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GARCIA. Estrutura e dinâmica do Antigo Sistema Colonial (AUL)

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Fernando Antonio Novais
Aula preparada por
Miliandre garcia 
departamento De história (uel)
ESTRUTURA E DINÂMICA DO ANTIGO SISTEMA COLONIAL
FERNANDO ANTONIO NOVAIS
Nasceu em 1933 na região metropolitana da capital paulista.
Formou-se em história pela USP em 1956 e doutorou-se também pela USP em 1973.
Integrou o corpo docente da USP e, depois, da Unicamp.
Publicou vários livros e artigos sobre a história do Brasil colonial bem como participou de inúmeros eventos da área, além de transitar pelo meio acadêmico internacional.
O livro Estrutura e dinâmica do Antigo Sistema Colonial é o segundo capítulo da tese de doutorado dele.
ESTRUTURA E DINÂMICA DO ANTIGO SISTEMA COLONIAL
PRINCIPAIS CARACTERISTICAS: Conexões estruturais de longa duração.
TESE CENTRAL: a colonização europeia moderna é um desdobramento da expansão comercial.
Aparato teórico-metodológico: materialismo histórico
OBJETIVOS: “estimular a reflexão de pontos centrais da nossa formação histórica” (p. 11).
FONTES: documentação de natureza político-administrativa, relativizando sua importância a partir do confronto modelo=teoria=ideal X casos=prática=realidade.
MERCANTILISMO
Tratou-se uma política econômica que “visava o desenvolvimento nacional a todo preço”, “a intervenção do Estado deve criar todas as condições de lucratividade para as empresas poderem exportar excedentes ao máximo”, (p. 19) preconizava também a abolição das aduanas internas, a integração do mercado nacional, uma rígida tarifação externa e a manutenção de colônias como complemento à economia metropolitana (p. 26).
CAPITALISMO MERCANTIL=CAPITALISMO COMERCIAL
Uma fase intermediária entre a desintegração do feudalismo e a emergência do capitalismo industrial cujo capital comercial é gerado a partir da circulação de mercadorias que anima a vida econômica no Estado absolutista que, de certa forma, “unifica e disciplina uma sociedade organizada em “ordens” e executa uma política mercantilista de fomento do desenvolvimento da economia de mercado interna e externamente” (p. 21-22), além de promover a estabilização da ordem social interna e estimular a expansão (p. 24).
Vale lembrar que Portugal transformou-se em estado centralizado e unitário precocemente, favorecendo a arrancada para novas rotas, seguido por outros estados europeus.
ANTIGO REGIME
Nessa fase intermediária, o capital comercial comandou as transformações econômicas, mas a burguesia mercantil encontrou obstáculos para manter o ritmo de expansão e ascensão social; dependendo, no plano econômico, das economias coloniais para fomentar a acumulação de capital e, no nível político, da centralização do poder para unificar o mercado nacional e mobilizar os recursos para o desenvolvimento (p. 27).
“Neste sentido, o Antigo Regime Político [...] representou a fórmula de a burguesia mercantil assegurar-se das condições para garantir sua própria ascensão e criar o quadro institucional do desenvolvimento do capitalismo comercial. Trata-se, em última instância, de subordinar todos ao rei, e orientar a política da realeza no sentido do progresso burguês” (p. 27).
“O SENTIDO DA COLONIZAÇÃO”
No contexto do mercantilismo/absolutismo, a colonização europeia moderna foi um desdobramento da expansão comercial e as colônias americanas se converteram em retaguarda das metrópoles, garantiram a autossuficiência destas, permitindo-lhes competir com outros Estados (p. 19-20). 
Noutras palavras, “a colonização moderna, portanto, como o indicou incisivamente Caio Prado Jr., tem uma natureza essencialmente comercial: produzir para o mercado externo, fornecer produtores tropicais e metais nobres à economia europeia” (p. 29), “comercial e capitalista, isto é, elemento constitutivo no processo de formação do capitalismo moderno” (p. 33).
ETAPAS DA COLONIZAÇÃO
ESCAMBO: troca de produtos naturais com os índios, restrito ao âmbito da circulação de mercadorias.
POVOAMENTO: garantir a posse da terra diante das disputas em jogo e partilhas do território.
IMPLANTAÇÃO DE ECONOMIAS COMPLEMENTARES: complementar a produção para o mercado europeu e tornar rentável os novos domínios.
