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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 1. Evolução da administração pública no Brasil (após 1930). Reformas Administrativas. Análise crítica aos modelos de gestão pública: patrimonialista, burocrático e gerencial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 01 2. Conceitos de Eficiência, Eficácia e Efetividade aplicados à Administração Pública: avaliação e mensuração do desempenho governa- mental. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08 3. Parceria entre governo e sociedade, ouvidorias, governança interna e externa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 4. Controle e Desempenho. Mensuração de desempenho controles, indicadores de produtividade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 5. Transparência. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 6. Desconcentração e descentralização administrativa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 7. Governabilidade, Governança e Accountability. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 8. Gestão Pública Empreendedora. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 9. Modernização da gestão contemporânea e modelo de gestão pública por resultados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 10. Políticas públicas e monitoramento de resultados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 11. Tendências de modernização e novos modelos de gestão da administração pública. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 1 EVOLUÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL (APÓS 1930). REFORMAS ADMINISTRATIVAS. ANÁLISE CRÍTICA AOS MODELOS DE GESTÃO PÚBLICA: PATRI- MONIALISTA, BUROCRÁTICO E GERENCIAL A Administração Pública constitui um importante segmento da área da Administração. Ela representa o aparelhamento do Estado e funciona como o instrumento do governo para planejar, organizar, dirigir e controlar todas as ações administrativas, com o objetivo de dar plena e integral satisfação das necessidades coletivas básicas1. Histórico da Evolução da Administração Pública Durante uma grande parte do século XX, o nosso país buscou continuamente uma tentativa de modernização da estrutura e dos processos de Estado, com isso, em resposta as transformações que ocorreram no mundo, sendo elas sociais e econômicas, essas ten- tativas de melhora desenvolveram ora de forma assistemática, ora de forma mais sistêmica, reformas realizadas pelo governo federal. Apesar de não existir na literatura especializada, podemos afir- mar que de maneira geral, o Brasil passou por duas principais refor- mas administrativas, que foram caracterizadas pela forte tentativa de mudança na forma de administração pública. A primeira buscou a transição do modelo Patrimonialista para o Burocrático, e a se- gunda buscou evoluir do modelo Burocrático-Patrimonialista para o Gerencial. A partir do ano de 1894 ocorreu uma mudança na Administra- ção Pública representada pela presença dos militares do Exército na aliança do poder, a proclamação da República trazia expectativas que não se verificaram, pois, as estruturas de poder não mudaram e a economia continuou igual. O regime continuava oligárquico, as eleições, fraudulentas, e o eleitorado subira apenas de um para dois por cento da popula- ção com a República. Houve realmente uma mudança significativa, a Constituição de 1891, que promoveu a descentralização política, e os governadores locais (assim como as oligarquias locais) aumen- taram seu poder2. Os governadores locais teriam importância fundamental nos rumos políticos do país até o advento da era Vargas. Trata-se da política do “Café com Leite”, em que a Presidência da República ora seria exercida por um paulista (que era o produtor de café), ora por um mineiro (que era o produtor de gado/leite). Esses “governantes” passaram a possuir mais poderes perante a União, no entanto, em muitos locais, a figura do “Coronel” detinha mais poder que os próprios governadores, a transitoriedade/insta- bilidade dos governadores contribuía para esse fato. Os primeiros movimentos sociais a reclamar por reformas fo- ram registrados na segunda década do século XX, com a concentra- ção das populações nas regiões metropolitanas das grandes cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador e Porto Alegre. Com o aumento da população urbana, a burguesia comer- cial se fortalece, algumas empresas se expandem e já não podem mais ser administradas diretamente pela família dos proprietários e com isso necessitam de um modelo de administração profissional. Ainda nesse período têm-se as primeiras indústrias nacionais básicas, com o surgimento de uma nova classe burguesa: a burgue- sia industrial. Por volta da década 1920, havia motivos que pres- sionavam os governos a realizar reformas na administração, dentre eles: 1CHIAVENATO, I., Administração Geral e Pública, Malone, SP, 2012. 2BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Do Estado patrimonial ao gerencial. Brasil: um século de transformações. São Paulo: Cia das Letras, 2001. – O surgimento de organizações de grande porte; – As demandas sociais emergentes; – A necessidade de combater a corrupção e o nepotismo vi- gentes; – A necessidade de organizar a Administração Pública para ala- vancar o desenvolvimento da nação brasileira. Por outro lado, a insatisfação crescia entre os militares quanto à condução político-administrativa do país, a quebra da política do “café com leite”, com a eleição consecutiva de outro paulista (Júlio Prestes para substituir Washington Luís), foi a gota d’água. Através de aliança militar, em 1930, houve a revolução vitoriosa, com Var- gas assumindo o governo, daí os 15 anos seguintes, comandados por ele, serão transformadores para o Estado brasileiro. Reforma Burocrática e a Criação do DASP O modelo de Administração Burocrática surge a partir dos anos de 1930, em meio a um ambiente de forte intervenção do Estado nos setores produtivos e de serviços, ou seja, ela surgiu num qua- dro de aceleração da industrialização brasileira, em que o Estado assume papel decisivo intervindo pesadamente nesses setores. A Revolução de 1930 quebrou o paradigma das oligarquias regionais e teve como desdobramento o início da implantação de um quadro administrativo burocrático pelo governo ditatorial de Vargas. A partir da reforma empreendida no Governo Vargas por Mau- rício Nabuco e Luiz Simões Lopes, a Administração Pública sofre um processo de racionalização que se traduziu no surgimento das primeiras carreiras burocráticas e na tentativa de adoção do con- curso como forma de acesso ao serviço público. A implantação da Administração Pública burocrática é uma consequência clara da emergência de um capitalismo moderno no país, com isso pode-se afirmar que a década de 1930 foi um período de grandes transfor- mações. A revolução de Vargas trouxe para o poder novos grupos oli- gárquicos, com o consequente enfraquecimento da burguesia ru- ral, no entanto, vê-se um significado maior na revolução de 1930, significando, na verdade, a passagem do Brasil agrário para o Brasil industrial3. O Governo Vargas chegou num momento de forte crise fi- nanceira do Estado brasileiro decorrentealternativa, em um período de um ano (por exemplo, a redução do índice de mortalidade infantil). Em ambos os casos, a matriz de cus- tos é usada para a tomada de decisão, monitoramento e avaliação. Uma outra lógica de concepção é usada na avaliação ex-post. Em se tratando da perspectiva generalizada, refere-se à avaliação que é concebida sem relação com planejamento e nem mesmo com o processo de implementação, sendo desenhada quando a política, programa ou projeto já se encontra consolidado ou em fase final. Na acepção restrita, a avaliação ex-post não diz respeito ao momento em que se pensa ou se planeja a avaliação. O foco, nes- se caso recai sobre o que é calculado: o custo efetivo de cada al- ternativa, pelo mesmo processo de análise de custos da avaliação ex-ante, porém tendo como referência os valores efetivamente dis- pendidos. Embora usando os mesmos procedimentos de cálculo, os impactos são mensurados por meio da comparação entre a situa- ção inicial da população-alvo (baseline) e a sua situação ao final de um certo período de tempo. É possível comparar os impactos ob- servados também com os impactos estimados na avaliação ex-ante, para verificar se a seleção de alternativas de intervenção foi ótima. As avaliações também podem se distinguir segundo suas fina- lidades e, portanto as questões que colocam. Nesta perspectiva há dois tipos: Avaliação de matriz, de estrutura, ou de modelo Destina-se a identificar os pontos fortes e as fraquezas de uma intervenção. A informação coletada refere-se ao desenho e imple- mentação da política/programa ou projeto, de modo a julgar a sua eficácia. O objetivo é verificar se alguma mudança é necessária a fim de aperfeiçoar a política/programa/projeto. Pode ser realizada como monitoramento ou a posteriori, periodicamente As questões típicas deste tipo de avaliação são: (a) Os objetivos da política/programa estão claramente formu- lados em termos de resultados a serem obtidos? (b)Existe uma compreensão compartilhada dos significados dos objetivos e um compromisso dos envolvidos para com a imple- mentação dos objetivos? (c) A política/programa foi implementada conforme o preten- dido? (d) Há alguma evidência de desempenho subótimo requerendo redesenho da implementação ou ações de correção? (e) Se o desempenho é sub-ótimo, quais as suas causas e como podem ser tratados? (f) A população alvo, os beneficiários ou as pessoas mais afeta- das pela política/programa estão satisfeitas com o serviço ou bens que estão recebendo? (g) A política ou programa está sendo implementada de modo articulado com outras ações, de forma a contribuir para os objeti- vos governamentais mais amplos? Avaliação de substância ou de conteúdo Destina-se a informar os gestores para que decidam se uma política ou programa deve continuar, ser interrompida ou mudada. O foco recai sobre os resultados (eficácia) e impactos (efetividade). As questões típicas desse tipo de avaliação são: (a) A política ou programa tem produzido os outputs, resulta- dos e impactos pretendidos? Em que medida? (b) Esses resultados mostram-se sustentáveis pelo período pretendido? (c) Os pretendidos beneficiários estão de fato se beneficiando? Há algum grau de exclusão social ou geográfica não pretendida? ( d) Há algum efeito negativo para o qual os resultados tenham contribuído? Ou que deveria ter sido evitado? Ou para o qual será necessária alguma ação de mitigação? (e) A política ou programa é condição para ou é complementar a políticas mais amplas? (f) Que lições podem ser extraídas, que possam contribuir para aperfeiçoar a busca de resultados em programas futuros? Várias outras dimensões e aspectos podem ser usados para mapear os tipos e as possibilidades de avaliação, mas estas são as principais. A seguir serão apresentados os conceitos e descritas as estratégias e técnicas adotadas na sua realização. Conceitos Básicos na Avaliação I) Causa e efeito – as avaliações geralmente buscam relações de causa e efeito entre a política/programa e a mudança social, econômica, cultural, tecnológica, etc. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 14 Como regra, nessas hipóteses, a política/programa avaliado é a variável independente e a mudança planejada é a variável depen- dente. Não se trata de relações causais segundo o máximo rigor da metodologia científica. Na verdade, os avaliadores estão pro- curando regularidades ou padrões em séries de eventos. Em geral, quando se atribui um valor numérico às variáveis torna-se possível usar técnicas estatísticas como análise bivariada e multivariada. A análise se torna mais difícil quando não é possível quantificar. Por exemplo, diferentes padrões de comportamento social podem ser o principal fator que afeta as reações das pessoas numa campanha de educação sanitária, mas é difícil colocar isto em termos numé- ricos. Nestas situações é útil distinguir os fatores que podem ser claramente atribuídos a um resultado e aqueles que apenas con- tribuem para o mesmo. Em qualquer caso é essencial ter uma clara compreensão dos outputs e outcomes. II) Efeito atribuído e contribuição – acima foi feita uma distin- ção entre o que pode ser atribuído a um resultado e o que contribui para o mesmo. Como diferenciar estes dois status? Os fatores atri- buídos a um resultado podem ser identificados indagando-se: “se o fator “X” não existisse ou se não fosse assegurado, o resultado “Y” aconteceria?” Se a resposta for Não o fator em tela provavelmente é atribuído. Por outro lado, se outros fatores podem afetar o resultado, mas a sua força é menor, eles terão contribuído para aquele resul- tado. Por exemplo, na hipótese de que “na falta de emprego entre ex-presidiários resulta na reincidência no crime”. O fator que pode ser atribuído à reincidência é a falta de emprego. Mas há fatores que contribuem para a reincidência, como a falta de apoio social para a adaptação à vida livre, etc. Podem ocorrer casos onde não há um fator especificamente atribuído, mas vários fatores que con- tribuem para um resultado, todos eles merecedores de ações inte- cionais de mudança. III) Paradigmas diferentes – um paradigma é um modelo ou um conjunto de postulados que expressam uma forma de concei- tuar e interpretar certas situações. Isto significa que o paradigma do avaliador provavelmente influenciará os métodos de análise que ele escolhe, mas também que a própria política ou programa é influenciada pelo paradigma do seu planejador/gestor. Portanto é útil identificar o paradigma subjacente a uma política/programa, pois facilita entender o seu contexto. IV) Aspectos comportamentais e efetividade organizacional – os comportamentos dos indivíduos e a cultura organizacional afe- tam os outputs e outcomes de uma política/programa. Estes aspec- tos costumam ser difíceis de avaliar e geralmente são considerados evidências “ fracas”. Porém, a adaptabilidade é a base da sustenta- bilidade e pode ser útil avaliar a capacidade das organizações para mudar e responder à inovação5. V) Análise Longitudinal – trata-se da análise diacrônica, que pode ser realizada durante vários anos. Permite acompanhar re- sultados e impactos ao longo do tempo. Permite reduzir o risco de bias. Pode-se valer de registros administrativos e dados secundá- rios. VI) Abordagem experimental – é a mais adequada ao exame de relações de causa e efeito. Requer a criação/definição de grupo experimental e grupo de controle (que não foi exposto à interven- ção). Usualmente, procura-se manter constantes as características de ambos os grupos e efetuar seleção aleatória dos seus compo- nentes. Há situações em que não é possível formar grupos de con- trole, então usa-se a chamada “abordagem quasi-experimental”, examinando o momento anterior e o momento posterior a uma política ou programa. VII) Sustentabilidade – trata-se de identificar fatores essenciais à produção de certos outputs, outcomes e impactos e averiguar se (a) estão todos disponíveis; (b) estão adequadamentegarantidos para assegurar que a política/programa provavelmente terá continuidade e não será apenas um evento isolado. Os fatores essenciais podem ser infra- estrutura, treinamento, incentivos, mudanças de comportamento, recursos organizacionais, etc. O Processo de Avaliação A definição, desenho e manejo da avaliação requerem o co- nhecimento de três elementos: 1 – O marco conceitual que define o que a política/programa ou projeto deve realizar. Ou seja: os objetivos máximos, as metas, as estratégias ou atividades (ações) selecionadas para atingir obje- tivos e metas e as relações supostamente existentes entre os obje- tivos estabelecidos e as ações propostas. 2 – Os stakeholders, ou seja todos os atores que tenham algum tipo de interesse na política/programa/projeto: os gestores, as po- pulaçõesalvo, os fornecedores de insumos, os financiadores (inclu- sive os contribuintes), os excluídos e os diferentes segmentos da sociedade civil envolvidos direta ou indiretamente. Especialmente útil, neste ponto, é a matriz de análise de stakeholders, em anexo. 3 – Os critérios que serão usados para avaliar a política/pro- grama/projeto. Esses critérios estabelecem quais as características esperadas dos processos (ações) e/ou dos resultados (outputs/ou- tcomes/impactos). Usualmente são cinco os critérios adotados nas avaliações de política/programas/projetos: • Eficácia – a capacidade de produzir os resultadosesperados/ desejados. • Eficiência – a capacidade de produzir os resultadosdesejados com o menor dispêndio de recursos (humanos, materiais e finan- ceiros). • Efetividade –a capacidade de produzir resultadospermanen- tes, diretos e indiretos, usualmente definidos como impactos, ou seja, as conseqüências maiores de um resultado; e de produzir o número possível de efeitos colaterais ou externalidades negativas. • Equidade – a capacidade de contribuir para a redução das desigualdades e da exclusão social. • Sustentabilidade –a capacidade de desencadear mudanças sociais permanentes, que alteram o perfil da própria demanda por políticas/programas sociais e que retroalimentam o sistema de po- líticas sociais. A tarefa de avaliação de políticas/programas/projetos pode ser facilitada quando são observados alguns passos essenciais: 1 – Identificação e caracterização dos stakeholders, ou seja os atores individuais e/ou coletivos e as agências governamentais e organizações privadas que têm seus interesses afetados pela políti- ca/programa ou projeto em avaliação. 2 – Identificação dos usuários do processo de avaliação e de- mais interessados no mesmo e sua incorporação ao desenho e ma- nejo do processo. 3 – Identificação do marco conceitual da política/programa/ projeto, com a definição dos objetivos, recursos necessários, ações ou estratégias e seus responsáveis ou encarregados e dos resulta- dos esperados. 4 – Definição das questões de avaliação: perguntas que os in- teressados pretendem responder mediante o processo avaliativo e dos critérios a serem usados na avaliação. 5 – Identificação das informações necessárias e das fontes de informação. Seleção dos indicadores. 6 – Seleção, elaboração e teste das estratégias, técnicas e ins- trumentos de coleta de dados. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 15 7 – Definição dos métodos de análise dos dados obtidos. 8 – Coleta e sistematização dos dados. 9 – Análise dos dados e elaboração de conclusões. 10 – Estratégias para disseminação dos resultados da avaliação e para aperfeiçoamento do processo avaliativo. Estratégias de Avaliação Uma política, programa ou projeto pode ser tratada de diver- sas formas, abordando diferentes dimensões, segundo sua especi- ficidade e segundo os aspectos considerados mais prioritários para a avaliação. Dependendo das características da intervenção e dos interes- ses quanto ao foco da avaliação, pode-se adotar uma ou outra das seguintes estratégias de avaliação: 1) Avaliação Participativa – trata-se de um conjunto de proce- dimentos desenvolvidos com a finalidade de incorporar tanto os usuários como as equipes de gestores ao processo de monitora- mento e avaliação. A seguir são descritas algumas das modalidades de Avaliação Participativa Participatory Impact Monitoring (PIM) – não focaliza planos ou sistemas de objetivos formalizados, mas as percepções individuais dos beneficiários e outros afetados pelas políticas, programas ou projetos, com a finalidade de tornar rotineira e amadurecida a prá- tica de refletir e analisar as atividades e mudanças introduzidas por uma intervenção em suas vidas e na sua comunidade. Consiste nos seguintes passos: I – promoção de um debate entre os beneficiários/afetados so- bre as suas principais expectativas e receios para o futuro próximo, envolvendo a política, programa ou projeto em tela. II – a partir dos elementos levantados neste debate, a equipe externa, facilitadora deste processo, constrói alguns indicadores, usando o detalhamento, pelos participantes, de exemplos concre- tos daquilo a que se referem. Esses exemplos são generalizados e tomados como indicadores a partir daí. III – escolha de uma comissão de observadores que fica en- carregado de acompanhar as atividades e mudanças priorizadas no debate inicial. A cada reunião (realizada em intervalos regulares) esta comissão abre o debate falando sobre as mudanças constata- das desde a ultima reunião. Esta descrição serve de insumo para o debate do grupo, que procede a uma avaliação conjunta da situação e decide sobre pos- síveis medidas corretivas, novas atividades e sugere novos indica- dores. Avaliação Independente de Objetivos – não se inicia pelos ob- jetivos da política ou programa, mas com a população-alvo mais afetada pelo mesmo. A finalidade é apurar os resultados e impactos da política ou programa, examinando como e quanto a população- -alvo é afetada e comparando esses dados com o que a política/ programa especificamente indica como objetivos. Dessa forma pro- cura-se evitar o bias trazido pelo prévio conhecimento dos objeti- vos: o avaliador conhece a clientela e o programa, mas não seus objetivos precisos. Avaliação de Quarta Geração – focaliza as queixas, interesses e reinvidicações dos stakeholders. O objetivo é capturar e compre- ender as percepções dos atores envolvidos e afetados pela políti- ca/programa. Em vez dos objetivos explicitados, os custos, riscos e benefícios são examinados “através dos olhos” dos stakeholders. 2) Meta Avaliação - freqüentemente uma política ou programa passa por diversas avaliações em diferentes estágios da sua formu- lação e implementação. Essas avaliações podem focalizar diversos aspectos e informantes. Elas são o material para a Meta-avaliação. Não podem ser tomadas pelo seu valor de face, mas são examina- das de modo a propiciar uma visão da qualidade e do contexto em que a política/programa se desenvolveu. A Meta-avaliação serve para nos situarmos melhor sobre a política/programa, identificar- mos problemas recorrentes, contradições, etc6. Os critérios para apreciar esses relatórios de avaliação são: a) confiabilidade das evidências ou dados nos quais as avalia- ções se baseiam; b) período em que foram realizadas, que dá o contexto da ava- liação e indica se os dados ainda são válidos; c) qualidade, expertise e independência dos avaliadores; d) aceitabilidade das recomendações apresentadas; e) ações que resultaram da avaliação. 3) Mapeamento Organizacional – trata-se de examinar o ar- ranjo organizacional para a decisão/implementação de uma políti- ca, programa ou projeto, já que podem ser muitas e complexas as ligações entre agências e instâncias envolvidas. A análise focaliza como (e se) as agências envolvidas em uma política/programa são organizadas de modo a (a) evitar duplicação ou superposição e assegurar que suas ações sejam articuladas e complementares; (b) garantir um interface consistente e facilmente compreensí- vel com os usuários/clientes; (c) atingir um objetivo comum e sustentável; (d) a presençados incentivos adequados e os procedimentos necessários para promover efetiva parceria. Este tipo de técnica re- quer os seguintes passos: [1] – identificar todas as organizações ou partes de uma orga- nização que possam influenciar o sucesso ou fracasso da política/ programa/projeto ou um exame.). [2]– estimar a contribuição de cada agência para a consecução de cada um dos objetivos da política/programa/projeto. Procurar esclarecer tal contribuição segundo pontuação ou níveis (alto/mé- dio/baixo). [3]– produzir um “mapa” organizacional mostrando os vínculos entre as agências e entre estas e os principais resultados. [4]– usando tal mapa, avaliar se o envolvimento de cada agên- cia é relevante, consistente e complementar. [5]– investigar lacunas aparentes, gargalos, superposições, contradições (por exemplo, onde os inputs de uma organização pa- recem inconsistentes com os de outra; onde os mais afetados pelos resultados desejados são incapazes de procurar esclarecimentos porque a interface com os clientes não está clara; ou onde o pro- grama como um todo parece incoerente e mal organizado, colocan- do em risco seus resultados e impactos). Para o mapeamento organizacional é útil usar critérios como: compartilhamento de objetivos e metas; clareza da comunicação; compartilhamento dos riscos (e ônus) de não consecução dos resul- tados; grau de compartilhamento do financiamento do programa; apoio para atuar em conjunto; responsabilização compartilhada. Usa-se surveys e grupos focais para obter dados que permitam es- timar o peso de cada critério. 4) Marco Lógico – Trata-se de uma estratégia que permite de- finir os fatores e os vários estágios de uma política/programa. Na sua forma mais simples um marco lógico pode assumir a seguinte representação: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 16 Vantagens desta estratégia: a) provê a compreensão de como o programa foi concebido em termos de funcionamento , principais impactos, outputs, outcomes e de como efetivamente se realizou; permite avaliar o afastamento entre o planejado e o realizado. b) ajuda a identificar projetos que necessitam ser incrementados ou componentes (recursos financeiros, tecnológicos e humanos, parcerias, etc.) que são condições para produzir os outputs e outcomes pretendidos. c) ajuda a identificar onde os vários inputs e outputs têm relações implausíveis ou inconsistentes. d) permite identificar pontos-chave para a mensuração de resultados e questões essenciais para a avaliação, tornando mais fácil focalizar a coleta de dados. Um aspecto crítico do Marco Lógico é a identificação e descrição dos fatores contextuais externos ao programa, que não estão sob controle (governabilidade) e que podem influenciar positiva e negativamente os seus resultados e impactos. É preciso examinar as condi- ções externas sob as quais um programa é implementado e definir como estas podem afetar os outputs, outcomes e impactos. 5) Análise de Custo-benefício – corresponde à estimação dos benefícios tangíveis e intangíveis de um programa e os custos de sua realização. Por exemplo, num programa de alfabetização, os benefícios tangíveis seriam a redução do analfabetismo, o aumento da escolarização global, etc. Os benefícios intangíveis seriam o aumento da auto estima, do exercício da cidadania, etc. Após serem identificados, tantos os custos como os benefícios devem ser transformados em uma medida comum, geralmente uma unidade monetária. Evidentemente, há custos que são imensuráveis do ponto de vista ético. Porém, ainda assim é útil tentar transforma- -los em medidas. Por exemplo, é sempre válido o esforço de estimar o custo da violência e/ou o custo da miséria, em termos objetivos, de modo a mostrar como são vantajosas as medidas de mitigação. Uma variante desta análise é a de custo-efetividade, na qual somente os custos são estimados em unidades monetárias. Os benefícios são expressos de alguma outra forma quantitativa. Por exemplo: Num programa de distribuição de renda a famílias com crianças carentes o custo-efetividade pode ser expresso da seguinte forma: “cada R$ 1.000,00 dispendidos pelo programa aumentam os níveis de escolaridade, na média, em 1 ano para cada 100 crianças.” É importante ter claro que todo programa ou projeto pode apresentar efeitos colaterais ou externalidades, ou conseqüências não pretendidas, que podem ser benéficas ou prejudiciais. Tais efeitos devem ser incluídos na análise. 6) Mapeamento Cognitivo – é uma técnica de coleta de dados adequada tanto à formulação de políticas/programas quanto à sua análise. É um instrumento para saber como os indivíduos percebem a operação de uma política/programa ou projeto. Possibilita (a) visualizar e esclarecer as percepções dos informantes no momento de coleta de dados; (b) focalizar os pontos fortes e as fraquezas do programa; (c) focalizar as percepções sobre os outcomes e impactos dos programas; (d) compreender os problemas a partir da perspectiva das pessoas envolvidas e afetadas pelo programa examinado. O Mapeamento Cognitivo compreende os seguintes passos: (1) Identificar os atores que tem maior influência ou que são mais afetados pelo programa examinado. (2) Realizar sessões de brainstorming com esses atores, individualmente ou em grupos focais, de modo a formar um quadro de como eles percebem o programa em termos de: interesses, incentivos, operação, vantagens, fragilidades, outputs, outcomes, impactos. (3) Com a participação dos entrevistados, inicia-se um esforço de ordenar e representar graficamente suas visões. O resultado deve ser um mapa lógico apontando os fatores que exercem influência sobre o funcionamento do programa. Quando são identificadas difi- culdades, deve-se solicitar aos informantes que digam sob que condições tais dificuldades podem ser consideradas aceitáveis ou como podem ser solucionadas. (4) Analisar o mapa completo com o foro na identificação de vantagens e desvantagens, lacunas e superposições recorrentemente apontadas pelos diversos informantes. 7) Mystery Shopping – é uma estratégia observacional, baseada no princípio de que a melhor maneira de avaliar a qualidade de um serviço ou de compreender os seus efeitos sobre os usuários é experimentar a condição de usuário daquele serviço. O que a diferencia de qualquer outra forma de observação participante é o fato de que o avaliador não revela a sua identidade ou condição. Esta estratégia requer bastante cuidado na seleção da amostra para assegurar que os locais visitados sejam representativos. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 17 8) Avaliação de Impacto Social – trata-se de um conjunto de estratégias destinadas a isolar e mensurar as conseqüências dos resul- tados obtidos com as políticas, programas ou projetos. Um dos grandes desafios da Avaliação de Impacto é conseguir isolar, em uma situação específica, as mudanças “naturais” - por assim dizer - e as mudanças “provocadas”, ou seja: (i) resultantes de uma determinada intervenção, cujo impacto se pretende avaliar; e (ii) resultantes de outras intervenções. Na tentativa de responder a este desafio podem ser adotados três métodos para avaliar impacto social. O primeiro baseia-se numa abordagem sincrônica. Significa, basicamente, identificar um conjunto de situações reais comparáveis (S), dotadas de características si- milares ou equivalentes, de acordo com as variáveis selecionadas para a análise de impacto. Em seguida, separa-se dois subconjuntos: o primeiro (S1), composto por situações onde se pretende realizar intervenções; o segundo (S2), constituído de situações onde isso não ocorre. A seguir, tendo início as intervenções (X), acompanha-se, nos dois subconjuntos, sob perspectiva comparativa, o comportamento das variáveis selecionadas. Este método, de lógica sincrônico-comparativa, é também denominado “acompanhamento de impactos”. Outro método envolve a abordagem diacrônica. Significa identificar uma ou mais situações-objeto de intervenções. Realiza-se uma descrição/mensuração/caracterização de cada uma dassituações (diagnóstico) no momento imediatamente anterior à intervenção (Tze- ro), a partir das variáveis selecionadas para a análise de impacto. Em seguida, examina-se os diversos aspectos da intervenção (X). E, por fim, compara-se o comportamento das variáveis em Tzero com o seu comportamento em um momento dado, após a intervenção (T1). Nesse caso, é preciso dispor, primeiro, de um diagnóstico adequado quanto a Tzero; e segundo, de capacidade de isolar outras inter- venções que não aquela cujos impactos se pretende medir, de modo a evitar interveniências. Este método é conhecido como “diagnóstico de impactos”. O terceiro método equivale, por assim dizer, a uma combinação dos dois anteriores. Permite comparar situações similares para rea- lizar previsões para o futuro. Se as situações examinadas compõem áreas relativamente próximas ou contíguas, permite avaliar o alcance (extensão no espaço) dos impactos. E permite re-examinar situações de intervenção para avaliar quais foram os impactos efetivos, de modo a medir a consistência entre o impacto previsto e o impacto efetivo. É o que se entitula “análise de controle de impactos e análise prospectiva”. Qualquer que seja o método adotado, entretanto, a primeira tarefa, para a Avaliação de Impacto Social é, sempre, selecionar as situações a serem examinadas. Os critérios básicos de seleção são similaridade e comparabilidade. Tais critérios compreendem algumas dimensões-chave que devem ser contempladas: (1) unidade sócio-espacial de análise (município, assentamento, etc), pois cada um destes possui diversas características próprias; por exemplo, o grau de autonomia e de complexidade de um município é muito distinto do de um bairro, e assim por diante. Isto não significa que só se possa analisar um tipo de unidade, mas que devem ser selecionados vários exemplares de cada tipo, de maneira a permitir a comparação intra-tipos e entre-tipos. (2) características geográficas e sócio-culturais similares. Vale a mesma observação feita quanto às unidades de análise. (3) projetos de magnitude, metodologia, tipo e finalidades (resultados) similares. Observe-se que deve-se compatibilizar esta dimen- são (3) com as dimensões (1) e (2). Como princípio metodológico deve-se compor grupos homogêneos – tanto quanto possível - de situa- ções a serem analisadas, combinando-se estas três dimensões, que se referem à natureza da comunidade e do projeto. As duas outras dimensões referem-se aos dados disponíveis para análise: (4) bases de dados com datas similares (horizonte de tempo coberto,); (5) fontes de dados comparáveis (variáveis e categorias compatíveis). A segunda tarefa, na avaliação de impacto social, é selecionar a(s) perspectiva(s) de análise, porque isso estabelece a referência para a elaboração/seleção dos indicadores. Vale assinalar que a clara definição da perspectiva de análise é essencial, porque os impactos sociais podem variar conforme diversas dimensões. Para começar, podem variar quanto à escala. Por exemplo, uma determinada intervenção pode gerar 50 ou 1000 empregos, etc. Pode alterar a produtividade de uma certo tipo de cultivo em 1% ou em 500%. Isto exemplifica a variação de escala do impacto obtido. Os impactos sociais igualmente podem variar em intensidade. Por exemplo, uma intervenção pode transformar radicalmente os pa- drões de vida, hábitos e comportamentos de um grupo ou população ou mudá-los apenas marginalmente. Os impactos sociais variam, também, conforme a extensão no espaço. Ou seja, determinadas intervenções têm impacto localizado, outras têm desdobramentos sobre áreas contíguas, mais ou menos amplas, alterando a distribuição da população, provocando migrações, etc. Os impactos sociais variam, ainda, quanto à duração no tempo. Vale dizer, uma intervenção pode gerar empregos em uma área du- rante curto período de tempo, podendo atrair trabalhadores temporários, etc, até se esgotar. Outras têm impacto de maior duração pois geraram atividades econômicas dotadas de sustentabilidade, de modo que, quando a intervenção se esgota, persistem seus efeitos, que geram novos impactos, e assim por diante. Esta dimensão é especialmente delicada para a análise de impacto social, havendo analistas que afirmam que somente podem ser efetivamente avaliados os impactos de curta duração, já que é impossível isolar os demais. Ademais, os impactos sociais variam quanto à cumulatividade. Ou seja, podem expressar mudanças que se reforçam mutuamente ou, ao invés, que se neutralizam umas às outras. Por exemplo, sabe-se que renda e saúde, interagem e geram impactos cumulativos sobre a qualidade de vida. Mas também sabe-se que determinados programas de geração de emprego neutralizam os ganhos em saúde porque contêm externalidades como atividades de risco, deterioração ambiental, etc, que geram efeitos negativos sobre a qualidade de vida. Finalmente, os impactos variam quanto à sua racionalidade. Neste caso, inclui-se um componente de valor que é a desejabilidade de um impacto frente aos seus custos, às suas possíveis consequências e à capacidade do planejador de prever estas últimas. Assim, tem-se as seguintes possibilidades: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 18 Cuidados para assegurar a qualidade da avaliação A avaliação formal não possui uma metodologia específica. Pode lançar mão de um conjunto de métodos de diagnóstico e análise, de técnicas de coleta de dados como surveys, observação, entrevistas em profundidade, individuais ou em grupos focais; e de instrumentos como questionários, formulários, roteiros de observação, etc. A experiência tem ensinado que a avaliação ganha precisão quando recorre a dados quantitativos e qualitativos, combinando abordagens em extensão e em profundidade. Por outro lado, a mesma experiência tem mostrado que há alguns cuidados imprescindíveis à qualidade das avaliações. 1) Incorporação da avaliação ao processo regular de planejamento, sendo assumida como disciplina pelos stakeholders. 2) Julgamento de avaliabilidade. Trata-se de um estudo exploratório a ser efetuado antes de começar a avaliação. Nem todos os programas estão prontos para ser avaliados. O objetivo deste estudo é definir o que precisa ser feito para preparar o programa para ser avaliado e identificar os aspectos/questões que requerem atenção. 3) Definição dos objetivos da avaliação, claramente; e escolher o tipo de avaliação adequada a tais objetivos. 4) Identificação e inclusão dos stakeholders – quem é afetado pela política/programa, desde os gestores até os usuários finais – como interlocutores. 5) Identificação da teoria que orienta a política ou programa a ser avaliado. Seja o “marco lógico” ou outro modelo qualquer, é neces- sário definir uma teoria ou modelo que indica as condições e ações necessárias para a política ou programa funcionar. 6) Identificação e teste dos métodos, que devem ser consistentes com os objetivos e tipo de avaliação a ser realizada. 