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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES: 
INTRODUÇÃO E CLASSIFICAÇÕES
ORGANIZADORA ANNA PIANTINO
Direito das obrigações: Introdução e classi�cações
GRUPO SER EDUCACIONAL
Este é um livro essencial para estudantes de Economia. De forma sucinta, 
o livro trata tanto de assuntos gerais da área quanto de conteúdo especí�-
co: princípios de Economia, elasticidade, estruturas de mercado e regu-
lação, e o sistema �nanceiro no Brasil.
Após a leitura deste livro, o aluno vai aprender os três princípios sobre 
como as pessoas interagem entre si; entender como os agentes econômi-
cos se relacionam no mercado por meio de três princípios: a produtividade 
de um país determina o padrão de vida de sua sociedade, emissão de 
moeda causa in�ação, correlação entre as variáveis in�ação e taxa de 
desemprego; vai compreender que a elasticidade é uma ferramenta 
econômica muito importante que informa em que medida (quantitativa-
mente) a demanda variará em relação ao aumento de preço de um bem; vai 
perceber que o sistema �nanceiro in�uencia de forma intrínseca a econo-
mia pois coordena as reservas de moeda do país e também seu investimen-
to, assim, as decisões que os agentes econômicos tomam hoje dizem 
respeito aos potenciais re�exos em nossas vidas no futuro, e tais decisões 
sempre envolverão duas variáveis principais: tempo e risco. E não só isso! O 
conteúdo do livro é vasto.
Bons estudos!
DIREITO DAS 
OBRIGAÇÕES: 
INTRODUÇÃO E 
CLASSIFICAÇÕES
ORGANIZADORA ANNA PIANTINO
gente criando futuro
I SBN 9788522129690
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DIREITO DAS 
OBRIGAÇÕES
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou 
transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo 
fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de 
informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional. 
Diretor de EAD: Enzo Moreira
Gerente de design instrucional: Paulo Kazuo Kato 
Coordenadora de projetos EAD: Manuela Martins Alves Gomes
Coordenadora educacional: Pamela Marques
Equipe de apoio educacional: Caroline Guglielmi, Danise Grimm, Jaqueline Morais, Laís Pessoa
Designers gráficos: Kamilla Moreira, Mário Gomes, Sérgio Ramos, Tiago da Rocha
Ilustradores: Anderson Eloy, Luiz Meneghel, Vinícius Manzi
 
Piantino, Anna
Direito das obrigações: Introdução e classificações / Anna Piantino. 1. ed. – São Paulo : 
Cengage, 2020.
Bibliografia.
ISBN 9788522129690
1. Direito 2. Direito Civil 3. Responsabilidade Civil
 
Grupo Ser Educacional
 Rua Treze de Maio, 254 - Santo Amaro 
CEP: 50100-160, Recife - PE 
PABX: (81) 3413-4611 
E-mail: sereducacional@sereducacional.com
“É através da educação que a igualdade de oportunidades surge, e, com 
isso, há um maior desenvolvimento econômico e social para a nação. Há 
alguns anos, o Brasil vive um período de mudanças, e, assim, a educação 
também passa por tais transformações. A demanda por mão de obra 
qualificada, o aumento da competitividade e a produtividade fizeram com 
que o Ensino Superior ganhasse força e fosse tratado como prioridade para 
o Brasil.
O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – Pronatec, 
tem como objetivo atender a essa demanda e ajudar o País a qualificar 
seus cidadãos em suas formações, contribuindo para o desenvolvimento 
da economia, da crescente globalização, além de garantir o exercício da 
democracia com a ampliação da escolaridade.
Dessa forma, as instituições do Grupo Ser Educacional buscam ampliar 
as competências básicas da educação de seus estudantes, além de oferecer-
lhes uma sólida formação técnica, sempre pensando nas ações dos alunos 
no contexto da sociedade.”
Janguiê Diniz
PALAVRA DO GRUPO SER EDUCACIONAL
Autoria
Anna Camila Andrade Piantino
Advogada inscrita na OAB/MG, bacharela em Direito pela Universidade Federal de Minas 
Gerais (UFMG). Tem experiência em pesquisa e extensão, com enfoque em direito civil 
e direito comparado, tendo atuado em estudos sobre o instituto da posse e direito 
patrimonial.
PREFÁCIO ..............................................................................................................................................8
UNIDADE 1 - Introdução e classificações ........................................................................................9
Introdução.............................................................................................................................................10
1. Introdução ao Direito das Obrigações ............................................................................................... 11
2. Conceito, elementos e sujeitos da obrigação ................................................................................... 14
3. Princípios do Direito das Obrigações ................................................................................................ 17
4. Fontes das obrigações ....................................................................................................................... 18
5. Atos unilaterais ................................................................................................................................. 19
6. Classificação das obrigações ............................................................................................................. 21
PARA RESUMIR ..............................................................................................................................32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................33
UNIDADE 2 - Transmissão e cumprimento da obrigação ...............................................................35
Introdução.............................................................................................................................................36
1. Transmissão da obrigação ................................................................................................................. 37
2. Cumprimento da obrigação .............................................................................................................. 43
3. Modalidades de pagamento especial ............................................................................................... 53
PARA RESUMIR ..............................................................................................................................59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................60
UNIDADE 3 - Modos extraordinários de cumprimento da obrigação e 
inadimplemento das obrigações ...................................................................................................61
Introdução .................................................................................................................. 62
1. Modos extraordinários de cumprimento da obrigação: extinção sem pagamento ..........................63
2. Adimplemento substancial ............................................................................................................... 68
3. Enriquecimento sem causa e pagamento indevido ..........................................................................70
4. Preferências e privilégios creditícios ................................................................................................. 72
5. Inadimplemento das obrigações ....................................................................................................... 72
SUMÁRIO
PARA RESUMIR ..............................................................................................................................83
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................84
UNIDADE 4 - Responsabilidade civil ...............................................................................................85que seja inoponível por ausência de notificação, 
não significa que a cessão de crédito seja nula, então, caso o devedor pague ao credor primitivo, 
cabe ao credor primitivo restituir ao cessionário tudo que recebeu do devedor indevidamente 
(art. 292 e 293, CC) (GONÇALVES, 2019).
Quanto à oponibilidade da cessão de crédito perante terceiros (pessoas estranhas tanto 
a obrigação, quanto a cessão), o artigo 288 do Código Civil exige forma especial para esta 
modalidade de transmissão de crédito: deve ser celebrada mediante instrumento público, ou 
instrumento particular revestido das solenidades previstas no artigo 654, §1º. Ainda quanto à 
forma, o artigo 289 preceitua que, tratando-se de cessão de crédito hipotecário, o cessionário 
tem o direito de averbá-la no registro do imóvel. Quando o credor, que tem a pretensão de ser 
pago, exige o pagamento do devedor, este deve assim proceder, ou então opor uma exceção que 
o exime da prestação. O Código Civil, em seu artigo 294, além de esclarecer a possibilidade de 
opor exceções do devedor para com seu novo credor, preservou as exceções que o devedor tinha 
contra o cedente, então estas também poderão ser opostas contra o cessionário.
Ressalta-se que as exceções que o devedor tinha com cedente devem ser opostas assim que 
for notificado na ocorrência da cessão de crédito. Caso não tenha sido notificado, o devedor 
poderá opor ao cessionário as exceções que tinha contra o cedente, a qualquer tempo, desde que 
antes do pagamento (GONÇALVES, 2019).
40
O crédito cedido pode ser de difícil cobrança, tendo isso em vista, o artigo 295 do Código Civil 
estipula responsabilidade do cedente pelo crédito transferido, a depender se a cessão de crédito 
ocorreu de forma onerosa ou gratuita. Se ocorrer a título oneroso, o cedente fica responsável pela 
existência e titularidade do crédito no momento da transferência. Se ocorrer a título gratuito, não 
fica responsável, a menos que tenha agido em má fé. Contudo, mister destacar que o artigo 295 
não se refere à solvência do devedor, pela qual o cedente não é responsável e, assim, os riscos por 
esta são do cessionário, salvo estipulação em sentido contrário (art. 296, CC).
Ainda quanto ao artigo 295, Caio Mário Pereira (2018) pontua que tal artigo se refere apenas 
aos casos de cessão convencional, ou seja, da cessão fruto da vontade das partes. Essa distinção 
é necessária, pois em caso de cessão de crédito por força da lei, o cedente não tem nenhuma 
responsabilidade pelo crédito.O artigo 297 do Código Civil, por sua vez, trata da hipótese em que 
as partes tenham convencionado que o cedente é responsável pela solvência do devedor. Se assim 
determinar-se, o cedente poderá responder pelo equivalente que tiver recebido do cessionário 
ao realizar a cessão de crédito, com os respectivos juros e eventuais despesas que o cessionário 
teve com a cessão. Então, o cedente responsável pela solvência do devedor se compromete não 
em gerar enriquecimento ao cessionário, mas em não deixar que este tenha prejuízos com a 
eventual inadimplência da prestação (PEREIRA, 2018). O artigo 298 do mesmo diploma trata 
da hipótese em que o crédito que possa ser cedido seja objeto de penhora e, caso isso ocorra, 
determina que este não poderá ser cedido, afinal, a penhora faz com que o crédito deixe de 
fazer parte do patrimônio do credor. Então, caso o credor tenha feito transferência de crédito 
penhorado, esta será ineficaz. Na segunda parte do mesmo artigo, observa-se a consequência da 
penhora do crédito para o devedor. Caso este não seja notificado da penhora e faça o pagamento, 
fica exonerado da obrigação. Caso seja notificado e realize o pagamento mesmo assim, seja ao 
cedente, seja ao cessionário, responderá por novo pagamento perante o terceiro exequente. 
Dessa forma, o credor que cedeu o crédito que não podia ceder, responde perante o terceiro 
prejudicado (PEREIRA, 2018).
Por fim, trata-se da hipótese de múltiplas cessões do mesmo crédito. Caso isso ocorra e o 
devedor não seja notificado (PEREIRA, 2018), conforme o artigo 291 do Código Civil, basta que o 
devedor pague àquele cessionário que primeiro apresentar o título do crédito cedido.
1.2 Assunção de dívida
Assunção de dívida, também chamada de cessão de débito, ocorre quando o devedor transfere 
sua posição para um terceiro, estranho à relação jurídica. Trata-se de um negócio jurídico bilateral 
que requer anuência expressa do credor para acontecer. O terceiro que assume a posição do devedor 
é chamado assuntor e se torna responsável pelos encargos obrigacionais, subsistindo também os 
acessórios (GONÇALVES, 2019). Nesse seguimento, prescreve o Código Civil, em seu artigo 299: “É 
facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando 
41
exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o 
ignorava” (BRASIL, 2002). A parte deste artigo que trata da exoneração do devedor primitivo, discorre 
sobre a possibilidade da assunção ocorrer de forma liberatória ou cumulativa.
Assunção de dívida 
liberatória
Quando o devedor primitivo se dissocia, completamente, do débito (GON-
ÇALVES, 2019).
Assunção de dívida 
cumulativa
Quando devedor continua sendo parte da obrigação, apenas trazendo um 
assuntor que se responsabilizará por parte do débito (GONÇALVES, 2019).
Por esta definição, percebe-se que, uma grande diferença entre a assunção de dívida e a cessão 
de crédito reside no fato da necessidade obrigatória de consentimento da outra parte. Se na cessão 
de crédito a concordância do devedor é dispensável, na assunção da dívida a anuência do credor é 
requisito necessário, devendo, inclusive, se dar de modo expresso (art. 299, parágrafo único, CC).
Existe apenas uma hipótese em que o Código Civil admite aceitação tácita do credor, qual 
seja, a do artigo 303, que determina: “O adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu 
cargo o pagamento do crédito garantido; se o credor, notificado, não impugnar em trinta dias a 
transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento” (BRASIL, 2002). Quanto ao objeto 
da assunção da dívida, Gonçalves (2019, p. 232) aponta que é possível transferir “todas as dívidas, 
presentes e futuras, salvo as que devem ser pessoalmente cumpridas pelo devedor.” Apesar da 
redação do Código Civil não trazer essa distinção de forma expressa, existem duas espécies de 
assunção de dívida, segundo a doutrina. A primeira é denominada expromissão e ocorre quando 
o débito é cedido mediante contrato entre o credor e terceiro, sem necessidade de anuência 
do devedor. A segunda espécie chama-se delegação, que, por sua vez, ocorre quando o próprio 
devedor transfere seu débito, com a concordância do credor (DINIZ, 2007).
Um dos efeitos da assunção de débito é a cessação dos privilégios e garantias pessoais do 
devedor primitivo, assim, não pode o assuntor opor exceções do antigo devedor contra o credor 
(art. 302, CC). No mesmo sentido, as garantias especiais dadas pelo credor ao antigo devedor não 
serão aproveitadas pelo novo devedor (art. 300, CC). Por fim, analisa-se o conteúdo do artigo 301 
42
do Código Civil, que trata da hipótese de ocorrer anulação da substituição do devedor, ou seja, da 
assunção da dívida. Se ocorrer, haverá restauração da dívida e a obrigação volta a ser exatamente 
como era antes da assunção acontecer. Da frustrada substituição do devedor, apenas subsistem 
eventuais garantias reais dadas pelo assuntor ao credor antes da assunção da dívida ser anulada. 
Diniz exemplifica (2007, p. 455):
“A” deve a “B”, sendo “C” e “D” seus fiadores. “A e “C” forçam “E” a assumir o débito. “B” e “D” 
desconhecem a coação sofrida por “E”. “B” aceita a cessão de débito feita a “E”, com isso “A”, “C” e 
“D” liberar-se-ão. “E” consegue anular a assunção de dívida, alegando vício de consentimento. Com 
isso revigorar-se-á o débito de “A” e todas as garantias, menos a fiança dada por “D”, já que não tinha 
ciência daquela coação.1.3 Cessão de contrato
A cessão de contrato é a única modalidade de transmissão da obrigação não regulamentada 
pelo direito brasileiro. Contudo, segundo Diniz (2007, p. 457):
a cessão de contrato tem existência jurídica como negócio jurídico inominado por decorrer do 
princípio da autonomia negocial, pois, desde que os contraentes tenham capacidade, sendo lícito e 
possível o objeto e não recorrendo a forma proibida legalmente, as partes poderão estipular o que 
quiserem. Além disso, é preciso lembrar que, se a cessão de crédito e a de débito são permitidas, 
não há por que vedar a cessão do contrato, já que se do contrato defluem créditos e débitos para os 
interessados, que os podem transmitir separadamente, não há razão para que não tenham o direito de 
os transferir no todo. Portanto, na cessão de contrato transmitem-se ao cessionário não só os direitos, 
mas também as obrigações do cedente.
Assim, define-se cessão de contrato como a transmissão de obrigação em que ocorre 
transferência da inteira posição ativa e passiva em um contrato. Em outras palavras, trata-se de 
um instituto que permite que um sujeito transfira de uma só vez seus débitos e créditos para 
terceiro. É o que a doutrina denomina de cessão de posição contratual, que Gonçalves define da 
seguinte maneira (2019, p. 241):
O contrato, como bem jurídico, possui valor material e integra o patrimônio dos contratantes, 
podendo por isso ser objeto de negócio. Esse valor não se limita ao bem da vida sobre o qual incide 
a manifestação de vontade das partes, mas abrange um conjunto de atividades representado por 
estudos preliminares, tratativas, expectativas, viagens, consultas a especialistas, desgaste psicológico, 
despesas etc., que não pode ser desconsiderado. Esse complexo, que inclui os direitos e as obrigações, 
os créditos e os débitos emergentes da avença, denomina-se posição contratual, de valor econômico 
autônomo, passível, portanto, de circular como qualquer outro bem econômico.
A cessão de contrato, então, possui natureza contratual e é composta por três sujeitos: o 
cedente (transfere sua posição contratual), o cessionário (assume a posição contratual do 
cedente) e o cedido (o contraente que consente com a realização da cessão) (GONÇALVES, 2019).
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A doutrina brasileira estabeleceu três requisitos para que a cessão de contrato possa ocorrer, 
além das demais regras que se aplicam a qualquer negócio jurídico bilateral:
• deve haver celebração de contrato entre cedente e cessionário;
• a cessão deve ser integral;
• anuência expressa do cedido (PEREIRA, 2018).
Quanto aos efeitos da cessão de contrato entre cedente e contraente cedido, existem duas 
categorias de cessão de contrato, a cessão de contrato com liberação do cedente e a cessão 
de contrato sem liberação do cedente. Na primeira, o cedente se exime, completamente, 
da obrigação, enquanto na segunda, transfere sua posição contratual, mas permanece na 
obrigação como principal pagador. Trata-se de hipótese em que o cedido não autoriza que o 
cedente seja liberado (GONÇALVES, 2019). Quanto aos efeitos entre cedente e cessionário, tem-
se a transferência ao cessionário de todos os direitos e obrigações do cedente. Por analogia, 
a doutrina defende que se apliquem aqui as disposições do Código Civil relativas à cessão de 
crédito, em destaque os artigos 295 e 296 (GONÇALVES, 2019).
Por fim, quanto aos efeitos da cessão de contrato entre cessionário e contraente cedido, 
a doutrina estabeleceu que as exceções que o cedente possuía não podem ser alegadas pelo 
cessionário contra o contraente cedido. Também não se transmitem ao cessionário os direitos 
potestativos do cedente. Para ilustrar, Gonçalves apresenta o seguinte exemplo (2019, p. 249):
Assim, quando o locatário, por exemplo, cede a locação a um terceiro, quem passa a ser locatório 
perante o proprietário é esse último. É dele que o locador passará a exigir alugueis que se venceram 
e contra quem poderá promover a resolução ou denúncia do contrato. Por outro lado, é o cessionário 
quem passa a ter todos os direitos que resultam da locação, podendo opô-los ao locador. Todavia, a 
aludia transmissão só se produz a partir da data da cessão, não respondendo o novo locatário pelos 
alugueis vencidos anteriormente.
2. CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO
Ao se constituir uma obrigação, o seu principal objetivo, ou melhor, o efeito que se espera 
desta, é o cumprimento da obrigação, denominado pelo Código Civil de “adimplemento da 
obrigação”, também, por vezes, chamado apenas de “pagamento”, em sentindo amplo. As 
obrigações possuem um ciclo vital, composto por três etapas: seu nascimento, suas transformações 
e, finalmente, seu cumprimento. Além de etapa final da obrigação, o cumprimento trata-se do 
objetivo final das demais etapas, pois estas só existem para que ele ocorra, justamente. (FARIAS; 
ROSENVALD, 2017)
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O Código Civil prevê o cumprimento da obrigação em seu Título III do Livro 1, intitulado 
“Do Adimplemento e Extinção das Obrigações”. Os termos “adimplemento das obrigações” 
e “extinção das obrigações” encontram-se diferenciados pelo ordenamento pátrio. Segundo 
Gonçalves (2019), o Código Civil utiliza “adimplemento” como sinônimo de cumprimento da 
obrigação, ou ainda de pagamento. Assim, define-se cumprimento de obrigação da seguinte 
maneira (GONÇALVES, 2019, p. 253):
realização voluntária da prestação debitória, tanto quando procede do devedor como quando 
provêm de terceiro, interessado ou não da extinção do vínculo obrigacional, pois “qualquer interessado 
da extinção da dívida pode pagá-la” (CC, art. 304) e “igual direito cabe ao terceiro não interessado, se 
o fizer em nome e à conta do devedor” (parágrafo único).
Assim, o cumprimento da obrigação é um modo de extinção da obrigação, através do 
qual ocorre o cumprimento da prestação devida. Para fins didáticos, para que esta análise do 
cumprimento da obrigação se dê conforme a nomenclatura utilizada com o Código Civil de 2002, 
adotar-se-á aqui o termo “pagamento”. Segundo Pereira (2018), este vocábulo tem o sentido de 
cumprimento voluntário da obrigação, seja por iniciativa do próprio devedor, seja por solicitação 
do credor. Nesse sentido, mister destacar que o termo “pagamento” adotado pelo Código Civil 
não é sinônimo de pagamento em dinheiro. O pagamento aqui carrega o significado de forma 
de liberação do devedor, mediante o cumprimento da prestação. Tendo esta definição de 
“pagamento” em vista, Pereira (2018) divide as formas de cumprimento da obrigação em três 
grupos: 1) pagamento; 2) pagamentos especiais; e 3) extinção das obrigações sem pagamento.
O primeiro grupo, que também é chamado pela doutrina pátria de “pagamento direto” trata 
do conteúdo disciplinado no Código Civil em seus artigos 304 a 333. Por sua vez, o segundo grupo, 
engloba as seguintes espécies de pagamento: a sub-rogação (art. 346 a 351); consignação (art. 
334 a 345); imputação (art. 352 a 355) e dação (art. 356 a 359). Por fim, o terceiro grupo, trata 
da novação (art. 360 a 367); compensação (art. 368 a 380); confusão (art. 381 a 384); e remissão 
(art. 385 a 388).
Assim, nesta unidade, analisa-se o pagamento conforme disciplinado pelo Código Civil, 
examinando-se seus princípios, sujeitos aptos a participar do cumprimento da obrigação, lugar e 
tempo do pagamento, objeto do pagamento, pagamento em dinheiro e a prova do pagamento. Em 
seguida, estudam-se os pagamentos especiais, ou seja, sub-rogação, consignação, imputação e dação.
45
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FIQUE DE OLHO
Para melhor compreensão do estudo de direito das obrigações daqui para frente, destaca-se 
a estruturação do título III do Código Civil (FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 413-414): o título III 
é fracionado em nove capítulos, que se resumem em dois grandes seguimentos: o pagamento 
(capítulo I) e os demais modos extintivos (capítulos II a IX).
2.1 Cumprimento da obrigação: princípios gerais
O cumprimento das obrigações é presidido por dois princípios gerais:o princípio da 
pontualidade e o princípio da boa-fé. O princípio da pontualidade trata da exigência que a 
prestação da obrigação seja cumprida em tempo, no momento ajustado, de forma integral, no 
lugar e modo devidos. Trata-se então da determinação que a prestação deve ser cumprida em 
sua integralidade, para que sempre se siga exatamente o que foi convencionado entre as partes. 
Farias e Rosenvald (2017) afirmam que o termo vem da noção de cumprimento “ponto por ponto” 
do estipulado, muito além do mero aspecto temporal. De acordo com os mesmos doutrinadores, 
seguindo o entendimento da Jurista Judith Martins-Costa, este princípio pode ser decomposto 
nos princípios da correspondência,exatidão e integridade.
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Princípio da correspondência
Pode ser resumido na ideia de quem o credor deve receber apenas o que lhe é devido, 
conforme preceitua o artigo 313 do Código Civil.
Princípio da exatidão
Preconiza que muito além de pagar a prestação devida, deve o devedor cumpri-la da 
exata maneira em que foi convencionada. Ou seja, é um princípio que se preocupa 
com o modo com o que a prestação é cumprida, que deve ocorrer da forma devida e 
previamente convencionada. Tal princípio pode ser percebido no artigo 314 do Código 
Civil (FARIAS; ROSENVALD, 2017).
Princípio da integridade
Exprime que a cumprimento da obrigação deve se dar por inteiro, salvo se as partes 
tiverem convencionado de outra maneira, conforme preceitua o artigo 314 do Código 
Civil “ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode ser o credor 
obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou” (BRASIL, 
2002, on-line) (FARIAS; ROSENVALD, 2017).
Analisando-se o princípio da boa-fé, também conhecido como princípio da diligência 
normal, este exige que as partes ajam de modo correto, desde as tratativas até a cumprimento 
da obrigação. Segundo Gonçalves (2019), este princípio guarda relação direta com a ideia de que 
ninguém pode se beneficiar da própria torpeza. Nesse sentido, o artigo 422 do Código Civil diz 
que “os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua 
execução, os princípios de probidade e boa-fé” (BRASIL, 2002, on-line).
2.2 Condições subjetivas do pagamento: capacidade e legitimidade 
para cumprir ou receber a prestação
As condições subjetivas do pagamento são dividias pelo Código Civil em dois escopos: a de 
quem deve pagar (arts. 304 a 307, CC) e a daqueles a quem se deve pagar (arts. 308 a 312,CC). 
Primeiro, analisa-se o escopo de quem deve pagar. Segundo Pereira (2018), existem três sujeitos 
que podem realizar o pagamento: 1) o próprio devedor; b) o terceiro interessado; e c) o terceiro 
não-interessado.
Próprio devedor
Ocorre em função do vínculo obrigacional. Em alguns casos, cabe apenas ao devedor o 
cumprimento da obrigação, como é o caso da obrigação de fazer infungível, por exemplo.
47
Terceiro interessado
O artigo 304, caput, do Código Civil preceitua que qualquer pessoa interessada na 
extinção da dívida pode pagá- la. Por pessoa interessada, o Código Civil se refere à 
qualquer sujeito que tenha legitimo interesse no cumprimento da obrigação por poder 
sofrer possíveis repercussões em função desta, por exemplo, o caso de fiador ou de 
sublocatário. Em outras palavras, é aquele que, de alguma forma, pode ser constrangido 
a pagar aquela divida no todo ou em parte. Assim, o terceiro interessado pode realizar 
o pagamento e, se o fizer, sub- roga-se nos direitos do credor (art. 346, III, CC) (PEREIRA, 
2018).Além de poder pagar, o terceiro interessado tem direito de pagar, pois o credor é 
obrigado a receber, conforme caput do artigo 304. Caso o credor se recuse a receber o 
pagamento, o citado dispositivo legal afirma que o terceiro interessado poderá utilizar-
se “dos meios conducentes à exoneração do devedor” (BRASIL, 2002, on-line).
Terceiro não interessado
Trata-se de um sujeito que não possui qualquer interesse jurídico na solução da dívida. 
Elenão está vinculado à obrigação e não pode sofrer seus efeitos (PEREIRA, 2018). Por 
exemplo, o caso de um pai que quer de responsabilizar pelas dívidas do filho por vontade 
própria para ajuda-lo. O pagamento efetuado por terceiro não interessado pode ocorrer 
em duas hipóteses: a) em nome e à conta do devedor; ou b) em seu próprio nome. Se o 
pagamento ocorrer em nome e à conta do devedor, o terceiro terá direito à consignação, 
mas não terá direito à sub-rogação e nem à reembolso (art. 304, parágrafo único, CC). 
Assim, há uma presunção de gratuidade, cabendo, contudo, estipulação em sentido 
contrário. Noutro giro, se o pagamento ocorrer em seu próprio nome, o terceiro não 
interessado terá direito a reembolso, mas não se sub-roga nos direitos do credor (art. 
305, CC). Em outras palavras, caso o terceiro não interessado deseje ser reembolsado, 
deverá o fazer através de nova obrigação.Mister ressaltar que, em ambas as hipóteses, 
é direito do devedor opor-se ao pagamento. Caso o pagamento ocorra com oposição 
ou desconhecimento do devedor e ele tivesse exceção opor-se ao cumprimento do 
pagamento, o devedor não será obrigado a reembolsar o terceiro (art. 306, CC).
