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1 HISTÓRIA CULTURAL E ANTROPOLOGIA 2 SUMÁRIO NOSSA HISTÓRIA ................................................................................................................ 3 1.INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 4 2.ANTROPOLOGIA ............................................................................................................... 5 2.1ORIGENS ......................................................................................................................... 5 2.2CONCEITO ....................................................................................................................... 6 2.3OBJETIVOS DA ANTROPOLOGIA .................................................................................. 9 2.4CAMPOS DE ATUAÇÃO .................................................................................................. 9 2.5SOCIOLOGIA ................................................................................................................. 11 2.6PSICOLOGIA .................................................................................................................. 12 2.7ECONOMIA E POLÍTICA ................................................................................................ 12 2.8OUTRAS CIÊNCIAS ....................................................................................................... 13 2.10MÉTODO INDUTIVO .................................................................................................... 15 2.11MÉTODO DEDUTIVO ................................................................................................... 15 2.12MÉTODO HIPOTÉTICO-DEDUTIVO ............................................................................ 15 2.13TÉCNICAS DE PESQUISA DA ANTROPOLOGIA ........................................................ 16 3.PERSPECTIVAS DE ANÁLISE DO PENSAMENTO ANTROPOLÓGICO ........................ 16 3.1ANTROPOLOGIA PRÉ-HISTÓRICA............................................................................... 16 3.2ANTROPOLOGIA LINGUÍSTICA .................................................................................... 18 3.3ANTROPOLOGIA PSICOLÓGICA .................................................................................. 19 3.4ANTROPOLOGIA SOCIAL E CULTURAL ...................................................................... 20 4.A ANTROPOLOGIA AO LONGO DA HISTÓRIA DA HUMANIDADE ................................ 21 4.1A PRÉ-HISTÓRIA ........................................................................................................... 21 4.2PERÍODOS DA ANTROPOLOGIA .................................................................................. 23 4.3PERÍODO DE FORMAÇÃO ............................................................................................ 23 4.4PERÍODO DE CONVERGÊNCIA .................................................................................... 24 4.5PERÍODO DA CONSTRUÇÃO ....................................................................................... 25 4.6PERÍODO DA CRÍTICA .................................................................................................. 26 5.REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 28 3 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 4 1. INTRODUÇÃO A Antropologia é uma ciência “dos observadores capazes de observarem a si próprios.” (LAPLANTINE, 1998, p. 170) O homem como ser biológico, social e cultural vive em constante questionamento para entender o que somos a partir do espelho fornecido pelo “outro”. A percepção que temos de nós é modificada quando nos “olhamos com olhos de ver” em relação aos outros e enxergamos de modo diferente ao observar que os outros conseguem fazer as mesmas coisas que nós fazemos, mas de modo diferente, isso nos induz a interrogarmos sobre as nossas próprias maneiras. Por exemplo, reflitam o que há de “apropriado” em comer com garfo e faca? Escovar os dentes após as refeições? Isso é mais natural que comer com as mãos, ou de não escovar os dentes? É “Natural” para nós, mas é para os membros de outra cultura? 5 2. ANTROPOLOGIA 2.1 Origens O estudo científico do homem foi constituído no século XVIII e adotou o nome de Antropologia. No zelo enciclopédico do século de luzes, Diderot deu conta de alguns significados do conceito, segundo os quais: Forma de se expressar dos escritores sagrados que atribuíam a Deus as partes, ações ou condições exclusivas dos homens. Na economia animal de Techmeyer e Drake (1739), Antropologia é definida como o estudo do homem (DIDEROT, 1785, p. 740). Os antecedentes do pensamento antropológico manifestam-se no acompanhamento do processo de colonização generalizada do mundo pelos europeus, a partir de 1492. Primeiro, foi a perplexidade ante o chamado “novo mundo”, após a conquista dos povos nativos e da colonização, compreendida como a imposição material, social e simbólica da Europa sobre os grupos indígenas. Buffon e Saint-Hilaire representam dois pensadores indiscutíveis do surgimento da Antropologia. O primeiro pode ser considerado o pioneiro do domínio da disciplina. Saint-Hilaire fez uma contribuição fundamental para o estudo dos elementos autoformativos da espécie humana. Pode-se considerar pioneiro o trabalho de Buffon, História natural, general y particular (BUFFON, 1794). No século XIX, houve uma intensa atividade científica pela qual se constituíram e estabeleceram as principais disciplinas científicas e suas práticas. A Antropologia não foi exceção e, ainda mais, foi um bom objeto de estudo para entender os processos institucionais da ciência. Assim, em 1799, Louis-François Jauffret e Joseph de Maimieux fundam em Paris a primeira sociedade antropológica Société des Observateurs de l’Homme (BRO-CA, 1870, apud HERNÁNDEZ, 2015). A palavra “antropologia” aparece pela primeira vez na academia do Renascimento francês. No entanto, como disciplina acadêmica é relativamente