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Revista 28 Set 15

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Resenha Semanal das Revistas 28/09/15 1 / 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Resenha de 28 Set 15 
Resenha das Revistas 
28 Set 15 
CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO EXÉRCITO 
DIVISÃO DE RELAÇÕES COM A MÍDIA 
Continuação da Resenha Semanal das Revistas 28/09/15 2 / 40 
 
 
MINISTÉRIO DA DEFESA 
EXÉRCITO BRASILEIRO 
GABINETE DO COMANDANTE 
CCOMSEX 
 
 
Resenha Semanal 
 
das Revistas 
 
28 Set 15 
 
Segunda-feira 
 
 
Ano XLII Nº 228 – JUL 2015 
 
Base de Apoio Logístico do Exército 
“Braço Operacional do Comando do Exército” 
A Base de Apoio Logístico do Exército foi implantada com o objetivo de aumentar a eficiência do Sistema 
Logístico, dotando-o de um Grande Comando Logístico para atuar em proveito da Força 
 
 
 
O Departamento Logístico transformou-se em Comando Logístico (COLOG) e incluiu, em sua organização, a Base 
de Apoio Logístico do Exército (Ba Ap Log Ex), Grande Unidade Logística capaz de atender à necessidade de 
reestruturação do Sistema Logístico (SISLOG). Sua criação representou sensível avanço para o Exército Brasileiro (EB), 
aproximando a estrutura do SISLOG ao previsto na Estrutura Militar de Defesa. Em Manual de Campanha, coube à Ba 
Ap Log Ex a atribuição de prover, nos grupos funcionais suprimento, transporte, manutenção e saúde, os meios 
necessários às Grandes Unidades logísticas e administrativas da Força Terrestre em todo o território nacional; de 
realizar, quando necessário, o apoio logístico às operações multinacionais. 
Na oportunidade da implantação da Ba Ap Log Ex, o Estado-Maior do Exército (EME) definiu, em diretriz, as 
missões dessa Grande Unidade, nos seguintes termos: 
– contribuir, como órgão operacional do COLOG, para aumentar a eficiência do Sistema Logístico; 
– enquadrar organizações militares (OM) de apoio logístico e atuar em proveito do EB como um todo, inclusive nas 
missões de paz, participando de aquisições, armazenamento, distribuição, transporte, manutenção e contratação de 
serviços; e 
– coordenar o desembaraço alfandegário de importação e de exportação de material de interesse do EB. 
Continuação da Resenha Semanal das Revistas 28/09/15 3 / 40 
A Ba Ap Log Ex foi criada no dia 23 de dezembro de 2008. Antes dessa data, já existiam OM (desde a década de 
1940) encarregadas das atividades de desembaraço aduaneiro. No ano de 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, 
surgiu a Comissão de Recebimento de Material dos Estados Unidos da América, situada na Praça Mauá, Rio de Janeiro, 
com a finalidade de realizar em contato com aquele país, o desembaraço alfandegário dos materiais adquiridos. Em 
1965, com a diversificação das importações, recebeu a denominação de Comissão de Recebimento de Material do 
Estrangeiro e manteve autonomia administrativa e subordinação direta ao Gabinete do Comandante do Exército até 
1980. 
Naquele mesmo ano, a Comissão tornou-se uma Unidade semiautônoma, subordinada ao Comando da 1ª Região 
Militar (1ª RM). Permaneceu nessa condição até 24 de junho de 2000, quando foi extinta e incorporada ao 1º Depósito 
de Suprimento, tornando-se uma Seção do Órgão Provedor da 1ª RM e passando a denominar-se Centro de Importação 
e Exportação de Material. 
Após a criação da Ba Ap Log Ex, esse Centro foi transferido para o Comando da Base e passou a constituir, no 
início, a Seção de Importação e Exportação de Material e, posteriormente, a Divisão de Importação e Exportação de 
Material (DIEM), sua atual denominação. 
A necessidade de modernização da Força Terrestre cresce de importância com a projeção do Brasil no cenário 
internacional, sua participação como nação emergente integrante do BRICS (grupo político de cooperação composto por 
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), além do aumento de sua exposição no exterior por sediar grandes eventos. 
Nesse processo, a DIEM exerce um relevante serviço, atendendo, tempestivamente, à crescente demanda nas 
importações de diversos produtos de defesa, e auxilia no desenvolvimento dos projetos de modernização do EB. 
A título de exemplificação, é possível mencionar a atuação da DIEM/Ba Ap Log Ex no desembaraço alfandegário 
dos Veículos Blindados de Combate Leopard, de origem alemã, que ingressaram no Brasil pelo porto de Rio Grande 
(RS). Ressalta-se, ainda, o trabalho de desembaraço aduaneiro realizado pela DIEM no envio de suprimento para as 
tropas brasileiras no Haiti. 
No apoio à família verde-oliva, a DIEM esforçar-se para agilizar o trâmite alfandegário de medicamentos 
importados para militares e seus dependentes, nos casos em que o tratamento implique o uso de substâncias não 
produzidas no Brasil. Atividades dessa natureza, apesar de serem caracterizadas pelo elevado grau de complexidade e 
por envolverem diversos órgãos da administração pública federal, são extremamente gratificantes por representarem, em 
muitas ocasiões, a preservação da saúde ou da vida de um companheiro de farda ou de seu familiar. 
A DIEM/Ba Ap Log Ex busca o constante aprimoramento dos seus recursos humanos e o aperfeiçoamento de 
seus processos, de modo a possibilitar um desembaraço cada vez mais ágil e eficiente, sem, no entanto, abdicar de um 
eficaz controle patrimonial do material enviado e trazido do exterior. Todo o trabalho é desenvolvido com o objetivo 
precípuo de contribuir para que o Exército cumpra, satisfatoriamente, suas missões constitucionais. 
É importante destacar que, para aumentar a eficiência do Sistema Logístico, a Ba Ap Log Ex, sob orientação do 
EME, conduz estudos e experimentações doutrinários, visando ao apoio logístico para o Exército Brasileiro. Para esse 
mister, o Comando da Base foi estruturado com uma Divisão de Estudos Logísticos, além das seções normais de um 
Estado-Maior Geral. 
Em 16 de junho de 2009, o Comandante do Exército ativou a Ba Ap Log Ex, com sede na cidade do Rio de 
Janeiro, e incluiu o Hospital de Campanha em sua organização. 
 
 
As organizações Militares diretamente subordinadas 
 
Companhia de Comando 
A Companhia de Comando tem por missão prover, no campo das funções logísticas de recursos humanos, 
transporte, saúde e manutenção, os meios necessários em apoio ao Comando da Base de Apoio Logístico do Exército. 
 
 
Depósito Central de Armamento 
O Depósito Central de Armamento tem as atribuições de receber, classificar, armazenar, controlar, conservar e 
fornecer armamentos, instrumentos de observação, direção e controle de tiro, tanto em itens completos como em peças 
Continuação da Resenha Semanal das Revistas 28/09/15 4 / 40 
de reposição, e graxas, óleos e lubrificantes utilizados na conservação e na manutenção desses mesmos materiais, 
suprindo a demanda desses itens em todo o EB. 
 
 
Batalhão de Manutenção de Armamento 
Sua missão é a manutenção de armamentos em uso na Força Terrestre e de seus instrumentos de observação, 
direção e controle de tiro (IODCT). Na atualidade, realiza a manutenção de 4º escalão nos armamentos pesados, nos 
armamentos leves e nos IODCT de diversas OM. Opera, ainda, a manutenção de 3º escalão em proveito da 1ª RM. 
 
 
Depósito Central de Munição 
Sua missão é manter e prover a munição e os explosivos para o EB, realizando “empaiolamento”, proteção, 
controle, análise química e calorimétrica, bem como o gerenciamento da distribuição para todas as RM, em tempo de 
paz, e para o teatro de operações, quando ativado.Estabelecimento Central de Transporte 
É uma OM que difere de todas as demais. Sua missão é ímpar na estrutura do Exército: transportar as mais 
diversas classes de suprimento para todas as RM. Executa, ainda, o remanejamento de suprimentos entre duas ou mais 
RM, otimizando tempo e recursos, além de prestar apoio às Forças de Paz, participando do embarque e do 
desembarque de cargas em território nacional. 
 
 
1º Depósito de Suprimento 
Suas missões são prestar apoio logístico, exceto em suprimento Classe V, à 1ª RM; suprir as demais RM, exceto 
em Classes I e V; e apoiar, em todas as Classes, as OM em missões no exterior, além de realizar o desembaraço 
alfandegário de importação e de exportação de material. 
 
Continuação da Resenha Semanal das Revistas 28/09/15 5 / 40 
 
Edição Nº 903 – 28 de setembro de 2015 
 
Personagem da semana: Manoel Dias 
O desemprego chegou 
O ministro do Trabalho, que relativizou o sumiço dos empregos, deve perder o seu graças a uma fusão na 
reforma ministerial Leandro Loyola 
 
