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JENNIFER GAGLIANO PAULICS MEDICINA UFF -110.16.046 OBSTETRÍCIA PRÁTICA OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 2 ANAMNESE E EXAME FÍSICO 1. ANAMNESE A anamnese obstétrica é muito semelhante a qualquer anamnese feita na prática médica. É importante questionar sobre o desejo da gravidez, sobre a presença de doenças ginecológicas, nutricionais, clínicas, obstétricas, genéticas e hereditárias. No entanto, cabe ressaltar certas peculiaridades: Terminologia Gesta: refere-se ao número de gestações que a paciente já apresentou. Assim, nuligesta é aquele que nunca concebeu; primigesta é aquela que ficou grávida somente uma vez; secundigesta é aquela que ficou grávida duas vezes; multigesta é aquela que ficou grávida mais de duas vezes. Para: refere-se ao número de vezes em que a mulher pariu. Ex.: Gesta II, Para I, Aborto I é a nomenclatura usada para mulher que engravidou duas vezes, pariu uma e sofreu um aborto. Historia ginecológica e obstétrica: procurar saber sobre a menarca, características dos ciclos menstruais, DUM, idade de início da atividade sexual, número de parceiros, métodos contraceptivos e DST’s. Informações como número de gestações e seus desfechos, tipo de parto e intercorrências gestacionais possuem grande importância. 2. EXAME FÍSICO O exame físico da gestante é composto pela inspeção, palpação, ausculta e toque. É importante calcularmos o seu IMC, aferir seus sinais vitais desde a primeira consulta de pré- natal, observar o aspecto das mucosas, examinar o tórax e extremidades. INSPEÇÃO Na cabeça podemos observar o Sinal de Halban, que são áreas de maior pilificação, formando tufos de cabelo; e o Cloasma, também chamada de máscara gravídica, que corresponde a áreas de maior pigmentação. No pescoço podemos observar que a tireóide fica mais evidente. Nas mamas observamos um aumento de volume; o Sinal de Hunter, que corresponde a uma hiperpigmentação da aréola secundária; a rede de Haller, que é uma trama de vasos venosos; os tubérculos de Montgomery, que são as glândulas mamárias acessórias ou sebáceas hipertrofiadas; e a presença do colostro a partir da 16ª. semana. OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 3 O abdome se torna globoso; há presença da línea nigra; pode haver estrias, que se forem da gravidez atual são violáceas de fundo azulado, e se forem de gravidez antiga são brancas. Os membros inferiores ficam edemaciados e há dilatação de vasos sanguíneos, bem como aumento de varizes. O aparelho genital externo fica mais pigmentado; há também o Sinal de Jacquemier/ de Chadwick, que corresponde a uma mucosa hiperpigmentada. PALPAÇÃO A altura uterina nos permite calcular a idade da gravidez, acompanhar o crescimento fetal e avaliar a quantidade de líquido. A partir da 20ª. semana até a 32ª. semana a medida do fundo uterino se correlaciona bem com a idade gestacional. Um centímetro corresponde a uma semana. Na mulher a termo, não obesa, a circunferência abdominal é de 90-92cm. A consistência uterina é elástica-pastosa-cística. Também devemos avaliar sua tensão, se há a presença das contrações de Braxton-Hicks e a regularidade da superfície uterina. A avaliação do conteúdo uterino visa o reconhecimento do feto, sua apresentação e posição, e é feita através das manobras de Leopold Zweifel, que objetiva avaliar os pontos da estática fetal. Deve ser feita a partir do 2º. Trimestre. É composta de 4 tempos: 1º. TEMPO: delimitar o fundo de útero com ambas mãos. O examinador se coloca de frente para a paciente e com as mãos encurvadas, utilizando as bordas cubitais. Geralmente sentimos o polo OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 4 pélvico, que é mais volumoso, menos rígido e menos regular. Essa manobra, nesse tempo, permite identificar o polo que ocupa o fundo uterino. Fazer a técnica do rechaço simples e duplo. 2º. TEMPO: visa determinar a posição fetal. Deve-se deslizar as mãos do fundo em direção ao polo inferior. Procurar sentir o dorso fetal e a região das pequenas partes fetais. 3º. TEMPO: também chamada de manobra de Leopold ou Paulick. Visa a exploração da mobilidade do polo e qual é o polo que se apresenta em relação com o estreito superior. Devemos apreender o polo entre o polegar e o dedo indicador, imprimindo-lhe movimentos de lateralidade para avaliar o grau de penetração na bacia e confirmar o diagnóstico da apresentação pela comparação com o polo identificado durante a primeira manobra. 4º. TEMPO: é a exploração da escava, para verificar se o pólo que se apresenta é cefálico ou pélvico. Também devemos procurar sentir o grau de penetração da apresentação na pelve e seu grau de flexão. O examinador, de costas para a paciente, procura penetrar na pelve com ambas as mãos. AUSCULTA Os batimentos cardíacos fetais podem ser percebidos entre 20-21 semanas, mas com o Sonar- Dopler já é possível percebê-los entre 10-21 semanas. Sua frequência varia entre 120-160 bpm. TOQUE Na gestação permite estatuir o volume uterino enquanto não se encontra acessível no abdome. Perto do parto, avalia as condições do colo, as relações entre a apresentação e a bacia e as características do trajeto ósseo. Fazer também o exame especular, seguido de coleta de material vaginal e cervical, que será enviado para a colpocitologia oncológica de Papanicolaou quando indicado. 3. PROCEDIMENTOS COMPLEMENTARES Podemos utilizar dosagens hormonais, analisando o beta-HCG, hPL, progesterona e estrogênio. O hCG nos auxilia no diagnóstico de gravidez, de prenhez ectópica e para o seguimento das neoplasias trofoblásticas gestacionais. Além disso, se analisado juntamente à progesterona, nos fornece prognóstico de abortamento ameaçado. OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 5 ESTÁTICA FETAL Analisa as relações do concepto entre si, com o útero e com a bacia. Cabe lembrar que até o quinto mês essas relações são inconstantes e mutáveis, alterando-se com frequência. É importante para permitir ao obstetra adequada condução da gestação e assistência ao parto. 