jovem. Suas raízes podem ser encontradas no Iluminismo do século XVIII e início do século XIX na Europa e na América do Norte. Na medida em que as nações europeias estabeleceram colônias em diversas regiões do planeta, e os norte-americanos expandiam-separa o Oeste e para o Sul 6 dominando os territórios indígenas, ficou claro para os colonizadores que a humanidade era extremamente variada. A Antropologia começou, em parte, como uma tentativa dos membros das sociedades científicas de registrar objetivamente e compreender essa variação. A curiosidade relacionada com esses povos e seus costumes motivaram os primeiros antropólogos amadores. Por profissão, eles eram naturalistas, médicos, clérigos cristãos, ou exploradores. A partir da segunda metade do século XIX, a Antropologia foi considerada uma disciplina acadêmica nas universidades norte-americanas e ocidentais. Hoje, é uma ciência estudada no mundo inteiro (O’NEIL, 2013). Em suma, podemos definir Antropologia como uma ciência que objetiva descrever no sentido mais amplo possível o que significa ser humano (LAVENDA & SCHULTZ, 2014). 2.2 Conceito Figura 1: Conceito de Antropologia. Fonte: (SILVA, 2003). Antes de tudo, vamos analisar a etimologia da palavra “antropologia”. Esta é formada por dois radicais de origem grega: ➢ “Anthropos”, que significa homem, e ‘logos’, que significa ciência. Assim, podemos dizer que ... 7 ✓ Mas o que isso quer dizer? ✓ Qual o sentido de estudar o homem? ✓ Qual homem é esse estudado pela Antropologia? ✓ Como realizar o estudo do homem? ✓ Antropologia é Ciência? ✓ Como interpretar a sociedade a partir da Antropologia? ✓ A quem serve a Antropologia? ✓ Para que Antropologia? Todas essas perguntas vão sendo esclarecidas ao longo desta disciplina fim de que se possa aproveitar a discussão e levar um pouco dela para a vida profissional. Inicia-se dizendo que a Antropologia propõe um olhar integral sobre o homem, que considere aspectos biológicos, sociais e culturais. Nesse sentido, cabe observar, analisar e compreender as inúmeras dimensões atribuídas aos seres humanos em sociedade, a fim de compreender suas modificações ao longo do tempo. Assim, François Laplantine (2003), em sua obra Aprender Antropologia, é mais preciso ao enfatizar o estudo do homem para além de um recorte temporal e territorial específicos, como diz “A antropologia não é apenas o estudo de tudo que compõe uma sociedade. Ela é o estudo de todas as sociedades humanas (a nossa inclusive), ou seja, das culturas da humanidade como um todo em suas diversidades históricas” (LAPLANTINE, 2003, p. 12). O homem sempre foi um curioso de si próprio. E tendo estudado inicialmente a natureza, ele passou a observar, analisar e compreender o próprio homem por meio de métodos científicos importados das Ciências Biológicas até que as próprias disciplinas das Ciências Humanas desenvolvessem suas metodologias. Com isso, essas aprendizagens iniciais sobre o estudo do homem vão dando corpo a um saber cientifico sobre os seres humanos e seu modo de vida, possibilitando uma reflexão mais aprofundada em relação aos fenômenos das sociedades (Figura 2). Figura 2: A Antropologia - Um Olhar sobre as Sociedades. “Antropologia é o estudo do homem”. 8 Fonte: Fonte: (SILVA, 2003). Cabe enfatizar que a antropologia é um movimento epistemológico importante no pensamento cientifico, pois o homem deixa de se perceber como o “centro da humanidade” e passa a olhar o outro, a fim de acessar, conhecer, estudar e compreender o seu modo de habitar o mundo. Ou seja, perceber-se em meio a outros é um exercício de reflexão que nos desloca a compreender as múltiplas possibilidades de viver em sociedade, apreendendo que não cabe impor um único estilo de vida para todos os seres humanos. Figura 3: História da Antropologia. Fonte: Fonte: (SILVA, 2003). 9 2.3 Objetivos da Antropologia A Antropologia é uma Ciência – um estudo sistemático que visa, através da experiência, observação e dedução, produzir explicações contáveis de fenômenos, com referência ao mundo material e físico (WEBSTER’S NEW WORLD ENCYCLOPEDIA, 1993, p. 937). Assim, o objetivo principal da Antropologia é estudar a sociedade humana, instituições sociais e cultura, em sua forma mais elementar. Além de ser útil para a compreensão das sociedades humanas atuais, contribui no conhecimento da história humana e natureza das instituições sociais. Portanto, a Antropologia Social está intimamente relacionada com a História e a Arqueologia (NEENA, 2011). Guerra (2018) complementa, afirmando que a Antropologia investiga as culturas humanas no tempo e no espaço, suas origens e desenvolvimento, suas semelhanças e diferenças. Tem seu foco de interesse voltado para o conhecimento do comportamento cultural humano, adquirido por aprendizado social. A partir da compreensão da variedade de procedimentos culturais dentro dos contextos em que são produzidos, a Antropologia, como o estudo das culturas, contribui para erradicar preconceitos derivados do etnocentrismo, fomentar o relativismo cultural e o respeito à diversidade. 2.4 Campos de Atuação Quando perguntado o que eles fazem, a maioria dos antropólogos responde que estudam Antropologia Biológica, Arqueologia, ou alguma outra subdisciplina do campo. O âmbito da Antropologia é tão amplo hoje, que poucos se consideram competentes em todas as áreas. Em um extremo, antropólogos biológicos exploram os fatos relativamente objetivos e quantificáveis da Biologia Molecular e os mecanismos de herança genética e evolução. No outro, os antropólogos culturais abordam a realidade subjetiva das atitudes, percepções e crenças culturais (O’NEIL, 2013). Pela diversidade de assuntos tratados, a Antropologia tornou-se um conjunto de quatro campos ou disciplinas especializadas: 10 • Antropologia Biológica ou Física: estuda as bases biológicas do comportamento humano, bem como a evolução do homem. Inclui disciplinas como a Genética, Paleoantropologia (estudos da evolução humana a partir de fósseis de