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DPenal III.6ª aula (4)

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Dos Crimes contra a Pessoa IV
Dos crimes contra a periclitação da vida e da saúde
Direito Penal I
Curso de Direito
2.015.1
Professor EDSON TADASHI SUMIDA
Da periclitação da vida e da saúde
Da classificação geral dos crimes, há uma que interessa especificamente:
Crimes de dano - são aqueles em que ocorre efetiva lesão ao bem jurídico tutelado.
Crimes de perigo – se caracterizam pela mera possibilidade de dano. Basta que o bem jurídico tutelado seja exposto a uma situação de risco; em relação ao dolo, basta que o agente tenha a intenção de expor a vítima a tal situação de perigo.
O Perigo pode ser:
Individual – quando atinge indivíduos determinados. São os crimes previstos nos arts. 130 e seguintes do Código Penal
Coletivo – quando atinge um número elevado e indeterminado de pessoas. São previstos nos arts. 250 e seguintes do Código Penal.
Os crimes de perigo subdividem-se em:
Perigo concreto – a caracterização pressupõe prova efetiva de que uma pessoa correu risco. Nessa espécie de crime, o tipo penal expressamente menciona que alguém deve ter sido exposto a perigo, de modo que, na denúncia, o Ministério Público, necessariamente, deve identificar a(s) pessoa(s) exposta(s) a risco.
Perigo abstrato – a lei descreve uma conduta e presume a existência do perigo sempre que tal conduta se realize, independentemente da comprovação de que alguém efetivamente tenha sofrido risco, não admitindo que se faça prova em sentido contrário. 
- Nessa modalidade de delito, o tipo penal simplesmente descreve a conduta perigosa. 
- No crime de disparo de arma de fogo previsto no art. 15 do Estatuto do Desarmamento, basta que o MP mencione a ocorrência dos disparos, não sendo necessário dizer que pessoa A ou B foi exposta a risco, porque a lei presume que, sempre que alguém efetue disparo em via pública, há situação de perigo. 
- No perigo de contágio venéreo, que também é de perigo abstrato, o texto legal exige a identificação da vítima, mas presume que, da relação sexual com pessoa contaminada, decorre automaticamente, a situação de risco.
Cap. III - Da periclitação da vida e da saúde
Perigo de contágio venéreo
Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 2º - Somente se procede mediante representação.
Objetividade Jurídica
A Incolumidade física e a saúde de outrem.
Tipo Objetivo
Expor alguém a contágio de moléstia venérea, por meio de relações sexuais ou de qualquer outro ato libidinoso. Refere-se a cópula vagínica e a qualquer um de seus equivalentes fisiológicos, incluídas as relações homossexuais.
Os atos libidinosos são aqueles que se destinam à satisfação da concupiscência sexual (fellatio in ore, sodomia).
É indispensável a existência de contato corporal, direto e imediato, entre o agente e a vítima. 
Se o contágio se dá indiretamente, ou por meio extra sexual configura-se o delito previsto no art. 131 do CP (perigo de contágio de moléstia grave).
Crime de ação vinculada – o tipo penal especifica que sua configuração só pode se dar pela prática de atos sexuais.
Decreto n. 16.300/1923
Moléstia venérea – elemento normativo do tipo - são: a sífilis, a blenorragia e o cancro mole, é possível a inclusão do linfogranuloma e o granuloma inguinal.
Recomenda-se, por interpretação extensiva da expressão moléstia venérea com o propósito de abarcar outras doenças sexualmente transmissíveis (uretrite não gonocócica, tricomoníase, candidíase, herpes simples, escabiose pélvica).
A AIDS não é moléstia venérea, embora passível de contágio através de relações sexuais ou de outros atos libidinosos. A prática poderá configurar o crime do art. 131 (perigo de contágio de moléstia grave), lesão corporal grave ou homicídio, de acordo com o propósito do agente.
Tipo Subjetivo
Dolo, direto ou eventual. 
Na primeira parte do art. 130, caput, há dolo direto. O agente sabe que está contaminado pela moléstia venérea e através de relações sexuais ou de outro ato libidinoso, cria conscientemente uma situação de perigo. 
Na segunda parte, o agente não sabe, mas devia saber que se encontra contaminado. Embora não queira diretamente expor a vítima a perigo de contágio, prefere arriscar-se a produzir o resultado a renunciar à ação. Age por dolo eventual.
