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Formação Docente Frente às Tendências Pedagógicas Juliana Branco Formação Docente Frente às Tendências Pedagógicas 2 Introdução Olá! Vamos iniciar nosso estudo. Você já pensou na importância de sua formação e de sua profissão? Esse conteúdo é essencial para sua formação, e serão abordados importantes temas relativos à capacitação do futuro professor. Aqui, o futuro professor poderá compreender a prática educativa e a importância da reflexão sobre a realidade, além de entender o conhecimento como condição para a emancipação humana. Para isso, iremos ampliar as discussões sobre a formação docente e o compromisso com a formação cidadã; estudar aspectos legais para a profissionalização docente, discutir aspectos da semiprofissionalização e apontar demandas e críticas sobre o trabalho docente. Ao mesmo tempo, discutiremos sobre a Didática e a sua relação com as tendências pedagógicas. O estudo das tendências pedagógicas permite saber como cada uma delas pode interferir no processo de ensino e aprendizagem. Por fim, também abordaremos questões da profissionalização docente, da importância da formação continuada, das relações interpessoais, entre outros aspectos da formação cidadã. Desejamos boas descobertas! Objetivos da Aprendizagem Ao final do conteúdo, esperamos que você seja capaz de: • Discutir a formação docente e o compromisso com a formação cidadã; • Apresentar as tendências pedagógicas; • Apontar demandas e críticas sobre o trabalho docente. 3 Formação Docente De acordo com Martins (1991), na formação do futuro educador, deve-se considerar que o aluno tende a reproduzir (mesmo que inconscientemente) a forma com que seus professores se relacionam e contribuem para sua formação. Por essa visão, podemos entender que a relação professor-aluno é composta, sobretudo, por um contexto e uma vivência pregressa. É um conteúdo oculto no qual se aprende, muitas vezes, a submissão, o respeito às normas e a obediência, mesmo que de forma não intencional. Assim, mesmo que a teoria estudada indique que o professor deve ter uma relação afetuosa e de diálogo com os alunos, o que vivenciou na sua formação será mais forte e presente. O conteúdo de Didática trabalha o rompimento com os vícios aprendidos e busca discutir as melhores alternativas de alcance dos objetivos educacionais. Desse modo, a Didática, possui um papel importante no processo de ensino e aprendizagem e deve auxiliar a formação docente, sua forma de ensinar, que exprime uma atividade pedagógica, e de aprender, que envolve a realização de uma tarefa com êxito. Por essa perspectiva, a Didática deve possuir um valor ainda mais significativo para quem está do outro lado da docência: o discente. Figura 1 – Relação professor-aluno Fonte: Plataforma Deduca (2023). Assim, a Didática não pode ser reduzida ao ensino de técnicas pelas quais se deseja desenvolver um processo de ensino e aprendizagem. Candau (2009) explica que as primeiras discussões sobre Didática, no Brasil, em cursos de formação de professores, 4 eram acerca da técnica: planos, provas e aulas expositivas. O objetivo era que o futuro professor aprendesse técnicas para ensinar, que envolvia a metodologia e a sequência lógica dos conteúdos. Somente a partir da década de 1980 se inicia um movimento no país para romper essa lógica. Passamos a entender e a estudar a Didática e o ensino como uma prática social articulada e contextualizada a outras práticas dentro do contexto brasileiro. Nesse aspecto, há a preocupação e o compromisso de um ensino que também contemple interesses das camadas populares, que tenha compromisso com a democratização da escola pública e o entendimento da sala de aula como espaço próprio do saber didático-prático. Passamos a questionar a serviço de que e de quem se ensina. Esse é um movimento muito importante do fim do século XX, que conta com importantes educadores como José Carlos Libâneo, Dermeval Saviani, Paulo Freire, entre outros. Ainda segundo Candau (2009), há uma multidimensionalidade no processo de ensino e aprendizagem que deve envolver uma articulação técnica, política e humana, que elabore a reflexão didática a partir da análise e da reflexão sobre experiências concretas, procurando trabalhar continuamente a relação teoria-prática. Veiga (1996) afirma que dificilmente um aluno consideraria um bom professor sem que este “[...] tenha condições básicas de conhecimento de