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Aula 3: Exames de laboratório e imagem Sueny Monarin * as informações em itálico foram retiradas do livro Cecil, 23º edição Os exames complementares orientam a conduta terapêutica, depois que se elencou as hipóteses diagnósticas, deve-se determinar o diagnóstico para definir a conduta, dessa forma quando a anamnese e o exame físico não são capazes de responder ao questionamento clínico, é necessário a informação dos exames complementares. Porém, o valor do exame depende do estado geral do paciente. A importância do exame está nas informações de forma, localização e função do órgão estudado, que devem ser correlacionadas com os dados clínicos. EXAMES LABORATORIAIS Creatinina plasmática: • Avalia a função renal, pois a sua metabolização necessita de uma alta taxa de filtração glomerular, dessa forma é capaz de dar uma noção de como está a filtração glomerular; • É um produto do metabolismo da fosfocreatina muscular, relacionada ao metabolismo proteico. • Algumas situações influenciam os níveis plasmáticos de creatinina, como por exemplo: aumento da ingestão de carnes, rabdomiólise, ingestão de medicamentos (cimetidina, espirinolactona, trimetoprim). • A faixa normal de creatinina sérica é de 0,6 a 1,0 mg/dl em mulheres e de 0,8 a 1,3mg/dl em homens; • É uma prova rápida, portanto útil em situações de urgência. Clearance de creatinina: • Avalia função renal de forma mais fidedigna do que a creatinina sérica; • Pode se calcular a depuração da creatinina a partir dos seus níveis séricos utilizando a fórmula de Cockcroft-Gault: depuração da creatinina: [(140-idade)x (peso em kg)/ 72 x creatinina sérica (mg/dl)] x (0.85 para as mulheres) • A fórmula para calcular a depuração da creatinina é: C/Cr= Cr urinária x V/Cr plasmática C/Cr é a depuração da creatinina; Cr urinária é a concentração urinária de creatinina; V é o fluxo urinário; e Cr plasmática é a concentração plasmática de creatinina. • A depuração da creatinina é frequentemente calculada utilizando-se uma amostra de urina de 24h para a determinação da concentração de creatinina. O paciente deve ser orientado a descartar a primeira urina da manhã antes de iniciar a coleta e concluí-la no dia seguinte, incluindo a primeira urina da manhã. • Varia de acordo com: idade, doenças renais crônicas, quantidade de massa muscular, filtração glomerular, dentre outras. • É muito importante relacionar o clearance com outros dados, como a queixa clínica e os níveis dos metabólicos, pois a partir dessas informações é possível determinar a indicação de diálise ou perceber um agravo, uma doença cronificando. Uréia • Muita lábil; • Produto final do metabolismo nitrogenado e a sua concentração plasmática depende de muitos fatores que afetam o metabolismo do nitrogênio: ingesta calórica e protéica, catabolismo protéico aumentado, trauma, infecções e febre, uso de corticosteróides, absorção de sangue do trato gastrointestinal depleção do espaço extracelular e ingesta de quantidades excessivas de proteínas. Desta forma, a concentração plasmática de uréia pode variar muito, sem que haja alteração do clearance de uréia. Sódio • Valor de referência sérico: 135-145 mEq/L; • A excreção de sódio na presença de oligúria e insuficiência renal aguda frequentemente fornece dados quanto `a adequação da função tubular. • Fração de excreção de sódio: Fe Na: (Na urinário/Na plasmático) / (Cr urinária/Cr plasmática) x100 Na corresponde `a concentração de sódio (mmol/L) e Cr indica a concentração de creatinina em mmol/L. • No caso de oligúria, uma FeNa inferior a 1% frequentemente indica azotemia pré-renal, enquanto um valor acima de 1% indica insuficiência renal intrínseca, porém a FeNa deve ser analisada no contexto clínico, já que pode ser baixa ou alta em um indivíduo normal ou em paciente com doença renal crônica. • Oligúria é caracterizada por uma diurese menor do que 400 ml/ dia, já a anúria é a ausência de diurese, e podem ser causadas por: dificuldade de filtração, obstrução ou ambos. A depleção do espaço extracelular é compensada com oligúria, e em casos extremos com anúria. Essa depleção pode ser causada por perda de volume ou sepse, além de cálculos, diarréia, uso de diurético e doenças de adernais. Dessa forma, deve-se repor volume, pois não produz urina, porque não tem filtração. Os sintomas vão desde boca seca a hipotensão ortostática, podendo causar também perda de consciência. • A