1. ATITUDE É a relação entre as diversas partes do feto entre si. Também chamada de postura fetal ou hábito fetal. Possui duas variáveis: a. Durante a gestação O útero mede, em sua maior dimensão, cerca de 30 cm, enquanto o feto pode chegar em torno de 50cm. Então, para se adaptar a esse espaço ele deve se flexionar. Na cavidade uterina o feto fica em flexão generalizada, ao que chamamos ovóide fetal, composto pelo ovóide cefálico e ovóide córmico (que é o conjunto do tórax com os membros) que apresenta os polos cefálico e pélvico, sendo o pélvico o maior. Durante a gravidez, na apresentação pélvica, a atitude da cabeça é das mais variáveis. b. Durante o parto Quando tem início o trabalho de parto, e principalmente após a amniorrexe, a atitude fetal se modifica. Há expansão do segmento inferior e incorporação da cérvice, que ascende. O útero então passa de globoso para cilindróide. Assim, o feto tem que endireitar seu tronco, diminuindo sua flexão, ao que chamamos de cilindro fetal, que é formado pelacabeça fletida sobre o tronco (mento no manúbrio) e com as pequenas partes mais aconchegadas à ele. O PÓLO CEFÁLICO A cabeça fetal possui dois ossos frontais, dois parietais, dois temporais, um occipital, um esfenóide e um etmóide. Possui suturas, que representam a união de dois ossos: Sagital: entre os parietais Metópica: interfrontal ou frontal média Coronária: entre os frontais e os parietais Lambdóide: entre os parietais e os occipitais Temporal: entre os parietais e o temporal Possui fontanelas, que representam a união de três ossos ou mais. Bregmática/fontanela anterior/grande fontanela: losangular; limitada pelos ossos frontais e parietais. De seus vértices saem as suturas sagital e lambdoide. Lambdóide/fontanela posterior/pequena fontanela: triangular; limitada pelo occipital e parietal; dos seus vértices saem as suturas sagital e lambdoide. Ptéricas/ptérios: latero-anteriores direita e esquerda. Astéricas/astérios: látero-posteriores esquerda e direita. OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 6 2. SITUAÇÃO É a relação entre os grandes eixos longitudinais fetal e uterino. Pode ser: a. Situação longitudinal: eixos coincidentes. Ocorre em 99.5% dos casos. b. Situação tranversa: eixos perpendiculares. Ocorre em 0,5% dos casos. c. Situação oblíqua/inclinada: eixos cruzados (ângulos em torno de 45º.). Geralmente é uma situação em transição. 3. APRESENTAÇÃO É a relação em qual o polo fetal se apresenta ao estreito superior da bacia (que é uma linha imaginária entre a borda superior do púbis e o promontório). Ou seja, é a região fetal localizada na área do estreito superior. Cuidado! Procidência é quando temos pequenas partes fetais no estreito superior. Não é a mesma coisa que apresentação. Uma apresentação pode se transformar em outra, e a isso damos o nome de mutação ou versão. Até o 6º. mês de gestação a cabeça está no fundo uterino, e depois, graças à rotação axial, o feto orienta o polo cefálico para porções inferiores do órgão. A apresentação pode ser: a. Apresentação córmica/de espáduas: ocorre quando temos situação transversa. b. Apresentação cefálica: temos a apresentação do polo cefálico. Pode ser: Fletida: ocorre em 95% dos casos. O mento está no manúbrio. Defletida: ocorre em 1% dos casos. 1º. grau ou bregmática 2º. grau ou de fronte 3º. grau ou de face OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 7 c. Apresentação pélvica: ocorre em 3-4%, sendo mais frequente nas gestações pré-termo. Pode ser: Completa/pelvipodáctila: coxas e pernas fletidas. Incompleta/modo de nádegas/Agripina: coxas fletidas sobre a bacia e pernas estendidas na face anterior do tronco. Pélvica incompleta, variedade de pés ou joelhos: quando estas partes fetais ocupam o estreito superior da bacia. a. Apresentação cefálica; b. Apresentação pélvica; c. Apresentação córmica OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 8 Durante a gravidez, a apresentação não tem nenhuma relação com a bacia, mas no início do trabalho de parto, ou nos dias que o precedem, essa relação com a pelve materna se manifesta, e a altura da apresentação é classificada em: a. Alta e móvel: a apresentação não tem contato com o estreito superior. b. Ajustada: a apresentação ocupa o estreito superior. c. Fixa: ao palpar, não conseguimos mobilizar a apresentação. d. Insinuada: quando a maior circunferência da apresentação transpôs a área do estreito superior. A altura da apresentação é frequentemente expressa pelos planos de DeLee (figura 4), mas também pode ser expressa pelos planos paralelos de Hodge (figura 5). 