Sujeito Ativo
Pode ser qualquer pessoa contaminada por moléstia venérea, do sexo masculino ou feminino, sem qualquer restrição (crime comum).
Sujeito Passivo
Pode ser qualquer pessoa, mesmo que exerça a prostituição. É irrelevante o consentimento da vítima quanto ao contágio, já que o interesse na proteção de sua incolumidade pessoal é indisponível.
- O dissenso da vítima no que concerne à relação sexual ou outro ato libidinoso importa a caracterização da conduta como infração contra a dignidade sexual. Se o contágio decorre de estupro haverá concurso formal (CP, art. 70).
Consumação e Tentativa
Com o contato sexual, independentemente do efetivo contágio (crime instantâneo). O contágio deverá ser considerado pelo magistrado na fixação da pena base (CP, art. 59). 
Com a transmissão da moléstia venérea haverá exaurimento da infração.
A tentativa é admissível, verifica-se quando a conjunção carnal ou os atos libidinosos não se perfazem por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Ação Penal e Competência
Ação penal é pública condicionada à representação (art. 130, § 2º). A representação é uma condição de procedibilidade e não de punibilidade, condição indispensável do exercício da ação penal para que possa instaurar validamente a relação jurídica processual.
O processo e julgamento é de competência das Juizados Especiais Criminais. Admitem a suspensão condicional do processo.
Perigo de contágio de moléstia grave
Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Objetividade Jurídica
A incolumidade física e a saúde da pessoa humana.
Tipo Objetivo
Praticar , com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio. 
Moléstia grave é toda aquela que afete seriamente a saúde, perturbando o funcionamento do organismo (elemento normativo). Indispensável que a moléstia grave seja transmissível por contágio.
Tipo Subjetivo
Dolo (direto) e o elemento subjetivo do injusto ou elemento subjetivo especial do tipo “com o fim de transmitir a outrem moléstia grave”.
Sujeito Ativo e Sujeito Passivo
Sujeito Ativo - É a pessoa contaminada por moléstia grave e contagiosa. 
Sujeito Passivo - Pode ser qualquer pessoa, sem restrição. 
Consumação e Tentativa
Consumação – com a prática da conduta idônea à transmissão da doença, independentemente do contágio. Sobrevindo o contágio, exaure-se a infração.
Tentativa – admissível. Quando não pratica a conduta dirigida à transmissão da doença por circunstâncias alheias à vontade.
Ação Penal e Competência
Ação penal pública incondicionada.
É cabível a suspensão condicional do processo. 
O processo é de competência do juízo criminal de procedimento sumário.
Perigo para a vida ou saúde de outrem
Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.
Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. (Incluído pela Lei nº 9.777, de 1998)
Objetividade Jurídica
A vida e a saúde da pessoa humana, expostas a perigo direto e iminente.
Tipo Objetivo
A conduta consiste em expor alguém a perigo direto e iminente, que significa criar ou colocar a vítima em
situação de risco. Crime de ação livre, admite qualquer forma de execução.
Perigo direto é dirigido a pessoas determinadas, perfeitamente individualizadas; perigo iminente é aquele que está prestes a acontecer apresenta-se como realidade concreta, persente ou imediata.
Se por meio de uma única conduta o agente cria situação de perigo extensiva a várias pessoas determinadas, haverá concurso formal (art. 70).
Tipo Subjetivo
Dolo. Consciência e vontade de expor a ida ou saúde alheia a perigo direto e iminente. Dolo eventual. Ainda que o agente não queira o resultado de perigo como fim direto de sua conduta, mas considere como possível a realização do tipo legal e se conforme com ela. 
Se o agente atua com consciência e vontade de ofender a integridade física ou a saúde da vítima ou provocar a sua morte, responderá pelos crimes de lesão corporal ou homicídio dolosos.
Inexiste a forma culposa. Se da exposição a perigo da vida ou saúde de outrem, provocada pela inobservância do cuidado objetivo devido, resulta lesão corporal ou morte, responderá por lesões corporais culposas e homicídio culposo.
