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Direito e deveres referentes aos processos de intermediação imobiliária, com base no Código Civil Para atuar na profissão de corretor de imóveis, será necessária a aprovação em cursos específicos – Técnico em Transações Imobiliárias (TTI) ou cursos superiores sequenciais e tecnológicos de ciências imobiliárias ou de Gestão de Negócios Imobiliários – e, na sequência, inscrever-se no Creci para obtenção de número de inscrição profissional que o habilite a exercer a profissão. Sendo assim, a atividade de corretor de imóveis é regulamentada e exige conhecimentos dos profissionais que a exercem, que devem ser respeitados e, principalmente, remunerados pelo seu trabalho. Primeiramente, é importante que fique claro qual é o papel do Código Civil no contexto das intermediações imobiliárias. O Código Civil tem como objetivo alinhar as regras a respeito do contrato de corretagem, e não a profissão dos corretores, que é regulamentado pela Lei 6.530/78, que trata do tema de forma específica. Observe que são olhares diferentes, a Lei 6.530/78 regulamenta a profissão, a atuação do profissional. O Código Civil regula o instrumento de trabalho do corretor de imóveis, ou seja, regula as transações imobiliárias. 0:000:00 / 1:03/ 1:03 Antes do Código Civil de 2002, as relações em sociedade eram regidas pelo Código Civil de 1916, cujos contratos de corretagem imobiliária funcionavam em uma estrutura que, por seu tempo de existência, já se encontrava enraizada nos seus costumes e com a qual já se tinha considerável familiaridade. Porém, em 2002 a situação mudou com o que chamamos de novo Código. O Código Civil, agora do ano de 2002, vigente até a presente data, sofreu modificações que influenciam o funcionamento dos negócios, especialmente na responsabilidade do corretor de imóveis, regulando o contrato de corretagem nos artigos 722 a 729. Naquele período de 1916 tínhamos o Código Civil, bem como o Código Comercial, que disciplinava as relações comerciais de forma específica. Com o novo Código de 2002, unificaram-se os temas relacionados às relações civis, sejam elas comerciais ou não. Então, o conjunto de normas que regula as intermediações imobiliárias é o Código Civil de 2002. O referido diploma legal abrange todos os tipos de corretagem, imóveis, seguro, mercado de títulos e valores mobiliários, commodities. Para o nosso estudo, abordaremos os pontos relativos ao corretor de imóveis. Conhecer o Código Civil pode representar a diminuição de riscos de eventuais prejuízos ao corretor de imóveis, que deve estar ciente que o desconhecimento da lei pode resultar em negócios malsucedidos. Um profissional bem- informado faz a diferença! Os artigos que dizem respeito às atividades de intermediação deverão ser analisados de forma específica, necessária à compreensão. Portanto, precisamos estudar a lei para qualificar o trabalho e desempenhá-lo de forma segura. A atividade do corretor é muito importante para a realização de um bom negócio imobiliário, todavia sua presença não é indispensável, ou seja, será possível realizar uma negociação, como locação ou mesmo compra e venda, sem a assistência de um corretor. No entanto, nestes casos, as partes, leigas no assunto, estão mais expostas ao risco. Devido às obrigações legais da atividade de corretor de imóveis, o profissional desta área obriga-se à prestação do serviço com eficiência e responde por eventuais prejuízos que causar por um serviço mal prestado ou por informação errada sobre o imóvel que intermediou. Mas quem é o sujeito protagonista nessa relação, cuja atividade a lei cuida de regular? O corretor. Alguns desses prejuízos, ou negócios malsucedidos, dizem respeito a aceitar remuneração menor do que a que lhe é assegurada por lei ou deixar de providenciar sua devida proteção contratual prévia a partir de um instrumento contratual bem elaborado e redigido. O corretor é o profissional que se obriga, compromete-se a obter negócios, conforme instruções recebidas, sem vínculo de mandato, prestação de serviços ou qualquer outra relação de dependência, isto é, será um intermediador de negócios, na condição de autônomo, ou seja, não haverá vínculo trabalhista entre o contratante e o corretor. Assim, o Código Civil estabelece: Art. 722. Pelo contrato de corretagem, uma pessoa, não ligada a outra em virtude de mandato, de prestação de serviços ou por qualquer relação de dependência, obriga-se a obter para a segunda um ou mais negócios, conforme as instruções recebidas. Quanto aos deveres do corretor, a lei enumera expressamente os de diligência, prudência e de informação: Art. 723. O corretor é obrigado a executar a mediação com diligência e prudência, e a prestar ao cliente, espontaneamente, todas as