2022 https://blog.uceff.edu.br/afinal-qual-e-a-importancia-do-trabalhovoluntario/ http://portal.mec.gov.br/conselho-nacional-de-educacao/base-nacional- comum-curricular-bncc-etapa-ensino-medio. Acesso: 20/04/2020 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9608.htm https://www.scielo.br/j/bolema/a/wySf37fqxQDVHGPdPcCGhHq/?format=pdf &lang=pt acesso 31/04/2022 https://www.tecmundo.com.br/steve-jobs/14075-confira-versao-de-comercial- da-apple-narrada-por-steve-jobs.htm https://voluntarios.com.br/oque_e_voluntariado.htm%20-%20acesso%2016/02/2022 https://rciararaquara.com.br/artigo/a-importancia-de-se-revogar-a-lei-de-gerson-no-brasil/ https://rciararaquara.com.br/artigo/a-importancia-de-se-revogar-a-lei-de-gerson-no-brasil/ https://blog.uceff.edu.br/afinal-qual-e-a-importancia-do-trabalhovoluntario/ http://portal.mec.gov.br/conselho-nacional-de-educacao/base-nacional-comum-curricular-bncc-etapa-ensino-medio http://portal.mec.gov.br/conselho-nacional-de-educacao/base-nacional-comum-curricular-bncc-etapa-ensino-medio http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9608.htm https://www.scielo.br/j/bolema/a/wySf37fqxQDVHGPdPcCGhHq/?format=pdf&lang=pt https://www.scielo.br/j/bolema/a/wySf37fqxQDVHGPdPcCGhHq/?format=pdf&lang=pt https://www.tecmundo.com.br/steve-jobs/14075-confira-versao-de-comercial-da-apple-narrada-por-steve-jobs.htm https://www.tecmundo.com.br/steve-jobs/14075-confira-versao-de-comercial-da-apple-narrada-por-steve-jobs.htm 129 Capítulo IX ______________________________________________________________ A musicalização como ferramenta de ensino da Língua Espanhola: um comparativo lexical Rosilene de Oliveira Brito – Mestranda em Educação/UNIDA e Graduada em Letras –/UFAM. Ana Karoliny Mota Sampaio – Graduada em Letras – Espanhol/UFAM. Resumo: O presente artigo abordará o processo de ensino aprendizagem dos alunos do Ensino Médio diante da Língua Espanhola no Brasil, destacando a metodologia específica de musicalização para a compreensão e interação da língua. Esse estudo tem como objetivo principal buscar a melhor estratégia de ensino para alunos brasileiros que buscam a aquisição de uma Língua Estrangeira (Espanhol), assim como o papel do professor e do aluno durante esse processo. Importante frisar que não existe um método ou enfoque certo, cada qual surge em uma determinada época, sendo utilizado de acordo com a necessidade do ensino da língua estrangeira, assim como os conteúdos a serem trabalhados valendo-se da realidade dos alunos, bem como, as realidades das escolas. Contudo, temos uma variante no ensino, a musicalização, que aproxima o aluno daquela língua, além de contribuir com fatores afetivos, motores, cognitivos e de convívio social. Palavras chaves: Metodologia; Ensino; Musicalização. Introdução A relevância deste tema surgiu a partir da pesquisa e curiosidade sobre o processo de ensino-aprendizagem de alguns tipos de métodos trabalhados em sala de aula pelos professores da disciplina de Língua Espanhola no Ensino Médio. É de total importância a valorização do aprendizado daquele público que busca aprender outra língua, pois com isso conseguirá ampliar seus horizontes diante dessa quantidade de informações e avanços tecnológicos, trazendo pra si uma bagagem a mais, agregando consigo valores de uma nova linguagem oral, escrita, e, acima de tudo, cultural. Portanto, é de 130 extrema importância que o aluno adquira o conhecimento de uma nova língua durante todo o seu processo escolar. Através deste processo, entende-se que diversos métodos surgiram para que houvesse uma melhor maneira para o ensino do espanhol com esses alunos. Dentre eles abordaremos o de musicalização, que é o processo de introdução de músicas no ensino de uma língua estrangeira, que está presente em várias situações da vida, tanto nos momentos culturais, regionais e independentes das épocas, ou seja, é uma linguagem universal. Porém, o professor ainda encontra dificuldades em trabalhar música na educação. Mas qual a real importância para o desenvolvimento desse aluno? A resposta é simples: a música desenvolve a autoestima, imaginação e criatividade. Portanto a união desses dois processos nos mostra que esse método de ensino para alunos que buscam aprender uma língua estrangeira é um dos mais eficazes, pois a música tem um papel importante na sociedade agindo como elemento cultural importante, transformando o indivíduo em todos os âmbitos. Revisão de literatura Os teóricos, Richards y Rodgers (2003), entendem por método a ideia de um conjunto sistemático de práticas docentes fundadas em uma determinada teoria da linguagem e da aprendizagem de idiomas. A busca por métodos melhores foi uma constante preocupação para numerosos professores e estudiosos da linguística aplicada ao longo do século XX. Os partidários de cada método professam a crença de que as práticas docentes que defendem, oferecem um fundamento mais eficaz e teoricamente sólido dos métodos anteriores. Segundo Antony (RICHARDS e RODGERS, 2003, p.28), o enfoque se refere às teorias sobre a natureza da língua e sua aprendizagem, que são a fonte das práticas e dos princípios sobre o ensino de idiomas. Transformar aulas para que elas fiquem mais atrativas é um dos novos desafios para o educador do século XXI. Pensando nisso, muitos dos docentes utilizam a música para auxiliar na mediação da aprendizagem. Quando os professores resolvem utilizar-se da música como linguagem de ensino, observamos que não há uma pesquisa do perfil da turma a ser ensinada e do contexto que a escola está inserida, são utilizadas as mesmas 131 músicas que não refletem a realidade do aluno (do seu tempo) não há uma atualização para estimular o interesse dos alunos. Desde que Froebel (1810) propôs a música como recurso pedagógico, ela vem sendo utilizada na educação escolar, justamente por aliar os aspectos lúdicos e cognitivos (BERTONCELLO e SANTOS, 2002, p.137). Com isso conseguimos ótimos resultados em meio a utilização desse método para a internalização dos alunos, conforme cita Berchem (apud KRZESONSKI e CAMPOS, 2006, p.115) diz: “a música é a linguagem que se traduz em forma sonora capaz de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos.” As músicas e suas letras podem ser uma importante alternativa para estreitar o diálogo entre alunos, professores e conhecimento científico, uma vez que abordam temáticas com grande potencial de problematização que estão presentes de forma significativa na vida do aluno. As músicas podem, ainda, fazer um segundo caminho que não o da aula expositiva, aumentando a sensibilidade e a criatividade em se fazer relações entre o conteúdo da música, por meio da letra que a compõe, e o conhecimento científico (SILVEIRA e KIOURANIS, 2008, p.28). A música como veículo de história, mitos e lendas, contribuindo para a continuidade cultural, utilizada na educação, auxilia no controle dos membros “desviantes” da sociedade, ou seja, ensinando à sociedade o que é certo contribuindo para a estabilidade cultural; e no cultivo de indivíduos, transmitindo ensinamentos sobre o ambiente natural e seus valores do grupo, no sentido de dar continuidade à cultura (CRUVINEL, 2005, p. 54). Para os professores conseguirem motivaras crianças a gostarem de música, ele deve conhecer bem a vontade e o repertório de seus alunos, para poderem tornar o seu plano de aula mais interessante. A musicalização além de ajudar no desenvolvimento de várias habilidades, poderá auxiliar na aprendizagem dos alunos. Ao utilizar essa metodologia em sala de aula, é importante que o professor tenha um conhecimento prévio do repertório, fazendo um paralelo com as atividades que serão realizadas. Com isso, esses alunos serão capazes de estabelecer relações importantes com a aprendizagem. Utilizar essa ferramenta não é simples, faz-se necessário que os professores tenham traçados os objetivos que desejam alcançar. 