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1 DIREITO EMPRESARIAL – PFN 2012 Perguntas e Respostas 1. Direito empresarial: origem, evolução histórica, autonomia, fontes e características. Teoria da empresa. Rubens (rubensqs@gmail.com) 2 2. Empresário: classificação; caracterização; inscrição; capacidade; requisitos necessários, impedimentos, direitos e deveres em face da legislação vigente. Edilvani (edilvani@gmail.com) 2 3. Sociedade empresária: classificação e características. Sociedades não personificadas, sociedade comum e em conta de participação; sociedades personificadas, sociedade simples, em nome coletivo, em comandita simples, limitada, anônima, em comandita por ações, cooperativa e coligadas. 6 5. O estabelecimento: conceito, natureza e sucessão. Andréia (andreiaricas@gmail.com) 10 6. Nome empresarial: natureza, espécies, características e requisitos legais. Andréia (andreiaricas@gmail.com) 12 7. Registro de empresas. Pedro Henrique (phribeiroadvogado@gmail.com) 14 8. Prepostos. Pedro Henrique (phribeiroadvogado@gmail.com) 14 9. Escrituração. Livros empresariais: espécies, requisitos e valor probante. 16 Guilherme (guilhermesaber@yahoo.com.br) 16 10. Contratos de Empresas: noções, requisitos, classificação, formação, meios de provas, contratos de compra e venda e de prestação de serviços, contratos de conta corrente, de abertura de crédito, de alienação e contrato de “leasing”. Anderson (as010585@gmail.com) 16 11. Responsabilidade dos Sócios e Administradores. Desconsideração da personalidade jurídica. Venina (nina_ufjf@yahoo.com.br) 18 12. Títulos de Crédito. Maria Carolina (mcv.carol@hotmail.com) 20 13. Falência. Recuperação judicial e extrajudicial. Intervenção e Liquidação extrajudicial. 24 Carol (carolstff@hotmail.com) 24 1. Direito empresarial: origem, evolução histórica, autonomia, fontes e características. Teoria da empresa. Rubens (rubensqs@gmail.com) P: O que é Comércio? R. Segundo Rubens Requião, o comércio pode ser entendido sob dois aspectos: o econômico e o jurídico. Do ponto de vista econômico, comércio é a atividade humana que visa colocar em circulação riquezas produzidas, aumentando-lhes a utilidade. Sob o viés jurídico, comércio é o complexo de atos de intromissão entre o produtor e consumidor que, exercidos habitualmente com fins de lucro, realizam, promovem ou facilitam a circulação de produtos da natureza e da indústria, para tornar mais fácil e pronta a procura e a oferta (definição clássica de Cesare Vivante). P: Qual o objetivo da atividade empresarial? R. O objeto da atividade empresarial pode ser a produção ou a circulação de bens ou serviços, não se falando atualmente na prática de atos de comércio. P: Em quais fases pode ser dividida a história do direito comercial/empresarial? R. Tradicionalmente, a doutrina divide o direito comercial em 3 fases: subjetiva, objetiva e da empresa. a) Subjetiva: era corporativista (séc. XII ao XVII), considerava-se comerciante aquele matriculado nas corporações de comércio. b) Objetiva: (séc. XVII ao XX) a lei indica o que é ato de comércio, considera-se o ato e não o sujeito, surgiu com o código comercial francês de 1808 (Napoleão), sendo adotado no Brasil pelo código comercial de 1850. c) Empresa: adotada inicialmente pelo código civil italiano de 1942, considera comércio qualquer atividade organizada para a produção e circulação de bens ou serviços, salvo as atividades intelectuais. É a teoria adotada pelo nosso atual CC. P: Defina a Teoria da Empresa e a Teoria dos Atos de Comércio. Qual das duas foi adotada pelo Código Civil de 2002? R. Pretendem, essas teorias, definir o que é a atividade mercantil. Segundo a teoria dos atos de comércio, comerciante é aquele que exerce os atos de comércio, que, por sua vez, são enumerados em lei. Já para a teoria da empresa, a atividade mercantil não é caracterizada pela prática de atos de comércio, mas sim pelo exercício profissional de qualquer atividade organizada, exceto atividade intelectual, para a produção ou circulação de bens ou serviços. O atual Código Civil adotou a teoria da empresa (art. 966), inovando em relação ao código comercial vigente desde 1850, que adotava a teoria dos atos de comércio. 2. Empresário: classificação; caracterização; inscrição; capacidade; requisitos necessários, impedimentos, direitos e deveres em face da legislação vigente. Edilvani (edilvani@gmail.com) P. Quem é o empresário, segundo o CC/2002? Explique o conceito. R. Segundo o art. 966 do CC/2002, “considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”. Profissional é aquilo que é habitual, que possui continuidade. A habitualidade se aplica ao empresário individual (pessoa física), ao empresário coletivo (chamado de sociedade empresária – pessoa jurídica) e à Eireli (empresa individual de responsabilidade limitada). Atividade econômica: significa finalidade lucrativa. Organização, para Fábio Ulhoa Coelho, é a reunião harmoniosa dos quatro fatores de produção, quais sejam, mão de obra, matéria prima (insumos), capital e tecnologia. Atualmente se diz que organização não é apenas contratar alguém; significa assumir o risco, ditar as regras, etc. Produção ou circulação de bens ou de serviços: demonstra a abrangência da “teoria da empresa”, de forma que qualquer atividade econômica, em princípio, pode se submeter ao regime jurídico empresarial, bem como que tais bens e serviços devem se destinar ao mercado, e não para consumo próprio. O parágrafo único do art. 966 não considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, mesmo com o concurso de auxiliares ou colaboradores, a menos que o exercício da profissão constitua elemento de empresa, ou seja, se a atividade intelectual estiver integrada em um objeto mais complexo, próprio da atividade empresarial. Além disso, o CC/2002 também não considera empresários a sociedade simples, a sociedade cooperativa e o exercente de atividade rural sem registro como empresário. P. Fale sobre a teoria poliédrica da empresa, relacionando-a com o conceito de empresa adotado no Brasil. R. Trata-se de uma teoria idealizada por Alberto Asquini, segundo a qual o fenômeno empresa possui quatro perfis: a) Perfil objetivo: empresa é o conjunto de bens. Ex.: a empresa pegou fogo. Mas o conjunto de bens hoje se chama estabelecimento empresarial. b) Perfil subjetivo: empresa é aquela que exerce a atividade. Ex.: meu pai foi contratado pela empresa. O direito brasileiro também não adotou esse perfil, porque aqui se chama empresário individual (pessoa física), sociedade empresária ou Eireli (pessoas jurídicas). c) Perfil corporativo (ou institucional): a empresa é uma instituição formada por um conjunto de pessoas com um objetivo comum; estuda os colaboradores da empresa, empregados que, com o empresário, envidam esforços à consecução dos objetivos empresariais. Há resquício desse aspecto no art. 7º, XI, da CF. d) Perfil funcional: adotado pelo direito empresarial, segundo o qual empresa é a atividade. P. Quais os tipos de empresário existentes? Diferencie-os. R. O empresário pode ser um empresário individual (pessoa física que exerce profissionalmente atividade econômica organizada) ou uma sociedade empresária (pessoa jurídica constituída sob a forma de sociedade cujo objeto social é a exploração de uma atividade econômica organizada). A grande diferença é que a sociedade empresária, por ser pessoa jurídica, tem patrimônio próprio, distinto do patrimônio dos sócios que a integram. Assim, os bens particulares dos sócios, em princípio, não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais (art. 1.024 CC); por isso, diz-se que a responsabilidade dos sócios é subsidiária, podendo, ainda, ser limitada. O empresário individual, por sua vez, não goza dessa separação patrimonial, respondendo com todos os seus bens, inclusive os pessoais, pelo risco do empreendimento; por isso, diz-se que sua responsabilidade é direta e ilimitada. devedor quanto ao preço, retira ao eventual crédito remanescente a característica de liquidez, e ao título dele representativo, em consequência, a qualidade de título executivo” (AgRg no Ag 696.783/MS e REsp 265256/SP). P: Quais são as espécies de leasing? R: De acordo com a Res. 2.309 do BACEN, existem duas espécies de leasing: financeiro e operacional. O financeiro é a modalidade típica de arrendamento mercantil, em que o bem arrendado não pertence à arrendadora, mas é indicado pelo arrendatário. No operacional o bem arrendado já é da arrendadora, que então apenas aluga ao arrendatário, sem ter o custo inicial da aquisição do bem, comprometendo-se também a prestar assistência técnica. Há ainda o leasing back, no qual o bem arrendado era de propriedade do arrendatário, que o vende à arrendadora para depois arrendá-lo, podendo, obviamente, readquirir o bem ao final do contrato, caso se utilize da opção de compra pagando o valor residual. 11. Responsabilidade dos Sócios e Administradores. Desconsideração da personalidade jurídica. Venina (nina_ufjf@yahoo.com.br) P: Como se classificam as sociedades quanto à responsabilidade dos sócios pelas obrigações sociais? R: Uma sociedade pode possuir autonomia patrimonial própria ou imprópria. Será própria quando os sócios tiverem responsabilidade limitada em relação às dívidas da Sociedade. Nesse caso, uma vez integralizado todo o capital social, somente o próprio patrimônio da sociedade, via de regra, irá responder pelas obrigações por ela contraídas, não havendo mais nenhuma responsabilidade por parte de seus sócios. Será imprópria nas situações em que os sócios respondem ilimitadamente pelas obrigações sociais se o patrimônio social não for suficiente para arcar com as dívidas assumidas, ainda que o capital social tenha sido totalmente integralizado. Nessa hipótese, o sócio assume integralmente os riscos da atividade. P: A desconsideração da personalidade jurídica é adotada em que situações? R: Tratando-se de uma sociedade capitalista, em que o risco é inerente a todas as atividades econômicas, fez-se necessário criar um mecanismo que protegesse o patrimônio particular daqueles que resolvessem investir na seara empresarial. Diante disso, surgiu o instituto da personalidade jurídica, através do qual a atividade empresarial pode se desenvolver, por meio de patrimônio próprio, constituído por integralização de seus sócios, e que deverá responder, em regra, pelas obrigações que contrair. No entanto, diante de situações em que a personalidade jurídica for indevidamente utilizada por seus sócios para praticar ilícitos, descumprindo a função social da empresa, caberá desconsiderá-la, de modo a atingir o patrimônio particular daqueles que agiram em contrariedade ao direito. Portanto, nota-se que a personalidade jurídica é a regra, sendo sua desconsideração medida excepcional. Assim sendo, a desconsideração da personalidade jurídica será adotada diante de situações em que se objetive reprimir o abuso na utilização da personalidade jurídica das sociedades, visando atingir o patrimônio pessoal de seus sócios. P: Quais as teorias sobre a desconsideração da personalidade jurídica? R: Existem duas teorias a esse respeito: Teoria Maior e Teoria Menor. A Teoria Maior versa que para que seja decretada a desconsideração, não basta a insuficiência patrimonial da Pessoa Jurídica, sendo necessário comprovar o motivo. É a teoria adotada pelo CC/02, que exige para que a desconsideração se efetive a ocorrência de abuso da personalidade (desvio de finalidade ou confusão patrimonial). Para o CC/02, a fraude não é motivo para a desconsideração da personalidade jurídica, contudo, é motivo aceito pela doutrina e pela jurisprudência. A Teoria Menor é aquela que não exige comprovação de motivo para que a desconsideração se opere, bastando a insuficiência patrimonial da pessoa jurídica. É a teoria adotada pelo Código de Defesa do Consumidor brasileiro. P: Qual a finalidade da desconsideração da personalidade jurídica? R: A desconsideração da personalidade jurídica não tem por finalidade a invalidação do ato constitutivo da sociedade, nem sua dissolução, mas a ineficácia de atos realizados por ela, que deverão ser imputados aos sócios que descumpriram a função social da empresa. A aplicação da desconsideração da personalidade jurídica teria por finalidade preservar a pessoa jurídica da ação deletéria e prejudicial dos sócios, coibindo a fraude, sem comprometer o próprio instituto da pessoa jurídica. P: Quais os requisitos para se efetivar a desconsideração da personalidade jurídica? (resposta retirada do Artigo “Requisitos para a desconsideração da personalidade jurídica no direito tributário brasileiro”, Revista da PGFN). R: Quanto aos requisitos para a desconsideração, há divergência na doutrina, destacando-se duas teorias: subjetiva e objetiva. Na formulação subjetiva, os requisitos para a desconsideração são a fraude e o abuso de direito. Na formulação objetiva, o requisito que fundamenta a desconsideração da personalidade jurídica é a confusão patrimonial. O código Civil de 2002 albergou as duas teorias (integralmente a objetiva e parcialmente a subjetiva – somente quanto ao abuso de direito) ao firmar a possibilidade de desconsideração da personalidade jurídica em razão de abuso de personalidade, caracterizado pelo desvio de finalidade e pela confusão patrimonial. P: A desconsideração da personalidade jurídica está sujeita a prazo? Qual seria a natureza desse prazo? R: A desconsideração da personalidade jurídica não está sujeita a nenhum prazo, podendo ocorrem a qualquer tempo, em qualquer fase do procedimento de conhecimento ou de execução. Não demanda citação dos sócios para tanto, a mera intimação deles é suficiente para que a desconsideração ocorra validamente. Ademais, não é necessária ação autônoma, bastando um mero incidente na ação principal para se efetivar a desconsideração. Caso houvesse um prazo, seria de natureza decadencial, visto tratar-se de direito potestativo. Se não houver prazo decadencial estabelecido para o exercício de um direito potestativo, considera-se que não há prazo para exercê-lo, que é o que ocorre no caso da desconsideração da personalidade jurídica. , P: É possível a utilização da teoria da desconsideração da personalidade jurídica em matéria tributária? (resposta retirada do Artigo “Requisitos para a desconsideração da personalidade jurídica no direito tributário brasileiro”, Revista da PGFN). R: Para uns, a teoria da desconsideração da personalidade jurídica no âmbito tributário seria inaplicável em razão da inexistência de expressa previsão legal (legalidade estrita). Para outros, a desconsideração da personalidade jurídica em matéria tributária seria plenamente aplicável, e se daria com fundamento no artigo 135 do CTN. Há julgados do STJ, inclusive, que versam que o primeiro diploma do direito pátrio a consagrar a teoria da desconsideração da pessoa jurídica foi o CTN, que prevê em diversas normas a possibilidade de afastamento de qualquer dificultador da identificação exata e clara do sujeito passivo do tributo, entre elas a hipótese de afastar a existência da pessoa jurídica que está a obstaculizar a tributação de pessoa física, efetivo sujeito passivo da obrigação tributária. Com o advento do CC/02 e de sua previsão expressa sobre a desconsideração da personalidade jurídica em seu artigo 50, alguns passaram a defender que a desconsideração da personalidade jurídica seria cabível em matéria tributária, desde que respeitados os pressupostos da lei civil (abuso de personalidade jurídica na forma de desvio de finalidade e confusão patrimonial). Por fim, ainda existem aqueles que entendem pela aplicabilidade da teoria da desconsideração da personalidade jurídica com fundamento em que o Direito deve reprimir o uso abusivo das estruturas jurídicas, mesmo sem norma expressa, pois este é um princípio basilar da Teoria Geral do Direito. P: A desconsideração da personalidade jurídica em matéria tributária deve observar os mesmos requisitos exigidos pelo artigo 50 do CC/02? (resposta retirada do Artigo “Requisitos para a desconsideração da personalidade jurídica no direito tributário brasileiro”, Revista da PGFN). R: Os requisitos para a desconsideração da personalidade jurídica em matéria tributária são determinados pelos princípios constitucionais, pela perspectiva sistêmica do ordenamento jurídico e pela essência da teoria da desconsideração da personalidade jurídica. Os requisitos previstos no artigo 50 do CC/02, ainda que de extrema importância para o entendimento do instituto, não devem obrigatoriamente ser observados em matéria tributária. Algumas situações, apesar de não estarem incluídas no disposto no CC/02, apesar de caracterizadoras de descumprimento da função social da empresa, são objeto de repressão pelo sistema jurídico, em especial pelo ordenamento tributário. Na seara tributária a desconsideração não decorre somente do abuso de personalidade, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, restando configurada também diante do uso da personalidade jurídica com o fim de atingir fins ilegítimos e ilegais. 