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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/342666922 A PROPORÇÃO NO CORPO HUMANO E SUA INFLUÊNCIA NA ARQUITETURA Conference Paper · January 2018 DOI: 10.29327/15827.12-5 CITATIONS 0 READS 1,377 3 authors: Vitor Lacerda Siqueira New York University 3 PUBLICATIONS 0 CITATIONS SEE PROFILE Giedre Sirilo Federal University of Espírito Santo 3 PUBLICATIONS 0 CITATIONS SEE PROFILE Janaína Carneiro Marques Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (IFES) 7 PUBLICATIONS 10 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Vitor Lacerda Siqueira on 03 July 2020. 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Vários pesquisadores ligados à Arquitetura estudaram a antropometria e estabeleceram diferentes análises da proporção no corpo humano, dentre eles destacam-se Vitruvius, Da Vinci e Le Corbusier. O trabalho intenta realizar um estudo sobre a proporção no corpo humano e sua relação com a arquitetura, destacando as análises realizadas por esses três estudiosos. Suas análises acerca da proporção no corpo humano são uma grande herança para a Arquitetura, uma vez que relacionam tais medidas ao projeto arquitetônico, deixando seus traços nos ideais estéticos e utilitários de obras arquitetônicas desde a antiguidade até a atualidade. Palavras-chave: Proporção, Corpo Humano, Arquitetura, Antropometria Abstract The human body proportion has been having influence in the architecture since Classical Antiquity. Many researchers relationed to Architecture studied the anthropometry and made different reviews of the human body proportion, among them we may highlight Vitruvius, Da Vinci and Le Corbusier. This paper attempts make a study about the human body proportion and its relation with architecture, with a focus in the reviews of those three architects. Their analysis about the human body proportion are an inheritance to Architecture, once it relates those measures to architectural project, influencing the aesthetic and utilitarian ideals of architectural constructions, since antiquity until nowadays. Keywords: Proportion, Human body, Architecture, Anthropometry 1 Introdução Graphica’2017: XII International Conference on Graphics Engineering for Arts and Design Habitualmente, ao manusearmos equipamentos e objetos, o fazemos de forma automática e não refletimos sobre o dimensionamento utilizado na fabricação destes, no entanto, os fatores antropométricos agem diretamente nesse dimensionamento. Nesse sentido, cada ambiente de uma casa é projetado a fim de atender a necessidade de alguém ou de um grupo de pessoas. Além disso, móveis e objetos são fabricados tomando como base medidas do corpo humano, visando o conforto (BOUERI FILHO, 2008). Desde a Antiguidade a proporção no corpo humano é objeto de pesquisa do homem e influencia muitas áreas do conhecimento, como a arquitetura e a ergonomia. Antropometria é o ramo da Antropologia que trata da mensuração do corpo humano ou de suas partes. É uma palavra provinda do grego; anthropos equivale a "homem” e metron à "medida". O homem então seria a medida de todas as coisas, de acordo com o filósofo Protágoras (480 a.C. - 410 a.C.) (COOPER, 2015). A teoria do belo do Período Clássico foi orientada pelas especulações da antropometria, que surgiu no século V a.C. Nesse período é possível observar que a estrutura do corpo humano foi relacionada com o sentido de ordem. Contudo, destacou-se não a perfeição da exata simetria, massim a proporcionalidade dos membros entre si e com o corpo, próprio ao sentido de beleza (D'AGOSTINO, 2006). O interesse pela proporção no corpo humano e a intenção de relacioná-la à arquitetura está intrinsecamente ligado à busca por aquela estética perfeita. Neste sentido, Leon Battista Alberti, artista, matemático e filósofo do século XV, em seu tratado De Pictura, afirma que: Se numa pintura a cabeça fosse muito grande, o peito, pequeno, a