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Aula 1 - Introdução Cineantro

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CINEANTROPOMETRIA
“O conceito de cineantropometria foi apresentado em 1986 por William Ross em um Congresso no Canadá que reuniu avaliadores físicos do mundo inteiro, inclusive dois brasileiros: Paulo Sérgio Gomes e o Prof. Dr. Cláudio Gil. Nesse Congresso, abandonou-se o termo “biometria” e adotou-se o de “cineantropometria”, pelos motivos que vou expor mais adiante. É importante ressaltar que a avaliação física não é necessariamente exclusiva de profissionais de Educação Física, mas abrange diversas áreas no campo da Saúde, incluindo Médicos e Fisioterapeutas.
Das definições de cineantropometria, a que mais me agrada é a de William Ross: “Uso da medida no estudo do tamanho, forma, proporcionalidade, composição e maturação do corpo humano em relação ao crescimento, atividade física e estado nutricional”.
Etimologicamente, “cine” quer dizer “movimento”; “antropo”, genericamente, caracteriza o ser humano; e “metria” refere-se a “medida”. Portanto, a cineantropometria é a “medida do ser humano em movimento”.
Não se admite mais um conceito estático do ser humano. Mesmo “parado”, nosso corpo produz movimentos: fagocitose, hemodinâmica, pressão arterial, freqüência cardíaca, várias coisas estão acontecendo no corpo o tempo todo. O ser humano está crescendo durante a infância, “diminuindo” durante o envelhecimento; ele é um centro de movimento, tanto movimento interno quanto externo, a que chamamos de “motricidade”. É por esse motivo que não se admite mais o termo “biometria”, um conceito estático que surge através da Antropologia, em estudos de tamanho, forma e proporção.
A partir da adoção do conceito de cineantropometria, surgiu a necessidade de padronização das medidas, para que o avaliador possa comparar os parâmetros físicos indepentemente do país ou até do continente de origem de uma pessoa específica. Por esse motivo, foi criada a ISAK – Sociedade Internacional de Avanço da Cineantropometria, cujos padrões nós adotamos.
A importância da cineantropometria é avaliar o estado do indivíduo para fundamentar a prescrição por parte do avaliador, tanto no início da atividade física quanto durante o processo, recebendo o feedback do aluno. Hoje em dia, eu não faço mais prescrições sem uma compreensão correta da morfologia individual.
Explicando melhor: a avaliação se divide em duas partes, a morfológica e a funcional. Portanto, a cineantropometria é uma avaliação “morfofuncional”.
Em seu aspecto morfológico, incluímos medidas antropométricas em equações de regressão que permitirão o cálculo do percentual de gordura, do peso muscular, do fracionamento das massas de peso e de gordura, do peso residual e do peso ósseo.
Essas equações permitem uma precisão muito maior do que, por exemplo, o IMC, Índice de Massa Corpórea, em que se divide o peso pela estatura ao quadrado. Ora, se um sujeito for muito forte, tiver um peso muscular muito grande, o cálculo do IMC vai dizer que ele é “gordo”, o que absolutamente não é verdade. Essa discrepância acontece porque o IMC usa apenas duas variáveis. Então, principalmente quando se avaliam atletas, o IMC superestima a gordura do indivíduo, porque o sobrepeso é de músculos, não de gordura.
Logo, ao incorporar diversas variáveis através de equações de regressão é possível extrapolar como provavelmente se encontra a parte morfológica do indivíduo.
Essas equações foram obtidas diretamente através da dissecação de cadáveres. Nós usamos métodos indiretos, mas todos eles têm coeficiente de correlação muito alto. O coeficiente de correlação significa, por exemplo, que quando você relaciona duas variáveis e obtém um índice igual a .90, há uma probabilidade de 81% do que eu estou afirmando esteja certo, porque é um índice quadrático.
Esse alto coeficiente de correlação das medidas indiretas com as medidas diretas permitem a extrapolação do fracionamento das massas. Vale dizer que, originalmente, os estudos diretos foram feitos no século XIX e, recentemente, refeitos numa escola européia. Surpreendentemente, essas equações sofreram apenas pequenas correções.
Portanto, essa parte da cineantropometria, a morfologia, é o estudo em que se faz a subdivisão das massas, o fracionamento da massa corporal e se observa do que ela é composta.
Esses dados são muito importantes para a prescrição porque você pode descobrir que o indivíduo tem uma deficiência de componente muscular ou excesso de componente de gordura. Esses dados não são observáveis diretamente, só olhando a forma do indivíduo. Você pode encontrar indivíduos com o mesmo volume mas morfologicamente completamente diferentes. Um pode ter um componente muscular muito mais elevado, já o outro, uma predominância do componente de gordura.