132 Conforme Fonterrada (2008): [...] Este é um momento propício para levantar o que está por trás das atitudes tomadas em relação ao ensino de música, tanto nas escolas especializadas quando nas de educação geral, para que se tenha clareza a respeito do valor que lhe é atribuído e do papel que representa na sociedade contemporânea [...] (FONTERRADA, 2008, p.10). Metodologia O Método Áudio-linguístico ou áudio-oral surgiu durante a Segunda Guerra Mundial, pois o exército americano precisava de soldados fluentes em várias outras línguas estrangeiras, mas não obtiveram sucesso, então tiveram que produzir esses falantes em um curto espaço de tempo. É a fusão da linguística estrutural e a psicologia behaviorista (Skinner e Pavlov) que nos leva à teoria de que aprender línguas é um processo de condicionamento. É a priorização do desenvolvimento das habilidades orais, de forma a seguir a ‘ordem natural’ de aquisição de primeira língua, ou seja, as quatro habilidades: compreensão auditiva, produção oral, compreensão textual e, por fim, a produção textual. O objetivo é levar o aluno a comunicar-se na língua alvo através da formação de novos hábitos linguísticos. O professor tem a fundamental relevância nesse processo, pois está no meio do processo, pois é ele quem tem a responsabilidade de orientar o comportamento linguístico desse aluno. Ele é o referencial do uso linguístico que os aprendizes da língua imitam. É o que coordena as atividades em sala de aula. O aluno só teria contato com a língua escrita quando a aquisição da língua oral já estivesse internalizada, através de exercícios de repetição. Por ser uma ferramenta de baixo custo, a musicalização, é uma oportunidade de o alunado estabelecer relações interdisciplinares, uma atividade que visa não só a ludicidade, mas a atividade cultural e esse recurso didático-pedagógico é muito proveitoso, pois se constitui como uma nova forma capaz de aproximar mais o aluno da temática, por conta da facilidade que a música é internalizada pelo público com mais a junção do contexto escolar, se torna algo totalmente mais prazeroso de executar. Pode-se observar que o campo das formas musicais é verdadeiramente fértil e de fácil assimilação, portanto, útil para o trabalho do professor que deseja renovar, dinamizar e buscar maior eficiência de aprendizado em seu modo de explicar a matéria (FERREIRA, 2008). 133 Com o auxílio desse método e mais o uso da musicalização, que tem como principal meio de memorização de Línguas Estrangeiras percebeu um grande aumento de vocabulário e pronúncia. Importante ressaltar também que é o processo de construção musical, é a exploração do universo sonoro, como acrescenta Chiarelli (2005): [...] Nos dias atuais as possibilidades de desenvolvimento auditivo se tornam cada vez mais reduzidas, as principais causas são o predomínio dos estímulos visuais sobre os auditivos e o excesso de ruídos com que estamos habituados a conviver. Por isso, é fundamental fazer uso de atividades de musicalização que explorem o universo sonoro, levando as crianças a ouvir com atenção, analisando, comparando os sons e buscando identificar as diferentes fontes sonoras. Isso irá desenvolver sua capacidade auditiva, exercitar a atenção, concentração e a capacidade de análise e seleção de sons. (CHIARELLI, 2005. p. 5) Com essas duas metodologias, começamos a montar o que chamamos de musicalização de canções espanholas para esse processo de aprendizado da mesma com alunos do Ensino Médio. Escolhida a canção do cantor hispânico, Carlos Capó, com a música “Calma” e através dela pudemos procurar o desenvolvimento das habilidades seguintes: escrita, auditiva e comparativa, pois através dessa música exercitamos junto a eles a questão lexical das palavras espanholas em contrapartida com a Língua Portuguesa (letra da música no final do trabalho). A metodologia aplicada realizada com esses alunos seria o uso da comparação com o léxico da Língua Espanhola com A Língua Portuguesa, ou seja, quais os vocábulos que parecem com os da Língua Portuguesa. Elenco alguns dos principais tipos de análise feita para esse comparativo dos alunos: a relação direta entre as duas línguas ao nível lexical e relação indireta: • Relação Direta entre as duas línguas ao nível lexical: encontrar na música palavras que sejam transparentes nas duas línguas: calma, café, apenas, me, que, todo, tu, mano, de, todo, escapamos, juntos, ver, sol, vamos, alma, abre, cintura, me, cara, arena, nos, pinte, como, vez, ti, desde, caribe. • Relação Indireta: 1- De prótese, síncopa e cambio consonântico: y>e, un>um, ya>já, en>na, el>sua, la>a, cierra>feche, abre>abra, abrazos>abraços, medalla>medalha, el>o, viendo>vendo, tu>sua, eres>é, me>eu, gusta>gosto, viento>vento, arena>areia, lós>seus, 134 pies>pés, la piel>nossa pele, yo supe>eu sabia, tocaron>tocaram, mi mano>minha mão, la playa>à praia, pa’curarte>para curar, com calma>acalme-se, juntitos andando>caminhamos juntos. Durante esse processo tivemos alguns posicionamentos tais como a percepção de todos os vocábulos encontrados pelos alunos na perspectiva comparativa com a língua materna que é a Língua Portuguesa e percebemos questões fonéticas, ou seja, a familiaridade. A aprendizagem com o auxílio da musicalização com o comando do professor é, de fato, um momento de evolução dentro do que chamamos como: enfoque comunicativo do ensino de línguas estrangeiras, pois se torna uma forma prática e enriquecedora. O ensino-aprendizagem através deste conceito nos mostra uma ferramenta fundamental de ensino. Tendo em vista que é um objetivo que se faz usando o idioma, exemplos: encontrar palavras parecidas, ler a letra da canção, estabelecer ligações, escrever as palavras semelhantes, o trabalho de percepção, etc. Dentre as diversas tarefas exercidas pelo professor uma delas é muito importante: a sequência das canções e suas devidas orientações, pois durante o preparo do plano de aula ele terá que adequar quais as canções serão as mais apropriadas para seu alunado, tendo em vista a faixa etária e, também, quais serão positivas no conceito didático- pedagógico e que chamem atenção causando a curiosidade. Outro ponto que elenco é a realização das tarefas que serão realizadas, pois nesse momento de comando os alunos necessitam ter uma verdadeira aula de como farão as escolhas de vocábulos para obter êxito nas atividades, por isso, esse professor precisa, através de exemplos, conduzi- los ao êxito da atividade. Neste momento o professor comanda, mas de uma forma mais branda, pois precisa aguçar a autonomia do aluno, estimulando o protagonismo daquele aluno. Passa da função de transmissão de conhecimento e começa a ser o mediador/facilitador daquela atividade, com isso incentiva esse trabalho de cooperação. Outro ponto específico do uso dessa metodologia é o papel desse aluno, eles possuem a resposta daquele professor, ou seja, se estão no caminho do processo de autonomia e compreensão daquela nova língua. É através desse meio de comunicação que esse alunado entenderá como são os questionamentos feitos por seus professores, mostrando-lhes como é seu135 processo de assimilação de conteúdos e como poderá usá-los em seu cotidiano, não sendo somente mais uma matéria de Língua Estrangeira, mas sim uma disciplina com o intuito de ser utilizada na perspectiva de comunicação em sociedade. Com essa proposta de levar adiante essa responsabilidade da atividade única e principal de compartilhar esse conhecimento, o aluno reflete também sobre a inovação de sua visão sobre o mundo e, acima de tudo, de como se relacionar com seu próximo. Resultados e discussão Os resultados desse processo obtidos através de pesquisas bibliográficas sobre o ensino/aprendizagem de Língua Estrangeira foi quando traçamos um trabalho cujo