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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS DEPARTAMENTO DE QUÍMICA COORDENAÇÃO DO CURSO TÉCNICO EM QUÍMICA Laboratório de Química Orgânica II Turma: QUI-3A - T2 Prof. Cleverson Fernando Garcia Alunos: Giovanna Teixeira Santos Laura Cristina Silva Simões Data da Prática: 12/06/2019 e 19/06/2019 Síntese e caracterização do biodiesel Belo Horizonte Junho, 2019 2 1. Introdução Pesquisas sobre biocombustíveis vêm sendo realizadas desde o século XX, especialmente em países europeus. Em 1895, Rudolf Diesel criou o motor diesel, mas foi no ano de 1900 que o cientista testou o motor com óleo de amendoim como combustível. Com isso, ele provou que o motor diesel é capaz de funcionar perfeitamente com óleos vegetais.3 O biodiesel é um combustível biodegradável derivado de fontes renováveis, podendo ser obtido a partir de inúmeros processos como o craqueamento, a esterificação ou a transesterificação. A transesterificação é processo mais utilizado atualmente na indústria para a produção de biodiesel. Esse método consiste numa reação química dos óleos vegetais ou gorduras animais com o álcool comum (etanol) ou o metanol, estimulada por um catalisador, da qual também se extrai a glicerina, produto com aplicações diversas na indústria química.1 No Brasil existem diversas espécies vegetais que podem ser utilizados na produção do biodiesel, como o óleo de girassol, amendoim, mamona, soja, entre outros. Porém, atualmente 75% da produção brasileira é feita somente a basedo óleo de soja, 20% com gordura animal e o restante com as demais fontes.3 Uma das principais vantagens de se estimular a produção de biodiesel no Brasil seria diminuir a sua dependência da extração do petróleo e principalmente da importação deste de outros países. Do mesmo modo, a inserção do biodiesel como uma das principais fontes de energia pode contribuir para a diminuição dos danos causados ao meio ambiente pelos combustíveis fósseis, além de aumentar a renda de muitas famílias rurais, potencializando a economia de diversos estados brasileiros.2 Atualmente o biodiesel fabricado no Brasil já é exportado para grandes potências energéticas como Estados Unidos e alguns países da União Europeia, como a Alemanha, principal consumidor mundial. Limitações para o avanço na fabricação de biodiesel na Europa mostram caminhos comerciais estratégicos para a entrada do biocombustível brasileiro.2 Os principais objetivos desta prática foram aprender a síntese do biodiesel a partir do óleo de fritura residual, assim como a sua caracterização por testes físico-químicos. Também foi de objetivo analisar as diferenças da sua produção partindo de uma amostra de óleo de soja residual e uma pura. 3 2. Metodologia 2.1. Materiais, Equipamentos e Reagentes Quadro 1: Listagem dos materiais, equipamentos e reagentes utilizados nesta prática. Materiais Equipamentos Reagentes Erlenmeyer de 250 mL, com tampa Balança semi-analítica, 220 V Hidróxido de potássio PA, sólido (KOH) Vidro relógio Capela de exaustão Solução de metanol, 99,8% (CH3OH) Espátula de metal 1 Espectrofotômetro UV- Vis Varian, Modelo Cary 50, 220 V Solução de cloreto de sódio 10%m/v (NaCl) Proveta de 15 mL Sulfato de sódio anidro PA (Na2SO4) Proveta de 50 mL Óleo de soja residual e puro Funil de decantação de 250 mL Solução de etanol 95% Suporte universal Solução de acetona 99,5% Argola Solução de hexano 98,% Béquer de 250 mL Água destilada Proveta de 20mL Pedaço de algodão Funil de haste longa Frasco coletor de cor âmbar com tampa Balão volumétrico de 5mL Pipeta de Pasteur Tubos de ensaio Estante para tubos de ensaio Béqueres de 100 mL Cubetas para cromatografia Placa cromatográfica de sílica Tubo capilar de ponta recortada Proveta de 5 mL 4 2.2.Procedimento a) Síntese do biodiesel Inicialmente, em uma balança analítica, mediu-se 0,65g de hidróxido de potássio e transferiu-o para um erlenmeyer de 250 mL. Na capela de exaustão, adicionou-se 14 mL de uma solução de etanol ao sólido, em seguida agitando a mistura até essa adquirir caráter homogêneo. Ainda na capela, adicionou-se ao erlenmeyer 50 mL do óleo de soja residual. Tampou- se a vidraria com uma rolha e agitou-se a mistura a cada 3 minutos durante meia hora. Passado o tempo, com o auxílio de um funil de filtração simples, transferiu-se a mistura resultante para um funil de decantação juntamente com 20mL da solução de NaCl10% m/v. Na pia, com o funil devidamente tampado, agitou-o reduzindo a pressão periodicamente. Seguidamente, retirou-se