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Cecília trata do tema guerra num tom de lamentação por tantas mortes, tanto sangue derramado, chegando a comparar os corpos dos combatentes a “tábuas sem uso”, ao passo que Calino e Tirteu falam da guerra num tom de exortação aos jovens, dialogando com sua audiência para que lute honrosamente por sua pátria e sua família. Tais poetas da lírica grega afirmam que de nada vale a vida de um covarde que foge à guerra, pois ele leva desonra e vergonha à toda a sua estirpe, enquanto o valente soldado é o verdadeiro herói, que será aclamado até sua velhice. Em contrapartida, Arquíloco, um soldado mercenário, luta com sua lança por seu “ganha-pão”. A poesia de Arquíloco se contrapõe à moral épica do herói: ele não luta por honra, ou para ser um modelo para os demais, mas tão somente por seu pagamento. Se para o herói de guerra perder seu escudo era motivo de grande desonra, na poesia de Arquíloco há um tom cínico sobre o valor de tal objeto: “que me importa aquele escudo? /Deixá-lo! Hei de comprar outro que não seja pior”. Para este poeta, importa preservar sua vida, por mais excelente que fosse a qualidade de seu escudo, pouco lhe importa. Podemos destacar também que para Calino e Tirteu, aquele que morre em combate será imortal por sua glória e honra, sendo sempre lembrado por seus feitos, tornando seu túmulo e sua descendência pra sempre notáveis. Já para Cecília Meireles, os falecidos de guerra sequer se distinguem e nenhuma honra recebem seus corpos (“Tanta é a morte/ que nem os rostos se conhecem, lado a lado, /e os pedaços de corpo estão por ali como tábuas sem uso”). Para aqueles, não há como estender a vida indefinidamente, então mais vale a bela morte em combate. Para ela, nada há de belo relacionado à morte na guerra, como depreendemos nos trechos “Tanto é o sangue que até a lua se levanta horrível” ou ainda “O coração dado aos vermes, dentro dos densos uniformes...). E para Arquíloco, não importa a moral homérica ou a imortalidade da honra, tão somente sua própria vida. 1. Explique por quais motivos Platão compara a escrita a um phármakon. A palavra grega phármakon pode significar tanto remédio quanto veneno. Se por um lado a escrita permitiria o avanço de estudos e pesquisas, aliviando a memória coletiva (como um remédio), permitindo que descobertas fossem levadas a quaisquer povos em qualquer tempo. Por outro, enfraqueceria a memória individual (como um veneno), por desestimular o seu uso. Platão chama a atenção para o fato de que o sujeito desobrigado de memorizar todos os conhecimentos (porque agora eles estarão preservados nos livros), poderá não mais se esforçar para reter os aprendizados. Assim o conhecimento já não estará acessível em cada indivíduo, mas relegado somente aos livros. 2. Escreva um texto (mínimo de 15 linhas) relacionando oralidade, texto, escrita e memória. Antes da escrita ser difundida, toda a produção de texto e transmissão de conhecimento ocorria de forma oral. Para isso, cada indivíduo precisava de um grande esforço de memorização. Poemas com milhares de versos, como os de Homero, eram compostos oralmente e declamados/cantados diante do público. Tais poemas épicos foram memorizados e repetidos até sua reprodução manuscrita, anos depois, o que permitiu que chegassem até nós (de certo, teremos perdido vários versos dessas composições no “caminho” ou até recebido acréscimo de alguns outros). Ao criar seu texto por meio da escrita, o autor já não sofre a mesma pressão de uma composição oral: pode parar para refletir, pesquisar, buscar outros conhecimentos e até mesmo se corrigir e reescrever. A escrita, portanto, exerceu uma força conservante sobre a literatura e outros textos, promovendo o crescimento do pensamento crítico e científico. 3. Caracterize a épica grega do ponto de vista da forma e da temática. Quanto à forma, encontramos na épica grega traços de composição oral, como o Hexâmetro datílico (métrica que confere ritmo ao poema, facilitando sua memorização e seu canto) , fórmulas (trechos já prontos ao quais o poeta frequentemente recorria, ganhando um tempo para compor o final do verso ou o verso seguinte) e epíteto (como a fórmula, era um trecho já pronto, facilitador da composição oral, que exaltava uma característica de algo ou alguém). Quanto à temática, a épica homérica narra e enaltece os feitos de grandes guerreiros do passado – os heróis – e sua relação com os deuses. O herói (muitas vezes um semideus), era um modelo de comportamento, digno de ser lembrado pelas gerações futuras. 