mão, ampla, o pé, inchado, e o corpo túrgido, certamente essa pintura seria feia à vista. [...] Uma vez que a natureza nos pôs à vista as medidas, não é pequena a utilidade em reconhecê-las. [...] Uma coisa a se lembrar: para medir bem um corpo animado, deve-se apanhar um dos seus membros com o qual medirão os outros. O arquiteto Vitruvius media a altura dos homens pelos pés. Quanto a mim, parece-me coisa mais digna que os outros membros tenham referência com a cabeça (ALBERTI, citado por D'AGOSTINO, 2006). No terceiro livro da mesma obra, Alberti compara o edifício a um organismo, relacionando a arquitetura ao corpo humano, alegando que deve-se seguir os exemplos da natureza para alcançar a sua beleza. Nessa perspectiva, Filarete, escultor, engenheiro e arquiteto de Florença do Século XV, no primeiro livro do seu Tratttato di Architettura, expõe todas as medidas proporcionais da arquitetura, utilizando como unidade de medida a cabeça do corpo humano, como pode ser visto na figura 1 (D'AGOSTINO, 2006). Graphica’2017: XII International Conference on Graphics Engineering for Arts and Design Figura 1: Razões Proporcionais no Corpo Humano segundo Filarete Fonte: PEDRO, 2011 Entre os principais pesquisadores da proporção no corpo humano, três se destacam: Vitruvius, Da Vinci e Le Corbusier. Todos estudaram a antropometria, estabelecendo diferentes análises da proporção no corpo humano, as quais apresentaremos nas próximas seções. De forma a apresentar essa pesquisa, o artigo foi dividido em 5 seções, que são, respectivamente: Introdução, A Proporção na Arquitetura, A Proporção no Corpo Humano, O Legado Dos Estudos De Proporção na Corpo Humano e sua Influência na Arquitetura e, por último, as Considerações Finais. 2 A Proporção na Arquitetura Não se pode datar, com precisão, quando a proporção começou a ser utilizada na arquitetura, contudo pesquisas arqueológicas comprovam o uso da proporcionalidade por povos pré-históricos que habitavam o Rio Danúbio no Leste da Sérvia. No sítio mesolítico de Lapensk Vir foram encontrados vestígios de edificações e constatado que possuíam medidas internas com proporções similares. (SILVA, 2014). Graphica’2017: XII International Conference on Graphics Engineering for Arts and Design Proporção pode ser definida como uma igualdade entre razões. De uma forma geral, dados quatro números reais e diferentes de zero (a, b, c e d), em certa ordem, se a razão entre os dois primeiros for igual à razão entre os dois últimos, ou seja, se a/b = c/d, podemos dizer que os números a, b, c e d, nesta ordem, formam uma proporção (FREITAS, 2008). Na Arquitetura, a proporção é estudada desde a Antiguidade Clássica. É entendida como uma relação entre partes ou entre partes e o todo de uma edificação. Os arquitetos e engenheiros gregos e romanos primavam pelo belo e o harmônico e, para alcançarem seus objetivos, utilizavam a Proporção em seus projetos. Essa relação também pode ser encontrada em vários elementos da natureza. Muitos arquitetos relacionam a proporção do corpo humano à proporção de edificações, pois acreditam que isso traz beleza às obras, uma vez que as aproxima da natureza. Uma proporção utilizada por muitos arquitetos e artistas é a Divina Proporção. Ela pode ser encontrada em diversos elementos da natureza, inclusive no próprio corpo humano. A razão áurea, também chamada de proporção áurea, número de ouro, dentre outros nomes, apresenta, segundo pesquisadores que a adotam, um aspecto estético agradável aos olhos. Convencionou-se identificá-la pela letra grega Φ (Phi maiúsculo), em homenagem ao escultor Phídias, responsável pelas esculturas do templo grego Partenon. Phi é o número irracional (1,61803398875...) obtido matematicamente através de sequências contínuas infinitas, deduções algébricas ou geométricas (QUEIROZ, 2008). Em termos científicos, essa relação foi citada, pela primeira vez, pelo matemático Euclides de Alexandria, a mais de dois milênios, em seu livro Elementos (SANTOS, 2007). Euclides apresenta a definição de Razão Áurea, inicialmente, relacionada a áreas. Posteriormente ele propõe a divisão de um segmento em média e extrema razão, cuja divisão do maior segmento pelo menor resulta na Divina proporção, assim como a divisão do seguimento total pelo maior (LIVIO, 2008). 