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Cefaleias na APS Abordagem na prática Bárbara Matos David Sarpa Romulo Caires ASPECTOS CHAVE ▪ Sintoma frequente na população, com grande impacto na qualidade de vida ▪ Cefaleia de tensão e enxaqueca fazem parte das cinco condições crônicas mais prevalentes (Global Burden of Disease) ▪ Cefaleia tipo tensão episódica é a cefaleia primária mais prevalente na população e enxaqueca é a segunda ▪ Maior ocorrência entre as mulheres CLASSIFICAÇÃO Primárias ▪ Enxaqueca ▪ Cefaleia tensional ▪ Cefaleia trigemioautonomica Secundárias ▪ Trauma canio/cervical ▪ Disturbio vascular crânio/cervical ▪ Uso de substância ou abstinência ▪ Infecção ▪ Alteração da homeostase ▪ Transtornos psiquiátricos ▪ Alt. Cranial, pescoço, olhos, orelhas, etc. ▪ Neuropatias SINAIS DE ALERTA ▪ Sinais sistêmicos: febre, rigidez de nuca, HIV, uso de drogas imunossupressoras, neoplasia ▪ Neurológico: presença de déficit focal, convulsão ou edema de papila ▪ Cefaleia que se inicia após os 50 anos ▪ Cefaleia que desperta o paciente pela dor (principalmente em crianças) ▪ Cefaleia de inicio súbito ou primeira cefaleia da vida ▪ Mudança do padrão de cefaleia previa, cefaleia refrataria ou progressiva. ▪ Uso de anticoagulantes (principalmente se cefaleia nova – risco de HSA) SINAIS DE ALERTA ▪ Antecedente de doença neoplásica maligna, DM ou AIDS ▪ Ocorrência no exercício, tosse, espirro, atividade sexual ou manobra de Valsalva ▪ Ocorrência na gravidez/pós parto ▪ Dor intratável ▪ Irradiação para pescoço SINAIS DE ALERTA • Thunderclap – Cefaleia de forte intensidade, normalmente caracterizada como a “pior da vida”, normalmente atribuída a HSA e Trombose Venosa Cerebral • Sinais de meningismo – Kernig, Brudzinski e Laségue positivos • Déficits neurológico súbito – HSA e AVCi COMO INVESTIGAR? ANAMNESE ▪ Inicio da dor ▪ Localização exata ▪ Duração ▪ Intensidade ▪ Fatores de melhora e piora ▪ Irradiação ▪ Periodicidade ▪ Medicamentos utilizados ▪ História familiar de cefaleia similar IMPORTANTE QUESTIONAR... ▪ Por que buscou atendimento agora? ▪ O início é recente? Quão recente? ▪ Periodicidade (número de crises por mês, por semana) ▪ Tempo de duração da crise (minutos, horas, dias) ▪ O que o indivíduo faz durante a crise? ▪ Impacto nas atividades de vida (trabalho, lazer, vida familiar) ▪ Quais medicações a pessoa usa e já usou? Com qual frequência? ▪ Apresenta-se bem entre as crises ou apresenta sintomas residuais ou persistentes (diários)? AVALIAR USO ABUSIVO DE ANALGÉSICOS... ● Define-se como uso por mais de 15 dias por mês nos últimos 3 meses ● Em caso de uso de triptanos ou medicações combinadas, considerar se uso por mais de 10 dias no mês, nos últimos 3 meses. EXAMES COMPLEMENTARES ● Cefaleias primarias não necessitam de confirmação laboratorial ou de exames de imagem, desde que exame neurológico normal ● Considerar solicitação de neuroimagem se: o Indivíduos com alteração do exame neurológico ou sinais de alerta o Cefaleia aguda de intensidade muito forte o Mudanças no padrão da cefaleia preexistente, com aumento da frequência e da intensidade da dor J.P.S, Masculino, 28 anos Paciente comparece em consulta de acolhimento referindo que há aproximadamente 6 meses tem episódios recorrentes de dor de cabeça intensa, que surgem de forma súbita, geralmente no início da manhã ou durante a noite. Caracteriza a dor como pulsátil, localizada geralmente no lado direito da cabeça, mas, em algumas ocasiões, também ocorre no lado esquerdo. Ele descreve a dor como "insuportável", de intensidade 8 a 9 em uma escala de 0 a 10. Refere quadro associado a náuseas intensas e, em alguns