hominídeos), Primatologia, Etologia, Sociobiologia etc. • Arqueologia: estuda vestígios materiais de culturas humanas desaparecidas, como ossadas, palácios, pirâmides, fortalezas, vias de comunicação, ferramentas etc.; busca conhecer o passado das sociedades humanas. Descreve o auge e a decadência de culturas e os fatores que influenciaram o seu desenvolvimento. A Antropologia contribui na explicação das práticas culturais, tais como guerra, caça, horticultura, estratificação social etc. • Antropologia Linguística: estuda a variedade de línguas faladas pelo homem, a sua função e origem, bem como a influência da linguagem na cultura e vice-versa. • Antropologia Cultural ou Social: o estudo comparativo das sociedades humanas: sua variabilidade cultural, estilos de vida, práticas, costumes, tradições, instituições, normas e códigos de conduta do passado e do presente (FERNANDEZ, 2014). A Antropologia, embora autônoma, relaciona-se com outras ciências, trocando experiências e conhecimentos. Como ciência social, oferece e recebe dados teóricos e metodológicos da: • Sociologia; • História; • Psicologia; • Geografia; • Economia; • Ciência Política. Como ciência biológica ou natural liga-se: • Biologia; • Genética; • Anatomia; • Fisiologia; • Embriologia; • Medicina. 11 Também a Geologia, a Zoologia, a Botânica, a Química e a Física vêm oferecendo indispensável contribuição aos estudos antropológicos na busca da compreensão dos problemas comuns a todas essas disciplinas. A Antropologia,considerada a mais jovem das ciências, teve que aguardar o desenvolvimento dos conhecimentos ligados à Geologia, à Genética, à Biologia, à Sociologia para que pudesse se desenvolver. Pode-se afirmar que, somente após os conhecimentos da célula e da evolução terem sido formulados e aplicados ao homem, é que a Antropologia se sistematizou e progrediu como ciência do homem. Mantém relações interdisciplinares mais íntimas com as ciências que centram seu interesse especialmente no estudo do homem e que emprestam a ela os dados pesquisados e acumulados em relação a todos os aspectos da existência humana: Sociologia, Psicologia, Economia Política, Geografia Humana, Direito e História. A Antropologia vem firmando-se como ciência do homem que exige, cada vez mais, a cooperação entre os seus especialistas e os de outras ciências, pois cada série de problemas requer a utilização de métodos específicos altamente técnicos. 2.5 Sociologia De todas as ciências sociais, a Sociologia é a que mantém relações mais íntimas com a Antropologia, em função de seus interesses teóricos e práticos, salvaguardando a especificidade de cada uma. Antropólogos e sociólogos emprestam-se mutuamente os dados obtidos nas pesquisas, que passam a ter, com esses especialistas, tratamento teórico adequado. Antropologia e Sociologia auxiliam-se na compreensão do caráter global do homem, enquanto reunido em sociedade. A primeira empresta o seu conceito de cultura, largamente utilizado pela Sociologia, que, por sua vez, enfatiza o conceito de sociedade. Como afirma o antropólogo Kluckhohn (1972, p. 284), “a abordagem sociológica tem-se inclinado para o que é prático e presente, a antropológica, para o que é pura compreensão e passado”. Ambas se valem de: • Teorias; • Conceitos; • Métodos; • Técnicas desenvolvidos pelos seus especialistas. 12 2.6 Psicologia As relações entre essas duas ciências são bastante estreitas, uma vez que ambas têm como foco de interesse o comportamento humano. A Antropologia ocupa-se do comportamento grupal, e a Psicologia, do comportamento individual. Os antropólogos buscam, nos dados levantados pelos psicólogos, explicações para a complexidade das culturas e do comportamento humano e para a interpretação dos sistemas culturais relacionados com os tipos de personalidade correspondentes. Indagam-se, assim, quais seriam os motivos da conduta social e qual o papel da cultura no processo de adaptação humana. Fatores biológicos, ambientais e culturais são as variáveis explicativas das diferenças individuais que determinam os diversos tipos de personalidade básicos das culturas. Na tarefa de proceder a esse conhecimento, antropólogos e psicólogos auxiliam-se mutuamente, fornecendo dados que propiciam a compreensão de problemas comuns. 2.7 Economia e política As relações interdisciplinares com a Economia e a Política são justificadas, uma vez que a Antropologia, ao se preocupar com a globalidade da cultura, enfatiza o conhecimento das instituições econômicas e políticas. Todo grupo humano, por mais simples que seja, tem sua organização econômica sistematizada, com base nos recursos disponíveis e no trabalho realizado. A Economia, tendo criado uma série de teorias, é capaz de explicar, de modo geral, todo o procedimento econômico humano. Por outro lado, a Antropologia, documentando numerosos sistemas existentes na Terra, tem uma perspectiva mais ampla das organizações econômicas. Desse modo, ambas podem trocar informações valiosas para a melhor compreensão desse setor da cultura. Toda sociedade se organiza politicamente por meio de um complexo de instituições que regula o poder, a ordem e a integridade do grupo. Nas sociedades simples, a organização política varia muito, relacionando-se quase sempre com o ritual, o sagrado e os laços de parentesco. Antropólogos e 13 cientistas políticos encontram um ponto em comum. Se, por um lado, a Política se desenvolveu no sentido de compreender as várias modalidades de formas de governo e de Estado, por outro, os focos de interesse da Antropologia, sob esse aspecto, são imensos. O intercâmbio de ideias enriquece o campo das duas ciências do homem. 