12. Títulos de Crédito. Maria Carolina (mcv.carol@hotmail.com) P: O que é Título de crédito? R: Segundo Cesare Vivante, título de crédito é o documento necessário ao exercício do direito, literal e autônomo, nele mencionado”. O art. 887, do CC, reproduz este conceito. P: Que direito tem o adquirente de título de crédito dilacerado, mas ainda identificável? R: Segundo o art. 908 do CC, “O possuidor de título dilacerado, porém identificável, tem direito a obter do emitente a substituição do anterior, mediante a restituição do primeiro e o pagamento das despesas”. P: O que é o princípio da cartularidade ou incorporação do título de crédito? R: Esse princípio expressa que o exercício de qualquer direito representado no título pressupõe a sua posse legítima. Assim, o titular do crédito representado no título deve estar de posse do título, que se torna, pois, imprescindível para a comprovação da própria existência do crédito e da sua consequente exigibilidade. P: O que o princípio da literalidade do título de crédito? R: O princípio da literalidade significa que o título de crédito vale pelo que nele está escrito. Assegura-se às partes da relação cambial a exata correspondência entre o teor do título e o direito que ele representa. Em razão desse princípio, ademais, a quitação e demais formas de circulação do crédito devem constar no próprio documento (ex: endosso). P: O que é o princípio da autonomia do título de crédito? R: O princípio da autonomia consagra que o título de crédito configura documento constitutivo de direito novo, autônomo, originário e completamente desvinculado da relação que lhe deu origem. Vale dizer, o legítimo portador do título pode exercer seu direito de crédito sem depender das demais relações que o antecederam, estando completamente imune aos vícios ou defeitos que eventualmente as acometeram. P: O que é o princípio da abstração? R: O princípio da abstração expressa que há completa desvinculação do título em relação à causa que originou a sua emissão. Assim, quando o título circula, ele se desvincula da relação que lhe deu origem. Vale lembrar que a causa originária do negócio somente pode ser oposta entre credor originário e devedor, jamais em face de terceiro de boa-fé. P: Explique a inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé. R: A inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé é corolário do princípio da autonomia e confere, aos terceiros de boa-fé, a garantia de que eventuais exceções oponíveis em face do credor originário não lhe atingirão. Com efeito, sendo os títulos de crédito um instrumento de circulação da riqueza, sua função precípua ficaria mitigada caso fosse permitido ao devedor opor contra terceiros de boa-fé exceções relativas à relação jurídica originária. P: Como se classificam os títulos de crédito quanto à forma de transferência ou circulação? R: Quanto ao critério apontado, os títulos de crédito podem ser: a) ao portador, que são aqueles que circulam pela mera tradição; b) nominal, que identifica expressamente o seu titular (credor); e c) nominativos, que são aqueles emitidos em favor de pessoa determinada, cujo nome consta de registro específico mantido pelo emitente. P: Quanto aos títulos nominais, diferencie os títulos nominais à ordem do não à ordem. R: O título nominal identifica expressamente o seu titular (credor). A transferência de sua titularidade não depende apenas da entrega do documento (tradição), sendo necessário praticar um ato formal que opere a transferência. Nos títulos com cláusula à ordem a transferência se dá por endosso. Já nos títulos com cláusula não à ordem o ato de transferência é a cessão civil. P: Quanto ao modelo, como se classificam os títulos de crédito? R: Segundo o critério apontado, os títulos de créditos podem ser de modelo livre ou de modelo vinculado. Título de modelo livre é aquele para o qual a lei não estabelece uma padronização obrigatória, ou seja, a sua emissão não se sujeita a uma forma específica preestabelecida (ex: letra de câmbio e nota promissória). Já título de modelo vinculado se submete a uma rígida padronização fixada pela legislação cambiária específica, só produzindo efeitos legais quando preenchidas as formalidades legais exigidas (ex: cheque e duplicata). P: Quanto às hipóteses de emissão, como se classificam os títulos de crédito? R: quanto ao critério apontado, os títulos de crédito podem ser causais ou abstratos. Título causal é aquele que somente pode ser emitido nas hipóteses em que a lei autoriza a sua emissão. É o caso da duplicada que só pode ser emitida para documentar a realização de compra e venda mercantil ou contrato de prestação de serviços. O título de crédito abstrato é aquele cuja a emissão não está condicionada a nenhuma causa estabelecida em lei. Pode ser qualquer relação negocial. Exemplo: cheque, letra de câmbio e nota promissória. P: Título de crédito abstrato pode ser discutido no Judiciário? R: Sim, enquanto estiverem envolvidos apenas o sujeitos da relação originária. Isso porque, embora a abstração dos títulos crédito importe no reconhecimento de direito novo, autônomo, originário e completamente desvinculado da relação que lhe deu origem, tal abstração só acontece, verdadeiramente, quando o título circula, ou seja, só quando ele circula é que se desvincula da relação que lhe deu origem. Assim, entende-se que enquanto a relação cambiária é entre os próprios sujeitos que participam da relação que originou o título, existe uma vinculação entre esta relação e o título originário, ou seja, enquanto não circula a causa pode ser discutida. Após circular não pode mais discutir o negócio originário. Atenção: Após a prescrição o título perde cambiaridade, perdendo as suas características e dentre elas a abstração. Assim, para cobrar o título prescrito o credor deve demonstrar a origem da dívida. P: O que é aceite? R: O aceite é o ato pelo qual o sacado assume a obrigação cambial e se torna o devedor principal da letra (aceitante). Deve ser feito no próprio título por meio da expressão “aceito” ou “aceitamos”, seguindo-se da assinatura do sacado ou procurador com poderes especiais. Na letra de câmbio é facultativo, porém irretratável. A recusa do aceite provoca o vencimento antecipado do título. Pode haver o aceite parcial, que também levará ao vencimento antecipado, podendo ser cobrado totalmente do sacador. P: O que é endosso? R: O endosso é o ato cambiário mediante o qual o credor do título de crédito (endossante), que possui cláusula à ordem, transmite seus direitos a outrem (endossatário), colocando o título em circulação. O endosso produz dois efeitos: transfere o crédito e responsabiliza o endossante (salvo “cláusula sem garantia”). Deve ser feito no verso do título, caso contrário, deve conter menção expressa de que se trata de endosso. P: Diferencie endosso em branco e endosso em preto. O endosso em branco pode se tornar em preto e vice-versa? R: O endosso em branco é aquele que não se identifica o seu beneficiário, permitindo que o título circule ao portador. Já o endosso em preto identifica expressamente a quem está sendo transferida a titularidade do crédito. O beneficiário do endosso em branco pode tomar três atitudes: a) transformá-lo em endosso em preto completando-o com seu nome ou de terceiros; b) endossar novamente o título (em branco ou em preto); ou transferir o título sem praticar novo endosso (pema mera tradição). Por sua vez, o beneficiário do endosso em preto pode endossar o título em branco ou em preto. P: O que significa endosso impróprio? R: É considerado próprio o endosso que produz os efeitos de transferir a titularidade do crédito e responsabilizar o endossante como codevedor. O endosso impróprio não produz esses efeitos, tendo por finalidade apenas legitimar a posse de alguém sobre o título. Pode ser endosso-caução, que ocorre quando o endossante transmite o título como forma de garantia de uma dívida contraída perante o endossatário, ou endosso-mandato, por meio do qual o endossante confere poderes ao endossatário (geralmente uma instituição financeira) para agir como eu legítimo representante, exercendo em nome daquele os direitos constantes do título, podendo cobrá-lo, protestá-lo, executá-lo etc. P: O endossatário de título de crédito por endosso-mandato responde por protesto indevido do título? R: Segundo a Súmula 476 do STJ, o endossatário de título de crédito por endosso-mandato só responde por danos decorrentes de protesto indevido se extrapolar os poderes de mandatário. P: O endossatário de título de crédito contendo vício formal extrínseco ou intrínseco responde por danos decorrentes de protesto indevido? R: Segundo a Súmula 475 do STJ, responde pelos danos decorrentes de protesto indevido o endossatário que recebe por endosso translativo título de crédito contendo vício formal extrínseco ou intrínseco, ficando ressalvado seu direito de regresso contra os endossantes e avalistas. P: O que é endosso póstumo ou tardio? R: O endosso tardio ou póstumo é aquele feito após o protesto por falta de pagamento ou feito depois de expirado o prazo fixado para se fazer o protesto, não produzindo os efeitos normais de um endosso, mas sim de uma cessão civil de créditos. P: O que é aval? R: aval é o ato cambiário através do qual um terceiro (avalista) se responsabiliza pelo pagamento da obrigação constante no título. Em regra é lançado no anverso do título de crédito, bastando a assinatura do avalista. Caso seja dado no verso do título deve constar expressamente que se trata de aval. P: Como considero quando há vários avais lançados em um título? R: É necessário diferenciar avais simultâneos de avais sucessivos. Quando os avais são simultâneos (coavais) eles avalizam o título conjuntamente, garantindo a mesma obrigação. Os avalistas são vistos como uma só pessoa e assumem a responsabilidade solidária. Segue a regra civil, quem pagar o total pode cobrar do devedor principal toda a dívida, mas só pode cobrar a parte de cada avalista. Se os avais são sucessivos (aval do aval), um avalista avaliza o outro avalista (uma cadeia). O avalista do avalista tem a mesma obrigação do avalizado. Quem pagar toda a dívida tem direito ao regresso de total. P: Qual é a natureza jurídica do cheque? O que ele é? R: O cheque é uma ordem de pagamento à vista emitida por um banco em razão de fundos que uma pessoa (emitente) tem naquela instituição. É um título de crédito de modelo vinculado, pois só pode ser emitido por banco, em talonário específico, com numeração própria, seguindo os padrões do Banco Central. P: A duplicada emitida por meio magnético pode ser objeto de protesto? R: A lei não autoriza expressamente o protesto deste título por meio magnético. No entanto, existe o chamado protesto por indicações que é realizado quando há a retenção do título por parte do devedor (comprador). Nesse caso, sem a posse do título, o credor (vendedor) deve fornecer ao cartório as indicações deste, retira-das da fatura e do Livro de Registro de Duplicatas. Existem decisões judiciais que ampliam o protesto por indicação para os casos de duplicata magnética (virtual), é o caso do Resp 1024691 PR, publicado no DJe 12/04/2011, de relatoria da Min. Nancy Andrighi: EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. DUPLICATA VIRTUAL. PROTESTO POR INDICAÇÃO. BOLETO BANCÁRIO ACOMPANHADO DO COMPROVANTE DE RECEBIMENTODAS MERCADORIAS. DESNECESSIDADE DE EXIBIÇÃO JUDICIAL DO TÍTULO DECRÉDITO ORIGINAL. 1. As duplicatas virtuais - emitidas e recebidas por meio magnético ou de gravação eletrônica - podem ser protestadas por mera indicação, de modo que a exibição do título não é imprescindível para o ajuizamento da execução judicial. Lei 9.492/97. 2. Os boletos de cobrança bancária vinculados ao título virtual,devidamente acompanhados dos instrumentos de protesto por indicação e dos comprovantes de entrega da mercadoria ou da prestação dos serviços, suprem a ausência física do título cambiário eletrônico e constituem, em princípio, títulos executivos extrajudiciais. 3. Recurso especial a que se nega provimento. P: Distinga cédulas de crédito e notas de crédito. R: Cédulas de crédito e notas de crédito se distinguem basicamente em razão do fato de as cédulas de crédito serem providas de garantia real, incorporada à própria cártula, e as notas de crédito serem desprovidas de garantia, apenas gozando de privilégio especial sobre bens livres do devedor. P: O que é um cheque cruzado e visado? R: O cruzamento do cheque consiste na aposição de dois traços paralelos e transversais no anverso do título. O cheque cruzado só pode ser pago a um banco ou a um cliente do banco, evita o desconto na “boca do caixa”. Cheque visado é aquele em que o banco confirma, mediante uma assinatura no verso, a existência de fundos suficientes para pagamento do valor nele mencionado. Só pode receber o visto do banco o cheque nominativo que não foi endossado. P: É compatível caução em cheque (cheque caução)? R: Cheque caução é o cheque dado como garantia de pagamento posterior. Era comumente usado em hospitais para garantir o atendimento médico. O paciente deixava um cheque-caução em poder do hospital para ser atendido até regularizar pendências com plano de saúde. Ainda é utilizado como garantia em negócios. Contudo, esta prática descaracteriza a natureza do cheque, já que se trata de uma ordem de pagamento à vista e não uma promessa de pagamento (como por exemplo: a nota promissória). Como tem relação com o tema é bom lembrar que a Lei 12.653/2012 acrescentou o art. 135-A ao Código Penal criando o seguinte crimes: “Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. Parágrafo único. A pena é aumenta-da até o dobro se da negativa de atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte.” P: O banco pode descontar cheques apresentados pelo portador mesmo que sejam 'pré-datados'? R: Segundo a legislação (art. 32 da Lei do Cheque), o cheque será sempre uma ordem de pagamento à vista, devendo ser considerada não escrita qualquer menção em sentido contrário eventualmente colocado na cártula. Sendo, assim, na ótica civil/comercial, havendo saldo, um cheque pré-datado pode ser descontado ou devolvido, conforme o emitente possua ou não fundos suficientes para o seu pagamento. O banco não terá qualquer responsabilidade, no entanto, quando o titular do crédito apresenta o cheque para pagamento, antes do prazo, está quebrando um acordo e pode ser responsabilizado civilmente. A súmula 370 do STJ concretiza este entendimento: “caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado”. P: O aceite na nota promissória é imprescindível à validade do título? E na letra de câmbio? R: Na Letra de câmbio, o aceite é facultativo, porém irretratável. A falta do aceite não invalida o título, no entanto, com a recusa do aceite ocorre o vencimento antecipado do título, podendo o tomador cobrar imediatamente do sacador. Destacando que se o aceite for parcial, também gerará o vencimento antecipado de todo o crédito, podendo ser cobrado o valor total do sacador. Quanto à nota promissória, por se tratar de uma promessa de pagamento, ela não se submete ao aceite. 