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Estácio UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ (UNESA) CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL TERRORISMO O ADVENTO DA ANTIGA NOVA AMEAÇA Prof.ª Me. Alexandra Villela Boechat Marcos Karan Dândaro da Silva Direito Penal Constitucional MARCOS KARAN DÂNDARO DA SILVA TERRORISMO O ADVENTO DA ANTIGA NOVA AMEAÇA Artigo apresentado ao Curso de Pós- Graduação em Direito Penal e Processual Penal da Universidade Estácio de Sá para a obtenção da aprovação na docência de Direito Penal Constitucional. Aprovado em: _______/________/_________ EXAMINADORA ________________________________________________________ Prof. Me. Alexandra Villela Boechat Instituição: Universidade Estácio de Sá TERRORISMO O ADVENTO DA ANTIGA NOVA AMEAÇA MARCOS KARAN DÂNDARO DA SILVA UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ 19 DE MAIO DE 2024 Resumo O presente artigo tem como objetivo apresentar as diversas definições do termo Terrorismo, a visão do Estado, da Agência Brasileira de Inteligência, do ordenamento jurídico brasileiro e das comunidades internacionais. Bem como apresentar estudos minuciosos das diversas formas de terrorismo executadas e o ponto de vista das Organizações Terroristas. A partir das diversas teorias sobre que seria o ato terrorista, conclui-se que não há uma teoria neutra, ou seja, um consenso. Palavras-chave: Terrorismo; Jurídico; Definições. Abstract This article aims to present the different definitions of the term Terrorism, the view of the State, the Brazilian Intelligence Agency, the brazilian legal system and international communities. As well as presenting detailed studies of the various forms of terrorism carried out and the point of view of Terrorist Organizations. From the different theories about what the terrorist act would be, it is concluded that there is no neutral theory, that is, a consensus. Keywords: Terrorism; Legal; Definitions. Sumário Introdução ............................................................................................................................ 5 O Terrorismo e suas Vítimas ............................................................................................... 6 Arqueologia do Terrorismo ................................................................................................. 7 O Terrorismo na América Latina ..................................................................................... 8 O Terrorismo do Século XXI ............................................................................................ 9 O Cyber Terrorism ........................................................................................................ 9 O Terrorismo Nuclear ................................................................................................. 10 O Advento do Bioterrorismo ...................................................................................... 10 Financiamento ................................................................................................................... 11 O Terrorismo Sob o Aspecto Jurídico Brasileiro ............................................................. 11 A Evolução do Tratamento do Terrorismo no Brasil .................................................... 12 Correntes da Doutrina ................................................................................................... 13 Conclusão .......................................................................................................................... 15 Referências bibliográficas ................................................................................................ 16 Introdução A palavra Terrorismo deriva do termo em latim Terrere, o que significa “tremer”. Em tese, é um termo utilizado para definir situações em que há atos que ponham em risco a integridade física, psicológica e patrimonial de uma massa ou nação ou até mesmo de um grupo isolado, mas à medida que se compara os conceitos adotados por diversas nações e grupos internacionais como a ONU e a OTAN, é notável que não há um consenso. Até mesmo as Organizações Terroristas não se veem como tais, haja visto que, em suas causas eles estão lidando com uma ameaça de aniquilação dela. O intuito do terrorismo “o difere” dos atentados criminosos, pois eles se pautam em causas religiosas ou ideológicas (lê-se, políticas), enquanto os indivíduos que praticam os atentados criminosos possuem interesses econômicos e desvio de conduta. Tomemos como exemplo o atentado criminoso