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Habilidades Cirúrgicas Habilidades Cirúrgicas A D R I A N A A L V E S D E M E N E S E S D E L E V E D O V E M U R I L O D E L E V E D O V E ( O R G A N I Z A D O R E S ) SBCSaúde Goiás ISBN 978-65-87580-13-5 https://www.cblservicos.org.br/servicos/meus-livros/visualizar/?id=12d73147-2d0b-ec11-b6e6-002248371efb Copyright © da Editora SBCSaúde Ltda Está obra estará disponibilizada no formato eletrônico no site da editora (SBCSaúde), no qual é permitido o download completo, bem como compartilhamento da mesma. Vale salientar que sua reprodução parcial ou total somente será permitida desde que seja atribuído crédito aos autores, bem como a citação da fonte. Em hipótese alguma poderá utilizar essa obra para fins comerciais. Ainda é relevante ressaltar que a violação dos direitos autorais (Lei nº 9610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do código penal. O Conteúdo dos artigos, bem como seus dados, correção e confiabilidade são exclusivamente responsabilidade dos autores. DADOS DE CATALOGAÇÃO Editora SBCSaúde: http://editorasaude.com.br/ E-mail address: publicacoes@sbcsaude.org.br Diagramação: Editora SBCSaúde Capa: Editora SBCSaúde Revisão: Corpo editorial D348 HABILIDADES CIRÚRGICAS. Adriana Alves de Meneses Delevedove; Murilo Delevedove. [organizadores]. 1 ed – Goiânia, Goiás: SBCSaúde, 2022. 238 p 3000 kb - ePUB Incluída bibliografia ISBN 978-65-87580-12-5 1. Habilidades cirúrgicas. 2. Técnicas cirúrgicas. 3. Conduta médica. 4. Tratamento Cirúrgico. Índice para catálogo sistemático CCD 610 mailto:publicacoes@sbcsaude.org.br CORPO EDITORIAL Dra. Adriana Alves de Meneses Delevedove – UNAERP – SP Dra. Aline Helena da Silva Cruz/ UFG - GO Dra. Aline Raquel Voltan/ UNIRV - GO Dra. Aliny Pereira de Lima/ UFG - GO Dra. Andrielle de Castilho Fernandes/ UNIFAN - GO Dr. Aroldo Vieira de Moraes Filho/ UNIFAN - GO Dr. Benedito Rodrigues da Silva Neto/ UFG - GO Dra. Carla Cardoso da Silva/ UNIFAN - GO Dra. Carolline Silva Borges/ UFG Dra. Debora de Jesus Pires/ UEG – GO Dra. Erika Izumi - UFT do Paraná - Campus de Santa Maria - PR Dr. Ernane Gerre Pereira Bastos/ ULBRA- TO Dr. Jonas Byk - Universidade Federal de Manaus - AM Dra. Juliana Santana De Curcio/ UFG - GO Dra. Lara Stefânia Netto de Oliveira Leão – UFG-GO Dra. Lilian Carla Carneiro/ UFG - GO Dra. Lorena Motta da Silva/ UEG – GO Dr. Lucas Silva de Oliveira/ UNB - DF Dr. Luiz Paulo Araújo dos Santos/ UFG - GO Dra. Marcia Regina Pincerati - Universidade Positivo, Curitiba - PR Dra. Mônica de Oliveira Santos/ UFG - GO Dra. Mônica Santiago Barbosa/ UFG – GO Dr. Murilo Delevedove/ UNOESTE - SP Dra. Pablinny Moreira Galdino de Carvalho/ UFOB - BA Dra. Patricia Fernanda Zambuzzi Carvalho/ UFG – GO Dra. Tereza Cristina Vieira de Rezende/ Universität Basel – Switzerland Dra. Yara Bandeira Azevedo de Alencar/ INPÓS – GO Sumário Classificação das cirurgias, preparo pré-operatório .............................................. 6 Divisão do centro cirúrgico, técnicas de antissepsia, assepsia, pamentação e colocação de campo ............................................................................................. 13 Materiais cirúrgicos e montagem de mesa ........................................................... 27 Tipos de fios e agulhas e onde utilizar .................................................................... 40 Sodas e Drenos ......................................................................................................... 63 Tipos de incisão, planos de cada inciso e finalidade de cada incisão .............. 74 Cirurgia Videolaparoscopica vantagens, instrumentais e aparelhos ................. 85 Apendicectomia: técnica cirúrgica aberta e por videolaparoscopia .............. 99 Colecistectomia: Condutas em complicações de via biliar ............................. 106 DRGE técnicas cirúrgicas e indicações ............................................................... 113 Toraconcetese e colocação de dreno de tórax ................................................ 122 Cricostomia e traqueostomia ............................................................................... 133 Gastrectomia .......................................................................................................... 142 Gastroplastia – Cirurgia bariátrica ........................................................................ 152 Colectomias e colostomias ................................................................................... 176 Nutrição em cirurgia .............................................................................................. 192 Condutas no trauma abdominal .......................................................................... 209 Abdome Agudo ..................................................................................................... 218 ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 6 Classificação das cirurgias, preparo pré-operatório 1. CLASSIFICAÇÃO DAS CIRURGIAS e PREPARO PRÉ OPERATÓRIO 1.1 Classificação das cirurgias Uma das complicações importantes do ato cirúrgico é a infecção. Vários fatores estão associados esse fator: obesidade, idade avançada, potencial de contaminação da cirurgia, doenças de base como por exemplo o diabetes mellitus, imunossupressão e principalmente a técnica operatória do cirurgião1. Exemplos de infecções que podem complicar o peri operatório inclui: infecções de sítio cirúrgico, infecção primária de corrente sanguínea, infecções do trato urinário, ocorrência de pneumonias relacionadas à assistência à saúde, dentre outras2. As cirurgias podem ser classificadas de acordo com o potencial de contaminação do sítio manipulado em limpas, quando são eletivas sem invasão de mucosas ou outro trato colonizado; potencialmente contaminadas, quando atingem mucosas, como no trato genital feminino contaminadas; envolvimentos de tecidos altamente contaminados e infectados, quando o local a ser operado tem em vigência infecção1. As cirurgias limpas são aquelas realizadas em tecidos estéreis ou com possibilidade de descontaminação, sem vigência de processo infeccioso local, como por exemplo: cirurgias realizadas na epiderme, tecido celular subcutâneo, sistemas musculoesquelético, nervoso e cardiovascular. As cirurgias potencialmente contaminadas são aquelas realizadas em tecidos que contém colonização por flora microbiana pouco numerosa, em tecidos com comunicação com o meio exterior, ou de difícil descontaminação, sem vigência de processo infeccioso local. São exemplos: as cirurgias realizadas nos tratos gastrintestinal (exceto cólon), respiratório superior e inferior, gênito-urinário, cirurgias Classificação das cirurgias, preparo pré-operatório Lucas Cruvinel Capítulo 1 ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 7 oculares e de vias biliares. As cirurgias contaminadas acontecem em tecidos que possui flora microbiana abundante, de difícil descontaminação, na ausência de processo infeccioso local. São exemplos as cirurgias realizadas no cólon, reto e ânus; em tecido com lesões cruentas e cirurgias de traumatismo crânio encefálicos abertos. E as cirurgias infectadas são as realizadas em qualquer tecido, na vigência infecção local3. MAIA (2006) afirma que a infecção do sítio cirúrgico constitui a principal complicação infecciosa do pós-operatório. ainda no seu estudo mostra as incidências esperadas de infecção em ferida cirúrgica de acordo com o potencial de contaminação, segundo centers for disease control and prevention (CDC), indicando: limpas: 1 a 5%; potencialmente contaminadas:ou 1-0, 00 ou 2-0, 000 ou 3-0 e assim sucessivamente até o 12-0). Assim quanto maior o diâmetro do fio maior sua resistência e força tênsil. 1.1.5 - Absorção Os fios absorvíveis são aqueles que degradam no organismo e desaparecem do local onde foi implantado. Ele é progressivamente destruído e absorvido através de hidrolise, proteólise e fagocitose de acordo com o tipo de fio. Durante o processo de degradação o fio vai perdendo sua força tênsil na mesma proporção da cicatrização tecidual. 1.1.6 - Filamentos Os fios podem ser multifilamentares (Imagem A) ou monofilamentares (Imagem B) conforme imagem à baixo. Os monofilamentares são produzidos com um único filamento e normalmente são menos maleáveis, sendo assim inelásticos, tendem a soltar mais facilmente, com menor coeficiente de atrito, difícil manuseio, mas em contrapartida causam menor trauma tecidual a serem passados, provocam menos aderência bacteriana. Já os multifilamentares são constituídos por vários filamentos trançados entre si, possui uma maior flexibilidade o que facilita seu manuseio, possui um maior coeficiente de atrito o que traz maior segurança ao nó, portanto este apresenta um maior potencial no desenvolvimento de infecção, causam um maior trauma e é mais áspero. Fonte: Valentina Ruviere Silveira Fonte: Valentina Ruviere Silveira ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 43 1.1.7 - Agulha O fio pode vir acompanhado ou não de agulha onde pode estar presente em uma ou nas duas extremidades do mesmo. Essas agulhas diferem pelo comprimento (0,4 a 7,5cm), curvatura, perfil cortante. 1.1.8 - Segurança dos nós Os nós são considerados a parte mais instável de uma sutura. Quanto menor a coeficiência de fricção do fio maior é sua possibilidade de desfazer o nó, essa é uma característica típica dos fios monofilamentares em especial o prolipropileno e o náilon, para que haja uma maior segurança relacionada a estes é necessário de 4 à 6 nós. Para que haja uma efetividade do nó não sofrendo um processo de deslizamento ou de ruptura é necessário que haja uma resistência tênsil efetiva. 1.1.9 - Reação inflamatória O fio é um corpo estranho para o tecido, então quanto maior o fio maior a reação tecidual por isso os fiomultifilamentosos causam uma maior reação. A reação tecidual inicia-se no momento que se introduz o fio no organismo, já a resposta do organismo frente ao fio aparece do 2° ao 7° dia, onde inicia-se com um infiltrado celular leucocitário na área traumática e logo após aparecimento de macrófagos e fibroblastos. Por volta do 7° dia surge um tecido fibroso com processo inflamatório crônico. Os fios absorvíveis provocam reações do tipo corpo estranho mais intensas do que os não absorvíveis, onde essas persistem até que o fio seja encapsulado ou absorvido pelo organismo. 1.1.10 Elasticidade ou memória A memória é a capacidade que o fio tem de retornar sua forma após ser manuseio e deformado, essa está relacionada com outras duas características, a plasticidade e a elasticidade. A plasticidade é a habilidade do fio de se acomodar as reações teciduais como edema e inflamação, assim diminuindo o risco que os tecidos sejam cortados ou isquemiados pelo fio, já a elasticidade é capacidade da sutura recuperar sua forma inicial após o período de edema, mantendo assim as bordas da ferida próxima. Fio antes do manuseio Fonte: Valentina Ruviere Silveira ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 44 Fio após o manuseio 1.1.11 - Crescimento bacteriano É a capacidade que o fio tem de fazer com que a bactéria se adira a sua superfície, todos os fios tem a capacidade de diminuir a efetividade do mecanismo de defesa do organismo, mas principalmente os fios multifilamentares, a cobertura de alguns fios multifilamentares com polibutileno, silicone ou teflon pode ajudar a diminuir o risco de crescimento bacteriano. 1.1.12. Retirada dos pontos Os pontos devem ser mantidos até que a cicatrização seja capaz de aguentar a tensão do tecido, lembrando que cada área tem seu tempo de cicatrização individualizado além de pacientes que apresentam problemas na cicatrização esse tempo deverá ser maior também. 1.1.13. Descrição da embalagem Fonte: Valentina Ruviere Silveira ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 45 1.1.14. Cor dos Fios Há fios de sutura que para facilitar que seja identificado e seu manuseio no ato cirúrgico são tingidos. Podem ser amarelo, azul, verde, violeta e preto. Sendo assim os fios podem nos orientar e identificar sua localização exata. 1.2. Classificação Fonte: Próprio autor, 2021. ABSORÇÃO ORIGEM COMPOSIÇÃO CAPILARIDADE Absorvível Animal Catgute Simples Multifilamento torcido Catgute Cromado Multifilamento torcido Sintética Poliglactina (Vicril) Mono/Multifilamento trançado Ác. Poliglicolítico (Dexon) Multifilamentado Trançado Polidioxaxona (PDS) Monofilamentado Poliglecaprone (Monocril) Monofilamentado Gliconato (Maxon) Monofilamentado Inabsorvível Animal Seda Multifilamentado trançado Vegetal Algodão Multifilamentado torcido Linho Multifilamentado trançado ou torcido Sintética Poliamida (Mononylon) Mono/multifilamentar Polipropileno (Pralene Surgilene) Monofilamentado Poliéster (Ethibond) Mono/Multifilamentado trançado Politetrafluoretileno (PTFE) Monofilamentado poroso Mineral Aço (Acriflex) Monofilamentado ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 46 1.2.1. Fios Absorvíveis ORIGEM ANIMAL - Catgut simples - Tipo de material: Natural, Multifilamentos torcido polido, visualmente monofilamentar. Coloração: Amarelada. Composição: Sua composição é a partir colágenos extraído da serosa do intestino de bovinos ou submucosa do intestino de ovinos. Reação tecidual: Devido sua composição ser rica em colágeno, vai sem gerado no organismo uma significativa reação de corpo estranho. Sua absorção pode várias muito conforme a reação tecidual, apresentando maior perda de forca tênsil e absorção frente a infecções. Força tênsil: Baixa força tênsil e pode resistência entre 7 e 10 dias. Nos tendem a ficarem frouxos mais facilmente. Tempo de absorção: Completa absorção no máximo em 70 dias por ação de enzimas fagocitárias. Esterilização: Colbato 60 e embalado em solução de álcool isopropílico para manter sua conservação. Apresentação: 6-0 a 1 agulhado ou não. Uso frequente: • Fechamento geral: Peritônio, submucosa e ligaduras. • Ginecologia e obstetrícia: Anastomose e episiorrafias. • Gastrointestinal: Anastomose e epiplon. • Urologia: Bexiga, capsula prostática, ureter, ligações de artérias vesiculares, uretra. • Oftamologia: Conjuntiva. • Otorrinolaringologia: Amigdalectomias. - Catgut cromado Tipo de material: Natural, multifilamentos torcido polido, visualmente monofilamentar. Coloração: Marrom Composição: Mesma composição do catgut simples, porém são banhados em sais de cromo antes do processo de torção. Reação tecidual: A reação de corpo estranho será menor no cromado por ele apresentar sais de cromo em sua composição. Sua absorção pode várias muito conforme a reação tecidual, apresentando maior perda de forca tênsil e absorção frente a infecções. Força tênsil: Baixa força tênsil e pode resistência entre 21 e 28 dias. Nos tendem a ficarem frouxos mais facilmente.____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 47 Tempo de absorção: Completa absorção no máximo 90 dias por ação de enzimas fagocitárias. Esterilização: Colbato 60 e embalado em solução de álcool isopropílico para manter sua conservação. Apresentação: 5-0 a 0, agulhado ou não. Uso frequente: • Fechamento geral: peritônio, subcutâneo, mucosa, submucosa e ligaduras. •Ginecologia e obstetrícia: Anastomose, borda vaginal, útero, parede vaginal e episiorrafias. • Gastrointestinal: Anastomose e epiplon. • Urologia: Bexiga, capsula prostática, ureter, ligações de artérias vesiculares, uretra. • Oftamologia: Conjuntiva. • Otorrinolaringologia: Amigdalectomias. ORIGEM SINTÉTICA - Coprofyl Tipo de material: Monofilamentar Coloração: Cor azul-violeta Composição: Poliglecaprone 25 (Copolímero de glicolida e caprolactona). Reação tecidual: Ínfima reação tecidual garantindo uma segurança regular dos nós. Esterilização: ETO (óxido etileno). Força tênsil: Cerca de 21 dias, onde vai perdendo a força de forma gradativa (1° semana menos 30 a 40%, 2° semana menos 60 a 70%, 3° semana até o final perde 100%). Tempo de absorção: varia de 91 a 119 dias. Apresentação: 5-0 a 1, agulhado. Uso frequente: • Fechamento geral: Peritônio e tecido subcutâneo. • Ginecologia e obstetrícia: Ligadura, cúpula vaginal, útero, parede vaginal. • Gastrointestinal: Anastomose e epiplon. • Urologia: Bexiga, ureter, ligadura de artérias vesiculares, uretra. Fonte: próprio autor, 2021 ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 48 - Monocryl Tipo de material: Monofilamentar. Coloração: Incolor. Composição: Poliglecaprone 25 (Copolímero de glicolida e caprolactona). Reação tecidual: Ínfima reação tecidual garantindo uma segurança regular dos nós. Esterilização: ETO (óxido etileno). Força tênsil: Cerca de 21 dias, onde vai perdendo a força de forma gradativa (1° semana menos 30 a 40%, 2° semana menos 60 à 70%, 3° semana até o final perde 100%). Tempo de absorção: Varia de 91 a 119 dias. Apresentação: 5-0 a 3-0, agulhado. Uso frequente: •Plástica: Pele - PDS Tipo de material: Monofilamentar Coloração: Violeta Composição: Polidiaxonona Reação tecidual: Mesmo na presença de infecção induz uma mínima reação tecidual. Apresenta uma boa segurança do nós, porém o manuseio não é tão fácil. Esterilização: ETO (óxido etileno). Força tênsil: Cerca de 42 dias de forma gradativa. 70% após duas semanas, 50% após quatro semanas, 25% após seis semanas. Tempo de absorção: Absorção mínima em 90 dias e completa com 180 dias. Apresentação: 7-0 a 2-0, agulhado. Uso frequente: • Fechamento geral: Peritônio e aponeurose. • Transplante: Rim e fígado. • Ginecologia e obstetrícia: Ligadura, cúpula uterina, útero, parede vaginal Fonte: próprio autor, 2021 ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 49 • Gastrointestinal: Serosa e submucosa. • Urologia: Bexiga • Ortopedia: Membrana sinovial e rótula. • Cardiopediatria: Coartação de aorta - Maxon Tipo de material: Monofilamentar de absorção lenta, apresenta alta resistência. Composição: Gliconato Reação tecidual: Mesmo na presença de infecção induz uma mínima reação tecidual. Apresenta uma boa segurança do nós, porem o manuseio não é tão fácil. Esterilização: ETO (óxido etileno). Força tênsil: Entre 4 a 6 semanas, entre todos os fios absorvíveis é o que apresenta maior força tênsil e melhor segurança em relação aos nós. Tempo de absorção: Vai de 180 a 210 dias. Apresentação:7-0 a 2-0 Uso frequente: • Fechamento geral: Todos os tipos de tecido, porém com elevado custo. - Vicril Tipo de material: Multifilamentar trançado Coloração: Incolor ou violeta. Composição: Poliglactina 910, coberta com Poliglactina 370 + estearato de cálcio. Reação tecidual: Mínima Esterilização: ETO (Óxido etileno). Força tênsil: 28 dias, vai perdendo-a gradativamente (75% de força na primeira semana, 50% na segunda semana, 25% na terceira semana). Tempo de absorção: Entre 56 a 70 dias, sendo a média 63. Apresentação: 10-0 a 0 e 8-0 a 2, agulhado ou não. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 50 Uso frequente: • Fechamento geral: peritônio, aponeurose, serosa, submucosa e pele. • Ginecologia e obstetrícia: Ligadura, cúpula vaginal, útero, bexiga, parede vaginal. • Neurológica: Dura-máter, fáscia aponeurotica e musculo. • Gastrointestinal: Anastomose e epiplon. • Urologia: Bexiga, uretra e ureter. • Oftamologia: Esclera e conjuntiva. - VicrilRapid Tipo de material: Multifilamentar, trançado Coloração: Incolor. Composição: Poliglactina910, coberta com Poliglactina 370 + estearato de cálcio. Reação tecidual: Minima à moderada Esterilização: Cobalto 60 Força tensil: 50% em 5 dias, perda completa com 14 dias Tempo de absorção: Até 42 dias Apresentação: 6-0 a 1-0, agulhado. Uso frequente: • Fechamento geral: Fechamento de pele, episiorafias, cirurgia plástica. - Vicril Plus Possui as mesmas características do Vicril, diferenciando por ter em sua composição IRGACARE MP® que é um agente antibacteriano de amplo espectro, assim proporcionando o não crescimento bacteriano na linha de sutura. Coloração: Violeta Apresentação: 5-0 a 1, agulhado. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 51 - Dexon™ Tipo de material: Multifilamentar Composição: Poliglactina 10 e ácido poliglicólico Reação tecidual: Mínima Força tênsil: 28 dias Tempo de absorção: 56 à 70. Uso frequente: • Fechamento geral: Peritônio, músculos, subcutâneo, chuleio intradérmico, laqueadura vascular, porém custo elevado. 1.2.2 - Fios Inabsorvíveis ORIGEM ANIMAL - Seda Tipo de material: Multifilamentar trançado, biodegradável. Coloração: Preto, branco ou azul. Composição: Filamento proteico, obtido do casulo do bicho da. Reação tecidual: Alta reação podendo desencadear processos inflamatórios. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 52 Esterilização: Cobalto 60. Força tênsil: Até 1 ano, fácil manuseio, segurança nos nós, baixo custo. Apresentação: 8-0 a 1, agulhado ou não. Uso frequente: • Fechamento geral: Ligadura • Gastrointestinal: Mucosa e submucosa • Oftalmologia: Extração de cataratas, estrabismo, descolamento de retina. • Plástica: Pele • Neurologia: Fáscia aponeurótica, musculo, dura-máter. ORIGEM VEGETAL - Algodão (Polycot) Possui as mesmas características do fio de seda e o que difere é sua origem e sua resistência que é considerada menor e gera uma tendência a floculação. Coloração: Azul ou incolor. - Linho Tipo de material: Multifilamentar torcido, biodegradável. Coloração: Natural. Composição: Fibras pericíclicas do caule de linho. Reação tecidual: Elevada reação tecidual com predisposição a formação de edema no local da sutura. Esterilização: Oxido de etileno. Força tênsil: Perde gradativamente em um período indeterminado, devido sua progressiva degradação das fibras. Possui uma boa resistência, é flexível e garante boa segurançados nós. Apresentação: 8-0 a 1, agulhado ou não. Uso frequente: • Fechamento geral: Ligadura • Gastrointestinal: Mucosa e submucosa ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 53 ORIGEM SINTÉTICA - Mononylon Tipo de material: Monofilamentar ou multifilamentar trançado. Coloração: Preto ou incolor. Composição: Monômeros de poliamida pura. Reação tecidual: Baixa reação Esterilização: Oxido de etileno Força tênsil: Boa força tênsil que começa decair após 6 meses, tendo uma perca ao total de 20% ao ano. Apresenta baixo custo, fácil manuseio em contrapartida os nós se desfazem com maior facilidade. Apresentação: 11-0 a 8-0 ou 6-0 à 1, agulhado ou não. Uso frequente: • Fechamento geral: Aponeurose, micro anastomoses. • Plástica: Pele • Oftamologia: Queroplastia penetrante, córnea, descolamento de retina, esclera, extração de cataratas. Prolene ou Surgilene ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 54 Tipo de material: Monofilamenta. Coloração: Azul. Composição: Polipropilene Reação tecidual: Baixa reação tecidual. Esterilização: Oxido etileno Força tênsil: Permanente, fácil manuseio, nó firme. Apresentação: 10-0 e 8-0 à 2, agulhado. Uso frequente: • Fechamento geral: Aponeurose • Plástica: Pele • Gastrointestinal: Anastomose • Oftamologia: Fixação escleral • Otorrinolaringologia: Anastomose proximal e distal, enxerto de derivação da artéria coronária, aneurisma aorto abdominal, aortomia - PTFE Tipo de material: Monofilamentar microporoso. Composição: Cadeia de carbono com átomos de flúor em torno dele (Politetrafluoretileno). Reação tecidual: Mínima reação. Uso frequente: • Fechamento geral: Hernioplastia • Oftamologia: Blefaroptose, ptose palpebral. • Plástica: Pele - Poliéster (Mersilene, Decron) Tipo de material: Multifilamentar trançado. Coloração: Verde e branca. Composição: 8 carreiras de poliéster Reação tecidual: Moderada reação tecidual, porém com maior risco de infecção tecidual. Esterilização: Oxido etileno Força tênsil: Permanente, de difícil manuseio Apresentação: 10-0 e 6-0 a 0, agulhado ou não. Uso frequente: • Fechamento geral: Ligaduras • Oftamologia: Transplante de córnea, estrabismo - Ethibond Tipo de material: Multifilamentar trançado. Coloração: Verde ou branca. Composição: 16 carreiras de Poliéster coberto de Polibutileno Reação tecidual: Reação inflamatória aguda mínima. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 55 Esterilização: Oxido etileno Força tênsil: Permanente Apresentação: 5-0 a 2 e 5, agulhado. Uso frequente: • Gastrointestinal: Laparoscopia • Ortopedia: Membranas sinoviais • Cardiovascular: Canulação, fixação de próteses, fechamento de esterno, troca de valvular. ORIGEM MINERAL - Acriflex Tipo de material: Monofilamentar ou multifilamentar. Coloração: Prata metálico. Composição: Axoinox 316L com baixo teor de carbono Reação tecidual: Reação inflamatória mínima. Esterilização: Oxido etileno Força tênsil: Indefinida, porém considerada uma das maiores. É difícil manuseio e pode causar sensibilidade ou alergia. Apresentação: 2-0 a 2 e 4 a 6, agulhado ou não. Uso frequente: • Cardiovascular: Fechamento de esterno • Ortopedia: Fixação óssea • Buco-maxilo: Fixação da mandíbula 2 - AGULHAS As agulhas são pequenas e finas hastes feitas de ligas metálicas podendo ir de milímetros até 10 centímetros, suas curvaturas vão variar de acordo com seu uso, sendo retas, semirretas ou curvas, além de serem descartáveis ou reutilizáveis, com fio fixo ou móvel. Sua principal função é possibilitar a passagem do fio pelos tecidos com menor trauma possível. Ela é dividida em três parte fundo, corpo e ponta. A escolha da agulha ideal para o tecido a ser suturado vai depender muito do diâmetro onde, deve ser comprida o suficiente para abranger os dois lados da incisão, se muito grande gera maior trauma tecidual, a proporção ideal entre diâmetro e comprimento deve ser menor que 1:8 pois quanto maior essa proporção, maior chance ela tem de quebrar ou entortar. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 56 2.1 - Partes das agulhas 2.1.1- Fundo Onde fica o orifício que passara o fio (traumática) ou que o fio esteja fixo (atraumática). Existe diferentes tipos de fundo, podendo ser: - Falso: Orifício quase totalmente fechado podendo ser único ou duplo, com uma estreita reentrância por onde encaixa o fio ao orifício. (Figura C e D) - Verdadeiro: Orifício fechado por onde passa o fio a ser usado (Figura A e B) - Sertix: Quando o fio já vem fixado à agulha (Figura E e F) Fonte: Valentina Ruviere Silveira Fonte: Valentina Ruviere Silveira ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 57 2.1.2 - Corpo Encontra-se entro o corpo e a ponta, é a maior parte da agulha e é a parte que da sustentação ao manuseio. Podendo ser: - Cilíndrico: Encontrado comumente nas agulhas traumáticas, oferece pouca resistência à passagem pelos tecidos, indicada para tecidos como vasos, intestino, não possui boa fixação para o porta agulha. (Figura A) - Achatado: Dorso ventralmente, tipo mais comum (Figura B) ou latero lateralmente, permite uma boa fixação para as porta agulhas. - Forma de trapézio: São agulhas muito cortantes (Figura C) e oferecem uma boa fixação para as porta agulhas. - Forma triangular: São agulhas ainda mais cortantes que as anteriores, indicadas para pele, tecidos espessos (Figura D) e oferecem boa fixação para as porta agulhas. 2.1.3 - Ponta Parte mais anterior que proporciona a penetração nos tecidos. Suas formas vão depender do tipo de tecido a ser suturado, são elas: - Cônica ou cilíndrica: São atraumáticas, penetram nos tecidos por divulsão, indicadas para tecidos moles de fácil penetração como peritônio, intestino e coração. (Figura E) -Triangular ou bifacetada: Indicadas para tecidos resistentes como aponeurose e pele ou qualquer outro tipo de tecido espesso, pois são cortantes. (Figura A e D) - Romba: São indicadas para sutura de órgãos parenquimatosos, vasos, fígado, pois passam pelos tecidos sem cortá-los. (Figura B) Fonte: Valentina Ruviere Silveira ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 58 2.2 - Classificação das agulhas 2.2.1 - Quanto à curvatura - Retas: São usadas para suturar sem ajuda dos porta-agulhas, principalmente em anastomoses enterogástricas, seu uso tem sido cada vez mais rafo. - Semi retas: Fundo e corpo retos e ponta curva. São aplicadas em estruturas mais superficiais, por exemplo a pele. - Curvas: A curvatura é variável podendo ser de ¼, 3/8, ½, 5/8, de círculo. A escolha da curvatura da ferida irá depender da profundidade da do tecido a ser suturado, quando mais profunda for a sutura, maior tem que ser a curvatura da agulha. Indicação de onde utilizar cada tipo de curvatura Reta: Cirurgia gastrointestinal, cavidade nasal/oral, nervos, faringe, tendões, vasos. 1/4 Círculo: Olho, aplicação primaria, microcirurgias. 3/8 Círculo: Aponeurose, trato biliar, duramater, olho, fáscia, cavidade nasal/oral, cirurgia gastro, músculo, miocárdio, nervo periósteo, pleura, tendão, trato urogenital e vasos. 1/2 Círculo: Trato biliar, olho, cirurgia gastro, músculo, pélvis, peritônio, faringe, pleura, aparelho respiratório, pele, subcutâneo, cirurgia ortopédica. 5/8 Círculo: Cirurgia cardiovascular, pélvis e trato urogenital. Fonte: Valentina Ruviere Silveira ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 59 2.2.2 - Quanto à secção geométrica do corpo e da ponta - Corpo cilíndrico e ponta cônica: A que mais se utiliza na prática. - Corpo cilíndrico e ponta triangular (Tapercut): Utilizadas em estruturas resistentes como artérias calcificadas, aponeurose, tecidos sintéticos. - Corpo cilíndrico com ranhaduras: As arranhaduras ajudam na fixação da porta agulha. - Cortante de corpo triangular e ponta triangular: São agulhas que penetram facilmente, em contrapartida provoca maior lesão então são utilizadas em tecidos menos nobres como pele, campos operatórios. Fonte: Valentina Ruviere Silveira - Cortante de corpo triangular inversa e ponta triangular inversa: Indicadas para tecidos espessos de difícil penetração. - Cortante de corpo quadrangular e ponta lanceolada: São extremamente afiadas, usadas em tecidos nobres e delicados, : Fonte: Valentina Ruviere Silveira Fonte: Valentina Ruviere Silveira ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 60 aqueles nos quais não podem haver muito esforço na penetração, como por exemplo em microcirurgias. Fonte: Valentina Ruviere Silveira - Cortante de corpo quadrangular e ponta espatulada: Possuem a mesma função da lanceolada. Fonte: Valentina Ruviere Silveira - Orientação sobre as informações nas embalagens: ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 61 Indicação de onde utilizar cada tipo de curvatura Reta: Cirurgia gastrointestinal, cavidade nasal/oral, nervos, faringe, tendões, vasos. 1/4 Círculo: Olho, aplicação primaria, microcirurgias. 3/8 Círculo: Aponeurose, trato biliar, dura mater, olho, fáscia, cavidade nasal/oral, cirurgia gastro, músculo, miocárdio, nervo periósteo, pleura, tendão, trato urogenital e vasos. 1/2 Círculo: Trato biliar, olho, cirurgia gastro, músculo, pélvis, peritônio, faringe, pleura, aparelho respiratório, pele, subcutâneo, cirurgia ortopédica. 5/8 Círculo: Cirurgia cardiovascular, pélvis e trato urogenital. Fonte: Valentina Ruviere Silveira REFERÊNCIAS 1. GOFFI, Fabio Schmidt, 1992 –Técnica Cirúrgica –Bases Anatômicas Fisiopatológicas e Técnicas da Cirurgia – 4 ed. 2001. 2. MARQUES, RuyGarcia. Técnica operatória ecirurgiaexperimental. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. 3. CirinoLMI. TiposdeAgulhas,FiosdeSuturaeNós Cirúrgicos. In:Cirino LMI: Manual de Técnica Cirúrgica para a Graduação. São Paulo: Sarvier; 2006. p.18-20. 4. Instrumentação Cirúrgica - Parra, Osório Miguel e Saad, William Abrão - edta Ateneu Rio - 3ª ed. 5. Manual de Instrumentação Cirúrgica - Rosa, Maria Tereza Leguthe - edta Riddel 6. NARY FILHO H.; MATSUMOTO M. A.; BAT ISTA, A. C.; L OPES, L.C.; DE SAMPAIO GÓES F. C. G .; CONSOLARO, A. Estudo comparativo d a resposta tecidual aos f ios de sutura ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 62 poliglecaprone 25, poliglactina 910 e politetrafluoretileno em ratos. BrazilianDental Journal, Ribeirão Preto, v. 1 3, n. 2, p. 86-91, 2002. 7. AISER, A. G.; TIELLET, C. A. B.; PIPPI, N. L. Uso apropriado do instrumental cirúrgico. In: Manual de Cirurgia Veterinária. NuSI, Santa Maria, Ed.2, 2001. 8. BARROS Mónica et al; Princípios básicos em Cir urgia: Fios de Sutura; Acta MedPort. 20111; 24 (S4); São Paulo – Brasil; 2011; pp. 1051 – 1056. 9. AMORIM, V. R.; LEANDRO, V. S.; MEDEIROS, M. G. Gerenciamento de fios cirúrgicos na farmácia do centro cirúrgico do Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí. Piauí: Universidade Federal do Piauí, 2014. Boletim Informativo Geum em Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas. 10. MEDEIROS, A. C.; ARAÚJO FILHO, I.; CARVALHO, M. D. F. Fios de Sutura. Rio Grande do Norte: Universidade do Rio Grande do Norte - UFRN, 2016. Departamento de Cirurgia. 11. CAMPOS, A. I. H. M. Implantação da Padronização de Fios de Sutura em Hospital Militar. Relatório de Trabalho de Elaboração do Objeto. Rio de Janeiro: 2019. Grau de Mestre em Saúde e Tecnologia no Espaço Hospitalar. 12. ÁVILA FILHO, S. H.; LAMARO, L.; QUEIROZ, P. J. B.; FERREIRA, K. D.; SILVA, L. A. F. Aspectos Gerais dos Fios de Sutura utilizados ou com Potencial aplicabilidade na Medicina Veterinária. Projeto de Pesquisa. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, 2015. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 63 Sodas e Drenos Marcella Giovana Gava Brandolis Maria Eduarda Gusmão Borba Anthony Y. V. Pitanga Capítulo 5 Sodas e Drenos SONDAS Definição As sondas, também denominadas cateteres, são uma espécie de tubos utilizados para inserir ou retirar líquidos do organismo. Como o próprio nome diz, também podem ser usadas para realizar sondagens, com fim diagnóstico.1 Classificação As sondas são classificadas de acordo com a finalidade para a qual serão usadas, o local em que serão inseridas e de acordo com a complexidade. A complexidade diz respeito ao acesso, podendo ser pela luz do órgão ou cirúrgico. Por exemplo, a sondagem gástrica pode ocorrer por via nasoesofagiana ou pela gastrostomia, a vesical por via uretral ou punção supra-púbica e a entubação por via naso/oro-traqueal ou pela traqueostomia. Quanto ao local, as sondas podem ser gástricas, pleurais ou vesicais, a título de exemplo. E, no que diz respeito à finalidade, podem ser diagnósticas ou terapêuticas.2 Materiais As sondas são confeccionadas de diversos materiais e calibres. Podem ser de borracha (látex ou silicone) ou plástico (polietileno), e entre outros. As de plástico são mais rígidas, enquanto as de borracha são mais maleáveis, evitando lesões por atrito. Portanto, as de borracha são mais utilizadas em estruturas intra-abdominais, como vasos e alças. Entretanto, por terem uma superfície mais irregular, as sondas de látex estão mais sujeitas à colonização bacteriana e consequente infecção. As de silicone, porém, são menos rígidas que o polietileno e menos sujeitas à contaminação bacteriana. Os calibres são convencionados em French (Fr), uma medida francesa. Cada French corresponde a 0,33 milímetros de diâmetro. Portanto, ao se solicitar uma sonda, deve-se indicar também seu calibre, por exemplo: Sonda Foley 20.3 À seguir, alguns exemplos de sondas e suas denominações, as quais variam de acordo com a sua finalidade. Apesar disso, vale ressaltar que as sondas podem ser desviadas de sua função para atender outras ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 64 finalidades. Algumas vezes, drenos são empregados como cateteres e vice-versa.4 Sonda de Malecot Muito utilizada em gastrostomias abertas, é de borracha. Fonte: https://enfermagemilustrada.com/cateter- de-malecot-e-a-gastrostomia/Sonda retal É um catéter tubular de plástico que apresenta fenestrações laterais próximas à sua extremidade, permitindo a entrada e saída de conteúdo. Sua principal indicação é para o enteroclisma, conhecido como lavagem intestinal.6 Sonda de Nelaton Sonda vesical. É mais utilizada em sondagens de alívio, ou seja, para retirar urina diretamente da bexiga quando o paciente está impossibilitado de realizar a micção.7 Fonte: http://zerbinimedical.com.br/zerbini/produto/SOND A-DE-NELATON-URETRAL-BORRACHA.html Sonda de Foley Também denominada cateter vesical de demora, é usada para retirar urina da bexiga por um logo período. Para que isso aconteça, essa sonda deve ter um balão em sua extremidade assegurando a permanência dela na bexiga. Vale acrescentar que ela pode ter duas ou três vias, como mostrado na figura, para que haja injeção de medicamentos e irrigação da bexiga.8 ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 65 Fonte: Arquivo pessoal do autor. Sonda de Levine ou sonda nasogástrica O cateter nasogástrico é muito utilizado para alimentação artificial, descompressões gástricas e realizar aspirações de secreções e sangue coletado.9 Fonte: Arquivo pessoal do autor. Sonda de Sangsteik Blackmore Utilizada para conter hemorragias decorrentes de varizes esofágicas, essa sonda conta com dois balões que comprimem as paredes do esôfago e estômago.10 Fonte: https://www.medcleanprodutohospitalar.com.br/so nda-sengstaken-blakemore-rusch.html ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 66 Sonda oro-traqueal de Rusch Também conhecida como tubo endotraqueal, é cabível em entubações orotraqueais.11 Fonte: Arquivo pessoal do autor. Sonda de aspiração Utilizada para aspirar secreções gástricas ou nasais pela via oral ou nasal. Geralmente realiza-se a conexão com o sistema de aspiração hospitalar para realização do procedimento. https://www.medcleanprodutohospitalar.com.b r/sonda-de-aspiracao1.html DRENOS Definição: É um material colocado no interior de uma ferida ou cavidade, visando sair fluidos ou ar que estão ali presentes, evitando o acúmulo e removendo secreções normais ou patológicas. ¹² Função do dreno: Drenagem • Ato de promover saída de líquidos ou ar que se acumulam (seromas, hematomas, pus, secreções digestivas). ¹² • Para evitar e prevenir complicações relacionadas às diversas cirurgias. ¹² • A drenagem é feita através de tubos, que podem ser colocados em todas as partes do organismo. ¹² Tipos de drenagem • Drenagem por sucção: Portovac ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 67 • Drenagem aberta: Penrose • Drenagem em sistema fechado: Dreno de Tórax ¹² Dreno Portovac: • Sistema de drenagem fechado que utiliza de uma leve e contínua sucção (vácuo) • Usado para drenagem de líquido seroso ou sanguinolento • Facilita a captação dos tecidos adjacentes e impede o acúmulo de soro e formação de hematoma • Prazo máximo de permanência: 48h • Não tracionar • Manipulação asséptica. ¹³ Fonte: https://magazinemedica.com.br/produtos/dreno- de-succao-48mm-lac-medical/ Dreno Penrose • É um dreno de borracha (látex) • Sistema aberto • Indicado em cirurgias de acúmulo local de líquidos infectados • O orifício de saída deve ser ocluído com gaze estéril • Trocar o curativo sempre que necessário. ¹³ Fonte: Arquivo pessoal do autor. Dreno de Tórax • Procedimento importante para manutenção ou reestabelecimento da pressão negativa do espaço pleural + função cardiorrespiratória e estabilidade hemodinâmica • Tubos mais calibrosos (20F a 30F) drenam sangue e secreções espessas • Tubos mais finos (16F a 20F) drenam ar. ¹³ ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 68 Fonte: Arquivo pessoal do autor. Material: •Borracha – são macios e maleáveis, porém é mais propenso a colonização bacteriana. ¹³ •Polietileno – material plástico (polímero) pouco irritante, extremidade multi-fenestrados, geralmente radiopacos. Ex.: pericardiocentese (“pig tail”), marca-passo (ponta em J) e Malecot. ¹³ • Politetrafluoretileno (teflon) – utilizado em alguns tipos de drenos, é menos antigênico, sua superfície é lisa e hidrofóbica, baixa adesividade e resistente a enzimas, porém não indicado para uso prolongado, pois sua rigidez pode levar a lesão da íntima e formação de trombose. ¹³ • Poliuretano e silicone – flexíveis, biocompatíveis, radiopacos, menos rígidos do que o polietileno e menos relacionado a contaminação bacteriana em relação ao látex. Muito utilizado em cateter venoso de longa permanência (silicone e poliuretano-Vialon), cateter enteral e de gastrostomia (ambos) foley e malecot (silicone). ¹³ Mecanismo de ação utilizado pelo dreno Capilaridade • A drenagem ocorre coma saída das secreções através da superfície externa do dreno. Não há passagem de líquidos pela sua luz. ex.: Penrose.¹³ Gravitacional • É fixado o frasco de modo que o coletor esteja abaixo do nível a que se deseja evacuar, o líquido tende para o ponto mais baixo pela força de gravitação. Ex.: drenagem do cateter levin, torácica, biliar. ¹³ ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 69 Aspiração/ Sucção • A drenagem ocorre por meio de pressão negativa por sucção ou dreno com sistema de vácuo, importante que o dreno tenha múltiplas fenestrações ou suspiro. Ex.: sonda Salem Sump, dreno tórax com pressão negativa, sistema de drenagem Portovac.¹³ Mecanismo de drenagem Aberto • Mecanismo que possui interação com o meio, ou seja, necessário entrada de ar para bom funcionamento do sistema, risco aumentado de infecção dependendo da cavidade a que se destina drenar.14 Fechado • Mecanismo ao qual não há interação com o meio, ou seja, não requer elementos externos adicionais para seu perfeito funcionamento, como por exemplo, o ar, evitando infecções por microorganismos, utiliza-se um sistema vedado, estéril conectado a extremidade do dreno, pode ser um frasco ou uma bolsa. 14 Ex.: sistema coletor para cateter vesical, dreno de Kehr, dreno de tórax. “Vantagens: mínimo trauma tecidual, acurácia na drenagem e reduzido risco infecção.” Quando na região a ser drenada possuir um grande volume de drenagem, poderá ser utilizado um sistema de drenagem com aspiração, conectando-se o tubo a uma fonte de pressão negativa, podendo ser por sistema de aspiração ou pêra de borracha (hemovac®, portovac®). 14 Quanto à estrutura • Laminares: O mais conhecido é o dreno de penrose, apresenta diferentes larguras, utilizado em pequenas lojas e em grandes extravasamentos de secreções. • Tubulares: Podem ser de polietileno, silicone e látex. Drenam por gravitação. 14 Quanto ao uso do Dreno - Aparelho Digestivo • Esôfago e estômago são utilizados drenos de borracha macia do tipo levin, são menos irritantes, mas os tubos de polietileno necessitam de menos cuidados, utilizados para descompressão gástrica e remoção de resíduos gástricos e esofágicos no pré- operatório de pacientes com semi-obstrução completa. ¹4 - Intestino Delgado • São utilizados drenos para descompressão do delgado proximal em presença de obstrução. Podem ser de lúmem único, tendo um balão na sua porção distal, no qual pode injetado mercúrio, ou aqueles nos quais e colocado um pequeno peso. ¹4 - Vias Biliares • Tubo de Kehr, de material plástico ou de borracha. Para descompressão ou prótesede uma anastomose biliar. ¹4 - Reto e Sigmoide • Tubos de polietileno utilizados para evacuação de conteúdo líquido ou gases na porção distal do cólon. Introdução de líquidos para lavagem (clister) contraste ou medicações. ¹4 ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 70 - Cavidade abdominal • Podem ser usados drenos de Penrose ou drenos tubulares. A escolha é pela quantidade de líquido drenado e tempo de permanência. ¹4 Tipos de Drenos - Penrose •Amplamente utilizado, duas finas lâminas flexíveis, funcionamento por capilaridade, encontrados nos tamanhos 1,2,3 e 4, quanto maior a numeração, maior o diâmetro. ¹5 •Tubo de diversos tamanhos e comprimentos é a forma da maioria dos drenos e cateteres, siliconizado ou não, muito utilizado em associação com o Penrose. Funcionam por capilaridade se forem mantidos com folga na cavidade. Ex.: drenos de tórax, cateter foley ou outro material tubular. ¹5 - Cateter Foley (sonda) • Material é borracha siliconizada ou silicone, geralmente utilizado para cirurgias urológicas, cateterismo vesical de demora, como dreno tubular ou para gastrostomia e jejunostomia para drenagem ou alimentação. ¹5 O calibre varia entre 6 a 26 Fr, pode ter 2 (balão e drenagem) ou 3 saídas (balão, irrigação e drenagem), volume do balão varia 1,5 cc (pediatria) e 30 cc (adulto). Pode ser utilizado no caso de diarreia, atentar para lesão na mucosa pela insuflação do balão ou retenção de fezes pela obstrução da sonda. ¹5 - Cateter Levin • Geralmente utilizado para descompressão gástrica e lavagem, em cirurgias abdominais. Material PVC. ¹5 Cateter nelaton (borracha vermelha) • Estrutura macia e flexível e fácil manuseio durante cirurgia, porém induz a intensa reação tecidual. Geralmente utilizado para aspiração traqueal (calibre 10-12 Fr), como tubo retal no caso de diarreia (calibre 32-38 Fr) e gastrostomia cirúrgica (calibre 18-26 F), sofrem degradação com suco gástrico.