Consumação e Tentativa
Consumação – com a efetiva exposição da vida ou saúde da vítima a perigo direto e iminente. É indispensável a demonstração da ocorrência real da situação de perigo. Ocorrendo lesão corporal ou morte do sujeito passivo, configura-se o delito de lesão corporal culposa ou homicídio culposo. O bem jurídico protegido é auxiliar ou residual, ou seja, limita-se às hipóteses que não sejam objeto de proteção de outro dispositivo. Condiciona a aplicação à inaplicabilidade de outro (delito subsidiário).
Tentativa – é admissível, se a exposição a perigo não se concretiza por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Ação Penal e Competência
Ação penal pública incondicionada. O processo e o julgamento do delito incumbem aos Juizados Especiais Criminais.
Cabível suspensão condicional do processo.
Abandono de incapaz
Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono:
Pena - detenção, de seis meses a três anos.
§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Objetividade Jurídica
Tutela-se a vida e a saúde da pessoa humana, em especial daqueles que não podem se defender do perigo oriundo da violação do dever de guarda, assistência e proteção. Busca a lei, proteger os indivíduos incapazes, por qualquer motivo, de oferecer resistência aos riscos resultantes do abandono.
Tipo Objetivo
Consiste em abandonar o incapaz, expondo a perigo concreto sua vida ou saúde.
Abandonar – desamparar, deixar sem assistência a vítima, inapta a defender-se dos riscos resultantes da conduta do agente. Importa deixar a pessoa desamparada ou sob o poder de quem não possa dispensar-lhe a assistência adequada, de modo a dar lugar a uma situação de perigo para sua incolumidade.
Cuidado – assistência temporária, conferida a quem encontra-se incapacitado de defender-se (enfermeiro com relação ao paciente); guarda – assistência permanente, prestada ao incapaz de zelar por si próprio e cuidar de sua defesa e incolumidade (pais, tutores e curadores com relação a filhos, tutelados e curatelados); vigilância – assistência acautelatória, com vistas a resguardar a integridade pessoal alheia (guia alpino/alpinista, salva vidas/banhistas etc.); autoridade – é o poder, derivado de direito público ou privado, exercido por alguém sobre outrem (diretores de escola/alunos, carcereiro/presos).
Tipo Subjetivo
Dolo. Consciência e vontade do agente de expor a perigo concreto a vida ou a saúde do sujeito passivo através do abandono. Admite-se o dolo eventual, quando o agente presta anuência, concorda com o advento do perigo, preferindo arriscar-se a produzi-lo a renunciar à conduta.
- É preciso que o sujeito ativo tenha consciência do especial dever de assistência que o vincula à vítima (elemento objetivo do tipo).
- Condutas preterdolosas - se do abandono resultam lesão corporal de natureza ou morte, são elevadas as margens penais (art. 133, §§ 1º e 2º).
Aumento de pena
§ 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço:
I - se o abandono ocorre em lugar ermo;
II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima.
III - se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos (Incluído pela Lei nº 10.741, de 2003)
- Se as infrações forem praticadas sob circunstâncias acima, terá o acréscimo de um terço.
Sujeito Ativo
Possui uma especial relação de assistência para com a vítima, que se encontra sob seu cuidado, guarda, vigilância ou imediata autoridade (delito próprio).
- O dever de proteção – consiste no cuidado, guarda, vigilância ou autoridade que incumbe ao agente em relação ao incapaz – pode resultar de lei (arts. 231, IV, 384, 422 e 453, CC, Lei 8.069/90), de contrato ou da própria situação fática, devendo ser necessariamente anterior à conduta delitiva.
Sujeito Passivo
Aquele que estiver sob a guarda ou assistência do agente. 
Não se limita a proteção do infante, estendendo-a a todos os incapazes de se resguardarem dos riscos resultantes da situação de abandono criada pelo agente (ébrio, paralítico, cego, enfermo etc.).
Pessoas civilmente capazes, circunstancialmente encontram-se impossibilitadas de oferecer resistência ao perigo advindo do abandono. Incapacidade relativa – adulto acometido de enfermidade, embriagado ou em local desconhecido e perigoso etc.); ou absoluta – criança de tenra idade etc.), durável (menoridade, paralisia etc) ou transitória (enfermidade, embriaguez, sono profundo etc.)
Abandonado mais de um incapaz, haverá concurso de delitos (arts. 69 a 71).
Inexistindo qualquer vínculo entre sujeito ativo e passivo, pode o abandono configurar o delito de omissão de socorro (art. 135).