principal objetivo era mais uma nova forma de auxiliar o processo de ensino do professor e uma alternativa mais interativa para a inserção de uma nova língua. Sabemos da grande proximidade linguística existente entre o espanhol e o português, tais como, a origem, a tipologia de bases culturais existentes entre ambas e a maioria do léxico é parecido para ambas, com certeza essa familiaridade atrai esse alunado para a descoberta dessa língua estrangeira. Fazendo a junção da língua espanhola mais o método de musicalização, faz com que os alunos se sintam mais curiosos e aceitem mais facilmente a língua. A escolha por trabalhar com a música de uma forma mais dinâmica é um trabalho para professores com uma grande responsabilidade linguística, pois é através desses momentos marcantes que conseguirão introduzir os conceitos orais e escritos, posteriormente, para esse público. Esse momento é visto como de grande valia para o desenvolvimento, pois o cognitivo é estimulado, faz com que o afetivo também aflore, pois a música tem esse poder de facilitar a internalização de diversos conceitos. A análise deste artigo é de pesquisa bibliográfica, pois o ensino de Línguas Estrangeiras possui diversas formas e cada forma depende de sua época e contexto histórico que fora utilizada, ou seja, os métodos e metodologias foram evoluindo com o passar dos tempos. E para uma melhor otimização das aulas novos métodos surgiram, com o intuito de deixar as aulas mais atrativas e dinâmicas. Esse êxito veio através de questões ligadas a como aquele aluno se sentia com os métodos tradicionais. Sem esquecer-se dos 136 professores que tem suma importância e responsabilidade nesse processo. Dessa maneira os enfoques e métodos de ensino auxiliarão de forma intensa aquele alunado no momento de aquisição de uma nova língua. Considerações finais Com o presente trabalho tivemos a compreensão de que a música como um recurso didático, tem ludicidade como ponto de partida para a introdução da aquisição de uma nova língua, no caso, a Língua Espanhola. A união entre o ensino e a musicalização, os professores terão uma gama de possibilidades para realizar uma ligação entre o ensino/aprendizagem e a dinâmica, fazendo o link entre dois grandes mundos: o artístico e o do conhecimento científico. É de extrema relevância que os educadores percebam o quão importante são nesse processo de mediação na educação desses alunos. Com isso, terão como apoio as novas metodologias tais como a música para utilizarem como instrumento facilitador do ensino de novas línguas dentro de sala de aula. Segundo Bachelard (1996), os professores precisam voltar no tempo e caçar em suas lembranças as dificuldades que tinham quando eram apenas alunos, é uma forma de encontrar alternativas novas para ensinar: “Os professores têm dificuldades para compreender que seus alunos não compreendem, já que perderam a memória do caminho, dos obstáculos, das incertezas, dos atalhos, dos momentos de pânico intelectual ou de vazio”. Portanto, é de extrema relevância essa “aproximação” com aluno para que tenham um melhor resultado e que a utilização do método de musicalização, consequentemente, traga uma série de benefícios na aquisição da Língua Espanhola. Letra da música CALMA - PEDRO CAPÓ Cuatro abrazos y un café Apenas me desperté Y al mirarte recordé Que ya todo lo encontré Tu mano en mi mano De todo escapamos Juntos ver el sol caer Vamos pa' la playa Pa' curarte el alma Cierra la pantalla Abre la Medalla Todo el mar Caribe Viendo tu cintura Tú le coqueteas Tú eres buscabulla Y me gusta Lento y contento, cara al viento Lento y contento, cara al viento 137 Pa' sentir la arena en los pies Pa' que el sol nos pinte la piel Pa' jugar como niños, darnos cariño Como la primera vez que te miré Yo supe que estaría a tus pies Desde que se tocaron Tu mano y mi mano Y de todo escapamos Juntos ver el sol caer Vamos pa' la playa Pa' curarte el alma Cierra la pantalla Abre la Medalla Todo el mar Caribe Viendo tu cintura Tú le coqueteas Tú eres buscabulla Vamos pa' la playa Pa' curarte el alma Cierra la pantalla Abre la Medalla Todo el mar Caribe Viendo tu cintura Tú le coqueteas Tú eres buscabulla Y me gusta Lento y contento, cara al viento Lento y contento, cara al viento Calma, mi vida, con calma Que nada hace falta si estamos juntitos andando Calma, mi vida, con calma Que nada hace falta si estamos juntitos bailando Calma, mi vida, con calma Que nada hace falta si estamos juntitos andando Calma, mi vida, con calma Que nada hace falta si estamos juntitos bailando. 138 Referências BACHELARD, Gaston. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. BERTONCELLO, L.; SANTOS, M.R. Música aplicada ao ensino da informática em ensino profissionalizante. Iniciação Científica CESUMAR, v. 4, n. 2, p. 131-142, 2002. BRASIL, M. E. D. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil / Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental – Brasília: MEC/SEF, 1998 volume 3. BRÉSCIA, V. L. P. Educação Musical: bases psicológicas e ação preventiva. São Paulo: Átomo, 2003. BRITO, T. A. Música na educação infantil. São Paulo: Peirópoles, 2003. CHIARELLI. L. K. M. A música como meio de desenvolver a inteligência e a integração do ser. Instituto Catarinense de Pós-Graduação. Revista Recre@rte Nº3 Junho 2005 ISSN: 1699-1834. CRUVINEL, F. M. Educação Musical e Transformação Social. Goiânia:.Unesp, 2005. Ensino de línguas estrangeiras – métodos e seus princípios. Disponível em: Acesso: 29/03/2014 Metodologia de ensino de línguas estrangeiras: Perspectivas e reflexões sobre métodos, abordagem e pós-método. Disponível em: Acesso: 16/03/2014 RICHARDS, Jack C.; RODGERS, Theodore S. Enfoques y métodos en la enseñanza de idiomas. Madrid: Editorial Edinumen, 2003. FERREIRA, Martins. Como usar a música na sala de aula. 7ª ed. São Paulo: Contexto, 2007. FERREIRA, Norma Sandra de Almeida. As pesquisas denominadas "estado da arte". Educ. Soc. [online]. 2002, vol.23, n.79, pp.257-272. ISSN 0101-7330. Disponível em: Acesso em: 23 Out. 2016. FONTERRADA, M. T. O. 2. ed. De tramas e Fios: um ensaio sobre música e educação. São Paulo: Editora UNESP; Rio de Janeiro: FUNARTE, 2008. ISRAEL, Semino. M. Josefina: «O ensino de espanhol para lusofalantes: uma experiência», Artexto, n.5, p. 57-60, Revista do DLA-FURG, R. Grande, 1994. KRZESONKI, M. T. S.; CAMPOS, S. S. A importância da linguagem musical para a aprendizagem da criança. 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Em outras palavras, é a capacidade de compreender as situações de leitura e escrita que se apresentam nas tecnologias, assim como saber utilizar esses recursos de forma a permitir que o indivíduo consiga aplicá-los no cotidiano em busca da solução de problemas e qualidade de vida. Hoje com a sociedade imersa no universo digital, em que o uso das tecnologias da informação e comunicação são um diferencial de vida e de maior competitividade, se faz necessário adquirir e desenvolver conhecimentos de escrita e leitura no ambiente digital, ambiente esse rico em imagens, sons, termos técnicos, combinações de códigos e textos, 19 possibilitando que o usuário saiba buscar, recuperar, analisar textos e outros conteúdos. Essas competências passam a ser um diferencial para a inclusão digital e consequentemente inclusão e desenvolvimento social. Assim, não adianta colocar computadores nas mãos de pessoas ou vendê-los a preços mais em conta e dizer que isso é inclusão digital, antes é necessário ensiná-los a utilizar essas ferramentas em benefício próprio e da comunidade (REBELO, 2005). Moreira (2012), concorda com a afirmativa quando diz que o letrado digitalmente sabe utilizar os recursos tecnológicos no seu cotidiano em seu benefício próprio. Portanto, letrar digitalmente é capacitar, ensinar, preparar indivíduos adultos ou em idade escolar para não