sua matéria de ensino ou habilidades para organizar suas aulas, além de manter as relações positivas” (VEIGA, 1996, p. 145). Isso nos mostra que, no cotidiano da sala de aula, o professor que consegue se aproximar dos alunos e que se preocupa em envolvê-los na aula para que possam assumir responsabilidades com compromisso e afeto é visto como o melhor professor. Sabemos que não são apenas os aspectos afetivos que são relevantes nessa relação. Os valores e as qualidades do professor que consegue fortalecer os laços com os alunos também estão presentes na forma como ele lida com os conteúdos e com a situação de aprendizagem. Dessa forma, evidenciamos que a relação professor-aluno perpassa os conteúdos pela metodologia e pela forma com que o professor se relaciona com a sua disciplina e com a construção do conhecimento pelos alunos. Desse modo, a relação contempla a dedicação do professor em buscar formas mais atrativas de desenvolver sua aula e sua preocupação com as potencialidades e o desenvolvimento dos alunos. Além disso, essa relação é beneficiada pelas formas dialógicas de interação cativadas no cotidiano escolar. 5 Assista ao vídeo do professor Libâneo, Desafios do futuro, disponível no link. Saiba mais Consideramos que, entre as qualidades dos melhores professores, destacam-se: domínio do conteúdo; apresentação da matéria adequadamente; bom relacionamento com o grupo; clima positivo na sala; senso de humor; prazer de ensinar e capacidade de tornar a aula interessante. Entre alunos e professores, há expectativas em relação ao desempenho de cada um. A escola determina os comportamentos que deseja de seus integrantes, sendo também determinada pelas expectativas que a sociedade tem dela. O Ensinar e o Educar no Contexto da Formação Cidadã O cenário nacional nos faz entender a importância da maior participação do cidadão nas decisões políticas que afetam toda população e na fiscalização dos recursos públicos. Nesse contexto, o papel da escola pode ser o de conscientizar sobre o papel do indivíduo na sociedade democrática. Cabe à educação estimular a participação e incentivar a experimentação para o pensar e o agir. Esse pode ser o ideário educacional da contemporaneidade. Mas como fazer isso? Quais os meios e as alternativas plausíveis? Uma maneira de provocar o pensar, o fazer, o experimentar e o exercer a criatividade nos educandos é o trabalho com projetos. Projetos didáticos podem ser trabalhados em todos os níveis de ensino. Por meio do desenvolvimento de projetos, é possível experimentar, questionar e imaginar. O papel do docente será de mediador, de incentivador da aprendizagem, de questionador. Caberá aos educandos a pesquisa, a descoberta e a construção de um produto, isso porque um bom projeto é aquele que cria possibilidades de interação entre os educandos, os quais discutem, decidem, dialogam, resolvem conflitos e estabelecem regras e metas. Desse modo, o trabalho com projetos exige planejamento detalhado sobre cada fase, os recursos que serão necessários, o tempo de execução e os resultados pretendidos. Esse planejamento permitirá ao docente uma melhor organização de sua prática, https://goo.gl/BQqK2Q 6 pois, ao planejar, o professor reflete sobre sua atuação e os objetivos que almeja, demonstrando uma intencionalidade no processo. Trabalho Docente: Questões da Profissionalização Segundo Branco (2008), debates sobre a melhoria da qualidade da educação entendem a profissionalização do magistério como o caminho para a conquista de direitos:“Investir e incentivar a formação continuada dos docentes é condição para a profissionalização do magistério, pois a formação é uma das categorias necessárias para essa profissionalização”; e, junto a isso, Veiga (apud BRANCO, 2008) atribui à profissionalização um meio de elevação do prestígio social do docente. Nesse debate, insere-se a questão da valorização do magistério, de políticas de formação inicial e continuada para docentes, fortalecimento dos planos de carreira, melhoria em salários e condições de trabalho. Para Veiga (1998), o “processo de profissionalização envolve o esforço da categoria para efetivar uma mudança tanto no trabalho pedagógico que desenvolve quanto na sua posição na sociedade” (VEIGA apud BRANCO, 2008, p. 87). Com vistas à profissionalização docente, instituições públicas e privadas, sindicatos, sociedade, agências de fomento, associações científicas, entre outros, devem unir esforços