¹5 Dreno de Kehr • também conhecido como tubo em T, devido ao seu formato, onde a travessão permanece no ducto biliar comum, geralmente é utilizado no transplante de fígado e cirurgias de vesícula, podem ser de plástico ou de borracha, inseridos nas vias biliares para drenagem ou descompressão. ¹5 Principais Cuidados com Drenos • Importante checarmos a localização do dreno, quais os cuidados a serem ministrados pela equipe, se está suturado a pele ou não, tipo de dreno utilizado, como manter a permeabilidade do mesmo, o volume esperado de drenagem e principais complicações com o dispositivo. ¹6 • Instalação de sistema de drenagem adequada: aberto ou fechado. ¹6 • Fixar à parte externa do dreno a pele para evitar tração exagerada e desposicionamento. ¹6 ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 71 • Avaliar o aspecto do curativo externo. Caso necessário a troca, certificar-se com a equipe cirúrgica, se poderá ser realizada pela enfermagem ou requer avaliação do cirurgião ¹6 • Sempre que tiver presente uma incisão cirúrgica, próximo de um estoma, devemos isolar o estoma para evitar contaminação da ferida operatória, geralmente utiliza-se bolsa de colostomia. 16 • Na presença de vários drenos, convém identificar a localização através de adesivo no frasco coletor ou na bolsa. ¹6 • Registrar separadamente o volume de cada dreno na folha de balanço hídrico, isto possibilita avaliação da redução ou aumento anormal da drenagem. 16 • Registrar de forma precisa o aspecto da secreção drenada. ¹6 • Caso uso de cateter Levin para drenagem gástrica certificar-se da ausência de obstrução, caso cesse a drenagem, injetando ar ou 20 ml de água pela sonda; também poderá ocorrer acotovelamento do sistema. Manter o sistema de drenagem abaixo do nível do abdome, não necessariamente no chão. ¹6 • Caso o paciente esteja com dreno de Kehr, conectar a um coletor estéril, sistema fechado, atentar para a coloração e aspecto. Lembrar que o dreno muitas vezes não é suturado a pele do paciente, porém sua exteriorização não é comum (formato do dreno), sua drenagem é altamente irritante da pele; pode permanecer no local por períodos de 6 semanas ou mais. ¹6 • Caso se utilize um dreno tubular juntamente com um Penrose, a opção mais adequada é a utilização de uma bolsa de colostomia. Muito cuidado na realização do curativo, pois geralmente este dreno não é suturado e poderá ser desposicionado, simplesmente na retirada do curativo anterior. ¹6 • Vale ressaltar que não se deve drenar de rotina cirurgias como: colecistectomia, colectomias, esplenectomia, histerectomia, anastomoses gástricas e intestinais em que não se espera a drenagem de secreções, salvo em complicações vigente ou risco destas. ¹6 Observar: • Possível deiscência ou fístula – avaliar retirada após 4 dias. 16 • Possível sangramento local – avaliar retirada dentro 24 horas. 16 • Drenagem seromas ou cavidades – avaliar retirada quando o volume for . Acesso em: 20 de julho de 2021. 2. Disciplina de Técnica operatória e cirurgia experimental. Departamento de cirurgia. Universidade federal de Santa Catarina. Drenos e Sondas. Disponível em . Acesso em: 21 de julho de 2021. 3. Araújo ID, Barbuto RC. Tipos e Características dos Tubos, Sondas e Drenos. In: Pohl FF, Petroianu A. Tubos, Drenos e Sondas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. p.3-7. 4. MORIYA, Takachi. Instrumental cirúrgico. 2011. 32 f. (Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP). Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2011. 5. Christiane Ribeiro. Enfermagem ilustrada. 2018. Disponível emhttps://enfermagemilustrada.com/cateter-de- malecot-e-a-gastrostomia/>. Acesso em: 20 de jul de 2021. 6. Priscilla Roberta Rocha. Sondagens. 2015. Disponível em . Acesso em: 21 de jul de 2021. 7.Prof. Dr. Rodolfo Borges dos Reis. Quero instrumentar. Sondas, cateteres e drenos. Disponível em . Acesso em: 20 de julho de 2021. 8. Araújo ID, Barbuto RC. Tipos e Características dos Tubos, Sondas e Drenos. In: Pohl FF, Petroianu A. Tubos, Drenos e Sondas. 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Sonda de Sengstaken Blackmore: O que é e quando usar. 2021. Disponível em. 11. Prof. Dr. Rodolfo Borges dos Reis. Quero instrumentar. Sondas, cateteres e drenos. Disponível em . Acesso em: 20 de julho de 2021. 12. ARAUJO. Ivana Duval. et al. Tipos e características dos tubos, sondas e drenos 13.Araújo ID, Barbuto RC. Tipos e Características dos Tubos, Sondas e Drenos. In: Pohl FF, Petroianu A. Tubos, Drenos e Sondas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. p.3-7. 14. Pohl FF, Teixeira Filho G, Costa MG. Drenos e drenagens – Como, Quando e Onde? In: Pohl FF, Petroianu A. Tubos, sondas e drenos. Rio de janeiro: Guanabara Koogan; 2000. p.37-41. 15. Cesaretti IUR, Saad SS. Drenos ares e tubulares em cirurgia abdominal: fundamentos básicos e assistência. Acta Paul Enf. 2002;15(3):97-106. 16. Cesaretti IUR, Saad SS, Leite MG. Cuidados Com Drenos, Cateteres e Drenagens na Cavidade Peritoneal. Rev Estima. 2006;4(4);33-9 17. LYNN, P. Manual de habilidades de Enfermagem clínica de Taylor. 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Esses princípios da Técnica operatória englobam todos os procedimentos realizados desde a incisão cutânea e da parede, o ato operatório principal (a finalidade da operação), até o fechamento da parede. A diérese pode ser compreendida como incisão, divisão, secção, separação, punção e divulsão. É o ato realizado pelo cirurgião para provocar uma solução de continuidade entre tecidos, através de utilização de um conjunto de manobras manuais e instrumentais específicos com finalidade terapêutica1. 1- DIÉRESE- DEFINIÇÃO Diérese é uma manobra cirúrgica destinada a criar uma via de acesso através de tecidos. A incisão é realizada através de um instrumento de corte que secciona tecidos moles2. 2- INTRUMENTOS UTILIZADOS 2.1 Instrumentos utilizados para corte: • Bisturi • Serra • Tesoura ✓ Mayo ✓ Metzenbaum • Rugina • Fisalha • Faca 2.2 Instrumentos auxiliares: • Pinças de dissecção ✓ Pinça de Adson (traumática) • Pinças de hemostasia ✓ Halstead ✓ Kelly ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 75 ✓ Crile ✓ Kocher ✓ Clamp intestinal • Pinças de tração ou de pressão ✓ Allis ✓ Babcock • Afastadores dinâmicos ✓ Farabeuf ✓ Doyen ✓ Roux • Afastadores estáticos ✓ Adson ✓ Gosset ✓ Finochietto 2.3 Instrumentos utilizados para síntese: • Porta agulha ✓ Mayo-Hegar ✓ Mathieu • Pinça anatômica • Agulhas ✓ Retas ✓ Curvas ✓ Cilíndricas • Fios de sutura ✓ Nylon ✓ Polipropileno ✓ Seda Dentre os instrumentos de diérese utilizados na cirurgia vídeo endoscopia, se destacam os trocartes de 10 e 5 mm de diâmetro, que proporcional via de acesso para o instrumental óptico e dissecção, compostos por pinças curvas e mini tesouras que permitem ao cirurgião efetuar cirurgias com mínima lesão sobre a parede abdominal. Para que as punções com os trocarteres sejam realizadas com maior segurança, faz-se necessário a insuflação de Co2 na cavidade abdominal, que eleva a parede superior do abdome permitindo punções mais seguras, essas punçoes são realizadas pela agulha de Veres, dotada de mecanismo de segurança contrátil que evita lesões em vísceras abdominais2. 3- CLASSIFICAÇÃO DA DIÉRESE 31. DIÉRESE MECÂNICA A diérese pode ser classificada em mecânica, quando é utilizado instrumentos cortantes. A via mecânica pode ser por: • Por punção: visando drenar coleções de líquidos ou coletar fragmentos de tecidos, através de por exemplo agulhas e trocaters. • Secção: visando dividir ou cortar tecidos com uso de material cortante, por exemplo: bisturi, tesouras ou lâminas levando a segmentação de tecidos. • Divulsão: visando o afastamento dos tecidos nos planos anatômicos sem ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 76 cortá-los pelo uso de afastadores, tesouras com ponta romba. • Curetagem: visando raspagem da superfície do órgão usando a cureta. • Dilatação: processo para se aumentar o diâmetro de estruturas físicas anatômicas através do uso de dilatadores específicos • Descolamento: por separação dos tecidos de um espaço anatômico, sendo usados pinças descoladoras. 3.2 DIÉRESE FÍSICA: A diérese pode ser classificada como física, quando são utilizados recursos especiais. A via física pode ser por meio de: • Mecanismos térmicos: através do uso do calor, cuja fonte é a energia elétrica é o bisturi elétrico. Tipos de bisturi elétrico: ✓ Homo Nice ✓ Monopolar • Crioterapia: caracterizada pelo esfriamento brusco e intenso da área a ser realizada a cirurgia, através do uso de nitrogênio líquido. • Laser: que se realiza por meio de um feixe de radiação, ondas luminosas de raios infravermelhos concentrados e de alta potência. Existem vários tipos de laser, o mais utilizado é na cirurgia é o de CO2, que pode ser facilmente absorvido pela água existente no tecido humano. A utilização de equipamentos de fonte de energia é necessária para cirurgia laparoscopia com finalidade de dissecção e hemostasia. As fontesde energia utilizadas são os eletrocautérios e o laser. O eletrocautério pode ser unipolar, mais utilizado, porém com maiores chances de causar efeitos adversos e o bipolar, mais seguro. Esses equipamentos possuem vantagens como tecnologia de efeito seguro, são compactos, fácil manuseio. Dentre as desvantagens tem- se a lesão térmica, lesão elétrica, centelhamento, efeito capacitor e fumaça local8. O laser utiliza-se de fótons para produzir energia elétrica e produzem emissão luminosa, dentre os lasers mais utilizados tem- se o Co2, Nd:YAG e Argônico2. 4- REQUISITOS FUNDAMENTAIS PARA VIA DE ACESSO: • Extensão suficiente para boa visibilidade do campo operatório, sendo essa um princípio fundamental da cirurgia minimamente traumática. • Bordas nítidas, favorecendo a cicatrização estética e firme. • Atravessar os tecidos respeitando a anatomia regional e um plano de cada vez. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 77 • Não comprometer grandes vasos e nervos da região. • Acompanhar de preferência as linhas de força da pele. • Seccionar as aponeuroses na direção de suas fibras visando boa cicatrização. 5- TECNICA PARA DIÉRESE: A delimitação da diérese cutânea é determinando o local para a incisão, após a antissepsia e a correta aposição e fixação dos panos cirúrgicos estéreis, a diérese deve ser previamente traçada, com demarcação prévia da incisão cutânea, estes podem ser realizados por meio de fios cirúrgicos; canetas apropriadas; escarificação da pele com a lâmina de bisturi; e no imaginário. A preferência é o fio cirúrgico e as canetas apropriadas. Antes de se iniciar a incisão da pele, o local deve ser provisoriamente isolado com a colocação de compressas laterais com o intuito de se evitar o contato direto da pele e de se absorver o sangue que possa vir da ferida, como demonstrado na Figura 1. Figura 1: Preparo do Campo cirúrgico. Fonte: Arquivo pessoal. Para que o bisturi permita uma incisão precisa e firme, a pele deve ser mantida relativamente imóvel, através do uso do primeiro e segundo quirodáctilos da mão não dominante do cirurgião ou do primeiro auxiliar, que são colocados aos lados da linha previamente demarcada para a incisão, em sua extremidade superior ou distal, com um leve movimento de afastamento da linha de incisão5. Com o cirurgião colocado à direita do paciente, as incisões se realizam em um ou mais tempos: inicialmente, pode ser incisado apenas um segmento da pele, e depois ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 78 estendido, da esquerda para a direita e do lado distal para o proximal, levando em conta a posição do cirurgião. Em cirurgias realizadas em áreas com declive, devem ser iniciadas de baixo para cima, para impedir que eventual sangramento torne obscurecido o campo operatório, dificultando a diérese5. 5.1 INCISÃO PARA LAPAROTOMIA: Laparotomia é uma intervenção na cavidade peritoneal através da secção direta de sua parede. A laparotomia mediana é a técnica mais utilizada. Como não há secção de ventre muscular e feixes nervosos, tem benefícios como menor sangramento, fácil e rápida execução e grande acesso ao conteúdo cavitário. A incisão é realizada através da pele na região mediana, contornando a cicatriz umbilical. 5.2 PLANOS ANATÔMICOS DA INCISÃO MEDIANA: Os planos são incisados separadamente (pele, subcutâneo, linha Alba e peritônio). A incisão da membrana peritoneal deve ser realizada por manobra de tenda, com o auxílio de duas pinças, evitando-se lesão inadvertida de conteúdo abdominal. Após a abertura inicial da cavidade, a continuação da secção pode ver feita por tração digital superior da parede abdominal5, como demonstrado na Figura 2. Figura 2: Técnica para incisão Fonte: Arquivo pessoal. Essa manobra afasta as estruturas intra cavitárias da parede músculo-esquelética. Após, incisada, a parede abdominal deve ser protegida e afastada, conforme necessidades técnicas5. A incisão abdominal atravessa tecidos e permite o acesso aos órgãos abdominais. Na figura 3 observamos as camadas da parede abdominal. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 79 Figura 3: Camadas da parede abdominal Fonte: Valentina Ruvieri Silva. 1- Peritôneo; 2- Fascia Extraperitoneal; 3- Fascia Transversal; 4- Músculo Reto Abdominal; 5- Linha Alba; 6- Pele; 7- Músculo Oblíquo Interno do Abdome; 7- Músculo Oblíquo Externo do Abdome; 9- Músculo Transverso do Abdome. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 80 Figura 4: Músculos da parede abdominal Fonte: Valentina Ruvieri Silva. 1: Músculo Oblíquo externo do abdome; 2-Músculo Reto Abdominal; 3-Músculo Oblíquo Interno do Abdome; 4- Músculo Transverso do Abdome; 5- Linha alba. Os três músculos da parede anterolateral do abdome (oblíquo externo, oblíquo interno e transverso do abdome), tornam-se aponeuróticos medialmente e formam a bainha do músculo reto abdominal. Acima da linha arqueada a aponeurose do oblíquo interno se divide, fundindo-se anteriormente com a aponeurose do oblíquo externo e posteriormente com a aponeurose do músculo transverso do abdome, formando esta bainha. Abaixo da linha arqueada, esta divisão da aponeurose do oblíquo interno está ausente e as aponeuroses dos três músculos passam anteriormente ao reto abdominal. O músculo transverso do abdome é o mais profundo, sua porção lateral é muscular e a medial aponeurótica, sendo que o limite de separação entre estas porções descreve uma linha curva, de convexidade externa, da reborda costal ao púbis, a linha semilunar (Linea Semilunaris) ou linha de Spiegel. A porção aponeurótica do transverso abdominal entre a linha semilunar e a borda lateral da bainha do reto abdominal é denominada ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 81 aponeurose de Spiegel. Deste modo fica claro que as incisões abaixo da linha arqueada são de mais fácil acesso. 5.3 TIPOS DE INCISÃO PARA INTERVENÇÃO NA CAVIDADE PERITONEAL: Existem diversas incisões sendo que cada uma é indicada para um tipo de procedimento, buscando menor dano possível às estruturas anatômicas. São tipos de incisões abdominais: mediana supra-umbilical; mediana infra-umbilical; mediana xifo-púbica; para-mediana (Lennander); hipocôndrio bilateral (Chevron); hipocôndrio direito (Kocher); fossa ilíaca direita transversa (Davis); fossa ilíaca direita oblíqua (Mc Burney); hipogástrica (Pffanenstiel)6. 5.3.1 Incisões longitudinais medianas As incisões longitudinais medianas abdominais são realizadas comumente em procedimentos cirúrgicos pós-trauma. Constituem uma estratégia rápida e que não secciona músculo, principais vasos ou nervos. A incisão xifopúbica é realizada longitudinalmente, na linha Alba, do apêndice xifoide até a sínfise púbica, passando pela cicatriz umbilical, é uma incisão feita no encontro das bainhas dos músculos reto abdominais, que garante rápido acesso a cavidade abdominal, com mínima perda sanguínea com facilidade de serem facilmente estendidas sem grandes traumas de partes moles. A incisão mediana supra umbilical é realizada na linha Alba do apêndice xifoide até a cicatriz umbilical. Já a mediana infra- umbilical é feita através de incisão na linha Alba da cicatriz umbilical até a sínfise púbica7. 5.3.2 Incisões longitudinais paramediana Já as incisões longitudinais paramedianas são feitas no plano sagital e podem estender-se da margem costal até a sínfisepúbica. • Incisão pararretal interna ou medial ou incisão de Lennander: Caracterizada pela secção da lâmina anterior da bainhado músculo reto abdominal, paralelo a linha mediana, afastando o músculo lateralmente e seccionando em seguida a lâmina posterior juntamente com o peritônio. • Incisão pararretal externa ou lateral ou incisão de Jalaguier: Secção da lâmina anterior da bainha do músculo reto abdominal, paralelo a linha mediana, afastando o músculo medialmente e seccionando em seguida a lâmina posterior juntamente com o peritônio6. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 82 5.3.3 Laparotomia transversal • Incisão de Pfannestiel: Uma incisão transversa suprapúbica infaumbilical, ou seja, abertura do plano muscular aponeurótico arqueado com divulsão da musculatura, utilizadas em cirurgias ginecológicas e cesariana, por exemplo. • Incisão de Rockey-Davis: Laparotomia transversa curta na fossa ilíaca direita. Utilizada para apendicectomias. 5.3.4 Incisões oblíquas: • Incisão de kocher: Uma incisão subcostal que segue o rebordo costal direito e esquerdo e permite acesso as vias biliares à direita, e ao baço e adrenal à esquerda. • Incisão de mc burney: Incisão de pele e divulsão das camadas musculares, com afastamento da musculatura anterolateral do abdome, centrada no ponto de McBurney, com indicação para apendicectomias convencionais. IMAGEM 5: EXEMPLOS DE INCISÕES Demontra seguintes incisões: 1- Kocher; 2- Mediana; 3- Transverso; 4- Rutherfosd Morrinson; 5- Mc Burney; 6- Battle; 7- Plannestiel. Fonte: Contribuição de Valentina Ruvieri Silva. 5.3.5 Incisões mistas As incisões mistas associam direções verticais, oblíquas e transversas em traçados retilíneos e curvilíneos, são trabalhosas e nem sempre oferecem um bom campo operatório, a exemplo a incisão Mercedes que é uma incisão subcostal bilateral com prolongamento mediano subxifóide, utilizada em transplantes hepáticos, e a incisão Chevron, uma incisão subcostal bilateral com acesso para algumas cirurgias urológicas, de pâncreas e em transplantes hepáticos6. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 83 6. TORACOTOMIA Na região torácica as incisões são realizadas de acordo com o procedimento ou o órgão a ser alcançado. Toracotomia é a incisão da parede torácica para se acessar o conteúdo da cavidade torácica9. • Esternotomia mediana O acesso é realizado através de uma incisão torácica anterior e separação do esterno, permitindo acesso ao coração e mediastino superior, podendo ser total, parcial ou combinada. • Toracotomia póstero-lateral O procedimento mais comum para acesso aos pulmões. A incisão é realizada na porção lateral e posterior do tórax entre as costelas, permite a remoção do pulmão (pneumectomia), de um lobo (lobectomia) ou de uma porção do lobo (seguimentectomia). • Toracotomia antero-lateral É um acesso rápido para a cavidade torácica esquerda e permite acesso ao pulmão esquerdo, pericárdio e aorta, é utilizada para biópsia pulmonar aberta por exemplo, e a incisão vai da borda do esterno, seguindo a linha mamária inferior até a linha axilar anterior. • Toracotomia axilar É o acesso a cavidade torácica feito através de uma incisão axilar, geralmente utilizada para tratamento de pneumotórax, cirurgias cardíacas e pulmonares. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 84 BIBLIOGRAFIA 1. MARQUES, RUY GARCIA. Técnica operatória e cirurgia experimental. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, c2005. 2. GOFFI, FABIO SCHMIDT. Técnica cirúrgica: bases anatômicas, fisiopatológicas e técnicas da cirurgia. 4. ed. São Paulo: ATHENEU, 2007. 3. Tempos cirúrgicos ou tempos operatórios disponível em: 4. DIAS, E. Intervenções fundamentais em cirurgia: diérese, hemostasia e síntese. Disponível em: 5. INGRACIO, A; BOSSARDI, P. ANATOMIA DA PAREDE ABDOMINAL E LAPAROTOMIA. Técnica cirúrgica [recurso eletrônico]. Caxias do Sul, RS: Educs, 2017. 6. TAZIMA MFGS, VICENTE YAMV, MORIYA T. Laparotomia. Medicina (Ribeirão Preto) 2011;44(1): 33-8 7. Incisões cirúrgicas. Universidade Luterana do Brasil, 2017. Disponível em 8. ARAÚJO, JÁ; RIBEIRO, R. Anatomia e Técnicas–Abordagens anteriores e laterais à coluna vertebral. Programa de Formação Contínua AOSpine. 9. TEIXEIRA, GV. Acesso cirúrgico `a cavidade torácica e drenagem de tórax. Medicina - UFSC, 2017. https://periodicos.ufrn.br/jscr/article/download/15917/10760/ https://periodicos.ufrn.br/jscr/article/download/15917/10760/ https://periodicos.ufrn.br/jscr/article/download/15917/10760/ https://periodicos.ufrn.br/jscr/article/download/15917/10760/ https://periodicos.ufrn.br/jscr/article/download/15917/10760/ https://www.studocu.com/pt-br/institution/universidade-luterana-do-brasil/1509 https://www.studocu.com/pt-br/institution/universidade-luterana-do-brasil/1509 https://www.studocu.com/pt-br/document/universidade-luterana-do-brasil/procedimentos-cirurgicos/incisoes-cirurgicas/4419111/view https://www.studocu.com/pt-br/document/universidade-luterana-do-brasil/procedimentos-cirurgicos/incisoes-cirurgicas/4419111/view https://www.studocu.com/pt-br/document/universidade-luterana-do-brasil/procedimentos-cirurgicos/incisoes-cirurgicas/4419111/view https://www.studocu.com/pt-br/document/universidade-luterana-do-brasil/procedimentos-cirurgicos/incisoes-cirurgicas/4419111/view ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 85 CIRURGIA VIDEOLAPAROSCOPICA: VANTAGENS, INSTRUMENTAIS E APARELHOS. Paulo Roberto Queiroz Capítulo 7 Cirurgia Videolaparoscopica vantagens, instrumentais e aparelhos CONCEITO Laparoscopia consiste na visualização da cavidade abdominal por meio de uma ótica introduzida através de incisão umbilical; quando acoplamos uma micro-câmera a esta ótica para visualizar as imagens através de um monitor assume o nome de videolaparoscopia. Videolaparoscopia é um procedimento médico realizado em ambiente hospitalar, no centro cirúrgico e sob anestesia geral. Pode ser usado para diagnóstico e/ou tratamento de diferentes patologias, sendo muito usado na ginecologia. Caso seja uma colecistectomia por exemplo, o procedimento consiste em realizar uma incisão dentro da cicatriz umbilical de aproximadamente 1cm, porém pode ser em outras regiões dependendo do procedimento cirúrgico. Por esta incisão é introduzida uma agulha especial (agulha de Veress) utilizada para injetar gás CO2 na cavidade abdominal1. Ressalta-se que o local mais seguro de punção abdominal para pneumoperitoneo é no hipocôndrio esquerdo por questões anatômicas. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 86 Campo operatório com punção em região umbilical. Fonte: Arquivo pessoal. A cirurgia videolaparoscopica é definida como cirurgia minimamente invasiva devido o acesso a cavidade corpórea se dar por incisões mínimas. É uma abordagem relativamente nova para procedimentos cirúrgicos já conhecidos e que garante grandes benefícios, no entanto é um dos procedimentos cirúrgicos mais comuns realizados em muitas partes do mundo e técnicas laparoscópicas continuam a evoluir, principalmente como resultado de avançostecnológicos2. A cirurgia videolaparoscopia é um procedimento de tecnologia dependente. Em contrapartida, na cirurgia convencional são necessárias grandes incisões, para possibilitar a visão e a manipulação dos órgãos pelo cirurgião, sendo este cirurgião dependente3. HISTÓRIA O acesso abdominal através de reduzidas incisões, conhecido por minilaparotomia, introduziu o conceito de cirurgia minimamente invasiva. Deve-se aos ginecologistas o pioneirismo no emprego da minilaparotomia para fins terapêuticos, na década de 70, quando recorreram a esta abordagem para as cirurgias tubárias. Seu emprego por cirurgiões gerais, neste período, foi registrado apenas para métodos diagnósticos das patologias hepato-biliares. Ainda na mesma década, os ginecologistas ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 87 chegaram a associar o emprego da mini- laparotomia à laparoscopia, para uma série de procedimentos anexiais4. No final dos anos 70 e início dos anos 80, a apendicectomia foi realizada com o auxílio da laparoscopia em minilaparotomia. Quase um século, sendo esse o tempo necessário para que as técnicas laparoscópicas pudessem ser refinadas de forma a tornar seu emprego uma realidade, embora sua aplicação na cirurgia intestinal seja iniciativa mais recente. Derivada das experiências com a laparoscopia, inicialmente dominada pelos ginecologistas, a cirurgia laparoscópica entusiasmou os cirurgiões gerais ao experimentarem-na em colecistectomias, a partir dos anos 80. Esta nova forma de acesso cirúrgico, em que a incisão é resumida a um número variável de "portas" de 5 a 12 mm de diâmetro, intensificou a discussão sobre a cirurgia minimamente invasiva, consagrando-a como o apogeu técnico do conceito de trauma cirúrgico mínimo4. Esse advento representou um marco na cirurgia moderna, devido a tantos benefícios que a cirurgia minimamente invasiva trouxe. Para alguns tipos de cirurgia, esta técnica já é considerada padrão ouro5. BENEFÍCIOS DA CIRURGIA LAPAROSCÓPICA Dentre os benefícios da cirurgia por vídeo, se destacam: • Mínima invasão corporal • Menor traumatismo cirúrgico • Alterações mínimas na homeostase fisiológica • Menor dor pós-operatória • Permanência hospitalar mais curta • Menor repouso pós-operatório e menos uso de medicamentos pra dor. • Melhor estética devido a menores cicatrizes • Menor custo • Menor índice de infecções • Redução da possibilidade de contaminação e infecção • Redução na formação de aderências • Mais rápida recuperação de forma e função • Retorno mais cedo às atividades habituais e ao trabalho5. INDICAÇÕES PARA CIRURGIA LAPAROSCÓPICA A cirurgia videolaparoscopia é indicada para ampla gama de cirurgias, e caso não haja nenhuma contraindicação é uma ótima técnica de escolha. São exemplos: • Colecistectomia Laparoscópica. • Apendicectomia Laparoscópica. • Correção da Doença do Refluxo Gastroesofágico. • Cirurgia Gástrica Laparoscópica. • Cirurgias bariátricas via laparoscópica. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 88 • Cirurgia Laparoscópica dos Cólons. • Cirurgia Hepatobiliar Laparoscópica. • Esplenectomia Laparoscópica. • Cirurgias ginecológicas gerais. ✓ Laqueadura tubária ✓ Exérese de miomas uterinos ✓ Cistos ovarianos simples e complexos ✓ Tratamento conservador da gravidez ectópica ✓ Histerectomia ✓ Ressuspenção de cúpula vaginal • Correção da incontinência urinária. As patologias a serem realizadas por videolaparoscopia tem as mesmas indicações daquelas da cirurgia convencional, a diferença básica é que na cirurgia minimamente invasiva é realizada sem a abertura da cavidade peritoneal. CONTRA INDICAÇÕES PARA CIRURGIA LAPAROSCÓPICA • CONTRAINDICAÇÕES RELATIVAS: ✓ Grandes tumores ✓ Hipertensão portal ✓ Coagulopatias ✓ Distensão de alças. ✓ Pacientes que submetidos a abdominoplastia devido a inviabilidade de distensão abdominal. ✓ Casos de obesidade visceral ✓ Casos de aderências por laparotomias já realizadas. ✓ Hérnias de parede abdominal • CONTRAINDICAÇÃO ABSOLUTA: ✓ Impossibilidade de o paciente ser submetido a anestesia geral. Obesidade extrema, aderências abdominais extensas, e gravidez são situações que devem ser analisadas com cautela diante das dificuldades que estas impõem ao procedimento, mas não são contraindicações, devendo ser avaliado risco e benefício para esses pacientes6. ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DECORRENTES DA VIDEOLAPAROSCOPIA Múltiplas alterações fisiológicas acompanham a laparoscopia e nem sempre implicam em manifestações clínicas. O aumento da resistência vascular sistêmica e da pressão arterial média e redução do débito cardíaco são principais efeitos cardiovasculares do pneumoperitônio; a pressão intra-abdominal aumentada também pode levar a compressão dos sistemas vasculares venoso e arterial. A compressão da aorta contribui para o aumento da resistência vascular sistêmica e influencia a pós carga; a hipercapnia isolada (absorção de CO2) leva a aumento do débito cardíaco, da pressão arterial média, da frequência cardíaca e da ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 89 concentração plasmática de catecolaminas. Observam-se como efeitos diretos do CO2: depressão miocárdica, vasodilatação e redução da resistência vascular sistêmica; ainda, há repercussões sobre a resposta humoral como alterações hormonais, tais como elevações do hormônio antidiurético, da renina plasmática e da aldosterona, entre outros. Alterações circulatórias regionais como aumento do fluxo cerebral e hipertensão intracraniana, diminuição do fluxo venoso do fígado e da circulação do rim, entre outros; modulação da resposta inflamatória menor, com repostas menos acentuada ao estresse, devido a menor agressão7. EQUIPAMENTOS E MATERIAIS UTILIZADOS NA CIRURGIA Os equipamentos básicos para a execução de cirurgia são: • TORRE DE VÍDEO Fonte: Arquivo pessoal. • MONITOR DE VÍDEO Fonte: Arquivo pessoal. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 90 • ÓTICA CONECTADO A FONTE LUZ Fonte: Arquivo pessoal. • VIDEOCÂMARA DE ALTA RESOLUÇÃO. Fonte: Arquivo pessoal. • INSUFLADOR AUTOMÁTICO DE GÁS Fonte: Arquivo pessoal. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 91 • FONTE DE LUZ Fonte: Arquivo pessoal. Os equipamentos básicos para a execução de cirurgia são: • AGULHA DE VERESS Fonte: Arquivo pessoal. • TROCARTES PERMANENTES OU DESCARTÁVEIS Fonte: Arquivo pessoal. • ELETROCAUTÉRIO OU BISTURI ULTRASSÔNICO Fonte: Arquivo pessoal. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 92 • PINÇAS DE APREENSÃO E DISSECAÇÃO Fonte: Arquivo pessoal. • TESOURAS Fonte: Arquivo pessoal. • CLIPADORA Fonte: Arquivo pessoal. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 93 • CLIPES Fonte: Arquivo pessoal. • GÁS CARBÔNICO Fonte: Arquivo pessoal. A microcâmera deve ter alta resolução, com sistemas de charge-couple- device que contêm alta quantidade de pixels. O laparoscópico é o equipamento óptico que quando conectado a câmera capta as imagens da cavidade peritoneal, sendo o mais utilizado o grau 0, devido a adaptar-se a vários procedimentos e ser de fácil manuseio. O monitor recebe3 a 11%; contaminadas: 10 a 17%; infectadas: maior que 27%4. Estudos sobre o uso de antimicrobianos para prevenção de infecção se iniciou nos anos 60, onde foi demonstrado uma “janela de oportunidade” temporal, onde a profilaxia com uso de antibiótico se mostrou ideal com significativa diminuição de infecções pós cirúrgicas, vários estudos realizados após esse marco confirmaram que a profilaxia destinada a alguns tipos de cirurgia eram eficaz5. Os antibióticos profiláticos são usados mais frequentemente para prevenir infecções de uma incisão cirúrgica. É comprovado que a profilaxia do antibiótico no pré-operatório reduz o risco de ISCs pós-operatórias em muitas circunstâncias. No entanto, apenas a própria incisão é protegida, e somente enquanto está aberta, e, portanto, vulnerável à inoculação. Se não administrada de forma adequada, a profilaxia dos antibióticos é ineficaz e pode ser prejudicial. A antibioticoprofilaxia cirúrgica não previne infecções nosocomiais pós- operatórias6. A profilaxia antibiótica em cirurgia é utilizada visando redução do risco de infecção no local onde foi realizado a cirurgia, não sendo utilizada para prevenção de outras infecções pós-cirúrgicas. O momento mais suscetível a infecção se dá no ato operatório, e por isso no momento da incisão até o final do ato operatório deve-se ter bons níveis de antibiótico na corrente sanguínea. Nas cirurgias classificadas como limpas, não se utiliza antibiótico profilaxia, devido ao baixo risco de infecção, exceto em ocasiões onde a vigência de uma infecção pode comprometer totalmente a cirurgia, como é o caso de próteses ortopédicas ou mamárias por exemplo. Em pacientes imunossuprimidos também deve ser realizadas antibiótico profilaxia em qualquer processo cirúrgico. A profilaxia é geralmente indicada para cirurgias potencialmente contaminadas ou contaminadas. Em cirurgias infectadas, usa-se o tratamento do processo infeccioso1. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 8 Aspectos que merecem atenção relacionados com o uso da antibioticoprofilaxia cirúrgica são a escolha do antimicrobiano, dose adequada em relação ao peso do paciente a ser operado e a manutenção de níveis séricos de antibiótico durante a cirurgia5. Os princípios para profilaxia antibiótica em cirurgia são: uso do antibiótico via endovenosa, o esquema profilático deve acontecer durante a indução anestésica devendo ser mantido doses suplementares durante todo o ato operatório, suspender a profilaxia após o final do ato operatório ou, se estender no máximo até 24 horas de uso. Não há benefício em prolongar a profilaxia além de 24 horas que, pelo contrário, aumenta o risco de infecção1. O uso da antibioticoprofilaxia no pós-operatório deve ser desencorajado, pois não há benefício adicional, podendo haver aumento de reações adversas como alergia, diarreia, infecção por Clostridium difficile e da incidência de patógenos resistentes5. O anestesiologista que prescreve, prepara e administra o antibiótico profilático no centro cirúrgico antes da indução anestésica. Os antibióticos utilizados para profilaxia dependem do sítio a ser operado. Como exemplo temos as cefalosporinas de primeira geração, como cefazolina, que são amplamente utilizadas, já no caso de cirurgias do trato gastrointestinal a droga de escolha é a cefoxitina, e em cirurgias cardíacas a cefuroxima é uma droga bastante utilizada. As doses devem ser repetidas em cirurgias prolongadas. Evita-se o uso profilático de drogas importantes para a terapêutica, pois quando ocorre uma infecção pós-cirúrgica o medicamento utilizado para tratamento deve ser diferente do que foi usado na profilaxia5. Outras classificações cirúrgicas também utilizadas, incluem: As classificadas segundo a urgência: Cirurgia eletiva é o ato operatório programado; Cirurgia de urgência é o tratamento cirúrgico que requer pronta atenção no prazo de 24 a 48 horas; Cirurgia de emergência é aquela que deve ser realizada imediatamente. As cirurgias classificadas quanto ao porte: de grande porte é aquela em que há grandes possibilidades de perda de fluidos e sangue. A de médio porte possui menor riscos de perda de volume. E a de pequeno porte possui uma perda pequena. As cirurgias classificadas de acordo com a finalidade, sendo essas: cirurgia curativa, afim de corrigir alguma doença, como por exemplo uma apendicectomia; Cirurgia paliativa, visando alivio de alguma doença mas não oferece cura, como a gastrostomia; Cirurgia diagnóstica, afim de esclarecer possível patologia, é o caso por exemplo da laparotomia exploratória; Cirurgia reparadora através de reconstrução artificial, como um enxerto de pele em pacientes que sofreram queimaduras; cirurgia reconstrutora, com objetivos estéticos, como por exemplo mamoplastia. E ainda, o ato ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 9 cirúrgico classificado segundo ao tempo de duração, porte I: até duas horas; Porte II: de duas a quatro horas; Porte III: de quatro a seis horas; E porte IV, duração maior que seis horas7. 1.2 PREPARO PRÉ OPERATÓRIO A fase pré-operatória inclui preparação pré-operatória, revisão do histórico clínico e exames prévios, patologia, anatomia relevante, e percepção dos potenciais problemas que podem ser enfrentados durante o processo operatório. A comunicação com o paciente ou responsável deve se embasar na garantia de que todos estejam de acordo com a operação, o local do procedimento, ciente de riscos e benefícios e das possibilidades alternativas. As comorbidades e seus possíveis impactos nos resultados da cirurgia devem ser avaliados pelo cirurgião, anestesista, paciente e pela família2. O preparo pré-operatório abrange desde o atendimento no consultório, atendimento a pacientes internados, até a avaliação de um paciente no serviço de emergência. Os pacientes na maioria das vezes são encaminhados ao cirurgião com uma suspeita de diagnóstico cirúrgico e com resultados de investigação em mãos. Desse modo, cabe ao médico cirurgião confirmar os achados físicos, bem como a revisão do histórico clínico e dos testes laboratoriais e outras investigações que sustentem esse diagnóstico. A recomendação sobre a necessidade de intervenção cirúrgica pode, então, ser feita pelo cirurgião e discutida com o paciente e seus familiares. Quando a decisão do tratamento cirúrgico é tomada pelo paciente, devem ser discutidas o momento e o local da cirurgia, tipo de anestesia e preparos pré-operatório necessários, compreensão dos riscos pelo paciente e otimização do resultado2. O objetivo da avaliação pré-operatória é identificar e quantificar qualquer comorbidade que pode afetar o resultado da cirurgia. Essa avaliação dada pelos achados na história clínica e no exame físico do paciente, sugestivos de disfunções orgânicas, visando descobrir áreas problemáticas que possam requerer uma investigação adicional ou serem passíveis de otimização pré-operatória8. A avaliação pré-operatória é determinada de acordo com o risco do procedimento planejado (baixo, médio ou alto), técnica anestésica planejada e o ambiente pós- operatório do paciente (ambulatorial ou hospitalar, leito de enfermaria ou unidade fechada). Além disso, a avaliação pré- operatória é utilizada para identificar os fatores de risco do paciente quanto à morbidade e mortalidade pós-operatórias9. O bom preparo pré-operatório é fundamental para o sucesso de qualquer procedimento cirúrgico. De forma objetiva o ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 10 pré-operatório geral compreende uma boaas imagens captadas pela minicâmera, por isso precisão ter alta resolução. As fontes de luz devem ter potência luminosa de 300W e controle automático de intensidade de brilho. O insuflador eletrônico deve ter boa qualidade e velocidade de fluxo do gás para o interior da cavidade abdominal superior a 71/min5. É realizado a reesterilização de materiais de uso único, para isso são utilizados: formalina, glutaraldeido, autoclave, óxido de etileno, peróxido, ácido peracético, radiação e outros. São materiais delicados de limpeza difícil e tecnologia complexa5. TÉCNICA CIRÚRGICA PARA REALIZAÇÃO DE LAPAROSCOPIA. A técnica cirúrgica consiste em: Anestesia Geral com intubação orotraqueal, oximetria; capnografia e monitorização não invasiva; Posicionamento do paciente a depender da operação a ser realizada, geralmente em decúbito dorsal; Posicionamento do armário com os ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 94 equipamentos eletrônicos (Conforme a operação a ser realizada: pode ser junto ao ombro, cranial, distal, entre os membros inferiores ou à frente, lateral e deve estar na mesma direção da mesa de instrumentos); Antissepsia e Assepsia (os mesmos princípios técnicos das cirurgias convencionais); Distribuição no campo operatório dos cabos, mangueiras e conexões5. A técnica de realização para o pneumoperitônio se inicia pela denominada fase cega, devido a introdução dos primeiros instrumentos na cavidade sem a visualização do cirurgião. Para minimizar o risco dessa etapa utiliza-se a agulha de Veress, que possui um mecanismo de proteção retrátil em sua extremidade cortante. Através dela, realiza-se o teste de aspiração, injetando 5 ml de solução salina, e espera-se que o líquido injetado não seja retornado, se isso ocorrer ou ser aspirado sangue, significa que ela está incorretamente posicionada5. Ainda, são utilizados o teste da gota, em que uma gota de soro fisiológico é colocada na extremidade externa da agulha de Veress, se a posição estiver correta, a gota será aspirada. O teste do insuflador consiste em conectar o insuflador em regiões de baixo fluxo à agulha de Veress. Após constatar que a agulha está em local correto, inicia-se a injeção de CO22. Para o pneumoperitônio a pressão inicial máxima nas punções com agulha é de até 6 (ou 8) mmHg. Fluxo de insuflação máximo ideal é um litro por minuto. Pressão final máxima usada durante a operação de 12 a 15mmHg5. O gás mais utilizado na cirurgia laparoscópica para realização do pneumoperitônio é o dióxido de carbono, devido ao fato desse gás não ser combustível e apresentar difusibilidade sanguínea. Devido ao uso de eletrocautério e laser, a primeira propriedade citada se faz de extrema importância. Já sua alta dispersão sanguínea diminui as possibilidades de embolia gasosa10. Após a realização da técnica de pneumoperitônio, há a introdução do trocarte de 10 mm na incisão umbilical. Na segunda etapa se dá a introdução dos demais Trocartes sob visão da óptica e o Ato Operatório5. Ao término da cirurgia, deve ser realizado um exame do abdome detalhado para assegurar a ausência de hemorragias. O instrumental e os trocartes são retirados da cavidade sob visão direta e os locais de punção são observados com atenção a hemostasia. Retira-se o laparoscópico e o pneumoperitôneo é esvaziado por abertura da válvula do trocarte umbilical. Os locais onde foram introduzidos trocartes mais calibrosos, devem ser avaliados e caso haja necessidade, deve ser dados pontos na aponeurose2. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 95 A cirurgia laparoscópica utiliza-se de manobras fundamentais para realização de procedimentos. A diérese se baseia nas pequenas incisões para a introdução dos trocartes e nos movimentos de divulsão para dissecção e isolamento de estruturas internas com uso de pinças, eletrocautério em forma de gancho e pinças bipolares. A hemostasia pode ser realizada por meio de grampos metálicos, onde o instrumento já vem munido de quantidade de grampos posicionados a cada disparo, com tamanhos pequeno, médio e grande disponíveis e através de ligaduras, que são os nós, que oferecem segurança e tem menor custo. O nó de Roeder, ou endoalça, é importante artifício para ligadura de estruturas ou hemostasia em videocirurgia. A síntese pode ser realizada de forma mecânica, com a utilização de grampeadores e manuais2. A utilização de equipamentos de fonte de energia é necessária para cirurgia laparoscopia com finalidade de dissecção e hemostasia. As fontes de energia utilizadas são os eletrocautérios e o laser. O eletrocautério pode ser unipolar, mais utilizado, porém com maiores chances de causar efeitos adversos e o bipolar, mais seguro. Esses equipamentos possuem vantagens como tecnologia de efeito seguro, são compactos, fácil manuseio. Dentre as desvantagens tem- se a lesão térmica, lesão elétrica, centelhamento, efeito capacitor e fumaça local8. Campo operatório em cirurgia videolaparoscopica. Fonte: Arquivo pessoal. POSSÍVEIS COMPLICAÇÕES DA CIRURGIA LAPAROSCÓPICA As complicações costumam ser agrupadas em maiores e menores. São consideradas complicações maiores aquelas cujo grau de injúria levam a realização de laparotomia ou mesmo à morte. Complicações menores são problemas que podem ser resolvidos durante a videolaparoscopia e que laparoscópicas quando comparadas a da cirurgia tradicional, estas não devem ser ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 96 subestimadas. Elas possuem risco e complicações, embora menor quando comparado a cirurgia tradicional. Estudos mostram que a maior parte das complicações relacionadas a videolaparoscopia se dá devido ao uso do método por quem não está habituado e adequadamente treinado, embora o excesso de confiança por parte do médico também pode ser outra causa. Complicações comuns a todos os procedimentos laparoscópicos são relacionadas a agulha de Veress e do primeiro trocarte, relacionadas ao pneumoperitênio e referentes a instrumentação laparoscópica3. A maioria das complicações ocorre no início do procedimento laparoscópico e estão associadas a erros técnicos ou falhas durante a inserção da agulha e/ou trocartes na cavidade peritoneal. A lesões mais significativas são as intestinais (principalmente quando passam despercebidas no intraoperatório) e as vasculares, por trazerem consequências graves à paciente. o dióxido de carbono sob o diafragma é o responsável por grande parte da dor experimentada após a laparoscopia.15 A dor no abdome superior, a dor do ombro e as dores posturais nas costas podem ser causadas devido ao gás retido na cavidade peritoneal. Embora seja um gás solúvel em comparação com oxigênio e nitrogênio, pode levar até dois dias para ser absorvido a partir da cavidade peritoneal. Ainda, pode ocorrer dor torácica por irritação diafragmática8. Outras complicações da cirurgia vídeo laparoscópica relacionadas com o dióxido de carbono se destacam: as causadas pelo pneumoperitônio, como por exemplo o enfisema subcutâneo que pode levar a quadros de hipercapnia, estimulo do nervo vago, acidose respiratória, alterações hemodinâmicas e complicações pulmonares com alterações da função respiratória podendo chegar a parada respiratória, redução do volume pulmonar, aumento da pressão endotraqueal e diminuição da complacência pulmonar, podendo levar a quadros de hipóxia; Pneumotórax, pneumomediastino e pneumopericárdio, que apesar de não serem comuns, quando presentes podem pôr em risco a vida do paciente7. Dentre as complicaçõespós- operatórias, se destacam a infecção da ferida, sendo menos comum na laparoscopia de que quando comparada a procedimentos abertos. O umbigo é sítio de infecção mais prevalente. A deiscência e a hérnia também são importantes complicações pós-operatórias, esta última exige intervenção rápida para evitar complicações como como obstrução ou estrangulamento do intestino8. A videolaparoscopia apresenta limitações que não são observadas nas operações convencionais. Dentre essas destacam-se ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 97 dificuldade, inconveniência ou impossibilidade de realizar o pneumoperitônio, seja por distensão acentuada do abdome ou pela presença de múltiplas (por exemplo por distensão abdominal ou complicações de afecções prévias,); dentre outras3. CONCLUSÃO A cirurgia minimamente invasiva está ganhando cada vez mais espaço entre os cirurgiões frente a tantos benefícios quando comparado com método tradicional. Porém fatores limitantes e complicações existem, como a necessidade de aprendizado da técnica laparoscópica e os custos de material. A evolução das técnicas cirurgias laparoscópicas emergem um desafio a medicina moderna, apesar disso, a laparoscopia consagrou-se com muita rapidez e é um método em acessão, com certeza cada vez mais utilizado8. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 98 REFERÊNCIAS 1-FAÚNDES, D. Reprodução humana, videolaparoscopia e endometriose. Disponível em: 2-GOFFI, Fabio Schmidt. Tecnica cirúrgica: bases anatomicas, fisiopatologicas e tecnicas da cirurgia. 4. ed. São Paulo: ATHENEU, 2007. 3-SOUZA, JAG; BARROSO, FL. Cirurgia vídeolaparoscópica: precauções e recomendações. Rev. Col. Bras. Cir. vol.25 no.6 Rio de Janeiro Nov./Dec. 1998 4-NÁCUL, M. A era da Videolaparoscopia no Brasil. Disponível em: 4-ALBINO A. SORBELLO. Princípios da Cirurgia Videolaparoscópica. Instituto Sorbello de Medicina e Cirurgia, 2016. 5- BRESCIANI, C; RODRIGUES GAMA, J; CECCONELLO, I; ZILBERSTEIN, B. Treinamento e Aprendizado do Residente em Vídeo-Cirurgia do Aparelho Digestivo. Revista Brasileira de Videocirurgia, 2003). 6- DUARTE, AM; COSTA, EJM. Perspectivas atuais em Videolaparoscopia. Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, 2013. 7-RAMACCIOTTI, E; GOMES M. Programa de Auto-Avaliação em Cirurgia. Colégio brasileiro de cirurgiões, 2013. 8- GOMES, ET AL. Desfechos cirúrgicos e complicações de laparoscopias ginecológicas em hospital universitário brasileiro no período de 2014 a 2016. Rev Med UFC. 2018;58(4):33-39. 9- TRINDADE, MRM; GRAZZIOTIN, RU; GRAZZIOTIN, RU. Eletrocirurgia: sistemas mono e bipolar em cirurgia videolaparoscópica. Acta Cir. Bras. vol. 13 n. 3 São Paulo July/Aug./Sep, 1998. 10- COHEN RV; FILHO, JCP; SCHIAVON, CA; CORREA, JL. Alterações Sistêmicas e Metabólicas da Cirurgia Laparoscópica. Revista Brasileira de Videocirurgia. ANO 1 Vol.1 Nº 2 - Abr/Jun, 2003. 11- PRISCO, R. Instrumental Laparoscópico. Acta Urológica, edição especial, outubro, 2002. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 99 Apendicectomia: técnica cirúrgica aberta e por videolaparoscopia Murilo Calil Alves Capítulo 8 Apendicectomia: técnica cirúrgica aberta e por videolaparoscopia INTRODUÇÃO: O apêndice é uma estrutura anatômica que se projeta do ceco, aproximadamente a 2,5 cm abaixo da válvula ileocecal, na coalescência das três tênias colônias, sendo este um marco que facilita sua localização no momento da cirurgia. O tamanho dessa região anatômica varia, porém frequentemente mede em torno de 5 a 10 cm e de largura até 0,5 cm. A localização retrocecal é frequente, mas pode mudar de acordo com a orientação do órgão. A vascularização do apêndice acontece pelo ramo apendicular da artéria íleo-cólica e eventualmente artéria acessória, ramo cecal da cólica direita. A drenagem venosa é feita por tributárias da veia íleo-cólica e a drenagem linfática segue o padrão destas veias. Histologicamente na submucosa do apêndice tem-se folículos linfáticos que aumenta entre a infância até em média vinte anos de idade e após declina progressivamente até se tornar ausentes1. APENDICITE A apendicite aguda tem etiologia inflamatória e ou infecciosa, acometendo o apêndice cecal, localizado dentre dentro da cavidade abdominal. A apendicite aguda é a causa mais comum de abdome agudo cirúrgico, sendo caracterizado por dor insidiosa e progressiva sendo esse um sintoma prevalente. A dor tem evolução cronológica, iniciando com localização vaga em região no abdome superior e após migra para a Fossa Ilíaca Direita. Febre é um sintoma frequente. Hiporexia, náuseas e vômitos são sintomas frequentemente associados2. A Principal causa de apendicite é a Hiperplasia linfoide, caracterizada pela obstrução da luz do apêndice e logo, uma maior predisposição a infecção. Dentre as etiologias de obstrução, se destacam contato com antígenos, fecalito e neoplasias. Outras etiologias são dietas inadequadas e histórico familiar3. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 100 Quanto a epidemiologia a apendicite é típica de adolescentes e adultos jovens, sendo incomum na infância e na terceira idade. Após os 70 anos, o risco de apendicite é mínimo. Estima-se incidência anual de 86/100.000 no mundo.1 Os sintomas iniciais geralmente são inapetência, náusea e vômitos. Em seguida evolui com dor, que se localiza em epigástrio ou mesogástrio e depois se torna localizada em fossa ilíaca direita. Os sinais de irritação peritoneal característico são demonstrados pelo sinal de Blumberg positivo. Inicialmente pacientes não tem febre, sendo este um sintoma de evolução tardia. No hemograma nota-se leucocitose3. Sinais semiológicos que sugerem apendicite são importantes aliados no diagnóstico. Eles são sugestivos desse diagnóstico, mas nem sempre estão presentes. São eles4: • Blumberg: positivo quando dor à descompressão brusca em Fossa Ilíaca Direita (Sinal semiológico mais utilizado). • Rovsing: positivo quando dor em Fossa Ilíaca Direita durante palpação profunda de Fossa Ilíaca Esquerda • Sinal do Obturador: positivo quando dor à rotação interna do quadril direito flexionado em decúbito. • Sinal de Dunphy: Dor à percussão do ponto de McBurney ou dor ao tossir. • Sinal de Lapinski: Dor à compressão do ceco contra a parede posterior do abdome, enquanto o doente eleva o membro inferior direito. • Sinal do Psoas: Dor à extensão da coxa direita sobre o quadril contra a resistência em decúbito lateral esquerdo. • Sinal de Lenander: positivo quando temperatura retal maior que a temperatura axilar em mais de 1º C. (Não muito utilizado na prática clínica). • Sintomas atípicos podem ser encontrados: disúria, obstipação ou diarreia FASES DA APENDICITE A apendicite possui fases de acordo com sua evolução3: • Fase 1: simples ou catarral- fase inicial, onde o apêndice se encontra edemaciado e com hiperemia da parede. • Fase 2: fibrinose (supurativa)- há maior hiperemia, edema e sinais flogísticos evidentes, além de úlceras na mucosa com exsudato fibrinoso. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 101 Imagem 1: Apêndice - Fase 2 supurativa. Fonte: Arquivo pessoal. • Fase 3: gangrenosa- tem-se áreas extensas de necrose da parede do apêndice, com aspecto aumentado,distendido, e de cor acinzentada e frequentemente nesse estágio tem-se pus. Se obstrução da luz do apêndice, devido a proliferação bacteriana há dilatação, levando à inflamação da parede e ao risco de perfuração, sendo está com grandes riscos de evolução para quadro de sepse. Imagem 2: Apêndice - fase 3 gangrenosa. Fonte: Arquivo pessoal. • Fase 4: apendicite hiperplásica- surge um plastrão na fossa ilíaca direita, que corresponde ao apêndice aumentado e epíploon. APENDICECTOMIA A apendicite aguda é tratada através de apendicectomia, seja ela convencional ou laparoscópica. A antibioticoterapia contra bactérias Gram negativas e anaeróbicas, pode ser utilizada na tentativa de redução aos riscos e custos associados ao tratamento cirúrgico, porém para essa opção o paciente deve ter um seguimento adequado ao médico e deve estar ciente de que pode ser submetido ao tratamento operatório, se necessário5. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 102 APENDICECTOMIA POR LAPAROTOMIA Para apendicectomia por laparotomia as incisões mais utilizadas são as de McBurney (incisão oblíqua na fossa ilíaca direita), Gridiran e Daves. A técnica consiste em3: 1- Paciente em decúbito dorsal horizontal, sob raquianestesia. 2- Realizado dergemação, antissepsia e colocação dos campos estéreis. 3- Realizada incisão de Daves e abertura da por planos (fossa ilíaca direita transversa). 4- Identificado apêndice fase II. 5- Ligadura do mesoapêndice. 6- Ligadura do apêndice e apendicectomia. 7- Sutura em bolsa do coto apendicular. 8- Revisar homeostasia da cavidade abdominal. 9- Fechamento da aponeurose e posteriormente da pele. 10- Realização de curativo oclusivo. APENDICECTOMIA VIDEOLAPAROSCÓPICA Para a realização da apendicectomia vídeo assistida por acesso único transumbilical6,7: 1- Paciente posicionado em decúbito dorsal em posição de Trendelenburg e lateralização de 30º para a esquerda, sob anestesia geral. 2- Incisão de 12 mm semicircular no umbigo, instalado pneumoperitônio, óptica, com canal operatório de 5 mm e duas punções realizadas em posição pélvica baixa bilateral, medialmente aos vasos epigástricos. 3- Introduz-se no lado direito trocarte metálico permanente de 5 mm; no esquerdo, outro de 10 mm de diâmetro com redutor para 5 mm. 4- Preensão do apêndice ileocecal com a pinça de apreensão 5- No trocarte da fossa ilíaca esquerda isola-se o apêndice de seu meso, sutura da base do apêndice, fixação da ligadura, secção do fio de sutura. 6- Fio agulhado permanece na cavidade abdominal para futura realização da bolsa de invaginação do coto apendicular; 7- Secção do apêndice com uso do gancho introduzido pela fossa ilíaca direita (Ressecção do apêndice à maneira convencional, com ligadura progressiva do meso) 8- Retirada do apêndice apreendido (o apêndice é tracionado e colocado dentro do trocarte de 10 mm que é retirado da parede abdominal com o apêndice no seu interior). 9- Após a sua saída, ele é novamente introduzido na parede abdominal. 10- Sutura em bolsa no ceco em torno do coto apendicular para seu sepultamento. 11- Revisão da hemostasia. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 103 12- Aspiração de eventual conteúdo líquido residual dentro da cavidade. Imagem 1: Após secção do apêndice, mostra- se coto amarrado. Fonte: Arquivo pessoal. Imagem 2: confecção da sutura em bolsa de tabaco para o sepultamento do coto. Fonte: Arquivo pessoal. Imagem 3: Sutura em bolsa de tabaco concluída. Fonte: Arquivo pessoal. FATORES DE RISCO PARA COMPLICAÇÕES São considerados fatores de riscos importantes para as complicações de apendicectomias: sexo feminino, apendicite em fase de gangrena ou perfurada e drenagem da cavidade. Os fatores mais frequentes que podem levar a perfuração do apêndice incluem erro diagnóstico e na abordagem inicial do paciente, atraso na internação e uso de analgésicos. Na população idosa, onde essa doença se manifesta com sinais e sintoma ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 104 atípicos, a evolução para complicações é mais comum. Dentre as complicações, se destacam perfuração e os abscessos intra-abdominais, sendo que o desenvolvimento dessas complicações leva a maiores chances de infecções relacionadas a ferida cirúrgica5. As complicações na evolução da apendicite aguda correm paralelamente à gravidade da lesão apendicular. Dentre as principais complicações relacionadas ao pós- operatório de apendicectomia, se destacam: abscesso de parede, abscessos residuais, obstrução intestinal, fistula fecal, evisceração, eventração, peritonites e hemorragia. Esses pacientes também estão suscetíveis a infecções hospitalares. Os extremos de idade são considerados as faixas etárias em que complicações de pós-operatório são mais prevalentes 8. A apendicectomia é a intervenção cirúrgica de urgência mais frequentemente realizada no âmbito da cirurgia geral. O progresso tecnológico no diagnóstico e na terapêutica da apendicite aguda é notável, porém as complicações principalmente relacionadas ao diagnóstico tardio e erro na abordagem ao paciente continuam sendo importantes causas de morbidade e mortalidade em pacientes com esse diagnóstico. A despeito de novos antibióticos, de avanços em imagem e de cuidados de suporte avançados, muitos pacientes com apendicite aguda desenvolve sérias complicações e tem recuperações mórbidas e prolongadas. Dessa forma, ressalta-se a importância do diagnóstico e abordagem correta ao paciente de forma precoce, a fim de diminuir os riscos de complicações5. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 105 BIBLIOGRAFIA 1- FREITAS, RG; PITOMBO, MB; MAYA MC; LEAL, PR. Apendicite Aguda. Revista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ 2- FILHO VASCONCELOS, FR. ABORDAGEM INICIAL DO ABDOME AGUDO CIRÚRGICO. Monografia submetida ao Hospital Geral de Fortaleza como parte dos requisitos para a conclusão de Residência Médica em Cirurgia Geral. 3- SABISTON. Tratado de cirurgia: A base biológica da prática cirúrgica moderna. 19.ed. Saunders. Elsevier. 4- LOPES, AC; REIBSCHEID S; SZEJNFELD J. Abdome Agudo: Clínica e Imagem. Editora Atheneu, São Paulo, 2006. 5- IAMARINO, et al. Fatores de risco associados às complicações de apendicite aguda. Rev Col Bras Cir 2017; 44(6): 560- 566. 6- SOUZA LIMA, GJ; SILVA, AL; GUEDES LEITE, RF; Munayer ABRAS, G; CASTRO, EG; Suretti PIRES, LJ. APENDICECTOMIA VIDEOASSISTIDA POR ACESSO ÚNICO TRANSUMBILICAL COMPARADA À VIA LAPAROSCÓPICA E LAPAROTÔMICA NA APENDICITE AGUDA. ABCD Arq Bras Cir Dig; 2012. 7- DOMENE, CE; VOLPE, P; HEITOR FA. TÉCNICA DE APENDICECTOMIA LAPAROSCÓPICA COM TRÊS PORTAIS DE BAIXO CUSTO E BENEFÍCIO ESTÉTICO. ABCD Arq Bras Cir Dig 2014;27(Supplemento 1):73-76. 8- NUTELS, DBA; ANDRADE, ACG; ROCHA, AC. Perfil das complicações após apendicectomia em um hospital de emergência. ABCD, arq. bras. cir. dig. vol.20 no.3 São Paulo July/Sept. 2007. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 106 Colecistectomia: Condutas em complicações de via biliar Bruno Martins Viana Capítulo 9 Colecistectomia: Condutas em complicações de via biliar COLECISTECTOMIA 1. Introdução A colecistectomia é o nome dado a cirurgia que faz a retirada da vesícula biliar. É uma operação que começou a ser realizada no final do século XIX, e que se desenvolveu bastante desde então.Convencionalmente a cirurgia era feita por laparotomia, que é a técnica clássica, porém, nos últimos anos tem sido utilizadas acessos cada vez menores, as chamadas mini incisões. E atualmente a técnica de escolha para a retirada da vesícula é a videolaparoscopia, por ser menos invasiva e proporcionar uma melhor recuperação ao paciente. É uma cirurgia relativamente simples e tem mortalidade inferior a 1%, porém por falta de experiencia do cirurgião ou por variações anatômicas podem desencadear algumas complicações como: lesão do ducto hepático, dor crônica pós-colecistectomia, ligadura de colédoco e vasos hepáticos, trauma biliar, fístula. 2. Anatomia A vesícula biliar é um órgão acessório do sistema digestivo que tem como função principal o armazenamento da bile (fluido que atua na emulsificação de gorduras). Sua localização se dá no quadrante superior direito do abdome, abaixo do lobo direito do fígado. É dividida em 3 partes: fundo, corpo e colo e infundíbulo. A anatomia do sistema biliar tem muitas variantes, sendo crucial o conhecimento preciso das várias derivações anatômicas por parte do cirurgião na hora de realizar a colecistectomia. O triangulo de Calot é um importante espaço anatômico que é delimitado pelo ducto hepático comum, ducto cístico e a borda inferior do fígado. O principal suprimento arterial da vesícula biliar vem da artéria cística. 3. Indicações Existem algumas indicações para a cirurgia de retirada da vesícula biliar. As principais estão descritas a seguir: ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 107 3.1 Colelitíase e suas complicações: A colelitíase é a presença de cálculos (pedras) na vesícula biliar. Esses cálculos se formam quando o fluido biliar se cristaliza em um material semelhante a uma pequena pedra. A maioria deles são formados de colesterol, podendo também ser encontrado sais de bilirrubina e cálcio. Existem alguns fatores de risco para se desenvolver colelitíase, os principais são: • Obesidade • Sexo feminino • Idade acima de 40 anos • Gestações A maioria dos pacientes com colelitíase são assintomáticos (80%). E a principal queixa daqueles que apresentam sintomas é a dor aguda continua. Essa dor biliar é visceral, caracteristicamente localizada no hipocôndrio direito ou epigástrio, podendo se irradiar para o ombro direito e a escapula. A dor é constante e não intermitente, e pode piorar após refeições gordurosas. O diagnóstico de colelitíase se dar através da clínica do paciente e de alguns exames complementares. A ultrassonografia é o exame de imagem preferível para o diagnóstico. O único tratamento definitivo para a colelitíase é a colecistectomia (retirada da vesícula), sendo que a cirurgia profilática não é indicada. Algumas indicações fortes para colecistectomia são: • Cálculos maiores que 3 cm de diâmetro • Paciente com doença hemolítica crônica • Candidatos a transplantes de órgãos 3.1.1 Colecistite aguda A colecistite aguda é a complicação mais comum da colelitíase. E ocorre quando um cálculo migra da vesícula biliar e fica impactado no ducto cístico, causando assim uma obstrução persistente e gerando um processo inflamatório agudo. O principal sintoma da colecistite é a dor em caráter de cólica, iniciado no hipocôndrio direito e com irradiação para o epigástrio, o dorso e a escápula direita, podendo atingir difusamente o abdome em caso de complicação. É comum haver vômitos, e depois de algumas horas há o aparecimento do sinal de Murphy (na inspiração profunda piora a dor durante a palpação do hipocôndrio direito, interrompendo a inspiração). A ultrassonografia é o exame de imagem de escolha para o diagnóstico da colecistite aguda, se mostrando uma opção rápida, barata, capaz de visualizar órgãos adjacentes e que evita a exposição à radiação. Hemograma completo, perfil hepático, amilase e lipase são alguns exames de sangue que também podem auxiliar no diagnóstico. O tratamento se baseia em medidas de suporte como correção dos distúrbios hidroeletrolíticos, analgesia para alívio da dor e antibioticoterapia. E a colecistectomia é o tratamento cirúrgico que cura a colecistite agudo e a cólica biliar. E deve ser realizada nas primeiras 24 a 48 h nas seguintes situações: • Quando o diagnóstico for claro e o paciente apresentar baixo risco clínico e cirúrgico. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 108 • Pacientes idosos e/ou diabéticos e, portanto, mais suscetíveis a complicações infecciosas. • Presença de empiema, gangrena, ou perfuração, ou, ainda, colecistite acalculosa. 3.1.2 Coledocolitiase A coledocolitiase é definida como a presença de cálculos no ducto colédoco, seja pela migração desses cálculos da vesícula biliar ou formação no próprio ducto colédoco. Muitos cálculos do colédoco são clinicamente silenciosos, sendo identificados apenas com a realização de uma colangiografia. Quando esses cálculos não são clinicamente silenciosos podem apresentar sintomas como cólica biliar, coluria, icterícia e acolia fecal. Um achado importante que pode estar presente em pacientes com coledocolitiase é a tríade de Charcot, que se caracteriza pela presença de três sintomas: febre, dor no quadrante superior direito e icterícia. Essa tríade evidencia gravidade e se não tratada pode evoluir para choque séptico. Para o diagnóstico de coledocolitiase, a ultrassonografia é um exame importante, que pode evidenciar dilatação do ducto colédoco, sendo sugestivo de presença de cálculos. Outra técnica importante para o diagnóstico e tratamento da coledocolitiase é a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) é altamente sensível e específica e geralmente pode ser terapêutica por remover os cálculos dos ductos em aproximadamente 75% dos pacientes durante o primeiro procedimento. 3.1.3 Pancreatite aguda Cerca de 70% dos casos de pancreatite aguda são originados por causas biliares. Ocorre quando um cálculo migra da vesícula, passa pelo colédoco e fica impactado na ampola de Vater, impossibilitando que o pâncreas excrete suas substâncias através do ducto pancreático. Isso acaba ativando as enzimas pancreáticas ainda no pâncreas, causando assim um processo inflamatório intenso. A dor abdominal é o principal sintoma presente na pancreatite, normalmente associada a vômitos. Essa dor se apresenta em faixa no abdome superior e dorso, e está presente em cerca de 50% dos doentes. Achados como febre e alterações circulatórias dão indícios de gravidade. Alguns sinais clínicos como sinal de Cullen (equimoses na região periumbilical), e o sinal de Grey-Turner (equimoses nos flancos) surgem nos casos que apresenta algum grau de hemorragia. Para o diagnostico são feitos exames de imagens e laboratoriais. A USG é o exame de imagem de escolha para diagnostico, principalmente na pancreatite de origem biliar, a TC de abdome pode ser realizada em casos mais graves para avaliar necrose ou coleções. As dosagens de lipase e amilase são exames importantes que vão confirmar o diagnóstico. 3.2 Colecistite alitiásica aguda A colecistite alitiásica aguda é uma condição inflamatória da vesícula biliar sem evidência de cálculos biliares e ocorre em 2- 15% de todos os casos de colecistite aguda. A condição pode ocorrer em pessoas de qualquer idade com uma ligeira predominância no sexo masculino. Em crianças, a colecistite alitiasica representa 30-70% de todos os casos ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 109 de colecistite, sendo que quadros de infecção etrauma são os fatores prévios mais comumente associados. A colecistite alitiasica raramente ocorre como um evento isolado, sendo que geralmente esta condição costuma surgir cerca de duas semanas após um quadro clínico grave, como cirurgias de grande porte, traumatismo grave, queimaduras de grande extensão corporal, doença renal terminal, leucemia e infecções. A mortalidade de pacientes diagnosticados é considerada alta (30%), o que reflete sua gravidade. Os sintomas incluem dor, desconforto e massa no quadrante superior direito do abdome, febre, náusea, vômitos, icterícia, diarréia, desconforto abdominal, alteração do estado mental e deterioração rápida do estado clínico do doente. 3.3 Outras indicações menos comuns para a colecistectomia são: • Neoplasia da vesícula e arvore biliar. • Malformação da vesícula biliar. • Ruptura traumática da vesícula biliar ou ducto cístico. • Pólipos vesiculares 4. Cuidados pré-operatórios O paciente é orientado a permanecer em jejum por 8 horas, e no banho antes da operação ter atenção especial com limpeza da parede abdominal e do umbigo. Na recepção do centro cirúrgico, o paciente é orientado a urinar, o que dispensa a sondagem vesical e evita a lesão da bexiga cheia durante o acesso videolaparoscópico. Se houver pelos na região abdominal, devem ser removidos. Na realização da anestesia faz se a antibioticoprofilaxia que pode se restringir a uma dose apenas, caso não haja intercorrências durante a colecistectomia. Antes do acesso videolaparoscópico à cavidade abdominal, a sondagem orogástrica deve ser feita para evitar lesões gástricas. No fim da operação, a sonda gástrica pode ser removida. 5. Técnicas cirúrgicas Duas técnicas principais são utilizadas na realização da colecistectomia • Técnica convencional (aberta) • Técnica videolaparoscopia A) Técnica aberta: A colecistectomia aberta está sendo cada vez menos utilizada depois do desenvolvimento da videolaparoscopia. Porém é utilizada quando não tem como ser realizada a cirurgia por vídeo ou até mesmo em casos de cirurgia videolaparoscopia que necessita ser convertida em cirurgia aberta. A incisão para ter acesso a cavidade abdominal pode ser mediana, paramediana supraumbilical ou subcostal. É preferencialmente de escolha a incisão subcostal de 8 a 12cm, também conhecida como incisão de Kocher. Descrevendo a técnica: 1. Primeiro o paciente é colocado em posição supina, com o cirurgião de pé a sua esquerda. 2. É feita a limpeza do abdome com clorexidina e é colocado os campos cirúrgicos. 3. Logo em seguida é feita uma laparotomia subcostal direita (incisão de Kocher). O ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 110 ventre do musculo reto abdominal deve ser seccionado por eletrocauterio, evitando assim sangramentos. 4. É feita uma inspeção da cavidade. 5. Depois o auxiliar afasta delicadamente o fígado superiormente, para exposição da vesícula, com gases úmidas na mão. Se necessário, o estomago, a primeira porção duodenal e a flexura hepática do cólon podem ser afastadas com gases úmidas pelo auxiliar. Afastadores de Doyen mantêm o posicionamento das compressas e o afastamento visceral. 6. Então é feita a punção do fundo da vesícula para aspiração do conteúdo biliar, facilitando a manipulação e evitando que haja migração de cálculos. 7. É feita tração do fundo da vesícula, clampeando área puncionada, com pinça de Foerster, expondo o ligamento hepatoduodenal. Também pode ser feita a injeção de ar na vesícula para uma melhor visualização das estruturas vasculares. 8. Então a estrutura é tracionada cranialmente pelo cirurgião, possibilitando a visualização do ligamento colecistoduodenal (pequeno omento) e seu pedículo. Com o auxílio de uma pinça anatômica sem dentes e uma pinça de Mixter são realizadas a abordagem do ligamento e a dissecção do pedículo da vesícula biliar, inicialmente pelo ducto cístico, que é reparado com fio 2-0, e posteriormente pela artéria cística, localizada posteromedialmente ao primeiro, sendo está ligada e reparada. 9. Incisão da serosa da vesícula a 0,5 cm da borda do leito hepático 10. Dissecção fundocística da serosa da vesícula. Neste momento é importante manter a dissecção o mais próxima possível da vesícula biliar, para evitar lesão hepática e subsequente sangramento. 11. Após o reparo das estruturas do pedículo, inicia-se o descolamento da vesícula biliar do seu leito hepático com o auxílio do eletrocautério. Próximo do infundíbulo, a dissecção passa novamente a ser realizada com o auxílio de uma pinça de Mixter, a fim de evitar uma lesão no colédoco, ductos hepáticos e artéria hepática direita, por exemplo. Durante todo o processo, deve-se ficar atento para que não haja migração de cálculos através do ducto cístico, resultando em coledocolitíase. O manuseio sutil da vesícula biliar e uma leve tração no reparo do ducto cístico previnem tal fato. 12. Ligadura com fio de seda (duas ligaduras proximais e uma distal), com reparo dos fios entre pinças, e secção da artéria Cística ao nível do infundíbulo da vesícula; após revisão, os fios reparados são seccionados 13. Ligadura (duas ligaduras proximais e uma distal) e secção do ducto cístico entre os nós. 14. Retirada da vesícula da cavidade abdominal 15. Depois é feita a cauterização do leito hepático e peritonização do ligamento hepatoduodenal. 16. E para concluir é feita revisão da hemostasia e da cavidade 17. E por fim o fechamento da parede abdominal por planos B) Técnica videolaparoscopica: Com a invenção da colecistectomia laparoscópica, os cirurgiões têm escolhido essa técnica como preferencial pra retirada da vesícula biliar, pois a cirurgia por vídeo proporciona ao paciente uma melhor experiencia por desencadear menos dor e um tempo de hospitalização menor. Essa cirurgia é realizada por meio de trocartes, que são introduzidos no abdome do paciente, fazendo com que as incisões sejam menores. Nessa técnica cirúrgica é necessário a insuflação do abdome com CO2, para que ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 111 possa ter uma boa visualização da cavidade abdominal. Descrevendo a técnica: 1. Primeiramente o paciente é colocado em decúbito dorsal, na posição de tredelenburg com seus braços próximos ao corpo ou em posição de 90 graus, depois a pele de todo abdome e parte inferior do tórax é limpa e preparada de forma habitual. 2. Então é escolhido um lugar para fazer o pneumoperitônio, geralmente pela cicatriz umbilical através da agulha de Veress (imagem 1) ou pela técnica de Hasson. 3. O primeiro trocarter de 10mm, por onde vai ser introduzido o sistema ótico, é colocado na região periumbilical (imagem 2). Após o enchimento do abdome e a introdução da câmera, deve-se fazer uma inspeção dos órgãos e estruturas abdominais em busca de alguma alteração ou lesão provocada pelo trocarte. Sendo que lesão de vísceras ou vasos é indicação para converter em cirurgia aberta. 4. Os demais trocartes são todos colocados sob visão direta da câmera, para evitar lesões. 5. O segundo trocarter de 10mm é colocado cerca de 2 cm abaixo do processo xifoide. 6. Em seguida, são colocados dois acessos menores de 5 mm: um no quadrante superior direito, próximo à linha medioclavicular, vários centímetros abaixo do arco costal, e outro lateralmente, quase na altura do umbigo. Esses locais podem variar de acordo com a anatomia do paciente e a experiência do cirurgião. 7. Com a introdução de todos os instrumentos cirúrgicos o cirurgião faz a apreensão do infundíbulo da vesículacom pinça para iniciar a abertura do peritônio e conseguir isolamento do ducto e da artéria cística. Essa manobra exige do cirurgião um vasto conhecimento da anatomia normal e das variações anatômicas da vesícula e vias biliares. 8. Inicia-se então a liberação da vesícula do leito hepático no sentido cístico- fúndico, utilizando o cautério para evitar sangramento. 9. Completada a dissecção do triangulo de Callot, identificação e a individualização do ducto cístico e artéria cística, é então feita a homeostasia por meio de clipes metálicos. São aplicados dois clipes proximais e um distal tanto na artéria cística como no ducto cístico, sendo que os clipes distais sairão junto com a vesícula. 10. Antes de liberar completamente a vesícula, esta deve ser tracionada cranialmente para que seja verificada cuidadosamente a homeostasia. 11. Completada a colecistectomia, a vesícula é retirada da cavidade abdominal através do trocarte umbilical. 12. Após a retirada da vesícula biliar é feita uma inspeção final do abdome, todos os acessos são retirados e o pneumoperitônio é evacuado. 13. Por fim os locais de acessos são suturados com pontos simples ou ponto em X. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 112 Imagem 2- Trocarter de 10mm sendo inserido Fonte: Arquivo pessoal do autor. i. Cuidados pós-operatórios O tubo orogástrico é retirado no centro cirúrgico, antes do fim da anestesia geral. A dor no sítio cirúrgico é habitualmente bem controlada com medicação oral. Embora os pacientes tenham náuseas transitórias, a maioria é capaz de ingerir líquidos orais pouco depois da cirurgia, podendo receber alta no próprio dia da operação. A recuperação é rápida permitindo que o paciente deixe o hospital 1 dia após a realização da cirurgia ou até no mesmo dia. REFERENCIAS: 1. BONADIMAN, A. et al. CONDUTA ATUAL NA COLECISTITE AGUDA. REVISTA UNINGÁ, v. 56, n. 3, p. 60- 67, 2019. 2. Atlas cirurgia zoolinger 3. TOWNSEND, C. M. Sabiston textbook of surgery. 18. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. 4. HINKLE, J.L.; CHEEVER, K.H. Brunner e Suddarth: tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 5. GOFFI, Fabio Schmidt. Tecnica cirurgica: bases anatomicas, fisiopatologicas e tecnicas da cirurgia. 4. ed. 6. Colecistectomia: aspectos técnicos e indicações para o tratamento da litíase biliar e das neoplasias Imagem 1- Agulha de Varess ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 113 Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) técnicas cirúrgicas e indicações Lucas Santis Capítulo 10 DRGE técnicas cirúrgicas e indicações 1. INTRODUÇÃO O refluxo gastroesofágico é caracterizado pelo retorno involuntário do conteúdo gástrico para o esôfago. Desde que não haja sintomas ou lesão na mucosa, é considerado um processo fisiológico, podendo ocorrer em todas as pessoas várias vezes ao dia. Segundo a Sociedade Brasileira de Motilidade Digestiva e Neurogastroenterologia (SBMDN), a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) é “a condição que se desenvolve quando o conteúdo do estômago retorna ao esôfago e provoca sintomas desagradáveis e/ou complicações”. A DRGE é um problema de saúde pública, visto que, é um dos diagnósticos mais comuns na gastroenterologia, tem evolução crônica, tem alta prevalência, afetando cerca de 12% a 20% da população brasileira de todas as faixas etárias, e afeta a qualidade de vida do indivíduo, sendo o seu impacto negativo mais significativo que em pacientes diabéticos e hipertensos. Os sintomas da DRGE mais típicos são: pirose e regurgitação. Além disso, existem sintomas atípicos, como a dor torácica, e sintomas extraesofágicos (tosse seca, pneumonia de repetição, otite, amigdalite de repetição). Dito isso, com os sintomas típicos já podemos ter uma suspeita de diagnóstico. A etiologia da DRGE ocorre da falha em uma ou mais das defesas do esôfago. Dentre elas estão: barreira antirrefluxo, resistência intrínseca do epitélio e mecanismos de depuração intraluminal. 2. TRATAMENTO CIRÚRGICO DA DRGE: O tratamento cirúrgico é baseado na confecção de uma válvula anti-refluxo gastroesofágica elaborada com o fundo ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 114 gástrico. A realização da cirurgia ganhou força durante a década de 1990, com o surgimento do método laparoscópico, pois é uma cirurgia minimamente invasiva, e por isso aumentaram suas indicações para a realização do procedimento. As técnicas não mudaram, porém foram aperfeiçoadas. A primeira técnica cirúrgica foi descrita por Nissen em 1956, que utiliza o lado posterior do fundo gástrico e ao redor do esôfago distal. Nissen desevolveu uma fundoplicatura total (360º) e mais tarde, em 1963, Toupet propôs uma fundoplicatura parcial (180º). O custo da cirurgia tem diminuído, desde a aplicação de técnicas minimamente invasivas, sendo um ponto positivo para a realização. Em uma comparação de custos, para o uso de IBP ultrapassar o preço de uma cirurgia é de aproximadamente 8 anos. 2.1. INDICAÇÕES PARA CIRURGIA ANTIRREFLUXO O consenso de Genval concluiu que o tratamento cirúrgico é indicado para todos os pacientes que queiram a cirurgia. Porém as indicações são variadas. Segue abaixo as indicações do Consenso Brasileiro da Doença do Refluxo Gastroesofágico (CB-DRGE). DRGE NÃO-COMPLICADA: • Pacientes que não respondem bem ao tratamento clínico; • Pacientes intolerantes à medicação; • Casos que tem indicação de uso contínuo de IBP, principalmente em pacientes com menos de 40 anos; • Pacientes que não tem condição financeira para arcar com os custos de medicações. 2.2. CLASSIFICAÇÃO ENDOSCÓPICA DE LOS ANGELES: ➢ DRGE COMPLICADA: • Esôfago de Barrett; • Estenose; • Úlcera; • Sangramento esofágico. Segundo a Sociedade Brasileira de Motilidade Digestiva e Neurogastroenterologia (SBMDN), os pacientes, que queiram se candidatar à intervenção cirúrgica, devem seguir alguns critérios: • Ser jovem; • Não obeso; • Muito sintomático; • Reponsivo ao uso de medicação; • EDA, pHmetria ou impendânciopHmetria esofágica alterados. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 115 As contraindicações para a cirurgia de refluxo são individuais para cada paciente, pois sabemos que cada um tem sua particularidade. Dito isso, alguns apectos, como a obesidade, dificultam a técnica cirúrgica e existe um risco grande de não funcionamento adequado da válvula. 2.3. AVALIAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA É importante fazer a rotina para confirmar o diagnóstico, excluir outras morbidades e ajudar no direcionamento da operação. - ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA É de extrema importância na exclusão de outras doenças, como tumores, e na identificação de lesões pépticas no esôfago. Se for constatado a presença de lesão, deve- se aplicar a classificação de Los Angeles (mais utilizada no Brasil). GRAU A Uma ou mais erosões menores que 5mm. GRAU B Uma ou mais erosões maiores que 5mm em sua maior extensão, não contígua entre os ápices de suas pregas esofágicas. GRAU C Erosões contínuas (ou convergentes) entre os ápices de pelo menos duas pregas, envolvendo menos do que 75% do órgão. GRAU D Erosões ocupando pelo menos 75% da circunferência do órgão. Fonte: próprio autor. - MANOMETRIA Esse teste permitirá a exclusão de distúrbios de motilidade, e ajudará na melhora do planejamento cirúrgico, pois fornecerá informações sobrea competência do esôfago em conduzir o alimento ingerido. As informações obtidas são relacionadas à função do esfíncter esofágico inferior (EEI) e do corpo esofágico. - MONITORAÇÃO DO PH: É necessário para diagnóstico e quantificação do refluxo ácido. A pHmetria de 24 horas é padrão-ouro para diagnóstico. Muitos dados são obtidos: • Número total de episódios de refluxo; • O episódio de refluxo; • Número de episódios que duram mais de 5 minutos; • Grau de refluxo na posição ereta; • Grau de refluxo na posição supina. - ESOFAGOGRAFIA: É importante na avaliação da anatomia externa do esôfago e do estômago proximal. Isso ajuda bastante no planejamento cirúrgico ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 116 e evita surpresas na cirurgia. É possível visualizar a presença de algumas alterações, como: estenoses, junção gastroesofágica mediastinal, divertículos, tumores, hérnias paraesofágicas. - CINTILOGRAFIA: Avalia o esvaziamento e refluxo esofágico, fornecendo dados sobre uma suspeita de distúrbios de motilidade e refluxo gastroesofágico. Pode-se observar uma distensão gástrica, se o esvaziamento for retardado. - LARINGOSCOPIA E EXAMES ESTROBOSCÓPICOS É recomendado em circunstâncias específicas para se obter evidências de refluxo extraesofágico. Pode-se observar inflamações da mucosa laríngea, anormalidade na tensão muscular e estenose subglótica. 3. TÉCNICAS CIRÚRGICAS - FUNDOPLICATURA DE NISSEN (360º) É uma abordagem pelo pilar esquerdo para a confecção de uma válvula de 360 graus, fornece um melhor acesso aos vasos gástricos curtos e ao baço, diminuindo a chance de lesão esplênica. Além disso, é o método de escolha para a maioria dos pacientes. Antes de começar a cirurgia, cada profissional e o paciente devem estar posicionados corretamente: I. O paciente deve estar em posição litotômica (paciente em decúbito dorsal com as pernas afastadas e suspensas sobre perneiras); II. O cirurgião deve se posicionar entre as pernas do doente; III. O Assistente se posiciona ao lado esquerdo. Deve-se colocar quatro trocartes e o afastador do fígado, na região subxifoide, para criar dois triângulos que tenham um ângulo medial comum. Nisso, o cirurgião opera com dois portais mais cefálicos e o assistente manuseia dois portais mais caudais. Daí é necessário seguir os seguintes passos: I. O assistente deverá afastar a grande curvatura. Enquanto isso, o cirurgião, aborda os vasos gástricos curtos para mobilizar o fundo. Além disso, deverá dissecar o omento, o pilar esquerdo e a grande curvatura. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 117 II. A membrana frenoesofágica sobre o pilar esquerdo deve ser dissecada até a visualização das fibras curais. III. Após isso, disseca-se o pilar direito, abrindo o pequeno omento e levando-o até a membrana frenoesofágica à direita. Nisso, a dissecção anterior e posterior do pilar direito, mostrará o pilar esquerdo que já havia sido dissecado. IV. É preciso colocar um dreno de Penrose ao redor do esôfago para ajudar na confecção da válvula e facilitar a dissecção mais proximal e mobilizar o esôfago. V. Após mobilizar o esôfago, deve-se reaproximar os pilares, posteriormente, usando pontos de fio inabsorvível, deixando um espaço para a passagem de uma vela de 52 French. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 118 VI. Ademais, a face posterior do fundo gástrico é conduzida por trás do esôfago, da esquerda para a direita. Nisso, a válvula é confeccionada com 2,5 a 3 cm de extensão, usando novamente fio inabsorvível, 3 ou 4 pontos. Lembrando que deve-se, também, deixar uma passagem fácil para uma vela de 52 French para esse reparo, que é colocado após a primeira sutura. VII. Após isso, com a vela removida, a válvula é anexada ao esôfago e ao pilar direito no hiato para prevenir hérniação e deslizamento. Depois, deve-se fazer mais outras duas suturas, ancorando a válvula anteriormente e posteriormente aos pilares. É importante analisar a válvula para saber se ela está completa e terminada, observando os seguintes detalhes: • A linha de sutura deve repousar imediatamente à direita da linha média do esôfago; • O aspecto posterior da válvula não deve ter estômago redundante, pois se tiver, provavelmente a válvula foi confeccionada muito baixa, com a parte do corpo gástrico e não com o fundo gástrico. • Tem que ter um leve deslize da válvula sobre a grande curvatura; • Se ela estiver angulada abruptamente, pode ocorrer muita tensão no fundo gástrico. - FUNDOPLICATURA PARCIAL É indicado em casos de motilidade esofágica ruim, evitando a obstrução do bolo alimentar. A abordagem e dissecção inicial é a mesma usada na fundoplicatura total. Fundoplicatura à Thal e Dor: • É criada com o fundo gástrico dobrado sobre a face anterior do esôfago. • Elas são aconradas ao hiato e ao esôfago, assim como uma válvula de 360º. É mais usada em pacientes com acalasia após confecção de uma miotomia anterior. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 119 Fundoplicatura de Toupet: • É criada uma válvula posterior, sendo os procedimentos os mesmos da fundoplicatura total. • A fundoplicatura é feita ancorando-se a face fúndica posterior aos pilares e ao esôfago. Nisso, as suturas mais céfalicas da válvula devem incorporar o fundo, pilar e esôfago. • O envoltório deve ser ancorado posteriormente à crura com duas ou três suturas. Após isso, o fundo é suturado no esôfago ao longo da face anterolateral, criando uma válvula com uma angulação de 220º a 250º. 4. COMPLICAÇÕES As complicações da cirurgia ocorrem em 3% a 10% dos pacientes a ela submetidos, sendo que, a maioria são relacionadas à uma interveção cirúrgica normal (trombose venosa, retenção urinária, infecção da ferida, íleo adinâmico). Sendo assim, as complicações são divididas em operatórias e pós- operatórias. Complicações operatórias: • Pneumotórax: ocorre em 5% a 8% dos pacientes, sendo uma das complicações operatórias mais comuns. Porém, a incidência não é conhecida, pois não é feito uma radiografia pós-operatória de rotina. Se ocorrer, deve-se manter o paciente em oxigenoterapia, já que o pneumotórax é consequência de uma invasão do espaço ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 120 pleural por dióxido de carbono, e repetir uma radiografia de tórax duas horas após a cirurgia. • Lesões gástricas e esofágicas: ocorre em menos de 1% dos pacientes, mas com base em um estudo populacional, pode chegar a 1,7%. É decorrente da manipulação grosseira dos tecidos ou passagem inadequada da vela. Se a lesão é vista durante o processo, deve-se reparar por meio de sutura ou com o uso de um grampeador linear. Porém, se for vista após o proecedimento, deve-se realizar uma nova intervenção cirúrgica para reparar a víscera. • Lesão esplênica: ocorre em cerca de 2,3% dos pacientes com base em estudo populacional. A abordagem do pilar esquerdo é preferível, já que oferece uma melhor visualização dos vasos gástricos curtos e baço. Pode ser uma lesão resultante da dissecção do fundo e da grande curvatura. Além disso, deve-se tomar cuidado na hora de mobilizar o fundo gástrico, pois uma tração excessiva também pode lesionar. • Lesão hepática: são raramente relatadas. Ao usar um afastador fixo, diminui significativamenteo risco de lesão. Complicações pós-operatórias: • Plenitude: pode ocorrer em até 30% dos pacientes. Existem pelo menos 3 causas: I. Dificuldade de eructação por causa da válvula. II. Pode ocorrer um trauma vagal, causando um lento esvaziamento gástrico. III. Os pacientes que sofrem de refluxo, tem um costume de engolir saliva, para aliviar os sintomas, junto à uma quantidade significativa de ar. Deve-se evitar a ingesta de refrigerantes e água com gás, para evitar o acúmulo de gases. • Disfagia: pode ocorrer em até 20% dos pacientes. I. Quando é realizada a dissecção do hiato e mobilização do esôfago, ocorre algum edema, causando disfagia. Porém, geralmente, é de curta duração. Deve-se aplicar uma dieta gradativa de 4 a 6 semanas, mastigando bem o alimento. II. Quando se faz a confecção da válvula, podem ocorrer hematomas no estômago ou na parede esofágica, causando disfagia. Deve-se aplicar uma dieta gradativa de 4 a 6 semanas, mastigando bem o alimento. III. Quando a válvula é muito justa. Sendo assim, precisará de uma dilatação para este problema. • Insucesso cirúrgico: quando os sintomas dos pacientes persistem e a exposição ácida continua. Incidência de cerca de 5% a 10%. Pode ocorrer por frouxidão da válvula e por herniação, nesse caso é necessário uma nova intervenção cirúrgica. Se ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 121 o reparo estiver normal, inicia-se o tratamento clínico. • Mortalidade: abaixo de 0,5% e aumenta após os 60 anos. REFERÊNCIAS: 1. GASTROENTEROLOGIA ESSENCIAL (4ª EDIÇÃO) DANI PASSOS. 2. SOCIEDADE BRASILEIRA DE MOTILIDADE DIGESTIVA E NEUROGASTROENTEROLOGIA – DRGE 3. SABISTON - TRATADO DE CIRURGIA: A BASE BIOLÓGICA DA PRÁTICA CIRÚRGICA MODERNA 4. REVISTA DA FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DE SOROCABA 2015- TÉCNICAS CIRÚRGICAS UTILIZADAS PARA O TRATAMENTO DA DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO 5. DIRETRIZES AMB - DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO: TRATAMENTO NÃO-FARMACOLÓGICO 6. I CONSENSO BRASILEIRO DA DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO 7. DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA DOENÇA DO REFLUXO GASTROESSOFÁGICO- ARQUIVO BRASILEIRO DE CIRURGIA DIGESTIVA - https://www.scielo.br/pdf/abcd/v27n3/pt_0102- 6720-abcd-27-03-00210.pdf https://www.scielo.br/pdf/abcd/v27n3/pt_0102-6720-abcd-27-03-00210.pdf https://www.scielo.br/pdf/abcd/v27n3/pt_0102-6720-abcd-27-03-00210.pdf ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 122 Toraconcetese e colocação de dreno de tórax Brena Thamyres A. Irineu Capítulo 11 Toraconcetese e colocação de dreno de tórax INTRODUÇÃO Os pulmões são órgãos esponjosos, bilaterais, moles, elásticos, que contém milhões de alvéolos pulmonares. Ocupam parte da cavidade torácica, mais precisamente se estendem da parte superior da clavícula até o diafragma. O pulmão pode ser dividido em ápice, base e face costal, medial e diafragmática, com bordas anterior, posterior e inferior, sendo recobertos pela pleura, membrana lisa e dupla, formada por uma camada externa chamada de pleura parietal, adjacente à caixa torácica, e uma camada interna chamada de pleura visceral, revestindo os pulmões, o espaço entre essas duas membranas justapostas é chamado de espaço pleural. Este espaço contém um líquido seroso que facilita a aderência da superfície pleural e permitem que essas deslizem umas sobre a outra suavemente durante a respiração. Existe equilíbrio entre a entrada e saída de líquido na cavidade pleural, mantendo constante a concentração proteica desse fluído. O acúmulo de líquidos ou gases no espaço pleural gera alteração desse equilíbrio prejudicando a mecânica pulmonar1. A presença de uma coleção líquida no espaço pleural é uma condição anormal, que acarreta desconforto importante ao paciente e exige tratamento imediato com esvaziamento da cavidade pleural, devido ao risco de morte associado a essa condição2. As punções e drenagens de tórax são procedimentos importantes para promover a manutenção e restabelecer a pressão negativa do espaço pleural, manter a função cardiorrespiratória e a instabilidade hemodinâmica por meio da retirada de líquido acumulados na cavidade pleural. São exemplos de líquidos que podem estocar nessa cavidade: ar, compondo o quadro de pneumotórax, sangue compondo o quadro de ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 123 hemotórax, pus sendo o empiema, linfa sendo o chamado quilotórax e líquido pericárdio sendo o diagnóstico hidrotórax. Na maior parte das situações esse acúmulo de liquido se dá por trauma, infecções, procedimentos cirúrgicos, dentre outros exemplos3. TORACOCENTESE Toracocentese é uma punção realizada na parede torácica. Este procedimento pode ser realizado por punção com agulha fina, com baixo risco para o paciente4. A toracocentese geralmente é realizada para diagnóstico, através da coleta de pequena quantidade de líquido pleural para análise. Para alívio, visa a retirada de grande volume de líquido pleural para alívio de sintomas relacionados a um derrame pleural volumoso. É descompressiva em pacientes com pneumotórax hipertensivo para melhora rápida dos sintomas até a realização da drenagem torácica. A toracocentese é um procedimento frequentemente em ambientes de urgência e necessita ser realizado em caráter emergencial, podendo ser determinante no prognóstico do paciente5. A punção pleural pode ser diagnóstica ou terapêutica. Ela é diagnóstica quando confirma a presença de líquido pleural; quando se retira amostras para análise laboratorial; ou quando é realizada a criação de uma câmera aérea após injeção de ar na cavidade pleural para exame pleuroscópico. Já a toracocentese terapêutica tem o objetivo de esvaziar a cavidade pleural, também conhecida como punção evacuadora, ou injetar substâncias na cavidade pleural para tratamento. Grandes coleções liquidas e gasosas podem ser aspiradas através da punção pleural, o que além de aliviar a sintomatologia do paciente pode salvar a vida dele. Substâncias injetadas na cavidade pleural visam benefícios como tratar infecções, provocar fibrinólise, realizar exames contrastados e provocar sínfise pleural6. INDICAÇÕES DA TORACOCENTESE São indicações de toracocentese diagnóstica os derrames bilaterais com volumes grandes e diferentes; sintomas pleuríticos; febre ou outros sinais sugestivos de infecção; alterações em exame de imagem que sugiram outra etiologia; ausência de melhora do derrame em pacientes com diagnóstico de insuficiência cardíaca, submetidos ao tratamento adequado. A indicação de toracocentese de alívio se dá quando o paciente evolui com piora do quadro respiratório, ou seja, dispneia intensa devido ao derrame pleural. Muitas vezes é realizada em conjunto com a toracocentese diagnóstica na abordagem inicial do paciente. Caso o líquido volte a acumular rapidamente, pode estar indicada a drenagem torácica. Já a toracocentese descompressiva deve ser ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 124 realizada em pacientes com alta suspeita clínica ou com pneumotórax hipertensivo confirmado, são sintomas frequentes nesse acometimento piora respiratória progressiva, ausculta respiratória com ruídos adventícios abolidos em hemitórax, percussão timpânica, desvio de traqueia contralateral, instabilidade hemodinâmica e turgência jugular5. QUADRO 2: OBJETIVOS DA TORACOCENTESE DIAGNÓSTICA: Identificação imediata de presença de derrame pleural. Obtenção de amostras do líquido paraexames laboratoriais. Criação de câmera aera para realização de exame pleuroscópico. Realização de biópsias da pleura parietal. Injeção de contraste para realização de exames. Fonte: Elaborado pela autora. QUADRO 3: OBJETIVOS DA TORACOCENTESE TERAPÊUTICA Esvaziamento parcial ou completo do derrame pleural. Injeção de substâncias terapêuticas. Fonte: Elaborado pela autora. EQUIPAMENTOS NECESSÁRIOS PARA A REALIZAÇÃO DA TORACOCENTESE7 • Anestésico local (lidocaína a 1% ou 2%). • Agulhas de calibre 25 e 20 a 22 e seringa de 10 ml. • Solução antisséptica com aplicadores, campos estéreis e luvas. • Agulha e cateter plástico para toracocentese. • Válvula de controle de 3 via. • Seringa de aspiração. • Gazes para ferimentos. • Mesa de cabeceira para o paciente se apoiar. • Recipientes para coleta de líquidos para exames laboratoriais. • Sacos de coleta para remoção de volumes maiores durante a toracocentese terapêutica. TÉCNICA: TORACONCENTESE2 1- Posicionar o paciente (Paciente sentado com os braços e a cabeça apoiados em travesseiros, sobre um anteparo, como uma mesa). ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 125 2- Demarcar o local da punção através da ausculta e percussão do nível do líquido pleural (O melhor local para se realizar a toracocentese deve ser determinado a partir da propedêutica, geralmente na região subescapular e sempre na borda superior do arco costal, para evitar o feixe vásculo-nervoso). 3- Realizar antissepsia e posicionar campo estéril 4- Infiltração anestésica local com lidocaína sem vasoconstrictor a 1% a 2% nos planos subcutâneo, intercostal e subpleural (Sempre realizar aspiração da seringa antes da próxima injeção do anestésico, fugindo dos elementos vásculo-nervosos). 5- Com agulha do tipo Jelco número 14 conectado a seringa de 10 ml, realizar a aspiração do conteúdo pleural. 6- 7- Caso seja optado por realizar toracocentese de alívio, conectar o equipo ao jelco e permitir a saída do líquido pleural até o volume desejado. 8- Remover o jelco e realizar curativo oclusivo. INDICAÇÕES DRENAGEM DE TÓRAX QUADRO 4: INDICAÇÕES COMUNS PARA DRENAGEM DE TORÁX: TRAUMATISMO TORÁCICO • Pneumotórax pequeno, acometendo pelo menos 30% da cavidade; • Hemotórax sintomático ou progressivo; • Hemotórax médio (500 a 1.500 ml); • Hemotórax grande (quantidade maior que 1500 ml); • Pneumotórax de grande volume. DERRAME PLEURAL NEOPLASICO SINTOMÁTICO DERRAME PLEURAL NEOPLASICO REICIVANTE HEMOTÓRAX PNEUMOTÓRAX QUILOTÓRAX PÓS TORACOTOMIA EMPIEMA PLEURAL Fonte: Elaborado pela autora. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 126 TÉCNICA: DRENAGEM DE TÓRAX5 1- Posicionar o paciente em decúbito dorsal com o membro superior do lado acometido em abdução. 2- Localizar o 4º ou 5º espaço intercostal, na linha axilar posterior, média ou anterior, na borda superior do arco costal 3- Medir o comprimento do dreno que será inserido, sendo que a medida é realizada do meio da clavícula até o local escolhido para a inserção. 4- Realizar antissepsia e posicionar campo estéril 5- Realizar anestesia local com lidocaína 1 ou 2%. 6- Realizar incisão de dois centímetros paralela ao arco costal e realizar dissecção dos planos, do tecido subcutâneo e da musculatura acima do arco costal, utilizando uma pinça hemostática curva. 7- Utilizar a pinça com ponta romba, Kelly curva, e fazer abertura com cerca de 1,5 cm na pleura, devendo introduzir o dedo na cavidade pleural para exploração anatômica afim de confirmar se a cavidade pleural realmente foi atingida. 8- Realizar a clampagem da extremidade do dreno com a pinça hemostática curva e para direcionar a inserção do dreno. 9- Deve-se então introduzir o dreno em direção cranial e posterior até o local marcado anteriormente. 10- Para finalizar, realiza-se ponto em “U” circundando o dreno para fechar a incisão e, em seguida, nó em “bailarina” em torno do dreno. 11- Sempre deve-se realizar exame físico torácico, e radiografia de tórax para confirmação do posicionamento do dreno. O conjunto coletor da drenagem torácica normalmente é realizado com apenas um frasco, e o sistema tubular é mergulhado em 500 ml de soro fisiológico ou água destilada, quando o recipiente tem capacidade de 2.000 ml. No recipiente de 1.000 ml, devem ser colocados 250 ml de selo de água. O tubo de dentro do frasco coletor deve estar 2cm mergulhado no líquido, e o frasco deve estar mais de 50 cm abaixo da saída do dreno torácico no paciente. O sistema coletor com dois frascos é preferido quando há grande saída de líquido da cavidade pleural, onde o primeiro frasco funciona como frasco coletor e o segundo, como sistema selo de água. Quando é necessário utilizar pressão negativa no espaço pleural para facilitar a reexpansão pulmonar ou para facilitar a retirada de ar ou líquidos retidos na cavidade pleural, usa-se o sistema de aspiração com três frascos que consiste no sistema anterior de dois frascos, acrescido de um terceiro frasco para ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 127 aspiração. A pressão de sucção normalmente é de 15 a 20 cm de água, utilizando-se o vácuo ou uma bomba de sucção, aplicada ao terceiro frasco6. Realização de antissepsia Fonte: Arquivo pessoal. Medida do comprimento do dreno que será inserido Anestesia local com lidocaína 1 ou 2%. Fonte: Arquivo pessoal ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 128 Fonte: Arquivo pessoal. Incisão de dois centímetros paralela ao arco costal. Fonte: Arquivo pessoal. Abertura com pinça Kelly curva, de cerca de 1,5 cm na pleura. Fonte: Arquivo pessoal. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 129 Exploração anatômica digital. Fonte: Arquivo pessoal. Introdução do dreno. Fonte: Arquivo pessoal. Realiza-se ponto em “U” e posterior nó de bailarina para fixação do dreno Fonte: Arquivo pessoal. Raio X de tórax após drenagem para confirmação do dreno Fonte: Arquivo pessoal. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 130 CONTRAINDICAÇÕES Não existem contraindicações para toracocentese de modo absoluto, porém algumas situações merecem cautela e análise, são essas as consideradas contra indicações relativas, visando considerar os benefícios frente aos riscos, devido a potenciais complicações que esse procedimento pode trazer. As alterações no coagulograma ou plaquetopenia, constituem a contraindicação principal de toracocentese, devido ao risco de sangramento2. QUADRO 5: CONTRA INDICAÇÕES RELATIVAS PARA TORACOCENTESE: Presença de lesões de pele: • Queimaduras por radioterapia. • Herpes zoster. • Piodermite. • Celulite. Disturbios de coagulação • Alteração no coagulograma. • Plaquetopenia. Volume de líquido mínimo. Alteração anatômicas da parede torácica. Disfunção renal grave. Fonte: Elaborado pela autora. COMPLICAÇÕES Algumas complicações podem ocorrer após a toracocentese, principalmente após drenagem de tórax. As complicações não são prevalentes, porém o conhecimento dessas se faz necessário, pois quando presentes levam ao aumento de morbidade, tempo e custo de internação hospitalar. No quadro 5, estão listadas algumas complicações relacionadas a toracocentese2. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5___________________________ 131 QUADRO 6: COMPLICAÇÕES RELACIONADAS A DRENAGEM TORÁCICA Persistência do pneumotórax. Lesões do pulmão, fígado e baço. Dreno localizado fora da cavidade pleural. Hemorragia importante devido a lesões vasculares (Hemotórax) Lesões do diafragma e coração. Retenção de líquidos na cavidade pleural Persistência do pneumotórax. Tosse devido à distensão abrupta dos espaços aéreos Dor Desencadeamento do reflexo vago-vagal • Sudorese, desconforto geral, sensação de desmaio. Fonte: Elaborado pela autora. Algumas literaturas que trazem possíveis fatores de risco para o aparecimento de complicações, porém estas ainda não estão bem estabelecidas na literatura. São essas: falta de experiência do médico, uso de agulhas de grosso calibre, retirada de líquido pleural acima do recomendado, múltiplas perfurações com agulha na tentativa de encontrar o líquido pleural, presença de doença pulmonar obstrutiva crônica, toracocenteses repetidas e existência de loculações2. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 132 BIBLIOGRAFIA 1-Derrame Pleural – Estruturas anatômicas e sua função. Disponível em: Acessado em: 01 de novembro de 2020. 2- SALES, Roberta; ONISHI, Roberto. Toracocentese e biópsia pleural. J. bras. pneumol. São Paulo, v. 32, supl. 4, pág. S170-S173, agosto de 2006. Disponível em: . 3-Concelho regional de Enfermagem de São Paulo- Boas práticas para dreno de tórax. Disponível em: Acessado em: 01 de novembro de 2020. 4-MARQUES, Ruy Garcia. Técnica operatória e cirurgia experimental. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. 5-Bragança, RD. PROCEM - Procedimentos médicos na emergência. 3a edição. Belo Horizonte. CUREM, 2019. 6-GOFFI, Fabio Schmidt. Técnica cirúrgica: bases anatômicas, fisiopatológicas e técnicas da cirurgia. 4. ed. São Paulo: ATHENEU, 2007. 7- MANUAL MERCK ON-LINE (MSD). Disponível em: Acesso em 01 de novembro de 2020. https://derramepleural.com/sistema-respiratorio-anatomia.html https://derramepleural.com/sistema-respiratorio-anatomia.html https://portal.coren-sp.gov.br/sites/default/files/dreno-de-torax.pdf https://portal.coren-sp.gov.br/sites/default/files/dreno-de-torax.pdf https://portal.coren-sp.gov.br/sites/default/files/dreno-de-torax.pdf ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 133 Cricotireidostomia e traqueostomia Orçal José Netto Martins Mariano Capítulo 12 Cricostomia e traqueostomia 1. CRICOTIREOIDOSTOMIA Fonte: próprio autor 1.1. INTRODUÇÃO: A Cricotireoidostomia consiste na abertura da membrana cricotireoideana em sua linha média, comunicando-a com o meio externo, proporcionando ao paciente uma alternativa respiratória. É uma alternativa rápida e temporária, em emergências, de manutenção das vias aéreas. Deve ser substituída pela Traqueostomia dentro de 24h às 72h [1]. A membrana cricotireoidea fica localizada entre a cartilagem tireoide e cricóide, relativamente superficial e localizada na linha média, correspondente a região subglótica da laringe [3]. Está abaixo da pele, tecido celular subcutâneo, ligamento médio da membrana cricotireoidea, e a mucosa da laringe subglótica [2]. Pode ser feita por punção ou por dissecção aberta ou percutânea. As vantagens desta técnica, por comparação com a traqueostomia são a sua simplicidade, a rapidez e ausência de hemorragia relevante, e ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 134 menos tempo de treino mínimo requerido, não sendo necessária a hiperextensão da cabeça em pacientes com possível lesão vertebral cervical [2]. A Cricotireoidostomia está indicada quando se verifica a incapacidade de Intubação Orotraqueal, no traumatismo facial grave, na hemorragia traqueobrônquica persistente, na distorção anatômica devido ao trauma no pescoço e, na incapacidade de visualização das cordas vocais, devido ao acúmulo de sangue e às secreções, ou por edema de via aérea. Ainda, em pacientes pediátricos menores de 10 anos, bem como em doenças preexistentes na laringe ou traqueia, como: tumores, infecções ou abscessos na área da incisão [1]. Contraindicações [2]: • Identificação impossível dos acidentes anatómicos de superfície (cartilagem tiroide, cricóide, membrana cricotiroideia). • Obstrução da via aérea distal à subglote. • Cancro laríngeo. • Coagulopatias (nas indicações não emergentes). A etapa principal do procedimento da Cricotireoidostomia cirúrgica consiste em fazer uma incisão transversa na pele sobre a membrana cricotireoidiana e aprofundar cuidadosamente a incisão até atingir a luz traqueal [1]. Por sua vez, a Cricotireoidostomia por punção ou percutânea consiste em um acesso rápido e emergencial das vias áreas, através da simples perfuração da membrana cricotireoidea, por um cateter agulhado de grosso calibre, comunicando a luz da via aérea com o meio externo [1]. A cricotireoidostomia pode ser classificada quanto ao atendimento, podendo ser pré-hospitalar ou hospitalar, e também pode ser classificada quanto a técnica [3]: Cirúrgica aberta Por punção Técnica de Seldinger Fonte: próprio autor, 2020. Dentre as complicações, pode-se apresentar de forma precoce e tardias [3]: PRECOCES TARDIAS Sangramento por tosse Estenose subglótica Obstrução por sangue e secreção Distúrbio de deglutição Infecção Granuloma com efeito de válvula Deslocamento do tubo com falso trajeto Fístula traqueoesofagica Enfisema subcutâneo Traqueomalácia Atelectasia por tubo inapropriado Aspiração Fonte: próprio autor, 2020. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 135 1.2. TÉCNICA CIRÚRGICA ABERTA Fonte: próprio autor, 2020. Materiais • Lâmina de bisturi; • Pinça cirúrgica tipo Kelly ou Halsted (mosquito); • Cânula de traqueostomia infantil ou tubo de pequeno calibre. Localização topográfica • Palpa-se a proeminência na cartilagem tireóide e desliza-se o dedo para a sua borda inferior em direção à cartilagem cricóide, ou seja, no sentido craniocaudal. • Sente-se uma pequena depressão de consistência mais elástica seguida de uma elevação de consistência óssea (cartilagem cricóide). Ao nível dessa depressão é que se atinge a membrana cricotireoidea. Procedimento I •Paciente em decúbito dorsal com hiperextensão do pescoço; •Anestésico local (xilocaína com vasoconstrictor), se o doente estiver consciente; •Fazer a incisão transversal na pele e subcutâneo sobre a membrana cricotireoidea (2 a 3 cm); •Fazer incisão na membrana cricotireoidea transversalmente após sua identificação; •Inserir uma pinça hemostática dentro da incisão e gira-la 90° para abrir a via aérea; Procedimento II • Inserir o tubo endotraqueal com balão, através da incisão cricotireoidea, direcionando o tubo distalmente para dentro da traqueia; • Insuflar o balão e ventilar o paciente; • Observar as insuflações pulmonares e auscultar o tórax para verificar se a ventilação se faz adequadamente; • Fixar o tubo endotraqueal ou de traqueostomia ao doente para evitar deslocamentos. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 136 Observações: • Toda cricotireoidostomia deve ser convertidaabordagem clínica com anamnese detalhada e exame físico completo e minucioso, exames pré-operatórios básicos se indicados e cuidados que antecedem a cirurgia. Os exames complementares, só deverão ser solicitados em algumas circunstâncias, baseados na idade do paciente, no tipo de ato cirúrgico e em alterações evidenciadas na história ou ao exame físico10. A anamnese deve ser o primeiro passo da abordagem pré-operatória. Em intervenções eletivas deve acontecer pelo menos uma semana antes, para o médico possa intervir em alguma condição clínica do paciente, se necessário. Já nas intervenções de urgência, a anamnese realizada com o próprio paciente ou com responsável pode trazer informações importantes que poderão influenciar. O exame físico é útil durante o processo de avaliação de risco perioperatório e não deve ser limitado ao sistema cardiovascular, sendo examinado todo o paciente de modo minucioso8. A estimativa do risco operatório se baseia no estado de saúde geral do paciente visando identificar possíveis anormalidades que possam aumentar o trauma ou complicações operatórias, a escala mais utilizada para ele fim é da Sociedade Americana de Anestesiologia (ASA), sendo risco I: paciente saudável e normal; Risco II: paciente com doença sistêmica leve a moderada; Risco III: paciente com doença sistêmica grave e limitação não incapacitante; Risco IV: paciente com doença sistêmica incapacitante; Risco V: paciente moribundo10. A avaliação nutricional é destinada a pacientes desnutridos, emagrecidos, cirurgia de obesidade mórbida, doenças consumptivas ou que afetem a capacidade de absorção do trato gastrintestinal, doentes com perdas por fístulas, vômitos, diarreias ou infecções. Esta avaliação inclui parâmetros antropométricos e laboratoriais, visando quantificar as reservas corpóreas10. Deve ainda ser orientar o paciente sobre restrição de dieta, medicamentos de uso habitual que devem ser suspendidos, tricotomia, preparo da pele com medidas de higiene. A depender do tipo de cirurgia podem ainda ser indicados uso de laxantes, cateterismo vesical, sedação e antibiótico profilaxia10. Abordagem pré-operatória pode ser realizada por sistemas em pacientes que possuem alterações destes. As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo e sua contribuição para a mortalidade perioperatória em operações não cardíacas é significativa, justificando nesses casos avaliação cardiológica. A avaliação pré- operatória da função pulmonar pode ser necessária para procedimentos cirúrgicos ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 11 gerais ou torácicos. Pacientes com algum grau de disfunção renal, o que pode afetar a fisiologia de vários órgãos, possuem risco de morbidade adicional no período perioperatório. A disfunção hepática pode ser a consequência comum de muitas agressões ao fígado e em pacientes com disfunção hepática necessita de determinação cuidadosa do grau do dano funcional, assim como um esforço coordenado para evitar agressões adicionais no período perioperatório. Condições endócrinas como diabetes melito, hipertireoidismo ou hipotireoidismo, ou insuficiência adrenal, leva a um estresse físico adicional durante a cirurgia2. Sendo assim, a avaliação pré-operatória deve identificar o tipo e o grau da deficiência do paciente, para permitir um preparo pré- operatório favorável e planejamento de possibilidades de tratamento, visando redução de morbimortalidade relacionado com o procedimento cirúrgico2. Além da abordagem visando reconhecer condições clínicas fisiológicas que podem comprometer o risco cirúrgico, o contato pré operatório da pessoa que será submetida a uma cirurgia com o médico também apresenta importância psicológica. Paciente submetidos a procedimentos cirúrgicos apresentam medos, ansiedades e dúvidas que podem ter repercussões no equilíbrio psicológico e logo influenciar no quadro cirúrgico. O contato com o profissional de saúde, sana dúvidas, diminui a insegurança e temores, e faz o paciente seguir confiante para realização do procedimento cirúrgico, justificando a necessidade desse contato prévio com o paciente visando também benefícios no que diz respeito ao psicossocial11. A preparação física e psicológica do paciente antes do ato cirúrgico mostra-se essencial. É nesse momento que médico garante a identificação e cuidados necessários de problemas em saúde e aborda aspectos psicológicos, como esclarecimento de dúvidas, medos e insegurança do cliente. Pacientes que estão fisicamente e psicologicamente preparados para a cirurgia tendem a ter melhor resultado cirúrgico e é esse momento que garante que o paciente esteja bem-preparado e pronto para se submeter ao procedimento12. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 12 REFERÊNCIAS 1. LEVIN, ASS. Quais os princípios gerais da profilaxia antibiótica antes de intervenção cirúrgica? Rev. Assoc. Med. Bras. Vol.48 no.4 são paulo oct./dec. 2002 2. SABISTON. Tratado de cirurgia: a base biológica da prática cirúrgica moderna. 19.ed. Saunders. Elsevier, 2015. 3. CROCO, EL; NAKAGAWA C. Uso de antibioticoprofilaxia em cirurgia. Rev. Fac. Ciênc.méd. Sorocaba, v. 10, n. 3, p. 30 - 37, 2008. 4. MAIA, AMS. Risco das infecções cirúrgicas segundo o potencial de contaminação das feridas operatórias. Faculdade de medicina da universidade federal de minas gerais, Belo orizonte, 2006. 5. DIAS, MBS; CORRADI, MFB; JUNIOR, JM. Protocolo de antibioticoprofilaxia no paciente cirúrgico. Hospital Ciro Libanês, atualização de 2015. 6. COMHUPES. Profilaxia antimicrobiana perioperatória. Complexo hospitalar universitário professor edgard santos. Diretrizes clínicas, agosto 2013/ 16. 7. ANDRADE, NG. Classificação das cirurgias. Universidade estadual paulista, unesp, 2017. 8. FEITOSA, et al. I diretriz de avaliação perioperatória. Arq. Bras. Cardiol. Vol.88 no.5 são paulo may 2007. 9. FERNANDES, et al. Avaliação pré- operatória e cuidados em cirurgia eletiva: recomendações baseadas em evidências. Rev. Amrigs ; 54(2): 240-258, abr.-jun. 2010. 10. NETO, GPB; GONÇALVES, MDC. Pré e pós-operatório. Colégio brasileiro de cirurgiões; 2013. 11. SOUZA LR, SOUZA MAG, PINTO AS et al. Os benefícios da visita pré-operatória de enfermagem para o cliente cirúrgico: revisão sistemática de literatura. Rev. De pesq.: cuidado é fundamental, online 2010. Abr/jun. 2(2):797-806. 12. SOARES, CR; SOUSA, L; CASTRO, TP. O papel do enfermeiro na humanização do paciente no período pré–operatório. Trabalho de conclusão de curso, Belém-Pa, 2016. http://portal.revistas.bvs.br/transf.php?xsl=xsl/titles.xsl&xml=http://catserver.bireme.br/cgi-bin/wxis1660.exe/?IsisScript=../cgi-bin/catrevistas/catrevistas.xis|database_name=TITLES|list_type=title|cat_name=ALL|from=1|count=50&lang=pt&comefrom=home&home=false&task=show_magazines&request_made_adv_search=false&lang=pt&show_adv_search=false&help_file=/help_pt.htm&connector=ET&search_exp=Rev.%20AMRIGS ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 13 Divisão do centro cirúrgico, técnicas de antissepsia, assepsia, paramentação e colocação de campos Kamila Maciel Venâncio Capítulo 2 Divisão do centro cirúrgico, técnicas de antissepsia, assepsia, pamentação e colocação de campo Divisão do centro cirúrgico: O Centro Cirúrgico (CC) é uma unidade hospitalar em que são executados “procedimentos anestésico-cirúrgicos, diagnósticos e terapêuticos, tanto em caráter eletivo quanto emergencial”. Ele é marcado por intervenções invasivas e de recursos materiais que possuem alta precisão e eficácia, precisandopara traqueostomia dentro de 24 a 72 horas (risco de estenose subglótica) [4]; • Não deve ser feita em crianças menores que 10 anos [4]. TÉCNICA POR PUNÇÃO Observações: • Só deve ser utilizada quando não for possível a técnica aberta [5]; • Só se consegue oxigenação por um curto espaço de tempo [5]. Fonte: próprio autor, 2020. Materiais • Cateter agulhado (jelco) de calibre número 12 ou 14, 8,5 cm; • Seringa 5 a 10 mL; • Cateter de oxigênio. Procediment o I • Colocar o paciente em decúbito dorsal com hiperextensão do pescoço; • Colocar o paciente em decúbito dorsal com hiperextensão do pescoço; • Palpar o espaço cricotireoidea para orientação; • Preparar a área a ser puncionada; Procediment o II • Estabilizar a cartilagem com a mão não dominante (dedo polegar e médio, usando o indicador para palpar a membrana cricotireoidea) e manter a estabilização; • Puncionar a pele na linha média com a agulha conectada à seringa, diretamente sobre a membrana, isto é, na linha média sagital. • Direcionar a agulha em ângulo de 45° caudalmente, aplicando pressão negativa na seringa; Procediment o III • Inserir cuidadosamente a agulha ao mesmo tempo em que se avança o cateter para baixo, tomando cuidado para não perfurar a parede posterior da traqueia. • Conectar o tubo de oxigênio no cateter e fixa-lo ao pescoço. • Promover ventilação intermitente tampando o orifício do tubo de oxigênio com o polegar por 1 segundo e destampando-o por 4 segundos (expiração passiva). ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 137 1.3. TÉCNICA DE SELDINGER Fonte: próprio autor, 2020. Material • Seringa de 5 a 10 ml; • Agulha de 18G com cateter; • Fio guia; • Bisturi; • Cateter de via aérea com dilatador. Procedinento I • Colocar o paciente em decúbito dorsal com hiperextensão do pescoço; • Palpar o espaço cricotireoidea para orientação; • Preparar a área a ser puncionada; • Estabilizar a cartilagem com a mão não dominante (dedo polegar e médio, usando o indicador para palpar a membrana cricotireoidea) e manter a estabilização; Procedimento II • Conectar agulha à seringa e puncionar a cerca de 45º caudalmente e na linha média sobre a MCT exercendo uma pequena pressão negativa. A aspiração repentina de ar indica localização da agulha no lúmen traqueal; • Remover seringa da agulha e inserção do fio guia através da agulha; • Remoção da agulha deixando o fio guia em correta localização; Procedimento III • Realização de uma pequena incisão com bisturi na área adjacente ao fio guia; • Introdução do cateter de via aérea com dilatador sobre o fio guia; • Remoção do fio guia e dilatador em conjunto, deixando o cateter na traqueia; • Confirmação do correto posicionamento e fixação do tubo. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 138 2. TRAQUEOSTOMIA Fonte: próprio autor, 2020 Fonte: próprio autor, 2020 2.1. INTRODUÇÃO Conceitualmente, a traqueostomia refere- se a um procedimento de acesso às vias aéreas com a colocação de prótese ventilatória (cânula) ou simplesmente uma cirurgia de abertura da traqueia que exterioriza a luz traqueal [6]. A comunicação da traqueia com o meio externo permite uma redução de 10 a 50% no espaço morto anatômico, o que reduz a resistência e aumenta a complacência pulmonar, favorecendo pacientes com reserva pulmonar reduzida. É uma medida extremamente necessária em muitos casos, além de ser uma via aérea mais segura, mais fácil de ser retirada e recolocada do que a cânula de intubação orotraqueal e não aumenta a incidência de pneumonias [7]. As desvantagens desse procedimento incluem o comprometimento do mecanismo de tosse e da umidificação do ar inspirado, o que reduz a limpeza broncopulmonar e a alteração da composição dos ases alveolares, devido à ausência do fechamento da glote e da pressão expiratória [7]. A traqueia é um tubo cartilaginoso e membranoso (posterior) em forma de “C”, que se estende da cartilagem cricóide (C6) até a bifurcação da traqueia (T5). Possui 16-22 anéis com extensão de 10-12 cm. É vascularizada pelos ramos da tireóide superior ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 139 e inferior (cervical) e ramos das artérias brônquicas (torácica) [3]. 2.2. INDICAÇÕES As principais indicações da traqueostomia são [8]: Obstrução de vias aéreas superiores Intubação orotraqueal prolongada (para reduzir risco de estenose subglótica) Edema devido a queimadura, infecção ou anafilaxia Tempo prévio ou complementar a outras cirurgias bucofaringolaringológicas Facilitar aspiração de secreções de vias respiratórias baixas Síndrome de apneia e hipopneia obstrutiva do sono (SAHOS) Reduzir o espaço morto durante a ventilação para facilitar desmame de ventilador Fonte: próprio autor, 2020. 2.3. CONTRAINDICAÇÕES O estabelecimento de uma via aérea efetiva é essencial no suporte à vida, não existindo contraindicação absoluta. Uma contraindicação relativa é a presença de carcinoma laríngeo, em que a manipulação do tumor durante a traqueia pode levar a uma incidência aumentada de recorrência tumoral na região do estoma, optando-se então por uma cirurgia definitiva desde que o estabelecimento da neoplasia assim o permita. O mesmo princípio é adotado para papilomatose laríngea. A traqueostomia não está indicada para tratamento da aspiração, uma vez que esse procedimento causa alterações que aumentam o grau de aspiração [9]. 2.4. CLASSIFICAÇÃO A traqueostomia pode ser quanto [10]: INDICAÇÃO TEMPO POSIÇÃO ALTURA Urgência/emergência Temporária Terminal Alta Eletiva Permanente Anterior Baixa Fonte: próprio autor, 2020. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 140 TÉCNICA CIRÚRGICA Fonte: próprio autor, 2020. 1° • Paciente em decubito dorsal horizontal mais anestesia local com xilocaína 2° • Antissepsia mais campos. 3° • Incisão longitudinal mais abertura por planos. 4° • Indentificado segundo anel traqueal. 5° • Incisão longitudinal em segundo anel traqueal. 6° • Introduzido cânula de traqueostomia. 7° • Retirada do guia da cânula de traqueostomia. 8° • Fechamento por planos. 9° • Sutura e curativo. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 141 2.5. COMPLICAÇÕES Principais Imediatas (≤ 7 dias) Tardias (> 7 dias) Localização incorreta da cânula Oclusão da cânula com secreção espessa Tecido de granulação Lesão traqueal Saída da cânula Estenose traqueal Lesão esofágica Infecção no estoma Traqueomalácias Lesão do nervo laríngeo recorrente Enfisema subcutâneo Fístula traqueoesofagica Laceração da tireóide Broncoaspiração Parada cardiorrespiratória Alteração na deglutição Pneumomediastino Pneumotórax Fonte: próprio autor, 2020. Referências 1. OURIQUES Fábio Luiz. Traqueostomia, cricotireoidostomia e intubação traqueal são atividades privativas do médico. Curitiba, 2016. 2. FAGAN Johan. Cricotiroidotomia & cricotirotomia por punção. 2017. 3. VAZ Gilberto Teixeira. Traqueostomia e Cricotireoidostomia. Santa Catarina, 2018. 4. FREITAS Janice Lima de Oliveira. Cricotireoidostomia em unidade de terapia intensiva. Sergipe, 2020. 5. TRIBUZI Anita Raquel Magalhães Melo. Cricotirotomia de emergência – Quando, como e porquê? Porto, 2018. 6. MELO Renata Batista. Traqueostomia: Cuidados e Decanulação – Unidade de Reabilitação, Uberaba, 2018 – Versão 2.0. 20p. 7. Bailey, B. J. et al, Head and Neck Surgery: Otolaryngology, 2ª ed., vol. 1, 1993,J. B. Lippincott Company. 8. . Carron, J. D. et al, Pediatric Tracheotomy: Changing Indications and Outcomes, Laryngoscope 2000; 110:1099-1104. 9. CURCIO André. Traqueostomias. ORL- HCFNUSP, 2003. 10. Goffi, P. S. et al, Técnica Cirúrgica – Bases Anatômicas, Fisiopatológicas e Técnicas da Cirurgia, 4ª ed, 2001, Editora Atheneu. 11. SANTOS Paula Marsico e col. Traqueostomia. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 142 Gastrectomia GASTRECTOMIA NOMENCLATURA CIRÚRGICA Prefixos ▪ Adeno: glândula ▪ Angio: vaso ▪ Enterro: intestino delgado ▪ Gastro: estômago ▪ Hepato: fígado ▪ Láparo: abdome ▪ Meningo: membrana ▪ Retro: atrás/posterior ▪ Trans: através Sulfixos ▪ Ectomia: Retirada (remoção) total ou parcial de um órgão ▪ Ostomia: nova abertura ▪ Pexia: Fixação ▪ Plastia: Alteração da forma e/ou função de um órgão ▪ Rafia: Sutura ▪ Scopia: Visualização de um órgão ou estrutura por meio de aparelhos ▪ Tomia: Corte ou abertura Terminologias ▪ Anastomose esôfago jejunal: realizado após a gastrectomia parcial para reconstituição do trânsito digestivo, onde há união do esôfago com o jejuno. Nela tem uma menor incidência de fístulas, mas sua técnica requer atenção ao procedimento decorrente do uso do grampeador, fragilidade do esôfago não desvascularização do órgão. ▪ Anastomose esôfago-jejunal término lateral: técnica cirúrgica em que parte do intestino delgado é conectado ao esôfago após retirada total do estômago. ▪ Anastomose gastrojejunal ou gastrojejunostomia: parte do estômago é anatomosado a uma porção do jejuno. ▪ Anastomose latero lateral: é uma das anastomoses mais segura e com menos propensão a estreitamentos ou estenoses, sendo indicada nos casos de obstrução. ▪ Anastomose termino lateral: ocorre a oclusão de um segmento do intestino, seguido da sutura do íleo em dois planos à parede lateral do cólon. Gastrectomia: Aspectos Gerais Mattheus Duarte da Veiga Jardim Capítulo 13 ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 143 ▪ Anastomose termino terminal: é uma das anastomoses mais simples para restituir o transito intestinal, nela há a sutura de duas bordas anti-mesentéricas de forma paralela, seguida da união dos dois cotos terminais por suturas que evertem suas bordas. ▪ Anastomose: comunicação cirúrgica efetuada entre vasos sanguíneos ou entre duas vísceras ocas, por meio de duas partes do mesmo órgão; ▪ Antrectomia: ressecção do antro pilórico. ▪ Coto gástrico: porção residual da extração do estômago. ▪ Deiscências da anastomose: é uma abertura de sutura, onde durante o procedimento cirúrgico ocorre a separação da camada de aponeurose. Podem resultar em comunicação com a pele, vagina e trato geniturinário masculino, além disso, o local de sua abertura pode ter resolução espontânea. ▪ Enteroanastomose: criação cirúrgica de uma anastomose entre duas ansas intestinais. ▪ Fístulas: condição originada por uma patologia ou técnica cirúrgica onde há uma conexão entre órgão ou entre um vaso sanguíneo com outra estrutura que não estão conectados de modo fisiológico, podendo dar passagem para conteúdo orgânico como fezes e urina. ▪ Gastojejunostomia é a anastomose do jejuno ao estômago. É indicada para a ultrapassagem pilórica, quando há obstáculo ao esvaziamento gástrico (estenose pilórica benigna por úlcera, câncer iressecável do antro e canal pilórico) ou de tumores duodenais ou pancreáticos com obstrução da segunda porção. ▪ Gastrectomia: refere-se a retirada total ou parcial do estômago. ▪ Gastroenteroanastomoses: é a anastomose entre estômago e o intestino delgado realização por procedimento cirúrgico. ▪ Gastroenterostomia: consiste em fazer comunicar o estômago com uma parte do intestino. ▪ Gastroplastia: é o procedimento em que ocorre uma operação plástica no estômago, geralmente visando a redução do estômago. ▪ Hemigastrectomia: ressecção de metade do estômago. ▪ Jejunostomia: formação de uma abertura no jejuno e colocação de uma sonda através da parede abdominal, para desviar o trânsito intestinal. ▪ Mobilização: libertação de um órgão ou de estrutura orgânica de suas aderências. ▪ Neoestômago: sua formação se inicia com a dissecção da curvatura menor do estômago até a parede gástrica posterior seguido de seu grampeamento. Seu volume varia de 15 a 10 mililitros. ▪ Vagotomia: secção do nervo vago. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 144 GASTRECTOMIA TOTAL Compreende como uma estratégia cirúrgica onde todo o estômago do paciente é retirado e o esôfago passa a ter conexão direta com o intestino, foi realizada pela primeira vez por Schlatter em Zurique na Suíça no ano 1897 onde realizou a remoção completa do estômago com anastomose esôfago-jejunal término lateral. Com o passar dos anos essa técnica foi de difundido por todo o mundo e chegou em Brasil por volta da década de 40, mas o que todos os cirurgiões observaram é que esse procedimento tinha grandes complicações pós-operatórias com o desenvolvimento de fistulas, deiscências da anastomose o que levou a alta mortalidade e morbidade dos pacientes que se submetiam a esse procedimento a época. Diante disso começaram a surgir novos tipos de reconstrução e adaptações a essa técnica a fim de reduzir seus efeitos, bem como, assegurar uma melhor qualidade de vida ao paciente. Está indicada como conduta nos casos de neoplasias de estômago, linite plástica, câncer de coto gástrico e diátese ulcerosa intratável associada a tumores de células de ilhotas não beta do pâncreas. Uma das variações realizadas na gastrectomia total são as técnicas para anastomose jejunojejunal podendo ser efetuado em Y de Roux, técnica terminolateral ou laterolateral, porém, na anastomose esofagojejunal pode-se realizar uma comunicação com jejuno (neoestômago), abordados ainda nesse capítulo. Técnica cirúrgica 1. Preparo pré-operatório do paciente com reposição de eletrólitos e fluidoterapia 2. Disposição de sangue para possível transfusão 3. Anestesia geral com intubação endotraqueal 4. Posicionamento do paciente Tredelenburg moderadamente invertido 5. Preparo da pele com tricotomia e uso de solução antisséptica habitual do centro cirúrgico 6. Incisão mediana 7. Inspeção e exploração geral da cavidade abdominal em busca de tumores e metástases 8. Omento maior é rebatido para cima 9. Examinação do mesocólon transverso 10. Liberação do omento 11. Afastamento do mesocólon para baixo 12. Mobilização do estomago 13. Buscar por sinais de tumores e caso estejam presentem efetua-se retirada completa 14. Secção do duodeno em porção duodenal com uso de pinças retas atraumáticas e do lado gástrico uso de pinça Kocher ou secção com grampeador linear cortante ou não cortante ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 145 15. Coto duodenal deve ser ocluído com suturas em plano simples ou duplo 16. Esôfago e o fundo gástrico são expostos e mobilizado medialmente 17. Secção do ligamento suspensor avascular que sustenta o lobo esquerdo do fígado 18. Dissecção romba do ligamento gastro- hepático 19. Secção do peritônio do esôfago 20. Liberação digital da porção inferior 21. Dissecção dos nervos vagos (romba e cortante) 22. Liberação da curvatura maior do estômago até o esôfago 23. Aspiração do conteúdo gástrico 24. Secção do estômago 25. Duodeno é seccionado em dois planos um de suturas interrompidas com fio de seda 3- 0 e outro de suturas em colchoeirocom fio de seda 3-0 26. Fixação do esôfago do pilar diafragmático em ambos os lados (anterior e posterior) 27. Mobilização de uma longa alça de jejuno suficiente para alcançar o esôfago 28. Posicionamento da alça do jejuno a esquerda dos vasos cólicos médios 29. Método para dar continuidade ao trânsito gastrintestinal a escolha do cirurgião GASTRECTOMIA PARCIAL OU SUBTOTAL Refere-se a retirada de parte do estômago (porção distal) seguido da anastomose com segmento do intestino delgado proximal com a porção restante do órgão gástrico. Sua denominação segue de acordo com a região retirada podendo ser gastrectomia proximal, gastrectomia em manga ou gastrectomia distal. Para efetuar a gastrectomia parcial podem ser realizados as técnicas de reconstrução variadas ficando a critério médico sua escolha como por exemplo Billroth I ou Billroth II e “Y de Youx” que serão abordados mais adiante. A indicação da gastrectomia subtotal são os casos de neoplasias malignas, úlceras gástricas persistentes e alguns casos de anemia perniciosa, sua utilização se dá pelo fato de ser um procedimento relativamente conservadora e com menor riscos pós- operatórios quando comparado a gastrectomia total. Técnica cirúrgica 1. Preparo pré-operatório com avaliação do estado nutricional e hidratação 2. Normalizar o equilíbrio hidroeletrolítico quando necessário 3. Anestesia geral com intubação orotraqueal 4. Posição investida de Tredelenburg (decúbito dorsal com pés levemente em nível inferior a cabeça) ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 146 5. Preparo da pele com tricotomia e solução antisséptica de uso habitual 6. Incisão mediana 7. Focalizar no suprimento sanguíneo arterial do estômago e do duodeno pois esse atua como ponto de referência para estipular a ressecção gástrica. 8. Remoção do omento maior 9. Secção dos linfonodos subpilóricos 10. Buscar ativamente por sinais de aderências e comprometimento tecidual dos vasos cólicos médios 11. Mobilização do duodeno por manobra de Kocher 12. Secção do ligamento hepatoduodenal 13. Secção do duodeno 14. Inversão do coto duodenal 15. Uso do dreno de Penrose ou fita de gaze ao longo da curvatura maior de modo a garantir a tração 16. Ligamento gastrocólico é seccionado próximos aos vasos omentais 17. Estômago é afastado para cima 18. Dissecção de vasos ao longo da curvatura maior - ressecção de 75 – 85% do estômago requer a retirada de vários vasos incluindo a artéria gastromental esquerda e artérias gástrica curta 19. Secção da curvatura maior do estômago onde a artérias gastromental esquerda mais se aproxima da parede gástrico 20. Curvatura menor é seccionada no ponto onde a terceira veia grande na parede gástrica anterior 21. Realiza-se suturas de tração transfixantes na porção superior e inferior do duodeno adjacente ao suprimento sanguíneo retido 22. Fechamento do coto duodenal - grampeador linear não cortante ou com uso de suturas em plano único ou duplo. 23. Duodeno é seccionado 24. O estômago é afastado e o coto duodenal posicionado lateralmente 25. Preparo da curvatura menor próximo a região gastresofágica para ressecção gástrica 26. Secção do ligamento gastro-hepático a nível do fígado até o esôfago 27. Sutura de transfixação para aproximação da serosa da parede gástrica anterior com a posterior 28. Mobilização de uma pequena bolsa gástrica 29. Vagotomia 30. Mobilização de uma pequena bolsa gástrica 31. Estabilização da curvatura menor e maior com pinças de Allis e de Bacock 32. Em seguida podem ser realizados vários métodos de reconstrução. HEMIGASTRECTOMIA BILLROTH I ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 147 É procedimentos realizados logo após a gastrectomia subtotal, foi uma técnica desenvolvida em meados de 1881 e indicada principalmente para o tratamento de úlcera gástricas, úlcera pré-pilóricas, neoplasias de antro e muito pouco utilizado para casos de úlcera duodenal. A Billroth I, é uma técnica cirúrgica onde ocorre a ressecção gástrica para dar continuidade ao sistema digestivo, por meio de uma anastomose com baixa tensão e mobilização total do estômago e duodeno. Além disso, a reconstrução de Billroth I permite uma maior preservação do estomago por meio da regulação do ácido estomacal através da realização da vagotomia e antrectomia, em paralelo há também, redução na velocidade o esvaziamento gástrico fato que reduz o desenvolvimento e úlceras logo após o procedimento. Técnica cirúrgica 1. Preparo prévio do paciente com aquisição de informações correspondente de seu peso e hábitos alimentares 2. Posicionamento do paciente em posição de Tredelenburg reversa 3. Anestesia geral através de tubo endotraqueal 4. Preparo habitual da pele com tricotomia e uso de soluções antissépticas 5. Incisão mediana 6. Mobilização da bolsa gástrica e do duodeno com utilização da manobra de Kocher 7. Omento maior deve ser desligado do cólon transverso e das flexuras 8. Secção dos nervos vagos e da porção superior do ligamento gastro-hepático 9. Vagotomia troncular 10. Dissecção da parede posterior do estômago e liberação da cápsula do pâncreas 11. Retorno do cólon para a cavidade peritoneal 12. Ligação dupla das artérias gástricas e gastromentais direita 13. Secção do duodeno 14. Escolha do ponto onde se dará as anastomoses, o qual será onde o vaso gastromental esquerdo está mais próximo da parede gástrica 15. Secção do omento 16. Demarcação dos locais proposto de anastomose por meio de suturas de tração 17. Secção do estômago em sua porção média 18. Fechamento dos ângulos 19. Suturas para anastomose do estômago e duodeno 20. Executa-se a aproximação da mucosa a parede do duodeno com uso de suturas de fio sintético absorvível de modo contínuo ou separada 21. Vedação do ângulo da curvatura maior para obliterar o ângulo e retirar a tensão da anastomose ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 148 22. Busca por sangramento 23. Irrigação com soro fisiológico 24. Tubo nasogástrico para descompressão e alimentação posterior 25. Incisão é fechada HEMIGASTRECTOMIA BILLROTH II A Billroth II é uma anastomose proximal com anastomose gastrojejunal utilizada quando não há possibilidade de anastomose do antro pilórico com o duodeno, ou seja, é uma anastomose latero-lateral do estômago com o duodeno (gastroduodenostomia) ou o jejuno (gastrojejunostomia) sendo essa ténica aplicada após uma gastrectomia parcial. Durante a sua realização ocorre a resseção do estômago por meio da ligadura dos vasos gástricos esquerdo deixando o suprimento sanguíneos para a circulação gastresplênica. Mediante a isso, é necessário evidenciar que a ressecção gástrica à Billroth II é indicada para casos de neoplasias malignas de estomago ou casos de hipersecreção gástrica em pacientes com úlceras. Suas vantagens associam-se pelas altas ressecções, baixa índices de fistulas e maiores margens. Técnica cirúrgica 1. Preparo pré-operatório do paciente com administração de antibioticoterapia 2. Posicionamento em Tredelenburg invertido 3. Anestesia geral endotraqueal 4. Preparo da pele do paciente com tricotomia e uso de soluções antissépticas 5. Incisão mediana superior 6. Liberação do omento do cólon transverso e bordas superior e inferior do duodeno 7. Mobilizar a ligadura da abertura duodenal com uso de grampeador linear (cortante ou não cortante) 8. Aplicar a pinça de Kocher através da extremidade pilórica do estômago ou duodeno 9. Liberação do tecido adiposo dacurvatura menor e maior 10. Colocação do grampeador com afastamento do tubo nasogástrico 11. Suturas adicionais para o controle de sangramentos caso necessário 12. Suturas adicionais para o controle de sangramentos 13. Jejuno é fixado por toda a parede posterior do estômago (anastomose de parede gástrica posterior). 14. Efetua-se contra-aberturas com bisturi na extremidade da curvatura maior e extremidade da alça jejunal para permitir a passagem das laminas cortantes do grampeador linear, para determinar o tamanho da anastomose. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 149 15. Retirada do grampeador 16. Suturas adicionais para controle de sangramentos possíveis 17. Contra-aberturas devem ser aproximadas pelo uso de suturas de tração ou uso de pinças de Allis 18. Oclusão com uso de grampeador não cortante 19. Avaliar a permeabilidade da boca anastomótica com palpação e introdução de tubo nasogástrico no jejuno distal para descompressão. 20. Incisão é fechada RECONSTRUÇÃO EM Y DE ROUX Compreende um procedimento que se inicia com a divisão do estômago em duas porções por intermédio do grampeador, a primeira porção formada (porção inicial) recebe uma conexão direta com o intestino que previamente também já havia sido seccionado, após isso, a segunda porção ou porção terminal formada por estômago, duodeno e intestino delgado é ligado lateralmente ao intestino formando um aspecto de Y. Suas indicações são os casos de derivação da bile da saída gástrica seja por piloroplastia ou resseção gástrica ou pacientes com gastrite biliar persistente e grave, como também pode ser indicada nos casos diagnosticados de gastrite de refluxo pós- operatório ou gastrites graves. Ademais seu objetivo é a derivação total do conteúdo duodenal da saída gástrica. Técnica cirúrgica 1. Preparo adequado da paciente confirmação de gastrite de refluxo ou de gastrite grave 2. Posicionamento em Tredelenburg invertido 3. Tricotomia e preparo da pele com solução asséptica habitual 4. Anestesia geral com intubação endotraqueal 5. Incisão em linha mediana 6. Inspeção e palpação delicada para buscar sinais de ulceração ou estenoso ou sinais de procedimento não fisiológico 7. Mobilização de Kocher 8. Rotação medial do duodeno não deixando que ocorra tensão 9. Oclusão da extremidade do duodeno com fileira de suturas separadas com dupla fileira de grampos 10. Cólon transverso e jejuno são rebatidos superiormente 11. Liberação de aderências 12. Ramo do jejuno é mobilizada e sua extremidade fechada com dupla camada de sutura. 13. Efetua-se uma anastomose retrocólica, 14. Extremidade da alça em Y de Roux é fechada em dois planos o primeiro em sutura continua e o segundo em suturas separadas de colchoeiro de inversão ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 150 15. Realiza-se uma anastomose terminal do estômago com lateral do jejuno, como também, uma anastomose jejunojejunal com pelo menos 40 cm de distância da anastomose gastrojejunal 16. Introdução do tubo de Levin por entre a anastomose até o duodeno para descompressão do coto duodenal 17. Fechamento da incisão de modo habitual Referências [1] BVSMS - Biblioteca Virtual em Saúde. 04/3 – Dia Mundial da Obesidade. Terça, 03 de março de 2020. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/ultimas-noticias/3134- 04-3-dia-mundial-da- obesidade#:~:text=Pela%20defini%C3%A7%C3% A3o%20da%20Organiza%C3%A7%C3%A3o%20 Mundial,24%2C9%20kg%2Fm2. [2] BATIISTELLI, C. Número de cirurgias bariátricas no Brasil aumenta 46,7%. Disponível em:https://www.sbcbm.org.br/numero-de- cirurgias-bariatricas-no-brasil-aumenta- 467/#:~:text=De%20acordo%20com%20a%20mai s,o%20procedimento%20no%20setor%20privado. [3] CALEGARI, E.G. Comparação entre as técnicas de gastroplastia, gastrectomia vertical e by-pass gástrico realizadas em um centro de excelência em cirurgia bariátrica de Santa Catarina. Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade do Sul de Santa Catarina, Tubarão. 2019. [4] ANDREOLLO Nelson Adami, LOPES Luiz Roberto, COELHO Neto João de Souza. Complicações pós-operatórias após gastrectomia total no câncer gástrico: análise de 300 doentes. ABCD, arq. bras. cir. dig. [Internet]. 2011 June [cited 2020 Oct 25] ; 24( 2 ): 126-130. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext& pid=S0102-67202011000200007&lng=en. https://doi.org/10.1590/S0102- 67202011000200007. [5] ROHDE, Luiz; OSVALDT, Alessandro Bersch. Rotinas em Cirurgia Digestiva. 3ª edição – Porto Alegre: Artmed, 2018. [6] NORERO Enrique, VARGAS Catalina, ACHURRA Pablo, CERONI Marco, MEJIA Ricardo, MARTINEZ Cristian et al. Comparação Da Sobrevida E Morbidade Perioperatória Da Gastrectomia Totalmente Laparoscópica Vs. 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Disponível em: http://www.computacao.unitri.edu.br/erac/index.ph p/e-rac/article/view/11 [12] COSTA, D. Eficiência do acompanhamento nutricional no pré e pós-operatório da cirurgia bariátrica. RBONE-Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, v. 7, n. 39, 2013. Disponível em: http://www.rbone.com.br/index.php/rbone/article/d ownload/303/289. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 152 Gastroplastia – Cirurgia bariátrica Miguel Ângelo Capítulo 14 Gastroplastia – Cirurgia bariátrica Introdução A obesidade é uma enfermidade crônica caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura, causado pelo desequilíbrio entre o ganho e gasto calórico. É considerada como um dos problemas de saúde pública mais preocupantes do mundo moderno, em função da incidência e das complicações causadas, principalmente a hipertensão arterial sistêmica (HAS),diabetes melito tipo 2 (DM2), dislipidemias1. Além dessas, são descritos as doenças coronarianas, os acidentes vasculares cerebrais, as doenças degenerativas osteoarticulares, a colelitíase, a doença do refluxo gastroesofágico, insuficiência cardíaca, a insuficiência respiratória, doenças vasculares tromboembólicas e as afecções cutâneas2. A organização mundial de saúde (OMS) classifica a obesidade a partir do índice de massa corpórea (IMC), obtido através do cálculo de divisão do peso sobre altura ao quadrado. Quando o IMC ultrapassa 30Kg/m² considera-se obesidade. Quanto a gravidade, IMC entre 30 e 34,9Kg/m² é classificado como obesidade grau 1, entre 35 e 39,9kg/m² obesidade grau 2 e a última classificação seria obesidade grau 3, em que o IMC está acima de 40kg/m². Lembrando que o diagnóstico de obesidade é mais complexo que somente números. Precisamos avaliar a composição corporal do paciente, através de outros testes, como o de bioimpedância elétrica, que é uma maneira eficiente e moderna, podendo dividir os pesos pelos diversos tecidos do corpo, além da densitometria por emissão de raios x de dupla energia – DEXA para determinação das massas magra, óssea e de gordura corporal. Outros métodos clínicos para avaliar a obesidade são a relação cintura/quadril, perímetro da cintura, diâmetro sagital abdominal. Porém é importante saber, que nosso sistema de saúde trabalha com números, que as vezes pode não ser ideal para indicar uma cirurgia ao paciente, mas para o convenio autorizar necessitas desses dados. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 153 A obesidade está relacionada a diversos fatores como os hábitos alimentares, sedentarismo, genética, medicamentos, entre outros. A partir disso, existem tratamentos para perda de peso, como a adoção de um estilo de vida mais saudável ingerindo menos calorias e aumentando a prática das atividades físicas, alguns medicamentos, e a cirurgia bariátrica. Cirurgia Bariátrica A cirurgia bariátrica é um recurso pensado para o paciente que não apresentou melhora no tratamento clínico, assim proporcionando uma melhora na comorbidades associadas e ainda redução nos índices de mortalidade. A cirurgia deve ser indicada para pacientes com IMC maior que 40Kg/m² sem sucesso no tratamento clínico por mais de 2 anos ou com IMC maior que 35 Kg/m² associado a comorbidades (quadro 1). Quadro 13,4,5,6 Indicações para cirurgia bariátrica – faixa etária de 18 a 65 anos IMC > 40Kg/m² em pacientes que não apresentaram melhora no tratamento clínico por mais de 2 anos, independente da presença de comorbidades. IMC > 35Kg/m² em pacientes que apresentaram uma ou mais comorbidades (listadas no quadro 3 segundo o CFM) IMC > 30Kg/m² em pacientes que apresentam diabetes Fonte: Estruturado pelo autor. Para pacientes com mais de 65 anos deve realizar uma avaliação específica, como a presença de comorbidades, riscos cirúrgicos, benefícios da perda de peso, levando em conta as limitações da idade, como dismotilidade esofágica, osteoporose, sarcopenia, entre outros. Já aqueles que apresentem idade entre 16 e 18 anos tem de respeitar as condições citadas (quadro 1), haver a concordância dos pais ou responsáveis legais e equipe multidisciplinar, além da consolidação das cartilagens das epífises dos punhos. Existem algumas contraindicações para realização da gastroplastia, como transtornos psiquiátricos, paciente com dependência a substâncias, principalmente o álcool (quadro 2). ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 154 Quadro 23,4,5,6 Contraindicações cirurgia bariátrica Causas endócrinas: Síndrome de Cushing Dependência atual de álcool e drogas Doenças psiquiátricas graves sem controle Risco anestésico e cirúrgico inaceitável classificado como ASA-IV Paciente tem dificuldade em entender as orientações, possíveis riscos, e adesão ao novo estilo de vida Risco cardiovascular e pulmonar Fonte: Estruturado pelo autor. Quadro 316 Comorbidades associadas a Obesidade Disfunções metabólicas: Diabetes Dislipidemias Disfunções cardiovasculares: Hipertensão arterial sistêmica Doença arterial coronariana Infarto do miocárdio Angina Insuficiência cardíaca congestiva Fibrilação atrial Cardiomiopatia dilatada Cor pulmonale Disfunções pulmonares: Asma grave não controlada Apneia obstrutiva do sono Síndrome de hipoventilação Disfunções do trato digestivo: Refluxo gastroesofageano com indicação cirúrgica Colecistopatia calculosa ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 155 Pancreatites agudas de repetição Esteatose hepática Veias varicosas e doença hemorroidária Disfunções geniturinárias: Incontinência urinária de esforço na mulher Infertilidade masculina e feminina Disfunção erétil Disfunções ginecológicas: Síndrome dos ovários policísticos Disfunções cerebrais Acidente vascular cerebral Hipertensão intracraniana idiopática (pseudo tumor cerebri) Disfunções osteomusculares: Hérnias discais Osteoartrose Disfunções psicológicas: Estigmatização social Depressão Fonte: Estruturado pelo autor. A seleção dos pacientes requer um mínimo de 5 anos de evolução da obesidade. A avaliação do paciente no pré e pós operatório deverá ser feita por uma equipe multidisciplinar, que conta com nutricionista, psicólogo, psiquiatras, endocrinologista, cardiologista, cirurgiões. Além disso, é de suma importância a avaliação psicológica para seleção dos candidatos, além de uma avaliação clínica e laboratorial². Na avaliação pré-operatória do paciente, é imprescindível a realização de uma anamnese bem detalhada, coletando todas as informações importantes para realização da cirurgia. Além disso, devera sem feita uma avaliação laboratorial (hemograma, Coagulograma, T4, TSH, Fosfatase alcalina, Gama GT, eletrólitos, ureia, creatinina, hemoglobina glicada, transaminases) avalição cardíaca (Ecocardiograma), radiológica (raio-X de tórax, USG de abdome), entre outros (quadro 4). ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 156 Quadro 42,3,6 Exames Pré-operatórios Avaliação laboratorial Hemograma Lipidograma T4 TSH Ureia Creatinina Proteínas totais Transaminases BT e frações Fosfatase alcalina Gama GT Coagulograma Glicemia em jejum Vit. B12 Ferro Ac. Fólico Vit. D Sorologia para Hep. B e C; HIV Avaliação cardíaca Eletrocardiograma Avaliação ultrassonográfica USG de Abdome Avaliação respiratória Raio-X de tórax Espirometria – Prova de função pulmonar Avaliação endoscópica Endoscopia digestiva alta – pesquisa de Helicobacter pylori Fonte: Estruturado pelo autor. C) Metabólica: A cirurgia bariátrica, com avanços dos estudos sobre seus efeitos a curto prazo para diminuição do peso e melhora de condições patológicas associadas, foi evidenciada a participação importante de hormônios, como a Grelina e incretinas, entre elas o GLP-1 e GIP. É devido à ação destes hormônios que a ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 157 glicose oral tem efeito de estímulo maior na secreção de insulina do que a glicose administrada por via intravenosa, assim ficou conhecido o efeito incretínico, pela ação das incretinas na estimulação da secreção de insulina. O peptídeo semelhante ao glucagon (GLP- 1) é produzido pelo gene proglucagon nas células L intestinais sendo distribuídas pela parte terminal do intestino delgado (jejuno e íleo) e colón. Tem papel importante na estimulação da secreçãode insulina, desacelera o esvaziamento gástrico, suprime a liberação de glucagon pelas células alfas do pâncreas, reduz a secreção acida gástrica, melhora a sensibilidade a insulina, reduz o consumo de alimentos e está associado a neogênese, hipertrofia e proliferação de células B pancreáticas. A principal forma de GLP-1 ativo, é degradado rapidamente pela enzima dipeptidil peptidase – IV (DPP-IV) na forma inativa17. O polipeptídio inibitório gástrico (GIP), também conhecido como polipeptídio trópico insulínico, clivado do seu peptídeo precursor, Pro-GIP, é produzido nas células K, na região proximal do intestino delgado (duodeno e jejuno). Também estimula a secreção de insulina, mas diferentemente da GLP-1 não suprime a redução de glucagon e nem reduz consumo alimentar17. A grelina é um hormônio polipeptídico produzido pelo estômago, que desempenha um papel importante no metabolismo energético, participando da regulação de ingestão alimentar, peso corporal e homeostase da glicose, além de ser um hormônio orexígeno e estimular a liberação do hormônio do crescimento (GH). A grelina está relacionada com outros hormônios, como a leptina e a insulina no controle alimentar. A concentração plasmática da grelina mantém- se alta nos períodos de jejum e nos períodos que antecedem as refeições, caindo imediatamente após a alimentação, sugerindo um controle neural18. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 158 6. Técnicas cirúrgicas As técnicas da cirurgia bariátrica são divididas em 3 categorias: Fonte: Estruturado pelo autor. A) Técnicas restritivas: As cirurgias restritivas reduzem o espaço disponível no estomago, onde sua principal característica é a sensação de saciedade, associada as manifestações clínicas da ingesta de alimentos em excesso, resultando em dor, náuseas, vômitos. As técnicas mais comuns são: • Gastroplastia vertical com banda • Banda gástrica ajustável • Balão intragástrico • Gastrectomia vertical ou Manga Gástrica 3.1.1 Balão intragástrico O balão intragástrico é uma técnica restritiva, inserido por via endoscópica. Consiste na redução do espaço disponível para o bolo alimentar no estômago colocando um balão de silicone resistente as secreções gástricas (Figura 1), provocando assim a saciedade precoce, com subsequente menor consumo alimentar2,5. É um procedimento temporário, usado como uma “ponte” para cirurgia, com a finalidade de condicionamento, disciplina, redução do peso e diminuição do risco cirúrgico. Após, o paciente deve ser submetido a intervenção cirúrgica definitiva. Técnicas restritivas - Gastroplastia vertical com banda; - Banda gástrica ajustável; - Balão intragástrico; - Gastrectomia vertical Técnicas mistas - Bypass gástrico em Y de Roux - Técnica de duodenal Switch - Técnica de Scopinaro Técnicas disabsortivas - Derivações jejunoileais; - Derivações jenunocólicas. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 159 Técnica endoscópica5,10: 1. Tratamento é ambulatorial, o paciente após ser selecionado dentre os critérios para realização do procedimento, feito a sedação, inicia-se endoscopia para descartar doenças que contraindique a colocação do balão (hérnia hiatal volumosa, úlcera, gastrite intensa, esofagite intensa, neoplasia, entre outras). 2. Após endoscopia, passa-se a sonda que leva o balão na sua extremidade distal. Passagem guiada pelo endoscópio, para posicionar adequadamente. 3. Depois, o balão é enchido de solução aquosa com azul de metileno, volume varia de paciente, quanto ao tamanho do estomago e peso do paciente. 4. Após preenchimento do balão, promove-se um vácuo por aspiração da seringa e desconecta-se a sonda do balão. 5. Deve-se observar se há vazamento na válvula. Figura 1 – Desenho do estômago com o posicionamento do balão intragástrico. Fonte: Valentina Ruvieri Silveira A importância do enchimento do balão intragástrico com solução aquosa com azul de metileno, é a finalidade de alertar caso ocorra seu rompimento. Assim, após ruptura, a solução é absorvida e eliminada pela urina com a coloração azulada10. Deve ser retirado num período máximo de 6 meses (existem atualmente alguns balões que podem permanecer por mais tempo, até 1 ano, varia de acordo o fabricante). Deverá ser prescrito um inibidor de bomba de prótons por todo esse período de permanecia do balão2. Essa técnica tem como vantagem de ser um tratamento ambulatorial, baixo risco cirúrgico, método pré-operatório diminuindo riscos cirúrgicos de uma técnica definitiva5,10. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 160 Também é importante o conhecimento da técnica de retirada do balão. A presença do balão no estomago, causa aumento da pressão abdominal, nesse contexto irá piorar doenças pré-existentes ou causa-las, a exemplo da doença do refluxo gastresofágico (DRGE). As contraindicações dessa técnica incluem esofagite de refluxo, hérnias de hiato volumosas, neoplasia gástrica, uso de anti- inflamatórios, anticoagulantes, álcool ou drogas, transtornos psiquiátricos, estenose ou divertículo de esôfago, varizes esofágicas e doença inflamatória intestinal2,3. Podem ocorrer algumas complicações devido à presença balão no interior do estomago, como aderências, passagem para duodeno, infecção, úlceras e erosões gástricas, ruptura do balão e obstrução intestinal por migração do balão. Outras desvantagens que essa técnica cursa com reganho de peso após sua retirada, se não for realizada outra técnica definitiva. Só pode permanecer com o balão por um período máximo de 6 meses, pois esse pode apresentar fissuras e consequentemente vazamentos, após esse tempo deve ser trocado2,10. 3.1.2 Banda gástrica ajustável Banda gástrica ficou conhecida nos anos de 1980, por Kuzmak, onde a técnica consistia na colocação de uma banda gástrica não ajustável de silastic ao redor do estômago abaixo da junção esofagogástrica, para criar um reservatório gástrico2. Essa técnica de banda gástrica fixa por laparotomia, foi utilizada no passado e entrou em desuso, devido as complicações e por ser ineficaz. Assim surgiu com o tempo, a técnica de banda gástrica ajustável feita por laparoscopia, onde desenvolveu-se uma banda com porção ajustável, que permite alterar o diâmetro do orifício de saída do reservatório gástrico. A banda gástrica ajustável é uma prótese de silicone, colocada em torno do estomago proximal, com intuito de restringir o tamanho do estomago. A porção interna da banda consiste num balão inflável, e este se comunica com um reservatório implantado no subcutâneo. Este reservatório pode ser acessado por meio de uma punção com agulha, onde pode ser feito a adição ou remoção de uma solução salina (soro fisiológico ou água destilada), para que ocorra a insuflação e desinsuflação do balão, permitindo o controle do diâmetro, assim calibrando a restrição a passagem de alimentos2,5. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 161 A técnica laparoscópica11: 1. Inicia-se pela introdução de uma agulha de veress, após incisão no quadrante superior direito para realização do pneumoperitônio. 2. Retira-se a agulha e introduz um acesso para posteriormente um laparoscópico, onde visualizará a cavidade abdominal 3. Outros acessos são colocados, supraumbilical, nos quadrantes superiores direito e esquerdo e um acesso subcostal para introduzir a banda gástrica 4. Apósexposição da junção esofagogástrica, faz uma dissecção para criar um túnel superiormente a artéria gástrica, para evitar deslizamento do aparelho 5. Retira-se o tubo orogástrico e é colocado um balão de calibração que é insuflado 6. Coloca-se a banda gástrica na porção alta do estomago obliquamente envolvendo de um lado a curvatura menor do estomago e do outro lado o ângulo de His, colocando-a abaixo do balão intragástrico 7. Balão é desinflado, a banda é fixada próximo e depois é retirado o balão. 8. Um reservatório é fixado no subcutâneo para ajuste do diâmetro da banda. 9. O abdome é desinsuflado, retirados os acessos as incisões são suturadas. As vantagens da técnica da banda gástrica ajustável são a característica de ser pouco invasivo, baixa taxa de mortalidade, não há secção nem sutura do estomago, reversível, tempo de internação curto, boa recuperação, além de evitar problemas como anemia, dumping e deficiências vitamínicas e minerais3,4. Já as desvantagens incluem perda de peso inesperado a longo prazo, dependem da cooperação do paciente em seguir a orientações, complicações esofágicas (megaesôfago, esofagite e dismotilidade) e risco de migração da banda para o estomago por perfuração da víscera3,4. Além dessas, acredita-se que os pacientes aprendem a inflar e desinflar a banda quando querem, comprometendo o objetivo da técnica. 3.1.3 Gastrectomia Vertical A gastrectomia vertical (ou em manga, sleeve), consiste numa técnica restritiva onde é realizado uma ressecção que se estende pela curvatura maior desde o ângulo de His no estomago proximal até o antro, de forma a criar um condutor tubular gástrico (figura 2). Essa técnica seria o primeiro passo da cirurgia bariátrica mista2,8. Com uma análise feita a partir de pacientes que realizaram a técnica mista (duodenal Switch) em dois tempos indicada para pacientes extremamente obesos e pela dificuldade da cirurgia, verificou-se que a ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 162 gastrectomia vertical realizada primeiramente seria suficiente em alguns pacientes para obtenção de resultados, sem necessidade de continuar o segundo passo (Bypass biliopancreática) fazendo com quer essa técnica fosse implantada de forma isolada5. Uma característica importante dessa técnica, é uma redução nos níveis séricos de Grelina. Hormônio que é produzido no fundo gástrico, região que é seccionada nessa cirurgia. A Grelina é secretada em jejum, e tem papel de estimular o apetite. A redução da produção desse hormônio resultaria na diminuição da estimulação do apetite5. Técnica laparoscópica9,11: 1. Realização primeiramente do pneumoperitônio através de uma punção com agulha de Veress no hipocôndrio esquerdo. 2. Posicionamentos dos trocárteres: Primeiro (10mm) posicionado a 3cm a esquerda da linha media xifoumbilical, na junção dos dois terços superiores com o terço inferior. Segundo (5mm) abaixo do processo xifoide, utilizado para afastamento do fígado. Terceiro (12mm) colocado na linha hemiclavicular direita alinhado ao primeiro trocarter. Quarto (12mm) na Linha hemiclavicular esquerda abaixo do rebordo costal. O quinto e último (5mm), na linha axilar anterior esquerda próximo ao rebordo costal. 3. É feita a dissecção e liberação das aderências da curvatura maior do estomago e ligadura de vasos, desde 5cm de distância do piloro até o ângulo de His e pilar diafragmático esquerdo. Primeiramente em sentido proximal, até a junção esofagogástrica, e depois em sentido distal até o antro (há 5cm do piloro). 4. Inicia-se o grampeamento onde são realizados disparos sequenciais para seccionar o estomago. Primeiramente distal do antro em direção proximal, no último disparo manter em torno de 0,5 a 0,8 cm de estomago junto a junção esôfagogástrica a fim de o grampeamento do esôfago abdominal. Deve se atentar ao posicionamento do grampeador para construir um tubo gástrico simétrico 5. Após é realizada a sutura continua com fio absorvível 6. A parte do estomago seccionado é retirado 7. Realiza o teste de vazamento da linha do grampeador 8. Trocárteres são retirados, e a pele é suturada. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 163 Figura 2 – Gastrectomia vertical. A) Estomago. B) Região que será seccionada. C) Novo estômago. Fonte: Valentina Ruvieri Silveira As vantagens dessa técnica incluem, a não retirada de porção do duodeno, preservando a absorção de nutrientes; pode ser posteriormente transformada em outra técnica (duodenal switch) em caso de insucesso da mesma. Há preservação do piloro, menor risco de dumping; manutenção de acesso endoscópico ao tubo digestivo; Menor tempo de cirurgia, técnica mais simples, com menor risco pós-cirúrgico3,8. Entre as desvantagens estão o fato de ser irreversível; o aparecimento de doença do refluxo gastroesofágica, ou seu agravamento; estenose do tubo gástrico; fistulas gástricas (junto ao ângulo de Hiss)3,8. 3.1.4 Gastroplastia vertical com banda Técnica descrita em 1982 por Mason, é um procedimento puramente restritivo, que limita a quantidade de alimentos que o paciente pode comer, sem alterar o processo digestivo. Nessa cirurgia é criado um reservatório gástrico (15 a 20ml) localizado na região da cárdia, em que a saída é regulada por uma banda de prolipropileno, com o objetivo de evitar o alargamento e dilatação da cavidade2,3. Técnica hoje que entrou em desuso. As vantagens principais, são o fato de ser uma técnica simples, coma baixas taxas de complicações. Reduz em até 30% do peso inicial nos primeiros anos. Atraso no esvaziamento gástrico, consequentemente o paciente tem uma sensação de plenitude gástrica. Entre as desvantagens estão a redução em até 20% da perda de peso em 10 anos, devido a mudança do hábito alimentar pelos pacientes, optando preferencialmente por ingesta liquida hipercalórica que apresentam passagem rápida pelo estomago. Menor perda de peso comparada as outras técnicas. Além do Risco de ruptura da banda e da fila de grampos. B) Técnicas disabsortivas Foram as primeiras técnicas descritas na história da cirurgia bariátrica, como tratamento de obesidade. Os primeiros cirurgiões a praticarem esse método foram Kremen, ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 164 Henriksson e Varco, na década de 1950. A primeira publicação foi em 1954, por Kremen, Linner e Nelson. Esse método consiste na criação de uma derivação intestinal que proporciona importante redução da área absortiva, dentre elas estão as derivações jejunoileais e jenunocólicas. As consequências, que fizeram entra em desuso atualmente, são a carência importante de vitaminas, sais minerais, levando a longo prazo severas sequelas metabólicas e nutricionais, além de várias outras complicações. 3.3 Técnicas mistas Concite na associação da restrição e disabsorção de nutrientes em maior ou menor grau pelo intestino, dependo da técnica empregada e da extensão do intestino delgado excluído do trânsito alimentar, levando a perda de peso significativa para o tratamento da obesidade mórbida³. Como ocorre a associação das duas, existem a técnica com maior predomínio restritivo (bypass gástrico em Y de Roux) e com maior teor disabsortivo (derivação biliopancreática com gastrectomia distal – Cirurgia de Scopinaro e derivação biliopancreática com gastrectomia vertical e preservação do piloro – Duodenal Switch. As técnicas que serão descritas: • Bypass gástrico em Y de Roux – Cirurgia de Fobi-Capella • Derivação biliopancreática – técnica de duodenal Switch• Derivação biliopancreática – Técnica de Scopinaro 3.3.1 Bypass gástrico em Y de Roux – Cirurgia de Fobi-Capella Conhecida como a técnica mais realizada no mundo, compreendendo cerca de 75% das gastroplastias realizadas no brasil. Pode ser realizada por 2 métodos, convencional e laparoscópica, sendo a última mais vantajosa, com menor índice de hérnia incisional comparada a outra2,7. Técnica consiste na construção de um pequeno reservatório gástrico, com grampos, onde é anastomosado com jejuno, que foi seccionado a uma distância do ângulo de Treitz. O restante do estomago (fundo, corpo e parte pilórica), mais o duodeno e parte proximal do jejuno não são removidos, e por fim é feita um enteroenteroanastomose há 120 a 150cm do reservatório gástrico2,5 (Figura 3). O método que será descrito, é a laparoscópica. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 165 Técnica laparoscópica11,12,13: 1. Depois de todo preparo pré- operatório, paciente é transferido para centro cirúrgico, e colocado posição decúbito dorsal, e fixado cuidadosamente a mesa cirúrgica. A operação é realizada sobre sedação e intubação orotraqueal 2. Inicia-se por meio da realização do pneumoperitônio, pela inserção de uma agulha de Veress, insuflando até 15mmHg. Após são colocados os trocárteres, 5 no total, que variam de 5mm, 10mm e 12mm 3. Paciente é colocado na posição invertida de Trendelenburg, o fígado é retraído com afastador e é realizada dissecção da junção esofagogástrica, posteriormente é feita da curvatura menor. 4. Confecção da bolsa gástrica, após uma gastrectomia distal a junção esofagogástrica (cerca de 5cm abaixo), assim um grampeador linear com carga azul é utilizado para criação de uma câmara gástrica de 30ml. A porção restante do estomago está separa dessa bolsa, mas não é removida. 5. Após ser feita a confecção da bolsa gástrica, deve ser localizada a junção duodenojenunal (ângulo de Treitz), onde o jejuno é seccionado há 30 a 50cm desse ângulo. Uma pequena dissecção do mesentério do intestino delgado executada a fim de proporcionar um maior comprimento da alça. 6. Uma gastrojenunoanastomose é feita com grampeador. 7. Esse ramo anastomosado é medido sua extensão em 120cm a partir da anastomose gastrojenunal, para que se tome a referência do local do próximo passo 8. Uma enteroenteroanastomose laterolateral é executada nesse ponto, com a outra alça seccionada anteriormente, compreendendo parte do estomago (fundo, corpo, parte pilórica) duodeno e parte do jejuno). 9. A integridade da anastomose é testada com azul de metileno. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 166 Figura 3 – Bypass gástrico em Y de Roux. Fonte: Valentina Ruvieri Silveira Técnica mais utilizada do mundo devido ao fato da boa resposta clínica, onde o paciente perde de 70 a 80% do seu peso inicial e de forma duradoura. Proporciona ao paciente uma melhor nas patologias associadas. As principais complicações dessa técnica são fistulas, hérnias internas e estenose, carência nutricionais.2,3,7. Paciente também poderá desenvolver a síndrome de dumping estimada em 50% dos pacientes submetidos a essa técnica. Patogênese está relacionada a ablação ou destruição do piloro. A crise aparece enquanto ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 167 o paciente se alimenta ou dentre os 30 primeiros minutos. Inicia-se com sensação de plenitude, acompanhada de calor e transpiração. Outros sintomas incluem astenia, mal-estar, hipotensão, náuseas, dor abdominal, diarreia, vômitos, vertigem, desmaio14. 3.3.2 Derivação biliopancreática com gastrectomia distal e preservação pilórica – técnica de duodenal Switch A derivação biliopancreática com gastrectomia distal e preservação pilórica, é uma derivação da técnica de Scopinaro, primeiramente descrita DeMeester para tratamento de do refluxo duodenogástrico, e posteriormente adaptado por Douglas Hess em 198615. Difere da técnica de Scopinaro, por executar uma gastrectomia vertical com preservação do piloro, após é feita uma anastomose duodenoileal próximo a válvula ileocecal, além de uma anastomose ileoileal, próximo também da mesma válvula, formando assim uma alça como comum que irá desembocar no ceco5 (figura 4.A). Esse método cirúrgico tem como vantagens a restrição alimentar pela diminuição do volume gástrico e manutenção do piloro (menor risco de desenvolver dumping), Inibição da grelina (importante hormônio que quando aumentado, desperta a sensação de fome), grande eficácia em relação a perda de peso e reservatório gástrico acessível a métodos de investigação endoscópica. As principais desvantagens então por conta das complicações nutricionais e metabólicas pela diminuição do poder de absorção de alguns nutrientes, como vitamina B12, cálcio e ferro. Além aumento de quadro de diarreias e flatulência fétida3,15. Técnica Laparoscópica15,5: 1. Primeiramente realizada uma gastrectomia vertical, técnica descrita anteriormente no tópico de técnicas restritivas. 