só saber utilizar as ferramentas que permitem sua conexão ao mundo digital, à Internet, como também, saber buscar, recuperar, analisar e aplicar as informações e suas fontes de forma a atender suas demandas e auxiliar no coletivo. O próximo passo é entender o que vem a ser a Internet e como ela tem sido utilizada no período da pandemia e sua aplicação como ferramenta educacional. Internet Sua origem remonta a ARPANET, na década de 1960, formada pelo departamento de Defesa dos Estados Unidos, cuja ideia com o projeto era permitir que centros e grupos de pesquisa em computação pudessem se conectar, criando uma rede interativa de computadores. Resultado de um trabalho conjunto, em 1969 os nós da rede estavam presentes nas universidades da California, Utah e no Stanford Research Institute. Em 1971 a rede cresceu mais, passando a ter 15 nós espalhados por universidades, à medida que as pesquisas em computação avançavam, os nós cresciam. Em 1990, a ARPANET sai de operação, ao passo que, provedores de serviço da Internet montaram sua própria rede e comercializavam seus serviços fazendo com que a Internet passasse a ser uma rede global de computadores. Com o desenvolvimento do WWW (Wold Wide Web), uma aplicação de compartilhamento de informações, permitiu que computadores em rede pudessem compartilhar arquivos e disponibilizar fontes de informação para busca e pesquisa de dados. 20 Em 1994 surge o primeiro navegador nomeado de “Netscape Navigator” para fins educacionais, a Microsoft então lança em 1995 o “Internet Explorer” junto com o Windows 95 (Sistema Operacional com interface em forma de janelas). Em 1998 surge a empresa Google com a missão de organizar a informação mundial e torná-la acessível, seu buscador Google oferece vários serviços e a cada ano desenvolve novos produtos que auxiliam seus usuários na internet (CASTELLS, 2003). No Brasil, a internet começa seus passos em 1988 com o trabalho, no setor acadêmico, da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), Rio de Janeiro UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e LNCC (Laboratório Nacional de Computação Científica) que se conectam a rede Bitnet. Esses pontos de conexão conectaram outras universidades. Em 1989 foi criada pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, a Rede Nacional de Pesquisas (RNP), uma instituição com objetivos de iniciar e coordenar a disponibilização de serviços de acesso à Internet para instituições educacionais. Em 1994, a Embratel iniciou a disponibilidade de serviço de acesso de forma experimental por linha discada, em 1995 o serviço passou a ser oferecido comercialmente de forma definitiva. Em 31 de maio de 1995, por meio de portaria ministerial (Ministério das Comunicações e Ministério da Ciência e Tecnologia) é criado o Comitê Gestor da Internet no Brasil com o objetivo de: estabelecer diretrizes estratégicas relacionadas ao uso e desenvolvimento da Internet no Brasil e diretrizes para a execução do registro de Nomes de Domínio, alocação de endereço IP (Internet Protocol) e administração pertinente ao Domínio de Primeiro Nível “.br”. Também promove estudos e recomenda procedimentos para a segurança da Internet e propõe programas de pesquisa e desenvolvimento que permitam a manutenção do nível de qualidade técnica e inovação no uso da Internet. (CGI.br), (GUIZZO,1999). A Conectividade nas regiões brasileiras Segundo os dados fornecidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2019, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), observa-se um crescimento substancial no acesso e uso da Internet. 21 Na região norte do país 69,2% dos habitantes têm acesso à Internet, na região nordeste 68,6%, na região centro oeste 84,6%, região sul com 81,8% e a região sudeste com 83,8%, fica claro que as regiões norte e nordeste são as que menos possuem acesso enquanto o restante do país tem maior desempenho. As conexões de domicílios à internet cresceram mais na área rural. O número de domicílios conectados pulou de 49,2%, em 2018, para 55,6%, em 2019, enquanto nos domicílios urbanos subiu de 83,8%, em 2018, para 86,7%, em 2019. O trabalho desenvolvido pelo IBGE mostra que 12,6 milhões de domicílios ainda não tem internet. Os motivos foram: a) falta de interesse (32,9%), b) serviço de acesso caro (26,2%) e c) nenhum morador sabe usar a internet (25,7%). Na área rural a falta de acesso é devido a indisponibilidade do serviço (19,2%). A banda larga móvel passou de 80,2% nos domicílios em 2018 para 81,2% em 2019, enquanto a banda larga fixa passou de 75,9% para 77,9%. Os domicílios que contam com os dois tipos de conexão saltou para 59,2% em 2019. Em 2018 era de 56,3%. Ainda segundo o IBGE, o celular é o principal veículo de acesso a grande rede com 98,6%, seguido pelos computadores com 46,2%, depois pela televisão (31,9%) e tablet (10,9%). O uso é maior entre estudantes (88,1%) do que entre não estudantes (75,8%). Os estudantes da rede privada (98,4%) usam mais do que os da rede pública (83,7%). Percebe-se que embora a infraestrutura de rede e o uso da Internet já estejam disponíveis à um grande público, infelizmente, uma grande parcela ainda não tem acesso, ficando esses desprovidos dos serviços oferecidos via digital. Com o momento vivido pela pandemia de Covid-19 que exigiu o isolamento social, a Internet passou a ser a principal via de comunicação e prestação de serviços em todas as esferas, as escolas também precisaram se adequar a essa nova metodologia, fazendo uso da rede e suas plataformas educacionais. O Governo Federal oferece alguns programas com o objetivo de diminuir a exclusão digital entre os mais de 45 milhões de brasileiros, são elas: o Wi-Fi Brasil (Min.das Comunicações), Norte Conectado, Nordeste 22 Conectado, Programa Internet para todos (do MCTIC) e Programa Internet Brasil (Internet móvel para estudantes de educação básica participantes do cadastro único para programas sociais do governo), todos contribuindo para o aumento da conectividade em todo território nacional. Impactoda falta de conectividade na educação durante a pandemia O IBGE através da PNAD/ 2019, realizou um levantamento acerca do acesso a rede mundial de computadores por parte dos estudantes em todo o Brasil, os resultados indicam que 4,3 milhões de estudantes não utilizam os serviços da Internet, sendo a maioria da rede pública de ensino, o que equivale a 4,1 milhões contra 174 mil da rede privada (estudantes com mais de 10 anos, corresponde a 88,1%). Os estudantes da rede privada com acesso à Internet são de 98,4%, os do ensino público são de 83,7%. Ainda segundo a pesquisa, 97,4% dos estudantes utilizam o celular para acessar a grande rede sendo que somente 64,8% de alunos de escolas públicas dispunham de celulares, contra 92,6% de estudantes do ensino privado com equipamento móvel. Dos estudantes da rede privada com telefonia móvel, 99,1% têm acesso à Internet, contra 97% dos alunos da rede pública. O celular demonstrou ser o veículo de maior acesso à Internet com 97,4% de uso por parte dos estudantes. O computador vem em segundo lugar com 56,0%, televisão com 35,0% e o tablet com 13,4%. Esses números demonstram que muitos alunos tiveram dificuldades em acompanhar as aulas remotamente durante a pandemia. Por outro lado, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) em sua pesquisa “Resposta educacional à pandemia de Covid-19 no Brasil”, apresentou as ações adotadas pelas escolas estaduais e municipais na educação durante a pandemia. Dos dados apresentados: 94% (168.739) das escolas responderam o Censo Escolar, esse percentual corresponde a 97,2% (134.606) da rede pública e 83,2% (34.133) da rede privada de ensino. Temos também que 99,3% das escolas suspenderam suas atividades presenciais, necessitando fazer adequações no calendário escolar. Os professores adotaram reuniões virtuais