O ministro do Trabalho, Manoel Dias, sempre teve as estatísticas a seu lado. Periodicamente, Dias aparece em 
entrevistas coletivas para anunciar números positivos na criação de empregos, a mais visível atividade de sua Pasta. As 
coisas começaram a mudar neste ano, com a chegada das nuvens da crise econômica, fabricada desde 2012 
em prédios próximos ao seu, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Em julho, quando 244 mil vagas de emprego 
foram fechadas no país - um recorde Dias teve de usar a elasticidade das estatísticas. "Nós geramos 23 milhões de 
empregos. Não são 200 mil, 300 mil (vagas a menos) que significam que estamos vivendo um desastre", disse Dias. 
Os desastres chegam aos poucos, como se sabe. No caso de Dias, nem é tão grave. Em breve, ele deve engordar as 
estatísticas do desemprego - deixará de ser ministro. 
O ineditismo no caso é que, ao contrário dos antecessores, Manoel Dias vai perder o emprego não apenas por 
falta de apoio em seu partido ou necessidade de o governo agradar a outro partido que não o seu. Deve sair porque, 
depois de 40 anos, o Ministério do Trabalho será fundido ao Ministério da Previdência, sob o comando do petista Carlos 
Gabas. Manoel Dias pode entrar para a história como o ministro do Trabalho que foi vítima de uma fusão. Criado por 
Getúlio Vargas em 1930, o Trabalho é parte do arcaísmo que inclui a engessada legislação trabalhista e sindical. Voltará 
à situação de 1960, quando se juntou à Previdência, porque o governo, em derrocada econômica e financeira, precisa 
reduzir o número de ministérios. É um gesto pouco eficiente, mas simbólico, de que está cortando gastos. É claro que 
Dias e seu partido, o PDT, podem ainda se agarrar à possibilidade de manter tudo como está, afinal a aposta mais 
segura neste governo é que a presidente Dilma Rousseff anunciará algo e mudará de ideia radicalmente logo depois. 
Manoel Dias chegou ao ministério pelas vias normais da ocupação de cargos por apoio no Congresso. Ele deve 
suas atribuições, gabinete, veículo e residência oficiais a Carlos Lupi, dono do PDT. Lupi foi ministro e saiu em meio a 
um escândalo usual em sua área, que envolvia dinheiro público, entidades ligadas a sindicatos, cursos de capacitação e 
propina de até 15% a pessoas ligadas a ele. Também gostava de viajar em jatinhos de personagens beneficiados pelas 
verbas do ministério. O sucessor de Lupi foi um adversário interno seu, o então deputado Brizola Neto, que caiu 
justamente pela falta de apoio do partido - graças, em parte, a sabotagens. Lupi saiu de Brasília, mas Brasília não saiu 
dele, que nunca deixou de ter cargos e controlar o ministério. A bancada do PDT, insaciável, sempre reclamou da 
capacidade de Dias de "atender" a seus anseios por cargos e verbas. Por isso, passou a votar contra o governo. Para 
piorar um pouco, em diversas ocasiões, Carlos Lupi ensaiou um desembarque da base aliada. 
Assim, há meses Dias e seu ministério são personagens garantidos nas conversas sobre uma reforma ministerial. 
Pela perda do Trabalho, o PDT deve ganhar o Ministério das Comunicações, ocupado pelo deputado André Figueiredo. 
O PDT deixará de ter uma Pasta identificada com sua história ligada ao sindicalismo. Dias não fugiu ao roteiro dos 
ministros de sua Pasta, que consiste hoje em divulgar números do emprego, carimbar a criação de sindicatos e distribuir 
verbas para a capacitação de trabalha dores e para a sobrevivência das centrais sindicais. No ano passado, as centrais 
sindicais estavam enforcadas e revoltadas com Dias. O Ministério do Trabalho atrasou a divulgação da pesquisa que 
atesta o índice de representatividade das entidades. Quem, em tese, representa pelo menos 7% dos trabalhadores tem 
direito a receber uma fatia do imposto sindical, a principal fonte de recursos das centrais. Dias demorou porque a Central 
dos Sindicatos Brasileiros (CSB), ligada ao PMDB, corria para tentar provar que atingia o índice. Dias atendia a pedidos 
do PMDB, entre outros, do vice-presidente Michel Temer e do presidente do Senado, Renan Calheiros. Dias segurou a 
lista quanto pôde. A CSB conseguiu e, neste ano, recebeu R$ 15 milhões. Como sempre acontece nesses casos, a 
"comprovação" apresentada pela CSB tem números contestáveis, difíceis de acreditar. 
Continuação da Resenha Semanal das Revistas 28/09/15 6 / 40 
A passagem de Manoel Dias pelo ministério foi marcada, como a de seu padrinho Lupi, por uma sucessão de 
denúncias de irregularidades. Em setembro de 2013, seis meses após a posse de Dias, agentes da Polícia Federal 
chegaram ao prédio do ministério à procura de provas de um esquema de desvio de recursos públicos. A Operação 
Esopo prendeu 23 pessoas suspeitas de participar do desvio de R$ 400 milhões da Pasta. O sistema era o de sempre: o 
ministério firmava convênios, enviava dinheiro a ONGs, os serviços não eram prestados e o dinheiro sumia. O então 
secretário executivo, Paulo Roberto Pinto, deixou o cargo um dia depois. Três funcionários foram presos. 
No mesmo dia da incursão da PE que prendeu os funcionários do Ministério do Trabalho, o Tribunal de Contas de 
Santa Catarina pediu ao Tribunal de Contas da União uma investigação contra Dias. A investigação suspeitava de 
desvio de recursos de convênios assinados por Dalva Maria de Luca Dias, mulher do ministro e secretária de Assistência 
Social de Santa Catarina, e abastecidos com dinheiro do ministério. Adversários de Dias dentro do PDT não perderam a 
chance de pressionar para que ele deixasse o cargo. Seus aliados ajudaram e Dias ficou. Em março do ano passado, 
o Ministério Público Federal pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de um inquérito para investigar Dias. 
Novos indícios apontavam a participação dele num esquema para colocar militantes do PDT na folha de pagamentos de 
uma entidade que prestava serviços ao ministério. Os contratos somavam R$ 11 milhões. Um ex-dirigente da juventude 
do PDT em Santa Catarina afirmou que Dias orientava e cuidava pessoalmente dos pagamentos. Em setembro, o 
STF arquivou o processo por falta de provas. 
Manoel Dias resistiu, sem nunca ter tido apoio incisivo da bancada do PDT e do movimento sindical. Bem tratados 
nos dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva, os sindicalistas caíram no ostracismo com Dilma. A presidente não gosta 
e evita a turma das greves. Em vez de dar a tarefa a Dias, Dilma dividia o trabalho entre seu então ministro Gilberto 
Carvalho e o assessor especial José Lopez Feijó. Nos raros encontros entre Dilma e sindicalistas, Manoel Dias falou 
pouco. Ele só falava na divulgação de números sobre a evolução dos postos de trabalho. Nessas ocasiões, sempre 
defendeu o pressuposto de que o Brasil não vive uma criseeconômica. A cultura de crise, segundo ele, é uma criação 
da oposição. Na semana passada, o desemprego atingiu 7,6%, o mais alto índice desde 2010, ainda pela metodologia 
que pesquisa apenas seis das maiores regiões metropolitanas do país. A estatística permite comparações elásticas, que 
podem relativizar esse número. Pode mostrar até que cortar o emprego do ministro do Trabalho, e engordar um 
pouquinho essa percentagem, pode não ser tão ruim assim. 
 
 
Coluna 
Rouba, mas faz obra social 
Eugênio Bucci 
 
O bordão "rouba, mas faz" entrou para o folclore político brasileiro na década de 50 do século passado. Os cabos 
eleitorais do político paulista Adhemar de Barros (1901 -1969) o repetiam para neutralizar os adversários, que o 
acusavam de ser ladrão. Em vez de negar as acusações, os adhemaristas afirmavam que Adhemar eram um fazedor, 
que construía isso e mais aquilo. Se roubava? Ora, isso era o de menos. O argumento era esdrúxulo, mas funcionava 
com uma boa parte do eleitorado, que também não ligava para aquele "detalhe" de roubar. 
Mas não era detalhe. Naquele tempo, a corrupção não era mixaria. Ainda bem que, hoje, o adhemarismo é um 
capítulo encerrado. 
Ou será que foi ressuscitado? De uns tempos para cá, um argumento muito semelhante começa a fazer escola em 
debates sobre a situação nacional. Aqui e ali, os defensores de certos governos ligados a certos atos ilícitos se 
especializaram em listar as chamadas "conquistas sociais" supostamente promovidas por seus ídolos, como se cada 
uma delas servisse de atenuante para o tal "problema" de corrupção. Eles até reconhecem que a bandeira da ética está 
em frangalhos em suas fileiras, mas acham que as "conquistas sociais" compensam o vexame. Argumentam com tanta 
convicção que fazem lembrar os velhos adhemaristas. Reeditam o velho bordão, agora com novo formato: "rouba, mas 
faz obra social". Eles efetivamente pensam isso, mas não têm coragem de admitir. 
Nos anos 1950, o "rouba, mas faz" era combatido pelos udenistas com uma pregação moralista, histérica e metida 
a redentora. Era patético, mas dava resultados eleitorais. Fora isso, a pregação moralista era inócua, pois a distorção do 
"rouba, mas faz" não era de natureza moral. Claro que a corrupção sempre foi imoral, ultrajante e indecorosa, mas sua 
natureza era política - e é por aí que ela devia ser compreendida e combatida. Politicamente. Hoje também é assim. 
Quando alguém aceita o bordão neoadhemarista "rouba, mas faz obra social", aceita junto à premissa sobre a qual ele 
se apoia. Essa premissa é a crença de que, na política, a ética é um departamento separado dos outros campos, mais 
ou menos como, numa empreiteira, o setor de contabilidade é separado do setor de engenharia. Esse engano 
gravíssimo, embora bastante comum, estava na base do adhemarismo ontem e está na base do neoadhemarismo hoje. 
Por que um engano gravíssimo? Muito simples. Nas democracias, a política tece um pacto de confiança entre 
governantes e governados, sem o qual não há estabilidade institucional. Ao trair a confiança do eleitor, o político assume 
o risco de romper os laços que dão coesão a essa estabilidade. Às vezes, os laços rompidos são poucos, e as coisas 
seguem sua rotina sem maiores abalos. Outras vezes, são laços mais profundos, mais estruturantes, e, aí, vêm as 
crises. Podem ser crises de governabilidade, uma das que o Brasil enfrenta hoje, e podem ser crises mais sérias. 
Aí você pergunta: mas a crise de governabilidade do Brasil é resultante da corrupção? Em grande parte é, sim. É 
resultante da percepção generalizada de que houve muito desvio de conduta e muita mentira para acobertá-lo. O preço 
que pagamos pela corrupção não se resume a um caixa de bilhões de reais afanados por uns e outros. Se fosse só isso, 
seria fácil. O preço inclui a respeitabilidade das autoridades, o esvaziamento da capacidade de liderança dos 
governantes. Se um governo perde o respeito da sociedade, perde a condição de ser governo. 
Continuação da Resenha Semanal das Revistas 28/09/15 7 / 40 
Não é só. Ao drenar os recursos do Estado - recursos humanos, principalmente -, a corrupção sabota a 
implementação das políticas públicas e, em especial, daquelas concebidas para combater a pobreza e a desigualdade 
social, que ficam especialmente desmoralizadas. Quem deixa roubar não combate a desigualdade coisa nenhuma, 
apenas contribui para perpetuá-la, pois vira serviçal do dinheiro sujo, o pior capital que existe, e vira refém das forças 
mais retrógradas que hoje atuam no Brasil. 
Não é com moralismo vulgar que o Brasil vai superar esse mal. A propósito, fuja dos novos moralistas 
(neoudenistas), que dizem que todos os ladrões de dinheiro público são filiados ao PT. Isso é mentira, é cinismo. Ao 
mesmo tempo, cuidado com os que tentam posar de vítimas e se esconder atrás de velha mentalidade adaptada aos 
novos tempos: "Rouba, mas faz obra social". Outra mentira. Quem rouba faz uma coisa só, e essa coisa é roubar. 
Cuidado com uns e cuidado com outros. 
No mais, façamos figa. A corrupção derrubou o valor de mercado e a credibilidade da Petrobras. Que ela não 
derrube agora o ânimo do país inteiro. 
 