Mesmo que ocorra oposição do devedor, o credor pode aceitar o pagamento e ter seu crédito 
satisfeito. Também pode negá-lo, pois trata-se de fundamento válido para recusa. Neste sentido, 
acrescenta Gonçalves (2019, p. 262):
é inoperante a oposição do devedor ao pagamento de sua dívida por terceiro não interessado, se 
o credor desejar receber. Só há um meio de evitar o pagamento: é o próprio devedor antecipar-se. Mas 
se o credor e devedor acordaram em não admitir pagamento por terceiro não interessado, não poderá 
este pretender fazer desaparecer a dívida, por sua iniciativa.
48
Por fim, quanto às condições subjetivas de pagamento de quem deve pagar, analisa-se o artigo 
307 do Código Civil, que trata do pagamento efetuado mediante transmissão de propriedade. 
“Art. 307. Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade, quando feito 
por quem possa alienar o objeto em que ele consistiu.
Parágrafo único. Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor 
que, de boa-fé, a recebeu e consumiu, ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la” (BRASIL, 
2002). Segundo o referido dispositivo, a propriedade de um bem só poderá ser transmitida por quem 
tinha capacidade de alienar, ou seja, pelo titular do direito real. Caso o pagamento seja efetuado por 
quem não tinha essa capacidade, este será considerado inválido. Por exemplo, Gabriela furta a bicicleta 
de Douglas para pagar Jonas, que aceita o pagamento. O pagamento é considerado inválido. Então, 
Jonas deverá devolver a bicicleta a Douglas, legítimo proprietário, devendo Gabriela responder por 
perdas e danos a Jonas.
Contudo, o parágrafo único do artigo 307 excepciona essa regra: caso o pagamento seja 
através de bem fungível, que venha a ser consumido de boa-fé pelo credor, o pagamento 
será considerado válido, cabendo ao sujeito prejudicado exigir pagamento de quem efetuou 
pagamento mediante transmissão de propriedade sem ter capacidade de o fazer. Ilustra-se 
mediante o seguinte exemplo: Roberta furta dinheiro de Amanda para pagar Ana. Ana, de boa-
fé, aceita o pagamento e gasta o dinheiro. O pagamento será considerado válido, Ana não se 
responsabiliza pelo feito de Roberta e restará à Amanda exigir perdas e danos de Roberta.
Passa-se agora à análise das condições subjetivas do cumprimento da obrigação sob a esfera 
daqueles a quem se deve pagar. Conforme preceitua o artigo 308 do Código Civil, “O pagamento 
deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de por 
ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito” (BRASIL, 2002). Pela redação deste 
dispositivo, é possível então identificar dois sujeitos capazes de receber pagamento:
• o próprio credor; ou
• a pessoa que o represente.
No caso de pagamento realizado ao representantedo credor, existem três possíveis 
representantes, segundo Gonçalves (2019): o legal, judicial ou convencional.
• O representante legal é o que decorre de lei (como pais, tutores e curadores).
• O representante judicial é o nomeado por juiz.
• O representante convencional é o nomeado pelo próprio credor, através de procuração 
outorgada ao credor, com poderes especiais específicos para a quitação da obrigação.
49
Ainda segundo o mesmo doutrinador, frisa-se que, no caso do representante legal ou judicial, 
o pagamento da obrigação só poderá ser feito ao representante, a princípio. Já no caso do 
representante convencional, a obrigação poderá ser paga tanto ao próprio credor quanto ao seu 
representante (GONÇALVES, 2019).
Há ainda, segundo o artigo 311 do Código Civil, a possibilidade de pagar à pessoa diversa do 
credor ou de seu representante, qual seja, a pessoa autorizada a receber. Aqui, assim como nas 
hipóteses supra elencadas, garante- se que o pagamento foi feito para a pessoa certa.
Analisa-se agora o caso de pagamento ao credor putativo, expresso no artigo 309, in verbis: “O 
pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor” 
(BRASIL, 2002). Credor putativo, é aquele que aparenta ser o verdadeiro credor, mas não o é. 
Mesmo não o sendo, a lei determina que o pagamento feito a este “credor aparente” será válido 
sob dois requisitos: deve o credor putativo ter aparência de credor, no sentido de o pagamento 
a ele ser um erro escusável, e estar o devedor de boa-fé (PEREIRA, 2018). Caso estes requisitos 
não estejam presentes, não há proteção para o erro do devedor (GONÇALVES, 2019). Quanto 
ao pagamento feito ao credor incapaz, o artigo 310 do Código Civil preceitua que, se este for 
feito pelo devedor que tinha ciência da incapacidade do sujeito ativo, o pagamento será inválido, 
salvo se o devedor demonstrar que o pagamento foi revertido em proveito do incapaz. Ainda, 
se o credor for relativamente incapaz e sua incapacidade cessar, pode este quitar o pagamento, 
tornando-o válido (PEREIRA, 2018).
Finalmente, analisa-se a redação do artigo 312 do Código Civil, que trata de duas hipóteses em 
que o pagamento é feito ao credor real e, mesmo assim, será ineficaz, quais sejam: o pagamento 
efetuado ao credor cujo crédito foi penhorado e também da hipótese de impugnação oposta por 
terceiro. Em ambos os casos o devedor foi, previamente, cientificado dos fatos.
Quando a penhora recai sobre um crédito, o devedor não deve pagar ao credor, mas 
sim depositar em juízo o valor devido. Se mesmo assim pagar ao credor, o pagamento será 
considerado como inválido e o devedor pode ser constrangido a pagar novamente, de modo 
correto. Exemplifica-se com o seguinte caso:
“A” deve a “B” R$ 10 mil. Já “C” deve a “A” R$ 15 mil.
“B” descobre este fato e penhora o crédito que “A” tem com “C”, logo, “C” deverá realizar o 
pagamento através de depósito em juízo.
Se, mesmo assim, “C” realizar o pagamento a “B”, o juiz poderá determinar que “C” pague “B” 
(pagando pela segunda vez, portanto).
50
Assim, “C” se torna responsável pela obrigação de “A” para com “B”, no limite do valor da 
penhora (R$ 10 mil). Por fim, o artigo 312 ainda prevê a hipótese de impugnação feita por terceiro, 
que tem os mesmos efeitos do pagamento errôneo em caso de ciência de penhora de crédito. Ou 
seja, se, mesmo assim, o devedor proceder com o pagamento do credor originário, o pagamento 
será inválido, podendo o devedor ser constrangido a pagar de novo (GONÇALVES, 2019).
2.3 Condições objetivas do pagamento: do objeto do pagamento
Conforme preceitua o artigo 313 do Código Civil, “O credor não é obrigado a receber prestação 
diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa” (BRASIL, 2002). Por sua vez, o artigo 314 do 
mesmo diploma legal afirma que o credor não é obrigado a receber, nem o devedor a pagar a 
prestação por partes, se assim não convencionaram. Ambos artigos evidenciam a valorização do 
Código Civil do princípio da pontualidade, já explanado anteriormente.
O artigo 315 do Código Civil trata especificamente das dívidas em dinheiro. São as dívidas 
em moeda considerando seu valor nominal, ou seja, seu valor econômico. O objeto da prestação, 
aqui, é o próprio dinheiro. Dívidas em dinheiro são diferentes das dívidas de valor, pois nessas 
últimas o dinheiro apenas representa o valor do objeto, não sendo o objeto propriamente dito 
(GONÇALVES, 2019).
Na sequência, os artigos 316 e 317 do Código Civil, ainda se referindo às dívidas em dinheiro, 
determinam que é lícito convencionar aumento progressivo de prestações sucessivas, admitindo-
se intervenção judicial para a correção do pagamento em casos em que, por motivos imprevisíveis, 
o valor da prestação se tornar manifestamente desproporcional no momento da execução. Nessa 
temática, faz-se remissão ao artigo 478 do mesmo diploma legal, que oferece outra saída para os 
casos em que a prestação se torna excessivamente onerosa.
Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar 
excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos 
extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença 
que a decretar retroagirão à data da citação (BRASIL, 2002).
Conforme preceitua Pereira (2018), o artigo 318 demonstra a adoção pelo ordenamento 
pátrio do chamado regime nominalista do papel-moeda, no qual o devedor fica obrigado pela 
quantia em dinheiro que consta no título da dívida, vedando-se estipulação de pagamento em 
ouro ou moeda estrangeira, a menos no caso de exceções expressamente previstas em lei, como 
é o caso das importações de mercadorias do estrangeiro (Lei n. 28, 1935).
Por fim, analisa-se o disposto no artigo 326 do Código Civil, que trata dos pesos e medidas 
do objeto do pagamento. Pesos e medidas podem variar geograficamente, então, podem ser 
convencionadas pelas partes e, se não o forem, adotar-se-ão as medidas do local da execução. 
Por exemplo, a medida agrária chamada “alqueire” varia conforme região do Brasil.
51
2.4 Modos de prova do cumprimento da obrigação
Segundo o artigo 319 do Código Civil, “O devedor que paga tem direito à quitação regular, 
e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada” (BRASIL, 2002). A quitação é uma 
declaração unilateral emitida pelo credor para liberar o devedor da obrigação. É o popular 
“recibo”. Se o credor recusar e emitir a quitação, o devedor pode, legitimamente, reter o objeto 
da obrigação e ainda consigná-lo (art. 335, I, CC). Assim, diz-se que a quitação muito mais que um 
meio de prova, é um direito do devedor (DINIZ, 2007).
O artigo 320, em seu caput, apresenta os requisitos que a quitação deve ter para ser válida. 
Contudo, conforme preceitua o parágrafo único do referido artigo, ainda que a quitação não 
cumpra estes requisitos, poderá ser considerada válida se analisando-se o caso concreto, for 
possível concluir que de fato o pagamento ocorreu (DINIZ, 2007).
Art. 320. A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará o valor 
e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do 
pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante.
Parágrafo único. Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valerá a quitação, se de seus 
termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a dívida.
Os artigos 321 a 325 do Código civil tratam de hipóteses em que a quitação tradicional 
não é suficiente para comprovar o pagamento da dívida. Muitas vezes, a dívida encontra-se 
incorporada em um título, que tradicionalmente deve ser entregue ao devedor quando ocorre o 
pagamento (art. 324, CC). Contudo, em certos casos pode ocorrer que o título se perca, situação 
em que o devedor poderá reter o pagamento e exigir que o título se torne inutilizável (art. 321, 
CC). Em caso de uma obrigação que possui pagamento em parcelas, a quitação de umadelas faz 
com que ocorra a presunção que todas as parcelas anteriores a ela também foram quitadas. Se 
o credor quiser quitar apenas uma parcela de modo isolado, deve fazer uma ressalva expressa 
na própria quitação (art. 322, CC). Por sua vez, o artigo 323 trata da questão dos juros, que são 
uma espécie de obrigação acessória. Se a obrigação principal for quitada, presume-se que os 
juros foram, igualmente, quitados. Caso não tenham sido, novamente, o devedor deve fazer uma 
ressalva expressa na própria quitação.
Finalmente, o artigo 325 do Código Civil trata das despesas, que, em geral, correm por conta 
do devedor. Contudo, caso as despesas aumentem no cumprimento da obrigação, ou seja, nas 
despesas com o pagamento e com a quitação, o adicional será de responsabilidade do credor.
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2.5 Lugar do pagamento
Primeiramente, é necessário distinguir dois tipos de prestação: a prestação quesível e prestação 
portável. Prestação quesível é a que é paga no domicílio do devedor, enquanto prestação portável 
é a paga no domicílio do credor. Em regra, tratando-se da tradição de um bem móvel, o pagamento 
ocorrerá no domicílio do devedor, salvo convenção das partes e previsão legal em sentido contrário, 
ou ainda em casos que a natureza da obrigação faça com que a tradição se dê um lugar diverso (art. 
327, CC). Então, percebe-se que, em geral, as prestações são quesíveis.
Quanto à possibilidade de as prestações serem pagas em local diverso do domicílio dos 
sujeitos da obrigação, são as chamadas dívidas mistas, pela doutrina (FARIAS; ROSENVALD, 2017). 
Primeiramente, observa-se a redação do artigo 329 do Código Civil: “Ocorrendo motivo grave 
para que não se efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, 
sem prejuízo para o credor” (BRASIL, 2002). O artigo 328 do Código Civil determina que, tratando-
se de bens imóveis, as prestações serão pagas no local onde se encontra o bem. Por fim, o artigo 
330 do Código Civil trata das hipóteses em que o devedor, reiteradamente, efetua o pagamento 
em um dado local, sem que ocorra oposição do credor, o que faz o devedor acreditar que está 
realizando pagamento no local devido. Se isso ocorrer, presume-se que o credor renunciou à 
determinação que o pagamento deveria ocorrer em local diverso.
2.6 Tempo do pagamento
Primeiramente, o Código Civil trata do tempo do pagamento das obrigações sem termo, 
ou seja, das obrigações pagas sem uma data de vencimento determinada, que deverá ser paga 
quando o credor demandar, a qualquer momento (art. 331, CC). Aqui, faz-se remissão ao artigo 
397, parágrafo único, do Código Civil, que determina que não havendo termo, a mora se constitui 
através de interpelação judicial ou extrajudicial. Nas obrigações com termo, também chamadas 
de obrigações puras, a mora se constitui a partir da data do vencimento estipulada, não sendo 
necessário que haja interpelação judicial ou extrajudicial (art. 397, caput, CC).
O Código Civil traz, de forma apartada, o tempo do pagamento das obrigações condicionais, 
que são aquelas que, como o próprio nome diz, possuem uma condição para seu implemento. 
Nestas, seu cumprimento se dá justamente na data do implemento da condição, cabendo ao 
credor provar que o devedor teve ciência da sua ocorrência (art. 332, CC). Finalmente, o artigo 
333 do Código Civil - cuja leitura deve ser realizada em conjunto com o artigo 1.425 do mesmo 
diploma legal - cuida das hipóteses de vencimento antecipado, em que o credor pode exigir o 
pagamento antes da data de vencimento estipulada (GONÇALVES, 2002). As hipóteses em que 
isso pode ocorrer estão previstas nos incisos deste artigo (BRASIL, 2002):
53
I - no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores;
II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor;
III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e 
o devedor, intimado, se negar a reforçá-las.
3. MODALIDADES DE PAGAMENTO ESPECIAL
Conforme aludido anteriormente, “pagamento” nada mais é do que uma forma de extinção 
das obrigações. Além do pagamento comum, existem as modalidades de pagamento especial, 
quais sejam: a consignação, pagamento com sub-rogação, imputação de pagamento e dação em 
pagamento, que serão aqui analisadas.
3.1 Consignação de pagamento
O pagamento em consignação encontra-se previsto no Código Civil nos artigos 334 a 345 e é 
classificado pela doutrina como uma espécie de pagamento indireto. Para entender a consignação 
de pagamento, deve-se ter em vista que o pagamento da obrigação não interessa só o credor, 
mas também ao devedor, que se libera do vínculo obrigacional. Trata-se da compreensão que o 
devedor não tem apenas o dever de pagar, mas também direito de pagar (PEREIRA, 2018).
Por vezes, pode o credor se negar a receber o pagamento, obstaculizando o cumprimento da 
obrigação e a sua devida quitação. É justamente pensando no cenário em que ocorre a recusa 
indevida do pagamento que o Código Civil prevê a consignação de pagamento, que nada mais é 
do que um modo de satisfazer o interesse de pagar do devedor, sem cooperação do credor, para 
liberar-se do vínculo obrigacional (PEREIRA, 2018).
Quando o credor recusa-se a receber o pagamento sem justa causa, o devedor poderá optar 
pelo depósito extrajudicial, ou pode ajuizar uma ação de consignação em pagamento (art. 334, 
CC). Apesar do pagamento em consignação ser um direito do devedor, este só pode ocorrer nas 
hipóteses legais, previstas no artigo 335 do Código Civil, quais sejam (BRASIL, 2002):
I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na 
devida forma;
II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos;
III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado 
ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil;
IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento; V - se 
pender litígio sobre o objeto do pagamento.
54
Os incisos I e II do artigo 335 tratam de hipóteses de mora do credor, enquanto que os incisos 
III, IV e V tratam de circunstâncias inerentes ao credor que impedem o devedor de satisfazer sua 
pretensão e exonerar-se da obrigação. Os requisitos para a validade da consignação encontram-
se previstos no artigo 336 do Código Civil, que determina que estes são os mesmos do pagamento 
comum, previstos nos artigos 304 a 333, analisados anteriormente. Ainda, além de preencher 
estes requisitos gerais, deve preencher os requisitos específicos disciplinados nos artigos 341 a 
343 do mesmo diploma legal (GONÇALVES, 2019).
Quanto ao objeto da consignação, este pode ser de dinheiro, bens móveis ou imóveis. Contudo, 
tratando-se de consignação extrajudicial, que é aquela que acontece via depósito em instituição 
bancária da coisa devida, observa-se que esta hipótese só é passível de utilização nas obrigações 
pecuniárias. Aqui, o devedor se dirige à instituição financeira, realiza o depósito do valor da dívida 
e, então, o banco expede uma carta ao credor, notificando-o do depósito. Conforme previsão do 
artigo 539 do Código de Processo Civil, o credor terá 10 dias para responder, podendo proceder 
de três maneiras:
Pode ir ao banco levantar o depósito, o que faz com que o devedor obtenha a quitação da 
dívida. Pode não fazer nada, hipótese em que o devedor também obtém a quitação (art. 539, §2º, 
CPC). Pode recusar o pagamento de forma expressa (art. 539, §1º, CPC).
Caso o credor recuse o pagamento expressamente, o devedor poderá, no prazo de 1 mês, 
propor ação judicial de consignação, aproveitando o depósito já efetuado extrajudicialmente (art. 
539, §3º, CPC). Também poderá aguardar o fim deste prazo e levantar o depósito, não obtendo 
quitação da dívida (art. 539, §4º, CPC).
Por sua vez, no procedimento da consignação judicial, deve o devedor, em sua petição inicial 
da ação de consignação de pagamento, narrar uma dashipóteses prescritas no artigo 335 do 
Código Civil. Os requisitos da petição inicial encontram-se previstos no artigo 542 do Código de 
Processo Civil.
Assim que ocorre o depósito, seja ela extrajudicial ou judicial, cessam para o devedor 
depositante os juros da dívida e os riscos, a menos que a ação de consignação de pagamento 
venha a ser julgada improcedente (art. 337, CC).
Enquanto o credor não aceitar o depósito, este poderá ser levantado pelo devedor, que não 
terá sua dívida quitada. Contudo, quando for julgada procedente a eventual ação de consignação, 
cessa o poder do devedor de levantar o depósito (art. 338 e 339, CC). Observar-se ainda que as 
despesas do processo correm por conta de quem não tem sua pretensão satisfeita na ação (art. 
343, CC e art. 546, CPC).
55
Quanto aos efeitos da consignação, cita-se a já mencionada suspensão da mora do artigo 
337, observando-se que, caso o devedor tenha sua ação de consignação julgada improcedente, 
os efeitos da mora retroagirão até a data de vencimento da dívida. Por fim, pontua-se o previsto 
no artigo 340 do Código Civil, que determina que, caso o credor conteste o depósito ou o aceite, 
mas consentir expressamente com o levantamento do depósito pelo devedor, o credor perderá 
suas garantias em relação à coisa consignada, e os co-devedores serão perdoados (art. 340, CC).
FIQUE DE OLHO
Importante frisar que para estudar a modalidade de pagamento especial, denominada 
consignação, deve-se realizar um estudo interdisciplinar do instituto, atentando-se não apenas 
para as previsões do Código Civil, como para as disposições do Código de Processo Civil, que trata 
da ação de pagamento em consignação nos seus artigos 539 a 549. Tal ação possui procedimento 
especial de jurisdição contenciosa (FARIAS; ROSENVALD, 2017). A leitura de ambos os diplomas 
legais deve ser realizada concomitantemente.
3.2 Sub-rogação de pagamento
A sub-rogação se traduz tanto na substituição de uma pessoa na obrigação (sub-rogação 
pessoal), quanto na substituição de uma coisa (sub-rogação real). Na sub-rogação real, “a coisa 
que toma o lugar da outra fica com os mesmos ônus da primeira” (GONÇALVES, 2019, p. 307). Em 
outras palavras, o valor de uma coisa substitui o valor de outra, adquirindo a mesma condição e 
regime jurídico. Por exemplo, “no regime de comunhão parcial de bens entram na comunhão os 
bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso (CC, art. 1.660, I).” (GONÇALVES, 
2019, p. 307). Por sua vez, na sub-rogação pessoal, os direitos do credor são transferidos para 
terceiro que solveu a obrigação. Por exemplo, no caso em que, havendo pluralidade de devedores 
em uma obrigação indivisível, apenas um paga sozinho a integralidade da prestação, sub-rogando-
se no direito do credor em relação aos demais co-devedores (art. 259, CC). Ainda, a sub-rogação 
é classificada em legal e convencional. A sub-rogação legal é aquela prevista no artigo 346 do 
Código Civil, que preceitua as seguintes hipóteses (BRASIL, 2002):
56
Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor:
I - do credor que paga a dívida do devedor comum;
II - do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que 
efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel;
III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou 
em parte.
O inciso II do referido artigo, engloba duas situações distintas. Na primeira, o adquirente de 
imóvel hipotecado, para evitar a execução deste bem, efetua o pagamento da hipoteca, sub-
rogando-se no direito de cobrar do verdadeiro responsável pela hipoteca, ou seja, do antigo 
proprietário do imóvel. Ainda, existe a situação que o Código Civil protege do terceiro que 
também tenha interesse nas consequências da hipoteca por direito diverso, como, por exemplo, 
o locatório do imóvel hipotecado, visando à manutenção da sua posse. Como exemplo do inciso 
III, cita-se o caso de fiador, terceiro interessado, por poder sofrer com as consequências da dívida. 
Vale ressaltar aqui, que terceiro não interessado não se sub-roga nos direitos do credor, salvo 
hipótese de sub- rogação convencional (GONÇALVES, 2019). Por sua vez, o artigo 347 trata da 
sub-rogação convencional.
Art. 347. A sub-rogação é convencional:
I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus 
direitos;
II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a 
condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito.
Da redação do supra dispositivo, apreende-se que a sub-rogação convencional pode se dar 
tanto por declaração do devedor quanto por declaração do credor, não aplicando-se a sub-
rogação legal em nenhuma dessas situações. O artigo 349 prevê os efeitos da sub-rogação, que 
“transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação 
à dívida, contra o devedor principal e os fiadores” (BRASIL, 2002). A única exceção a estes efeitos 
é o caso da sub-rogação legal, onde sub-rogado exerce os direitos e ações do credor primitivo 
apenas proporcionalmente ao que tiver desembolsado para desobrigar o devedor. Em outras 
palavras, o sub-rogado está limitado a cobrar o que ele pagou (art. 350, CC).
Por fim, analisa-se a redação do artigo 351 do Código Civil que afirma que, em caso de sub-
rogação parcial, onde o sub-rogado não assume completamente a posição do credor originário, 
permanecendo ambos na obrigação, o credor originário terá direito de preferência em relação ao 
sub-rogado na cobrança da dívida restante.
57
FIQUE DE OLHO
O pagamento com sub-rogação possui proximidade com o instituto da cessão de crédito. Desta 
forma, o próprio artigo 348 do Código Civil dispõe que no caso de sub-rogação convencional, em que 
o credor recebe o pagamento de terceiro, expressamente, transferindo-lhe seus direitos, deve-se 
aplicar as regras da cessão de crédito. Contudo, os dois institutos não se confundem, pois possuem 
finalidades muito diversas: enquanto a cessão de crédito visa à circulação do crédito e eventual 
lucro, a sub-rogação objetiva, em regra, na exata proporção do pagamento, focando, normalmente, 
em proteger a situação de terceiro que paga dívida que não é sua (GONÇALVES, 2019).
3.3 Imputação de pagamento
A imputação de pagamento encontra-se prevista no Código Civil, nos artigos 352 a 355. Esta 
modalidade de cumprimento da obrigação através de pagamento especial se aplica aos casos em 
que, havendo multiplicidade de débitos da mesma natureza entre um devedor e um credor, o 
pagamento realizado pelo devedor é insuficiente para saldar a totalidade das dívidas deste para 
com o credor. Assim, quando surge a dúvida sobre a qual dívida se aplicará o pagamento, usa-se 
a imputação de pagamento, que levará a extinção de uma ou mais dívidas (GONÇALVES, 2019).
Nesta perspectiva, observa-se a redação do artigo 352 do Código Civil: “A pessoa obrigada por 
dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles 
oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos” (BRASIL, 2002).
Reconhecida a imputação de pagamento ao devedor, o Código Civil confere algumas 
faculdades ao credor. O artigo 353 determina que, caso o devedor efetue o pagamento sem definir 
qual das dívidas está saldando, a escolha ficará imputada ao credor. Já o artigo 354 determina 
que, se o débito for de capital e juros, o pagamento será destinado, primeiramente, aos juros e, 
posteriormente, ao capital, salvo disposição em sentido contrário convencionada pelas partes, ou 
ainda se o credor passar a quitação por conta do capital (PEREIRA, 2018).
Por fim, o Código Civil prevê, em seu artigo 355, a possibilidade em que o devedor efetua 
o pagamento e, além deste não indicar qual dívida será saldada, o credor também não o faz. 
Quando isso ocorrer, seguir-se-á a imputação em virtude de lei, que determina: “estase fará nas 
dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao 
mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa” (BRASIL, 2002).
58
3.4 Dação em pagamento
O artigo 356 do Código Civil preceitua que na dação em pagamento, que também é uma 
forma de pagamento indireto, ocorre na hipótese em que “o credor pode consentir em receber 
prestação diversa da que lhe é devida”. Em outras palavras, dação em pagamento é um acordo 
de vontades entre credor e devedor, por meio da qual o credor concorda em receber prestação 
diversa da que lhe é devida, para assim exonerar o devedor da dívida.
Depreende-se deste conceito, os elementos constitutivos da dação. Nas palavras de Gonçalves 
(2019, p. 330- 331), são estes: “a) existência de uma dívida, b) a concordância do credor, verbal ou 
escrita, tácita ou expressa; c) a diversidade da prestação oferecida em relação à dívida originária.”
Para que a obrigação se extinga na dação, basta que a prestação distinta da devida seja 
executada. Essa substituição de prestações, segundo Gonçalves (2019), pode ocorrer mediante 
acordo, com substituição de dinheiro por um bem, de coisa por outra, de uma coisa pela prestação 
de fato, de coisa por obrigação de fazer etc. Segundo Pereira (2018), o bem dado não precisa 
ter o mesmo valor da obrigação original, podendo ter tanto um valor superior quanto inferior, 
basta haver acordo entre as partes. Neste sentido, mister salientar que a estipulação de um valor 
na dação não é sequer um requisito obrigatório. Contudo, conforme preceitua o artigo 357 do 
Código Civil, no caso específico da valor da coisa dada em pagamento, valerão as normas de 
contrato de compra e venda para regular as relações.