para uma melhor formação de professores e melhores condições de trabalho para a categoria. Definição de Projeto Didático: conjunto de atividades que abordam conhecimentos específicos, construídos a partir de um eixo curricular, e que se organiza a partir de um problema e se chega a um produto final. Curiosidade Nóvoa (1992) citado por Branco (2008) também nos traz a reflexão de que a formação é o meio de profissionalização docente. O autor expõe que: [...] a formação para professores pode desempenhar um papel importante na configuração de uma “nova” profissionalidade docente, estimulando a emergência de uma cultura profissional no seio do professorado e de uma cultura organizacional no seio das escolas. (NÓVOA apud BRANCO, 2008, p. 24). 7 Dessa forma, quando o Estado exige que o professor tenha uma licença, ou seja, uma autorização para ensinar, ele influencia a profissionalização docente. Isso porque essa autorização é concedida por meio da realização de cursos, sobretudo, os de licenciatura. Temos, portanto, que nos preocupar com a formação docente e sua profissionalização, pois, enquanto há perda de prestígio e pouca preocupação com os parâmetros de formação, a docência pode ser considerada uma semiprofissão. E não é isso que queremos: nossa luta é por uma formação de qualidade e políticas públicas que estabeleçam parâmetros para essa qualidade. Tais parâmetros estão nas exigências em relação a itens como currículo obrigatório, carga horária, estágio supervisionado, reconhecimento de cursos e instituições, entre outros. Tendências Pedagógicas O estudo das tendências pedagógicas nos permite conhecer características de correntes pedagógicas de diversos autores. Esse estudo nos leva a pensar acerca dos contextos educativos, da compreensão do homem e do mundo, da relação escola e sociedade. A partir disso, podemos entender melhor o papel do docente, do discente e da escola. Você já ouviu falar em Pedagogia Tradicional? Será que ela está presente em sua vida acadêmica? Ao conversar com colegas docentes, percebemos que a Pedagogia Tradicional ainda está enraizada em nossa sociedade. Basta entrarmos em uma escola atual para verificarmos que ela reproduz o mesmo sistema da época dos nossos avós. A escola tradicional não se preocupa com os espaços físicos da sala de aula, os quais são compostos apenas por carteiras, lousa e cortinas. De acordo com Mizukami (1985), nessa perspectiva, quando o professor realiza seu trabalho, não há preocupação com os interesses dos alunos. O foco está no conteúdo, que precisa ser transmitido. Desse modo, para “avançar”, é necessário um ensino rígido e coercitivo. Aqui, o aluno é mero depositário do conhecimento. A metodologia na abordagem tradicional é transmitida por meio de aulas expositivas e fundamentadas em quatro pilares: escute, leia, decore e repita. Dessa maneira, Mizukami (1985) citada por Behrens (2005) salienta: A reprodução dos conteúdos feita pelo aluno de forma automática e sem variações, na maioria das vezes, é considerada como um poderoso 8 e suficiente indicador de que houve aprendizagem e de que, portanto, o produto está assegurado. (MIZUKAMI apud BEHRENS, 2005, p. 43). Nesse sentido, o professor repassa os estudos por meio de fórmulas prontas, ordenadas e desvinculadas entre os conteúdos. A metodologia valoriza a sequência lógica e a ordenação dos conteúdos. Assim, cabe ao aluno escutar, assimilar, decorar e repetir. Libâneo (1992) caracteriza essa abordagem como Pedagogia Liberal. A partir da discussão realizada no conteúdo, pesquise e reflita a partir da seguinte questão: como o professor pode contribuir para motivar os alunos, favorecendo, assim, a relação professor-aluno e, consequentemente, o processo de ensino e aprendizagem? Reflita Outra abordagem pedagógica apresentada por Mizukami (1985) é a abordagem comportamentalista. Segundo a autora, essa abordagem tem foco no conhecimento, o qual molda os comportamentos sociais. Desse modo, entende-se que os sujeitos são manipulados pela sociedade e são produtos do meio. Essa abordagem pode ser comparada com a tendência liberal e a tecnicista. A ênfase está nos meios ou mídias: recursos audiovisuais, instrução programada, tecnologias de ensino, ensino individualizado (módulos instrucionais), “máquinas de ensinar”, computadores, hardwares e softwares. Há necessidade de condicionamento. Os comportamentos desejados serão trabalhados de forma a permanecer nos alunos, que