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Arlindo Ugulino Netto – RADIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 1 MED RESUMOS 2012 NETTO, Arlindo Ugulino. RADIOLOGIA PROPEDEUTICA POR IMAGEM EM OBSTETRÍCIA (Professora Mariana Muniz) Nos ltimos 15 anos, o diagnstico por imagem em obstetrcia e ginecologia sofreu alteraes significativas, basicamente devido influncia das novas modalidades de imagem. A modalidade isolada que alterou mais significativamente a abordagem diagnstica dos problemas obsttricos e ginecolgicos foi a ultra-sonografia. A notvel capacidade dessa tcnica de mostrar a anatomia a anatomia da pelve feminina grvida e no-grvida, sem o uso de radiao ionizante, motivou o desenvolvimento de tcnicas e instrumentao que substituram quase por completo muitos dos exames radiolgicos. A ressonncia nuclear magntica (RNM), de todas as outras modalidades de imagem, defendida por alguns no diagnstico ginecolgico e obsttrico. No entanto, o alto custo da RNM e a disponibilidade disseminada da USG limitaram ainda mais o uso da RNM. De um modo geral, apresentamos as seguintes modalidades para a propedutica por imagem em obstetrcia: raios-X e tomografia computadorizada (ambas fazem uso de radiao ionizante, o que no interessante para o feto); ultra-sonografia (modalidade mais amplamente utilizada por no envolver radiao ionizante); dopplervelocimetria (recurso adicionado RNM); ressonncia magntica (no faz uso de radiao ionizante, mas sim de pulsos de radiofrequncia; o seu custo e movimento do beb dentro do tero da me so seus fatores limitantes, contudo, novas tcnicas com sequncias novas cada vez mais rpidas diminuem os artefatos causados pela movimentao do feto). USO DE RADIAO IONIZANTE PARA IMAGENS EM OBSTETRCIA A National Council on Radiation Protection and Measurements (1977) considera, como risco desprezvel de irradiao fetal, doses de at 5 rads. A radiao ionizante, base do funcionamento da tomografia computadorizada e dos raios-X, pode causar, no primeiro trimestre de gravidez, aborto e restrio do crescimento fetal. Por esta razo, busca-se evitar este tipo de exposio materno-fetal nos primeiros trs meses de gestao. De fato, durante o perodo de organognese (6 a 10 semana de gestao) que o feto apresenta maior vulnerabilidade. Preconiza-se apenas o uso de USG e RNM. No segundo e terceiro trimestres, os riscos menores, uma vez que o beb j est quase completamente formado. Contudo, independente, tem-se relacionado um pequeno aumento do risco de cncer na infncia. A tomografia computadorizada responsvel por expor a gestante aos maiores ndices de radiao ionizante por um exame de imagem, maior at que os raios-X. Por esta razo, deve-se evitar sempre que possvel a exposio da mesma a estes altos ndices de radiao ionizante. Geralmente, a TC tem indicao limitada avaliao do abdome agudo materno (como para suspeitas de apendicite na me), quando no se dispe de RNM. As doses de radiao so: TC de abdome: 10 mGy (1 rad) TC de abdome e pelve: 30 mGy (3 rads) ULTRASSONOGRAFIA (USG) A ultrassonografia, de fato, o mtodo de diagnstico por imagem mais importante na gestao e faz parte da rotina pr-natal, isto : quer seja uma gestao de curso normal ou uma gestao mais complicada, a USG deve ser utilizada. Contudo, a USG s fornece o diagnstico de gravidez a partir da 5 semana de gestao, sendo necessria a dosagem da frao beta do hormnio gonadotrfico corinico humano (β-hCG), que avalia a funo trofoblstica, para o diagnstico concreto da gravidez com poucos dias de gestao. Segundo a International Reference Preparation, quando o β-hCG alcana valores de 1000 e 2000 mUI/mL (que ocorre por volta da 5 semana), j possvel identificar o saco gestacional intra-uterino por meio da USG transvaginal. Com o uso de USG transabdominal, o diagnstico por imagem acontece por volta da 8 semana. A importncia da USG se baseia na sua capacidade de fornecer os seguintes dados: Estimativa da idade gestacional e crescimento fetal; Vitalidade fetal por meio do perfil biofsico fetal (PBF e Doppler); Rastreamento e diagnstico de anomalias fetais; Avaliao dos riscos de aborto, gestao ectpica, e a neoplasia trofoblstica gestacional (NTG); Diagnstico de gestao mltipla Serve para avaliao da situao fetal (longitudinal ou transversa em relao ao eixo do tero materno), apresentao (ceflica ou plvica), posio do dorso em relao me. Alguns aparelhos marcam o lado direito da me (at mesmo com o logotipo da marca do aparelho), o que facilita a referncia da posio fetal com relao me; Aspectos da placenta; Cordo umbilical (as duas artrias e a veia umbilical); Arlindo Ugulino Netto – RADIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 2 Avaliao da quantidade do lquido amnitico; Doenas ginecolgicas (como miomas) e no ginecolgicas (infeces do trato urinrio); Guia para procedimentos invasivos (amniocentese, puno de cordo umbilical, transfuses de sangue, etc). A Federao Brasileira de Ginecologia e Obstetrcia (FEBRASGO) recomenda que a USG pr-natal seja realizado entre a 10 – 14 semanas de gestao, entre a 18 – 24 de gestao e entre a 34 – 38 semana (prximo ao termo). Se s for possvel realizar um nico exame (devido s precariedades do sistema de sade pblico), que este seja feito, preferencialmente, em torno da 20 semana de gestao. Devido importncia da USG para a gestao, abordaremos a sua validade e principais propriedades para cada trimestre de gestao. BIOMETRIA FETAL E IDADE GESTACIONAL (IG) A biometria fetal o parmetro que relacionada a idade gestacional com o crescimento fetal (medidas antropomtricas). Os principais parmetros no exame de rotina so: comprimento cabea-ndega (CCN), dimetro biparietal (DBP), circunferncia ceflica (CC), a circunferncia abdominal (CA) e o tamanho do fmur. Todos estes parmetros avaliados apresentam valores tabelados pr-determinados para a relao com a idade fetal. Por isso, deve-se selecionar a tabela adequada para cada raa avaliada. Para estipular a idade gestacional, utilizaremos a medida do comprimento cabea-ndega (CCN). Considera- se aqui a idade gestacional como a idade menstrual, isto , se a paciente tem a gestao intrauterina com idade gestacional de 10 semanas, isto significa que passaram 10 semanas desde o primeiro dia do ltimo perodo menstrual normal e, presumindo-se que ela tenha tido um ciclo menstrual normal de 28 dias, esta a 8 semana desde a fertilizao (uma vez que a idade da fecundao estimada a partir do dia da ovulao, cerca de 14 dias depois da ltima menstruao). PRIMEIRO TRIMESTRE Durante este perodo, as imagens sonogrficas so bem caractersticas. As estruturas embrionrias aparecem em pocas especficas. neste perodo que se realiza a biometria fetal. justamente durante o 1 trimestre gestacional que se tem a relao CCN e idade gestacional mais fidedigna, uma vez que, a partir deste perodo, o feto comea a expressar seus caracteres genticos e, a depender da altura dos pais, por exemplo, pode resultar em algumas margens de erro quanto aos valores tabelados do CCN. No primeiro trimestre de gestao, o ultrassom transvaginal deve ser um exame obrigatrio. A determinação da idade gestacional pode ser avaliada por estruturas que aparecem em pocas especficas e pr-determinadas: Com 5 semanas de gestao, possvel visualizar o saco gestacional, mas impossvel observar o saco vitelino, o embrio e os batimentos cardacos; Com 5 semanas e meia, possvel observar o saco gestacional com o saco vitelino em seu interior. Contudo, impossvel observar o embrio e seus batimentos cardacos; Com 6 semanas de gestao, o saco gestacional, o saco vitelino e o embrio (maior que 5 mm)so identificveis. Portanto, para verificar a idade gestacional do concepto durante o primeiro trimestre de gestao (0 a 13 semanas) podemos fazer uso dos do Dimetro Mdio do Saco Gestacional (DMSG) e do Comprimento Cabea-Ndega (CCN, sendo este o mais importante para este perodo gestacional). Estes parmetros podem ser avaliados devido a uma menor variao biolgica do tamanho fetal no 1 trimestre e por apresentarem uma maior acurcia para determinao da IG. Em resumo na USG no primeiro trimestre, podemos observar as seguintes imagens, de acordo com a idade gestacional: 4ª semana: com 4 semanas e 3 dias, possvel observar uma pequena esfera anecognica (escura) que representa o saco gestacional, que se torna-se visvel dentro da decdua. No possvel medir o CCN neste perodo uma vez que no se observa o embrio. Mede-se, neste caso, o dimetro mdio do saco gestacional (o primeiro sinal de gestao visvel na USG). 