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Conhecimentos da Psicopatologia Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dra. Carmen Lúcia Tozzi Mendonça Conti Revisão Textual: Prof.ª Me. Marcia Ota Síndromes Psicopatológicas Síndromes Psicopatológicas • Perceber os quadros clínicos relativos as mais variadas síndromes psicopatológicas; • Observar os sinais e sintomas das síndromes psicopatológicas; • Estudar as diferenças diagnósticas nas síndromes psicopatológicas; • Refletir sobre a dimensão social das síndromes psicopatológicas. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Introdução; • Síndromes Ansiosas; • Síndromes Depressivas; • Síndromes Maníacas; • Síndromes Neuróticas; • Síndromes Psicóticas; • Síndromes psicomotoras; • Síndromes Relacionadas ao Consumo de Alimentos; • Síndromes Relacionadas ao Sono; • Síndromes Mentais Orgânicas; • Demências. UNIDADE Síndromes Psicopatológicas Introdução Esta Unidade, a terceira da disciplina, trabalha com conceitos e definições das gran- des síndromes psicopatológicas. Segundo Dalgalarrondo (2008), as síndromes são um conjunto de sintomas e sinais psicopatológicos manifestados de maneira recorrente e reconhecidos pela prática clínica. A observação e a identificação desses sinais e sintomas apresentados pelos pacientes, que podem ter causas distintas e múltiplas, é um dos primeiros e fundamentais atos clínicos. O chamado raciocínio clínico deriva dessas primeiras avaliações psicopatológicas e vai gradativamente se adensando e se complexificando para que o diagnóstico seja o mais preciso possível. A abordagem clássica da psicopatologia formula uma “teoria das síndromes”, definin- do a síndrome no escopo de um complexo sintomático geral que se estrutura em dois níveis: sintomas nucleares e sintomas periféricos. Na prática clínica, o protocolo médico mais recomendado, conforme Dalgalarrondo (2008), é o seguinte: • observação dos sintomas e sinais de maneira minuciosa e precisa; • ordenação dos sinais e sintomas em síndromes clínicas; • formulação das hipóteses diagnósticas relativas aos transtornos psicopatológicos es- pecíficos, segundo os critérios internacionais que definem sistemas de diagnóstico e classificação. A seguir, serão analisadas algumas das mais importantes síndromes psicopatológi- cas, levando em conta a diversidade de suas definições, tendo como base os estudos de Dalgalarrondo (2008). Figura 1 – TURCATO. Impronte d’Artista Fonte: WikiArt 8 9 Síndromes Ansiosas As síndromes ansiosas dividem-se em dois grandes grupos. O primeiro grupo no qual os quadros clínicos apresentam um tipo de ansiedade constante e permanente, sendo chamada de ansiedade generalizada, livre e flutuante. E sse quadro de ansiedade generalizada, que prejudica as relações sociais do indiví- duo, é diagnosticado a partir de sintomas ansiosos cotidianos, com uma configuração excessiva, constituídos por, pelo menos, seis meses de atividades. Os sintomas mais comuns desse tipo de ansiedade são: tensão, preocupação dema- siada, nervosismo, angústia, insônia, irritabilidade intensificada, dificuldades de concen- tração, problemas para relaxamento, cefaleia, dores musculares, dores ou queimação no estômago, taquicardia, tontura, formigamento, sudorese fria, dentre outros. O outro grupo se caracteriza por quadros clínicos, nos quais a ansiedade se manifesta de modo abrupto e mais ou menos intenso, denominando-se por crises de pânico e quando ocorrem de maneira repetitiva evoluem para um quadro de transtorno de pânico. A s crises de pânico são definidas por uma atividade ansiosa na qual há uma impor- tante descarga do sistema nervoso autônomo. Os sintomas mais comuns são: batedeira ou taquicardia, suor frio, tremores, desconforto respiratório ou sensação de asfixia, náu- seas, formigamentos em membros e/ou lábios (DALGALARRONDO, 2008, p. 305). Nos quadros mais intensos, as crises de pânico podem produzir diversos níveis de despersonalização caracterizados por: sensação de leveza da cabeça; sensação de perda de controle; estranhamento do paciente a si mesmo; medo de ataques súbitos; medo de alterações psíquicas graves; e até mesmo medo de morrer. Além disso, também pode ocorrer a chamada desrealização, que é a transformação de um ambiente familiar para um