2. Feita a gastrectomia vertical, inicia-se a liberação da primeira porção do duodeno até o nível da artéria gastroduodenal; 3. Depois é realizada a secção do duodeno com grampeador linear; 4. O intestino deve ser medido, para o tamanho correto das alças. A operação consiste em 3 alças (alça alimentar, biliopancreática e a junção das duas formando a alça comum). A medição deve ser a partir do Ceco, seguindo cranialmente, e a alça deve estar totalmente esticada. Define-se o comprimento da alça comum (cerca de 50 a 100cm) onde será realizada a ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 168 enteroanastomose com uma marcação (ponto ou grampo), e segue medindo nesse sentindo cranial, para definir o comprimento da alça alimentar (que deverá medir cerca de 150 a 200cm, ficando a uma distância média de 250 cm da válvula ileocecal); 5. Definido o comprimento da alça alimentar, realiza-se uma secção ileal utilizando uma carga de grampos 2,5mm (carga branca). Forma-se duas extremidades do íleo, uma distal que será anastomosada no duodeno, e uma extremidade próxima que também será anastomosada, só que essa no íleo; 6. O meso-íleo é seccionado até sua base permitindo maior mobilização da extremidade distal; 7. Depois é feita uma duodenoileoanastomose com a extremidade distal da alça intestinal ileal seccionada. A anastomose é feita com uso de grampeadores. Lembrando da importância do fechamento das aberturas mesentéricas criadas. Sutura deve ser feita com fios inabsorvíveis. 8. Uma anastomose ileoileal é realizada há 50 a 100cm da válvula ileocecal com a extremidade proximal do íleo seccionado, formando a alça biliopancreática. 9. Por fim, poderá ser testado a segurança das anastomoses com uma solução azul de metileno. 1.3.3 Derivação biliopancreática com gastrectomia horizontal – Técnica de Scopinaro A derivação biliopancreática com gastrectomia horizontal, foi descrita na literatura pela primeira vez por Nicola Scopinaro em 1976, que ficou conhecida no mundo pelo seu nome. É um procedimento misto, com maior teor absortivo. Consiste numa gastrectomia horizontal (distal), deixando um reservatório gástrico proximal com cerca de 200mL. Após o intestino delgado é seccionado 250cm da válvula ileocecal. Então realiza um gastroenteroanastomose e uma anastomose ileoileal a 50 cm da mesma válvula. Forma-se então uma alça alimentar (200cm de comprimento), alça comum (50cm de comprimento) e por fim uma alçabiliopancreática (todo restante do intestino delgado) (figura 4.B). A perda de peso dessa técnica chega a 80% do peso inicial, apresenta manutenção da perda a longo prazo, também ocorre uma menor restrição da ingesta alimentar. Outro benéfico da técnica é a resolução de doenças relacionadas a obesidade (Diabetes mellitus ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 169 tipo 2, Hipercolesterolemia). No entanto, ela a derivação biliopancreática com gastrectomia horizontal é a mais complexa das técnicas e induz maior grau de disabsorção. Apresenta maior risco de desnutrição proteica, anemia ferropriva, e deficiências de cálcio, zinco e ácidos graxos essenciais e vitaminas lipossolúveis. O excesso de alimento gera uma porção não absorvida é eliminado nas fezes e a ingestão de gorduras gera esteatorréia. Além disso, apresentam flatulências com odor pútrido, pode ocorrer infecções na alça biliopancreática, cólicas, desenvolver a síndrome de dumping, com diarreia e náuseas pós prandiais2,4,5,15. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 170 Figura 4 – Comparação das técnicas biliopancreática. A) Técnica duodenal Switch – Consiste numa gastrectomia vertical + Anastomose duodenoileal + Anastomose ileoileal B) Técnica de Scopinaro – Gastrectomia horizontal + Gastroenteroanastomose + Anastomose ileoileal. Fonte: Valentina Ruvieri Silveira 2. Pós-cirúrgico Após a realização da cirurgia bariátrica, independente da técnica escolhida, deve-se ser feito um bom acompanhamento, com consultas periódicas, assistência nutricional e exames de rotina. A dieta pós-operatório, é de grande valor, e os pacientes deve estar ciente da necessidade de seguir rigorosamente as recomendações nutricionais. Deve-se iniciar com uma dieta liquida restrita (chá, suco, água de coco) pelos primeiros sete dias, passando pra dieta liquida completa (liquidificar a sopa), depois liquida pastosa (sopa com pedaços, caldo de feijão), posteriormente pastosa (purês, frutas amassadas), branda e por último geral após 60 dias. Enfatizar a necessidade da prática de exercícios físicos aumenta o emagrecimento e mantem o peso perdido2. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 171 Exames de rotina deverão ser realizados para acompanhar e evolução do paciente, entre eles estão um hemograma, glicemia de jejum, TGO, TGO, perfil lipídico, proteínas totais, Fe, ferritina, transferrina, ácido fólico, vitamina B12, PTH, cálcio sérico, dosagem de fosforo, vitamina D, zinco, magnésio. Podem ser feiras também endoscopia digestiva alta, USG de abdome total e densitometria óssea. A necessidade de determinados exames e a frequência irá depender da cirurgia realizada pelo paciente4. Alguns pacientes são submetidos a realizarem cirurgias reparadoras, pela questão da estética associada a pesa de peso intensa. Alguns exemplos são abdominoplastias, mamoplastia, dermolipectomia braquial e crural2. Outra necessidade, será a suplementação de polivitamínicos, dependo da cirurgia feita. Os principais geralmente usados são ferro, ácido fólico, vitamina (A, B12, D e E), e cálcio5. 4.1 Vantagens e desvantagens das técnicas de cirurgia bariátrica Quadro1,2,3,5 Técnicas cirurgia bariátrica Vantagens Desvantagens Restritivas Balão intragástrico - Tratamento ambulatorial; - Técnica simples, via endoscópica; - Baixo risco cirúrgico; - Método pré-operatório diminuindo riscos cirúrgicos de uma técnica definitiva. - Complicações (aderências, passagem para duodeno, infecção, ulceras e erosões gástricas, ruptura do balão e obstrução intestinal por migração do balão) - Cursa com reganho de peso após sua retirada, se não for realizada outra técnica definitiva. - Só pode permanecer por um período médio de 6 meses; - Pode apresentar fissuras e consequentemente vazamentos. Gastrectomia vertical - Menor tempo de cirurgia, técnica mais - Método irreversível; ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 172 simples, com menor risco pós-cirúrgico. - Não retirada de porção do duodeno, preservando a absorção de nutrientes; - Pode ser posteriormente transformada em outra técnica (duodenal switch) em caso de insucesso da mesma; - Há preservação do piloro, menor risco de dumping; Manutenção de acesso endoscópico ao tubo digestivo; - O aparecimento de doença do refluxo gastroesofágica, ou seu agravamento; - Estenose do tubo gástrico; fistulas gástricas (junto ao ângulo de Hiss); Gastroplastia vertical com banda - Técnica simples, coma baixas taxas de complicações; - Reduz em até 30% do peso inicial nos primeiros anos; - Atraso no esvaziamento gástrico (sensação de plenitude gástrica) - Redução em até 20% da perda de peso em 10 anos; - Mudança do hábito alimentar pelos pacientes (aumentando ingesta liquida hipercalórica) - Menor perda de peso comparada as outras técnicas. - Além do Risco de ruptura da banda e da fila de grampos. Banda gástrica ajustável - Modalidade pouco invasiva; - Baixa taxa de mortalidade; - Baixo tempo de internação; - Não há secção nem sutura do estomago; - Reversível; - Boa recuperação, - Evita problemas como anemia, dumping e deficiências vitamínicas e minerais. - Perda de peso inesperado a longo prazo; - Pacientes aprendem a inflar e desinflar a banda quando querem. - Complicações esofágicas (megaesôfago, esofagite e dismotilidade) - Risco de migração ou deslocamento da banda para o estomago em até 10% doas casos. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 173 Mistas Bypass gástrico em Y de Roux – Cirurgia de Fobi-Capella - Boa resposta clínica, paciente perde de 70 a 80% do seu peso inicial e de forma duradoura. - Proporciona ao paciente uma melhora nas patologias associadas. - Redução de alguns hormônios (grelina, GLP1 e PYY) - Principais complicações (fistulas, hérnias internas e estenose, carência nutricionais – anemia por deficiência de ferro e vitaminas do complexo B) - Reservatório gástrico inacessível aos métodos de investigação endoscópica. - Síndrome de dumping estimada em 50% dos pacientes submetidos a essa técnica. Derivação biliopancreática – técnica de duodenal Switch - Restrição alimentar pela diminuição do volume gástrico - Manutenção do piloro (menor risco de desenvolver dumping); - Inibição da grelina (importante hormônio que quando aumentado, desperta a sensação de fome); e alteração de incretinas (GLP1 e PYY) - Grande eficácia em relação a perda de peso; - Reservatório gástrico acessível a métodos de investigação endoscópica. - Resolução de doenças relacionadas a obesidade (Diabetes mellitus tipo 2, Hipercolesterolemia). - Complicações nutricionais e metabólicas pela diminuição do poder de absorção de alguns nutrientes, como vitamina B12, cálcio e ferro. - Aumento de quadro de diarreias e flatulência fétida. Derivação biliopancreática – Técnica de Scopinaro - Perda de 80% do peso inicial, - Resolução de doenças relacionadas a obesidade (Diabetes mellitus tipo 2, Hipercolesterolemia). - Redução de grelina, além de alterar incretinas (GLP1 e PYY) - Maior risco de desnutrição proteica, anemia ferropriva, e deficiências de cálcio, zinco e ácidos graxos essenciais e vitaminas lipossolúveis. - Quadros de esteatorréia Flatulências com odor pútrido; ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 174 - Infecções na alça biliopancreática; - Cólicas frequentes;- Desenvolver a síndrome de dumping, com diarreia e náuseas pós prandiais Fonte: Estruturado pelo autor. REFERÊNCIAS: 1. FANDIÑO, Julia et al. Cirurgia Bariátrica: aspectos clínico-cirúrgicos e psiquiátricos. R. Psiquiatr. RS, 26'(1): 47-51, jan./abr. 2004. 2. CIRURGIA DO APARELHO DIGESTIVO. São Paulo: SJT Saúde, 2015. 180 (SJT preparatório para residência médica). 3. FILHO HFC, NETO HFC. O Momento atual da cirurgia bariátrica. PROACI- SEMCAD, 2018. 4. ABESO. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. Diretrizes brasileiras de obesidade. 4.ed. - São Paulo, SP, 2016. 5. COELHO, Julio Cezar Uili. Aparelho Digestivo: Clínica e Cirurgia. 4ª edição, Editora Atheneu, São Paulo: 2012. 6. BRASIL. Ministério da Saúde. Dicas em saúde: Obesidade. Disponível em: 7. SBCBM. Sociedade Brasileira de cirurgia bariátrica e metabólica. Cirurgia bariátrica: técnicas cirúrgicas. Disponível em: 8. SILVA, Soraia et al. Gastrectomia Vertical Calibrada no tratamento da obesidade mórbida: Resultados a longo prazo, comorbidades e qualidade de vida. Rev. Port. Cir., Lisboa, n. 40, p. 11-20, mar. 2017. 9. RAMOS, Almino Cardoso et al. ASPECTOS TÉCNICOS DA GASTRECTOMIA VERTICAL LAPAROSCÓPICA. ABCD, arq. bras. cir. dig., São Paulo, v. 28, supl. 1, p. 65-68, 2015. 10. GANC AJ, GANC RL. Balão intra- gástrico: Ponto. Einstein. 2006; Supl 1: S130- S135. 11. ZOLLINGER, R. M.; ELLISON, E. C. Atlas de cirurgia. 9. ed. São Paulo: Guanabara Koogan, 2013. 12. COHEN, Ricardo Vitor et al. Derivação Gástrica em Y de Roux por Via Laparoscópica para o Tratamento da Obesidade Mórbida. Aspectos Técnicos e Resultados. Rev. bras. vídeo-cir, jan./Mar. 2003. 13. PALERMO M, SERRA E. Bypass gástrico laparoscópico simplificado com anastomose mecânica gastrojejunal linear: aspectos técnicos. ABCD Arq Bras Cir Dig 2016;29(Supl.1):91-94. 14. LOSS et al. Avaliação da síndrome de dumping em pacientes obesos mórbidos submetidos à operação de bypass gástrico https://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/215_obesidade.html https://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/215_obesidade.html https://www.sbcbm.org.br/tecnicas-cirurgicas-bariatrica https://www.sbcbm.org.br/tecnicas-cirurgicas-bariatrica ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 175 com reconstrução em Y de Roux. Rev. Col. Bras. Cir, 2009. 15. Libanori HT. Derivação biliopancreática com gastrectomia longitudinal e preservação pilórica (“Duodenal Switch”). Einstein, Supl 1: S91-S96, 2006. 16. CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA (CFM - Brasil). Resoluções Normativas. Brasília, DF, 2015. 17. OSUGUE FSN. Avaliação do efeito incretínico em indivíduos saudáveis, obesos não diabéticos e diabéticos tipo 2 pelo clamp isoglicêmico antes e após intervenção cirúrgica (derivação biliopancreática). Campinas, SP: [s.n.], 2014. 18. JÚNIOR, Adelino Vilande et al. A grelina e sua contribuição para obesidade e diabetes mellitus tipo 2. Revista Conhecimento Online. Ano 4, Vol. 2, 2012. Disponível em: https://periodicos.feevale.br/seer/index.php/revistaconhecimentoonline https://periodicos.feevale.br/seer/index.php/revistaconhecimentoonline ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 176 COLECTOMIAS E COLOSTOMIAS Rafaela Rabello Macedo de Sousa Capítulo 15 Colectomias e colostomias O intestino grosso compreende a última parcela do canal alimentar. Em geral, à ele compete às funções de concluir a absorção, produzir determinadas vitaminas, formar fezes e expulsar as fezes do organismo.3 Para compreender as técnicas cirúrgicas que concerne esse aparelho, é preciso entender o básico de sua anatomofisiologia. ANATOMIA O intestino grosso estruturalmente é representado pelas quatro regiões: ceco, colon, reto e o canal anal; possui aproximadamente 1,5 m de comprimento e 6,5 de diâmetro, se estende do íleo até o ânus. O ceco com o apêndice vermiforme está localizado na fossa ilíaca direita; o colon ascendente encontra-se no flanco direito; o ângulo hepático no hipocôndrio direito, o colo transverso no epigástrio e às vezes no meso gástrico; já o ângulo esplênico está no hipocôndrio esquerdo, o colon descendente no flanco esquerdo, o colon sigmóide na fossa ilíaca esquerda e, por fim, o reto, em seu segmento pélvico ocupando o hipogástrio e no segmento perineal, situa-se no períneo posterior. 1,3 É importante, também, abordar a divisão dos cólons do ponto de vista anatomocirúrgico: o colon direito é representado pelo ceco, ascendente, ângulo hepático e a metade proximal do transverso; o colon esquerdo é composto pela metade proximal do transverso, ângulo esplênico e descendente; colon sigmóide e reto. 1 Histologicamente, assim como os demais segmentos do trato gastrointestinal, a estrutura da parede é constituída de serosa, muscular, submucosa e mucosa. Contudo, esse aparelho possui algumas particularidades, sendo essas: sob a túnica serosa há um acúmulo de gordura que forma os apêndices epiplóicos (mais encontrados no colo esquerdo e no sigmóide), na base dessa estrutura são encontrados vasos retos, de modo que a ressecção de vários apêndices pode comprometer a irrigação arterial da parede cólica. Além disso, as partes longitudinais dos músculos ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 177 longitudinais reúnem suas fibras em três fitas chamadas de tênias do colon, essas possuem grande importância cirúrgica, pois no ponto de confluência serve de referência para o cirurgião realizar a apendicectomia. 1,2,3. A irrigação arterial do intestino grosso é escassa se comparada a outros órgãos do trato gastrointestinal, isso ajuda a elucidar o motivo pelos resultados menos favoráveis das suturas e anastomoses colorretais (como fístulas de sutura). 1 A vascularização arterial se resume a três mananciais: • Artéria Mesentérica Superior: há variações anatômicas entre os indivíduos, podendo existir duas, três ou até mesmo quatro artérias cólicas direitas, a mais constante é a ileoceco-apendicocólica. Elas irrigam o ceco, apêndice, colo ascendente, e parte do transverso, oriundos do intestino médio primitivo ou alça umbilical; 1 • Artéria Mesentérica Inferior: tem sua origem abaixo do ângulo dueodeno-jejunal, faz a irrigação do segmento distal do colo transverso, descendente, sigmóide e segmento proximal do reto, derivados do intestino primitivo terminal; 1 • Artérias dependentes da hipogástrica – retais médias e inferiores que irrigam o reto perineal, o canal anal e o ânus1 Entender a vascularização arterial tem importância cirúrgica, tendo em vista que a partir desse conhecimento é possível compreender que a ligadura de um, dois e até três troncos de artérias cólicas pode ser feito desde que a irrigação dos correspondentes segmentos cólico seja garantida pela arcada marginal, via de regra, elas são funcionalmente suficientes. Também é necessário ressaltar que há comunicação entre o território do cólon direito e o território do intestino delgado, que se faz através da artéria ileocecocólica e a artéria mesentérica superior, por isso a colectomia direita deve abranger a retirada dos últimos centímetros do intestino delgado. Outras anastomoses que requerem atenção são entre as artérias ielocólica e a cólica direita, bem como última artéria sigmóidea e a terminação retal da mesentérica inferior. 1 Ademais a irrigação venosa da área cecocólica é feita pelo sistema porta, já a área do reto divide-sede profissionais capacitados para conseguirem atender as várias necessidades do paciente diante da alta densidade tecnológica e às diversas situações que lhe “conferem uma dinâmica peculiar de assistência em saúde”1. A estrutura física dos estabelecimentos de saúde é regulamentada por normas que visam o perfeito desenvolvimento das atividades e a segurança de funcionários e pacientes2. De acordo com Oliveira Júnior (p. 12, 2017), observa-se que o CC é composto por: “Setor de admissão, sala de espera da família, vestiários de barreiras para médicos e funcionários, sala de conforto, área de recepção do paciente, sala de cirurgia, arsenal, farmácia, sala para guarda de aparelhos e equipamentos das diversas especialidades, rouparia, sala de lanche, sala de depósito de cilindros de gases, sala para esterilização química, sala da higienização com material de limpeza expurgo, sala para o lixo, sala de anatomia patológica e sala para limpeza de material”3. Dessa maneira, observa-se que é uma área que necessita de cuidados especiais, necessitando da prática de controle de infecções, assepsia, desinfecção e esterilização, cuja finalidade é reduzir o risco de infecção para os pacientes que estão sendo submetidos a algum procedimento. Diante disso, precisa-se que o CC seja composto por ambientes diferenciados, sendo eles as áreas ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 14 irrestritas, tendo como exemplo o vestiário e a secretaria; as áreas semi-restritas, local que se utiliza touca, roupa privativa e propé, por exemplo a farmácia e os corredores e as áreas restritas, locais estéreis, sendo as salas cirúrgicas, cujos materiais estéreis estão expostos, onde o profissional de saúde precisa usar propés, uniforme privativo, touca, máscara, avental, luvas e protetor ocular4. É válido ressaltar que o uso dos equipamentos de proteção individual (EPIs) varia de acordo com o trabalho do profissional e sua função no procedimento em questão, tendo como prioridade o cumprimento das normas para evitar as infecções hospitalares. Com isso, as áreas restritas recebem cuidados especiais de limpeza e desinfecção, sendo realizado antes de qualquer procedimento cirúrgico pela manhã, conhecido como limpeza pré-operatória; ao redor do campo operatório durante a cirurgia, que é a limpeza operatória; após o término de cada cirurgia, limpeza concorrente, e depois da última cirurgia do dia, limpeza terminal4. Contudo, os outros ambientes do Centro Cirúrgico como a farmácia, a central de materiais estéreis e o vestiário merecem atenção, uma vez que são frequentados regularmente por todos os colaboradores do setor (enfermeiros, médicos, farmacêuticos, auxiliares de farmácia, auxiliares de limpeza, dentre outros), então além de estarem expostos aos diferentes micro-organismos, podem os transpor para a sala de cirurgia caso as técnicas assépticas não sejam realizadas adequadamente4. Técnicas de assepsia: A priori, sabe-se que a assepsia é a ausência de micro-organismos e a antissepsia é o conjunto de procedimentos destinados a diminuir o número desses micro-organismos, utilizando antissépticos que se aplicam sobre a pele lesada para eliminar os bio-organismos no local, além de usar os desinfetantes, os quais se aplicam sobre a pele sadia ou um objeto, de forma preventiva, tendo como finalidade a prevenção de infecção. Ambos os procedimentos podem inibir o crescimento ou matar os micro-organismos (vírus, bactérias ou fungos)5. Com o desenvolvimento e avanço da medicina, houve a necessidade de realização de uma assepsia segura e eficaz, onde, por meio do advento dos anestésicos, ampliou o processo cirúrgico. O químico francês Pasteur descobriu a ação dos micro-organismos e a necessidade da assepsia para cuidar dos pacientes, com a intenção de evitar infecções e contaminações6. Desse modo, os profissionais de saúde que trabalham em um centro cirúrgico precisam respeitar as regras de circulação determinadas, fazendo uso de calça, jaleco cirúrgico, propés, máscara e gorro, “não sendo permitido nem mesmo a ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 15 utilização de roupas íntimas que fiquem expostas sob a indumentária cirúrgica”7. Estudos mostram que a higienização das mãos é um dos componentes de técnicas para controle de infecção mais importantes a ser empregada antes da realização de procedimentos cirúrgicos, sendo essencial na prevenção de complicações infecciosas5. As técnicas assépticas estão voltadas para a eliminação de todos os agentes contaminadores da cirurgia, onde a lavagem das mãos deve ser feita sempre em local adequado, com escovas específicas (possuindo material degermante). De preferência o lavatório deve estar em frente a um espelho para que os profissionais que irão adentrar à sala de cirurgia façam a revisão da vestimenta, como gorro, máscara etc. Antes de realizar a escovação, o ideal é que o profissional faça a lavagem simples das mãos, seguindo o passo a passo7. Para realizar uma escovação efetiva, deve-se atentar para que o início seja na parte distal (dedos), passando para o dorso e palma das mãos, punhos e, depois, antebraços e cotovelos. O ideal é que nenhuma parte das mãos e do antebraço sejam esquecidas, lembrando das zonas interdigitais e unhas, pois muitas vezes são esquecidas e mal lavadas. De acordo com a literatura, primeiramente faz a lavagem das duas mãos, indo para os punhos e só depois escovar os antebraços. “A escova que entra em contato com os punhos não volta para as mãos, e quando entra em contato com antebraços não volta a tocar as regiões mais distais (punhos e mãos)”. Todo esse processo de escovação deve durar de três a cinco minutos. Observa- se que o sentido da passagem das cerdas (“vai e volta” ou somente “vai”) não interfere no processo, mas não pode ter contato com áreas distais depois que realizar a escovação das áreas proximais7. Ao realizar o enxágue é ideal que ele seja no sentido distal para o proximal, a fim de fazer com que a água escorra das mãos para os cotovelos, tomando cuidado para não deixar contaminar as mãos e antebraços durante a realização desse procedimento, uma vez que a água que toca as partes distais do antebraço entre em contato com a mão. É proibido sacudir ou balançar mãos e antebraços. Ademais, os antebraços devem ser mantidos fletidos, com as mãos para cima até realizar toda a vestimenta adequada7. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 16 Figura 1 - Escovação cirúrgica realizada após a lavagem simples das mãos Fonte: Própria autora, 2020. 1. Abertura da embalagem de escova com solução antisséptica; 2 e 3. Molhar pontas dos dedos e antebraço; 4. Lavagem das unhas com as cerdas da escova ou com o limpador de unhas sob água corrente; 5 a 7. Lavagem de espaços interdigitais por 3 a 5 minutos, mantendo as mãos acima dos cotovelos; 8 e 9. Lavagem da palma da mão. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 17 Figura 2 – Continuação da escovação cirúrgica Fonte: Própria autora, 2020. 10. Lavagem do dorso da mão; 11. Lavagem da face externa do antebraço; 12. Lavagem da face interna do antebraço; 13. Enxágue das mãos em água corrente, retirando todo resíduo do produto; 14 e 15. Enxágue em água corrente escorrendo em sentido do cotovelo. Após, fechar a torneira com o cotovelo, joelhos ou pés, se a torneira não possuir fotosensor; 16. Escovação finalizada. Ao realizar a secagem das mãos é preciso que seja feita dentroentre o sistema porta e o sistema cava inferior. 1,2 Em relação ao sistema linfático, é de relevância entender a anatomia, principalmente, para avaliar os casos de neoplasia, tendo em vista que essas sofrem disseminação via linfática. É necessário compreender a inervação: os cólons direito e transverso são inervados pelos plexos celíaco e mesentérico superior e nervo vago direito. Já o cólon esquerdo é inervado pelos plexos celíaco, nervo vago, plexo mesentérico inferior e nervo pré-aórtico. 1,2 ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 178 Figura: Fonte: Imagem esquematizada pela autora. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 179 FISIOLOGIA: O conteúdo proveniente da digestão que chega ao intestino grosso ainda é rico em água, eletrólitos e nutrientes, sendo assim, esse aparelho tem a função de resgate evitando perdas desnecessárias dependendo de sua flora bacteriana, para tal ação. O cólon direito tem discreta atividade de absorção, enquanto o cólon esquerdo é via de passagem da matéria fecal, o sigmóide atua como reservatório e auxilia na expulsão. 1,2 A motilidade intestinal dos cólons é diferente daquela estudada no intestino delgado, o transporte do conteúdo ocorre da direita para a esquerda periodicamente e com movimentos lentos, não há movimentos propulsivos permanentes. O fluxo colônico é controlado pelo sistema nervoso autônomo, as fibras parassimpáticas aumentam a motilidade cólica, enquanto as simpáticas causam uma depressão. 1,2 Algumas substâncias que são absorvidas nesse canal são íons de sódio e cloro, ácidos biliares, ácidos graxos de cadeia curta, nitrogênio, entre outros. Além disso, é necessário ressaltar a importância da flora colônica. Ela pode ser fixa, quando são habitualmente comensais não causando danos ao organismo ou pode ser móvel, representada por germes ingeridos, seja por suplementação de probióticos ou com alimentos ou das vias aéreas, sendo estes possivelmente patogênicos. Aliás, é significativo enfatizar que a medida que se aproxima da válvula ileocecal, a flora se torna mais abundante e mais patogênica. Os lugares com maior concentração bacteriana são o íleo terminal e o ceco. 1,2,3 Por fim, também é imprescindível, destacar o papel da válvula ileocecal (esfíncter ileocecal), sua função é de regular o trânsito intestinal através do íleo, impedindo a passagem do conteúdo ileal para o ceco, quando ainda não é o momento adequado ou de forma exageradamente rápida (não fazendo absorção de vitaminas e outros nutrientes que são tão importantes nesse local). A válvula ileocecal também é importante para que não tenha refluxo de conteúdo colônico para o íleo terminal. 1,2,3 PREPARO PRÉ-OPERATÓRIO: Como já citado anteriormente, sabe-se que o cólon abriga uma flora de bactérias com alto potencial patogênico, entre elas as espécies Pseudomonas, Enterococcus, Proteus, Klebsiella e Streptococcus também estão presentes em grande número. Sendo assim, é plausível entender que a ao abrir o colon para procedimentos cirúrgicos há exposição do paciente a agentes que podem causar uma peritonite grave, infecção da parede abdominal, levando a um ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 180 comprometimento da cicatrização das feridas e da anastomose. 1,3 Para evitar esse tipo de quadro, alguns processos foram postulados para a maior segurança do campo cirúrgico a ser exposto. São eles: em primeiro a limpeza mecânica do intestino grosso (veja melhor sobre as reais indicações no capítulo de nutrição em cirurgia e projeto ACERTO), por meio da utilização de laxativos ou qualquer outro método que promova a eliminação das fezes. Também é utilizado a administração de antibióticos eficazes contra a população de bactérias colônicas (neomicina, clorafenicol, metronidazol e a eritromicina são alguns exemplos), dose única parenteral 30 minutos antes da cirurgia. Outra preparação é a ingesta de 2 a 4 litros da solução de polietilenoglicol (PEG). As contraindicações absolutas para a realização do preparo intestinais são a obstrução completa e a perfuração livre do peritônio. 1,3 COLOSTOMIA São aberturas realizadas na parede cólica e exteriorizadas através da parede abdominal, por onde passam a ser eliminados os gases e as fezes, sua finalidade é fazer um desvio intestinal, formando estomas intestinais. 1 As indicações para o procedimento são: • Ferimentos anorretocólicos 1,5 • Obstruções intestinais: neoplasias, megacólon congênito, processos inflamatórios, volvo, colite isquêmica 1,5 • Perfurações não traumáticas como a diverticulite, por neoplasias, doença de Crohn 1,5 • Traumas penetrantes, por arma branca ou de fogo 1,5 • Fístulas anorretais, reto-vaginais, reto- vesicais 1,5 • Proteção de anastomoses colocólicas, colorretais e coloanais 1,5 Classificação: O segmento do cólon a ser exteriorizado depende do tipo de patologia, do local acometido e condições associadas a clínica do paciente. Habitualmente as porções mais utilizadas são a porção proximal do cólon transverso e sigmoide, devido a motilidade do seu mesentério. 1 Também é possível categorizá-las em temporárias ou transitórias e definitivas ou permanentes. 5 ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 181 Colostomia Transversa 1,2,6 Descrição da Colostomia Transversa 01 Paciente em decúbito dorsal horizontal + anestesia endotraqueal 02 Antissepsia + Campos 03 Incisão vertical ou transversal no hipocôndrio direito + Abertura por planos 04 Identificado da porção a ser exteriorizada (próximo da flexura hepática) 05 Transfixação do cólon + ligadura de vasos 06 Abertura + fixação da colostomia 07 Coletar as fezes + fechamento 08 Revisão + hemostasia 09 Sutura 10 Curativo Fonte: Organização da própria autora. • Anestesia geral, paciente em decúbito dorsal • Incisão vertical ou transversal no hipocôndrio direito, com extensão de 7-8cm; • Omento é afastado; • Na presença de grandes quantidades de gases, podem ser utilizados agulhas para a descompressão com aspiração; • A porção do transverso a ser exteriorizada é, preferencialmente, a mais próxima da flexura hepática • Utiliza-se uma pinça Kelly ou outra pinça através do omento e mesocólon transverso para transfixa-los, pode ser necessário seccionar vários pequenos vasos sanguíneos do local; • O conteúdo fecal do cólon é mobilizado distalmente com os dedos do cirurgião (malaxar alças intestinais, que é o esvaziamento bidigital ou ordenha de alças), para então poder realizar a secção e exteriorização do segmento desejado; • O cirurgião pode utilizar o dedo como guia nesse momento e posteriormente introduzir a sonda de borracha, sua extremidade é cortada e uma borda acoplada a outra, fixadas por um fio inabsorvível; • Então a abertura da colostomia é feita com um bisturi elétrico, sendo a técnica utilizada a transversotomia em alça sem eversão da parede cólica; • Fixa-se a colostomia a ferida cutânea com um fio absorvível, esses pontos incluem a borda do cólon incisado e a derme da incisão cutânea; • Por fim, as fezes são coletadas e inicia- se o fechamento. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 182 • O fechamento da cavidade peritoneal e da fáscia não deve comprimir as alças intestinas, respeitando o limite da alça e mais um dedo, o tecido subcutâneo e a pele também são fechados de maneira semelhantes; Colostomia Terminal – Sigmoidostomia:1,5,6Descrição Colostomia Terminal – Sigmoidostomia 01 Paciente em decúbito dorsal horizontal + anestesia endotraqueal 02 Antissepsia + Campos 03 Incisão circular na fossa ilíaca esquerda + Abertura por planos 04 Identificado da porção a ser exteriorizada 05 Transfixação do cólon + ligadura de vasos + retirada dos apêndices epiplóicos exuberantes 06 Abertura + fixação da colostomia 07 Fechamento 08 Revisão + hemostasia 09 Sutura 10 Curativo Fonte: Organização da própria autora. • O ponto de exteriorização é, usualmente, na fossa ilíaca esquerda. Necessário tomar cuidado redobrado com a área se tratando de uma ostomia permanente; • Incisão circular na pele, com 2cm de diâmetro; • Após por todas as camadas da cavidade abdominal e acessar o cólon, os vasos do mesocólon são ligados, retira-se os apêndices epiplóicos exuberantes e secciona-se o cólon com duas pinças; • O coto cólico proximal é exteriorizado, a borda do mesocólon transfixada com fios absorvíveis; • Fecham-se os planos da cavidade, respeitando os limites necessários para que não haja estrangulamento das alças. Posteriormente retira-se a proteção do coto exteriorizado e executa-se sua maturação; • A bolsa de colostomia pode ser colocada imediatamente ou após proteger a colostomia com um curativo. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 183 Ileostomia em Alça: 5,6 Descrição Ileostomia em Alça 01 Paciente em decúbito dorsal horizontal + anestesia endotraqueal 02 Antissepsia + Campos 03 Excisão de um círculo de cutâneo de 3 cm + Abertura por planos 04 A porção a ser seccionada deve estar distante 30 cm da válvula ileocecal 05 Utiliza a Kelly para abertura do mesentério + ligadura de vasos 06 Abertura + fixação da alça por um dreno de Penrose 07 Fechamento 08 Revisão + hemostasia 09 Sutura 10 Curativo Fonte: Organização da própria autora. • Mais utilizada para desvio temporário do conteúdo gastrointestinal com a finalidade de proteger uma anastomose colônica; • Pode substituir a colostomia transversa por ser mais fácil de criar e de fechar; • O melhor local para a ostomia é perto da borda do músculo reto do abdome e de sua bainha; • Faz-se a excisão de um círculo de cutâneo de 3 cm e procede-se a dissecção dos tecidos e planos da cavidade; • O segmento ileal selecionado deve estar distante cerca de 30 cm da válvula ileocecal; • Utiliza-se a pinça hemostática de Kelly para abrir o mesentério e pode ser necessário a ligadura de vasos locais • Um dreno de Penrose é introduzido na alça e fixa-o com um fio absorvível; • A ileostomia deve estar 5cm protrusa acima do nível da pele; • Realiza-se a eversão e maturação do estoma ativo; • Prossegue-se com o fechamento da cavidade respeitando os limites para que não haja comprometimento da alça. • Ao término do procedimento, coloca-se uma bolsa estéril. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 184 Cecostomia: Descrição Cecostomia 01 Paciente em decúbito dorsal horizontal + anestesia endotraqueal 02 Antissepsia + Campos 03 Incisão de McBurney na fossa ilíaca direita + Abertura por planos 04 Exteoriza o ceco + sutura em bolsa 05 Ligadura de vasos 06 Introduz uma sonda grossa de Petzer 07 Fechamento em alça (duas bocas) ou uma boca 08 Revisão + hemostasia 09 Sutura 10 Curativo Fonte: Organização da própria autora. Utilizada para descomprimir obstruções do cólon ascendente e ângulo hepático, faz-se uma incisão de McBurney na fossa ilíaca direita, exterioriza-se o ceco e realiza uma sutura em bolsa, seguindo o padrão de todos os procedimentos, é então introduzido uma sonda grossa de Petzer. Por fim, o seco é fixado ao peritônio, junto as bordas da ferida. 1 Quanto a técnica para o fechamento, pode ser feito de duas maneiras: 1. Fechamento da Colostomia em alça (duas bocas), há exteriorização de toda a alça e abertura apenas de sua parede anterior, ficando duas bocas unidas pela parede posterior. É necessário fechar a boca do coto cólico com uma pinça Allys para evitar contato com a cavidade. Faz a sutura com fios inabsorvíveis;1 2. Fechamento da Colostomia terminal (uma boca), nessa situação exterioriza-se a alça já seccionada com apenas uma boca. 1 O fechamento é preconizado a depender do motivo do procedimento cirúrgico, respeitando o intervalo mínimo de 30 dias. 1 Complicações das Colostomias: Podem ser precoces ou tardias.6 • Irritação cutânea;1 • Estenose por abertura insuficiente da parede abdominal, edema, processo inflamatório; 1 • Infecções da pele ou do tecido celular subcutâneo; 1 • Hérnia paracolônica;1 • Necrose e retração do coto cólico; 1 • Fístulas; 1 • Procidência, que é a eversão do coto cólico com saída de todas as camadas do cólon pela boca do estoma; 1 ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 185 • Prolapso 6 COLECTOMIAS: São as ressecções do cólon ou de parte dele. As principais indicações são: - Neoplasias benignas e malignas; 1 - Doenças inflamatórias; 1 - Diverticulite complicada; 1 - Alterações mecânicas do colo como megacólon, volvo e invaginações; 1 - Lesões isquêmicas ou angiodisplásicas;1 - Hemorrafia digestiva baixa. 1 Colectomia Direita: 1,6 Descrição Colectomia Direita 01 Paciente em decúbito dorsal horizontal + anestesia geral por inalação ou por raquianestesia 02 Antissepsia + Campos 03 Vias de acesso são longitudinal mediana, paramediana direita ou transversa direita supra-umbilical + Abertura por planos 04 Ligadura do ligamento hepatocólico, ligamentos peritoneais laterais + vasos cólicos médios 05 Secção do segmento 06 O coto intestinal pode ser fechado, ou é feito uma anastomose terminoterminal ou terminolateral, 07 Fechamento 08 Revisão + hemostasia 09 Sutura 10 Curativo Fonte: Organização da própria autora. Geralmente indicada para carcinoma e na doença inflamatória. O paciente é colocado em decúbito dorsal e é aplicado anestesia geral por inalação ou por raquianestesia. A técnica cirúrgica compreende: • As vias de acessão são longitudinal mediana, paramediana direita ou transversa direita supra-umbilical; • Após a abertura da cavidade abdominal e em casos de quadros neoplásicos, deve-se realizar a checagem de outros órgãos a procura de metástases, em especial o fígado; • A parte a ser retirada é selecionada, • Como praticamente toda a flexura hepática é retirada realiza-se a ligadura do ligamento hepatocólico, tendo em vista que ele possui pequenos vasos sanguíneos; • Além de também a ligadura dos ligamentos peritoneais laterais; • Os vasos cólicos médios são identificados, seccionados e ligados; • O mesentério do intestino grosso é pinçado, bem como o omento maior; • A porção selecionada é também pinçada e então prossegue-se com a secção do segmento intermediário; • Deve ser feito a correta hemostasia e antissepsia antes de continuar com a reconstrução do trânsito intestinal; • O coto intestinal pode ser fechado, ou é feito uma anastomose terminoterminal ou ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 186 terminolateral, podem ser realizadas em dois planos ou plano único, fios inabsorvíveis ou absorvíveis de longo prazo. Técnica Laparoscópica:6 A técnica possui as mesmas indicações citadas anteriormente, exceto quando é uma emergência tais como nos casos de obstrução, perfuração ou hemorragia maciça. É necessário a anestesia geral do paciente por tubo orogástrico ou nasogástrico. Quanto ao posicionamento do paciente,ele é colocado em litotomia modificada, sendo prudente para a segurança do paciente o uso de cintos, tendo em vista que pode ser necessário a movimentação da mesa para melhor visualização de estruturas. O cirurgião e o operador posicionam-se a esquerda do paciente, enquanto o primeiro auxiliar fica entre as pernas. 6 • Incisão infraumbilical e é introduzido um trocarte de Hasson de 10 a 12mm, então o abdome é insuflado até 15mmHg • Há 3 vias de acesso comum à cavidade peritoneal: 1. A primeira utiliza-se um trocarte de 10-12mm à esquerda da linha mediana no quadrante inferior esquerdo, além disso outro trocarte de 5mm pode ser introduzido no quadrante inferior direito, a depender da necessidade. A incisão e a extração são vertical mediana na altura do umbigo ou na região suprapúbica. 2. A segunda via, usa um trocarte de 10-12mm no quadrante inferior esquerdo e adicionalmente outro trocarte de 5mm na linha mediana suprapúbica e no quadrante superior direito na linha hemiclavicular. Este segundo trocarte permite melhor mobilização da flexura hepática. Nessa técnica a incisão e a extração são medianas no quadrante superior direito ou transversal no esquerdo. 