Observa-se que, caso a coisa dada em pagamento seja título de crédito, a transferência 
operar-se-á como cessão de crédito (art. 358, CC). Por fim, o artigo 359 preceitua que o alienante 
responde pela evicção. “Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento, restabelecer-se-á 
a obrigação primitiva, ficando sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos de terceiros” 
(BRASIL, 2002, on-line).
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Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• conhecer que a cessão de crédito é um negócio jurídico bilateral entre credor e 
um terceiro estranho ao negócio original, por meio do qual o credor transfere seu 
crédito a este;
• aprender que assunção de dívida, também chamada de cessão de débito, ocorre 
quando o devedor transfere sua posição para um terceiro, estranho à relação jurídica;
• compreender que o cumprimento das obrigações é presidido por dois princípios 
gerais: o princípio da pontualidade e o princípio da boa-fé;
• esclarecer que a sub-rogação se traduz tanto na substituição de uma pessoa na 
obrigação (sub-rogação pessoal) quanto na substituição de uma coisa (sub-rogação 
real);
• conhecer que a cessão de crédito é um negócio jurídico bilateral entre credor e 
um terceiro estranho ao negócio original, por meio do qual o credor transfere seu 
crédito a este;
• estudar que a dação em pagamento é um acordo de vontades entre credor e 
devedor, por meio da qual o credor concorda em receber prestação diversa da que lhe 
é devida, para assim exonerar o devedor da dívida.
PARA RESUMIR
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: 
Senado, 1988.
BRASIL. Lei n. 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial 
da União, Brasília, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 01 dez. 2017.
BRASIL. Lei n. 13.105 de 16 de março de 2015. Institui o Código de Processo Civil. 
Diário Oficial da União, 17 mar. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 31 out. 2019.
COELHO, F. U. Curso de direito civil. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 2.
DINIZ, M. H. Curso de direito civil brasileiro. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 2.
FARIAS, C. C.; ROSENVALD, N. Curso de direito civil. 11. ed. Salvador: JusPODIVM, 
2017. v. 2. 
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. v. 2.
PEREIRA, C. M. S. Instituições de direito civil. 30. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. v. 2.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
UNIDADE 3
Modos extraordinários de 
cumprimento da obrigação e 
inadimplemento das obrigações
Introdução
Você está na unidade Modos extraordinários de cumprimento da obrigação e 
inadimplemento das obrigações. Conheça aqui os modos extraordinários de cumprimento 
da obrigação (extinção sem pagamento): novação, compensação, confusão e remissão. 
Veja ainda o adimplemento substancial das obrigações, além do cumprimento indevido 
da obrigação, enriquecimento sem causa e preferências e privilégios creditícios. Por fim, 
conheça o inadimplemento das obrigações, explorando a teoria geral do inadimplemento 
(inadimplemento absoluto, relativo, total, parcial e violação positiva da obrigação), além 
de suas principais sanções e consequências - mora, perdas e danos, juros legais, cláusula 
penal e arras ou sinal.
Bons Estudos!
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1. MODOS EXTRAORDINÁRIOS DE CUMPRIMENTO 
DA OBRIGAÇÃO: EXTINÇÃO SEM PAGAMENTO
Conforme definição de Caio Mário Pereira (2018), as formas de cumprimento da obrigação se 
dividem em três grupos: 1) pagamento; 2) pagamentos especiais; e 3) extinção das obrigações sem 
pagamento. Dando continuidade aos estudos do Título III do Livro I do Código Civil, intitulado “Do 
Adimplemento e Extinção das Obrigações”, analisar-se-ão as hipóteses de extinção das obrigações 
sem pagamento: novação (art. 360 a 367); compensação (art. 368 a 380); confusão (art. 381 a 384); 
e remissão (art. 385 a 388). Pontua-se, por fim, que estas modalidades de cumprimento da obrigação 
também são denominadas pela doutrina de “sucedâneos do pagamento”, pois produzem o mesmo 
efeito que este, ainda que não haja a satisfação do débito propriamente dito (GONÇALVES, 2019).
1.1 Novação
Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2019, p. 341), “novação é a criação de obrigação nova, 
para extinguir uma anterior. É a substituição de uma dívida por outra, extinguindo-se a primeira”. 
Ainda, de acordo com o referido autor (2019, p. 336), a noção tem, pois, duplo conteúdo: um 
extintivo, referente à obrigação antiga; outro gerador, relativo à obrigação nova. O último aspecto 
é o mais relevante, pois a novação não extingue uma obrigação preexistente para criar outra 
nova, mas cria apenas uma nova relação obrigacional, para extinguir a anterior. Sua intenção é 
criar para extinguir.
Percebe-se assim que, ao contrário da dação, a novação vai além da mera substituição de uma 
dívida por outra. A novação cria uma nova obrigação visando extinguir uma obrigação anterior. 
Suas hipóteses estão previstas no artigo 360 do Código Civil, in verbis (BRASIL, 2002, on-line):
Dá-se a novação:
I - quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e substituir a anterior; 
II - quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o credor;
III - quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído ao antigo, ficando o devedor 
quite com este.
Observando os incisos deste artigo, a doutrina consagra que existem três modalidades de 
novação. A primeira, tratada no inciso I, é a modalidade objetiva, em que se altera o objeto da 
prestação. A segunda modalidade é a subjetiva, na qual ocorre a substituição dos sujeitos da 
relação jurídica, com quitação do título (inciso II). Por fim, o inciso III apresenta a modalidade 
mista, em que se tem, simultaneamente, a nova obrigação - tanto a mudança de objeto quanto 
a substituição de sujeitos.
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A novação possui quatro requisitos. Veja a seguir.
Requisito 1 Trata do consentimento das partes, que devem ter capacidade e vontade de 
constituir nova obrigação.
Requisito 2
Consiste na existência de obrigação jurídica anterior, uma vez que a novação 
busca justamente a sua substituição (art. 367, CC). Ressalva-se que éneces-
sário que a obrigaçãoa ser novada exista e seja válida.
Requisito 3 É a aliquid novi, em outras palavras, é necessária a constituição de obrigação 
nova para que a dívida anterior seja substituída e extinta (PEREIRA, 2018).
Por fim, tem-se o requisito do animus novandi, que nada mais é do que a presença de 
intenção de novar. Este requisito, previsto expressamente no artigo 361 do Código Civil, segundo 
Gonçalves (2019, p. 345), “é imprescindível que o credor tenha a intenção de novar, pois importa 
renúncia ao crédito e aos direitos acessórios que o acompanham”. O animus novandi deve ser 
certo, não podendo restar qualquer dúvida sobre ele para haver a novação. O animus novandi se 
materializar de forma expressa ou tácita, sendo que a forma tácita deve ser deduzida de conduta 
clara do agente, não podendo ser confundida com declaração presumida ou com o silêncio. 
Se houver qualquer dúvida quanto à existência da intenção de novar, entende-se que não há 
novação, pois esta não se presume (GONÇALVES, 2019).
Quanto aos efeitos da novação, o mais evidente trata-se da extinção do débito anterior, 
sendo que todos os demais efeitos decorrerão desta lógica. O artigo 364 do Código Civil dispõe 
que, salvo estipulação em sentido contrário, a novação extingue os acessórios e garantias na 
antiga dívida. Justamente por extinguir o débito anterior, a novação não atingirá terceiros que 
não fizerem parte dela, não aproveitando-se, assim, bens dados em garantia que pertençam a 
estes terceiros. Também é nesse sentido que o Código Civil previu expressamente a exoneração 
de fiador da novação, caso a novação tenha ocorrido sem seu consentimento expresso (art. 366, 
CC). Por sua vez, o artigo 365 do Código Civil trata dos efeitos da novação na hipótese em que esta 
se operar entre credor e um dos devedores em uma obrigação com solidariedade passiva. Aqui, 
como a dívida anterior é extinta pela novação, a nova dívida não poderá vincular os devedores 
solidários do antigo débito (FARIAS; ROSENVALD, 2017). Assim como o artigo 365 supra analisado, 
os artigos 362 e 363 também trabalham com a novação por substituição de devedor, porém, de 
maneira ampla, indo além da hipótese de solidariedade passiva. O artigo 362 dispõe: “A novação 
por substituição do devedor pode ser efetuada independentemente de consentimento deste” 
(BRASIL, 2002, on-line). Por sua vez, o artigo 363 determina que, em caso de insolvência do novo 
devedor, não poderá o credor recorrer ao antigo devedor, a menos que a novação tenha ocorrido 
por má fé do substituído.
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1.2 Compensação
Compensação, outra modalidade de extinção sem pagamento, é o meio de cumprimento da 
obrigação entre pessoas que são, ao mesmo tempo, credor e devedor. Segundo Clóvis Bevilaqua 
(1957, p. 112), a compensação é “a extinção de obrigações recíprocas, que se pagam uma pela 
outra” (apud GONÇALVES, 2019, p. 354). Ainda, nas palavras do Código Civil, em seu artigo 368: 
“Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações 
extinguem-se, até onde se compensarem” (BRASIL, 2002, on-line).
A compensação visa eliminar a circulação inútil de moeda, pois evita o duplo pagamento. É a 
regularização eficaz entre credores recíprocos, que pode se dar de forma total (dívidas idênticas), 
ou parcial (dívidas de valores distintos) (GONÇALVES, 2019). Existem quatro modalidades de 
compensação. Veja abaixo as definições conforme, Farias e Rosenvald (2017).
Compensação legal
É aquela que decorre de lei, independendo da vontade das partes. Opera-se 
automaticamente quando o segundo crédito é contraído, extinguindo as duas dívidas 
depois de reconhecimento judicial. Possui como requisitos a reciprocidade de créditos, 
a liquidez de dívidas, a exigibilidade das prestações e a fungibilidade de créditos.
Compensação convencional
É aquela que decorre da vontade das partes, dispensando algum de seus requisitos. Essa 
modalidade incide das hipóteses que não se enquadram os casos de compensação legal, 
em caráter residual.
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Compensação judicial
É aquela que se efetiva por determinação do juiz, nos casos permitidos em lei.
Compensação facultativa
É a convencionada pelas partes, sem que existam os requisitos previstos em lei.
A compensação legal possui quatro requisitos essenciais para ocorrer:
Primeiro, deve haver reciprocidade de créditos, ou seja, duas pessoas precisam ser, ao mesmo 
tempo, credor e devedor uma da outra, logo devem haver obrigações e créditos recíprocos.
Também deve haver liquidez das dívidas, só se compensando dívidas com valor certo e 
determinado, expresso em uma cifra (art. 369, CC).
Ainda, deve haver exigibilidade das prestações, o que significa que elas só poderão ser 
exigidas depois que as dívidas estiverem vencidas.
Por fim, deve haver fungibilidade de débitos (art. 370, CC), então as obrigações devem ser 
fungíveis entre si, homogêneas e de mesma natureza (FARIAS; ROSENVALD, 2017).
Em decorrência do requisito da reciprocidade de créditos, o Código Civil veta, em seu artigo 
376, a compensação em caso de representante (legal ou convencional) que tente opor crédito de 
representado para compensar debito próprio (PEREIRA, 2018).
O artigo 377 do Código Civil traz a mesma noção do artigo 294 do mesmo diploma, pois 
determina que a compensação, assim como as exceções, só pode ser oposta pelo devedor em 
caso de cessão de crédito quando este for notificado. O diploma legal aqui em tela apresenta 
hipóteses de dívidas não compensáveis em seus artigos 373, 375 e 380 (GONÇALVES, 2019). 
Primeiramente, o artigo 375 preconiza que, em caso de compensação convencional, as partes 
podem realizar exclusão bilateral, vetando, assim, a hipótese de compensação.
Por sua vez, o artigo 373 traz causas de exclusão legal. In verbis (BRASIL, 2002, on-line):
Art. 373. A diferença de causa nas dívidas não impede a compensação, exceto: 
I - se provier de esbulho, furto ou roubo;
II - se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos; III - se uma for de coisa não suscetível 
de penhora.
Por fim, o artigo 380 prevê que não é possível realizar compensação caso esta prejudique 
direito de terceiro. Também prevê que, tratando-se de penhora, caso o devedor tenha se 
67
tornado credor de seu credor depois de ter ocorrido a penhora, a compensação não poderá ser 
utilizada contra o credor. Apesar do requisito da reciprocidade de créditos, o Código Civil prevê 
uma exceção a esta regra: o caso do fiador, conforme redação do artigo 371. Este pode realizar 
compensação de sua dívida de fiança com aquela que o credor tiver com sujeito afiançado. 
Pontua-se que, quanto ao local de pagamento de dívidas na compensação, deve-se deduzir as 
custas com despesas necessárias à operação (art. 378, CC). Finalmente, destaca-se que no caso de 
múltiplas dívidas compensáveis, o Código Civil determinou a aplicação das regras da imputação 
de pagamento à compensação (art. 379, CC).
1.3 Confusão
A confusão encontra-se prevista no artigo 381 do Código Civil. Esta modalidade de extinção 
da obrigação ocorre quando, em uma mesma pessoa, encontram-se qualidades de credor e 
de devedor, simultaneamente. Neste caso, a obrigação se extingue não por haver satisfação 
do débito, mas em razão de ninguém poder ser obrigado para consigo mesmo. Então, não há 
extinção da dívida, mas sim em razão da esfera subjetiva da obrigação, ou seja, da mistura entre 
sujeito ativo e passivo (FARIAS; ROSENVALD, 2017).
O artigo 384 do Código Civil prevê que “cessando a confusão, para logo se restabelece, com 
todos os seus acessórios, a obrigação anterior” (BRASIL, 2002). À primeira vista, pode parecer 
que, então, a confusão não extingue a obrigação, afinal, esta pode ser restaurada. Contudo, 
Pereira esclarece que é necessário fazer uma compatibilização entre este artigo e o artigo 381 
supra citado. Primeiramente, esclarece-se que existem dois tipos de confusão: a temporária e 
a e definitiva. Ambas estão, diretamente,ligadas à perdura da confusão, ou seja, enquanto esta 
existir, há extinção. Neste sentido, caso a confusão cesse (confusão temporária), pode ocorrer 
a restauração da obrigação de modo retroativo (PEREIRA, 2018). A confusão pode ser total, ou 
parcial (art. 382, CC). Ainda, pode se dar por ato inter vivos (casamento em regime de comunhão 
universal de bens, por exemplo), ou por causa mortis, sendo o caso mais comum o da herança.
FIQUE DE OLHO
Um herdeiro torna-se devedor e credor do falecido. Em ambos os casos, a confusão não exige 
manifestação de vontade. O vínculo se extingue automaticamente pela simples verificação do 
pressuposto, qual seja, o acúmulo do papel de credor e devedor em um dado sujeito (GONÇALVES, 2019).
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Finalmente, pontua-se que, conforme redação do artigo 383 do Código Civil, tratando-se 
de hipótese de solidariedade passiva, “A confusão operada na pessoa do credor ou devedor 
solidário só extingue a obrigação até a concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, 
subsistindo quanto ao mais a solidariedade” (BRASIL, 2002).
1.4 Remissão de dívidas
A remissão nada mais é que o perdão da dívida, conforme artigo 385 do Código Civil, que 
preceitua: “A remissão da dívida, aceita pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de 
terceiro”. O sujeito ativo abre mão de seu poder de cobrar prestação do respectivo devedor, seja 
de forma total, parcial, tácita ou presumida. O artigo 386 traz o requisito da remissão, que nada 
mais é que a capacidade do credor de alienar e a capacidade do remitido de adquirir. Também é 
necessário que o devedor aceite a remissão de forma expressa ou tácita.
Mister destacar, também, a previsão apresentada pelo artigo 388 do Código Civil, que trata da 
remissão em caso de solidariedade de devedores. É uma mera repetição do artigo 277 do mesmo 
diploma, reafirmando-se que tanto a solidariedade quanto o débito subsistem para os demais 
codevedores, deduzindo-se o valor devido pelo devedor remitido (GONÇALVES, 2019).
FIQUE DE OLHO
Remissão e renúncia de dívidas não são sinônimos. A remissão é um ato bilateral, espécie do 
gênero “renúncia” e necessita de aceite do devedor. A renúncia, em geral, ocorre unilateralmente. 
A remissão só se aplica aos direitos creditórios. A renúncia se utiliza amplamente, até mesmo 
para direitos de natureza não patrimonial (GONÇALVES, 2019).
2. ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL
Conforme estudado anteriormente, o princípio da pontualidade trata da exigência que a 
prestação da obrigação seja cumprida em tempo, no momento ajustado, de forma integral, no 
lugar e modo devidos. Todavia, tal princípio comporta exceção, como é o caso do adimplemento 
substancial. Portanto, analisar-se-á este.
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2.1 Conceito e consequências
O adimplemento substancial, também chamado de inadimplemento mínimo, ocorre em 
casos em que o devedor não cumpre a obrigação em sua integralidade, mas seu inadimplemento 
é mínimo, a ponto que o credor é obrigado a aceitar a prestação conforme paga, sob pena de 
incidir em abuso de direito (FARIAS; ROSENVALD, 2017).Nas palavras de Clóvis do Couto e Silva 
(1997, p. 45, apud Farias e Rosenvald, 2017, p. 443), o adimplemento substancial trata-se de 
um “adimplemento tão próximo do resultado final que, tendo-se em vista a conduta das partes, 
exclui-se o direito de resolução, permitindo-se tão somente o pedido de indenização”.
Como principal consequência da aplicação da Teoria do Adimplemento Substancial, 
primeiramente tem-se a manutenção da relação contratual, pois, não configurando-se 
inadimplemento, não há que se falar em resolução contratual por esta razão. Todavia, como 
a obrigação não foi cumprida em sua integralidade, abre-se possibilidade de perdas e danos 
(BECKER, 1993). No mesmo sentido é o Enunciado 371 do Conselho de Justiça Federal, que definiu: 
“A mora do segurado, sendo de escassa importância, não autoriza a resolução do contrato, por 
atentar ao princípio da boa-fé objetiva” (BRASIL, CJF, IV Jornada de Direito Civil).
2.2 Adequação da cláusula penal e poder discricionário do juiz
A cláusula penal, segundo Carlos Gonçalves (2019, p. 424), é “obrigação acessória, pela qual se 
estipula pena ou multa destinada a evitar o inadimplemento da principal, ou o retardamento de seu 
cumprimento”. Ainda segundo o douto doutrinador, o valor da cláusula penal tem como limite o 
valor da obrigação principal (art. 412, CC), contudo, o juiz possui certa margem de discricionariedade 
pare reduzir o valor da cláusula em razão de excesso, conforme o caso concreto. Nas palavras de 
Farias e Rosenvald, tratando do adimplemento substancial (2017, p. 565):
Podemos conceber uma alteração de paradigma, vazada da impossibilidade de dar-se eficácia a 
uma cláusula resolutória expressa, sem que o Poder Judiciário possa avaliar o grau de sacrifício das 
partes, em cotejo ao que já foi objeto de cumprimento e à parcela restante. Não podemos mais cogitar 
de direitos absolutos ou da parêmia ‘tudo que não é proibido é permitido’. A relativização de direitos 
subjetivos ou potestativos é uma forma de acomodação das pretensões patrimoniais individuais ao 
respeito aos direitos da personalidade da contraparte.
O adimplemento substancial é uma construção jurisprudencial e doutrinária, assim, observa-
se que os tribunais brasileiros tem decidido, por vezes, no caso de adimplemento substancial, em 
afastar a aplicação da cláusula penal. Nesse sentido, observa-se a ementa das seguintes decisões:
AGRAVO REGIMENTAL CONHECIDO COMO AGRAVO INTERNO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. 
RESPONSABILIDADE CIVIL. EXECUÇÃO DE ACORDO. ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL. CLÁUSULA PENAL. 
AFASTAMENTO
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Verificado nos autos o adimplemento substancial do acordo, a pretensão de pagamento de valores 
oriundos da cláusula por inadimplemento deve ser rechaçada. Ausência de razoabilidade ou boa-fé. 
Conhecido o recurso como agravo interno e, no mérito, desprovido. Unânime.
(Agravo Regimental nº 70055367569, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. 
Relator: Iris Helena Medeiro Nogueira. Julgado em 14. Ago. 2013.) (grifos nossos)
JUIZADO ESPECIAL. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL. CLÁUSULA PENAL 
COMPENSATÓRIA. NÃO CABIMENTO. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. NÃO OCORRÊNCIA.
1. A parte ré/recorrida teve acesso a todos os documentos juntados pela autora/recorrente e 
não houve qualquer impugnação tempestiva dos mesmos, restando preclusa a alegação de falsidade 
documental. 2. A controvérsia cinge-se à discussão quanto à incidência de multa contratual por
suposto inadimplemento ou descumprimento das cláusulas contratuais. 3. Prescreve a cláusula 
oitava, parágrafo segundo, do contrato de prestação de serviços (ID 9298742 – p.3) que o contrato fica 
rescindido em caso inadimplência ou do não cumprimento de quaisquer de suas cláusulas e condições, 
ficando a parte infratora sujeita à penalidade de 20% do valor total do contrato. 4. No caso, restou 
incontroversa a execução de 90% do contrato por parte da autora/recorrente, ou seja, houve seu 
adimplemento substancial, que corresponde ao cumprimento do contrato e enseja a condenação do 
réu/recorrido ao pagamento do valor total pactuado. Desse modo, em face da mora do Recorrido, 
em realizar o pagamento, o valor faltante deverá ser corrigido monetariamente, desde a data em que 
deveria ter sido pago, e acrescido de juros de mora, desde a citação. A cláusula penal compensatória 
não incide, na hipótese, pois não houve a rescisão do contrato. Em contrapartida, consoante bem 
salientado na r. sentença, os hidrômetros deverão ser disponibilizados ao recorrido, para evitar-se o 
enriquecimento sem causa, vedado pelo ordenamento jurídico (...)
(TJ-DF 07023078720198070020 DF 0702307-87.2019.8.07.0020. Relator: Soníria Rocha Campos D’ 
Assunção. Data de julgamento: 08. Ago. 2019. Primeira turma recursal. Data de publicação - Publicado 
no DJE: 14. Ago. 2019.) (grifos nossos)
3. ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA E PAGAMENTO 
INDEVIDO
O enriquecimento sem causa e o pagamento indevidoestão previstos no Código Civil, em 
seus artigos 876 a 886. Tais temas foram brevemente tratados na Unidade I, dentro do escopo 
dos Atos Unilaterais. Aqui, serão tratados de modo mais aprofundado, com especial atenção aos 
dispositivos do referido diploma legal.
3.1 Enriquecimento sem causa
O enriquecimento sem causa é definido pelo Código Civil em seu artigo 884, caput, in 
verbis: “Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir 
o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários.” Em outras palavras, 
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enriquecimento sem causa é aquele que se dá à custa de outrem, através de vantagem patrimonial 
sem fundamento em fato jurídico. Para se caracterizar, deve haver diminuição patrimonial 
do prejudicado e enriquecimento patrimonial de outrem. Trata-se de um instituto que visa a 
proteção do patrimônio (PEREIRA, 2018).
O enriquecimento sem causa, conforme depreende-se da redação do artigo 884 do Código 
Civil, pode se dar muito além das obrigações pecuniárias. Conforme parágrafo único do referido 
dispositivo, tratando-se de obrigação de dar coisa certa, deve haver restituição do objeto e caso 
isso não seja possível, deve-se restituir valor equivalente. Aqui, mister destacar que a restituição 
por enriquecimento sem causa tem caráter subsidiário, só sendo utilizada caso não existam 
outros meios para ressarcir o prejuízo sofrido (art. 886, CC).
3.2 Pagamento indevido
Segundo Caio Mário Pereira (2018), o pagamento indevido trata-se de modalidade específica 
de enriquecimento sem causa, pois ocorre um acréscimo indevido no patrimônio de outrem. 
Trata-se da hipótese em que um terceiro recebe o que não lhe era direito, nascendo para este 
a obrigação de restituir a coisa (art. 876, CC). Aqui, quem pagou indevidamente a este terceiro 
deve provar que o fez por erro (art. 887, CC). O pagamento indevido cria para quem o recebe um 
enriquecimento sem causa e ainda cria para o devedor que pagou indevidamente uma repetição 
de indébito. Aqui, esclarece-se que o termo “repetição”, utilizado pelo Código Civil, nada mais é 
do que justamente a devolução de valor recebido indevidamente (PEREIRA, 2018).
O artigo 878 do Código Civil trata da hipótese em que o terceiro recebeu a coisa indevida de 
boa-fé, onde aplicar- se-á o disposto no referido diploma legal sobre o possuidor de boa-fé e má-
fé. Assim, caso esteja em boa-fé, terá direito a ficar com os frutos e benfeitorias e deteriorações 
que realizar na coisa. Se estiver em má-fé, terá que devolver tudo que recebeu, sem direito a 
indenizações (arts. 1214 a 1220, CC).Por sua vez, o artigo 879 também trata da hipótese de 
recebimento de coisa indevida em boa-fé, mas nesse caso, especificamente do caso de bem 
imóvel. Caso o imóvel seja alienado, basta que quem havia recebido o imóvel indevidamente 
restitua a quantia recebida pela alienação. Todavia, caso haja má-fé, além de restituir pelo que 
recebeu, arcará com perdas e danos. Por sua vez, o parágrafo único trata do caso de alienação de 
imóvel por doação, onde caberá direito de reivindicação contra quem alienou o imóvel de má-fé.
Ainda quanto a boa-fé, o artigo 880 determina hipótese em que quem recebeu pagamento 
indevidamente fica isento do dever de restituir: “Fica isento de restituir pagamento indevido 
aquele que, recebendo-o como parte de dívida verdadeira, inutilizou o título, deixou prescrever a 
pretensão ou abriu mão das garantias que asseguravam seu direito; mas aquele que pagou dispõe 
de ação regressiva contra o verdadeiro devedor e seu fiador.” (BRASIL, 2002, on-line). O artigo 881 
trata da hipótese do pagamento recebido indevidamente tratar-se de prestação de obrigação de 
fazer ou não fazer, onde caberá indenização por lucro obtido.
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Finalmente, os artigos 882 e 883 tratam de hipóteses onde não ocorrerá a repetição de 
indébito. O artigo 882 preconiza: “Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, 
ou cumprir obrigação judicialmente inexigível.” (BRASIL, 2002, on-line) Por sua vez, o artigo 883 
determina que não há que se falar em direito à repetição caso quem pagou indevidamente o 
tenha feito para obter fim ilícito, imoral ou proibido em lei. Neste caso, inclusive, o pagamento 
indevido poderá ser revertido em favor de estabelecimento local de beneficência.