13. Falência. Recuperação judicial e extrajudicial. Intervenção e Liquidação extrajudicial. Carol (carolstff@hotmail.com) P: Qual é o juízo competente no que tange ao regime falimentar? R: O art. 3º da Lei 11.101/2005 estabelece que “É competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a recuperação judicial ou decretar a falência o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil”. De acordo com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, trata-se do local onde fica concentrada a administração da empresa- aspecto econômico (com o intuito de aproximar os livros e documentos contábeis do Juízo). Frise-se que tal competência é absoluta. P: Os sócios da sociedade falida são atingidos pelos efeitos da falência? O sócio de sociedade falida sofrerá os efeitos da falência a depender de sua responsabilidade como sócio. Se for ilimitada, decretada a falência da sociedade será também decretada a de seus sócios (artigos 81 e 190 da Lei n.º 11.101/2005). Já o sócio de responsabilidade limitada, em regra, não sofre os efeitos da falência (artigo 82). Excepcionalmente, sofrerá (duas hipóteses): • por ação ordinária de responsabilidade civil, que deve ser proposta em até dois anos após o encerramento da falência, perante o juízo da falência. O sócio não é declarado falido, apenas terá responsabilidade do ponto de vista patrimonial. • desconsideração da personalidade jurídica: dispensa incidente, ação própria ou que o sócio seja citado na fase de conhecimento. P: Quem são os excluídos da lei de falência? R: De acordo com o artigo 2º da Lei de Falências, tal lei não se aplica a: I- empresa pública e sociedade de economia mista; II– instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores. A empresa pública e a SEM são consideradas absolutamente excluídas do regime falimentar. Já os entes mencionados no inciso II são considerados relativamente excluídos do regime falimentar, pois, embora não possam pedir recuperação, podem falir, contudo, não por força da lei 11.101/05. P: Em que consiste o Juízo Universal da Falência? É o juízo indivisível da falência, que tem competência para processar e julgar “todas as demandas de interesse da massa” (Vis atrativa para todas as demandas de interesse da massa, que visa garantir o par conditio creditorium). Exceções: a) ações em que a massa é autora b) ações em curso antes da falência em que são demandadas quantias ilíquidas. c) toda matéria de conhecimento trabalhista é da competência da Justiça do Trabalho. Após a liquidação, cabe ao juízo universal da falência. d) artigo 187 do CTN: a cobrança judicial do crédito tributário não está sujeita ao concurso de credores nem a habilitação em falência. O crédito tributário é materialmente sujeito ao concurso, mas não é processualmente sujeito ao juízo universal. A Fazenda pode habilitar-se, mas não está obrigada. Portanto, pode habilitar-se em falência (esteja o crédito em execução ou não). P: Explique qual é a ordem de classificação dos créditos na falência: O artigo 83 da Lei n.º 11.101/05 estabelece a ordem de preferência dos créditos na falência. Importante ressaltar que o pagamento de cada um dos créditos mencionados nos incisos de tal dispositivo depende do exaurimento do pagamento do anterior. A ordem é a seguinte: I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e cinquenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de trabalho; (Observar que para os decorrentes de acidente de trabalho não há limite de valor). II - créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado; III – créditos tributários: independentemente da sua natureza e tempo de constituição, excetuadas as multas tributárias; IV – créditos com privilégio especial, a saber: a) os previstos no art. 964 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002; b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei; c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em garantia; V – créditos com privilégio geral, a saber: a) os previstos no art. 965 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002; b) os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei; c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária desta Lei; VI – créditos quirografários, a saber: a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo; b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento; c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo; VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias; As multas tributárias são sub-quirografárias. Em síntese, multa tributária, não importa a índole, é exigível em falência. As súmulas 192 e 565 do Supremo Tribunal Federal não são mais aplicáveis, pois a lei de falências expressamente determina que as multas tributárias são exigíveis. VIII – créditos subordinados, a saber: a) os assim previstos em lei ou em contrato; b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício. P: Uma empresa irregular está sujeita ao regime falimentar? Explique. R: Sim, inclusive pode requerer a autofalência (artigo 105,IV, da Lei 11.101/05). Contudo, sofrerá duas restrições por ser irregular: não poderá pedir recuperação judicial, pois esta pressupõe o registro regular há mais de dois anos, e não pode pedir a falência de terceiros. P: A Fazenda Pública possui legitimidade para requerer falência? O STJ tem diversos precedentes (REsp 164389/MG, DJ 16-08-2004; REsp 287824, DJ 20.02.2006) no sentido de que a Fazenda não teria legitimidade para pedir a falência do devedor, uma vez que a Fazenda possui meio próprio de cobrança (execução fiscal). Ademais, no caso de crédito tributário, este não se sujeita ao regime de concurso universal (arts. 186 e 187 do CTN). P: O deferimento da recuperação judicial suspende o curso da execução fiscal? R: Conforme prevêem o art. 6, § 7º, da Lei 11.101/2005 e os arts. 5º e 29 da Lei 6.830/1980, o deferimento da Recuperação Judicial não suspende o processamento autônomo do executivo fiscal. P: A apresentação de certidão negativa de débitos tributários constitui pressuposto para a concessão da recuperação judicial? R: O artigo 57 da Lei n.º 11.101/05 dispõe que “após a juntada aos autos do plano aprovado pela assembléia-geral de credores ou decorrido o prazo previsto no art. 55 desta Lei sem objeção de credores, o devedor apresentará certidões negativas de débitos tributários nos termos dos arts. 151, 205, 206 da Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966 - Código Tributário Nacional.” Sobre o tema, transcreve-se parte da ementa de recurso especial julgado pela primeira seção do Superior Tribunal de Justiça: PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO FISCAL (PENALIDADE ADMINISTRATIVA POR INFRAÇÃO À LEGISLAÇÃO TRABALHISTA). RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PREVENÇÃO. INOBSERVÂNCIA DO ART. 71, § 4º, DO RI/STJ. SUCEDÂNEO RECURSAL. NÃO-CONHECIMENTO. (...) 3. Conforme prevêem o art. 6, § 7º, da Lei 11.101/2005 e os arts. 5º e 29 da Lei 6.830/1980, o deferimento da Recuperação Judicial não suspende o processamento autônomo do executivo fiscal. 4. Importa acrescentar que a medida que veio a substituir a antiga concordata constitui modalidade de renegociação exclusivamente dos débitos perante credores privados. 5. Nesse sentido, o art. 57 da Lei 11.101/2005 expressamente prevê que a apresentação da Certidão Negativa de Débitos é pressuposto para o deferimento da Recuperação Judicial - ou seja, os créditos da Fazenda Pública devem estar previamente regularizados (extintos ou com exigibilidade suspensa), justamente porque não se incluem no Plano (art. 53 da Lei 11.101/2005) a ser aprovado pela assembléia-geral de credores (da qual, registre-se, a Fazenda Pública não faz parte - art. 41 da Lei 11.101/2005). 6. Conseqüência do exposto é que o eventual deferimento da nova modalidade de concurso universal de credores mediante dispensa de apresentação de CND não impede o regular processamento da Execução Fiscal, com as implicações daí decorrentes (penhora de bens, etc.). 7. Não se aplicam os precedentes da Segunda Seção, que fixam a prevalência do Juízo da Falência sobre o Juízo da Execução Comum (Civil ou Trabalhista) para dispor sobre o patrimônio da empresa, tendo em vista que, conforme dito, o processamento da Execução Fiscal não sofre interferência, ao contrário do que ocorre com as demais ações (art. 6º, caput, da Lei 11.101/2005). 8. Ademais, no caso da Falência, conquanto os créditos fiscais continuem com a prerrogativa de cobrança em ação autônoma (Execução Fiscal), a possibilidade de habilitação garante à Fazenda Pública a atividade fiscalizatória do juízo falimentar quanto à ordem de classificação dos pagamentos a serem feitos aos credores com direito de preferência. 9. Deve, portanto, ser prestigiada a solução que preserve a harmonia e vigência da legislação federal, de sorte que, a menos que o crédito fiscal seja extinto ou tenha a exigibilidade suspensa, a Execução Fiscal terá regular processamento, mantendo-se plenamente respeitadas as faculdades e liberdade de atuação do Juízo por ela responsável. 10. No caso concreto, deve ser ressaltada, ainda, a peculiaridade de que a decisão do Juízo que deferiu a realização de penhora on line na Execução Fiscal de multa trabalhista data de 15.1.2008, ao passo que a Recuperação Judicial foi deferida em 11.11.2008. 11. Constata-se que o presente Conflito foi utilizado como sucedâneo recursal, visando emprestar efeitos retroativos à decisão que deferiu a Recuperação Judicial, de modo a obter a reforma da decisão do Juízo da Execução Fiscal. 12. Agravo Regimental não provido. (AgRg no CC 112.646/DF, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 11/05/2011, DJe 17/05/2011) P: Quais requisitos devem ser preenchidos para que o devedor negocie o plano de recuperação extrajudicial? R: De acordo com o artigo 161 da LF, o devedor que preencher os requisitos para o requerimento da recuperação judicial (artigo 48) poderá propor e negociar com os credores plano de recuperação extrajudicial. P: Quais créditos estão excluídos do plano de recuperação extrajudicial: R: Nos termos do artigo 161, parágrafo primeiro, da LF, não estão abrangidos pelo plano os titulares de créditos de natureza tributária, derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidente de trabalho, assim como aqueles previstos nos arts. 49, § 3o, e 86, inciso II do caput, da Lei (credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio; importância decorrente do adiantamento do contrato de cambio para exportação). P: A sentença que homologa o plano de recuperação extrajudicial é título executivo? R: Sim. A sentença de homologação do plano de recuperação extrajudicial constituirá título executivo judicial, nos termos do artigo 161, parágrafo sexto, da Lei de Falência. P: Quais as modalidades de regime especial de insolvência a que podem ser submetidas as instituições financeiras e as instituições a elas equiparadas: R: São três as modalidades de regime especial que podem ser impostos às instituições financeiras ou a instituições a elas equiparadas: intervenção, liquidação extrajudicial e administração especial temporária (RAET). As duas primeiras são disciplinadas pela Lei nº 6.024, de 13.3.74, e a última pelo Decreto-lei nº 2.321, de 25.2.87. P: Explique o que é a intervenção nas instituições financeiras: R: A intervenção é uma medida administrativa, que objetiva sanar as dificuldades materiais da empresa. Pode ser autorizada quando ocorrer prejuízo decorrente de má administração que sujeite os credores a risco, ou infrações reiteradas à legislação bancária, ou, ainda, impontualidade injustificada ou ato de falência. A intervenção tem prazo de duração não superior a seis meses, podendo ser prorrogado, uma única vez, por mais seis meses a critério do BACEN. A intervenção é executada por um interventor nomeado pelo BACEN. P: Quais os efeitos da intervenção? R: 1. Suspensão da exigibilidade das obrigações vencidas; 2. Suspensão do prazo das obrigações vincendas contraídas; 3. Inexigibilidade dos depósitos já existentes à data de sua decretação. P: Quando cessará a Intervenção? R: De acordo com o artigo 7º da Lei n. 6.024/74, a intervenção cessará: a) se os interessados, apresentando as necessárias condições de garantia, julgadas a critério do Banco Central do Brasil, tomarem a si o prosseguimento das atividades econômicas da empresa; b) quando, a critério do Banco Central do Brasil, a situação da entidade se houver normalizado; c) se decretada a liquidação extrajudicial, ou a falência da entidade. P: Em que consiste a liquidação extrajudicial prevista na Lei n.º 6.024/74? R: "O escopo da liquidação extrajudicial", diz Rubens Requião, "é o saneamento do mercado financeiro e a proteção adequada dos credores. Aliás, a tranqüilidade e segurança do meio financeiro de determinada praça ou região, ou mesmo de todo o país, estão em relação direta à tranquilidade e segurança dos credores. Os credores intranquilos ou inseguros em seus direitos são os meios motores de todos os distúrbios do mercado" (Curso de Direito Falimentar, Saraiva, 2.ª edição, vol. 2, p. 204). A matéria está regulada na Lei n. 6.024, de 13 de março de 1974, que dispõe sobre a intervenção e a liquidação extrajudicial de instituições financeiras, verbis: Art. 1º. As instituições financeiras privadas e as públicas não federais, assim como as cooperativa de crédito, estão sujeitas, nos termos desta Lei, à intervenção ou à liquidação extrajudicial, em ambos os casos efetuada pelo Banco Central do Brasil, sem prejuízo do disposto nos artigos 137 e 138 do Decreto-lei n. 2.627, de 26 de setembro de 1940, ou à falência, nos termos da legislação vigente. As instituições financeiras federais não estão sujeitas à liquidação extrajudicial, porquanto a União, na qualidade de controladora dessas sociedades, deve proceder à sua liquidação ordinária, sempre que entender conveniente o encerramento das atividades por elas desenvolvidas. O Banco Central do Brasil é o órgão da administração indireta federal competente para decretar a liquidação extrajudicial das instituições financeiras (art. 15). Tal medida pode ser aplicada em função do comprometimento da situação econômica ou financeira da instituição, especialmente quando detectadas as anormalidades previstas na Lei n. 6.024/74 (art. 2º, I a III). A liquidação extrajudicial é desenvolvida sob o comando do liquidante nomeado pelo Banco Central, a quem a lei reserva amplos poderes de administração. P: Quais os efeitos da decretação da liquidação extrajudicial? R: A decretação da liquidação extrajudicial produzirá, de imediato, os efeitos previstos nas alíneas do art. 18 da Lei n. 6.024/74: a) suspensão das ações e execuções iniciadas sobre direitos e interesses relativos ao acervo da entidade liquidanda, não podendo ser intentadas quaisquer outras, enquanto durar a liquidação; b) vencimento antecipado das obrigações da liquidanda; c) não atendimento das cláusulas penais dos contratos unilaterais vencidos em virtude da decretação da liquidação extrajudicial; d) não fluência de juros, mesmo que estipulados, contra a massa, enquanto não integralmente pago o passivo; e) interrupção da prescrição relativa a obrigações de responsabilidade da instituição; f) não reclamação de correção monetária de quaisquer divisas passivas, nem de penas pecuniárias por infração de leis penais ou administrativas. P: Quais as hipóteses de cessação da liquidação extrajudicial? R: Nos termos do artigo 19 da lei já mencionada, a liquidação extrajudicial cessará: a) se os interessados, apresentando as necessárias condições de garantia, julgadas a critério do Banco Central do Brasil, tomarem a si o prosseguimento das atividades econômicas da empresa; b) por transformação em liquidação ordinária; c) com a aprovação das contas finais do liquidante e baixa no registro público competente; d) se decretada a falência da entidade. A liquidação extrajudicial determina a extinção da personalidade jurídica da instituição financeira e, quase sempre, importa na cessação da atividade econômica por ela desenvolvida, devendo, portanto, ser evitada, quando possível. A alternativa da falência deve ser adotada se o ativo não for suficiente para o pagamento de, pelo menos, metade do passivo quirografário ou se houver indícios de crime falimentar. Ressalte-se, por fim, que aplica-se subsidiariamente o disposto na LF à liquidação extrajudicial enquanto não aprovadas as respectivas leis específicas (artigo 197 da Lei n.