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DOENÇAS INFECTOCONTAGIOSAS Infecção pelo HIV AGENTE ETIOLÓGICO O agente etiológico da AIDS é um retrovírus humano do gênero Lentivirus, da família Retroviridae, denominado vírus da imunodeficiência humana (HIV). - a primeira indicação de que este vírus poderia estar relacionado com a AIDS surgiu em 1983, em pacientes com linfadenopatia persistente. Ele é dividido em 2 tipos: HIV 1 - Descoberto na África. Foi denominado primeiro de LAV (vírus associado à linfadenopatia) e em um segundo momento de HTLV III. ● Responsável por quase todos os casos de AIDS no mundo. ● Subdividido em subtipos de A a K HIV 2 - Descoberto em Portugal, mas originado na África. Este tipo é 55% distinto do HIV 1 e é menos patogênico. ● Encontrado principalmente no oeste da áfrica. ESTRUTURA ● RNA ● Envelope ● Enzimas ○ Transcriptase reversa: permite a transcrição do RNA viral em DNA de dupla fita, essencial para a replicação viral ○ Integrase: capaz de incorporar o DNA viral no genoma da célula hospedeira ○ Protease ● Proteínas essenciais ○ gp120: envolvida no processo de penetração na célula hospedeira, através da ligação com moléculas CD4 ○ gp41: envolvida no processo de penetração na célula hospedeira, promovendo a fusão com a membrana celular da célula a ser infectada ○ p24: alvo dos anticorpos usados nos testes sorológicos de diagnóstico TRANSMISSÃO A transmissão do HIV pode ocorrer por diferentes vias, sendo que o material que representa exposição com risco de transmissão do HIV é o sangue. ● Sexual - modo predominante de transmissão ● Perfurocortantes - usuários de drogas injetáveis, manicures, profissionais da saúde ● Vertical - da gestante para o feto A transmissão nas relações sexuais é bidirecional, tanto nas relações heterossexuais quanto nas homossexuais. A probabilidade de transmissão por via sexual é maior nas relações por via anal (mucosa fina e alta vascularização), um pouco menor por via vaginal, e a menor probabilidade da transmissão é por via oral. Essas diferenças se devem às diferenças anatômicas nos órgãos sexuais, como: mucosas, vascularização, rede linfática, área de exposição, presença de outras ISTs ou lesões. E devem-se também à diferenças no intercurso secual, como: lesões por atrito, lubrificação, retenção de fluídos, fluídos sexuais, muco anal e presença de sangue. QUEM DEVE SER TESTADO PARA HIV ● Dúvidas quanto ao status anti-HIV ● Exposição à situação de risco ● Gestantes ● Doadores de sangue ou de órgãos ● Sinais e sintomas de AIDS FISIOPATOLOGIA MECANISMO DE PENETRAÇÃO CELULAR A célula alvo do HIV é o linfócito TCD4. Portanto, ao aproximar-se da membrana deste linfócito, a glicoproteína 120 (gp120) liga-se à molécula CD4 (presente na membrana do linfócito) formando um complexo (gp120 + CD4) que muda de conformação e se liga ao correceptor CCR5 ou ao CXCR4. Em seguida, ocorre uma alteração na conformação da glicoproteína 41 (gp41) e ela promove a fusão do envelope viral à membrana da célula infectada, permitindo que o material genético e as enzimas do vírus adentrem o citoplasma do linfócito. Greicielle Ramos Mobile User quando em tratamento, apesar da chance ser menor, a transmissão pode ocorrer! Mobile User ou epitélio CICLO DE VIDA O principal objetivo do vírus é se replicar/multiplicar, e é para isso que ele adentra a célula alvo, para que se replique utilizando os aparatos desta célula. A enzima transcriptase reversa permite a formação de um DNA de dupla fita a partir do RNA viral, processo denominado transcrição reversa. Este DNA recém formado adentra o núcleo da célula e por ação da enzima integrase, consegue integrar-se ao DNA da célula hospedeira. Assim, quando a célula hospedeira replicar seu DNA, replica juntamente o DNA viral. Este DNA viral