3. A terceira e última via utilizada um trocarte de 10-12mm no quadrante inferior esquerdo e um de 5mm em posição mediana subxifoide e na região subcostal direita. A via de acesso para a extração é manual. • O paciente é colocado na posição de Tredelenburg e inclinado a 30o para a esquerda facilitando a via de acesso lateromedial; • O ceco é pinçado e afastado; • Com uma endotesoura com cautério faz-se a incisão na reflexão peritoneal, ao mesmo tempo o auxiliar pinça o cólon ascendente e o afasta para que a incisão seja feita até a região da flexura hepática. • Inicia-se dissecção, o paciente é colocado na posição de Trendelenburg invertida, para mobilização e afastamento da flexura hepática; • Nesse momento, é necessário tomar cuidado para não lesionar estruturas como o ureter e o duodeno; ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 187 • O trocarte de 10-12mm no quadrante inferior direito melhora a visualização; • Usa-se um instrumento energizado para seccionar as fixações perioneais; • O auxiliar pinça o mesentério do cólon transverso enquanto o cirurgião secciona as fixações omentais com um eletrocautério; • Pode ser necessário a secção do ligamento gastrocólico separando por completo a flexura hepática do fígado; • Os vasos ileocólicos são pinçados e incisados juntamente ao peritônio, os vasos podem ser seccionados com o uso do grampeador laparoscópico; • O grampeamento se repete até a secção do mesentério, incluindo também o ramo direito da artéria cólica média; • O intestino é exteriorizado por uma incisão de 6-10cm, as margens proximal e distal da peça é seccionada com o uso de um grampeador linear; • Faz-se uma anastomose laterolateral manual ou com o grampeador, formando uma enterotomia; • Verifica-se se não há nenhuma aderência, se nenhuma estrutura foi grampeada erroneamente e a presença de sangramentos; • A enterotomia é fechada com o grampeador e o mesentério e o intestino são recolocados na cavidade peritoneal. Colectomia Esquerda: 1,6 Descrição Colectomia Esquerda 01 Paciente em decúbito dorsal horizontal posição de Tredelenburg leve + anestesia é geral 02 Antissepsia + Campos 03 A incisão é mediana ou paramediana esquerda + Abertura por planos 04 Os vasos mesentérios inferiores são ligados e retiram-se os linfonodos regionais + secciona-se as fixações omentais esplenocólicas 05 Secção do segmento 06 É feito uma anastomose terminolateral, 07 Retirada da gordura mesentérica + Fechamento 08 Revisão + hemostasia 09 Sutura 10 Curativo Fonte: Organização da própria autora. As principais indicações para a realização do procedimento são tumor no cólon esquerdo e diverticulite complicada. O paciente é colocado em decúbito dorsal, ou em posição de Tredelenburg leve. A anestesia é geral. • A incisão é mediana ou paramediana esquerda; • Após a abertura da cavidade é necessário realizar uma inspeção da cavidade a procura de metástases em outros órgãos; • O peritônio é aberto, para que se possa liberar o cólon descendente e o sigmoide; • É necessário a identificação de estruturas como o ureter e os vasos espermáticos e ovarianos para que não haja secções por engano; ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 188 • Posteriormente, os vasos mesentérios inferiores são ligados e retiram-se os linfonodos regionais; • Secciona-se com segurança as fixações omentais esplenocólicas; • A porção do intestino selecionada para a secção é tracionada por pinças atraumáticas; • Então, o procedimento segue com a anastomose terminolateral das extremidades; • É necessário retirada da gordura mesentérica; • Por fim, verifica-se se há irrigação sanguínea no local, com pulsação ativa; • O intestino precisa ser liberado de suas estruturas adjacentes, liberar a flexura esplênica do baço, estômago e diafragma, após esse procedimento é possível seccionar o intestino; Técnica Laparoscópica: 6 É muito semelhante a técnica de colectomia direita. As diferenças básicas são: o cirurgião e o operador de câmera ficam a direita do paciente, enquanto o primeiro auxiliar fica a esquerda. A posição de acesso é igual à da colectomia direita, em adicional há a colocação de um trocarte de 5mm no quadrante superior direito na linha hemiclavicular. • Apreende o cólon sigmoide com uma pinça atraumática e o afasta; • As fixações peritoneais são seccionadas; • O grau de separação do omento depende da extensão do intestino a ser retirada; • O paciente é colocado na posição de Trendelenburg invertida para facilitar a mobilização da flexura esplênica; • Faz-se a secção dos vasos mesentéricos; • São seccionados o mesocólon, o mesentério, a porção distal do cólon e o reto; • A porção a ser retirada é exteriorizada e limpa, depois realiza-se uma sutura em bolsa de tabaco; • Por fim, é realizado a anastomose; • O cirurgião deve inspecionar novamente a cavidade antes de fechar, a procura de sangramentos. Colectomia Total: 1,6 Descrição Colectomia Total 01 Paciente em posição de Tredelenburg moderada + anestesia é endotraqueal 02 Antissepsia + Campos 03 A incisão precisa ser grande o suficiente para fácil exposição das flexuras colônicas + Abertura por planos 04 Ligadura dos vasos + ligadura de ligamentos + secção de fixações e aderências 05 Secção inicial do ceco + secção da demais estruturas colônicas ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 189 06 Em um segundo procedimento - anastomose ileorretal ou protectomia e reconstrução da bolsa ileoanal. 07 Fechamento 08 Revisão + hemostasia 09 Sutura 10 Curativo Fonte: Organização da própria autora. Esse procedimento consiste na ressecção de todo o intestino grosso, tendo indicações específicas para a técnica: hemorragias digestivas baixas sem diagnóstico exato do local de sangramento, obstruções do cólon esquerdo com comprometimento isquêmico do ceco, colite pseudomembranosa e retocolite ulcerativa. Em pacientes com bom risco cirúrgico a anastomose ileoanal deve ser considerada, aqueles que não possuem bom risco cirúrgico é necessário realizar a cirurgia em duas etapas. A anestesia do paciente é de preferência geral endotraqueal e o paciente é colocado em posição de Trendelenburg moderada. Na protocolectomia total pode ser necessário reposicionar o paciente com litotomia modificada, usando os suportes Allenpara apoio. A lavagem do retosegmoide é feita com uma solução de iodopovidona através de um tubo que pode ser mantido para drenagem gravitacional até o início da ressecção perineal. As técnicas cirúrgicas utilizadas são uma junção de todas as outras mencionadas para as colectomias parciais: • O cirurgião fica à esquerda do paciente; • A incisão precisa ser grande o suficiente para fácil exposição das flexuras colônicas; • Separa-se o delgado colocando-o em uma bolsa de plástico; • A dissecção é iniciada na extremidade do ceco; • Há a necessidade de ligar muitos vasos sanguíneos na margem livre do peritônio; • Faz-se a secção das fixações peritoneais do íleo, e o íleo e o ceco são exteriorizados; • Cuidado redobrado ao realizar a incisão peritoneal, evitando lesões nos vasos espermáticos e do ureter direitos subjacentes; • São seccionadas aderências entre a vesícula biliar, o fígado e a flexura hepática; • Secciona-se o omento maior, e seus vasos são ligados; • É realizado a secção do ligamento esplenocólico, liberando a flexura esplênica; • Então, o cirurgião inicia o mesmo procedimento: mobilização, ligadura dos vasos, para liberar o colo direito; • A próxima etapa é a visualização e mobilização do íleo terminal, é realizada a ressecção e separação do suprimento sanguíneo local, os vasos devem ser ligados um por vez e com extrema cautela; • Uma pinça vascular atraumática é aplicada na extremidade ileal enquanto uma Kocher reta está na extremidade cecal, são seccionados, na maioria das vezes, com um ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 190 grampeador e então o conteúdo presente na Kocher é ligado por um fio de seda ou fio absorvível; • Ligam-se as artérias cólicas médias e secciona o mesentério do cólon transverso; • Assim que as diferentes partes do cólon são liberadas, elas são envolvidas com compressas para evitar laceração da parede intestinal e uma possível contaminação; • Em um segundo procedimento, realiza- se a anastomose ileorretal ou protectomia e reconstrução da bolsa ileoanal. Protocolectomia Total: Descrição Protocolectomia Total 01 Paciente em posição de decúbito dorsal + anestesia geraç 02 Antissepsia + Campos 03 Incisão 04 Secção do mesentério adjacente ao retossigmoide e bem como o peritônio no fundo de saco de Douglas 05 O reto pode ser seccionado com o uso de grampeadores linear cortante ou reticular endoscópico 06 Excisa-se o ânus + criação de uma ileostomia 07 Fechamento 08 Revisão + hemostasia 09 Sutura 10 Curativo Fonte: Organização da própria autora. • Realiza-se a secção do mesentério adjacente ao retossigmoide e bem como o peritônio no fundo de saco de Douglas, entre o reto e a bexiga ou colo do útero, após identificação dos ureteres; • O reto pode ser seccionado com o uso de grampeadores linear cortante ou reticular endoscópico; • O assoalho peritoneal é fechado por sutura com fio absorvível • Identificar os vasos gonadais e os ureteres para certificar que não ouve lesão; • Por fim, excisa-se o ânus, não é necessário ampliar a ressecção até os músculos levantadores, quando se faz uma simples extirpação dos músculos esfincterianos e da própria parede intestinal.; • Necessário a criação de uma ileostomia e então prossegue-se o fechamento da cavidade. Complicações da colectomia: 1,6 • Deiscência de anastomose; • Peritonite generalizada. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 191 REFERÊNCIAS 1. Fábio Goffi. Técnica Cirúrgica: Bases Anatômicas, Fisiopatológicas e Técnicas da Cirurgia. 4th ed. São Paulo, Rio de Janeiro, Ribeirão Preto, Belho Horizonte: Atheneu; 2007. 822 p. 2. Townsend Courtney. Tratado de Cirurgia: A Base Biológica da Prática Cirúrgica Moderna. 19th rev. ed. [place unknown]: Saunders Elsevier; 2014. 3940 p. 1 vol. 3. Tortora Jerry. Princípios de Anatomia e Fisiologia. 14th rev. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2016. 1201 p. 1 vol. 4. Bacellar MS, Baravieira AC, Almeida MG, Kiss DR. Colectomia Total : Indicações e Complicações. Princípios de Anatomia e Fisiologia [Internet]. 2001 Feb 21 [cited 2020 Oct 26]:1-2. Available from: http://sbcp.org.br/revista/nbr212/P84_87.htm 5. Estomas intestinais (ileostomias Estomas intestinais (ileostomias e colostomias) e anastomoses e colostomias) e anastomoses intestinais intestinais. Fundamentos em Clínica Cirúrgica [Internet]. Ribeirão Preto: [publisher unknown]; 2011 [cited 2020 Oct 27]. 6 p. Available from: http://www.revistas.usp.br/rmrp/article/view/47 335/51071 6. Ellison EC, Zollinger, Jr RM. Altas de Cirurgia. 10th rev. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2017. 936 p. http://sbcp.org.br/revista/nbr212/P84_87.htm http://www.revistas.usp.br/rmrp/article/view/47335/51071 http://www.revistas.usp.br/rmrp/article/view/47335/51071 ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 192 Nutrição em cirurgia Marcella Giovana Gava-Brandolis Capítulo 16 Nutrição em cirurgia Inrodução A cirurgia é considerada um estressor ao organismo, ou seja, um insulto que prejudica a homeostasia do organismo. Entretanto, nosso organismo possui mecanismos de defesa natural para combater esses insultos a fim de manter a homeostase e sobreviver. Para isso, múltiplos sistemas funcionam juntos levando a mudanças fisiológicas ou comportamentais que levam a estabilidade ou homeostasia. 1 Essa resposta do organismo à alteração da homeostasia decorrente da cirurgia, a qual é também um trauma, é chamada de resposta endócrina metabólica imunológica ao trauma (REMIT). Esse estresse gera uma resposta orgânica principalmente do eixo hipotálamo- hipofisário-adrenal para restauração da homeostasia. Essa resposta libera mediadores inflamatórios e ativação das reações neuroendócrinas, que incluem liberação de citocinas inflamatórias, como IL-6, IL-1, TNF-α, IFN-γ e IL-8. Essas citocinas estimulam, entre outros, a liberação de hormônios como corticotropina, hormônio do hipotálamo e adrenocortitrófico da pituitária, que levam a liberação de mais outros hormônios, como catecolaminas, glicocorticoides, GH e aldosterona. Esses hormônios, dentre outras funções, geram efeitos metabólicos, como o catabolismo. 1 Na maioria dos casos, essa reação é bem coordenada e autolimitada, o que leva rapidamente a restauração do estado orgânico normal. Entretanto, em situações graves, como cirurgias de grande porte e/ou com complicações infecciosas, essas reações sistêmicas alcançam grandes proporções e induzem a um hipercatabolismo excessivo.2 O catabolismo nessa situação possui a função de produção de proteínas de fase aguda, proteínas para síntese de mediadores inflamatórios, substâncias imunológicas e hormônios, além da degradação de glicogênio – glicogenólise – e da produção de glicose – neoglicogênese – através de tecido adiposo e massa muscular para disponibilização desta glicose para o funcionamento da maquinaria celular. Corroborando com o quadro, estes hormônios contrarregulatórios também induzem aumento na resistência dos tecidos periféricos à ação da insulina. Esse aumento da demanda de glicose leva a estados hiperglicêmicos no paciente do trauma, a consequência mais marcante nestes pacientes e que predispõe a infecções graves e aumento da morbimortalidade.1,2 ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 193 Características do estado nutricional Mesmo sendo necessário, o catabolismo promove uma depleção das reservas do indivíduo, principalmente muscular,o que pode gerar impacto no estado nutricional deste paciente, bem como as consequências de um estado nutricional debilitado, uma vez que o estado nutricional influi diretamente na evolução perioperatória do paciente cirúrgico. Além disso, o suporte nutricional tem papel importante na tentativa de minimizar alterações hormonais sem agravar as condições metabólicas existentes. 1-3 A desnutrição é o estado em que a deficiência, o excesso ou o desequilíbrio de nutrientes causam efeitos adversos mensuráveis na estrutura tecidual, na função orgânica e na evolução clínica do indivíduo. Esta pode levar a diversas complicações pós- operatórias quando comparada a doentes não desnutridos. Ela apresenta relação com o retardo na cicatrização de feridas, aumento de infecção, de morbidade e de mortalidade, e consequentemente maior permanência hospitalar e aumento de custos. Estudos mostram que metade dos pacientes cirúrgicos apresentam desnutrição, quadro que se agrava ainda mais com o catabolismo gerado pela REMIT da operação. 3 O processo de cicatrização encontra-se prejudicado e retardado na desnutrição. A desnutrição proteica pode prejudicar a cicatrização de feridas por prolongar a fase inflamatória, diminuir síntese e proliferação fibroblástica, angiogênese e síntese de colágeno e proteoglicanos. Pode ainda reduzir a força tênsil de feridas, limitar a capacidade fagocítica de leucócitos e aumentar a taxa de infecção de feridas, que como consequência lentificam a cicatrização de incisões e anastomoses e aumentam o risco de deiscência de feridas.4 Para diagnosticar o risco nutricional ou desnutrição destes pacientes é necessário realizar a triagem e avaliação nutricional no paciente cirúrgico. Com um diagnóstico nutricional adequado é possível intervir e melhorar os desfechos operatórios nestes pacientes. Primeiramente é necessário a realização da triagem de risco nutricional, ou seja, identificar se este paciente possui alterações funcionais e orgânicas que ocorrem antes mesmo da instalação da desnutrição. Assim, se detectado risco nutricional através da triagem, o próximo passo é realizar a avaliação nutricional para compreender o estado nutricional do paciente, sua gravidade e traçar a melhor intervenção para este.3 A triagem de risco nutricional deve ser realizada nas primeiras 24-48 horas da admissão hospitalar do paciente. Existem diversas ferramentas para triagem do estado nutricional, dentre estas, temos a NRS-2002, o MUST, e para idosos a MNA. Essas ferramentas utilizam da combinação de vários fatores, como IMC, perda de peso, ingestão alimentar, gravidade da doença e idade, para estabelecer o risco nutricional do indivíduo. 5 Após realizar a triagem de risco nutricional, se detectado risco nutricional, o próximo passo é a realização da avaliação do estado nutricional (AEN) do paciente. É recomendado que essa AEN seja realizada dentro das próximas 24 horas após detecção do risco nutricional pela triagem de risco nutricional.3 A avaliação do estado nutricional consiste em um conjunto de métodos utilizados para mensurar a condição do estado ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 194 nutricional do paciente. Existem vários métodos para avaliação do estado nutricional, abrangendo diversas medidas e informações, como peso, IMC, composição corporal, história clínica, exame físico, histórico nutricional, entre outros. Dentre estes, ganham destaque os métodos mais rápidos, simples, de fácil execução e boa acurácia. 3,5 O Projeto Acerto, um protocolo multimodal de cuidados perioperatórios, utiliza a Avaliação Subjetiva Global (ASG) e a Força de Preensão Palmar (FPP) para avaliação dos pacientes cirúrgicos. 3 A ESPEN também recomenda o uso da ASG na avaliação nutricional dos pacientes. O IMC continua sendo uma ferramenta útil também nesse contexto.5 Figura 1 - Ferramenta de triagem de desnutrição universal – MUST. Fonte: Traduzido de Kondrup J, Allison SP, Elia M, Vellas B, Plauth M. ESPEN Guidelines for Nutrition Screening 2002. Clin Nutr 2003; 22(4):415-21. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 195 Figura 2 - Ferramenta de Triagem de Risco Nutricional – NRS 2002 Fonte: Traduzido de Kondrup J, Rasmussen HH, Hamberg O, et al. Nutrition Risk Screening (NRS 2002): a new method based on na analysis of controlled clinical trials. Clin Nutr 2003; 22(3):321-36. A ASG foi criada em 1982 por Detsky, um método de avaliação nutricional simples e rápido, sendo capaz de identificar pacientes em risco nutricional e apresentando boa correlação com dados antropométricos e laboratoriais utilizados e com a morbidade pós- operatória. A ASG avalia alterações do peso corporal desde os últimos seis meses, alterações na ingestão alimentar, presença de sintomas gastrointestinais (que podem piorar a ingestão alimentar e agravar o déficit de nutrientes), alterações da capacidade funcional e o grau de catabolismo ocasionado pela doença ou cirurgia, conforme tabela 1.3 Ao final da avaliação, o paciente é classificado como ASG A, B ou C, onde A significa que ele possui um bom estado nutricional, B o indivíduo se encontra com desnutrição moderada ou em risco de desnutrição, e C o paciente está gravemente desnutrido. Um paciente com ASG B ou C necessita de terapia nutricional com uma intervenção nutricional mais agressiva. É importante promover uma recuperação do estado nutricional do paciente para melhores desfechos operatórios. 3 A avaliação da FPP, outro método de avaliação do estado nutricional, é também um método simples, rápido, fácil, de baixo custo e eficaz para a avaliação da função da musculatura. Este método é capaz de detectar alterações funcionais precocemente, antes mesmo de alterações na forma do músculo, alterações antropométricas e laboratoriais serem identificadas. Essa perda funcional ocorre principalmente pela perda de musculatura esquelética decorrente da desnutrição. 3 A redução da FPP está associada a complicações no pós-operatório e é preditiva de perda da funcionalidade em pacientes hospitalizados. O compartimento muscular e sua função, quando preservados, estão diretamente relacionados com a recuperação mais rápida no pós-operatório, redução do tempo de imobilidade e menor incidência de trombose venosa e de pneumonia. 3 Da mesma maneira que alterações negativas da função são detectadas antes mesmo de outros parâmetros nutricionais, a melhora da função também pode ser mensurada mesmo antes da recuperação da ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 196 massa magra, de ganho de peso e melhora de parâmetros antropométricos e até mesmo de parâmetros laboratoriais, onde a melhora funcional ocorre após alguns dias do início da intervenção nutricional, enquanto os outros parâmetros podem demorar várias semanas para se modificarem. Existem valores de corte da FPP na literatura para identificar o estado nutricional do paciente. 3 Identificado o paciente em risco nutricional ou desnutrido é necessário realizar uma intervenção nutricional neste paciente, dado que a desnutrição pré-operatória é um fator independente de risco de maior morbidade e mortalidade pós-operatórias, decorrente de diminuição dos compartimentos de composição corporal, principalmente devido a massa magra, imunodepressão e retardo de cicatrização de feridas. O paciente que apresentar bom estado nutricional deve então ser triado semanalmente para acompanhamento do estado nutricional e detecção precoce de alteração desse estado.6 Para o planejamento da terapia nutricionalesteja viável, a terapia nutricional através de sonda enteral ou gastrostomia é a opção de escolha.6 A alimentação por sonda enteral é a terapia nutricional administrada por meio de um tubo (sonda) ou estoma no trato intestinal. A sonda pode ser inserido através do nariz; ou seja, sonda naso-gástrico, naso-jejunal ou naso-pós-pilórico; ou através de um estoma que é inserido endoscopicamente no estômago; isto é, gastrostomia endoscópica percutânea (PEG) ou com uma extensão jejunal (PEG-J) ou no jejuno (jejunostomia endoscópica percutânea (PEJ). Finalmente, o tubo também pode ser colocado cirurgicamente; isto é, gastrostomia cirúrgica ou jejunostomia. A terapia nutricional enteral total (TNE) refere-se às condições em que todas as necessidades de nutrientes são fornecidas por meio de uma sonda de alimentação sem ingestão oral ou parenteral significativa. Já a suplementação alimentar por sonda enteral é a nutrição administrada a pacientes cuja ingestão oral de alimentos e fluidos não atinge as NN do individuo sozinhas.13 A dieta administrada através da sonda ou gastrostomia, dieta enteral, pode ser artesanal ou industrializada. Ambas as opções possuem vantagens e desvantagens. Pode-se também administrar dietas nutricionalmente completas ou apenas módulos de determinados nutrientes, conforme necessidade do paciente. Em hospitais, atualmente, pode ser fornecida a dieta industrializada, pois o risco de ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 199 contaminação é menor e ela fornece todos os nutrientes recomendados ao indivíduo, é nutricionalmente completa. Existem fórmulas especiais para diferentes situações clínicas, no entanto as fórmulas padrão são adequadas a grande maioria dos pacientes que necessitam de dieta enteral.5 As dietas industrializadas podem ser comercializadas em sistema aberto ou sistema fechado. No sistema aberto significa que deve haver manipulação do produto até ser fornecido ao paciente (Figura 3). Essas dietas em sistema aberto podem ser líquidas, cujo frasco deve ser aberto e acondicionado em outro recipiente para ser ofertado ao paciente, ou em pó, a qual deve ser ainda diluída em água e acondicionada em recipiente próprio para administração ao paciente. No sistema fechado (Figura 4), a embalagem na qual a dieta é comercializada é diretamente ofertada ao paciente, conectada em equipos próprios e administrada, sem nenhuma manipulação. A dieta em sistema aberto pode ser infundida por gotejamento gravitacional ou bomba de infusão, já a dieta em sistema fechado necessariamente deve ser administrada por bomba de infusão. Figura 3 – Frasco com dieta enteral industrializada, sistema aberto. Fonte: Arquivo pessoal. Figura 4 – Frasco de dieta enteral industrializada, sistema fechado. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 200 Fonte: Arquivo pessoal. Em situações na qual o trato gastrointestinal não esteja apto ou na contraindicação de via oral ou enteral, a terapia nutricional parenteral é a opção de escolha. Ela pode ser exclusiva no caso de inviabilidade do trato gastrointestinal, ou suplementar, em situações em que as necessidades nutricionais não conseguem ser atingidas pela via enteral em até 3 a 7 dias.6 A terapia nutricional parenteral (TNP) é um tipo de terapia nutricional fornecida por meio da administração intravenosa de nutrientes, como aminoácidos, glicose, lipídios, eletrólitos, vitaminas e oligoelementos. Esse acesso pode ser periférico, utilizados em curtos períodos de TNP ou até providenciamento de um acesso central ou suspensão da TNP, ou central, através de uma veia de grosso calibre, a qual pode ser realizada por longos períodos e possuir uma osmolaridade mais elevada.5 A terapia de nutrição parenteral total (nutrição parenteral exclusiva) se refere a situações em que todas as necessidades nutricionais (todos os macro e micronutrientes) são abrangidos pela NP, e nenhuma outra nutrição é fornecida por qualquer outra via exceto por via intravenosa. Já a nutrição parenteral suplementar (NPS), ou nutrição parenteral parcial ou nutrição parenteral complementar, refere-se a situações em que a nutrição é fornecida além de nutrição parenteral por qualquer via que não seja a intravenosa, podendo ser pela via oral e/ou éla via enteral.5 A TNP pode ser realizada de maneira parcial, servindo como uma suplementação para alcance das necessidades nutricionais do indivíduo, concomitante a nutrição enteral, seja esta por via oral ou enteral, ou de maneira total, em situações nas quais o trato gastrointestinal não está apto a receber qualquer tipo de dieta. Também podem ser fornecidos todos os nutrientes necessários ao paciente (glicose, aminoácidos, lipídeos, vitaminas, minerais e eletrólitos) ou apenas determinados nutrientes em específico (ex.: aminoácidos), dependendo das necessidades do indivíduo. 5 A dieta parenteral pode ser industrializada, a qual vem em um sistema fechado pronto para ser infundida no paciente; ou manipulada, por empresa específica para este fim, de acordo com a prescrição médica diária para o paciente. Dentre as diferenças está o fato de a dieta industrializada possuir maior estabilidade, podendo ser armazenada em temperatura ambiente por meses, instalação e início mais rápido, uma vez que pode ser armazenada no próprio hospital. Por outro lado, não pode ser individualizada de ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 201 acordo com as necessidades nutricionais específicas daquele paciente. Já a dieta manipulada é produzida de acordo com os nutrientes prescritos individualizados para cada paciente; todavia é mais instável, necessitando de refrigeração até sua administração e possui maior tempo de sua prescrição até a infusão no paciente. Figura 5 – Dieta parenteral industrializada Fonte: Arquivo pessoal. Pacientes desnutridos se beneficiam de uma terapia nutricional pré-operatória por 7 a 14 dias, apresentando menos complicações, menor taxa de infecção pós-operatória e redução do tempo de internação. Pacientes oncológicos apresentam melhores desfechos quando essa terapia nutricional é enriquecida com imunonutrientes. Em pacientes com doenças benignas, na possibilidade de postergar a cirurgia, recomenda-se seu adiamento para recuperação do estado nutricional deste indivíduo.6 Outra forma de realizar a terapia nutricional pré-operatória é a redução do tempo de jejum pré-operatório. O jejum pré- operatório de 8-12 horas de jejum absoluto, sem nada pela boca, foi instituído na década de 40 através de relatos do médico Mendelson evidenciando a ocorrência de broncoaspiração durante a indução anestésica. No entanto, diversos estudos demonstraram que os pacientes permanecem em jejum pré- operatório por períodos muito superiores a este, chegando a 24 horas de jejum antes da cirurgia. O jejum age de maneira semelhante à REMIT em diversos pontos, como na redução da insulina e elevação de glucagon, cortisol e catecolaminas promovendo aumento da expressão de genes envolvidos na neoglicogênese, oxidação de ácidos graxos e turnover proteico, tudo isso para disponibilização de glicose e de aminoácidos livres para o organismo. Após 15 horas de jejum, temos a exaustão do glicogênio hepático (75g), muscular (150g) e da glicose circulante.13 Dessa maneira, o jejum prolongado associado a REMIT intensifica o catabolismo e consequentemente a desnutrição destes pacientes. Como já visto anteriormente, a desnutrição em pacientes cirúrgicos prejudica a cicatrização, aumenta a susceptibilidadea infecção e a morbimortalidade. Somado a isso, uma resposta catabólica e inflamatória não compensadas podem inclusive levar a um quadro de SIRS (Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica), infecção e Sepse. Estes indivíduos desenvolvem alterações do sistema imune, como hiperativação ou ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 202 imunossupressão, promovendo uma liberação exagerada de mediadores inflamatórios e gerando condições para a Síndrome de Disfunção de Múltiplos Órgãos, a qual cursa com elevada mortalidade.14 Considerando todos estes aspectos, diversos estudos foram realizados sobre a redução do tempo de jejum pré-operatório. Os autores encontraram benefício na reversão da resistência insulínica relacionada ao trauma cirúrgico15,16, redução da perda de massa magra e da força muscular pós operatória17-19, manutenção da função imunológica20, melhora do desempenho cardíaco21, redução de ansiedade e fome22, redução de náuseas e vômitos23, além de ser uma estratégia segura e que não aumenta o risco anestésico e de broncoaspiração24. A segurança dessa abreviação do jejum já foi respaldada por diversos estudos científicos, inclusive por metanálise realizada pela Cochrane24. As principais sociedades de anestesia e guidelines mundiais recomendam a abreviação do tempo de jejum pré-operatório para 2 horas com líquidos claros e de 6 horas para alimentos sólidos25-30. A abreviação do jejum pré-operatória pode ser realizada com líquidos claros, ou sem resíduos, acrescidos de maltodextrina a 12,5%, podendo ser acrescentado também proteína do soro do leite (whey protein) ou glutamina, como fontes de aminoácidos. Como exemplo de líquidos claros temos chás, sucos coados, café, água, entre outros31. Dessa maneira, a abreviação do jejum pré-operatório é tida como mais uma das estratégias de terapia nutricional peri- operatória a fim de corroborar com a manutenção do estado nutricional do paciente e melhora dos desfechos pós-operatórios e redução de complicações nestes. A abreviação do jejum pré-operatório pode ser realizada em qualquer paciente que será submetido a uma intervenção cirúrgica eletiva, independente do estado nutricional que apresente. Deve-se avaliar individualmente pacientes que apresentem dismotilidade gastrointestinal e/ou aumento do tempo de esvaziamento gástrico, como obesidade mórbida, refluxo gastresofágico importante, gastroparesia, estenose pilórica, entre outros. Indivíduos com obstrução gastrointestinal não devem receber alimentos via oral, tampouco líquidos para abreviação do jejum pré-operatório.31 Muitos desses assuntos são abordados pelo Projeto Acerto32, um protocolo multimodal que visa acelerar a recuperação do paciente cirúrgico. O Projeto acerto possui 11 pilares básicos que foram definidos após diversos estudos como sendo capazes de alterar e melhorar os desfechos do paciente cirúrgico. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 203 Tabela 1: Pilares do Projeto Acerto. Características - Projeto Acerto Informação pré-operatória o paciente não deve somente receber um termo por escrito sobre sua cirurgia e assinar este. Todo o procedimento, bem como os cuidados após a cirurgia devem ser explicados verbalmente para o paciente a fim de que este compreenda como será sua operação e como ele deve proceder após o mesmo. Estando ciente de como será seu pós operatório o paciente se torna mais colaborativo e menos temeroso, melhorando a evolução pós operatória Cirurgias videolaparoscópicas sempre que possível optar pelas cirurgias por vídeo que provocam um trauma menor e por consequência menor tempo cirúrgico, menor REMIT, recuperação mais rápida, redução de complicações, redução de morbimortalidade, entre outros Abreviação do tempo de jejum pré-operatório para 2 horas não prolongar o tempo de jejum pré-operatório desnecessariamente. O Projeto Acerto e as sociedades relacionadas a cirurgia recomendam redução do tempo do jejum para 6 horas de jejum para alimentos sólidos e leite e jejum de 2 horas para líquidos clarificados (agua, chá, sucos diluídos, café) acrescidos de maltodextrina e se possível alguma fonte nitrogenada (glutamina, proteína do soro do leite) a fim de reduzir a REMIT, melhorar bem estar e os desfechos cirúrgicos dos pacientes Realimentação precoce proporcionar o retorno da alimentação da forma mais fisiológica possível o mais rapidamente dentro das possibilidades do paciente. Não atrasar o início da reintrodução alimentar ou da dieta por medos ou receios infundados. O atraso na realimentação piora a REMIT e o estado nutricional do paciente, levando a maiores taxas de complicações Terapia nutricional peri- operatória sempre avaliar o estado nutricional do paciente através de triagem e avaliação nutricional e a partir disso definir a melhor terapia nutricional para ele. Priorizar o estado nutricional do paciente e nunca desvalorizar este. A piora do estado nutricional leva a piores desfechos operatórios, como aumento de complicações e infecções, aumento da frequência e tempo de internação, aumentando assim a morbimortalidade destes Não realização de preparo do cólon o preparo, ou limpeza como alguns costumam dizer, do cólon é uma pratica obsoleta e que ao contrário do que se acreditava, não traz nenhum benefício ao paciente, muito pelo contrário. A realização de preparo do cólon com laxantes ou enemas provoca efeitos deletérios ao paciente, como perda de líquidos e eletrólitos, vazamento de fezes líquidas pela anastomose, compromete a microbiota benéfica e aumenta o índice de fístulas e deiscência de anastomose no pós operatório Uso racional de sondas e drenos sondas e drenos devem ter sua indicação adequada. O uso indiscriminado e/ou inadequado não traz nenhum benefício ao paciente, sendo inclusive prejudicial, levando a desconforto, lesões e prolongamento do tempo de internação ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 204 Uso racional de hidratação venosa perioperatória e antibioticoterapia calcular adequadamente a necessidade de hidratação do paciente. A hiper-hidratação prejudica o pós operatório do paciente, levando a edemas, aumento de pressão abdominal, piora das trocas gasosas e de nutrientes, aumento da permeabilidade da mucosa intestinal e prejuízo no processo de cicatrização. O uso indiscriminado de antibióticos também traz prejuízos ao paciente, como resistência microbiana, ausência de melhora do desfecho, bem como aumento dos custos desnecessariamente, entre outros. A profilaxia contra infecção do sítio cirúrgico deve ser realizada de diversas outras maneiras, como lavagem de mãos, antissepsia de equipe, roupas e vestimentas, limpeza e desinfecção de superfícies, assepsia e técnica cirúrgica, cuidados pós operatórios e vigilância, entre outros Analgesia no pós operatório não permitir que o paciente sinta dor no pós operatório promovendo analgesia de qualidade. A dor piora o estado geral do paciente, prejudica deambulação, alimentação, levando a piores desfechos Controle de náuseas e vômitos prevenir náuseas e vômitos proporciona um melhor estado geral do paciente, evita perda de nutrientes, eletrólitos e a desidratação, evita piora da REMIT e do estado nutricional do paciente promovendo melhor recuperação e desfechos. Medicação preventiva, reduzir o tempo de jejum pré e pós operatórios, evitar hiper-hidratação, evitar uso de opioides e anestésicos voláteis e uso de pró-cinéticos no pós operatório auxiliam no controle de náuseas e vômitos Auditoria registrar, analisar e conhecer os dados dos pacientes, cirurgiões, equipe e hospital para que se possa conhecer o real cenário do serviço a fimde promover mudanças e monitorar os acontecimentos e determinar objetivos para sempre melhorar o atendimento e os desfechos dos pacientes Fonte: Adaptado de Aguilar-Nascimento JE, 2011.32 ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 205 Figura: Mosaico pilares do Projeto Acerto. Fonte: Aguilar-Nascimento JE, 2011.32 Por fim, ressaltamos a importância da manutenção ou recuperação do estado nutricional dos pacientes apresentando as diversas complicações decorrentes da desnutrição em pacientes cirúrgicos. Dentre as várias ferramentas para triagem e avaliação do estado nutricional existentes, basta eleger a que mais se adapte a rotina e realidade do serviço. Apresentamos diversas estratégias para condução dessas situações, como a terapia nutricional e suas diferentes apresentações: suplementação nutricional, nutrição enteral, parenteral, abreviação do jejum pré-operatório, entre tantos outros. Com tantos recursos disponíveis o médico fica mais capacitado a conduzir seu paciente para os melhores desfechos possíveis após intervenções operatórias. Projeto ACERTO www.projetoacerto.com.br ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 206 Referências 1. Cresci G. A reação hipermetabólica ao estresse. In: Waitzberg DL. Nutrição Oral, Enteral e Parenteral na Prática Clínica. 4ª ed. São Paulo: Ed Atheneu; 2009. p. 1685-91. 2. Terra RM, et al. Resposta Sistêmica ao Trauma. In: Waitzberg DL. 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Rio de Janeiro: Ed Rubio; 2011. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 209 Condutas no trauma abdominal Carla Franco Mendonça de Araújo Capítulo 17 Condutas no trauma abdominal CONDUTA NO TRAUMA ABDOMINAL INTRODUÇÃO O trauma abdominal é responsável por um número expressivo de mortes a cada ano, no Brasil e no mundo. Diante de tal fato, torna- se importante o conhecimento acerca dos tipos de trauma, suas variáveis formas de apresentação e a conduta específica para cada um. É importante ressaltar que os sintomas abdominais relacionados ao traumatismo podem ser, muitas vezes, despercebidos por lesões associadas com dor referida ou, por alterações do nível de consciência, principalmente, decorrentes do trauma craniano, o que dificulta a sua avaliação. A avaliação inicial do paciente visa, primordialmente, reconhecer a necessidade ou não de uma intervenção cirúrgica. Posteriormente, analisa-se a localização da lesão, mapeando-se, assim, os possíveis órgãos acometidos, sendo, o estado hemodinâmico do paciente avaliado a todo momento. O traumatismo do abdome pode ser fechado (contusão abdominal), normalmente relacionado a movimentos de aceleração, desaceleração, compressão e cisalhamento nas diversas direções, ou aberto (penetrante ou ferida abdominal), decorrente, em sua grande parte, de armas de fogo ou arma branca. Dessarte, saber as devidas condutas com agilidade em cada caso é de extrema valia no atendimento de urgência e emergência. CARACTERÍSTICAS DO TRAUMA 1- TRAUMA CONTUSO Na contusão abdominal, os órgãos normalmente acometidos são o baço, em cerca de 40 a 55% dos casos de laparotomias por trauma, e o fígado, em 35 a 45% dos casos. No trauma fechado, o exame físico, quando o paciente está desperto, pode ser bastante sensível para o diagnóstico e prognostico do caso, direcionando, dessa forma, o plano terapêutico a ser seguido. Por outro lado, quando o paciente se apresenta instável, grave, o exame físico não é confiável, fazendo-se necessária a investigação de possível lesão intra-abdominal e se o abdômen é de fato a fonte da hemorragia. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 210 É importante salientar as condutas a serem tomadas quando o exame físico se torna invalido, sendo o Lavado Peritoneal Diagnostico (LPD) ou a ultrassonografia do abdômen (FAST-Focused Assessment Sonography for Trauma), os métodos mais utilizados, na investigação. O LPD possui 98% de sensibilidade para a detecção de sangramento intra-abdominal e é realizado através da colocação de um cateter de dialise peritoneal na cavidade do peritônio, através de uma incisão infra umbilical. A presença acima de 10ml de sangue, durante a aspiração inicial, é um sinal positivo, presente em pacientes chocados com hemorragia abdominal. Contudo, caso isso não ocorra, deve-se infundir 1.000ml de solução de Ringer lactato aquecida. O efluente recolhido deve ser enviado para análise, conjuntamente a dosagem de amilase e fosfatase alcalina. Dessa forma, o LPD torna-se positivo quando há presença de 100.000 hemácias/mm³ ou mais, amilase acima de 175U/dl ou pesquisa positiva para bile, bactérias ou fibras alimentares. Quanto ao FAST, é o método mais utilizado no pronto-socorro e na sala de trauma, e tem como objetivo identificar líquido livre na cavidade abdominal, podendo o mesmo ser sangue ou conteúdo extravasado de víscera oca. Para pacientes instáveis hemodinamicamente, com LPD ou FAST positivos, com hipotensão, está indicada a laparotomia exploradora. Em contrapartida, em pacientes hemodinamicamente estáveis, após a realização do LPD ou FAST, também positivo, indica-se a realização de uma tomografia computadorizada, sendo este método o principal exame para análise detalhada de traumatismo abdominal. 2- TRAUMA PENETRANTE Nos ferimentos por arma branca, podemos notar o acometimento, mais frequentemente, do fígado (40%), intestino delgado (30%), diafragma (20%) e cólon (15%). Já os ferimentos por arma de fogo causam mais danos intra-abdominais devido à extensão da sua trajetória e a maior energia cinética dissipada, tendo como principais sedes de lesão, o intestino delgado (50%), cólon (40%), fígado (30%) e estruturas vasculares abdominais (25%). A exploração cirúrgica está indicada quando há violação da cavidade peritoneal, contudo, previamente a laparotomia, o cirurgião estuda e traça o trajeto do projetil ou objeto, no intuito de orientar sua exploração cirúrgica. Ademais, é importante ressaltar que vítimas que se encontram estáveis hemodinamicamente, devem ser submetidas a tomografia computadorizada (TC) de abdome com reconstrução tridimensional. Referindo-se a feridas por arma branca, há três indicações obrigatórias para laparotomia exploradora, que são: instabilidade hemodinâmica, evisceração ou sinais de peritonite. No sentido contrário, quando não há indicação imediata de laparotomia, o cirurgião deve explorar o local do ferimento, com o paciente sob anestesia local, para determinar se houve ou não violação da cavidade peritoneal. Portanto, a partir do resultado positivo, ou negativo, da observação, o plano terapêutico é traçado. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 211 Figura 1: Trauma abdominal aberto em flanco direito. Fonte: Arquivo pessoal do autor. LESÕES ESPECIFICAS 1- TRAUMA ESPLÊNICO As lesões esplênicas estão entre as mais frequentes relacionadas ao trauma fechado de abdome e, atualmente, com o auxílio da classificação proposta pela American Association for the Surgery of Trauma (AAST), existe uma graduação progressiva da lesão esplênica, de um a cinco. Nessa escala, quanto maior a graduação, maior a gravidade, logo um diferente plano terapêutico será abordado em cada caso. O baço possui funções linfoides importantes, posto que apresenta 25% do tecido linfoide do organismo. Portanto, é um efetivo produtor de IgM e quando a esplenectomia é realizada, temos uma redução dos níveis séricos de IgG. Diante de tal fato, é de grande importância o acompanhamento do paciente após a cirurgia, com submissão à imunização, para que se seja evitado possíveis contaminações, como no caso da sepse fulminante pós-esplenectomia, o qual acomete normalmente a população pediátrica. Desse modo, a tentativa de preservação esplênica torna-se primordial e a conduta a ser realizada dependerá do estado hemodinâmico do paciente e dos resultados obtidos com FAST e com uma tomografia computadorizada (TC). ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 212 Indicaçõesda sala cirúrgica cuja compressa esteja dobrada. Primeiramente realiza-se a secagem das mãos até os punhos. Após, “usa-se cada lado da compressa dobrada para secar cada um dos antebraços até os cotovelos. Como regra, sempre que um membro é secado, dobra-se a ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 18 compressa ao meio de forma que a face utilizada fique virada para dentro, não entrando novamente em contato”7. Figura 3 – Secagem das mãos Fonte: Própria autora, 2020. Legenda: 1. Após a lavagem das mãos, segue-se à secagem, iniciando pelas mãos; 2. Uma compressa estéril do lap de campos e aventais é utilizada; 3. Uma das faces da compressa é utilizada para a secagem de apenas um dos membros exposto à antissepsia. Realiza a secagem com movimentos compressivos; 4 e 5. Segue-se para os antebraços e cotovelos; 6. Dobra-se a compressa; 7. Após dobrada, a superfície da compressa que entrou em contato somente com as mãos (vermelho) seca o antebraço e cotovelos contralateral. Ao final, descarta-se a compressa utilizada na secagem posteriormente. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 19 Para calçar as luvas individualmente, primeiro é preciso abrir o invólucro em que estão contidas e pré-dobradas, a fim de ficarem expostas. Depois, pega-se pelo punho interno (por dobradura) das luvas com uma das mãos, introduzindo a outra mão dentro da luva que ficou exposta. Logo após, segura-se a outra luva, com a mão já vestida, pela prega externa pré-dobrada do punho, auxiliando para colocar a segunda luva. Depois que ambas as luvas foram calçadas, puxam as pregas, com o objetivo de cobrir os punhos, e posiciona a luva adequadamente nas mãos e nos dedos. É importante ressaltar que mesmo com as mãos escovadas não devem tocar a parte externa das luvas, pois isso gera pena de contaminação7. Figura 4 – Técnica para calçar as luvas cirúrgicas (estéreis) Fonte: Autor, 2020. Legenda: 1. Abertura da embalagem de luvas pela parte não estéril. Segura-se a aba do envelope que envolve a luva para se ter acesso a elas; 2. Com a mão oposta à mão a ser enluvada primeiramente, segura-se a luva por sua dobra externa (não estéril) e introduz-se a outra mão dentro da luva; 3. Calça-se a mão com a ajuda da mão ainda não enluvada; 4. Luvas calçadas. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 20 Após devidamente paramentado para o procedimento, as mãos devem permanecer entre a linha dos mamilos e do umbigo até o momento de entrar no campo cirúrgico, uma vez que as “áreas acima da linha do mamilo e abaixo do umbigo são consideradas contaminadas, mesmo com a paramentação tendo sido feita de forma adequada”. A realização de movimentos de grande amplitude deve ser evitada, cujo objetivo é diminuir os riscos de contaminação, pois sabe- se que o procedimento de escovação, a secagem das mãos e a vestimenta do indumentário cirúrgico é gradativa descontaminação, considerando estéril apenas a porção externa das luvas e o avental cirúrgico7. Técnicas de antissepsia: A antissepsia está relacionada à desinfecção química da pele, mucosa e outros tecidos vivos, possuindo objetivo semelhante à assepsia. Desse modo, a antissepsia é o conjunto de medidas com a finalidade de inibir o crescimento de micro-organismos ou removê-los de um ambiente através de sua remoção, ou não, porém para fazer isso é preciso fazer uso de antissépticos ou desinfetantes8. Corroborando, achados da literatura ressaltam que a antissepsia consiste na utilização de microbicidas sobre um determinado local com o objetivo de reduzir a quantidade de micro-organismos em sua superfície. Como exemplo desses produtos temos os álcoois, a clorexidina, os compostos de iodo, iodóforos e triclosan. Enquanto assepsia é o conjunto de medidas propostas para impedir a introdução de agentes patogênicos em um meio estéril9. O número de pessoas que entram e saem da sala de cirurgia deve ser reduzido, porém em ambientes de ensino é preciso que haja um maior número de assistentes, por isso os cuidados e as regras de antissepsia devem ser potencializados7. “Devem estar disponíveis no ambiente luvas estéreis e não estéreis (de procedimento) para evitar contaminações e para proteção individual. Além da equipe médica, a sala de cirurgia deve contar com instrumentador e profissional circulante de sala. Como regra para evitar contaminações inadvertidas, estes últimos devem ser encarregados da aberturado material esterilizado e zelo deste até a entrada do cirurgião após escovação. Desde então, mas com auxílio de toda equipe, é responsabilidade do cirurgião zelar pelo adequado andamento do procedimento”7. Após lavagem das mãos, um antisséptico adequado deve ser utilizado, a fim de exercer a atividade germicida sobre a flora cutâneo- mucosa em presença de sangue, soro, muco ou pus, sem irritar a pele ou as mucosas. Antes de fazer a punção lombar e a incisão cirúrgica, a pele do paciente é limpa com soluções antissépticas, cuja finalidade é diminuir os germes transitórios ou residentes na pele, diminuindo o risco de infecção da ferida cirúrgica. Ainda não sabe se possui um ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 21 antisséptico melhor do que o outro para realizar a prevenção anti-infecciosa. Dessa forma, para selecionar os diversos tipos de antissépticos, os médicos podem considerar outras características, como custos e possíveis efeitos colaterais5. De acordo com Do Vale et al. (p. 99, 2019), sabe-se que a atual preferência é o antisséptico alcoolizado, onde as soluções mais utilizadas são: “Soluções antissépticas com detergentes (degermantes) e se destinam à degermação da pele das mãos, realizando antissepsia parcial, através da solução iodada detergente de PVPI a 10% (1% de iodo ativo) ou da solução (biguanida) detergente de clorhexidina a 4 % com 4% de álcool etílico; Solução alcoólica para antissepsia das mãos, utilizando a solução de álcool iodado a 0,5 ou 1 % + álcool etílico a 70%, com ou sem 2 % de glicerina ou álcool etílico a 70% com ou sem 2% de glicerina”5. Corroborando com tais achados, estudos ressaltam a necessidade em realizar a degermação de mãos e antebraços, visto que na degermação diversas substâncias são indicadas, tais como os iodos formulados com detergente aniônico ou clorexidina a 2%, sendo realizados com escovas apropriadas. Dessa maneira, o uso desses antissépticos é recomendado a toda a equipe de saúde que estão trabalhando na sala de operação durante a cirurgia. Outrossim, nota-se que utilizar as luvas estéreis é uma ação complementar à antissepsia cirúrgica das mãos, atuando como barreiras aos micro-organismos10. Recomenda-se o preparo inicial da pele com solução alcoólica de clorhexidina ou PVPI, devendo-se esperar secar para então realizar o procedimento invasivo. Em função da latência bactericida, estas soluções alcoólicas devem permanecer em contato com a pele pelo menos três minutos. O antisséptico deve aplicado do centro para a periferia, de cima para baixo, atentando que a clorhexidina é incolor. Três camadas superpostas do antisséptico são aconselhadas. Culturas de biópsias de pele de região obtidas após a aplicação da solução antisséptica foram positivas em 32% para a PVPI, sendo 6% após a clorhexidina alcoólica. Sempre retirar o excesso de antisséptico (deixar secar) antes da punção raquídea, o que pode reduzir eventual injeção intratecal de antisséptico e com menor risco de cefaleia pós punção da dura mater. Uma revisão abrangente das evidênciasde conduta conservadora abordam pacientes: i) estáveis hemodinamicamente; ii) exame abdominal negativo para irritação peritoneal; iii) ausência de indicações precisas para laparotomia; iv) ausência de condições clínicas que aumentem o risco de sangramento; v) lesões esplênicas graus I a III (na escala da AAST). Esses pacientes devem ser internados em unidade de terapia intensiva e monitorados de 48 a 72 horas, em repouso com cateter nasogástrico posicionado, e com medidas seriadas do hematócrito e exames abdominais frequentes. Em contrapartida, a laparotomia exploradora está indicada em casos de: estabilidade hemodinâmica, porém com sinais de irritação peritoneal, instabilidade hemodinâmica com LPD ou FAST positivos e lesões esplênicas graus IV e V, de acordo com a AAST, e presença de coagulopatia. Figura 2: Baço retirado após lesão intensa do órgão e perda de função. Fonte: Arquivo pessoal do autor. 2- TRAUMA HEPÁTICO: O fígado é o segundo órgão mais acometido no trauma abdominal, logo, necessita de uma atenção maior. De acordo com dados do National Trauma Data Bank (NTDB), a mortalidade é de aproximadamente 19,1% quando se há acometimento hepático, haja vista a extensão de seu parênquima, sendo ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 213 assim, a investigação sistemática e o acompanhamento, são de extrema importância. O acometimento hepático é classificado de acordo com sua localização e dentro dessa classificação, as lesões I, II e III são ditas simples e correspondem a 80% dos casos. Há que se salientar que a mortalidade esta intimamente ligada a localização do acometimento, visto que veias hepáticas e veia cava inferior, quando acometidas, são sinais de gravidade para o quadro, com um pior prognostico. Classificação das lesões hepaticas: Grau I: Hematoma: Lesão subcapsular, 50% da superficie, ou expansivo, ou roto intra-parenquimatoso >10%, expansivo ou roto Laceração: >3cm de profundidade Grau IV: Laceração: Rotura do parenquima entre 25 a 75% de um lobo ou rotura de 1 a 3 segmentos num único lobo Grau V: Laceração: Rotura do parenquima >75% de um lobo hepatico ou de mais de 3 segmentos de um único lobo Vascular: Lesão de veia porta justa- hepatica, ou veias hepaticas centrais, ou lesão de cava retro-hepatica Grau VI: Vascular: Avulsão hepatica Na atualidade, devido aos avanços nas técnicas de imagem não-invasiva e um melhor entendimento da história natural do trauma hepático, pacientes com lesões hepáticas complexas estão sendo tratados, cada vez mais, conservadoramente. Sendo assim, quando o paciente que sofreu um trauma contuso é avaliado ele deve estar dentro de critérios que determinam a conduta não cirúrgica (tratamento conservador), sendo esses critérios: 1- Estar estável hemodinamicamente à admissão ou adquirida, após reanimação inicial, independentemente do grau e extensão da lesão, e sem sinais de peritonite; 2- Ausência de lesão intra e retroperitoneais (pâncreas e/ ou vísceras ocas). 3- Transfusão de sangue limitada a quatro unidades, especificamente para controle do sangramento de origem hepática. Após a avaliação o paciente deve ser acompanhado clinicamente, para que caso haja mudança no quadro, as medidas cabíveis sejam tomadas o quanto antes, posto que a complicação mais frequente é a hemorragia, com uma incidência que varia de 0 a menos de 3%. Dessa forma, estes pacientes devem ser mantidos em repouso absoluto por 5 dias, sendo as primeiras 48 horas em unidade de terapia intensiva e os dias restantes com ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 214 acompanhamento dos sinais vitais e solicitação de hematócritos seriados. É importante salientar que os candidatos a tratamento conservador apresentam sempre hemoperitônio que acarreta dor de pequena intensidade, com sensação de hipersensibilidade. Contudo, a intensificação progressiva da dor, constatada nos exames clínicos sequenciais, é sugestiva de lesão de víscera oca, com indicação para laparotomia. Em caso de descompensação de pacientes que estejam sendo mantidos sob avaliação clínica, uma tomografia deve ser realizada, para, assim, avaliar um possível extravasamento de contraste que justifique a piora do quadro. Atualmente, há uma classificação quanto a localização e a característica do extravasamento que facilita a abordagem. Quando o tipo 1 de extravasamento de contraste ocorre para a cavidade peritoneal, há indicação clara de laparotomia. No que se refere ao tipo 2, temos um quadro de hemoperitôneo com extravasamento de contraste para o parênquima hepático, sendo recomendado, na maioria dos casos, a realização de angiografia seguida de embolização. Quanto ao tipo 3, o extravasamento está presente no parênquima hepático, mas sem hemoperitôneo, sendo recomendada a angiografia. Para pacientes avaliados e com indicação de cirurgia, a abordagem dependerá da extensão da lesão, da localização e da gravidade do quadro, cabendo ao cirurgião a decisão. Entre algumas técnicas utilizadas, temos a aplicação de cliples cirúrgicos nos vasos sangrantes, suturas, colágeno microfibrilar, manobra de Pringle (clampeamento das estruturas do ligamento hepatoduodenal), entre outras. 3- TRAUMA DE INTESTINO DELGADO: Nos traumas fechados, as lesões das vísceras ocas apresentam uma menor incidência relativa, sendo mais frequentes no intestino delgado, seguindo-se no intestino grosso e estômago. Contudo, nas perfurações por armas de fogo, o intestino delgado é o órgão mais afetado, de acordo com o ATLS. Os mecanismos responsáveis por lesões ao intestino delgado variam desde compressão de alças, lacerações em pontos fixos, a ruptura de alça fechada por elevação da pressão intra- abdominal. Logo, a conduta e o prognostico dependeram de cada caso em particular. Pacientes que apresentam lacerações do intestino delgado e demonstram quadro de peritonite e/ou instabilidade hemodinâmica, nas horas subsequentes ao trauma, devem ser levados imediatamente ao centro cirúrgico e o diagnóstico será dado durante a laparotomia. Em contrapartida, em casos de trauma contuso com difícil diagnostico no exame físico, um raio-x deve ser solicitado para que se possa visualizar a existência ou não de ar fora de alça. Ademais, em caso de dúvida, pode-se solicitar uma TC de abdome que indicará líquido livre em caso de lesão. No que se refere ao procedimento cirúrgico, em casos tidos como mais simples, uma rafia das lacerações é feita ou, até mesmo, uma enterectomia, em casos de lesões em mais de 50% da circunferência da alça. 4- TRAUMA DE COLON E RETO: Normalmente as lesões que acometem colón e reto são ocasionadas por trauma penetrante abdominal, sendo o colón acometido em 36 a 40% das vezes. Ademais, as lesões contusas de cólon e reto são raras, representando cerca deatuais encontrou alguma evidência de que a preparação pré-operatória da pele com clorexidina a 0,5% em álcool etílico está associada a menores taxas de infecção cirúrgica após a cirurgia limpa do que a tintura de iodopovidona à base de álcool5. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 22 Paramentação: É necessário realizar cuidados, além dos padrões já realizados, pois a via de transmissão de patógenos ocorrem pelo ar, por contato direto ou indireto, dentre outros. Dessa maneira, para que sejam reduzidos os riscos de contaminação, a equipe de profissionais do centro cirúrgico deve se preocupar em usar toda a paramentação necessária, com a finalidade de “proteger a área a ser operada (sítio cirúrgico) da flora liberada pela equipe de saúde, que se defende também da exposição às secreções dos pacientes”4. Toda a paramentação do profissional deve ser realizada após a secagem das mãos, possuindo como objetivo a “criação de uma barreira física entre o campo operatório e os membros da equipe”, a fim de evitar a contaminação8. Diante desse cenário, a paramentação constitui-se de “propés, uniforme privativo (jaleco e calça), gorro, máscara, avental, luvas, campos da área cirúrgica e protetor ocular”4. Com isso, nota-se que a roupa cirúrgica é uma barreira oclusiva, mas não impermeável, devendo ser confortável e durável, além de utilizar toda a paramentação de maneira correta, onde a máscara faça a cobertura completa do nariz e da boca, além da utilização dos propés ou calçados cirúrgicos, pois estes protegem o ambiente do bloco cirúrgico dos micro-organismos hospitalares5. Outrossim, compreende-se que a paramentação de touca, jaleco e calça devem ser colocados no vestiário, enquanto os propés precisam ser calçados momentos antes de o profissional da saúde entrar na área restrita, já a máscara e os óculos devem ser colocados no momento da escovação11. O avental precisa ser colocado na área restrita, logo depois da degermação e secagem das mãos, para que depois sejam colocadas as luvas11. Ademais, é importante ressaltar que ao colocar o avental o profissional não pode tocar em nenhuma parte do lado externo dele, uma vez que ao tocar o avental na porção anterior, mesmo que as mãos estejam escovadas, é sinal de contaminação7. Dessa forma, é ideal que o avental cirúrgico tenha comprimento até os joelhos, a manga seja comprida e possua punho, deve-se realizar com amarraduras nas costas, e dobradura na técnica para que possa esterilizá-lo e utilizá-lo de novo6. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 23 Figura 5 – Paramentação do profissional no centro cirúrgico Fonte: Própria autora, 2020. Colocação de campos: Depois que ocorrer a paramentação e o paciente estiver antiassepsiado, deve-se iniciar a colocação dos campos operatórios, onde o instrumentador entrega ao cirurgião um dos campos maiores, sendo este desdobrado nas duas extremidades, com uma segurada pelo cirurgião e outra pelo auxiliar. Em média são utilizados cinco campos: a) inferior de proteção, b) lateral direito, c) lateral esquerdo, d) superior, e) inferior. Compreende-se que os campos cirúrgicos devem ser adequadamente fixados com pinça de Backaus, adesivo ou ponto cirúrgico6. A finalidade dos aventais e campos cirúrgicos é diminuir a contaminação da ferida operatória por bactérias e “impedir o contato da pele dos profissionais com o sangue e demais substâncias corporais que possam contaminá- los”. O uso de campos operatórios para proteção de pacientes contra possíveis infecções é muito comum nos centros cirúrgicos. Esses campos são considerados principais instrumentos de proteção ao paciente já que sua finalidade é criar e manter uma barreira antimicrobiana eficaz, evitando assim a passagem de micro-organismos de áreas não estéreis para áreas estéreis12. A colocação dos campos cirúrgicos vem antes de qualquer procedimento, onde o objetivo é preparar um local estéril ao redor do local a ser operado, além das mesas cirúrgicas. É importante que os campos estejam seguros sempre acima da altura da cintura, antes de serem colocados na região a ser operada, pois ao colocá-los ali, os campos não devem ser levados para mais perto da região a ser operada, visto que as suas extremidades estão abaixo do “nível estéril” e podem contaminar a área. Se isso acontecer, o aconselhado é que o campo seja substituído por outro, pois eles são considerados estéreis apenas na parte superior. Desse modo, “a interpretação das áreas estéreis e não estéreis é resultado de atenção e bom julgamento durante toda a cirurgia por todos os profissionais”. Quando finaliza a cirurgia, os ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 24 campos cirúrgicos não podem ser sacudidos ou arremessados pois são potenciais disseminadores de micro-organismos e sujidades8. Figura 6 – Colocação de campos cirúrgicos Fonte: Própria autora, 2020. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 25 REFERÊNCIAS 1. MARTINS, F.Z.; DALL’AGNOL, C.M. Centro cirúrgico: desafios e estratégias do enfermeiro nas atividades gerenciais. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 37, n. 4, p. 1-9, 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rgenf/v37n4/0102- 6933-rgenf-1983-144720160456945.pdf Acesso em 10 out. 2020. 2. GONÇALVES, M.K.S.; DE ARAÚJO, M.R.A.; DE SOUZA, M.F.; VASCONCELOS, M.P.S.; TAVARES, M.S.; DE ARAÚJO, M.S. et al. Revista Saúde em Redes, v. 2, n. 1, 2016. Disponível em: http://conferencia2016.redeunida.org.br/ocs/in dex.php/congresso/2016/paper/view/2820 Acesso em 15 out. 2020. 3. OLIVEIRA JÚNIOR, N.J.; DE MAGALHÃES, A.M.M. Introdução aspectos organizacionais em centro cirúrgico. In: Associação Brasileira de Enfermagem; VALE, E.G.; PERUZZO, S.A.; FELLI, V.E.A.; organizadores. PROENF Programa de Atualização em Enfermagem: Gestão: Ciclo 7. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2017, p. 9–46. (Sistema de Educação Continuada a Distância, v. 1). 4. REZENDE, C.; DA SILVA, T.B.; BUDIN, J.C.O. Avaliação microbiológica de superfícies inanimadas no centro cirúrgico de um hospital no noroeste paulista. Revista Brasileira Multidisciplinar, v. 21, n. 1, p. 55-64, 2018. 5. DO VALE, A.M.O.; DO VALE, D.B.; DO VALE, N.B. Plantão Noturno é determinante da Insônia Crônica do Anestesiologista? Abordagem Cronobiológica. Revista Potiguar de Anestesiologia, v. 59056, p. 38, 2019. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Antonio_ Vale/publication/332228884_Plantao_Noturno _e_determinante_da_Insonia_Cronica_do_An estesiologista_- _Abordagem_Cronobiologica/links/5ca74db1a 6fdcca26dff61a1/Plantao-Noturno-e- determinante-da-Insonia-Cronica-do- Anestesiologista-Abordagem- Cronobiologica.pdf#page=95 Acesso em 18 out. 2020. 6. MACHADO, J.S. 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Revista Científica da FMC, v. 14, n. 1, 2019. 10. FONTES, F.L.L.; MELO, M.M.; SOARES, J.C.; SANTOS, J.M.; FROTA, C.A.; DOS SANTOS, A.R.F.; et al. Contribuições da monitoria acadêmica em Centro Cirúrgico para o processo de ensino-aprendizagem: benefícios ao monitor e ao ensino. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 27, p. 1-6, 2019. 11. MORCHE, K.R.; BERTINATTO, R.J.; DE ALBUQUERQUE, B.Z.; ALVES, C.G.; DIAS, G.F.; CHIES, V.T.Z. Técnica operatória: conceitos básicos para acadêmicos. Acta Médica – Ligas Acadêmicas, v. 39, n. 1, 2018. 12. FURTADO, M.C.; MATOS, B.H.F. Análise da barreira de proteção dos campos cirúrgicos. Revista Científica Pro Homine, v. 2, n. 1, p. 44-52, 2020. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 27 Materiais cirúrgicos e montagem de mesa Nicolle Azevedo Valadares Capítulo 3 Materiais cirúrgicos e montagem de mesa 1. INTRODUÇÃO: O procedimento cirúrgico se realiza através de três operações fundamentais: a diérese dos tecidos, a hemostasia dos vasos sangrentos e a síntese que possibilita a cicatrização por primeira intenção. Para a execução de cada uma destas etapas utilizam- se instrumentos distintos e necessita-se de ordem e método para permitir ao cirurgião executar o procedimento com precisão e rapidez. Por isso o instrumental cirúrgico deve ser listado, preparado com antecedência, de acordo com o tipo de cirurgia a ser realizada e da preferência do cirurgião e, na sala cirúrgica, devem ser dispostos ordenadamente sobre uma mesa, de maneira padronizada, de acordo com as etapas da cirurgia [1]. Ou seja, materiais cirúrgicos é todo o conjunto de objetos, instrumentos e equipamentos que entram em contato direto ou indireto com a região operatória, utilizados para a execução de determinado procedimento cirúrgico [2], Tabela 1. Tabela 1: Características dos materiais cirúrgicos (Fonte: próprio autor, 2020) TIPO FUNÇÃO EXEMPLOS Diérese Corte, divulsão Bisturi, tesouras Preensão Segurar e suspender estruturas Pinças anatômicas e dente-de-rato Hemostasia Pinçamento de vasos Pinças hemostáticas (Kelly, Allis) Exposição/afastadores Afastamento de estruturas Afastadores (Farabeuf, Gosset, Doyen, Finocchietto) Especial Própria Pinça de Babcock Síntese União de tecidos Agulhas, fios, porta-agulhas ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 28 2. – MATERIAIS CIRÚRGICOS: 2.1 – DIÉRESE: A diérese consiste na divulsão dos tecidos e permite a exposição dos órgãos e estruturas [1]. Neste momento são usadas lâminas de bisturi, tesoura, bisturi elétrico. As principais manobras realizadas neste tempo, são: (1) incisão; (2) secção; (3) divulsão. [3] • Cabo de bisturi e lâmina: o tamanho e o formato das lâminas e dos colos dos cabos dos bisturis são adaptados aos diversos tipos de incisões, sendo principalmenteutilizados os cabos de número 3 e 4. O cabo nº 3 é destinado para lâminas pequenas, (10 a 15), em incisões mais delicadas. Já o cabo número 4 é destinado para lâminas maiores (20 a 25). Cabos tipo 3L e 4L completam a categoria e apresentam-se mais longos com o objetivo de cortes profundos [6]. • Tesouras • Tesoura de Metzembaum reta: é uma tesoura cirúrgica utilizada para cortar tecidos delicados. Existem de diversos tamanhos, podendo suas lâminas ser retas ou curvas, com tamanhos que variam de 14 a 26 cm [8]. Fonte: próprio autor, 2020 ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 29 • Tesoura de Mayo-Stille ponta romba: as tesouras de Mayo-Stille de ponta romba são comumente utilizadas na Cirurgia Geral para desbridar e cortar tecidos mais densos, como: fáscia e músculos. Podem ser retas ou curvas [8]. 2.2 – PREENSÃO E HEMOSTASIA: Os instrumentos de preensão auxiliam no manejo de materiais, na suspensão e segurança de vísceras e órgãos. São aqueles destinados a agarrar (segurar, apreender) tecidos [2]. A hemostasia visa estancar, temporária ou definitivamente, o sangramento dos vasos seccionados durante a diérese [1]. A hemostasia temporária ocorre quando o fluxo sanguíneo é reduzido ou suprimido temporariamente, durante o ato operatório. No caso da definitiva há a oclusão permanente do lúmen do vaso sangrento [5]. Existem quatro modelos básicos principais de pinças hemostáticas: • Pinça Halsted (mosquito): de tamanho pequeno e delicado, pontas finas. É usado para vasos, em estruturas orgânicas nobres e para pinçamento de fios finos para sutura [8]. Fonte: próprio autor, 2020 ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 30 • Pinça Kelly: reta ou curva; apresenta ranhuras transversais em 2/3 da garra, com 14 a 16 cm de comprimento. Possui pontas menores, sendo utilizada para pinçamento de vaso, fios grossos [8]. • Pinça Kocher: suas pontas são mais longas e robustas e possui dentes-de-rato, o que a torna mais traumática que as demais. É usada para pinçamentos transversais em tecidos ou pinçamento pela ponta para a tração de aponeuroses. Todas as pinças podem ser curvas ou retas, e possuem tamanhos variados [8]. Fonte: próprio autor, 2020 Fonte: próprio autor, 2020 ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 31 2.3 – EXPOSIÇÃO/AFASTADORES: Elementos mecânicos para afastar os tecidos seccionados ou separados, expondo os planos anatômicos ou órgãos subjacentes. São classificados como estáticos (autofixantes) ou dinâmicos (manuais) [6]. Os afastadores manuais são de posicionamento variado, alterado pela necessidade do momento operatório, já os estáticos mantêm uma posição predeterminada durante todo o procedimento operatório, sendo estes de grande valia quando há um número reduzido de assistentes que podem, então, assumir outros papéis dentro da cirurgia [6]. • Afastador de Farabeuf: Afastador dinâmico de mão, com hastes de comprimento e largura variadas constituídas basicamente de uma lâmina metálica dobrada no formato da letra “C”, usado para afastar pele, subcutâneo e músculos superficiais [8]. • Afastador de Finochietto: afastador estático utilizado em cirurgia do tórax para abertura dos espaços intercostais ou mediosternal, possuindo engrenagem em barra transversa [8]. Fonte: próprio autor, 2020 Fonte: próprio autor, 2020 ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 32 • Afastador Gosset: Afastador estático usado para afastar parede abdominal. Apresenta duas hastes paralelas apoiadas em uma barra lisa, sem mecanismo de catraca [8]. • Válvula de Doyen: Por apresentar-se em ângulo reto e ter ampla superfície de contato, a válvula é utilizada primordialmente em cirurgias abdominais [8]. 2.4 – ESPECIAL: • Pinças de campo (Backaus): têm pontas agudas ou dentes para fixar os panos de campo à pele, prender os campos entre si ou fixar objetos nos campos. Fonte: próprio autor, 2020 Fonte: próprio autor, 2020 ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 33 • Pinças ou clampes intestinais: pinças longas usadas aos pares. Promove hemostasia, evita a saída de conteúdo intestinal e apresentando as bordas para a sutura. Fonte: próprio autor, 2020 ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 34 • Pinças de preensão atraumáticas (Babcock, Duval): servem para a preensão de tecidos delicados ou vísceras. Possui ampla superfície de contato e com ranhuras, causando trauma mínimo aos tecidos. • Pinça de preensão traumática (Allis): possui maior poder de preensão por denteamento fino nas superfícies de contato. Fonte: próprio autor, 2020 ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 35 2.5 – SÍNTESE: A síntese visa reconstruir e restituir a integridade das estruturas, órgãos e tecidos que foram operados usando-se porta agulhas, pinças anatômicas e dente de rato, agulhas e fios cirúrgicos [1]. Outros materiais são utilizados também para a síntese, como: os grampos, cola cirúrgica e fitas adesivas [5]. O que se percebe é que as técnicas de suturas se complementam para um melhor resultado, não se limitando, muitas vezes, a apenas um método de síntese [3]. 2.6 – CONCLUSÃO: Os instrumentos cirúrgicos são caros e carecem de cuidados especiais em seu manejo, limpeza e armazenamento. É necessária a atenção do instrumentador para qualquer tipo de alteração do material cirúrgico, como a necessidade de limpeza, reparo ou rigidez das articulações [7]. Durante a cirurgia os instrumentos devem estar em boa ordem, essa é a função do instrumentador, que mantém a organização do material [5]. 3. MONTAGEM DE MESA: 3.1 – INTRODUÇÃO: A preparação da mesa consiste no ato de dispor os instrumentos cirúrgicos de forma lógica, de forma a racionalizar e tornar eficaz o trabalho da equipe cirúrgica. A mesa do instrumentador é retangular e geralmente mede 120x60cm. Fica ao lado deste mesmo, com todos os instrumentos dispostos na ordem em que serão usados durante a cirurgia [8]. Os instrumentos de todas as mesas vão atender a todo o ato operatório e deverão estar organizados e dispostos de tal forma que atendam aos tempos cirúrgicos e possíveis intercorrências [1]. Os instrumentos cirúrgicos são dispostos de maneira ordenada e lógica e acompanham os tempos da cirurgia [4]. Há diversas maneiras de dispormos o instrumental à mesa, entretanto, independentemente da maneira adotada deve-se saber que os procedimentos cirúrgicos se dividem em diérese, hemostasia e síntese. Esta compreensão ajudará o instrumentador a organizar de forma adequada o material [1]. A diérese refere-se a corte, abertura, divulsão de estruturas a ser operadas e aos principais instrumentos utilizados para diérese, que são: bisturi, cabo de bisturi, bisturi elétrico, ruginas, tesouras etc. [4]. A hemostasia pretende estancar sangramentos de forma temporária ou Fonte: próprio autor, 2020 ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 36 definitiva. Nesse tempo cirúrgico pode-se utilizar instrumentos como pinças de Kelly, pinças de Halsted, pinças de Crile etc. [4]. Já na etapa da síntese, o objetivo é a restauração da estrutura lesionadae os principais instrumento utilizados são: pinças, dente-de-rato, pinça anatômica, porta-agulha de Mayo Hegar comum, fios de sutura e agulhas [4]. Instrumentos auxiliares podem ser utilizados durante a cirurgia e, normalmente, variam de acordo com as especialidades cirúrgicas. Exemplos delas são: afastadores de Gosset, pinça de Pozzi, afastadores de Volkmann etc. [4]. 3.2 – DIVISÃO DA MESA EM 4 QUADRANTES 3. Quadrante distal superior (especiais): Panos de campo/ Backaus e Allis Compressas/ gases/ afastadores 4. Quadrante proximal superior (síntese): Porta-agulhas Agulhas e fios Pinças anatômicas e dente-de-rato 2. Quadrante distal inferior: Pinças (Kocher/ Kelly/ Halsted/ Rochester) 1. Quadrante proximal inferior: Bisturi Tesouras Metzebaum / Mayo Fonte: próprio autor, 2020. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 37 Seguindo a lógica dos tempos cirúrgicos, colocam-se os instrumentos de diérese no quadrante proximal inferior; os hemostáticos no distal inferior; os de síntese no proximal superior e, especiais, no distal superior. Gazes, compressas e instrumentos de maior porte podem se dispostos entre os quadrantes [3]. É indicado que instrumentos mais delicados e menores sejam colocados mais próximos do instrumentador. Por exemplo, pinças Halsted devem ser primeiramente dispostas que pinças de Allis [1]. Os bisturis, tesouras, bem como pinças hemostáticas, de preensão e especiais devem ficar dispostas com seus anéis para a porção superior da mesa, para possibilitar a correta empunhadura por parte do instrumentador quando for passar o instrumento ao cirurgião [3]. Os porta-agulhas se colocam com os anéis para baixo, segurando agulhas, com a ponta da agulha apontada para cima a fim de não furar o plano da mesa e não se contaminar [1]. Fonte: próprio autor, 2020 ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 38 2.1 – DIVISÃO DA MESA EM 6 QUADRANTES 4. Exposição afastadores 5. Especial 6. Síntese Porta-agulhas Agulhas e fios Pinças anatômicas e dente-de- rato 3. Hemostasia Pinças (Kocher/ Kelly/ Halsted/ Rochester) 2. Preensão pinças anatômicas com dente / sem dente 1. Diérese tesouras Metzebaum/ Mayo bisturi Fonte: próprio autor, 2020. O esquema apresentado acima é o de 6 campos. Há, entretanto, outras formas de dispor o material cirúrgico dentro de cada classificação maior e isto que dependerá do tipo de cirurgia e da preferência do cirurgião [2]. É importante salientar que esta é uma sugestão básica de montagem, não sendo regra para o instrumentador. Este deve sentir- se livre para montagem própria. O importante é facilitar e agilizar o trabalho de instrumentar [1]. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 39 REFERÊNCIAS 1. MORIYA T. e col. Instrumental cirúrgico. Ribeirão Preto, 2011. 2. DINIZ, Paula Galera. Apostila de técnica cirúrgica, 2005. 3. MARGARIDO, Nelson Fontana; TOLOSA, Erasmo Magalhaes Castro de. Técnica cirúrgica pratica. Técnica cirúrgica pratica [S.l: s.n.], 2001. 4. CIRINO, L. M. I. Manual de técnica cirúrgica para graduação. 1. ed. São Paulo: Sarvier, 2003. 5. BRITRO, Emyle de Souza; HOFFMAN, Itágores I. L. S. Coutinho. Manual Básico de Metodização cirúrgica. Palmas-TO, 2014. 6. MARQUES, R. G. Técnica Operatória e Cirurgia Experimental. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. 7. BROOKS, S. M. A Enfermagem na Sala de Cirurgia. 2. ed. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980. 8. GOFFI F. S. Técnica cirúrgica: bases anatômicas e fisiopatológicas e técnicas da cirurgia. 4ª ed. Rio de Janeiro: Atheneu; 2001 ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 40 Tipos de fios e agulhas e onde utilizar Maria Juliana Fávero Dias Capítulo 4 Tipos de fios e agulhas e onde utilizar - FIOS DE SUTURA Os fios cirúrgicos são materiais usados em uma técnica chamada sutura ou síntese (aquela parte da mesa que estudamos no capítulo de mesa cirúrgica). Suturas serão feitas tanto na síntese cirúrgica de tecidos (pele, músculos, mucosas, vasos ou até mesmo órgãos), quanto para homeostasia. Uma boa escolha do material a ser utilizado pode além de facilitar a realização do procedimento, ter também um resultado com maior excelência. A escolha correta do fio a ser utilizado pelo cirurgião é de extrema importância e vai variar de acordo com os fatores de influência como se é absorvível ou não, seu tempo de absorção, a espessura, a origem que pode ser sintética ou biológica, o tipo de tecido a ser suturado e seu tempo necessário para cicatrização, a elasticidade e força, se vai vir empregado isoladamente ou acompanhado de agulha, além da associação ao costume e bom senso do cirurgião. Este é um material de custo relativamente elevado, então antes da abertura do envelope deve se fazer uma correta escolha quanto ao tipo, calibre, comprimento. Então sempre que forem acompanhar um procedimento tomem cuidado quanto a isso. Para garantir uma escolha ideal deve se lembrar que o fio utilizado tem por sua vez manter uma força tensil em período adequado para área lesada cicatrizar o suficiente e assim manter sua própria resistência decorrente de estímulos mecânicos. Deve se levar em consideração que uma tenção exagerada do fio pode desencadear uma isquemia, por tanto cada região a ser suturada tem sua origem e espessura ideal. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 41 1.1- Características 1.1.1 - Força tênsil e risco de ruptura A força tênsil é determinada pela força necessária para quebrar o fio dividido pelo seu diâmetro, portanto esta força é quatro vezes maior quando se dobra o diâmetro do fio. De maneira geral tecidos com maior quantidade de fibras colágenas representam tecidos com maior resistência (como pele, fáscias, aponeurose e tendões) necessitando assim de fios com uma grande força tênsil, em contrapartida tecidos com grande vascularização (como peritônio, órgãos intra- abdominais, músculos, tecido gorduroso) tendem a cicatrizar mais rapidamente necessitando de fio com menor força tênsil. Para que o fio tenha uma força tênsil ideal, suas forças de tração e torção tem que ser o suficiente a não se romper na linha suturada, logo assim sua força de tração e torção tem que ser igual ou pouco maior que o tecido suturado onde sua deterioração ou absorção permaneça o tempo suficiente até a cicatrização, o que varia dependendo do tecido. 1.1.2 - Material ou origem A origem da matéria prima dos fios pode ser tanto biológica quanto de materiais sintéticos. A sua matéria prima vai interferir na força tênsil, segurança dos nos, flexibilidade, elasticidade, tempo de absorção ou deterioração, reação inflamatória provocada ao organismo, segurança dos nós, manipulação, custo entre outros. 1.1.3 - Comprimento Os comprimentos padronizados de fio são de 8 a 90cm, variando de acordo com a marca e o tipo de fio escolhido. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 42 1.1.4 - Calibre e diâmetro O diâmetro do fio é determinado em milímetros e expresso em zeros, e quanto menor o calibre do fio maior o número de zeros. Variando de 12-0 o fio mais fino até 7 o mais grosso. Então os fios de maior diâmetro/calibre são (1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7) e de menor diâmetro/calibre são (0de conduta conservadora abordam pacientes: i) estáveis hemodinamicamente; ii) exame abdominal negativo para irritação peritoneal; iii) ausência de indicações precisas para laparotomia; iv) ausência de condições clínicas que aumentem o risco de sangramento; v) lesões esplênicas graus I a III (na escala da AAST). Esses pacientes devem ser internados em unidade de terapia intensiva e monitorados de 48 a 72 horas, em repouso com cateter nasogástrico posicionado, e com medidas seriadas do hematócrito e exames abdominais frequentes. Em contrapartida, a laparotomia exploradora está indicada em casos de: estabilidade hemodinâmica, porém com sinais de irritação peritoneal, instabilidade hemodinâmica com LPD ou FAST positivos e lesões esplênicas graus IV e V, de acordo com a AAST, e presença de coagulopatia. Figura 2: Baço retirado após lesão intensa do órgão e perda de função. Fonte: Arquivo pessoal do autor. 2- TRAUMA HEPÁTICO: O fígado é o segundo órgão mais acometido no trauma abdominal, logo, necessita de uma atenção maior. De acordo com dados do National Trauma Data Bank (NTDB), a mortalidade é de aproximadamente 19,1% quando se há acometimento hepático, haja vista a extensão de seu parênquima, sendo ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 213 assim, a investigação sistemática e o acompanhamento, são de extrema importância. O acometimento hepático é classificado de acordo com sua localização e dentro dessa classificação, as lesões I, II e III são ditas simples e correspondem a 80% dos casos. Há que se salientar que a mortalidade esta intimamente ligada a localização do acometimento, visto que veias hepáticas e veia cava inferior, quando acometidas, são sinais de gravidade para o quadro, com um pior prognostico. Classificação das lesões hepaticas: Grau I: Hematoma: Lesão subcapsular, <10% da superficie Laceração: <1cm de profundidade no parenquima Grau II: Hematoma: Subcapsular entre 10 e 50% da superficie ou intra-parenquimatoso <10cm de diametro Laceração: 1 a 3cm de profundidade no parenquima <10cm de comprimento Grau III: Hematoma: Subcapsular >50% da superficie, ou expansivo, ou roto intra-parenquimatoso >10%, expansivo ou roto Laceração: >3cm de profundidade Grau IV: Laceração: Rotura do parenquima entre 25 a 75% de um lobo ou rotura de 1 a 3 segmentos num único lobo Grau V: Laceração: Rotura do parenquima >75% de um lobo hepatico ou de mais de 3 segmentos de um único lobo Vascular: Lesão de veia porta justa- hepatica, ou veias hepaticas centrais, ou lesão de cava retro-hepatica Grau VI: Vascular: Avulsão hepatica Na atualidade, devido aos avanços nas técnicas de imagem não-invasiva e um melhor entendimento da história natural do trauma hepático, pacientes com lesões hepáticas complexas estão sendo tratados, cada vez mais, conservadoramente. Sendo assim, quando o paciente que sofreu um trauma contuso é avaliado ele deve estar dentro de critérios que determinam a conduta não cirúrgica (tratamento conservador), sendo esses critérios: 1- Estar estável hemodinamicamente à admissão ou adquirida, após reanimação inicial, independentemente do grau e extensão da lesão, e sem sinais de peritonite; 2- Ausência de lesão intra e retroperitoneais (pâncreas e/ ou vísceras ocas). 3- Transfusão de sangue limitada a quatro unidades, especificamente para controle do sangramento de origem hepática. Após a avaliação o paciente deve ser acompanhado clinicamente, para que caso haja mudança no quadro, as medidas cabíveis sejam tomadas o quanto antes, posto que a complicação mais frequente é a hemorragia, com uma incidência que varia de 0 a menos de 3%. Dessa forma, estes pacientes devem ser mantidos em repouso absoluto por 5 dias, sendo as primeiras 48 horas em unidade de terapia intensiva e os dias restantes com ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 214 acompanhamento dos sinais vitais e solicitação de hematócritos seriados. É importante salientar que os candidatos a tratamento conservador apresentam sempre hemoperitônio que acarreta dor de pequena intensidade, com sensação de hipersensibilidade. Contudo, a intensificação progressiva da dor, constatada nos exames clínicos sequenciais, é sugestiva de lesão de víscera oca, com indicação para laparotomia. Em caso de descompensação de pacientes que estejam sendo mantidos sob avaliação clínica, uma tomografia deve ser realizada, para, assim, avaliar um possível extravasamento de contraste que justifique a piora do quadro. Atualmente, há uma classificação quanto a localização e a característica do extravasamento que facilita a abordagem. Quando o tipo 1 de extravasamento de contraste ocorre para a cavidade peritoneal, há indicação clara de laparotomia. No que se refere ao tipo 2, temos um quadro de hemoperitôneo com extravasamento de contraste para o parênquima hepático, sendo recomendado, na maioria dos casos, a realização de angiografia seguida de embolização. Quanto ao tipo 3, o extravasamento está presente no parênquima hepático, mas sem hemoperitôneo, sendo recomendada a angiografia. Para pacientes avaliados e com indicação de cirurgia, a abordagem dependerá da extensão da lesão, da localização e da gravidade do quadro, cabendo ao cirurgião a decisão. Entre algumas técnicas utilizadas, temos a aplicação de cliples cirúrgicos nos vasos sangrantes, suturas, colágeno microfibrilar, manobra de Pringle (clampeamento das estruturas do ligamento hepatoduodenal), entre outras. 3- TRAUMA DE INTESTINO DELGADO: Nos traumas fechados, as lesões das vísceras ocas apresentam uma menor incidência relativa, sendo mais frequentes no intestino delgado, seguindo-se no intestino grosso e estômago. Contudo, nas perfurações por armas de fogo, o intestino delgado é o órgão mais afetado, de acordo com o ATLS. Os mecanismos responsáveis por lesões ao intestino delgado variam desde compressão de alças, lacerações em pontos fixos, a ruptura de alça fechada por elevação da pressão intra- abdominal. Logo, a conduta e o prognostico dependeram de cada caso em particular. Pacientes que apresentam lacerações do intestino delgado e demonstram quadro de peritonite e/ou instabilidade hemodinâmica, nas horas subsequentes ao trauma, devem ser levados imediatamente ao centro cirúrgico e o diagnóstico será dado durante a laparotomia. Em contrapartida, em casos de trauma contuso com difícil diagnostico no exame físico, um raio-x deve ser solicitado para que se possa visualizar a existência ou não de ar fora de alça. Ademais, em caso de dúvida, pode-se solicitar uma TC de abdome que indicará líquido livre em caso de lesão. No que se refere ao procedimento cirúrgico, em casos tidos como mais simples, uma rafia das lacerações é feita ou, até mesmo, uma enterectomia, em casos de lesões em mais de 50% da circunferência da alça. 4- TRAUMA DE COLON E RETO: Normalmente as lesões que acometem colón e reto são ocasionadas por trauma penetrante abdominal, sendo o colón acometido em 36 a 40% das vezes. Ademais, as lesões contusas de cólon e reto são raras, representando cerca de <1% dos casos. ____________________ Habilidades Cirúrgicas – ISBN 978-65-87580-13-5 ___________________________ 215 É importante notar os segmentos do intestino grosso mais frequentemente acometidos, em ordem crescente: reto, sigmoide, cólon esquerdo, ceco, cólon direito e cólon transverso. Devido à grande presença de agentes infecciosos nas porções do cólon e do reto, o agravamento do quadro está intimamente ligado ao tempo para o início do procedimento cirúrgico, visto que o ideal