º 11.101/05). 1. Direito empresarial: origem, evolução histórica, autonomia, fontes e características. Teoria da empresa. Rubens (rubensqs@gmail.com) 1 2. Empresário: classificação; caracterização; inscrição; capacidade; requisitos necessários, impedimentos, direitos e deveres em face da legislação vigente. Edilvani (edilvani@gmail.com) 2 3. Sociedade empresária: classificação e características. Sociedades não personificadas, sociedade comum e em conta de participação; sociedades personificadas, sociedade simples, em nome coletivo, em comandita simples, limitada, anônima, em comandita por ações, cooperativa e coligadas. 6 5. O estabelecimento: conceito, natureza e sucessão. Andréia (andreiaricas@gmail.com) 10 6. Nome empresarial: natureza, espécies, características e requisitos legais. Andréia (andreiaricas@gmail.com) 12 7. Registro de empresas. Pedro Henrique (phribeiroadvogado@gmail.com) 14 8. Prepostos. Pedro Henrique (phribeiroadvogado@gmail.com) 14 9. Escrituração. Livros empresariais: espécies, requisitos e valor probante. 16 Guilherme (guilhermesaber@yahoo.com.br) 16 10. Contratos de Empresas: noções, requisitos, classificação, formação, meios de provas, contratos de compra e venda e de prestação de serviços, contratos de conta corrente, de abertura de crédito, de alienação e contrato de “leasing”. Anderson (as010585@gmail.com) 16 11. Responsabilidade dos Sócios e Administradores. Desconsideração da personalidade jurídica. Venina (nina_ufjf@yahoo.com.br) 18 12. Títulos de Crédito. Maria Carolina (mcv.carol@hotmail.com) 20 13. Falência. Recuperação judicial e extrajudicial. Intervenção e Liquidação extrajudicial. 24 Carol (carolstff@hotmail.com) 24 P: Quais são as principais características de uma sociedade anônima? R: Destacam-se como principais características: sua natureza capitalista, sua essência empresarial, sua identificação exclusiva por denominação e a responsabilidade limitada dos seus sócios. São sociedades reguladas por lei específica, a Lei n 6.404/76, é sempre empresária, seu capital social poderá ser formado apenas por bens e dinheiro, e é dividido em ações que são entre si frações idênticas, correspondendo cada ação a uma fração exata do capital social. Possui feição eminentemente capitalista, ou seja, a entrada de estranhos ao quadro social independe da anuência dos demais sócios. Jamais poderá adotar firma social como espécie do seu nome empresarial, sendo obrigatório o uso da denominação social, pois tratando-se de sociedade essencialmente capitalista, melhor que não se identifique com a pessoa dos sócios. P: Como é a responsabilidade do acionista? R: É limitada ao preço de emissão de suas ações, o qual é pago por quem primeiro as adquire.Posteriormente, o acionista adquirente poderá transacionar essas ações com um terceiro por um preço diferente do valor que a adquiriu (maior ou menor, conforme o caso), sendo certo que dentro da companhia a ação continuará a ter o valor do preço de emissão. Diferentemente das limitadas, não há previsão de responsabilidade solidária quanto à integralização de todo o capital social. P: Como podem ser classificadas as sociedades anônimas? R: Podem ser classificadas em sociedade anônima de capital aberto ou fechado, bem como sociedade anônima de capital autorizado ou não autorizado. Não existe companhia mista, ou ela é aberta ou é fechada. P: Qual a diferença de uma sociedade de capital aberto para uma de capital fechado? R: Será considerada de capital aberto, a sociedade anônima cujos valores mobiliários são admitidos por meio de negociação em Bolsa ou mercado de balcão. Caso não sejam admitidos, será de capital fechado. P: Quais os três erros na seguinte frase: A sociedade anônima é de capital aberto quando tem ações em Bolsa? R: Primeiro, a palavra “Bolsa” deve ser substituída por mercado de valores mobiliários, já que Bolsa de valores retrata apenas uma possibilidade de negociação, existindo, ainda, o mercado de balcão. Segundo, não se deve falar em “ações”, pois estas são apenas um dos valores mobiliários negociáveis no mercado, sendo mais correto o uso do termo valores mobiliários, o qual abrange além das ações, debêntures, certificado de ações, bônus de subscrição, commercial paper, etc. Terceiro, deve-se substituir a palavra “tem” por está autorizada a negociar seus valores mobiliários. P: O que é uma sociedade anônima de capital autorizado? R: É aquela que possui uma pré-autorização em seu estatuto para realizar aumento de capital. Essa autorização conterá limites nos valores de capital para aumento, ou na quantidade de ações. Observado esses limites, o Conselho de Administração tem competência para realizar esses aumentos. A assembléia-geral também pode exercer essa função só que, na prática, não é razoável a sua convocação (em razão da demora que isso acarreta). Ressalte-se que o Conselho de Administração só é obrigatório no caso de sociedade anônima de capital autorizado. P: O que são bônus de subscrição? R: É um valor mobiliário que dá ao seu titular direito de preferência para adquirir novas ações, sendo negociável (logo, pode ser transmitido a outrem). Dá apenas o direito líquido e certo à preferência na aquisição da ação, não gerando expectativa de aquisição efetiva. Essa expectativa tem que ser minimamente esperada, portanto, só acontece nas de capital autorizado. P: É possível a emissão de ações ao portador ou endossáveis? R: Não. Com a entrada em vigor da Lei de identificação ao contribuinte, Lei n8.021/90, não mais de admite ações ao portador, nem tampouco endossáveis, pois estas serviam como burla a fiscalização tributária, visto que a titularidade dependia apenas de portar e a transferência era feita pelo mero endosso, os ganhos e perdas das operações, eram assim, facilmente não tributáveis. Dessa forma, as ações são sempre,necessariamente, nominais. P: Preço de emissão é o mesmo que valor nominal das ações? R: Não. O valor nominal é o resultado da divisão do valor do capital social pelas quantidades de ações. As ações podem ter valor nominal ou serem representadas por meio de fração do capital social. O mais comum é a emissão de ações sem o valor nominal, indicando apenas a fração social, já que uma eventual mudança no capital social não ocasionaria a substituição dos papéis das ações (a fração é sempre a mesma, independente do valor do capital social). O preço de emissão não se confunde com o valor nominal, inclusive, o preço de acionistas? R: É contrato celebrado entre os acionistas para decidir sobre compra e venda de suas ações, preferência para adquiri-las, exercício do direito a voto, ou do poder de controle. Deve estar arquivado na seda da companhia. É possível sua execução específica na forma do artigo 461 do CPC. P: Quais foram as principais alterações promovidas pela Lei 11.638/2007 à lei das S.A.? R: Surge da necessidade de inserir o Brasil nas normas internacionais de contabilidade, altera a própria maneira de pensar e na postura do profissional da contabilidade,visto que este deve ter como prioridade três regras: deve primar pela essência sobre a forma; primar pela análise de riscos e benefícios sobre a propriedade jurídica e adotar normas orientadas por princípios e julgamento e, não por regras detalhadas e formalizadas. Visou dar uma nova classificação do ativo, considerando que na realidade a diferença entre ativo circulante e não circulante cinge-se ao prazo de sua realização, razão pela qual se justificou a alteração do nome ativo permanente para não circulante, já que em termos econômicos e contábeis, todosos ativos, não importam suas espécies, são realizáveis em moeda. O ativo constitui as aplicações de recursos em bens, direitos da empresa que são possíveis de serem medidos monetariamente e geram benefícios. Uma mudança de vital relevância na estrutura do balanço patrimonial foi a divisão do ativo em dois grupos de contas, o circulante e o não circulante, corroborando com o processo de análise da posição financeira da empresa, já que a diferença entre o ativo circulante e o passivo circulante apresenta o capital circulante líquido da empresa, o qual possibilita analisar a sua capacidade de liquidar suas obrigações a curto prazo. Assim sendo, o ativo circulante agrega os valores realizáveis no exercício social subseqüente. De outro lado, o ativo não circulante agrega todos os bens que detém permanência duradoura e destinam-se ao funcionamento normal da sociedade, bem como os direitos exercidos com esse fito. O critério de classificação da conta como circulante ou não circulante tem como base o prazo de realização. São classificados como circulante os ativos realizáveis no curso do exercício ou no ciclo operacional quando este for maior. Todavia, após a mudança proposta, sua segregação será limitada ao espaço de tempo de doze meses, deixando de ser considerada a classificação em virtude do ciclo operacional. Com as alterações propostas pela Lei nº 11.638/07, o Ativo, que era dividido em circulante, realizável a longo prazo e permanente, e este último sub dividido em investimentos, imobilizado e diferido, limitar-se-á a dois grupos, o ativo circulante e o ativo não circulante, este dividido em realizável a longo prazo, investimentos, imobilizado, intangível e diferido.Observa-se, ainda, que as contas nesse grupo serão novamente dispostas em ordem decrescente de grau de liquidez, como era antes da nova lei.Diante da novel sistemática, constata-se que a atual legislação contábil visou uma nova classificação do ativo, considerando que na realidade a diferença entre ativo circulante e não circulante cinge-se ao prazo de sua realização, razão pela qual se justificou a alteração do nome ativo permanente para não circulante, já que em termos econômicos e contábeis, todos os ativos, não importam suas espécies (contas a receber, estoques, imobilizado e diferido, entre outros), são realizáveis em moeda. Além disso, observa-se que essa nova proposta de classificação vai ao encontro das normas internacionais, harmonizando com os países integrantes do Mercosul, cumprindo, nesse liame, com o objetivo da nova legislação contábil. No entanto, vale mencionar que o Enunciado 5 da I Jornada de Direito Comercial prevê que, quanto às obrigações decorrentes de sua atividade, o EI responderá primeiramente com os bens vinculados à exploração de sua atividade econômica. P. O que é Eireli e qual o seu tratamento jurídico no ordenamento brasileiro? R. A Eireli – empresa individual de responsabilidade limitada é uma nova categoria de pessoa jurídica, acrescentada aos arts. 44, VI, e 980-A do CC/2002. Assim, difere do empresário individual, que é uma pessoa natural (o fato deste possuir CNPJ tem fins estritamente fiscais). Responsabilidade: somente os bens da Eireli (pessoa jurídica) é que responderão pelas dívidas contraídas na atividade empresarial. As dívidas empresariais não recairão sobre os bens pessoais do seu titular; haverá separação do patrimônio. Formação: é uma pessoa jurídica constituída por um único titular, que deverá ser uma pessoa natural (IN 117 DNRC e Enunciado 468 do CJF: “A empresa individual de responsabilidade limitada só poderá ser constituída por pessoa natural”). Na doutrina, há dois posicionamentos sobre a classificação da Eireli, se seria sociedade unipessoal (aquela constituída por apenas um sócio - minoritária) ou uma nova pessoa jurídica de direito privado (pois a sociedade tem como regra ter dois ou mais sócios - majoritária) – neste último sentido, o Enunciado 469 CJF (“A empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI) não é sociedade, mas novo ente jurídico personificado”) e o Enunciado 3 da I Jornada Direito Comercial (“A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI não é sociedade unipessoal, mas um novo ente, distinto da pessoa do empresário e da sociedade empresária”). Capital mínimo: o titular deverá pagar, no ato da constituição (integralização), um capital mínimo não inferior a 100 SM. Formas de integralização: dinheiro, bens créditos, mas não é possível com a prestação de serviços. Enunciado 4 da I Jornada de Direito Comercial: “Uma vez subscrito e efetivamente integralizado, o capital da empresa individual de responsabilidade limitada não sofrerá nenhuma influência decorrente de ulteriores alterações no salário mínimo” e Enunciado 473 CJF: “A imagem, o nome ou a voz não podem ser utilizados para a integralização do capital da EIRELI”. Limitação de nº de Eireli por pessoa: somente uma por pessoa (por CPF). O titular de uma Eireli está impedido de constituir outra Eireli, mas poderá ser empresário individual ou sócio de uma sociedade empresária. Administrador: poderá ser o titular da Eireli ou um terceiro. Com base nesse posicionamento, há doutrina que afirma que o servidor público poderia constituir uma Eireli se o administrador for um terceiro – parte-se do pressuposto que a Eireli é uma sociedade. Porém, considerada como uma nova pessoa jurídica de direito privado e não sociedade, revela-se impossível que o servidor público seja o seu titular, vez que a lei somente o autoriza a ser sócio cotista ou acionista. Aplicação subsidiária: regras da sociedade limitada. Desconsideração da personalidade jurídica: caberá se presentes os requisitos do art. 50 do CC/2002. Por isso o § 4º do art. 980-A foi vetado. Enunciado 470 CJF: “O patrimônio da empresa individual de responsabilidade limitada responderá pelas dívidas da pessoa jurídica, não se confundindo com o patrimônio da pessoa natural que a constitui, sem prejuízo da aplicação do instituto da desconsideração da personalidade jurídica”. Por fim, vale mencionar que o legislador poderia ter simplesmente admitido a figura do empresário individual (pessoa natural) de responsabilidade limitada, ou, ainda, permitido a constituição de uma sociedade unipessoal. No entanto, a opção legislativa, ao instituir a Eireli, não seguiu nem em um, nem em outro sentido, criando uma nova pessoa jurídica de direito privado. P. Onde deve ser feito o registro do empresário? Ele é obrigatório? Qual a sua natureza jurídica? Quais as consequências da ausência de registro? R. O EI, a Eireli e a sociedade empresária devem ser registrados na Junta Comercial (art. 967 CC), sendo tal inscrição obrigatória. Obs.: Ver RE 199.793/RS sobre a competência da JF para a impetração de MS contra o registro. Quando se tratar de empresário de atividade rural, o registro é facultativo, para atender os dois lados da moeda (ex.: agricultor familiar e agroindústria). Só se aplicam as regras do direito empresarial a ele se fizer o registro (art. 971 CC). No que concerne à natureza jurídica do registro do empresário, há situações diferentes. Para o empresário comum e Eireli, o registro é mera condição de regularidade, ou seja, se faz o registro está regular, se não faz, está irregular, mas não deixa de ser empresário. Enunciado 198 do CJF: “A inscrição do empresário na Junta Comercial não é requisito para a sua caracterização, admitindo-se o exercício da empresa sem tal providência. O empresário irregular reúne os requisitos do art. 966, sujeitando-se às normas do Código Civil e da legislação comercial, salvo naquilo em que forem incompatíveis com a sua condição ou diante de expressa disposição em contrário” e Enunciado 471 CJF “Os atos constitutivos da EIRELI devem ser arquivados no registro competente, para fins de aquisição de personalidade jurídica. A falta de arquivamento ou de registro de alterações dos atos constitutivos configura irregularidade superveniente”. Já, para o empresário rural, o registro tem natureza constitutiva, pois só será considerado empresário se fizer o registro na JC. Enunciado 202 do CJF: “O registro do empresário ou sociedade rural na Junta Comercial é facultativo e de natureza constitutiva, sujeitando-o ao regime jurídico empresarial. É inaplicável esse regime ao empresário ou sociedade rural que não exercer tal opção”. Quando o registro for obrigatório e não for efetuado, o empresário não poderá participar de licitação, não poderá pedir falência de outrem (mas poderá pedir autofalência - art. 105, IV, Lei 11.101/05), não poderá pedir recuperação judicial (art. 48 da Lei 11.101/05), não obterá CND, e, tratando-se de sociedade ou Eireli, o respectivo sócio ou titular terá responsabilidade ilimitada (responderá com seus bens pessoais pelas dívidas empresariais). P. Quais requisitos a lei impõe para alguém ser empresário individual? Discorra sobre eles. (“1- Quem pode ser empresário? 