4. POSIÇÃO É a relação do dorso fetal com o lado direito ou esquerdo materno. A importância de conhecer a posição é para realizarmos a ausculta dos batimentos cardíacos fetais, pois o dorso fetal é o melhor ponto de ausculta, que é feita atualmente com o sonar-Doppler. a. Posição esquerda/1ª. Posição: dorso fetal à esquerda. b. Posição direita/2ª. Posição: dorso fetal à direita. Raramente, o dorso fetal pode estar anterior ou posterior. As variedades de posição são as relações entre os pontos de referência maternos e fetais. É de extrema importância saber qual a linha de orientação para então determinar qual é o ponto de referência fetal. Sem fazer isso, o risco de errar o ponto de referência é grande. Pontos de referência materno pube eminência íleopectínea extremidades do diâmetro transverso sinostose sacro-ilíaca sacro Pontos de referência fetais lambda: apresentação cefálica fletida bregma : apresentação cefálica defletida de 1º. grau (geralmente é achado transitório, tendendo a se transformar em cefálica fletida). glabela/raiz do nariz: apresentação OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 9 A linha de orientação é a linha fetal que se põe em relação com o diâmetro materno de insinuação. Ela possibilita acompanharmos os movimentos da apresentação no trabalho de parto. São elas: Sutura sagital: apresentação cefálica fletida Sutura sagital e metópica: apresentação cefálica defletida de 1º. Grau Sutura metópica: apresentação cefálica defletida de 2º. Grau Linha facial: apresentação cefálica defletida de 3º. Grau Sulco interglúteo: apresentação pélvica Para darmos a nomenclatura na situação longitudinal, temos que saber que a primeira letra representa a apresentação, sendo o símbolo da região que a caracteriza; as outras correspondem ao ponto de referência materno. Ex.: OEA; O significa lambda, o que nos diz que a apresentação é cefálica fletida, e está em correspondência com o estreito superior à esquerda anteriormente. Então, a apresentação cefálica fletida pode ter como variedades de posição OP; OEA ou OIEA; ODA ou OIDA; OET; ODT; OEP ou OIEP; ODP ou OIDP; OS. Sabendo disso, conseguimos localizar qualquer variedade de posição. OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 10 SITUAÇÃO APRESENTAÇÃO PONTO DE REFERÊNCIA LINHA DE ORIENTAÇÃO SÍMBOLO Longitudinal Cefálica fletida Lâmbda Sutura sagital OCefálica defletida Bregma Sutura sagitometópica B Glabela Sutura metópica N Mento Linha facial M Pélvica Sacro Sulco interglúteo S Transversa Córmica Acrômio A OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 11 ESTUDO DO TRAJETO A bacia corresponde ao trajeto duro do parto. O trajeto mole é composto pelo segmento inferior do útero (parte intermediária entre o corpo e o colo do útero, que se distende durante a gravidez), pelo colo uterino, pela vagina e pela região vulvoperineal. ANATOMIA Constituída por 4 ossos: dois ilíacos, o sacro e o cóccix. 4 articulações: sínfise púbica, sacro-ilíacas e sacro- coccígeneas. A articulação lombossacra fica entre L5 e S1 e é chamada de promontório. A pelve se divide em grande e pequena bacia, separadas pelo anel do estreito superior. GRANDE BACIA Nela há diâmetros transversos e ântero-posteriores. Os de maior relevância são: Diâmetro biespinha: entre as espinhas ilíacas ântero-superiores. Diâmetro bicrista: entre as cristas ilíacas. Diâmetro sacropúbico externo/ de Baudelocque / conjugata externa: da fosseta abaixo da apófise espinhosa da última vértebra lombar (base do sacro) à borda superior da sínfise púbica. PEQUENA BACIA Também chamada de escavação pélvica ou simplesmente escavação. É a mais importante no parto, pois constitui o canal ósseo por onde o feto passa ao nascer. Possui 3 estreitos, que constituem as regiões mais angustiadas da pelve. Estreito superior: vai do promontório à borda superior da sínfise púbica e tem como limites laterais as linhas inominatas/eminências ileopectíneas. Estreito médio: passa ao nível das espinhas isquiáticas/ciáticas. É o plano de menores dimensões da bacia, com o menor diâmetro latero-lateral, que é o diâmetro interespinhoso ou biespinha ciática. Corresponde ao plano 0 de DeLee ou 3 de Hodge. Essas espinhas ciáticas são importantes pois perto delas passa o nervo pudendo, que deve ser anestesiado na episiotomia. Estreito inferior: vai da borda inferior da sínfise ao cóccix. OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 12 Também possui 4 conjugatas: Conjugata vera anatômica: vai do promontório à borda superior da sínfise púbica em sua face externa. Está contida no estreito superior e tem cerca de 11cm. Conjugata vera obstétrica: vai do promontório à borda superior da sínfise púbica em sua face interna. Tem cerca de 10,5cm. Conjugata diagonalis: vai do promontório à borda inferior da sínfise púbica. Por ela avaliamos a conjugata vera obstétrica, diminuindo 1,5cm do tamanho encontrado. Tem cerca de 12cm. Conjugata exitus: vai da borda inferior da sínfise púbica ao cóccix. È uma conjugata que aumenta de cerca de 9.5cm para 11cm após a retropulsão do cóccix. Possui 2 diâmetros de maior relevância: Diâmetro transverso máximo: passa pela linha inominada de um lado até a linha inominada do outro, no estreito superior. Diâmetros oblíquos: vão da eminência íleo-pectínea à sínfise sacro-ilíaca do lado oposto. OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 13 MORFOLOGIA O elemento dominante no tipo de bacia se dá pela porção posterior do estreito superior. Os tipos puros ocorrem raramente, sendo mais comum os mistos. Ginecóide: é a bacia tipicamente feminina. Ocorre em 50% dos casos. Possui o estreito superior arredondado e o diâmetro transverso máximo afastado do pube e do promontório. Espinhas ciáticas não são proeminentes. Tem bom prognóstico. Antropóide: é a bacia dos macacos. Ocorre em 25% dos casos. Possui o estreito superior elíptico e alongado no sentido ântero-posterior. O diâmetro transverso máximo é diminuído e próximo ao pube. A espinha ciática é facilmente palpável nesse tipo de bacia. Andróide: é a bacia dos homens. Ocorre em 20% dos casos. O estreito superior é levemente triangular e o diâmetro transverso máximo próximo ao sacro. Tem mau prognóstico. Platipelóide: é uma bacia achatada, com o estreito superior ovalado e o diâmetro ântero-posterior diminuído. O diâmetro transverso máximo é aumentado e equidistante. PLANOS DA BACIA Os planos da bacia servem para analisarmos a altura da apresentação durante o período premuntório e ao decorrer do trabalho de parto. Podemos utilizar os planos paralelos de Hodge ou os planos de DeLee. 