7) Apresentação de recomendações práticas, claras, exeqüíveis e consistentes com os custos e benefícios esperados. Conceituação básica de indicadores Para Merico (1996 apud REIS 2005, p. 34), “o termo indicador origina-se do latim indicare que significa destacar, anunciar, tornar público, estimar. Indicadores comunicam informações que podem ser simplesmente luzes acesas ou piscando em um aparelho eletrônico, bem como tornar perceptível um conjunto de fenômenos que não é imediatamente detectável”. Segundo Waterhouse (1984 apud GRATERON 1999, p.9), os indicadores podem ser definidos como “unidades de medição que permi- tem acompanhar e avaliar em forma periódica, as variáveis consideradas importantes em uma organização. Esta variação é feita através da comparação com os valores ou padrões correspondentes preestabelecidos como referência, sejam internos ou externos à organização”. Os indicadores são medidores de uma atividade. Expressam um número que indica que as coisas podem ser medidas; e, se, podem ser medidas, podem ser comparadas e administradas, como preconizamGloberson e Frampton, apud Camargo (2000, p.51), ao afirmarem que “você não pode administrar o que não pode medir”. Outra definição trazida por Fernandes (2004, p.3) mostra que “a tarefa básica de um indicador é expressar, da forma mais simples possível, uma determinada situação que se deseja avaliar. O resultado de um indicador é uma fotografia de dado momento, e demonstra, sob uma base de medida, aquilo que está sendo feito, ou o que se projeta para ser feito”. Fernandes (2004, p.5) dissertando ainda sobre o assunto diz que “levando em conta que um indicador é um número que expressa o estado de alguma coisa que se considera relevante e importante para a empresa, sua construção passa, primeiramente, pela análise da contribuição para a tomada de decisão. O indicador deve ser representante de algo que se toma como necessário para a rotina de gerenciamento da empresa. Em função disso, são necessários cuidados quando do estabelecimento da coleta e tratamento de dados, que constituem a base para a formação de um indicador”. Importância do indicador Conforme Furtado (2003), um grupo especial de indicadores de desempenho de gestão tem como objetivo medir os níveis de efi- ciência e eficácia das decisões tomadas, verificando se as ações implementadas estão atingindo os resultados esperados, a que custos e outros impactos que estão gerando e suas tendências. Esses indicadores são essenciais ao planejamento e ao controle dos processos porque possibilitam o estabelecimento de metas e visualização de seus desdobramentos, ao tempo em que permitem a análise crítica que embasará o re-planejamento ao longo da gestão. Os indicadores são sinais vitais da organização. Eles informam às pessoas o que estão fazendo, como estão se saindo e se estão agindo como parte do todo. Eles comunicam o que é importante para a organização: a estratégia do primeiro escalão para os demais níveis, re- sultados de processo, desde os níveis inferiores até o primeiro escalão, o controle e melhoria dentro dos processos. Os indicadores devem interligar estratégia, recursos e processos. Hronec (apud REIS, 2005, p.37) Wright citado por Neves Júnior (2003, p.10), destaca que o processo de controle estratégico é exercido pela alta administração, que decide quais elementos do ambiente e da empresa devam ser avaliados e controlados. Segundo o autor, o processo de controle estraté- gico possibilita a adoção de alguns passos que visam à tomada de decisão corretivas: 1) dentro do parâmetro da missão e dos objetivos gerais e específicos da organização, determinar que necessidades devem ser mo- nitoradas, avaliadas e controladas; 2) estabelecer padrões; ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 19 3) mensurar o desempenho; 4) comparar desempenho com padrões; 5) não tomar medida alguma se o desempenho se harmonizar com os padrões; 6) tomar medidas corretivas se o desempenho não se harmo- nizar com os padrões. Para Kaplan e Norton (1997, apud REIS 2005, p. 38), os indica- dores são usados para controlar e melhorar a qualidade e o desem- penho de produtos e processos. A apuração dos resultados através dos indicadores permite avaliar o desempenho em relação à meta e a outros referenciais, possibilitando o controle e a tomada de de- cisão gerencial. Outra importante função é a de induzir atitudes nas pessoas cujo desempenho está medido, pois as pessoas tendem a agir influenciadas pela forma como são avaliadas. O controle da gestão pública Segundo Cruz Silva (1999, p.1), “os mecanismos de controle representam o elemento essencial para assegurar que o governo atinja os objetivos estabelecidos nos programas de longa duração com eficiência, efetividade e dentro dos preceitos legais da ordem democrática”. Para Grateron (1999, p.2) “o sistema tradicional de contabili- dade e de informação que auxilia o gestor não cumpre sua missão de garantir as melhores decisões ou, no mínimo, prestarlhes supor- te; por isso, é necessário considerar a possibilidade de um modelo que responda às necessidades de informação para contribuir com a melhoria de uma gestão que tem sido objeto permanente de crí- tica: a gestão pública”. O autor ressalta ainda que “a gestão pública precisa ser avalia- da para conhecer e dar respostas ao cidadão, comum quanto o grau de adequação e coerência existente entre as decisões dos gestores e a eficácia, eficiência e economia com que foram administrados os recursos públicos para serem atingidos os objetivos e metas da or- ganização, estabelecidos nos planos e orçamentos e; para realizar avaliação da gestão pública, é necessário considerar a possibilidade de um modelo de contabilidade desenhado para a gestão, que con- sidere indicadores ou parâmetros de gestão adequados”. Cruz Silva afirma ainda que: “sem controle, os rumos não são corrigidos, os objetivos fundamentais ficam colocados em segundo plano, há desperdício e inadequação no uso dos recursos”. Indicadores de gestão na administração pública “Na avaliação das organizações públicas é usual que resultados sejam definidos por indicadores físicos ou qualitativos”. (CATELLI, 2001, p. 6). Ainda segundo Catelli (2001, p.174), “não é possível admi- nistrar algo que não tenha seus resultados mensurados, pois, as decisões devem ser tomadas sobre elementos que representem a realidade da forma mais precisa possível. Esta é uma característica essencial do sistema de medição que são instrumentos de gestão para diversos modelo de administração dos negócios” . De acordo com Toscano Jr. (2000, p.12) o desenvolvimento de sistemas contábeis gerenciais que permitam a criação de informa- ções úteis para a tomada de decisão, é de importância fundamental para a instrumentalização do processo de geração e monitoramen- to de indicadores de performance, a fim de viabilizar a mensuração do desempenho da gestão pública. Conforme Grateron (1999, p. 15), a variação fundamental para a mensuração da gestão de um organismo público é avaliar a ges- tão através da análise e confrontação restrita dos valores monetá- rios da contabilidade tradicional, ou introduzir, na análise e avalia- ção, outras variáveis não monetárias que permitam relacionar as variáveis tradicionais à finalidade da entidade pública. Segundo a Associación Española de Contabilidad y Adminis- tración de Empresas (apud Grateron, 1999, p. 15), a utilização e a aplicação de técnicas de gestão, como por exemplo, os indicado- res para medir e comparar o desempenho dos gestores no setor publico, são muito mais complicados, se comparados como setor privado. Algumas das limitações mais conhecidas são a falta de in- dicadores, a dificuldade para fixar e quantificar os objetivos sociais, a utilização de termos não monetários, a falta de clareza nos obje- tivos, metas e atividades realizadas, entre outros. Características da gestão por resultados Para que seja possível adotar esse tipo de gestão na empresa, é preciso saber como o processo realmente funciona e se ele de fato é adequado para atingir seus objetivos. Algumas características da gestão por resultados podem ajudar a entender melhor como ela acontece dentro da empresa: • A chave para todo o processo é o foco no resultado e não nos procedimentos; • A responsabilidade por atingir ou não os resultados pro- postos é de todos; • A liderança é mais participativa; • Todas as unidades da empresa andam juntas e estão inte- gradas para que seja possível obter o resultado desejado, cada uma contribuindo com sua tarefa. Vantagens desse modelo de gestão Uma das maiores vantagens de se adotar a gestão orientada para resultados é o fato de que os colaboradores se sentem mais motivados, pois estão envolvidos em todo o processo e sabem que sua participação realmente faz diferença para o alcance das metas. Isso sem contar que a comunicação também melhora, com a boa interação entre os membros da equipe surgindo como fundamental para o sucesso do empreendimento. O comprometimento do time e sua produtividade também aumentam, uma vez que cada um passaa ter clareza do seu papel para chegar aos resultados. Assim a sensação de pertencimento é maior e o engajamento e a produção consequentemente melhoram. Aplicação da gestão de resultados na empresa Existem várias metodologias para a aplicação da gestão de serviços ou de produtos orientada a resultados em uma empresa, havendo entre elas alguns passos em comum para que a implemen- tação tenha êxito: • Revisar os objetivos da empresa: para que os gestores e empresários tenham uma visão clara dos objetivos e do planeja- mento estratégico do negócio; • Definir os objetivos da equipe: gestores e colaboradores precisam se reunir para estabelecer os objetivos de cada um, deter- minando um prazo para a apresentação dos resultados; • Monitorar o processo: antes de o prazo estabelecido ter- minar, é preciso organizar algumas reuniões para saber se os obje- tivos efetivamente serão alcançados; • Avaliar o desempenho: análise baseada no atingimento ou não dos objetivos; • Recompensar: os colaboradores são recompensados por atingirem os resultados. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 20 O sucesso da gestão por resultados leva a empresa a enxugar custos, otimizar um projeto ou aumentar a produtividade da equi- pe. Tudo isso requer um envolvimento maior entre os gestores e os colaboradores e o estabelecimento de objetivos e prazos cla- ros para cada um. A equipe deve ser monitorada, acompanhada e poder contar com os líderes para os momentos de dificuldade. Ao final, se os resultados forem obtidos, deve haver uma recompensa pelo envolvimento e comprometimento com o trabalho. Assim to- dos saem ganhando. AVALIAÇÃO E MENSURAÇÃO DO DESEMPENHO GOVERNA- MENTAL Bruno Palvarini, autor do “Guia referencial de mensuração do desempenho na administração pública” apresenta os conceitos de desempenho e mensuração do desempenho governamental. De- sempenho é um termo sujeito a inúmeras variações semânticas e conceituais, embora existam alguns consensos majoritários em torno de uma definição. Segundo uma abordagem abrangente, o desempenho pode ser compreendido como esforços empreendi- dos na direção de resultados a serem alcançados. A equação sim- plificada é: desempenho = esforços + resultados; ou desempenho = esforços → resultados. Uma vez definido desempenho, o conceito de gestão do de- sempenho precisa ser qualificado. A gestão do desempenho consti- tui um conjunto sistemático de ações que buscam definir o conjunto de resultados a serem alcançados e os esforços e capacidades ne- cessários para seu alcance, incluindo-se a definição de mecanismos de alinhamento de estruturas implementadoras e de sistemática de monitoramento e avaliação. A mensuração é parte essencial de um modelo de gestão do desempenho. Mas, não é apenas a ação que apura, em sentido estrito, por meio de indicadores, valores ou medidas dos esforços e resultados. Os sistemas de avaliação podem ser caracterizados a partir dos mecanismos e instrumentos que definem um fluxo regular e contínuo de demandas, que orientam um conjunto de práticas ava- liativas, formalizadas, estruturadas e coordenadas, para produzir e fornecer conhecimento, com o objetivo de subsidiar os processos decisórios e de aprendizado para aperfeiçoamento da gestão e da implementação de programas e políticas públicas (SERPA; CAL- MON, 2012). O professor Antônio Alan de Freitas Gonçalves, gerente de avaliação de desempenho da área pública, em seus estudos expli- ca que a Avaliação e mensuração do desempenho governamental aborda os múltiplos aspectos da Gestão Administrativa, Orçamen- tária, Financeira, Contábil e Patrimonial, com o intuito de verificar a adequação dos atos em relação ao ordenamento jurídico-admi- nistrativo, tendo em vista o foco nos resultados e na transparência governamental. A seguir estão algumas de suas colocações sobre esse tema. Notadamente no que se refere: • Aos princípios Constitucionais e Administrativos; • À forma como os Órgãos e Entidades Públicos adquirem, guardam e utilizam seus recursos; • Às causas das práticas antieconômicas e ineficientes; • À obediência aos dispositivos legais aplicáveis aos aspec- tos da economicidade, eficácia e eficiência da gestão; • À adequação dos objetivos estratégicos às prioridades do titular do Poder; • À identificação dos principais produtos, indicadores de desempenho e metas organizacionais; • À matriz SWOT (FOFA); • À existência de superposição e duplicação de funções; • À adequação da estrutura organizacional aos objetivos do Órgão ou Entidade; • À existência de controles adequados; • À existência de rotinas e procedimentos de trabalho docu- mentados e atualizados. Avaliação e mensuração do desempenho governamental ba- seia-se na mensuração dos resultados alcançados na execução das políticas públicas, projetos, programas, e ações governamentais, por meio de indicadores de desempenho capazes de demonstrar o cumprimento das metas previstas nos instrumentos de planeja- mento (PPA, LDO, LOA, e outros). PARCERIA ENTRE GOVERNO E SOCIEDADE, OUVIDO- RIAS, GOVERNANÇA INTERNA E EXTERNA Parceria e gestão associada Parceria, no Vocabulário jurídico de José Naufel, significa o mes- mo que sociedade. É a reunião de duas ou mais pessoas que inves- tem capital, ou capital e trabalho, com o fim especulativo em pro- veito comum. A palavra parceria, do latim partiarius, participante, vem sendo empregada tradicionalmente em direito para designar uma forma sui generis20 de sociedade em que não se dá a compo- sição de um capital social nem a instituição de uma nova pessoa, mas, apenas, uma relação negocial, em que uma das partes assume obrigações determinadas com vistas a participação de lucros alcan- çados21. Pelo fato de o vocábulo parceria trazer em si a ideia de lucro, alguns resistem a sua utilização no âmbito do direito público, en- tendendo como discutível a utilidade de transpor-se esse vocábulo quando na realidade o que se está fazendo é rebatizar a colabora- ção econômica entre o setor público e o setor privado, hipótese em que entidades não estatais participam de atividades estatais de índole econômica, com o objetivo de lucro. É o caso específico da concessão e da permissão de serviço público. Aliás, é nesse sentido que o vocábulo aparece em algumas li- teraturas, pelas quais, embora denominado de Direito de parceria, cuida especificamente da concessão e da permissão de serviço pú- blico. Nestas, o vocábulo parceria é utilizado para designar todas as formas de sociedade que, sem formar uma nova pessoa jurídica, são organizadas entre os setores público e privado, para a consecu- ção de fins de interesse público. Nela existe a colaboração entre o poder público e a iniciativa privada nos âmbitos social e econômico, para satisfação de interes- ses públicos, ainda que, do lado do particular, se objetive o lucro. Todavia, a natureza econômica da atividade não é essencial para ca- racterizar a parceria, como também não o é a ideia de lucro, já que a parceria pode dar-se com entidades privadas sem fins lucrativos que atuam essencialmente na área social e não econômica. A parceria pode servir a variados objetivos e formalizar-se por diferentes instrumentos jurídicos. Ela pode ser utilizada como: a. forma de delegação da execução de serviços públicos a par- ticulares, pelos instrumentos da concessão e permissão de serviços públicos, ou das parcerias público-privadas (concessão patrocinada e concessão administrativa, criadas pela Lei nº 11.079, de 30-12- 2004); e também por meio do contrato de gestão com organizações sociais, quando estas prestam serviço público; 20 A expressão em latim, sui generis, significa “de seu próprio gênero” ou “único em sua espécie”. Muita utilizada no Direito, ela indica algo que é particular, pecu- liar, único. Reporta-se a um fato singular, por exemplo. 21 Di Pietro, Maria Sylvia Zanella. Parcerias na administração pública: conces- são, permissão, franquia, terceirização, parceria público privada / Maria Sylvia Zanella DiPietro. – 12. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2019. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 21 b. meio de fomento à iniciativa privada de interesse público, efetivando-se por meio de convênio, contrato de gestão, termo de parceria, termo de colaboração, termo de fomento ou acordo de cooperação; c. forma de cooperação do particular na execução de atividades próprias da Administração Pública, pelo instrumento da terceiriza- ção (contratos de prestação de serviços, obras e fornecimento, sob a forma de empreitada regida pela Lei nº 8.666, de 21-6-1993, ou de concessão administrativa, regida pela Lei nº 11.079/2004); d. instrumento de desburocratização e de instauração da cha- mada Administração Pública gerencial, por meio dos contratos de gestão. Com isso, a parceria serve ao objetivo de diminuição do tama- nho do aparelhamento do Estado, na medida em que delega ao setor privado algumas atividades que hoje são desempenhadas pela Administração, com a consequente extinção ou diminuição de órgãos públicos e entidades da administração indireta, e diminuição do quadro de servidores; serve também ao objetivo de fomento à iniciativa privada, quando seja deficiente, de modo a ajudá-la no desempenho de atividades de interesse público; e serve ao objetivo de eficiência, porque introduz, ao lado da forma tradicional de atu- ação da Administração Pública burocrática, outros procedimentos que, pelo menos teoricamente (segundo os idealizadores da Refor- ma), seriam mais adequados a esse fim de eficiência. A expressão parceria tem sentido um pouco diverso da expres- são “gestão associada”, utilizada no art. 241 da Constituição Fede- ral, para designar a atuação conjunta da União, Estados, Distrito Federal e Municípios nas matérias de competência comum. Essa gestão associada formaliza-se por meio de convênio de cooperação ou de consórcio público, disciplinados pela Lei nº 11.107, de 6-4- 2005, regulamentada pelo Decreto nº 6.017, de 17-1-2007. Finalmente, é importante ressaltar que o conceito supra de parceria, adotado em seu sentido amplo, abrange a parceria públi- co-privada, sob as formas de concessão patrocinada e concessão administrativa. Ouvidoria pública A ouvidoria é o órgão responsável, de forma prioritária, pelo tratamento de reclamações e denúncias a respeito de irregularida- des, desvios de conduta e falhas na prestação de serviços, poden- do receber, ainda, sugestões e elogios. É um canal fundamental de comunicação entre a sociedade e o Poder Público, subsidiando os gestores com informações importantes para a formulação, a imple- mentação e a avaliação de políticas públicas. Dessa forma, efetivam o princípio democrático, por permitirem aos cidadãos que partici- pem na condução dos assuntos relacionados à Administração Pú- blica22. Podem recorrer às ouvidorias todos os que tiverem um proble- ma sem resposta ou solução satisfatória junto aos órgãos públicos, sentirem-se mal atendidos ou deixarem de ter seus direitos garan- tidos. A implantação desses canais de atendimento é um direito do cidadão e permite à Administração conhecer as carências e as ne- cessidades da população. De uma maneira geral, os cidadãos devem esperar das ouvido- rias públicas, conforme também trata a Lei nº 13.460/2017: • Atendimento receptivo, cordial, imparcial e respeitoso; • Confidencialidade e sigilo no recebimento e tratamento da denúncia ou demanda, bem como nas orientações eventualmente fornecidas; 22 Rio Grande do Sul. Tribunal de Contas do Estado. Cartilha para Ouvidorias Públicas. / Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul – Porto Alegre: TCE/RS, 2017. • Verificação e identificação das alternativas ou possíveis op- ções para avanço na demanda ou questão apresentada; • Utilização de linguagem simples e compreensível, evitando o uso de siglas, jargões e estrangeirismos; • Acolhimento de denúncias, em caráter anônimo, quando as- sim solicitado pelo demandante; • Vedação da exigência de nova prova sobre fato já comprovado em documentação válida apresentada; • Recebimento, análise e encaminhamento às autoridades com- petentes das demandas, acompanhando o tratamento e a efetiva conclusão das manifestações de usuário perante órgão ou entidade a que se vincula; • Promoção da adoção de mediação e conciliação entre o usuá- rio e o órgão ou a entidade pública, sem prejuízo de outros órgãos competentes; • Promoção da participação do usuário na administração pú- blica, em cooperação com outras entidades de defesa do usuário; • Acompanhamento da prestação dos serviços, visando a garan- tir a sua efetividade; • Proposição de aperfeiçoamentos na prestação dos serviços; • Proposições de adoção de medidas para a defesa dos direitos do usuário garantidos pela Lei nº 13.460/2017; • Elaboração anual de relatório de gestão e, com base nele, apontar falhas e sugerir melhorias na prestação de serviços públi- cos. Governança ou Auditoria Interna Consiste no conjunto de procedimentos que visa examinar a in- tegridade, adequação e a eficácia dos controles internos, e de todas as informações contábeis, das operações financeiras e das ativida- des operacionais. A auditoria interna é uma atividade de avaliação independente dentro da empresa, que se destina a revisar opera- ções, como um serviço prestado à administração23. Constitui um controle gerencial que funciona por meio da aná- lise e avaliação da eficiência de outros controles. É executada por um profissional ligado à empresa, ou por uma seção própria para tal fim, sempre em linha de dependência da direção empresarial. Como noção básica, a auditoria interna deve ter a menor es- trutura possível, visto que em essência, é uma atividade que refaz tarefas e procedimentos dentro da empresa, almejando a máxima eficiência e eficácia, logo, a auditoria deve ser minimizada ao máxi- mo, sob pena de serviços e tarefas sendo realizada repetidamente. A auditoria interna é uma ação que deve se associar diretamen- te com a administração, dando-lhes recomendações, análises e co- mentários relacionados às atividades examinadas, visando assistir os membros do setor administrativo. O auditor interno é aquele que acompanha os negócios da em- presa continuamente, portanto é alguém de alta confiança dos diri- gentes e deve estar vinculado à organização por contrato trabalhis- ta. Ele age em todas as atividades da organização, principalmente na verificação permanente dos controles internos, como funcionam e são executadas as rotinas administrativas, assim como são mani- pulados os recursos financeiros. 23 https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/201710/101_00189. pdf?sequence=1&isAllowed=y ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 22 Governança ou Auditoria Externa Consiste no conjunto de procedimentos técnicos visando emitir um parecer no que concerne as demonstrações contábeis da orga- nização. Pretende saber a real situação e a posição patrimonial e financeira da entidade, o resultado das operações e as mutações do Patrimônio Líquido, a Demonstração dos Fluxos de Caixa e a Demonstração do Valor Adicionado. O auditor externo certifica as demonstrações e emite parecer se a organização auditada está de acordo com as normas brasileiras de contabilidade. Auditoria externa é o processo pelo qual o auditor se certifica de que as demonstrações financeiras representam adequadamen- te, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e finan- ceira da empresa. Assim, o principal objetivo é emitir um parecer sobre as demonstrações contábeis de uma entidade, quanto à sua adequação consoante os princípios de contabilidade e as normas brasileiras de contabilidade. A auditoria externa, conhecida igualmente como auditoria in- dependente, é aquela realizada por profissionais ou empresas que não possuem vínculo e/ou subordinação com a empresa auditada, dando deste modo uma opinião independente sobre o que foi ana- lisado. É realizada por auditores independentes contratados pela organização para examinar as suas demonstrações contábeis eexpressar opinião por intermédio do relatório de auditoria, com o propósito de aumentar o grau de confiança dos usuários das res- pectivas demonstrações. A auditoria externa sempre é feita por um profissional indepen- dente, quer dizer, não tem vínculo empregatício com a organização auditada. Ele deve ser registrado no IBRACON (Instituto dos Audito- res Independentes do Brasil). Também deve realizar sua função com competência profissio- nal, preservando seu grau de independência perante a organização, não podendo ter nenhum interesse ou vantagem sobre o trabalho exercido. Da mesma forma não pode ser conivente em atender às pretensões da organização. CONTROLE E DESEMPENHO. MENSURAÇÃO DE DE- SEMPENHO CONTROLES, INDICADORES DE PRODUTI- VIDADE Formas de supervisão e contratualização de resultados (con- troles e indicadores) A administração gerencial é caracterizada pela confiança limi- tada e pelo controle de resultados a posteriori, ao contrário da ad- ministração burocrática que se baseava na desconfiança total e no controle de processos a priori. A gestão por resultados é um dos grandes avanços trazidos pela Administração Gerencial. Ela surge em meio às críticas à administra- ção burocrática, que ao mesmo tempo em que não conseguia gerar resultados satisfatórios, pois era ineficiente, também não conseguia proteger o patrimônio público dos interesses particulares A administração gerencial veio com a ideia de mudar a forma do controle para permitir uma gestão mais flexível, sem as amarras da burocracia, para então cobrar resultados do gestor público. Seu fundamento básico é a gestão por resultados, que por um lado, da Administração confere autonomia ao gestor público na gestão de recursos financeiros, materiais e humanos, para, de outro cobrar resultados. A descentralização implica dar maior autonomia de gestão às unidades descentralizadas. Para isso, é necessário definir objetivos e metas precisos e estabelecer diretrizes claras que orientem os ad- ministradores no atingimento dos objetivos. O conceito de contratualização segundo o Ministério do Plane- jamento é: “A contratualização de desempenho institucional na adminis- tração pública é um procedimento de ajuste de condições especí- ficas no relacionamento entre órgãos e entidades públicos e pri- vados, que envolve a pactuação de metas de desempenho para o exercício de atividade pública, orientadas ao alcance dos objetivos das políticas públicas. Em alguns casos, a contratualização pode proporcionar flexibilidades e autonomias de gestão que simplifi- quem processos internos das instituições partícipes, em acordo com o estabelecido pelo art. 37, parágrafo 8º da Constituição Federal.” Na contratualização, os instrumentos contratuais que podem ser utilizados, em sua maioria, são os mesmos já praticados pela Ad- ministração Pública, entretanto, o foco e a forma de se construir o instrumento é que muda, já que se passa de uma visão anterior foca da no processo (meio), para uma nova visão focada nos resultados (fins). Desse modo, abandona-se a tradicional forma de se avaliar os contratos e a prestação dos serviços somente pela correta utilização dos recursos, através da tradicional prestação de contas financeira. Na contratualização, avalia-se o cumprimento do contrato pela avaliação do alcance dos resulta dos pactuados, através da verifica- ção quanto ao atingimento das metas previstas para os indicadores de desempenho. Ela é uma prática importante na Administração Pública pós-Reforma do Estado, pois possibilita instituir práticas de planejamento, avaliação e monitoramento da execução por parte do Estado (órgão contratante) e o terceiro ou órgão público contra- tado. Os Contratos de Resultados podem ser firmados com qual- quer natureza de instituição, seja ela estatal (pública), do terceiro setor (associações e fundações) e mesmo privadas (empresas e consórcios). Na esfera federal, a aplicação é recente entre ministérios, agên- cias reguladoras e executivas e organizações sociais, a partir da cria- ção dessas novas figuras jurídicas do direito público, embora haja registros de uso anterior de mecanismos de contratualização de de- sempenho, pelo Ministério da Saúde e a Associação das Pioneiras Sociais e pelo Ministério da Fazenda, a Petrobrás e a Companhia Vale do Rio Doce. No processo de contratualização de resultados, existem três fa- ses importantes que são imprescindíveis ao bom resultado da práti- ca e não podem deixar de existir (segundo Flávio Carneiro): • Negociação – esta fase inicia com a intenção de contratar os serviços por um órgão estatal e a elaboração do rol de atividades a serem contratadas. A partir daí, identifica-se o outro órgão ou en- tidade a ser contratada e se inicia o processo de negociação, que vai da identificação dos indicadores de desempenho, estipulação das metas e a respectiva orçamentação, que é a parte financeira do Contrato de Resultados e contém as despesas e receitas da organi- zação contratada, refletindo as obrigações de parte a parte. • Construção do Instrumento – esta fase consiste na formaliza- ção de tudo o que foi negociado, aperfeiçoando-se e aferindo-se to- dos os pontos acordados. Um passo importante para a construção do instrumento é estabelecer as sanções e métodos de fiscalização e prestação de contas dos resultados do instrumento contratual. • Gerenciamento – esta fase é permanente, após a assinatura do instrumento contratual, compreendendo todas as atividades de supervisão da entidade, monitoramento dos indicadores de desem- penho pactuados e avaliação dos resultados alcançados. Não basta que se assine o contrato, é preciso gerenciá-lo, mo- nitorando os indicadores de desempenho durante a vigência do contrato. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 23 Os marcos legais do procedimento de contratualização e, em particular os que estabeleceram o uso do contrato de gestão, no âmbito do Governo Federal, não dispõem de regulamentação orien- tadora, que fixe diretrizes gerais a serem observadas no processo de negociação, implementação, acompanhamento e avaliação do instrumento. Algumas fragilidades na contratualização foram iden- tificadas, sendo elas: • Ausência de uma conceituação clara e objetiva a respeito de contratualização de desempenho institucional que estabeleça seus objetivos, instrumentos e as situações em que sua aplicação é re- comendável; • Falta de clareza quanto ao papel de cada partícipe da contra- tualização de desempenho institucional e à natureza das relações jurídicas entre eles; • Falta de orientação técnica para a etapa de planejamento da contratualização de desempenho institucional, o que afeta: o ali- nhamento das metas à missão da instituição contratada e aos ob- jetivos e diretrizes setoriais do ministério e das macros orientações de governo; a qualidade das metas quanto à sua natureza desafia- dora (mas factível); e a geração de indicadores pertinentes; • Preparo técnico insuficiente dos órgãos e entidades contra- tados para a implantação do modelo de gestão por resultados, do qual a contratualização de desempenho institucional é apenas ins- trumento; •Falta de orientação técnica aos órgãos supervisores para apli- cação de metodologias adequadas à condução da etapa de avalia- ção do desempenho bem como dos resultados obtidos pela contra- tada e sua relação com as metas acordadas; •Falta de orientação técnica aos órgãos supervisores para as etapas de fiscalização e de relacionamento com os órgãos de con- trole interno e externo. A contratualização de resultados no âmbito de agências públi- cas recebeu o nome de agencificação. O contrato de resultados (ou acordo-quadro, contrato de gestão) é um instrumento de gestão, que relaciona ministérios (ou secretarias responsáveis pela formu- lação de políticas públicas) e entidades a eles vinculadas, prestado- ras de serviços públicos (genericamente denominadas ‘agências’). Ele tem por objetivos promover mais flexibilidade, transparência de custos, melhordesempenho, aumento da qualidade, produtivida- de, eficiência e efetividade na prestação de serviços públicos. Pro- move um par de atributos inseparáveis, à luz das reformas geren- ciais: autonomia de gestão em troca de compromisso prévio com resultados. Por meio de metas pré-acordadas entre as partes, a serem al- cançadas pela entidade em troca de algum grau maior de flexibilida- de ou apenas de previsibilidade, a contratualização de resultados no setor público substitui o controle clássico político (pela hierarquia) e burocrático (pelo cumprimento de normas). No entanto, o termo agencificação também adquiriu uma carga negativa, na medida em que um dos problemas geralmente associados às novas formas de contratos é o risco da atomização excessiva da ação governamental e dificuldades para lidar com problemas e ações interministeriais. Tipicamente, a relação contratual ocorre entre uma instância do governo central, que será o órgão supervisor do contrato, e uma agência governamental (em geral uma empresa, mas também pas- sível de ocorrer com outras instâncias equivalentes à nossa admi- nistração autárquica e fundacional). TRANSPARÊNCIA Transparência da Administração Pública A disponibilidade e o acesso à informação são os pilares da transparência pública; esta, por sua vez, é condição necessária para o processo de controle social pela cidadania. O controle social exige a atitude de “accountability”, isto é, a adequada prestação de con- tas dos gestores públicos e a assunção de responsabilidades com relação aos resultados da atuação governamental24. A Transparência na administração pública é uma obviedade. A população detentora final do poder político e provedora dos recur- sos para o desenvolvimento das atividades estatais deve ser brinda- da com o acesso à informação necessária para exercer seu direito de controle e de avaliação das políticas e dos serviços promovidos pelos governos. Ainda assim, o tema da transparência ganhou mais força após a expansão da administração pública gerencial, cuja preocupação com a satisfação das necessidades dos usuários impulsionou que lhes fossem disponibilizadas informações financeiras, operacionais e mesmo, em determinada medida, estratégicas das diversas enti- dades públicas. Alguns podem dizer que a Constituição de 1988, de caráter for- temente burocrático em sua versão original, já previa a adoção da transparência, ao definir o princípio da publicidade para a adminis- tração pública. Mas a transparência é muito mais doque publicida- de. De fato, não se trata de simplesmente publicar atos adminis- trativos nos veículos de informação oficiais, cumprindo requisito formal de validade dos atos administrativos, mas de uma atitude permanente, um esforço efetivo de comunicar, intensamente, por diversos meios disponíveis, a ação governamental e os resultados dela advindos aos usuários internos e externos. Não se confunde com a propaganda das ações de governo, já que tenciona munir o cidadão de dados e informações suficientes para que ele mesmo realize a avaliação das políticas públicas. Importante destacar que a transparência pública não se restrin- ge à exposição de resultados alcançados por governos e órgãos pú- blicos frente a seus objetivos, indicadores e metas. Ainda que essa informação seja essencial para o conhecimento da cidadania, ser transparente implica inclusive dar a conhecer o processo cotidiano de produção dos bens e serviços públicos. Nesse sentido, a atitude de transparência no âmbito público tem como aliado o processo de informatização, que permitiu às or- ganizações públicas se conhecerem e se darem a conhecer melhor. De fato, as últimas duas décadas foram ricas na expansão da atua- ção dos governos e de suas organizações no ambiente virtual, em especial na rede mundial de computadores, a internet. Esse fenômeno foi denominado de governo eletrônico. Hoje, praticamente todos os principais órgãos públicos possuem sofisti- cados sítios de internet. A disponibilização intensiva de serviços e informações públicas nos meios eletrônicos e digitais, as quais se servem de distintas pla- taformas de apresentação como computadores e dispositivos mó- veis (tablets e smartphones), não pode desconsiderar o existente nível de exclusão digital da comunidade, em especial quando para- lelamente ocorre uma diminuição da atenção presencial, sob pena de gerar uma grande quantidade de cidadãos alijados do atendi- mento de suas demandas por serviços públicos. 24 Curso transparência na gestão pública: controle cidadão/coordenação, Cliff Villar; ilustração, Carlus Campos. – Fortaleza: Edições Demócrito Rocha/TCE, 2017. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 24 Assim, espera-se que governos e órgãos públicos que adotam o governo eletrônico com maior intensidade incentivem também a diminuição da exclusão digital. A disseminação de iniciativas de governo eletrônico está forte- mente ligada à questão da transparência. Em verdade, é uma obri- gação dos governos democráticos facilitar o acesso a informações públicas e, assim, aproximar o cidadão do governo. O uso de sites para divulgar informações de maneira ampla é um instrumento fundamental para atender a esse princípio. Além da disponibilização de informações públicas por meio da internet, o processo de transparência e de acesso à informação deve ser efe- tivo, de forma que, mesmo não constando das atuais publicações, outros mecanismos operacionais de atendimento sejam oferecidos à cidadania. Ademais, os entes públicos devem incentivar a participação po- pular no debate sobre as próprias estratégias de implementação das políticas públicas, inclusive durante a elaboração do planeja- mento e dos orçamentos. De fato, o orçamento público é a lei por meio da qual os governos estabelecem e comunicam o que preten- dem fazer com recursos públicos arrecadados. Ainda que a iniciativa de elaboração dos orçamentos seja dos chefes de cada poder, Executivo, Legislativo e Judiciário, sua apro- vação passará sempre pelo parlamento. Nos municípios, essa lei é votada uma vez por ano na câmara municipal, representando um momento oportuno de participação da cidadania. Em muitas cidades do Brasil, a população participa ativamen- te do processo do orçamento, e os moradores decidem como será utilizado o dinheiro arrecadado ou recebido pela prefeitura; e, de- pois, acompanham de perto se essas decisões foram respeitadas no momento do gasto. Assim, para ter mais informações sobre o dinheiro público, cada cidadão também pode procurar os vereado- res da cidade. Eles têm o dever de fiscalizar o uso dos recursos públicos e de prestar informações sobre a gestão governamental, já que a Câma- ra Municipal fiscaliza a Prefeitura. No Brasil existe estrutura normativa que se vincula à adoção de práticas de transparência pública. As principais leis relacionadas ao tema em nível nacional são: • a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) – Lei Complementar 101, de 4 de maio de 2000; • a Lei de Acesso à Informação (LAI) – Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011. O Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Ge- ral da União é o órgão do Governo Federal responsável por realizar atividades relacionadas à defesa do patrimônio público e ao incre- mento da transparência da gestão, por meio de ações de controle interno, auditoria pública, correição, prevenção e combate à cor- rupção e ouvidoria. Também têm papel fundamental nesse âmbito os Tribunais de Contas e as Controladorias Gerais. Observando a prática de efetiva transparência e acesso à infor- mação dos estados e municípios brasileiros, a CGU idealizou a Esca- la Brasil Transparente (EBT), a partir da qual elaboraram-se rankings entre os estados e entre os municípios de cada um deles. Em nível internacional, o Brasil é um dos oito fundadores da Parceria para Governo Aberto ou OGP (do inglês, Open Government Partnership), criada em 2011, que pretende difundir e estimular, em nível global, práticas governamentais relacionadasà transparência dos gover- nos, ao acesso à informação pública e à participação social. O Comitê Interministerial Governo Aberto (Ciga), composto por 13 ministérios e coordenado pela Controladoria-Geral da União, tem o papel de orientar a implementação e a elaboração dos Planos de Ação do Brasil. Portal da Transparência Toda a discussão sobre acesso à informação, transparência, controle social, “accountability”, participação popular e cidadania seria absolutamente estéril se, ao fim, não fosse possível o exercí- cio prático da transparência pública. Um exemplo bem sucedido de iniciativas que têm promovido o substantivo incremento da trans- parência governamental é o Portal da Transparência25. A Administração Pública deve incrementar permanentemente a transparência pública, ampliando a divulgação das ações gover- namentais, o que contribui para o fortalecimento da democracia, valorizando e desenvolvendo as noções de cidadania. Quanto mais informado o cidadão, mais ele pode participar dos processos deci- sórios públicos e identificar suas falhas, aumentando a eficiência da gestão e contribuindo para o combate à corrupção, pois o país passa a contar com milhões de fiscais da boa administração pública. Para tanto, o Governo Federal criou um portal que permite ao cidadão o acompanhamento da execução financeira dos seus pro- gramas e ações: o Portal da Transparência. O Portal da Transpa- rência do Governo Federal é um canal pelo qual o cidadão pode acompanhar a utilização dos recursos federais arrecadados com impostos no fornecimento de serviços públicos à população, além de se informar sobre outros assuntos relacionados à Administração Pública Federal. O site, lançado em 2004 e remodelado em junho de 2018, é mantido pela CGU e tem o objetivo de garantir e ampliar a transpa- rência da gestão pública e fortalecer a participação social na fiscali- zação dos gastos e investimentos do Poder Executivo Federal. Por meio dele, qualquer cidadão pode obter informações sobre a correta aplicação dos recursos públicos, principalmente no que diz respeito às ações destinadas à sua comunidade. Dentro eviden- temente da lógica do Governo Eletrônico, o portal está disponível na internet, no endereço eletrônico www.portaldatransparencia. gov.br. Trata-se de importante ferramenta para o controle social, per- mitindo ao cidadão conhecer o destino do dinheiro público, am- pliando as condições de controle desse dinheiro. O Portal usa lin- guagem simples e é de fácil navegação, podendo ser acessado, sem necessidade de uso de senha, e utilizado por pessoas ainda que sem familiaridade com o sistema orçamentário-financeiro brasileiro. As principais consultas disponíveis são: • Gastos Diretos do Governo – compras ou contratação de obras e serviços. A pesquisa é estruturada e pode ser feita por ór- gão ou por tipo de despesa, e, ainda, podem ser consultados os gas- tos realizados por meio de Cartões de Pagamentos do Governo Fe- deral (conhecidos também como cartões corporativos do governo); • Transferências de Recursos – como é feita a transferência do dinheiro público federal a estados, municípios, Distrito Federal e mesmo diretamente ao cidadão, como é o caso do Bolsa Família. Pode-se também consultar a distribuição de recursos de programas como o Bolsa Família, a merenda escolar e a aplicação de recursos do Sistema Único de Saúde (SUS), entre outros; • Recursos que transitam por convênios firmados pelo Gover- no Federal, possibilitando verificar se as entidades municipais, es- taduais ou mesmo privadas estão dando correto andamento às ati- vidades realizadas com recursos federais repassados via convênio; • Remuneração de servidores públicos. 