2- Leia o artigo 972 do CC. 3- O condenado criminalmente com trânsito em julgado pode ser empresário? 4- O estrangeiro tem restrições? 5- Há compatibilidade entre o artigo 5º da CF para os estrangeiros residentes, e essas restrições acima citadas?” – Perguntas orais do 182º TJSP) R. Conforme o art. 972 do CC, “podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos”. Tais requisitos são cumulativos. Dessa forma, em regra, o incapaz não pode ser empresário individual. Porém, se estiver enquadrado nas hipóteses de emancipação, pode. Além disso, um menor de idade, bem como aquele que era capaz e adquire uma incapacidade superveniente, não podem iniciar uma atividade empresarial, mas podem continuar uma empresa antes exercida por seus pais, por ele mesmo ou o autor da herança (art. 974 CC), a fim de se preservar a empresa. Para isso, são necessários dois requisitos: a) o incapaz tem que estar devidamente assistido ou representado; b) deve haver autorização judicial, que pode ser revogada a qualquer tempo. Nesse caso, há um “patrimônio de afetação”, ou seja, “não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz já possuía, ao tempo da sucessão ou da interdição, desde que estranhos ao acervo daquela, devendo tais fatos constar do alvará que conceder a autorização” (art. 974, § 2º, CC). No que concerne aos impedimentos legais para ser empresário, não há previsão somente no CC, mas sobretudo em legislação esparsa. Podem ser mencionados: a) Membros do MP, magistrados, servidores públicos civis da ativa, servidores federais (inclusive Ministros de Estado e ocupantes de cargo público comissionado em geral) e servidores militares da ativa das Forças Armadas e das Polícias Militares: não podem exercer o comércio individual ou participar de sociedade comercial, salvo na condição de acionista ou cotista, obstada a função de administrador; b) Empresários falidos, enquanto não reabilitados (art. 195 LF); c) Leiloeiros (art. 36 do Decreto 21.891/32); d) Despachantes aduaneiros: não podem manter empresa de exportação ou importação de mercadorias, nem podem comercializar mercadorias estrangeiras no país (art. 10, I, Decreto 646/92); e) Cônsules, nos seus distritos, salvo os não remunerados (art. 11 Decreto 4.868/82 e art. 82 Decreto 3.529/89); f) Médicos, para o exercício simultâneo da farmácia, drogaria ou laboratórios farmacêuticos, e os farmacêuticos, para o exercício simultâneo da medicina (Decreto 19.606/31 c/c Decreto 20.877/31, e Lei 5.991/73); g) Não podem ser administradores os condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação (art. 1.011, § 1º, CC); h) Senadores, deputados federais e estaduais e vereadores não podem ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, nem exercer nela função remunerada ou cargo de confiança, sob pena de perda do mandato. Veja-se que a lei não estendeu a restrição aos Chefes do Poder Executivo e aos Ministros e Secretários de Estado, mas, dados os princípios do art. 37 da CF, devem-se aplicar tais restrições nas contratações públicas; i) Estrangeiros sem visto permanente estão impedidos de serem EI, mas não de participar de sociedade empresária no país. Os estrangeiros com visto permanente são impedidos de exercer pesquisa ou lavra de recursos minerais ou de aproveitamento dos potenciais de energia hidráulica; atividade jornalística ou de radiodifusão sonora e de sons e imagens, com recursos oriundos do exterior; atividade ligada, direta ou indiretamente, à assistência à saúde no país, salvo casos previstos em lei; serem proprietários ou armadores de embarcação nacional, inclusive nos serviços de navegação fluvial ou lacustre, exceto embarcação de pesca; serem proprietários ou exploradores de aeronave brasileira, ressalvado o disposto na legislação específica; j) Devedores do INSS (art. 95, § 2º, Lei nº 8.212/91). Por fim, o CC estabelece, no art. 973, que as obrigações contraídas por um “empresário” impedido não são nulas, tendo plena validade em relação a terceiros de boa-fé que com ele contratarem, mas este será responsabilizado por elas. P. O empresário individual casado tem algum tratamento diferenciado? O regime de bens influencia na gestão dos bens relacionados à atividade empresarial? R. O CC estabelece que “o empresário casado pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real” (art. 978). No entanto, situações patrimoniais do EI devem ser levadas a registro no registro público de empresas mercantis (Junta Comercial), a fim de dar publicidade a terceiros. Além disso, o divórcio ou o casamento também somente produzirão efeitos perante terceiros depois da averbação na Junta Comercial (arts. 979 e 980 CC). Calha mencionar, sobre o assunto, o Enunciado 6 da I Jornada de Direito Comercial, segundo o qual “o empresário individual regularmente inscrito é o destinatário da norma do art. 978 do Código Civil, que permite alienar ou gravar de ônus real o imóvel incorporado à empresa, desde que exista, se for o caso, prévio registro de autorização conjugal no Cartório de Imóveis, devendo tais requisitos constar do instrumento de alienação ou de instituição do ônus real, com a consequente averbação do ato à margem de sua inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis”. P. “Quais as obrigações comuns a todos os empresários? Há o dever de defender o meio ambiente”? (perguntas orais do 182º TJSP) R. Tanto o EI, quanto a sociedade empresária e a Eireli possuem obrigações comuns. O art. 967 do CC exige o registro na Junta Comercial (exceto para o empresário rural, para o qual o registro é facultativo). Também cabe a eles a escrituração dos livros empresariais; em especial, a do Livro Diário, previsto no art. 1.180 do CC. Todavia, para o pequeno empresário, mais conhecido na prática como microempresário individual (MEI), não há essa exigência, nos termos do art. 1. 179, § 2º, do CC. Nesse ponto, vale lembrar que deixar de escriturar os livros empresariais, quando obrigatórios, é crime falimentar (art. 178 da Lei 11.101/05). Existe ainda o dever de realização de balanços, sendo estes o patrimonial e o de resultado econômico. O primeiro, previsto no art. 1.188 do CC, apura o patrimônio, ou seja, ativo e passivo. O segundo (art. 1.189 do CC) apura o resultado, vale dizer, constata se houve lucros ou perdas. Além disso, os empresários devem “conservar em boa guarda toda a escrituração, correspondência e mais papéis concernentes à sua atividade, enquanto não ocorrer prescrição ou decadência no tocante aos atos neles consignados” (art. 1.194do CC). Por fim, fala-se no dever do empresário de cumprir a função social da empresa, o que, em termos práticos, corresponde à observância dos princípios que regem a ordem econômica, previstos no art. 170 da CF: soberania nacional, propriedade privada, função social da propriedade, livre concorrência, defesa do consumidor e do meio ambiente, redução das desigualdades sociais e regionais, busca pelo pleno emprego e tratamento favorecido às empresas de pequeno porte. Dessa forma, também é dever do empresário adotar práticas que visem à conservação do meio ambiente, em todas as suas formas (natural, artificial, do trabalho e cultural). 3. Sociedade empresária: classificação e características. Sociedades não personificadas, sociedade comum e em conta de participação; sociedades personificadas, sociedade simples, em nome coletivo, em comandita simples, limitada, anônima, em comandita por ações, cooperativa e coligadas. P: Qual a diferença entre sociedade simples e sociedade empresária? R: Sociedade é a pessoa jurídica de direito privado que tem finalidade lucrativa. As sociedades simples são as que não exploram atividade empresarial, mas civil. As sociedades empresárias são as que exploram atividade empresarial. O art. 982 do CC, por sua vez, chama de empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro, e simples, as demais. O parágrafo único do mesmo dispositivo ressalva que, independentemente do seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações, e simples, a cooperativa. P: Como se classificam as sociedades empresárias quanto à responsabilidade dos sócios, quanto ao regime de constituição e dissolução e quanto à composição? R: Quanto à responsabilidade dos sócios, as sociedades podem ser de responsabilidade ilimitada (exemplo: sociedade em nome coletivo), de responsabilidade limitada (exemplos: SA e LTDA) ou mista (exemplos: comandita simples e comandita por ações). Nas sociedades de responsabilidade limitada, o patrimônio pessoal dos sócios não pode, em princípio, ser executado para satisfação dos débitos sociais. Sendo possível executar o seu patrimônio pessoal, eventualmente, haverá um limite de responsabilidade. Nas sociedades de responsabilidade ilimitada, esgotado o patrimônio da sociedade, os credores podem executar todo o restante da dívida social no patrimônio dos sócios, sem limite. Quanto ao regime de constituição e dissolução, as sociedades podem ser contratuais (exemplo: LTDA), que são constituídas por um contrato social e dissolvidas segundo as regras previstas no CC, ou institucionais (exemplo: SA), que são constituídas por um ato institucional ou estatutário e dissolvidas segundo as regras da Lei 6.404/76. Quanto à composição (ou quanto às condições de alienação da participação societária), as sociedades podem ser de pessoas (intuitu personae – levam-se em conta os atributos dos sócios) ou de capital (intuitu pecuniae – somente se considera a contribuição financeira). P: É possível a sociedade entre cônjuges? R: O CC admite, em seu art. 977, a contratação de sociedade entre cônjuges, desde que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação obrigatória. O dispositivo é bastante criticado pela doutrina, mas a lógica da proibição é que a possibilidade de contratação de sociedade entre cônjuges casados sob um desses dois regimes de bens poderia de certa forma transmudar o regime matrimonial adotado. Já foram editados dois enunciados das Jornadas de Direito Civil para esclarecer a regra. O Enunciado 204 diz que: “A proibição de sociedade entre pessoas casadas sob o regime da comunhão universal ou da separação obrigatória só atinge as sociedades constituídas após a vigência do Código Civil de 2002”. Por sua vez, o Enunciado 205 enuncia: “Adotar as seguintes interpretações ao art. 977: (1) a vedação à participação de cônjuges casados nas condições previstas no artigo refere-se unicamente a uma mesma sociedade; (2) o artigo abrange tanto a participação originária (na constituição da sociedade) quanto a derivada, isto é, fica vedado o ingresso de sócio casado em sociedade de que já participa o outro cônjuge”. P: Qual teoria da desconsideração da personalidade jurídica foi adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro? R: A doutrina aponta duas grandes teorias a respeito da desconsideração: a maior e a menor. A teoria maior da desconsideração é a concepção clássica, segundo a qual a superação do ente legal só é possível quando constatado o uso abusivo da pessoa jurídica. Segundo a concepção subjetivista da teoria maior, exige-se a demonstração inequívoca de uma intenção de prejudicar os credores. De acordo com a concepção objetivista da teoria maior, impõe-se a constatação de desvio de finalidade no uso da pessoa jurídica ou de confusão patrimonial. A teoria maior só admite a desconsideração quando há a demonstração de abuso de personalidade jurídica (que pode ser caracterizado tanto pela comprovação de desvio de finalidade quanto pela comprovação de confusão patrimonial). Para a teoria menor, admite-se a desconsideração quando há, tão-somente, a ocorrência de prejuízo ao credor. O art. 50 do CC é a regra matriz da desconsideração e adota a teoria maior, mas desconsideração também está prevista no art. 28 do CDC, no art. 4º da Lei 9.605/98 e no art. 34 da Lei 12.529/11, que adotam a teoria menor. P: As quotas dos sócios de sociedade limitada podem ser penhoradas? R: De acordo com a teoria da impenhorabilidade das quotas sociais, as quotas de uma sociedade de pessoas são impenhoráveis, em obediência à vontade societária manifestada no contrato social e ao princípio da affectio societatis. No entanto, a jurisprudência do STJ firmou-se no sentido de que é possível a penhora de cotas de sociedade limitada, seja porque tal constrição não implica, necessariamente, a inclusão de novo sócio, seja porque o devedor deve responder pelas obrigações assumidas com todos os seus bens presentes e futuros, nos termos do art. 591 do Código de Processo Civil (AgRg no Ag 1164746/SP, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 29/09/2009, DJe 26/10/2009). André Ramos ensina que o CC possibilita a penhora de quotas, que devem ser liquidadas e o valor utilizado para pagar o credor. O fundamento é o art. 1026: O credor particular de sócio pode, na insuficiência de outros bens do devedor, fazer recair a execução sobre o que a este couber nos lucros da sociedade, ou na parte que lhe tocar em liquidação. Parágrafo único. Se a sociedade não estiver dissolvida, pode o credor requerer a liquidação da quota do devedor, cujo valor, apurado na forma do art. 1.031, será depositado em dinheiro, no juízo da execução, até noventa dias após aquela liquidação. P: O que é ato ultra vires? Quais as suas consequências? R: Ato ultra vires é aquele praticado pelo administrador com extrapolação dos limites dos seus poderes estatutários. De acordo com esta teoria, o ato ultra vires não é imputável à