3 A Proporção no Corpo Humano O estudo da antropometria teve origem no século V a.C.. Vitruvius, engenheiro e arquiteto romano da Antiguidade Clássica, dedicou um dos capítulos do seu Tratado “De Architectura Libri Decem”, a estudos sobre a proporção no corpo humano. No Renascimento, as questões e os ideais da Antiguidade Clássica foram postos novamente em foco. Com isso, muitos artistas deste período foram influenciados pelos ideais e técnicas características da Antiguidade. Entre eles Leonardo da Vinci, que fez uma releitura do Homem Vitruviano, modificando algumas relações do corpo, como o Graphica’2017: XII International Conference on Graphics Engineering for Arts and Design pescoço, que seria 1/15 da altura do corpo ao invés de 1/24 e o pé que consistiria em 1/7 e não 1/6 dessa. Na Arquitetura Moderna, o arquiteto franco-suíço, Charles-Edouard Jeanneret- Gris, mais conhecido por Le Corbusier, destacou-se por valorizar a proporção em seus projetos. Ele elaborou um estudo sobre o corpo humano, “O Modulor”, que influenciou a arquitetura e a ergonomia, muitos objetos do dia a dia começaram a ser modificados para atender a escala humana (SANTOS, 2007). A seguir abordaremos os estudos realizados por Vitruvius, Da Vinci e Le Corbusier. 3.1 O Homem Vitruviano – Marcus Vitruvius Pollio Como já foi mencionado, o engenheiro e arquiteto Marcus Vitruvius Pollio, que viveu no século I d.C., relacionou a razão áurea e as proporções humanas, em seu Tratado de Arquitetura. O autor inicia a obra recomendando que os templos devem ser construídos tendo por base o corpo humano, para possuírem magnificência. (DOCZI, 2012). Escrita em dez volumes, a obra The Books Achitecture não apresenta ilustrações do Homem Vitruviano. Vitruvius expõe o conceito do homem, das relações áureas no corpo humano, o que despertou interesse e curiosidade de artistas e estudiosos que estavam por vir (GORMAN, 2002). Cesare Cesariano traduziu a obra de Vitruvius para o italiano no ano de 1521. Além de traduzir, acrescentou comentários e ilustrações. A figura 2 retrata a ideia do Homem Vitruviano reproduzida por Cesariano (GORMAN, 2002). Figura 2: Homo ad circulum e ad quadratum proposto por Cesariano Fonte: PEDRO, 2011 Graphica’2017: XII International Conference on Graphics Engineering for Arts and Design O Homem Vitruviano foi baseado na ideia arquetípica da “quadratura do círculo”. Estas formas foram utilizadas por serem consideradas perfeitas durante a Antiguidade Clássica. O círculo representa as órbitas celestes (DOCZI, 2012), que posteriormente foram descobertas como sendo elípticas pelo físico Johannes Kepler (OLIVEIRA FILHO, 2014). O quadrado representa a estabilidade quádrupla da Terra (DOCZI, 2012). Esta combinação no corpo humano sugeria que dentro de nosso corpo, uniam- se as divindades da terra e do céu, mitologicamente. Além da quadratura, o desenho mostra como as partes do corpo humano se relaciona com as outras a partir da Seção Áurea e pelo Triângulo de Pitágoras. Concluiu, em seus estudos, que o corpo humano possuiuma relação entre as partes e o todo, ou seja, as alturas de partes como cabeça, face, pé, mão, entre outros, se relacionam com a altura do corpo racionalmente. Um exemplo disso é a cabeça, que segundo ele, seria 1/8 da altura do corpo e a face 1/10 desse (LIVIO, 2008). 