ambiente estranho. I mporta notar que as causas das crises de pânico podem se dar levando em conta diversas situações, como aglomerações, ambientes fechados, dificuldades de locomoção em situações públicas etc. O s transtornos de pânico são diagnosticados a partir da recorrência das crises de pâ- nico e se caracterizam pela intensificação de alguns sintomas, como a excessiva preocu- pação das consequências do quadro, o medo de novas crises e o aumento do sofrimento psíquico, podendo também gerar fobia de lugares amplos e aglomerações. Síndromes Depressivas As síndromes depressivas são consideradas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) um dos maiores problemas da saúde pública contemporânea. Nesse sentido, as reflexões sobre diagnósticos, sintomas e tratamentos são de fundamental importância para os processos clínicos de nosso tempo. 9 UNIDADE Síndromes Psicopatológicas As causas das síndromes depressivas são variadas, podendo ter relação com elemen- tos biológicos, genéticos, neuroquímicos etc. Na perspectiva psicológica, o desencadea- mento de uma síndrome depressiva se dá em consequência de uma perda significativa, como por exemplo: perda de uma pessoa querida; perda de emprego, perda de mora- dia; perda de alguma referência simbólica etc. Os sintomas e os sinais das síndromes depressivas, devido à quantidade e variedade, são elencados com base nas respectivas áreas psicopatológicas. São eles, a partir de Dalgalarrondo (2008): • Sintomas afetivos: tristeza e melancolia, choro realizado com facilidade e de forma frequente, apatia, ausência de perspectiva sentimental, tédio, aborrecimento, irrita- bilidade, angústia, ansiedade, desespero, falta de perspectivas; • Alterações da esfera instintiva e neurovegetativa: incapacidade de sentir pra- zer, fadiga, cansaço recorrente, desânimo, insônia, perda ou aumento do apetite, palidez, constipação, diminuição do desejo sexual, diminuição da resposta sexual; • Alterações ideativas: pessimismo em relação a qualquer atividade, sensações de arrependimento e culpa, reminiscências de mágoas, tendências a ideias, planeja- mentos e mesmo ideias suicidas, desejos de rompimento com a vida; • Alterações cognitivas: deficit de concentração, deficit de atenção, deficit secun- dário de memória, pseudodemência depressiva, dificuldade na tomada de decisões; • Alterações da autovaloração: autoestima abalada, sensação de incapacidade e insuficiência, autodepreciação, vergonha em relação a si mesmo; • Alterações da volição e da psicomotricidade: tendência à reclusão, principal- mente no quarto, demora para elaborar respostas, lentidão psicomotora, diminui- ção da fala, lentidão na fala, diminuição da emissão sonora, mutismo, negativismo exacerbado, levando à recusa alimentar, interação pessoal etc.; • Sintomas psicóticos: delírio de ruína, delírio de culpa, delírio de inexistência, de- lírio hipocondríaco, alucinações com conteúdos depressivos, ilusões auditivas ou visuais; ideias paranoides, sintomas psicóticos humor-incongruentes; • Marcadores biológicos: inversão cronobiológica, ausência de resposta ao teste de supressão do cortisol pela dexametasona, alterações vasculares, em casos depressi- vos graves: SPECT, PET – hipofrontalidade, ventrículos e sulcos alargados, redução do volume do hipocampo. Tendo em vista esses sinais, sintomas e a prática clínica, as síndromes são classificadas em oito subtipos: Episódio ou fase depressiva e transtorno depressivo recorrente; Disti- mia; Depressão atípica; Depressão tipo melancólica ou endógena; Depressão psicótica; Estupor depressivo; Depressão agitada ou ansiosa; Depressão secundária ou orgânica. 