5ª semana: com 5,5 semanas, dentro do saco gestacional, j possvel observar uma estrutura concntrica ao saco gestacional – a vesícula vitelina. Arlindo Ugulino Netto – RADIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 3 6 semana: com 6 semanas, o saco gestacional, a vescula vitelina e embrio j aparecem na USG. O CCN est em torno de 4 – 8 mm. Com cerca de 6 semanas e 3 dias, os batimentos cardacos j se mostram na forma de ondas sonoras. Gestaes mltiplas tambm podem ser identificadas neste perodo. 8 semana: com 8 semanas, j possvel diferenciar claramente o plo ceflico e as ndegas da criana. Conhecendo estes dois pontos, verifica-se a CCN mais facilmente para estipular a IG com pouco vis. 9 semana: com 9 semanas, possvel separar a cavidade amnitica da cavidade corinica. neste perodo que estruturas como as mos e os ps do beb comeam a se definir. Portanto, j possvel avaliar parte da conformao morfolgica do beb. 10 – 12 semana: durante este perodo, o CCN atinge cerca de 32 - 54 mm. J possvel avaliar, com maior aptido, o sexo do beb. A formao dos ventrculos cerebrais possvel de ser identificada (com cerca de 12 semanas). No primeiro trimestre de gestao, podemos ainda fazer uso de alguns marcadores ultrassonogrficos capazes de identificar anomalias cromossmicas no beb. So eles: Translucncia nucal: geralmente, possvel observar esta formao quando a CCN atinge 45 a 84 mm (11 a 13 semanas de gestao) em um corte sagital adequado. Para melhor visualizao deste marcador, faz-se uma magnificao (zoom) de 75% da imagem. Deve-se medir a espessura mxima entre pele fetal e o tecido celular subcutneo da nuca do concepto (e no a membrana amnitica ou o cordo umbilical). O feto deve estar em posio neutra. Este marcador serve para avaliar, por exemplo, a trissomia do 21 (sndrome de Down), com sensibilidade em torno de 80%. A idade materna pode auxiliar no aumento da sensibilidade da translucncia nucal. Osso nasal: no existem tabelas de medida para o osso nasal. Avalia-se apenas a sua presena ou ausncia. Atualmente, vm sendo desenvolvidas algumas tabelas que comparam o comprimento do osso nasal com o dimetro biparietal, por exemplo, mas que ainda no so utilizadas. Frequncia cardaca Curva de crescimento: para avaliar se h restrio de crescimento. Doppler do ducto venoso: o ducto venoso uma comunicao (shunt) entre a veia umbilical e a veia cava inferior. possvel avaliar, por meio deste Doppler, a sstole (S) e distole ventricular (D) e a contrao atrial (A). Geralmente, a velocidade do fluxo no ducto venoso cerca de 3 vezes maior que o fluxo da veia cava inferior e da veia umbilical. A Vmax sistlica do ducto venoso de 40 a 80 cm/seg. A onda normal registrada pelo Doppler deve apresentar-se Arlindo Ugulino Netto – RADIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 4 em uma nica direo e que seja trifsica (trs fases: S, D e A). Em algumas alteraes, o componente atrial aparece abaixo da linha de base, o que pode predizer a existncia de alguma malformao. As trs alteraes que falam a favor de alteraes gestacionais intrauterinas so, portanto: ausncia do osso nasal, presena do componente atrial invertido na Doppler e translucncia nucal aumentada. SEGUNDO E TERCEIRO TRIMESTRES DE GRAVIDEZ Nos segundo e terceiro trimestres de gravidez, a biometria fetal pode ser feita atravs dos seguintes parmetros: Dimetro Bi-parietal (DBP), Permetro Ceflico (PC), Permetro Abdominal (PA) e tamanho do Fmur (F). Para todos os parmetros, devemos realizar uma tcnica precisa, uma vez que todos eles apresentam valores tabelados pr- determinados. DBP: os pontos de referncia para a medio do DBP so: eco mdio (da foice do crebro), tlamos e III ventrculo, cavum do septo pelcido, fissura de Sylvius e cisterna ambiens. O eco mdio, os tlamos e parte dos ventrculos laterais formam um tipo de “seta” cuja ponta fica voltada para o dorso do beb. O DBP no medido pelo dimetro mximo. Mede-se o DBP da face interna do osso parietal de um lado at a face externa do osso parietal oposto (de tbua interna do parietal para tbua externa). A tbua ssea deve medir aproximadamente 2mm. Os marcadores eletrnicos devero ser colocados na tbua externa e na tbua interna contralateral, cruzando os tlamos. O DBP consiste no parmetro de eleio no 