25 Curso transparência na gestão pública: controle cidadão/coordenação, Cliff Villar; ilustração, Carlus Campos. – Fortaleza: Edições Demócrito Rocha/TCE, 2017. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 25 Os estados e muitos municípios brasileiros também já estrutu- raram seus portais de transparência. DESCONCENTRAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA Administração direta e indireta A princípio, infere-se que Administração Direta é correspon- dente aos órgãos que compõem a estrutura das pessoas federativas que executam a atividade administrativa de maneira centralizada. O vocábulo “Administração Direta” possui sentido abrangente vindo a compreender todos os órgãos e agentes dos entes federados, tanto os que fazem parte do Poder Executivo, do Poder Legislativo ou do Poder Judiciário, que são os responsáveis por praticar a atividade administrativa de maneira centralizada. Já a Administração Indireta, é equivalente às pessoas jurídicas criadas pelos entes federados, que possuem ligação com as Admi- nistrações Diretas, cujo fulcro é praticar a função administrativa de maneira descentralizada. Tendo o Estado a convicção de que atividades podem ser exer- cidas de forma mais eficaz por entidade autônoma e com persona- lidade jurídica própria, o Estado transfere tais atribuições a particu- lares e, ainda pode criar outras pessoas jurídicas, de direito público ou de direito privado para esta finalidade. Optando pela segunda opção, as novas entidades passarão a compor a Administração Indi- reta do ente que as criou e, por possuírem como destino a execução especializado de certas atividades, são consideradas como sendo manifestação da descentralização por serviço, funcional ou técnica, de modo geral. Desconcentração e Descentralização Consiste a desconcentração administrativa na distribuição in- terna de competências, na esfera da mesma pessoa jurídica. Assim sendo, na desconcentração administrativa, o trabalho é distribuído entre os órgãos que integram a mesma instituição, fato que ocorre de forma diferente na descentralização administrativa, que impõe a distribuição de competência para outra pessoa, física ou jurídica. Ocorre a desconcentração administrativa tanto na administra- ção direta como na administração indireta de todos os entes fede- rativos do Estado. Pode-se citar a título de exemplo de desconcen- tração administrativa no âmbito da Administração Direta da União, os vários ministérios e a Casa Civil da Presidência da República; em âmbito estadual, o Ministério Público e as secretarias estaduais, dentre outros; no âmbito municipal, as secretarias municipais e as câmaras municipais; na administração indireta federal, as várias agências do Banco do Brasil que são sociedade de economia mista, ou do INSS com localização em todos os Estados da Federação. Ocorre que a desconcentração enseja a existência de vários órgãos, sejam eles órgãos da Administração Direta ou das pessoas jurídicas da Administração Indireta, e devido ao fato desses órgãos estarem dispostos de forma interna, segundo uma relação de su- bordinação de hierarquia, entende-se que a desconcentração admi- nistrativa está diretamente relacionada ao princípio da hierarquia. Registra-se que na descentralização administrativa, ao invés de executar suas atividades administrativas por si mesmo, o Estado transfere a execução dessas atividades para particulares e, ainda a outras pessoas jurídicas, de direito público ou privado. Explicita-se que, mesmo que o ente que se encontre distribuin- do suas atribuições e detenha controle sobre as atividades ou ser- viços transferidos, não existe relação de hierarquia entre a pessoa que transfere e a que acolhe as atribuições. Criação, extinção e capacidade processual dos órgãos públicos Os arts. 48, XI e 61, § 1º da CFB/1988 dispõem que a criação e a extinção de órgãos da administração pública dependem de lei de iniciativa privativa do chefe do Executivo a quem compete, de forma privada, e por meio de decreto, dispor sobre a organização e funcionamento desses órgãos públicos, quando não ensejar au- mento de despesas nem criação ou extinção de órgãos públicos (art. 84, VI, b, CF/1988). Desta forma, para que haja a criação e ex- tinção de órgãos, existe a necessidade de lei, no entanto, para dis- por sobre a organizaçãodo “crack” da Bolsa de Nova York, como o café era na época nosso principal produto de exportação, a crise dos EUA causou tanto a queda no volume das exportações, como a queda nos preços da saca do café. A reação brasileira à essa crise foi centralizar e fechar a economia para poder desenvolver instituições e mercados, sem a exportação do café, o governo brasileiro não tinha mais como comprar os produtos de outras nações (necessários para atender à demanda da sociedade), não havia saldo na balança comercial para o pagamento desses pro- dutos e isso iria influenciar diretamente a industrialização brasileira via substituição de importações. O campo político-econômico-social era protagonista de lutas interclasses, a classe oligárquica batalhando para assegurar seu po- der político e prestígio, ao mesmo tempo em que seu poder eco- nômico ia perdendo espaço para as novas formas de acumulação. Enquanto isso a burguesia industrial em ascensão fortalecia pro- gressivamente seu poder econômico e ampliava o espaço político na estrutura social em transformação. 3LUSTOSA DA COSTA, Frederico. Estado, reforma do Estado e democracia no Brasil da Nova República. Revista de Administração Pública, v. 32, n. 4, 1998. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 2 As camadas mais populares, os trabalhadores das fábricas, fun- cionários públicos e a grande massa camponesa tinham pouco po- der para influenciar politicamente esse processo, e presenciavam a distância o processo de transição. Vargas era um estadista frio no uso do poder, porém apaixonado pela missão de mudar o país, ele lidera com extraordinária competência política e administrativa a transição4. No início houve grande concentração de poderes nas mãos do Poder Executivo, com nomeação de interventores para os governos estaduais. Mesmo com a Constituição de 1934 restaurando direitos aos cidadãos, restabelecendo o Legislativo e devolvendo a autono- mia aos Estados, os recursos e encargos ficaram concentrados na União. As primeiras medidas adotadas por Vargas foram de cunho sa- neador das finanças públicas, e de racionalização administrativa. Fato decorrente, seguiu-se uma significativa centralização no nível político, econômico e administrativo, emergindo um Estado Autori- tário, que deu início ao processo de modernização da Administra- ção Pública e de industrialização do país. Vê-se um novo Estado, que ultrapassa as funções tradicionais de regulação social e econômica, e que intervém fortemente na economia com vistas a promover o desenvolvimento econômico do país. Esse estado novo e forte fez surgir o que alguns autores deno- minaram “Estado administrativo”. Com o objetivo de realizar a modernização administrativa, foi criado o Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), em 1936. Os principais objetivos do DASP resumem-se em: – Definir política para a gestão de pessoal; – Centralizar e reorganizar a administração pública mediante ampla reforma; – Racionalizar métodos, procedimentos e processos adminis- trativos em geral. Num sentido mais amplo, o objetivo era combater as práticas patrimonialistas de gestão. O DASP era um órgão singular e dotado de amplos poderes, ele promoveu a unificação dos recursos huma- nos, mediante a universalização do sistema de mérito, e da área de materiais, por meio da padronização dos materiais permanentes e de consumo a ser utilizada por toda a administração. Cabe ressaltar que a reforma administrativa realizada através do DASP trazia a ideia de modernização, de aumento na produtivi- dade e na eficiência. Destacam-se ainda os seguintes aspectos ca- racterísticos da reforma do DASP: – O imediatismo da reforma; – A observância às normas gerais e inflexíveis; – O centralismo (administrativo, econômico e político); – A ênfase no controle, e não na orientação e acompanhamen- to; – A perspectiva globalizante em oposição ao caráter gradual e seletivo. A promoção da administração burocrática no serviço público se baseava na padronização, normatização e implantação de meca- nismo de controle que promoveu uma série de transformações no aparelho de Estado partir de 1937. Foram criadas diversas empre- sas públicas, sociedades de economia mista e fundações, inclusive a Companhia Vale do Rio Doce. Antigas práticas clientelistas e um resquício de administração patrimonialista, que ainda persistiam no governo federal. A refor- ma administrativa do Estado Novo foi, portanto, o primeiro esforço sistemático de superação do patrimonialismo. 4BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Do Estado patrimonial ao gerencial. Brasil: um século de transformações. São Paulo: Cia das Letras, 2001. Foi uma ação deliberada e ambiciosa no sentido da burocratiza- ção do Estado brasileiro, que buscava introduzir no aparelho admi- nistrativo do país a centralização, a impessoalidade, a hierarquia, o sistema de mérito, a separação entre o público e o privado. A Administração Paralela do Governo JK Na década de 1950, a Administração paralela de JK era formada por: – Grupos de trabalho: ligados ao Conselho de Desenvolvimen- to que atuavam na preparação de projetos de leis e decretos, de acordo com os objetivos do Plano de Metas; – Grupos Executivos: compostos de administradores do Estado e representantes das empresas privadas. Os Grupos Executivos aprovavam os projetos elaborados pe- los Grupos de Trabalho, e os Grupos de Trabalho eram criados por decreto e tinham autonomia orçamentária e para recrutamento de pessoal, e ficavam fora das injunções políticas, comuns em outros órgãos do Estado. Os objetivos da Administração Paralela consistiam em: – Racionalizar as ações do Estado Brasileiro na área econômica facilitando a implementação do Plano de Metas; – Libertar o governo da política clientelística de empregos, já que os órgãos eram criados pelo presidente e tinham autonomia orçamentária; – Cooptar os militares, colaborando para a preservação da es- tabilidade política do período. O governo republicano de Juscelino Kubitschek (1956 - 1961) foi marcado pelo plano de ação “Cinquenta anos em cinco”, que foi uma marca do desenvolvimentismo, que tinha destaque para quatro setores-chave: energia, transporte, indústria pesada e ali- mentação. A promessa de industrialização acelerada amparada em capitais nacionais e estrangeiros, com ênfase na indústria de bens duráveis, automobilística (entrada das empresas estrangeiras Chrysler e Ford), e de transporte rodoviário, acabou por endividar o Brasil. A criação da COSB (Comissão de Simplificação Burocrática) e da CEPA (Comissão de Estudos e Projetos Administrativos), em 1956, representa as primeiras tentativas de realizar as chamadas refor- mas globais. O objetivo principal da COSB era promover estudos visando à descentralização dos serviços, por meio da avaliação das atribuições de cada órgão ou instituição e da delegação de compe- tências, com a fixação de sua esfera de responsabilidade e da pres- tação de contas das autoridades. Já a CEPA tinha a incumbência de assessorar a presidência da República em tudo que se referisse aos projetos de reforma admi- nistrativa. A administração direta estava entregue ao clientelismo e submetida, aos ditames de normas rígidas e controles, já a ad- ministração descentralizada (autarquias, empresas, institutos, en- tre outros) eram dotadas de maior autonomia gerencial e podiam recrutar seus quadros sem concursos. A coordenação política das ações se fazia através dos grupos executivos nomeados pelo presidente da República. Na década de 1960, o governo de João Goulart criou a Comis- são Amaral Peixoto, cuja missão era projetar uma ampla reforma administrativa, objetivando a descentralização administrativa e a delegação de competências. Porém, com o Golpe de 1964, o novo governo retirou do Congresso Nacional o projeto de lei elaborado pela Comissão Amaral Peixoto para reexame do assunto por parte do Poder Executivo. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 3 Instituiu-se a COMESTRA (Comissão Especial de Estudos da Re- formae o funcionamento, denota-se que poderá ser utilizado ato normativo inferior à lei, que se trata do decreto. Caso o Poder Executivo Federal desejar criar um Ministério a mais, o presidente da República deverá encaminhar projeto de lei ao Con- gresso Nacional. Porém, caso esse órgão seja criado, sua estrutu- ração interna deverá ser feita por decreto. Na realidade, todos os regimentos internos dos ministérios são realizados por intermédio de decreto, pelo fato de tal ato se tratar de organização interna do órgão. Vejamos: ÓRGÃO — é criado por meio de lei. ORGANIZAÇÃO INTERNA — pode ser feita por DECRETO, des- de que não provoque aumento de despesas, bem como a criação ou a extinção de outros órgãos. ÓRGÃOS DE CONTROLE — Trata-se dos prepostos a fiscalizar e controlar a atividade de outros órgãos e agentes”. Exemplo: Tribu- nal de Contas da União. Pessoas administrativas Explicita-se que as entidades administrativas são a própria Ad- ministração Indireta, composta de forma taxativa pelas autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista. De forma contrária às pessoas políticas, tais entidades, nao são reguladas pelo Direito Administrativo, não detendo poder político e encontram-se vinculadas à entidade política que as criou. Não existe hierarquia entre as entidades da Administração Pública in- direta e os entes federativos que as criou. Ocorre, nesse sentido, uma vinculação administrativa em tais situações, de maneira que os entes federativos somente conseguem manter-se no controle se as entidades da Administração Indireta estiverem desempenhando as funções para as quais foram criadas de forma correta. Pessoas políticas As pessoas políticas são os entes federativos previstos na Cons- tituição Federal. São eles a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Denota-se que tais pessoas ou entes, são regidos pelo Direito Constitucional, vindo a deter uma parcela do poder político. Por esse motivo, afirma-se que tais entes são autônomos, vindo a se organizar de forma particular para alcançar as finalidades aven- çadas na Constituição Federal. Assim sendo, não se confunde autonomia com soberania, pois, ao passo que a autonomia consiste na possibilidade de cada um dos entes federativos organizar-se de forma interna, elaborando suas leis e exercendo as competências que a eles são determinadas pela Constituição Federal, a soberania nada mais é do que uma caracte- rística que se encontra presente somente no âmbito da República Federativa do Brasil, que é formada pelos referidos entes federati- vos. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 26 Autarquias As autarquias são pessoas jurídicas de direito público interno, criadas por lei específica para a execução de atividades especiais e típicas da Administração Pública como um todo. Com as autarquias, a impressão que se tem, é a de que o Estado veio a descentralizar determinadas atividades para entidades eivadas de maior especia- lização. As autarquias são especializadas em sua área de atuação, dan- do a ideia de que os serviços por elas prestados são feitos de forma mais eficaz e venham com isso, a atingir de maneira contundente a sua finalidade, que é o bem comum da coletividade como um todo. Por esse motivo, aduz-se que as autarquias são um serviço público descentralizado. Assim, devido ao fato de prestarem esse serviço público especializado, as autarquias acabam por se assemelhar em tudo o que lhes é possível, ao entidade estatal a que estiverem ser- vindo. Assim sendo, as autarquias se encontram sujeitas ao mesmo regime jurídico que o Estado. Nos dizeres de Hely Lopes Meirelles, as autarquias são uma “longa manus” do Estado, ou seja, são exe- cutoras de ordens determinadas pelo respectivo ente da Federação a que estão vinculadas. As autarquias são criadas por lei específica, que de forma obri- gacional deverá ser de iniciativa do Chefe do Poder Executivo do ente federativo a que estiver vinculada. Explicita-se também que a função administrativa, mesmo que esteja sendo exercida tipica- mente pelo Poder Executivo, pode vir a ser desempenhada, em re- gime totalmente atípico pelos demais Poderes da República. Em tais situações, infere-se que é possível que sejam criadas autarquias no âmbito do Poder Legislativo e do Poder Judiciário, oportunidade na qual a iniciativa para a lei destinada à sua criação, deverá, obriga- toriamente, segundo os parâmetros legais, ser feita pelo respectivo Poder. Empresas Públicas Sociedades de Economia Mista São a parte da Administração Indireta mais voltada para o di- reito privado, sendo também chamadas pela maioria doutrinária de empresas estatais. Tanto a empresas públicas, quanto as sociedades de economia mista, no que se refere à sua área de atuação, podem ser divididas entre prestadoras diversas de serviço público e plenamente atuan- tes na atividade econômica de modo geral. Assim sendo, obtemos dois tipos de empresas públicas e dois tipos de sociedades de eco- nomia mista. Ressalta-se que ao passo que as empresas estatais explorado- ras de atividade econômica estão sob a égide, no plano constitu- cional, pelo art. 173, sendo que a sua atividade se encontra regida pelo direito privado de maneira prioritária, as empresas estatais prestadoras de serviço público são reguladas, pelo mesmo diploma legal, pelo art. 175, de maneira que sua atividade é regida de forma exclusiva e prioritária pelo direito público. Observação importante: todas as empresas estatais, sejam prestadoras de serviços públicos ou exploradoras de atividade eco- nômica, possuem personalidade jurídica de direito privado. O que diferencia as empresas estatais exploradoras de ativida- de econômica das empresas estatais prestadoras de serviço público é a atividade que exercem. Assim, sendo ela prestadora de serviço público, a atividade desempenhada é regida pelo direito público, nos ditames do artigo 175 da Constituição Federal que determina que “incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos.” Já se for exploradora de atividade econômica, como maneira de evitar que o princípio da livre con- corrência reste-se prejudicado, as referidas atividades deverão ser reguladas pelo direito privado, nos ditames do artigo 173 da Consti- tuição Federal, que assim determina: Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será per- mitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. § 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da socieda- de de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de presta- ção de serviços, dispondo sobre: I – sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela sociedade; II – a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas priva- das, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, tra- balhistas e tributários; III – licitação e contratação de obras, serviços, compras e alie- nações, observados os princípios da Administração Pública; IV – a constituição e o funcionamento dos conselhos de Admi- nistração e fiscal, com a participação de acionistas minoritários; V – os mandatos, a avaliação de desempenho e a responsabili- dade dos administradores Vejamos em síntese, algumas características em comum das empresas públicas e das sociedades de economia mista: • Devem realizar concurso público para admissão de seus em- pregados; • Não estão alcançadas pela exigência de obedecer ao teto constitucional; • Estão sujeitas ao controle efetuado pelos Tribunais de Contas, bem como ao controle do Poder Legislativo; • Não estão sujeitas à falência; • Devem obedecer às normas de licitação e contrato adminis- trativo no que se refere às suas atividades-meio; • Devem obedecerà vedação à acumulação de cargos prevista constitucionalmente; • Não podem exigir aprovação prévia, por parte do Poder Legis- lativo, para nomeação ou exoneração de seus diretores. Fundações e outras entidades privadas delegatárias Identifica-se no processo de criação das fundações privadas, duas características que se encontram presentes de forma contun- dente, sendo elas a doação patrimonial por parte de um instituidor e a impossibilidade de terem finalidade lucrativa. O Decreto 200/1967 e a Constituição Federal Brasileira de 1988 conceituam Fundação Pública como sendo um ente de direito pre- dominantemente de direito privado, sendo que a Constituição Fe- deral dá à Fundação o mesmo tratamento oferecido às Sociedades de Economia Mista e às Empresas Públicas, que permite autoriza- ção da criação, por lei e não a criação direta por lei, como no caso das autarquias. Entretanto, a doutrina majoritária e o STF aduzem que a Fun- dação Pública poderá ser criada de forma direta por meio de lei específica, adquirindo, desta forma, personalidade jurídica de direi- to público, vindo a criar uma Autarquia Fundacional ou Fundação Autárquica. Observação importante: a autarquia é definida como serviço personificado, ao passo que uma autarquia fundacional é conceitu- ada como sendo um patrimônio de forma personificada destinado a uma finalidade específica de interesse social. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 27 Vejamos como o Código Civil determina: Art. 41 - São pessoas jurídicas de direito público interno:(...) IV - as autarquias, inclusive as associações públicas; V - as demais entidades de caráter público criadas por lei. No condizente à Constituição, denota-se que esta não faz dis- tinção entre as Fundações de direito público ou de direito privado. O termo Fundação Pública é utilizado para diferenciar as fundações da iniciativa privada, sem que haja qualquer tipo de ligação com a Administração Pública. No entanto, determinadas distinções poderão ser feitas, como por exemplo, a imunidade tributária recíproca que é destinada so- mente às entidades de direito público como um todo. Registra-se que o foro de ambas é na Justiça Federal. Delegação Social Organizações sociais As organizações sociais são entidades privadas que recebem o atributo de Organização Social. Várias são as entidades criadas por particulares sob a forma de associação ou fundação que de- sempenham atividades de interesse público sem fins lucrativos. Ao passo que algumas existem e conseguem se manter sem nenhuma ligação com o Estado, existem outras que buscam se aproximar do Estado com o fito de receber verbas públicas ou bens públicos com o objetivo de continuarem a desempenhar sua atividade social. Nos parâmetros da Lei 9.637/1998, o Poder Executivo Federal poderá constituir como Organizações Sociais pessoas jurídicas de direito privado, que não sejam de fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tec- nológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde, atendidos os requisitos da lei. Ressalte-se que as entidades privadas que vierem a atuar nessas áreas poderão receber a quali- ficação de OSs. Lembremos que a Lei 9.637/1998 teve como fulcro transferir os serviços que não são exclusivos do Estado para o setor privado, por intermédio da absorção de órgãos públicos, vindo a substituí-los por entidades privadas. Tal fenômeno é conhecido como publiciza- ção. Com a publicização, quando um órgão público é extinto, logo, outra entidade de direito privado o substitui no serviço anterior- mente prestado. Denota-se que o vínculo com o poder público para que seja feita a qualificação da entidade como organização social é estabelecido com a celebração de contrato de gestão. Outrossim, as Organizações Sociais podem receber recursos orçamentários, utili- zação de bens públicos e servidores públicos. Organizações da sociedade civil de interesse público São conceituadas como pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, nas quais os objetivos sociais e normas estatu- tárias devem obedecer aos requisitos determinados pelo art. 3º da Lei n. 9.790/1999. Denota-se que a qualificação é de competência do Ministério da Justiça e o seu âmbito de atuação é parecido com o da OS, entretanto, é mais amplo. Vejamos: Art. 3º A qualificação instituída por esta Lei, observado em qualquer caso, o princípio da universalização dos serviços, no res- pectivo âmbito de atuação das Organizações, somente será conferi- da às pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujos objetivos sociais tenham pelo menos uma das seguintes finalidades: I – promoção da assistência social; II – promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; III – promoção gratuita da educação, observando-se a forma complementar de participação das organizações de que trata esta Lei; IV – promoção gratuita da saúde, observando-se a forma com- plementar de participação das organizações de que trata esta Lei; V – promoção da segurança alimentar e nutricional; VI – defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável; VII – promoção do vo- luntariado; VIII – promoção do desenvolvimento econômico e social e com- bate à pobreza; IX – experimentação, não lucrativa, de novos modelos sociopro- dutivos e de sistemas alternativos de produção, comércio, emprego e crédito; X – promoção de direitos estabelecidos, construção de novos direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar; XI – promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos hu- manos, da democracia e de outros valores universais; XII – estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias al- ternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e científicos que digam respeito às atividades mencionadas neste artigo. A lei das Oscips apresenta um rol de entidades que não podem receber a qualificação. Vejamos: Art. 2º Não são passíveis de qualificação como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, ainda que se dediquem de qualquer forma às atividades descritas no art. 3º desta Lei: I – as sociedades comerciais; II – os sindicatos, as associações de classe ou de representação de categoria profissional; III – as instituições religiosas ou voltadas para a disseminação de credos, cultos, práticas e visões devocionais e confessionais; IV – as organizações partidárias e assemelhadas, inclusive suas fundações; V – as entidades de benefício mútuo destinadas a proporcionar bens ou serviços a um círculo restrito de associados ou sócios; VI – as entidades e empresas que comercializam planos de saú- de e assemelhados; VII – as instituições hospitalares privadas não gratuitas e suas mantenedoras; VIII – as escolas privadas dedicadas ao ensino formal não gra- tuito e suas mantenedoras; IX – as Organizações Sociais; X – as cooperativas; Por fim, registre-se que o vínculo de união entre a entidade e o Estado é denominado termo de parceria e que para a qualifi- cação de uma entidade como Oscip, é exigido que esta tenha sido constituída e se encontre em funcionamento regular há, pelo me- nos, três anos nos termos do art. 1º, com redação dada pela Lei n. 13.019/2014. O Tribunal de Contas da União tem entendido que o vínculo firmado pelo termo de parceria por órgãos ou entidades da Administração Pública com Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público não é demandante de processo de licitação. De acordo com o que preceitua o art. 23 do Decreto n. 3.100/1999, deverá haver a realização de concurso de projetos pelo órgão es- tatal interessado em construir parceria com Oscips para que venha a obter bens e serviços para a realização de atividades, eventos, consultorias, cooperação técnica e assessoria. Entidades de utilidade pública O Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado trouxe em seu bojo, dentre várias diretrizes, a publicizaçãodos serviços esta- tais não exclusivos, ou seja, a transferência destes serviços para o setor público não estatal, o denominado Terceiro Setor. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 28 Podemos incluir entre as entidades que compõem o Terceiro Setor, aquelas que são declaradas como sendo de utilidade pública, os serviços sociais autônomos, como SESI, SESC, SENAI, por exem- plo, as organizações sociais (OS) e as organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIP). É importante explicitar que o crescimento do terceiro setor está diretamente ligado à aplicação do princípio da subsidiarieda- de na esfera da Administração Pública. Por meio do princípio da subsidiariedade, cabe de forma primária aos indivíduos e às orga- nizações civis o atendimento dos interesses individuais e coletivos. Assim sendo, o Estado atua apenas de forma subsidiária nas de- mandas que, devido à sua própria natureza e complexidade, não puderam ser atendidas de maneira primária pela sociedade. Dessa maneira, o limite de ação do Estado se encontraria na autossufici- ência da sociedade. Em relação ao Terceiro Setor, o Plano Diretor do Aparelho do Estado previa de forma explícita a publicização de serviços públicos estatais que não são exclusivos. A expressão publicização significa a transferência, do Estado para o Terceiro Setor, ou seja um setor público não estatal, da execução de serviços que não são exclusivos do Estado, vindo a estabelecer um sistema de parceria entre o Es- tado e a sociedade para o seu financiamento e controle, como um todo. Tal parceria foi posteriormente modernizada com as leis que instituíram as organizações sociais e as organizações da sociedade civil de interesse público. O termo publicização também é atribuído a um segundo sen- tido adotado por algumas correntes doutrinárias, que corresponde à transformação de entidades públicas em entidades privadas sem fins lucrativos. No que condizente às características das entidades que com- põem o Terceiro Setor, a ilustre Maria Sylvia Zanella Di Pietro enten- de que todas elas possuem os mesmos traços, sendo eles: 1. Não são criadas pelo Estado, ainda que algumas delas te- nham sido autorizadas por lei; 2. Em regra, desempenham atividade privada de interesse pú- blico (serviços sociais não exclusivos do Estado); 3. Recebem algum tipo de incentivo do Poder Público; 4. Muitas possuem algum vínculo com o Poder Público e, por isso, são obrigadas a prestar contas dos recursos públicos à Admi- nistração 5. Pública e ao Tribunal de Contas; 6. Possuem regime jurídico de direito privado, porém derroga- do parcialmente por normas direito público; Assim, estas entidades integram o Terceiro Setor pelo fato de não se enquadrarem inteiramente como entidades privadas e tam- bém porque não integram a Administração Pública Direta ou Indi- reta. Convém mencionar que, como as entidades do Terceiro Setor são constituídas sob a forma de pessoa jurídica de direito privado, seu regime jurídico, normalmente, via regra geral, é de direito pri- vado. Acontece que pelo fato de estas gozarem normalmente de algum incentivo do setor público, também podem lhes ser aplicá- veis algumas normas de direito público. Esse é o motivo pelo qual a conceituada professora afirma que o regime jurídico aplicado às en- tidades que integram o Terceiro Setor é de direito privado, podendo ser modificado de maneira parcial por normas de direito público. GOVERNABILIDADE, GOVERNANÇA E ACCOUNTABILITY Com o passar dos anos, a administração pública tem incorpo- rado - e aplicado - alguns conceitos oriundos da administração pri- vada, como: • governabilidade, a qual diz respeito a uma capacidade po- lítica do Estado; • governança, que refere-se à capacidade da administração de executar as políticas públicas; e • accountability, que corresponde principalmente à pres- tação de contas da administração para a sociedade, mas não fica limitada a isto. Governabilidade A governabilidade da administração pública tem forte relação com a afinidade de legitimidade do gestor público em relação à so- ciedade. Sem legitimidade não há como se falar em governabilida- de. Diz respeito a uma capacidade política do Estado, refletindo na credibilidade e imagem pública da burocracia. Conforme Paludo (2013, p. 128), governabilidade significa tam- bém que “o governo deve tomar decisões amparadas num processo que inclua a participação dos diversos setores da sociedade, dos poderes constituídos, das instituições públicas e privadas e segmen- tos representativos da sociedade, para garantir que as escolhas efe- tivamente atendam aos anseios da sociedade, e contem com seu apoio na implementação dos programas/projetos e na fiscalização dos serviços públicos”. A fonte ou origem da governabilidade é representada pelos cidadãos e pela cidadania organizada, os partidos políticos, as as- sociações e demais agrupamentos representativos da sociedade (PALUDO, 2013). Sendo assim, o desafio maior da governabilidade está em con- ciliar as divergências constantes nos interesses dos diversos atores da sociedade, e uní-las em um ou vários objetivos comuns. Por- tanto, a viabilização dos objetivos políticos do Estado está muito relacionada com a capacidade de articulação em alianças políticas e pactos sociais. Governança A governança possui um caráter mais amplo que a governabi- lidade e refere-se a uma capacidade administrativa de executar as políticas públicas. Pereira (1997) explica que um governo pode ter governabilida- de, na medida em que seus dirigentes contem com os necessários apoios políticos para governar, e no entanto pode governar mal por lhe faltar a capacidade da governança. A governança no contexto da administração pública é um refle- xo da governança corporativa da administração privada. As boas práticas de governança corporativa surgiram como uma busca para solucionar conflitos entre acionistas e gestores a respeito do desempenho do patrimônio, da sustentabilidade finan- ceira e da transparência na gestão. A governança é também reflexo das relações da organização com seus stakeholders (partes interes- sadas). De acordo com Paludo (2013), a governança é instrumental, pois é o braço da governabilidade. Além disso, relaciona-se com competência técnica, abrangendo as capacidades gerencial, finan- ceira e técnica propriamente dita. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 29 A fonte de origem da governança é, em sentido lato, os agentes públicos, e em sentido estrito os servidores públicos. Accountability Por sua vez, a accountability trata da prestação de contas, mas não apenas isso. A accountability possui três planos: 1. Prestação de contas: irá refletir na transparência do go- verno com a população. Exemplo: o Relatório de Gestão Fiscal, ins- tituído pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF); 2. Responsabilização dos agentes: os agentes devem res- ponsabilizar-se pela correta utilização dos recursos. Exemplo: a Lei de Improbidade Administrativa (LIA), que instituiu mecanismos para punir maus gestores; 3. Responsividade dos agentes: diz respeito à capacidade de resposta do poder público às demandas sociais. Um governo res- ponsivo buscará satisfazer as necessidades da população e colocar em prática as políticas escolhidas pelos cidadãos. Podemos ainda classificar a accountability em dois tipos: 1. Horizontal: não há hierarquia, pois corresponde a uma mútua fiscalização e controle existente entre os poderes. Exemplos: prefeitura recebe recursos do governo e a CGU faz uma auditoria; atuação dos Tribunais de Contas, do Ministério Público; 2. Vertical: trata do controle da população sobre o gover- no. É uma relação entre desiguais, pois o povo pode fiscalizar e punir as más gestões, principalmente através do voto em eleições livres e justas. “É algo que depende de mecanismos institucionais, sobretudo da existência de eleições competitivas periódicas, e que é exercido pelo povo” (Miguel, 2005). Conclusões A governabilidade, a governança e a accountability constituemdiferentes conceitos, mas que trabalhados conjuntamente corres- pondem a fatores essenciais para a boa gestão de um Estado. Para finalizar, cabe ressaltar que a governabilidade está forte- mente relacionada com a legitimidade; a governança é mais ampla que a governabilidade, e está relacionada com a capacidade de exe- cução e com competência técnica; já a accountability está relacio- nada com o uso do poder e dos recursos públicos, em que o titular da coisa pública é o cidadão e não os políticos eleitos. Sendo assim: Podemos dizer que a governança mostra a direção que uma empresa deve seguir para alcançar os resultados esperados. A governança corporativa tem suas bases fundamentadas na Teoria da Agência, que trata das questões associadas à relação en- tre principais e agentes. Você deve estar se perguntando: “Tá, mas quem são essas pes- soas?” Atribui-se a posição de principais aos donos da empresa. Já os agentes são as pessoas contratadas pelos donos para administrar o negócio e representar seus interesses. Contudo, nem sempre é isso o que acontece. Os administradores também possuem suas próprias demandas e podem acabar cometendo deslizes, por diversos motivos. Mas, você sabia que dá para evitar e contornar esses deslizes? Para que serve a governança corporativa? A governança corporativa assegura que os interesses dos admi- nistradores estejam alinhados aos interesses dos donos do negócio. Ela garante que os processos e as estratégias estão sendo correta- mente seguidos, além de promover uma cultura de prestação de contas na empresa. Afinal de contas, como as empresas dependem das pessoas para conduzir seus processos, é importante que haja um monito- ramento para minimizar impactos em caso de deslizes. A regulação da relação entre administradores e donos é feita de três formas: através de regras, auditorias e restrições de autonomia. 1. Regras Estabelecer regras significa estipular normas para estruturar a organização e limitar o comportamento indesejável dos administra- dores, conduzindo as suas decisões. 2. Auditorias Fazer auditorias é fundamental para checar se as regras estabe- lecidas previamente estão sendo cumpridas ou não, além de moni- torar as ações dos administradores. 3. Restrições de autonomia Impor restrições de autonomia se trata de limitar a atuação dos administradores e determinar ações que eles estão autorizados a fazer. Vale lembrar que, dependendo da intensidade de como esse controle é feito, pode-se obter diferentes efeitos, como veremos no próximo tópico. Impactos da governança corporativa nas empresas Você já parou para pensar o que acontece quando os donos do negócio impõem muitas regras e restrições? Ou pior, quando não estabelecem regras e restrições suficientes? Em uma governança muito forte, o administrador não conse- gue fazer seu trabalho, pois não possui autonomia para isso. Ele está sempre “amarrado” à decisão de outras pessoas. Podemos observar esse tipo de governança na área pública e em grandes empresas. Já em uma governança muito fraca, as chances do admi- nistrador usar de má-fé para buscar apenas seus próprios interesses aumentam significativamente. Ou, pode ser que ele não atue com a competência necessária. Esse tipo de governança pode ser obser- vado em startups e em pequenas empresas. Encontrar um ponto de equilíbrio é o grande dilema da gover- nança corporativa ideal! Por isso, é preciso cuidar para que os ins- trumentos de controle não sejam mais caros que eventuais prejuí- zos dos administradores. O conceito de governança também pode ser aplicado em ou- tros campos de negócio, para além da esfera organizacional. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 30 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 31 NOVA GESTÃO PÚBLICA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 32 GERENCIALISMO PURO CONSUMERISMO CRÍTICAS AO MODELO DE CONSUMIDOR SERVIÇO ORIENTADO AO CIDADÃO ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 33 NOVA GESTÃO PÚBLICA: OBJETIVOS GOVERNANÇA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 34 NOVA GESTÃO PÚBLICA: PRINCÍPIOS GESTÃO BUROCRÁTICA x GERENCIAL ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 35 GESTÃO PÚBLICA EMPREENDEDORA Empreendedorismo governamental e novas lideranças no se- tor público. A obra de David Osborne e Ted Gaebler, “Reinventando o go- verno” (1994), é um dos marcos na literatura internacional sobre a nova administração pública, notadamente com relação aos seus reflexos na administração pública norte-americana. Os autores propõem um modelo que incorpora conceitos que estiveram separados no desenvolvimento do modelo gerencial in- glês, tais como a implantação de uma administração por objetivos — ou por missões —, a mensuração do desempenho das agências através dos resultados, a busca da qualidade total como método administrativo, a ênfase no cliente, a transferência do poder aos cidadãos, e tentar garantir a eqüidade. Osborne e Gaebler propõem uma redefinição da atividade go- vernamental. “Nosso problema fundamental é o fato de termos o tipo inadequado de governo. Não necessitamos de mais ou menos governo: precisamos de melhor governo. Para sermos mais preci- sos, precisamos de uma melhor atividade governamental”. A ati- vidade governamental é entendida como algo com uma natureza específica, que não pode ser reduzida ao padrão de atuação do setor privado. Entre as grandes diferenças, a motivação principal dos coman- dantes do setor público é a reeleição, enquanto os empresários têm como fim último a busca do lucro; os recursos do governo provêm do contribuinte — que exigem a realização de determinados gastos —, e na iniciativa privada os recursos são originados das compras efetuadas pelos clientes; as decisões governamentais são tomadas democraticamente e o empresário decide sozinho ou no máximo com os acionistas da empresa — a portas fechadas; por fim, o obje- tivo de ambos é diverso, isto é, o governo procura fazer “o bem” e a empresa “fazer dinheiro”. Estas diferenças implicam, necessariamente, em procurar no- vos caminhos para o setor público, tornando-o sim mais empreen- dedor, mas não transformando-o em uma empresa. Ao contrário também da epidemia generalizada contra a buro- cracia que vigorou nos EUA no começo da década de 80 o “Reinven- tando o governo” não coloca a culpa dos problemas governamen- tais em seus funcionários; o problema não está nas pessoas,mas no sistema. É a reforma das instituições e dos incentivos que tornará a burocracia apta a responder novas demandas. A reforma do sistema significa, ao mesmo tempo, a introdução de métodos voltados para a produção qualitativa de serviços públi- cos com a prioridade dada aos clientes e cidadãos como razões úl- timas do setor público, o que quer dizer não só que eles devem ser bem atendidos, mas que devem ser também chamados a participar do governo, definindo os destinos de suas comunidades. A maioria dos exemplos do livro de Osborne e Gaebler mos- tra que a melhor resposta para tornar melhor um serviço público é chamar a comunidade a participar de sua gestão, seja fiscalizan- do, seja trabalhando voluntariamente na prestação de serviços— constituindo-se numa resposta adequada tanto para ada eficiência como para o problema da transparência. Portanto, a modernização do setor público deve caminhar lado a lado com o aumento da ac- countability. Mas a reinvenção do governo deve ser realizada ainda ga- rantindo o princípio da eqüidade. Desta maneira, a introdução de mecanismos gerenciais, tais como são propostos no livro, não é in- compatível com a busca de justiça redistributiva, um conceito que por muito tempo foi abandonado no debate sobre reforma admi- nistrativa. Osborne e Gaebler propõem dez princípios básicos para reinventar o governo, listados a seguir: 1. Competição entre os prestadores de serviço; 2. Poder aos cidadãos, transferindo o controle das atividades à comunidade; 3. Medir a atuação das agências governamentais através dos resultados; 4. Orientar-se por objetivos, e não por regras e regulamentos; 5. Redefinir os usuários como clientes; 6. Atuar na prevenção dosproblemas mais do que no trata- mento; 7. Priorizar o investimento na produção de recursos, e não em seu gasto; 8. Descentralização da autoridade; 9. Preferir os mecanismos de mercado às soluções burocráticas 10. Catalisar a ação dos setores público, privado e voluntário. Não se trata aqui de comentar ponto por ponto a lista exposta acima, mas de discutir, rapidamente, algumas das idéias do “Rein- ventando o governo”. A primeira refere-se ao conceito de governo catalisador, que “navega em vez de remar”. O intuito desse con- ceito não é tornar o Estado mínimo, mas redirecionar a atividade governamental. Inclusive, os autores renegam o conceitual priva- tista, típico do neoliberalismo. “A privatização é uma resposta, não a resposta”, afirmam Osborne e Gaebler. O sentido do governo catalisador é reformular as relações Estado/mercado e governo/sociedade. Neste sentido, o governo empreendedor, catalisador, se aproxima das idéias de Pollitt, que conceitualiza a relação pública entre cidadãos e governo como uma parceria e não como uma dependência. Indo para outra discussão do Reinventando o governo, en- contramos um referencia linterligado ao anterior, qual seja, o tra- tamento da população como cliente e como cidadão. Cliente dos serviços públicos, que deseja a melhor qualidade possível dos equi- pamentos sociais. E cidadão que quer e tem como dever partici- par das decisões da comunidade, e por isso a descentralização da autoridade é um objetivo fundamental para alcançar esse grau de accountability. No que tange à gestão da burocracia, propõe-se a orientação administrativa por missões. A partir dela, o governo pode ser mais flexível, como também torna-se mais fácil a avaliação de cada agên- cia, comparando-se o objetivo inicialmente formulado com o resul- tado efetivamente alcançado. A orientação por missões, portanto, é um mecanismo que con- grega os ideais do Consumerism (flexibilidade) com os da corrente gerencial mais preocupada com a avaliação de resultados. Entretanto, a discussão em torno da avaliação de resultados na obra de Osborne e Gaebler toma um rumo diferenciado daquele proposto pelo gerencialismo puro. Para os dois autores, a avaliação da eficiência não pode ser dissociada da avaliação da efetividade. Pois, se a eficiência mede o custo do que foi produzido, a efe- tividade mede a qualidade dos resultados. Desta maneira, “quando medimos a eficiência, podemos saber quanto nos custa alcançar uma produção determinada; ao medir a efetividade,sabemos se nosso investimento valeu a pena. Nada mais tolo do que fazer com eficiência o que não deveria continuar a ser feito”. Osborne e Gae- bler tentam definir a relação entre eficiência e efetividade a partir dos objetivos do governo. E concluem: “Não há dúvida de que o público quer um governo mais eficiente, mas ele deseja ainda mais um governo efetivo”. A reforma do Estado, tal qual preconizada por Bresser Perei- ra, preconizava a valorização do bom desempenho, envolvendo a maior autonomia do dirigente público, cobrando-lhe, no entanto, o preço da responsabilização. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 36 Após o fim do MARE e das reformas mais profundas na Ad- ministração Pública brasileira, a comunidade administrativa organi- zou-se em tomo da Gestão, aproveitando o PPA, o programa Avan- ça Brasil, do segundo mandato de FHC. A grande inovação do PPA era a introdução da gestão por pro- gramas, com a integração de planejamento, orçamento e gestão. Não parece haver dúvidas quanto ao progresso que representou a adoção do conceito de programa não só como forma de integrar o PPA e os orçamentos anuais, mas em termos. De transparência da alocação dos recursos públicos e de compromisso da gestão com resultados. Essa nova situação pôs na linha de frente do setor público a figura do gerente de programa, como urna nova liderança do setor público, que deve ser capaz de levar adiante a gestão por progra- mas, que e orientada por resultados. Ariel Garces, em trabalho de reconhecido mérito na comunidade de administração pública, dis- correu sobre essa situação. A introdução da gestão por programas no ambiente atual da administração pública engendra urna tensão entre as práticas exis- tentes e os novos valores e atitudes empreendedoras, característi- cas da administração orientada para resultados. A estratégia é a de manejar essa tensão, de tal modo que sua intensidade não seja um obstáculo, mas, ao contrário, exerça um efeito indutor do processo de mudança. Para tanto, e necessário superar progressivamente um certo número de óbices, na medida em que avança a imple- mentação do novo modelo integrado de planejamento, orçamento e gestão. Ariel Garces ainda lembra que essa forma de penar, por pro- gramas, significa, em outros termos, implementar uma reforma de Estado, que combine, simultaneamente, os princípios da Reforma do Aparelho de Estado, de 1995, fortemente voltada para o aumen- to da produtividade e qualidade, a partir de uma transformação das organizações, e as mudanças introduzidas pelo ciclo de gestão do gasto, que traduz a preocupação, essencial ao Estado moderno, com os impactos na sociedade. Assim, o dirigente público deve ajustar a sua organização públi- ca à gestão por programas. Para tanto, é fundamental, em primeiro lugar, que os objetivos dos programas espelhem com precisão, em cada ministério, os problemas ou as oportunidades que devem ser enfrentados, para viabilizar uma situação futura desejada, compatí- vel com uma orientação estratégica que integre e mobilize a equipe do ministério. Essa orientação, por sua vez, deve refletir os compro- missos do governo. Também é fundamental o fortalecimento e a integração das funções de planejamento, orçamento e gestão. Em uma perspecti- va de gestão por resultados, e recomendável que se de ênfase ao planejamento e à gestão estratégica, à elaboração e execução or- çamentária e financeira orientada pelos resultados dos programas, a um processo contínuo de evolução organizacional, que tenha por objetivo incorporar a gestão por programas às estruturas formais e aos processos decisórios da organização. Dar consequência à avaliação de desempenho no processo alo- cativo e na gestão pública. Assim, a avaliação de desempenho vol- ta-se para o aperfeiçoamento contínuo do novo modelo de gestão. Assume um papel de transformação da gestão. Em relação à comunicação com a sociedade, Ariel Garces afir- ma que a gestão orientada para resultados cria percepções de ga- nhos e perdas. Perdem as estruturas da organização, cujo poder é aparentemente ameaçado pela transparência que decorre da gestão por programas. Ganham os segmentos da sociedade benefi- ciários dos programas e os gestores de alto nível da administração pública, que são avaliados em função dos resultados percebidos pela sociedade em geral. Nesse contexto, a comunicação com a sociedade assume um papel de melhoria constante dos programas e de transformação da gestão. Nossa experiência tem mostrado que a interação com o público-alvo do programa é um dos principais fatores de motivação dos gerentes e uma referência concreta para sua ação integradora da organização. MODERNIZAÇÃO DA GESTÃO CONTEMPORÂNEA E MODELO DE GESTÃO PÚBLICA POR RESULTADOS O contexto de transformação e a necessidade de alinhamento A característica marcante do contexto contemporâneo é a trans- formação. Embora não haja nenhuma novidade na mudança, já que o mundo muda desde que o mundo é mundo, a novidade está, en- tão, nas especificidades desse momento particular de mudança. Alguns exemplos26: → A democracia como valor cada vez mais se consolida, a partir da afirmação da cidadania, da ampliação do espaço da participação popular, do desenvolvimento da sociedade civil e da defesa intran- sigente dos direitos humanos, ainda que num contexto desigual, caracterizado por práticas nem sempre coerentes com esses prin- cípios; → A tão propalada globalização, um processo histórico comple- xo e contraditório, quese refere à crescente integração da socieda- de mundial, e ao funcionamento de atividades vitais em tempo real, e que aboliu fronteiras econômicas, internacionalizou o capital, uni- ficou mercados, hábitos e comportamentos, permitiu a redistribui- ção geográfica dos processos produtivos e aumentou a competição entre países; → A revolução tecnológica, principalmente nas áreas de comu- nicação e informação, que vem eliminando as barreiras à comuni- cação a partir da disponibilidade em tempo real da informação para toda a sociedade, permitindo, dessa forma, importantes inovações nas mais diversas áreas da existência humana e gerando preocupa- ções crescentes sobre novas formas de exclusão social. E, em particular, muda rapidamente o papel do Estado (que abandona algumas funções, assumindo outras), exigindo, como consequência, a necessidade de alinhamento dos modelos de ges- tão pública para atender aos requerimentos desses novos tempos. O entendimento das questões e desafios contemporâneos que cla- mam pela implantação de modelos de gestão para resultados na administração pública requer uma ligeira incursão conceitual, his- tórica e contextual sobre as trajetórias recentes de evolução do Es- tado e da gestão pública. Antecedentes: a evolução para o estado moderno O estado moderno é uma invenção cujo propósito foi tornar possível a vida em sociedade. Nesse sentido, fazia-se necessária a existência de uma entidade que pudesse submeter os indivíduos a regras de conduta para subjugar a natureza individualista do ser humano em prol da coletividade. Entre o ponto de partida, o modelo de estado patrimonial pré- -moderno, e o ponto de chegada, o estado-rede pós-moderno con- temporâneo, há três séculos de implementação do estado moder- no, que possui, por sua vez, três momentos bastante característicos: a) o nascimento e a consolidação do estado moderno; b) a crise do Estado; c) a reforma do Estado. 26 http://www.cogef.ms.gov.br/wp-content/uploads/2014/10/Anexo+4+-+Capaci- ta%C3%A7%C3%A3o+em+Gest%C3%A3o+para+Resultados.pdf ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 37 Por se tratar de um processo, a implementação do estado mo- derno vem ocorrendo de forma muito variada em diversos contex- tos. O modelo de estado patrimonial, ponto de partida da trajetó- ria histórica do estado contemporâneo, possui duas características basilares: a) a captura por interesses privados (de dentro ou de fora do estado); b) a inexistência de regras universais, predominando situações casuísticas e personalistas. O nascimento do estado de direito foi marcado por movimentos revolucionários que promoveram rompimentos com os regimes pa- trimonialistas, a exemplo das Revoluções inglesa, francesa e norte- -americana. A partir dos elementos resultantes desses movimentos, o Parlamento representativo com poder decisório, República com equilíbrio entre poderes e federação, se erigiu o estado democráti- co de direito, culminando com o alcance de seu ideal: garantir direi- tos universais à base do universalismo de procedimentos, tornando residual o caráter patrimonialista. O momento de consolidação do estado moderno representa a implementação do ideal de estado de direito, com o reconhecimen- to de direitos civis e, posteriormente, de direitos políticos, à medida que a ideia de democracia de massas avançava. A absoluta ausência de iniciativas de gestão da ordem social ou da ordem econômica aproxima essa concepção estrita de estado de direito à noção de estado liberal, ao qual cabe apenas fazer cumprir leis que assegu- rem direitos civis. Outra faceta da consolidação do estado moderno é a imple- mentação do ideal de estado social (o reconhecimento de direitos sociais) como forma de apoiar o desenvolvimento da economia de mercado e os decorrentes processos de urbanização e de transfor- mação das famílias. O Estado, por assim dizer, deveria prover mi- nimamente a educação, a saúde e a previdência como meios de qualificar seus cidadãos para ingressar na sociedade do trabalho. O primeiro grande momento de consolidação do estado social foi iniciado a partir do avanço da Revolução Industrial na segunda metade do século XIX; o segundo, a partir da crise de 1929 e da Segunda Guerra Mundial. Esses dois últimos eventos, em particular, fizeram incorporar ao estado social (mais propriamente ao concei- to de bem-estar), além da gestão da ordem social, o conceito de gestão da ordem econômica, alinhado com as ideias keynesianas, gerando um ciclo de expansão e crescimento das funções estatais numa linha desenvolvimentista. Diferentemente do estado liberal, o estado social desenvol- vimentista requeria uma pesada implementação administrativa, possuía características da administração burocrática clássica (le- galidade e impessoalidade) e fazia uso de tecnologias gerenciais emergentes dos anos 1930 aos anos 1950. No entanto, o mundo que surgiria a partir dos anos 70 inaugurava o discurso da crise do Estado, segundo momento na transição do estado pré-moderno ao estado pós-moderno. As crises do petróleo dos anos 1970, as primeiras crises de li- quidez dos anos 1980, o surgimento da nova economia da socie- dade do conhecimento, as contestações e conturbações políticas dos anos 1960 em diante, o início da globalização (queda do padrão ouro, do dólar e da barreira de circulação de dinheiro entre países) estão entre as principais questões contextuais. Nesse novo mundo, o estado passou a ser tratado mais como um problema que como uma solução, impedindo o desenvolvimento do mercado e sendo questionado a respeito de sua confiabilidade e da eficiência de suas instituições. A solução seria menos Estado, mais mercado e mais associativis- mo, culminando em um terceiro movimento na trajetória do estado moderno: a reforma do Estado. Dentre os movimentos de reforma, a experiência anglo-americana de ajuste fiscal com ganho de efi- ciência teve um forte apelo paradigmático na medida em que se tornou condicionalidade para o apoio de organismos multilaterais de crédito. A denominada nova gestão pública (um conjunto de tecnologias gerenciais inovadoras aplicadas ao Estado e suas organizações nos anos 1980 e 1990) é o modelo de gestão da era da reforma do Es- tado. Iniciou-se a serviço de um ideal neoliberal de enxugamento, controle e eficiência, preconizando a aplicação de tecnologia geren- cial privada no setor público, mas logo se expandiu em múltiplas direções, buscando melhorar a qualidade dos serviços e políticas públicas, bem como tornar o Estado mais sólido, democrático e ci- dadão. Estado e gestão pública contemporâneos O estado pós-moderno contemporâneo herda os ideais do es- tado moderno, mas lida com condições contextuais complexas que impõem desafios e perspectivas inusitados. O primeiro fator deter- minante é a crise da reforma do Estado. A adesão ao padrão predominante de ajuste fiscal e choque de eficiência pode ter gerado relevantes efeitos positivos em termos macroeconômicos, mas gerou custos de oportunidade, principal- mente em se tratando de contextos submetidos a condições de alta pobreza e desigualdade, nas quais o critério da eficácia se sobrepõe ao da eficiência. Em segundo lugar, muitos dos efeitos benéficos observados na economia mundial decorreram mais da reestruturação produtiva, da nova economia e das bolhas de consumo e produção que dos efeitos fiscais das medidas implementadas. Em todo caso, aumen- tou o desafio de geração de bem-estar e desenvolvimento. O segundo fator é a emergência de problemas globais relacio- nados ao clima, à segurança, à saúde e à volatilidade dos mercados, que requerem intervenções e integrações que vão muito além dos padrões usuais de gestão de políticas públicas confinadas a Estados- nação e mesmo aos Estados. O terceiro fator é o alastramento da democracia e dos valores democráticos pelo mundo afora, senão em qualidade, na forma de governo, o que representa um clamor quase sem fronteiras (tendo em conta a penetração da mídia e da internet) por maiortransparência, participação e responsabilização. Com efeito, o mundo contemporâneo impõe arranjos de gover- nança não apenas estatais para lidar com problemas complexos. Esses arranjos requerem um modelo de governança̧ social, em vez de tipicamente de gestão pública, pondo em operação um tipo de estado - rede, com caráter consensual, relacional e contratual, ca- racterizado pela coprodução ou cogestão de políticas públicas por arranjos multi-institucionais entre Estado, iniciativa privada e ter- ceiro setor. Destaca-se a necessidade de equilíbrio institucional entre os poderes dessas esferas, visto que cada uma delas possui limitações e vantagens comparativas. Assim, por exemplo, o Estado promove equidade, mas é menos eficiente, ao passo que o mercado apresen- ta grande eficiência, mas é insensível em equidade. O terceiro setor é virtuoso porquê é o domínio do valor, da cau- sa, mas sua natureza não é a regra de direito. Outra questão essen- cial é a superação das reformas de primeira geração e a implemen- tação de reformas de segunda e terceira gerações. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 38 As reformas de primeira geração (anos 1980 e 1990) tinham uma orientação essencialmente econômica e fiscal, sem uma preocupação central com a geração de resultados. As reformas de segunda geração, por outro lado, que emergiram no limiar do século XXI, direciona- ram-se no sentido da promoção do desenvolvimento e do fortalecimento institucional. Recentemente, a crise de 2008 marcou o advento de uma nova geração de mudanças baseada na reafirmação do papel do Estado, vol- tado a apoiar o mercado, promovendo-se um reordenamento de funções e regulação, como forma de reestruturar seu modelo de atuação e ineficiências; a mitigação dos efeitos sociais negativos; a busca pela construção do futuro em novas bases tecnológicas; e a conservação dos recursos naturais. O advento de uma nova administração para o desenvolvimento é outra característica da gestão pública contemporânea. A velha administração para o desenvolvimento se baseava em uma ideia nacionalista, xenófoba e autóctone de desenvolvimento. Dicotomizava desenvolvimento econômico e desenvolvimento social e seguia um modelo de planejamento tecnocrático e centralizado, a partir de um forte órgão central de planejamento. A nova administração para o desenvolvimento baseia-se em um conceito de desenvolvimento aberto, num contexto marcado pela globalização, integração e interdependência. Busca tratar de forma integrada a dimensão do desenvolvimento econômico, do desenvolvi- mento social e da sustentabilidade ambiental. Também atribui papel central ao Estado, mas numa linha de estado-rede, um elemento concertador, ativador e direcionador das capa- cidades do mercado e da sociedade civil. Essa realidade requer o desenvolvimento de modelos integrados de gestão para resultados, ou seja, conjuntos coerentes e sistemáticos de práticas que buscam melhorar o desempenho de governos, mercados, sociedade civil organi- zada, organizações e pessoas, de forma integrada, para a solução de problemas coletivos complexos. Uma visão panorâmica desse processo de transição de um padrão de estado patrimonial pré-moderno para um padrão de estado contemporâneo pós-moderno demonstra tratar-se de um processo contínuo e inacabado, porém com direcionadores claros no sentido de construir um estado democrático de direito (que garanta direitos civis, políticos, sociais, republicanos) que se constitua, ao lado de atores sociais relevantes, em um ativo promotor do desenvolvimento em benefício dos cidadãos. Os atributos ideais de um modelo de governança para resultados Um “modelo ideal” de gestão para resultados deve ser dinâmico no sentido de não se limitar apenas a definir e mensurar resultados. Gerir resultados significa defini-los (a partir de um planejamento abrangente), alcançá-los (mediante processos claros de implementação), monitorá-los e avaliá-los (a partir de “controles”, acompanhamentos e ajustes decorrentes). Em suma, trata-se não apenas de uma visão de PDCA27, mas de uma noção de geração e incorporação das informações sobre desempenho nos processos decisórios tanto internos quan- tos externos da organização (ou governo), criando demandas para essas informações (situação de institucionalização), sem ideologizações e comportamentos puramente ritualísticos. Adicionalmente, um modelo de gestão para resultados deve ser abrangente e basear-se num conceito amplo de desempenho que englobe tanto os esforços quanto os resultados propostos, pressupondo que não há resultados sem alinhamento de esforços. Da mesma forma, esforços desalinhados só́ promovem desempenho por conta do acaso. Gerir o desempenho significa não apenas monitorar resultados, mas também promover o alinhamento dos esforços para os resultados desejados. Por fim, mas não menos importante, um modelo de gestão para resultados deve ser multidimensional, ou seja, levar em conta suas múltiplas dimensões de esforço (processos, recursos, estruturas, sistemas informacionais e, principalmente, pessoas) para alinhá-los aos resultados. Deve-se evitar definições reducionistas e unidimensionais, nas quais aspectos significativos do esforço̧ e do resultado sejam deixados de fora e outros pouco significativos permaneçam dentro do modelo. Em suma, é imperativo que um modelo ideal de gestão para resulta- dos se baseie em um conceito abrangente de desempenho, incluindo dimensões do esforço e do resultado. POLÍTICAS PÚBLICAS E MONITORAMENTO DE RESULTADOS O Ciclo das Políticas Públicas apresenta vários estágios: gráficos e fases das políticas públicas Agenda, em que são selecionadas as prioridades; Formulação, em que são apresentadas soluções ou alternativas; Implementação, em que são executadas as políticas; Avaliação, em que ocorre a análise das ações tomadas. 27 PDCA (do inglês: PLAN - DO - CHECK - ACT ou Adjust) é um método iterativo de gestão de quatro passos, utilizado para o controle e melhoria contínua de proces- sos e produtos. É também conhecido como o círculo/ciclo/roda de Deming, ciclo de Shewhart, círculo/ciclo de controle, ou PDSA (plan-do-study-act). ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 39 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 40 Na teoria, são estas as fases que correspondem às Políticas Públicas, mas na prática, tais etapas se misturam entre si e nem sempre seguem a sequência proposta, sendo tal segmentação mais significativa para uma melhor compreensão do assunto. Formação de Agenda Dada a impossibilidade de que todos os problemas existentes na sociedade sejam atendidos, pois os recursos necessários para tal ação são escassos em relação à quantidade de problemas, a primeira fase correspondente à formação de agenda é necessária para que sejam estipuladas as questões a serem discutidas pelo governo. Portanto, este processo de se estabelecer uma listagem dos principais problemas da sociedade envolve a emergência, o reconhecimento e a definição dos problemas em questão e, consequentemente, os que não serão atendidos. O que vai determinar a inserção ou não inserção de um problema público em uma agenda? Dentre uma série de fatores, pode-se citar por exemplo, a existência de indicadores ou dados, que mostram as condições de uma determinada situação; e o resultado obtido com ações governamentais anteriores que apresentaram falhas nas providências adotadas. Os desdobramentos políticos (como por exemplo, as mudanças de governo) também são poderosos formadores de agenda, pois isso está relacionado à visão dos políticos eleitos sobre os temas que devem ou não receber prioridade. Formulação de Políticas Públicas A partir do momento em que os problemas são inseridos na agenda, é preciso planejar e organizar as alternativas que serão colocadas em prática para a solução dos mesmos. É o instante em que se deve definir o objetivos das políticas públicas, as ações que serão desen- volvidas e suas metas. Sendo assim, muitas propostas de ação são descartadas, o que provoca embates políticos, visto que determinados gruposteriam tais ações – que foram deixadas de lado, favoráveis a eles. Pode-se definir como necessários a uma boa formulação de políticas os seguintes passos: a transformação de estatísticas em dados importantes para a solução dos problemas; identificação dos principais atores envolvidos e a avaliação das preferências dos mesmos; e ação com base nas informações adquiridas. A avaliação das alternativas deve acontecer de forma objetiva, levando-se em conta algumas questões, como viabilidade financeira, legal e política, e também os riscos trazidos pelas alternativas em estudo. Desta forma, opta-se por aquelas que seriam mais convenientes para o cumprimento do objetivo. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 41 Implementação de Políticas Públicas É na implementação que os planos e escolhas são convertidos em ações, resultados. Durante este período, as políticas podem so- frer diversas transformações dependendo da posição do corpo ad- ministrativo, que é o responsável pela execução da política. Nesta fase, alguns elementos podem prejudicar o processo das políticas, como por exemplo: disputa pelo poder entre organi- zações; contexto social, econômico e tecnológico das políticas; re- cursos políticos e econômicos; treinamento do setor administrativo responsável pela execução e o apoio político à disposição. Embora seja mostrada uma carência de recursos frente às necessidades pú- blicas, por muitas vezes, os programas governamentais são falhos, havendo mais deficiência na gestão do que falta de recursos pro- priamente dita. Dentre as disputas entre organizações, é interes- sante dizer que, quanto maior o número de organizações estiverem envolvidas no processo de implementação das políticas – depen- dendo do nível de colaboração entre elas, maior será o número de ordens a serem resolvidas, o que demanda maior tempo para a re- alização das tarefas. Há dois modelos de implementação das Políticas Públicas: o de Cima para Baixo (modelo centralizado, aplicação do governo para a sociedade) e o de Baixo para Cima (modelo decentralizado, aplicação da sociedade para o governo). No modelo de Cima para Baixo, poucos funcionários participam das decisões e formas de im- plementação. Trata-se de uma concepção hierárquica da adminis- tração pública, sendo tais decisões cumpridas sem indagações. No modelo de Baixo para Cima, os favorecidos pelas políticas, atores públicos e privados, são chamados para participar do processo. Para o desenvolvimento de um bom processo de implementa- ção, é necessário que, dentre outros fatores: o programa disponha de recursos suficientes; a política implementada tenha um embasa- mento teórico adequado em relação ao problema e a sua solução; haja uma só agência implementadora ou baixo nível de dependên- cia entre elas; exista completa compreensão dos objetivos a serem atingidos, bem como das tarefas a serem realizadas; e ocorra apri- morada comunicação entre os elementos envolvidos no programa. Avaliação de Políticas Públicas Na avaliação ocorre o processo de coleta de dados e análise do programa adotado, o que permite a percepção dos erros e pode levar ao aperfeiçoamento posteriormente. Portanto, esta fase: ana- lisa os impactos, a eficiência, eficácia e sustentabilidade das ações desenvolvidas; possibilita a correção, prevenção de erros e a cria- ção de novas informações para futuras políticas públicas; permite que a administração faça a devida prestação de contas das atitudes tomadas; responde se os resultados produzidos estão se saindo da maneira esperada e identifica os obstáculos que dificultam o de- senvolvimento do processo; além de fomentar a comunicação e a cooperação entre os diversos atores. Para se averiguar uma ação, a Avaliação deve responder se os resultados ocorreram em tempo viável, se os custos para a produ- ção foram adequados e se o produto corresponde aos objetivos da política, sendo estes requisitos relacionados à eficácia e eficiência do desenvolvimento. Quanto ao impacto, deve-se analisar a rele- vância de tais modificações, as áreas afetadas e a cooperação dos componentes políticos na obtenção de seus objetivos. Em relação à sustentabilidade, uma política deve manter seus efeitos positivos após o fim das ações governamentais direcionadas a tal política. Em relação aos responsáveis pela avaliação, pode-se dividir de duas formas: avaliação interna – feita pelos responsáveis pela gestão do programa, e avaliação externa – feita por especialistas não participantes do programa. A avaliação interna é vantajosa no sentido de que, por estarem incorporados ao programa, além de um maior conhecimento sobre tal, terão também acesso mais faci- litado às informações de que precisam. Já a avaliação externa conta com uma importante imparcialidade, o que gera uma maior credibi- lidade em relação ao público externo, mas tem como desvantagem um gasto maior de tempo – e dinheiro, até que se habituem com o objeto de estudo. Burocracia no Processo de Formulação e Implementação Uma das definições de burocracia, é que trata-se de um grupo ou organização que, hierarquicamente, trabalha de maneira usual, costumeira; entretanto, não pode ser vista como uma simples reali- zadora que está indiferente às resoluções políticas, pois é composta por membros que possuem seus próprios interesses e que os mes- mos fogem à neutralidade. A burocracia possui um domínio da informação sobre o que ocorre nas ações públicas, tem uma fácil acessibilidade por meio de contatos e consequente influência na estrutura administrativa (principalmente no processo de implementação), além de estar dis- posta de uma forma permanente na organização da formulação e implementação das políticas públicas. Tais recursos proporcionam à burocracia um papel de maior destaque do que é previsto nas avaliações tradicionais. Modelos de Tomada de Decisão Existem diversas maneiras de se considerar soluções em res- posta aos problemas públicos. Destacam-se os modelos: Racional (H. Simon), Incremental (Lindblom), Análise misturada (Etzioni) e Irracional (Cohen, March e Olsen). Modelo Racional Este modelo baseia-se no pensamento de que a racionalidade é imprescindível para a tomada de decisão. Considera as informa- ções perfeitas, as trata com objetividade e lógica e não considera as relações de poder. No modelo racional, primeiro se estabelece um objetivo para solucionar o problema, depois se explora e define as estratégias para alcançar o objetivo, estimando-se as probabilida- des para tal, e por fim, a estratégia que parecer cabível é escolhida. Modelo Incremental O modo incremental situa-se na abordagem de racionalidade limitada, retratando as impossibilidades do racionalismo e prati- cando o foco nas informações. É um modelo descritivo, reconhece que a seleção de objetivos depende dos valores e a implementação estará sujeita a intervenções, visto que cada ator envolvido tem sua própria percepção do problema. Este modelo considera que, por mais apropriado seja o fundamento de uma alternativa, a decisão envolverá relações de poder. Desta forma, a decisão mais conve- niente é formada a partir de um consenso e objetiva garantir o acor- do entre as partes interessadas. Modelo da Análise Misturada (mixed-scanning) Este modelo combina características dos dois modelos anterio- res. Dispõe uma racionalidade bidimensional e prevê dois níveis de decisão: fundamentais, estratégicas e racionais em relação às deci- sões a seguir; e incremental, que consiste em uma comparação das opções selecionadas de forma racional. Esta análise permite mais inovação do que o modo incremental, sem precisar impor o proces- so radical do modo racional. Modelo Irracional (lata de lixo) Este modelo trata do processo de decisão em ambientes e ob- jetivos ambíguos, que podem ser chamados de “anarquias organi- zadas” e subverte a lógica solução-problema para problema-solu- ção. Para os que defendem esta ideia, o processo de tomada de decisão é extremamente dúbio, imprevisível, e pouco se relacionaADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 42 com a busca de meios para se alcançar os fins. Trata-se de uma abordagem aberta, em que as decisões resultam dos seguintes ele- mentos: problema, solução, participante e oportunidade; em que as oportunidades são vistas como latas de lixo, em que problemas e soluções são jogados pelos participantes. A política é exercida há muitos anos pelos homens e em pou- cos países no mundo existe uma desigualdade tão grande como a encontrada no Brasil. Onde as pessoas não conseguem exercer sua cidadania e são diariamente confrontadas com a falta de dinheiro, saúde, moradia e educação. A princípio grande parte do governo brasileiro surge com soluções gerais e emergenciais para sanar al- guns desses problemas ao invés de implantar políticas públicas no intuito de reduzi-los. As políticas públicas atualmente não são feitas para cuidar dos problemas e necessidades mais urgentes da população. São usadas como ações imediatas para conquistar o eleitor que não consegue opinar na divisão orçamentária. Os políticos não pensam em ações que mudam uma sociedade para sempre e optam pelo caminho mais fácil ao prometer, ainda em campanha, milhares de resoluções que muitas vezes nem são capazes de cumprir. A forma despreocupada com que o país é administrado causa descrença na população, pois ela não vê o orçamento sendo inves- tido no que realmente é necessário. Para a esfera pública, o que é realizado hoje para as áreas de saúde, educação e moradia é o necessário para o crescimento da população. Entretanto, muitos municípios sofrem diariamente com a falta de oferta das necessi- dades básicas garantidas pela Constituição Federal. A implantação de melhorias nas políticas públicas é essencial para aumentar a qualidade de vida dos brasileiros e índices como o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). A convivência social requer ferramentas que venham a prote- ger direitos e promover a harmoniosa convivência entre os indiví- duos em uma coletividade, além do reconhecimento territorial na- cional diante de outros povos. Nesse prisma o Estado se estrutura sob o fundamento de manter a coesão social, garantir a proprieda- de privada e outros direitos coletivos – que com o amadurecimento do Estado, surge a ideia e prática de um Estado voltado ao Bem-Es- tar-Social, o qual busca satisfazer a população através de políticas públicas focalizadas e universais – as quais buscam tratar com iso- nomia os iguais e os desiguais, na medida em que se desigualam, conforme a formação histórica de cada sociedade. Segundo Cardo- so (2010): O enfoque latino-americano de políticas dá a ênfase indispen- sável às políticas universais, como educação e saúde, sem deixar de dirigir esforços para beneficiar os segmentos mais vulneráveis da população, sobretudo quando eles são numerosos. Na tradição so- cial-democrática europeia o bem-estar foi promovido por políticas públicas que reforçaram o acesso à educação, à saúde e à previdên- cia social (CARDOSO, 2010, p. 195). O Estado se apresenta como uma unidade básica social com território definido e com uma nação constituída pela coletivida- de que habita determinada localidade, genericamente entendida como um povo. Atualmente, a principal forma de organização polí- tica dá-se por meio do Estado Moderno. A sociedade civil, legitima- dora e financiadora do Estado, o credencia a administrar as ques- tões mais importantes do convívio social e, em nome da ordem, concede também a ele o direito de ser a única instituição a poder fazer o uso legítimo da força física conforme destacou Max Weber (ALBINO, 2016). Por Governo, entende-se o conjunto de indivíduos que ocupam, na cúpula do Estado, posições de decisão administrativa e política e que orientam os rumos da sociedade (RODRIGUES, 2010). Ao parti- cipar do governo, os indivíduos participam do ciclo das políticas pú- blicas – definição da agenda política, elaboração, implementação e avaliação. Sendo assim, escolhem dentre diversas alternativas quais serão as políticas e as ações a serem praticadas pelo governo para o alcance de objetivos preestabelecidos. Tratando-se de um governo democrático, as preferências e interesses passam a ser constante- mente negociadas, e envolve os interesses de diversos atores que compõem o aparato estatal. As políticas públicas podem ser entendidas como a maneira pela qual o Estado atua para amenizar os conflitos e desigualdades sociais. Elas são desenhadas a partir do relacionamento e dos inte- resses existentes entre várias camadas da sociedade. Nesse processo, os atores políticos possuem importante par- ticipação para a focalização e destinação de recursos públicos para determinada política pública. Além disso, é importante salientar que a implementação das políticas públicas nas sociedades capita- listas também está sujeita a interferência de cenários macroeconô- micos de crise ou estabilidade (MOTA, 2014). Durante o ciclo das políticas públicas, atores públicos, compre- endidos como os gestores públicos, juízes, burocratas, políticos e outras instituições do Governo, referem-se aos que de fato podem decidir sobre o encaminhamento das políticas. Atores privados, por exemplo, consumidores, empresários, trabalhadores, corporações, centrais sindicais, mídia, entidades do terceiro setor, dentre outros, são aqueles que têm poder para di- recionar a formatação das políticas e exercer influências sobre os agentes públicos. Sendo assim, o objetivo deste artigo é apresentar partes es- truturais do nosso ordenamento estatal, salientando a interação existente entre o conceito e a finalidade do Estado, a importância das atribuições do Governo no processo de administração política e as nuances que envolvem a ação estatal, mediante as relevantes disputas de interesses que abarcam o ciclo das políticas públicas e que influenciam o processo final das policies. Busca-se com este artigo descrever as características do Es- tado, do Governo e do ciclo das Políticas Públicas, destacando a interrelação deste conjunto institucional na gestão pública. Assim como, correlacionar o papel institucional do Estado e do Governo no processo de viabilização de políticas públicas, analisando em qual medida o Estado institucionaliza processos que busquem gerar canais de comunicação entre a sociedade e os processos inerentes às políticas públicas. Para tanto, esta pesquisa utilizou, como respal- do teórico, autores como Carlos Alberto Almeida, Paulo Bonavides, Jean-Jacques Rosseau, Marta Rodrigues, Celina Souza, Klaus Frey, dentre outros. Para o desenvolvimento do artigo, foi realizada uma sucinta exposição acerca das atribuições institucionais do Estado e do Go- verno, buscando-se avaliar sua relação com os processos que envol- vem o ciclo das políticas públicas. Tal análise parte da identificação de características legais inerentes ao Estado, ao Governo e sua ca- pacidade de promover políticas públicas de acordo com as regras institucionais previamente estabelecidas e as condições sócio-his- tóricas de cada época. A partir das referidas observações sobre as características de cada ente supracitado, intentou-se compreender em qual medida estas instituições apresentam discricionariedade, prevista legalmente, para fomentar a participação popular no pro- cesso de composição das políticas públicas. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 43 Características do Estado, do governo e das políticas públicas O Estado A composição do conjunto de regras que forma a noção de Es- tado é estabelecida pela aglutinação de sociedades, as quais, situa- das em determinado território, visando à proteção da propriedade privada e a regulação de atribuições gerais e coletivas, se subme- tem a regras e acordos comuns. Para Del Vecchio (1958 apud BO- NAVIDES, 2000) o termo sociedade envolve o conjunto de relações mediante as quais os indivíduos vivem e atuam solidariamente ca- paz de formar uma entidade nova e superior. Não se detendo sobre teorias organicistas – que se concentram no valor da sociedade– ou conforme teorias mecanicistas – aqueles que enxergam na socieda- de apenas a mera soma de partes –, partindo da premissa de que o homem é um ser social, o Estado passa a desenvolver funções distintas e necessárias à manutenção da vida da coletividade. Rousseau (2003) afirmava que a liberdade natural do homem, seu bem-estar e sua segurança seriam preservados através do con- trato social. Rousseau foi um importante ator para se pensar na fi- gura de um Estado incumbido de organizar a sociedade civil. A ideia de um contrato social surge para proteger a propriedade privada, a qual segundo Rousseau seria a origem das desigualdades entre os homens, a ponto de envolverem-se em usurpações de uns con- tra outros. Sendo assim, o contrato social, que muito influenciou a criação do Estado como conhecemos, faz com que o povo seja, ao mesmo tempo, parte ativa e passiva nessa relação. Constitui-se em um acordo legítimo, o qual a vontade individu- al é subjugada em prol da vontade de todos. Desta forma, considerando a faixa temporal, a sociedade surge primeiro e o Estado depois. O conjunto de regras que forma o Es- tado caracteriza-se por um contrato social, conforme expresso por Rousseau. Neste sentido, Bonavides (2000) assevera que: A burguesia triunfante abraça-se acariciadora a esse conceito que faz do Estado a ordem jurídica, o corpo normativo, a máquina do poder político, exterior à Sociedade, compreendida esta como esfera mais dilatada, de substrato materialmente econômico, onde os indivíduos dinamizam sua ação e expandem seu trabalho (BONA- VIDES, 2000, p. 70). Destarte, o Estado passa a ser o conjunto de regras que visa proteger e atender a vontade geral. Composto pela heterogenia entre o ordenamento jurídico e suas normas, o Estado passa a ser dotado de capacidade decisiva, possuindo o poder sobre o uso co- ercitivo da força. Nessa macro instituição denominada Estado, con- centra-se a soma de interesses e claros poderes, os quais, em uma sociedade democrática, viabilizarão sua auto-regulação, os freios e os contrapesos – check and balances. No tocante à moderna utilização do termo “Estado”, seu em- prego pode ser associado e remonta-se à obra de Maquiavel, intitu- lada “O Príncipe”, na qual ele relaciona o conceito de Estado com o império e autoridade sobre os homens. Há, porém, conceituações filosóficas e jurídicas a respeito do termo Estado, podendo receber entendimentos que fazem referência à moral e à ética, ou como a uma série de leis e regras às quais os homens se submetem. Del Vecchio (1958 apud BONAVIDES, 2000) faz uma separação conceitual entre Estado e sociedade ao caracterizar Estado como o laço jurídico ou político, e sociedade como a pluralidade de laços. Desta assertiva, infere-se, dentre outras possíveis interpretações, a dinamicidade de interesses individuais que constituem a formação do Estado, as lutas de classes, os movimentos sociais, as batalhas fiscais e as disputas pelo poder político. A federação brasileira possui descentralização política e no que tange a organização político-administrativa do Brasil, a União, os Es- tados, o Distrito Federal e os Municípios são caracterizados como entidades autônomas – autonomia que garante equilíbrio. Nesse sentido, sendo a União a soma de estados e municípios inseridos neste arcabouço federativo, a garantia da estabilidade institucional é promovida por meio da Constituição Federal brasileira de 1988, a qual visa garantir a distribuição de competências e demonstra- ção de coesão entre todos os entes federados, conforme expressa o princípio da indissolubilidade do vínculo federativo, registrado no artigo 1º da CF de 1988 (BRASIL, 1988) Tratando-se do Brasil, e diante da constitucional divisão de res- ponsabilidades entre as instituições e da influência exercida pela so- ciedade – agente financiador e usuário dos bens e serviços públicos – no Estado, a obra intitulada “A cabeça do brasileiro” de Almeida (2007) indica que o nível de escolaridade é um fator determinante para a absorção de noções de democracia e igualdade. No entanto, apesar da presença de problemas sociais que retardam a existên- cia de comportamentos democráticos, fundamentados a partir do aumento do nível de escolaridade dos brasileiros, observa-se que o sentimento paciente de Estado provedor é ainda complementa- do pela alta carga tributária do país, acentuando e intensificando o discurso de que “para os brasileiros, o Estado deve predominar na justiça, na previdência social, na saúde, na educação, no sanea- mento básico, no fornecimento de água, nas estradas e rodovias, no recolhimento de lixo, na produção de energia elétrica e nos bancos” (ALMEIDA, 2007, p. 178). Tal compreensão sobre o papel do Estado na sociedade reforça as características de um Estado protetor, paternalista, o qual muito é demandado pela sociedade para satisfazer e suprir lacunas insti- tucionais, sociais e organizacionais – provocadas desde a formação histórica do país. Assim, sob a égide legítima da sociedade, o Estado desenvolve seus processos de manifestação de poder. A democra- cia, o direito ao voto, à proteção da propriedade, dentre outras ca- raterísticas, faz com que esse contrato social entre a sociedade e a instituição Estado, transformese em benefício da coletividade e do bem-comum, ao decidir sobre diversas áreas da vida dos cidadãos. O funcionamento da máquina pública de forma eficaz e eficien- te envolve a análise da governança – termo que para Pereira (2012) traduz-se na capacidade que os governos têm de elaborar e imple- mentar políticas públicas. O alcance de altos níveis de desempenho da máquina do Estado também implica na administração dos meca- nismos que constituem a policy arena – expressão que Frey (2000) conceitua relacionando-se aos processos de conflito e de consenso dentro das diversas áreas de política. A necessidade de controle dos conflitos de interesses entre os diversos atores presentes no ciclo das políticas públicas apresenta-se como um elevado desafio ao su- cesso das políticas e a viabilização da promoção do Estado de bem- -estar social, fundamentado, portanto, na geração de accountability (transparência na utilização dos recursos públicos) e nos princípios da eficiência e da eficácia na formulação, implementação, avaliação e continuidade das políticas públicas bem sucedidas, às quais o Es- tado necessita. O Governo O governo configura-se como a instância máxima de admi- nistração executiva, cuja atribuição principal é direcionar políticas públicas e regular a sociedade politicamente. Nesse sentido, as po- líticas públicas compõem a forma pela qual o governo executa suas ações. Rodrigues (2010) evidencia que: Políticas públicas são ações de Governo, portanto, são reves- tidas da autoridade soberana do poder público. Dispõem sobre “o que fazer” (ações), “aonde chegar” (metas ou objetivos relaciona- dos ao estado de coisas que se pretende alterar) e “como fazer” (estratégias de ação) (RODRIGUES, 2010, p. 53). ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 44 A noção de Welfare State – Estado do Bem-Estar-Social – atribui ao Estado responsabilidades sociais, devendo este, garantir padrões mínimos na área da saúde, educação, renda, habitação e segurida- de social, dentre outras proteções, a todos os cidadãos. Trata-se, portanto, de um estado provedor, o qual direciona governos a tra- çarem políticas públicas que fortaleçam e atendam às característi- cas demandas pela população. Apesar da clara incidência de Estados provedores em países de- senvolvidos, para a avaliação de políticas públicas, existe a neces- sidade de resgate do papel do Estado. Os autores Seibel e Gelinski (2012) enfatizam que o resgate do papel ativo do Estado presente nos sistemas de Bem-Estar-Social, é o elemento de base daqueles que propõem avaliar as políticas públicas incluindo além das ques- tões fiscais, os agentes envolvidos. Para a consecução dos objetivos governamentais, os governos devem possuir habilidades que se expressamAdministrativa), presidida pelo ministro extraordinário para o planejamento de coordenação econômica, que reexaminou os pro- cessos elaborados e elaborou outros. Do trabalho dessa comissão e das revisões que se seguiram em âmbito ministerial resultou a edição do Decreto-Lei n° 200, de 25 de fevereiro de 1967, o mais sistemático e ambicioso empreendimento para a reforma da admi- nistração federal. Esse decreto fixava princípios e estabelecia conceitos apoian- do-se em uma doutrina que definia preceitos claros de organização e funcionamento da máquina administrativa. Reforma do Período Militar De fato, o ministério extraordinário para a reforma administra- tiva elaborou quatro projetos que nunca conseguiram aprovação no Congresso, mas alguns especialistas no assunto afirmam que foi a partir deles que se concebeu o Decreto-Lei nº 200, de 1967. O esta- tuto básico prescreve cinco princípios fundamentais: 1) O planejamento (princípio dominante); 2) A expansão das empresas estatais (sociedades de economia mista e empresas públicas), bem como de órgãos independentes (fundações públicas) e semi-independentes (autarquias); 3) A necessidade de fortalecimento e expansão do sistema do mérito, sobre o qual se estabeleciam diversas regras; 4) Diretrizes gerais para um novo plano de classificação de car- gos; 5) O reagrupamento de departamentos, divisões e serviços em 16 ministérios: justiça, interior, relações exteriores, agricultura, indústria e comércio, fazenda, planejamento, transportes, minas e energia, educação e cultura, Trabalho, Previdência e Assistência So- cial, Saúde, Comunicações, Exército, Marinha e Aeronáutica. O decreto-lei nº 200 prescrevia que a administração pública deveria se guiar pelos princípios do planejamento, da coordenação, da descentralização, da delegação de competência e do controle. Além de estabelecer uma distinção entre a administração direta, os ministérios e demais órgãos diretamente subordinados ao pre- sidente da República, e a indireta, constituída pelos órgãos descen- tralizados, autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista. Esse decreto-lei fixava a estrutura do Poder Executivo federal, indicando os órgãos de assistência imediata do presidente da Repú- blica e distribuindo os ministérios entre os setores político, econô- mico, social, militar e de planejamento, além de apontar os órgãos essenciais comuns aos diversos ministérios, e ainda: – Desenhava os sistemas de atividades auxiliares (pessoal, or- çamento, estatística, administração financeira, contabilidade e au- ditoria e serviços gerais); – Definia as bases do controle externo e interno; – Indicava diretrizes gerais para um novo plano de classificação de cargos; – Estatuía normas de aquisição e contratação de bens e servi- ços. Até 1978 assistiu-se ao ressurgimento da reforma administra- tiva como programa de governo formal. De 1967 a 1979, a coorde- nação da reforma administrativa cabia à SEMOR (Subsecretaria de Modernização e Reforma Administrativa), que cuidava dos aspectos estruturais, sistêmicos e processuais, e ao DASP, que atuava somen- te no domínio dos recursos humanos. Nesta fase, a SEMOR se preo- cupou em recorrer a frequentes exames da estrutura organizacional e analisou projetos de iniciativa de outros departamentos, visando à criação, fusão ou extinção de órgãos e programas que trouxessem maior eficácia à gestão pública5. O Decreto-Lei nº 200 contribuiu em partes, para a consolida- ção do modelo de administração para o desenvolvimento no Brasil, apesar da discrepância entre as metas estabelecidas e metas cum- pridas, pois na verdade, a reforma administrativa não foi implemen- tada com sucesso e a crise política do regime militar, que se inicia- va nos anos 1970, agravou ainda mais a situação da administração pública, já que a burocracia estatal foi identificada com um sistema autoritário em pleno processo de degeneração6. Algumas disfunções da burocracia que culminam com progra- mas nacionais de desburocratização: – Pelo culto do processo, pelo qual a forma se toma mais im- portante que a substância; – Pela excessiva especialização e departamentalização, levando a que o funcionário perca a noção de conjunto do organismo a que pertence; – Pela concentração do poder decisório nas esferas mais altas, com o consequente esvaziamento das funções periféricas; – Pela valorização excessiva das atividades meio (em detrimen- to das atividades fim) e multiplicação desnecessária dos controles prévios e/ou cruzados; – Pela transferência, ao usuário ou cliente, de certas atribui- ções que à própria administração competem, tudo isso resultando na perda inevitável da eficiência administrativa. A Administração Pública na Nova República Apesar da reforma do Estado ser a promessa mais evidente da Nova República, o Estado necessitava de diversas reformas fora do cunho administrativo, como7: – Vigência efetiva do império da lei; – Desobstrução do Legislativo; – Aparelhamento da Justiça; – Reforma tributária; – Descentralização; – Reforma agrária; – Saneamento da previdência; – Implantação do sistema único de saúde; – Erradicação do analfabetismo; – Reforma do ensino básico; – Desenvolvimento regional. Tancredo Neves promoveu uma pequena reforma administrati- va destinada a acomodar os interesses das diversas facções políticas que o apoiavam, ampliação do número de ministérios e criação de novas diretorias em quase todas as empresas estatais. A verdadeira reforma do Estado, prometia, viria depois da posse. Para realizar essa imensa tarefa, ele indicou um ministro extraordinário da admi- nistração para dirigir o velho e desgastado DASP. 5WAHRLICH, B. M.S. Desburocratização e desestatização: novas considerações sobre as prioridades brasileiras de reforma administrativa na década de 80; 1984. 6http://www.bresserpereira.org.br/papers/1996/95.admpublicaburocraticaa- gerencial.pdf 7COSTA, F. L. Brasil: 200 anos de Estado; 200 anos de administração pública; 200 anos de reformas. Revista do Serviço Público. RJ, 2008. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 4 Governo Civil Depois de mais vinte anos de ditadura militar, o governo civil herdou um aparato administrativo marcado pela excessiva centrali- zação, e apesar de representar a primeira tentativa de reforma ge- rencial da administração pública pela intenção de mexer na rigidez burocrática, o Decreto-Lei n. 200/67 deixou sequelas negativas. 1º O ingresso de funcionários sem concurso público permitiu a reprodução de velhas práticas patrimonialistas e fisiológicas. 2º A negligência com a administração direta (burocrática e rígi- da) não sofreu mudanças significativas na vigência do decreto, en- fraqueceu o núcleo estratégico do Estado, fato agravado pelo senso oportunista do regime militar que deixa de investir na formação de quadros especializados para os altos escalões do serviço público. A ineficiência da administração pública burocrática tornou-se uma ameaça para a legitimidade do Estado Social, pois a sociedade continuava a demandar por serviços públicos e o discurso neoli- beral de que o consumo público poderia ser substituído com van- tagem pelo privado não foi aceita pela sociedade.Dessa forma, a tarefa da Nova República era mostrar que o estado estava usando bem os recursos dos impostos, que os contribuintes não estavam “jogando dinheiro bom em cima de dinheiro ruim” - uma frase típica dos oponentes do Estado Social. A Reforma Gerencial era a resposta para a reversão desse qua- dro, que necessitava tornar o aparelho administrativo mais redu- zido, eficiente e receptivo às demandas da sociedade8. O governo Sarney instituiu uma numerosa comissão, cujos objetivos eram ex- tremamente ambiciosos, já que, num primeiro momento, pretendia redefinir o papel do Estado (nas três esferas de governo):9 – Estabelecer as bases do funcionamento da administração pú- blica; – Fixar o destino da função pública; – Reformular as estruturas do Poder Executivo federal e de seus órgãosna forma de gover- nança e governabilidade. Rodrigues (2010) esclarece que a gover- nança, pode ser entendida como a capacidade financeira e adminis- trativa para implantar políticas públicas. O termo governabilidade está ligado à legitimidade do governo no poder e da capacidade de conduzir as instituições públicas para o alcance dos interesses do governo, perante a sociedade. Pode-se então afirmar que gover- no se configura como um conjunto de indivíduos que direcionam a sociedade, por aqueles estarem ocupando posições institucionais com alto poder de decisão. Vale salientar que as ações do governo sempre estão funda- mentadas no poder político, na barganha de interesses políticos, em estratégias partidárias e ideologias de diversos segmentos da sociedade. As disputas por áreas que venham a ser contempladas nas políticas de governo dinamizam o debate, reunindo grupos so- ciais, empresários dentre outras organizações, e pressionando o governo para atender determinadas demandas. No caso brasileiro, mais especificamente nos governos FHC e Lula, Castelo (2013) sa- lienta que: Os sociais-liberais brasileiros propõem medidas de cunho ad- ministrativo para aumentar a efetividade das políticas sociais: 1) focalização dos gastos sociais nos “mais pobres dos pobres”, isto é, nos miseráveis; 2) avaliação do impacto das políticas sociais; e 3) integração dos programas sociais em todos os níveis governamen- tais – federal, estadual e municipal – e do setor privado (CASTELO, 2013, p. 351-352). Sendo assim, governos eficazes, têm poder político suficiente para tomar decisões de acordo com suas preferências e interesses individuais, buscando por meio de acordos, manter alianças e co- alizões que favoreçam sua administração, às decisões políticas, à realização e ao cumprimento dos objetivos governamentais pro- gramados e definidos em consonância com diretrizes e intenções partidárias. As políticas públicas e sua abrangência conceitual A análise de políticas públicas intensifica-se no Brasil a partir de 1980, proveniente da dinâmica política e das transformações que o país enfrentava, com reformas econômicas e políticas nas áreas de saúde, educação, previdência, saneamento, dentre outras. Busca- va-se, portanto, entender quais eram as possibilidades e os óbices para a implantação de mudanças, constitucionalmente inscritas e dependentes de decisões governamentais. O termo Políticas Públicas pode ser expresso a partir da carac- terização dada por Rodrigues (2010), ao afirmar é o processo em que diversos grupos, cujos interesses divergem, tomam decisões coletivas que direcionam a sociedade. Sobre isso, Souza (2006, p. 25) expressa que “as políticas públicas repercutem na economia e nas sociedades, daí por que qualquer teoria da política pública pre- cisa também explicar as inter-relações entre Estado, política, eco- nomia e sociedade”. O processo de redemocratização pautada numa transição de Estado burocrático para uma reforma gerencial do Estado, que se iniciou em 1970 e que foi acentuada em 1980, impulsionou a ne- cessidade de democratização do acesso a serviços e à participação política, estimulando a geração de muitos trabalhos científicos que passaram a analisar as políticas setoriais com o intuito de interpre- tá-las e de propor mudanças no desenho institucional vigente (PE- REIRA, 1996). A descentralização das atribuições do Estado se acentuou a partir da metade dos anos da década de 1990, período em que o país passava por uma crise de governabilidade, sendo esta ainda, incitada pelos processos de globalização, os quais passaram a exi- gir do Estado novos comportamentos para satisfazer as demandas sociais por meio da busca pela viabilização de bem-estar, segurança e justiça, fatores que compreendem o tripé para a promoção do bem-comum. Vale destacar que, no regime democrático, as descentralizações de poder e a dinâmica dos processos eleitorais nas democracias modernas devem caminhar no sentido de permitir, cada vez mais, a ampla participação, bem como proporcionar sólida organização po- lítica a fim de constituir cenários de disputas em que os atores, can- didatos e eleitores, possam se movimentar no jogo político fazendo uso de cálculos de custo-benefício. Nesse sentido, visando analisar a interrelação entre as instituições políticas, o processo político e os conteúdos de política, a policy analysis – análise de políticas – se relaciona com os processos de polity, politics e policy. Essas três dimensões de políticas são fundamentais, para a elaboração bem- -sucedida de uma política pública. Segundo Frey (2000), para realizar a análise de políticas, é ne- cessário entender a polity, que se refere à ordem do sistema polí- tico, delineada pelo sistema e à estrutura institucional do sistema político-administrativo; a politics, como sendo os processos políti- cos conflituosos e a policy, que são as políticas públicas no seu pro- cesso final, os resultados das regras e dos conflitos. Como exemplo dessa interrelação na policy analysis, a polity, que corresponde às formas de governo, ao sistema de governo e as formas do Estado, irá interferir na politics e na policy. A policy analysis deve levar em conta as perspectivas neoinstitucionalistas, pois, essa perspectiva não explica tudo por meio das instituições, ao também considerar o comportamento dos diversos atores. Em situações nas quais os processos políticos são pouco conso- lidados, é difícil explicar os acontecimentos pelo fator institucional. Impõe-se como componente explicativo adicional o fator “estilo de comportamento político”, que irá influenciar nas relações políticas. Analisar o contexto dos atores e onde eles estão inseridos, bem como a cultura política e o carisma do candidato na região, são re- quisitos fundamentais para a aplicação de políticas em países em desenvolvimento. Assim sendo, a discussão sobre políticas públicas deve levar em conta o desenho institucional. No caso brasileiro, de- ve-se considerar o presidencialismo de coalizão – aliança política firmada entre o chefe do poder Executivo com partidos políticos eleitos, para cumprimento de mandato no poder Legislativo – e as negociações entre os poderes Executivo e o Legislativo para produ- ção legal. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 45 Souza (2006) resume o termo política pública como o campo do conhecimento que busca, “colocar o governo em ação” e/ou avaliar essa ação. Tendo a possibilidade de propor mudanças durante a execução dessas ações. Destarte, as políticas públicas podem ser estuda- das tanto a partir da perspectiva da ação do Governo – o que faz – quanto da inação, o que o governo não faz. Partindo do conceito sobre democracia, a independência e equilíbrio entre os poderes, estão inseridos sob a égide da Constituição de 1988, a qual em seu artigo 1º, parágrafo único, evidencia que “todo poder emana do povo” (BRASIL, 1988). Sendo assim, as políticas públicas, sobretudo, se definem menos pela racionalidade dos seus agentes institucionais e mais pela capacidade que a sociedade civil tem de influenciar as ações gover- namentais. Rodrigues (2010) salienta que a engenharia das políticas públicas requer duas avaliações: uma análise sobre como as decisões são tomadas e outra sobre o poder que o Governo possui para prevenir uma situação. Assim, as políticas públicas devem ser explicadas ba- seando-se em diversos enfoques, dada a multidisciplinaridade que envolve tal estudo. Neste sentido, Frey (2000, p. 226) destaca que “as tradicionais divisões do ciclo político nas várias propostas na bibliografia se diferenciam apenas gradualmente. Comum a todas as propos- tas são as fases da formulação, da implementação e do controle dos impactos das políticas”. Desse modo, a sistematização das políticas públicas pode ser caracterizada pelas seguintes etapas: definição da agenda, formulação, implementação e avaliação do programa. De acordo com esse modelo, políticas públicas são estruturadas como um processo, o qual reúne umconjunto de atividades – etapas – visando o alcance de demandas. Na Figura 1, expõe-se como se dar a sequência de estágios que irão montar determinada policy. O ato de elaboração das políticas públicas, compreende o esquema de organização de uma política pública através da identificação do problema, formação da agenda, formulação de alternativas, tomada de decisão, implementação e avaliação. As ponderações referentes ao ciclo das políticas possuem grande utilidade prática, pois, são capazes de organizar ideias e apresentar com mais clareza os esboços e intenções políticas aos administradores e outros envolvidos nas ações que compõem o ciclo das políticas. As etapas que envolvem o ciclo de políticas são moldadas de acordo com as intensas variações e interpretações dos policy makers e interferem, de forma decisiva, na tomada de decisão, as quais são influenciadas pelos interesses dos atores e pelas experiências técnicas e pessoais destes. Na fase do ciclo político, o processo de tomada de decisão pode se estruturar de três formas: a) a partir de problemas para formulação de soluções; b) por meio de ajustes dos problemas às soluções disponíveis, num processo simultâneo e comparativo entre os problemas existentes e as soluções propostas; c) mediante a disponibilidade de soluções que perseguem a detecção de problemas, já preferidos pelos tomadores de decisão e propensos a serem identificados pela opinião pública como questões específicas que necessitam ser transformadas em política pública. Compreendendo o que comumente ficou conhecido como ciclo das políticas– Policy Cycle – na primeira etapa; identificação de de- mandas e definição da agenda, ocorre a identificação de um problema e possíveis soluções. Tal constatação pode acontecer, simplesmen- te, devido a necessidade de atuação governamental em algum nicho do setor público, o qual este tenha interesse em atuar ou naqueles em que, legalmente, seja da sua responsabilidade. Em seguida, diante do problema pelo qual o governo decidiu agir, estrutura-se o que Frey (2000) destaca em sua obra de questão política – Policy Issue, sendo caracterizado como uma questão pública. Para Rodrigues (2010, p. 50), “o governo deve agir instantaneamente, caso contrário, é preciso aguardar pela abertura de uma nova janela de oportunidade, que inclui, como sabemos, um longo processo”. De acordo com as mobilizações acerca de determinada temática, do interesse daqueles que mantém o poder decisório, de uma apresentação clara sobre como o governo pode participar de determinada política pública e da disponibilidade de capital social, econômico e político, o governo toma a decisão sobre o que irá compor a agenda de políticas, em um definido momento. Dentre os processos que estruturam o ciclo de políticas públicas, a identificação do problema, avalia se existe alguma discrepância entre a situação atual e uma possível situação ideal, entendida como aquilo que se gostaria que fosse feito. A composição da agenda irá aglutinar todos os problemas relevantes para a solução da questão, no entanto, a sua formação é uma atividade dinâmica, onde problemas podem entrar e sair da agenda de acordo com critérios de oportunidade e conveniência na busca para a resolução dos problemas. A ativi- dade de formulação de alternativas ocorre a partir da leitura dos problemas elencados na agenda e da combinação de possíveis soluções dos problemas críticos, nessa etapa; métodos, programas, estratégias e ações são realizadas visando à construção de alternativas para o alcance de objetivos instituídos durante a formulação das alternativas. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 46 Na fase de formulação de políticas públicas é levantada em conta as discussões acerca do conjunto de ações pertinentes, as quais irão formar determinada política. Nessa fase, há a conversão das questões presentes da agenda em política – desenhando a proposta e delimitando objetivos. Sou- za (2006) assevera que a formulação de políticas públicas se cons- titui no estágio em que os governos democráticos executam seus propósitos, previamente expostos no período eleitoral e que irão modificar o contexto atual no qual estão inseridos. Segundo Rodrigues (2010) para um determinado problema, a construção da solução implica na elaboração de um diagnóstico da situação em curso, além da identificação e desenvolvimento de alternativas. A formulação das políticas envolve a definição prévia da área em que serão extraídos os recursos financeiros para sua im- plementação, além do estabelecimento de coalizões e negociações a fim de preparar o cenário político e o ambiente econômico para a aceitação de uma política. A etapa de formulação constitui-se, por- tanto, em uma fase em que há a manutenção dos apoios políticos visando à aprovação e legitimação de uma política pública. A fase da implementação contém a aplicação da política atra- vés do Governo. É a etapa em que se busca combinar e conciliar o tempo para a implantação da política com os recursos financeiros e humanos disponíveis para seu cumprimento. Sua implantação deve estar constantemente atendendo aos objetivos previamente estabelecidos. Ao final do processo, os resul- tados alcançados caracterizam o impacto da política implementada. A implementação da política pública, por sua vez, sucede a tomada de decisões e antecede o processo de avaliação. É nesta fase onde os planejamentos, regras, rotinas, métodos e processos sociais são colocados em prática. Fernandes, Castro e Maron (2013) argumentam que as políti- cas de forma geral, são desenvolvidas de maneira pouco articulada. Dessa forma, um dos grandes desafios é conhecer o local em que se pretende aplicar a política, harmonizar junto à equipe imple- mentadora quais são os objetivos a serem alcançados e aparelhá-la com boa qualidade de recursos humanos/materiais. A capacidade decisória às adequações e adaptações dos atores locais às ações públicas é fator preponderante que auxilia o bom resultado do pro- cesso de estabelecimento da política. A interação da política entre o governo e os diversos atores distribuídos entre o ciclo das políticas é essencial para um bom resultado de sua implementação. Lima e D’Ascenzi (2013) explicam que o sucesso da implemen- tação de uma política pública decorre, sobretudo, da clareza dos objetivos, do estilo de implementação a ser adotado e da capacida- de de mediar conflitos de interesses. Assim, torna-se imprescindível que os implementadores com- preendam perfeitamente a política e saibam exatamente o que se esperar dela, pois a conformação do processo de implementação recebe influência das características do plano, da estrutura e da di- nâmica dos espaços organizacionais envolvidos – ideias, valores e interpretações dos atores implementadores sobre a realidade. O processo de avaliação de uma política pública dá-se a partir do momento em que efeitos são gerados, possibilitando a análise de indicadores que demonstrem em que nível as metas foram atin- gidas. Faria (2005) ressalta que na década de 1960, em contexto de expansão sem precedentes, a avaliação é institucionalizada, tendo um desenho predominantemente top-down – de cima para baixo. Já na década de 1970, as características de análise top-down foram progressivamente revertidas, abrindo espaço para metodologias bottom-up – de baixo para cima. Compreendendo a análise de ava- liação das políticas a partir da visão dos beneficiários da política e não apenas das interpretações advindas dos idealizadores. No que se refere à etapa de avaliação das políticas públicas, esta irá buscar mensurar os erros e acertos da política pública exe- cutada, bem como analisar critérios relacionados à economicidade, eficiência, eficácia e a equidade na distribuição dos benefícios entre os destinatários de uma política pública. Cunha (2006) explica que além do caráter de mensuração objetiva de resultados, a avaliação possui também aspectos qualitativos, constituindo-se em um julga- mento sobre o valordas intervenções governamentais envolvendo formuladores, avaliadores e beneficiários. A reforma gerencial do Estado, estimulada a partir dos anos de 1990, faz com haja uma série de medidas que fomentem o alcance de metas e a eficiência na gestão pública. No entanto, em políticas sociais é mais fácil existir o envolvi- mento da população nos processos que compreendem o ciclo das políticas públicas. Já nas políticas econômicas e fiscais, a população mantém-se como expectadora do processo, uma vez que a execu- ção de tais políticas faz parte do perfil administrativo adotado pelo governo e da interpretação do gestor público. Mesmo considerando os limites governamentais impostos à participação popular, Cunha (2006) salienta a existência da modalidade de avaliação participati- va, a qual pode ser utilizada principalmente para pequenos projetos e prevê a participação dos beneficiários nas ações de planejamen- to, na programação, execução e avaliação por parte deles. Existe um crescente interesse dos governos nos estudos de avaliação, que está relacionado às questões de efetividade, eficiência, accounta- bility e desempenho da gestão pública, os quais funcionam como ferramentas na aplicação de recursos e no desenvolvimento das políticas públicas. Assim, a participação popular nos processos de elaboração e avaliação de políticas passa a ser fundamental, tendo uma composição democrática e legitimadora nos processos decisó- rios do governo. Merece destaque ainda que diante da análise feita a partir dos estudos de Souza e Secchi (2015), os quais observam que após o processo de avaliação, ainda pode compor o ciclo das políticas pú- blicas a etapa de extinção de políticas. A extinção da política pública pode ocorrer em três situações: quando sanados os problemas que originaram a política, momento em que a política alcançou o obje- tivo geral; quando o arcabouço legal que embasavam a política é identificado como ineficaz; ou quando o problema não é mais tido pelos atores ou pela opinião pública como prioridade, deixando de fazer parte da agenda de intervenções necessárias do Estado, atra- vés de políticas públicas. O processo de extinção de uma política pública envolve dife- rentes interesses sociais, que em sua maioria são marcados por conflitos. Políticas do tipo redistributiva e distributivas são difíceis de serem extintas, dados os benefícios proporcionados a um grupo específico ou a pequenos grupos organizados, que diante da coleti- vidade desarticulada, conseguem de forma eficaz lutar pela defesa da continuidade de determinada política. As políticas regulatórias e constitutivas, por sua vez, esbarram na inércia do sistema institucio- nal e no desinteresse dos atores políticos capazes de reprogramar a máquina estatal. Implementação: a burocracia e seu papel nas políticas públi- cas Implementação • Mistura de teorias de políticas públicas e de administração pública • Gerações de estudos - Casos descritivos do processo • geração de teorias - Abordagens top-down e bottom-up ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 47 - Estudos quantitativos • Principais referenciais analíticos - Legislação - Resultados - Causalidade meios-fins - Comportamento dos agentes Administração pública: burocratização • Criação de instituições especializadas e estáveis com a finalidade de atender às necessidades de provisão de bens materiais e con- dições de vida e desenvolvimento • Linhas explicativas (Silberman, 1993) - Resposta sistemática às necessidades de coordenação de sistemas e atividades que, de outra forma, acarretariam elevados custos à sociedade e aos mercados. - Meio de superar a racionalidade limitada dos tomadores de decisão. o Manter o poder sobre as decisões em situações de incerteza pela transformação da estrutura de autoridade em uma organização racional e objetiva, onde o expertise torna-se a base da autoridade legítima. - Resultado da evolução de estruturas administrativas em determinadas condições sociais, econômicas e políticas, que trouxe vanta- gens àqueles que pudessem explorar a disponibilidade de informações e recursos. • Formato depende da tradição histórica e política dos países Vantagens da organização burocrática • Racionalidade • Falta de ambigüidade • Unidade • Subordinação • Continuidade • Eficiência • Conhecimento • Max Weber: sorte material das massas depende do conhecimento técnico da burocracia Impacto das regras burocráticas • Permitem o controle à distância • Aumentam a impessoalidade • Restringem a arbitrariedade e legitimam a sanção • Tornam possível comportamento minimalista do subordinado • Geram espaços de negociação entre subordinado e hierarquia Visão tradicional do papel da burocracia nas políticas públicas • Políticos eleitos traduzem as demandas sociais em políticas públicas, com objetivos claros e bem definidos • Burocracia define estratégias operacionais para atender aos objetivos de forma eficiente • O ambiente é receptivo à implementação das políticas • Os recursos são suficientes Realidade das políticas públicas • Objetivos das políticas públicas - Genéricos - Ambíguos - Múltiplos - Contraditórios... • Hostilidade • Falta de recursos • Assim, parte significativa das decisões recai sobre os gestores e implementadores - Prioridades, resolução de tensões, exequibilidade... Imagens da relação entre políticos e burocratas (Aberbach; Putnam; Rockman, 1981) • Política/Administração - Políticos: fazem política e tomam decisões. - Burocratas: administram e implementam as decisões. • Fatos/Interesses - Políticos: trazem interesses, valores e sensibilidade política. - Burocratas: trazem conhecimentos, fatos e habilidades técnicas. • Energia/Equilíbrio - Políticos: articulam interesses difusos. São impetuosos, partidários, idealistas e buscam publicidade e inovações. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 48 - Burocratas: mediam interesses focalizados. São prudentes, conservadores e pragmáticos, preferindo ajustes incrementais e estabi- lidade. • Híbrido puro - Sugere que será cada vez mais freqüente o desaparecimento da distinção entre as funções de políticos e burocratas. Burocratas e políticos Visão moderna do papel da burocracia nas políticas públicas • Mistura de elementos políticos e administrativos • Políticas como diretrizes vagas: a implementação pode mudar a forma e o direcionamento de políticas • Necessidade de conhecimento especializado • Fragmentação das arenas de decisões políticas • Incertezas do ambiente e da situação Papel da burocracia no ciclo de políticas públicas • Agenda: pouco, mais força na agenda setorial • Decisão: pressão, resistência • Alternativas: papel fundamental • Implementação: papel decisivo • Avaliação: em conjunto com os atores políticos e sociais; resistência Recursos da burocracia (administração) • Informação • Rede de contatos • Estabilidade • Posição na definição e implementação (capacidade de veto) • Discricionariedade Discricionariedade • Existe quando um funcionário tem condições de escolher entre diferentes alternativas de ação (ou omissão) • Nem sempre poder formal e poder real coincidem • Quanto mais complexa e extensa é uma organização, maior é o espaço para a discricionariedade -O grau de controle da estrutura hierárquica é relativamente reduzido • Poder discricionário da burocracia: - Possibilidade de maior proximidade com o público alvo, aprendizado e de preencher lacunas da política - Risco para a democracia Controle e accountability da burocracia • Controle: relação hierárquica, em que um ator deve atender às demandas de outro. • Accountability: -Transparência do processo decisório e dos resultados - Obrigação de prestação de contas - Responsabilização pelas decisões e resultados ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 49 - Horizontal e vertical • Tensões e sinergias: - Accountability fragmentada em diversos atores pode preju- dicar o controle, ao gerar indefinições e paralisar decisões e ações. - O excesso de controles pode prejudicar a disponibilidade e a qualidade de informação Mecanismos de controle e accountability• Clássicos: fundamentados no Estado de direito, incluem as- pectos procedimentais, administrativos, judiciais, auditorias, etc; • Parlamentar: o Legislativo supervisionando e tornando públi- cos os atos do Executivo; • Pelos resultados: lógica do gerencialismo público; • Competição administrada entre os serviços do Estado; • Controle social: agentes sociais assumindo papéis ativos nas políticas públicas e nos seus resultados. • Outros tipos: - Eleições - Ouvidoria. Legitimidade no Estado burocrático • Legitimidade democrática representativa: - Déficit democrático pela delegação a tecnocratas especialis- tas. - Necessidade de outras formas de controles, verificações e equilíbrios. • Legitimidade procedimental - Instituições criadas por estatutos democraticamente promul- gados que definem a autoridade legal e os seus objetivos - Burocratas nomeados por representantes eleitos - Tomada de decisões obedece a regras formais - Decisões abertas ao escrutínio judicial. • A legitimidade das instituições depende também de sua ca- pacidade de gerar e manter a crença de que elas são as mais apro- priadas para as funções a elas confiadas Riscos e distorções da implementação • Relacionamentos com outras estruturas administrativas e “clientelas” • Indeterminações (prioridades, recursos,...) • Descasamento entre recursos e objetivos • Seletividade voluntária ou involuntária • Desvio de objetivos Dinâmicas da implementação • Estratégias para lidar com a falta de recursos - Limitar a demanda, para atender razoavelmente a clientela - Reduzir ou reformular os objetivos -Modificar a concepção de qual deveria ser o serviço a ser pres- tado - Dar atenção às demandas mais fáceis/sistêmicas e aos grupos mais atuantes, em detrimento das mais difíceis e dos solicitantes menos ativos • Ênfase das escolhas nos valores pessoais, conhecimento com- partilhado, crenças coletivas, cultura profissional.. Tipos de Políticas Públicas As políticas públicas podem ter vários objetivos e particula- ridades distintas. São muitos tipos de Políticas Públicas e iremos apresentar os principais modelos que auxiliam na compreensão dos conceitos relacionados as Políticas Públicas. A princípio, política pública são as atitudes tomadas ou não pelo governo e os impactos dessas ações e omissões. Nesse tipo de política, busca-se compreender o que se quer fazer e o que deixou de ser feito. Além disso, podem explanar regras para ação e solução de possíveis problemas. Sendo assim, as políti- cas públicas podem ser divididas em três tipos: -Políticas Públicas Distributivas; -Políticas Públicas Redistributivas; -Políticas Públicas Regulatórias. -Políticas Públicas Distributivas As políticas públicas distributivas possuem objetivos pontuais relacionados ao oferecimento de serviços do estado e equipamen- tos. Esse caso é financiado pela sociedade por meio de um orça- mento público que beneficia grupos pequenos ou indivíduos de dis- tintas camadas sociais. Esse tipo de política possui pouca oposição na sociedade, mas não é dada universalmente a todos. É muito comum no Brasil o uso desse tipo de política e é bas- tante desenvolvido pelo Poder Legislativo. Primeiramente porque a camada mais pobre da população brasileira apresenta necessidades individuais e pertinentes devido a falta de recurso para todos e tam- bém porque elas representam a força daquele político que troca esse assistencialismo por votos. Exemplos: - A doação de cadeiras de rodas para deficientes físicos; - Oferta serviço para pavimentação de ruas. Entretanto, nem toda política distributiva pode ser conside- rada assistencialista, mas no Brasil é muitas vezes usado em épo- ca eleitoral. Casos de enchentes, por exemplo, são denominadas distributivas, mas não podem ser chamadas de assistencialista ou clientelistas. Passaram a aplicar essas políticas de uma maneira mais iguali- tária após a criação das LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social, criada em 1988, que dá sustentação legal a assistência social. Após a criação das LOAS os programas de assistência social devem ser contínuos, os cidadãos devem ter acesso aos serviços, os cidadãos devem exigir os direitos reservados por lei e dá autonomia para os usuários. Políticas Públicas Redistributivas Esse tipo de política pública visa redistribuir a renda em for- ma de financiamento em serviços e equipamentos e na forma de recursos. Nesse caso, as camadas mais altas da sociedade são as responsáveis por financiar as pessoas rendas menores, os chama- dos beneficiários. Exemplos: - Isenção do IPTU para determinados cidadãos em detrimento ao aumento desse imposto para pessoas com maior poder aquisi- tivo; - Programas habitacionais para população de baixa renda. As políticas redistributivas atingem uma grande parte da popu- lação e são vistas como direitos sociais. Nesses casos as chances de discordância são maiores, pois a parte da população que é “penali- zada”, costuma ser mais organizada politicamente. Muitos governos realizam a redistribuição desses valores não só na forma financeira, mas também como serviços disponibiliza- dos pelo governo como forma de reduzir a resistência dessas cama- das da sociedade. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 50 Políticas Públicas Regulatórias As políticas regulatórias são criadas para avaliar alguns setores no intuito de criar normas ou implementar serviços e equipamen- tos. É essa política a responsável pela normatização das políticas distributivas e redistributivas, ou seja, está mais relacionada à le- gislação. Esses casos atingem pequenos grupos da sociedade é não exatamente um grande grupo social. Ou seja, elas incidem de ma- neira diferente em cada segmento social. Grande parte da socie- dade não tem ciência do que são as políticas regulatórias e muitas vezes só reclamam quando são prejudicados de alguma forma. Exemplo: -Limitação das vendas de determinados produtos. Arranjos Na última década o Brasil alcançou um desempenho positivo nos indicadores de desenvolvimento, tendo conseguido simultane- amente obter crescimento econômico com redução da pobreza e da desigualdade(IBGE 2011). Apesar disso, vários estudos apontam que esses efeitos positivos são heterogêneos no conjunto do ter- ritório nacional (Favareto et al., 2013).Outro problema apontado pela literatura é que esses resultados teriam sido alcançados graças a um interessante conjunto de políticas, que são, no entanto,alta- mente fragmentadas (OCDE 2013), o que pode vir a comprometer a continuidade desse ciclo. Para fazer frente a esses problemas, nos últimos anos o Go- verno Federal brasileiro tem experimentado uma variedade de arranjos institucionais cujo objetivo é construir políticas públicas efetivas em um contexto territorial como o brasileiro, marcado pela diversidade e complexidade. Em alguns desses arranjos observa-se a presença de três componentes de destaque: (i) articulação de temáticas intersetoriais; (ii) construção de modelos de gestão de políticas com coorde- nação entre os entes federativos e a sociedade civil; (iii) a busca de enraizamento nos contextos locais de imple- mentação das políticas. Dito de outra forma, trata-se de uma tentativa de promover uma integração horizontal(entre setores de políticas públicas) e ver- tical (entre entes federativos) e de absorver de forma substantiva a dimensão territorial. Esse é o caso de programas marcadamente interministeriais como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas também de iniciativas setoriais e que preveem alguma complementaridade com esforços que envolveriam outras pastas, como é o caso do Plano Brasil Maior (Ministério da Indústria e do Comércio), mas que apresenta também ações ligadas à Ciência e Tecnologia ou à Infraestrutura Apesar desse intuito em comum, um olhar mais detido sobre esses arranjos permite perceber que eles se baseiam em estrutu- ras e lógicas de coordenação bastante diversas, cujas diferenças se concretizam em: (a) como promovem a intersetorialidade; (b) modelos degestão adotados; (c) relações que estabelecem entre os entes federativos; (d) espaço dado à participação da sociedade civil; (e) o papel conferido aos territórios e a articulação das políticas e programas que são objeto desses arranjos com o desenvolvimen- to territorial. Este artigo pretende analisar alguns dos mais importantes arranjos institucionais de políticas públicas do contexto brasileiro contemporâneo: Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Programa Territórios da Cidadania (TC)e Plano Brasil Sem Miséria (BSM). A escolha desses programas deve-se a um duplo critério: fo- ram três dos principais programas do Governo Federal na primeira administração chefiada por Dilma Rousseff e, pela sua natureza,en- volvem um feixe de capacidades e recursos que exigem uma abor- dagem intersetorial e territorial. Ao analisá-los, o artigo pretende responder a duas questões centrais. A primeira é evidenciar quais são os contornos principais desses arranjos institucionais no que diz respeito à tentativa de promover aquela dupla integração acima mencionada (vertical e horizontal). A segunda questão é compre- ender como os territórios são concebidos e que lugar institucional ocupam nesses arranjos A hipótese que se pretende demonstrar e que serve de fio condutor à exposição é que, nesses três programas, ainda que em graus variados, há mais justaposição do que integração de políticas públicas, e que neles os territórios –entendido como os lócus de im- plementação das políticas e como expressão das forças sociais nele presentes – não ocupam uma posição ativa, revelando-se meros re- positórios de investimentos. Como consequência, essa fragilidade observada tanto na dupla integração desejada como na articulação territorial é algo que resulta em perda de eficiência dos investi- mentos e em comprometimento dos resultados. Esses limites se devem, em grande medida, ao peso da cultura setorial que permeia os gestores e o comportamento das forças sociais,associado a uma cultura institucional de privilégio dos resultados alcançáveis em curto prazo. Esses aspectos, por sua vez, se concretizam tanto nas normas que regulamentam os arranjos como no leque de agentes envolvidos. Em termos teóricos essa hipótese se afasta das análi- ses que tomam os arranjos meramente sob o ângulo administrativo ou de gestão e se aproxima das abordagens institucionalistas, para as quais não se pode analisar os arranjos institucionais isolados do ambiente institucional do qual são, a um só tempo, parte e expres- são(Pires & Gomide 2014) Para demonstrar essa hipótese, as páginas a seguir estão or- ganizadas em três seções. Inicialmente, e de forma meramente in- trodutória, são apresentados os principais objetivos dos programas selecionados. O objetivo aqui é evidenciar como os problemas que lhes servem de objeto de intervenção requerem uma incorporação substantiva da dimensão territorial e da integração horizontal e ver- tical de políticas e agentes. A segunda e principal seção descreve comparativamente os arranjos institucionais dos três programas, com atenção para aforma como neles se concretizam a perspec- tiva intersetorial, a subsidiariedade entre esferas da federação e o tratamento da dimensão territorial. Nessa seção será feita também uma análise crítica a partir das comparações entre os diferentes programas, buscando evidenciar quão próximos ou distantes esses arranjos estão do seu intuito inicial de promover a integração ho- rizontal e vertical e incorporar a dimensão territorial. Ao final, nas conclusões, retoma-se a hipótese contrastando-a com as evidências expostas A importância da dimensão territorial e da integração vertical e horizontal das políticas A última década vem sendo considerada um período de êxi- to na trajetória recente do desenvolvimento brasileiro. Após duas décadas de crescimento econômico pífio, o país retomou uma tra- jetória ascendente, a pobreza caiu significativamente e continua- mente no período e esses fatores foram acompanhados de uma inédita redução da desigualdade. Mas esses resultados positivos não devem encobrir o fato de que, nas políticas públicas, é neces- sário um processo de permanente inovação, sob pena de se ver os resultados alcançados perderem sua capacidade de seguir alteran- do positivamente os indicadores econômicos ou sociais. Ao menos três estudos recentes fazem considerações na mesma direção. Um ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 51 deles é o recém publicado relatório da OCDE (2013),Territorial Re- view – Brazil. Ali se afirma que a última década foi marcada por avanços nos indicadores agregados e de desenvolvimento regional no Brasil. Mas ressalta também que a continuidade desses ganhos futuros não depende somente da continuidade dessas políticas, nem de novos programas, mas sim de uma melhor articulação de programas e de iniciativas já existentes. O relatório da pesquisa Coesão territorial para o desenvolvimento (Favareto et al., 2013) chega a conclusão similar: quase todos os indicadores melhoraram na década passada, mas sua manifestação espacial é relativamente heterogênea, e além disso o resultado dos programas tal como de- senhados anos atrás parece estar alcançando um teto. Finalmente, segundo o relatório From Wealth to Well-be-ing(Beal, Rueda-Saba- ter & Santo 2013), o Brasil está entre os líderes mundiais na “quali- dade do crescimento” na década passada (medida pela conversão em bem-estar para cada ponto percentual do PIB), mas a posição do país no ranking despenca quando se trata de avaliar as perspectivas de sustentação a longo prazo do crescimento econômico. Tudo in- dica, portanto, que a continuidade dos ganhos nos próximos anos dependerá de um conjunto de mudanças que passam pela maior integração horizontal e vertical de políticas e por uma incorporação mais substantiva da dimensão territorial na concepção e execução de programa se políticas públicas. Esse tipo de afirmação se torna mais palpável analisando os desafios concretos postos aos programas selecionados para análise neste artigo à luz dos achados mais recentes da literatura específica sobre os temas e problemas que lhes servem de objeto de inter- venção O PAC foi criado em 2007, pelo governo Lula, com objetivo de contribuir para o desenvolvimento sustentado e acelerado do Bra- sil, desobstruindo gargalos que impediam investimentos e promo- vendo a retomada do planejamento e execução de grandes obras de infraestrutura social, urbana, logística e energética do Brasil. As medidas do PAC estavam organizadas inicialmente em cinco eixos: (i) aumento do crédito e redução das taxas de juros, (ii) melhoria do ambiente de investimento, (iii) aperfeiçoamento do sistema tributário, (iv)medidas fiscais de longo prazo e (v) aumento do investimento em infraestrutura. Na reestruturação do Programa, em 2011, o PAC 2 se reorga- nizou em outros cinco eixos que contemplaram uma dimensão so- cial: Cidade Melhor;Comunidade Cidadã; Minha Casa Minha Vida; Água e Luz para Todos; Transportes e Energia. Para cada eixo são definidos projetos prioritários que recebem investimentos do Go- verno Federal, estados, municípios e setor privado. Mais do que a construção de novas ações, o programa buscou contemplar proje- tos e obras que já estavam em execução ou estavam previstas pelos diversos Ministérios ou empresas estatais e que deveriam ter prio- ridade e monitoramento contínuo por serem centrais para promo- ver a aceleração do crescimento (Leitão2011). Foram selecionados mais de 1.600 projetos, obras e ações que passaram a ser monito- rados numa lógica de gestão integrada e contínua, buscando dar a eles prioridade, garantia de recursos e visibilidade Com esse desenho o PAC foi saudado por vários setores como um sinal positivo de que o Estado brasileiro voltava a ter papel ativo na promoção da competitividade econômica. No entanto, estudos têm mostrado que a competitividade setorial tende a produzir desi- gualdades espaciais (Banco Mundial2009). Além disso,parte signifi- cativa das obras de infraestrutura envolvem conflitos socioambien- tais decorrentes de seus impactos (Rolnik 2012; Leitão2013). Seja sob o ângulo dos impactos territoriais indesejados da competitivi- dade (Vainer 2007), seja sob o ângulo da gestão antecipada da con- testabilidade (Hommel 2004), um programa voltado ao crescimento econômico não poderia ser territorialmente neutro (Favaretoet al., 2013; Modrego & Berdegue2012). Isto é, o PAC deveria incorporar a dimensão territorial e promover articulação vertical e horizontal de políticas para aumentar sua eficácia e gerar os impactos desejados também no plano local, e não somente no agregado da economia do país ou de setores específicos Arranjos institucionais em perspectiva comparada Os arranjos institucionais são aqui compreendidos como regras específicas que os agentes estabelecem para suas transações eco- nômicas ou nas relações políticas e sociais e que definem a forma de coordenação de processos em campos específicos, “delimitando quem está habilitado a participar de um determinado processo, o objeto e os objetivos desse e as formas de relação entre os ato- res” (Pires & Gomide 2014). A análise dos arranjos institucionais nos permite observar variáveis centrais para entender a definição dos atores envolvidos, como se efetiva a governança, os processos decisórios e os graus de autonomia. Uma primeira variável analítica é a intersetorialidade ou articu- lação horizontal. A intersetorialidade é a articulação de diferentes setores para, conjuntamente, construírem soluções que resolvam de forma produtiva problemas sociais (Cunill Grau 2005). É cons- truída pela conjunção de saberes e experiências para formulação, implementação, monitoramento ou avaliação de políticas públicas buscando alcançar resultados sinérgicos em situações complexas. A lógica intersetorial pressupõe articulação e junção de diferentes ações com um foco específico, como um território onde se quer atuar, um determinado público ou um problema complexo a en- frentar (Inojosa 1998). A intersetorialidade se define pela medida em que diferentes programas ou temas de políticas públicas são organizados horizontalmente permitindo integração entre eles. As- sim, ela pode se concretizar em graus diferentes nas políticas, va- riando em que medida de fato os temas estão articulados e como se concretizam, ou seja, se existe uma efetiva integração ou apenas justaposição de políticas. Analisando a experiência brasileira, vemos diferentes graus de materialização da intersetorialidade. Algumas experiências buscam materializá-la no processo de formulação das políticas públicas, considerando a integração de temas no planejamento; outras mate- rializam-se em uma ação coordenada no processo de implementa- ção; e há outras que realizam intersetorialidade apenas no processo de monitoramento conjunto de diferentes ações relacionadas a um mesmo tema, território ou população. A intersetorialidade é tanto mais efetiva quanto mais a integra- ção for pensada desde o planejamento até o monitoramento das políticas públicas. Assim, experiências que consideram intersetoria- lidade apenas como o processo de monitoramento conjunto de ex- periências diferentes têm poucas chances de avançar em termos de integração efetiva das políticas buscando resolução de problemas complexos. Outra variável central desses arranjos é a maneira como con- sideram as relações federativas – entre Governo Federal, governos estaduais e governos municipais – o que leva à dimensão de vertica- lidade. A questão aqui é analisar como os diversos entes federativos se relacionam e se responsabilizam no processo de formulação e execução das políticas públicas. Para compreender o desenho das políticas e as relações federativas, Arretche (2012) sugere consi- derar a diferença entre o que chama de Policy Making(quem tem autoridade formal e responsabilidade sobre a política) e Policy De- cision Making (quem tem autonomia para tomar decisões sobre as políticas). Nesse sentido, sugere que se diferencie a descentra- lização em três variáveis: descentralização política(possibilidade de que governos locais sejam eleitos diretamente); descentralização ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 52 fiscal (participação das receitas e gastos dos governos subnacionais sobre o gasto agregado); descentralização de competências (res- ponsabilidade pela execução das políticas públicas, considerando que a execução é diferente da autonomia decisória para definir as políticas públicas). TENDÊNCIAS DE MODERNIZAÇÃO E NOVOS MODELOS DE GESTÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Desde os anos 1980, as administrações públicas em todo o mun- do realizaram mudanças substanciais nas políticas de gestão pública (PGPs) e no desenho de organizações programáticas (DOPs). Essas reformas administrativas consolidam novos discursos e práticas de- rivadas do setor privado e os usam como benchmarks28 para orga- nizações públicas em todas as esferas de governo. Estratégias acla- madas de reforma têm vindo diretamente do setor privado numa onda que talvez possa ser considerada a mais profunda redefinição da administração pública desde que esta emergiu como uma área de especialidade identificável29. Os elementos apontados como ativadores dessas ondas de “modernização” são a crise fiscal do Estado, a crescente competi- ção territorial pelos investimentos privados e mão de obra qualifi- cada, a disponibilidade de novos conhecimentos organizacionais e tecnologia, a ascensão de valores pluralistas e neoliberais, e a cres- cente complexidade, dinâmica e diversidade das nossas sociedades. No velho continente, o processo de europeanização também tem desempenhado um papel crucial no estímulo à adoção de novos modelos organizacionais e à revisão das PGPs nos níveis nacionais, regionais e municipais. O modelo burocrático tornou-se o alvo das mais ásperas críti- cas. O modelo burocrático weberiano foi considerado inadequado para o contexto institucional contemporâneo por sua presumida ineficiência, morosidade, estilo autorreferencial, e descolamento das necessidades dos cidadãos. Dois modelos organizacionais e um paradigma relacional foram apresentados como alternativas ao modelo burocrático. A adminis- tração pública gerencial (AGP) e o governo empreendedor (GE) são modelos organizacionais que incorporam prescrições para a melho- ra da efetividade da gestão das organizações públicas. O movimento da governança pública (GP) se traduz em um mo- delo relacional porque oferece uma abordagem diferenciada de co- nexão entre o sistema governamental e o ambiente que circunda o governo. No longo prazo, esses modelos para reformas têm poten- cial para mudar o modo que as organizações públicas se adminis- tram e se relacionam. Também é importante frisar que, não raras vezes, reformas da administração pública são empunhadas com meros propósitos re- tóricos. Outras vezes, têm poucos efeitos ou fracassam completa- mente. O modelo burocrático O modelo burocrático weberiano é um modelo organizacional que desfrutou notável disseminação nas administrações públicas durante o século XX em todo o mundo. O modelo burocrático é atri- buído a Max Weber, porque o sociólogo alemão analisou e sinteti- zou suas principais características. O modelo também é conhecido 28 O benchmarking é uma parte importante da estratégia de marketing. O termo, que significa “ponto de referência”, é usado para explicar uma forma de determinar onde você quer chegar com seu planejamento. O benchmarking é um processo que envolve a análise dos concorrentes, tanto diretos quanto indiretos. 29 SECCHI, Leonardo. Modelos organizacionais e reformas da administração pública. Revista de Administração Pública - RAP — Rio de Janeiro 43(2):347-69, MAR./ABR. 2009. na literatura inglesa como progressive public administration — PPA, referindo-se ao modelo que inspirou as reformas introduzidas nas administrações públicas dos Estados Unidos entre os séculos XIX e XX, durantea chamada progressive era. No entanto, desde o século XVI o modelo burocrático já era bastante difundido nas administrações públicas, nas organizações religiosas e militares, especialmente na Europa. Desde lá o mode- lo burocrático foi experimentado com intensidades heterogêneas e em diversos níveis organizacionais, culminando com sua adoção no século XX em organizações públicas, privadas e do terceiro setor. Em 1904, no livro A ética protestante e o espírito do capitalismo, Max Weber fazia referências ao burocrata como profissional e à dis- seminação do modelo burocrático em países ocidentais, suas carac- terísticas de especialização, controle, e, sobretudo, racionalismo. Foi apenas após a morte de Weber, e após a publicação em 1922 do livro Wirtschaft und Gesellschaft (Economia e sociedade), que as bases teóricas da burocracia foram definitivamente construídas. Na sua descrição sobre os modelos ideais típicos de dominação, Weber identificou o exercício da autoridade racional-legal como fonte de poder dentro das organizações burocráticas. Nesse modelo, o poder emana das normas, das instituições formais, e não do perfil carismático ou da tradição. A partir desse axioma fundamental derivam-se as três características principais do modelo burocrático: a formalidade, a impessoalidade e o profissio- nalismo. A formalidade impõe deveres e responsabilidades aos membros da organização, a configuração e legitimidade de uma hierarquia administrativa, as documentações escritas dos procedimentos ad- ministrativos, a formalização dos processos decisórios e a forma- lização das comunicações internas e externas. As tarefas dos em- pregados são formalmente estabelecidas de maneira a garantir a continuidade do trabalho e a estandardização dos serviços presta- dos, para evitar ao máximo a discricionariedade individual na exe- cução das rotinas. A impessoalidade prescreve que a relação entre os membros da organização e entre a organização e o ambiente externo está ba- seada em funções e linhas de autoridade claras. O chefe ou diretor de um setor ou departamento tem a autoridade e responsabilidade para decidir e comunicar sua decisão. O chefe ou diretor é a pessoa que formalmente representa a organização. Ainda mais importante, a impessoalidade implica que as posições hierárquicas pertencem à organização, e não às pessoas que a estão ocupando. Isso ajuda a evitar a apropriação individual do poder, prestígio, e outros tipos de benefícios, a partir do mo- mento que o indivíduo deixa sua função ou a organização. O profissionalismo está intimamente ligado ao valor positivo atribuído ao mérito como critério de justiça e diferenciação. As fun- ções são atribuídas a pessoas que chegam a um cargo por meio de competição justa na qual os postulantes devem mostrar suas me- lhores capacidades técnicas e conhecimento. O profissionalismo é um princípio que ataca os efeitos negativos do nepotismo que dominava o modelo pré-burocrático patrimonia- lista. A promoção do empregado para postos mais altos na hierar- quia depende da experiência na função (senioridade) e desempe- nho (performance). O ideal é a criação de uma hierarquia de competências com base na meritocracia. Outras características do modelo que deri- vam do profissionalismo são a separação entre propriedade pública e privada, trabalho remunerado, divisão racional das tarefas e sepa- ração dos ambientes de vida e trabalho. O modelo burocrático weberiano estabeleceu um padrão ex- cepcional de expertise entre os trabalhadores das organizações. Um dos aspectos centrais é a separação entre planejamento e exe- cução. Com base no princípio do profissionalismo e da divisão ra- ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 53 cional do trabalho, a separação entre planejamento e execução dá contornos práticos à distinção wilsoniana entre a política e a admi- nistração pública, na qual a política é responsável pela elaboração de objetivos e a administração pública responsável por transformar as decisões em ações concretas. No setor privado, a burocracia weberiana consolida a prescri- ção de Taylor sobre divisão de tarefas entre executivos (usando a mente) e operadores (usando os músculos). A preocupação com a eficiência organizacional é central no modelo burocrático. Por um lado, os valores de eficiência econômica impõem a alo- cação racional dos recursos, que na teoria weberiana é traduzida em uma preocupação especial com a alocação racional das pessoas dentro da estrutura organizacional. Por outro lado, o valor da efici- ência administrativa induz à obediência às prescrições formais das tarefas, em outras palavras, preocupações do “como as coisas são feitas”. Nas teorias da escolha pública (public choice) os mecanismos que induzem a burocracia a cumprir determinadas tarefas seguin- do prescrições formais são chamados restrições ex ante (ex ante constraints) às agências e/ou burocracias. Outro valor implícito na ideia de burocracia é a equidade, pois ela é desenhada para dar tratamento igualitário aos empregados que desempenham tarefas iguais (tratamento, salários etc.). A burocracia também é desenha- da para prover produtos e serviços standard aos destinatários de suas atividades. Também implícita ao modelo burocrático é a desconfiança ge- ral com relação à natureza humana. O controle procedimental de tarefas, e reiteradas preocupações com a imparcialidade no trata- mento dos empregados e clientes são expressões claras da teoria X de McGregor. A teoria X, em contraposição à teoria Y do mesmo McGregor, é entendida como desconfiança com relação à índole humana, à von- tade de trabalho e desenvolvimento das pessoas, e à capacidade criativa e de responsabilidade. As críticas ao modelo organizacional burocrático são muitas. Após a II Guerra Mundial uma onda de confrontação intelec- tual contra o modelo burocrático foi liderada por Simon, Waldo e Merton. Robert Merton elaborou a crítica mais incisiva e direta ao modelo burocrático, analisando os seus efeitos negativos sobre as organizações e outras esferas da vida. Esses efeitos negativos foram chamados de disfunções burocrá- ticas: o impacto da prescrição estrita de tarefas (red tape) sobre a motivação dos empregados, resistência às mudanças, e o desvir- tuamento de objetivos provocado pela obediência acrítica às nor- mas. Outro aspecto levantado por Merton é o abuso da senioridade como critério para promoção funcional que, segundo o pesquisa- dor, pode frear a competição entre funcionários e fomentar um senso de integridade e corporativismo entre os funcionários, cau- sando um destacamento dos interesses dos destinatários/clientes dos serviços da organização. Ademais, a impessoalidade levada ao pé da letra pode levar a organização a não dar atenção a peculiaridades das necessidades individuais. Merton ainda enumera a arrogância funcional em re- lação ao público destinatário, em especial no serviço público, pois, em muitos casos, o funcionalismo público goza de situação de mo- nopólio na prestação de serviços. Tais disfunções podem ser ainda mais prejudiciais em organiza- ções que dependem da criatividade e da inovação. Depois de Mer- ton, outras críticas foram feitas ao modelo burocrático, e elas po- dem ser notadas implicitamente nas características dos chamados modelos pós-burocráticos de organização. Na administração pública destacam-se os modelos gerenciais (APG e GE), e a governança pública. Gerencialismo Dois modelos organizacionais têm pintado o quadro global de reformas da administração pública nas últimas décadas: a adminis- tração pública gerencial (APG) e o governo empreendedor (GE). Os dois modelos compartilham os valores da produtividade, orienta- ção ao serviço, descentralização, eficiência na prestação de servi- ços, marketization e accountability. Marketization é o termo utilizado para a utilização de mecanis- mos de mercado dentro da esfera pública. Exemplos de mecanis- mos de mercado é a liberdade de escolha de provedor por parte do usuário do serviçopúblico e a introdução da competição entre órgãos públicos e entre órgãos públicos e agentes privados. Accountability é um termo de difícil tradução para o português. Literalmente accountability significa a prestação de contas por par- te de quem foi incumbido de uma tarefa àquele que solicitou a ta- refa (relação entre o agente e o principal). A Accountability pode ser considerada o somatório dos conceitos de responsabilização, transparência e controle. A APG e o GE são frequentemente chamados de gerencialismo (managerialism). A administração pública gerencial ou nova gestão pública (new public management) é um modelo normativo pós-bu- rocrático para a estruturação e a gestão da administração pública baseado em valores de eficiência, eficácia e competitividade. Alguns autores se referem à APG como um movimento delimi- tado em espaço e tempo, como um processo de mudança nas ad- ministrações públicas do norte da Europa, do Canadá, e na Oceania nos anos 1980 e 90. A APG é um campo de debate acadêmico e profissional sobre temas de políticas de gestão pública, liderança executiva, desenho de organizações programáticas e operações de governo. Considera-se também a APG, como um conjunto de ferramen- tas e não uma ideologia, tendência ou movimento. A APG é um ar- gumento administrativo ou uma filosofia de administração, na qual eficiência e desempenho são valores que prevalecem. Essa filosofia de administração é baseada em um conjunto de doutrinas e jus- tificativas. As doutrinas são prescrições para a ação, receitas para serem aplicadas na gestão e no desenho das organizações públicas. As justificativas são as razões para a pertinência das doutrinas, dando a elas um sentido racional. Doutrinas e justificativas são re- lativamente coerentes umas com as outras, e algumas filosofias po- dem usar certas prescrições baseadas em algumas justificativas, já outras filosofias podem usar as mesmas prescrições baseadas em justificativas totalmente diferentes. As justificativas são compostas por valores, frequentemente parciais e contestáveis, mas com força normativa. Existem três gru- pos de valores que dão base às justificativas: → Grupo sigma: eficiência e alocação racional de recursos, limi- tação do desperdício, simplicidade e clareza; → Grupo theta: equidade, justiça, neutralidade, accountability e controle de abusos dos agentes (desonestidade, imperícia etc.); → Grupo lambda: capacidade de resposta, resiliência sistêmica, flexibilidade, elasticidade. A APG é um modelo normativo para a gestão pública, fundado em argumentos, doutrinas e justificativas derivados da interpreta- ção positiva ao grupo sigma de valores. A APG pode ser considerada uma religião, um sistema de crenças baseado na racionalidade ins- trumental aplicada à gestão pública. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 54 Enumera-se o conjunto de prescrições operativas da APG: → desagregação do serviço público em unidades especializadas, e centros de custos; → competição entre organizações públicas e entre organizações públicas e privadas; → uso de práticas de gestão provenientes da administração pri- vada; → atenção à disciplina e parcimônia; → administradores empreendedores com autonomia para de- cidir; → avaliação de desempenho; → avaliação centrada nos outputs. O livro Reinventando o governo, escrito por Osborne e Gaebler em 1992, inaugurou o “governo empreendedor” como um estilo pragmático de gestão pública. A abordagem foi claramente inspira- da na teoria administrativa moderna, trazendo para os administra- dores públicos a linguagem e ferramentas da administração privada contida em livros como The practice of management e In search of excellence. Originalmente, as ideias do GE se desenvolveram com maior in- tensidade nos Estados Unidos, quando a abordagem de Osborne e Gaebler foi utilizada no programa de governo do partido demo- crático nas eleições presidenciais de 1992, e posteriormente usada como base para o Government performance results act de 1993 e o programa nacional de desempenho da administração pública (na- tional performance review) durante a administração Clinton-Gore. Fazendo uso de uma linguagem prescritiva, sintetizam-se em uma lista de 10 mandamentos a receita para transformar uma or- ganização pública burocrática em uma organização pública racional e eficaz. Os dez mandamentos do GE são apresentados de forma resumida a seguir: Governo catalisador — os governos não devem assumir o papel de implementador de políticas públicas sozinhos, mas sim harmo- nizar a ação de diferentes agentes sociais na solução de problemas coletivos; Governo que pertence à comunidade — os governos devem abrir-se à participação dos cidadãos no momento de tomada de decisão; Governo competitivo — os governos devem criar mecanismos de competição dentro das organizações públicas e entre organiza- ções públicas e privadas, buscando fomentar a melhora da qualida- de dos serviços prestados. Essa prescrição vai contra os monopólios governamentais na prestação de certos serviços públicos; Governo orientado por missões — os governos devem deixar de lado a obsessão pelo seguimento de normativas formais e migrar a atenção na direção da sua verdadeira missão; Governo de resultados — os governos devem substituir o foco no controle de inputs para o controle de outputs e impactos de suas ações, e para isso adotar a administração por objetivos; Governo orientado ao cliente — os governos devem substituir a autorreferencialidade pela lógica de atenção às necessidades dos clientes/cidadãos; Governo empreendedor — os governos devem esforçar-se a au- mentar seus ganhos por meio de aplicações financeiras e ampliação da prestação de serviços; Governo preventivo — os governos devem abandonar compor- tamentos reativos na solução de problemas pela ação proativa, ela- borando planejamento estratégico de modo a antever problemas potenciais; Governo descentralizado — os governos devem envolver os funcionários nos processos deliberativos, aproveitando o seu co- nhecimento e capacidade inovadora. Além de melhorar a capaci- dade de inovação e resolução de problemas, a descentralização também é apresentada como forma de aumentar a motivação e autoestima dos funcionários públicos; Governo orientado para o mercado — os governos devem pro- mover e adentrar na lógica competitiva de mercado, investindo di- nheiro em aplicações de risco, agindo como intermediário na pres- tação de certos serviços, criando agências regulatórias e institutos para prestação de informação relevante e, assim, abatendo custos transacionais. Se observados atentamente, uns mandamentos se sobrepõem a outros, como nos casos dos mandamentos de governo de resulta- dos e governo orientado por missões. Nos mandamentos de gover- no catalisador, governo orientado para o mercado, governo empre- endedor e governo competitivo, os autores apresentam prescrições contraditórias em relação a papel e tamanho do setor público. Apesar disso, o livro mostra coerência em valores primários de racionalidade, eficácia e liberdade de escolha. Implicitamente, o modelo de GE de Osborne e Gaebler tem uma perspectiva positiva com relação à natureza humana. Os autores, especialmente nos ca- pítulos dois (governo que pertence à comunidade) e nove (governo descentralizado), defendem uma visão quase romântica com rela- ção ao comportamento e motivação dos cidadãos e funcionários pelos temas públicos. As ideias de Osborne e Gaebler também exaltam valores ligados ao filão filosófico do comunitarismo, principalmente quando evo- cam a importância do envolvimento cívico no processo de mudan- ça, comunicação e parceria entre esferas públicas e privadas. Governança pública A definição de governança não é livre de contestações. Isso porque tal definição gera ambiguidades entre diferentes áreas do conhecimento. As principais disciplinas que estudam fenômenos de “governance” são as relações internacionais, teorias do desen- volvimento, a administração privada, as ciênciaspolíticas e a ad- ministração pública. Estudos de relações internacionais concebem governança como mudanças nas relações de poder entre estados no presente cenário internacional. Os chamados teóricos globali- zadores (globalizers), de tradição liberal, veem governance como a derrocada do modelo de relações internacionais vigente desde o século XVII, onde o Estado-nação sempre foi tido como ator indivi- dual, e a transição a um modelo colaborativo de relação interestatal e entre atores estatais e não estatais na solução de problemas co- letivos internacionais. Governança, nesse sentido, denota o proces- so de estabelecimento de mecanismos horizontais de colaboração para lidar com problemas transnacionais como tráfico de drogas, terrorismo e emergências ambientais. Teorias do desenvolvimen- to tratam a governança como um conjunto adequado de práticas democráticas e de gestão que ajudam os países a melhorar suas condições de desenvolvimento econômico e social. “Boa governança” é, portanto, a combinação de boas práticas de gestão pública. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Ban- co Mundial exigem “boa governança” como requisito para países em via de desenvolvimento receberem recursos econômicos e apoio técnico. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 55 Áreas de aplicação das boas práticas são aquelas envolvidas na melhora da eficiência administrativa, da accountability democráti- ca, e de combate à corrupção como exemplos de elementos essen- ciais de um framework30 no qual economias conseguem prosperar. Governança na linguagem empresarial e contábil significa um conjunto de princípios básicos para aumentar a efetividade de con- trole por parte de stakeholders31 e autoridades de mercado sobre organizações privadas de capital aberto. Exemplos de princípios institucionais de governança são: a arti- culação entre autoridades para controlar o respeito à legislação e a garantia de integridade e objetividade pelas autoridades regulado- ras do mercado. Exemplos de princípios de governança para empre- sas privadas são: a participação proporcional de acionistas na toma- da de decisão estratégica, a cooperação de empresas privadas com organizações externas (sindicatos, credores etc.) e stakeholders internos (empregados), além de transparência nas informações e responsabilização dos executivos do quadro dirigente perante os acionistas. A etiqueta “governance” denota pluralismo, no sentido que di- ferentes atores têm, ou deveriam ter, o direito de influenciar a cons- trução das políticas públicas. Essa definição implicitamente traduz- -se numa mudança do papel do Estado (menos hierárquico e menos monopolista) na solução de problemas públicos. Por causa disso, a governança pública (GP) também é relacionada ao neoliberalismo. A GP também significa um resgate da política dentro da admi- nistração pública, diminuindo a importância de critérios técnicos nos processos de decisão e um reforço de mecanismos participati- vos de deliberação na esfera pública. Os impulsionadores do movimento da GP são múltiplos. O pri- meiro é que a crescente complexidade, dinâmica e diversidade de nossas sociedades coloca os sistemas de governo sob novos desa- fios e que novas concepções de governança são necessárias. A segunda força por trás da GP é a ascensão de valores neoli- berais e o chamado esvaziamento do Estado (hollowing out of the state), em que a incapacidade do Estado em lidar com problemas coletivos é denunciada. Tal movimento ideológico desconfia da ha- bilidade estatal de resolver seus próprios problemas de forma au- tônoma e prega a redução das autoridades nacionais em favor de organizações internacionais (blocos regionais, Nações Unidas, FMI, Banco Mundial), em favor de organizações não estatais (mercado e organizações não governamentais) e em favor de organizações lo- cais (governos locais, agências descentralizadas etc.) A terceira força motriz da GP é a própria APG como modelo de gestão da administração pública nacional, estadual e municipal, fo- cando maior atenção no desempenho e no tratamento dos proble- mas do que nas perguntas “quem” deve implementar ou “como” devem ser implementadas as políticas públicas. Na verdade, alguns acadêmicos consideram a GP uma consequência do movimento da APG, com a qual compartilha algumas características: há alguma se- melhança entre as duas perspectivas e parece claro que o recente interesse em governança, em parte, tem sido alavancado pela cres- cente popularidade da administração pública gerencial e a ideia de formas genéricas de controle social. 30 Um framework em desenvolvimento de software, é uma abstração que une códigos comuns entre vários projetos de software provendo uma funcionalidade genérica. Um framework pode atingir uma funcionalidade específica, por configura- ção, durante a programação de uma aplicação. 31 Stakeholder, é um dos termos utilizados em diversas áreas como gestão de projetos, comunicação social administração e arquitetura de software referente às partes interessadas que devem estar de acordo com as práticas de governança corporativa executadas pela empresa. Delineiam-se os elementos inexoráveis da GP: estruturas e in- terações. As estruturas podem funcionar por meio de mecanismos de hierarquia (governo), mecanismos autorregulados (mercado) e mecanismos horizontais de cooperação (comunidade, sociedade, redes). As interações dos três tipos de estrutura são fluidas, com pouca ou nenhuma distinção clara entre elas. Essa abordagem relacional, e o resgate das redes/comunidades/ sociedades como estruturas de construção de políticas públicas, é a grande novidade proposta pelos teóricos da GP. A governança não é mais baseada na autoridade central ou políticos eleitos (modelo da hierarquia) e nem passagem de responsabilidade para o setor privado (modelo de mercado), mas sim regula e aloca recursos co- letivos por meio de relações com a população e com outros níveis de governo. Um aspecto de maior discordância dentro da comunidade epis- têmica de administração pública é a questão do papel do Estado num contexto de GP. Por um lado, percebe-se uma diminuição do protagonismo estatal no processo de elaboração de políticas públi- cas. A GP implica não apenas o envolvimento de atores não estatais no planejamento e implementação das políticas públicas, mas tam- bém em todo o processo de coprodução e cogestão de políticas. O Estado torna-se uma coleção de redes interorganizacionais compos- tas por atores governamentais e sociais sem nenhum ator soberano capaz de guiar e regular. Alguns autores contestam esse tipo de entendimento, respon- dendo que o Estado mantém seu papel de liderança na elaboração de políticas públicas. De acordo com estes, a GP provoca a criação de centros múltiplos de elaboração da política pública, em nível lo- cal, regional, nacional ou supranacional. O Estado, no entanto, não perde importância, mas sim deslo- ca seu papel primordial da implementação para a coordenação e o controle. Essa abordagem centrada no Estado argumenta que a GP cria instrumentos de colaboração e um modelo mais transparente e integrador de Estado, que serve como um veículo ao alcance de interesses coletivos. Tratando de questões mais práticas, a GP disponibiliza platafor- mas organizacionais para facilitar o alcance de objetivos públicos tais como o envolvimento de cidadãos na construção de políticas, fazendo uso de mecanismos de democracia deliberativa e redes de políticas públicas. As redes de políticas públicas (policy networks) podem ser consideradas uma abordagem de pesquisa, uma filoso- fia de mediação de interesses ou uma forma específica de interação entre atores públicos e privados numa área de política pública. A democracia deliberativa foi experimentada em indústrias ja- ponesas no pós-guerra como um procedimento adequado a apro- veitar o conhecimento e os frames cognitivos dos empregados no momento de decidir sobre produtos e processos produtivos. Essa experiência organizacional tambémvem sendo usada na esfera go- vernamental com o intuito de melhorar a interação entre atores pú- blicos e privados para a solução de problemas coletivos e a redução de elos na cadeia de accountability. Os mecanismos de democracia deliberativa já foram experimen- tados em diferentes lugares e áreas de políticas públicas. Exemplos desses mecanismos são o fortalecimento da comunidade na gestão do patrimônio público (community empowerment), os planejamen- tos e orçamentos participativos, os conselhos deliberativos nas di- versas áreas de políticas públicas. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 56 As redes de políticas públicas (policy networks) representam ou- tra forma específica de interação entre atores públicos e privados. A participação nas redes de políticas públicas é aberta a qualquer interessado e tal tipo de arena produz baixa externalidade negativa ao ambiente externo. Um exemplo de rede desse gênero seria o grupo de jovens que se organiza para resolver o problema de ca- chorros abandonados nos grandes centros urbanos, ou ainda o gru- po de empresários e organizações do terceiro setor que se organi- zam para encontrar soluções locais para combater a criminalidade. A relativa independência das redes de políticas públicas é subli- nhada quando diz-se que as mesmas se auto-organizam. Trocando em miúdos, auto-organização quer dizer que as redes são autô- nomas e autogovernáveis, redes se desvinculam da liderança go- vernamental, desenvolvem suas próprias políticas e moldam seus ambientes. O ideal subjacente a essa forma de organização é a substituição da agregação numérica de preferências (votos) pelo processo cíclico e dialético de fertilização cruzada das preferências no momento de elaborar políticas públicas. A GP também denota a coordenação de atores estatais e não estatais nas operações de governo, e as parce- rias público-privadas (PPPs) são os exemplos mais básicos. Definem-se as PPPs como cooperação entre atores públicos e privados de caráter temporário no qual os atores desenvolvem pro- dutos mutuamente e/ou serviços e onde riscos, custos e benefícios são compartilhados. As áreas de políticas públicas onde as PPPs têm sido intensamente adotadas são os setores de infraestrutura e proteção ambiental, e os contratos preveem mecanismos de con- trole para mensurar resultados e impactos no ambiente econômico e social. EXERCÍCIOS 1. (2016 – Banca: FUNDEP (Gestão de Concursos) – Órgão: IFN-MG – Cargo: Tecnólogo - Gestão de Pessoas) Analise esta frase. A gestão ______ de RH pode ser compreendida como a defi- nição de políticas e ______ em relação aos recursos humanos para aumentar a ______ dos servidores – e, por consequência, do pró- prio órgão público para realizar seu trabalho de modo a alcançar seus objetivos. Com base no texto Políticas Integradas de Recursos Humanos no Setor Público de Nelson Marconi, assinale a alternativa que apresenta as palavras que completam correta e respectivamente essa frase. (A) Participativa / diretrizes / eficiência (B) Coordenada / metas / habilidade (C) Estratégica / diretrizes / habilidade (D) Pública / metas / eficiência 2. (2013 – Banca: FCC – Órgão: TRT - 15ª Região (SP) – Cargo: Analista Judiciário - Psicologia) O conceito de eficiência na gestão pública corresponde ao (A) grau de alcance das metas; é uma medida de resultados para avaliar o desempenho da administração. (B) uso racional e econômico dos insumos na produção de bens e serviços. (C) impacto final das ações, ou seja, o grau de satisfação das ne- cessidades e dos desejos da sociedade pelos serviços prestados pela organização. (D) grau de alcance dos indicadores de resultados estabeleci- dos no planejamento estratégico da organização. (E) resultado da avaliação de desempenho e grau de satisfação com os serviços disponibilizados. 3.(2013 – Banca: SUGEP UFRPE – Órgão: UFRPE – Cargo: Admi- nistrador) A aplicação do princípio da eficiência na Administração Pública pode ser exemplificada pela utilização das seguintes ferra- mentas, EXCETO: (A) a gestão da qualidade total, que pode ser considerada um dos principais instrumentos para a mudança de uma cultura burocrática para uma cultura gerencial. (B) a mensuração da economicidade na alocação dos recursos públicos, que permite gerar informações contábil-gerenciais adequadas à gestão baseada em resultados. (C) a gestão de recursos humanos baseada em competências, como pressuposto necessário para o desempenho eficiente e eficaz de atividades requeridas pelo trabalho realizado pelos servidores públicos. (D) a utilização de indicadores como instrumentos de avaliação de resultados, que estabelece relação entre os recursos utiliza- dos e os produtos obtidos. (E) a ênfase no controle hierárquico e formalista ou legal exer- cida sobre os procedimentos adotados pelo servidor público, visto que este tipo de controle dispensa o uso de indicadores de resultados obtidos pela gestão pública. 4.(2013 – Banca: FUNCAB – Órgão: PC-ES – Cargo: Escrivão de Polícia) A Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legal idade, impessoalidade, moralida- de, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (A) Os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis so- mente aos brasileiros natos ou naturalizados que preencham os requisitos estabelecidos em lei. (B) A investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de títu- los, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração. (C) O prazo de validade do concurso público será de até quatro anos, prorrogável uma vez, por igual período. (D) Durante o prazo prorrogável previsto no edital de convo- cação, aquele aprovado em concurso público de provas ou de provas e títulos será convocado sem prioridade sobre novos concursados para assumir cargo ou emprego, na carreira. (E) As funções de confiança, exercidas exclusivamente por ser- vidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condi- ções e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se ape- nas às atribuições de direção, chefia e assessoramento. 5.(2017 – Banca: COSEAC – Órgão: UFF – Cargo: Assistente em Administração) De acordo com o Código de Ética do Servidor Pú- blico, a cortesia, a boa vontade, o cuidado e o tempo dedicados ao serviço público caracterizam o esforço pela: (A) cordialidade. (B) disciplina. (C) política correta. (D) política da boa vizinhança. (E) solidariedade. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 57 6. (2018 – Banca: INSTITUTO AOCP – Órgão: TRT - 1ª REGIÃO (RJ) Cargo: Analista Judiciário - Área Administrativa) Assinale a al- ternativa que apresenta o instrumento criado pelo Governo Federal do Brasil cuja missão é promover a gestão pública de excelência, visando contribuir para a qualidade dos serviços públicos prestados ao cidadão e para o aumento da competitividade do país. (A) Programa de Qualidade e Participação na Administração Pública (QPAP). (B) Programa de Qualidade no Serviço Público (PQSP). (C) Programa Nacional de Desburocratização. (D) Comissão de Simplificação Burocrática. (E) Gespública. 7. (2015 – Banca: FCC – Órgão: TCE-CE – Cargo: Técnico de Controle Externo-Administração) A Administração pública geren- cial emergiu na segunda metade do século passado como estratégia para tornar a gestão pública mais eficiente. A Administração pública gerencial (A) propôs a redução dos custos transferindo ao Estado a exe- cução de serviços privados e centralizando a tomada de deci- são. (B) buscou organizar o serviço público por meio de sanções no caso de descumprimento das regras e procedimentos estabele- cidos para os servidores. (C) diminuiu a morosidade na prestação dos serviços públicos por meio do estabelecimento de regras ee entidades; – Racionalizar os procedimentos administrativos em vigor; – Além de traçar metas para áreas consideradas prioritárias, como a organização federal, recursos humanos e a informatização do setor público. Nessa época, ainda operavam os programas de privatização e desburocratização herdados do governo Figueiredo. O documento elaborado pela comissão geral da reforma define as propostas para a reorganização da administração pública10: – Restauração da cidadania para prover os cidadãos de meios para a realização de seus direitos, obedecendo aos critérios de uni- versalidade e acesso irrestrito; – Democratização da ação administrativa em todos os níveis do governo, por meio de dinamização, redução do formalismo e trans- parência dos mecanismos de controle, controle do Poder Executivo pelo Poder Legislativo e pela sociedade, e articulação e proposição de novas modalidades organizacionais de decisão, execução e con- trole administrativo-institucional; – Descentralização e desconcentração da ação administrativa com o objetivo de situar a decisão pública próxima do local de ação, além de reverter o processo de crescimento desordenado da admi- nistração federal; – Revitalização do serviço público e valorização dos serviços; – Melhoria dos padrões de desempenho afim de promover a alocação mais eficiente de recursos. 8BRESSER PEREIRA, L. C. Democracia, Estado Social, e Reforma Gerencial. Inter- venção no VI Fórum da Reforma do Estado. Rio de Janeiro, 2007. 9COSTA, F. L. Brasil: 200 anos de Estado; 200 anos de administração pública; 200 anos de reformas. Revista do Serviço Público. RJ, 2008. 10MARCELINO, G. F. Em Busca da Flexibilidade do Estado: o Desafio das Refor- mas Planejadas no Brasil. Revista de Administração Pública, 2003. Essa comissão, criada em agosto de 1985, suspende seus tra- balhos em fevereiro de 1986, quando todas as atenções e esforços estavam voltados para o plano de estabilização da economia — o Plano Cruzado. O Governo Collor A reforma administrativa no governo Collor caminhou de forma errática e irresponsável no sentido da desestatização e da racionali- zação. As medidas de racionalização foram conduzidas de maneira perversa e equivocada. Cortes de pessoal desnecessários, fusões equivocadas de mi- nistérios, que criavam superestruturas (como os ministérios da Economia e da Infraestrutura) sujeitas a pressões de interesses po- derosos, e dificultavam a supervisão que intentavam favorecer. A reforma administrativa desmantelou a máquina pública, paralisan- do todos os programas sociais, depois do início da crise de seu go- verno, Collor voltou ao velho sistema de concessões políticas para atrair apoios, desmembrando e criando ministérios. O Governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) Em 1995, deu-se a apresentação do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado: 1º Em nível estratégico: é o Estado que formula e avalia as di- retrizes e políticas públicas, garantindo que sua implementação se dê em benefício de todos os cidadãos; 2º Em nível executivo: implementa-se as políticas formuladas, com observância das diretrizes definidas. O Plano Diretor da Reforma do Estado inovava ao propor a substituição do modelo burocrático weberiano pelo modelo de ad- ministração gerencial. Dessa forma, a administração gerencial pas- sou a ser o principal instrumento do governo na busca da flexibilida- de do Estado, conhecido também como Reforma Bresser. O Plano Diretor partia da premissa que a crise latino-americana era uma crise do Estado, e por isso, indicou os seguintes pilares do projeto de reforma do Estado: – Ajustamento fiscal duradouro; – Reformas econômicas orientadas para o mercado que, acom- panhadas de uma política industrial e tecnológica, garantissem a concorrência interna e criassem condições para o enfrentamento da competição internacional; – Reforma da previdência social; – Inovação dos instrumentos de política social, proporcionando maior abrangência e promovendo melhor qualidade para os servi- ços sociais; – Reforma do aparelho de Estado, com vistas a aumentar sua “governança”, ou seja, sua capacidade de implementar de forma eficiente políticas públicas. O Brasil já se havia dado conta da necessidade da distinção de funções em diferentes esferas de gestão desde o Decreto-lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, e foi realizado um esforço de reforma administrativa orientado, entre outras diretrizes, pela atribuição das atividades de execução a entidades descentralizadas, na forma de autarquias, fundações e empresas estatais. Para que o Estado abandonasse a ineficiência e a rigidez gera- da pela administração burocrática para uma administração pública gerencial, flexível e eficiente, voltada para o atendimento da cida- dania, o Plano Diretor da Reforma do Estado deveria11: – Redefinir os objetivos da administração pública, voltando-a para o cidadão-cliente; 11COSTA, F. L. Brasil: 200 anos de Estado; 200 anos de administração pública; 200 anos de reformas. Revista do Serviço Público. RJ; 2008. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 5 – Aperfeiçoar os instrumentos de coordenação, formulação, implementação e avaliação de política públicas; – Flexibilizar as normas e a simplificar de procedimentos; – Redesenhar as estruturas mais descentralizadas; – Aprofundar as ideias de profissionalização e de permanente capacitação dos servidores públicos (ideias que vêm da administra- ção pública burocrática, mas que não foram nela plenamente de- senvolvidas). Governos Lula e Dilma12 O governo Lula continuou uma série de iniciativas advindas da experiência anterior da modernização do Estado brasileiro particu- larmente no reforço de algumas carreiras, no campo do governo eletrônico e na nova moldagem que deu à Controladoria Geral da União, hoje um importante instrumento no combate à ineficiência e à corrupção. Além disso, aproveitou sua inspiração na democracia participativa para discutir mais e melhor o PPA com a sociedade, em várias partes do Brasil, realizando um avanço no campo do pla- nejamento13. A pior característica do modelo administrativo do governo Lula, foi o amplo loteamento dos cargos públicos, para vários partidos e em diversos pontos do Executivo Federal, inclusive com uma forte politização da administração indireta e dos fundos de pensão. Ao mesmo tempo que abre as portas da administração pública à politi- zação, o governo Lula deixa como legado positivo o aperfeiçoamen- to de alguns importantes mecanismos de controle da corrupção. As ações da Polícia Federal e, principalmente, o trabalho da Controladoria Geral da União são inegáveis avanços da gestão pe- tista que devem ser definitivamente incorporados pelo Estado bra- sileiro. Propõe-se quatro eixos estratégicos para a modernização do Estado brasileiro14: 1. Profissionalização do alto escalão governamental, redução dos cargos em comissão, fortalecimento das carreiras estratégicas de Estado, capacitação dos servidores públicos; 2. Eficiência através da mudança na lógica do orçamento, apri- moramento do governo eletrônico, redução de gastos governamen- tais; 3. Efetividade através de uma visão de gestão de resultados de longo prazo, entrosamento entre os níveis de governo, fortale- cimento da regulação dos serviços públicos, aumento da transpa- rência; e 4. A responsabilização do poder público. O novo pacto desenvolvimentista que parece estar se forman- do é composto pelo empresariado nacional, tecnoburocratas públi- cos e trabalhadores15. Apesar dos avanços na consolidação de carreiras estratégicas de Estado, prevaleceu, no entanto, a lógica da agenda burocrática de gestão: as novas contratações se deram no regime estatutário, as iniciativas de remuneração variável adotadas no período FHC pro- gressivamente foram abolidas, embora iniciativas de mensuração e avaliação do desempenho individual de servidores sigam existindo. 12http://www.anpad.org.br/diversos/trabalhos/EnAPG/enapg_2012/2012_ EnAPG403.pdf. 13ABRUCIO, F. L.; Trajetória recenteprocedimentos de- talhados para cada etapa da implementação das políticas pú- blicas. (D) aumentou a eficiência da gestão dos serviços públicos ao estabelecer remuneração por desempenho para os servidores que exercem suas funções de forma estritamente profissional, respeitando o devido distanciamento do cidadão. (E) atribuiu ao Estado o papel de regulador e delegou parte da execução dos serviços públicos à Administração indireta, às or- ganizações sociais e à iniciativa privada. 8.(2014 – Banca: ESAF – Órgão: MTur – Cargo: Analista Técnico – Administrativo)São propriedades essenciais dos indicadores utili- zados para a mensuração do desempenho governamental, exceto; (A) utilidade. (B) validade. (C) simplicidade (D) confiabilidade (E) disponibilidade. 9. (2015 – Banca: FCC – Órgão: TCE-AM – Cargo: Auditor) Os entes federados relacionam-se entre si de variadas maneiras. É co- mum a instrumentalização de Protocolos de Intenção, convênios, contratos, convênios de cooperação e de consórcios públicos. A disciplina deste último, por meio da Lei n° 11.107/2005, permitiu avanços nesse modelo de atuação integrada, pois os consórcios pú- blicos (A) tal como os convênios de cooperação, têm personalidade jurídica, mas passaram a lhes serem outorgadas competências dos entes federativos, além de serem dotados de poderes mais amplos, como para desapropriação de bens. (B) substituíram os protocolos de intenção e os convênios, na medida em que passaram a ser instrumentos mais dinâmicos e eficazes para a viabilização de repasses de recursos entre os entes federativos, porque não se submetem a prévias dotações orçamentárias ou suplementares, possuindo controle autôno- mo dos contratos de rateio. (C) são constituídos sob a forma de associação, com persona- lidade jurídica própria, a qual, portanto, é permitida a delega- ção de competências dos entes federativos que o compõem, com outorga de poderes para prestação de serviços públicos, inclusive expropriatórios e para cobrança de tarifas, além de celebrar contratos e ser contratado com dispensa de licitação. (D) concentram as atividades de prestação, gestão, fiscalização e regulação de serviços públicos numa só figura jurídica, devi- damente autorizado pelos entes consorciados, possibilitando ganho de eficiência e agilidade, porque, especialmente, foi afastado o controle externo de sua atuação, embora remanes- ça a competência do Judiciário para apreciação de seus atos. (E) substituíram os contratos de gestão firmados com organi- zações sociais e organizações da sociedade civil de interesse público, porque, assim como essas pessoas jurídicas, possuem natureza jurídica de direito público, não estão sujeitos a lei de licitações e não integram a Administração pública indireta, mas podem receber poderes e competências dos entes federativos. 10. (2014 – Banca: FGV – Órgão: Prefeitura de Florianópolis - SC Cargo: Administrador)A semelhança entre Organizações Sociais (OS) e Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) está pautada no fato de se referirem a entidades privadas que, uma vez preenchidos os requisitos legais, recebem uma qualificação pelo poder público. Dentre as suas diferenças, é possível afirmar que: (A) uma OS pode ter fins lucrativos; (B) uma OSCIP pode remunerar seus dirigentes e distribuir seus excedentes operacionais entre seus colaboradores; (C) uma OSCIP está impossibilitada de receber bens apreendi- dos, abandonados ou disponíveis, administrados pela Secreta- ria da Receita Federal; (D) uma OSCIP tem seu certificado emitido pelo Ministério da Ação Social; (E) uma OS pode assumir serviços públicos desempenhados pelos órgãos da administração pública. 11. (2015 – Banca: BIO-RIO – Órgão: IF-RJ – Cargo: Contador) O Tribunal de Contas julgará a Prestação de Contas Irregular quando ocorrer uma das situações a seguir, EXCETO: (A) omissão no dever de prestar contas. (B) prática de ato de gestão ilegal, ilegítimo ou antieconômico, ou infração a norma legal ou regulamentar de natureza contá- bil, financeira, orçamentária, operacional ou patrimonial. (C) dano ao erário decorrente de ato de gestão ilegítimo ou an- tieconômico. (D) desfalque ou desvio de dinheiros, bens ou valores públicos. (E) execução integral de obra realizada por empresa contratada mediante concorrência pública, na qual foi contratado o adim- plemento da obrigação. 12. Com base na Lei da Transparência (Lei Federal nº 12.527/2011), assinale a alternativa correta. (A) As informações que puderem colocar em risco a seguran- ça do Presidente e Vice-Presidente da República e respectivos cônjuges e filhos(as) serão classificadas como ultrassecretas e ficarão sob sigilo pelo prazo de 25 (vinte e cinco) anos. (B) O acesso à informação classificada como sigilosa cria a obri- gação para aquele que a obteve de resguardar o sigilo. (C) O recurso apresentado em face de decisão que indefere pe- dido de acesso a informações será direcionado à própria auto- ridade que a proferiu, a qual se manifestará no prazo de cinco dias a respeito do preenchimento dos pressupostos legais de admissibilidade. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 58 (D) A Lei Federal nº 12.527/2011 somente se aplica aos órgãos públicos integrantes da Administração direta dos Poderes Exe- cutivo, Legislativo, incluindo as Cortes de Contas, e Judiciário e do Ministério Público, as autarquias, as fundações públicas, as empresas públicas, as sociedades de economia mista e demais entidades controladas direta ou indiretamente pela União, Es- tados, Distrito Federal e Municípios. (E) O serviço de busca e fornecimento da informação deverá ser remunerado mediante cobrança de taxa. 13. (IF/TO – Auditor - IF/TO/2021) Segundo o sistema de gover- nança pública em órgãos e entidades da administração pública, o posicionamento da auditoria interna dentro dessa estrutura se dá como (assinale a alternativa correta). (A) instância interna de governança. (B) instância interna de apoio à governança. (C) administração executiva. (D) gestão tática. (E) gestão operacional. 14. (SEPLAD/PA - Técnico em Gestão Pública – Administração – CETAP/2021) A adoção de boas práticas com o público interno e externo à organização com o objetivo de cumprir cada vez melhor sua missão chama-se: (A) governança. (B) visão organizacional. (C) governabilidade. (D) poder estatutário. 15. (CREMEPE - Analista Superior – Administrador – IDIB/2021) Avalie o conceito a seguir e assinale a alternativa que apresenta o termo ao qual ele se refere: Capacidade técnica e financeira de governar, competência para tomar decisões e executar políticas públicas que supram as deman- das da sociedade (PALUDO, 2010). (A) governança. (B) governabilidade. (C) accountability. (D) accountability social. 16. (CODEVASF - Analista em Desenvolvimento Regional – Ad- ministração - CESPE/CEBRASPE/2021) Julgue o próximo item quan- to a compras governamentais, gerenciamento de estoques, gover- nabilidade, governança, organizações sociais e agências executivas. Ao intensificar o seu papel de regulador e provedor de serviços públicos, em detrimento do seu papel de executor, o Estado reforça sua governabilidade. (...) CERTO (...) ERRADO 17. (FUNSAÚDE/CE - Analista Administrativo – FGV/2021) A evolução tecnológica dos últimos 30 anos, com a popularização da internet, permitiu uma atuação do governo mais próxima da popu- lação, por meio do governo eletrônico. Assinale a opção que apre- senta uma diretriz do governo eletrônico. (A) Promoção do controle social. (B) Melhoria da gestão externa. (C) Atendimento aos clientes institucionais. (D) Trabalhar junto aos representantes. (E) Integração com parceiros e fornecedores. 18. (FUNSAÚDE/CE - Analista Administrativo – FGV/2021) Assi- nale a opção que melhor define o termo accountability. (A) A ideia de que os representantes do Estado devem prestar contas e ser responsabilizados por seus atos. (B) A capacidade de um governo gerir recursos e implementar, de forma estruturada, políticas públicas.(C) As condições materiais e sistêmicas necessárias para que um governo consiga exercer suas funções precípuas com legi- timidade. (D) O poder de garantir condições para que todos tenham aces- so ao exercício universal dos direitos civis. (E) A forma que permite a mobilização de meios necessários para o enfrentamento de problemas críticos da sociedade. 19. (ITEP/RN - Assistente Técnico Forense – Administração - INSTITUTO AOCP/2021) A accountability, que é traduzida por res- ponsabilidade ou responsabilização, é o dever do Estado e do servi- dor como seu agente de prestar contas de seus atos à sociedade. A accountability deriva da aplicação de quais princípios? (A) Da legalidade e da governança. (B) Da impessoalidade e da transparência. (C) Da publicidade e da responsabilidade. (D) Da moralidade e da governabilidade. (E) Da eficiência e da prestabilidade. 20. (TCE/RJ - Analista de Controle Externo - CESPE/CEBRAS- PE/2021) Com relação a governança, governabilidade e accountabi- lity, julgue o item subsecutivo. O acesso à informação governamental pelos cidadãos é uma es- tratégia de promoção da transparência pública. (...) CERTO (...) ERRADO 21. (PG/DF - Analista Jurídico – Administração - CESPE/CE- BRASPE/2021) Julgue o próximo item, relativo à transparência, ac- countability, gestão por resultados, comunicação e administração de pessoal. Em um modelo de gestão por resultados, o estabelecimento de objetivos e metas é definido de forma discricionária pelo gestor pú- blico. (...) CERTO (...) ERRADO 22. (PG/DF - Analista Jurídico – Administração - CESPE/CE- BRASPE/2021) Julgue o próximo item, relativo à transparência, ac- countability, gestão por resultados, comunicação e administração de pessoal. A responsabilização dos gestores públicos pelos resultados de- correntes do uso de recursos públicos insere-se no contexto de ac- countability. (...) CERTO (...) ERRADO 23. (CODEVASF - Analista em Desenvolvimento Regional – Ad- ministração - CESPE/CEBRASPE/2021) Acerca de governo eletrôni- co, transparência da administração pública, accountability, gestão por resultados e gestão de redes organizacionais, julgue o item se- guinte. Por meio da avaliação dos resultados dos serviços públicos, é possível identificar falhas e redefinir estratégias para a melhoria das inciativas. (...) CERTO (...) ERRADO ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 59 24. (MPE/CE - Técnico Ministerial – CESPE/2020) Julgue o item subsequente, no que se refere à evolução da administração pública no Brasil, ao modelo de gestão e excelência nos serviços públicos, bem como às convergências e divergências entre gestão pública e privada. A excelência dos serviços públicos pode ser mensurada e apri- morada a partir da avaliação dos resultados obtidos nas ações dos órgãos administrados pelo governo. (...) CERTO (...) ERRADO 25. (Ministério da Economia - Técnico em Administração, Con- tabilidade ou Informática – IDIB/2021) Analise as afirmativas a se- guir sobre a Administração Pública: I. Na Administração Pública contemporânea não existem órgãos públicos subalternos ou dependentes. II. No Brasil, mesmo com todos os avanços nas práticas geren- ciais, a burocracia ainda faz parte da Administração Pública; daí a dificuldade de se reduzir o custo da máquina do Estado e de se au- mentar a qualidade dos serviços públicos. III. A chamada Administração Pública Gerencial representa uma evolução na história da gestão pública, contemplando aspectos de eficiência, eficácia e efetividade. É correto o que se afirma (A) apenas em I. (B) apenas em II. (C) apenas em III. (D) apenas em I e II. (E) apenas em II e III. 26. (CRF/AP – Administrador – QUADRIX/2021) Em relação às principais abordagens da Administração Pública e à evolução da Ad- ministração Pública no Brasil, julgue o item. O modelo gerencial, em sua fase inicial, implica administrar a res publica de forma semelhante à administração do setor privado, de forma eficiente, com a utilização de ferramentas que consigam maximizar a satisfação do usuário. (...) CERTO (...) ERRADO 27. (TRE/PA - Analista Judiciário – IBFC/2020) Ao longo do tem- po, os modelos de Administração Pública sofreram algumas varia- ções, sendo que a doutrina aponta diferentes fases. Sobre o tema, assinale a alternativa correta. (A) São características do modelo patrimonialista da Adminis- tração Pública o nepotismo, o fisiologismo, o clientelismo e a gerontocracia, cujas manifestações revelam ser o interesse pú- blico, a coisa pública e o poder público pertencentes do Estado e exercidos em prol deste. (B) No modelo de Administração burocrático, ganham relevo o princípio da estrita legalidade e a responsabilização dos agen- tes estatais, por meio da criação de mecanismos de controle de resultados e normas internacionais de “accountability”, mar- cando a função regulatória do Estado e o incentivo à participa- ção do Terceiro Setor. (C) A reforma gerencial introduz uma perspectiva de Adminis- tração público-empresarial, alicerçada pelo princípio da efici- ência, contrapondo-se à ideologia do formalismo e rigor téc- nico do período antecedente, sendo o cidadão compreendido como um “cliente”, para quem os serviços estatais de qualidade devem ser direcionados. (D) O gerencialismo ou “nova gestão” é evidenciado pela me- nor participação de agentes privados e pela reduzida autono- mia das entidades administrativas na consecução de políticas públicas e prestação de serviços essenciais não exclusivos do Estado, atendendo a um programa de publicização. 28. (EBSERH - Analista Administrativo – Administração – IBFC/2020) A respeito da evolução da administração pública no Bra- sil (após 1930), reformas administrativas e a nova gestão pública, assinale a alternativa incorreta. (A) A reforma do aparelho do Estado, a descentralização dos serviços sociais, a delimitação mais precisa da área de atuação do Estado e assegurar a responsabilização (accountability) atra- vés da administração por objetivos, são alguns dos objetivos da reforma de 1967. (B) O Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG) apre- sentou como alguns dos seus objetivos: acelerar o ritmo de desenvolvimento econômico do país; conter progressivamen- te o processo inflacionário; atenuar os desníveis econômicos setoriais e regionais e as tensões criadas pelos desequilíbrios sociais. (C) O novo modelo gerencial (gerencialismo) baseava-se na competição e no foco em resultados, propondo uma agenda de reformas com foco na diminuição do aparelho do Estado, a desregulamentação, o controle fiscal, a privatização de empre- sas públicas e a aplicação de técnicas empresariais no âmbito governamental. (D) A reforma administrativa do estado novo visava constituir uma administração pública mais racional e eficiente, que assu- misse um papel na condução do processo de desenvolvimento. (E) A Constituição Federal de 1988 desencadeou o processo de municipalização da gestão pública e, consequentemente, de concessão de maiores poderes aos municípios. GABARITO 1 C 2 B 3 E 4 E 5 V 6 E 7 E 8 C 9 C 10 E 11 E 12 B 13 B 14 A 15 A 16 ERRADO 17 E 18 Ada gestão pública brasileira: um balanço crítico e a renovação da agenda de reformas. 