10 11 Figura 2 – BLENDEA. Título desconhecido Fonte: WikiArt Síndromes ManíacasAs síndromes maníacas, assim como as depressivas, caracterizam-se por múltiplos si- nais e sintomas, bem como a classificação em subtipos. Além disso, há um tipo de síndro- me maníaca, o transtorno bipolar, que se manifesta de maneira recorrente e diversificada nos quadros clínicos contemporâneos, e por isso também é classificado em subgrupos. A s síndromes maníacas apresentam, de maneira mais geral, os seguintes sinais e sintomas: • crescimento da autoestima do paciente; • sensações de aumento e expansão do próprio eu; • insônia; • produção verbal intensa, veloz, persistente, com lacunas lógicas na estruturação das ideias; • necessidade de usar a fala de modo ininterrupto; • perda da atenção voluntária e aumento da atenção espontânea; • agitação psicomotora intensa, podendo chegar ao chamado furor maníaco; • aumento da irritabilidade, que pode se manifestar em níveis distintos, podendo evoluir para ações agressivas; • arrogância acentuada; • produção agressiva sem foco específico; 11 UNIDADE Síndromes Psicopatológicas • comportamentos sexuais desviantes das normas socioculturais vigentes. • gastos econômicos excessivos; • ideias de grandeza, de poder social, de importância exagerada, podendo levar a um quadro delirante. As síndromes maníacas são classificadas em seis subtipos, são eles: Mania Franca ou Grave; Mania Irritada ou Disfórica; Mania Mista; Hipomania; Ciclotimia; Mania com sintomas psicóticos. Como dito acima, os transtornos bipolares se configuram com uma das mais recor- rentes síndromes maníacas e se caracterizam por serem episódicas assim como outros transtornos mentais e psicológicos. Nesse quadro clínico, há episódios de mania e depressão num período delimitado, podendo inclusive regredir consideravelmente em seus sinais e sintomas nos momentos de baixa da síndrome. Atualmente, há uma tendência polêmica no diagnóstico dos transtornos bipolares, tendo em vista o excesso de enquadramento de crianças agitadas e inquietas neste quadro clínico. As classificações em subtipos são: Transtorno Bipolar tipo I; Transtorno Bipolar tipo II; Transtorno Afetivo Bipolar. Síndromes Neuróticas As síndromes neuróticas se caracterizam por apresentar sintomas e sinais ansiosos, fóbicos, obsessivos, histriônicos, hipocondríacos e angustiantes. Esses sinais e sintomas se manifestam de maneira alternada, porém com a persistência de um núcleo sintomático, que assim produz a chamada neurose. As síndromes neuróticas são classificadas da seguinte forma: Síndromes Fóbicas • Agorafobia: medo e angústia de espaços grandes, amplos, com aglomerações, nos quais a saída é dificultada e o auxílio de pessoas afetivamente próximas é dificultado; • Fobia simples ou específica: medo intenso, desproporcional, com traços de irra- cionalidade, em relação a objetos ou animais, podendo gerar uma crise de angústia ou pânico; • Fobia social: medo forte, intenso, recorrente de exposição social, sobretudo nas situações em que o indivíduo é cobrado – quando se espera algo dele. Síndromes Obsessivo-Compulsivas • Síndromes obsessivas: imagens, ideias, pensamentos, fantasias que se manifes- tam de modo recorrente no plano consciente e se estruturam de forma absurda, e mesmo irracional; 12 13 • Síndromes compulsivas: repetição comportamental, produção de rituais rígidos, atos compulsivos que se revelam como materialização de ideias mágicas, fantasiosas. Quadros histéricos • Histeria de conversão: paralisias, anestesias, analgesias, cegueira, perturbações no andar, perturbações para ficar de pé, perda da fala ou rouquidão; • Histeria dissociativa, ocorrência de alterações da consciência, como afunilamento e rebaixamento, amnésias, fugas histéricas e fenômenos sensoperceptivos, como ilusões, pseudoalucinações de natureza histérica. S índromes Hipocondríacas e Somatização • Hipocondríacos: medos, temores, preocupações intensas e desproporcionais com a ideia de ter uma doença grave; • Somatização: produção consciente ou inconsciente de um tipo de corporalidade ou de sintomas corporais com finalidade psicológica ou para ganhos pessoais; é comum os pacientes se colocarem no papel de doente para obter algum tipo de benefício. Síndromes Neurastênicas • Fadiga após a realização de atividades físicas ou mentais, dores musculares, irrita- ção constante, sensação de exaustão corporal, sensação de fraqueza, dificuldade de concentração, tonturas, insegurança etc. Síndromes Psicóticas Dentre as síndromes psicóticas, a mais recorrente é a esquizofrenia. Os sintomas e sinais esquizofrênicos mais comuns são: • significação delirante de uma percepção normal; • realização de ações movidas pela escuta de vozes; • escuta do próprio pensamento por parte dos pacientes; • sensação de que os pensamentos produzidos pelo paciente são ouvidos por ou- tras pessoas; • sensação de que o pensamento é roubado