1. PLANOS PARALELOS DE HODGE Esses planos levam em consideração a altura do diâmetro biparietal ou bitrocanteriano. Assim, ao fazer o toque vaginal eu devo estimar onde estão esses diâmetros. São 4 planos paralelos: 1º.: passa pela borda superior do pube e pelo promontório. 2º.: passa pela borda inferior do pube. 3º.: passa ao nível das espinhas ciáticas. Corresponde ao plano 0 de DeLee. 4º.: passa pela ponta do cóccix. OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 14 2. PLANOS DE DELEE Os planos de DeLee levam em consideração a altura do que é sentido no toque vaginal. Com ele, não há necessidade de fazermos estimativas. O 0 de DeLee corresponde ao diâmetro da linha interespinhosa (ou biespinha ciática) e é o ponto de referência. Vai de -5 à +5. Se a parte mais baixa estiver, por exemplo, à 1cm acima do plano 0, a altura é -1. Já se ela estiver, por exemplo, à 2cm abaixo do plano 0, a altura é +2. EXAME DA BACIA Pelvimetria externa: feita por pelvímetros. Por esse exame podemos delimitar o quadrilátero de Michaelis. Pelvimetria interna: feita através da mensuração da conjugata diagonalis. Também avaliar o ângulo subpúbico, que deve ser maior que 90º. OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 15 MECANISMOS DO PARTO É o estudo da mecânica do parto, baseado nos movimentos que a cabeça descreve sob ação das contrações uterinas ao transitar pelo desfiladeiro pelvigenital Esses movimentos são passivos e compulsórios. O objetivo é colocar os menores diâmetros fetais em concordância aos menores diâmetros da pelve. O trajeto corresponde ao caminho percorrido do útero até a fenda vulvar, e ele é sustentado pela pequena bacia. O estudo é em apresentação cefálica, fletida e em bacia ginecoide. Didaticamente, dividimos o trabalho de parto em três tempos: insinuação, descida e desprendimento. INSINUAÇÃO Também chamada de encaixamento. É a passagem do maior diâmetro transverso da apresentação pelo anel do estreito superior, sendo o ponto mais baixo o plano 0 de DeLee. Quando ocorre a insinuação a parte mais baixa da apresentação já está ao nível das espinhas ciáticas. Para ocorrer a insinuação é necessário reduzir os diâmetros da cabeça, o que é obtido pela orientação dos diâmetros e pela flexão. O diâmetro occipitofrontal tem cerca de 12cm, e é o primeiro apresentado ao estreito superior da bacia. Então a cabeça sofre um primeiro movimento de flexão e apresenta o diâmetro suboccipitobregmático, que tem cerca de 9,5cm. Na maioria das vezes, a insinuação ocorre com a cabeça do conceptona variedade de posição occipito-esquerda-anterior (OEA) ou occipito-esquerda-transversa (OET). A insinuação se faz por dois processos diferentes: Insinuação estática: ocorre nas primíparas. A insinuação ocorre durante a gravidez. A flexão ocorre por aconchego no segmento inferior, e a descida, junto com o útero, por tração dos ligamentos sustentadores do órgão e pressão das paredes abdominais. Então o fundo do útero diminui, melhorando a respiração e retornando a urgência urinária. Insinuação dinâmica: ocorre nas multíparas. A insinuação se dá no final da dilatação cervical ou no início do período expulsivo. A flexão é pelo contato com o estreito superior da bacia, e a descida se dá as custas de contrações expulsivas. OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 16 Para o feto passar pela bacia ele tem que diminuir a dimensão sinalada e movimentar a apresentação numa inclinação lateral, e a isso se denomina assinclitismo, que deve ser transitório para considerarmos fisiológico. Se for definitivo demonstra distócia. Se não houver flexão lateral, de modo que a sutura sagital fique equidistante do sacro e do pube, denomina-se sinclitismo. O assinclitismo pode ser: Posterior (obliquidade de Litzmann): sutura sagital próxima do pube, e o parietal posterior é o primeiro a penetrar na escavação. Anterior (obliquidade de Nagele): sutura sagital próxima do sacro, e o parietal anterior penetra primeiro na escavação. DESCIDA A cabeça migra até as proximidades do assoalho pélvico, onde começa o cotovelo do canal. A atitude e o sentido permanecem o mesmo, com aumento da flexão. O ápice do ovoide cefálico então atinge o assoalho pélvico, momento no qual a curcunferência máxima se encontra na altura do estreito médio da bacia. O movimento da cabeça nesse tempo de mecanismo de parto é denominado penetração rotativa. A medida que o polo cefálico roda, vai progredindo seu trajeto no canal de parto. Podemos dividir a descida em dois tempos: 1. Rotação interna da cabeça: depois que a extremidade cefálica distendeu e dilatou o conjunto de músculos e aponeuroses do assoalho pélvico, sofrerá movimento de rotação que levará a sutura sagital a se orientar no sentido Antero-posterior da saída do canal. 2. Insinuação das espáduas: no momento em que há rotação interna da cabeça e sua progressão no canal de parto verifica-se a penetração das espáduas no estreito superior da bacia. Os ombros se aconchegam e orientam no diâmetro transverso ou oblíquo do estreito. As espáduas então descem até o assoalho pélvico. DESPRENDIMENTO Depois que termina a rotação, o suboccipital se coloca sobre a arcada púbica e a sutura sagital se orienta em ântero-posteior. O desprendimento se processa por deflexão, com a nuca do feto se apoiando na arcada púbica. Após a deflexão da cabeça ocorrem dois tempos: 1. Rotação externa da cabeça: após a saída da cebaça ocorre novo e ligeiro movimento de flexão, e então ocorrera rotação de ¼ a 1/8 da circunferência, de modo que o occipital retorne para o lado em que se encontrava na bacia. É também chamado de restituição. 