2.8 Outras ciências A História permite a reconstrução das culturas que já desapareceram, indagando, muitas vezes, sobre as origens dos fenômenos que se relacionam com o homem. Por meio da Etno-história, é possível a reconstrução de culturas ágrafas do presente que estiveram ou estão em contato com a civilização. A contribuição da Geografia Humana aos estudos antropológicos é inestimável, interessando-se ambas pela adaptação do homem e pela modificação do meio ambiente. O geógrafo estuda as mudanças do habitat provocadas por tecnologias novas, por inovações culturais etc. O estudo do meio físico de um grupo tribal é foco de atenção tanto do antropólogo quanto do geógrafo humano. O conhecimento da Biologia, em geral, e da Biologia Humana, em especial, deve fazer parte da formação do antropólogo físico, que tem seu interesse centrado na evolução do homem. Antropologia e Biologia mantêm íntimas relações que facilitam sobremaneira a tarefa dos seus especialistas. As ciências auxiliares, em geral, que se interessam por variadas áreas de experiência humana estão em condições de dar respostas adequadas a questões e problemas específicos. Além dessas, várias outras ciências como a • Geologia • Paleontologia • Metalurgia • Arquitetura • Engenharia • Zoologia • Botânica • Fisiologia 14 • Anatomia • Farmacologia • Astronomia • Artes. Em geral, todas ciências podem colaborar com o antropólogo nas suas mais variadas atividades. 2.9 Metodologia da Antropologia O propósito da ciência é criar conhecimento científico. Conhecimento científico refere-se a um corpo generalizado de leis e teorias para explicar um fenômeno ou comportamento adquiridos usando o método científico. As leis são padrões observados de fenômenos ou comportamentos, enquanto as teorias são explicações sistemáticas do fenômeno ou comportamento. Por exemplo: A estratégia utilizada em qualquer pesquisa científica fundamenta-se em uma rede de pressupostos ontológicos e da natureza humana que definem o ponto de vista que o pesquisador tem do mundo que o rodeia. Esses pressupostos proporcionam as bases do trabalho científico, fazendo que o pesquisador tenda a ver e a interpretar o mundo sob determinada perspectiva. É absolutamente necessário que possam ser identificados os pressupostos do pesquisador em relação ao homem, à sociedade e ao mundo em geral. Fazendo isso, pode-se identificar a perspectiva epistemológica utilizada pelo pesquisador. Essa perspectiva orientará a escolha do método, metodologia e técnicas a serem utilizados em uma pesquisa. Em Física, as leis de movimento de Newton descrevem o que acontece quando um objeto está em um estado de repouso ou movimento (a primeira lei de Newton), a força necessária para mover um objeto em repouso ou deter um objeto em movimento (a segunda lei de Newton) e o que acontece quando dois objetos colidem – ação e reação (terceira lei de Newton). 15 2.10 Método indutivo A indução é um processo pelo qual, partindo de dados ou observações particulares constatadas, podemos chegar a proposições gerais. Por exemplo; Assim, o método indutivo parte de premissas dos fatos observados para chegar a uma conclusão que contém informações sobre fatos ou situações não observadas. O caminho vai do particular ao geral, dos indivíduos às espécies, dos fatos às leis.As premissas que formam a base da argumentação (antecedentes) apenas se referem a alguns casos. A conclusão é geral, utilizando o pronome indefinido todo. Segundo Lakatos e Marconi (1983, p. 48), para não cometer equívocos, impõem-se três etapas que orientam a processo indutivo: 1. Certificar-se de que é essencial a relação que se pretende generalizar; 2. Assegurar-se de que sejam idênticos os fenômenos ou fatos dos quais se pretende generalizar uma relação; 3. Não perder de vista o aspecto quantitativo dos fatos – impõe-se essa regra, já que a ciência é essencialmente quantitativa. 2.11 Método dedutivo Tal método faz o caminho oposto ao método indutivo. Enquanto o método indutivo parte de casos específicos para tentar chegar a uma regra geral (o que, muitas vezes, leva a uma generalização indevida), o método dedutivo parte da compreensão da regra geral para então compreender os casos específicos. 2.12 Método hipotético-dedutivo Este gato tem quatro patas e um rabo, esse tem quatro patas e um rabo. Os gatos que eu tenho visto têm quatro patas e um rabo. Assim, pela lógica indutiva, posso afirmar que todos os gatos têm quatro patas e um rabo. 16 O método hipotético-dedutivo deve seu nome a duas fases fundamentais da pesquisa: a formulação da hipótese e a dedução de consequências que deve ser contrastada com a experiência. Surge de uma crítica profunda ao indutivismo metodológico. Esse método pressupõe o uso de inferências dedutivas como teste de hipóteses. 2.13 Técnicas de pesquisa da Antropologia No campo biológico, são utilizadas técnicas clássicas da Antropologia Física, ou seja, a mensuração, ao lado de outras mais modernas, de datação. Para tanto, a coleta intensiva de dados vem sendo feita há mais de um século, usando-se a mensuração como principal técnica no trato desse material. As informações descritivas das medidas antropométricas (cabeça, rosto, corpo, membros) são o primeiro passo para o conhecimento do material investigado. Quando se trata de restos fósseis, as técnicas usadas são as de datação. No campo cultural, o antropólogo desenvolve recursos e técnicas de pesquisa ligados à observação de campo. Este é o seu laboratório, onde aplica a técnica da observação direta, que se completa com a entrevista e a utilização de formulários para registro de dados. 