4. PREFERÊNCIAS E PRIVILÉGIOS CREDITÍCIOS
As preferencias e privilégios creditícios encontram embasamento na noção de responsabilidade 
patrimonial, que determina a disponibilidade do patrimônio de devedor para seus credores, não 
respondendo este pessoalmente (PEREIRA, 2018).
4.1 Par conditio creditorum e a insolvência do devedor
Há insolvência do credor quando a dívida excede o valor de seu patrimônio (art. 955,CC) e é 
justamente quando esta ocorre que deve-se analisar como ocorrerá o pagamento dos credores 
múltiplos do devedor (PEREIRA, 2018). O artigo 957 do Código Civil preconiza o princípio da 
igualdade entre credores, chamado pela doutrina de par conditio creditorum. Tendo este 
princípio em vista, os artigos 955 a 965 tratam de organização de como deve se proceder em caso 
de insolvência, estabelecendo regras gerais de preferência e privilégios creditícios.
5. INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES
A análise do inadimplemento trata-se de um estudo voltado para a patologia do direito das 
obrigações, pois há um foco nas condutas das partes que agem em desconformidade com o que 
era esperado delas (DINIZ, 2007).O inadimplemento das obrigações encontra-se previsto no 
Código Civil, no Título IV da Parte Especial, artigos 389 a 420. Nesse sentido, estuda-se aqui a 
teoria geral do inadimplemento, as principais es deste (inadimplemento absoluto, relativo, total, 
parcial e violação positiva da obrigação), além de suas principais sanções e consequências, quais 
sejam, a mora (arts. 394 a 401), perdas e danos (arts. 402 a 405), juros legais (arts. 406 e 407), 
cláusula penal (arts. 408 a 416) e arras ou sinal (arts. 417 a 420).
73
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5.1 Teoria geral do inadimplemento e espécies de inadimplemento
Segundo Pereira (2018), inadimplemento da obrigação nada mais é que a falta da prestação 
devida. Em qualquer obrigação, há o direito do credor de receber e, consequentemente, há 
submissão do devedor a este direito. Nesse sentido, quando ocorre o inadimplemento, existem 
duas consequências possíveis: 1) em caso de culpa do devedor pelo não cumprimento, caberá o 
credor exercer seu direito sobre o patrimônio do devedor; ou 2) em caso de ausência de culpa 
do devedor pelo não cumprimento, quando este é inimputável pelo inadimplemento, ocorre a 
mera extinção da obrigação. Ainda, conforme Gonçalves (2019), a primeira consequência supra 
apontável é denominada inadimplemento culposo (art. 389 e 391, CC), enquanto a segunda 
é chamada de inadimplemento fortuito da obrigação (art. 393, CC). O inadimplemento da 
obrigação pode ser absoluto ou relativo.
Inadimplemento absoluto
É aquele quando a obrigação não foi cumprida e não poderá mais o ser, pois não é mais 
útil ao credor. Observa- se que o inadimplemento absoluto, por sua vez, pode ser total 
ou relativo. Será total no tocante à totalidade do objeto, enquanto o inadimplemento 
absoluto parcial diz respeito ao perecimento de alguns dos objetos da obrigação, 
tratando-se então do caso de obrigação com múltiplos objetos.
Inadimplemento relativo
É aquele em que há mora do devedor no cumprimento da prestação, mas esta ainda é 
de interesse do credor, lhe sendo útil. Aqui, há inobservância, do tempo, lugar e forma 
convencionados para o cumprimento da obrigação, conforme redação do artigo 394 do 
Código Civil (GONÇALVES, 2019).
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Aqui, faz-se mister ressaltar que a doutrina moderna compreende que o inadimplemento 
pode ocorrer para além da esfera da prestação devida, entendendo-se que pode haver 
inadimplemento no caso de descumprimento dos interesses envolvidos na obrigação. Trata-se 
da violação positiva da obrigação (FARIAS; ROSENVALD, 2017).Introdução.............................................................................................................................................86
1. Responsabilidade civil: introdução.................................................................................................... 87
2. Modalidades de responsabilidade civil ............................................................................................. 89
3. Responsabilidade civil objetiva e subjetiva: elementos caracterizadores .........................................93
3.2 Responsabilidade civil objetiva: teoria do risco .............................................................................. 97
4. Excludentes de ilicitude .................................................................................................................... 98
5. A indenização e sua liquidação ......................................................................................................... 100
6. Responsabilidade civil do Estado ...................................................................................................... 101
7. Responsabilidade civil do profissional liberal e das pessoas jurídicas de direito privado .................103
PARA RESUMIR ..............................................................................................................................105
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................106
O Direito das Obrigações tem grande importância não só em sua esfera 
propriamente dita, mas para o Direito Privado como um todo, pois muito além de 
ecoar em outros ramos do Direito Civil, ele é pilar conceitual de todos os demais. Com 
linguagem bastante didática, este livro, dividido em 4 unidades, traz assuntos como 
Introdução e classificações na unidade 1, Transmissão e cumprimento da obrigação na 
unidade 2, Modos extraordinários de cumprimento da obrigação e inadimplemento 
das obrigações na unidade 3, e por fim trata da Responsabilidade civil. 
Na unidade 1, os temas como conceito de obrigação, seus elementos, sujeitos e 
fontes serão ampliados. O Direito das Obrigações, bem como suas individualidades 
e o entendimento sobre sua relação com as demais ramificações do Direito Civil 
também é assunto da primeira unidade, que traz também os conceitos-chave, como 
dever jurídico, responsabilidade, sanção e coação e as classificações das obrigações, 
aprofundando-se em cada uma delas, quais sejam: obrigação de dar, fazer e não fazer, 
além das obrigações alternativas, divisíveis, indivisíveis e solidárias. As modalidades 
de transmissão da obrigação, como a cessão de crédito, a assunção da dívida e, ainda, a 
cessão de contrato são assunto para a unidade 2. Nesta unidade também serão abordados 
os principais conceitos, princípios, sujeitos e condições do cumprimento das obrigações, 
conhecendo o instituto do pagamento, pagamento em consignação, pagamento com sub-
rogação, imputação de pagamento e dação em pagamento.Na unidade 3 serão tratados os 
modos extraordinários de cumprimento da obrigação (extinção sem pagamento), quais 
sejam: novação, compensação, confusão e remissão, assim como o adimplemento 
substancial das obrigações, o cumprimento indevido da obrigação, enriquecimento 
sem causa e preferências e privilégios creditícios. O inadimplemento das obrigações, 
explorando a teoria geral do inadimplemento, suas principais sanções e consequências 
são tratadas também nesta unidade. 
Por fim, a Responsabilidade Civil será explicada na unidade 4, apresentando o conceito, 
a maneira como a temática é tratada pela legislação e a diferença da responsabilidade 
penal. Aqui serão abordadas as principais modalidades de responsabilidade civil: 
contratual, extracontratual, pré-contratual e pós-contratual. A responsabilidade objetiva e 
subjetiva e os elementos que as compõem: ato ilícito, dano, nexo causal e culpa, além dos 
conceitos-chave de dano material, dano patrimonial, reparação e indenização, e como é 
feita a liquidação da indenização serão também tratados nesta unidade. Finalizando, serão 
abordadas as excludentes de ilicitude e as responsabilidades civis em espécie. 
Bons estudos!
PREFÁCIO
UNIDADE 1
Introdução e classificações
Você está na unidade Introdução e classificações. Conheça aqui o conceito de 
obrigação, seus elementos, sujeitos e fontes. Entenda, ainda, o que é o Direito das 
Obrigações, conhecendo suas individualidades e compreendendo sua relação com as 
demais ramificações do Direito Civil. Além disso, aprenda conceitos-chave, como dever 
jurídico, responsabilidade, sanção e coação. Conheça as classificações das obrigações, 
aprofundando- se em cada uma delas, quais sejam: obrigação de dar, fazer e não fazer, 
além das obrigações alternativas, divisíveis, indivisíveis e solidárias.
Bons estudos!
Introdução
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1. INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
Para compreender o Direito das Obrigações, primeiramente, analisa-se a relação desse ramo 
do Direito Civil com os demais ramos do Direito Privado. Depois, apresenta-se esse ramo do Direito 
dentro do Código Civil de 2002, que unificou as normas que disciplinam este conteúdo. Por fim, 
analisam-se conceitos essenciais para o Direito das Obrigações, quais sejam: dever moral, dever 
social, dever jurídico, débito, responsabilidade, obrigação em sentido estrito, sanção e coação.
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1.1 Direito das Obrigações em relação aos outros ramos do Direito
De acordo com Carlos Gonçalves (2019, p. 18), o Direito das Obrigações nada mais é que um 
conjunto de normas que “regem relações jurídicas de ordem patrimonial, que têm por objeto 
prestações de um sujeito em proveito de outro”. Nesse sentido, o mesmo autor destaca que se 
trata de uma esfera do Direito Civil com grande relevância econômica, pois abrange todas as 
relações patrimoniais.
O Direito das Obrigações possui uma conexão direta com outros ramos do Direito, como o direito 
do consumidor que, apesar de possuir regramento específico (Código de Defesa do Consumidor), 
utiliza os direitos obrigacionais como seu regramento geral e suplementar. Muito além do direito 
do consumidor, a compreensão do Direito das Obrigações é fundamental para o entendimento de 
todos os ramos do Direito Privado. Nesse sentido, afirma Orlando Gomes (1981, p. 5): “o estudo de 
vários institutos dos outros departamentos do Direito Civil depende do conhecimento de conceitos 
e construções teóricos do Direito das Obrigações, tanto mais quanto ele encerra, em sua parte 
geral, preceitos que transcendem sua órbita e se aplicam a outras seções do Direito Privado” (apud 
GOMES, 2019, p. 34). Deste modo, é evidente a importância do Direito das Obrigações não só em 
sua esfera propriamente dita, mas para o Direito Privado como um todo, pois muito além de ecoar 
em outros ramos do Direito Civil, ele é pilar conceitual de todos os demais.
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1.2 Unificação do Direito das Obrigações no Código Civil
Até a entrada em vigência do atual Código Civil, publicado em 2002, o Direito das Obrigações 
era disciplinado em dois códigos distintos: O Código Civil (1916) e o Código Comercial (1850). 
Assim, o atual Código Civil absorveu matérias que eram disciplinadas no Código Comercial que 
tratavam do Direito das Obrigações, quais sejam, o Direito de Empresa e os títulos de crédito. 
Assim, a Parte Primeira do Código Comercial foi revogada (arts. 1º a 456). De acordo com Miguel 
Reale (1999, p. 5), o que na realidade se fez foi consolidar e aperfeiçoar o que já estava sendo 
seguido no País, que era a unidade do Direito das Obrigações. Como o Código Comercial de 1850 
se tornara completamente superado, não havia mais questões comerciais resolvidas à luz do 
Código de Comércio, mas sim em função do Código Civil (apud GONÇALVES, p. 35 e 36).
Nesse sentido, atualmente, o Direito das Obrigações se encontra disciplinado de forma 
unificada no Código Civil em sua Parte Especial,Assim, nota-se que pode ocorrer 
inadimplemento ainda que não seja caso de inadimplemento absoluto ou relativo. A chamada 
violação positiva da obrigação ocorre quando o sujeito ofende a boa-fé objetiva, descumprimento 
com deveres anexos da prestação e, consequentemente, inadimplindo (GONÇALVES, 2019).
Nesse sentido, é a o entendimento do Enunciado nº 24 da I Jornada de Direito Civil do Conselho 
da Justiça Federal (2013), que preconiza: “Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 
422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, 
independentemente de culpa.. Do exposto, compreende-se a violação positiva da obrigação como 
um alargamento do conceito de inadimplemento. A obrigação não objetiva apenas o cumprimento 
da obrigação, mas também o respeito aos deveres anexos, que integram os interesses contratuais 
das partes. Nesse sentido, Farias e Rosenvald (2017, p. 586 e 587) definem que deveres anexos 
“alcançam todos os interesses conexos à execução do contrato. Excluem-se de seu âmbito todos 
aqueles deveres que não possam ser relacionados como necessários à realização da prestação.”
O respeito aos deveres de proteção, informação e cooperação integram os deveres anexos. Para 
identificar a violação positiva da obrigação, a doutrina ressalta (FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 588):
A violação positiva do contrato como rompimento da relação de confiança que conecta as partes, 
mesmo que não atrelada aos deveres de prestação, deverá ser identificada em seus efeitos patrimoniais 
com o inadimplemento, para que dela se possa extrair o direito da parte ofendida à resolução do vínculo 
obrigacional, ou mesmo, à oposição da exceptio non adimplenti, inclusive com todas as consequências 
da responsabilidade civil, sobremaneira o dever de indenizar em prol do lesado.
FIQUE DE OLHO
Para diferenciar o inadimplemento absoluto do relativo (mora), observa-se que existe 
o fato determinante do interesse do credor na prestação em mora, dependendo, assim, da 
análise do caso concreto. Nesse sentido, observa-se que a mora da prestação converte-se em 
inadimplemento absoluto a depender da utilidade para o credor (art. 395, parágrafo único, CC).
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Segundo Diniz (2007, p. 382), “a) haverá mora quando o credor ainda puder cumprir a obrigação, 
possibilitando ao credor receber a prestação que lhe interessa, e inadimplemento absoluto se não 
houver tal possibilidade, ou porque a coisa devida pereceu, ou porque se tornou inútil ao credor; b) 
a mora poderá ser purgada, o mesmo não acontecendo com o inadimplemento absoluto”.
5.2 Culpa e o inadimplemento
Observando as principais espécies de inadimplemento, evidente que a culpa se trata 
de conceito determinante para os efeitos do não cumprimento da obrigação. De acordo com 
Pereira (2018), o conceito de culpa, para o direito civil não se relaciona necessariamente com 
a consciência da violação de uma norma pelo sujeito, mas sim com a presença de dois fatores: 
o dever violado e a imputação do agente. Havendo culpa, haverá direito de reparação para o 
credor. Nesse sentido, é a redação do artigo 392: “Nos contratos benéficos, responde por simples 
culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos 
contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções previstas em 
lei” (Brasil, 2002). O artigo 389 também tem a culpa como pressuposto para a aplicação das 
consequências para o inadimplemento nele listadas.
A culpa pode ser contratual ou extracontratual. Conheça-as a partir do recurso abaixo: Culpa 
contratual
Aquela que decorre de infração de cláusula ou disposição em contrato estabelecido entre as 
partes. Culpa extracontratual
Também chamada de aquilina, é aquela derivada de dever legal, com fundamento no artigo 
186 do Código Civil (PEREIRA, 2018).
Ambas modalidades de culpa tem como consequência a obrigação de ressarcir o prejuízo 
causado, conforme artigos 389, 395 e 927 do Código Civil. Todavia, a principal diferença entre elas 
é que na culpa contratual, esta é presumida, diferentemente da extracontratual, onde deve haver 
demonstração que a culpa ocorreu (GONÇALVES, 2019).
5.3 Inadimplemento fortuito da obrigação: inimputabilidade
Conforme previamente conceituado, em caso de ausência de culpa do devedor pelo não 
cumprimento, ocorre a mera extinção da obrigação, chamada pela doutrina de inadimplemento 
fortuito da obrigação. Segundo Gonçalves, as circunstâncias da inimputabilidade do devedor 
podem ser provocas por terceiro, pelo próprio credor ou em decorrência de caso fortuito ou força 
maior. Nas palavras do doutrinador (2019, p. 384):
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[…] provocadas por terceiro (que inutilizou a coisa devida ou reteve ilicitamente o devedor em 
determinado local, p. ex.), pelo credor (que não posou para o pintor contratado para fazer o seu 
retrato), pelo próprio devedor, embora sem culpa dele (confundindo, justificadamente, a data do 
pagamento ou destruindo a coisa devida num acesso de loucura), bem como pode decorrer de caso 
fortuito e de força maior.
Ainda, de acordo com Gonçalves, a exoneração do devedor em decorrência de sua ausência 
de culpa tem como requisitos a presença de impossibilidade objetiva superveniente, inevitável e 
prévia à mora do devedor.
5.4 Da mora
A mora encontra-se prevista no Código Civil em seus artigos 394 a 401. O artigo 394 preceitua 
que “Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser 
recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer” (BRASIL, 2002, on-
line). Nesse sentido, evidencia-se que a mora é “não só a inexecução culposa da obrigação, mas 
também a injusta recusa de recebe-la no tempo, no lugar e na forma devidos” (DINIZ, 2007, p. 
382). Ainda, destaca-se que a mora vai muito além do aspecto temporal do cumprimento da 
obrigação, pois também leva em conta o lugar e a forma de adimplemento.
Existem três espécies de mora: 1) mora do devedor; 2) mora do credor; e a 3) mora de 
ambos os contratantes (DINIZ, 2007). O artigo 395, caput, preceitua as consequências da mora 
do devedor, trata, em resumo, da responsabilização do devedor por todos os prejuízos causados 
ao credor. In verbis: “Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais 
juros, atualização dos valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, 
e honorários de advogado” (BRASIL, 2002, on-line). Por sua vez, ainda a respeito da mora do 
devedor, o artigo 399 do Código Civil preconiza a perpetuação da obrigação durante o período 
da mora. Assim, caso a prestação se torne impossível por caso fortuito ou força maior durante a 
mora do devedor, este responderá pela impossibilidade da prestação (inversão de risco gerada 
pela mora). O referido artigo ainda traz uma ressalva para esta responsabilização: caso o dano 
que causou a impossibilidade sobreviria ainda que não houvesse mora.
Conforme preceitua Diniz (2007), a mora do devedor manifesta-se sob dois aspectos. 
Primeiro, tem-se a mora ex re, que é aquela que ocorre em razão de fato previsto na lei. Aqui, o 
devedor incorre em mora sem necessidade de qualquer ação por parte do credor (art. 390; 397, 
caput e 398, CC). A segunda trata-se da mora ex persona, que é aquela em que há necessidade de 
interposição do credor para existir (art. 397, parágrafo único, CC). Veja abaixo os requisitos para 
que haja mora do devedor.
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Mora 1
Vencimento da dívida (exigibilidade da dívida).
Mora 2
A culpa do devedor (fato imputável, conforme artigo 396, CC).
Mora 3
Viabilidade do cumprimento tardio (constituição do atraso da prestação).
Ainda quando a mora do devedor, observa-se que esta também poderá nascer da prática 
de ato ilícito por parte deste (art. 398, CC). Passando-se para a análise da mora do credor, esta 
ocorre quando o credor “se recusa a receber o pagamento no tempo e lugar indicados no título 
constitutivo da obrigação, exigindo-o por forma diferente ou pretendendo que a obrigaçãose 
cumpra de modo diverso” (GONÇALVES, 2019, p. 399). Nesse sentindo, trata-se da ausência de 
cooperação do credor, prevista no artigo 394 do Código Civil. Ressalta-se que a mora do credor 
não exonera o devedor, sendo que este mantem seu legítimo interesse em solver a obrigação 
para livrar-se desta.
Os requisitos da mora do credor são o vencimento da obrigação, a oferta da prestação 
(efetivo interesse do devedor em solver a dívida) e recusa injustificada em receber. Ainda, no 
caso específico da mora em obrigações sem termo, a mora do credor necessidade de interpelação 
judicial ou extrajudicial do devedor para se constituir (art. 397, parágrafo único, CC). Quanto aos 
efeitos da mora do credor, estes encontram-se previstos no artigo 400 do Código Civil, in verbis: 
“A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da 
coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la 
pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o 
pagamento e o da sua efetivação” (BRASIL, 2002, on-line).
Por último, analisa-se a mora de ambos os contraentes. Quando a mora parte de ambos os 
sujeitos da relação, ela compensa-se, de forma que “as situações permanecem como se nenhuma 
das partes houvesse incorrido em mora. Se ambas nela incidem, nenhuma pode exigir da outra 
perdas e danos” (GONÇALVES, 2019, p. 402). Passando para o último tema a ser analisado quanto 
a mora, observa-se a redação do artigo 401 do Código Civil (Brasil, 2002, on-line):
Art. 401. Purga-se a mora:
I - por parte do devedor, oferecendo este a prestação mais a importância dos prejuízos decorrentes 
do dia da oferta;
78
II - por parte do credor, oferecendo-se este a receber o pagamento e sujeitando-se aos efeitos da 
mora até a mesma data.
FIQUE DE OLHO
“Purgar” é um termo empregado pelo legislador no sentido de neutralizar os efeitos da mora. 
Quando ao momento de purgação da mora, tendo em vista as hipóteses trazidas pelo artigo 401 
supra transcrito, hoje em dia entende-se que a purgação pode ocorrer a qualquer tempo, desde 
que não tenha causado dano à outra parte (GONÇALVES, 2019).
5.5 Das perdas e danos
Em regra, o inadimplemento de uma obrigação causa dano ao contraente da obrigação, 
podendo este ser material e também moral. O Código Civil ao versar sobre o assunto utiliza a 
expressão “dano”, “prejuízo” e “perdas e danos” como sinônimos. O tema aqui tratado encontra-
se previsto no referido diploma legal em seus artigos 402 a 405.
Art. 402 do CC
Conforme preceitua o artigo 402 do Código Civil, as perdas e danos abrangem tanto o 
que o sujeito efetivamente perdeu em decorrência do inadimplemento, quanto o que 
deixou de lucras. Tratam-se dos conceitos de danos emergentes e lucros cessantes, 
respectivamente.
Art. 403 do CC
Por sua vez, o artigo 403 do referido diploma trata da teoria dos danos diretos e 
imediatos. Nesse sentido, Gonçalves (2019, p. 408) esclarece que “o devedor responde 
não só pelos danos que se prendem a seu ato por vínculo de necessariedade, não pelos 
resultantes de causas estranhas ou remotas”.
Art. 404 do CC
Especificamente sobre as obrigações de pagamento em dinheiro o artigo 404, caput, 
do Código Civil determina que “As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em 
dinheiro, serão pagas com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente 
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estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado, sem prejuízo da 
pena convencional”. O parágrafo único do referido artigo prevê a possibilidade de 
discricionariedade do juiz em ajustar valores das perdas e danos para, caso evidencie-se 
que os juros de mora não cobrem o prejuízo da parte prejudicada.
Art. 405 do CC
Finalmente, determina o artigo 405 do Código Civil que os juros de mora são contados 
desde a citação inicial do sujeito demandado. Aqui, traz-se o adendo do Enunciado 163 
da III Jornada de Direito Civil (2004), realizada pelo Conselho da Justiça Federal, que 
determinou “A regra do art. 405 do Código Civil aplica-se somente à responsabilidade 
contratual, em face do disposto no art. 398, não afastando, pois, o disposto na Súmula 54 
do STJ”. A referida súmula, por sua vez, possui a seguinte redação: “Os juros moratórios 
fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual” (Súmula 
54, Corte Especial, julgado em 24. Set. 1992, DJ, 01. Out. 1992).
Conforme jurisprudência fixada pelo Superior Tribunal de Justiça, a indenização por lucros 
cessantes não pode ser cumulada com a cláusula penal. Nesse sentido, preconizou o tribunal: “A 
cláusula penal moratória tem a finalidade de indenizar pelo adimplemento tardio da obrigação, 
e, em regra, estabelecida em valor equivalente ao locativo, afasta-se sua cumulação com lucros 
cessantes” (BRASIL, 2019. Superior Tribunal de Justiça, Tema 970).
5.6 Dos juros legais
Juros são considerados pela doutrina como frutos cíveis, coisas acessórias que representam 
rendimento de capital (art. 92, CC). Os juros legais estão previstos no Código Civil nos artigos 
406 e 407. Podem ser classificados sob duas esferas: “(a) conforme a sua destinação, podem ser 
divididos em juros compensatórios ou moratórios; (b) de acordo com a origem, temos os juros 
legais e os convencionais” (FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 611).
Compensatórios
São aqueles que visam remunerar o capital emprestado pelo período em que 
seu titular ficou privado deste. Por sua vez, os juros moratórios são aqueles 
que visam indenizar o credor pelo inadimplemento de um devedor de uma 
obrigação. Juros legais são os oriundos da lei, enquanto juros convencionais 
são aqueles estipulados pelas partes (FARIAS; ROSENVALD, 2017).
Moratórios
São previstos no artigo 406 do Código Civil, que determina que estes deverão 
ser fixados conforme taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de 
impostos devidos à Fazenda Pública. Também estão previstos no artigo 407, 
que, por sua vez, determina que os juros de mora são devidos ainda que não 
haja alegação de prejuízo, contando-se desde que seja fixado o valor da dívida. 
Podem ser fixados judicialmente, por arbitramento ou convenção das partes. 
Por fim, são devidos independentemente da natureza da prestação.
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5.7 Da cláusula penal
Segundo Orlando Gomes (2005, p. 159), “a cláusula penal, também chamada pena 
convencional, é o pacto acessório pelo qual as partes de um contrato fixam, de antemão, o valor 
das perdas e danos que por acaso se verifiquem em consequência da inexecução culposa da 
obrigação” (apud FARIAS; ROSENVALD, 2017, p. 625). Em outras palavras, trata-se de previsão 
expressa do contrato, de natureza acessória, que visa reforçar o pacto obrigacional, fixando 
liquidação de eventuais perdas e danos caso ocorra inadimplemento. Tal cláusula pode ser fixada 
junto com a obrigação principal ou em ato posterior (art. 409, CC).
Evidencia-se que a cláusula penal possui uma dupla função: além de seu caráter ressarcitório, 
possui justamente natureza coercitiva, objetivando constranger ao cumprimento da obrigação. 
Esta é fruto da autonomia das partes, podendo servir tanto para hipótese de inadimplemento, 
quanto como uma penalidade caso alguma das partes decidam rescindir o contrato unilateralmente 
ao denunciá-lo de modo indevido (art. 472, CC) (FARIAS; ROSENVALD, 2017). O artigo 408 do 
Código Civil preconiza a hipótese de cabimento da cláusula penal, qual seja: “Incorre de pleno 
direito o devedor na cláusula penal, desde que, culposamente, deixe de cumprir a obrigação ou 
se constitua em mora” (BRASIL, 2002, on-line).
FIQUE DE OLHO
A nulidade da obrigação principal invalida cláusula penal, pois a última tem natureza acessória. 
A cláusula penal não precisa necessariamente ser uma pena pecuniária, podendo-se estipular 
uma obrigação de fazer ou não fazer, por exemplo. Ainda, não é necessário que haja dano para 
que a cláusula penal seja imposta (art. 416, CC)
O artigo 410 do Código Civil preconizaque, em caso de inadimplemento total da obrigação, a 
cláusula penal se converterá em obrigação alternativa, caso isto beneficie o credor. Já para o caso 
de mora, a cláusula penal poderá tanto ser exigida juntamente com a obrigação principal, como 
separadamente de modo a satisfazer a obrigação como um todo (art. 411, CC). Ainda observando 
a redação dos artigos 410 e 411 do Código Civil, constata-se que existem duas modalidades de 
cláusula penal.