episódios, vômitos. Ele também nota uma sensibilidade extrema à luz e ao som, o que o faz buscar um local escuro e silencioso para se recuperar. Às vezes, ele percebe alterações visuais antes do início da dor, como manchas ou luzes piscando Refere que nos últimos 3 meses esse quadro vem ocorrendo, em média, 4 vezes na semana, chegando a passar as vezes 72h seguidas na vigência do quadro álgico. Refere múltiplas idas à emergência além do uso quase que diário de analgésicos e antinflamatórios, sem melhora total da dor, o que vem prejudicando a sua produtividade e, inclusividade, levando-o a faltar em seu trabalhos repetidas vezes. Paciente comparece em consulta de acolhimento referindo que há aproximadamente 6 meses tem episódios recorrentes de dor de cabeça intensa, que surgem de forma súbita, geralmente no início da manhã ou durante a noite. Caracteriza a dor como pulsátil, localizada geralmente no lado direito da cabeça, mas, em algumas ocasiões, também ocorre no lado esquerdo. Ele descreve a dor como "insuportável", de intensidade 8 a 9 em uma escala de 0 a 10. Refere quadro associado a náuseas intensas e, em alguns episódios, vômitos. Ele também nota uma sensibilidade extrema à luz e ao som, o que o faz buscar um local escuro e silencioso para se recuperar. Às vezes, ele percebe alterações visuais antes do início da dor, como manchas ou luzes piscando Refere que nos últimos 3 meses esse quadro vem ocorrendo, em média, 4 vezes na semana, chegando a passar as vezes 72h seguidas na vigência do quadro álgico. Refere múltiplas idas à emergência além do uso quase que diário de analgésicos e antinflamatórios, sem melhora total da dor, o que vem prejudicando a sua produtividade e, inclusividade, levando-o a faltar em seu trabalhos repetidas vezes. J.P.S, Masculino, 28 anos ENXAQUECA 01 ENXAQUECA ▪ Alta prevalência em mulheres na faixa de 30 a 50 anos ▪ Em crianças, é a cefaleia mais frequente ▪ Cinco estágios: ▪ Pródromo ▪ Aura ▪ Cefaleia ▪ Período de resolução ▪ Sintomas residuais ENXAQUECA ▪ Pródromo ▪ Até 24h do inicio da cefaleia ▪ Pode ocorrer: alteração de humor, irritabilidade, anorexia, náuseas, bocejo, compulsão por alimentos, dificuldade de concentração e raciocínio, retenção hídrica, fadiga, rigidez cervical, sensibilidade à luz e/ou som, visão borrada, bocejos e palidez. ENXAQUECA ▪ Aura (25% casos) ▪ Sintoma neurológico que antecede a cefaleia ▪ Alterações visuais (escotomas, perda de campo visual), sensitivas (formigamentos, parestesia) e raramente motoras (alteração de fala, fraqueza motora) ▪ Desenvolvimento gradual de 5 a 20 min, durando cerca de 1 hora ▪ Cessam com o aparecimento da cefaleia geralmente ENXAQUECA ▪ Crise ▪ Duração de 4 a 72h ▪ Geralmente unilateral, pulsátil ou latejante ▪ Acompanha náuseas, vômitos, fotofobia, fonofobia ▪ Piora com atividades habituais como caminhar e subir escadas ▪ Período de resolução e sintomas residuais ▪ Pode ocorrer vômitos e/ou sonolência ▪ Sintomas residuais: fadiga, fraqueza, dificuldade de concentração, confusão mental CRISES EM CRIANÇAS ● Em crianças é mais comum a dor bilateral ● Habitualmente é frontotemporal ● Cefaleia occipital em crianças é rara e demanda mais cautela no diagnostico Classificação da enxaqueca MIGRÂNEA SEM AURA ▪ Ao menos 5 crises com os seguintes critérios: ▪ Crises de cefaleia com duração de 4 a 72 horas (quando não tratadas ou tratadas sem sucesso) ▪ A cefaleia tem ao menos duas das características: o Localização unilateral o Qualidade pulsátil o Intensidade da dor de moderada a grave o Agravamento da dor por atividade física de rotina (andar ou subir escadas) ou gera evitação das atividades MIGRÂNEA SEM