serão condicionados para realizar determinada tarefa e terem certo comportamento. Saviani (1983) caracteriza a abordagem como Pedagogia Tecnicista. A terceira tendência discutida por Mizukami (1985) é denominada abordagem humanista. Ela apresenta uma mudança, pois o ensino passa a ser centrado no aluno, em que o enfoque é interacionista no sujeito objeto. Nesse sentido, há preocupação com as relações interpessoais e o crescimento do indivíduo. Para isso, o professor tem papel de facilitador da aprendizagem. A abordagem cognitivista se preocupa com um ensino que desenvolva a inteligência por meio do construtivismo interacionista ao criar uma ligação com a concepção piagetiana (MIZUKAMI, 1985). Saviani (1983) enquadra essa abordagem à Pedagogia Nova. 9 A tendência escolanovista privilegia a autoavaliação e busca metas pessoais, desenvolvendo a valorização pessoal, a atividade de pesquisa do aluno e o clima psicológico e social da escola e da sala de aula. Esse movimento se desenvolveu nos Estados Unidos, a chamada Pedagogia Progressista, a qual teve como principal representante John Dewey (1859-1952). Essa abordagem, proposta por volta de 1930 por educadores do “Movimento da Escola Nova”, em especial por Anísio Teixeira, apresenta-se como uma reação à abordagem tradicional. A abordagem escolanovista aparece como revolucionária para a época e traz uma visão psicológica para a educação. Libâneo (1992) e Saviani (1983) também entendem essa abordagem como Escola Nova, classificando a como Pedagogia Liberal, em sua versão renovada progressista, pois entendem que faz parte dessa concepção o aprender a aprender. Na Pedagogia Renovada, o aluno se torna o centro do processo de ensino e aprendizagem. Ele aprende pela descoberta e iniciativa, sendo responsável por trilhar e escolher seus caminhos por meio de experiências significativas. É concebido como um indivíduo que se autodesenvolve. Assim, o aluno passa a ser auxiliado pelo professor, que é visto como um facilitador da aprendizagem. O educador facilita aos alunos a exposição de seus sentimentos, garantindo-lhes o desenvolvimento e o relacionamento interpessoal e estimulando, assim, a curiosidade e a autodisciplina. Por fim, Mizukami (1985) traz à tona a abordagem sociocultural, que reflete a abordagem interacionista entre o sujeito e o objeto de conhecimento. A escola é vista como via única para a educação formal e, ao mesmo tempo que trabalha conteúdos, precisa provocar uma atitude crítica reflexiva. Segue os passos pregados por Paulo Freire, na ênfase daeducação popular e da alfabetização de jovens e adultos. Libâneo (1992) classifica essa abordagem como Pedagogia Progressista, em sua versão libertadora, pois há preocupação com o desenvolvimento do processo de aprendizagem formal e não formal. Para Saviani (1983), é um importante avanço, uma vez que se discute a educação e o problema da marginalidade. Podemos imaginar que o contexto escolar sofre variações de acordo com cada tendência. Vamos compará-las? Observe a seguir algumas características: 10 Tendência tradicional Tendência comporta- mentalista Tendência humanista Tendência cognitivista Tendência sociocultural A escola É lugar idea- lizado para a realização do processo edu- cativo. Tem organiza- ção e função definidas por normas rígidas. Seu objetivo é preparar os educandos para a socie- dade. Segue um mo- delo empresa- rial aplicado à escola. Há divisão cla- ra: de um lado, a gestão e o planejamento, de outro, a execução. Lugar para to- dos: “espaço democrático”. Há preocupa- ção com o de- senvolvimento e a autonomia do aluno. Deve ser um local que per- mita ao aluno aprender por si próprio. Para isso, o am- biente precisa ser desafiador e favorável à motivação do aluno. Para que ocorra a aprendiza- gem, a escola precisa ser organizada, funcionar bem e proporcionar os meios para que a educação ocorra de modo planejado. O aluno É passivo, deve assimilar os conteúdos transmitidos pelo professor. É fundamental que domine o conteúdo transmitido pela escola. É quem rece- be e trabalha com o mate- rial preparado. Precisa entender os problemas da realidade e lidar com eles “cienti- ficamente”, somente des- se modo será produtivo. É quem rece- be e trabalha com o mate- rial preparado. Precisa entender os problemas da realidade e lidar com eles “cienti- ficamente”, somente des- se modo será produtivo. É ativo, obser- va, experimen- ta, compara, relaciona, analisa, levan- ta, hipóteses, argumenta, etc. É