3. PERSPECTIVAS DE ANÁLISE DO PENSAMENTO ANTROPOLÓGICO Campo de Estudos da Antropologia - subconjuntos que traçam as perspectivas de análise que compuseram o desenvolvimento da disciplina: 3.1 Antropologia Pré-Histórica Os estudiosos da área de antropologia se interessam pela pesquisa dos seres humanos existentes, mas também daqueles que já deixaram de existir. Denominamos Antropologia pré-histórica o estudo que busca reconstituir e entender as sociedades antepassadas, por meio de vestígios materiais da presença humana enterrados no solo. Essa perspectiva de análise da Antropologia, preocupada com sociedades que 17 não existem mais, ganhou métodos, conceitos e aporte teórico próprios, sendo intitulada de Arqueologia. Sabe-se que os homens se adaptaram em meio a transformações em seus organismos, e eles tiveram de lidar ao longo de 2 milhões de anos. Dessa maneira, cabe aos arqueólogos desvendar e explicar as mudanças que ocorreram nas sociedades por meio de registros arqueológicos, sendo eles materiais, peças, artefatos que constituíram o modo de vida desses antepassados. A partir desses materiais, os arqueólogos vão propor hipóteses e teorias sobre como as sociedades se desenvolveram ao longo do tempo, além de compreenderem as características culturais pertencentes aos povos e grupos que deixaram de existir. Nesse sentido, conhecer a cultura de uma sociedade que não mais existe a partir dos seus vestígios materiais permite acessar elementos que compõem a identidade dessa sociedade. Como o arqueólogo Pedro Funari (2013, p. 101) reforça sobre essa disciplina, “a criação e a valorização de uma identidade nacional ou cultural relacionam- -se, muitas vezes, com a Arqueologia”. A metodologia utilizada para esse trabalho também é científica, uma vez que a disciplina estabelece procedimentos sistemáticos para acessar os objetos e desenvolve um arcabouço teórico para interpretar a relação entre esses objetos e os antepassados. Conforme Bahn e Renfren (1998), os passos e técnicas empregadas na Arqueologia envolvem: o levantamento de informações sobre o local, que pode ser através da escrita ou da oralidade; a prospecção do local, que são intervenções no subsolo para buscar primeiros vestígios materiais para definir a área de interesse; a escavação da área, que pode ser realizada com a utilização de instrumentos elétricos ou mesmo com a ajuda de objetos usando a força humana; e a análise arqueológica, que é quando os materiais, encontrados nos sítios arqueológicos, são levados para análise no laboratório. Esses locais onde ocorre o trabalho de campo são os chamados sítios arqueológicos. Nesses sítios, existem indícios de ocupação humana no passado, e, a partir de uma pesquisa arqueológica, podem ser encontrados diversos materiais que denotam a vida de sociedades antepassadas, como: • Ossos humanos, • Artesanatos, 18 • Cerâmicas, • Pedras, • Representações rupestres, • Restos de alimentos, entre outros. Sobre esses “dados”, o arqueólogo Gordon Childe (1961, p. 11) lembra que “Todos os dados arqueológicos constituem expressões de pensamentos e de finalidades humanas e só tem interesse como tal”. Assim, analisando o material colhido, tanto de cunho cultural como biológico, é possível compreender as mudanças e proximidades entre o modo de vida dessas sociedades com as culturas atuais. Nesse sentido, até mesmo o avanço tecnológico pode ser estudado por meio dos instrumentos e ferramentas descobertas, como as lanças feitas de pedras lascadas. 3.2 Antropologia Linguística Uma das principais questões que diferencia os animais dos seres humanos é a linguagem. Ainda que os animais emitam som em sua comunicação, há um limite nesse alcance comunicativo. Já a complexa linguagem humana é um atributo relevante do desenvolvimento dos seres humanos, uma vez que, através dela, acessamos o modo como os indivíduos vivem e se relacionam. Segundo a teoria da gramática universal (VITRAL, 1998), existem aspectos sintáticos da linguagem que são comuns a todas as línguas do mundo. Então, essa linguagem permeia uma gramática bastante desenvolvida há milhares de anos, o que torna possível refletir sobre as características universais da língua, que se difundem pelas culturas existentes. Um profundo estudioso no assunto, o antropólogo e linguista alemão Edward Sapir fez uma análise, em sua obra Language (1921), de que as próprias culturas poderiam ser pensadas como linguagens, uma vez que ele estava interessado justamente em como as formas culturais – e então as linguagens – são apropriadas e recriadas para expressar a comunicação de outras sociedades. Cabe perceber que até uma mesma língua, como o português, por exemplo, pode ter variações interpretativas e utilizações de palavras com formas distintas a partir das mudanças de sons, diferenças gramaticais e de vocabulário. 19 Assim, também é possível fazer a reconstituição de línguas antigas com- parando com a linguagem dos descendentes contemporâneos, traçando, então, um paralelo cultural histórico e desvendando relações entre sociedades que estabeleceram trocas culturais e influenciaram umas às outras. Pela linguagem, descobre-se como os povos avaliam,classificam, separam e percebem o que está em torno deles, sendo que esse modo de ver o mundo traz a especificidade cultural e até mesmo as relações desta sociedade com as outras que foram contemporâneas a ela. Ao mesmo tempo, questões culturais que envolvam os estudos de linguagem podem ser estudadas e aprofundadas por outras disciplinas. Uma dessas áreas, que a pesquisa sobre o assunto pode ser bastante frutífera, é a área da Educação, como diz Collins (2015, p. 1197): 3.3 Antropologia Psicológica Nessa perspectiva de análise do pensamento antropológico, foi abordado o estudo dos processos e funcionamento do psiquismo dos anos 70, levando em consideração que as ocorrências culturais e sociais incidem na psicologia individual e nos fundamentos psicológicos de comportamentos. Por muito tempo, a ideia interessada era justamente da relação entre a mente e o mundo, pois não haveria como os indivíduos interagirem com esse mundo sem as suas mentes. Assim, os antropólogos evidenciaram a questão da psique para estabelecer seus estudos, como explica Laplantine (1988, p. 11): O campo da antropologia linguística, por causa de sua ênfase no significado interacional situado e seu estudo intensivo de eventos comunicativos e princípios estruturantes interventor, tem contribuições especificas para dar à pesquisa educacional sobre práticas de letramento. De fato, o antropólogo é em primeira instância confrontado não a conjuntos sociais, e sim a indivíduos. Ou seja, somente através dos comportamentos – conscientes e inconscientes – dos seres humanos particulares podemos apreender essa totalidade sem a