importância de analisar o sódio é analisar a quantidade de água: concentração de sódio alta, está "faltando" água; concentração de sódio baixa, está "sobrando" água. Potássio • Os níveis séricos normais variam entre 3,5 a 5 mEq/L, e suas alterações podem ser decorrentes de disfunções renais. • A hipopotassemia está relacionada a: ingestão insuficiente, perdas gastrointestinais ou urinárias. É necessário a reposição, através da hidratação. • Já a hipercalemia normalmente é causada por IRA e grandes traumas. • As alterações dos níveis sérios devem ser corrigidas, principalmente quando acima de 7! Na filtração glomerular há alta liberação de potássio, portanto em níveis acima de 7 indica que não está havendo filtração, o que pode estar relacionada a uma IRA ou IRC. Em decorrência disso pode haver arritmia cardíaca, o que é um indicador de diálise (IRA ou IRC agudizada). • Uma diminuição de 0,6 mEq/L nos níveis de potássio causa um aumento de 0,1 no pH. Cálcio • Cálculos devem ser investigados! • A hipercalcemia está relacionada a absorção intestinal, armazenamento ósseo e excreção renal do cálcio. • Em casos de hipercalcemia, não é necessário fazer restrição de cálcio, se há uma hidratação adequada. A restrição é mais prejudicial principalmente em mulheres pós-menopausa, pois está relacionada a osteoporose. Urinálise: É uma avaliação qualitativa. Características da amostra: 1.Cor: normal- amarelo citrino Urina avermelhada pode ser causado por hematúria, medicamentos ou beterraba. Se a bile estiver amarronada pode ser devido a hematúria também. * Não achei outra tabela, tive que tirar foto do livro haha 2.Transparência: cristalino (normal), pois é um ultrafiltrado do plasma. Se está turva, é devido a algum elemento que causa a turgidez, como: fosfatúria, piúria, quilúria, bacteriúria, presença de células de defesa. 3.Densidade: A densidade da urina pode estar aumentada pela presença elevada de solutos ou por moléculas de alto peso molecular, como a glicose ou os meios de contraste. Existe uma relação linear entre a densidade e a osmolalidade, a não ser que haja glicosúria ou excreção de meios de contraste, quando então a densidade se torna mais elevada. Uma densidade fixa de 1,010 é característica de doença renal crônica. 4.Osmolaridade: concentração de soluto na urina. É necessário conhecer o estado de hidratação do paciente, pois pode estar hipo ou hiperosmolar. A partir disso, é possível fazer uma plano terapêutico para esse paciente. 5.pH: normal- 4,5 a 8 alcalina: >6,5- pode ser causada por acidose tubular renal, presença de bactérias, como infecção por Proteus sp. e E. coli. ácida: <6- pode ser causada pela eliminação excessiva de ácido único (esse dado deve ser analisado). O pH da urina inapropriadamente alto, na presença de acidose metabólica sistêmica sem diferença aniônica, pode ser observado em certas formasde acidose tubular renal (ATR). Na ATR proximal, o pH urinário encontra- se elevado até que seja alcançado o limiar tubular para o bicarbonato, que é reajustado e o pH urinário volta para 5 (pH habitual de urina). Na ATR distal, verifica-se habitualmente uma incapacidade de criar um gradiente suficiente para a excreção de do íon hidrogênio, de modo que o pH urinário é sempre maior que 5,5. 6.Avaliação do nitrito: A esterase leucocitária promove a transformação de nitrato em nitrito, essa presente em bactérias. Dessa forma, possue valor preditivo positivo para BGN, que possuem essa caraterística. Além disso, a partir da esterase leucocitária é possível avaliar a presença de leucócitos. Se há leucócitos na urina é possível que haja infecção (associada a presença de bactérias) ou corpo estranho/cálculo (na ausência de bactérias). 7.Glicose Pode ser utilizada como um screening para diabetes, possue uma especificidade de 98% e sensibilidade de 17%. A glicemia "passa" pela filtração glomerular, para começar a ter glicosúria significativa e perceptível ao exame de urina, o nível sérico deve ser maior que 180 mg/dl. Para classificar como diabetes, os níveis de glicose devem estar igual ou acima de 100 mg/dl. Pode haver aumento da glicosúria por diabetes ou tubulopatias. Na gravidez também ocorre glicosúria, pois há uma alteração do limiar tubular para a reabsorção da glicose. Pode haver falsos-negativos devido a ingestão de medicamentos como: AAS, cefalosporinas e vitamina C. 8.Proteínas A proteinúria, na forma de albuminúria, superior a 3,5g em 24 horas indica