A REGRA: COLÔNIAS DE EXPLORAÇÃO
“Na realidade, nem toda a colonização se desenrola dentro das travas do sistema colonial”. As “de exploração são as colônias mais ajustadas aos quadros do sistema colonial, de povoamento, as que ficam relativamente à margem do sistema” (p. 34).
A EXCEÇÃO: COLÔNIAS DE POVOAMENTO
“O mercado externo das colônias, no sistema colonial, é o mercado metropolitano; a vinculação se dá através do regime do “exclusivo” que promove uma exploração da colônia pela metrópole. [...] no caso da Nova Inglaterra, o mercado externo eram outras colônias, inglesas, francesas, holandesas, espanholas. Quer dizer a relação que se estabeleceu não se firmava nos mecanismos do sistema; assim, as rendas geradas nessa relação não se carreavam (como era regra na relação metrópole-colônia) para fora mas concentravam-se na economia exportadora. [...] Formam uma exceção, são “colônias” apenas no estatuto político nominal, não são a rigor, estruturalmente, colônias” (p. 74-75).
FUNCIONAMENTO DO SISTEMA COLONIAL
O REGIME DO COMÉRCIO SE DESENVOLVE NOS QUADROS DO “EXCLUSIVO” METROPOLITANO
A PRODUÇÃO COLONIAL ATENDE A DEMANDA DE PRODUTOS DAS ECONOMIAS CENTRAIS
“Não bastava produzir os produtos com procura crescente nos mercados europeus, era indispensável produzi-los de modo que a sua comercialização promovesse estímulos à originária acumulação burguesa nas economias europeias”. (p. 77)
“EXCLUSIVO” METROPOLITANO
O chamado “monopólio colonial” ou mais corretamente “exclusivo metropolitano” refere-se ao regime de comércio que dá exclusividade à metrópole para comercializar com as colônias do Ultramar e, assim, se beneficiar dos lucros excedentes (p. 37-38), convertendo-se, portanto, em reserva de mercado (p. 62).
PRODUTOS TROPICAIS
PRODUTOS TROPICAIS: açúcar, tabaco, algodão, cacau, anil etc.
MATÉRIA-PRIMA: peles para vestimentas de luxo, madeiras tintoriais etc.
METAIS NOBRES
PRIMEIRA EXPERIÊNCIA DE COLONIZAÇÃO
ILHAS ATLÂNTICAS, particularmente MADEIRA:
LIBERDADE DE COMÉRCIO na fase inicial para estimular a vinda de recursos e capitais para a instalação da produção colonial.
POVOAMENTO para manter a posse das estratégicas ilhas e, consequentemente, guardar o segredo das rotas e dos descobrimentos (p. 70).
MERCADO INTERNO voltada para o consumo dos pioneiros.
ENQUADRAMENTO NO SISTEMA EXCLUSIVISTA quando a economia periférica entrava em funcionamento.
FORTALECIMENTO DO MERCADO EXTERNO
COLONIZAÇÃO DO BRASIL
ECONOMIA AÇUCAREIRA: As etapas de colonização das Ilhas Atlânticas se repetem na implantação da economia açucareira no Brasil
PRIMEIRO CONTATO ECONÔMICO relativamente livre, além de puramente predatório, não se ia além da prática do escambo, isto é, a comercialização de produtos naturais como escambo do pau-brasil com os aborígenes.
POVOAMENTO E FIXAÇÃO DOS ENGENHOS: 60 engenhos entre 1560 e 1570 e cerca de 250 em 1610.
AUMENTO DOS LUCROS METROPOLITANOS via aumento do preço do açúcar em Portugal que permanece estagnado no Brasil.
“Com a fase de grande crescimento da economia açucareira assistimos ao seu enquadramento nas linhas de força do sistema colonial; os preços sobem pouco na colônia, a elevação é acentuada na metrópole, geram-se lucros excedentes – lucros monopolistas – que se acumulam entre os empresários metropolitanos” (p. 50).
RESTRIÇÕES DA COROA PORTUGUESA para se consolidar o “exclusivo” metropolitano, com exceção do período de Restauração (1640).
EMPREENDIMENTO VANTAJOSO
LUCRO NA COMPRA E NA VENDA DOS PRODUTOS: na compra porque pagavam apenas o necessário para a manutenção do processo produtivo (na colônia) e na venda porque detenham exclusividade da oferta no mercado consumidor (sobretudo, na metrópole).
EMPRESÁRIO ÚNICO: monopólios régios e, mais comum, mercadores da metrópole.