3.2 Releitura do Homem Vitruviano – Leonardo da Vinci Leonardo di Ser Piero da Vinci foi um artista, engenheiro, cientista, músico e arquiteto que viveu durante o período do renascimento. Se destacou em diferentes áreas do conhecimento com seus diversos estudos, como o da anatomia humana, suas invenções e por suas obras, como a Mona Lisa. Leonardo, assim como outros mestres da Renascença, dedicou parte de seu tempo ao estudo das proporções harmônicas e chegou a ilustrar o livro de Luca Paccioli, Divina Proportione. Neste livro, Leonardo diz que toda parte tem em si a predisposição de unir-se ao Todo, para que assim possa escapar à sua própria imperfeição (DOCZI, 2012). A famosa figura de Leonardo traduz a passagem do De Architectura de Vitruvius de forma a finalizar todas as outras tentativas de representação de outros estudiosos, que tentavam mudar a posição do homem e seu respectivo centro dentro dos quadrados e círculos. A chamada quadratura do círculo: [...] é um dos três problemas clássicos da Geometria grega; consiste em construir, usando apenas régua e compasso, um quadrado com a mesma área que a de um círculo dado (SANTOS, 2012). Segundo Pedro (2011), o êxito de Leonardo foi devido a sua identificação da dissociação dos centros das figuras humanas ad circulum e ad quadratum, ao contrário das representações antes feitas, que possuíam certa imprecisão, que fundiam as figuras corpo humano, círculo e quadrado a partir do mesmo centro. Graphica’2017: XII International Conference on Graphics Engineering for Arts and Design Figura 4: Centros do Homem Vitruviano Leonardo da Vinci Fonte: PEDRO, 2011 Na interpretação de Leonardo, o corpo encontra-se ora inscrito no círculo, ora inscrito no quadrado. Deste modo temos dois centros diferentes e as duas formas se tangenciam somente na base do quadrado, indicado na figura em verde. Analisando o círculo, temos que o homem inscrito neste tem pernas afastadas uma em relação à outra e os braços não se encontram perpendiculares ao seu tronco. O centro é o seu umbigo, como indicado pela cor laranja na figura. Já no quadrado, os braços situam-se horizontais e perpendiculares ao tronco, e as pernas estão unidas. O centro do quadrado no homem se localiza na base da pelve, como demonstrado em cor azul (PEDRO, 2011). Na representação do Homem Vitruviano feita por Leonardo, torna-se interessante destacar que a altura do homem equivale à largura de seus braços estendidos. 3.3 O Modulor – Le Corbusier O Modulor é um sistema de medidas desenvolvido pelo arquiteto franco-suíço Charles-Edouard Jeanneret-Gris, mais conhecido como Le Corbusier, entre 1943 e 1950. É baseado nas dimensões do corpo humano e na matemática e possibilita relacionar dois sistemas métricos: o anglo-saxônico (pés e polegadas) e o métrico- decimal (metro e centímetro) (CORBUSIER, 2010). Trata-se de uma fórmula realizada com base no quadrado duplo, na série de Fibonacci e no retângulo de ouro, a partir da qual seria possível gerar duas séries de medidas em harmonia com o corpo humano e entre si. (CORBUSIER, 2010, p.9) Graphica’2017: XII International Conference on Graphics Engineering for Arts and Design A palavra Modulor é fruto da união entre as palavras francesas módule (módulo) e or (ouro). Trazendo em si o exato significado do trabalho de Le Corbusier. Por um lado, módule (módulo) traduz a ideia de padronização. O módulo pode ser definido como a medida reguladora das proporções de uma obra arquitetônica ou a quantidade que se toma como unidade de qualquer medida.” (FERREIRA apud GREVEN e BALDAUF, 2007). Por outro lado, or (ouro) remete à razão áurea, muito utilizada no dimensionamento de edifícios, objetos e obras de arte, desde a Antiguidade, sendo considerada por muitos a proporção perfeita. Le Corbusier buscou com o Modulor uma otimização na execução das obras (standardização) e perfeição no dimensionamento. Em 1943, encarregou a um de seus colaboradores, Gerald Hanning, o desenvolvimento de uma grelha de proporções para ser utilizada nos estaleiros de obra e o orientou: Considere o homem com o braço erguido, com 2, 20 m de altura, insira-o em dois quadrados de 1,10 m por 1,10 de altura, justaponha