a tampa do funil de decantação e aguardou-se as fases se estabilizarem. Após coletar em um béquer de 250 mL a fase mais densa da mistura, adicionou-se novamente 20mL da solução de cloreto de sódio. Realizou-se este processo mais duas vezes. Em um béquer de 250mL, mediu-se 2,0g do sal de sulfato de sódio anidro.No funil de haste longa, adicionou-se um pedaço de algodão seguido pelo sal. Transferiu-se o líquido restante do funil de decantação para um béquer e filtrou-o no sistema de filtração montado. b) Caracterização do biodiesel Para o teste de densidade, inicialmente determinou-se a massa de um balão volumétrico de 5mL e, em seguida a massa do mesmo contendo uma amostra do biodiesel sintetizado. Já para o teste de solubilidade, adicionou-se 2mL das soluções de acetona, etanol, hexano e metanol, assim como água destilada, aos seus respectivos tubos de ensaio devidamente identificados. Posteriormente, adicionou-se a cada tubo 2 gotas da amostra de biodiesel e agitou-os. Na cromatografia de camada delgada, preparou-se uma solução de óleo de soja e acetona, sendo 5mL de acetona e 5 gotas do óleo. Para o preparo da fase móvel, efetuou- 5 se uma mistura de hexano com acetato de etila na proporção de 9:1, de volume igual a 20mL. Aplicou-se esta solução, assim como a amostra de biodiesel, cinco vezes em suas devidas posições na cromatoplaca e, transferiu-a para a cuba cromatográfica onde permaneceu por aproximadamente 15 minutos. Para a cromatografia no UV-Vis, em um béquer de 250mL adicionou-se 3mL da solução de hexano e uma gota da amostra de biodiesel. Solubilizou-se a mistura e transferiu-a para a cubeta. As leituras dos dados fornecidos pelo espectrofotômetro foram realizadas pelo professor entre 280 e 400 nm. 3. Resultados e Discussão A síntese do Biodiesel foi realizada tendo como base a reação abaixo. Reação 1. Reação geral da síntese do Biodiesel. Essa reação ocorre seguindo um mecanismo que baseia-se no ataque de um nucleófilo a um substrato orgânico (reação 2). Reação 2. Mecanismo da síntese do Biodiesel 6 Na reação de transesterificação reagimos um éster, o triacilglicerol que encontra- se presente no óleo de soja, com um álcool, e metanol originando um novo éster, o biodiesel, e um novo álcool, o glicerol. Nesse processo é necessário utilizar um catalizador básico, que na prática foi o hidróxido de potássio. Esse garante uma vantagem por possuir baixo custo e aumentar significativamente a velocidade da reação, no entanto, por ser uma base forte, ele também pode reagir produzindo sabão, que seria um contaminante. Já com o catalisador sendo um meio ácido a reação ocorrerá sem a formação de sabão, entretanto será mais lenta. A transesterificação também poderia ser realizada utilizando-se o etanol no lugar do metanol. Nesse caso, o biodiesel possuiria os componentes a baixo: Reação 3. Reação de transesterificação com o etanol. Como a reação de transesterificação produz outros produtos além do biodiesel, como o álcool e o sabão, foi necessário efetuara separação desses subprodutos a fim de se obter um biodiesel com maior teor de pureza. A separação foi realizada em um funil de decantação, com a adição de uma solução aquosa de NaCl. Optou-se por utilizar uma solução de cloreto de sódio para compor a fase mais densa ao invés da água pura, pois, esse por se tratar de um sal torna a água mais polar, facilitando a transferência das moléculas que possuem polaridade intermediaria para essa fase, e assim intensificando a separação. Além disso, a solução de NaCl reduz o tempo de emulsão, oferecendo maior vantagem sobre a água pura. No funil de decantação observou-se duas fases imiscíveis, uma contendo o biodiesel sabão e óleo de soja, caso a reação não tenha sido completa. A outra fase seria composta pelo catalisador CH3OK, que foi regenerado durante a reação, água, glicerol e sabão por 7 esse também possuir uma parte polar. Desta forma, pode-se dizer que os possíveis interferentes no produto desejado são o sabão e o óleo de soja. Passada uma semana da prática de síntese do biodiesel, percebeu-se uma opacidade no produto, suspeitando ser causada pela presença de água. Portanto, realizou-se uma filtração simples com sulfato de sódio anidro, como substância secante, retirando-se assim a maior parte da água restante. No entanto, mesmo o produto final apresentando características visuais que se assemelhavam ao biodiesel tornou-se necessário realizar testes de caracterização para descobrir se de fato o produto era o desejado, e também o possível