AURA ▪ Durante a cefaleia, apresenta pelo menos um dos critérios: o Náuseas e/ou vômitos o Fotofobia e fonofobia ▪ Não ser atribuível a outras causas ou tipos de cefaleia MIGRÂNEA COM AURA ▪ Ao menos 2 crises com os seguintes critérios: ▪ Presença de sintomas de aura totalmente reversível, definida por pelo menos, um dos seguintes critérios: o Sintomas visuais, incluindo presença de sinais positivos (luzes, pontos ou linhas brilhantes) e/ou negativos (perda da visão) bilateralmente o Sintomas sensoriais, incluindo achados positivos (picadas, agulhadas) e/ou negativos (parestesias) o Distúrbiosde fala ou linguagem o Sintomas motores (muito raro) MIGRÂNEA COM AURA o Sintomas de tronco cerebral (disartria, vertigem, zumbido, hipoacusia, diplopia, ataxia, redução do nível de consciência) o Sintomas retinianos (sintomas visuais unilateral) ▪ Ao menos 3 das seguintes: ▪ Um dos sintomas da aura se instala gradualmente (≥ 5 min) ▪ Dois ou mais sintomas de aura ocorrem em sucessão ▪ Cada um dos sintomas de aura dura entre 5 e 60 minutos ▪ Ao menos, um dos sintomas é unilateral (afasia sempre é considerado sintoma unilateral) MIGRÂNEA COM AURA ▪ Um dos sintomas é positivo (luzes, pontos ou linhas brilhantes) ▪ A cefaleia segue-se à aura dentro de 60 minutos ou menos ▪ Não ser atribuível a outras causas e outras cefaleias e houve exclusão de quadro de AIT MIGRÂNEA CRÔNICA ▪ Cefaleia com critérios de migrânea por ≥ 15 dias de dor por mês há mais de 3 meses, com características de enxaqueca por pelo menos 8 dias por mês ▪ Não ser atribuível a outras causas ▪ Principais fatores para essa evolução: obesidade, crises frequentes, uso excessivo de opioides, cafeína e barbitúricos, eventos estressantes de vida, depressão, distúrbios do sono e alodinia cutânea. Tratamento Enxaqueca NÃO FARMACOLÓGICO ▪ Importância do diário da cefaleia (identificação de fatores desencadeantes) ▪ Técnicas de relaxamento e controle do estresse ▪ Psicoterapia ▪ Fisioterapia CRISE AGUDA > 72H ▪ Dipirona + AINEs + sintomaticos ▪ Se não melhorar: Sumatriptano 25-100mg VO / 10-20mg (spray nasal) / 6mg (SC) ▪ Alternativa: associar dexametasona ou clorpromazina ▪ Caso não tenha melhora, avaliação neurológica 72H OU MAIS ▪ Dipirona + AINEs + Dexametasona + sintomaticos ▪ Se não melhorar: associar clorpromazina ▪ Caso não tenha melhora, avaliação neurológica ESTADO MIGRANOSO ● Crise de migrânea debilitante durando > 72h ● Pode frequentemente ser causada pelo uso excessivo de medicamentos PROFILÁTICO ▪ Recomendado se presença dos critérios: ▪ Frequência de três ou mais crises ao mês. ▪ Grau de incapacidade importante (mesmo se forem poucas crises). ▪ Falência da medicação de resgate. ▪ Subtipos especiais de enxaqueca: basilar, com aura prolongada, auras frequentes e atípicas e infarto enxaquecoso. ▪ Ineficácia da profilaxia não farmacológica quando esta tiver sido a opção inicial da pessoa. PROFILÁTICO ▪ Betabloqueadores ▪ Propranolol 40-240 mg/dia, divididos em 2-3 tomadas ▪ Atenolol 25-150 mg/dia, divididos em 1-2 tomadas ▪ Metoprolol 100-200 mg/dia, divididos em 1-2 tomadas ▪ Considerar em pacientes com HAS, arritmias ▪ Contraindicações: presença de BAVs, asma brônquica, DPOC PROFILÁTICO ▪ Antidepressivos ▪ Amitriptilina 12,5-75 mg/dia, geralmente em tomada única à noite ▪ Nortriptilina 10-75 mg/dia, geralmente em tomada única à noite ▪ Fluoxetina 10-20mg/dia tomada única ▪ Úteis no tto de enxaqueca com sintomas depressivos, insônia, absuso de analgésicos, alta frequência das crises... ▪ Contraindicações: presença de bloqueio de ramo esquerdo, IAM recente, intervalo QT prolongado, uso concomitante ou recente de IMAOs, prostatimso