um terceiro quadrado aos dois primeiros. Esse terceiro quadrado deverá dar-lhe a solução. O lugar do ângulo reto deve poder ajudá-lo a posicionar o terceiro quadrado (CORBUSIER, 2010, p.10). Posteriormente, Le Corbusier e sua equipe, formada por Gerald Hanning, Elisa Maillard, André Wogenscky, Jerzy Soltan, Marcel Py, André Maissonier e Justino Serafim unem-se no desenvolvimento do Modulor. Baseados na figura humana de braço erguido, decidiram fixar três dimensões consideradas fundamentais: a altura do plexo solar, a altura do topo da cabeça e a altura das pontas dos dedos com o braço levantado. Iniciaram os trabalhos considerando um homem de 1,75 m de altura, correspondente a média de um homem francês daquela época, e posteriormente, adotaram um homem de 1,83 m, que por sua vez correspondia a altura média de um homem inglês, pois essa dimensão corresponde praticamente a 6 pés e possibilita uma melhor relação entre as medidas em metros e em polegadas visto que, dessa forma, passariam a ter menos casas decimais, bem como tais medidas em polegadas terem valores muito próximos à sequência de Fibonacci (CORBUSIER, 2010). São criadas então duas séries de medidas. Cada série corresponde a uma cor, vermelho (com base na medida de 1,13 metros) e azul (com base na medida de 2,26 metros). Cada medida da sua série está relacionada com a imediatamente anterior, de acordo com a regra de ouro (CORBUSIER, 2010, p.11). Graphica’2017: XII International Conference on Graphics Engineering for Arts and Design Figura 3: O Modulor Fonte: ArqGaleria, Na criação do Modulor encerra-se a intenção de disponibilizar uma ferramenta de projeto que estabelece relação entre todas as suas grandezas e abrevia as indecisões durante o processo de concepção. Mesmo antes de sua teorização, Le Corbusier utilizava o sistema em alguns de seus projetos, como a Unidade de Habitação de Marselha, Fábrica de Jean-Jacques Duval em Saint Dié e na cidade de Chandigard (CORBUSIER, 2010). Do ponto de vista científico, o sistema elaborado por Le Corbusier e sua equipe recebeu alguns questionamentos: Visualmente os dois quadriláteros do traçado são quadrados, no entanto a base é 1,006 vezes maior que a altura. O arquiteto argumenta que seis milésimos de um valor constituem uma quantidade negligenciável, não perceptível a olho nu e que, no âmbito da Arquitetura, não se quantifica. Essa imprecisão gerou muitas críticas. Para alguns, o modulor não passou de uma receita a ser utilizada na fase de concepção de projeto. Todavia, de acordo com Le Corbusier, o Modulor é um sistema de ajuste das dimensões. Não serve para determinar grandezas e sim para as adaptar para que se relacionem. “Deve ser encarado como uma mera ferramenta, um utensílio e jamais como uma máquina que, por si só, pudesse produzir o belo” (CORBUSIER, 2010, p.13). 4 O Legado dos Estudos de proporção no corpo humano O tratado “De Architecture”, de Vitruvius, foi um importante registro das técnicas de arquitetura e engenharia da antiguidade clássica e, séculos depois, influenciou movimentos como o Renascimento, no qual o homem volta a ser o foco das ciências e das artes. Essa influência é percebida em obras de alguns arquitetos, como Alberti, Graphica’2017: XII International Conference on Graphics Engineering for Artsand Design que retrata, em seu tratado De Pictura, a profunda relação entre a beleza e a proporção, em destaque a proporção no corpo humano, utilizando ainda um membro do corpo como unidade de medida: Uma coisa a se lembrar: para medir bem um corpo animado, deve-se apanhar um dos seus membros com o qual medirão os outros. O arquiteto Vitruvius media a altura dos homens pelos pés. Quanto a mim, parece-me coisa mais digna que os outros membros tenham referência com a cabeça (ALBERTI, citado por D'AGOSTINO, 2006). Na Roma Antiga utilizavam como unidade de medida o passus, múltiplo dos pés, uma grandeza antropométrica (ROSSO, apud