sociedade. Segundo o art. 1015, parágrafo único, do CC, a teoria somente é aplicada se ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses: (a) se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro próprio da sociedade; (b) provando-se que era conhecida do terceiro; e (c) tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade. O direito brasileiro vem adotando a teoria da aparência, segundo a qual se o ato tiver aparência de validade, mesmo que o administrador tenha exorbitado de seus poderes, o ato é válido, a sociedade responde perante os credores, mas, é-lhe reservado o direito de regresso contra o administrador que exorbitou nos poderes. P: Existe sociedade unipessoal no direito brasileiro? R: Atualmente, o ordenamento jurídico brasileiro prevê três hipóteses de sociedade unipessoal originária: (a) o empresário individual de responsabilidade limitada (art. 980-A); e (b) a subsidiária integral (art. 251 da Lei 6.404/76); e (c) a empresa pública. Há também uma previsão de sociedade unipessoal superveniente, que é a permissão por 180 dias, em caso de morte, retirada ou exclusão de um ou mais sócios, reduzindo a sociedade a um só sócio (art. 1033, IV). P: O que é mercado de capitais primário e o que é mercado de capitais secundário? R: O mercado de capitais – ou mercado de valores mobiliários – é o “local” onde se efetuam as diversas operações envolvendo os valores mobiliários emitidos pelas companhias abertas. O mercado de capitais primário é aquele no qual são realizadas as operações de subscrição e emissão de ações e outros valores mobiliários das companhias. O mercado de capitais secundário compreende as operações de compra e venda desses valores. A bolsa de valores somente atua no mercado secundário. No mercado de balcão se desenvolvem operações tanto do mercado de capitais primário quanto do mercado de capitais secundário. P: Quais são os principais valores mobiliários emitidos pelas sociedades anônimas? R: São cinco os valores mobiliários que se destacam, a saber, as ações, as partes beneficiárias, as debêntures, os bônus de subscrição e o commercial paper. As ações são bens móveis que representam frações em que está dividido o capital social, garantindo ao acionista (titular da ação) a qualidade de sócio da companhia, bem como parte integrante de direitos e deveres. As partes beneficiárias são títulos negociáveis que não se relacionam ao capital social e não têm valor nominal. Somente podem ser emitidas por companhias fechadas, mas estão disciplinadas na Lei 6404/76 (Lei das Sociedades Anônimas). Elas podem ser convertidas em ações mediante capitalização de reserva criada para esse fim. As debêntures garantem ao seu titular o direito de crédito contra a companhia. Não estão relacionadas ao capital social, mas estão dispostas na Lei 6404/76. Existem quatro espécies de debêntures, as debêntures com garantia real, com garantia flutuante, debêntures quirografárias e debêntures subordinadas ou subquirografária. Os bônus de subscrição conferem aos seus titulares o direito de subscrever ações quando do aumento do capital social autorizado no estatuto. Também disciplinados na Lei 6404/76 Os commercial papers são espécies de notas promissórias e servem para a captação de recursos no mercado de capitais, que serão restituídos aos investidores em curto prazo. Diferente das demais espécies de valores mobiliários descritas acima, os commercial paper não estão disciplinados na Lei 6404/76, mas pela Instrução n. 134/90 da Comissão de Valores Mobiliários. P: O que é ação e quais os seus tipos? R: Ação é o principal valor mobiliário emitido pela companhia. Representa parcela do capital social, conferindo ao seu titular o status de sócio, o chamado acionista. Quanto aos direitos e obrigações são: a) ordinárias, que conferem direitos normais ao seu titular, como o direito a voto e o de participação nos lucros; b) preferenciais, que conferem uma preferência ou vantagem ao seu titular; e c) de fruição, que são aquelas distribuídas aos acionistas titulares de ações ordinárias ou preferenciais em substituição dessas ações que já foram amortizadas. Quanto à forma de transferência, as ações podem ser de dois tipos: a) nominativas, que se transferem mediante registro levado a efeito em livro específico escriturado pela S/A para tal finalidade. Em verdade, todas as ações de uma sociedade anônima devem ser nominais, haja vista que a Lei 8.021/90 vedou a emissão de títulos ao portador; e b) escriturais, que não deixam de ser nominais, visto que são identificados seus titulares. Entretanto, diferenciam-se quanto à forma de transferência, uma vez que esta ocorre por contas de depósito. Aqui, uma instituição financeira autorizada pela CVM, manterá contas de depósitos em nome dos titulares das ações. 4. Liquidação, transformação, incorporação, fusão e cisão das sociedades. Sociedade dependente de autorização. P: O que é e como se dá a transformação? R: Transformação é a modificação de um tipo societário em outro. Trata-se de uma reorganização empresarial que não acarreta dissolução da companhia. De acordo com o artigo 1.113 do CC o ato de transformação de uma sociedade independe de sua dissolução ou liquidação. A transformação obedecerá aos preceitos reguladores da constituição e inscrição, próprios do tipo em que se vai converter. É cabível em qualquer tipo de sociedade, inclusive nas sociedades simples. A transformação exige o consentimento unânime dos sócios ou acionistas (art. 1.14 CC). Caso haja dissidência, o sócio discordante poderá retirar-se da sociedade. O código civil não mais permite a renuncia ao direito de retirada mediante cláusula contratual expressa como estava no art. 221, p.ú. da Lei. n° 6.404/76. O direito de retirada é irrenunciável. É nula qualquer cláusula em contrário. A transformação não prejudica o direito dos credores (art. 1.115 CC), que continuam com as mesmas garantias que o tipo anterior de sociedade lhes oferecia. Portanto, somente os créditos surgidos após a transformação é que irão obedecer à disciplina do novo tipo societário. Se os titulares de créditos anteriores à transformação o exigirem, a falência produzirá efeitos em relação a todos os sócios. Em regra, a falência da sociedade transformada somente produzirá efeitos em relação aos sócios que, no tipo anterior, a eles estivessem sujeitos (art. 1.115, p.ú. CC) P: O que é e como se dá a incorporação? R: Incorporação é o instituto pelo qual uma ou várias sociedades são absorvidas por outra, que as sucede em todos os direitos e obrigações (art. 1.116 CC). A incorporação não extingue a sociedade incorporadora. A incorporada extingue-se sem liquidação. Não há criação de uma nova sociedade. Os sócios da sociedade incorporada devem aprovar as bases da operação e o projeto de reforma do ato constitutivo (art. 1.117 CC). A sociedade que se pretende incorporar tomará conhecimento deste ato, e, se o aprovar, autorizará os administradores a praticarem o necessário em relação à operação, inclusive a subscrição em bens pelo valor da diferença que se verificar entre o ativo e o passivo. A deliberação dos sócios da sociedade incorporada deverá nomear peritos para a avaliação do patrimônio líquido da sociedade incorporada. Aprovados os atos da incorporação, a incorporadora deverá declarar extinta a incorporada e promover a averbação no registro próprio. A lei veda o uso do poder econômico e proíbe a concentração de empresas quando houver ameaça ou violação da livre concorrência. O credor anterior, que se diga prejudicado pela incorporação, tem prazo de até 90 (noventa) dias para anular judicialmente a operação. P: O que é e como se dá a fusão? R: Fusão é o ato pelo qual duas ou mais sociedades se unem para formar uma nova, que lhes sucederá em todos os direitos e obrigações (art. 1.1120 CC). As sociedades participantes desaparecem para originar uma outra. A fusão tem, pois, um efeito extintivo-associativo (art. 1.119 CC) A fusão será decidida na forma estabelecida para os respectivos tipos pelas sociedades que pretendam se unir. A lei impõe a realização de assembleia ou reunião de cada sociedade para a deliberação da fusão. Aprovado o projeto do ato constitutivo da nova sociedade e a forma de distribuição do capital social, devem ser nomeados peritos para a avaliação do patrimônio da sociedade. A nova legislação não permite aos sócios integrantes da sociedade em regime de fusão o direito de voto na avaliação do seu (da sociedade) patrimônio. Constituída a nova sociedade, aos administradores cabe inscrever os atos relativos à fusão no registro próprio da sede. O credor anterior, que se diga prejudicado pela fusão, tem prazo de até 90 (noventa) dias para anular judicialmente a operação (art. 1.122 CC). Conta-se o prazo da ação da publicação dos atos relativos à incorporação, fusão ou cisão. P: O que é e como se dá a cisão? R: É a operação pela qual uma companhia transfere parcelas do seu patrimônio para uma ou mais sociedades ou constituídas especialmente para esse fim, extinguindo-se a sociedade cindida, se todo o patrimônio for vertido à nova companhia, ou repartindo-se o capital sem a extinção da mesma, se a versão for parcial (Lei 6.404/76 art. 229). A cisão é um instrumento de reorganização societária. As sociedades resultantes da recomposição são autônomas e tem personalidade jurídica própria. Na hipótese de cisão total, em que ocorrerá a extinção da cindida, as sociedades que absorverem parcelas de seu patrimônio sucederão a esta, na proporção dos patrimônios líquidos transferidos, nos direitos e obrigações porventura não relacionados no respectivo ato. O instrumento de cisão parcial pode estipular que a separação se dará sem solidariedade e a responsabilidade se restringirá às obrigações transferidas às sociedades que absorverem as parcelas da cindida. Nesse caso, qualquer credor anterior poderá opor-se à estipulação, em relação ao seu crédito, desde que notifique a sociedade no prazo de noventa dias contados da publicação da cisão. A cisão será deliberada em Assembléia ou reunião dos sócios, segundo o modelo peculiar ao tipo societário envolvido. Efetivada a cisão com extinção da cindida, caberá aos administradores das sociedades que tiverem absorvido as parcelas patrimoniais promover o arquivamento dos atos respectivos; sendo parcial, o encargo tocará aos administradores da sociedade que se dividiu e da que recebeu parcela de seu patrimônio. 5. O estabelecimento: conceito, natureza e sucessão. Andréia (andreiaricas@gmail.com) P: Qual o conceito de estabelecimento empresarial? Há coincidência com o imóvel utilizado na atividade empresarial? R: O estabelecimento empresarial possui conceituação legal, insculpida no artigo 1.142 do Código Civil, segundo o qual “considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária” (deve-se acrescentar a EIRELI). Portanto, o estabelecimento é o conjunto de bens, materiais e imateriais, utilizado no exercício da atividade empresarial, não se confundindo com o imóvel utilizado, o qual é apenas um de seus elementos integrantes, podendo ser citados, também, os móveis, máquinas, veículos, ponto comercial, marca, patente etc. P: Há diferença entre estabelecimento e patrimônio do empresário? R: Sim. Só compõem o estabelecimento os bens que estejam ligados ao exercício da atividade, de modo que outros bens e direitos que pertençam à pessoa física ou pessoa jurídica serão seu patrimônio, mas não o estabelecimento. Exemplo que ilustra a distinção são imóveis de titularidade das sociedades empresárias que os disponibilizam para lazer dos empregados, de modo que não guardam relação com seu objeto social, com sua atividade empresarial, não estando a ela afetados. Outro exemplo é o patrimônio pessoal do empresário individual. P: O conceito de estabelecimento compreende direitos e obrigações do seu titular? R: Não. Diferentemente do patrimônio, o estabelecimento não engloba os contratos, créditos, dívidas, enfim, os direitos e obrigações de seu titular, uma vez que é composto apenas pelos bens organizados pelo empresário. P: O que é aviamento? Ele compõe o estabelecimento? R: “Aviamento é expressão que significa, em síntese, a aptidão que um determinado estabelecimento possui para gerar lucros ao exercente da empresa” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial esquematizado. p. 88). Assim, não se trata de bem integrante do estabelecimento, mas sim uma qualidade dele, que é o principal elemento de sua valoração econômica. É possível dividir o aviamento em real (deriva de condições objetivas, como local) e subjetivo (derivado de condições pessoais do empresário). P: Qual a diferença entre aviamento e clientela? R: A clientela “é o conjunto de pessoas que mantém com o empresário ou sociedade empresária relações jurídicas constantes” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial esquematizado. p. 89). Assim, embora também seja uma qualidade do estabelecimento (e não um elemento integrante dele), a clientela é manifestação externa do aviamento. P: Qual a natureza jurídica do estabelecimento? R: No direito brasileiro, o estabelecimento possui natureza jurídica de universalidade de fato, ou seja, bens reunidos pela vontade de seu titular (empresário ou sociedade empresária). Universalidade “é um conjunto de elementos que, quando reunidos, podem ser concebidos como coisa unitária, ou seja, algo novo e distinto que não representa a mera junção dos elementos componentes” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial esquematizado. p. 75). Em contraposição, pode-se citar que universalidade de direito são bens reunidos por vontade da lei (como a herança e a massa falida). P: O que é contrato de trespasse? R: Trespasse é o nome que se dá para o contrato de compra e venda de estabelecimento empresarial. É a venda do conjunto de bens organizado. P: Como se dá a produção de efeitos do contrato de trespasse? R: Não é necessária nenhuma formalidade para que o contrato de trespasse produza efeitos entre as partes, ou seja, adquirente e alienante do estabelecimento. Entretanto, para produzir efeitos perante terceiros, conforme o art. 1.144 do CC, é necessário que sejam preenchidos dois requisitos, que são averbação na junta comercial e publicação na imprensa oficial. Em razão do art. 1.145 do CC, tem-se que, em caso de insolvência do alienante, o contrato de trespasse só produzirá efeitos se houver o pagamento de todos os credores, ou o consentimento deles, que pode ser expresso ou tácito (30 dias após notificação). P: Qual o efeito da alienação irregular do estabelecimento empresarial? R: Conforme o artigo 94, inciso III, “c”, da Lei nº 11.101/2005, a transferência de estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo é ato de falência. P: Qual a disciplina do Código Civil para a sucessão do estabelecimento empresarial? R: Conforme o artigo 1.146 do CC, o adquirente responderá por dívidas anteriores, desde que regularmente contabilizadas. Assim, pelas dívidas que não estão regularmente contabilizadas não haverá sucessão. O alienante responde de forma solidária pelo prazo de 1 (um) ano, cuja contagem depende da dívida: a) se a dívida for vencida, o prazo é contado a partir da publicação na imprensa oficial a respeito do trespasse; b) se a dívida for vincenda, o prazo será contado a partir da data do vencimento. P: As regras do Código Civil acerca de sucessão do estabelecimento empresarial se aplicam a todas as espécies de dívidas? Em caso negativo, a quais dívidas não são aplicáveis? R: O Código Civil rege apenas as dívidas negociais do empresário, de modo que não é aplicável às dívidas que possuem regramento próprio, que são as trabalhistas (regidas pelos artigos 10 e 448 da CLT) e tributárias (art. 