por outra pessoa; • sensação de que alguma força externa age sobre o corpo do paciente; • sensação de que pensamentos alheios penetram e conduzem a formulação dos pensamentos do paciente. Além disso, assim como outras síndromes, a esquizofrenia também é classificada por uma divisão de subtipos, que são: • A Síndrome negativa ou deficitária é caracterizada pelos seguintes sintomas: 13 UNIDADE Síndromes Psicopatológicas » retração da capacidade de se relacionar afetivamente com outras pessoas; isola- mento progressivo do convívio social; » empobrecimento da linguagem e das formas de produção do pensamento; » diminuição da fala; dificuldades, e mesmo inibição, de realizar atividades que exi- jam inciativa, organização, persistência; » descuido, despreocupação consigo mesmo me diversas áreas como higiene, apa- rência, saúde etc.; » restrições nos campos motores e gestuais. • A Síndrome positiva ou produtiva, como o próprio nome informa, caracteriza-se por sintomas avessos aos da síndrome negativa. Os principais são: » ilusões ou pseudoalucinações auditivas, visuais e de outros tipos; » produção de ideias delirantes, de caráter autorreferente, paranoide, influente ou de outro tipo; » atos impulsivos que desviam das normas e vigências sociais e culturais; » agitação; » produções linguísticas inesperadas e fora dos padrões; » ideias tidas como absurdas perante os critérios de normalidade. • Na Síndrome desorganizada, manifestam-se, de maneira mais comum, os seguin- tes sintomas: » afrouxamento das articulações lógicas da construção do pensamento que se de- senvolvem de forma intensa até o ponto da desagregação e da incompreensão do pensamento; » comportamentos divergentes aos padrões sociais e culturais, sobretudo nos âm- bitos sociais e sexuais; » agitação psicomotora; » desorganização dos parâmetros afetivos, incluindo regressões comportamentais. Além da esquizofrenia, destacam-se no quadro de síndromes psicóticas: • a paranoia: caracteriza-se por uma produção delirante, em geral, organizada e sistemática, que pode englobar temáticas complexas e se cristaliza em um domínio da personalidade do paciente, sem se alastrar para o resto; e • as parafrenias: são formas de psicose esquizofreniforme que aparecem de maneira tardia na vida dos pacientes e se caracterizam pela produção de delírios e alucina- ções com preservações da personalidade. 14 15 Figura 3 – YI. Shi-Shi 91-12 Fonte: WikiArt Síndromes psicomotoras A s síndromes psicomotoras são classificadas em dois tipos principais: as síndromes de agitação psicomotora e as síndromes de estupor e lentificação psicomotora. A s síndromes de agitação psicomotora são muito típicas nos serviços de emer- gência clínica e hospitalar e apresentam dificuldades consideráveis para a realização de diagnósticos e tratamentos. Entre os sinais e sintomas mais comuns estão: aceleração intensa da esfera motora; aumento da excitabilidade; inquietude permanente, levando o paciente a, por exemplo, andar de um lado para o outro e gesticular sem parar; logor-reia; irritabilidade; insônia; hostilidade e agressividade. Estas síndromes de agitação psicomotora são classificadas em dez subtipos: Agitação Maníaca; Agitação Paranoide; Agitação Catatônica; Agitação Psico-orgânica; Agitação nas Demências; Agitação nos quadros de retardo mental com transtornos de comporta- mento; Agitação Explosiva (associada a transtornos da personalidade); Agitação Histéri- ca; Agitação Ansiosa; Alterações da volição e homicídio. N as síndromes de estupor e lentificação psicomotora, são manifestadas recusas ou dificuldades de resposta, reação e comportamento dos indivíduos em relação aos espaços, nos quais estes estão inseridos. De maneira recorrente, a pessoa que apresenta um quadro de estupor apresenta os seguintes sintomas: mutismo; apego excessivo e exclusivo a sua cama ou cadeira, recusando-se a conviver em outros ambientes; restri- ções à alimentação; produção intensa de tensão nos músculos; não interação ou pouca interação com outras pessoas. 