ocorrido no ano de 2006, coordenado pela OrCrim Primeiro Comando da Capital (PCC), onde foram ceifadas diversas vidas dos agentes de segurança pública, até mesmo os da reserva, além de depredado patrimônio público e privado. Comparemos então com o atentado terrorista mais famoso dos últimos 30 anos, contra os edifícios do World Trade Center (WTC), em New York City, este motivado por pautas da ideologia religiosa pertinente ao Islã e executados pela organização terrorista Al-Qaeda. Paralelizando ambos os acontecimentos, conclui-se que ambos ceifaram diversas vidas, que ambos causaram sequelas e traumas na vida das respectivas populações e danos ao patrimônio, mas o que os difere é a motivação e finalidade. O Terrorismo e suas Vítimas “Frequentemente, a expressão “terrorismo” é utilizada para definir qualquer ação violenta, de caráter físico ou psicológico e de natureza “radical”, “fanática” ou “extrema”. Verifica-se, no cotidiano, que rotular um ato ou pessoa como terrorista depende também, de quem sofre ou pratica a ação.” (RAPOSO, 2º Of. Int. ABIN). Portanto, pode ser definido como o uso de violência física ou psicológica, por um grupo político e organizado à fim de promover o terror a indivíduos não- combatentes (Indivíduos não-combatentes podem ser compreendidos como civis e militares que estejam fora do confronto armado) com o objetivo de coagir através do efeito aterrorizante causado no psicológico de uma nação ou grupo isolado. Pode -se dizer que objetivo do ataque terrorista não é diretamente o alvo do atentado e sim o temor que ressoará na vida daqueles que permanecerão vivos. A maior arma da Organização Terrorista é o pânico que ressoará. Um ato terrorista pode ser identificado, observando algumas características, tais como; a natureza indiscriminada, a imprevisibilidade, a arbitrariedade e gravidade das consequências provocadas e o caráter anômico e amoral. As vítimas podem parecer genéricas, ou seja, todas são atingidas da mesma forma (física e psicologicamente), mas a verdade é que há uma classificação das vítimas, em partes diferentes daquelas cunhadas por Benjamin Mendelssohn na disciplina de vitimologia. As vítimas do terrorismo são divididas em três classes: • A vítima tática: a vítima direta do atentado, ou seja, aquela que sofre diretamente a violência do atentado, paralelizando com a criminologia, a vítima primária; • A vítima estratégica: são todos aqueles que sobrevivem do atentado, porém, se encontram no grupo de risco dos vitimados. Imaginam-se alvos de outro ataque no futuro, em outras palavras, são grupos-alvo; • A vítima política: é o Estado. Aquele que representa a última barreira entre aqueles que delinquem e os “cidadãos de bem”. O grande objetivo dos atentados terroristas não são as vítimas táticas, pois por uma razão inequívoca: os mortos não temem. E sim as vítimas estratégicas, pois são nelas que o terror residual habitará. Inclusive nas vítimas políticas, em razão do temor e sensação de vulnerabilidade causados ao Estado, de ter a sua segurança pública (lê-se, paz), estrutura orgânica eeconomia abalados. Um grande exemplo desse temor foram os ataques ao World Trade Center. Arqueologia do Terrorismo O Terrorismo não é uma exclusividade dos dias atuais, Sun Tzu em seu livro A Arte da Guerra já citava “Mate um, amedronte dez mil”. O primeiro grupo terrorista que se tem registro data do ano 6 d.C. Era formado por radicais judeus que se opunham à ocupação da Palestina pelo Império Romano. Chama-se Sicarii e assassinavam romanos e judeus colaboracionistas. O segundo grupo surgiu onze séculos depois, no Oriente médio. Estes eram chamados de Nizarins (SOARES, 2001). A expressão Terrorismo surgiu na França durante o período que ficou conhecido como a Revolução Francesa, especificamente naquele governado por Robespierre (1793-1794), que apesar de ser contra a pena de morte, ordenou a execução de cerca de 17 mil pessoas na guilhotina. Apesar de pouco tempo no poder, ficou conhecido como o “Reino do Terror”, onde a partir das ações dos jacobinos nasceu o “Terror de Estado”. No século XX, a extinta União Soviética (URSS) tornou-se a principal provedora de Organizações Extremistas, tais como: a Facção do Exército Vermelho (Alemanha Oriental), a Frente de Libertação de Moçambique (África Oriental), as Brigadas Vermelhas (Itália), o Movimento da Esquerda Revolucionária (Chile) e o Congresso Nacional Africano (África do Sul). No final dos anos 1980 surgiram duas novas modalidades, o terrorismo “doméstico” (o terrorismo tipicamente americano) e o “terrorismo internacional”. Este