informações sobre o andamento do negócio. (Redação dada pela Lei nº 12.236, de 2010) Parágrafo único. Sob pena de responder por perdas e danos, o corretor prestará ao cliente todos os esclarecimentos acerca da segurança ou do risco do negócio, das alterações de valores e de outros fatores que possam influir nos resultados da incumbência. (Incluído pela Lei nº 12.236, de 2010) A diligência exigida do corretor é a de uma figura de negócios profissional. O corretor é profissional e assim tem responsabilidades. Como tal, deve estar atento a detalhes do negócio que o seu cliente, na condição de inexperiente ao negócio, talvez não tenha condições de perceber. Outro importante dever é o da informação, que é bem ressaltado na lei de proteção ao consumidor, assim como na Constituição Federal. O corretor tem a obrigação legal de, por sua iniciativa, fornecer toda e qualquer informação, sobretudo aquelas que influenciarão na realização do negócio, bem como sobre a segurança e os seus riscos, sob pena de causar algum tipo de prejuízo e, consequentemente, responder por perdas e danos. O dever de informar previsto pelo CDC – Código de Defesa do Consumidor concentra-se nas características do serviço oferecido no mercado. Esse dever de informar foi desenvolvido na teoria contratual pela da doutrina alemã, ou seja, são “deveres acessórios, deveres secundários ao da prestação contratual”, que são deveres oriundos do princípio da boa- fé, os chamados deveres anexos. Para compreensão do tema aqui abordado, precisamos esclarecer rapidamente os conceitos de boa-fé: A boa-fé se constitui numa fonte autônoma de deveres, independente da vontade, e por isso a extensão e o conteúdo da “relação obrigacional já não se mede somente nela (vontade), e, sim, pelas circunstancias ou fatos referentes ao contrato, permitindo-se construir objetivamente o regramento do negócio jurídico, com a admissão de um dinamismo que escapa ao controle das partes”. (JÚNIOR, Ruy Rosado de Aguiar. Direito do consumidor. São Paulo: RT, 2011. 7 v., p. 383) Em outras palavras, significa dizer que, além dos deveres quanto ao negócio em si, você terá deveres subentendidos, ou seja, mesmo que não estejam previstos no contrato, poderão ser exigidos, uma vez que são inerentes ao negócio. Assim, com o surgimento do CDC, este dever é atribuído a proporções de dever básico, indispensável a uma boa relação contratual, chegando ao ponto de tratar-se de um verdadeiro ônus ao fornecedor, a exemplo do artigo 31 do CDC: Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores. O cuidado com a informação prestada e com a oferta feita ao cliente estarão protegidas pelo cumprimento do dever de informação. Quando falamos sobre a importância de prestar ao cliente o maior número de informações possíveis, a grande preocupação está no fato de que a aproximação do cliente com o corretor deve ser leal, verdadeira. O cliente não podechegar ao imóvel, por exemplo, e não identificar todos os itens divulgados na publicidade. Muitos são os casos levados ao judiciário com problemas dessa natureza, ou seja, informações prestadas de forma errada, levando o cliente a acreditar em uma realidade que não existe. 0:000:00 / 1:47/ 1:47 Nos imóveis comprados na planta, essa situação é mais comum, pois o cliente adquire o imóvel apenas com a palavra do corretor e com os documentos apresentados, sem ver a concretização das promessas. As informações sobre o imóvel normalmente são prestadas ressaltando as vantagens do imóvel, no entanto, em muitos casos, o profissional esquece de alertar sobre os riscos do negócio, riscos relevantes quanto às possibilidades de atraso, reajuste de preços de forma clara referente ao financiamento, por exemplo, situação jurídica das empresas que construíram o empreendimento, enfim, uma série de riscos ao negócio. Na sua grande maioria, os profissionais informam tudo o que sabem ao cliente, porém há casos em que o esquecimento os trai. A falha na prestação de informações adequadas, se causar prejuízos ao cliente, poderá gerar dever de indenizar. A legislação não abre exceção se o esquecimento ou a falha na prestação de informações é “sem querer” ou “proposital”. Independentemente disso, quando a informação não for prestada corretamente e prejudicar o cliente, o corretor, a imobiliária, o empreendimento, enfim, todos poderão responder civilmente por isso, ou seja, pela falha no dever de informação. Em tempos de empresas cada vez mais profissionais no que refere-se a processos, e em tempos de clientes cada vez mais informados, exigindo produtos de qualidade, bom atendimento e lisura nas relações de negócio, é imprescindível tomarmos todas as medidas e respeitar a legislação. A diferença entre sucesso e fracasso está no detalhe, está em fazer a