15 UNIDADE Síndromes Psicopatológicas Existem quatro subtipos de síndromes de estupor e lentificação psicomotora, são eles: Estupor Catatônico (esquizofrênico); Estupor Depressivo; Estupor Psicogênico; Estupor Orgânico. Síndromes Relacionadas ao Consumo de Alimentos As síndromes relacionadas ao consumo de alimentos, também conhecidas como transtornos alimentares, são diversas e cada vez mais presentes na vida social. As duas principais são: anorexia nervosa e bulimia nervosa. A anorexia nervosa se caracteriza pela autoindução da perda de peso, e é subdivi- dida em duas classificações: restritiva, praticada por meio da abstenção do consumo de alimentos que engordam (ou supostamente podem engordar); e purgativa, na qual além da restrição, o paciente autoinduz a perda de peso, com vômitos, remédios laxantes e excesso de exercícios físicos. Psicopatologicamente, a anorexia nervosa provoca uma distorção da imagem corpo- ral e\ou uma produção fantasiosa a respeito dos padrões corporais. Nesse sentido, os pacientes sentem medo de engordar, ou mesmo de parecer que engordaram, enxergam- -se sempre acima do peso e buscam incessantemente emagrecer ou enquadrar-se em padrões sociais de magreza. A bulimia nervosa se caracteriza por uma preocupação acentuada com o ato de co- mer e uma necessidade imperativa de consumo alimentar. A combinação dessas caracte- rísticas com o excesso de controle do próprio corpo leva o paciente com bulimia nervosa a medidas extremas para manter o peso, como a indução de vômitos, purgações, uso de remédios diuréticos e laxantes. Há no quadro bulímico, na maioria dos casos, uma sen- sação de perda de controle por parte do paciente e uma vergonha da própria condição que leva, em geral, ao ocultamento dos sintomas. Síndromes Relacionadas ao Sono A necessidade do sono varia muito de indivíduo para indivíduo, algumas pessoas dormem 5 horas por noite e sentem-se descansadas e ativas para as atividades diárias, outras precisam de 10 a 12 horas. Do ponto de vista clínico, há uma grande quantidade de síndromes relacionadas ao sono, e as mais recorrentes são: A insônia é uma das síndromes relacionadas ao sono mais comuns. Estima-se que cera de um terço da população mundial adulta sofra, pelo menos, um dia de insônia durante um ano. Suas características fundamentais são: • dificuldade de adormecer chamada de insônia inicial; • dificuldade de permanecer adormecido, conhecida como sono entrecortado; 16 17 • despertar de maneira precoce; • acordar durante a madrugada e não conseguir voltar a dormir. A lém da quantidade de horas dormidas, a insônia também age sobre a qualidade do sono, promovendo a sensação de que o sono não foi reparador e afetando as atividades diárias do indivíduo. Os hábitos que mais podem contribuir para um quadro insone são: dormir muito du- rante o dia; ingestão de cafeína nos períodos da tarde e da noite; comer muito à noite; realização de tarefas muito tensas no período da noite etc. A síndrome das pernas inquietas se caracteriza pelo movimento das pernas sem que o indivíduo possa controlar, podendo ocorrer sensações parestésicas, como formi- gamento, sensação de peso, pinicar etc. Esses movimentos podem ocorrer de modo repetitivo e estereotipado. E, em geral, o quadro se intensifica, causando desconforto, quando há repouso, impelindo assim o indivíduo a retomar o movimento. O s transtornos do sono associados à apneia se caracterizam “pela ocorrência de pausas respiratórias curtas, de 10 a 50 segundos, durante o sono. Nos episódios de apneia, o indivíduo geralmente ronca, a saturação sanguínea de oxigênio cai e, com frequência, ocorre breve despertar.” ( DALGALARRONDO, 2008, p. 364) A apneia é classificada em três subtipos: apneia obstrutiva, apneia central, apneia mista. A narcolepsia costuma aparecer na adolescência e é caracterizada pela sonolência intensa no período da vigília e pela cataplexia, que se configura pela fraqueza de grupos musculares de modo imperceptível. Podem ocorrer também alucinações hipnagógicas ou hipnopômpicas. Nas parassonias, são manifestados os seguintes sintomas: alterações do despertar, des- pertar incompleto, disfunções na transição sono vigília. A s parassonias mais comuns são: • sonambulismo, que se caracteriza pela deambulação e pelo excesso de movimentos complexos durante o sono; • sonilóquio, produção de sons, palavras ou frases durante o sono; • terror ou pavor noturno, o despertar do sono profundo com um grito lancinante; • paralisia do sono, despertar ou adormecer incompleto; • bruxismo, ranger