GREVEN e BALDAUF, 2007). Eles usavam o módulo não apenas para a produção de artefatos construtivos, como tijolos e ladrilhos, mas também para utensílios domésticos como pratos e copos, já levando em consideração a espessura de suas juntas e a sobreposição das peças (CENTRO BRASILEIRO DA CONSTRUÇÃO BOUWCENTRUM, apud GREVEN e BALDAUF, 2007). Um ponto de destaque do dimensionamento romano é que suas unidades de medida eram pequenos múltiplos de várias unidades de medida padrão, sendo que nenhuma constituía a unidade base, isso foi chamado por Vitruvius, como ratio symetriarum (CENTRO BRASILEIRO DA CONSTRUÇÃO BOUWCENTRUM, apud GREVEN e BALDAUF, 2007). Leonardo da Vinci, também influenciado pela antiguidade, realizou uma releitura do Homem Vitruviano de Vitruvius, modificou medidas e adotou as proporções de sua releitura em algumas de suas obras. Na arquitetura moderna, o arquiteto Le Corbusier, elaborou uma escala harmônica relacionando proporções humanas com a razão áurea. O conceito do Módulo, como fator numérico, desenvolveu uma nova concepção através da industrialização do processo de construção, sendo empregado com fins técnicos, utilitários e produtivos. Um exemplo do uso da proporção é o Convento Sainte-Marie de La Tourette, de Le Corbusier. Um processo de composição de vários retângulos áureos pode ser identificado na planta baixa da obra. Estes processos incluem isometrias de translação, rotação e reflexão, possuindo conjuntos de retângulos áureos em escalas diferentes. (VASCONSELOS, 2013) Graphica’2017: XII International Conference on Graphics Engineering for Arts and Design Figura 4: Convento Sainte-Marie de La Tourette Fonte: VASCONSELOS, 2013 Sua obra, O Modulor, relaciona ainda o sistema métrico-decimal de medidas ao sistema anglo-saxônico, o que se apresenta como uma boa alternativa para minimizar o problema da carência de moradias, ocasionado pela segunda guerra mundial. Isso pois diminuía o problema de incompatibilidade entre os projetos, materiais e equipamentos produzidos em cada país, possibilitando o intercâmbio destes. Ainda com o objetivo de minimizar os impactos da guerra, o governo francês solicita que Le Corbusier projete uma unidade de habitação coletiva. O arquiteto projeta então a Unité d’Habitación Marseille, que é dimensionada com base em O Modulor, sendo um marco da arquitetura moderna. 5 Considerações Finais A busca pelo belo na Arquitetura levou o homem aos estudos de proporção no corpo humano. Desde a antiguidade, época em que se posicionava o homem como figura central, percebia-se a harmonia e beleza do corpo humano e desejava-se essas características na arquitetura. Assim, muitos arquitetos adotaram a proporção em seus projetos. Na Antiguidade o tema foi tratado por Vitruvius, que idealizou o Homem Vitruviano, um estudo de proporções encontradas no corpo humano, que foi reestudado por Leonardo da Vinci, no Renascimento. O pesquisador modificou algumas proporções do primeiro e foi reconhecido por representar com excelência os ideais do homem de Vitruvius, sendo visto, por muitos, como um símbolo de extrema beleza. Para além da estética, na Arquitetura Moderna Le Corbusier criou um sistema de medidas proporcionais denominado O Modulor e o empregou em diversas de suas obras. O arquiteto adentra no estudo da antropometria visando além da beleza, utilidade, função e otimização da execução das obras. Graphica’2017: XII International Conference on Graphics Engineering for Arts and Design Os três estudos sobre proporção no corpo humano apresentados representam um significativo legado para a Arquitetura, ao relacionar essas medidas com o projeto arquitetônico, influenciando os ideais estéticos e utilitários de obras arquitetônicas desde a antiguidade até a atualidade. Referências BOUERI FILHO, José Jorge. Antropometria aplicada à arquitetura, urbanismo e desenho industrial. 1 ed. 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