ou retenção urinaria. Pode causar hipotensão ortostática em idosos. PROFILÁTICO ▪ Anticonvulsivantes ▪ Acido valproico 500-1500mg/dia 2-3 tomadas ▪ Divalproato de sódio 500-1500mg/dia 1-2 tomadas ▪ Topiramato 25-100mg/dia 1-2 tomadas ▪ Ter cuidado com o valproato por efeito teratogênico, alopecia, tremor, e ganho de peso. ▪ Topiramato deve ser contraindicado em pacientes com antecedentes de glaucoma Atenção! Opioides não são opção para enxaqueca! Inclusive podem piorar os mecanismos da dor e podem causar dependência OBJETIVOS DA PROFILAXIA ▪ Tem como meta a menor frequência e intensidade das crises, mas que nem sempre se obtém sua cessação completa. ▪ Em geral, trata-se de um processo demorado até se identificar o fármaco profilático adequado ao indivíduo. ▪ A não resposta a um medicamento não significa uma falta de resposta a todos. ▪ A dose de medicação profilática que controlar a dor deve ser mantida por pelo menos 6 meses. Após, retirar lentamente o medicamento e observar a reação do paciente. M.S.P, Feminina, 32 anos HMA: Paciente comparece em consulta de rotina. Refere que há 4 dias iniciou quadro de cefaleia caracterizada como uma sensação de pressão ou aperto, geralmente no final da tarde, após seu expediente de trabalho. Descreve algia bilateral, na região frontal e nas têmporas, e sente como se uma faixa estivesse apertando sua cabeça. Nega característica pulsátil na dor. A intensidade varia de leve a moderada, mas se intensifica em momentos de estresse no trabalho. Ela observa que, ao final de um dia estressante, a dor fica mais intensa e dificulta a concentração. Nega piora ao realizar atividades físicas ou associação com náuseas, vômitos ou alterações visuais. Nega foto e fonofobia. Refere quadro recorrente, com periodicidade de “crises” como essa pelo menos a cada 2 meses, coincidindo com momentos de entrega de resultados no trabalho. AM: Relata história de ansiedade leve/moderada. Faz uso de sertralina 50 mg/dia M.S.P, Feminina, 32 anos HMA: Paciente comparece em consulta de rotina. Refere que há 4 dias iniciou quadro de cefaleia caracterizada como uma sensação de pressão ou aperto, geralmente no final da tarde, após seu expediente de trabalho. Descreve algia bilateral, na região frontal e nas têmporas, e sente como se uma faixa estivesse apertando sua cabeça. Nega característica pulsátil na dor. A intensidade varia de leve a moderada, mas se intensifica em momentos de estresse no trabalho. Ela observa que, ao final de um dia estressante, a dor fica mais intensa e dificulta a concentração. Nega piora ao realizar atividades físicas ou associação com náuseas, vômitos ou alterações visuais. Nega foto e fonofobia. Refere quadro recorrente, com periodicidade de “crises” como essa pelo menos a cada 2 meses, coincidindo com momentos de entrega de resultados no trabalho. AM: Relata história de ansiedade leve/moderada. Faz uso de sertralina 50 mg/dia CEFALEIA TENSIONAL 02 CEFALEIA TENSIONAL • Cefaleia mais frequente • Fisiopatologia incerta - Especula-se que a ação muscular seja o fator etiológico importante, com sensibilização periférica de nociceptores miofasciais • Geralmente dor de intensidade leve a moderada, que dura 30 min a vários dias CLASSIFICAÇÃO DA CEFALEIA TENSIONAL CEFALEIA TENSIONAL • Ao menos, 10 crises com frequência inferior a uma vez por mês ( 180 dias por ano) preenchendo os mesmos critérios. • Maior risco de cronificação: maior frequência dos episódios de crises agudas, obesidade, comorbidades psiquiátricas e doenças com dor crônica, distúrbios de sono (sobretudo apneia obstrutiva do sono [AOS]), consumo excessivo de café, baixa eficácia dos tratamentos