vigoroso dos dentes durante o sono; • enurese noturna, micção involuntária durante o sono. Síndromes Mentais Orgânicas S ão várias as síndromes mentais orgânicas, e a mais comum é o delirium. Os sinto- mas mais comuns são: • rebaixamento do nível da consciência e alteração da atenção; • desorientação temporal, seguida por vezes de uma desorientação espacial; • confusão que atrapalha na organização do pensamento e do discurso; 17 UNIDADE Síndromes Psicopatológicas • ilusões visuais ou alucinações visuais e táteis; • ansiedade intensa, perplexidade, irritação, pavor, agitação psicomotora; • alteração do ciclo sono vigília. Além disso, o delirium é classificado em três subtipos: • hiperativo: caracteriza-se por uma inquietação ou agitação psicomotora, agressivi- dade, ansiedade, ilusões e alucinações visuais, confusão retórica; • hipoativo: no qual são manifestados o excesso de sonolência, baixa afetividade e expressão motora; • mista: é a forma mais comum de delirium e conjuga as características dos dois outros subtipos. Demências As síndromes demenciais se caracterizam fundamentalmente por perdas múltiplas de habilidades cognitivas e funcionais. As principais são: perda de memória; perda de fun- ções cognitivas como alterações da construção da linguagem; dificuldade de reconhecer pessoas e lugares; dificuldades de orientação; perda da capacidade de planejamento e motorização de atos complexos, diminuição da fluência verbal; dificuldade com o pensa- mento abstrato; perda do controle emocional; perda das relações sociais; descuido com os cuidados de si. Além disso, podem também surgir sintomas psiquiátricos associados como ideias paranoides, depressão, ansiedade, alucinações, delírios e agressividade. As demências mais comuns são: • Doença de Alzheimer: manifestada pela perda cognitivas significativas, sobretudo a memória, a linguagem e das funções visuais e espaciais, comprometendo pro- gressivamente as atividades cotidianas, mesmo as mais simples; • Demência vascular: é a expressão de uma doença vascular isquêmica subcortical que pode provocar comprometimento cognitivo de origem vascular chegando até as demências vasculares; • Demência por corpos de Lewy: tem como principais sintomas: a síndrome de- mencial progressiva, o prejuízo cognitivo flutuante, rigidez, alucinações visuais; • Demência subcortical pode causar irritabilidade,dificuldade de construir relações afe- tivas, quadros depressivos, mudança súbita de personalidade e lentificação psicomotora. Há outras inúmeras classificações de demências, destacando-se as seguintes: “paralisia nuclear progressiva, doença de Fahr, doença de Hallervorden-Spatz, degeneração corti- cobasal, atrofias de múltiplos sistemas, demência hidrocefálica, encefalopatias espongifor- mes subagudas (a mais comum é a doença de Creutzfeldt-Jakob)” (DALGALARRONDO, 2008, p. 382). 18 19 Figura 4 – LAZZARI. La linea rossa Fonte: WikiArt 19 UNIDADE Síndromes Psicopatológicas Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Como tratar a Esquizofrenia? Psiquiatra Maria Fernanda Caliani explica https://youtu.be/Tw1nPzWYG-M Anorexia | Podcast Entrementes https://youtu.be/wAaj0sSFTyU Quem é mais vulnerável a um transtorno psicótico? | Podcast Entrementes https://youtu.be/CdgjnBL7uHk Leitura Epidemia do desencanto https://bit.ly/3x20FFF 20 21 Referências A MARAL, M. Psicopatologia: Fundamentos e Semiologia Essencial. Disponível em: . BARLOW, D. H.; DURAND, M. R. Psicopatologia: uma abordagem integrada. Tradu- ção Noveritis do Brasil; revisão técnica Thaís Cristina Marques dos Reis. – 2. ed. – São Paulo: Cengage Learning, 2015. B ERLINC, M. T. O método clínico: fundamento da psicopatologia. Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, v. 12, n. 3, p. 441-444, setembro 2009. D ALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Por- to Alegre: Artmed, 2008. SCHNEIDER, D. R. Caminhos históricos e epistemológicos da psicopatologia: con- tribuições da fenomenologia e existencialismo. Cadernos Brasileiros de Saúde Mental – v. 1 n. 2 – Out/Dez de 2009. SCHULTZ, D. P. SCHULTZ S. E. História da Psicologia Moderna. Tradução: Adail Ubirajara Sobral e Marta Stela Gonçalves.Revisão Técnica: Maria silva Mourão. São Paulo, Editora Cultrix, 1ª edição brasileira, 1981. 21