rendimento da reação. O primeiro teste de caracterização efetuado foi a medida da densidade, na qual os valores se encontram na tabela abaixo. Tabela 1. Massas do balão volumétrico vazio e com biodiesel. Materiais Massa (g) Balão volumétrico de 5mL vazio 11,0057 Balão volumétrico de 5mL com biodiesel 15,3864 A densidade do produto encontrada foi de 0,8761. Já, de acordo com a literatura, os valores de densidade do biodiesel na temperatura ambiente, variam entre 0,8795 e 0,8820 g/cm3, enquanto o valor de densidade do óleo de soja é de 0,8910 g/cm3. Através desse resultado, é possível afirmar que o produto encontrado apresentou densidade menor que a faixa esperada, o que não é muito comum já que os possíveis contaminantes possuem densidades maiores. No entanto, esse erro pode ter relação com a temperatura no dia em que efetuou-se a caracterização, com a vidraria utilizada ou até mesmo com uma possível uma contaminação de um subproduto de densidade inferior. Outro teste realizado para a caracterização foi o teste de solubilidade, na qual o resultado pode ser observado no quadro abaixo. 8 Quadro 2. Resultados dos testes de miscibilidade para o produto de síntese Solvente Resultado Acetona Solúvel Água destilada Insolúvel Etanol Insolúvel Hexano Solúvel Metanol Solúvel Os resultados encontrados indicaram insolubilidade do produto obtido apenas em relação a água destilada e o etanol, os solventes mais polares entre os utilizados, evidenciando assim que esse produto possuía menor polaridade em relação a estes solventes. Já comparando-se ao biodiesel, esse resultado mostrou-se dentro do esperado. Também realizou-se a cromatografia em camada delgada como meio de caracterizar o produto obtido. Nesse teste foi possível perceber 4 manchas através do cromatrograma. A mancha que eluiu mais, do produto, é a mancha que representa o biodiesel por se tratar da substância menos polar, e a macha que praticamente possuiu o Rf igual a zero provavelmente era composta pelo sabão, contaminante que possui uma parte muito polar, Portanto, isso mostra que o produto não estava puro. Já as outras duas manchas decorrentes do óleo de soja são correspondentes ao triacilglicerol e ao ácido graxo. O primeiro é evidenciado pela mancha que mais eluiu, por se tratar da substância menos polar presente no óleo, e o segundo corresponde a mancha que menos eluiu, por ser a substância mais polar do óleo. Com base nesse cromatograma percebemos que o biodiesel possui menor polaridade que os triacilglicerois e que ambos os componentes do óleo de soja ao serem reagidos com uma base formam biodiesel e sabão. Nessa cromatografia por se tratar de substâncias incolores foi necessário utilizar os vapores de iodo como revelador. Esse só é capaz de atuar como revelador perante o biodiesel e ao óleo de soja, pelo fato dessas serem substâncias saturadas. E por último foi efetuou-se a análise de espectrofotometria no UV. Essa análise não foi realizada na faixa de 400 a 800nm pelo fato das amostras a serem analisadas não apresentarem cor, portanto, não podem ser analisadas na faixa do visível. A diferença 9 entre os espectros do óleo de soja e do biodiesel é plausível pelo fato dessas duas moléculas se diferenciarem apenas na quantidade de carbonos, já que o triacilglicerol corresponde a um triester e o biodiesel ser apenas um ester. 4. Conclusão Com base nos resultados obtidos pode-se perceber que a reação de transesterificação é capaz de produzir biodiesel como produto final, no entanto, com subprodutos como o sabão, tornando o produto principal impuro. Desta forma, pode-se concluir que para o uso comercial o biodiesel obtido não estaria adequado, sendo necessária a realização de muitos outros testes assim como mais reações para a purificação adequada do mesmo para que cumpra as normas estabelecidas pelo governo em relação a comercialização de biocombustíveis. 5. Referências 1. Biodiesel. Portal do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel. Disponível em: Acesso em: 30/06/2019 2. Importância do biodiesel para o Brasil e para o mundo. Produção de Biodiesel. Disponível em: . Acesso em: 30/06/2019 3. O que é biodiesel?BiodieselBr. Disponível em: Acesso em: 30/06/2019 http://www.biologo.com.br/artigos/biodiesel.html https://www.producaodebiodiesel.com.br/biocombustiveis/importancia-do-biodiesel-para-o-brasil-e-para-o-mundo https://www.producaodebiodiesel.com.br/biocombustiveis/importancia-do-biodiesel-para-o-brasil-e-para-o-mundo https://www.biodieselbr.com/biodiesel/definicao/o-que-e-biodiesel