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Os antigos e sua economia

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A economia Antiga
1. Os gregos e a sua economia
Moses I. Finley
Prefácio
Não é uma história econômica;
“se o leitor não se deixar convencer de que “economia” e “econômico” são, no seu sentido corrente, termos e conceitos modernos, produtos do capitalismo moderno que não podem ser aplicados de maneira automática a outras formações sociais, então o resto do livro não terá nem ponto de partida nem coerência interna” (5-6);
A história econômica parte do princípio “de que o homem ‘naturalmente’ regateia, calcula e procura um lucro pela troca” (6).
A história do capitalismo está em embrião na história antiga e medieval;
Nas sociedades não capitalistas “a economia encontra-se ‘encravada’ nas instituições políticas, sociais e culturais. Um estudo sobre a economia antiga é, portanto, uma “história política” e uma “história social”, não menos que uma “história econômica” (7). 
Conceitos
Conceito de classes sociais não dá conta da realidade dos camponeses e artesãos independentes [às vezes proprietários dos meios de produção];
Modo de produção escravista 
Escravidão não era relevante em todo o mundo antigo, geográfica e temporalmente;
Houve escravidão na América, nos séculos XVI-XIX, o que invalidaria o conceito.
1. Os antigos e sua Economia
Breve Introdução à Filosofia [1742] de Francis Hutcheson.
“Os princípios da Economia e da Política”: casamento, relações pais e filhos (familiares); relações senhores e servos (senhoriais)
“Elementos da Lei da Natureza”: Propriedade, contratos, valor e moeda, guerra.
Oikos = Casa ou unidade doméstica
Nem = administrar
Oikonomikos = Xenofonte IV a. C. = guia para o proprietário rural. O termo economia mantém esse sentido até o século XVIII (20);
Administração da casa e Paterfamilias: 
potestas: poder sobre os filhos, os filhos dos filhos e os escravos;
manus: poder sobre a mulher e as mulheres de seus filhos;
Dominium: poder sobre os bens.
não há menção à “um princípio econômico ou proponha uma análise econômica, nada sobre eficiência da produção, escolha ‘racional’, ou comercialização de colheitas” (22). 
mesmo afirmações econômicas sobre recomendações de culturas ou de venda de colheitas, quando não inseridas em um amplo conjunto de reflexões que embasem o raciocínio econômico, não tem sentido para a formação dessa ciência. Dessa forma, entre a obra de Hutcheson e Adam Smith, publicada 24 anos depois não há qualquer relação no sentido do desenvolvimento e da história da ciência econômica. (pp. 22-23). 
Identidade léxica, do vocabulário passou a ocorrer na extensão da palavra oikonomos, na gestão ou administração: da casa, da cidade, dos recursos públicos [receitas do estado].
Economia Política surge na segunda metade do XVIII, com ênfase na gestão dos negócios do Estado, e depois como Ciência da riqueza das nações. 
Final do XIX, o termo economics começa a adquirir importância. 
Definição de Economia
Mercados Interdependentes;
Sistema de preços;
Satisfação de necessidades através da troca de mercadorias;
Problema da escassez de recursos e seu aproveitamento. 
“O título de Marshall [Princípios de Economia] não pode ser traduzido para grego ou latim. Nem poderia sê-lo os termos básicos como trabalho, produção, capital, investimento, rendimento, circulação, procura, empresário, utilidade, pelo menos na forma abstrata exigida pela análise econômica” (24). 
“O que eles não faziam, contudo, era combinar estas atividades particulares conceptualmente numa unidade ou, em termos parsonianos, num ‘subsistema diferenciado da sociedade’” (25);
Isso é um problema conceitual ou decorrência da estrutura das sociedades Antigas?