A primeira chama-se cláusula penal moratória e está prevista no artigo 411 do CC. É aquela que 
visa preservar uma cláusula específica do contrato e será exigida juntamente com a obrigação principal.
81
Já a cláusula penal compensatória é aquela voltada para a total inexecução da obrigação, 
conforme artigo 410 do CC (FARIAS; ROSENVALD, 2017).
Interessante notar que o Código Civil estipula um valor máximo para a cláusula penal, que 
não pode exceder o valor da obrigação principal (art. 412, CC). Noutro giro, o Código Civil abre 
espaço para discricionariedade do juiz para reduzir a cláusula penal conforme o caso concreto, 
visando evitar excessos. Trata-se de uma valoração do princípio da proporcionalidade. Observa-se 
que, inclusive, a cláusula penal poderá ser reduzida de ofício pelo juiz, conforme Enunciado 356 
da IV Jornada de Direito Civil, que preconiza: “Nas hipóteses previstas no artigo 413 do Código 
Civil, o juiz deverá reduzir a cláusula de ofício” (BRASIL, STJ-CJF, on-line). O referido diploma legal 
também estipula que não pode haver aumento do valor previsto na cláusula penal caso o prejuízo 
tenha excedido o ali determinado, salvo se as partes houverem assim convencionado (art. 416, 
CC).Aqui, mister ressaltar o entendimento de Farias e Rosevald (2017, p. 636):
Por todo o exposto, percebe-se uma nítida preocupação do legislador ordinário com a formação 
de um sistema de freios e contrapesos no capítulo da cláusula penal. Em princípio, a medida da pena 
convencional ajustada pelas partes servirá como tetos mínimo e máximo de indenização. O devedor 
não pode alegar o seu valor excessivo e o credor também não pode reclamar a timidez da cláusula 
penal. Mas os arts. 413 e 416, parágrafo único, permitem que, em alguns casos, a pena convencional 
sirva como mínimo da indenização - acrescida da indenização suplementar - e, em outros, que possa 
ser objeto de redução. Trata-se de uma perfeita simetria.
Nesse sentido, observa-se que o artigo 414 do CC determinou que, no caso de obrigações 
indivisíveis, a cláusula penal se aplicará a todos os devedores, independente de culpa. Contudo, 
a integralidade da cláusula penal só poderá ser exigida do culpado, enquanto que os demais 
responderão no limite de sua quota-parte. Ainda, cabe ação regressiva dos codevedores para com 
o devedor culpado. Por sua vez, em caso de obrigação divisível, a cláusula penal só se aplicará a 
quem desrespeitá-la e dentro dos limites de sua quota-parte.
5.8 Das arras ou sinal
Arras ou sinal “é quantia ou coisa entregue por um dos contraentes ao outro, como 
confirmação do acordo de vontade e princípio de pagamento” (GONÇALVES, 2019, p. 439). Em 
outras palavras, trata-se de uma importância em dinheiro utilizada para firmar o objetivo maior da 
obrigação, que é seu cumprimento. Trata-se de pacto acessório que se divide em duas espécies: 
arras confirmatórias e arras penitenciais.
• As arras confirmatórias, como o nome diz, são aquelas que visam a confirmação do 
contrato (art. 418 e 419, CC).
• As arras penitenciais são aquelas que atuam em caso de convenção de direito de 
arrependimento no contrato (art. 420, CC).
82
Observa-se, assim, que as arras possuem três funções: confirmar o contrato, prefixar perdas e 
danos para o inadimplemento e ainda, representar o início de um pagamento, conforme preceitua 
o artigo 417, uma vez que, em caso de execução do contrato, as arras devem ser restituídas ou 
devem integrar o valor total da prestação (GONÇALVES, 2019).
83
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• entender os modos extraordinários de cumprimento da obrigação;
• conhecer sobre novação, compensação, confusão e remissão;
• aprender sobre o adimplemento substancial das obrigações;
• compreender o cumprimento indevido da obrigação, enriquecimento sem causa e 
preferências e privilégios creditícios;
• estudar sobre o inadimplemento das obrigações, além de suas principais sanções 
e consequências - mora, perdas e danos, juros legais, cláusula penal e arras ou sinal.
PARA RESUMIR
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: 
Senado, 1988.
BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial 
da União, Brasília, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 1 dez. 2017.
BRASIL. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Institui o Código de Processo Civil. 
Diário Oficial da União, 17 mar. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 31 out. 2019.
BRASIL, Conselho da Justiça Federal - Superior Tribunal de Justiça. Enunciado 434, IV 
Jornada de Direito Civil. Disponível em: https://www.cjf.jus.br/enunciados/enuncia-
do/434. Acesso em 5. nov. 2019.
BRASIL, Conselho da Justiça Federal - Superior Tribunal de Justiça. Enunciado 670, IV 
Jornada de Direito Civil. Disponível em: https://www.cjf.jus.br/enunciados/enuncia-
do/670. Acesso em 5. nov. 2019.
BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Primeira Turma Recursal. Processo n. 
0702307- 87.2019.8.07.0020 DF 0702307-87.2019.8.07.0020. Relatora Soníria Rocha 
Campos D’Assunção. Data de julgamento: 8 ago. 2019. Data de publicação - Publica-
do no DJE: 14 ago. 2019. Disponível em: https://tj-df. jusbrasil.com.br/jurispruden-
cia/744028200/7023078720198070020-df-0702307-8720198070020?ref=serp. Acesso 
em: 4 nov. 2019.
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. 9ª Câmara Cível. AGR n. 
70055367569 RS. Relatora Iris Helena Medeiros Nogueira. Data de julgamento: 14 ago. 
2013. Disponível em: https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/113161254/agra-
vo-regimental-agr-70055367569-rs?ref=serp. Acesso em: 4 nov. 2019. 
BECKER, A. A doutrina do Adimplemento Substancial no Direito brasileiro e em pers-
pectiva comparativista. Revista da Faculdade de Direito da UFRGS. Porto Alegre, 9(1), 
p. 60-77, nov. 1993. Disponível em: https://www.seer.ufrgs.br/revfacdir/article/down-
load/68813/38913. Acesso em: 4 nov. 2019.
COELHO, F. U. Curso de direito civil. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 2.
DINIZ, M. H. Curso de direito civil brasileiro. 22 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 2.
FARIAS, C. C; ROSENVALD, N. Curso de direito civil. 11 ed. Salvador: JusPODIVM, 2017. v. 2. 
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2019. v. 2.
PEREIRA, C. M. S. Instituições de direito civil. 30 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. v. 2.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
UNIDADE 4
Responsabilidade civil
Você está na unidade Responsabilidade civil. Conheça aqui o conceito, a maneira 
como a temática é tratada pela legislação e a diferença da responsabilidade penal. Veja 
também as principais modalidades de responsabilidade civil: contratual, extracontratual, 
pré-contratual e pós-contratual. Aprenda sobre a responsabilidade objetiva e subjetiva 
e os elementos que as compõem: ato ilícito, dano, nexo causal e culpa. Compreenda os 
conceitos-chave de dano material, dano patrimonial, reparação e indenização, e como 
é feita a liquidação da indenização. Por fim, conheça as excludentes de ilicitude e as 
responsabilidades civis em espécie.
Bons estudos!
Introdução
87
1. RESPONSABILIDADE CIVIL: INTRODUÇÃO
A responsabilidade civil é considerada pela doutrina clássica como um dever de reparar ou 
sofrer pena. As bases da responsabilidade civil podem ser encontradas na noção de imputabilidade, 
atrelada ao conceito de capacidade de agir. Imputa-se uma ação a alguém, atribuindo a esta uma 
carga de reprovação,tornando o sujeito obrigado a não fazê-la e, caso a faça, a responder por 
esta, reparando o dano e sofrendo as possíveis penas (FARIAS; ROSENVALD, 2015). A noção de 
responsabilidade civil é atrelada à noção de restabelecer o equilíbrio moral e jurídico afetado pela 
conduta de um sujeito (GONÇALVES, 2017). A responsabilidade civil se preocupa com a conduta 
transgressora de uma norma, que acarretará uma série de sanções àquele que a desrespeitou.
Quanto ao estudo da responsabilidade civil no escopo do direito obrigacional, mister destacar 
o esclarecimento de Carlos Gonçalves (2017), que pontua que a principal consequência da prática 
de ato ilícito é o nascimento da obrigação de reparar o dano. Nesse sentido, tendo em vista o 
conceito supra apresentado, estuda-se agora o contexto histórico-jurídico da responsabilidade 
civil, bem como traça-se um breve panorama de como ela se apresenta da legislação pátria.
1.1 Contexto histórico-jurídico
Segundo Caio Mário Pereira (2018), é difícil precisar a história da responsabilidade civil. 
É possível encontrar traços de seus institutos em diversas civilizações, como no Código de 
Hamurabi, no direito Hebreu, dentre outros. Traçando uma análise a partir dos primórdios do 
antigo Direito romano, observa-se que não havia distinção entre a esfera penal civil no que tange 
às consequências da prática de um ato ilícito. A responsabilidade penal e a responsabilidade civil 
se confundiam, sendo ambas pautadas no ideal de vingança, com grande enfoque na punição do 
ofensor (PEREIRA, 2018).
FIQUE DE OLHO
A Lei das XII Tábuas, que se situa na origem do Direito romano, tem inúmeros vestígios de 
vingança privada, concomitantemente com a intervenção do poder público na retribuição do 
ilícito. Havendo então uma noção de que certas infrações contra particulares também são de 
interesse do Estado. Neste período, a ideia de responsabilidade era muito mais voltada para a 
punição do indivíduo do que para a reparação da vítima
88
Gradualmente, com o desenvolvimento da civilização romana, abandonou-se a ideia de 
pena privada - com caráter de punição - e passou-se a dar maior enfoque à reparação. Contudo, 
imprescindível frisar que os jurisconsultos romanos jamais traçaram uma distinção clara entre 
responsabilidade civil e responsabilidade criminal, nem de punição e reparação. A ideia de 
vingança privada persistiu ao longo da história, havendo sempre uma noção de afetar o patrimônio 
do ofensas no sentido de puni-lo, muito mais do que satisfazer a vítima (PEREIRA, 2018).
Após a Lei das XII Tábuas, o grande marco do Direito romano quanto ao estudo em questão foi 
a Lex Aquilia. Esta lei foi fundamental para traçar importantes conceitos aplicados até hoje, como 
a responsabilidade extracontratual e a substituição de multas fixadas por penas proporcionais ao 
dano causado. Ainda, tem-se aqui a origem de uma ideia de culpa relacionada com a concepção 
de dano (PEREIRA, 2018).
Avançando para a Idade Média, tem-se ênfase na pena em caráter ressarcitório, sem, jamais, 
ocorrer o abandono do seu caráter punitivo. Neste período, havia uma grande valorização da 
autocomposição dos particulares, sendo papel da vítima guiar o procedimento, com o poder 
público intervindo apenas para delimitar a esfera punitiva. Já no período da unificação dos 
estados, a sanção deslocou-se, progressivamente, para a esfera do poder público, em nome do 
interesse de uma coletividade. A feição reparatória tornou-se, gradativamente, mais relevante, 
nascendo a ideia de enriquecimento injustificado e, consequentemente, de proporcionalidade.
Após esse período, ao longo dos séculos XVI a XVIII, inúmeros juristas, como Hugo Grocio (1583-
1645) e Pufendorf (1632-1694), delimitaram conceitos fundamentais para a ideia de responsabilidade 
que existe atualmente, organizando ideias romanas de forma sistêmica. A responsabilidade civil é 
delimitada, tendo como base a obrigação ressarcitória, diferenciada da responsabilidade penal e, 
aos poucos, a ideia de culpa foi melhor definida. Tais conceitos permearam os ordenamentos liberais 
que marcaram o século XIX, como o Código Napolêonico (1804) (FARIAS; ROSENVALD, 2015).
O iluminismo foi responsável por fixar uma maior ideia de responsabilização do indivíduo, 
pondo-o como protagonista de seus próprios atos e único responsável por estes (por exemplo, 
eliminou-se penas extensivas a familiares).
Ao longo dos séculos, portanto, percebe-se que se fixou a responsabilidade como modelo de 
reparação do dano injusto, afastando-se sua função penal. Separou-se a esfera penal da esfera 
civil e valorizou-se a autonomia privada.
Nesse sentido, destacam Farias e Rosenvald (2015, p. 32-33):
Em suma, o que a doutrina generalista da responsabilidade civil costuma sublinhar é a límpida 
separação entre a esfera do direito civil e a do direito penal, uma conquista dos ordenamentos 
modernos, como resultado de uma lenta mas constante evolução, no curso da qual, progressivamente, 
se atenuou o caráter originariamente sancionatório da reação contra os fatos ilícitos.
89
1.2 Responsabilidade civil e a legislação brasileira
Adentrando aqui a história da responsabilidade civil já no século XX, observa-se que a mesma 
foi pouco disciplinada pelo Código Civil de 1916. Acredita-se que este fato ocorreu, pois tal 
disciplina só ganhou maior relevância após o surto industrial posterior ao fim da Primeira Guerra 
Mundial onde, com o aumento do número de acidentes, motivou-se o maior estudo da temática. 
O Código Civil de 2002 sistematizou a responsabilidade civil, contudo, possui poucos dispositivos 
regulamentando-a. Na Parte Geral, tratou da responsabilidade extracontratual em seus artigos 
186 a 188, enquanto que na Parte Especial tratou do tema no artigo 389 e no Título IX, que, por 
sua vez, é dividido em dois capítulos: Da Obrigação de Indenizar (arts. 927 a 943) e Da Indenização 
(arts. 944 a 954) (GONÇALVES, 2017).
2. MODALIDADES DE RESPONSABILIDADE CIVIL
Para melhor compreender a responsabilidade civil, faz-se necessário, primeiramente, distingui-
la efetivamente da responsabilidade penal. Depois, apresentam-se as seguintes modalidades de 
responsabilidade civil a serem analisadas: responsabilidade civil contratual, extracontratual, pré-
contratual e pós-contratual.
2.1 Responsabilidade civil e penal: distinções
A separação entre responsabilidade civil e responsabilidade penal trata-se de uma discussão 
doutrinaria antiga, remontando a Grécia Antiga. Segundo Farias e Rosenvald (2015, p. 95),
Na teoria da responsabilidade jurídica distinguem-se dois tipos de responsabilidade, já referidos 
por Aristóteles: um que ocorre na relação entre indivíduos e que serve como critério resolutório de 
litígios ou nas questões indenizatórias; outro é a responsabilidade penal, quanto o ato do indivíduo 
confronta-se com as normas de toda a sociedade, modernamente surgindo a obrigação de receber a 
punição prevista legalmente em virtude de atos delituosos.
Em outras palavras, esclarece-se que, na responsabilidade civil, infringe-se uma norma 
de direito privado, enquanto que na esfera penal, infringe-se uma norma de direito público 
(GONÇALVES, 2017).
Como é possível observar no contexto histórico-jurídico da responsabilidade civil, esta permaneceu 
ao longo da história entrelaçada à responsabilidade penal, pois ambas eram focadas em uma função 
punitiva do sujeito, em detrimento da reparação da vítima. Com o decorrer da história, dando-se 
mais atenção à vítima, a responsabilidade civil foi ganhando contornos autônomos, enquanto que 
a responsabilidade penal continuou com enfoque no ofensor. Diz-se que a responsabilidade penal, 
por seu enfoque na punição do agente, tem seus olhos voltados para o futuro, preocupando-se em 
retribuir e prevenir a reiteração de ilícitos, tanto pelo agente, que os praticou (prevenção especial), 
90
como pela sociedade (prevenção geral). Por sua vez, a responsabilidade civil tem seus olhos voltados 
para o passado, preocupando-se em dimensionardanos ocorridos. Ainda, a responsabilidade penal 
tem efeitos voltados para a liberdade pessoal do agente, enquanto que a responsabilidade civil atua 
na esfera patrimonial deste (FARIAS; ROSENVALD, 2015).
Apesar de esferas diferentes, as responsabilidades civil e penal possuem pontos de contato, 
afinal, um mesmo fato pode ser objeto de normas jurídicas distintas, como é o caso do fato ilícito. 
Os atos ilícitos civis e penais apresentam a mesma base, uma vez que ambos correspondem a 
um ato antijurídico praticado por sujeito imputável. Contudo, se diferenciam quanto aos seus 
elementos estruturais, quais sejam, culpa, dano e tipicidade (FARIAS; ROSENVALD, 2015).
Culpa
A culpa tem a função de ressarcimento de dano na esfera civil, enquanto na esfe-
ra penal, tem função de determinar condenação. Nesse sentido, com enfoque no 
dano gerado, para a responsabilidade civil, a dicotomia entre culpa e dolo não é 
de grande relevância, sendo a culpa a regra geral para incidir a responsabilidade. 
Enquanto isso, para a esfera penal, é crucial a identificação de dolo ou culpa.
Esta diferenciação de enfoque está interligada, com a noção de pena e reparação. 
A pena é voltada para a natureza do ato ilícito propriamente dito, enquanto a 
reparação é voltada para os efeitos do ato ilícito. Ressalta-se que, excepcional-
mente, o Código Civil adota necessidade de determinar o grau de culpa do agen-
te, observando a presença do dolo, conforme os arts. 392, 400 e 1.235 (FARIAS; 
ROSENVALD, 2015).
Dano
Para a responsabilidade civil, o dano gera a obrigação de indenizar. Por sua vez, a 
responsabilidade penal não possui tal interdependência, podendo inclusive haver 
prática de ilícito sem que haja dano (FARIAS; ROSENVALD, 2015).
Tipicidade
A esfera penal requer perfeita adequação do fato ao tipo penal (nulla poena sine 
lege), enquanto que no âmbito cível, qualquer ação ou omissão que gere prejuízo 
a outrem pode gerar responsabilidade civil, ainda que não seja fato expressa-
mente previsto (art. 186, CC) (GONÇALVES, 2017).
2.2 Responsabilidade civil contratual e extracontratual
Conforme os ensinamentos de Gonçalves (2017), responsabilidade civil contratual é aquela 
derivada de contrato, portanto, da vontade das partes, em um sujeito descumpre o dever ali 
imposto. Esta modalidade de responsabilidade civil encontra-se disciplinada no Código Civil, em 
seus artigos 389 e seguintes.
A responsabilidade contratual também trata, segundo o doutrinador, do inadimplemento 
ou mora relativos a todas as obrigações, inclusive, de negócios unilaterais, como a promessa 
de recompensa, e também da lei, como a obrigação de prestar alimentos. Por sua vez, 
91
responsabilidade civil extracontratual é aquela que surge quando o agente infringe um dever 
legal, não um dever contratual, abrangendo violações gerais de abstenção ou omissão. Aqui, não 
existe vínculo jurídico entre vítima e causador do dano. Esta matéria encontra-se disciplinada nos 
artigos 186 a 188 e 927 a 956 do Código Civil (GONÇALVES, 2017).
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2.3 Responsabilidade pré-contratual e pós-contratual
Ao se pensar em uma obrigação como processo, esta se divide em três etapas: a pré-
contratual, a contratual e a negocial. A fase pré-contratual é a fase das tratativas, onde 
ocorrem as negociações, a proposta e a aceitação. Nesta fase, em regra, não há que se falar em 
responsabilidade das partes, em nome dos princípios da autonomia e da liberdade contratual. 
Todavia, mesmo nessa fase, as partes devem resguardar o princípio da boa-fé objetiva, tendo 
as partes os deveres laterais de informação, de proteção, de esclarecimento e de cooperação 
(FARIAS; ROSENVALD, 2015).
Assim, a doutrina considera que a previsão do artigo 422 do Código Civil também se estende, 
de forma implícita, à fase pré-contratual: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na 
conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé” (BRASIL, 
2002). Nesse sentido, deu-se a fixação interpretativa do Enunciado nº25 do Conselho da Justiça 
Federal: “O art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação pelo julgador do princípio da boa-fé 
nas fases pré-contratual e pós-contratual” (BRASIL, CJF).
Segundo a doutrina, a responsabilidade civil se dá no âmbito pré-contratual em quatro 
hipóteses:
92
1
Quando ocorre ruptura injustificada das negociações preliminares.
2
Quando ocorrem danos a algum contraente.
3
Quando forma-se contrato nulo ou não existente.
4
Quando ocorrem danos na fase das negociações, ainda que tenha-se constituído 
contrato válido depois.
Tem-se um enfoque, desta maneira, na ideia de quebra de confiança das partes (FARIAS; 
ROSENVALD, 2015). Ressalta-se que a ideia de responsabilidade pré-contratual, em sopesamento 
com a liberdade contratual, exige uma análise caso a caso, de modo que um não seja inibidor do 
outro de modo generalizado. Já na responsabilidade na fase pós-contratual, aplica-se a mesma 
ideia de deveres laterais oriundos do princípio da boa-fé. Estes subsistem mesmo após o fim dos 
deveres prestacionais da fase contratual. A título exemplificativo, Farias e Rosenvald narram o 
seguinte exemplo (2015, p. 82):
Uma empresa demite o seu diretor de informática. Seis meses depois ele é contratado pela 
concorrência e revela segredos empresariais que são utilizados com eficácia pelo novo empregador, 
causando danos ao antigo empregador. Caso houvesse cláusula de confidencialidade, ou seja, uma 
obrigação de não fazer que impusesse uma abstenção ao funcionário, seria o caso de imposição de 
responsabilidade negocial em decorrência de inadimplemento (sem se olvidar de uma demanda 
contra o novo em- pregador na qualidade de terceiro ofensor, como veremos adiante). Provavelmente, 
o contrato estabeleceria uma cláusula penal compensatória que predeterminasse a pena privada 
decorrente do comportamento culposo do agente.
Porém, não tendo sido pactuada a cláusula de sigilo, caracterizada restará a pós-eficácia da 
obrigação diante da ofensa ao dever de proteção da integridade patrimonial do ex-empregador. O 
segredo do negócio é um patrimônio imaterial do empresário que foi subtraído justamente por quem 
tinha o imperativo moral de lhe preservar em razão da confiança depositada pela relevante função 
exercida. Quer dizer, só poderíamos recorrer à tese da responsabilidade civil stricto sensu se o autor da 
conduta ilícita fosse um estranho aos quadros da empresa, o que atrairia a clássica antijuridicidade por 
desobediência ao dever geral de abstenção.
93
3. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA E 
SUBJETIVA: ELEMENTOS CARACTERIZADORES
Uma das maiores questões doutrinarias a respeito da responsabilidade civil gira em torno da 
presença da culpa como elemento fundamental da responsabilidade. Nesse sentido, a doutrina 
subjetiva é aquela que adota a teoria da culpa, considerando a culpa elemento essencial da 
responsabilidade. Noutro giro, a doutrina objetiva descarta tal elemento, adotando a teoria do risco 
(PEREIRA, 2018).Tais doutrinas se contrapõem, mas não se eliminam. O ordenamento pátrio, como 
regra geral, adota a responsabilidade subjetiva, como é possível apreender pela redação do artigo 
186 do Código Civil. Todavia, prevê hipóteses de responsabilidade objetiva, a exemplo dos artigos 
936 a 938. Tratam-se de esferas de responsabilidade civil que se conjugam (GONÇALVES, 2017).
Mister destacar que não é possível traçar uma cronologia entre a doutrina objetiva e 
subjetiva, pois ambas aparecem ao longo da história do direito (PEREIRA, 2018). Nesse sentido, 
faz-se necessário analisar a responsabilidade civil objetiva e a responsabilidade civil subjetiva, 
com especial atenção aos elementos que estruturam ambas.
FIQUE DE OLHO
São elementos da responsabilidade civil subjetiva o ato ilícito, a culpa, o dano e o nexo causal. 
Por sua vez, a responsabilidade objetiva tem como elementos apenas o dano e o nexo causal 
(FARIAS; ROSENVALD, 2015).
3.1 Responsabilidade civil subjetiva:teoria da culpa
A responsabilidade subjetiva possui como elementos estruturantes o ato ilícito, a culpa, o 
dano e o nexo causal. Trata-se de uma ideia de responsabilidade baseada na teoria da culpa, em 
que a culpa do agente se coloca como pressuposto essencial para o dano indenizável. O agente 
sempre deve ter agido com dolo ou culpa (GONÇALVES, 2017).
O ato ilícito é um fato jurídico contrário ao ordenamento jurídico, onde há a transgressão de 
um dever jurídico, que gera consequências indesejadas ao agente que o praticou (DINIZ, 2007). 
Nota-se que o ato ilícito abrange tanto a indenização por dano perpetuado, como também a 
reparação por abuso de direito. Nesse sentido, observa-se a redação dos artigos 186 e 187 do 
Código Civil (BRASIL, 2002):
94
Artigo 186
Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, 
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, 
comete ato ilícito.
Artigo 187
Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou 
pelos bons costumes.
Ressalta-se que a imputabilidade é um requisito essencial da existência do ato ilícito, pois 
estes só podem ser perpetrados por pessoas plenamente capazes. Nesse sentido, observa-se que 
o ato ilícito apresenta dois elementos: um elemento objetivo voltado para o ato propriamente 
dito, que caracteriza a antijuridicidade, e um elemento subjetivo, voltado para o sujeito e sua 
capacidade (FARIAS; ROSENVALD, 2015),
Analisando-se o elemento da culpa, identificado na redação do artigo 186 supra transcrito, 
prevê que a ação ou omissão que enseja responsabilidade civil ocorra de forma voluntária, ou 
por negligência, ou imprudência. A doutrina denomina a culpa voluntária de culpa lato sensu 
(dolo), enquanto que o comportamento negligente ou imprudente integram a chamada culpa 
stricto sensu (GONÇALVES, 2017). Segundo a teoria subjetiva aqui em análise, em princípio, a 
vítima deve provar a presença de culpa para exigir reparação, seja esta lato sensu ou stricto 
sensu. Assim, percebe-se que o dolo não é elemento essencial, pois o resultado não almejado já 
basta para caracterizar o dever de reparar. Aqui, faz-se uma ressalva quanto ao ônus da prova, 
apresentando-se a teoria da culpa presumida. Segundo Farias e Rosenvald (2015, p. 164-165):
Pode-se conceituar a presunção de culpa como uma técnica processual de inversão do ônus da 
prova. Ou seja, em hipóteses previstas pela lei, não mais caberia ao ofensor a hercúlea missão de 
provar o erro de conduta moralmente imputável ao agente - o brocardo actori incumbit probatio - pois 
em princípio a demonstração do fato ilícito (antijuridicidade + imputabilidade) já equivaleria a um 
atestado de culpa. Portanto, o ofensor deveria demonstrar que o dano não decorreu de sua falta de 
diligência e prudência, porém de uma causa estranha ao seu comportamento, tal como força maior, 
fato exclusivo da vítima ou fato de terceiro.