Esses índices de massa magra e massa gorda apresentam correlações com a saúde. Estudos populacionais indicam, por exemplo, que um determinado índice de gordura corporal é maléfico pra saúde, que tem associação com cardiopatias, com problemas metabólicos, entre outros.
Por isso é necessário que os médicos entendam de cineantropometria, o que é difícil de ver aqui no Brasil. Eu dou cursos para médicos, porque quem primeiro abraçou essa ciência aqui no Brasil foram os Educadores Físicos. Então, de certa forma, ela está associada, aqui no Brasil, à Educação Física.
Quanto à parte funcional, você vai avaliar o ser humano através de testes de esforço, de força, flexibilidade, para aliar a forma com a funcionalidade na prescrição.
A aplicabilidade da cineantropometria é muito ampla, tanto no dia-a-dia quanto para atletas. 
Por exemplo, se o indivíduo tem muita gordura na região central do corpo. Esse índice está associado a coronariopatias, problemas metabólicos, diabetes. Uma pessoa pode ter as pernas e as coxas gordas sem relação com esse tipo de problema. Mas a gordura na região central do corpo, a gordura visceral, aumenta a probabilidade de desenvolver hipertensão, diabetes, entre outras doenças.
Portanto, a aplicabilidade desses índices serve tanto na área Médica quanto na Educação Física, para efeito de prescrição.
Mas, por incrível que pareça, até o percentual de gordura do indivíduo, isoladamente, não diz muita coisa. Ele tem que estar associado a outras partes morfológicas do indivíduo para que você possa dar um laudo. É mais importante saber onde está localizada a gordura, a topografia da gordura, do que o percentual total. Mais importante do que aferir um padrão, é obter o conhecimento global do indivíduo que se obtém através da cineantropometria. A cineantropometria tem essa característica de promover a prevenção e de melhorar a prescrição, para que trabalhe e desenvolva o indivíduo no sentido de que ele não venha a desenvolver determinada enfermidade.
No campo esportivo, nós trabalhamos no Fluminense F.C. com um componente de estratificação. Precisamos diferenciar o estado de cada um entre o monte de garotos que chegam ao clube.
Porque, às vezes, o fato de “jogar bem” não significa que um garoto que seja um talento. O talento é desenvolvido durante várias etapas de formação do atleta.
Com a cineantropometria, podemos observar, através da estrutura morfológica do indivíduo, em que estado ele se encontra em relação à idade biológica. Ele pode parecer um craque porque teve uma formação maturacional antecipada em relação aos outros garotos, de modo que ele se destaca: é o que tem o chute mais forte, é o que corre mais, mas apenas porque sua idade biológica está adiantada em relação à idade cronológica.
Num caso como esse, podemos pensar que estamos diante de um craque. Mas, quando os outros garotos desenvolverem a parte biológica, vamos perceber que ele garoto já não se destaca tanto assim em relação aos outros, não está tão acima da média quanto parecia.
Então, existem vários estudos, várias formas de se avaliar um talento. Existem fatores morfológicos, fatores genéticos. Por exemplo, um estudo chamado “dermatografia” – o estudo das impressões digitais – pode detectar evidênciasgenéticas para determinar a predisposição do indivíduo para a força, para a velocidade, para a coordenação. A partir desses dados, é possível desenvolver essas potencialidades em quem já as possui em maior grau, eliminando um bocado de trabalho.
É cada vez mais raro, hoje em dia, observar apenas a composição corporal, o fracionamento das massas. Observa-se também o somatotipo. O somatotipo é obtido através de medidas antropométricas, relacionando três componentes primários do corpo, desenvolvidos já desde a fase de embrião: (1) a endomorfia, que é o componente de gordura, (2) a mesomorfia, que é a compleição músculo-esquelética, e (3) a ectomorfia, que é o grau de linearidade.
Esses três componentes reunidos definem a conformação do indivíduo, antigamente chamada de “biotipo”. “Somato” significa “soma”, a relação desses componentes. Todo indivíduo tem os três componentes, alguns mais destacados do que outros, em proporções diferentes, mas todos nós temos os três elementos.
Por exemplo, um indivíduo pode ter um percentual de gordura abaixo da média mas, quando se faz a relação dos três componentes, descobrimos que ele tem uma endomorfia alta, porque a mesomorfia, por exemplo, que é o componente de músculos, é baixa.
Então, se eu fosse observar esse sujeito somente pelo prisma da composição corporal, eu incorreria no erro de dizer que esse indivíduo está bem porque tem um baixo percentual de gordura, quando na verdade não está. Assim, observamos vários fatores para prover um laudo correto, para fazer uma prescrição adequada. Todo mundo que lida com saúde hoje deveria entender um pouquinho de cineantropometria, em todos os aspectos, tanto funcionais quanto morfológicos”.

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