 
Nossa Opinião 
O que é ruim sempre pode piorar 
O projeto da unificação do PIS e da Cofins pode degradar ainda mais o sistema tributário 
 
A escalada do dólar na semana passada (leia mais na reportagem na página 68) é mais um sinal eloquente de 
que o Brasil está na rota de um desastre financeiro. Como escreveu na semana passada o respeitado analista Mohamed 
El-Erian, ex-executivo da Pimco, uma das principais empresas globais de gestão de investimentos, o país, para evitar um 
colapso, deveria acionar um "circuit breaker" - uma alusão ao mecanismo que interrompe as operações das Bolsas de 
Valores em momentos de grande instabilidade. No caso do Brasil, esse "circuit breaker" seria a adoção de uma série de 
medidas pelo governo, com a aprovação do Congresso Nacional, para afastar o risco da insolvência. 
O que aumenta o risco do desastre é a imensa capacidade do governo Dilma de produzir desacertos. A perda do 
grau de investimento do país, uma das razões da queda livre do real, foi resultado de uma trapalhada do governo: o 
envio ao Congresso de uma proposta de Orçamento para 2016 com um déficit de R$ 30 bilhões. Em meio à crise, os 
laboratórios oficiais continuam a gestar mais contrassensos. Um exemplo é o projeto em estudo no Ministério da 
Fazenda de unificação de dois tributos, o PIS (Programa de Integração Social) e a Cofins (Contribuição para 
Financiamento da Seguridade Social). Eles são cobrados em cima do faturamento das empresas e financiam o seguro-
desemprego, a Previdência e a saúde. 
O governo alega que a intenção da reforma é simplificar o sistema tributário, conhecido por seu emaranhado 
infernal de impostos, taxas e contribuições. Um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) 
mostra que, sob o discurso da simplificação, o governo pretende tributar mais. A unificação, segundo o IBPT, pode 
render à União mais R$ 50 bilhões. O setor mais afetado seria o de serviços, intensivo no emprego de mão de obra, que 
pagaria R$ 33 bilhões dessa conta. Várias evidências corroboram que a explicação do governo para a reforma do 
PIS/Cofins pode ser fantasiosa. O projeto de Orçamento para 2016, por exemplo, prevê um aumento da arrecadação 
com o PIS e a Cofins de R$ 30 bilhões. 
No século XIX, George William Frederick Charles, antigo Duque de Cambridge, comandou o Exército britânico por 
39 anos. Ele ficou conhecido pela seguinte frase: "Qualquer mudança, a qualquer momento, por qualquer motivo, é de 
lamentar". No Brasil do século XXI, a parcimônia conservadora de George Charles viria bem a calhar em matéria 
tributária. Como diz o ex-secretário da Receita FederalEverardo Maciel, quase todas as reformas tributárias realizadas 
nas últimas décadas no Brasil serviram tão somente para degradar o sistema de impostos - em detrimento dos cidadãos 
e das empresas e em benefício do Estado Leviatã. Com o histórico do atual governo, algumas reformas, concebidas a 
pretexto de maior racionalidade, podem piorar o que já é ruim e resultar em mais desemprego, inflação, informalidade e 
desestímulos a novos negócios. 
 
 
Notícias do Planalto 
A teoria Toffoli 
O ministro do Supremo consegue retirar do juiz Sérgio Moro novos casos da Lava Jato, decisão que põe em 
risco o futuro das investigações 
Daniel Haidar 
 
O ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli - ex-advogado eleitoral do PT, ex-advogado-geral da 
União no governo Lula - estava num dia para lá de inspirado. Começava a tarde de quarta-feira, dia 23 de setembro, 
no plenário do STF, e Toffoli se preparava para brilhar. Ele havia levado aos demais ministros uma chamada questão de 
ordem: queria que um dos casos da Lava Jato em andamento no Tribunal saísse de lá e, em vez de retornar a Curitiba, 
como vinha entendendo a Corte, fosse remetido a São Paulo, para longe do juiz Sergio Moro. A questão de ordem fora 
apresentada por Toffoli às pressas, no dia anterior. 
Toffoli, o advogado do PT que chegara ao Supremo nomeado pelo presidente Lula, hoje um dos alvos principais 
da Lava Jato, o advogado que fora reprovado duas vezes num concurso para juiz, pôs-se a dar lições jurídicas e 
morais, indiretamente, ao juiz Sergio Moro - e aos procuradores e delegados da força-tarefa. "Há Ministério Público, há 
Polícia Federal e há juiz federal em todos os Estados do Brasil, com uma capilaridade enorme", disse Toffoli, erguendo 
a cabeça e mirando todos os colegas ministros. "Não há que se dizer que só haja um juízo que tenha idoneidade 
Continuação da Resenha Semanal das Revistas 28/09/15 8 / 40 
para fazer uma investigação ou para o seu devido julgamento." Toffoli fez, então, o que pareceu uma longuíssima 
pausa diante do profundo silêncio do pleno. "Só há um juízo no Brasil?", ele perguntou. Nova pausa dramática. "Estão 
todos os outros juízos demitidos de sua competência? Vamos nos sobrepor às normas técnicas processuais?" 
Para além dos arroubos retóricos, Toffoli argumentava que o caso em discussão, de corrupção e lavagem de 
dinheiro envolvendo a senadora Gleisi Hoffmann, do PT do Paraná, e outros petistas sem foro privilegiado em desvios no 
Ministério do Planejamento, não tinha relação com a Lava Jato. Sendo assim, aqueles petistas que não detêm foro não 
precisariam ser julgados no Supremo e, ademais, deveriam ser processados em São Paulo, onde, no entendimento de 
Toffoli, dera-se a maioria das operações de lavagem de dinheiro. O mesmo raciocínio passaria a valer para os demais 
casos da Lava Jato. Se não envolver político com foro, e nada tiver a ver com a Petrobras, cada investigado deveria 
passar a ser julgado no Estado em que os crimes foram cometidos. É a teoria Toffoli, como ficou conhecida no Supremo: 
a Lava Jato tem de ser fatiada país afora. 
O fatiamento da Operação Lava Jato já era algo esperado dentro do Tribunal. Em reservado, alguns ministros 
criticavam a postura de Sergio Moro, considerada midiática e com diversos recados em suas decisões. O relator da 
operação, o ministro Teori Zavascki, já dava sinais de cansaço com o acúmulo de casos, que envolvem despachos 
quase diários para definir prazos e autorizar diligências, como quebras de sigilo. Ele chegou a dizer em sessão que a 
operação "se alastrava como ondas". Três ministros ouvidos por ÉPOCA confidenciaram que ainda estão sob o trauma 
do processo do mensalão, que tomou dois anos da Corte. Perceberam que a Lava Jato tende a tomar cada vez mais 
tempo de todos, monopolizando, mais uma vez, os trabalhos do Tribunal. "Ninguém aguenta mais tanto processo 
criminal", diz um dos ministros. 
Esse estado de ânimo entre os ministros, porém, não explica por que eles não se ativeram a devolver, o máximo 
possível, os casos da Lava Jato a Curitiba, como vinha sendo feito. Na sessão em que prevaleceu a teoria Toffoli, os 
ministros pareciam incomodados com o protagonismo de Moro - e aborrecidos com a dimensão que o caso tomou. 