qual não é antropologia. É a razão pela qual a dimensão psicológica (e também psicopatológica) é absolutamente indissociável do campo do qual procuramos aqui dar conta. Ela é parte integrante dele. 20 Ao mesmo tempo, existem processos corpóreos, como deficiências, convulsões e até doenças, que podem ser percebidos, por indivíduos e seus grupos sociais, como resultado de acontecimentos de fenômenos culturais baseados em suas crenças e valores das sociedades, como má sorte, olho gordo, feitiço, entre outros. Entretanto, para esses povos e culturas, seria desconsiderado as explicações da biologia e da natureza, pois a única explicação que faz sentido nesse seu arcabouço cultural é relativa às suas vivências culturais e seus modos de vida. Logo, os estudos possibilitados por essa perspectiva envolvem a interação dos processos culturais e mentais, de modo que a forma de perceber e de se relacionar com o mundo remetem pela biologia do indivíduo. Assim, cabe estudar como os processos biológicos e psicológicos também embasam a constituição dos fenômenos sociais expressos pelas relações entre indivíduos e grupos sociais. 3.4 Antropologia Social e Cultural No final do século XIX, o foco se dá no estudo, descrição e análise dos comportamentos sociais e estrutura social que caracterizam as diferentes sociedades existentes. Interessa, nessa perspectiva de análise do pensamento antropológico, tudo o que diz respeito à religião, às criações artísticas, às crenças, aos valores, à produção econômica, ao parentesco, às vestimentas, aos gostos, à alimentação, entre outros. Como nos lembra Marconi e Pressotto (2010), nado há diferencia substancial entre o “cultural” e o “social”, mas cabe dizer que os antropólogos ingleses estavam mais voltados para a Antropologia Social, e os americanos do o preferência à Antropologia Cultural. Podemos dizer que a vantagem dos estudos de culturas e sociedades contemporâneas é a possibilidade de o pesquisador conviver em meio aos seus membros para acessar, conhecer e registrar o seu modo de vida. Logo, é desenvolvida uma metodologia especifica a fim de registrar e analisar os atributos culturais que interessam ao pesquisador. Trata-se da etnografia. Magnani (2010, p. 135) define a etnografia como: [...] é uma forma especial de operar em que o pesquisador entra em contato com o universo dos pesquisados e compartilha seu horizonte, não para permanecer lá ou mesmo para atestar a lógica de sua visão de mundo, mas para, seguindo-os até onde seja possível, numa verdadeira relação de troca, comparar suas próprias teorias com as deles e assim tentar sair com um modelo novo de entendimento ou, ao menos, com uma pista nova, não prevista anteriormente. 21 Desse modo, a etnografia não é só um convívio desinteressado com o outro, pelo contrário, trata-se de um processo metodológico de busca, convivência e compreensão de modos de vida diferentes dos nossos. Essa relação de troca entre o pesquisador e o pesquisado, permite-nos acessar os meandros da vida social de culturas que pouco ou nada sabíamos possibilitado pelo “encontro etnográfico” (OLIVEIRA, 1998), no qual ambos interlocutores trocam ideias sobre o mundo em que vivem. Assim, o etnográfico observa, mas também participa dessa relação com o outro, que é referenciada pelo encontro entre seus horizontes. Desse encontro, cabe realizar registros escritos em diários de campo para compor o material de análise. A própria etimologia da palavra etnografia infere a ideia de escrever sobre um povo. Juntamente a essa escrita, ainda é possível realizar entrevistas com alguns interlocutores, fotografar dança, rituais e outras performances pertinentes ao estudo, formular organogramas sobre a estrutura da sociedade estudada, tudo isso a fim de produzir materiais complementares e facilitar as interpretações em relação ao modo de vida do outro. Entretanto, essa perspectiva de análise da Antropologia ainda se ramifica na etnologia, que tem como objetivo examinar, analisar e, principalmente, comparar dados registrados de diferentes sociedades, a fim de propor generalizações sobre a sociedade e a cultura. Com essas comparações e contrastes, cabia destacar diferenças e similaridades para refletir sobre os sistemas sociais e culturais. 4. A ANTROPOLOGIA AO LONGO DA HISTÓRIA DA HUMANIDADE 4.1 A Pré-História A pré-história da antropologia tem origem, os séculos XV e XVI, nessa época as informações, acerca de outros povos distantes, eram dadas por viajantes. Nessa ocasião, cogitaram duas ideologias adversárias. A primeira defendia a ideia de que os povos primitivos eram selvagens, não tinham história, nem costumes culturais. Eles não tinham tudo o que defensores apresentavam ter. No caso da segunda ideia ressaltavam os aspectos desses povos em relação o que conseguiram desenvolver e 22 organizar; os sistemas políticos e econômicos se apresentavam em melhores condições em harmonia com a natureza que os outros não conseguiram. No século XVI, alguns dos pensadores interrogaram se os bárbaros, não eram eles, como afirma Francois Laplantine (2000), que defendiam a “ingenuidade original” do estado de natureza. Podemos perceber o quanto por trás dessas duas posições há uma visão sobre o Ocidente, uma visão negativa, de recusa do estranho. Aqueles que viam as virtudes dos povos tradicionais tinham uma visão negativa do Ocidente. Para concluir o despontar da Antropologia como ciência está relacionado ao contexto com a intenção de buscar diferentes formas de vida, que ajude a ver as coisas do mundo como uma relação capaz de ter tido um nascimento, capaz de ter um fim ou uma transformação. Mas, este é um aprendizado que deve ser executado a partir da problematização, analisando os pressupostos, ideias, convenções, escrita, formas de representar a alteridade – O conceito do ocidental de alteridade girou nos últimos séculos entre dois polos; se imagina uma alteridade, sobre o Outro, e, logo sobre simesmo, uma ilusória. O Outro é a referência tomada como motivo, para legitimar práticas de exploração econômica, militares, políticas, de conversão religiosa ou de emoção estética. A Antropologia mostrou o lugar e a posição do Homem através do estabelecimento de escalas, parâmetros e conceitos que comprovaria e determinaria ao que se cabe à categoria Homem e por conseguinte, de humano. ➢ Saiba Mais: Conceito de Alteridade: A Antropologia é conhecida como ciência da alteridade, porque tem como objetivo o estudo do Homem na sua plenitude e dos fenômenos que o envolvem. Com um objeto de estudo tão vasto e complexo é imperativo pode estudar as diferenças entre várias culturas e etnias. Como a alteridade é o estudo das diferenças e o estudo do outro, ela assume um papel essencial na antropologia. ➢ Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pp/v19n3/v19n3a04 23 Figura 4: Evolução do homem. Fonte: (SILVA, 2003). 