primeiro ocorre dentro da própria residência (lê-se, nação), como o conhecido caso do terrorista estadunidense Theodore Kaczynski (1942 - 2023), o Unabomber, que em 1978 iniciou diversos ataques dentro do próprio país através de cartas-bomba. Sua motivação teria sido: a perda da dignidade humana diante da constante necessidade de novas tecnologias e o progresso industrial desenfreado e inescrupuloso. Já o segundo é o terrorismo surgido entre o final do século XX e início do século XXI, onde os grupos terroristas estão sobre uma causa, uma bandeira e sob uma administração, ou seja, praticamente um estado paralelo aos seus. O Terrorismo na América Latina O Terrorismo na América Latina, em sua essência, é de cunho ideal político. Desde o advento Da Guerra Fria, da ascensão da ideologia política de esquerda, surgiram com grande frequência grupos armados que se autointitulavam “revolucionários”, como o bem conhecido Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) operante no Vale do Ribeira e liderada pelo desertor e traidor do Exército Brasileiro, Carlos Lamarca (1937 - 1971). Grupo este que realizava assaltos à bancos, sequestros mediante extorsão e execução de inimigos públicos, como foi o caso do até então Tenente da Polícia Militar de São Paulo, Alberto Mendes Júnior (1947 - 1970). Tudo isso com a intenção de obter fundos para custear a revolta armada em prol de sua causa, o que os difere de grupos criminosos. Ainda temos relatos da presença das Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia, no próprio país de origem e dentro do território brasileiro de forma indireta, através do adestramento de membros das facções criminosas PCC (São Paulo) e Comando Vermelho (Rio de Janeiro), para a consecução de sequestros que garantem uma receita anual de cerca de US$ 250 milhões. Em 2001, Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, foi preso em uma região de selva na Colômbia por uma Força Tarefa brasileira, o líder do CV foi acusado entre outros crimes, de tráfico internacional de armas ligado às Farc. Importante frisar que a ONU não considera o grupo colombiano, terrorista. Por outro lado, infelizmente já existiram grupos de extermínio ligados a ex- policiais, ex-militares que com indevida motivação executavam criminosos à margem da lei, como os Policiais Militares que foram investigados na Operação Janus da Polícia Civil na cidade de Boa Vista – RR. O Terrorismo do Século XXI O terrorismo do novo século é marcado por diversos fronts de ataque, diferente do tradicional, onde o objetivo era instalar o caos e o pânico nas vítimas estratégicas, aquelas que sobrevivem ao ataque direta ou indiretamente, através da morte das chamadas vítimas táticas, às que vem a óbito ou que sofrem lesões físicas. Atualmente, com o advento da alta tecnologia, dos sistemas militares informatizados e automatizados, e da era nuclear, as organizações terroristas se especializaram e saíram do terrorismo tradicional. Estes grupos não mais realizam apenas ataques suicidas, mas às instalações militares dentro e fora do seu território. Eles saíram da tecnologia ruminar da bomba caseira para ataques via rede (os chamados hacktivistas), onde atingem os sistemas militares de informação, interferem no funcionamento de instalações nucleares e sistemas de defesa aéreos. E não se limitando ao ambiente militar, atacam sistemas bancários, sistemas de distribuição elétrica, refinarias de petróleo e todos os sistemas cruciais à infraestrutura de um país. Porém, estes ataques mais elaborados requerem um alto investimento em face de atentados à homem ou carro-bomba. O Cyber Terrorism Há indícios de atuação das Organizações Terroristas desde o ano de 1996, no berçário da informática moderna, especificamente do grupo terrorista Hamas. Já em 1999, sob à bandeira dos Direitos Humanos, a Legion of Underground (LoU) declarou uma cyber guerra contra a China e o Iraque. Especialistas confirmaram que em 14 de agosto de 2003, o Worm 32 (vírus) contribuiu para o blackout ocorrido nos Estados Unidos e no Canadá. O worm (na tradução literal, minhoca) é um malware que se propaga sozinho e muito rapidamente, sem a necessidade de alguma ação do usuário, e se espalha pela intranet e outros dispositivos conectados. Alguns anos depois, em 2006, hackers realizaram um cyber ataque na rede do United States Bureau of Industry and Security, o objetivo era capturar dados de login dos usuários com nível de acesso elevado. O Terrorismo Nuclear É de conhecimento das autoridades que as instalações nucleares e centros de enriquecimento