2007. 14http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,os-modelos-organizacionais-e-a- -reforma-administrativa,48702.html. 15BRESSER-PEREIRA, L. C. Os três ciclos da Sociedade e do Estado. Fundação Getúlio Vargas, Abril, 2012. Uma outra característica deste período é a eleição de progra- mas prioritários, que passam a receber tratamento diferenciado e monitoramento intensivo, parecem ser as marcas da gestão nos governos Lula e Dilma. Iniciativas, como a criação de Conselhos setoriais de políticas e a aprovação da Lei de Acesso à Informação parecem apontar para o avanço de uma agenda de promoção da governança pública. No entanto, ainda não é possível ter clareza sobre as propostas para a gestão de um eventual novo pacto político desenvolvimen- tista. O segundo Governo Dilma marca-se principalmente pela crise econômica e política, inclusive a partir do questionamento do re- sultado das eleições pelo candidato derrotado e pelo PSDB junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O ciclo de protestos iniciado em 2013 ganha fôlego em 2015-2016, com destaque para o ativismo de uma classe média conservadora que tradicionalmente não se mo- bilizava e mantinha-se em cena em um contexto de polarização e intolerância. Nessa linha, na esteira da crise socioeconômica e política que conflui com o processo de impeachment, se aponta para limites do presidencialismo de coalizão, para o esgotamento das formas da participação institucionalizada que não lograram alterar significati- vamente a relação com a sociedade, para a perda de status de ca- madas médias da população a partir da redução das desigualdades, para a profusão de casos de corrupção e paradoxos em seu comba- te, e para o papel novo e crescente do Poder Judiciário na política. Mais além, um de seus argumentos refere-se à fragilidade das estruturas de defesa de direitos, que não se vinculam às garantias institucionais, mas se associam a arranjos entre as elites, implican- do processos de desinstitucionalização no terreno das conquistas sociais e democráticas. É nesse cenário que se processa uma pro- funda inflexão na agenda pública, que passa a ser direcionada para a redução do papel do Estado e da compressão do gasto público. Adotada pelo Governo Temer, essa nova agenda, de nítida con- figuração neoliberal, será aprofundada por seu sucessor, o Governo Bolsonaro. Governo Michel Temer16 Com o afastamento temporário da Presidenta Dilma Rousseff em consequência da aceitação de seu processo de impeachment pelo Senado Federal, em 12 de maio de 2016, Michel Temer assume interinamente o comando do Executivo federal. Concluído o proces- so de impeachment, em 31 de agosto de 2016, o comando interino torna-se definitivo e se estende até o final de 2018. O Governo Temer, que se inicia sob grave crise econômica e deterioração das contas públicas, irá promover uma inflexão na agenda pública, com a substituição da busca do crescimento com inclusão social, adotada pelos governos petistas, especialmente o Governo Lula, pelas reformas de orientação pró-mercado, em que prevalece, como prioridade absoluta, a promoção do ajuste fiscal. O traço em comum com os Governos Lula e Dilma é a preser- vação da política de estabilização macroeconômica lastreada no tripé câmbio flutuante, metas inflacionárias e superávit fiscal. Cabe observar, no entanto, que desde 2014 o resultado primário no orça- mento federal expressa déficit e não superávit fiscal. Do ponto de vista econômico, o reformismo do Governo Te- mer, focado no ajuste fiscal, não foi capaz de reverter a perda de dinamismo da atividade produtiva. Nos anos de 2017 e 2018, o país transita da recessão para a estagnação, com crescimento à taxa mé- dia de apenas 1,1% ao ano no período. 16Carneiro, Ricardo. O papel do Estado e as reformas na Administração Pública: da Constituição Federal de 1988 ao contexto Pós Pandemia/ Ricardo Carneiro, Flávia de Paula Duque Brasil. – Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2021. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 6 Governo Jair Bolsonaro Iniciado em 2019, o Governo Bolsonaro assinala o aprofunda- mento das medidas reformistas adotadas no Governo Temer. Esse reformismo aponta para uma transformação radical do Estado bra- sileiro em suas dimensões funcional e organizacional, portadora da redução de direitos e de entregas de bens e serviços à população, na contramão dos esforços anteriormente empreendidos de con- ferir materialidade aos dispositivos civilizatórios do texto constitu- cional. A Administração Pública constitui uma importante parte da ciência da Administração, é ela que representa o aparelho do Es- tado e funciona como um instrumento do governo para planejar, organizar, dirigir e controlar todas as ações administrativas, com o objetivo principal de dar plena satisfação das necessidades coleti- vas básicas, e para satisfazer essas necessidades a Administração Pública precisa manter-se em constante evolução. Com essa constante evolução a Administração Pública Brasi- leira vem se transformando em função dos objetivos dos gestores públicos e principalmente das necessidades apresentadas pelos cidadãos, que cada vez mais cobram pelos seus direitos e se cons- cientizam da importância que possuem no controle das ações pú- blicas. Essa consciência de seus direitos impõe à Administração Pú- blica a necessidade de profissionalização, primando pela qualidade e transparência na execução de suas ações. Fases da Administração Pública A Administração Pública, na história dos governos republicanos no Brasil, evoluiu por meio de três modelos de gestão, sendo eles: ▪ Modelo Patrimonialista Ocorrido durante a era do Império, mesmo de forma desorga- nizada, o patrimonialismo foi o primeiro modelo de administração do Estado. No patrimonialismo, o aparelho do Estado funciona como uma extensão do poder do soberano, e os seus auxiliares, servidores, possuem status de nobreza real. ▪ Modelo Burocrático A Administração Pública Burocrática surge na segunda metade do século XIX (era Vargas), como forma de combater a corrupção e o nepotismo patrimonialista, constituindo princípios orientadores do seu desenvolvimento, como a profissionalização, a ideia de car- reira, a hierarquia funcional, a impessoalidade, o formalismo, em síntese, o poder racional-legal. ▪ Modelo Gerencial A Administração Pública gerencial emerge na segunda metade do século XX, como resposta, de um lado, à expansão das funções econômicas e sociais do Estado, e de outro, ao desenvolvimento tecnológico e à globalização da economia mundial, uma vez que ambos deixaram à mostra os problemas associados à adoção do modelo anterior. Sendo a fase mais recente, e que ainda está sendo implemen- tada, a principal fonte do modelo gerencial é o Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado de 1995 (PDRAE). Os aspectos contemporâneos da gestão pública referem-se exatamente à Reforma Gerencial. Vejamos: Reforma Gerencial17 17BRESSER PEREIRA, L. C. DEMOCRACIA, ESTADO SOCIAL, E REFORMA GEREN- CIAL. Intervenção no VI Fórum da Reforma do Estado. Rio de Janeiro, 1º de Administração pública gerencial, modelo pós-burocrático, pa- radigma gerencial, nova administração pública (new public admi- nistration) e burocracia flexível, são as denominações do modelo organizacional que foca no controle dos resultados (portanto, a posteriori), na utilização eficaz do patrimônio público, redução de gastos, melhora na qualidade dos serviços públicos prestados e sa- tisfação do cidadão-cliente frente a esses serviços. Algumas características básicas definem a administração pú- blica gerencial. É orientada para o cidadão e para a obtenção de resultados; pressupõe que os políticos e os funcionários públicos são merecedores de um grau real ainda que limitado de confian- ça; como estratégia, serve-se da descentralização e do incentivo à criatividade e à inovação; o instrumento mediante o qual se faz o controle sobreos órgãos descentralizados é o contrato de gestão. Expõe-se que o Brasil, no plano político é um Estado democrá- tico, e plano administrativo encontra-se entre burocrático e geren- cial. A Reforma Gerencial surgiu nos anos 1980 como uma resposta ao Estado Social. A administração pública burocrática foi apropriada para o Esta- do Liberal do século XIX, quando carga tributária estava em torno de 5 % do PIB, e que se limitava a exercer as funções de polícia e justiça. No Estado Democrático Liberal o tamanho do estado conti- nuou pequeno, e a administração pública burocrática continuou a se aplicar. Até que, no Estado Social, a carga a carga tributária subiu para aproximadamente 40% do PIB. O grande aumento do tamanho do estado deixou clara a ineficiência da administração pública buro- crática. Abrindo o caminho para a Reforma Gerencial, que ganhou im- pulso a partir dos anos 1980 na Grã-Bretanha, e, nos anos 1990, no Brasil. O Estado Social só pode ser pensado e estabelecido porque a administração pública burocrática proporcionava um mínimo de eficiência que o tornava economicamente viável. No entanto, à medida que as reformas sociais avançavam, foi ficando claro que esse mínimo era insuficiente. O aumento do custo dos serviços do estado impôs a adoção da Reforma Gerencial. Esta imposição, porém, não era apenas fiscal, mas também po- lítica. Para que o Estado Social se mantivesse legitimado em face à ofensiva neoliberal era necessário tornar suas ações substancial- mente mais eficientes: era necessário proceder a Reforma Geren- cial. O Estado Social torna coletivo ou público a oferta dos grandes serviços públicos de educação, saúde, e previdência social. Para que esses serviços fossem gratuitos e iguais para todos e economica- mente viáveis, era preciso que o estado fosse capaz de oferecê-los de forma não apenas efetiva, mas também eficiente. A administração burocrática já se havia revelado efetiva; entre- tanto, na medida em que a dimensão dos serviços sociais do estado aumentava a efetividade não era suficiente: era preciso controlar o custo dos serviços realizados diretamente por servidores públicos estatutários que se revelavam altos demais. Estes custos refletiam não apenas o maior volume dos serviços, mas também a ineficiên- cia neles embutida devido à rigidez da administração burocrática. A ineficiência da administração pública burocrática tornou-se uma ameaça para a legitimidade do Estado Social. A ideologia ne- oliberal afirmava que a oferta e o consumo privado eram mais efi- cientes do que a oferta pública e o consumo coletivo. A sociedade continuava a demandar os serviços públicos e a tese neoliberal de que o consumo público poderia ser substituído com vantagem pelo privado não foi aceita pela sociedade. outubro de 2007. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 7 Era preciso mudar as condições de oferta dos serviços, e mos- trar que o estado estava usando bem os recursos dos impostos, que os contribuintes não estavam “jogando dinheiro bom em cima de dinheiro ruim” – uma frase típica dos oponentes do Estado Social. A Reforma Gerencial foi a resposta a esse desafio ao modificar a forma de administrar a oferta dos serviços. Esse modelo é a continuação do modelo burocrático weberia- no, apenas com a adoção das ideias atuais do setor privado, exata- mente como defendia Weber (a administração pública buscando na área empresarial novas dinâmicas de funcionamento para garantir sua eficiência), desse modo ocorreria meramente a flexibilização da burocracia, não um novo modelo organizacional. Anteriormente se percebiam as disfunções do modelo burocrá- tico, que não atendia satisfatoriamente as novas demandas sociais e dificultavam o desenvolvimento. Entretanto, a crise da década de 1980, especialmente a vivida pelo Reino Unido e Estados Uni- dos propiciaram as bases da reforma que serviria de resposta aos problemas enfrentados à época: crise do petróleo, do welfare state keynesiano; término do desenvolvimento pós-guerra; crise fiscal, aumento nas demandas estatais18. No Brasil a administração gerencial foi implementada aberta- mente no governo Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), pelo Ministro da Administração Federal e da Reforma do Estado (MARE), Luiz Carlos Bresser-Pereira, por meio do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (1995). Com inspiração na administração privada, buscando não ig- norar as respectivas diferenças (pois o Estado não visa lucro e mantém-se, não com receita de atividade comercial, mas pelo pa- gamento de impostos, o modelo brasileiro primou por capacitar melhor a burocracia, garantir contratos e adequado funcionamento dos mercados, mais autonomia ao administrador público, cidadão visto como consumidor dos serviços estatais e maior controle social sobre o administrador público. Com a Emenda Constitucional (EC) 19/98, introduziu-se na CF/88 o princípio da eficiência, ampliando os princípios da adminis- tração pública elencados no art. 37, além de diversas outras altera- ções com o intuito de tornar mais célere e flexível a administração pública; tais como a exclusão da estabilidade do servidor público, que agora pode ser demitido quando comprovadamente ineficiente ou exonerado caso haja excesso de pessoal; também pode ser colo- cado à disposição; houve a descentralização das atividades estatais entre outras mudanças e acréscimos19. Foram tentativas de desburocratizar a administração pública brasileira, deixando-a menos rígida, com menos controles a priori (voltados para os procedimentos) a fim de possibilitar mais foco nos resultados. Característica da Administração Gerencial (1) os gerentes são responsáveis por resultados, ao invés de obrigados a seguir regulamentos rígidos; (2) os servidores são premiados por bons resultados e punidos pelos maus; (3) realiza serviços que envolvem poder de estado através de agências executivas e reguladoras; 18MARTINS, Humberto Falcão. A ética do patrimonialismo e a modernização da administração pública brasileira. In: MOTTA, F. C. P.; CALDAS, M. P. (Orgs.). Cul- tura organizacional e cultura brasileira. São Paulo: Atlas, 1997a. Disponível em: . Acesso em mar 2015. 19BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Reforma do Estado para a cidadania: a refor- ma gerencial brasileira na perspectiva internacional. 2 ed. São Paulo: Editora 34, 2011. (4) mantém o consumo coletivo e gratuito, mas transfere a oferta dos serviços sociais e científicos para organizações sociais, ou seja, para provedores públicos não estatais que recebem recursos do estado e são controlados através de contrato de gestão. Por meio dessas características e, principalmente, da quarta, o poder público garante os direitos sociais, mas transfere sua provisão ou oferta para organizações quase estatais que são as organizações sociais. Uma característica central da Reforma Gerencial de 1995 – a reforma brasileira – foi a distinção entre atividades exclusivas do Es- tado, que envolvem poder de estado, e as atividades não exclusivas que devem ser realizadas por organizações públicas não estatais. Essas organizações sociais garantem uma flexibilidade e uma eficiência administrativa maior. Os resultados alcançados pelos no- vos hospitais do Estado de São Paulo, todos constituídos sob a for- ma de organizações sociais, são definitivos a respeito. Em 1995 teve início no Brasil a Reforma da Gestão Pública ou reforma gerencial do Estado com a publicação do Plano Diretor da Reforma do Estado e o envio para o Congresso Nacional da emenda da administração pública que se transformaria, em 1998, na Emen- da 19. Nos primeiros quatro anos do governo Fernando Henrique, enquanto Luiz Carlos Bresser-Pereira foi o ministro, a reforma foi executada ao nível federal, no MARE - Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado. Com a extinção do MARE, por sugestão do próprio ministro no final desse período,a gestão passou para o Ministério do Planeja- mento e Gestão, ao mesmo tempo em que estados e municípios passavam também a fazer suas próprias reformas. O Brasil, ao iniciar em 1995 sua reforma da gestão pública, foi o primeiro país em desenvolvimento que tomou essa iniciativa, me- nos de dez anos depois que Inglaterra, Austrália e Nova Zelândia iniciaram suas reformas. Desde então a Reforma da Gestão Pública de 1995 vem avan- çando no país, principalmente ao nível dos estados e municípios. Como a reforma da gestão pública é historicamente a segunda re- forma administrativa relevante do Estado moderno, mais cedo ou mais tarde ela ocorrerá em todos os países. E, uma vez iniciada, não há alternativa senão prossegui-la. O objetivo da Reforma da Gestão Pública de 1995 é contribuir para a formação no Brasil de um aparelho de Estado forte e eficien- te. Ela compreende três dimensões: a) uma dimensão institucional-legal, voltada à descentralização da estrutura organizacional do aparelho do Estado através da cria- ção de novos formatos organizacionais, como as agências executi- vas, regulatórias, e as organizações sociais; b) uma dimensão gestão, definida pela maior autonomia e a introdução de três novas formas de responsabilização dos gestores – a administração por resultados, a competição administrada por excelência, e o controle social – em substituição parcial dos regu- lamentos rígidos, da supervisão e da auditoria, que caracterizam a administração burocrática; e c) uma dimensão cultural, de mudança de mentalidade, visan- do passar da desconfiança generalizada que caracteriza a adminis- tração burocrática para uma confiança maior, ainda que limitada, própria da administração gerencial. Um dos princípios fundamentais da Reforma de 1995 é o de que o Estado, embora conservando e se possível ampliando sua ação na área social, só deve executar diretamente as tarefas que são exclusivas de Estado, que envolvem o emprego do poder de Estado, ou que apliquem os recursos do Estado. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 8 Entre as tarefas exclusivas de Estado devem-se distinguir as tarefas centralizadas de formulação e controle das políticas públicas e da lei, a serem executadas por secretarias ou departamentos do Estado, das tarefas de execução, que devem ser descentralizadas para agên- cias executivas e agências reguladoras autônomas. Todos os demais serviços que a sociedade decide prover com os recursos dos impostos não devem ser realizados no âmbito da organização do Estado, por servidores públicos, mas devem ser contratados com terceiros. Os serviços sociais e científicos, para os quais os respectivos mercados são particularmente imperfeitos, já que neles impera a assime- tria de informações, devem ser contratados com organizações públicas não estatais de serviço, as organizações sociais, enquanto que os demais podem ser contratados com empresas privadas. Estado é dar um passo adiante e tornar o Estado mais eficiente e mais moderno. As três formas gerenciais de controle – controle so- cial, controle de resultados e competição administrada – devem ser aplicadas tanto às agências, quanto às organizações sociais. A Reforma da Gestão Pública de 1995-98 não subestimou os elementos patrimonialistas e clientelistas ainda existentes em um Estado como o brasileiro, mas, ao invés de continuar se preocupando exclusivamente com eles, como fazia a reforma burocrática desde que foi iniciada nos anos 1930, avançou na direção de uma administração mais autônoma e mais responsabilizada perante a sociedade. Embora enfrentando paralisações previsíveis, a Reforma da Gestão Pública de 1995 está sendo bem sucedida em tornar gerencial o Estado brasileiro. Sua implementação deverá durar muitos anos como nos outros países duraram as reformas burocráticas. CONCEITOS DE EFICIÊNCIA, EFICÁCIA E EFETIVIDADE APLICADOS À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: AVALIAÇÃO E MENSURAÇÃO DO DESEMPENHO GOVERNAMENTAL Gestão Pública É a gestão dos bens e interesses qualificados da comunidade, agindo in concreto, segundo os preceitos da lei e da moral, visando o bem comum, porém delimitado no tempo e no espaço. É um modelo de gestão em que o setor público passa a atuar para alcançar resultados, adotando postura empreendedora, voltada para atender as necessidades da população. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 9 No setor privado é voltado para atender o cliente. A atuação governamental é caracterizada pela busca de padrões de eficiência, eficácia, efetividade e sustentabilidade, buscando reduzir custos para a sociedade e comprometendo o Estado com os cidadãos. O que o Gestor Público Visa? EFICIÊNCIA Capacidade de produção da entidade, com o uso mais racional possível, de um conjunto de insumos necessários a essa produção. EFICÁCIA É o grau em que as metas de uma organização, para um dado período, foram efetivamente atingidas. EFETIVIDADE É o grau de satisfação das necessidades e dos desejos da sociedade pelos serviços prestados pela instituição. Sustentabilidade - É uso dos recursos naturais para a satisfação de necessidades presentes sem comprometer a satisfação das neces- sidades das gerações futuras. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 10 ÂMBITO DE APLICAÇÃO DA GESTÃO PARA RESULTADOS Implementação – Fatores críticos - Compromisso e administração das mudanças: revisão do modelo de gestão, adaptação a nova cultura, descentralização, integração vertical e horizontal; - Apoio e comprometimento dos dirigentes: formulação de objetivos viáveis e operáveis (mapas estratégicos); - Iniciativa e compromisso gerencial: compromisso com a ferramenta de gestão e sinergia de ações; - Gestão do tempo: maximização da produtividade e melhoria contínua; - Adaptação ao contexto: conflitos de poder, oportunidades, habilidades e capacidades, resistências, equilíbrio e sustentabilidade; - Análise e uso da Informação: confiabilidade, consistência, resolutividade e aplicação na tomada de decisão; - Aprendizado Organizacional e individual: transformação de padrões de conduta; aprendizagem como fator de desenvolvimento pessoal e institucional; - Plano de trabalho para resultados: instituição de um plano de aplicação e “praticar o que se prega”. Avaliação de Políticas, Programas e Projetos: Notas Introdutórias A avaliação de políticas públicas, programas e projetos governamentais tem finalidades bastante precisas: (1) accountability, significando estabelecer elementos para julgar e aprovar decisões, ações e seus resultados. (2) desenvolver e melhorar estratégias de intervenção na realidade, ou seja, a avaliação tem que ser capaz de propor algo a respeito da política que está sendo avaliada. (3) empoderamento, promoção social e desenvolvimento institucional, significando que a avaliação deve ser capaz de abrir espaço para a democratização da atividade pública, para a incorporação de grupos sociais excluídos e para o aprendizado institucional e forta- lecimento das instituições envolvidas. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 11 Toda avaliação tem que enfrentar uma série de desafios. Pri- meiro, deve lidar com as limitações resultantes do fato de que uma das suas principais fontes de informações são registros administra- tivos. Ora, como a avaliação nem sempre é concebida ex-ante, os registros administrativos não são elaborados com a perspectiva de prover os dados necessários à avaliação. Com isso, o avaliador sem- pre tem que lidar com lacunas nesses dados e tentar ir além delas. Segundo, uma outra fonte de informações são os beneficiários, dos quais se obtém dados diretos. Isso coloca a necessidade de construir instrumentos fidedignos de coleta, bases de dados preci- sas e confiáveis o suficiente para sustentar as apreciações a serem feitas. Assim, quanto mais sólido o treinamento metodológico do avaliador, melhor, embora a avaliação não se resuma à aplicação de técnicas metodológicas. Terceiro, é fundamental que sejam avaliados os contextos. Há uma importante pergunta neste sentido: porque é que em contex- tos diferentes as mesmas ações apresentam resultadosdiferentes? Esta indagação dá a medida da relevância do contexto e indica a necessidade de métodos próprios para o seu estudo. Quarto, ao mesmo tempo que a avaliação implica associar meios e fins, é preciso abrir a possibilidade de exame de resultados não antecipados. Isto tem sido feito com métodos de “avaliação li- vre dos resultados” ou “avaliação independente dos objetivos”, que permite questionar se há outros processos que podem produzir tais resultados, independentemente dos objetivos e atos dos gestores. Quinto, é preciso que a avaliação seja capaz de captar mudan- ças através do tempo, retroalimentando as políticas, programas e projetos. Isto requer que, ao invés de representar uma iniciativa pontu- al, a avaliação seja concebida como um processo contínuo. Sexto, é preciso abrir a possibilidade da avaliação orientada para a inovação. Trata-se da avaliação que começa com início do ciclo de uma política, quando há pouco conhecimento sobre a mes- ma. Este tipo de avaliação implica uma concepção ex-ante, ou seja, a avaliação que é construída anteriormente à própria formulação, a partir da qual se realizam simulações com a finalidade de identi- ficar estratégias e propor cursos de ação . Isso, evidentemente, vai requerer o estabelecimento de uma base de informação (baseline) e a coleta e análise de evidências capazes de sustentar políticas no- vas. Um aspecto que deve ser considerado tem a ver com os ava- liadores, suas habilidades e competências (além das habilidades analíticas que são tomadas como dadas). É fundamental que os avaliadores tenham capacidade de trabalhar com policy-makers no sentido de estabelecer com eles parcerias estratégicas visando o melhor resultado das políticas públicas; isso significa superar a postura de que avaliadores e gestores se situam em campos opos- tos, sem perder a características da independência da avaliação. Também é essencial que o avaliadores sejam capazes de atuar jun- to aos stakeholders, estabelecendo diálogos, ajudando a construir consensos e a gerenciar mudanças. É igualmente necessário que o avaliador seja capaz de analisar a coerência da política e inter- pretar resultados com o distanciamento necessário. Finalmente, é indispensável que a avaliação tenha consequências. E isso significa elaborar planos de ação, formular recomendações visando o aper- feiçoamento das políticas, programas e projetos. Essas habilidades são a base para a formação e consolidação de uma cultura de ava- liação, capaz de encarar as falhas como oportunidades de apren- dizado para fazer mais e melhor em termos de políticas públicas. Entendendo o que significa “avaliação” O termo “avaliação” é amplamente usado em muitos e diver- sos contextos, sempre referindo-se a julgamentos. Por exemplo, se vamos ao cinema ou ao teatro formamos uma opinião pessoal sobre o que vimos, considerando satisfatório ou não. Se assistimos a um jogo de futebol, formamos opinião sobre as habilidades dos jogadores. E assim por diante. Estes são julgamentos informais que efetuamos cotidianamente sobre todos os aspectos das nossas vi- das. Porém, há avaliações muito mais rigorosas e formais, envol- vendo julgamentos detalhados e criteriosos, sobre a consecução de metas, por exemplo, em programas de redução da exclusão social, melhoria da saúde dos idosos, prevenção da delinquência juvenil ou diminuição de infecções hospitalares. Para isso adota-se a ava- liação formal, que é o exame sistemático de certos objetos, basea- do em procedimentos científicos de coleta e análise de informação sobre o conteúdo, estrutura, processo, resultados e/ou impactos de políticas, programas, projetos ou quaisquer intervenções plane- jadas na realidade. Muitos dos princípios da avaliação formal foram desenvolvidos nos EUA no final dos anos 1960 e início da década de 1970, espe- cialmente a partir do desenvolvimento das avaliações de impacto ambiental (AIA). Em 1969 observou-se que, embora fosse possível prever as mudanças físicas no meio ambiente, resultantes da cons- trução de um oleoduto no Alaska, não foram previstas as mudanças sociais trazidas por tais mudanças físicas e nem o modo como as mudanças sociais provocariam novas mudanças físicas. A constru- ção do oleoduto não somente provocou mudanças que afetaram os animais da região e portanto afetou a atividade de caça dos na- tivos, alterando seus modos de vida e sua cultura. As construtoras do oleoduto levaram seus trabalhadores para realizar as obras, e estes tinham cultura, língua e modos de vida diferentes. Além dis- so, muitos nativos acabaram precisando trabalhar na construção do oleoduto para sobreviver, já que a caça tinha se tornado escassa. Tudo isso gerou novas mudanças ambientais e sociais. Em 1973, pela primeira vez, foi usado o termo “impacto social” para relatar as mudanças na cultura indígena nativa do Alaska devido ao oleo- duto. Em 1981 foi criada a Associação Internacional de Avaliação de Impacto, reunindo os interessados em avaliar impactos ambientais, sociais, tecnológicos, bem como outros tipos de avaliação. O desen- volvimento da avaliação formal, inclusive da avaliação de impacto, mudou a maneira pela qual os governantes e a sociedade encara- vam o planejamento e o desenvolvimento em geral, introduzindo a idéia-chave de que, em grande parte as mudanças podem ser ante- vistas, acompanhadas e conduzidas. A avaliação como instrumento de gestão Entre as inúmeras definições existentes pode-se sustentar que avaliação formal é (1) um julgamento (porque envolve valores) (2) sistemático (porque baseia-se em critérios e procedimentos previamente reconhecidos) (3) dos processos ou dos produtos de (4) uma política, programa ou projeto, tendo como referência (5) critérios explícitos, a fim de contribuir para (6) o seu aperfeiçoamento, a melhoria do processo decisório, o aprendizado institucional e/ou o aumento da accountability. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 12 Assim sendo, é possível reconhecer que a avaliação contém duas dimensões. A primeira é técnica, e caracteriza-se por produ- zir ou coletar, segundo procedimentos reconhecidos, informações que poderão ser utilizadas nas decisões relativas a qualquer polí- tica, programa ou projeto. A segunda é valorativa, consistindo na ponderação das informações obtidas com a finalidade de extrair conclusões acerca do valor da política, programa ou projeto. Ain- da assim, a finalidade da avaliação não é necessariamente distin- guir as intervenções de qualquer natureza segundo sejam “boas” ou “más”, “exitosas” ou “fracassadas”. Muito mais importante e proveitoso é apropriar-se da avaliação como um processo de apoio a um aprendizado contínuo, de busca de melhores decisões e de amadurecimento da gestão. A avaliação formal permite julgar processos e produtos de vá- rios modos. Primeiro, levantando questões básicas tais como os motivos de certos fenômenos (por exemplo: o que causa os ele- vados índices de morte violenta entre os jovens brasileiros?). Este tipo de avaliação pode focalizar relações de causa e efeito com a finalidade de recomendar medidas para lidar com o problema. Em segundo lugar, a avaliação formal pode ser usada como ins- trumento de acompanhamento de políticas ou programas de longo prazo. Nesses casos são realizadas várias avaliações em estágios- -chave da política ou programa, a fim de prover dados confiáveis sobre os seus impactos e sobre como podem ser estes mitigados ou melhorados. Em terceiro, ao final de um programa ou projeto a avaliação pode indicar o seu sucesso na consecução dos seus objetivos e per- mitir avaliar a sua sustentabilidade, ou seja, a possibilidade da sua continuidade através do tempo. A avaliação formal pode contribuir para aperfeiçoar a formu- lação de políticas e projetos especialmente tornando mais respon- sável a formulação de metas, e apontar em que medida os gover- nos se mostram responsivos frente às necessidades dos cidadãos. Pode mostrar se as políticas e programas estão sendo concebidosde modo coordenado ou articulado; e em que medida estão sendo adotadas abordagens inovadoras na resolução de problemas que antes pareciam intratáveis. Pode indicar como vão sendo construídas as parcerias entre governo central e local, entre os setores público, privado e terceiro setor, identificar as condições de sucesso ou fracasso dessas parce- rias e apontar como podem ser aperfeiçoadas a fim de ganharem abrangência e se tornarem estratégias nacionais das políticas de desenvolvimento. Os modelos contemporâneos de formulação de políticas en- fatizam a importância dos objetivos compartilhados em lugar das estruturas organizacionais ou das funções existentes. Mas a arti- culação de políticas/programas não se resume a abordagens com- partilhadas de questões comuns. A articulação horizontal entre agências ou organizações requer melhor coordenação entre os gestores e melhor articulação vertical entre os que tomam as de- cisões e os que os implementam. Isto não é um fim em si mesmo, mas deve estar presente onde agrega valor, e é especialmente im- portante quando as políticas ou programas se dirigem às questões socialmente perversas. Nesses casos, a avaliação formal permite aprender e incorporar lições à implementação de novas políticas/ programas. Tipologia da Avaliação Desde a década de 1980 foram feitos significativos avanços na área de avaliação, tornando-se os conceitos mais precisos, as es- tratégias e as técnicas mais adequadas e os instrumentos de coleta mais acurados. Além disso passou-se a distinguir os diversos tipos de avalia- ção que se pode efetuar. Hoje é possível discriminar as avaliações segundo o foco ou objeto, a lógica que orienta sua concepção, a ênfase metodológica, etc. A fim de ordenar um pouco a discussão são apresentadas a seguir algumas das possibilidades da avaliação formal. Segundo o foco ou objeto, as avaliações podem ser: 1 - Avaliação Jurídica ou Avaliação de Conformidade – corres- ponde ao exame da conformidade dos atos do gestor em relação à lei, na condução da política pública, programa ou projeto. 2 - Avaliação de Desempenho - refere-se ao que se faz com relação a uma política, programa ou projeto. Compreende dois sub- tipos: 2.1 - Desempenho institucional - tem como finalidade apreciar em que medida uma instituição realiza a missão que lhe foi atribuí- da, mediante a consecução dos seus objetivos e o cumprimento de suas metas. 2.2 - Desempenho pessoal1 - destina-se a averiguar em que medida cada indivíduo em uma instituição cumpre suas atribuições e contribui para o alcance dos objetivos e metas da instituição. Também focaliza a produtividade do desempenho pessoal e a qua- lidade dos serviços prestados. 3 - Avaliação de Processo – significa o conjunto de ações desti- nadas a produzir um bem ou serviço ou a desencadear alguma mu- dança numa dada realidade. Este tipo de avaliação se subdivide em: 3.1 – Monitoramento ou avaliação em processo – trata-se da utilização de um conjunto de estratégias destinadas a realizar o “acompanhamento” de uma política, programa ou projeto, de modo a identificar de maneira oportuna e tempestivamente as vantagens e pontos frágeis na sua execução, a fim de efetuar os ajustes e correções necessários à maximização dos seus resultados e impactos. O monitoramento tem por base o plano de trabalho de uma política, programa ou projeto e representa uma ferramenta de uso cotidiano na gestão destes. Orienta-se para a busca de respostas às seguintes indagações: Em que medida são cumpridas as ativi- dades especificadas na programação? Em que medida estão pre- sentes os recursos necessários? Com que grau de tempestividade? Em que medida está sendo observada a sequência das ações? Qual o grau de proximidade observado entre a quantidade e qualidade das ações, serviços ou produtos planejados e os que estão sendo executados? Em que medida a intervenção vem atingindo a popu- lação-alvo? Que manifestações de queixa ou satisfação ocorrem entre os diversos atores envolvidos na execução da política, pro- grama? Onde podem ser identificados pontos de estrangulamento na produção de bens ou serviços? Que recursos vem se mostrando sub-utilizados? Que oportunidades existem para otimizar a explo- ração do recurso X? 3.2 – Avaliação de processo ou “a posteriori’ - trata-se do exa- me das estratégias, procedimentos e arranjos (inclusive institucio- nais) adotados na implementação de uma política, programa ou projeto, com a finalidade de identificar os pontos onde podem ser obtidos ganhos de eficiência e eficácia. Tem por hipótese central a idéia de que os meios adotados afetam os resultados. Portanto, o seu objeto de análise é o “como” uma ação foi executada, ou seja, a cadeia de passos adotados desde a formulação da política ou pro- grama até a obtenção do seu produto final. 4 - Avaliação de Produto – é toda avaliação cujo foco recai sobre os produtos de uma política, programa ou projeto, em suas várias dimensões, as quais dão origem a diferentes modalidades: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 13 4.1 – Avaliação de Resultados: Tem por objeto os resultados, também chamados de “outputs”, significando bens ou serviços de um programa ou projeto que são necessários para que seus objeti- vos finais sejam alcançados. Por exemplo, os serviços de extensão agrícola proporcionados aos agricultores para que produzam uma cultura “x” ou para que aumentem a sua produtividade. Mas tam- bém pode focalizar os resultados obtidos com uma política, pro- grama ou projeto, indicados como seus objetivos de curto prazo ou intermediários, chamados de “outcomes”. Ex.: aumento da área cultivada com a cultura “x” ou aumento da produção por hectare ou aumento da venda dos agricultores. 4.2 – Avaliação de Impactos: trata-se de avaliação de um ou mais resultados de médio ou longo prazo, definidos como “impac- tos”, ou seja, consequências dos resultados imediatos. Ex.: eleva- ção da qualidade de vida no meio rural, melhoria do abastecimento dos centros urbanos, aumento da poupança devido à redução das importações, etc.. Adiante, neste texto, serão apresentados deta- lhes das avaliações de impactos. 4.3- Avaliação de Qualidade: o produto pode ser avaliado, tam- bém, quanto à sua qualidade. Ou seja, a capacidade de um bem ou serviço atender às expectativas do seu público-alvo. Nesta di- mensão se incluem, por exemplo, as avaliações de satisfação dos usuários de um serviço, tão em voga nos anos recentes. A avaliação pode variar, também, conforme a lógica que orien- ta sua concepção. Nesse caso, pode-se falar de avaliação ex-ante e de avaliação ex-post. Numa acepção mais generalizada, a avaliação ex-ante expressa uma concepção holística, interativa e iterativa, segundo a qual a avaliação se inicia desde o momento em que se define o proble- ma ou necessidade que justifica a política, programa ou projeto, integra as discussões em torno da formulação das alternativas, envolve a tomada de decisão, e acompanha o processo de gestão, informando-o sobre os seus avanços, riscos e limitações, desvios a corrigir, vantagens a maximizar, etc. Numa outra acepção, mais restrita, a avaliação ex-ante consis- te na análise de eficiência e na análise de impacto. A primeira cor- responde, especificamente, ao cálculo de custos de cada alternati- va. Além das categorias básicas, os projetos sociais podem envolver ainda custos adicionais do usuário e custos de oportunidade3. Essa modalidade de avaliação ex-ante envolve a construção de uma matriz de custos, que contém todos os custos que se espera que uma intervenção requeira em cada período de execução, divididos entre as diversas categorias acima mencionadas. A análise ex-ante de impacto consiste na estimação do impacto de cada alternativa, derivado dos objetivos propostos. Essa estimação pode basear-se no Método Delphi4 ou pode envolver o cálculo do “custo por unida- de de impacto”, que corresponde ao custo de realização de 1% do impacto para um determinado objetivo, usando uma determinada