"Temos de dar um HC (habeas corpus) ao ministro Teori", brincou, mas nem tanto, o ministro Barroso. Durante a sessão 
que pode vir a ser a mais importante deste ano no Supremo, os ministros não debatiam energeticamente ou se 
mostravam preocupados com a gravidade moral de um caso que mobiliza as atenções do país. Revelavam-se, nos 
silêncios e nas poucas palavras, alheios à necessidade de assegurar aos brasileiros que a decisão não representava um 
golpe na Lava Jato. 
Fora da Corte, todos se perguntavam: por que agora? O que mudou? A quem interessa essa mudança? Desde 
abril do ano passado, réus tentavam retirar o julgamento do Paraná, sob o argumento de que o Tribunal competente era 
o do Rio de Janeiro, sede da Petrobras. Mas diferentes subsidiárias da estatal foram envolvidas na investigação e o STF 
avaliou que os casos deveriam continuar com o juiz Moro. Nenhum dos ministros explicou a razão do súbito cavalo de 
pau nessa interpretação. 
A argumentação de Toffoli, enfim, prevaleceu - outros sete ministros acompanharam o voto dele, apenas Gilmar 
Mendes, Luís Roberto Barroso e o decano Celso de Mello discordaram, além, é claro, da Procuradoria-Geral da 
República. A tese é, portanto, juridicamente defensável. Mas Toffoli e seus colegas recorreram a uma premissa frágil e, 
ao mesmo tempo, se esqueceram da mais forte premissa envolvendo o caso. A premissa frágil: a Lava-Jato resume-se à 
corrupção na Petrobras. A premissa forte, mas ignorada: a Lava Jato envolve uma organização criminosa sofisticada. 
As evidências do caso apontam que, ao contrário do que argumentou Toffoli, a Lava Jato não se restringe à 
Petrobras. A Lava Jato começou com uma investigação da Polícia Federal e do Ministério Público sobre quatro grupos 
de doleiros, que lavavam dinheiro de corrupção, narcotráfico e contrabando, entre outros crimes. Um desses doleiros era 
Alberto Youssef, cujo esquema de lavagem levou os investigadores à corrupção na Petrobras. Como num efeito dominó, 
só possível graças aos instrumentos de investigação de organizações criminosas complexas, seguiu-se a prisão do 
diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa e a descoberta dos políticos, dos partidos e dos grandes empresários que 
lucravam com os desvios na estatal. 
Não tardou para que essa organização com clara divisão de tarefas, unida pelo objetivo de fraudar os cofres 
públicos para lucrar e se manter no poder. Com o acúmulo de delações premiadas e provas bancárias, especialmente as 
obtidas em paraísos fiscais, conseguiu-se comprovar crimes em outros órgãos do governo, também sob influência de 
PT, PMDB e PP, os partidos que davam sustentação ao esquema: Eletrobras, Eletronuclear, Belo Monte, Ministério da 
Saúde, Caixa, Ministério do Planejamento, entre outros. Quanto mais a Lava Jato avança, mais empresários, políticos, 
operadores e órgãos públicos aparecem no esquema. 
Esse crescimento exponencial de fatos, em tantas e tantas fases da Lava Jato, não é desordenado. Emerge dele 
um mosaico de um só esquema, com pontos comuns incontornáveis. Do lado político, o comando e a divisão de tarefas 
cabia a gente grande do PT, do PMDB e do PP. Do lado econômico, havia um cartel de empreiteiras, organizado com o 
único propósito de, com a cumplicidade criminosa desses políticos e agentes públicos, roubar dinheiro público - e não 
apenas na Petrobras. A lavagem do dinheiro desse esquema, apesar do grande número de intermediários, envolvia os 
mesmos corruptores e os mesmos corruptos. 
O triunfo da teoria Toffoli põe em risco o futuro da Lava Jato. Abre o precedente paraque, a partir de 
agora, qualquer caso fora da Petrobras seja encaminhado a outro juiz, que não terá a experiência no assunto e o 
acúmulo de provas para avaliar com mais elementos os crimes. A experiência criminal mostra que esses 
desmembramentos produzem processos órfãos, com alta chance de fracasso. Entre alguns dos próprios ministros do 
Supremo, restou a convicção de que os políticos a serem julgados no Tribunal terão vida mais fácil - de que o 
precedente Toffoli é o primeiro passo de uma distensão entre a Corte, que está sob extrema pressão, e a maioria dos 
políticos poderosos de Brasília, que dependem dela para sobreviver até as próximas eleições. Ainda na quarta-feira, 
políticos no Planalto e no Congresso, do PT e do PMDB, trocavam mensagens de comemoração com aliados e 
advogados. Pela primeira vez em muito tempo, o tempo estava mais leve em Brasília. 
Continuação da Resenha Semanal das Revistas 28/09/15 9 / 40 
A consequência mais grave da decisão do Supremo será a interrupção da salutar sucessão de acordos de 
delação premiada, no caso de pessoas físicas, e de leniência, no caso de empresas. Há meses, as negociações entre 
procuradores e possíveis delatores centram-se cada vez mais em provas de corrupção em outros órgãos públicos, e não 
apenas na Petrobras. Pois essa é a natureza da delação premiada, quando bem executada: buscar provas de crimes 
que, de outra maneira, o poder público não conheceria. Como os procuradores da Lava Jato já detêm um poderoso 
arsenal de informações sobre a Petrobras, os mais recentes delatores e empreiteiras como Andrade Gutierrez, que 
estava para fechar um acordo de leniência com a força-tarefa, estavam sendo estimulados a entregar evidências de 
crimes em outros órgãos públicos. Assim que o Supremo fatiou a Lava Jato, boa parte dessas negociações foi suspensa. 
"Terrível" e "péssima" foram algumas das palavras usadas por investigadores para classificar a ordem do Tribunal. 
Nos próximos dias, procuradores que coordenam as investigações da Lava Jato vão esquadrinhar uma nova estratégia 
para enfrentar o desmembramento dos processos da operação. A Procuradoria-Geral da República acredita que para 
garantir o mesmo padrão nas investigações - que poderão ficar espalhadas por todo o Brasil - será preciso estabelecer 
novos grupos e metodologias de trabalho. Hoje o grupo que coordena a Lava Jato está concentrado no gabinete do 
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e em Curitiba. O temor do grupo é que as investigações percam fôlego e 
apoio popular. Outro receio é o compartilhamento em massa de informações. 
Uma das medidas em análise é a criação de uma "força-tarefa volante" entre os procuradores que já atuam na 
Lava Jato. A ideia é que eles possam rodar entre as cidades que venham a ter investigações em curso auxiliando os 
integrantes do MPF na contextualização dos casos em apuração. Ainda que o Supremo tenha decidido pelo 
desmembramento, a orientação da PGR é a de manter a visão de uma única organização criminosa que atuava em todo 
o país e em diversos órgãos públicos. A PGR deve ainda preparar um manual detalhando o método da organização, 
suas ramificações, personagens e atuação, como forma de garantir a unidade dos inquéritos. 
 