para planejamento, coordenação e monitoramento das atividades, 23 Ainda segundo o Censo Escolar, na rede estadual 79,9% das escolas treinaram seus professores para usarem os materiais dos programas de ensino não presencial, enquanto na rede municipal foi de 53,7%. Quanto aos recursos utilizados pelos professores, 43,4% das escolas estaduais disponibilizaram equipamentos como computador, notebooks, tablets e smartphones. Nas escolas municipais o percentual foi de 19,7%. Com relação ao acesso a Internet em domicílio, na rede estadual foi de 15,9%, enquanto na rede municipal o percentual foi de apenas 2,2%, como podemos observar na Figura 1. Figura 1: Estratégia junto aos professores. Fonte: INEP, Censo Escolar 2020. Com relação as estratégias adotadas pelos docentes para os discentes, foram utilizadas para a comunicação entre professores e alunos, o e-mail, telefone, redes sociais e aplicativos de mensagens. Escolas estaduais com 92,1% e escolas municipais 77,0%, conforme podemos observar na Figura 2. Figura 2: Estratégia junto aos alunos Fonte: INEP, Censo Escolar 2020 24 Com relação as ferramentas utilizadas pelos alunos para desenvolvimento das atividades escolares, foram disponibilizados materiais impressos como livros didáticos, apostilas, atividades em folha etc., as escolas estaduais com 95,3% e municipais com 94,1%. A oferta de materiais de ensino e aprendizagem na internet foram de 88,2% para as escolas estaduais e 74,2% nas municipais, conforme podemos observar na Figura 3. Figura 3: Estratégia junto aos alunos Fonte: INEP, Censo Escolar 2020. Quanto as plataformas e ferramentas digitais utilizadas nas atividades desenvolvidas pela Internet, foram utilizadas aplicativos para videoconferência, 90,1% para as escolas estaduais e 84,3% para as escolas municipais, conforme podemos observar na Figura 4. Figura 4: Estratégia junto aos alunos Fonte: INEP, Fonte Escolar 2021. Observa-se em cada um dos gráficos uma percentagem razoável das escolas públicas que adotaram a Internet e aplicativos, assim como plataformas digitais como verdadeiras salas de aula virtuais. Foi uma tarefa que exigiu paciência, treinamento e dedicação por parte de professores e alunos para 25 minimizar os prejuízos trazidos pela pandemia do Corona vírus na educação brasileira. Infelizmente, pelos dados apontados pelas duas pesquisas, PNAD do IBGE e o Censo Escolar do INEP, observa-se que os alunos das escolas públicas foram os que mais tiveram dificuldade de acesso à Internet, fosse por não possuir o equipamento ou por não ter acesso, justificada por alguns pela baixa renda familiar. Quanto ao aprendizado e utilização das ferramentas virtuais pelos professores das escolas estaduais e municipais o quantitativo foi razoável, mais de 90% delas conseguiram adotar e aplicar as aulas remotamente. Percurso Metodológico Os procedimentos metodológicos desta pesquisa são de base qualitativa e caráter exploratório, com o objetivo analisar como a escassez de conectividade e a falta do letramento digital intensificam as desigualdades educacionais. Dessa forma, realizamos a análise, interpretação de dados e levantamentos técnicos de artigos de revisão, científicos, capítulos de livros e ainda também na releitura de relatórios realizados pelas entidades de pesquisa no Brasil, tais como: IBGE, MCTIC, Anatel e IPEA e INEP. Para a análise, de dados, optamos por uma análise de conteúdo. Conclusão e considerações Foram 47,3 milhões de alunos matriculados na educação básica do Brasil em 2020, sendo 38,7 milhões nas escolas públicas. Devido a pandemia de Covid-19 e a necessidade das aulas passarem a ser remotas, muitos alunos não tinham equipamentos e muito menos acesso à Internet, é verdade que o governo disponibilizou algumas ações para amenizar a situação, mas não foi suficiente para atender a demanda. Ademais, parte das escolas também tiveram dificuldades de se adequarem a nova modalidade, pois tanto professores quanto alunos (dos que tinham acesso) precisaram adquirir as competências necessárias para uso dessas tecnologias, algumas escolas municipais não adotaram esse meio. As pesquisas não mostram se os alunos tiveram alguma dificuldade no uso das plataformas com as aulas remotas, mas mostra que muitos ficaram de fora e, consequentemente, a qualidade do ensino ficou comprometida. 26 A situação educacional nas escolas brasileiras já não era muito favorável antes da pandemia e estava muito distante da realidade da educação dos demais países e com a necessidade de adaptação ao ensino remoto o impacto sobre o processo de ensino-aprendizagem foi ainda mais acentuado, aumentando a defasagem educacional. Com base nos levantamentos apresentados constatamos que este cenário é marcado por índices muito altos de desigualdade, mesmo antes da pandemia do Covid-19, visto que nem todos dispõem das mesmas oportunidades e que se faz relevante a implementação de políticas públicas como objetivo de amenizar estas disparidades. Na última década, o Brasil apresentou algum progresso em relação ao acesso à educação, mas o nível de escolaridade continua baixo, é preciso políticas de democratização ao acesso à internet eficientes e que tragam resultados positivos, tais como: aumentar a conscientização sobre os benefícios da internet, o desenvolvimento de conteúdos informativos para as pessoas que tem dificuldade com recursos digitais, ter um monitoramento continuo para o programa educação conectada e diversas outras medidas, é preciso que o governo se faça presente de forma eficiente para que esse abismo seja diminuído. Ademais, a globalização e o acelerado desenvolvimento das tecnologias trouxeram à tona não apenas facilidades e proximidades, mas, um verdadeiro abismo entre àqueles que não estão assistidos por este processo. Desse modo, é muito improvável pensar na redução das desigualdades sem tocar no tema da inclusãodigital. O fato é que a desigualdade social favorece a exclusão digital que por sua vez, reforça a desigualdade social, é preciso uma nova postura e um novo olhar por parte do governo para diminuir o quadro perverso da desigualdade brasileira, que é histórica. Imaginamos que a inclusão digital precisa ser implementado no nosso país através de uma política pública compartilhada entre todas as esferas de poder e deve incluir parcerias público privada de forma a potencializar e conectar o processo de ensino-aprendizagem preparando os discentes para o mercado de trabalho cada vez mais dinâmico e tecnológico. Porém, para que possamos reduzir 27 a exclusão digital necessitamos inicialmente reduzir as vulnerabilidades sociais e criar mais oportunidades. Por fim, temos a convicção de que o Brasil tem condições de superar as desigualdades sociais através da inclusão digital e de uma melhor distribuição de renda, mas cabe a todos nós, academia, setor público, setor privado, centros de pesquisas, universidades e terceiro setor somarmos esforços para mudar esta realidade e reduzir a exclusão digital de forma a melhorar a qualificação da mão de obra e possibilitar melhores oportunidade de acesso ao mercado de trabalho bem como a rendimentos mais elevados. Referências ARAUJO, Verônica Danieli Lima; GLOTZ, Raquel Elza Oliveira. O Letramento digital como instrumento de inclusão social e democratização do conhecimento: desafios atuais. 2014. Disponível em https://educacaopublica.cecierj.edu.br. Acesso em: 8 mar. 2022. AZANHA, José Mario Pires. Democratização do ensino: vicissitudes da ideia no ensino paulista. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 30, n. 02, p. 335-344, mai./ago. 2004. 