prévios e altos níveis de estresse. Tratamento Cefaleia tensional NÃO FARMACOLÓGICO ▪ Identificacao de fatores desencadeantes ▪ Biofeedback eletromiográfico (A) ▪ Terapia cognitivo-comportamental (TCC) (C) ▪ treinamento de relaxamento (C) ▪ fisioterapia (C) ▪ Acupuntura(C) FARMACOLÓGICO • Analgésicos e de AINEs são geralmente suficiente para controle da crise • Não é recomendado o uso de opioides, triptanos e relaxantes musculares na cefaleia tipo tensão. C.E.M, Masculino, 40 anos Paciente comparece a consulta de rotina referindo que há aproximadamente 2 meses começou a ter episódios de dor intensa na região ao redor de um dos olhos, que surgem de forma abrupta, com duração de 30 minutos a 2 horas. A dor é descrita como uma sensação de "queimação" ou "perfurante", muito forte e de um lado da cabeça, geralmente do lado direito. Refere ainda seus olhos lacrimejam e seu nariz fica entupido no lado afetado. Descreve que as crises ocorrem em um padrão bem específico: elas aparecem cerca de 2 a 3 vezes por dia, em um período de 2 a 3 semanas consecutivas, seguidas por uma fase de remissão, onde ele fica livre de dor por semanas ou até meses. Ele nota que a dor geralmente começa à noite, entre 22h e 2h da manhã, acordando-o abruptamente durante o sono. Além da dor intensa ao redor do olho, ele também percebe que o olho fica avermelhado e há sensação de inchaço na região afetada. Durante as crises, ele fica agitado e sente necessidade de andar ou se mover, tentando aliviar a dor, mas sem sucesso. Carlos já procurou ajuda em emergências, onde foi medicado com analgésicos fortes, mas a dor só alivia parcialmente e retoma rapidamente. C.E.M, Masculino, 40 anos Paciente comparece a consulta de rotina referindo que há aproximadamente 2 meses começou a ter episódios de dor intensa na região ao redor de um dos olhos, que surgem de forma abrupta, com duração de 30 minutos a 2 horas. A dor é descrita como uma sensação de "queimação" ou "perfurante", muito forte e de um lado da cabeça, geralmente do lado direito. Refere ainda seus olhos lacrimejam e seu nariz fica entupido no lado afetado. Descreve que as crises ocorrem em um padrão bem específico: elas aparecem cerca de 2 a 3 vezes por dia, em um período de 2 a 3 semanas consecutivas, seguidas por uma fase de remissão, onde ele fica livre de dor por semanas ou até meses. Ele nota que a dor geralmente começa à noite, entre 22h e 2h da manhã, acordando-o abruptamente durante o sono. Além da dor intensa ao redor do olho, ele também percebe que o olho fica avermelhado e há sensação de inchaço na região afetada. Durante as crises, ele fica agitado e sente necessidade de andar ou se mover, tentando aliviar a dor, mas sem sucesso. Carlos já procurou ajuda em emergências, onde foi medicado com analgésicos fortes, mas a dor só alivia parcialmente e retoma rapidamente. CEFALEIA EM SALVAS 03 CEFALEIAS TRIGEMINIOAUTONOMICAS ▪ Caracterizada pela presença de sinais de ativação trigeminioautonomica o Rubor facial o Edema palpebral o Hiperemia conjuntival o Congestão nasal o Lacrimejamento o Rinorreia o Síndrome de Horner (semiptose e miose) ▪ Dor geralmente supraorbitária do mesmo lado dos sinais de ativação CEFALEIAS TRIGEMINIOAUTONOMICAS ▪ A mais comum: em salvas ▪ Mais comum em homens entre 20 a 40 anos ▪ Podem ocorrer de 1 a 8 vezes ao dia até dias alternados ▪ Duração de 15 a 180 minutos ▪ A dor é muito intensa e pode deixar o paciente MUITO inquieto ▪ Sintomas sempre do mesmo lado ▪ Dor orbital, supraorbital, temporal ou combinação dessas áreas ▪ Período das salvas = período de recorrência da dor com intervalos de melhora CEFALEIA EM SALVAS • Ao menos cinco