Consumação e Tentativa
Consumação – com o efetivo abandono, desde que resulte perigo concreto à vida ou à saúde da vítima. Indispensável o advento do perigo . A duração do abandono é irrelevante, consuma-se com o surgimento da situação de perigo. Trata-se de crime instantâneo, expor a vítima ao perigo. Criada a situação de perigo para vida ou a saúde do incapaz, ainda que o agente retome a vítima sob sua proteção, não se exclui o crime.
Tentativa – é cabível tanto em se tratando de delito comissivo (mãe surpreendida quando se encaminhava para um lugar remoto, onde abandonaria seu filho), como comissivo por omissão (a enfermeira abandona o plantão, omitindo os cuidados necessários para a recuperação do paciente, mas outrem ministra o medicamento; a mãe distancia-se da casa, abandonando o filho, mas terceiro o salva, afastando a ocorrência do perigo).
Ação Penal e Competência
Ação penal é pública incondicionada. 
O tipo penal básico (art. 133, caput) e qualificada prevista no § 1º, permitem a suspensão condicional do processo.
Do caput – procedimento sumário.
Dos §§ 1º e 2º - procedimentos ordinários.
Exposição ou abandono de recém-nascido
Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - detenção, de um a três anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - detenção, de dois a seis anos.
Objetividade Jurídica
A vida e saúde do recém nascido. Uma espécie privilegiada de abandono de incapaz, em razão do motivo, a ocultação da própria desonra.
Tipo Objetivo
Consiste em expor ou abandonar recém nascido, para ocultar desonra própria. 
Os verbos nucleares demonstram que o agente, através de sua conduta, deixa o recém nascido (elemento normativo do tipo, de valoração extrajurídica) ao desamparo ou sob o poder de quem não possa dispensar-lhe a assistência adequada, de modo a dar lugar a uma situação de perigo para sua vida ou saúde. 
A duração é irrelevante, desde que perdure por lapso temporal
capaz de permitir a superveniência de uma situação de perigo para o bem jurídico tutelado.
Tipo Subjetivo
Dolo. A consciência e vontade do agente de expor a perigo concreto a vida ou a saúde do recém nascido através da exposição ou do abandono. Exige-se que o sujeito atue para ocultar desonra própria (elemento subjetivo do injusto ou elemento subjetivo especial do tipo).
Sujeito Ativo
Tão somente a mãe que concebe extramatrimonium (crime próprio). 
Aquele que expõe ou abandona recém nascido para ocultar desonra alheia responderá pelo crime previsto no art. 133 (abandono de incapaz).
A doutrina reconhece que o pai adulterino ou incestuoso pode figurar como sujeito ativo. Ao marido da mulher adúltera, não se aplica, pois a desonra é da esposa infiel.
Sujeito Passivo
É o recém nascido. A criança nos primeiros dias após o parto, quando ainda se possa, pela exposição ou pelo abandono, evitar a divulgação de seu nascimento e a consequente desonra da mulher.
Consumação e Tentativa
Consumação – a efetiva exposição ou abandono, condicionados à superveniência de perigo concreto à vida ou à saúde do neonato. Mister o advento da situação de perigo para a consumação do crime. Crime instantâneo.
Tentativa – é admissível.
Ação Penal e Competência
Ação penal pública incondicionada. 
Caput – competência dos Juizados Especiais Criminais.
§ 1º - competência de procedimento sumário.
§ 2º - competência de procedimento ordinário.
Suspensão condicional do processo – caput e § 1º.
Omissão de socorro
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
Objetividade Jurídica
A vida e a saúde da pessoa humana. O bem jurídico tutelado é indisponível, ainda que a vítima recuse ou dispense a assistência oferecida, perfaz o delito se o agente não busca o socorro da autoridade competente. 
Não se configura a omissão de socorro se a oposição do sujeito passivo representa óbice intransponível ao auxílio.
O dever de prestar assistência ou de solicitar o socorro da autoridade pública limita-se à preservação da vida ou da saúde alheias.
Tipo Objetivo
Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, a criança abandonada ou extraviada, ou a pessoa inválida ou ferida, ao desamparo, ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública (delito omissivo próprio ou puro). 