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Cabe a referida gerência elaborar e monitorar o desenvolvimento de Políticas Educacionais para a EJA, as quais são realizadas por meio de ações, programas e projetos de inclusão, cidadania e aprendizagem de pessoas jovens, adultas e idosas que ainda não concluíram seus estudos. Objetivamos analisar como os Projetos “Círculo de Leitura e Escrita na EJA” e “Olimpíada de Matemática da Educação de Jovens e Adultos/OLIMEJA” foram desenvolvidos e sua influência positiva na diminuição da evasão escolar, fortalecimentoda permanência e aumento no número de aprovações dos estudantes do 1º e 2º segmento da EJA durante os anos de 2018 e 2019. A metodologia utilizada é qualitativa e se baseia na pesquisa documental e nos dados fornecidos pelo Sistema de Gestão Educacional do Amazonas/SIGEAM. Palavras-chave: Educação. EJA. Projetos Introdução A Educação de Jovens e Adultos/EJA se configura como uma modalidade de ensino voltada para pessoas que não tiveram acesso às salas de aula da educação regular ou não puderam concluir seus estudos na idade e no tempo considerado adequado pelos mais diversos motivos. Trata-se de uma escolarização assegurada por lei, ofertada gratuitamente pelos sistemas de ensino, os quais devem criar oportunidades educacionais apropriadas, levando em consideração as características de seus educandos. 31 Para Carneiro (2015), a nomenclatura Educação de Jovens e Adultos, foi um marco da LDBEN/9394/96, visto que trouxe um novo olhar para o processo de ensino e aprendizagem do público de jovens e adultos. Além de ampliar o conceito pedagogicamente, fortaleceu o dever do estado para esta parcela da sociedade que não teve oportunidade de frequentar a escola em idade propícia. Isso significa que novas Políticas Públicas e formas de ensinar passaram a ser constituídas. Segundo Freire (2008), a transformação da EJA no Brasil e na América Latina ocorreu paulatinamente, muitas práticas e interpretações foram resinificadas. Nos dias contemporâneos, a Educação de Jovens e Adultos pode ser mais compreendida como Educação Popular/EP. O conceito de Educação de Adultos vai se movendo na direção de Educação Popular na medida em que a realidade começa a fazer algumas exigências à sensibilidade e à compreensão científica dos educadores e das educadoras. Uma destas exigências tem que ver com a compreensão crítica dos educadores do que vem ocorrendo na cotidianidade no meio popular. Não é possível a educadoras e educadores pensar apenas os procedimentos didáticos e os conteúdos a serem ensinados aos grupos populares. Os próprios conteúdos a serem ensinados não podem ser totalmente estranhos àquela cotidianidade. O que acontece, no meio popular, nas periferias das cidades, nos campos – trabalhadores urbanos e rurais reunindo-se para rezar ou para discutir seus direitos – nada pode escapar à curiosidade arguta dos educadores envolvidos na prática da Educação Popular. (p.15, 16). Isso significa que a EP, implica no processo de ensino e aprendizagem contextualizado à realidade do estudante, ou seja, o desenvolvimento de práticas pedagógicas que considerem o conhecimento adquirido na vida cotidiana. Neste contexto, a vivência do aluno é inserida pelo professor nas aulas como fonte de informação, fato que facilita a participação, a aprendizagem, gera pensamentos críticos e preparo para a cidadania. Com base nessas exposições, a Secretaria Municipal de Educação/SEMED, por meio da Gerência de Educação de Jovens e Adultos/GEJA, vem contribuindo para a escolarização de jovens, adultos e idosos, a partir da elaboração de políticas públicas e ações pedagógicas diferenciadas, visando favorecer a elevação da escolaridade, ampliação de conhecimentos, o resgate da cidadania, a permanência e inclusão de estudantes da EJA nas escolas municipais de Manaus. 32 As ações pedagógicas desenvolvidas pela GEJA são norteadas pelo princípio da gestão democrática, partindo do pressuposto do estudante como sujeito sócio-histórico-cultural, com conhecimentos e experiências acumuladas, onde cada sujeito possui um tempo próprio de formação, apropriando-se de saberes locais e universais, a partir de uma perspectiva de ressignificação da concepção de mundo e de si mesmo, um público que possui principal característica a diversidade. A EJA deve ser concebida como um paradigma inclusivo de direitos dos sujeitos humanos, superando as formas de exclusão, fazendo valer os direitos humanos, como bem ressalta Arroyo (2017) “Vincular EJA à formação de seus profissionais com direitos humanos talvez torne um campo de maiores tensões ou traga para esse tempo as tensões históricas na afirmação negação dos direitos humanos desses coletivos (p.109)”. A partir da abordagem da EJA como um direito garantido, o respeito a sua especificidade e um atendimento norteado por uma educação de qualidade, apresentamos neste trabalho dois projetos: “Círculo de Leitura e Escrita na EJA” e “Olimpíada de Matemática da Educação de Jovens e Adultos/OLIMEJA”, os quais se configuram como políticas educacionais, que envolvem professores e estudantes do 1º e 2º segmentos. Os referidos projetos são realizados nas escolas municipais e em espaços não formais onde funcionam as turmas do Centro Municipal de Escolarização do Adulto e da Pessoa Idosa/CEMEAPI, o qual foi criado pela Secretaria Municipal de Educação/SEMED/MANAUS no ano de 1999, como uma ação de política pública voltada para os adultos e idosos, onde o seu fazer pedagógico assegura um direito básico de proporcionar a escolarização para aqueles que, por algum motivo, não puderam ou deixaram de estudar e que não concluíram o ensino fundamental. Outrossim, os projetos supracitados têm possibilitado a integração, a permanência e a aprendizagem de forma diferenciada, prazerosa e contextualizada com a realidade do público de EJA. Dessa forma, conjectura-se que o desenvolvimento deste projeto tem implicado nos resultados satisfatórios advindos da educação de jovens, adultos e idosos que fazem parte da rede municipal de ensino de Manaus. 33 Contextualizando a Educação de Jovens e Adultos/EJA do município de Manaus/AM. A Educação de Jovens e Adultos da SEMED/Manaus encontra-se estruturada com 12.806 alunos matriculados em 68 escolas e 698 professores que desenvolvem o processo de ensino e aprendizagem para este segmento da educação municipal. Para subsidiar esse processo, a Gerência de Educação de Jovens e Adultos/GEJA, juntamente com os profissionais das Divisões Distritais Zonais/DDZs, realizam diversas atividades que contemplam o público de jovens, adultos e idosos em escolarização. O desenvolvimento do trabalho pedagógico é pautado nos documentos orientadores encaminhados pelo Ministério da Educação/ MEC e demais órgãos reguladores da EJA. A Proposta Pedagógica para Educação de Jovens, Adultos e Idosos da Rede Pública Municipal de Ensino de Manaus/PPJAI/MANAUS, é um dos principais documentos que norteiam o processo de ensino e aprendizagem, por isso foi elaborada com base nos seguintes documentos: Referencial Curricular Amazonense (RCA), consubstanciado na LDBEN n. 9.394/96, no Parecer CNE/CEB n. 11/00, nas Resoluções CNE/CEB n. 01/00, 03 e 04/2010 e na Resolução n. 007/2011 do Conselho Municipal de Educação de Manaus, em sintonia ainda com as transformações da sociedade e das relações sociais estabelecidas pelos indivíduos. (SEMED, 2021, p. 13) Pertinente à clientela de EJA, Carneiro (2015) afirma que os estudantes que fazem parte deste segmento da Educação Básica, possuem características que podem ser verificadas em três grupos distintos. O primeiro é relativo ao grupo das pessoas que não foram alfabetizados; o segundo é formado por pessoas que foram para escola, mas não consolidaram sua aprendizagem, podem ser considerados como analfabetos funcionais; e o terceiro se constitui dos estudantes que frequentaram a escola em tempos intermitentes. Os estudantes supracitados necessitam de atendimento específico no processo de ensino e aprendizagem, pois precisam mudar diversos aspectos de sua vida cotidiana, conforme afirma Freire (2008). Os jovens e adultos trabalhadores lutam para superar suas condições precárias de vida (moradia, saúde, alimentação, transporte, emprego etc.) que estão na raiz do problema do analfabetismo. O desemprego,os baixos salários e as péssimas condições de vida comprometem o processo de alfabetização dos jovens e dos adultos. (p. 31). 