2 trimestre, caso seja escolhido isoladamente. Medidas dos ossos longos: geralmente, mede-se o fmur ou o mero, sendo o primeiro o mais utilizado. Consiste no parmetro de eleio no 3o trimestre de gestao. Deve-se identificar com nitidez as extremidades do osso. PC: o permetro ou circunferncia ceflica medida no mesmo plano do DBP, circundando a tbua externa, desde a glabela at a protuberncia occipital externa. A medio pode ser automtica ou utilizando a frmula: (DBP + DOF) x 1.62, sendo DOF a distncia retilnea entre o osso frontal e o osso occipital (Distncia Occipito Frontal). O PC muito utilizado para corrigir medidas alteradas devido algumas malformaes do crnio. PA: o permetro abdominal medido atravs do corte transversal do abdome fetal ao nvel da insero do cordo umbilical. Na USG, observa-se uma estrutura anecognica que representa o estmago distendido por lquido amnitico. O parmetro correto consiste na medio do dimetro em nvel do cordo umbilical. Em alguns casos de atresia esofgica, pode-se no observar a distenso gstrica por lquido. OBS1: A epfise distal do fmur se ossifica acima de 32 semanas, enquanto a epfise proximal da tbia se ossifica acima de 35 semanas. Os ossos do carpo se ossificam apenas depois do nascimento, tanto que a solicitao de raios-X de punho serve para avaliao da idade ssea. OBS2: Conhecer o tempo de ossificao das principais estruturas sseas importante uma vez que a USG utilizada ainda para avaliao da maturidade fetal. Este parmetro importante para casos de risco de parto prematuro e que o obstetra necessita manter a gravidez ao mximo para evitar um sofrimento fetal, como pela sndrome da membrana hialina (desconforto respiratrio do recm-nascido) pela falta de surfactante. De fato, como a partir de 32 semanas, a epfise distal do fmur comea a se ossificar, j temos um bom parmetro de viabilidade ou maturao fetal. Os principais marcadores ultra-sonogrficos para avaliao de possveis anomalias no segundo trimestre so: osso nasal; Prega nucal; Intestino hiperecognico; mero curto / fmur curto; Pielectasia; Foco ecognico intra-cardco; Dilatao ventricular cerebral; Cisto de plexo coride; Clinodactilia; Alargamento do ngulo plvico; Higroma cstico; Hidropisia fetal; Anomalias estruturais. Existe ainda um exame para o terceiro trimestre de gestao que a ultra-sonografia morfolgica, que se baseia na medida de todos os ossosdo metacarpo da criana. PLACENTA Para avaliar a placenta, faz-se uso de uma graduao que varia do grau 0 ao grau III de maturidade. Como sabemos, a placenta a estrutura responsvel por realizar as trocas artrio-venosas materno-fetais por meio do cordo umbilical. Esta avaliao importante para avaliar a maturao e, assim, o funcionamento da placenta. Se esta placenta envelhece muito cedo, as trocas sanguneas tambm estaro comprometidas. A placenta grau 0 aquela morfologicamente uniforme, com poucas ondulaes e haustraes. A placenta grau I j apresenta pequenos pontos hiperecognicos, mostrando-se um pouco mais ondulada. A placenta grau II, bem mais ondulada, apresenta uma maior densidade de pontos hiperecognicos. No grau III, a placa corinica da placenta j apresenta muito mais ondulaes e com uma massa menos homognea, repleta de pontos ecognicos. Costuma-se observar vasos sanguneos dentro da placenta. Encontramos a placenta grau III em apenas 15% das gestaes a termo. Se com 20 semanas de gestao, por exemplo, se encontra uma placenta caracterstica do grau III, diz-se que ela est envelhecida. Arlindo Ugulino Netto – RADIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 5 Na maior parte das gestações a termo, a placenta chega ao máximo no grau I. O fluxo dos vasos na placenta e no cordão umbilical pode ser avaliado por meio do Doppler. Além disso, preconiza-se que a espessura da placenta não pode exceder os 4 cm. COLO UTERINO A avaliação do colo uterino por meio de uma USG transvaginal é importante para prever ameaças de aborto através da abertura do colo uterina, detectada pela USG. LÍQUIDO AMNIÓTICO Para avaliação do líquido amniótico, divide-se o abdome da gestante em 4 quadrantes a partir da cicatriz umbilical. Depois de traçadas as linhas imaginárias, deve-se pesquisar com o transdutor da USG, quadrante por quadrante, a região com maior