replicado sai do núcleo, e por ação da enzima protease, é montada uma nova partícula viral, que sai da célula por brotamento e se dissemina pela corrente sanguínea até atingir outra célula alvo. ➔ A ativação imune persistente, associada à infecção pelo HIV, gera um processo inflamatório crônico com lesão endotelial colaborando para o aumento do risco cardiovascular. ➔ A ação aterogênica do HIV também se manifesta por alterações no metabolismo do colesterol. HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA A infecção pelo HIV é seguida por uma replicação intensa do vírus, de forma que ocorre uma intensa destruição dos linfócitos TCD4. Depois de algumas semanas a replicação viral torna-se menos intensa, possibilitando que a população de TCD4 se recupere um pouco (mas nunca retorna ao que estava antes da infecção), porém esse vírus não deixa de se replicar, mesmo que lentamente, e diminuindo gradualmente a população de TCD4. Até que em dado momento, essa população de linfócitos é tão pequena, que caracteriza-se a AIDS, na qual o sistema imune não é mais capaz de conter a replicação viral, que dispara novamente. FASE AGUDA A fase aguda de infecção pelo HIV, também denominada de Síndrome retroviral aguda, inicia-se cerca de 5 a 30 dias após a transmissão do vírus e caracteriza-se por carga viral elevada e níveis decrescentes de linfócitos TCD4 (queda abrupta) - o teste HIV pode ser negativo. O indivíduo pode ser assintomático, ou apresentar sintomas que podem ser confundidos com um quadro viral inespecífico, como: ● Febre ● Faringite ● Mal estar / mialgia ● Cefaleia ● Exantema ● Emagrecimento ● Adenopatia Esta fase aguda apresenta duração média de 2 a 3 semanas, tendo caráter auto-limitado. Como desenvolvimento da resposta imunológica específica contra o HIV, ocorre um declínio nos níveis de viremia até um valor basal, e uma recuperação parcial na contagem de células CD4. LATÊNCIA CLÍNICA A latência clínica é sequencial à fase aguda,sendo um período de equilíbrio entre a replicação viral de modo lento/progressivo e a resposta imunológica, com baixa carga viral e aumento de CD4. - teste HIV é positivo. Os pacientes são geralmente assintomáticos ou manifestam a linfadenopatia generalizada persistente (adenomegalia em 2 ou mais cadeias não inguinais por um período mínimo de 3-6 meses e sem outra causa justificável), permanecendo nesta fase em média 8 anos. Sem tratamento, ao longo dos anos a carga viral vai aumentando e os linfócitos TCD4 diminuindo. Greicielle Ramos Mobile User o vírus precisa estar no núcleo para se replicar! Mobile User ou 3 a 4 Mobile User o indivíduo, nesse período, torna-se altamente infectante. como em outras infecções virais agudas, a infecção pelo HIV é acompanhada por um conjunto de manifestações clínicas, denominado Síndrome Retroviral Aguda (SRA) - além das já citadas, também astenia! Mobile User aqui, além das infecções oportunistas, à medida que a infecção progride se pode ter também os sintomas constitucionais! AIDS A AIDS é a fase mais crítica da doença, que ocorre em média de 8 a 10 anos após a infecção pelo HIV, caso o paciente não seja tratado. Este período é caracterizado por um desequilíbrio entre a replicação viral e o sistema imunológico, com alta carga viral e queda na contagem de células CD4 (= 2 episódios ou >= 2 dermátomos) ● Leucoplasia pilosa oral ● Perda de peso inexplicada (> 10% do peso) ● Diarreia crônica por mais de 1 mês ● Febre persistente inexplicada por mais de um mês (> 37,6ºC, intermitente ou constante) ● Infecções bacterianas graves: pneumonia, empiema, meningite, piomiosite, bacteremia, doença inflamatória pélvicagrave, infecções osteoarticulares ● Estomatite, gengivite ou periodontite aguda necrosante ● Anemia inexplicada ( 1 mês) ou visceral em qualquer