133 do CTN). De outro lado, se a alienação for realizada em processo de falência ou recuperação judicial, aplica-se a disciplina específica da Lei nº 11.101/2005 (artigos 141, II, e 60), de modo que o adquirente não arcará com nenhum ônus, nem mesmo tributário (como já prevê o CTN) ou trabalhista. P: Como se dá a sucessão tributária no contrato de trespasse? R: Conforme o artigo 133 do CTN, o adquirente do estabelecimento que continua a exploração responde pelos tributos referentes ao estabelecimento até a data da compra, o que se dará: a) integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio, indústria ou atividade; b) subsidiariamente com o alienante, se este prosseguir na exploração ou iniciar dentro de seis meses, a contar da data da alienação, nova atividade no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão. Os parágrafos do dispositivo excepcionam sua aplicação em caso de falência ou recuperação judicial, em que não ocorrerá sucessão. Porém, a disciplina será a do CTN (havendo sucessão) quando o adquirente for: a) sócio da sociedade falida ou em recuperação judicial, ou sociedade controlada pelo devedor falido ou em recuperação judicial; b) parente, em linha reta ou colateral até o 4o (quarto) grau, consanguíneo ou afim, do devedor falido ou em recuperação judicial ou de qualquer de seus sócios; c) identificado como agente do falido ou do devedor em recuperação judicial com o objetivo de fraudar a sucessão tributária. P: Em que consiste a chamada “cláusula de não concorrência”, em referência ao contrato de trespasse? R: Tal cláusula foi positivada no art. 1.147 do CC, que determina que o contrato de trespasse definirá se o alienante pode ou não fazer concorrência ao adquirente. A presunção é pela impossibilidade, pois esta é a solução legal para a omissão contratual, vedando a concorrência nos 5 anos subsequentes à transferência, o que se dá em aplicação ao princípio da boa-fé objetiva. P: Ocorre subrrogação do adquirente nos contratos estipulados pelo alienante? R: Sim. O art. 1.148 do CC diz que, quando ocorre trespasse, haverá subrrogação dos contratos. Ou seja, os contratos são automaticamente transferidos para o adquirente, sempre que não tiverem caráter pessoal e não houver disposição em contrário. Observe-se que os contratos de caráter pessoal não se transmitem automaticamente, como os referentes a serviços advocatícios. Nesse contexto, há discussão acerca do contrato de locação. Enquanto parte da doutrtina entende que esse contrato também se inclui na citada regra, outros dizem que, como a legislação prevê o contrato com caráter intuitu personae, deveria ser exigida a concordância prévia do locador do imóvel para que o adquirente do estabelecimento suceda o alienante. O STJ, no Inf. 465, traz o contrato de locação como exceção, ou seja, decidiu pela inocorrência de subrrogação automática, dependendo de autorização por escrito do locador, em razão do art. 13 da Lei nº 8.245/91. P: Há cessão dos créditos referentes ao estabelecimento adquirido? R: Sim. Tal cessão produzirá efeitos desde a publicação da transferência, momento a partrir do qual os devedores devem fazer o pagamento ao adquirente do estabelecimento. Entretanto, o art. 1.146 do CC exonera o devedor caso pague ao alienante de boa-fé, cabendo ao adquirente dele cobrar os valores devidos. 6. Nome empresarial: natureza, espécies, características e requisitos legais. Andréia (andreiaricas@gmail.com) P: Qual o conceito de nome empresarial? R: Nome empresarial é “a expressão que os identifica [os empresários e sociedades empresárias] nas relações jurídicas que formalizam em decorrência do exercício da atividade empresarial” (RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito empresarial esquematizado. p. 58), o qual é utilizado, portanto, para que o empresário e a sociedade empresária exerçam suas atividades e firmem suas obrigações. O autor André Luiz Santa Cruz Ramos cita (Direito empresarial esquematizado) que o STJ já decidiu pela necessidade de apresentação de nova procuração ao advogado da sociedade empresária, quando esta altera o nome empresarial, para fins de conhecimento de recurso de agravo de instrumento (vide AgRg no Resp 1.023.724-RS). OBS.: o tema foi objeto de um item na objetiva da AGU 2012, que apontava a necessidade de nova procuração e posteriomente foi anulado, com a seguinte justificativa “há divergência jurisprudencial sobre o tema, cabendo a anulação do item. No sentido da questão vide o precedente do STJ: AgRg no Ag nº 544.213/BA. E, em sentido contrário: AgRg no Ag 719.228/RJ, AgRg no Ag 703.126/RS e AgRg no Ag 702.199/RS”. P: Qual a natureza jurídica do nome empresarial? R: Há controvérsia acerca do tema. Há três teorias principais: direito da personalidade, direito de propriedade e direito pessoal. Para a primeira, é direito da personalidade, sendo personalíssimo, pois é expressão da personalidade do empresário, designando personalidade tal como o nome civil. Embasa-se na inalienabilidade e imprescritibilidade pelo não uso do nome empresarial, bem como no artigo 52 do Código Civil, sendo defendida por Pontes de Miranda, Alexandre Freitas de Assumpção Alves e Gladston Mamede. A segunda corrente entende que, assim como a marca, trata-se de direito de propriedade, ou seja, direito real sobre um bem incorpóreo. É a posição de Clóvis Bevilácqua, Gama Cerqueira, José Carlos Tinoco Soares. A terceira teoria entende que, como o nome empresarial não tem valor comercial, não pode ser considerado direito de propriedade. Para outros, ainda que tenha valor (integra o fundo de comércio), perde a característica de direito de propriedade por não ser disponível separadamente. Assim, seria um monopólio de quem o registrou, consiste no direito de impedir o uso por terceiro de nome idêntico. Defendida por Carvalho de Mendonça. Haveria ainda uma teoria mista, para qual deve ser distinguido o aspecto objetivo e subjetivo do nome empresarial. No aspecto objetivo, é propriedade, bem incorpóreo. No subjetivo, designa “o comerciante no exercício do comércio” (expressão de Rubens Requião), seria direito de personalidade. Essa seria a teoria adotada por Requião e Ulhoa. P: Quais as espécies de nome empresarial previstas pela legislação brasileira e os requisitos legais para a formação de cada uma delas? R: Conforme o artigo 1.155 do CC, há duas espécies de nome empresarial: firma e denominação. A firma pode ser individual ou social, sendo formada por um nome civil (completo ou abreviado), sendo facultada a indicação do ramo de atividade (art. 1.156). A firma social, também chamada de razão social, deve conter o nome de um, alguns ou todos os sócios. Observa-se que, quando o tipo societário prevê a existência de sócios de responsabilidade ilimitada, apenas os nomes destes sócios devem compor a razão social, sob pena de os sócios cujos nomes figurarem na firma ficarem solidária e ilimitadamente responsáveis pelas obrigações contraídas. Se houver sócios não incluídos na razão social, usa-se a expressão "e companhia" ou "e Cia." para indicar sua existência. Além disso, deve ser indicado o tipo societário. A denominação, usada apenas por sociedades, pode ser formada por qualquer expressão linguística, porém o ramo de atividade (objeto social) é obrigatório (arts. 1.158, §2º, 1.160 e 1.161, CC). Excepcionalmente, admite-se nome de sócio na denominação da sociedade anônima, como forma de homenageá-lo (art. 1.160, parágrafo único). P: Qual a consequência da omissão do tipo societário no nome empresarial da sociedade limitada? R: Conforme o artigo 1.158, §3º, do CC, “a omissão da palavra "limitada" determina a responsabilidade solidária e ilimitada dos administradores que assim empregarem a firma ou a denominação da sociedade”. P: Como se dá a utilização do nome empresarial em cada espécie societária? R: A firma individual é aplicável ao empresário individual, que não pode usar denominação. A firma social, por sua vez, é usada, em regra, nas sociedades de pessoas (há sócios de responsabilidade ilimitada), enquanto a denominação se aplica às sociedades de capital (apenas sócios de responsabilidade limitada). Há exceções: a sociedade limitada, a sociedade em comandita por ações e a novel empresa individual de responsabilidade limitada podem usar denominação ou firma social. Em resumo: usam exclusivamente firma social a sociedade em nome coletivo e sociedade em comandita simples, usam exclusivamente denominação as sociedades anônimas e usam uma ou outra espécie as sociedades limitadas, em comandita por ações e a EIRELI. Por fim, a sociedade em conta de participação não pode ter firma ou denominação, porque não possui personalidade jurídica. P: Quais as características do nome empresarial? R: Conforme o Código Civil, o nome empresarial é inalienável (art. 1.164), a não ser como elemento integrante do estabelecimento empresarial. Além disso, é imprescritível (art. 1167), ou seja, a sua não utilização não implica em sua perda, cabendo, a qualquer tempo, ação para anulação da inscrição do nome empresarial feita com violação da lei ou do contrato. P: Quais princípios regem o nome empresarial? R: O nome empresarial obedece aos princípios da veracidade e da novidade. O princípio da veracidade indica que ele não poderá conter informações falsas, enquanto o princípio da novidade indica que não poderão coexistir na mesma unidade federativa dois nomes empresariais idênticos ou muito parecidos, proibindo o registro do segundo. Exemplo de aplicação do princípio da veracidade é que o art. 1.165 do CC dispõe que “o nome de sócio que vier a falecer, for excluído ou se retirar, não pode ser conservado na firma social”. P: Qual a diferença entre nome empresarial, “nome de fantasia” e marca? Qual o âmbito de proteção de cada um deles? R: Nome empresarial é o utilizado para o exercício das atividades empresariais, constante no contrato social que é registrado na junta comercial. A marca é a identificação de produtos ou serviços, conforme o art. 123, I, da Lei nº 9.279/96. Já o “nome de fantasia” é a identificação do título do estabelecimento (as expr essões são sinônimas), ou seja, é aquele utilizado nas placas afixadas no imóvel, panfletos, uniformes etc. Quanto à proteção, tem-se que o nome empresarial é protegido, a princípio, em âmbito estadual (da junta em que registrado). No entanto, o empresário pode requerer a extensão da proteção a outras unidades da federação, realizando procedimento próprios nas Juntas Comerciais respectivas. A marca é protegida em âmbito nacional (uma vez que é registrada no INPI) e inexiste proteção específica ao “nome de fantasia”, sendo aplicáveis as regras gerais do Código Civil referentes aos atos ilícitos. Há ainda proteção penal de todos esses institutos, que é feita de forma conjunta pelos crimes previstos nos artigos 191, 194 e 195, incisos V e VI, da Lei nº 9.279/96. Existe ainda o chamado “nome de domínio”, que é o endereço eletrônico utilizado pelo empresário/sociedade empresária. 7. Registro de empresas. Pedro Henrique (phribeiroadvogado@gmail.com) P: Em que momento a pessoa jurídica se personifica? Seu registro é declaratório ou constitutivo? R: Com a entrada em vigor do novo código civil, não há mais dúvida: quem disciplina a personificação da pessoa jurídica, não é o Código Comercial, derrogado pelo NCC que acabou com a polêmica. Fica claríssimo que o registro da pessoa jurídica é constitutivo de sua personalidade. É constitutivo com eficácia ex nunc. O Código Civil em seu art. 45 firma a natureza constitutiva do registro da pessoa jurídica, com eficácia ex nunc. A aquisição da personalidade da pessoa jurídica só se dá a partir do registro. Portanto, por regra geral, a personificação da pessoa jurídica decorre simplesmente do registro do seu ato constitutivo, mas, em algumas situações, é necessária uma autorização especial de constituição dada pelo Poder Executivo P: Onde deve ser feito o registro das empresas? R: Por regra geral, o registro deve ser feito na Junta Comercial do Estado onde a empresa está situada, no entanto algumas sociedades possuem registro em local específico, a exemplo da sociedade de advogados, para a qual o registro deve ser feito na própria OAB. 8. Prepostos. Pedro Henrique (phribeiroadvogado@gmail.com) P: O que é desconsideração da pessoa jurídica? R: A doutrina da desconsideração da pessoa jurídica pretende, por afastamento temporário da sua personalidade para permitir que os credores possam satisfazer os seus direitos no patrimônio pessoal do sócio ou administrador que cometeu o ato abusivo. P: qual a diferença entre desconsideração e despersonificação: R: Hoje se fala muito em direito de empresa com base na Constituição Federal, mencionando o princípio da função social da empresa. À luz desse princípio, ela tem que ter continuidade. Quando o juiz desconsidera a personalidade, a ideia é que satisfeito o direito do credor, a pessoa jurídica, em sendo possível, volte a funcionar. Assim, desconsiderar não é despersonificar. A despersonificação é mais severa porque pretende o aniquilamento da pessoa jurídica mediante o cancelamento do seu registro. P: Quais são as regras existentes para que ocorra a desconsideração da personalidade jurídica da empresa? R: Os requisitos da desconsideração da pessoa jurídica, na forma do art. 50, do Código Civil são dois: · 1º) Requisito – implicitamente consagrado. É obvio: é preciso que haja descumprimento de obrigação. É necessário que a pessoa jurídica haja descumprindo uma obrigação. Só se invoca a teoria da desconsideração alegando que a pessoa jurídica descumpriu a obrigação. O credor precisa demonstrar isso. · 2º Requisito – demonstração do abuso por parte do sócio ou do administrador, abuso caracterizado ou pelo desvio de finalidade ou pela confusão de patrimônio. Quando a doutrina no Brasil começou a escrever sobre isso, tinha o hábito de colocar dentre os requisitos da desconsideração, um requisito subjetivo: para que haja a desconsideração é necessário que o credor demonstre que o sócio que praticou o ato abusivo, teve a intenção de prejudicar, ou seja, provar o dolo específico do sócio ou administrador no cometimento do ilícito. Imagine-se o litígio com uma grande companhia tendo que demonstrar isso. Seria um suplício, por isso, Fábio Konder Comparato disse que isso estava errado: não tem que provar nada de intenção. Bastam os critérios objetivos. O art. 50 do Código Civil, na linha de pensamento do professor Fábio Konder Comparato, seguindo uma linha objetiva, ao cuidar da teoria da desconsideração, não exigiu que o credor provasse o dolo específico do sócio ou administrador que cometeu o ato abusivo. Como funciona: objetivamente, à luz do art. 50, do CC, para se desconsiderar a personalidade é preciso ter a prova no processo do descumprimento da obrigação e o abuso caracterizado pelo desvio de finalidade e a confusão de patrimônio. · Abuso de finalidade – sócio, por meio, de ato abusivo pratica fim diverso daquele previsto no contrato social. Uma sociedade foi constituída para vender camisas e o sócio está prestando serviço de consultoria. · Confusão de patrimônio Uma outra modalidade de abuso caracterizado pela confusão patrimonial é a “empresa podre.” Um conglomerado de empresas (A, B, C e D) resolve constituir a empresa E. Isso é comum. A nova pessoa jurídica constituída absorve o passivo das outras empresas (empresa podre). Até aí, se estiverem cumprindo com suas obrigações, perfeito. Mas se a controladora A, esteja atuando por meio da controlada E, que foi criada para absorver o passivo e servir de escudo para a controladora. A controladora usa a controlada para assumir o passivo e prática de atos abusivos. Vc pode pedir a desconsideração indireta: afasta uma empresa e atinge a outra. Exemplo grave de abuso em que há confusão patrimonial opera-se quando uma pessoa jurídica atua por meio de outra visando a se eximir de responsabilidade. Neste caso, poderá o juiz desconsiderar a primeira empresa e atingir indiretamente a que está por trás. P: A Administração Pública pode de ofício desconsiderar a personalidade de uma pessoa jurídica ou essa matéria está sob reserva de jurisdição? R: O art. 50 deixa claro: poderá o juiz, porque a desconsideração é sanção e, em sendo sancionatória, é o juiz que deverá decretá-la. Antigamente, era pacífico isso: desconsideração é matéria do juiz, sob reserva de jurisdição. Contudo, há situações tão graves, de fraudes tão provocadas, que o STJ em um julgado entendeu que é verdade. De fato, regra geral, desconsideração é matéria sob reserva de jurisdição. Quem desconsidera é o ato do juiz. Mas, por exceção, quando a fraude é comprovada, poderá a Administração Publica desconsiderar ex officio. P: Do que se trata a teoria ultra vires societatis? R: O art. 1.015, do Código Civil consagra uma teoria que não pode ser confundida com a teoria da desconsideração. No Código Civil, desconsideração da pessoa jurídica está no art. 50, no art. 1.015 está a teoria ultra vires societatis. A doutrina ultra vires não pode ser confundida com a teoria da desconsideração. Prevista no art. 1.015, do Código Civil, a teoria do ultra vires sustenta ser inválido e ineficaz o ato praticado pelo sócio que extrapole os limites do contrato social, não vinculando por consequência, a referida pessoa jurídica. É uma teoria protetiva da pessoa jurídica. Visa a blindar a pessoa jurídica. Se o sócio, ao realizar o ato, celebrando o contrato, extrapolou os limites do contrato social, esse ato não vincula a sociedade de que faz parte. O terceiro prejudicado vai responsabilizar diretamente o sócio. 