quantidade de líquido amniótico sem nenhuma estrutura fetal contida nesta área. Deve-se somar, em cm, esta maior área de líquido amniótico sem estruturas fetais com as demais bolsas amnióticas livres. A medida varia de 8 a 18, valores preconizados por tabela, determinados pelo chamado Índice de Líquido Amniótico (ILA). Abaixo de 8 cm, temos um quadro de oligoamnio, relacionado, muito provavelmente, por um problema do sistema urinário do bebê ou na placenta; acima de 18 cm, polidrâmnio, relacionado, muito provavelmente, com um distúrbio no trato gastrointestinal, como uma estenose de piloro ou atresia de esôfago. Arlindo Ugulino Netto – RADIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 6 PROCEDIMENTOS INVASIVOS GUIADOS POR USG Nas necessidades de realização de procedimentos obstétricos invasivos, tais como punção de líquido amniótico, a USG é um importante modo de guia para evitar a lesão de estruturas fetais. DOPPLERFLUXIMETRIA Por meio da dopplerfluximetria, é possível realizar o estudo do fluxo sanguíneo das artérias uterinas, avaliando a funcionalidade da circulação uteroplacentária e umbílico-placentária e fetal. Normalmente, no útero não-gravídico, por não necessitar de tanto suprimento sanguíneo, o componente da diástole apresenta-se menos cheio. O contrário ocorre no útero gravídico. A partir da 16ª a 20ª semana de gestação, é preferível que o componente diastólico já esteja cheio nas artérias uterinas. Para avaliar a circulação umbilical, aplica-se o transdutor do Doppler diretamente na artéria umbilical. Normalmente, a artéria umbilical deve apresentar um componente diastólico cheio. Para avaliar a circulação fetal, opta-se por avaliar um órgão nobre do feto, como o cérebro e a sua artéria cerebral média, a qual, normalmente, apresenta um componente diastólico mais vazio (menos intenso e geralmente, invertido). 1. Avaliação do fluxo das artérias uterinas Quando ocorre a segunda onda de migração trofoblástica normalmente, encontraremos, ao avaliar as artérias uterinas, os componentes sistólicos e diastólicos cheios, sem a presença de incisuras ou artefatos. Caso não ocorra a segunda onda de migração trofoblástica, ocorrerá o aparecimento de uma pequena onda entre o componente sistólico e o diastólico, sendo denominada de incisura protodiastólica (demonstrando uma alteração patológica na perfusão das artérias uterinas). Geralmente, este fato ocorre com pacientes que apresentem patologias vasculares de base, como diabetes ou hipertensão. Pode ocorrer ainda que a incisura protodiastólica aparece em apenas uma das artérias uterinas. Este fato é mais preocupante quando o fluxo alterado é da artéria localizada no mesmo lado em que se encontra a placenta. Caso a incisura protodiastólica seja encontrada no fluxo da artéria do lado oposto ao de implante da placenta, embora seja um caso menos grave e a gravidez curse sem maiores intercorrências na maioria das vezes, deve-se acompanhar a gestação criteriosamente. 2. Avaliação da centralização de fluxo A centralização de fluxo, isto é, a eleição do destino sanguíneo fetal para os órgãos nobres, pode determinar ou predizer um caso de sofrimento fetal. Como sabemos, o Doppler normal das artérias umbilicais demonstra um componente sistólico e diastólico cheios. Diferentemente da artéria cerebral média fetal, onde o fluxo apresenta um componente sistólico cheio, mas com um componente diastólico um pouco mais vazio. No quadro em que ocorre centralização do fluxo, o componente sistólico e diastólico das artérias uterinas esvazia um pouco enquanto que o componente diastólico da artéria cerebral média se intensifica, isto é, fica mais cheio. Isto indica, como vimos, que o feto entrou em sofrimento e o cérebro tem seu fluxo priorizado. Arlindo Ugulino Netto – RADIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 7 Para avaliar a gravidade do fenmeno de centralizao do fluxo, deve-se calcular o ndice de resistncia das Aa. Umbilicais/ ndice de resistncia da artria cerebral mdia. Como o ndice de resistncia das Aa. umbilicais menor que o a resistncia nas arteriais cerebrais, o valor normal deve ser menor que 1. Contudo, algumas escolas invertem a razo (isto IR da ACM/IR da AU), fazendo com que o ndice normal seja maior que 1. 