DINÂMICA DA COLONIZAÇÃO MODERNA
POVOAMENTO INICIAL = PRODUÇÃO VOLTADA PARA CONSUMO LOCAL
ENTROSAMENTO NAS LINHAS DO COMÉRCIO EUROPEU = PRODUÇÃO VOLTADA PARA O MERCADO EXTERNO
Ao passarem a produzir
para o mercado externo é o setor de exportação que orientava o processo produtivo. Em períodos de retração das exportações, quando baixavam os preços europeus dos produtos coloniais, as unidades da colônia tendiam a investir na produção de subsistência. Em períodos de aumento da demanda externa, as unidades produtivas mobilizavam os esforços para a exportação.
ADOÇÃO DE FORMAS DE TRABALHO COMPULSÓRIO
Enquanto na Europa se processava a transição do trabalho servil para o trabalho assalariado, os Estados absolutistas implantavam na América a escravidão.
INTERPRETAÇÃO CORRENTE: Argumenta-se que os europeus haviam “recorrido” ao trabalho africano porque escasseava população que pudesse povoar o Novo Mundo. Isto pode valer para Portugal, mas não vale para a França. Prova também que os europeus não dispunham de contingentes demográficos. No entanto, não explica a opção pela escravidão (p. 78-79).
IMPOSIÇÃO DO CONTEXTO: “A implantação do escravismo colonial, longe de ter sido uma opção (salariato, escravismo), foi uma imposição das condições histórico-econômicas”, assim, a produção escravista devia se apresentar aos homens daquele tempo quase como “natural”, argumentou Eric Williams. Tratava-se “da história do Ocidente, de colonizar para o capitalismo” (p. 84-85).
TRÁFICO NEGREIRO=MERCADO EXTERNO
ESCRAVO INDÍGENA=MERCADO INTERNO
INTERPRETAÇÃO CORRENTE: “A introdução do escravo africano tem sido explicada, de um lado, pela “inadaptação” do índio ao trabalho no campo, de outro, pela oposição jesuítica à escravidão do aborígene.
TRABALHO INDÍGENA X NEGRO: Não obstante a resistência jesuítica à escravidão indígena, da qual os escravos africanos não contavam, a mão de obra indígena foi utilizada em determinados momentos, sobretudo na fase inicial da colonização do Brasil, sofrendo um movimento instável provavelmente por dois fatores: primeiro, rarefação demográfica do indígena e as dificuldades de apresamento, transporte etc; segundo e mais importante, a importância do tráfico negreiro na dinâmica do comércio colonial (p. 88). 
Os lucros da escravidão indígena ficam na colônia enquanto a da tráfico negreiro fluía para a metrópole: “os ganhos comerciais resultantes da preação dos aborígenes mantinham-se na colônia, com os colonos empenhados nesse “gênero de vida”; a acumulação gerada no comércio de africanos, entretanto, fluía para a metrópole, realizavam-nas os mercadores metropolitanos, engajados no abastecimento dessa “mercadoria”” (p. 89).
CONCENTRAÇÃO DE RENDA
A maior parte dos lucros coloniais é transferida pela metrópole alimentando a burguesia comercial europeia enquanto a parcela menor permanece na colônia sustentando uma pequena camada senhorial (p. 91). 
Esse contínuo funcionamento da exploração colonial é fundamental para a manutenção do processo produtivo.
ESSÊNCIA DO SISTEMA DE EXPLORAÇÃO
“Se visualizarmos em conjunto, de um lado, o capitalismo mercantil europeu em fase de grande expansão, de outro as economias coloniais periféricas, constatamos na essência o sistema de exploração destas por aquele; os conflitos se davam exatamente em torno do usufruto de suas vantagens, na redistribuição dos lucros comerciais e coloniais, ultramarinos em suma, entre as várias nações do Velho Mundo” (p. 61).
CRISE DO SISTEMA
QUEBRA DO EQUILÍBRIO DOS BENEFICIADOS DO SISTEMA: a burguesia comercial e o senhorio local
LIMITAÇÃO DO CRESCIMENTO DA ECONOMIA DE MERCADO
RESISTÊNCIA ESCRAVA: fugas, rebeliões etc.
LUTAS PELA INDEPENDÊNCIA
URBANIZAÇÃO
PROFISSIONALIZAÇÃO
MECANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
NOVAIS, Fernando A. Estrutura e dinâmica do antigo sistema colonial (séculos XVI-XVIII). 6. ed. São Paulo, Brasiliense, 1993.
NOVAIS, Fernando A. O Brasil nos quadros do antigo sistema colonial. In: MOTA, Carlos Guilherme (org.) Brasil em perspectiva. 18. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988. p. 47-63.

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