2. Desprendimento das espáduas: ocorre simultaneamente à rotação externa da cabeça. O diâmetro biacromial se insinua no diâmetro oblíquo ou transverso. Quando chega ao assoalho pélvico roda OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 17 para o sentido ântero-posterior de saída do canal. Os braços estão cruzados para diante do tórax. Então a espádua anterior transpõe a arcada púbica. O tronco sofre flexão lateral para liberar o ombro posterior. OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 18 ASSISTÊNCIA AO PARTO Os períodos clínicos do parto estudam as alterações maternas que ocorrem durante o trabalho de parto e as medidas de diagnóstico e conduta em cada fase. PERÍODO PREMUNTÓRIO (PRÉ-PARTO) Tem início entre 30 e 36 semanas e vai até o início do trabalho de parto. Não é propriamente uma fase clínica! É caracterizado pela descida do fundo uterino em cerca de 2 a 4 cm, com a acomodação da apresentação ao canal de parto. Nesse período há maior incidência de dores lombares; aumento das secreções das glândulas cervicais; diminuição da porção vaginal do colo; percepção das metrossístoles; amolecimento do colo combinado com o apagamento, que é a incorporação da cérvice ao segmento inferior devido as contrações uterinas irregulares. O abaixamento do colo uterino e sua orientação, alinhado ao eixo vaginal, são importantes para a ocorrência do parto. DIAGNÓSTICO DO TRABALHO DE PARTO O trabalho de parto é uma síndrome composta por: Contrações dolorosas, rítmicas – ao menos 2 em 10 minutos -, em todo o útero e com duração de cerca de 50 segundos. Colo apagado e dilatado no mínimo em 2 cm em primíparas ou semi-apagado e dilatado em no mínimo 3cm em multíparas. Formação da bolsa das águas. Perda do tampão mucoso – por vezes antecede o trabalho de parto em várias horas ou dias-. FASE DE DILATAÇÃO OU 1º. PERÍODO Nas primíparas dura cerca de 10 a 12 horas, e nas multíparas cerca de 6 a 8 horas. Tem início com as contrações uterinas dolorosas, de frequência, intensidade e duração suficientes para o apagamento e dilatação do cólo uterino e fim quando se atinge 10 cm de dilatação. O colo dilata pelo efeito de tração das fibras longitudinais e pela presença da bolsa das águas e da apresentação. Nas primíparas, ao início da dilatação, o colo já está apagado e dilatado para 2 cm. Já nas multíparas, o colo não se apaga totalmente até 3 cm. Então, nelas a primeira fase do parto tem apagamento do colo em sincronismo com a dilatação até 5 cm. Nessa fase clínica, a assistência deve ser feita com o toque vaginal, feito 1 em cada 1-2 horas. Nesse momento, devemos explorar o colo, atentando para o apagamento, dilatação, orientação e OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 19 consistência; a bolsa das águas, avaliando se está íntegra ou rota; a apresentação, observando posição, variedade, altura e proporcionalidade, flexão e assinclitismo. O examinador deve encontrar a linha de orientação e o ponto de referência fetal. Avaliar a vitabilidade do concepto, através da ausculta dos batimentos cardíacos fetais antes, durante e após 2 contrações uterinas, a cada 30 minutos, e se for uma gestação de alto risco, a cada 15 minutos. A altura da apresentação importa para acompanhar a evolução do trabalho de parto. Nas primíparas, ao início do trabalho de parto a apresentação está ao nível das espinhas ciáticas (nível 0) e diz-se que está insinuada. Já nas multíparas, a insinuação só é feita no fim da dilatação ou no começo da expulsão, permanecendo alta durante a maior parte do trabalho de parto. A amniorrexe pode ser prematura, quando a bolsa se rompe antes de iniciar o trabalho de parto; oportuna, quando se rompe entre 4-8 cm; e tardia, quando se rompe com mais de 8 cm. Em relação a tricotomia, dieta zero e enteróclise há questionamentos quanto à suas necessidades e utilidades, não sendo mais prescritos rotineiramente. A amniotomia também é questionada. A hidratação venosa é indicada. A gestante também é estimulada a deambular, dependendo de suas condições. A posição adotada no leito também fica a seu critério, entretantoo decúbito dorsal deve ser evitado para evitar a síndrome da hipotensão supina. O cateterismo vesical pode ser indicado. Certificar-se do bem-estar materno, avaliando seus sinais vitais e trazendo conforto físico e psicológico. Avaliar a necessidade de analgésicos, anestésicos e ocitocina. FASE DE EXPULSÃO OU 2º. PERÍODO Nas primíparas dura cerca de 50 minutos, e nas multíparas cerca de 30 minutos. Vai do momento em que a dilatação está completa até a saída do feto. A dilatação completa é percebida através do toque vaginal, quando notamos que não há mais colo uterino se interpondo entre a apresentação e o canal vaginal. As contrações se tornam mais intensas, mais frequentes, com intervalos menores – podendo chegar até 5 contrações em 10 minutos – e durando de 60-70 segundos. O feto, ao comprimir paredes vaginais, reto e bexiga, causa por via reflexa o aparecimento das contrações voluntárias da prensa abdominal. Origina-se a “vontade de espremer”, os puxos. As sístoles involuntárias do útero somadas às contrações voluntárias da prensa abdominal tornam o período expulsivo mais eficiente. A apresentação desce pelo canal de parto e passa a pressionar o períneo. AA vulva se entreabre, dilata lentamente e se deixa penetrar pela apresentação. O feto sai. É eliminado o restante do líquido amniótico. O útero se retrai e seu fundo fica na cicatriz umbilical, entrando na fase do repouso clínico, em que há contrações, porém são indolores. O período expulsivo é considerado prolongado se durar mais de 2 horas em primíparas ou mais de 1 hora em multíparas. Nessa fase clínica, avaliamos a vitabilidade fetal com a ausculta dos batimentos cardíacos fetais a cada 5 minutos, antes, durante e após 2 contrações uterinas. A postura de