34 Considerando as dificuldades e condições de vida não favoráveis que geralmente o público de jovens e adultos fazem parte, faz-se necessário realizar um trabalho tendo como base as condições de vida do estudante, para então promover uma educação que possa transformar a vida do estudante de EJA. Neste contexto, o processo educativo do EJA da cidade de Manaus é realizado a partir de práticas docentes que contemplem o currículo com as especificidades do público, ou seja, na vida adulta. Por meio de uma Proposta Pedagógica emancipatória calcada na dialogicidade e no desenvolvimento de percursos formativos individualizados e trabalho com conteúdos significativos para a vida, redimensionados a partir do Referencial Curricular Amazonense (RCA), a Educação de Jovens e Adultos deve ser efetivada tendo em vista a/o: Promoção de suporte e atenção individual às diferentes necessidades dos estudantes no processo de aprendizagem mediante atividades diversificadas; Valorização de vivências socializadoras, culturais, recreativas e esportivas, geradoras de enriquecimento do percurso formativo dos estudantes(...) (SEMED, 2021, p.14). Desenvolver um trabalho pautado no diálogo requer uma comunicação horizontal em que todos os envolvidos no processo educativos sejam ouvidos e integrados, tornando-se parte ativa da aprendizagem. Isso significa que o professor deve ser mediador de uma aprendizagem libertadora e os estudantes protagonistas de sua aprendizagem, constituindo-se como seres humanos reflexivos, críticos e capazes de intervir para transformar realidades desafiadoras. Segundo Romão (2008), o professor é um dos elementos fundamentais no processo da EJA, contudo, ninguém nasce educador, mas é possível se tornar. Isso tende a acontecer no decorrer do processo educativo, na desconstrução, reconstrução e ressignificação de cada educador. Para se tornar um educador, é preciso que o professor considere seus acertos e faça uma auto avalição sobre seus equívocos para poder agir na transformação de sua práxis. Portanto, precisamos atingir um nível de consciência de que existem limitações, o que nos permite analisar, refletir e planejar ações que demandam esforço em compreender que, “A consciência dos limites nos fortalece para a transformação social, pois nos leva ao real sentido de uma ação sistematizada, proposital e planejada, construto de um processo de formação onde são 35 desmistificados processos ilusórios acerca da realidade (NOGUEIRA, 2017, p.178)”. este contexto, no decorrer dos anos de 2018 e 2019 foram realizadas diversas ações com a participação de estudantes do 1º (1º ao 5º ano) e 2º segmentos (6 ao 9º ano), objetivando garantir uma educação de qualidade, inclusiva e cidadã, com foco no desenvolvimento da criticidade, autonomia, competências e habilidades no campo da leitura, escrita e na proficiência matemática com perspectivas de que esses conhecimentos possam ser utilizados pelos estudantes em suas práticas sociais. Dentre as principais ações desenvolvidas pela Gerência estão: a Olimpíada de Matemática da Educação de Jovens e Adultos/OLIMEJA e o Círculo de Leitura e Escrita na Educação de Jovens e Adultos, cujas atividades envolveram todos os estudantes da EJA que frequentam as escolas municipais de Manaus, bem como os alunos do Centro Municipal de Escolarização do Adulto e da Pessoa Idosa/CEMEAPI, que oferta o 1º Segmento da EJA para pessoas a partir de 30 anos de idade em espaços não formais. No ano de 2018 e 2019, este projeto foi desenvolvido com todos os estudantes da EJA, compreendendo o 1º e 2º segmentos, sendo 11. 657 em 2018 e 14.065 em 2019. Conhecendo os projetos aplicados na EJA do município de Manaus Projeto Círculo de Leitura e Escrita na EJA O projeto Círculo de Leitura e Escrita na EJA tem como objetivo estimular de forma criativa a prática da leitura e da escrita junto aos estudantes do 1º e 2º segmentos de EJA das escolas da Rede Pública Municipal de Ensino de Manaus e do CEMEAPI, na perspectiva da interdisciplinaridade e da aquisição de habilidades e competências ao longo da vida. Freire (2003) ressalta que a leitura do mundo é aquela que precede leitura convencional, portanto, antes de vivenciar a leitura convencional que se aprende geralmente na escola, é preciso estimular os estudantes a realizarem a leitura do mundo no qual estão inseridos. Essa leitura tende a desenvolver a compreensão da realidade que posteriormente será desenvolvida na aprendizagem escolar e nas tarefas da vida cotidiana. A leitura e a escrita são instrumentos valiosos para a apropriação de conhecimentos relativos ao mundo exterior. Eles ampliam e aprimoram o 36 vocabulário, contribuindo para o desenvolvimento do pensamento crítico e reflexivo, possibilitando o contato com diferentes ideias e experiências. É papel da escola desenvolver e estimular o hábito da leitura e escrita, tornando os estudantes capazes de compreender os diferentes gêneros textuais que circulam na sociedade, de modo a formar leitores cada vez mais críticos e autônomos, contribuindo para sua inclusão e interação na sociedade. Sendo assim, “A educação tem o papel de dar sentido à vida do homem[...] as possibilidades de emancipação humana por meio da ação da educação nos levam a desenvolver o senso crítico[...] (NOGUEIRA, 2017, p.178)”. Nesta perspectiva, o projeto supracitado tem por finalidade promover aprendizagem da leitura e escrita para utilização na vida cotidiana, habilidade mais que necessária conforme afirma Soares apud Scribner (2010). A necessidade de letramento em nossa vida diária é óbvia; no emprego, passeando pela cidade, fazendo compras, todos encontramos situações que requerem o uso da leitura e da produção de símbolos escritos. (...) E os programas de educação básica têm também a obrigação de desenvolver nos adultos as habilidades que devem ter para manter empregos ou obter outros melhores, receber treinamento e os benefícios a que têm direito, e assumir suas responsabilidades cívicas e políticas. (p. 73). A leitura e a escrita não podem ser abordadas separadamente na aprendizagem, vistos que ambos os processos estão relacionados, pois os estudantes aprendem sobre leitura e escrita aprendendo o uso da linguagem escrita. Os Parâmetros Curriculares Nacionais/PCNs de Língua Portuguesa (1998), descreve essa importância: [...] no processo de ensino e aprendizagem dos diferentes ciclos do ensino fundamental espera-se que o aluno amplie o domínio ativo do discurso nas diversas situações comunicativas, sobretudo nas instâncias públicas de uso da linguagem, de modo a possibilitar sua inserção efetiva no mundo da escrita, ampliando suas possibilidades de participação social no exercício da cidadania. (BRASIL, 1998, p. 32). O projeto Círculo de Leitura e Escrita na EJA apresenta o texto como unidade de ensino e aprendizagem, reconhecendo-o como um lugar de entrada para este diálogo e que farão surgir outras produções. Conceber o estudante de Educação de Jovens e Adultos, como produtor de texto é concebê-lo como participante ativo deste diálogo contínuo. A Metodologia do projeto Círculo de Leitura e Escrita na EJA é realizado de forma interdisciplinar, envolvendo as disciplinas de Língua Portuguesa, 37 História e Geografia. Tendo como base metodológica a pesquisa crítico-social- histórica, sendo desenvolvido junto aos estudantes de 1º e 2º segmentos da EJA, por meio de encontros de leituras, debates, desenhos e produções textuais de diversos gêneros, denominadas de “Rodadas de Produção”. Cada