doença glomerular. Em certas ocasiões, a proteinúria de transbordamento de proteínas de baixo peso molecular, como as cadeias leves da proteinúria de Bence Jones, pode ser maior do que 3,5 g/dia sem que haja qualquer manifestação ou implicação de síndrome nefrótica. Para avaliar a albumina deve-se fazer um exame chamado microalbuminúria, que é realizado durante 24h. Para a coleta deve-se descartar a primeira urina da manhã e coletar a urina nas próximas 24 horas, incluindo a primeira micção do dia seguinte. No exame, a presença de 1+ está correlacionada a cerca de 30 mg/dl de albuminúria, enquanto uma proteína 3+ correlaciona-se a níveis acima de 500 mg/dl. Se for encontrado proteínas na urina é devido a lesão do "filtro" renal, portanto as causas podem ser tubulopatias, glomerulopatias. O paciente refere que a urina "espuma", isto se deve ao fato de a albumina ter um alto peso molecular. 9.Células sanguíneas A presença de pequenas quantidades é normal, devido a lesões de uretra ou ao urotélio que se renova. A presença de células sangüíneas no exame de urina é positivo, quando há 3 a 5 células/ campo. Uso de anticoagulante estimula o sangramento em lesões pré-existentes, mas é muito raro causar sangramentos espontâneos. É comum nessa situação haver uma litíase ou tumor, que esteja causando o sangramento. É necessário analisar o formato da hemácea, se for normal, provavelmente o sangramento é decorrente do sistema coletor para baixo. Já a hemácea dismórfica normalmente é proveniente de sangramentos do parênquima renal. É muito importante avaliar se a hematúria é macro ou microscópica. Pode ser necessário exames de imagem nesse caso. 10.Cilíndros Alguns são fisiológicos, outros patológicos. É possível fazer a distinção entre nefropatia primária e doenças do trato urinário baixo. Por exemplo, o cilindro hemático é produzido na arquitetura renal, portanto é causado por uma nefropatia primária. Os cilindros hialinos são cilindros de proteínas de Tamm- Horsfall formados normalmente e que aparecem em números aumentados após o exercício. Os cilindros granulosos são cilindros de células tubulares degeneradas, que são observadas na presença de lesão tubular. Os cilindros granulosos pigmentados são observados na rabdomiólise com mioglobinúria e, raramente, na hemoglobinúria. Os cilindros hemáticos estão presentes na glomerulonefrite, principalmente aguda. Os cilindros leucocitários são comumente observados na pielonefrite e nas infecções não bacterianas agudas e crônicas. Os cilindros de células tubulares são observados na presença de qualquer lesão tubular aguda, e constituem os cilindros predominantes na necrose tubular aguda isquêmica. 11.Cristais Não é patológico, quando é um achado isolado. Certos cristais, como os cristais observados na cistinúria, são sempre anormais. Outros como os cristais de oxalato de cálcio, podem constituir um achado normal ou podem ser evidência de insuficiência renal aguda ou hipocalemia. Os cristais de ácido úrico, urato de sódio e amorfos de fosfato de cálcio são comuns e não tem nenhum significado patológico. 12. Corpos cetônicos Acetoacetato e acetona podem aparecer na urina em jejum prolongado e cetoacidose alcoólica ou diabética. Geralmente são detectados através de uma reação com nitroprussiato. 13. Bilirrubina e urobilinogênio Apenas a bilirrubina conjugada (direta) é hidrossolúvel e passa para a urina. Na estase biliar por obstrução ou drogas, a pesquisa de bilirrubina na urina é positiva. Urobilinogênio urinário ausente na urina é observado em pacientes com icterícia obstrutiva, enquanto níveis elevados encontram-se nos estados hemofílicos e na hemorragia digestiva. EXAMES DE IMAGEM: Melhorou muito o diagnóstico Muito utilizados, pois são capazes de localizar forma, função e localização, por exemplos de cálculos. Raio-X: É possível a visualização de cálculos de cálcio e alterações anatômicas que predispõem o cálculo ( por exemplo: estenose pieloureteral). A pelve renal está na altura de L2-L3. No Rx deve-se seguir a linha do músculo psoas, pois o ureter repousa sobre ele, portanto segue-se o trajeto do ureter e analisa se há calcificações. Para que seja possível enxergar isso, é necessário um preparo intestinal. Urografia excretora Permite a visualização de todo o trato urinário, especialmente a parte revestida pelo urotélio (cálices, pelve, ureter e bexiga). Proporciona informações anatômicas e funcionais. É realizada através de