visto como ser social e político. Determina e é determina- do pelo meio social, político, econômico e individual. Desse modo, deve ser capaz de operar cons- cientemente na realidade. O profes- sor Transmite conteúdos e é autoritário. Seleciona, organiza as práticas pedagógicas e está preo- cupado com a eficiência e a eficácia do ensino. É facilitador do processo de aprendiza- gem. Seu papel é instigar. Para isso, cria situações desafiadoras e orienta. Traba- lha a reciprocidade e a coopera- ção. Direciona e con- duz o processo de ensino e aprendizagem. A relação entre os envolvidos é horizontal: to- dos aprendem e podem ensinar. 11 Ensino e aprendi- zagem Há uma se- quência rígida de conteúdos a seguir. As aulas são expo- sitivas, com exercícios de fixação, leituras e cópias. Há maior preocupação com os meios, os recursos audiovisuais e as tecnologias utilizadas para o ensino. Seguem-se módulos instrucionais. Os comporta- mentos serão condicionan- tes e reforça- dores. Há preocupa- ção com o alu- no, pois visa ao seu desen- volvimento psicológico. Desse modo, selecionam-se conteúdos a partir dos interesses dos discentes. Há ênfase na autoavaliação. Há preocu- pação em desenvolver a inteligência do aluno de acordo com o contexto social. A inteligência é desenvolvi- da por meio da troca com o meio. Para isso, utilizam- -se ações do sujeito. Traba- lham-se o erro, a pesquisa, a investigação e a solução de problemas, com enfoque no “aprender a pensar”. Trabalham-se jogos e sen- timentos de equipe. Trabalha-se com situações concretas a partir do contexto social do discente. Assim, objeti- va-se o alcance da consciência crítica por parte dos alunos. Ressaltam-se o diálogo e os grupos de dis- cussão. Quadro 1 - Tendências: diferenças entre as abordagens Fonte: Adaptado de Mizukami (1985). Como você pôde notar até aqui, sempre que há discussão sobre Didática, há reflexão sobre as tendências pedagógicas, pois é um conteúdo que estuda o processo de ensino e aprendizagem, considerando os objetivos educacionais, os conteúdos, os métodos e as formas de organização do ensino. O processo de ensino e aprendizagem deve ser estudado sob variadas perspectivas, e esse é um papel importante da Didática para a formação docente. Quando falamos em ensinar, falamos de práticas pedagógicas e, quando falamos em aprender, precisamos lembrar que é preciso realizar algo com êxito, de forma a alcançar determinado objetivo. O caminhar pedagógico no leva ao entendimento de que, no processo educacional, o aluno não é um mero receptor de conteúdos, mas, sim, um sujeito histórico e um construtor de seu conhecimento por meio de competências e habilidades que devem ser desenvolvidas também pelo sistema escolar. Para que isso se efetive, o docente tem papel fundamental, pois, ao interagir com os alunos, irá construir práticas e meios que buscam conhecimento. 12 Mizukami (1985) enfatiza que a escola é o agente transformador da educação formal por meio de suas atividades socioeducativas. O fenômeno educativo é humano, histórico e dimensional, entendido por nós como um fenômeno em constante construção do conhecimento, de competências e de habilidades. Vimos que a relação professor aluno é fundamental no processo de ensino e aprendizagem, precisa ser afetuosa e permitir o dialógico. Ao compreender a prática do professor como uma atividade pedagógica, faz-se necessário entender e buscar os seguintes objetivos: 1. Assegurar aos alunos o domínio mais seguro e duradouro possível dos conhecimentos científicos; 2. Orientar as tarefas de ensino para fins educativos de formação de personalidade, isto é, auxiliar os alunos a escolherem um caminho na vida; 3. Criar as condições e os meios para que os alunos desenvolvam capacidades e habilidades intelectuais, de modo que dominem métodos de estudo, visando à sua autonomia no processo de aprendizagem e formas de organização do ensino. Fonte: Adaptado de Libâneo (1992). Atenção Na perspectiva de Libâneo (1992), para que o professor possa atingir efetivamente os objetivos, é necessário um conjunto de operações didáticas, tais como: planejamento, direção do processo de ensino e aprendizagem e avaliação. Essas são algumas das atribuições de que precisa o docente para o desempenho de suas tarefas e que formam o campo e o objeto de estudo da Didática. Portanto, o conteúdo em questão fornece um apoio essencial à formação dos