Em outras palavras, a teoria da culpa presumida é aquela que, em algumas hipóteses 
previstas em lei, afasta o ônus da prova da culpa das mãos da vítima, bastando a demonstração 
do fato ilícito para se concluir que houve culpa implícita. Mister destacar que a presunção de 
culpa é relativa, devendo o agente causador do dano se defender através de alguma exceção de 
ilicitude, por exemplo. A teoria da culpa presumida pode ser encontrada no Código Civil em seu 
artigo 932, inciso III, por exemplo (FARIAS; ROSENVALD, 2015).
95
A culpa, segundo a doutrina, encontra gradações, quais sejam, culpa grave, leve e levíssima. 
Apesar desta gradação não estar prevista em lei, ela se mostra de suma importância para medição 
do quantum reparatório. A gradação se dá conforme o grau de exigibilidade de maior atenção do 
agente no sentido de evitar o ato ilícito (FARIAS; ROSENVALD, 2015). A culpa grave é aquela que 
se dá de modo mais evidente, com total descuido, sendo semelhante ao dolo (culpa lata dolus 
equiparatur). Por sua vez, culpa leve é aquela em que o ato ilícito poderia ser evitada com atenção 
ordinária. Finalmente, a culpa levíssima se caracteriza como aquela em situações extremamente 
difíceis de se evitar e exigir cautela em grau mais elevado do agente (GONÇALVES, 2017).
FIQUE DE OLHO
Passando para uma análise do elemento do dano, este é um elemento tão essencial da 
responsabilidade civil que está presente tanto na teoria subjetiva, quanto na teoria objetiva 
de responsabilidade, sempre atrelado ao nexo causal. Abarca tanto danos patrimoniais quanto 
danos morais.
O Código Civil não apresenta um conceito de dano, sendo este aberto, a depender do fato 
concreto, da situação fática. Haverá dano sempre que um fato coincidir com um elemento de 
direito, pois muito além do que uma noção física, deve também ocasionar lesão jurídica. Nas 
palavras de Farias e Rosenvald (2015, p. 204-205) para que o dano venha a ser sancionado pelo 
ordenamento jurídico, vale dizer, para que a legislação autorize aquele que o sofreu a exigir do 
responsável uma indenização, indispensável se faz a presença de dois elementos: um de fato e 
outro de direito. O primeiro se manifesta no prejuízo e o segundo, na lesão jurídica. É preciso que 
a vítima demonstre que o prejuízo constitui um fato violador de um interesse jurídico tutelado 
do qual seja ela o titular.
Existem dois tipos de dano: o dano moral (extrapatrimonial) e o dano patrimonial.
Dano moral
É o que ocorre diante uma lesão a um interesse juridicamente relevante, derivado da 
dignidade da pessoa humana, que depende da averiguação do caso concreto para ser 
detectado.
96
Dano patrimonial
É o reflexo diretamente econômico da lesão, podendo ser de origem material ou pessoal.
Por fim, analisa-se o elemento do nexo causal, que nada mais é do que o elo entre a 
conduta do agente e o dano ocasionado. Aqui, deve-se ter em vista uma relação de causalidade, 
estabelecendo uma relação necessária entre o fato incriminado e o prejuízo ocasionado, de modo 
que sem o primeiro, o segundo não teria lugar (GONÇALVES, 2017). Deve-se buscar a verdadeira 
causa do dano. Nesse sentido, deve-se falar da concausalidade, fenômeno que ocorre quando a 
multiplicidade de causas, que podem ocorrer de forma sucessiva ou simultânea. Nas concausas 
simultâneas, há um só dano oriundo de mais de uma causa, enquanto nas concausas sucessivas, 
há uma cadeia de causas e danos. Tendo isso em vista, a doutrina criou três principais teorias para 
ponderar a causalidade, delimitando-a da maneira mais adequada possível na prática. São essas 
a teoria da equivalência de condições, teoria da causalidade adequada e a teoria da causalidade 
direta e imediata (GONÇALVES, 2017).
Teoria da equivalência de condições
É aquela que analisa todas as causas que levaram à ocorrência de um dano. Trata-se de 
uma perspectiva mais naturalista do nexo causal que pode ter o efeito de delimitar uma 
cadeia desproporcional de causas.
Teoria da causalidade adequada
É aquela que isola uma possível causa para avaliar se esta é fundamental para a geração 
do dano. Busca-se isolar a verdadeira causa, tendo em vista a probabilidade do evento 
danoso.
Teoria da causalidade direta e imediata
Busca traçar não a probabilidade do evento danoso, mas sim um nexo causal imediato, 
um liame direto. Trata-se da única teoria com previsão expressa no Código Civil, em seu 
artigo 403, in verbis: “Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas 
e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e 
imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual” (BRASIL, 2002).
97
3.2 RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA: TEORIA 
DO RISCO
A responsabilidade civil objetiva parte da compreensão que a culpa é uma base 
insuficiente para regular todos os casos de responsabilidade. Assim, constrói-se um conceito 
de responsabilidade civil composto unicamente dos elementos de dano e nexo de causalidade. 
A baseda responsabilidade civil objetiva é a chamada teoria do risco, que define que certas 
atividades objetivamente criam risco de danos para terceiros e, caso os danos venham a ocorrer 
de fato, haverá dever de reparação, independentemente de culpa (GONÇALVES, 2017). Tal teoria 
encontra-se prevista no artigo 927, parágrafo único, do Código Civil, que possui a redação abaixo.
Art. 927, parágrafo único, CC
Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em 
lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, 
risco para os direitos de outrem.
Segundo Pereira (2018), o termo “risco”, utilizado por esta teoria, está diretamente relacionado 
com a concepção de que ao executar certas atividades, deve-se responder por eventuais danos 
que esta atividade gere para os indivíduos. Para configurar o risco, tem a ideia de colocar em risco 
de dano ou causar o dano. Deve-se entender que a responsabilidade objetiva não é sinônimo 
de ausência de culpa, mas apenas que esta não é um elemento que sequer será analisado para 
que esta se caracterize. Trata-se do que a doutrina chama de “responsabilidade independente da 
existência de culpa” (FARIAS; ROSENVALD, 2015, p. 422), e não de responsabilidade sem culpa. Na 
responsabilidade civil objetiva, há um deslocamento da culpabilidade para a causalidade. Assim, 
aqui não há análise da antijuridicidade e da imputabilidade do fato danoso, muito menos da 
culpa; há enfoque no evento danoso e no prejuízo (PEREIRA, 2018).
FIQUE DE OLHO
Deve-se ter cuidado para não confundir responsabilidade civil objetiva com a teoria da culpa 
presumida. Na primeira, a responsabilidade independe de culpa para se caracterizar, enquanto 
na segunda há culpa, mas que se manifesta de forma mitigada, presumindo-se a culpa (FARIAS; 
ROSENVALD, 2015).
98
4. EXCLUDENTES DE ILICITUDE
Os excludentes de ilicitude encontram-se previstos no artigo 188 do Código Civil (BRASIL, 2002):
Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo 
iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o 
tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do 
perigo.
Nesse sentido, faz-se necessário as três excludentes supra previstas:
• legítima defesa (inciso I),
• o exercício regular do direito e estrito cumprimento do dever legal (inciso I); e
• o estado de necessidade (inciso II).
4.1 Estado de necessidade
O estado de necessidade é disciplinado não só pelo inciso II do artigo 188 do Código Civil, 
como também pelos artigos 929 e 930 do mesmo diploma legal. Por estado de necessidade, 
entende-se tratar-se de caso em que há
uma situação fática que efetivamente ameaça a integridade de um bem jurídico. Para afastar tal 
ameaça, permite-se que outro bem jurídico, de menor ou igual valor, seja sacrificado. Ao considerar 
lícito o ato praticado em estado de necessidade o ordenamento autoriza a violação de um direito 
alheio para se evitar um mal maior (FARIAS; ROSENVALD, 2015, p. 144).
Nota-se que, ainda que um ato seja praticado sob estado de necessidade não seja um ato 
ilícito, ainda assim este poderá ensejar a reparação do dano ocasionado. Nesse sentido, o artigo 
929 supra transcrito preceitua o direito à indenização do prejuízo, enquanto o artigo 930 
preceitua a possibilidade de regresso contra terceiro culpado. Aqui, apresenta-se o exemplo de 
Gonçalves sobre a aplicação destes artigos.
O referido autor narra uma hipótese em que um motorista bate seu carro contra um 
muro de uma casa após bruscamente desviar de uma criança que estava atravessando a rua 
indevidamente, por descuido de seu pai. Neste caso, ainda que tenha batido no muro por um 
estado de necessidade, o motorista terá que indenizar o dono da casa pelo muro destruído. 
Contudo, poderá entrar com ação de regresso contra o pai da criança, terceiro culpado, pois este 
99
tinha o dever de vigiar o filho (GONÇALVES, 2017).Voltando novamente à redação do artigo 188 
do Código Civil, este prevê dois fatos que serão considerados estado de necessidade, quais sejam, 
a deterioração da coisa alheia e a lesão a pessoa.
4.2 Legítima defesa
Segundo Farias e Rosenvald (2015), o Código Civil não conceituou a legítima defesa, assim, 
recorre-se hermeneuticamente à norma penal para fazê-lo. Esta nada mais é que uma resposta 
do agente é um ataque injusto, objetivando defender a si mesmo, terceiro ou seus bens jurídicos. 
Existem três requisitos que caracterizam a legítima defesa, quais sejam, agressão atual ou 
iminente, injusta e uso de meios de defesa proporcionais. Quem pratica ato danoso em legítima 
defesa contra o próprio agressor não poderá ser responsabilizado civilmente por danos causados. 
Contudo, quem pratica legítima defesa e atinge terceiro não culpado terá que reparar o dano, 
contudo, terá ação de regresso contra o agressor contra quem estava se defendendo. Nesse 
sentido, é a redação do artigo 930 do Código Civil, em seu parágrafo único: “A mesma ação 
competirá contra aquele em defesa de quem se causou o dano (art. 930, parágrafo único).”
FIQUE DE OLHO
A doutrina costuma destacar o caso da legítima defesa putativa, que consiste na crença 
errônea, por parte do agente causador do dano, que uma situação que enseja legítima defesa 
está ocorrendo. Aqui, considera-se, em uma primeira perspectiva, equiparar-se à uma situação de 
ausência de legítima defesa, devendo o agente reparar quaisquer danos que causar.
Contudo, segundo Farias e Rosenvald (2015), deve-se, na verdade, analisar o caso concreto, 
buscando avaliar se nas circunstâncias em que ocorreu a legítima defesa putativa esta encontrava 
fundamentações para o equívoco, afastando-se a responsabilidade civil por culpa exclusiva da 
vítima, ou ao menos reduzindo substancialmente a eventual indenização, nos moldes do artigo 
945 do Código Civil.
4.3 Exercício regular do direito e o estrito cumprimento do dever legal
O exercício regular do direito é agir de modo a não contrariar o ordenamento. Trata-se de 
uma ideia oposta ao abuso de direito (art. 187, CC), que, por sua vez, enseja o dever de indenizar, 
dentre outras sanções (art. 927, CC). Nesse sentido, evidencia-se que o exercício regular do 
direito afasta a responsabilidade. Esta excludente de ilicitude é afastada em casos que aparentam 
100
ser exercício regular do direito, mas que, na verdade, tratam-se de abusos do direito, em que há 
a presença de má-fé. Deve-se aferir, na prática, a razoabilidade social da conduta. Por sua vez, 
o estrito cumprimento do dever legal que é implícito ao exercício regular do direito, segundo 
Fernando Capez (2011, p. 84, apud FARIAS; ROSENVALD, 2015, p. 156), “é a causa de exclusão da 
ilicitude que consiste na realização de um fato típico, por força do desempenho de uma obrigação 
imposta por lei, nos exatos limites dessa obrigação”. Aqui, aplicam-se as mesmas regras do 
exercício regular do direito como gênero, devendo-se guardar especial atenção ao caso concreto, 
resguardando-se sempre o princípio da proporcionalidade.
5. A INDENIZAÇÃO E SUA LIQUIDAÇÃO
Tratar da liquidação da indenização é, na verdade, tratar da liquidação do dano. O objetivo da 
indenização deve ser reestabelecer a vítima à sua situação anterior ao dano, devendo abranger 
tanto os lucros cessantes quanto o prejuízo efetivamente sofrido. Reparação e liquidação do dano 
são conceitos interligados, pois enquanto a reparação cuida do dimensionamento do dano, a 
liquidação se utilizará do dano delimitado para determinar o quantum indenizatório (GONÇALVES, 
2017). Nesse sentido, aponta-se que o grau de culpa do agente não exercerá influência na fixação 
do quantum indenizatório, pois o enfoque da obrigação de indenizar é o dano sofrido, conforme 
redação doartigo 944, caput, do Código Civil.
Aqui, mister destacar que a culpa exclusiva da vítima impede a existência de responsabilidade 
civil do agente causador do dano, pois perde-se a causalidade. Já nos casos de culpa concorrente, 
onde a culpa da vítima é parcial, o artigo 945 do Código Civil determina que a indenização deverá 
levar em conta a extensão da culpa da vítima. Conforme redação do artigo 946 do Código Civil, 
é possível que as partes fixem indenização estimada previamente. Contudo, caso as partes não 
o façam, a liquidação será feita na forma que a lei processual determina, destacando-se aqui a 
liquidação por arbitramento e a liquidação por procedimento comum (GONÇALVES, 2017).
Por arbitramento
Prevista no artigo 509, inciso II do Código de Processo Civil, na liquidação por 
arbitramento, um perito é nomeado pelo juiz para avaliar a dimensão das perdas e 
danos (PEREIRA, 2018). A liquidação por arbitramento é comumente usada para danos 
morais (GONÇALVES, 2017). Aqui, o objetivo é a produção de uma liquidação de cunho 
técnico. É utilizada sempre que determinada por lei, convenção ou se o objeto da 
liquidação o exigir.
101
Por procedimento comum
A liquidação por procedimento comum é aquela utilizada em casos que requerem uma 
maior carga probatória, havendo necessidade de alegar ou provar fato novo. Admite-
se aqui todos os meios de produção de prova, não apenas o pericial, como ocorre na 
liquidação por arbitramento (GONÇALVES, 2017).
6. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
A responsabilidade civil do Estado é baseada na teoria do risco administrativo desde 1946. Assim, 
não existe análise do elemento da culpa, contudo, o Estado pode, em defesa, demonstrar ausência de 
nexo causal. No mesmo sentido, tratando do risco administrativo, também não se analisa a ilicitude do 
fato, pois basta a identificação do dano e do nexo causal (FARIAS; ROSENVALD, 2015).
6.1 Responsabilidade civil do Estado e agentes públicos
O artigo 43 do Código Civil preconiza: “As pessoas jurídicas de direito público interno são 
civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, 
ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou 
dolo” (BRASIL, 2002). No mesmo sentido é a redação do artigo 37, inciso XXII, parágrafo 6º, da 
Constituição Federal: “As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de 
serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, 
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa” (BRASIL, 1988).
Pela redação das normas supra transcritas, conclui-se que o Estado terá dever de indenizar 
por danos causados por seus agentes, na qualidade de agente público, sem que seja necessário 
comprovar a presença de dolo ou culpa. Basta que ocorra conduta do agente estatal, com nexo 
causal ao dano gerado. Aqui, mister destacar que os termos “agente” e “funcionários” são 
utilizados em seu sentido amplo, tratando-se de sujeitos que exercem atribuição pública ligada à 
sua atividade ou função. Por sua vez, por “Estado” entende-se não apenas as pessoas jurídicas de 
direito público que o compõe, como também as pessoas jurídicas de direito privado prestadoras 
de serviço público (PEREIRA, 2018).
Aqui, aponta-se a relevante ressalva feita por Farias e Rosenvald (2015. p. 568-569):
É preciso lembrar que boa parte das ações de indenização contra o Estado não tem um agente 
público como causador imediato do dano. O dano ou é causado por outro particular (e aí há 
possivelmente omissão estatal, pensemos nas lamentavelmente frequentes mortes de presos por 
companheiros de cela) ou a falha do serviço, sem que se possa individualizar quem falhou (buracos 
nas estradas, enchentes que causam danos). Se, digamos, numa escola pública, no intervalo das aulas, 
uma criança fura o olho da outra (o STF já analisou caso semelhante), é possível que os requisitos da 
responsabilidade estatal se façam presentes.
102
6.2 Responsabilidade civil do Estado por atos judiciais
Primeiramente, importante ressaltar que por “atos judiciais” entende-se tanto as funções 
jurisdicionais (contenciosas ou voluntárias), quanto as administrativas. Contudo, ao falar de 
responsabilidade civil do Estado por atos judiciais, faz-se um recorte nas funções jurisdicionais, 
que são as funções denominadas típicas. São as atividades que ensejam responsabilidade do 
magistrado, conforme artigo 143, inciso do II do Código de Processo Civil (GONÇALVES, 2017). 
A doutrina moderna admite a responsabilidade civil do Estado em se tratando de danos a 
particulares oriundos do exercício da atividade judiciaria. Tratam-se aqui dos casos em que há 
erros flagrantes (GONÇALVES, 2017).
6.3 Responsabilidade civil do Estado por atos legislativos
Parte da doutrina considera não ser possível proclamar a responsabilidade civil do Estado por atos 
legislativos, por tratar-se do exercício de funções oriundas de poder soberano, onde há imunidade 
parlamentar pelos atos praticados no exercício das funções. Tal entendimento não é unânime.
Alguns doutrinadores defendem que o Estado se responsabiliza por efeitos danosos 
oriundos de lei inconstitucional, desde que a inconstitucionalidade desta seja declarada pelo 
Poder Judiciário. Quanto aos danos gerados por lei constitucional, também deve-se aplicar a 
responsabilidade civil do Estado, em nome da teoria do risco social, a depender do caso concreto 
(GONÇALVES, 2017).
6.4 Excludentes de responsabilidade civil estatal
A ausência de um dos elementos integrantes da responsabilidade civil do Estado (nexo causal 
e dano) acarretará na excludente de responsabilidade. Nesse sentido, a doutrina aponta três 
hipóteses de exclusão, quais sejam, fato exclusivo da vítima, fato exclusivo de terceiro e caso 
fortuito ou de força maior.No fato exclusivo da vítima, o dano é causado pela própria vítima. Por 
sua vez, o fato exclusivo de terceiro é aquele em que um sujeito sem ligação com o Estado e com 
a vítima do dano é o responsável pelo dano. Finalmente, caso fortuito ou força maior tratam 
daqueles eventos imprevisíveis e inevitáveis que causam danos a terceiros.
103
FIQUE DE OLHO
A teoria do risco administrativo se trata de um princípio, portanto, comporta exceções. Cita-
se, por exemplo, a morte do preso em presídios. Em regra, o Estado tem responsabilidade civil 
objetiva caso ocorra a morte de um preso sob sua tutela. Todavia, se o Estado tiver agido de todas 
as formas possíveis para evitar aquele dano e mesmo assim ele ocorreu, não há que se falar de 
responsabilidade (Informativo 819, STF, RE 841526/RS, rel. Min. Luiz Fux, 30 mar. 2016).
7. RESPONSABILIDADE CIVIL DO PROFISSIONAL 
LIBERAL E DAS PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO 
PRIVADO
Tendo em vista a já apresentada teoria do risco, que fundamenta a chamada responsabilidade 
civil objetiva, deve- se observar com o risco opera tratando-se de pessoas jurídicas de direito 
privado e também de profissionais liberais.Tratam-se de duas hipóteses diferenciadas de risco, 
em que não se aplica o conteúdo do artigo 927 do Código Civil, previamente estudado.
7.1 Responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito privado: o 
risco de empresa ou do empreendimento
Tradicionalmente, entende-se que “quem exerce profissionalmente uma atividade econômica 
organizada para a produção ou distribuição de bens e serviços deve arcar com todos os ônus 
resultantes de qualquer evento danoso inerente ao processo produtivo ou distributivo, inclusive 
danos causados por empregados ou prepostos” (FARIAS; ROSENVALD, 2015, p. 466). A teoria do 
risco do empreendimento está previsto no artigo 931 do Código Civil, que se relaciona com o artigo 
12 do Código de Defesa do Consumidor. Ambas as normas só se aplicam aos produtos destinados ao 
mercado, não se estendendo para a prestação de serviços (FARIAS; ROSENVALD, 2015).
7.2 Responsabilidade civil do profissional liberal
Assim como ocorrena responsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito privado, a 
responsabilidade civil do profissional liberal se utiliza de uma concepção diferenciada de risco, 
aplicando-se aqui o artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990):
104
O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação 
dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por 
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
Tem-se aqui uma preocupação com as relações estabelecidas entre particulares e profissionais 
liberais, que estabelecem entre si um vínculo intuitu personae. Trata-se de um deslocamento do foco 
no fato de produto e serviço para justamente o vínculo entre sujeitos (FARIAS; ROSENVALD, 2015).
105
PARA RESUMIR
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• compreender o conceito de responsabilidade civil, tendo em vista o seu contexto 
histórico-jurídico, a maneira que a temática é tratada pela legislação brasileira e como 
se diferencia da responsabilidade penal;
• aprender sobre as principais modalidades de responsabilidade civil: 
responsabilidade civil contratual, extracontratual, pré-contratual e pós-contratual;
• diferenciar a responsabilidade objetiva e subjetiva, entendendo os elementos que 
as compõem, como o ato ilícito, o dano, o nexo causal e a culpa;
• conhecer os conceitos-chave, como o dano material, dano patrimonial, reparação 
e indenização, e entender como é feita a liquidação da indenização;
• estudar as excludentes de ilicitude, além das seguintes responsabilidades civis em 
espécie: responsabilidade civil do Estado, responsabilidade civil do profissional liberal 
e das pessoas jurídicas de direito privado.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: 
Senado, 1988.
BRASIL. Lei n. 8.078 de 11 de setembro de 1990. Institui o Código de Defesa do Con-
sumidor. Diário Oficial da União, Brasília, 11 set. 1990. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm. Acesso em: 10 nov. 2019.
BRASIL. Lei n. 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial 
da União, Brasília, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 10 nov. 2019.
BRASIL. Lei n. 13.105 de 16 de março de 2015. Institui o Código de Processo Civil. 
Diário Oficial da União, 17 mar. 2015. Disponível em:http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 31 out. 2019.
BRASIL, Conselho da Justiça Federal - Superior Tribunal de Justiça. Enunciado 671, IV 
Jornada de Direito Civil. Disponível em: https://www.cjf.jus.br/enunciados/enuncia-
do/671. Acesso em 8 nov. 2019.
BRASIL, Supremo Tribunal Federal. RE 841526/RS. Informativo 819. rel. Min. Luiz Fux. 
Brasília. 30 mar. 2016. Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/do-
cumento/informativo819.htm. Acesso em: 10 nov. 2019.
COELHO, F. U. Curso de direito civil. 5. ed. v.2 São Paulo: Saraiva, 2012.
DINIZ, M. H. Curso de direito civil brasileiro. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v.2.
FARIAS, C. C; ROSENVALD, N. Curso de direito civil. 11. ed. Salvador: JusPODIVM, 2017. 
v. 2.
FARIAS, C. C.; ROSENVALD, N. Curso de direito civil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2015. v. 3. 
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. v. 2.
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. v. 4. 
PEREIRA, C. M. S. Instituições de direito civil. 30. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. v. 2. 
PEREIRA, C. M. S. Responsabilidade Civil. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018. v. 2.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Ramo do Direito Civil, o Direito das Obrigações traz reflexos na 
economia uma vez que abrange todas as relações patrimoniais. Neste 
livro, a autora esclarece o conceito de obrigação, seus elementos, 
sujeitos e fontes, apresenta os conceitos-chave, as classificações das 
obrigações, também as modalidades de transmissão da obrigação e 
o seu cumprimento ou as questões relacionadas ao inadimplemento 
das obrigações.
A obra trata ainda do contexto histórico-jurídico da 
responsabilidade civil, do conceito e da maneira como a 
responsabilidade civil é tratada pela legislação, além de discorrer 
sobre a diferença em relação à responsabilidade penal.
Essencial para o estudo do Direito, utiliza linguagem didática e 
traz exemplos de casos onde as leis mencionadas no texto foram 
aplicadas, para melhor clareza.Livro I, artigos 233 a 965.
1.3 Acepções de obrigação
Segundo o doutrinador Caio Mario da Silva Pereira (2018), o ordenamento social é repleto de 
obrigações, deveres e imposições, sejam estas advindas da relação do indivíduo com o Estado, ou 
até mesmo dentro de seu núcleo familiar, por exemplo.
Nem todos os deveres penetram o ordenamento jurídico, como é o caso do dever moral ou 
do dever social, que, ainda que relevantes, não podem ser exigidos judicialmente, possuindo 
mero repúdio social como mecanismo para seu cumprimento. Por sua vez, o dever jurídico é 
justamente aquele que pode ser exigido judicialmente, pois possui sanções coercitivas, ou seja, 
possíveis interferências do Estado para o seu cumprimento (PEREIRA, 2018). Dever jurídico não é 
sinônimo de obrigação, pois permeia outros ramos do direito, como o Direito Penal, onde temos 
como exemplo o dever jurídico de não matar. Contudo, o dever jurídico costuma estar no bojo 
da obrigação.
Para o Direito das Obrigações, o vocábulo “obrigação” possui sentido estrito, sendo este “o 
vínculo jurídico em virtude do qual uma pessoa pode exigir da outra prestação economicamente 
apreciável” (PEREIRA, 2018, n. p.). Ainda, nas palavras de Gonçalves (2019, p. 17), “o Direito das 
Obrigações, todavia, emprega o referido vocábulo em sentido mais restrito, compreendendo 
apenas aqueles vínculos de conteúdo patrimonial, que se estabelecem de pessoa a pessoa, 
colocando-as, uma em face da outra, como credora e devedora, de tal modo que uma esteja na 
situação de poder exigir a prestação, e a outra, na contingência de cumpri-la”.
Frisa-se a compreensão da obrigação como dever juridicamente relevante, economicamente 
mensurável, que se estabelece entre sujeitos e que pode ser exigido judicialmente se necessário. 
Ao tratar da obrigação em seu sentido estrito, é importante compreender dois conceitos: débito 
13
e responsabilidade. Trata-se da Teoria Dualista do Direito das Obrigações, adotada pelo Direito 
Civil brasileiro. Débito é o dever de um sujeito da obrigação de satisfazer a prestação ajustada, 
enquanto a responsabilidade nada mais é que uma consequência do não cumprimento de uma 
obrigação (SIMÃO, 2013).
Toma-se como exemplo dois sujeitos, João e Carlos. João decide vender seu automóvel para 
Carlos. Então, João deve entregar o veículo a Carlos, que, por sua vez, deve pagar pelo bem 
adquirido. Se Carlos decide não pagar pelo veículo, ou seja, não cumprir com o débito que satisfaz 
sua prestação, nascerá para este a responsabilidade, que tem como consequência afetar o 
patrimônio de quem não satisfez sua prestação, conforme preceitua o artigo 391 do Código Civil.