 
Notícias do Planalto 
Por que Moro incomoda tanto 
Em um ano e meio, o juiz da Lava Jato prendeu mais poderosos do que toda a Justiça brasileira em uma década 
Marcelo Moura e Pedro Marcondes de Moura 
 
É ingenuidade pensar que processos criminais eficazes contra figuras poderosas, como autoridades 
ou empresários, possam ser conduzidos normalmente, sem reações", escreveu o juiz federal Sergio Moro, em 2004, em 
um artigo sobre a Operação Mãos Limpas, deflagrada na Itália em 1992. A Mãos Limpas tentou dar fim à cumplicidade 
entre empresários e políticos que, juntos, superfaturavam obras públicas e loteavam o Estado. Para quebrar o pacto de 
silêncio que servia à impunidade, diz o texto, jovens juízes firmaram acordos de delação premiada com os réus. Prisões 
preventivas serviram para evitar obstruções à investigação e desfazer a impressão de uma justiça lenta e leniente com 
poderosos. "A publicidade conferida às investigações garantiu o apoio às ações judiciais, impedindo que as figuras 
públicas investigadas obstruíssem o trabalho dos magistrados." 
Como juiz responsável pela Operação Lava jato, maior investigação de corrupção já feita no Brasil, Moro vive o 
cenário que ele mesmo descreveu 11 anos atrás: sucesso no combate a empresários e políticos cúmplices ao lotear o 
Estado e pressões para impedir a investigação. Deflagrada em 2014, a Lava jato investiga 494 pessoas ou empresas 
pelo desvio de cerca de R$ 6 bilhões em contratos com a Petrobras. Decretou 113 prisões preventivas ou temporárias e 
firmou 28 acordos de delação premiada. Recuperou para os cofres públicos R$ 870 milhões e bloqueou outros R$ 2,4 
bilhões para eventuais pagamentos. Já condenou mais de 30 pessoas. Na semana passada, o ex-diretor da Petrobras 
Renato Duque foi condenado a 20 anos e oito meses de prisão por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e associação 
criminosa. João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, foi condenado a 15 anos e quatro meses de 
prisão por corrupção passiva. André Vargas (ex-deputado do PT do Paraná) foi condenado a 14 anos e quatro meses de 
prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. É o primeiro político condenado pela Lava Jato. Vice-presidente da Câmara 
dos Deputados, de 2011 a 2014, Vargas, no ano passado, ergueu o punho para hostilizar Joaquim Barbosa, o ministro 
relator do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF). "Constata-se que o condenado, ao tempo do 
gesto, recebia propina em contratos públicos", diz Moro, na sentença de condenação. "O gesto de protesto não passa de 
hipocrisia e mostra-se retrospectivamente revelador de uma personalidade não só permeável ao crime, mas também 
desrespeitosa às instituições da Justiça." 
A cara de pau de Vargas, capaz de hostilizar um juiz enquanto recebe propina, é um retrato da longa tradição de 
impunidade na sociedade brasileira. Existem outros. Em 2009, o presidente Lula não gostou quando investigaram o 
senador José Sarney. "Sarney tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa 
comum", disse. Na lógica de Lula, havia o Brasil das pessoas comuns e o Brasil das pessoas distintas. O senso de 
impunidade expresso por Vargas e Lula tem respaldo nos números. Um estudo da procuradora Ela Castilho diz que, de 
700 casos de crime de colarinho-branco julgados entre 1986 e 1996, menos de dez resultaram em condenação. Nenhum 
réu ficou sequer um dia preso. 
Para escapar à prisão, os distintos réus de colarinho-branco não precisaram fugir ou forjar provas. Usaram apenas 
a lei. Uma visão deturpada da lei, resultado da desfiguração de uma corrente do Direito conhecida como garantismo 
processual e que tradicionalmente pautou a Justiça brasileira. Forjado para proteger indivíduos contra a mão pesada de 
ditaduras, na França iluminista após Napoleão e na Alemanha após Hitler, o garantismo defende que punições como a 
prisão só devem ser aplicadas após o esgotamento de todas as alternativas. "O penalismo deve ser mínimo, a última 
instância do Estado", diz André Kehdi, presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim), meca do 
garantismo no país. "O processo penal deve ser um escudo do indivíduo contra o Estado." Na tradição garantista, o texto 
Continuação da Resenha Semanal das Revistas 28/09/15 10 / 40 
da lei deve prever todas as regras. O juiz deve se ater a aplicá-las, sem ponderar as consequências da decisão. Isso 
proporcionaria uma Justiça isenta de preconceitos. A aplicação do garantismono Brasil, porém, não foi capaz de 
proteger as "pessoas comuns". Segundo o Mapa do Encarceramento, dos 515.482 presos de nossas cadeias 
superlotadas, 38% aguardam julgamento e 18,7% poderiam cumprir penas alternativas. Como são na maioria pobres, 
não puderam pagar bons advogados, capazes de brigar por seus direitos. 
Moro é o símbolo no Brasil de uma Justiça inspirada no Direito anglo-saxão de países como os Estados Unidos. 
Ela defende uma postura mais ativa e pragmática do juiz para cobrir lacunas da lei. Se para o IBCCrim o processo penal 
atual é uma defesa para a sociedade, para Moro é justamente o contrário. "O problema é o processo", diz o título de um 
artigo assinado por ele em parceria com Antônio César Bochenek, presidente da Associação de Juizes Federais (Ajufe). 
"Contam-se como exceções processos contra crimes de corrupção e lavagem que alcançaram bons resultados. Os 
processos duram décadas para ao final ser reconhecida alguma nulidade arcana ou a prescrição pelo excesso de tempo 
transcorrido", diz o artigo. Moro defende a prisão de condenados em segunda instância, mesmo que ainda caibam 
recursos. "Se sei que só vou ser preso ao final, vou orientar meu advogado a recorrer, mesmo que não tenha razão", 
disse Moro, no começo deste mês, ao comparecer a uma audiência na Comissão de Justiça do Senado, que discute um 
projeto de lei nesse sentido. "Processo que nunca termina é inefetivo e gera impunidade." 
O avanço de magistrados como Moro foi registrado pelo seminário anual do IBCCrim, em agosto. O evento 
começou com uma palestra chamada A crise do garantismo penal e terminou com uma mesa-redonda com o juiz da 
Lava Jato. A ida de Moro à Meca dos garantistas causou rebuliço. Dez dos mais prestigiados escritórios de advocacia do 
país, habituais patrocinadores do seminário, retiraram o apoio neste ano. "Não vou pagar para dar palco a quem viola 
constantemente o direito de defesa e falará sobre colaborações que sabemos bem como se dão", disse em maio o 
advogado Arnaldo Malheiros Filho, que já defendeu Fernando Collor, Orestes Quércia, Paulo Maluf e o ex-tesoureiro do 
PT Delúbio Soares. O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o bém o doleiro Alberto Youssef, antes de ele 
assinar um acordo de delação premiada. A direção do IBCCrim ignorou as resistências. "Nenhuma instituição tem razão 
de subsistir se não for capaz de mergulhar nas suas próprias entranhas", diz o ex-desembargador Alberto Silva Franco, 
fundador do IBCCrim. O instituto surgiu em 1992, após o impeachment de Collor e o massacre do Carandiru. 
Primeiro a discursar no painel com Moro, o ex-procurador de Justiça Lenio Streck atacou a visão pragmática do 
Direito. "Juiz não decide dilema moral. Não posso entrar em dilemas como: "Parece que a sociedade espera a 
condenação de fulano, mas a prova é ruim ou ilícita" . "Sacrifico a vontade do povo ou o direito de defesa?" Mensalão e 
Lava Jato são sintomas de algo maior", disse Streck, aplaudido de pé por cerca de 500 pessoas. 
Moro não riu das piadas contadas por Streck nem deixou evidente quando estava contrariado. Ao agradecer o 
convite à palestra, errou o sobrenome do anfitrião. Murmúrios da plateia o corrigiram - voltariam a fazer isso quando 
errou a pronúncia de palavras. Mensagens pipocavam numa comunidade de WhatsApp chamada Família IBCCrim. "O 
tema da colaboração premiada é muitas vezes contaminado com discussões fundadas por preconceitos e dados 
imprecisos", disse Moro. "Já vi advogados dizerem não fazer acordos de colaboração por uma questão de ética. Que 
ética é essa? De jamais colaborar com a Justiça? Jamais confessar crimes?", disse. "É bom para a Justiça ver casos 
resolvidos de forma mais expedita, diminuindo o risco de condenação de inocentes. É bom para a Polícia facilitar a 
investigação. É bom para o acusado receber um prêmio. É bom para a sociedade receber de volta dinheiro decorrente 
de acordos de colaboração. Todos ganham", disse Moro. "Obrigado pela paciência." O juiz foi aplaudido de pé por 
apenas quatro pessoas - procuradoras de Minas Gerais que não faziam parte da "Família IBCCrim". Os demais se 
limitaram a aplaudir sentados. 
Apesar da escassez de aplausos no evento do IBCCrim, até a decisão do STF da semana passada, as teses de 
Moro estavam avançando nos tribunais. O exemplo mais claro de mudança da Justiça brasileira está na comparação 
entre as operações Castelo de Areia e Lava Jato. As duas investigaram a empreiteira Camargo Corrêa pela acusação de 
pagamento de propina a políticos em troca de fraudes em licitações de obras públicas. A Castelo de Areia, de 2009, foi 
anulada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). Os advogados da construtora desqualificaram não o teor das provas, 
mas todo o processo de investigação. 
Quatro anos depois, na Operação Lava Jato, o comportamento da Camargo Corrêa mudou. Seus advogados 
também tentaram anular a investigação. Fracassaram. A Lava Jato apoia-se em provas mais robustas, colhidas por 
investigadores mais qualificados. A Polícia Federal tornou seus concursos mais rigorosos, teve expressivo aumento de 
orçamento e ampliou em quase três vezes seu efetivo em comparação à década de 1990. Na Castelo de Areia, a 
delação premiada, prevista na Lei de Crimes Hediondos, desde 1990, já existia, mas não se encontrava regulamentada. 
Isso só foi acontecer por uma lei própria em 2013. Incapaz de deter a Lava Jato, a construtora teve de recorrer à 
colaboração como instrumento de defesa. Funcionários confessaram crimes, indenizaram os cofres públicos e 
apresentaram provas contra comparsas nas fraudes do petrolão. Em troca, tiveram suas penas abrandadas. "Antes, os 
advogados costumavam encerrar um processo ao apontar falhas técnicas na acusação", diz Pierpaolo Bottini, professor 
de Direito da USP, membro do IBCCrim e advogado de executivos da Camargo Corrêa. "Hoje precisam vencer na 
discussão do mérito, o que nem sempre ocorre." 
Ao desmembrar o inquérito da Lava Jato, na semana passada, o Supremo Tribunal Federal privilegiou a rigidez 
burocrática do processo penal acima da lógica. Os crimes de um único esquema criminoso até agora foram julgados por 
uma única vara. Agora, serão julgados no Estado onde ocorreu o crime. Se o critério do endereço faz sentido, por que 
não foi usado desde o início? Até a semana passada, a Lava Jato foi bem-sucedida ao se pautar pela lógica dos 
criminosos e buscar quebrá-la. Agora, a lógica da Lava Jato foi quebrada. Os garantistas venceram uma batalha contra 
Moro. 
Como a justiça mudou 
A Camargo Corrêa foi acusada de corrupção nas operações Castelo de Areia (2009) e Lava Jato (2014). Na 
primeira, conseguiu anular o processo. Na segunda, confessou crimes e devolveu dinheiro. 
Continuação da Resenha Semanal das Revistas 28/09/15 11 / 40 
Castelo de areia 
Acusação 
Dez pessoas foram presas, acusadas de integrar um esquema em que a construtora Camargo Corrêa 
superfaturava contratos públicos em troca de propina. Havia suspeitas de fraude em obras da Petrobras. Investigadores 
acharam na empresa uma lista com nomes de políticos beneficiados. Na época, a PF começou a seguir as conexões de 
um doleiro. 
Defesa 
Uma desembargadora anulou as prisões, por considerá-las um constrangimento. A defesa pediu a suspensão da 
investigação ao afirmar que uma série de interceptações telefônicas foram autorizadas com base em uma denúncia 
anônima. Os procuradores contestaram: diziam ter também uma delação premiada, obtida em outra operação, que 
denunciava os investigados. 
Resultado 
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) acatou o pedido da defesa da Camargo Corrêa. Anulou a Castelo de Areia e 
julgou que as provas foram obtidas ilegalmente. O Supremo Tribunal Federal (STF) sepultou um pedido de reabertura da 
investigação. 
Lava Jato 
A Camargo Corrêa foi acusada de participardo cartel de construtoras que superfaturou contratos da Petrobras, em 
troca de propina a políticos e agentes públicos. Escutas telefônicas e delações premiadas confirmaram as acusações. 
Dois ex-diretores e um ex-presidente do Conselho de Administração foram presos em novembro 
Os executivos presos e a empresa negaram, no início, a prática de crimes. A defesa pediu a anulação da 
investigação e disse que as interceptações telefônicas não atendiam à lei. Os pedidos foram negados. Dois dos três 
executivos presos assinaram acordos de delação premiada, forneceram provas do petrolão e revelaram que o esquema 
chegou às estatais de eletricidade. 
Os dois executivos que fizeram acordo de delação receberam o benefício de cumprir em prisão domiciliar a pena 
de 15 anos e dez meses de reclusão. A construtora não ficará impedida de disputar contratos públicos, por ter fechado 
acordo com o Cade e o Ministério Público. Devolveu R$ 804 milhões, confessou crimes e incriminou outros envolvidos 
na corrupção. 
 