professores, possibilitando conhecimentos específicos para o exercício pleno e com qualidade na sua profissão. Essa mudança de postura na relação professor-aluno, do ensino tradicional para um ensino dialogado e não transmissivo, ocorre no fim dos anos 1970 e princípio dos anos de 1980. Há mudança de paradigma decorrente dos movimentos sociais. Aqui, o professor é mediador entre o saber sistematizado e os envolvidos na prática educativa. Nesse sentido, aproveitamos para lembrar o que afirma Candau (2010) 13 sobre o papel do professor nessa relação: “a sua ação deve estar fundada a partir de uma premissa: a reconstrução do conhecimento pelo aluno.” (CANDAU, 2010, p. 76). O que isso quer dizer? Que o professor deve negar a transmissão de conceitos, regras e noções abstratas que não tenham semelhança com a realidade da qual alunos e professor fazem parte. Outro ponto importante que merece destaque quando se trata da relação professor- aluno é a de que o professor possui saberes que resultam da apropriação sobre o que realizou em sua prática de vida e dos saberes histórico-sociais acumulados. Ele não é só fruto da vida na escola. Assim, as relações que estabelece com os alunos partem das suas experiências pessoais e também da sua história de vida. Sabemos também que motivar os alunos não é uma tarefa simples. Algumas vezes, o professor conhece as teorias e as técnicas que pode aplicar para motivar asaprendizagens, mas ele mesmo não está motivado para isso. Consequentemente, os alunos sentem essa desmotivação do professor e acabam também não demonstrando entusiasmo pela matéria ensinada. Nesse contexto, outras situações que podem ser prejudiciais se referem à insatisfação de necessidades que se sobressaem à necessidade de conhecimentos, por exemplo, um aluno com fome ou muito cansado pode ter menos motivação. Um aluno que está com problemas familiares ou se sente isolado da turma na escola também pode não ter motivação para aprender. Desse modo, o olhar atento do professor, que busca construir uma melhor relação professor-aluno e favorecer o processo de ensino e aprendizagem de todos, é fundamental. Precisamos ter em mente que o discente é “[...] um ser historicamente situado, pertencente a uma determinada classe, executor de uma prática social com interesses próprios e que não pode ser ignorado pela escola.” (TAVARES, 2011, p. 99). 14 Conclusão Refletindo sobre a trilha que percorremos, fica claro que a formação docente transcende a simples aquisição de conhecimentos. Este conteúdo ressaltou a relevância da prática educativa e da reflexão contextualizada para forjar um educador completo. A compreensão de que o conhecimento é uma ferramenta de emancipação humana representa uma fundação sólida para moldar a maneira como você irá orientar seus alunos no futuro. Exploramos as complexidades da profissão docente, abordando desde as nuances legais que a cercam até as críticas e demandas sobre o trabalho docente. A análise das tendências pedagógicas proporcionou conhecimentos sobre como diferentes abordagens podem influenciar o processo de ensino e aprendizagem. Essa compreensão diversificada é um trunfo valioso que você levará consigo ao entrar na sala de aula. À medida que expandimos os horizontes, reforçamos a importância contínua da formação. A profissionalização docente não é uma etapa estática, mas uma jornada de desenvolvimento constante. A exploração das relações interpessoais e a compreensão da formação cidadã atestam a complexidade e a abrangência do papel do educador na sociedade. Referências BEHRENS, M. Paradigma da complexidade, metodologia e portfólios. Petrópolis: Vozes, 2005. BRANCO, J. C. S. A educação a distância para o professor em serviço. 2008. 157 f. Dissertação (Mestrado em Educação Tecnológica) – Centro Federal de Educação Tecnológica, Belo Horizonte, 2008. CANDAU, V. M. A Didática em questão. Petrópolis: Vozes, 2009. CANDAU, V. M. Rumo a uma nova didática. 20. ed. Petrópolis: Vozes, 2010. LIBÂNEO, J. C. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1992. MARTINS, P. L. O. Didática teórica/didática prática: para além do confronto. 2. ed. São Paulo: Loyola, 1991. MIZUKAMI, M. G. N. Ensino-aprendizagem: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1985. SAVIANI, D. Educação e democracia. São Paulo: Cortez, 1983. TAVARES, R. H. Didática geral. Belo Horizonte: UFMG, 2011. VEIGA, I. P. A. Repensando a didática. 12. ed. campinas: Papirus, 1996.