Em síntese, conforme ensinamento de Gonçalves, a responsabilidade é “a consequência 
jurídica patrimonial do descumprimento da relação obrigacional” (2019, p. 51). Em outras palavras, 
a responsabilidade no Direito das Obrigações é uma garantia contra eventual inadimplemento de 
um dever obrigacional, trazendo consequências em caráter coercitivo, visando o adimplemento 
da obrigação (FARIAS; ROSENVALD, 2017).
1.4 Sanção e coação
No âmbito do Direito das Obrigações, as sanções se apresentam como mecanismos de coação, 
que visam, inicialmente, o cumprimento das prestações ajustadas por sujeitos que contraem 
uma obrigação. Diretamente relacionada com o conceito de responsabilidade, a sanção se dá 
dentro da esfera do patrimônio da parte. Nesse sentido, destaca-se a redação do artigo 389, do 
Código Civil: “Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros 
e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de 
advogado.” (BRASIL, 2002, on-line).
Neste ponto, é importante destacar o caráter patrimonial da sanção e, consequentemente, da 
responsabilidade para o Direito das Obrigações. Esta natureza patrimonial possui embasamento 
constitucional, pois a Constituição da República impossibilita a chamada “prisão civil” no 
Brasil” em seu artigo 5º, LXVII: “não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo 
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel” 
(BRASIL, 1988, on-line). Assim, veda-se a possibilidade da responsabilização pessoal do devedor.
Destaca-se que a regra da responsabilização patrimonial no Direito das Obrigações não 
possui exceções no ordenamento brasileiro. Apesar do dispositivo constitucional acima apontado 
permitir a prisão civil do devedor de alimentos, esta não possui caráter punitivo e nem visa 
satisfazer a obrigação, sendo, portanto, um mero mecanismo de coerção pessoal dentro da esfera 
da responsabilidade patrimonial (FARIAS; ROSENVALD, 2017).
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2. CONCEITO, ELEMENTOS E SUJEITOS DA 
OBRIGAÇÃO
Primeiramente, apresenta-se o conceito de obrigação. Segundo Carlos Gonçalves (2019, p. 37),
obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do devedor 
(sujeito passivo) o cumprimento de determinada prestação. Corresponde a uma relação de natureza 
pessoal, de crédito e débito, de caráter transitório (extingue-se com o cumprimento), cujo objeto 
consiste numa prestação economicamente aferível.
No mesmo sentido, é a definição dada pelo doutrinador Washington de Barros Monteiro 
(1997, p. 8 apud GONÇALVES, 2019, p. 27), que diz que obrigação é “a relação jurídica, de 
caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor e cujo objeto consiste numa prestação 
pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o 
adimplemento através de seu patrimônio.”
Ainda, suscintamente, segundo Orlando Gomes (2005, p. 15), a obrigação é “um vínculo 
jurídico em virtude do qual uma pessoa fica adstrita a satisfazer uma prestação em proveito de 
outra” (apud FARIAS; ROSENVALD, 2017). Tendo como base as definições consonantes acima 
apresentadas, identificam-se três elementos principais que compõem a obrigação:
Elemento objetivo ou material 
A prestação propriamente dita. 
Elemento subjetivo
Sujeitos da relação, sendo eles o sujeito ativo e o sujeito passivo.
Elemento imaterial ou abstrato
O vínculo jurídico.
Nesse sentido, analisam-se os elementos supra listados. Posteriormente, distingue-se direito 
obrigacionais e direitos reais e, por fim, traz-se uma definição das chamadas obrigações naturais.
2.1 Elemento objetivo ou material: a prestação
A prestação é o elemento palpável da obrigação, que também é chamado pela doutrina 
de “elemento material”. O elemento objetivo nada mais é que a prestação, que, por sua vez, 
se traduz em uma conduta ou ato humano: dar, fazer ou não fazer. Dar e fazer são condutas 
positivas, enquanto não fazer é uma conduta negativa (GONÇALVES, 2019).
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Conforme o artigo 104 do Código Civil, o objeto da obrigação deve ser lícito, possível 
(possibilidade jurídica e física), determinado ou determinável (ainda que inicialmente 
indeterminado, deve ser possível determina-lo no momento da execução). Por fim, o objeto da 
obrigação deve ser economicamente mensurável, ou seja, deve ter capacidade de se traduzir 
patrimonialmente (PEREIRA, 2018).
2.2 Elemento subjetivo: os sujeitos da obrigação
Toda obrigação é composta de, ao menos, dois sujeitos, sendo que um exercerá o papel de 
sujeito ativo (credor) e o outro de sujeito passivo (devedor). Ambos sujeitos podem ser pessoas 
naturais ou jurídicas, determinados ou determináveis. Ainda, em uma mesma obrigação, podem 
existir múltiplos credores e/ou devedores. O sujeito ativo, o credor, é a quem se deve a prestação, 
podendo exigir o cumprimento desta. Por sua vez, o sujeito passivo, o devedor, é quem deve 
satisfazer a pretensão do credor (GONÇALVES, 2019).
2.3 Elemento imaterial ou abstrato: o vínculo jurídico
O vínculo jurídico é elemento imaterial que une os sujeitos da obrigação, ou seja, que une 
credor e devedor, possibilitando que o primeiro possa exigir a prestação do segundo. É este o 
elemento que garante a sujeição do devedor ao credor, tanto na esfera do débito quantona 
responsabilidade, criando uma coerção para que o sujeito passivo cumpra a prestação que é 
devida. Nas palavras de Farias e Rosenvald (2017, p. 82),
é exatamente o vínculo jurídico que confere a coercibilidade à relação obrigacional. Assim sendo, 
garante-se o cumprimento da prestação avençada, porque, se não cumprida voluntariamente, enseja 
a atividade substitutiva da vontade do devedor, através da atuação do Estado-juiz, que vai se imiscuir 
no patrimônio do devedor para retirar a quantidade de patrimônio suficiente para solver a dívida.
Percebe-se que o vínculo jurídico é, na verdade, formado pelo binômio débito e 
responsabilidade - conceitos já trabalhados anteriormente - afinal, o débito é o dever do devedor 
de cumprir a prestação, enquanto a responsabilidade é a possibilidade do credor de exigir a 
prestação do devedor, caso este não a cumpra voluntariamente.
2.4 Obrigações naturais
Para compreender as obrigações naturais, categoria especial de obrigação, deve-se antes 
entender o conceito de obrigação perfeita e obrigação imperfeita. A obrigação perfeita é obrigação 
civil, reunindo em um mesmo sujeito, o débito e a responsabilidade. Em outras palavras, trata-se 
da obrigação em que é devida uma prestação ao credor pelo devedor, sendo que o credor pode 
exigir esta do devedor, se não for cumprida voluntariamente. Por sua vez, obrigação imperfeita é 
aquela em que ou não há débito, ou não há responsabilidade, ou então em que ambos elementos 
estão presentes, mas recaem sobre sujeitos distintos.
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Na esfera das obrigações imperfeitas, quando há responsabilidade sem débito, tem-se as garantias 
prestadas por terceiro, como ocorre na fiança, por exemplo. Já quando há débito sem responsabilidade, 
tem-se as chamadas obrigações naturais, onde há prestação, mas não há possibilidade de que esta 
seja exigida judicialmente. Como exemplo, tem-se as dívidas de jogo ou de aposta, disciplinadas pelo 
artigo 814 do Código Civil (FARIAS; ROSENVALD, 2017). As obrigações naturais não são um mero dever 
moral, que é externo à esfera jurídica. Ao mesmo tempo, não possuem responsabilidade, portanto, se 
diferem das obrigações civis (PEREIRA, 2018). Assim, trata-se de uma entidade intermediária, de uma 
situação anômala externa à obrigação civil, que é perfeita.
2.5 Distinção entre direitos obrigacionais e direitos reais
Os direitos obrigacionais e o os direitos reais possuem como ponto de interseção o fato de 
serem ramos do Direito Privado que tratam de patrimônio, todavia, são ramos muito distintos.
Como já conceituado, os direitos obrigacionais são aqueles em que há um vínculo entre 
dois sujeitos, no qual o credor tem o direito de exigir determinada prestação economicamente 
mensurável do devedor, podendo pleitear judicialmente a prestação, se necessário. No que diz 
respeito aos direitos reais, também conhecidos como direito das coisas, estes trabalham com 
a relação entre sujeito e coisa. Em outras palavras, segundo Carlos Gonçalves (2019, p. 23): “é 
poder jurídico, direto e imediato, do titular sobre a coisa, com exclusividade e contra todos”.
Analisando-se as principais diferenças entre esses ramos do Direito Civil, primeiramente, 
quanto ao objeto, observa-se que o direito obrigacional recai sobre a prestação, enquanto o direito 
real tem como objeto a coisa propriamente dita (GONÇALVES, 2019). Quanto aos sujeitos, segundo 
Farias e Rosenvald (2017), o direito obrigacional é cooperativo (ao menos dois sujeitos), enquanto o 
direito real é atributivo (apenas um sujeito, que é quem tem direito sobre a coisa). Ainda, conforme 
salienta Gonçalves (2019), o sujeito passivo do direito obrigacional é determinado ou determinável, 
enquanto o do direito real é indeterminável, pois trata-se da coletividade abstrata (todas as 
pessoas). A indeterminação do sujeito passivo dos direitos reais é intimamente
ligada à sua eficácia. A eficácia dos direitos reais é absoluta (erga omnes), ou seja, vale para 
todos as pessoas. Por sua vez, os direitos obrigacionais possuem eficácia relativa (inter partes), só 
gerando efeitos para os sujeitos que adentram à obrigação.
Quanto à duração, os direitos obrigacionais são temporários, se extinguindo com o 
cumprimento da prestação. Já os direitos reais são perpétuos, só se extinguindo com as hipóteses 
previstas em lei, como a desapropriação. Quanto ao exercício, os direitos obrigacionais são 
mediatos, pois há a presença do devedor, enquanto os direitos reais são imediatos, pois seu 
exercício se dá diretamente na coisa (FARIAS; ROSENVALD, 2017).
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Por fim, aponta-se que os direitos reais são numerus clausus (rol taxativo), ou seja, todos os 
direitos existentes nesse ramo do Direito Civil estão previstos em lei (art. 1.225, CC). Já os direitos 
obrigacionais são numerus apertus (rol exemplificativo), pois são inúmeros e nem todos estão 
previstos em lei (FARIAS; ROSENVALD, 2017).
FIQUE DE OLHO
Como vimos, os direitos das obrigações são diferentes dos direitos reais. Contudo, existem 
obrigações híbridas, que integram tanto os direitos das obrigações quanto os direitos reais: são 
as chamadas obrigações propter rem. Segundo Gonçalves (2019, p. 30), essas obrigações “têm 
características de direito obrigacional, por recair sobre uma pessoa que fica adstrita a satisfazer 
uma prestação, e de direito real, pois vincula sempre o titular da coisa”. Existem várias obrigações 
propter rem espalhadas pelo Código Civil, como, por exemplo, a obrigação dos condôminos de 
não alterar a fachada do prédio (art. 1.336, III, CC).
3. PRINCÍPIOS DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
Como ramo do Direito Privado, o Direito das Obrigações se sujeita aos princípios gerais do 
Direito Civil, como a boa-fé, função social, autonomia privada, dentre outros. Para além destes, 
Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2017) apontam três princípios de excepcional 
importância para o Direito Obrigacional disciplinado no Código Civil de 2002: socialidade, 
eticidade e operabilidade.
Princípio da socialidade
Trata-se da concepção de que, ao buscar satisfazer interesse próprio, o sujeito não 
deve objetivar apenas o bem individual, devendo sempre resguardar as expectativas 
da coletividade. É um princípio diretamente relacionado com a função social. Deve-se 
sempre fazer um sopesamento entre o interesse individual e o interesse social (FARIAS; 
ROSENVALD, 2017).
Princípio da eticidade
Trata-se da concepção do atual Código Civil ser mais poroso a valores sociais externos, 
através das chamadas cláusulas gerais, que são normas intencionalmente abertas, com 
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uma maior possibilidade de interpretações variadas para os operadores do direito. É uma 
maior abertura da lei para fontes externas a ela, como a moral e a ética. É um princípio 
que garante um certo grau de maleabilidade e progresso, conforme as demandas da 
sociedade na esfera do direito civil (FARIAS; ROSENVALD, 2017).
Princípio da operabilidade
Também conhecido como princípio da concretude, trata-se da aplicação do direito 
tendo em vista a situação concreta, observando-se as particularidades dos sujeitos 
envolvidos. Visa garantir que a aplicação das normas do Código Civil se moldem, na 
medida do possível, ao caso concreto, individualizando-se sujeitos e relações (FARIAS; 
ROSENVALD, 2017).
4. FONTES DAS OBRIGAÇÕES
Segundo Maria Helena Diniz (2007, p. 40), as fontes das obrigações são “os reguladores de 
relações particulares, entre duas ou mais pessoas, tendo por objeto determinada prestação”. A 
doutrinadora aponta duas fontes: a lei e o fato jurídico, que por sua vez se decompõe em fato 
jurídico voluntário (ato jurídico e negócio jurídico) e fato jurídico involuntário (ato ilícito).
Importante destacar que ambas as fontes dialogam, pois em todas as obrigações há a 
presença do fato humano e a atuação do ordenamento jurídico (PEREIRA, 2018).
4.1 Lei como fonte das obrigações
Pereira (2018) preconiza que a lei é fonte primária de todo direito. No mesmo sentido é 
o entendimento de Maria Helena Diniz (2007),que afirma que é o direito que dá significação 
jurídica aos fatos humanos e, especificamente no Direito das Obrigações, é a lei que garante a 
formação do vínculo obrigacional.
Sempre presente como fonte, a lei ora atua como fonte imediata, ora atua como fonte mediata 
da obrigação. A lei é fonte imediata nas situações em que a obrigação decorre, exclusivamente, 
da vontade do Estado, ou seja, nos casos em que a obrigação é determinada diretamente pela 
lei, a exemplo da obrigação alimentar (art. 1.696, CC). Já o papel de fonte mediata da lei se dá 
quando a obrigação decorre do fato jurídico, pois aqui a fonte imediata será a vontade dos sujeitos 
manifesta no fato jurídico, e a lei agirá respaldando esse fato (GONÇALVES, 2019).
Neste sentido, “pode-se, assim, resumidamente, dizer que a obrigação resulta da vontade 
do Estado, por intermédio da lei, ou da vontade humana, por meio do contrato, da declaração 
unilateral da vontade ou do ato ilícito. No primeiro caso, a lei atua como fonte imediata, direta, da 
obrigação, nos demais, como fonte mediata ou indireta” (GONÇALVES, 2019, p. 50).
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4.2 Fato jurídico voluntário como fonte das obrigações: ato jurídico e 
negócio jurídico
Por fato jurídico voluntário, entende-se ser o fato que produz efeitos queridos pelo sujeito. Tal 
categoria de fato jurídico abrange os atos jurídicos e os negócios jurídicos.
Ato jurídico, em sentido estrito, “é o que gera consequência jurídica prevista em lei e não 
pelas partes interessadas, não havendo regulamentação da autonomia privada” (DINIZ, 2007, 
p. 42). Já negócio jurídico é quando “se procura criar normas para regular interesses nas partes, 
harmonizando vontades aparentemente antagônicas” (DINIZ, 2007, p. 42). Resumidamente, 
negócio jurídico possui efeitos oriundos das vontades das partes, previamente negociadas entre 
elas, enquanto o ato jurídico em sentido estrito é aquele que só possui os efeitos previstos em lei, 
mas que também eram pretendidos pelo sujeito.
4.3 Fato jurídico involuntário como fonte das obrigações: ato ilícito
Ainda seguindo o entendimento de Maria Helena Diniz, define-se fato jurídico involuntário 
como aquele que gera efeitos alheios à vontade do agente, o que ocorre nos casos de ato ilícito. 
Aqui, tem-se apenas consequências indesejadas pelo agente, previstas em lei, como as sanções 
(DINIZ, 2007). Os atos ilícitos foram definidos expressamente no Código Civil, em seus artigos 186 
e 187, sendo que suas consequências se encontram previstas nos artigos 927 e seguintes.
5. ATOS UNILATERAIS
Como regra geral no Direito das Obrigações, as declarações unilaterais de vontade de um 
sujeito são fatos irrelevantes do ponto de vista da constituição de uma obrigação. Normalmente, 
o Direito das Obrigações trata de situações onde há convergência de declarações de vontades de 
mais de um sujeito, que formam um vínculo obrigacional entre si.
Todavia, excepcionalmente, atos unilaterais (declarações unilaterais de vontade) constituem 
obrigações para o sujeito, seja colocando-o como sujeito ativo ou passivo de uma obrigação 
(COELHO, 2012). O Código Civil apresenta, em seu Título VII, quatro tipos de atos unilaterais 
geradores de obrigação: promessa de recompensa (arts. 854 a 860), gestão de negócios (arts. 
861 a 875), pagamento indevido (arts. 876 a 883) e enriquecimento sem causa (arts. 884 a 886).
5.1 Promessa de recompensa
A promessa de recompensa ocorre quando um sujeito se compromete a recompensar ou 
gratificar um terceiro que preencher certos requisitos pré-estabelecidos. Este sujeito que 
promete a recompensa é chamado de “promitente” e, ao se comprometer, fica vinculado aos 
termos de sua declaração, se tornando devedor desta (COELHO, 2012). Nesse sentido, ressalta-se 
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o artigo 855 do Código Civil, que estabelece que quem preencher os requisitos estabelecidos pelo 
promitente tem direito de exigir a recompensa. Por fim, ressalta-se que, como pontua Coelho 
(2012), pode-se prometer recompensa por qualquer ato, fato, coisa, fazer ou condição, basta que 
recompense-se algo lícito.
5.2 Gestão de negócios
Como regra geral, uma pessoa pratica atos só em nome próprio, ou em nome de terceiro 
através de representação (uma procuração, por exemplo). Todavia, existem situações em que um 
sujeito pratica atos sem ser representante legal ou contratual de outro sujeito, mas que geram 
obrigações para o último. É o caso da gestão de negócios. Conforme o artigo 861 do Código Civil, 
a gestão de negócios ocorre quando “aquele que, sem autorização do interessado, intervém na 
gestão de negócio alheio, dirigi-lo-á segundo o interesse e a vontade presumível de seu dono, 
ficando responsável a este e às pessoas com que tratar” (BRASIL, 2002, on-line). O dono do 
negócio deve ser imediatamente comunicado (art. 864, CC).
5.3 Pagamento indevido
É a hipótese em que alguém recebe algo que não lhe era devido, nascendo assim a obrigação 
de restituir (art. 876, CC). Por exemplo, se Amanda paga a pessoa errada, quem receber o 
pagamento de Amanda tem dever de restituir o valor recebido. Todavia, conforme artigo 877, 
cabe a Amanda provar que realizou o pagamento indevido em razão de um erro.
Observa-se na redação desse artigo que, na verdade, o dono do negócio só fica vinculado em 
relação a atos praticados em atenção aos seus interesses e, ainda segundo o Código Civil (art. 
862), se a gestão for contrária aos interesses do dono, caberão sanções contra aquele que interviu 
em seu negócio.
5.4 Enriquecimento sem causa
O Código Civil conceitua o enriquecimento sem causa de maneira clara e objetiva em seu artigo 
884: “Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o 
indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários.” (BRASIL, 2002, on-line). Assim, 
quando um sujeito adquirir vantagem patrimonial em função de terceiro sem fundamento jurídico 
para isso, nasce a obrigação de compensar o sujeito prejudicado (COELHO, 2012).
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6. CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES
São várias as classificações possíveis para as obrigações, que variam de doutrinador para 
doutrinador. Para fins didáticos, apresentam-se aqui as classificações utilizadas pelo Código Civil 
expressamente, ou seja: obrigações de dar (arts. 233 a 246), obrigações de fazer (arts. 247 a 249), 
obrigações de não fazer (arts. 250 e 251), obrigações alternativas (arts. 252 a 256), obrigações 
divisíveis e indivisíveis (arts. 257 a 263) e obrigações solidárias (arts. 264 a 285).
6.1 Obrigações de dar
Nas obrigações de dar, o devedor tem o dever de entregar um bem móvel ou imóvel para 
seu credor. O cumprimento da obrigação de dar bem móvel ocorre com a tradição, enquanto o 
cumprimento da obrigação de dar bem imóvel se dá com o registro (GONÇALVES, 2019).
Segundo Diniz (2007, p. 70), “são consideradas como prestações de coisa as obrigações do 
vendedor e comprador, do locador e locatário, do doador e do depositário (CC, art. 627), do 
segurador e do segurado (CC, art. 757), do comodatário, do rendeiro ou censuário (CC, art. 810), 
do mutuário (CC. 586) etc.”
A obrigação de dar pode se referir a dar coisa certa ou incerta. Coisa certa é a coisa 
individualizada, perfeitamente determinada em gênero, quantidade e quantidade. Por exemplo, 
ao comprar uma obra de arte de um certo artista, tem-se coisa certa, pois nenhuma outra obra 
poderá substituir aquela precisamente. Já a coisa incerta é a coisa desprovida de individualidade, 
apenas definida quanto ao seu gênero e quantidade, logo, desprovida de sua qualidade. Por 
exemplo, um restaurante ao comprar uma caixa de cebolas, sem especificação de qualidade 
(GONÇALVES, 2019).
6.2 Obrigações de fazer
A obrigação de fazer é aquela em que o credor busca um ato ou serviço a ser executado pelo 
devedor. Ao contrário do que ocorre na obrigação de dar, aqui busca-se a conduta do devedor, 
não o bem que possa resultar dessa conduta. Para avaliar se uma obrigação é de dar ou de fazer, 
deve-se analisar o que prepondera: se é a coisaem si, ou se o a coisa é uma mera consequência 
do fazer (FARIAS; ROSENVALD, 2017).
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Figura 1 - Conceitos preliminares das obrigações do fazer 
Fonte: Adaptado pela autora.
#PraCegoVer: Na imagem, temos uma representação gráfica em três níveis: o primeiro, 
e maior, apresenta o Direito das obrigações como conjunto de regras jurídicas; na sequência, 
interliga dois importantes conceitos da obrigação do fazer: o credor, com a capacidade de exigir 
determinada prestação econômica ou determinado comportamento e, o devedor, que tem 
o dever de cumprir prestação econômica ou omissão de comportamento. Além disso, para o 
devedor, o patrimônio garante o cumprimento da prestação.
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A obrigação de fazer pode ser fungível ou infungível. Veja a seguir:
Fungível
É aquela substituível, impessoal, em que o ato ou serviço pretendido pode 
ser executado por terceiro, sem prejuízo ao cumprimento da obrigação (art. 
249, CC).
Infungível É aquela insubstituível, de caráter personalíssimo - que só pode ser executa-
da pela pessoa do devedor para que ocorra o adimplemento (art. 247, CC).
No caso de obrigação infungível, se o devedor inadimplir com sua obrigação, o que torna a 
obrigação impossível por ser a prestação personalíssima, deverá indenizar o credor por perdas e 
danos, salvo se não teve culpa no inadimplemento (arts. 247 e 248, CC). Noutro giro, em caso de 
obrigação fungível, se o devedor inadimplir com culpa, o credor poderá contratar terceiro para 
cumprir a prestação e os custos serão suportados pelo devedor, que ainda poderá incorrer em 
perdas e danos (art. 249, CC).
O cumprimento de uma obrigação de dar coisa só é possível se a coisa for certa. Então, a coisa 
incerta deve se tornar certa no momento do adimplemento da prestação, através da chamada 
concentração da obrigação, que nada mais é que a individualização da coisa que acontece através 
da escolha. Em regra, a escolha da qualidade cabe ao devedor, mas as partes podem determinar 
em contrato que o credor pode ser o responsável por realizar a individualização da coisa, conforme 
artigo 244, CC (DINIZ, 2007).
O Código Civil, ao disciplinar as obrigações de dar, se preocupou com a possibilidade de perda 
ou deterioração da coisa, pois são situações que impossibilitam o cumprimento da obrigação 
do modo em que tenha sido pactuada entre as partes. A perda ou deterioração ocorre antes da 
tradição do bem do devedor para o credor e suas consequências dependem da presença ou não 
de culpa do devedor.
No caso das obrigações de dar coisa certa, se houver perda total, ou seja, perecimento da 
coisa, a obrigação se torna impossível e o contrato se resolve por inadimplemento. Contudo, se 
houver culpa, a obrigação também se resolve, mas o devedor responderá pelo equivalente do 
valor da coisa, mais perdas e danos (art. 234, CC). Em caso de perda parcial de coisa certa, ou 
seja, de deterioração, caberá ao credor decidir se aceita a coisa no estado em que se encontra, 
ou se a obrigação se torna impossível. Caso escolha receber a coisa deteriorada, haverá o devido 
abatimento do valor do bem, para que o credor não fique prejudicado (art. 240, CC). Já no caso 
das obrigações de dar coisa incerta, como o objeto não é individualizado até o momento do 
adimplemento da obrigação, não é possível que o devedor alegue perda do objeto (art. 246, CC).
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Por fim, observa-se a obrigação de restituir, subespécie da obrigação de dar, prevista nos artigos 
238 a 240 do Código Civil. São as hipóteses que se caracterizam “pela existência de coisa alheia em 
poder do devedor, a quem cumpre devolvê-la ao dono. Tal modalidade impõe àquele a necessidade 
de devolver coisa que, em razão de estipulação contratual, encontra-se legitimamente em seu poder” 
(GONÇALVES, 2019, p. 72). É o que ocorre, por exemplo, quando um sujeito aluga um automóvel, 
contraindo a obrigação de devolver o veículo para a locadora em uma determinada data. Aqui, se a 
coisa se perder antes de ser devolvida para o credor, sem culpa do devedor, a obrigação se resolve 
e o credor sofre a perda (art. 238, CC). Contudo, se houver culpa do devedor, este responderá pelo 
equivalente, mais perdas e danos (art. 239, CC). O mesmo vale para a hipótese de deterioração, pois 
só caberá indenização em favor do credor se houver culpa do devedor (art. 240, CC).
6.3 Obrigações de não fazer
Enquanto as obrigações de dar e de fazer são consideradas obrigações positivas, por exigirem 
uma conduta do devedor, as obrigações de não fazer são chamadas de negativas, pois exigem uma 
omissão por parte do devedor. A obrigação de não fazer tem como foco um dever de abstenção 
(GONÇALVES, 2019). Em caso de obrigação impossível, sem culpa do devedor, a obrigação de não 
fazer se extingue (art. 250, CC). Já em caso de descumprimento da obrigação de não fazer com 
culpa do devedor, o credor pode exigir que este desfaça o ato praticado, quando possível, e ainda 
há possibilidade de incidência de perdas e danos (art. 251, CC).