crises preenchendo os critérios: • Dor forte ou muito forte unilateral, orbital, supraorbital e/ou temporal, durando 15-180 minutos (quando não tratada) • Um dos ou ambos os seguintes: • Ao menos um dos seguintes sintomas ou sinais, ipsilaterais à cefaleia: • injeção conjuntival e/ou lacrimejamento • congestão nasal e/ou rinorreia • edema palpebral • sudorese frontal e facial • miose e/ou ptose CEFALEIA EM SALVAS • sensação de inquietude ou de agitação (incapacidade de deitar; andar de um lado para o outro) • Ocorrendo com uma frequência entre uma a cada dois dias e oito por dia • Não explicada por outro diagnóstico Tratamento Cefaleia em salvas CEFALEIA EM SALVAS ▪ Oxigênio a 100% com mascara nasal com volume corrente 12- 15L/min durante 10-15 min ▪ Alternativa: Triptano nasal (10-20mg)/subcutâneo (6mg) ▪ Tratamento de transição: CEFALEIA EM SALVAS ▪ Uso de analgésicos e anti-inflamatórios são ineficazes ▪ O tratamento de transição é indicado para pacientes com ciclos curtos de cefaleia ou como ponte para ciclos mais longos, enquanto outros preventivos são ajustados ▪ Tratamento preventivo de longa duração: ▪ BCC (primeira escolha) – Verapamil 240-960mg 3x ao dia ▪ Ergometrina ▪ Litio ▪ Anticonvulsivantes (topiramato, valproato, gabapentina, etc) EFEITOS COLATERAIS DOS PROFILÁTICOS • Verapamil: hiperplasia gengival, constipação, cefaleia, edema, hipotensão. Entretanto, o efeito mais grave é o alongamento do intervalo PR, causando alterações na condução cardíaca. • Lítio: arritmia, confusão mental, letargia, alopecia, desconforto gastrointestinal, ataxia. M.S.S, Feminina, 34 anos Maria relata que, há aproximadamente 1 semana, começou a perceber uma dor constante na região da testa, na ponte do nariz e ao redor das maçãs do rosto. Ela descreve a dor como uma sensação de "pressão", que aumenta com a mudança de posição, como ao se abaixar ou ao deitar. A dor também piora no final da tarde e ao acordar de manhã. Refere que quadro iniciou com tosse seca, coriza e espirros há 1 semana, evoluindo com febre baixa (Refere Temp. aferida em 38,2 ºC). No momento, está com secreção nasal espessa, inicialmente amarela, e sente o nariz bastante entupido. Tem tido dificuldade para respirar, principalmente à noite, e já fez uso de descongestionantes nasais, mas sem grande alívio. Nos últimos dias, Maria também desenvolveu uma sensação de dor e pressão nos dentes superiores, como se estivesse com algum problema dentário. AM: Portadora de rinite alérgica, com crises recorrentes, porém sem tratamento específico ou acompanhamento regular. M.S.S, Feminina, 34 anos Maria relata que, há aproximadamente 1 semana, começou a perceber uma dor constante na região da testa, na ponte do nariz e ao redor das maçãs do rosto. Ela descreve a dor como uma sensação de "pressão", que aumenta com a mudança de posição, como ao se abaixar ou ao deitar. A dor também piora no final da tarde e ao acordar de manhã. Refere que quadro iniciou com tosse seca, coriza e espirros há 1 semana, evoluindo com febre baixa (Refere Temp. aferida em 38,2 ºC). No momento, está com secreção nasal espessa, inicialmente amarela, e sente o nariz bastante entupido. Tem tido dificuldade para respirar, principalmente à noite, e já fez uso de descongestionantes nasais, mas sem grande alívio. Nos últimos dias, Maria também desenvolveu uma sensação de dor e pressão nos dentes superiores, como se estivesse com algum problema dentário. AM: Portadora de rinite alérgica, com crises recorrentes, porém sem tratamento específico ou acompanhamento regular. CEFALEIAS SECUNDÁRIAS CEFALEIAS SECUNDÁRIAS ● Critérios diagnósticos: cefaleia que ocorre durante