localização ● Encefalopatia pelo HIV ● Criptococose extrapulmonar ● Infecção disseminada por micobactérias não M.tuberculosis ● Leucoencefalopatia multifocal progressiva ● Criptosporidiose intestinal crônica (duração > 1 mês) ● Isosporíase intestinal crônica (duração > 1 mês) ● Micoses disseminadas (histoplasmose, coccidiomicose) ● Septicemia recorrente por Salmonella não typhi ● Carcinoma cervical invasivo ● Reativação de doença de Chagas (meningoencefalite e/ou miocardite) ● Leishmaniose atípica disseminada ● Nefropatia ou cardiomiopatia sintomática associada ao HIV ● Síndrome consumptiva associada ao HIV (perda involuntária de mais de 10% do peso habitual) associada a diarreia crônica (2 ou mais episódios por dia com duração maior ou igual a 1 mês) ou fadiga crônica e febre maior ou igual a 1 mês Greicielle Ramos Mobile User - Tuberculose pulmonar Mobile User sudorese noturna, fadiga… Mobile User TERAPIA ANTIRRETROVIRAL A terapia antirretroviral não tem como objetivo erradicar a infecção pelo HIV, mas sim: 1. Indetectar a carga viral 2. Diminuir a transmissão do vírus 3. Recuperar as células CD4 (elevação de linfócitos TCD4 com recuperação imunológica) Não existem mais indicações baseadas em critérios clínicos ou de carga viral: deve-se tratar todos os pacientes que estejam com o HIV. CLASSES DE ANTIRRETROVIRAIS INIBIDORES DA TRANSCRIPTASE Zidovudina Lamivudina Tenofovir Nevirapina Efavirenz Etravirina INIBIDORES DA PROTEASE Atazanavir Lopinavir Darunavir + Ritonavir INIBIDORES DA INTEGRASE Raltegravir Dolutegravir INIBIDORES DE FUSÃO Infuvertida INIBIDORES DO CCR5 Maraviroc ESQUEMA INICIAL PREFERENCIAL: Tenofovir + Lamivudina + Dolutegravir ➔ Uma PVHIV, sem nenhuma outra IST, seguindo TARV corretamente e com carga viral do HIV suprimida, tem mínimas chances de transmitir o HIV pela via sexual. ➔ O uso do preservativo continua sendo recomendado como uma forma de cuidado adicional em PVHIV durante TARV. QUANDO INICIAR? O início imediato da terapia antirretroviral está recomendado para todas as pessoas vivendo com HIV, independentemente do seu estágio clínico e/ou imunológico. A terapia deve ser iniciada quando a PVHIV estiver informada sobre seus benefícios e riscos, além de fortemente motivada e preparada para o tratamento, respeitando-se a autonomia do indivíduo. Deve-se enfatizar que a terapia antirretroviral, uma vez iniciada, não deverá ser interrompida. Em nenhuma situação deverá haver qualquer tipo de coerção para início da TARV. Esforços devem ser feitos para reduzir o tempo entre o diagnóstico do HIV e o início da terapia, sempre avaliando a preparação e a motivação individual. ➔ Recomenda-se o início imediato da TARV para todos os pacientes com risco cardiovascular elevado (escore de Framingham acima de 20%) ➔ TARV está indicada para toda gestante infectada pelo HIV, independentemente de critérios clínicos e imunológicos, e não deverá ser suspensa após o parto, independentemente do nível de linfócitos TCD4. EFEITOS ADVERSOS DA TARV ● Dislipidemia - as drogas inibidoras da protease elevam os níveis de colesterol e triglicerídeos. ● Lipodistrofia - tecido conjuntivo subjacente mal distribuído. ○ Lipoatrofia: em membros inferiores e superiores, face e glúteos ○ Lipohipertrofia: em dorso, abdome, vísceras, papada e giba ● Anemia ● Insuficiência renal ● Osteopenia ● Diabete ● Neuropatia Há interação medicamentosa entre drogas antirretrovirais e a sinvastatina (hipolipemiante), assim, esta estatina não pode ser utilizada em pacientes realizando terapia antirretroviral - Uma alternativa é o uso da Atorvastatina. A AIDS tem cura, com o uso da terapia antirretroviral. E o HIV? Tem cura? No mundo todo, 4 pacientes já atingiram a cura, baseada no seguinte mecanismo: Um paciente masculino, 40 anos, com diagnóstico