6.4 Obrigações alternativas
Quando uma obrigação possui apenas um objeto, chama-se essa de obrigação simples. Já 
quando uma mesma obrigação possui múltiplos objetos tem-se uma obrigação composta. Uma 
obrigação composta pode ser cumulativa, alternativa ou facultativa.
Obrigação cumulativa é aquela em que há mais de uma prestação e a obrigação só será 
cumprida se todas as prestações forem solvidas. Por sua vez, na obrigação alternativa existem 
múltiplas prestações, mas basta o cumprimento de uma delas para que a obrigação se dê por 
cumprida. Para facilitar a memorização, basta lembrar que as prestações da obrigação cumulativa 
são interligadas por “e” (dar um boi e uma galinha e um porco), enquanto as prestações 
da obrigação alternativa são interligadas por “ou” (dar um boi ou uma galinha ou um porco) 
(GONÇALVES, 2019).
Conforme previsão expressa no Código Civil, em seu artigo 252, como regra, a escolha da 
prestação que bastará para sanar a obrigação será realizada pelo devedor. Quando a prestação 
é escolhida, ocorre a concentração da obrigação. A presença de um objeto definido fruto da 
concentração torna a obrigação simples. Segundo Gonçalves (2019), o fundamento por trás da 
existência das obrigações alternativas é favorecer o cumprimento da obrigação, pois permite ao 
devedor mais possibilidades de prestações capazes de sanar seu dever.
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Devido à multiplicidade de possíveis prestações, deve-se ter atenção com as previsões 
do Código Civil para o caso de perda do objeto em obrigação alternativa. Se apenas uma das 
prestações se perder, a obrigação se concentra na prestação restante (art. 253, CC). Se todas as 
prestações se perderem, sem culpa do devedor, a obrigação se extingue (art. 256, CC). Agora, 
se todas as prestações se perderem com culpa do devedor, o devedor terá de pagar ao credor 
o valor correspondente à última prestação que se perdeu e ainda há possibilidade de perdas e 
danos (art. 254, CC).
Na hipótese de, por estipulação contratual, ter-se estabelecido que a escolha da prestação 
cabe ao credor, afastando-se assim a regra geral prevista no artigo 252 do Código Civil, se houver 
perda de uma prestação, o credor poderá escolher se quer que esta seja substituída por uma das 
prestações alternativas, ou se quer receber o valor da prestação que se perdeu, podendo ainda 
exigir perdas e danos (art. 255, CC).
6.5 Obrigações alternativas com faculdade de substituição da prestação
Existe uma subespécie de obrigação alternativa chamada obrigação facultativa, que é uma 
“obrigação simples, em que é devida uma única prestação, ficando, porém, facultado ao devedor, 
e só a ele, exonerar-se mediante o cumprimento de prestação diversa e predeterminada. É 
obrigação facultativa de substituição.” (GONÇALVES, 2019, p. 108)
As obrigações facultativas não possuem previsão no Código Civil. Aqui, há a estipulação de 
objeto principal e objeto substitutivo (secundário ou subsidiário) e caberá ao devedor, e somente 
a ele, escolher qual objeto pagará para cumprir com a obrigação.Esta é a diferença fundamental 
entre as obrigações alternativas genéricas e as obrigações alternativas com faculdade de 
substituição da prestação, pois naquelas pode-se estipular que a escolha da prestação caberá ao 
credor (FARIAS; ROSENVALD, 2017).
Outra diferença fundamental reside no fato de a obrigação alternativa ser composta, enquanto 
a obrigação facultativa é simples. Apesar de a obrigação facultativa ter mais de uma prestação 
possível, do ponto de vista do devedor, para o credor a prestação é só uma e, por isso, simples.
Como aqui todo processo de escolha emana do devedor, caso haja perda do objeto, a obrigação 
se extingue sem possibilidade de o credor exigir qualquer outra prestação, ou então o devedor 
poderá meramente realizar o pagamento através de um objeto substitutivo (GONÇALVES, 2019).
26
6.6 Obrigações divisíveis e indivisíveis
Nas obrigações divisíveis e indivisíveis, há multiplicidade de sujeitos, ou no polo ativo da 
obrigação, ou no polo passivo, ou em ambos os polos. Obrigações divisíveis (fracionárias) são 
aquelas em que é possível que haja cumprimento fracionado, ou seja, a obrigação pode ser dividida 
entre as partes, sem que a prestação fique prejudicada (art. 257, CC). Por sua vez, as obrigações 
indivisíveis são aquelas em o objeto é uma coisa ou fato que não pode ser fracionado (art. 258, CC).
Como regra, toda obrigação é divisível, então, obrigações indivisíveis são excepcionais. 
Quanto à divisibilidade do bem propriamente dito, o Código Civil, em seu artigo 87, define que 
“bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração na sua substância, diminuição 
considerável do valor, ou prejuízo do uso a que se destinam” (BRASIL, 2002, on-line). Ainda, em 
seu artigo 88 esclarece que “os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por 
determinação da lei ou por vontade das partes” (BRASIL, 2002, on-line). Também se destaca aqui 
a redação do artigo 258, que define que “a obrigação é indivisível quando a prestação tem por 
objeto uma coisa ou um fato não suscetível de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem 
econômica, ou dada razão determinante do negócio jurídico” (BRASIL, 2002, on-line). Assim, em 
resumo, pode-se concluir que a indivisibilidade pode ocorrer por três razões distintas: 1) pela 
natureza da coisa; 2) por vontade das partes; ou 3) por determinação da lei.
Como exemplo de obrigação indivisível pela natureza da coisa, tem-se a obrigação de dar 
um gato, pois não é possível repartir um animal sem que esse morra (COELHO, 2012). Já como 
exemplo de indivisibilidade por determinação da lei, tem-se o artigo 1.791, que determina que 
até que ocorra a partilha, a herança será indivisível para os co-herdeiros.
Analisa-se agora, os efeitos da divisibilidade e da indivisibilidade da prestação. Se a obrigação 
for divisível e houver pluralidade de devedores, cada devedor será responsável apenas por sua 
quota-parte da prestação. Havendo pluralidade de credores, cada credor só tem direito a sua 
parte (art. 257, CC). Assim, por exemplo, em uma obrigação onde duas pessoas devem 200 reais 
para um credor, cada pessoa só está obrigada a pagar 100 reais, que é sua quota-parte. Agora, em 
outro exemplo, se uma pessoa deve duas sacas de café para dois credores, cada credor só pode 
exigir uma saca de café do devedor, o que equivale a sua parte (GONÇALVES, 2019).
Se a obrigação for indivisível, o Código Civil prevê regras distintas para o cumprimento da 
obrigação. Segundo o artigo 259, no caso de pluralidade de devedores, todos são responsáveis 
pela dívida toda e, caso apenas um devedor pague a dívida sozinho, poderá cobrar dos demais, 
sub-rogando-se no direito do credor (ou seja, assumindo o papel de credor). Esta regra decorre 
justamente da indivisibilidade da prestação. Nas palavras de Gonçalves (2019, p. 122),
27
o devedor, demandado por obrigação indivisível, não pode exigir que o credor acione 
conjuntamente todos os codevedores. Qualquer deles, à escolha do autor, pode ser demandado 
isoladamente pela dívida inteira. Ressalva-se apenas ao devedor, que solve sozinho o débito por 
inteiro, sub-rogação dos direitos creditórios, a fim de reaver dos consortes as quotas respectivas.
Havendo pluralidade de credores, cada credor só terá direito a sua parte. Então, se um devedor 
decidir pagar a dívida inteira a apenas um credor, ainda assim este poderá ser demandado pelos 
demais cocredores. Assim, o devedor só cumpre a obrigação se pagar todos os credores, ou se 
pagar um credor com caução de ratificação dos demais credores (art. 260, CC). Caso apenas um 
credor receba a prestação inteira, os outros cocredores poderão cobrar sua parte deste credor 
(art. 261, CC).
Segundo o artigo 262 do Código Civil, se um dos credores remitir a dívida, ou seja, perdoar 
a dívida, esta remissão só vale para sua parte da prestação, então, os outros cocredores ainda 
poderão exigir sua parte da dívida, sem, é claro, poderem exigir a quota-parte da dívida que 
era do credor que realizou a remissão da dívida. Então, por exemplo, se João deve dez sacas de 
café para cinco credores (duas sacas para cada) e um dos credores decide remir a dívida, João 
ainda deve um total de oito sacas de café (duas sacas para cada um dos quatro credores que não 
perdoaram a dívida).
Por fim, aponta-se que, nas obrigações indivisíveis com mais de um devedor, caso haja 
inadimplemento, deve-se observar a culpa de cada um. Se todos forem culpados pelo 
descumprimento da obrigação, todos responderão pelo equivalente da prestação, mais perdas e 
danos. Contudo, se a culpa for de apenas um devedor, todos respondem pelo valor equivalente, 
mas apenas o culpado responderá por perdas e danos (art. 263, CC).
6.7 Obrigações solidárias e obrigações indivisíveis
Uma obrigação é solidária quando há multiplicidade de credores e/ou devedores e todos os 
credores têm direito à dívida toda, enquanto cada devedor é responsável pelo adimplemento da 
dívida toda. As obrigações solidárias estão disciplinadas no Código Civil, nos artigos 264 a 285. 
Quando há multiplicidade de devedores, há solidariedade passiva. Quando há multiplicidade de 
credores, há solidariedade ativa (PEREIRA, 2018). Nesse sentido, as principais características da 
obrigação solidária são, segundo Gonçalves (2019, p. 132):
a) pluralidade de sujeitos ativos ou passivos; b) multiplicidade de vínculos, sendo distinto ou 
independente o que une o credor a cada um dos codevedores solidários e vice-versa; c) unidade de 
prestação, visto que cada devedor responde pelo débito todo e cada credor por exigi-lo por inteiro. 
A unidade de prestação não permite que esta se realize por mais de uma vez; se isto ocorrer, ter-se-á 
repetição (CC, art. 876); d) corresponsabilidade dos interessados, já que o pagamento da prestação 
efetuado por um dos devedores extingue a obrigação dos demais, embora o que tenha pago possa 
reaver dos outros as quotas de cada um.
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É muito importante diferenciar as obrigações solidárias das obrigações indivisíveis, pois 
as duas se assemelham pela pluralidade de sujeitos e pela possibilidade de a obrigação ser 
demandada de apenas um devedor. A primeira diferença consiste no fato de que, na obrigação 
indivisível, um devedor só poderá ser demandado pela dívida toda em razão da impossibilidade 
de se dividir a prestação, enquanto que, na obrigação solidária, a prestação até pode ser divisível, 
mas, mesmo assim, cada devedor será responsável pelo todo. Em outras palavras, na obrigação 
indivisível, ainda que o devedor possa ser demandado individualmente pelo todo, este só deve 
sua quota-parte. Já na obrigação solidária, o devedor pode ser demandado pelo todo porque 
deve o todo. Nesse sentido, diz-se que a obrigação solidária é uma relação subjetiva (recai sobre 
os sujeitos), enquanto que a obrigação indivisível é objetiva (tem a ver com o objeto da obrigação, 
que é a prestação) (PEREIRA, 2018). Por fim, Pereira (2018) aponta outra diferença: na obrigação 
indivisível, caso essa seconverta em perdas e danos, a obrigação perde sua indivisibilidade, pois, 
conforme preceitua o artigo 263 do Código Civil, todos os devedores responderão igualmente por 
estas. Por sua vez, na obrigação solidária, esta perdura mesmo se convertida em perdas e danos, 
afinal, não guarda relação com o objeto da obrigação, mas sim com seus sujeitos.
FIQUE DE OLHO
A diferenciação das obrigações solidárias e das obrigações indivisíveis é tema recorrente em 
provas de concursos públicos, por exemplo. Assim, é essencial realizar uma leitura comparativa 
dos artigos que tratam de ambas as modalidades de obrigação no Código Civil.
6.8 Obrigações solidárias ativas, passivas e seus efeitos
Agora, passa-se para uma análise aprofundada das obrigações solidárias. Primeiramente, 
observa-se que os artigos 265 e 266 do Código Civil trazem dois princípios comuns à solidariedade. 
O primeiro deles é que solidariedade não se presume, pois deve advir da lei ou da vontade das 
partes (art. 265, CC). O segundo princípio trata da possibilidade de uma obrigação solidária poder 
apresentar diferentes modalidades de obrigação dentro de si, variando entre os devedores e 
credores (art. 266, CC). In verbis: “A obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos 
cocredores ou codevedores, e condicional, ou a prazo, ou pagável em lugar diferente para o outro” 
(BRASIL, 2002, on-line). Assim, o artigo 266 demonstra que a obrigação solidária pode ser distinta 
entre os sujeitos sem que, contudo, a obrigação perca sua unidade. Por exemplo, para facilitar 
o cumprimento da obrigação, pode-se definir que cada devedor pode cumprir sua prestação em 
um local distinto. O artigo 266 se comunica, diretamente, com uma das principais características 
29
da obrigação solidária, que é a multiplicidade de vínculos (GONÇALVES, 2019). Quanto aos 
efeitos da solidariedade, estes diferem a depender da obrigação solidária ser ativa (quanto aos 
credores) ou passiva (quanto aos devedores). Conforme preceitua o artigo 267 do Código Civil, 
na obrigação solidária ativa cada um dos credores pode exigir do devedor a prestação por inteiro 
e, assim, a obrigação se resolve. Posteriormente, basta que os cocredores realizem acerto com o 
credor que recebeu a prestação (art. 272, CC). Noutro giro, se nenhum credor solidário demandar 
a obrigação do devedor, o devedor poderá escolher a quem quer pagar (art. 268, CC).
Caso ocorra perda do objeto da obrigação, esta se converterá em perdas e danos e a 
solidariedade continuará a existir (art. 271, CC). Se um dos cocredores remitir a dívida em uma 
obrigação solidária, a remissão valerá para todos os demais, ou seja, a obrigação fica extinta para 
o devedor em relação a todos os credores. Nesse caso, o cocredor que realizou a remissão deverá 
ressarcir os demais (art. 272, CC).
O artigo 273 do Código Civil trata da possibilidade de um devedor opor exceções pessoais a 
um dos credores. “Exceção” é uma palavra técnica utilizada pelo legislador que quer dizer defesa 
contra uma pretensão, ou seja, um ataque que o devedor pode utilizar contra um credor. Uma 
exceção pode ser objetiva (aponta vícios da própria prestação) ou pessoal (aponta vícios na relação 
dos sujeitos da obrigação). Como exemplo de exceções pessoais, tem-se, por exemplo, o caso 
em que um devedor aponta que o credor não está devidamente representado em um processo. 
Assim, o que o artigo acima preceitua é que, se o devedor opuser uma exceção pessoal contra um 
dos credores, esta não afeta os demais credores. Novamente, trata-se da individualização de cada 
um dos múltiplos vínculos que existem em uma mesma obrigação solidária (GONÇALVES, 2019).
Por fim, ainda tratando da obrigação solidária ativa, observa-se que a coisa julgada em 
relação a um dos credores beneficia todos os demais, caso seja favorável a eles. Todavia, caso a 
coisa julgada traga prejuízos, valerá apenas para o credor que participou da causa (art. 274, CC).
Agora, analisam-se os efeitos da solidária passiva, ou seja, nos casos em que há múltiplos 
devedores, que podem ser executados em conjunto, ou separadamente, sendo que cada um 
responde pelo todo da prestação (art. 275, CC). Caso um dos devedores solidários venha a 
falecer, preceitua o Código Civil, em seu artigo 276, que, havendo herdeiros “nenhum destes, 
será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a 
obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em 
relação aos demais devedores.” (BRASIL, 2002, on-line). O que o artigo em questão diz, em outras 
palavras, é que se um devedor morrer, a solidariedade se extingue para seus herdeiros. O conjunto 
de herdeiros substitui o falecido devedor e os herdeiros entre si não são solidários, ou seja, só 
podem ser demandados em conjunto. Nenhum herdeiro poderá ser cobrado individualmente 
pela prestação. (GONÇALVES, 2019).
30
Caso um devedor tenha sua dívida perdoada, ou seja, remitida, tal fato não será aproveitado 
pelos demais codevedores (art. 277, CC). Para clarificar o conteúdo desse artigo, tem-se o 
seguinte exemplo: uma obrigação com três devedores, em que cada um deve uma quota-parte 
de cinco reais, totalizando-se uma dívida de quinze reais entre eles. Um dos três devedores obtém 
remissão da sua dívida. Essa remissão não vale para os demais, no sentido de que eles continuam 
sendo devedores. Todavia, a quota-parte remida não poderá ser exigida deles, então, agora 
devem em conjunto um total de dez reais.
Ainda nesse exemplo, observa-se que o devedor que adquiriu perdão de sua dívida, continua 
podendo ser demandado da dívida total – que agora é de dez reais. Isso porque continua sendo 
devedor solidário. Então, em resumo, “a remissão ou perdão pessoal dado pelo credor a um 
dos devedores solidários não extingue a solidariedade em relação aos codevedores, acarretando 
tão somente a redução da dívida, em proporção ao valor remitido” (GONÇALVES, 2019, p. 159). 
Então, observa-se que o efeito da remissão na solidariedade passiva é diferente da remissão da 
solidariedade ativa, pois na última a remissão exonera o devedor (art. 272, CC).
Há ainda a possibilidade de que o credor exonere um devedor da solidariedade. Nesse 
caso, diferentemente do que ocorre na remissão da dívida, o devedor não mais responderá 
pela obrigação total, mas apenas por sua quota-parte. Os outros devedores se beneficiam da 
exoneração de um devedor, pois a dívida total da solidariedade diminui (art. 282, CC).
Assim, como ocorre na solidariedade ativa, na solidariedade passiva o legislador também 
ressaltou a individualidade de cada um dos vínculos obrigacionais da solidariedade. Neste 
sentido, o artigo 278 do Código Civil determina que “Qualquer cláusula, condição, condição ou 
obrigação adicional, estipulada entre um dos devedores solidários e o credor, não poderá agravar 
a posição dos outros sem consentimento destes” (BRASIL, 2002, on-line).
Quanto a impossibilidade da prestação, o artigo 279 do Código Civil apresenta as consequências 
do inadimplemento da obrigação por culpa de um dos devedores solidários. Quando isso ocorre, todos 
os demais devedores solidários respondem pelo encargo de pagar o equivalente, ou seja, arcam com o 
valor da quota-parte que não foi paga. Contudo, as perdas e danos só são devidas pelo devedor culpado.
Caso o cumprimento da obrigação esteja em mora, se a culpa for de todos os devedores, 
todos são responsáveis pelo pagamento de juros da mora. Se a culpa for de apenas um devedor, 
ainda assim responderão pelos juros da mora, contudo, o culpado deverá ressarcir seus 
codevedores posteriormente (art. 280, CC). Quanto à possibilidade de oposição de exceções 
por um dos devedores solidários, ressalta-se que não é possível opor ao credor uma exceção 
pessoal de outro codevedor. Só é possível opor uma exceção pessoal que seja do próprio devedor 
demandado, ou então uma exceção comum (art. 281, CC). O devedor que for demandado da 
dívida da solidariedade porinteiro, terá direito de regresso contra os demais codevedores, 
conforme preceitua o artigo 283 do Código Civil (GONÇALVES, 2019).
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Por sua vez, o artigo 284 do Código Civil trata da hipótese de insolvência de um dos 
codevedores solidários. Quando essa hipótese ocorre, todos os codevedores responderão pela 
quota deste, ainda que tenham sido exonerados da solidariedade pelo credor. Isso ocorre porque 
é de pleno direito do credor exonerar um devedor da solidariedade em relação ao crédito, 
contudo, a exoneração não pode prejudicar direito alheio, que é o que ocorre caso o devedor 
exonerado não pudesse responder pela eventual insolvência de um codevedor da solidariedade 
(GONÇALVES, 2019). Para melhor compreensão, tem-se o seguinte exemplo:
Lucas, Eduardo e Pedro são devedores solidários pela quantia de R$ 30.000,00. O credor 
decide exonerar Lucas da obrigação, que, na ocasião, pagou o correspondente a sua quota-parte 
(R$ 10.000,00).
Tempos depois, Eduardo se tornou insolvente, o que impossibilitou o seu pagamento da 
dívida e, consequentemente, Pedro foi responsável por realizar o pagamento do restante da 
obrigação inteira sozinho, ou seja, realizou pagamento de R$ 20.000,00.
Nessa situação, Pedro passa a ostentar direito de regresso contra Lucas, ainda que esse tenha 
sido exonerado. Pedro terá direito ao valor de R$ 5.000,00 de Lucas, quantia que corresponde à 
metade da quota-parte do insolvente Eduardo.
Finalmente, preceitua o artigo 285 do Código Civil: “Se a dívida solidária interessar 
exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda ela para com aquele que pagar” 
(BRASIL, 2002, on-line). Aqui, segundo o doutrinador Caio Mario Pereira (2018), tem-se situação 
em que, por algum motivo, na solidariedade existe um devedor principal, como ocorre no caso 
de fiança, onde há o direito de reembolso do fiador contra o afiançado (devedor principal).
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Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• entender o conceito de obrigação, seus elementos, sujeitos e fontes;
• estudar sobre direito das obrigações, suas individualidades e sua relação com as 
demais ramificações do Direito Civil;
• compreender os princípios do direito das obrigações: princípio da socialidade, 
princípio da eticidade e princípio da operabilidade;
• aprender conceitos-chave, como dever jurídico, responsabilidade, sanção e 
coação;
• conhecer as classificações das obrigações, aprofundando-se em cada uma delas, 
quais sejam: obrigação de dar, fazer e não fazer, além das obrigações alternativas, 
divisíveis, indivisíveis e solidárias.
PARA RESUMIR
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: 
Senado, 1988.
BRASIL. Lei n. 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial 
da União, Brasília, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 01 dez. 2017.
COELHO, F. U. Curso de Direito Civil. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 2.
DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil brasileiro. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 2.
FARIAS, C. C.; ROSENVALD, N. Curso de Direito Civil. 11. ed. Salvador: JusPODIVM, 
2017. v. 2. 
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. v. 2.
SIMÃO, J. F. A Teoria Dualista do Vínculo Obrigacional e Sua Aplicação ao Direito Civil 
Brasileiro. Revista Jurídica da Escola Superior do Ministério Público de São Paulo, São 
Paulo, v. 3, 2013 Disponível em: http://www.esmp.sp.gov.br/revista_esmp/index.php/
RJESMPSP/article/view/80/44. Acesso em 26 out. 2019.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
UNIDADE 2
Transmissão e cumprimento 
da obrigação
Você está na unidade Transmissão e cumprimento da obrigação. Conheça aqui as 
modalidades de transmissão da obrigação, quais sejam, a cessão de crédito, assunção 
da dívida e, ainda, a cessão de contrato. As duas primeiras encontram-se previstas 
expressamente no Código Civil, enquanto a terceira trata-se de uma construção 
doutrinária. Conheça também os principais conceitos, princípios, sujeitos e condições 
do cumprimento das obrigações, conhecendo o instituto do pagamento, pagamento 
em consignação, pagamento com sub-rogação, imputação de pagamento e dação em 
pagamento.
Bons estudos!
Introdução
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1. TRANSMISSÃO DA OBRIGAÇÃO
Em uma mesma obrigação, é possível que ocorra alteração de seu elemento subjetivo, ou 
seja, de seus sujeitos. Quando isso acontece, tem-se a transmissão das obrigações, disciplinada 
nos artigos 286 a 303 do Código Civil. Existem dois tipos principais de transmissão da obrigação:
Cessão de crédito
É a transmissão do credor.
Assunção da dívida
É a transmissão do devedor.
Cessão de contrato
Ocorre quando há cessão de crédito e assunção da dívida, simultaneamente, em uma 
mesma obrigação.
Na transmissão, não ocorre a extinção da obrigação, pois, apesar da alteração dos sujeitos, há 
a preservação da substância da relação jurídica. Nas palavras de Carlos Gonçalves (2019, p. 217),
A relação obrigacional é passível, portanto, de alteração na composição de seu elemento pessoal, 
sem que esse fato atinja sua individualidade, de tal sorte que o vínculo subsistirá na sua identidade, 
apesar das modificações operadas pela sucessão singular ativa ou passiva. Com a substituição de um 
dos sujeitos da relação obrigacional, não deixa de ser esta ela mesma, continuando, portanto, a existir 
como se não houvesse sofrido qualquer alteração.
Assim, definido o conceito de transmissão da obrigação, passa-se para a análise de suas três 
espécies. A cessão de crédito e a assunção da dívida são previstas expressamente no Código Civil, 
enquanto a cessão de contrato trata-se de uma construção doutrinária.
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1.1 Cessão de crédito
Cessão de crédito é um negócio jurídico bilateral entre credor e um terceiro estranho ao 
negócio original, por meio do qual o credor transfere seu crédito a este. O credor que transfere 
seu crédito é denominado cedente, enquanto o terceiro que assume seu lugar na obrigação é 
denominado cessionário (GONÇALVES, 2019). A cessão de crédito pode ocorrer de forma gratuita 
ou onerosa, de forma total ou parcial. Abrange todos os acessórios do crédito, como juros e 
direitos de garantia (art. 287, CC). Em regra, ocorre independentemente da anuência do devedor, 
desde que as partes não tenham convencionado em sentido contrário (art. 286, CC).
O artigo 286 do Código Civil contem hipóteses de impossibilidade de cessão de crédito: “O 
credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser à natureza da obrigação, à lei, ou à 
convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário 
de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação” (BRASIL, 2002). Analisando o referido 
artigo, tem-se hipóteses em que a própria natureza da obrigação impede a ocorrência de cessão 
de crédito. Primeiramente, tem-se o caso dos créditos de caráter personalíssimo e os de direito 
de família (como direito a nome e alimentos). Há também a proibição de cessão em decorrência 
de lei, citando-se como exemplo o exercício de usufruto (art. 1.393, CC) e o direito à herança 
de pessoa viva (art. 426, CC). Ainda, aponta-se que, na hipótese em que os cessionários sejam 
tutores, curadores ou pais do cedente, a cessão só poderá ocorrer se houver permissão judicial 
para tanto (art. 497, I e 1.691, CC) (GONÇALVES, 2019). Veja, a seguir, um resumo das hipóteses 
aqui citadas:
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Figura 1 - Hipóteses de impossibilidade de cessão de crédito 
Fonte: Elaborado pela autora
Quando ocorrer a cessão, é dever do credor notificar o devedor para que este possa solver 
a obrigação ao sujeito correto. Só assim a cessão de crédito terá eficácia em relação ao devedor 
(art. 290, CC). Caso o devedor pague ao credor primitivo (ou seja, ao credor antigo), a obrigação 
considera-se cumprida. Assim, diz-se que a cessão só é eficaz em relação ao devedor quando este 
for cientificado). Contudo, ressalta-se que mesmo

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