 
Investigação 
Poderosos, até a Lava Jato chegar 
Forte nas negociações para ganhar mais ministérios do desesperado governo Dilma, o PMDB é refém de 
delatores que o envolvem cada vez mais no petróleo 
Thiago Bronzatto 
 
Ao preparar a decolagem dos gramados do Alvorada na noite de quinta-feira, dia 24, o helicóptero que levaria a 
presidente Dilma Rousseff à base aérea de Brasília produziu uma labareda na traseira, Dilma só soube do fato na manhã 
seguinte, já em Nova York, aonde chegara para participar da Assembleia-Geral da ONU. Seu comentário sobre o fato 
serve para o momento político: "Ninguém viu. Ninguém percebeu", disse. Operando sem os instrumentos que um 
presidente deve ter e envolvida no varejo das negociações, onde um presidente não deve estar, Dilma não tem a 
dimensão da encrenca de negociar com o PMDB em posição desfavorável. Dilma ofereceu ao partido ao menos cinco 
ministérios, inclusive o da Saúde. Apesar disso, líderes do PMDB coreografavam a saída do governo. O PMDB tem as 
cartas na mão. 
Um pouco abaixo da superfície, no entanto, as coisas são mais complexas. O PMDB está à beira de um precipício, 
que pode desestabilizar as negociações. Relatos novos de delatores presos pela Operação Lava Jato, mais 
especificamente o lobista Fernando Soares, o Baiano, e o ex-diretor da área Internacional da estatal Nestor Cerveró, 
obtidos por ÉPOCA, montam um cenário conturbado para a cúpula do PMDB - em particular, o presidente do Senado, 
Renan Calheiros, e os senadores Edison Lobão, Valdir Raupp e Jader Barbalho. A combustão está no ar. 
Entre 2006 e 2007 foram fechados dois contratos com o estaleiro coreano Samsung Heavy Industries para a 
construção de navios-sonda para a exploração de petróleo em águas profundas. Negócios assim, sabe-se hoje, não 
saíam sem propina. O esquema de pagamentos foi acertado por Cerveró, diretor da área de Internacional, e Luis Carlos 
Moreira da Silva, gerente da estatal, de um lado, e por Fernando Baiano, operador do PMDB, e o lobista Julio Camargo, 
representante da Samsung, do outro. O negócio de US$ 1,2 bilhão rendeu US$ 40 milhões em comissão aos envolvidos. 
O dinheiro foi passado das contas bancárias de empresas de Camargo sediadas no exterior para as de Baiano. A 
força-tarefa que investiga a Lava Jato descobriu que Baiano repassava o dinheiro para as contas de outro operador, 
Jorge Luz. Mentor de Baiano, Luz atua nas entranhas da Petrobras desde os anos 1980. Luz recebia de Baiano e 
pagava aos senadores Renan Calheiros e Jader Barbalho. Os delatores estimam que os dois senadores tenham 
recebido cerca de US$ 6 milhões. Aos investigadores, Baiano defendeu a tese de que não realizava pagamentos de 
propinas diretamente para políticos. Sempre havia um intermediário. 
Em sua proposta de colaboração enviada ao Ministério Público Federal, Cerveró relatou uma interferência do 
senador Edison Lobão nos negócios da BR Distribuidora. Em 2010, Lobão, então ministro de Minas e Energia, perguntou 
a Cerveró quem era Fernando Matos, que se opunha a um investimento do fundo de pensão Petros, dos funcionários da 
Petrobras, no banco BVA. A ordem de Lobão, segundo Cerveró, era facilitar o investimento. A Petros investiu R$ 734 
milhões em papéis do BVA, que quebrou em 2012. Cerveró também diz que o senador Valdir Raupp indicava as 
empresas de informática contratadas pela BR, por meio do afilhado Nelson Cardoso. Em 2012, Raupp recorreu a Lobão 
Continuação da Resenha Semanal das Revistas 28/09/15 12 / 40 
para evitar a demissão de Cardoso. A delação de Cerveró ainda não foi fechada como a de Baiano, mas está em 
estágio avançado, decidindo os termos dos benefícios da colaboração. 
Na semana passada, a Polícia Federal prendeu o lobista João Augusto Henriques, outro operador do PMDB na 
Petrobras. Em 2013, João Augusto revelou a ÉPOCA a extensão da influência do PMDB e do PT em negócios da 
Petrobras. "João Augusto Henriques disse que conseguiu emplacar Jorge Luiz Zelada para diretor Internacional da 
Petrobras com o apoio do PMDB de Minas Gerais, mas quem dava a palavra final era o deputado Eduardo Cunha", 
disse em depoimento Eduardo Vaz Musa, ex-gerente da área Internacional da Petrobras e um dos delatores da Lava 
Jato. João Augusto e Zelada atuaram no aluguel do navio-sonda Titanium Explorer, da empresa Vantage, por US$ 1,6 
bilhão. A ÉPOCA, João Augusto disse que o negócio rendeu US$ 10 milhões em propinas para o PMDB. Se João 
Augusto decidir colaborar, a barra do PMDB pesará mais ainda. 
O advogado de Fernando Baiano, Sérgio Riera, disse que não se manifestaria, porque a delação de seu cliente 
está sob sigilo. O criminalista Edson Ribeiro, que defende Cerveró, afirma que o ex-diretor da Petrobras não fará delação 
premiada. O senador Renan Calheiros reitera que suas relações com dirigentes de empresas públicas nunca 
ultrapassaram os limites institucionais. O senador Valdir Raupp diz que não indicou ninguém para a área de informática 
da BR Distribuidora. "Nunca pedi nada ao ministro Lobão", diz. O senador Jader Barbalho nega ter recebido propinas de 
contratos na Petrobras. "Nunca nem ouvi falar (sobre navios-sondas)", diz. O advogado do senador Edison Lobão, 
Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse que desconhece o caso. "Temos trabalhado, de uma forma técnica, 
para demonstrar a fragilidade das delações." O advogado Antonio Fernando de Souza, que defende Eduardo Cunha, 
afirma que "não há nenhum elemento probatório que vincule o parlamentar a esses fatos". 
 
 
Investigação 
Compra e venda sob suspeita 
O presidente do Senado, Renan Calheiros, está na mira do Ministério Público por suspeita de lavagem de 
dinheiro em transação imobiliária em Maceió 
Alana Rizzo 
 
O Residencial Pátio fica numa viela em uma área industrial de Maceió, em Alagoas. Em seus pilares, a 
Receita Federal encontrou indícios de que o presidente do Senado, Renan Calheiros, do PMDB de Alagoas, 
participou de uma operação de lavagem de dinheiro. Uma transação imobiliária entre Renan e o ex-senador Wilson 
Santiago, seu correligionário no PMDB e hoje diretor de relações institucionais do Grupo Banco do Brasil/Mapfre, 
chamou a atenção da Receita. Alertada pelos auditores, a Procuradoria-Geral da República remeteu as informações aos 
procuradores que investigam Renan na Lava Jato. Os procuradores investigam agora a compra e venda de quatro 
apartamentos do prédio por Renan - e como eles foram parar nas mãos de Santiago, seu filho, o deputado federal 
Wilson Filho, e seus dois irmãos. 
Foi investigando uma empresa que Renan transferiu para sua mulher, Verônica, que a Receita chegou à 
transação suspeita. A Tarumã Empreendimentos Imobiliários, criada após a eleição de 2010 para "administrar a compra 
e venda de imóveis próprios ou de terceiros", ficou abertapor apenas nove meses. Renan esteve entre os sócios por 
cinco, passando suas cotas para Verônica em julho de 2011. A Tarumã, aparentemente, não realizou negócio algum. 
Aparentemente. No cruzamento que a Receita fez entre declarações do Imposto de Renda e dados sobre suas 
atividades imobiliárias, os negócios apareceram. Os procuradores querem saber de onde veio o dinheiro que permitiu a 
compra dos imóveis em Maceió e se Renan realmente os comprou antes de revendê-los para a família Santiago. 
A suspeita de que Renan tenha lavado dinheiro na negociação dos apartamentos se reforça com a atrapalhada 
resposta dos Santiagos sobre a compra dos imóveis. O deputado federal Wilson Filho é proprietário de uma das 
unidades que pertenceram a Renan. Em 13 de julho de 2011, Wilson Filho fez uma transferência bancária de R$ 60 mil 
para uma conta da Caixa Econômica Federal. Em 11 de agosto, outros R$ 60 mil foram depositados. Nesse período, a 
Tarumã ainda estava aberta. Procurado por ÉPOCA, Wilson Filho ofereceu quatro versões distintas sobre a transação. 
Primeiro, disse que a empreiteira da família, a Terradrina Construções, tinha comprado os imóveis. Depois, afirmou que 
tinha adquirido o imóvel para veraneio em Maceió - mas o prédio fica a 15 quilômetros do litoral. Em seguida, garantiu 
que a operação tinha sido um investimento. Por fim, o deputado disse que o negócio foi feito por seu pai e que só tinha 
tomado conhecimento depois que fora agraciado com o apartamento. 
Wilson Santiago é um antigo aliado de Renan, que o indicou para o recém- criado cargo de diretor de relações 
institucionais do Banco do Brasil/Mapfre. Também coube a Renan garantir o lugar de Wilson Santiago na Mesa Diretora 
do Senado durante sua breve passagem pela Casa. Procurado, Renan Calheiros disse que "não comentaria a 
transação, pois se trata de um negócio particular". 
 
 
Investigação 
Delação in English 
O doleiro Alberto Yousef, principal operador do petrolão, negocia secretamente uma colaboração com 
procuradores americanos 
Thiago Bronzatto 
 
Sob sigilo extremo está em curso uma negociação inicial entre procuradores de Nova York e o doleiro Alberto 
Youssef para realizar um acordo de delação premiada. O objetivo é que o principal operador da Lava Jato conte o que 
Continuação da Resenha Semanal das Revistas 28/09/15 13 / 40 
sabe sobre as falcatruas na estatal. As conversas, em estágio preliminar, têm sido conduzidas pelo advogado Antonio 
Figueiredo Basto, defensor de Youssef no petrolão. O criminalista viajou para os Estados Unidos no dia 22 de setembro 
para desenhar uma cooperação de seu cliente com as autoridades americanas. As tratativas, se avançarem, deverão ser 
concluídas até dezembro deste ano - e colocarão o FBI, a polícia federal americana, no encalço de ex-diretores e ex-
conselheiros da Petrobras, incluindo a presidente Dilma Rousseff 
No momento, estão em discussão os termos do processo civil movido por investidores que perderam um dinheirão 
com a queda das ações da Petrobras na Bolsa de Nova York. Youssef, para evitar o bloqueio de seu patrimônio no 
exterior, poderá explicar como funcionavam os pagamentos de propinas e o uso político da estatal pelo Planalto. O 
responsável por negociar com os colaboradores da Lava Jato será o procurador americano Patrick Stokes, que deverá 
viajar para Curitiba entre outubro e novembro para falar diretamente com Youssef. Essa não é a primeira vez que 
Figueiredo Basto faz um acordo de delação premiada internacional. Em 2005, ele ajudou o doleiro Clark Setton a fazer 
uma colaboração com autoridades americanas no caso de evasão de divisas do Banestado - que também teve Youssef 
como um de seus principais operadores. Procurados, Figueiredo Basto e as autoridades americanas não comentaram o 
assunto. 
A ideia de Youssef colaborar com os investigadores nos Estados Unidos surgiu em agosto, após um encontro 
realizado entre o advogado do doleiro, um agente do FBI e representantes de um grupo de investidores que teve 
prejuízo com a desvalorização dos papéis da Petrobras. Entre eles estão o USS, maior fundo de pensão do Reino Unido; 
o State Retirement Systems, união dos fundos de pensão de servidores dos Estados americanos Ohio, Idaho e Havaí; a 
gestora de recursos norueguesa Skagen, entre outros. O cálculo estimado para as perdas chega a mais de meio bilhão 
de reais. Esses acionistas entraram com ações coletivas, conhecidas como "class-action", que estão em curso na Corte 
de Nova York. Por isso, estiveram no Brasil, atrás de provas colhidas pela Lava Jato. 
No dia 24 de setembro, a Fundação Bill & Melinda Gates, do fundador da Microsoft, também entrou com uma 
queixa na Corte federal de Nova York, alegando que foi lesada pelo "esquema de suborno e lavagem de dinheiro" na 
Petrobras. 
Nos Estados Unidos, o acordo de colaboração com a Justiça existe desde a década de 1960. O objetivo de 
Youssef em fechar uma cooperação com as autoridades americanas é evitar se tornar alvo também de um processo por 
lá. Numa eventual condenação criminal, Youssef seria proibido de entrar nos Estados Unidos ou de viajar para o exterior. 
No entanto, o maior prejuízo seria a condenação numa ação cível, que poderia bloquear seu patrimônio para ressarcir os 
investidores prejudicados. A Petrobras, que tem operações nos Estados Unidos, poderá ser condenada e proibida de 
fazer negócios com o governo americano, caso não feche um acordo. Se depender do potencial explosivo de Youssef e 
da eficiência do FBI, a bomba no colo do governo será grande. 
 