Hume = comércio como elemento da prosperidade das cidades
Salin = crise de produção modernas X catástrofes naturais ou políticas;
Ausência de séries e de números confiáveis;
Perigo de imputar os números à consciência e tomada de decisões dos atores históricos; 
Ausência de números e estatísticas não decorre de um “falha intelectual”, do desconhecimento da matemática e do raciocínio abstrato;
Distinção entre contar, registar, e raciocinar com números, o que implica tendências, objetivos, projeções e perspectivas;
Jamais a antiguidade se organizou como uma coleção de mercados interdependentes. Dessa forma, a diferença de sentido da palavra economia explicita não um problema conceitual, mas sim uma diversidade institucional. 
Existe economia no sentido moderno apenas no capitalismo? Podemos utilizar conceitos modernos [mercados interdependentes, mecanismo de preços, inflação de custos] em sociedades em que essas noções eram estranhas ao seu funcionamento?
É possível conhecer os números, os preços, as estatísticas antigas? Por que eles não as produziram? 
Havia números relativos à administração do Estado, “contudo, raciocinar com números é mais do que contar e registrar e aí reside a grande linha divisória” (31). 
Havia número, mas não séries temporais. Dessa forma, não era possível pensar ou elaborar estatísticas sobre aumento ou diminuição de preços, de escravos, de colheitas, etc., 
“se tais pressupostos [da economia moderna] não forem válidos para a antiguidade, então tudo o que deles se deduz, quer sobre o comportamento econômico quer sobre os valores que o orientam, é necessariamente falso. É preciso procurar conceitos diferentes, e modelos diferentes, que sejam apropriados à economia antiga e não (ou não necessariamente) à nossa” (33). 
A questão é de método. Podemos usar os conceitos modernos para explicar as sociedades antigas, nas quais a aplicabilidade desse conceito não existia, ou existia de forma pouco consistente?
Definição de Antigo.
Exclusão das sociedades do Próximo Oriente: Suméria, Egito, Babilônia, Fenícia, etc pois “as duas civilizações [greco-romana e Próximo Oriente] (ou complexos de cultura) divergem completamente em tudo, nas suas estruturas sociais, nas suas estruturas de poder (tanto no interior como no exterior), nas relações entre a estrutura do poder e a religião, na presença ou ausência do escriba como figura central” (34). 
Antigo
Unidade da história europeia;
Diferenças qualitativas entre os períodos tradicionais (antigo, medieval e moderno);
Distinção entre história e pré-história;
Exclusão do Oriente Próximo: sumérios, babilônios, assírios, hebreus, fenícios, egípcios, etc. 
Divergência geográfica;
Convergência cultural e econômica
as duas civilizações [greco-romana e Próximo Oriente] divergem completamente em tudo, nas suas estruturas sociais, nas suas estruturas de poder (tanto no interior como no exterior), nas relações entre a estrutura do poder e a religião, na presença ou ausência do escriba como figura central” (34). 
Oriente Próximo
Solo arável propriedade do rei-sacerdote;
Monopólio da produção e do comércio;
Controle burocrático das esferas econômica, militar, política e religiosa;
Cultura de Irrigação: Nilo, Tigre, Eufrates e Indo
Maior produtividade;
Densidade populacional
Elementos próximos aos do Ocidente existiam “mas não acredito que seja possível considerar esta gente como representando o padrão dominante da economia” (35)
Mundo Greco-Romano
Propriedade privada
Pequenas propriedades
Grandes domínios senhoriais
Indústria e comércio privados;
1000 A.C. – 500 D.C.
50 ou 60 milhões de habitantes, distribuídos por quase 3 milhões de km²;
Centralidade do mediterrâneo até 200 A. C.
Cultura de sequeiro (sem irrigação);
Áreas de pastagens;
Interiorização do mundo Greco-Romano
França, Bélgica, Inglaterra, Europa Central
Solo pesado, exigindo maior trabalho;
Distância do comércio mediterrâneo
Economia Antiga
A minha justificação para falar de ‘economia antiga’ vai noutra direção, reside no fato de, nos seus séculos finais, o mundo antigo ter sido uma unidade política, e no quadro cultural-psicológico comum cuja importância para uma explicação da economia espero poder demonstrar nos capítulos seguintes” (43).

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