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23/02/2025 1 AULA 4: ESTÁGIOS DE BRANQUEAMENTO DE POLPAS QUÍMICAS I Módulo: Tecnologia de Branqueamento de Polpa Celulósica Curso: Tecnologia de Produção de Celulose Prof. Dr. Dalton Longue Júnior CONTEÚDO o Pré-deslignificação com oxigênio o Estágio ácido para remoção de ácidos hexenurônicos o Deslignificação e branqueamento com dióxido de cloro o Branqueamento com hipoclorito e ácido hipocloroso Fonte: AgroEstadão; Portal do Agronegócio, 2025. PRÉ-DESLIGNIFICAÇÃO COM OXIGÊNIO Deslignificação com oxigênio Pré-branqueamento com oxigênio Estágio com oxigênio Pré-O2 Tecnologia que utiliza álcali (soda), oxigênio, temperatura e pressão para a remoção da lignina residual da polpa. Remove entre 25 a 65% do número kappa residual original da polpa. Primeira planta piloto - 1968 Primeira instalação industrial - África do Sul - 1971 PRÉ-DESLIGNIFICAÇÃO COM OXIGÊNIO Extensão do cozimento Recuperação do licor negro Melhor qualidade e menor geração de efluentes Redução de custos com reagentes químicos Alto custo de instalação Limitada seletividade quando comparado ao ClO2 Aumento da carga de sólidos para recuperação Baixa eficiência para polpas com elevado teor de HexAs 23/02/2025 2 PRÉ-DESLIGNIFICAÇÃO COM OXIGÊNIO REAÇÕES COM A LIGNINA Durante o processo de pré-branqueamento, o oxigênio molecular se transforma em várias espécies químicas com reatividades distintas em relação aos grupos funcionais da lignina. Ânion radial superóxido Ânion hidroperóxido Radicais hidroxilas Fonte: Adaptado de Gierer, 1987. PRÉ-DESLIGNIFICAÇÃO COM OXIGÊNIO REAÇÕES COM A LIGNINA Ânion hidroperóxido e ânion radial superóxido são nucleófilos Radicais hidroxilas são eletrófilos Fonte: Adaptado de Asgari; Argyropoulus, 1998. Centro de alta densidade eletrônica Centro de baixa densidade eletrônica PRÉ-DESLIGNIFICAÇÃO COM OXIGÊNIO REAÇÕES COM A LIGNINA O oxigênio reage com a estrutura da lignina que contém grupo fenólico livre. Essa reação leva a abertura do anel aromático e formação de ácidos dicarboxílicos, como ácido mucônico, muito mais solúvel em álcali do que a lignina não oxidada original. Clivagem oxidativa do anel aromático da lignina durante a pré-deslignificação com oxigênio. Fonte: adaptado de Gellerstedt (2006). Ácidos dicarboxílicos PRÉ-DESLIGNIFICAÇÃO COM OXIGÊNIO REAÇÕES COM CARBOIDRATOS O ataque aos carboidratos nesse estágio é mais intenso que no estágio com ClO2, por isso é considerado um estágio limitado pela baixa seletividade da reação. Reações de despolimerização terminal (peeling) Estabilização dos grupos terminais redutores Clivagem da cadeia de polissacarídeos 𝑆𝑒𝑙𝑒𝑡𝑖𝑣𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = ∆ 𝑘𝑎𝑝𝑝𝑎 ∆𝑣𝑖𝑠𝑐𝑜𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 23/02/2025 3 PRÉ-DESLIGNIFICAÇÃO COM OXIGÊNIO REAÇÕES COM CARBOIDRATOS Clivagem oxidativa da cadeia de celulose causada pelos radicais livres Fonte: adaptado de Gierer (1997). PRÉ-DESLIGNIFICAÇÃO COM OXIGÊNIO REAÇÕES COM CARBOIDRATOS Esquema das micelas de celulose (A) e os sítios de ataque do oxigênio GTR (B) Fonte: adaptado de Souza et al. (2002). 1) Região cristalina 2) região amorfa PRÉ-DESLIGNIFICAÇÃO COM OXIGÊNIO VARIÁVEIS DO PROCESSO Grau de lavagem da polpa Número kappa de entrada Tempo e temperatura de reação Pressão da reação Carga de oxigênio Carga de álcali Uso de magnésio Fonte: g1.com.br. (2022). PRÉ-DESLIGNIFICAÇÃO COM OXIGÊNIO VARIÁVEIS DO PROCESSO: GRAU DE LAVAGEM DA POLPA Impurezas orgânicas e inorgânicas presentes na polpa e externas a parede celular consomem insumos do estágio. Influência do carryover do licor de cozimento na Pré-O2 Fonte: adaptado de Iijima;Taneda (1997). 