 
Entrevista: Josué Gomes da Silva 
"Se o barco afundar, vai faltar boia para todo mundo" 
Para o empresário, filho do ex-vice-presidente José Alencar e vinculado ao PMDB, o governo tem de recuperar a 
confiança para permitir a retomada do diálogo e o país superar a crise 
José Fucs 
 
No início do ano passado, o empresário Josué Gomes da Silva, filho do ex-vice-presidente José Alencar, morto em 
2011, recusou o posto de ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Preferiu o risco de candidatar-se ao 
Senado por Minas Gerais. Apesar de derrotado, com 3,6 milhões de votos, Josué ganhou. É hoje um dos principais 
interlocutores da presidente Dilma Rousseff no setor produtivo. Presidente da Coteminas, uma das maiores empresas do 
setor têxtil do país, e um dos vice-presidentes da Fiesp, Josué tem atuado para preservar o mandato de Dilma e diminuir 
o grau de incerteza no país. Aos 51 anos, Josué segue os passos do pai de se dedicar, com afinco cada vez maior, à 
política. Nesta entrevista a ÉPOCA, concedida no escritório da Coteminas, em São Paulo, ele fala sobre crise política e 
econômica, o impeachment da presidente Dilma Rousseff, a atuação do PMDB e o ajuste fiscal anunciado pelo governo. 
ÉPOCA - Como o senhor avalia o atual quadro de crise política e econômica do país? 
Josué Gomes da Silva - Ninguém pode tapar o sol com a peneira. O quadro é grave. Há uma crise política, que 
agrava uma crise econômica - e vice-versa. O ponto positivo desta crise é o debate que está sendo feito hoje no Brasil 
sobre o desajuste das contas públicas. Não só no caso da União, mas também de Estados e municípios, que estão com 
seus orçamentos extremamente precários. Hoje, isso está sendo discutido à luz do dia, para o país encontrar 
mecanismos de ajuste. Se deixarmos isso seguir na tendência que está, teremos uma situação insustentável daqui a 
alguns anos. Já é insustentável hoje, mas vai se agravar. 
ÉPOCA - Dá para resolver o problema das contas públicas com essa crise política? 
Josué - Política é diálogo. O diálogo pressupõe a existência de confiança. Hoje, falta um pouco de diálogo e muito 
de confiança. Sem diálogo e sem confiança é difícil resolver esse imbróglio. Agora, ninguém quer ver o barco afundar. 
Se o barco afundar, vai faltarboia para todo mundo. 
ÉPOCA - O senhor acredita que a presidente Dilma é a pessoa certa para tirar o país da crise? 
Josué - Nosso regime é presidencialista. As eleições ocorrem a cada quatro anos. Então, ela é a mandatária da 
nação e a pessoa responsável por tirar o país da crise. Só que ela tem de contar com o apoio e a confiança do 
Congresso Nacional. O Congresso também tem a responsabilidade de tirar o país da crise. Não é só ela. Ela foi eleita 
com a maioria dos votos. Foi uma eleição acirrada. Talvez, até por isso, o gesto de estender a mão, que foi feito no 
discurso, poderia ter sido mais enfático. 
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ÉPOCA - A presidente Dilma pode sofrer um impeachment se as contas de 2014 forem rejeitadas pelo 
Tribunal de Contas da União (TCU), em decorrência das "pedaladas" fiscais. Como o senhor se coloca em 
relação ao impeachment? 
Josué - Ainda não houve uma decisão final do TCU sobre as contas do governo. Quando o TCU tomar a decisão, 
mesmo que seja contrária à aprovação das contas, é uma recomendação. Depois, ela ainda terá de passar pelo 
Congresso. Se as contas forem rejeitadas pelo Parlamento, isso poderia justificar legalmente o pedido, pelo que alguns 
grandes juristas estão dizendo. Mas hoje a gente ainda está longe disso. 
ÉPOCA - Há também um processo correndo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para apurar eventuais 
irregularidades nas contas de campanha da presidente Dilma, que também pode levar ao impeachment. Nesse 
caso, qual sua posição? 
Josué - O TSE tomou a decisão, aprovada pela maioria de seus membros, de investigar mais profundamente as 
contas de campanha. Agora, não adianta ficar especulando sobre qual será o desfecho disso. Esse tipo de debate tira o 
foco do principal, que é o Brasil encontrar o equilíbrio orçamentário. Não só em 2015 e em 2016. O problema é 
gravíssimo, porque as despesas do setor público estão crescendo muito acima do crescimento do PIB (Produto Interno 
Bruto). Nós temos de criar condições para realizar ajustes estruturais que nos deem uma perspectiva de crescimento 
futuro sustentável. 
ÉPOCA - O vice-presidente Michel Temer disse recentemente que, com a popularidade atual, a presidente 
Dilma não terminará seu mandato. O senhor concorda com ele? 
Josué - Acredito que ele disse que é difícil governar com baixa popularidade - e é difícil mesmo. Está aí. Está 
provado que é difícil. As medidas são recebidas pelo Parlamento sempre com recusas e disfunções e colocadas de 
forma negativa. Acho que ele fez uma constatação. O vice-presidente Michel Temer é uma pessoa muito responsável, 
muito discreta, que esta tentando ajudar a governabilidade do Brasil. 
ÉPOCA - O senhor faz parte de um grupo de empresários empenhado em diminuir o grau de incerteza no 
país e garantir apoio ao governo. Como estão essas articulações? 
Josué - Esse grupo não existe. Isso é lenda. Esse costume de sentar com muitas pessoas para conversar sobre 
nosso país e ideias de como a gente pode ajudar sempre existiu. Em Belo Horizonte, os líderes têxteis de Minas Gerais 
se reuniam todas as sextas-feiras para bater papo, num restaurante chamado Alpino, que era de um alemão. O papai 
brincava que, naquela mesa, surgiam muitas ideias para consertar o Brasil. Então, você vê que o Brasil já precisa de 
conserto faz tempo. O que há é um grupo de brasileiros que querem muito bem ao Brasil e se reúnem para consertar o 
país, dentro da visão de cada um. São amigos que, de vez em quando, se reúnem, principalmente em momentos de 
maior incerteza, para trazer ideias e tentar contribuir. Só isso. 
ÉPOCA - Recentemente, um grupo de empresários participou de um jantar com a presidente Dilma, no 
Palácio da Alvorada, em Brasília. Como foi a conversa com a presidente? 
Josué - A presidente convidou alguns empresários para jantar com ela. Muito honroso o convite. Aqueles que vão 
com mais frequência ao Palácio da Alvorada disseram que a comida estava espetacular naquele dia. Elogiaram também 
o vinho. 
ÉPOCA - Hoje, o PMDB está discutindo se deve ou não se afastar do governo. Na Câmara Federal, isso já 
se tornou praticamente uma realidade e agora em novembro, em seu congresso nacional, o PMDB poderá 
formalizar essa decisão. O senhor apoia esse afastamento? 
Josué - O PMDB é um partido com 50 anos de história, essencial na redemocratização do país. O PMDB tem 
uma responsabilidade com a democracia. Qualquer que seja a decisão nesse congresso - que os jornais dizem que 
acontecerá em meados de novembro, mas eu nem sei se está marcado mesmo -, terá de levar sempre em conta essa 
responsabilidade, de um partido que tem uma história de lutas democráticas. 
ÉPOCA - Qual sua visão do ajuste fiscal anunciado pelo governo para tentar reequilibrar o Orçamento? 
Josué - A solução via um band-aidizinho pode até estancar a hemorragia, mas não vai nos curar de forma 
permanente. A grande lacuna nas medidas do governo é um ajuste estrutural da economia, que dê à sociedade uma 
capacidade de vislumbrar que o Estado Nacional vai parar de crescer mais que o PIB. Se nada for feito para 
consertarmos o Brasil no longo prazo, vamos ter uma crise atrás da outra. Hoje, todo o mundo discute Previdência. Nós 
temos de discutir isso também. A Previdência é a maior rubrica nas despesas da União. A Alemanha elevou a idade de 
aposentadoria para 67 anos para homens e mulheres. O Brasil também terá de elevar. Não podemos também ficar 
aumentando outras despesas, que são vinculadas ao PIB. Quando o PIB cresce, elas crescem. Quando o PIB cai, elas 
não caem. 
EPOCA - O governo centrou a maior parte do ajuste no aumento de impostos. Com a carga tributária em 
torno de 36% do PIB, há espaço para aumentá-la ainda mais? 
Josué - O Estado é menos eficiente que a iniciativa privada. Ninguém contesta isso. Então, quanto mais recursos 
tirarmos da iniciativa privada para o Estado, menos eficiente a economia será. A ideia de que mais recursos na mão do 
Estado vai melhorar a vida da população é verdade em termos. Depois de certo ponto, a ação do Estado se torna 
contraproducente. A sociedade quer mais serviços, mas de melhor qualidade a custos mais baixos. A forma de conseguir 
isso não é com mais Estado, mas com mais concorrência. É claro que tem de ter Estado, um Estado mais eficiente, mas 
até para ser mais eficiente tem de ser mais leve. Um Estado balofo não é forte. Ao contrário, ele se enfraquece. 
ÉPOCA - Independentemente das medidas estruturais, não dava para o governo ter cortado mais gastos? 
Josué - Sempre dá. Todos estão apertando o cinto. Não há hoje um cidadão, uma família ou uma empresa que 
não estejam apertando o cinto - e apertando para valer. Então, todos têm de sentir que está havendo esse esforço de 
parte do governo. O Brasil vai evoluir. Por isso estou otimista. Hoje estou mais otimista do que estava há um ou dois 
anos, porque os problemas vieram à tona. É muito melhor quando os problemas vêm à tona, porque você começa a 
cuidar deles. 
Continuação da Resenha Semanal das Revistas 28/09/15 15 / 40 
A volta da era instabilidade 
A disparada do dólar é apenas um sintoma de um mal maior. A economia brasileira entra num novo período de 
incerteza, péssimo para o desenvolvimento 
Marcos Coronato e Graziele Oliveira 
 