de urânio são alvos potenciais dos grupos terroristas, pois com um ataque bem-sucedido pode-se aniquilar uma enorme massa populacional e os efeitos radioativos perduram por cerca de 240 séculos. Em 2003, o Federal Bureau of Investigation (FBI) desmantelou um campo de treinamento de ativistas situado a 30 km da Central Nuclear de Three Mile Island, USA. O Advento do Bioterrorismo Os primeiros casos de uso dos agentes infecciosos não são recentes. Em 2001, especificamente de setembro a novembro, foram registrados casos de cartas enviadas via o United States Post Mail Service contendo o vírus Bacillus Anthracis (Varíola). No Brasil, um cenário bastante provável seria a chegada de indivíduos infectados ou que possuam amostras desse vírus para contaminar locais de grande aglomeração. Podemos tomar como um exemplo quase perfeito o misterioso surgimento e propagação do Covid-19. Mas considerando que este tipo de atentado requer uma grande e moderna estrutura à fim de garantir a segurança daqueles que manipulam o agente biológico para disseminação, é bem provável que os terroristas usem patógenos mais comuns como a Salmonela e o vírus causador da Hepatite A, dentre outros. Financiamento “A logística necessária à realização desses ataques dessa monta (lê-se, magnitude) tem um preço. As organizações terroristas não possuíam o know how necessário à “lavagem do dinheiro” destinado ao financiamento de atentados e à infraestrutura. Trata-se de um “sistema econômico” internacional desenvolvido após da Segunda Guerra Mundial...” (NAPOLEONI, 2004). Os ataques terroristas exigem um montante elevado de recursos financeiros, e o este que advêm é obtido através de diversas fontes, como: otráfico internacional de drogas, de pessoas, de órgãos; doações dissimuladas em forma de ajudas humanitárias de países “aliados”, extorsões mediante sequestro, extorsões das populações locais através da cobrança da espécie de um u pizzo (termo utilizado pela máfia siciliana para designar uma cobrança por proteção) e rendas de fazendas agrícolas adquiridas pelos integrantes. A “chamada “Nova Economia do Terror”, que movimentou, na década de 1990, um terço dos cerca de US$ 1,5 trilhão, movimentados, anualmente, por organizações criminosas em todo o mundo.” (NAPOLEONI, 2004). O Terrorismo Sob o Aspecto Jurídico Brasileiro No Brasil, foi aprovado recentemente uma norma penal regulamentadora sobre o terrorismo. Em 2007, o Gabinete Institucional de Segurança da Presidência da República encaminhou ao Ministério da Justiça um anteprojeto da “primeira lei” brasileira de combate ao terrorismo e o seu financiamento. Projetos de lei anteriores tiveram a sua tramitação bloqueada por alguns parlamentares, que temem que essa tipificação seja, também, utilizada contra as ações de grupos, como o MST (ZANINI, 2006). Já em 2016, foi sancionada pela Ex-Presidente Dilma Rouseff a Lei nº 13.260/16, a qual regulamenta o inciso XLIII do art. 5º da CF/88 reformulando o conceito de organização terrorista e tratando dos procedimentos processuais e investigatórios. Em seu art. 2º condiciona, e no §1º, inciso I ao V classifica os atos terroristas. Conforme: Art. 2º O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública. § 1º São atos de terrorismo: I - usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou promover destruição em massa; IV- sabotar o funcionamento ou apoderar-se , com violência ou grave ameaça a pessoa ou servindo-se de mecanismos cibernéticos, do controle total ou parcial, ainda que de modo temporário, de meio de comunicação ou de transporte, de portos, aeroportos, estações feroviárias ou rodoviárias, hospitais, casas de saúde, escolas, estádios esportivos, instalações públicas ou locais onde funcionarem serviçoes públicos essenciais, instalações de geração ou transmissão de energia, instalações militares, instalações de exploração, refino e processamento de petróleo e gás e instituições bancárias e sua rede de atendimento; V- atentar contra a vida ou integridade física de pessoa: (refere-se ao trecho em destaque citado no caput deste artigo) Pena – reclusão, de doze a trinta anos, além das sanções correspondentes à ameaça ou à violência. A Evolução do Tratamento do Terrorismo no Brasil Após 1988, a Carta Magna foi o primeiro dispositivo a mencionar o crime de terrorismo, equiparando-o aos crimes hediondos. Logo a seguir a Lei nº 8.072/90 trazendo consigo o rol dos crimes considerados hediondos, estabeleceu também um endurecimento no tratamento aplicado àqueles que cometem o crime de terrorismo. Mas havia ainda uma dúvida