23/02/2025 4 PRÉ-DESLIGNIFICAÇÃO COM OXIGÊNIO VARIÁVEIS DO PROCESSO: NÚMERO KAPPA DE ENTRADA Polpas de maior número kappa e com maior conteúdo de lignina em relação a HexAs tem melhores desempenhos no estágio. Influência do número kappa de entrada do reator no desempenho da Pré-O2 Fonte: adaptado de Turqueti (1995). PRÉ-DESLIGNIFICAÇÃO COM OXIGÊNIO VARIÁVEIS DO PROCESSO: TEMPO E TEMPERATURA O aumento no tempo e na temperatura de reação levam a queda do número kappa e da viscosidade da polpa Fonte: adaptado de Hsu; Hsieh (1987). Influência do tempo e da temperatura no desempenho da Pré-O2 PRÉ-DESLIGNIFICAÇÃO COM OXIGÊNIO VARIÁVEIS DO PROCESSO: CARGA DE MAGNÉSIO Influencia na complexação dos metais de transição, responsáveis pela formação de espécies radicalares nocivas aos carboidratos. Influência da carga de magnésio no desempenho da Pré-O2 Fonte: adaptado de Berry (1991). HIDRÓLISE ÁCIDA Estágio de hidrólise ácida a quente – A ou AHOT PRINCIPAL OBJETIVO: • Remover os ácidos hexenurônicos formados nos processos de polpação e que não foram removidos no pré-branqueamento com oxigênio. • Remoção de metais: principalmente antes dos estágios com peróxido de hidrogênio. • Quebra de ligações covalentes entre lignina e carboidratos. • Ativação da lignina: quebra das ligações éter formando novos grupos hidroxilas fenólicos livres. 23/02/2025 5 HIDRÓLISE ÁCIDA Número kappa da polpa é formado por vários compostos Lignina e HexAs Relação de aproximadamente 10 mmol HexA/kg de polpa para cada unidade de número kappa (importante citar a metodologia) • Método da hidrólise ácida (Vuorinen et al., 1996). • Método do acetato de mercúrio (Gellerstedt; Li, 1996). Estágio mais atrativo para polpas de folhosas do que coníferas HIDRÓLISE ÁCIDA RELAÇÃO ENTRE TEOR DE ÁCIDOS URÔNICOS E HEXAS (POLPA NK 17) Fonte: Colodette; Gomes, 2015. HIDRÓLISE ÁCIDA RESULTADOS • Muito dependente das polpas o pH mais usual: 3,0 a 3,5 o Temperatura: 85 a 105 °C o Tempo de reação: 2 a 4 h • Cerca de 80% dos HexAs podem ser removidos das polpas de folhosas a pH 3, temperatura 95 °C e 120 min de reação. • Pode ser realizado antes ou após a Pré-O2, mas por manutenção do balanço de álcali da fábrica usualmente se pratica esse estágio após a Pré-O2. • Grande economia com ClO2 no branqueamento ECF. HIDRÓLISE ÁCIDA RESULTADOS • Menor reversão de alvura devido a menor quantidade de HexAs na polpa final • Polpas com menor teor de cloro residual OX e efluente com menor teor de compostos organoclorados – AOX.. • Redução das incrustações nas plantas de branqueamento devido a remoção de cálcio e menor formação de oxalato de cálcio. • Normalmente sem lavagem após estágio, seguido por estágio com dióxido. 23/02/2025 6 HIDRÓLISE ÁCIDA Efeito do tempo e temperatura na remoção de HexAs (pH = 3,5) VARIÁVEIS DO PROCESSO: TEMPO E TEMPERATURA Fonte: Vuorinen et al., 1995. DIÓXIDO DE CLORO Substituição do gás cloro por dióxido de cloro - 1960. • Somente se tornou efetiva a partir de 1980 devido a preocupação com os compostos orgânicos clorados formados no branqueamento (dioxinas). Sua descoberta data de 1811, mas somente em 1921 foi reportado como agente de branqueamento. Reagente altamente seletivo, que quase não reage com os carboidratos e oxida facilmente a lignina. Considerado o reagente químico mais importante para os processos de branqueamento, sendo a base para as sequências de branqueamento ECF. DIÓXIDO DE CLORO É adicionado