A presença do risco pessoal – não moral ou patrimonial – na assistência direta, acarreta a exclusão da tipicidade da conduta e, na indireta, conduz somente à exclusão de sua ilicitude.
Tipo Subjetivo
Integrado pelo DOLO (direto ou eventual). Este se expressa como a decisão acerca da inação, com a consciência do autor de que poderia agir para atender ao modelo legal, que de forma implícita ordena o atuar. 
O sujeito deve incluir na sua decisão a não execução da ação possível. Exige-se o conhecimento da situação típica e dos meios de realização da conduta devida.
Sujeito Ativo
Qualquer pessoa, sem restrição (crime comum). Não há entre sujeito ativo e passivo não possuem vínculo especial. Todos podem ser sujeitos do delito, porque o dever de assistência é extensivo a toda a coletividade, presentes os pressupostos típicos. O dever de agir é imposto pelo ordenamento jurídico.
- exige-se que o sujeito ativo se encontre próximo à vítima no momento em que esta precisa de auxílio. E o ausente tem o dever de agir, se avisado da ocorrência da situação de perigo, recusa-se a prestar a assistência necessária, fazê-lo sem risco pessoal.
Sujeito Passivo
A criança abandonada ou extraviada; a pessoa inválida ou ferida, ao desamparo; ou qualquer pessoa em grave e iminente perigo.
- A pessoa em grave e iminente perigo não precisa, se encontrar inválida ou ferida. Aquele que deixa de prestar socorro ao indivíduo perfeitamente saudável, prestes a se afogar, responde por omissão de socorro.
Consumação e Tentativa
Consumação – quando o sujeito ativo não presta o socorro, ainda que outro o tenha feito posteriormente e impedido a efetiva lesão da vida ou da saúde da vítima (crime instantâneo). 
Tentativa – tratando-se de crime omissivo próprio, a tentativa é inadmissível. Se o agente se omite, o crime já se consuma; se não se omite, realiza o que lhe foi mandado.
Ação Penal e Competência
Ação penal é pública incondicionada. O processo e o julgamento do delito incumbem aos Juizados Especiais Criminais. 
Cabível a suspensão condicional do processo.
Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012).
Art. 135-A.  Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial:  (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012).
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012).
Parágrafo único.  A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte. (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012).
Objetividade Jurídica
A vida e a saúde das pessoas que necessitam de atendimento médico de emergência.
Situação em que a pessoa que se encontra enferma ou acidentada ver protelado o atendimento médico de emergência em hospitais ou postos da rede privada, caso não assine documento se comprometendo a pagar pelo atendimento. 
A falta de socorro configura crime de omissão de socorro, o legislador estabeleceu o crime, a fim de evitar a própria exigência da assinatura do cheque caução, da nota promissória ou de outra garantia como condição para o atendimento.
Tipo Objetivo
Exigir garantias como condição para atendimento médico de emergência. Assinatura de cheque caução, da nota promissória ou de outra garantia como condição para o atendimento. Exigência feita pelo funcionário do hospital ou posto de atendimento, ainda que posteriormente a vítima venha a ser socorrida por médicos que trabalham no local ou por terceiros.
A pena é maior do que a do crime de omissão de socorro.
Configura o prévio preenchimento de formulários administrativos.
Crime de perigo concreto, pressupõe demonstração de que a vítima se encontra em situação de risco.
O agente dece ser do quadro de emergência médica.
Tipo Subjetivo
Dolo. Consciência e vontade de exigir a assinatura ou o preenchimento de formulário e condicionar o atendimento a tais providências por parte da vítima ou seus familiares.
Sujeito Ativo
Qualquer pessoa. Crime comum. Em geral, é o funcionário do balcão do posto de atendimento ou do hospital, bem como seus superiores que tenham determinado que assim agisse. 
Se o médico se recusa a prestar o atendimento, pode incorrer em crime de omissão de socorro.
Sujeito Passivo
A pessoa de quem é exigida a caução ou promissória e aquela que necessita do atendimento emergencial.
Consumação e Tentativa
Consumação – com a simples exigência da garantia ou do preenchimento do formulário, ainda que a vítima venha a ser posteriormente atendida.
Tentativa – em regra, inviável, essas exigências geralmente são feitas na presença da pessoa que se encontra necessitada do atendimento ou de seus familiares, consumando-se de imediato.