9. Escrituração. Livros empresariais: espécies, requisitos e valor probante. Guilherme (guilhermesaber@yahoo.com.br) P: Quem é competente para escriturar e qual(is) livro(s) são de obrigatória escrituração? R: A escrituração do empresário é tarefa atribuída ao contabilista, ressalvada a hipótese de inexistência de um na localidade. A doutrina aponta como único livro obrigatório de escrituração a todo e qualquer empresário o livro Diário. Este pode ser substituído por fichas ou por balancetes diários ou balanços. A depender das atividades ou do tipo societário, outros livros podem ser exigidos, a exemplo do livro de registro de duplicatas (para quem as emite), livro de ações nominativas (para as S.A.), etc. Afora esses, o empresário poderá escriturar outros livros, a seu critério. São exemplos desses, o livro caixa, estoque, razão, borrador, conta-corrente, etc. P: Discorra sobre as hipóteses de exibição parcial e total dos livros empresariais. R: Os livros empresariais, via de regra, são protegidos por sigilo. Contudo, o sigilo não é absoluto, prevendo a legislação hipóteses de exibição total ou parcial. O art. 381 c/c art. 1191 do CC prevêem a exibição total dos livros, por ordem do Juiz, a requerimento da parte, nas ações relativas a liquidação de sociedade, sucessão por morte de sócio, administração ou gestão à conta de outrem, comunhão ou sociedade, dentre outras hipóteses previstas em lei. Já a exibição parcial pode ocorrer em qualquer ação judicial, a requerimento da parte interessada ou de oficio pelo Juiz (art. 382 CPC c/c art. 1191 CC). Cumpre observar que as autoridades fazendárias, atendo-se ao objeto de sua fiscalização, não se sujeitam ao sigilo dos livros (Sum. 439/STF) P: Qual a eficácia probatória dos livros empresariais? R: O art. 378 do CPC dispõe que os livros empresariais provam contra o seu autor. Independentemente de estarem corretamente escriturados, fazem provam contra o empresário que pode, claro, pelos meios admitidos em direito, buscar desconstituir a veracidade dos lançamentos. Por outro lado, para fazerem prova a favor do empresário, os livros devem preencher os requisitos exigidos em lei. Como requisitos intrínsecos, cite-se: idioma e moeda corrente nacionais e em forma contábil, por ordem cronológica de dia, mês e ano, sem intervalos em branco, nem entrelinhas, borrões, rasuras, emendas ou transportes para as margens. Já os requisitos extrínsecos, concernentes a sua segurança, dizem respeito a autenticação pela Junta Comercial. 10. Contratos de Empresas: noções, requisitos, classificação, formação, meios de provas, contratos de compra e venda e de prestação de serviços, contratos de conta corrente, de abertura de crédito, de alienação e contrato de “leasing”. Anderson (as010585@gmail.com) P: O que são contratos mercantis ou contratos empresariais? R: Os contratos são mercantis quando os dois contratantes são empresários, com a ressalva quanto aos casos em que o empresário comprador se enquadra no conceito de consumidor, hipótese em que poderão ter incidência as normas especiais do CDC (resumo para a prova oral do TRF1/2011). P: Como se formam os contratos empresariais? R: Para a formação desse acordo de vontades, uma das partes, denominada proponente, deve, primeiramente, expressar a sua vontade em contratar, através de manifestação dirigida ao seu possível contraente, denominado oblato. Essa manifestação, com os termos do contrato, é a proposta, também chamada de policitação. Nos termos do art. 427 do Código Civil, a proposta obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso. Entretanto, a proposta deixará de ser obrigatória se: a) feita sem prazo a pessoa presente, ainda que por telefone, ou outro meio de comunicação semelhante, não for imediatamente aceita; b) feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente; c) feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo fixado; ou d) se antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente. Recebida a proposta, caberá ao oblato, dentro do prazo estabelecido para a sua resposta, aceitá-la, concordando com todos os seus termos e condições, ou recusá-la. A aceitação manifestada pelo oblato deverá ser uma adesão total aos termos e condições constantes da proposta, importando em nova proposta a aceitação realizada fora do prazo, com adições, restrições ou modificações (CC, art. 431). Assim, entre presentes, considera-se formado o contrato se imediatamente aceita pelo oblato a proposta apresentada pelo proponente. Já, entre ausentes, considera-se formado o contrato, nos termos do art. 434 do Código Civil, no momento em que a aceitação é expedida pelo oblato, salvo se: o oblato retratar-se tempestivamente (art. 433 do Código Civil); o proponente houver se comprometido a esperar a resposta; ou a aceitação não chegar no prazo convencionado. Como mencionado, a aceitação poderá ser retratada pelo oblato, se antes ou junto dela chegar ao proponente a retratação do aceitante, conforme disposto no art. 433 do Código Civil (resumo do curso Damásio). P: Como se classificam os contratos empresariais? R: Segundo Fábio Ulhoa Coelho, assim se classificam os contratos mercantis: a) Bilaterais e unilaterais: essa classificação considera as obrigações assumidas pelas partes. O contrato é bilateral ou sinalagmático quando ambos os contratantes assumirem obrigações recíprocas (compra e venda; representação comercial). A exceção do contrato não cumprido – exceptio non adimpleti contractus – somente é aplicável a essa modalidade de contrato. Por sua vez, o contrato é unilateral quando apenas uma das partes tem obrigações perante a outra (mútuo). b) Consensuais, reais ou solenes: trata-se de classificação que considera os pressupostos de constituição do vínculo contratual. O contrato é consensual quando o simples encontro de vontade das partes basta para a formação do vínculo contratual (compra e venda). O contrato é real quando a formação do vínculo contratual depende da entrega da coisa (depósito). Por fim, o contrato é solene quando a formação do vínculo contratual depende da emissão de um documento. c) Comutativos e aleatórios: trata-se de classificação que considera a possibilidade de as partes preverem as prestações e contraprestações a que estarão obrigadas com a execução do contrato. O contrato é comutativo quando os contratantes podem antecipar como será a execução do contrato. Por sua vez, o contrato será aleatório quando, em razão da álea característica do objeto contratado, tal antecipação se torna impossível. d) Típicos ou atípicos: trata-se de classificação que considera a existência ou não de dispositivos legais que disciplinem expressamente os direitos e deveres dos contratantes. O contrato é típico quando a lei disciplina os direitos e deveres das partes. Por sua vez, o contrato será atípico quando os direitos e deveres dos contratantes são mencionados no instrumento contratual que assinaram. Por fim, observa-se que os contratos, em geral, também podem ser classificados em gratuitos ou onerosos. Ocorre que os contratos mercantis são sempre onerosos, haja vista a finalidade da atividade econômica que é explorada pelo empresário. P: Quais são os direitos e deveres das partes no contrato de compra e venda mercantil? R: A principal obrigação do vendedor é transferir o domínio da coisa ao comprador. A segunda obrigação do vendedor é responder pelos vícios da coisa. A terceira e última obrigação do vendedor é responder pela evicção, nos termos do art. 447 do Código Civil. A principal obrigação do comprador é pagar o preço da coisa por ele adquirida, nos termos acordados com o vendedor. É também obrigação do comprador receber a mercadoria no tempo, lugar e modo acordados (Curso de Direito Comercial, de André Santa Cruz Ramos). P: O contrato de abertura de crédito é título executivo? E a nota promissória a ele vinculada? R: As respostas das duas indagações foram sumuladas pelo STJ. Em primeiro lugar, o contrato de abertura de crédito não é título executivo, conforme enuncia a súmula 233/STJ (O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato da conta-corrente, não é título executivo). No entanto, se acompanhado do demonstrativo do débito, admite o ajuizamento de ação monitória, conforme consolidado na súmula 247/STJ (O contrato de abertura de crédito em conta-corrente, acompanhado do demonstrativo de débito, constitui documento hábil para o ajuizamento da ação monitória). Em segundo lugar, a nota promissória vinculada ao contrato de abertura de crédito não pode embasar uma ação executiva, pois sua vinculação ao contrato subtrai a sua autonomia cambiária, consoante afirma a súmula 258/STJ (A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou) (v. REsp 861.009/SC, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/03/2010, DJe 29/03/2010). P: O que é um contrato de conta-corrente? R: Conta-corrente é o contrato por meio do qual o banco se obriga a receber valores monetários entregues pelo correntista ou por terceiros e proceder a pagamentos por ordem do mesmo correntista, utilizando-se desses recursos. Guarda semelhança com o depósito bancário, na medida em que o banco tem o dever de restituir os recursos mantidos em conta corrente ao correntista quando os solicitar. Mas é um contrato de função econômica mais ampla, porque, através dele, o banco presta um verdadeiro serviço de administração de caixa do correntista. Outra característica que o distingue do depósito bancário é a sua natureza consensual, uma vez que se estabelece mediante o simples acordo de vontade (o depósito bancário é real). Pode-se celebrá-lo sem que o correntista entregue, de início, qualquer dinheiro ao banco, ficando a conta de ser dotada por recursos pagos por terceiros devedores daquele (resumo para a prova oral do TRF1/2011). P: No contrato de alienação fiduciária em garantia de bem móvel, após a venda extrajudicial do bem, pode o credor promover ação executiva do débito remanescente? R: Segundo o STJ, “nas hipóteses de apreensão do bem objeto de contrato de alienação fiduciária em garantia, a venda extrajudicial do mesmo, independentemente de prévia avaliação e de anuência do de acionistas? R: É contrato celebrado entre os acionistas para decidir sobre compra e venda de suas ações, preferência para adquiri-las, exercício do direito a voto, ou do poder de controle. Deve estar arquivado na seda da companhia. É possível sua execução específica na forma do artigo 461 do CPC. P: Quais foram as principais alterações promovidas pela Lei 11.638/2007 à lei das S.A.? R: Surge da necessidade de inserir o Brasil nas normas internacionais de contabilidade, altera a própria maneira de pensar e na postura do profissional da contabilidade,visto que este deve ter como prioridade três regras: deve primar pela essência sobre a forma; primar pela análise de riscos e benefícios sobre a propriedade jurídica e adotar normas orientadas por princípios e julgamento e, não por regras detalhadas e formalizadas. Visou dar uma nova classificação do ativo, considerando que na realidade a diferença entre ativo circulante e não circulante cinge-se ao prazo de sua realização, razão pela qual se justificou a alteração do nome ativo permanente para não circulante, já que em termos econômicos e contábeis, todosos ativos, não importam suas espécies, são realizáveis em moeda. O ativo constitui as aplicações de recursos em bens, direitos da empresa que são possíveis de serem medidos monetariamente e geram benefícios. Uma mudança de vital relevância na estrutura do balanço patrimonial foi a divisão do ativo em dois grupos de contas, o circulante e o não circulante, corroborando com o processo de análise da posição financeira da empresa, já que a diferença entre o ativo circulante e o passivo circulante apresenta o capital circulante líquido da empresa, o qual possibilita analisar a sua capacidade de liquidar suas obrigações a curto prazo. Assim sendo, o ativo circulante agrega os valores realizáveis no exercício social subseqüente. De outro lado, o ativo não circulante agrega todos os bens que detém permanência duradoura e destinam-se ao funcionamento normal da sociedade, bem como os direitos exercidos com esse fito. O critério de classificação da conta como circulante ou não circulante tem como base o prazo de realização. São classificados como circulante os ativos realizáveis no curso do exercício ou no ciclo operacional quando este for maior. Todavia, após a mudança proposta, sua segregação será limitada ao espaço de tempo de doze meses, deixando de ser considerada a classificação em virtude do ciclo operacional. Com as alterações propostas pela Lei nº 11.638/07, o Ativo, que era dividido em circulante, realizável a longo prazo e permanente, e este último sub dividido em investimentos, imobilizado e diferido, limitar-se-á a dois grupos, o ativo circulante e o ativo não circulante, este dividido em realizável a longo prazo, investimentos, imobilizado, intangível e diferido.Observa-se, ainda, que as contas nesse grupo serão novamente dispostas em ordem decrescente de grau de liquidez, como era antes da nova lei.Diante da novel sistemática, constata-se que a atual legislação contábil visou uma nova classificação do ativo, considerando que na realidade a diferença entre ativo circulante e não circulante cinge-se ao prazo de sua realização, razão pela qual se justificou a alteração do nome ativo permanente para não circulante, já que em termos econômicos e contábeis, todos os ativos, não importam suas espécies (contas a receber, estoques, imobilizado e diferido, entre outros), são realizáveis em moeda. Além disso, observa-se que essa nova proposta de classificação vai ao encontro das normas internacionais, harmonizando com os países integrantes do Mercosul, cumprindo, nesse liame, com o objetivo da nova legislação contábil.