à polpa na forma de uma solução aquosa de baixa temperatura, na qual o gás cloro está dissolvido • o gás tem maior solubilidade em soluções mais frias. O dióxido de cloro é altamente recomendado quando se deseja produzir polpas com elevada alvura, elevada estabilidade na alvura e boas propriedades de resistência. É uma molécula relativamente pequena, altamente energética e volátil, com odor penetrante, muito corrosivo e tóxico. Quimicamente é instável e explosivo. DIÓXIDO DE CLORO ECF – ClO2 Tecnologia dominante no setor de celulose comercial de alta alvura 80% da polpa produzida no mundo • Alta qualidade da polpa (resistência) • Baixo impacto ambiental do efluente • Razoável custo operacional • Eficiente e seletivo • Efetivo na remoção de feixes de fibras • Protege a celulose quandomisturado ao Cl2 num estágio C • Requer a produção do reagente no local de uso • Alto custo de produção • Formação de organoclorados no processo • Altamente corrosivo. A evolução do branqueamento com ClO2 foi essencial para o crescimento da indústria de celulose kraft branqueada de alta alvura. 23/02/2025 7 DIÓXIDO DE CLORO FATOR KAPPA Número Kappa x Fator Kappa = cloro ativo (% base seca da polpa) Polpa marrom Número Kappa = 18 Fator Kappa = 0,15 Cloro ativo = 2,7% ou 27 kg/t Polpa marrom Número Kappa = 15 Fator Kappa = 0,10 Cloro ativo = 1,5% ou 15 kg/t O Fator Kappa se torna uma forma de ajustar a quantidade de cloro ativo a ser gasta no primeiro estágio de branqueamento, em função do nível de deslignificação da polpa marrom (número kappa). Polpas com maior teor de lignina (maior Número Kappa) demandarão maior quantidade de reagentes químicos para o branqueamento, e o primeiro estágio com dióxido de cloro assume uma grande importância. DIÓXIDO DE CLORO REAÇÕES COM A LIGNINA Reações de substituição, cloração e oxidação, sendo esta última predominante. Três rotas paralelas e independentes: • Desmetilação • Formação de quinona (2-metoxi-p-quinona) • Formação de éteres monometílicos do ácido mucônico Grande afinidade por grupos fenólicos livres e estruturas alifáticas insaturadas da lignina. DIÓXIDO DE CLORO REAÇÕES COM A LIGNINA Reação do ClO2 com composto modelo de lignina. Fonte: Adaptado de Gierer, 1982. DIÓXIDO DE CLORO REAÇÕES COM A LIGNINA Reação do ClO2 com composto modelo de lignina. Fonte: Adaptado de Spengel et al., 1994. A substituição aromática B deslocamento eletrofílico C oxidação 23/02/2025 8 DIÓXIDO DE CLORO REAÇÕES COM HEXAS O dióxido de cloro em si não reage efetivamente com os HexAs, mas as espécies ativas como ácido hipocloroso (HClO) e cloro tem essa capacidade. O ácido hipocloroso é um resultado da reação entre o dióxido de cloro e a lignina. A tecnologia mais apropriada para remoção de HexAs é a hidrólise ácida, mas o estágio com dióxido de cloro a quente pode ajudar na remoção. DIÓXIDO DE CLORO REAÇÕES COM EXTRATIVOS Maioria dos extrativos da madeira é removida no cozimento. O branqueamento remove cerca de 80% dos extrativos que chegam ao processo (esteróis, ácidos graxos e álcoois alifáticos de cadeia longa). DIÓXIDO DE CLORO VARIÁVEIS DO PROCESSO – DOSAGEM DE ClO2 Variação do Número Kappa com diferentes doses de ClO2. Fonte: Lehtimaa et al., 2010. 15 kg/t 20 kg/t 30 kg/t DIÓXIDO DE CLORO VARIÁVEIS DO PROCESSO – pH Efeito do pH do estágio D1 na alvura da polpa e na concentração residual de ClO2. Fonte: Hart; Connell, 2008. 