insolúvel: o que era crime de terrorismo segundo a legislação brasileira? Existe algum crime com essas características no ordenamento-jurídico brasileiro? A Lei nº 7.170/83 (Lei de Segurança Nacional) trazia em seu art. 20 a definição mais próxima que se tinha na época do conceito de crime terrorista, assim dizia: “Devastar, saquear, extorquir, roubar, sequestrar, manter em cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para a obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas. (grifo nosso) Pena: reclusão, de três a dez anos.” Mas ainda não havia uma definição clara. O que era crime de terrorismo? E qual era o seu conceito? A pergunta ainda soava sem resposta. Torna-se muito difícil elaborar um conceito jurídico exato sobre o que é ou o que são os crimes de caráter terrorista, dadas às muitas possibilidades de configuração dos atos em relação à intenção do(s) indivíduo(s) infrator(es). Correntes da Doutrina Há duas correntes acerca da existência conceitual do crime de terrorismo conforme o disposto no art. 20, caput da LSN (Lei nº 7.170/83) e sobre a sua inconstitucionalidade. LEAL, João J. em seu livro Crimes Hediondos 8ª Edição, p. 134, diz que: “Do ponto de vista técnico-jurídico, a redação confusa e ambígua deste dispositivo legal, parece-nos insuficiente para construir uma definição jurídica de terrorismo como tipo penal autônomo. Por isso, como consequência da adoção do princípio da legalidade, cremos que ninguém poderá ser punido por este tipo de crime, enquanto uma lei específica não definir objetivamente o tipo de conduta denominada terrorismo. É preciso que a lei descreva com precisão e de forma objetiva, quais as ações caracterizadoras de um possível tipo legal de terrorismo. Ou seja, o crime previsto no art. 20, caput, da LSN não pode receber o nomen juris de terrorismo, principalmente para o fim de ser marcado com o rótulo da hediondez e de sofrer as consequências penais previstas na LCH” Já CAPEZ, Fernando, defende conforme o disposto no seu livro Curso de Direito Penal Volume 4, 10ª edição p. 216, que o terrorismo está sim tipificado na LSN, mas que o artigo em que é citado poderia ser aprimorado. Capez alega que a natureza, a qual se exprime de muitos modos, dos atos terroristas, impede que seja elaborada uma tipificação extremamente precisa da conduta tratada, o que justificaria a adoção de um tipo penal em branco pelo legislador. Para NAHUR e CABETTE, “O artigo 20 da Lei 7.170/83, mesmo desconsiderando sua inconstitucionalidade, é um crime comum contra a segurança nacional e não um crime de terrorismo.” Haja visto que o crime de terrorismo é tido informalmente como àquele que é cometido com o intuito de provocar o pânico nas pessoas e ou no Estado e não somente ao Estado. Além destes, o então atual ministro do STF, Alexandre de Moraes e o Ex Procurador Geral de Justiça de São Paulo (2016- 2020) são adotantes desta corrente. O advento da Lei nº 13.260/16 põe fim a uma era de “vacatio legis”, onde, finalmente traz definição, conceito e regulamentação daquilo que são consideradas as práticas terroristas. O dispositivo trata de diversas condições, desde a tipificação do delito, da regulamentação investigativa e processual, do estabelecimento da pena base até a combinação com as leis dos tratados dos quais o Brasil é signatário, também traz em seus dispostos finais a regulamentação dos bens apreendidos ou que estejam em posse e ou que tinham como objetivo o financiamento das ações e dos terroristas. Mas com os crescentes níveis de violência contra a comunidade LGBTQIA+, a lei deixa uma lacuna, sendo necessário reformulá-la para tipificar as ações nas quais os agressores ofendam a integridade física, psicológica, moral e patrimonial destes indivíduos. Trazendo em seu art. 2º, caput, apenas a criminalização dos atos tipificados como terroristas: ...” por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública.” A lei perde uma oportunidade de criminalizar ações que visem criar pânico ou terror à fim de coibir a exerção dos direitos de cada indivíduo, ou seja, atos terroristas contra a comunidade. Haja visto que o conceito de xenofobia diz respeito à aversão, preconceito e discriminação ao estrangeiro ou a qualquerindivíduo estranho ao meio de convivência (de outra cultura, com outros costumes). Fala-se até em “xenofobia interna”, referente a pessoas do mesmo país ou estado, porém oriundas de regiões diversas e “xenofobia externa”, a qual faz referência aos indivíduos estrangeiros. Com o iminente início das Olimpíadas de 2016 (ano em que a lei foi sancionada), sediada