Laborie-Duncan / Litotomia amplia o estreito inferior e é utilizada somente no final da expulsão. Esta é a posição mais utilizada, mas há outras que também podem ser utilizadas. OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 20 A manobra de Ritgen modificada visa proteger o períneo controlando a deflexão da cabeça. Analisar se há necessidade de episiotomia, que é feita na região médio lateral direita, precedida da analgesia do nervo pudendo. A manobra de Kristeller é uma manobra de força que deve ser evitada, pois pode causar traumatismos maternos e/ou fetais O fórcipe de alívio pode ser usado se houver necessidade. Ao nascimento do polo cefálico procurar circular de cordão, que se presente deve ser desfeita ou seccionada e fazer a aspiração das vias aéreas; tracionar a cabeça para baixo para liberar o ombro anterior, e depois para cima para liberar o ombro posterior.Ligar o cordão a aproximadamente 10 cm de sua inserção. Depois do nascimento, fazer injeção de Metilergovina ou Ocitocina para diminuir as perdas sanguíneas no 4º. Período e no puerpério. O SECUNDAMENTO OU 3º. PERÍODO Ocorre entre 10-20 minutos após o fim do período expulsivo. Esse período também é chamado de delivramento, decedura, dequitaçãoou dequitadura. Nele ocorrem o descolamento, a descida e a expulsão da placenta e membranas fetais. O descolamento decorre da retração do músculo uterino após o parto fetal e em consequência de suas contrações. A zona de inserção da placenta fica pregueada, causando seu descolamento, que pode se dar de duas formas: Mecanisco de Baudelocque – Shultze: ocorre em 75% dos casos. A placenta se inverte e desprende pela face fetal, em forma de guarda-chuva. O sangramento se exterioriza após a saída da placenta. OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 21 Mecanismo de Baudelocque – Duncan: ocorre em 25% dos casos. A placenta se apresenta ao colo pela face lateral ou pela face materna. O desprendimento se dá pela borda inferior. O sangramento precede a saída da placenta. Nesse período devemos instituir ocitocina profilática e realizar tração controlada do cordão umbilical. A manobra de Harvey, que é uma leve compressão no segmento uterino inferior após o descolamento da placenta, pode ser utilizada para auxiliar a descida. Assim que a placenta se exteriorizar, podemos fazer a manobra de Jacob Dublin, praticando leve tração e torção axial da placenta. Em casos de hemorragias ou retenção placentária pode ser indicada a extração manual da placenta. O procedimento termina com episiorrafia (se houver necessidade), revisão do trajeto e toque retal. 4º. PERÍODO OU PERÍODO DE GREEMBERG Corresponde a primeira hora após a saída da placenta. Esse período demanda atenção pelo alto risco de hemorragias, pois é nele que ocorre a hemostasia do local em que a placenta estava inserida. As hemorragias podem ser por atonia uterina, laceração do trajeto do parto ou retenção de restos placentários ou membranas. As fases típicas são: Miotamponagem: ocorre imediatamente após a expulsão da placenta, quando o útero se contrai, causando uma “laqueadura viva” dos vasos uterinos, que são comprimidos pelas contrações uterinas – ligaduras vivas de Pinard-. OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 22 Trombotamponagem: é a formação de trombos nos grandes vasos útero-placentários, constituindo um hematoma intra-uterino que recobre a ferida aberta no sítio placentário. Indiferença miouterina: o útero se torna apático, e do ponto de vista dinâmico apresenta fases de contração e relaxamento. Contração uterina fixa: o útero está com maior tono, tendo as contrações sobrepostas ao relaxamento. Assim, o útero se mantém contraído, formando o globo de segurança de Pinard. Nesse período devemos fazer observação rigorosa de sangramentos e avaliação de sinais vitais, além de verificar o globo de segurança de Pinard. Na presença de sangramentos, podemos utilizar massagem uterina e ocitócitos. O PARTOGRAMA É a representação gráfica da evolução do trabalho de parto. Começamos a preenchê-lo no momento em que a paciente chega ao hospital. Para entender seu preenchimento, usaremos o partograma acima. OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 23 Assim que começamos a preencher o partograma devemos traçar duas linhas paralelas: a linha de alerta e a linha de ação. Essas linhas servem para acompanharmos a progressão da dilatação. O ideal é que a linha da dilatação não ultrapasse nenhuma dessas linhas. Se a linha de dilatação atingir a linha de alerta significa que devemos atentar mais para a progressão do trabalho de parto dessa paciente. No momento em que a linha da dilatação atinge a linha de ação significa que devemos tomar providências imediatas. Mas como traçar essas linhas? A linha de alerta é a primeira linha a ser traçada, e seu início é feito pulando dois quadradinhos a partir do horário da admissão. Deve-se começar a traçar na ponta direita superior do segundo quadradinho, e essa linha segue cortando todos próximos quadradinhos no meio, como no partograma acima. A linha de alerta é traçada contando quatro quadradinhos a partir do ponto em que iniciei a linha de alerta, ficando paralela à ela. À esquerda temos a representação da dilatação cervical. O primeiro triângulo, registrado em 3 cm, significa que no momento em que a paciente chegou ela se encontrava com 3cm de dilatação. À direita temosa representação dos Planos de DeLee, e é baseado nele que daremos a altura da apresentação e a variedade de posição (se já tivermos identificando-a). Logo abaixo temos a hora, que deve ser preenchida com o horário do exame. Então, às 10 horas essa paciente se encontrava com 3cm de dilatação e a altura da apresentação era -2 de DeLee. Ainda descendo, à