23/02/2025 9 DIÓXIDO DE CLORO VARIÁVEIS DO PROCESSO – TEMPO E TEMPERATURA Impacto da temperatura no consumo de ClO2, na alvura e no NCP do estágio D1 para polpa de coníferas. . Fonte: Suess, Moodley, 2005 DIÓXIDO DE CLORO VARIÁVEIS DO PROCESSO – TEMPO E TEMPERATURA Impacto do tempo na alvura e no NCP do estágio D2. Fonte: Davies et al., 2009. HIPOCLORITO Preparo do hipoclorito: dissolução do cloro em solução alcalina. Mecanismo de reação é a oxidação: responsável pela despolimerização da lignina. Por ser utilizado em meio alcalino, o hipoclorito acumula a função de extração da lignina fragmentada, uma excelente estratégia de branqueamento durante muitos anos. Com a descoberta do melhor efeito do cloro em condições ácidas, o uso de hipoclorito começou a declinar. HIPOCLORITO Polpa para produção de papel: • Tempo: 90 a 120 minutos • Temperatura: 30 a 45°C Polpa para produção de derivados: • Tempo: 60 a 120 minutos • Temperatura: 50 a 70°C O tempo de retenção deve ser inverso a temperatura. A combinação 40°C e 120 min é muito usada para fabricação de polpa para produção de papel. Consistência: 9 a 14% VARIÁVEIS DO PROCESSO 23/02/2025 10 HIPOCLORITO BRANQUEAMENTO DE POLPA SOLÚVEL Muito usado para produção de celulose grau viscose Atua no aumento da alvura e no controle do grau de polimerização das cadeias de celulose Maior uniformidade do peso molecular, menor polidispersividade e melhor reatividade ÁCIDO HIPOCLOROSO Espécies de cloro presentes em solução saturada com 0,05M Cl2. Fonte: Davies et al., 2009. ÁCIDO HIPOCLOROSO Deve ser evitado no branqueamento devido a elevada degradação dos carboidratos, entretanto para polpa solúvel pode ajudar na diminuição do peso molecular. Pode ser formado nos estágios de dioxidação se não houver cuidado com o pH. A aplicação de aditivos como DMSO (dimetilsufóxido) no estágio de dioxidação reduz a ação do ácido hipocloroso. BIBLIOGRAFIAS LIVROS Branqueamento de polpa celulósica: da produção da polpa marrom ao produto acabado (Colodette e Gomes, 2015) Seção 5: Branqueamento de polpas químicas para papel Capítulo 2: Estágio ácido para remoção de ácidos hexenurônicos Capítulo 3: Deslignificação e branqueamento com dióxido de cloro Capítulo 6: Branqueamento com hipoclorito e ácido hipocloroso Pulp bleaching: principle and practices (Dence e Reeve, 1996) Section IV: The technology of chemical pulp bleaching Chapter 1: Oxygen delignification Section Chapter 3: Chlorine dioxide in delignification Chapter 8: Chlorine dioxide in bleaching stages Chapter 9: Hypochlorite and hypoclorous acid bleaching Handbook of pulp (Herbert Sixta, 2006) Chapter 7: Pulp Bleaching 7.3 Oxygen Delignification 7.4 Chlorine Dioxide Bleachin 7.8 Hot Acid Hydrolysis 23/02/2025 11 BIBLIOGRAFIAS ARTIGOS Hexenuronic acid contentes of Eucalyptus globulus kraft pulps: variation of pulping conditions and effect of ECF bleachability. Autores: Daniel, A.I.D.; Pascoal Neto, C.; Evtuguin, D.V. Revista: Tappi Journal. 2003. 2, 3 - 8. The effect of carryover on medium consistency oxygen delignification of hardwood kraft pulp Autores: Evtuguin, D.; Daniel, A.I.D.; Pascoal Neto, C. Revista: Journal of Pulp and Paper Science. 2002. 28, 189 - 192. Selective hydrolysis of hexenuronic acid groups and its application in ECF bleaching of kraft pulp Autores: Vuorinen, T.; Fagerström, P.; Buchert, J. Revista: Journal of Pulp and Paper Science. 1999. 25, 155 – 162. Kinetics of lignin and Hexas reactions with chlorine dioxide, ozone and sulfuric acid. Autores: Daniel, A.I.D.; Pascoal Neto, C.; Evtuguin, D.V. Revista: Journal of Wood and Fiber Science. 2008. 40, 190-201. TECNOLOGIA DE BRANQUEAMENTO DE POLPA CELULÓSICA Prof. Dalton Longue Júnior dalton@uesb.edu.br (77) 98815-8711