3. Avaliao do fluxo da artria umbilical Quando o obstetra observa a centralizao do fluxo, ele deve manter a gravidez na medida do possvel at que o feto tenha condies de vir a termo sem maiores complicaes. Contudo, para isto, ele deve acompanhar diariamente a gestao atravs do Doppler da artria umbilical, principalmente, fazendo uso de corticides para induzir a maturao fetal. A dopplerfluximetria da artria umbilical, com o decorrer do curso do sofrimento fetal, pode passar de um fluxo normal para um momento de “distole zero”, de modo que apenas o componente sistlico seja visvel. Geralmente, quando o obstetra encontra a distole zero, a gravidez interrompida por induo de parto normal ou cesariana. Caso o obstetra no interrompa a gestao, observaremos o quadro extremo de “distole reversa”, o que traduz em um sofrimento fetal intenso, em que a circulao fetal entra em descompensao e o risco de morte intra-uterina muito grande. ULTRASSONOGRAFIA 3D E 4D A USG 3D capaz de, a partir dos dados obtidos por uma USG tradicional, construir uma imagem tridimensional, mostrando, de forma mais fiel e bem definida, o concepto. Atualmente, alguns aparelhos de USG 3D fornecem imagens em tempo real, sem ser necessria a converso da imagem tradicional para a imagem em 3D. A este recurso, deu-se o nome de USG 4D. As limitaes para a USG 3D/4D so poucas: o custo e a falta de disponibilidade. De uma forma geral, as vantagens da USG 3D/4D so: Rpida aquisio de dados de volume Melhora a deteco e suspeita de anomalias fetais Maior acurcia na identificao da extenso e tamanho das anomalias complementando planos e orientaesde difcil aquisio pela USG 2D Melhora reconhecimento de anomalias por ultrassonografistas menos experientes Melhora a compreenso das anomalias fetais pelos familiares Favorece uma melhora na relao materno-fetal PER ODOS PARA A REALIZAO DA USG Fase 1 (0 – 10 semanas): Avaliao precoce da idade gestacional. Note no grfico acima que a fase 1 corresponde parte do primeiro trimestre, em que a IG pode ser estimada com maior preciso. Fase 2 (10 – 14 semanas): USG morfolgica do 1o trimestre (avaliando a translucncia nucal, presena do osso nasal e Doppler do ducto venoso); bipsia de vilo corial. Fase 3 (16 – 20 semanas): Amniocentese para estudo gentico fetal. Fase 4 (20 – 24 semanas): USG morfolgica fetal (pesquisa e medio de todos os ossos e rgos). Fase 5 (28 semanas – termo): Avaliar peso fetal e quantidade de lquido amnitico; dopplerfluxometria (avaliao da migrao trofoblstica por meio do fluxo da Aa. uterinas e avaliao da centralizao do fluxo e sofrimento fetal); perfil biofsico fetal (movimentao, tnus, responsividade a estmulos, movimentos respiratrios fetais, etc); amniocentese para pesquisa de maturidade fetal. Arlindo Ugulino Netto – RADIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 8 RESSONNCIA NUCLEAR MAGN TICA Até o momento, ainda não há risco biológico conhecido para o feto ou para a mãe. Contudo, é prudente evitar o uso de RNM durante o primeiro trimestre de gestação. Deve-se evitar ainda o uso de Gadolínio (categoria C), contraste utilizado na RNM que atravessa a barreira placentária. Os artefatos de imagem causados pelo movimento fetal e a contraindicação durante o primeiro trimestre de gravidez são os principais fatores limitantes para o uso de RNM na obstetrícia. O uso de sequências mais rápidas podem evitar estes artefatos de imagem por movimentação fetal. As principais indicações da RNM são: Avaliação de dor abdominal (abdome agudo materno) Hidronefrose do feto Pelvimetria da mãe (que antigamente era feito pelo uso de raios-X) Avaliação da placenta Malformações fetais CONSIDERAES FINAIS Conclui-se, ao final de todo nosso estudo acerca do uso de exames por imagem na obstetrícia: A USG consiste no método de escolha devido ao seu baixo custo, capacidade de avaliar em tempo real, sua disponibilidade e ausência de efeitos deletérios para o feto ou para a mãe. A TC é um exame limitado na obstetrícia. Geralmente, é utilizado apenas nos casos de dores abdominais (como em risco de apendicite) quando não se dispõe de uma RNM. O uso de RNM está aumentando devido aos equipamentos mais modernos e rápidos.
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