4.2 Períodos da Antropologia Como toda ciência, não existe uma data específica para o nascimento da Antropologia. Seu nascimento se dá sempre por um processo lento que implica em criação, acumulação e reformulação de conhecimento. 4.3 Período de formação Este período começa com a própria cultura da humanidade. Diz respeito com toda reflexão do homem sobre si e sobre o universo que o cerca. A preocupação com a origem, a realidade e o destino do Homem sempre esteve presente em todos os povos e sociedades, das mais primitivas às mais modernas. Como afirma Mercier apud Mello (1982, p.180 ). [...] o fato importante é que toda sociedade, tendo ou não atingido a fase cientifica, construiu uma Antropologia a seu jeito: toda organização social, toda cultura tem sido interpretada pelos homens que dela participa; e mais, as próprias noções de organização social e de cultura podem, elas mesmas, ser objeto de reflexão. Sob este ponto de vista a pré-história da Antropologia é longa, tão longa quanto a história da humanidade. Esta Antropologia espontânea não pode ser separada do conjunto de interpretações que o homem elabora a respeito de sua própria condição e está em geral ligada a uma cosmologia. Uma ou outra figuram como temas de estudos da Antropologia científica e certas escolas de pesquisa dão uma importância especial a este aspecto da realidade sociocultural. (MERCIER apud MELLO, 1982, p.180 ). 24 4.4 Período de convergência Mercier (1982), considera esse período como o período de construção. Ele considera que existe uma unidade em torno do conceito de evolução, desde o segundo quartel do século XIX. Até o limiar do século XX. Este conceito de evolução, entre 1830 e 1840, está sempre presente, animando as pesquisas e reflexões nos domínios mais diversos como a Biologia, Sociologia e Filosofia, o que dará a Antro- pologia o seu primeiro impulso e ao período que se estende até quase o final do século sua unidade. Alguns autores ignorarão ou recusarão o evolucionismo, deste modo surgirão temas menores que só tomarão amplitude no século seguinte, mas a maioria o reenvidará. Robert Harry Lowie (1946), deu-lhe um lugar de destaque entre os pais da Antropologia. Pode-se situar o final deste período por volta de 1896, quando foi apresentada a comunicação de Franz Boas (1896), intitulada The Limitations of Comparative Method in Anthopology (Limitações do método comparativo na Antropologia). É a primeira contestação vigorosa aos métodos utilizados até então, pela quase totalidade dos antropólogos, estreitamente ligados às teses evolucionistas; é acompanhada de uma tentativa de definição de métodos mais realistas e seguros para a abordagem do estudo dos fatos socioculturais. A razão do título deste segundo período – de convergências – está no fenômeno que teve início no terceiro decênio do século XIX. Na verdade, Barbachano, é quem levanta a questão no seguinte enunciado: as variadas formulações sobre a sociedade e a cultura surgida na Europa, nos séculos XVIII e XIX, convergem para três objetivos comuns ou seja: a origem, a idade e a mudança. Outro fato marcante desse período foi o surgimento de várias revisas e numerosas associações científicas. Neste período foram fundadas, entre outras, as seguintes associações científicas: Société d’Ethnologie (1839) e Société d’Anthropologie (1859). Tais sociedades e outras similares podem ser chamadas de científico-humanitárias se considerarmos que o motivo de sua criação e até os recursos para a sua manutenção estavam ligados a um sentimento de humanitarismo com relação aos povos ditos “primitivos” até então espoliados pelas nações europeias. Houve uma preocupação, senão de todo explícita, ao menos implícita, de proteger os povos primitivos da sanha imperialista que até então tinham sido vítimas. 25 Desde essa época, o antropólogo de campo passou a ser visto como um amigo dos povos primitivos. Em tais sociedades discutem-se a necessidade de proteger a cultura nativa. Desconfiamos que essa preocupação que até hoje perdura não era tanto em face dos direitos dos nativos, mas, em parte, refletia o medo de extinção daqueles povos ameaçando a própria Antropologia. Afinal, a primitividade e a cultura desses povos, eram como de um videoteipe da própria evolução humana. Ali estava o Homem como vivera nos estágios inferiores da evolução. Nomes de realce deste período são muitos: Darwin, Tylor, Herbert Spencer, Conter, Paul Broca e muitos outros. 