esquerda temos o campo para o preenchimento da FCF (frequência cardíaca fetal), que no bebê dessa paciente era de 150bpm às 10 horas. Seguindo o campo da FCF temos o campo das contrações. Nessa paciente, às 10 horas, havia três contrações a cada dez minutos com duração de quarenta segundos. Observamos logo abaixo o preenchimento sobre a integridade da bolsa, I (íntegra) às 10 horas e o aspecto do LA (líquido amniótico), que estava claro. O preenchimento do partograma segue sendo feito de hora em hora, conforme pode ser observado no partograma acima. Assim, às 14 horas a dilatação era de 7cm, a altura da apresentação era +1 de DeLee, a variedade de posição era OET, a FCF era 140bpm, a paciente tinha quatro contrações em dez minutos, com duração de quarenta segundos, a bolsa se encontrava rota e o líquido amniótico tinha aspecto de mecônio. Também foi feita anestesia peridural. OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 24 FÓRCIPE ANATOMIA DO FÓRCIPE Composto por dois ramos cruzados, direito e esquerdo, cada um com quatro componentes, que são a colher, o pedículo, a articulação e o cabo. Pode possuir também calcanhar e aleta. A colher é formada pelos jumélios anteriores e posteriores, que delimitam as fenestras, possuem as curvaturas pélvicas, cefálicas e perineais. TIPOS DE FÓRCIPE Podemos dividi-los em: 1. CLÁSSICOS Simpson-Braun: usado em 90% das ocasiões, servindo para todas as variedades de posições, exceto as transversas; Tucker McLane; Elliot. 2. ESPECIAIS Kielland: usado para variedade de posição transversa; rotações amplas da cabeça na pelve; variedades de posições posteriores e correção de assinclitismo; Barton: usado em apresentações altas (mas ele não é muito utilizado, uma vez que o fato de a apresentação estar alta é uma contra-indicação ao uso do fórcipe); Pipper: usado para extração de cabeça derradeira. Possui um pedículo maior que o de Simpson. OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 25 FUNÇÕES DO FÓRCIPE / MECANISMO DE AÇÃO 1. Preensão/pegada: apreender a cabeça. 2. Rotação: rodá-la se necessário. 3. Extração: extrair da perlve. A preensão deve ser biparietomalomentoniana, tendo o mento como ponto de tração. Os cabos devem ser rodados amplamente nos cabos para que haja uma rotação pequena na vagina, sendo isso denominado Espiral da Madame LaChapelle. INDICAÇÕES Antes de aplicarmos o fórcipe devemos nos certificar se existem indicações, sejam elas maternas, fetais ou de alívio. OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 26 Indicações maternas Profiláticas: cardiopatias, pneumopatias e neuropatias. Curativas: discinesias, resistência perineal e exaustão. Indicações fetais Profiláticas: prematuridade e cabeça derradeira. Curativas: sofrimento fetal agudo, má posição fetal e morte súbita materna. Indicações de alívio Redução do estiramento dos músculos do assoalho pélvico e redução do período expulsivo. CONDIÇÕES DE PRATICABILIDADE Estando presentes a/as indicação/indicações, devemos nos certificar se existem condições de praticabilidade. Todas citadas abaixo devem estar presentes: Proporção cefalo-pélvica Colo totalmente dilatado Membranas rotas Cabeça insinuada Esvaziamento dos emunctórios Ausência de impedimentos no canal mole do parto Feto vivo ou morto recentemente Ter certeza absoluta da variedade de posição TÉCNICA GERAL DA APLICAÇÃO 1. Inicialmente devemos nos certificar se condições de praticabilidade e indicações estão presentes. É indicado o uso de sonda vesical; 2. Posição litotomica; 3. Fazer a analgesia bilateral do nervo pudendo e a episiotomia médio lateral direita; 4. Apresentar o fórcipe à vulva; 5. O ramo esquerdo (também chamado de ramo fêmea) é o primeiro a ser inserido. A inserção deve ser feita com a mão esquerda, precedida da inserção da mão guia. O uso de força para aplicação do fórcipe denota erro; 6. Pedir a um auxiliar para segurar o cabo; 7. O ramo direito (também chamado ramo macho) deve ser o segundo a ser inserido, segurado pela mão direita; 8. Articular os ramos; 9. Fazer a verificação da pegada, que deve ser biparietolamomentoniana. Existem três formas de se verificar se a pegada foi feita da forma correta: a sutura sagital deve estar equidistante das colheres; ao se tentar introduzir um dedo entre a cabeça fetal e o fórcipe, não se deve ter acesso OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 27 às fenestras; a pequena fontanela deve estar na distância de um dedo transverso do plano dos pedículos; 10. A rotação e a tração devem ser feitas durante as contrações. Lembrar que a tração deve ser realizada no eixo da pelve materna, de forma axial – manobra de Saxtorph-Pajot-. 11. A tração deve ser interrompida antes da saída total da cabeça; 12. Desarticular os ramos; 13. Retirada na ordem inversa da aplicação; 14. Revisão do canal de parto. OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 28 LACTAÇÃO E PUERPÉRIO O PUERPÉRIO É um período de tempo que varia entre 6 e 8 semanas após o parto. Nesse período se processam todas manifestações involutivas e de recuperação da genitália materna pós-parto. Também ocorre o retorno das características do organismo materno de antes da gravidez. Assim, esse é o tempo que os órgãos reprodutores levam para atingir as condições anteriores à gravidez. A involução puerperal se completa em 6 semanas, e é dividida em: PÓS-PARTO IMEDIATO – (1 – 10 DIAS) Nesse período domina a crise genital, com catabolismo e involução das estruturas hipertofiadas. O útero permanece com atividade contrátil rítmica, inaparente e indolor. Retrai cerca de 1cm por dia. Em torno do 10º. dia está intrapélvico, retornando para suas dimensões pré-gravídicas em torno da 4ª. semana. Na presença da lactação a involução uterina