Curvas suaves são sempre as mais belas - ao menos na economia. Fica muito mais fácil organizar as contas de 
uma família, empresa ou governo quando a economia avança em curvas discretas, graduais e sonolentas. Ao observar 
linhas bem comportadas que descrevam a evolução de empregos, custo de vida, juros, câmbio, o cidadão é seduzido 
a fazer planos de longo prazo. Afinal, ele consegue acompanhar e prever, com grande chance de sucesso, oque 
acontecerá com o país. O brasileiro desfrutou um período dessas curvas suaves em 2006 e 2007. Naquele momento, 
havia uma diferença discreta e administrável entre as previsões econômicas feitas no início de cada ano e os dados 
apurados ao fim daquele mesmo ano. Trata-se de uma marca de países desenvolvidos. 
Nessas sociedades também, como por aqui, a economia se move, frequentemente, na direção indesejada - as 
contas públicas pioram, a inflação sobe, o câmbio atrapalha. Mas, por lá, na maior parte do tempo, a mudança ocorre 
em oscilações brandas, convidativas ao planejamento de longo prazo. Para o Brasil, acabou essa fase de admirar o 
doce balanço das curvas. A histeria em torno do valor do dólar, na semana passada, apenas mostrou que caímos 
de volta no zigue-zague das curvas radicais, típicas do subdesenvolvimento. Voltamos à era da instabilidade. 
Pode-se medir essa incerteza por diversos indicadores. Há diferenças brutais entre as previsões do mercado 
financeiro para inflação, juros e dólar feitas no início do ano (6,6%, 12,5%, R$ 2,80) e as constatadas na semana 
passada (9,5%, 14,25%, R$ 3,95). O comportamento do câmbio nos últimos dias foi sintomático. O real perdeu valor 
diante do dólar durante cinco dias seguidos. Na quarta-feira, caiu abaixo dos 25 centavos de dólar, nível mais baixo 
desde sua criação, no Plano Real, em 1994 (quando real e dólar tinham valor equivalente, um exagero local sustentado 
durante muito mais tempo que o recomendável). Nos últimos 12 meses, no equivalente financeiro de um passeio de 
montanha-russa, a moeda americana se valorizou cerca de 70%. Isso dificulta os planos de quem quer viajar para o 
exterior ou importar qualquer coisa. Dificulta também os planos de qualquer empresa que cogite abrir ou expandir um 
negócio por aqui com capital vindo do exterior. Lembremos, porém, que a barreira dos R$ 4 é puramente simbólica. 
Discutir o nível desejável para o dólar é um debate estéril. Não existe um ponto ideal capaz de agradar, ao mesmo 
tempo, aos defensores de um real mais em baixa (bom para os exportadores, que barateiam a produção) e um real mais 
em alta (bom para conter a inflação, por baratear tudo o que é importado). Tratemos da doença, e não do sintoma. 
Os dólares vêm fluindo em menor quantidade para o Brasil. O país ainda é um dos seis maiores destinos para 
investimento global, por ser uma grande economia, num regime democrático e ainda em desenvolvimento, ou seja, com 
grandes perspectivas de crescimento no longo prazo. Nos últimos tempos, porém, esse fluxo vem minguando de forma 
dramática, de acordo com uma medida chamada Investimento Direto no País. Ela inclui os dólares que chegam para 
criar, comprar ou expandir negócios no Brasil. Inclui também o lucro que as multinacionais obtêm no Brasil e escolhem 
reinvestir por aqui, em vez de remeter às matrizes. No ano passado, o volume desse investimento beirou os US$ 97 
bilhões. Desde então, caiu 20%. Isso ocorre porque a crise econômica e a crise política vêm se alimentando 
mutuamente, empurrando para o fundo as perspectivas da maioria dos negócios de florescer no país. "Há muitos 
investidores interessados no Brasil, mas a incerteza política atrapalha muito", diz o diplomata Marcos Troyjo, diretor, na 
Universidade centro de estudos sobre Brasil, Rússia, índia e China. O Brasil sente com especial dureza as curvas 
abruptas no sentimento dos investidores externos, por estar mal integrado à economia global. Economias abertas 
acomodam-se com mais suavidade às oscilações do fluxo global de investimento. Entre as 15 maiores economias 
globais, porém, o Brasil é a mais fechada. Os dólares entram e saem em movimentos abruptos. Um fator recente 
contribuiu muito com o advento dessa nova era de incerteza: uma das grandes agências globais de classificação de 
risco, a Standard & Poors, retirou do Brasil o selo de destino seguro para investimentos. 
Embora a qualidade da análise das agências venha sendo duramente questionada, o efeito do selo é inegável. 
Para conferi-lo, basta comparar os solavancos nos investimentos externos no Brasil, na primeira metade dos anos 2000, 
com a suavidade da curva após 2008. Antes de o Brasil obter o selo, chamado "grau de investimento", por parte das três 
maiores agências globais, havia anos ótimos e anos péssimos. O fluxo acelerava ou desacelerava, e era difícil prever 
como ele se comportaria. O volume de 2007 foi o dobro do de 2005. A partir de 2010, o fluxo se tornou estável, em 
sólidos US$ 60 bilhões por ano. O país corre risco sério de perder o selo de qualidade também das outras duas grandes 
agências, até 2016. Isso tornaria o fluxo de dólares errático como era uma década atrás. "Sem o grau de investimento, 
fica difícil convencer um investidor americano a colocar dinheiro no país. O custo e a dificuldade de fazer negócios no 
Brasil assustam", afirma a economista Vitoria Saddi, da consultoria SM Managed Futures e ex-chefe de análises de 
economias emergentes da RGE Monitor, consultoria de avaliação de risco de Nova York. 
Fora dessa zona de segurança oferecida pelo grau de investimento, resta a selva das notícias do dia a dia. 
Na semana passada, atribuiu-se a turbulência no mercado de câmbio à dificuldade de avanço do ajuste fiscal. Nos 
meses à frente, a causa do momento pode ser uma declaração desastrada de uma autoridade ou uma nova fase da 
Operação Lava Jato. "Os acontecimentos da semana são parte da causa. Mas eles ganham força num certo contexto - a 
perda do grau de investimento", diz Ricardo Kim, analista-chefe da XP Investimentos. Contra esse cenário, será preciso 
agir em duas frentes. O país precisa se mostrar capaz de ajustar as contas públicas e de voltar a fazer as muitas 
reformas necessárias. Alguma delas, pelo menos. 
 
 
 
 
Continuação da Resenha Semanal das Revistas 28/09/15 16 / 40 
Observador da economia 
Sobre o futuro, desce a escuridão 
Entre os muitos efeitos ruins da crise econômica, um é especialmente perverso ele rouba do cidadão comum a 
capacidade de planejar a vida 
Marcos Coronato e Ana Helena Rodrigues 
 
Sérgio queria estudar no exterior. Sinésio ambicionava dar vida melhor ao filho mais novo. Carolina gostaria de ter 
uma festa de casamento. Vontades desse tipo, tão comuns, transformam-se em realidade por meio de um exercício 
cerebral altamente sofisticado - planejar para o futuro. Uma característica fundamental de sociedades desenvolvidas é 
incentivar o cidadão a fazer frequentemente esse exercício, porque ele vale a pena. Numa sociedade desenvolvida, o 
cidadão pode fazer planos de longo prazo e grande ambição, porque ele enfrenta riscos pequenos de, ao longo do 
caminho, topar com fatores completamente imprevisíveis - cair na pobreza, ser surpreendido por mudanças em leis, 
sofrer achaque por agentes públicos, levar uma bala perdida. Ele também consegue supor, com boa chance de 
acerto, como serão o custo de vida, os juros, o câmbio. Nos últimos anos, o brasileiro experimentou um gostinho dessa 
realidade civilizada. O que só torna mais amarga a experiência dos últimos meses, em que despencamos de volta na 
dura realidade de país subdesenvolvido. O futuro volta a ser de uma escuridão impenetrável. 
O baque causado pela piora de vida nada tem a ver com derrotismo ou desânimo. Estudiosos da percepção 
humana ao administrar recursos escassos, como dinheiro e tempo, sabem que não raciocinamos em termos absolutos, e 
sim relativos. Em outras palavras: ser rico é bom, mas melhorar de vida é muito melhor. Esse foi o motivo da euforia 
brasileira da segunda metade dos anos 2000. Da mesma forma, ser pobre é ruim, mas empobrecer é muito pior. Daí a 
revolta do brasileiro, muito clara com a economista Roberta Muramatsu, professora de economia comportamental 
na escola de negócios Insper. E, nos últimos tempos, com o caos econômico,

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