uma radiografia simples, seguida da infusão de 50 a 100 ml de contraste venoso em bolus e a partir de então, imagens seriadas para que seja observado o padrão de eliminação de contraste pelos rins. Pielografia Se a via urinária for acessada por um cateter, e o contraste for injetado lá dentro, isto é uma pielografia. Se o contraste for injetado no rim é uma pielografia anterógrada, se for pelo ureter é um pielografia retrógrada. O contraste pode ser injetado na uretra também, o que será uma uretrocistografia miccional, utilizada para o estudo das alterações uretrais e vésico-ureterais, como o refluxo vésico- ureteral, ureterocele, divertículos de bexiga, incontinência, dentre outros. Ultrassonografia O órgão tem uma refringência, que depende da quantidade de água presente. Pode ser US simples ou associada ao doppler. Na US, o líquido é preto e o sistema coletor não é possível de ser visualizado, pois está colabado. Se for possível visualizar o sistema coletor provavelmente há um processo obstrutivo, que distende o sistema e assim é possível observar a urina dentro dele. É muito utilizado, pois não tem radiação, é barato, fácil, disponível. Muito utilizado para a avaliação de parênquima: rim, próstata (avalia tamanho, se for feita transretal é possível visualizar nódulos), testículos, vias urinárias. Se for utilizado em conjunto com o doppler é possível avaliar torção de testículos, e o diagnóstico é dado quando não há fluxo sangüíneo em região testicular. O US pode guiar alguns procedimentos, como a biópsia de próstata. É possível a visualização de cálculos, pois há a caraterística de sombra acústica, pelo fato de o cálculo impedir a passagem do som. Urotomografia: padrão-ouro para a análise de cálculos. Se houver umasituação de urgência, não deve-se pedir com contraste, pois a função renal do paciente não é conhecida, e com a densidade do cálcio, é possível identificá-lo mesmo sem contraste. A maioria dos cálculos são formados por cristais de cálcio, dessa forma cerca de 95% dos cálculos são radiopacos. É possível a visualização de todo o sistema coletor, pois o cálculo causa dilatação. Deve ser utilizada com cautela, devia `a radiação. O contraste pode ser utilizado em: litíase obstrutiva com função renal normal, pois o contraste possibilita a análise da anatomia, o que ajuda no planejamento cirúrgico; hematúria; massas renais (TC mais sensível do US nesse caso- a TC proporciona os valores de densidade e o padrão vascular do órgão). Os tumores renais podem ser avaliados utilizando TC contrastada. RM Avaliação de tumores renais. Associada com testes funcionais como a colina: Câncer de próstata tem tropismo pela colina. É feita então uma seqüência de imagens para análise da absorção da colina, possibilitando assim o diagnóstico de Ca de próstata. Teste de colina +: Ca próstata Cintilografia renal: realizada através da injeção de um radiofármaco DMSA: estática- determina a porcentagem da qual o rim é responsável pela filtração. A principal aplicação do exame está na avaliação de cicatrizes renais. Quando a porcentagem de funcionamento está abaixo de 20%, deve ser começar a pensar em retirar o rim. DTPA: dinâmica- demonstra como o rim concentra e depura- avalia função renal e padrão de perfusão. Disponibiliza uma curva de eliminação do radiofármaco, que demonstra o padrão de funcionamento de esvaziamento. É capaz de demonstrar pontos de obstrução. Angiografia renal Exame padrão para avaliação da estenose da artéria renal. É também utilizada na avaliação de malformações arteriovenosas, poliarterite nodosa e outras lesões vasculares dos rins. O exame é invasivo, utiliza meio de contraste iodado e apresenta um pequeno risco de doença ateroembólica. Biópsia renal Representa um valioso instrumento na avaliação da doença renal. São realizadas em sua maioria por via percutânea, orientada por US em tempo real ou TC. Recentemente a abordagem transjugular está sendo utilizada em pacientes com elevado risco de sangramento. O risco de sangramento é de 1 a 2% em pacientes sem coagulopatias. As indicações são: 1. GNRP (glomerulonefrite rapidamente progressiva) sem diagnóstico sorológico; 2. Síndrome nefrótica sem causa óbvia; 3. LES com comprometimento renal; 4. Insuficiência renal inexplicada de qualquer etiologia; 5. Transplante renal com insuficiência renal e crônica. Referências: 1. Anotações da aula; 2. Cecil, 23º edição.
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