diferença junto ao cliente, com uma informação a mais, um gesto, A intermediação imobiliária que envolve a atividade do corretor de imóveis passa por etapas, como captar o imóvel para dentro da sua lista de produtos, isto é, conquistar o proprietário, que permite que você ofereça o imóvel ao público e, na sequência, ao analisar o perfil, conquiste o cliente que irá adquirir o imóvel ou locá-lo. Em cada uma dessas etapas será necessário respeitar as regras. Vamos apreciar o que a legislação (Código Civil) nos ensina sobre o tema em cada um desses momentos que farão parte da sua rotina de trabalho enquanto corretor de imóveis. Para prevenir conflitos decorrentes da relação entre o corretor e o seu cliente, bem como exercer a atividade com qualidade, é importante que o corretor e o seu contratante – seja o vendedor ou o comprador – expressem em um contrato as obrigações e os direitos assumidos na relação que se estabelece. uma atitude especial, que cative o futuro comprador ou locatário. Até mesmo para resguardar as partes, será fundamental formalizar por escrito – que pode ser o contrato de prestação de serviços ou até mesmo a autorização – todas as condições, em especial quais os serviços contratados, o prazo ajustado e a remuneração estabelecida, pois esse será o documento em que serão estabelecidos os limites e as responsabilidades de cada um no negócio. A autorização, citada como forma de instrumentalizar as combinações entre o corretor e o seu cliente, está prevista na Resolução nº 5/78 do Cofeci, que tem origem na Lei 6.530/78. Na Resolução constam as informações que precisam estar presentes: Nome e qualificação das partes (nome completo, estado civil, nacionalidade, profissão e número do CPF) Individualização e caracterização do objeto do contrato (descrever se é venda, e também o local do imóvel, e se é uma locação e as características do local. Esse será o objeto do contrato) Preço e condições da alienação (nesse item, deve cosntar o valor ser pago e as formas em que o valor será acertado) Menção da exclusividade ou não (essa informação dependerá de haver ou não a exclusividade, todavia, se for o caso, deve conter expressamente a informação) Prazo de validade do instrumento (é importante estabelecer um prazo para a validade dessa contratação, sobretudo se houver cláusula de exclusividade) Remuneração do corretor e forma de pagamento (a remuneração deve respeitar as regras do Código Civil, cujo tema será abordado nas próximas linhas) Com relação à remuneração do corretor de imóveis, o pagamento da comissão é assegurado pelo Código Civil e a corretagem está prevista nos artigos 724 a 729. Então, como evitar os obstáculos com os proprietários que tentam evitar o pagamento da comissão? Quem determina os valores e quais são eles? O artigo 724 do Código Civil assim estabelece: Art. 724. A remuneração do corretor, se não estiver fixada em lei, nem ajustada entre as partes, será arbitrada segundo a natureza do negócio e os usos locais. As imobiliárias ou os corretores autônomos têm como instrumento para assegurar a comissão o formulário de autorização de venda ou de locação, citado em detalhes nos parágrafos anteriores. Neste documento, constarão os dados do proprietário e do imóvel e deverá ser assinado pelas partes envolvidas. Na prática, se a negociação foi feita diretamente entre vendedor do imóvel e seu comprador, o percentual de corretagem não será aplicado, haja vista que o corretor não exerceu suas atividades. Todavia, o Código Civil dispõe que será diferente se a exclusividade do corretor estiver estipulada por escrito. Nestes casos, o corretor receberá remuneração integral caso tenha sido ajustada. Veja que a única situação de não pagamento da comissão será no caso de comprovada inércia ou ociosidade do corretor. Vamos analisar os artigos da lei, que nos mostram os limites da remuneração: Art. 725. A remuneração é devida ao corretor uma vez que tenha conseguido o resultado previsto no contrato de mediação, ou ainda que este não se efetive em virtude de arrependimento das partes. Quando o artigo fala em resultado previsto, refere-se à concretização do negócio, seja o contrato de compra e venda ou a efetivação da locação. Art. 726. Iniciado e concluído o negócio diretamente entre as partes, nenhuma remuneração será devida ao corretor, mas se, por escrito, for ajustada a corretagem com exclusividade, terá o corretor direito à remuneração integral, ainda que realizado o negócio sem a sua mediação, salvo se comprovada sua inércia ou ociosidade. As questões relativas à exclusividade devem estar claras no contrato entre as partes, ou seja, com essa combinação é que o corretor poderá exigir sua remuneração, ainda que sem a sua mediação. A inércia e a ociosidade não podem ser