4.5 Período da construção As associações e sociedades de Antropologia surgem em toda parte. O que distingue este período do anterior é o fato de em 1869, haver aparecido a obra clássica sobre evolução biológica, A origem das espécies, de Charles Darwin. Nesse período é que o evolucionismo alcança seu apogeu como teoria. Convém notar que é aí onde nasce a moderna Antropologia. Seu fundador, Edward Tylor, é evolucionista e seus seguidores também. Essa orientação teórica marca todo restante do século e ainda consegue tomar um certo alento no segundo quartel do século XX, com nomes expressivos, como Gordon Childe e Leslie White. Tylor inaugura esta fase com a publicação da obra em 1871, Cultura primitiva. Nesta Tylor procura com a utilização do método comparativo, mostrar a evolução pela qual passou a religião através dos tempos. Outra obra marcante foi a do norte americano Lewis Morgan, A sociedade Primitiva. Este procurou estabelecer o caminho seguido pela organização familiar através dos vários estágios de desenvolvimento. Edwart Tylor é o nome mais importante da Antropologia Cultural desse período. Foi ele quem definiu o termo cultura e a apresentou-a como objeto da Antropologia, dando-lhe uma sistematização tanto no seu objeto como no seu método: Lewis Morgan, também merece seu realce. É dele o clássico esquema da evolução cultural (selvageria, barbárie e civilização); igualmente importante é o nome de James George Frazer, que também se dedicou ao estudo do fenômeno religioso. 26 4.6 Período da crítica O período da crítica tem início em 1900, e se arrasta até hoje. É, sem dúvida, o período mais fecundo da Antropologia. Os cânones iniciais da Antropologia foram criticados. Novas abordagens foram propostas. Houve um avanço formidável também nas ciências paralelas. Os meios de comunicação progrediram gradativamente permitindo, assim, uma divulgação e comunicação de ideias mais eficientes. A educação foi mais democratizada. O movimento universitário cresceu. A Antropologia passou a ser disciplina obrigatória em muitas universidades. Em1908, a Universidade de Liverpool introduz a primeira cátedra de Antropologia Social na Grã-Bretanha. A preocupação com o desaparecimento dos povos primitivos levou uma parcela de estudiosos a se empenhar numa tarefa, aparentemente de menor importância, de coletar e registrar dados sem uma maior preocupação teórica. Este trabalho é conhecido como etnografia – a descrição dos costumes dos povos. Sabe-se, no entanto que, dificilmente o trabalho etnográfico pode ficar despido de uma conotação teórica. No momento em que se passa a registrar os elementos da cultura, mister se faz uma sistematização. Exigindo uma compreensão do fenômeno cultural, uma teoria a respeito da cultura. Este trabalho foi realizado brilhantemente pela escola americana e teve como nome inspirador Franz Boas apud Mello, 1982, p. 195. Outra orientação estimulante na Antropologia foi a de orientação psicológica que encontrou nos Estados Unidos, seu campo mais fértil. Alguns antropólogos também dedicaram parte de seus esforços ao estudo da linguística. Ainda com respeito aos estudos antropológicos nos EUA. É de salientar o caráter de estudo e pesquisa de campo. Isso não significa que na Europa não tenha havido. Na Inglaterra, por exemplo, o trabalho de campo encontrou em Malinwski um grande expoente. Foi certamente o maior e o mais metódico pesquisador de campo. Formou muitos discípulos na difícil tarefa da pesquisa de campo. Curiosos por observar e na Inglaterra, foi muito comum a prática de estudos ou trabalho de campo servirem para a iniciação dos novos antropólogos. Uma pesquisa de campo era o coroamento da formação do antropólogo. Desse período também, observamos a evolução da escola funcionalista de Malinwski. O funcionalismo da escola de Malinwski não é igual ao que existia até então na Sociologia. Ele apresenta uma nova visão, alvo de críticas, mas é inegável ter 27 aberto uma nova orientação nos estudos antropológicos. A Inglaterra, também, nos deu outro nome que muito se aproximava do francês Émile Durkheim; trata-se do funcionalismo de Radcliffe-Brown. Este falava de estrutura social e seria o criador do estruturalismo inglês que se aproxima do estruturalismo francês de Lévi-Strauss. A França aparece neste período com uma superescola de Antropologia, e seu maior nome é Lévi-Strauss, nem tanto por sua validade e originalidade, mas principalmente por suas ambições de abrangência teórica e amplitude de seu objeto de estudo. Essa escola traz a marca francesa - teoria bem elaborada, mas assaz deficiente no que diz respeito aos métodos e às técnicas de pesquisa de campo. Em suma, esse período e o atual momento dos estudos antropológicos, se encontram em completa ebulição. Muitas frentes de estudos se abrem. A crítica ainda é a sua marca dominante. Os países de Terceiro Mundo são um campo a ser explorado por essas nações e será uma espécie de reflexão sobre suas próprias culturas, ensejando um reflorescimento dos estudos de aculturação, ou seja, um estudo dos efeitos da aculturação secular por elas sofrida. Isso nos leva a um estudo da difusão em ritmo de meios de comunicação sofisticados. Dando início a um novo campo para a Antropologia: os estudos urbanos antropológicos, ou seja, os estudos a respeito da cultura popular, do folclore e dos efeitos da urbanização patógena sobre as manifestações dessa cultura. Como extensão desses estudos estará também o estudo da cultura de massa. 28 5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA MAUSS, M. 1974. Sociologia e Antropologia. São Paulo, EPU. SANTOS, M. 1988. O espaço geográfico como categoria filosófica: espaço em questão. São Paulo, Marco Zero. SILVA, J.M. 2003. Um ensaio sobre as potencialidades do uso do conceito de gênero na análise geográfica. Revista de História Regional. Ponta Grossa, PR, 8(1):31-45. SOUSA, A.C. 1998. Fábrica de Pólvora e Vila Inhomirim: aspectos de dominação e resistência na paisagem e em espaços domésticos (Séc. XIX). Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade de São Paulo. ______ 2005. Arqueologia da Paisagem e a potencialidade interpretativa dos espaços sociais. Habitus. Goiânia, EdUCG: IGPA, 3(2):291-300. ______ 2006. Povoados de Cachoeirinha e Massaranduba (Vale do Jequitinhonha, BA): a relação entre espaço, agentes e contexto socioeconômico. Tese de Doutorado, Salvador, Universidade Federal da Bahia. SPENCER-WOOD, S. 1996. Feminist Historical Archaeology and the Transformation of American Culture by Domestic Reform Movements, 1840-1925. In: CUNZO, L.A.; HERMAN, B.L. 1996. Historical Archaeology and the Study of American Culture. 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