rodada tem 02 (dois) encontros para a 1ª fase e 03 (três) encontros para a 2ª, 3ª, 4ª e 5ª fases,os quais são organizados por meio de sequências didáticas. Após as elaborações dos desenhos e frases pelos estudantes da 1ª fase e os textos em diferentes gêneros textuais pelos estudantes da 2ª, 3ª, 4ª e 5ª fases, as escolas selecionam as melhores produções para compor seus respectivos cadernos, os quais deverão concorrer no concurso Escola Leitora. O concurso Escola Leitora tem por objetivo valorizar e socializar as experiências exitosas desenvolvidas nas escolas pelos estudantes, professores e equipe pedagógica durante o projeto Círculo de Leitura e Escrita na EJA. Ressaltamos que o desenvolvimento do projeto não se limita somente a sala de aula, mas, aos diferentes ambientes de aprendizagem que as escolas e instituições dispõem. Fotografia 1: Estudantes da EJA vivenciando o Projeto Círculo de Leitura Fonte: site de domínio público https://semed.manaus.am.gov.br/3%C2%AA- etapa-olimejada-semed/ Olimpíada de matemática da Educação de Jovens e Adultos/OLIMEJA A OLIMEJA objetiva promover o ensino da Matemática de maneira mais dinâmica e prazerosa para estudantes da 3ª fase do 1º segmento e 5ª fase (8º 9º ano) do 2º segmento de EJA. Essa ação tornou-se um importante https://semed.manaus.am.gov.br/3%C2%AA-etapa-olimeja-da-semed/ https://semed.manaus.am.gov.br/3%C2%AA-etapa-olimeja-da-semed/ https://semed.manaus.am.gov.br/3%C2%AA-etapa-olimeja-da-semed/ https://semed.manaus.am.gov.br/3%C2%AA-etapa-olimeja-da-semed/ https://semed.manaus.am.gov.br/3%C2%AA-etapa-olimeja-da-semed/ https://semed.manaus.am.gov.br/3%C2%AA-etapa-olimeja-da-semed/ https://semed.manaus.am.gov.br/3%C2%AA-etapa-olimeja-da-semed/ https://semed.manaus.am.gov.br/3%C2%AA-etapa-olimeja-da-semed/ https://semed.manaus.am.gov.br/3%C2%AA-etapa-olimeja-da-semed/ https://semed.manaus.am.gov.br/3%C2%AA-etapa-olimeja-da-semed/ 38 instrumento na busca de desenvolver o ensino e a aprendizagem desse componente curricular por meio de resoluções de problemas, utilizando nos enunciados das questões nas avaliações situações que fazem parte do cotidiano dos alunos. Nos primórdios da humanidade, a Matemática surgiu da necessidade de quantificação de situações do dia a dia dos povos primitivos. Hoje é utilizada para facilitar a vida e organizar a sociedade. Como ciência, ela desperta a curiosidade, instigando a capacidade de generalizar, projetar, prever e abstrair, aspectos esses que maximizam sua importância, pois existe uma necessidade de se utilizar conceitos matemáticos em nossas práticas sociais e que não pode ser substituída por nenhuma outra ciência, conforme descrito na Proposta Curricular da EJA 2º Segmento: A matemática compõe-se de um conjunto de conceitos e procedimentos que englobam métodos de investigação e raciocínio, formas de representação e comunicação, ou seja, abrange tanto os modos próprios de indagar sobre o mundo, organizá-lo, compreendê- lo e nele atuar, quanto o conhecimento gerado nesses processos de interação entre o homem e os contextos naturais, sociais e culturais (BRASIL, 2002, p. 12). Essas reflexões acerca da relevância da matemática nos remetem para outra questão, o ensinar e aprender Matemática para a EJA, um público de diversas faixas etárias, diversas culturas, que necessitam ampliar seus conhecimentos matemáticos a partir de suas experiências para que essa aprendizagem se torne mais significativa. [...] vamos refletir sobre como a busca do sentido do ensinar e aprender Matemática remete às questões de significação da Matemática que é ensinada e aprendida. Acreditamos que o sentido se constrói à medida que a rede de significados ganha corpo, substância, profundidade. A busca do sentido do ensinar e aprender Matemática serão, pois, uma busca de acessar, reconstruir, tornar robustos, mas o ensino de matemática de jovens e adultos (FONSECA, 2007, p. 75). O ensino de Matemática poderá contribuir na formação da cidadania à medida que esses aspectos forem priorizados por meio de metodologias próprias que reforcem a criação de estratégias, a argumentação, o espírito crítico e que favoreçam a criatividade, o trabalho coletivo, a iniciativa pessoal. Neste sentido, a OLIMEJA torna-se um importante instrumento na busca de desenvolver o ensino e a aprendizagem da Matemática junto aos estudantes 39 da EJA, possibilitando a interação com os professores, bem como a utilização de atividades pedagógicas de compreensão nas diversas situações vivenciadas, contribuindo para a melhoria do ensino e aprendizagem, utilizando metodologia diferenciada e, ao final das etapas, é realizado um concurso com premiações e homenagens, promovendo a integração de estudantes, professores, gestores das escolas públicas da rede municipal de Manaus, um momento que possibilita identificar e valorizar jovens talentos matemáticos, promovendo a inclusão social por meio da difusão do conhecimento. A OLIMEJA realiza-se por meio de quatro etapas: 1ª Etapa – A inscrição é realizada nas escolas, as quais indicam seus representantes para participarem da OLIMEJA. Os critérios utilizados são 04 (quatro) estudantes com a maior média na disciplina de Matemática. Posteriormente em data previamente agendada, a escola encaminha uma lista contendo nomes, média e a data do nascimento dos estudantes participantes da OLIMEJA às DDZs. Para o CEMEAPI, o professor de cada instituição repassa os dados dos seus estudantes diretamente para a coordenação do programa. 2ª Etapa: Cada DDZ aplica as avaliações, disponibilizando 01(um) dia para cada segmento, o local de realização das avaliações fica a critério de cada DDZ. No final dessa etapa são selecionados 02 (dois) estudantes que alcançaram a maior nota nas avaliações por segmento de cada DDZ, totalizando 04 (quatro) estudantes. Cada DDZ envia para a comissão organizadora da GEJA, o quadro classificatório por segmento. 3ª Etapa: As avaliações são realizadas pelos educandos nos laboratórios disponibilizados pela Gerência de Tecnologias Educacionais (GTE). As avaliações são compostas por questões de raciocínio lógico, baseadas nos descritores da Prova Brasil e nos objetivos dos conteúdos de Matemática definidos nas Propostas Pedagógicas da Educação de Jovens e Adultos (1º e 2º segmentos). Na 4ª Etapa: Acontece a premiação para os 1º, 2º e 3º colocados são entregues em um evento realizado pela SEMED. 40 Fotografia 2: Estudantes da EJA no momento da premiação da OLIMEJA Fonte: site de domínio público: https://semed.manaus.am.gov.br/3%C2%AA-etapa- da olimeja-da-semed/ METODOLOGIA Cabe, inicialmente, afirmar que a temática proposta de pesquisa surge da inquietação dos pesquisadores sobre a necessidade de abordar, de maneira diversificada e contextualizada o ensino de matemática e de língua portuguesa na Educação de Jovens e Adultos. Assim, no período de 2018 e 2019 foram levantados dados acerca dos projetos desenvolvidos em turmas da Educação de Jovens e Adultos visando atender a inquietação dos pesquisadores, encontrando – se assim, os dois referidos projetos implementados nas escolas de EJA, no município de Manaus. Por isso, foram realizados estudos documentais sobre os projetos e nos dados fornecidos pelo Sistema de Gestão Educacional do Amazonas (SIGEAM), que, de acordo com o Alves – Mazzotti (1998, p. 203) “é qualquer forma de registro que possa ser usado como fonte de informação”. O Círculo de Leitura e escrita na EJA e, ainda, da Olímpiada de Matemática na EJA, para a compreensão dos pressupostos teóricos e metodológicos de cada um e sua contribuição no processo de ensino e aprendizagem. Sendo, então, como técnica de coleta de dados a pesquisa documental. A metodologia adotada para a elaboração e escrita do trabalho baseou – se na abordagem qualitativa, pois, buscou-se compreender e desvelar a complexidade do trabalho