é mais rápida devido ao reflexo útero-mamário. Está também ocorrendo a trombotamponagem e a miotamponagem. O útero permanece contraído e firme, formando o globo de segurança de Pinard, que causa as ligaduras vivas de Pinard. Há produção e eliminação de lóquios devido a involução e regeneração da ferida placentária e outras soluções de continuidade da genitália. Inicialmente esses lóquios são sanguíneos, assumindo entre o 3º. e 4º. dia aspecto serosanguinolento. Ocorre também a crise vaginal pós parto, na qual os epitélios vão se tornando atróficos, e no 10º. dia se encontram abreviados à metade do encontrado no parto. O colo uterino também tendea se fechar nesse período. Em aproximadamente uma semana não conseguimos mais realizar a exploração digital. O orifício externo assume o aspecto de fenda transversa. PÓS-PARTO TARDIO – (10 – 45 DIAS) O útero continua a regredir e está totalmente epitelizado entre o 16º. e 25º. dia do pós parto. Há persistência do corrimento loquial, que se torna cada vez mais seroso. Em não nutrizes, nesse período há a recuperação do epitélio vaginal. PÓS-PARTO REMOTO – (ALÉM DOS 45 DIAS) É um período impreciso, que sofre alterações dependendo da lactação. Em não nutrizes ocorre a menstruação em torno de um mês e meio, precedida de ovulação. Já em nutrizes a menstruação depende do aleitamento, podendo haver amenorreia por ate 18 meses. RECUPERAÇÃO DOS SISTEMAS EXTRA-GENITAIS SISTEMA ENDÓCRINO No final da gestação, os níveis de estrogênio, progesterona e prolactina estão elevados. Com a OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 29 saída da placenta há uma queda imediata dos esteroides placentários e uma leve redução da prolactina. No puerpério inicial, o estrogênio fica baixo e a progesterona indetectada. Na ausência da lactação, o FSH e o LH se encontram em níveis muito baixos nas primeiras semanas pós-parto, mas logo aumentam. Se houver amamentação, teremos uma elevação da prolactina e inibição do LH e do FSH. LACTAÇÃO Oferece vantagens para a mãe e para o filho. Diminui a ocorrência de cânceres ginecológicos, pois diminui a exposição ao estrogênio. As deficiências do leite materno são a vitamina K e o flúor. Mas até o 6º. mês ele é capaz de suprir as necessidades alimentares do bebê. FISIOLOGIA DA LACTAÇÃO MAMÔGENESE É o período no qual ocorre o desenvolvimento da glândula mamária. A gravidez deflagra o crescimento acelerado da glândula mamária. O estrogênio induz a proliferação dos canais mamários, enquanto a progesterona induz o crescimento dos ácinos. Já o complexo lactogênico, composto pela prolactina, GH e cortisol atua na diferenciação do tecido funcional. O HPL acentua o crescimento das glândulas mamárias. A secreção de prolactina aumenta continuamente na gestação e tem ação mamogênica. LACTOGÊNESE É o início da lactação. Nos primeiros dois dias após o parto há poucas modificações nas mamas, ocorrendo apenas a saída de colostro, que é muito concentrado em proteínas, anticorpos e células tímicas. No 3º. dia ocorre um aumento na consistência das mamas, que ficam pesadas, congestas e doloridas, devido a apojadura, que marca a mudança do controle endócrino para autócrino da lactação. Há aumento do fluxo sanguíneo local, o que pode causar um aumento da temperatura. Quem estabelece a lactogênese é a prolactina. O leite materno é constituído por proteínas, carboidratos, lipídeos, sais minerais e vitaminas. Cabe lembrar que durante a gravidez a progesterona impede que a prolactina se ligue a seus receptores. LACTOPOESE É a manutenção da lactação, que se dá pela existência do reflexo neuroendócrino da sucção do mamilo pelo lactente. Esse reflexo age no eixo hipotálamo-hipofise e determina a liberação de prolactina, que mantém a secreção láctea, e ocitocina, que determina a ejeção láctea. Ocorre também inibição do LH e do FSH. Boas condições emocionais são fundamentais para a lactopoese. Os níveis plasmáticos da prolactina são oscilantes, sendo intensificados a cada ato de sucção. OBSTETRÍCIA PRÁTICA JENNIFER G. PAULICS 30 FASES DA PRODUÇÃO LÁCTEA 1. COLOSTRO Secretado nos primeiros cinco dias após o parto. Quando comparado com o leite maduro, o conteúdo de eletrólitos, proteínas, vitaminas lipossolúveis (principalmente a vitamina A, o que lhe confere a coloração amarelada), minerais e a concentração de imunoglobulinas é maior, destacando-se a alta concentração de IgA e lactoferrina. Por outro lado, possui menos gordura, lactose e vitaminas hidrossolúveis. É um leite imaturo, basicamente um exsudato plasmático. Facilita a eliminação do mecônio nos primeiros dias e a proliferação de Lactobacillus bifidus na luz intestinal. 2. LEITE DE TRANSIÇÃO Seu período de produção está entre seis e dez dias até a segunda semana do pós parto. A concentração de imunoglobulinas torna-se progressivamente menor, assim como o teor de vitaminas lipossolúveis. Ocorre aumento das vitaminas hidrossolúveis, lipídeos e lactose. 3. LEITE DEFINITIVO É produzido a partir da 2ª. quinzena pós-parto. Há maior teor lipídico e de lactose, com menor quantidade de proteínas. O leite anterior (solução) é ralo e doce, ocorrendo predomínio de proteína do soro e lactose. No meio da mamada (suspensão) é maior a quantidade de caseína. O leite posterior (emulsão) tem grande concentração de gordura, necessária para saciar o lactente. LACTAÇÃO E FERTILIDADE O reflexo da sucção inibe a produção de GNRH. Mesmo assim, entre três e seis meses as lactantes devem tomar anticoncepcionais, mesmo que estejam amenorréicas. TÉRMINO DA LACTAÇÃO Na ausência da sucção não há mais liberação de ocitocina, inibindo a ejeção láctea. Há também reativação do PIF, que impede a secreção de prolactina.
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