meras alegações, precisam vir acompanhadas de prova. Art. 727. Se, por não haver prazo determinado, o dono do negócio dispensar o corretor, e o negócio se realizar posteriormente, como fruto da sua mediação, a corretagem lhe será devida; igual solução se adotará se o negócio se realizar após a decorrência do prazo contratual, mas por efeito dos trabalhos do corretor. Este artigo protege os casos em que o corretor faz todo o processo do negócio e é dispensado quando tudo já está pronto. Neste caso, o artigo prevê o repasse da verba ao profissional que atuou. Por óbvio, o corretor fará a comprovação da sua atuação. Art. 728. Se o negócio se concluir com a intermediação de mais de um corretor, a remuneração será paga a todos em partes iguais, salvo ajuste em contrário. Art. 729. Os preceitos sobre corretagem constantes deste Código não excluem a aplicação de outras normas de legislação especial. Passamos a pensar em algumas situações práticas que, embora diferentes do que diz a legislação, são levadas em consideração quando discutidas no Poder Judiciário, momento em que as situações são analisadas individualmente. As situações em que o corretor apenas aproxima as partes para início das negociações não ensejam o pagamento da comissão, consequentemente, a desistência antesda conclusão do negócio seria perfeitamente possível. O Superior Tribunal de Justiça – STJ definiu que a fase preliminar de requisição de certidões e informações se encontra no campo das “tratativas”, de forma que a não realização do negócio em função de tais levantamentos configuraria desistência (e não arrependimento), tornando inexigível a comissão de corretagem. É importante entendermos a diferença entre desistência e arrependimento. Na desistência, o cliente inicia os atos da compra, mas não as conclui, no meio disso ele desiste, simplesmente por vontade própria. O arrependimento é diferente, nele o cliente conclui os atos e reverte a situação sem atingir o objetivo de compra, por exemplo. Sendo assim, em que pese a previsão do artigo 725 do Código Civil (que permite a cobrança da comissão mesmo sem a concretização do negócio), algumas decisões do STJ consideraram a comissão indevida em casos de desistência e mantêm a remuneração quando há o simples arrependimento. Veja que fica claro que, embora exista legislação específica sobre o tema, os casos na prática direcionam as decisões, isto é, as peculiaridades de cada caso são levadas em consideração no momento em que os tribunais superiores julgam os casos. Observe o que ocorreu no caso real relatado a seguir: Ocorreu a compra e a venda de um imóvel. No contrato, houve a previsão de corretagem para o corretor de imóveis que trabalhou na negociação. Ocorre que o corretor não cumpriu com o seu dever de diligência e prudência no momento da intermediação, configurando assim a negligencia notória por parte do profissional. O fato foi que o corretor não checou os dados do imóvel perante ao registro de imóveis, submetendo o comprador a engano, e, a seguir, envolvendo-o em uma negociação com documentos falsos sobre a titularidade do imóvel, ou seja, o corretor não certificou- se de que aquele que estava vendendo era mesmo o proprietário. Sendo assim, após demanda judicial, o corretor foi obrigado a ressarcir o comprador com valor pago. Vejam que a falta de cuidado do corretor gerou danos ao adquirente e, consequentemente, o corretor respondeu por isso, pois desrespeitou as regras do Código Civil e prejudicou o seu cliente. Veja a importância do cuidado e do zelo pelo trabalho desenvolvido, sobretudo a importância de respeitar as regras do Código Civil para um bom desenvolvimento profissional, tendo em vista que o novo Código exibiu uma nova realidade para os corretores, atribuindo responsabilidades novas, uma postura condizente com a ética, de forma diligente, preocupando-se com as informações prestadas. Os artigos diretamente relacionados à atividade do corretor previstas no Código não são muitos, todavia são muito claros quando ajustam os parâmetros das negociações, disciplinando uma conduta que previne prejuízos, tanto para o comprador quanto para o vendedor e mesmo para o corretor. A economia é um aspecto que muito será observado por você enquanto corretor, pois está diretamente ligada à atividade imobiliária, bem como ao aumento da concorrência, e também à transformação dos perfis sociais, que mudou a sociedade daquele Código de 1916, em comparação a este de 2002. Essa adequação da legislação foi necessária, pois é necessário que a lei acompanhe as mudanças globais. A regulação do contrato de corretagem certamente diminui os impactos sociais por meio da proteção a terceiros e do próprio profissional que enxerga nas normas a forma correta de conduzir seu trabalho.