4. Redija um texto (mínimo de 10 linhas) relacionando estilo formular (fórmulas, epítetos, símiles) e composição oral dos poemas homéricos. Os poemas de Homero trazem em si diversos traços da composição oral, tais como os chamados elementos facilitadores: as fórmulas, os epítetos e os símiles. As fórmulas eram trechos pré-fabricados e repetidos com uma certa regularidade, numa mesma métrica, =conferindo ritmo ao poema e facilitando a memorização do poeta e elaboração dos trechos seguintes. Os epítetos, a seu turno, são como uma subespécie das fórmulas: uma expressão já pronta que qualificava um personagem ou objeto de forma elogiosa ou injuriosa. Um famoso exemplo de epíteto é “Odisseu de mil ardis”, expressão que ressalta a astúcia desse herói. Já os símiles são comparações entre um elemento real e uma metáfora (como comparar o avanço das ondas do mar com o de falanges de Dâneos). Os símiles poderiam servir para transmitir uma imagem ao ouvinte, ou fazer uma pausa na narrativa da guerra, bem como fazer uma transição de cena. O estilo formular, portanto, era a ferramenta de que o poeta se valia para ganhar tempo enquanto compunha, em sua mente, a continuação de seu poema, sem interromper o canto do mesmo. 5. Como você poderia descrever a figura do herói na épica clássica? O herói, figura central da epopeia, era alguém cujos feitos eram dignos de serem lembrados e transmitidos às gerações posteriores. Mítico ou real, representava uma coletividade e seu destino estava, geralmente, interligado ao dela. Era sempre alguém já morto, muitas vezes um semideus. Apesar de mortal, estava acima dos homens comuns devido à sua areté ou excelência: habilidades especiais que o tornavam superior aos outros. De sua areté adivinha a sua honra – ou timé. A timé dava status social ao herói, podendo ser materializada em algum espólio ou troféu de guerra. Muito estimado pelas divindades, o herói era piedoso e respeitava seus deveres religiosos, como a hospitalidade para com os estrangeiros e os sacrifícios ofertados. Um modelo, portanto, de educação e comportamento a ser seguido e sempre lembrado deforma honrosa. 6. Componha um pequeno texto relacionando mito e oralidade. Mito significava, num primeiro momento discurso, palavra. Na Grécia antiga, mito era uma narrativa oral, transmitida de uma geração à outra, tratando de deuses, heróis e seres fantásticos, num tempo antigo, não histórico. Sua função, muitas vezes, era etiológica, ou seja, explicar diferentes fenômenos como, por exemplo, a existência do céu e da terra, a origem da humanidade ou as estações do ano. O mito Surge, assim, da perplexidade do homem diante do desconhecido e de deu desejo de explicar o incompreensível. Um exemplo é o mito de Perséfone que – resumidamente – explica a origem do inverno: os meses de frio e sem colheita seriam consequência da tristeza da mãe de Perséfone por esta passar um quarto do ano no submundo, com Hades. O advento da escrita foi, paulatinamente, mudando o modo de pensar dos gregos. Ao contrário do que ocorria na composição oral, a construção de um texto escrito permitia ao seu autor a pesquisa, racionalização, questionamento. Cresce, assim, o pensamento filosófico-científico: o texto científico não busca agradar seu público, mas se comprometer com a verdade, buscando explicações racionais para os fatos. (Correções do tutor em vermelho) . 7. Redija um texto definindo o mito, apresentando suas principais características e funções. 8. Relacione poesia lírica, individualidadee “eu” poético. 9. Descreva a poesia lírica do ponto de vista de sua temática e de sua forma. A Lírica tinha forma e temática livres e plurais. Era uma poesia oral, sonora, musical e bastante flexível: a lírica era o que não era a épica nem o drama. Tinha um caráter social, aglutinador: os poemas eram partilhados e apreciados em comunidade (como reuniões familiares ou festas oficiais), acompanhada de instrumentos musicais e às vezes de coro. Na lírica o poeta expõe o seu eu (que pode ser fictício e não exatamente o eu verdadeiro do poeta), podendo tratar de guerra, amor, ódio, ciúme ou qualquer outro tema.