pelo Brasil, viu-se a necessidade de criar e vigorar uma lei que tipificasse, conceituasse e estabelecesse procedimentos processuais acerca dos atos terroristas. Não tardiamente, em julho do mesmo ano, a Polícia Federal prendeu dez indivíduos integrantes da organização terrorista Estado Islâmico (ISIS), suspeitos de planejarem ataques terroristas. Segundo a PF, os suspeitos teriam realizado o batismo na organização via internet (batismo virtual) e conforme o Ministro Alexandre de Morais declarou ao site de notícias G1, não mais tiveram contato. Porém, passaram a trocar e-mails entre si e uma loja clandestina no Paraguay sobre a compra de um fuzil de assalto Kalashnikov AK-47 e munições no calibre 7.62 x 39 mm. Notadamente, o Brasil não possui iminentes problemas com o terrorismo, mas não se pode esquecer de que existe a presença de células do grupo terrorista Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) na tríplice fronteira, entre o Brasil, o Paraguay e Argentina. Onde esses indivíduos membros realizam algumas atividades como sequestro, tráfico de pessoas e de órgãos, além do tráfico de drogas com o intuito de arrecadar fundos monetários para suas atividades jihadistas. Conclusão Diante de todos os estudos realizados sobre o tema, é de se enxergar mesmo às cataratas que o advento da nova ameaça de escala mundial não é tão recente quanto parece, surgido há alguns séculos e que com passar do tempo mudou a sua face e motivação, mas sempre aprimorando o seu modus operandi. O mais preocupante é que esses atos são movidos por paixões, sejam elas de cunho político ou religioso, o que deixa os seguidores de suas seitas cegos à combater o que denominam como o Grande Satã, o Ocidente, e em especial a América, que para eles é o responsável por todos os males ocorridos no mundo. Hoje a ameaça dos atentados terroristas está longe, mas não tão longe assim, de ofender a integridade e incolumidade do povo brasileiro. Isso não significa que as forças de segurança pública não devam se preocupar em tipificar todas as formas possíveis e previsíveis dos atos terroristas, bem como criar e aprimorar uma política criminal de prevenção e repressão. Haja visto que, estes indivíduos agem de forma sorrateira e dissimulada, tanto que, a maior dificuldade reportada pelas forças armadas dos Estados Unidos é a de identificar o inimigo com precisão e a tempo de repreender os seus atos perniciosos, dessa forma, essa nova modalidade de combate foi denominada como guerra irregular. Estes indivíduos não mais agem apenas na forma da violência física, sendo tão covardes, ao ponto de utilizarem armas invisíveis como os ataques com armas químicas, disseminação de doenças (armas biológicas) e ataques via rede virtual. É preciso estar atento, principalmente quando integrante das Forças de Segurança Pública ou do Judiciário. Estes, covardes inescrupulosos, nunca emitem sinais expressos de que irão fazer, do que irão fazer e quando o farão. Em suma, o terrorismo é todo ato que tenha como objetivo; matar, ofender a integridade física, psíquica e patrimonial de um ou mais indivíduos ou de causar desestabilidade na estrutura orgânica do Estado, de forma organizada e premeditada, motivados por alguma paixão ideológica ou religiosa com o intuito de causar pânico nas vítimas indiretas ou ao próprio Estado. Referências bibliográficas CABETTE, Eduardo Luiz Santos; NAHUR, Marcius Tadeu Maciel: TERRORISMO: Lei 13.260/16 comentada. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2017. CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Volume 119ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015. LAURIE, Jéssica. em: . Acesso em: 10 maio 2024. LEAL, João José. Crimes Hediondos 2ª ed. Curitiba: Juruá, 2004. LEI Nº 13.260/16: Regulamenta o disposto no inciso XLIII do art. 5º da Constituição Federal, disciplinando o terrorismo, tratando de disposições investigatórias e processuais e reformulando o conceito de organização terrorista; e altera as Leis n º 7.960, de 21 de dezembro de 1989, e 12.850, de 2 de agosto de 2013. Disponível em: . Acessado em: 30 mar. 2024. Lei nº 7.170/83: Define os crimes contra a segurança nacional, a ordem política e social, estabelece seu processo e julgamento e dá outras providências (atualmente revogada em seu inteiro teor). Disponível em:. Acessado em: 05 maio 2024. NAPOLEONI, Loretta. Modern Jihad: tracing the dollars behind the terror networks. London, Sterling, Va.: Pluto Press, 2004. RAPOSO, Álisson Campos, 2º Of. de Inteligência. 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