Ação Penal e Competência
Ação penal pública incondicionada, de competência do Juizado Especial Criminal, salvo no caso de morte (a pena máxima é de 3 anos).
Maus-tratos
Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou
inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos. (Incluído pela Lei nº 8.069, de 1990)
Objetividade Jurídica
A vida e a saúde daquele que se encontra sob a guarda, autoridade ou vigilância do agente para fim de educação, tratamento ou custódia.
Se o meio empregado provocar na vítima intenso sofrimento físico ou mental, configura o crime do art. 1º, II, da Lei n. 9.455/97 (Lei Anti tortura)
Se o agente não expõe um menor a perigo, mas o sujeita a situação vexatória ou a constrangimento, configura o crime do art. 232, da Lei n. 8.069/90 (ECA).
Se praticado contra pessoa idosa (Estatuto do Idoso).
Se o agente, a fim de corrigir o filho, aplica-lhe uma surra e, desta, culposamente, decorre alguma lesão, o crime é apenas o de maus tratos, já que o delito de lesão corporal culposa possui a mesma pena. Se caracterizado o dolo de lesionar, responde pelo crime do art. 129.
Tipo Objetivo
Expor a risco a vida ou a saúde de vítima sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, por uma das formas enumeradas no tipo penal. Crime de ação vinculada.
Formas de execução do crime
Privação de alimentos – o agente deixar de alimentar a pessoa que está sob sua guarda, autoridade ou vigilância;
Privação de cuidados indispensáveis – não prover pessoa que está sob sua guarda (cuidados médicos, fornecimento de agasalhos, de higiene etc.);
Sujeição a trabalhos excessivos ou inadequados – o agente exigir que a vítima carregue peso acima do que ela suporta, ou em local muito quente ou frio, ou quando um adolescente é obrigado a trabalhar à noite etc.
Abuso dos meios de disciplina e correção – abusar do poder de correção e disciplina e este passa a existir quando o meio empregado atinge tal intensidade que gera situação de perigo para a vida ou para a saúde da vítima.
Tipo Subjetivo
Dolo direto ou eventual.
Sujeito Ativo
Apenas aquele que tenha a vítima sob sua guarda, vigilância ou autoridade, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia.
Sujeito Passivo
Aquele que esteja sob a autoridade, guarda ou vigilância do sujeito ativo, para fins de educação, ensino, tratamento ou custódia.
Consumação e Tentativa
Consumação – com o perigo à vida ou à saúde da vítima.
Tentativa – admissível.
Figuras qualificadas e Causas de aumento de pena
§§ 1º e 2º - Figuras qualificadas - Exclusivamente preterdolosas
§ 3º - causa de aumento de pena – se crime praticado contra menor de 14 anos.
Ação Penal e Competência
Ação penal pública incondicionada. 
Processo e julgamento do art. 136, caput, são dos Juizados Especiais Criminais. Se resulta lesão de natureza grave é do procedimento sumário. Se resulta morte, procedimento ordinário.
aumenta-se a pena se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 anos.
Caput e § 1º admitem a suspensão condicional do processo.
Questões:
O crime de contágio venéreo é delito concreto ou abstrato?
O agente responde pelo delito de contágio venéreo, se do contágio resulta lesão corporal de natureza grave dolosa ou se a moléstia venérea transmitida causar a morte da vítima?
Diferencie a infração prevista no art. 131 da infração prevista no art. 130 do Código Penal.
Quando ocorre a consumação do delito de perigo de contágio de moléstia grave?
A criação de perigo a número indeterminado de pessoas caracteriza delito de perigo para a vida ou saúde de outrem?
O que se entende por perigo direto e iminente?
A incapacidade a que o art. 133 faz alusão identifica-se com a incapacidade civil?
Pode a infração de abandono de incapaz ser omissivo? Justifique a resposta.
Qual a composição do tipo subjetivo da infração exposição ou abandono de recém-nascido? Ausente o motivo de honra, é possível a caracterização do delito de abandono de recém-nascido?
A recusa em prestar auxílio á vítima de sequestro ou cárcere privado (art. 148) caracteriza o delito de omissão de socorro?
Qual é momento da consumação do crime de condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial?
Comente as modalidades pelas quais pode o agente expor a perigo a vida ou a saúde daquele que se encontra sob sua autoridade, guarda ou vigilância.

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