de infecção pelo HIV há mais de 10 anos, com CD4 de 400 e carga viral indetectável, em uso de EFZ. Desenvolveu leucemia mielóide aguda (AML), e foi submetido à quimioterapia, mas houve recidiva. Recebeu então transplante de células tronco alogênica, com doador propositalmente homozigoto para o alelo CCR5, junto com a quimioterapia. - Como é homozigoto para este alelo, não produz em suas células o correceptor CCR5, assim, o HIV não consegue adentrar as suas células alvo. Greicielle Ramos Mobile User em caso de intolerância ou contraindicação ao DTG, usar Efavirenz (esquema inicial alternativo!) Mobile User alta potência, alta barreira genética e menor toxicidade! EPIDEMIOLOGIA ESTATÍSTICAS GLOBAIS SOBRE HIV Em 2022: ● 39 milhões de pessoas estavam vivendo com o HIV ● 1,3 milhão de pessoas foram recém infectadas com o HIV ● 630 mil de pessoas morreram por doenças relacionadas à AIDS ● 29,8 milhões de pessoas estavam recebendo terapia antirretroviral ● 85,6 milhões de pessoas foram infectadas pelo HIV desde o início da epidemia ● 40,4 milhões de pessoas morreram de doenças relacionadas à AIDS desde o início da epidemia PVHIV EM TERAPIA ANTIRRETROVIRAL ● No fim de 2022, 29,8 milhões de pessoas estavam em terapia antirretroviral. ○ 76% de todas as pessoas vivendo com HIV estavam acessando tratamento. ○ 77% de pessoas adultas vivendo com HIV tinham acesso ao tratamento. No entanto, apenas 57% das crianças de 0 a 14 anos tinham o mesmo acesso. ○ 82% das mulheres com 15 anos ou mais tinham acesso ao tratamento, no entanto, apenas 72% dos homens com 15 anos ou mais também acessavam a terapia antirretroviral. ○ 82% de mulheres grávidas vivendo com HIV tiveram acesso a antirretrovirais para prevenir a transmissão vertical para suas crianças em 2022 ● 9,2 milhões de pessoas vivendo com HIV não tinham acesso à terapia antirretroviral. NOVAS INFECÇÕES POR HIV As novas infecções por HIV foram reduzidas em 59% desde o pico, em 1995. ● Em 2022, cerca de 1,3 milhão de pessoas foram recém infectadas pelo HIV em comparação às 3,2 milhões de 1995. ● Mulheres e meninas foram responsáveis por 46% de todas as pessoas recém infectadas em 2022. Desde 2010, novas infecções pelo HIV diminuíram em 38%, e em crianças diminuíram 58%. MORTES RELACIONADAS À AIDS Houve redução de 69% das mortes relacionadas à AIDS desde o pico em 2004 e de 51% desde 2010. ● Em 2022, cerca de 630 mil pessoas morreram por doenças relacionadas à AIDS no mundo. ● Desde 2010, a mortalidade relacionada à AIDS reduziu 55% entre mulheres e meninas e 47% entre homens e meninos. POPULAÇÕES CHAVE Geralmente, a prevalência média de infecção por HIV entre a população adulta (15-49 anos) era de 0,7%. Entretanto, a prevalência média é maior entre as populações chave. Sendo: ● 10,3% entre pessoas trans ● 7,5% entre gays e homens que fazemsexo com outros homens ● 5% entre pessoas que fazem uso de drogas injetáveis ● 2,5% entre profissionais do sexo ● 1,4% entre pessoas em privação de liberdade META 95-95-95 Esta meta tem como objetivo que em 2025: ● 95% das pessoas vivendo com HIV conheçam o seu status sorológico para o HIV ● 95% das pessoas vivendo com HIV estejam em tratamento ● 95% das pessoas vivendo com HIV tenham a carga viral suprimida Em 2022: ● 86% das PVHIV conheciam seu status sorológico para o HIV ● Entre as pessoas que conheciam seu status sorológico para HIV, 89% tinham acesso ao tratamento ● Entre as pessoas com acesso ao tratamento, 93% atingiram supressão viral. Analisando cada indicador individualmente, em 2022: ● Entre todas as PVHIV, 86% sabiam seu status sorológico ● 76% estavam recebendo tratamento ● 71% tinham carga viral suprimida Greicielle Ramos Mobile User O Brasil possui cerca de 1.045.233 casos de HIV/AIDS, dos quais 2/3 são homens e 1/3 são mulheres!