diagnostico de outro transtorno como capaz de gerar cefaleia. ○ Evidência de causalidade demonstrada por ao menos dois dos seguintes: ■ A cefaleia desenvolveu-se em relação temporal com o início do transtorno causal presumido ■ Um ou dois dos seguintes: a. cefaleia piorou, significativamente, em paralelo com a piora do transtorno causal presumido b. b. cefaleia melhorou, significativamente, em paralelo com a melhora do transtorno causal presumido CEFALEIAS SECUNDÁRIAS ● As cefaleias relacionadas à rinossinusite e a distúrbios de refração ocular são, em geral, menos frequentes do que a suspeita dos indivíduos e de clínicos gerais. ● Na ausência de sinais de alerta ou outros sinais e sintomas relacionados a outras doenças subjacentes, o diagnóstico inicial deve ser de cefaleia primária Para a urgência/emergência ▪ Suspeita de meningite ou encefalite.▪ Trauma craniano recente. ▪ Suspeita de hemorragia subaracnoide (HSA). ▪ Presença de doenças ou condições graves subjacentes, como neoplasias em tratamento ou prévia, gestação, uso de anticoagulantes. ▪ Confusão mental. ▪ Suspeita de glaucoma agudo. QUANDO REFERENCIAR? REFERENCES ● Comitê de Classificação das Cefaleias da Sociedade Internacional de Cefaleia; Classificação Internacional das Cefaleias. Fernando Kowacs (coordenador) ; tradução Fernando Kowacs, Djacir Dantas Pereira de Macedo, Raimundo Pereira da Silva-Néto. - 3. ed. - São Paulo : Omnifarma, 2018. ● GUSSO, Gustavo; LOPES, José MC, DIAS, Lêda C, organizadores. Tratado de Medicina de Família e Comunidade: Princípios, Formação e Prática. Porto Alegre: ARTMED, 2019. ● SPECIALI et al. Protocolo Nacional para diagnostico e manejo das cefaleias nas unidades de urgência do Brasil, 2018. Slide 1: Cefaleias na APS Slide 2: ASPECTOS CHAVE Slide 3: CLASSIFICAÇÃO Slide 4: SINAIS DE ALERTA Slide 5: SINAIS DE ALERTA Slide 6: SINAIS DE ALERTA Slide 7: COMO INVESTIGAR? Slide 8: ANAMNESE Slide 9: IMPORTANTE QUESTIONAR... Slide 10: AVALIAR USO ABUSIVO DE ANALGÉSICOS... Slide 11: EXAMES COMPLEMENTARES Slide 12: J.P.S, Masculino, 28 anos Slide 13: J.P.S, Masculino, 28 anos Slide 14: ENXAQUECA Slide 15: ENXAQUECA Slide 16: ENXAQUECA Slide 17: ENXAQUECA Slide 18: ENXAQUECA Slide 19: CRISES EM CRIANÇAS Slide 20: Classificação da enxaqueca Slide 21: MIGRÂNEA SEM AURA Slide 22: MIGRÂNEA SEM AURA Slide 23: MIGRÂNEA COM AURA Slide 24: MIGRÂNEA COM AURA Slide 25: MIGRÂNEA COM AURA Slide 26: MIGRÂNEA CRÔNICA Slide 27: Tratamento Slide 28: NÃO FARMACOLÓGICO Slide 29 Slide 30: CRISE AGUDA Slide 31: ESTADO MIGRANOSO Slide 32: PROFILÁTICO Slide 33: PROFILÁTICO Slide 34: PROFILÁTICO Slide 35: PROFILÁTICO Slide 36: Atenção! Slide 37: OBJETIVOS DA PROFILAXIA Slide 38: M.S.P, Feminina, 32 anos Slide 39: M.S.P, Feminina, 32 anos Slide 40: CEFALEIA TENSIONAL Slide 41: CEFALEIA TENSIONAL Slide 42: CLASSIFICAÇÃO DA CEFALEIA TENSIONAL Slide 43: CEFALEIA TENSIONAL Slide 44: CEFALEIA TENSIONAL Slide 45: CEFALEIA TENSIONAL FREQUENTE Slide 46: CEFALEIA TENSIONAL CRÔNICA Slide 47 Slide 48: Tratamento Slide 49: NÃO FARMACOLÓGICO Slide 50: FARMACOLÓGICO Slide 51: C.E.M, Masculino, 40 anos Slide 52: C.E.M, Masculino, 40 anos Slide 53: CEFALEIA EM SALVAS Slide 54: CEFALEIAS TRIGEMINIOAUTONOMICAS Slide 55: CEFALEIAS TRIGEMINIOAUTONOMICAS Slide 56: CEFALEIA EM SALVAS Slide 57: CEFALEIA EM SALVAS Slide 58: Tratamento Slide 59: CEFALEIA EM SALVAS Slide 60: CEFALEIA EM SALVAS Slide 61: EFEITOS COLATERAIS DOS PROFILÁTICOS Slide 62: M.S.S, Feminina, 34 anos Slide 63: M.S.S, Feminina, 34 anos Slide 64: CEFALEIAS SECUNDÁRIAS Slide 65: CEFALEIAS SECUNDÁRIAS Slide 66: CEFALEIAS SECUNDÁRIAS Slide 67: QUANDO REFERENCIAR? Slide 68: REFERENCES