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Histologia e Embriologia do Sistema Endócrino Gustavo Ribeiro de Souza Filho INTRODUÇÃO As glândulas podem ser definidas basicamente como um tipo de epitélio capaz de fazer secreção. O seu desenvolvimento ocorre na maioria dos casos pela proliferação de células epiteliais, que invaginam no tecido conjuntivo subjacente. Depois desta invaginação, as glândulas podem permanecer ou não com um ducto excretor. Quando permanecem, são denominadas exócrinas e sua secreção é liberada em órgãos ocos ou na superfície corporal. Caso o ducto se oblitere, a glândula passa a ser considerada endócrina, e libera a sua secreção na corrente sanguínea. As glândulas endócrinas, mais especificamente, armazenam as secreções que sintetizam, e as liberam por ação de estímulos químicos ou elétricos. Além disso, elas podem ser divididas em 2 tipos: as glândulas cordonais e as foliculares. As cordonais recebem este nome por suas células formarem cordões anastomosados, entremeados por capilares sanguíneos, como exemplo a adrenal e a adenohipófise. Enquanto as glândulas foliculares formam camadas secretoras em torno dos vasos, assim, elas acumulam o material que será secretado em seu lúmen antes de liberá-los na corrente sanguínea, por exemplo a tireoide. O material secretado é denominado hormônio. Estes são moléculas que funcionam como sinais químicos capazes de estimular as células alvo, podendo ser de diferentes origens como peptídeos, proteínas, aminoácidos, esteroides e glicoproteínas. Além disso, os hormônios podem ser diferenciados quanto ao seu mecanismo de ação, podem ser: endócrino, parácrino, justácrino ou autócrino. Endócrino quando age em células distantes; parácrino quando atua em células vizinhas; justácrino em células conectadas por junção de adesão; e autócrino na própria célula que secreta. Paralelo ao sistema endócrino, temos o sistema neuroendócrino. Este compreende o hipotálamo e a hipófise, e é responsável pelo controle e produção dos principais hormônios do organismo. O hipotálamo é uma estrutura localizada no assoalho do diencéfalo, emitindo neurônios na hipófise capazes de liberar hormônios que podem inibir ou ativar esta glândula. Além disso, estes neurônios formam duas conexões: a neuro-hipofisário hipotalâmico e a adeno-hipofisário hipotalâmico, que serão abordadas no próximo assunto. HIPÓFISE A hipófise é dividida em duas porções: a adeno-hipófise e a neuro-hipófise. Esta divisão tem raízes embriológicas, pois a primeira tem origem ectodérmica do estomodeu (a boca primitiva), enquanto a segunda a partir do diencéfalo. O que ocorre é que um divertículo, denominado infundíbulo, forma-se no assoalho do diencéfalo e cresce em direção ao estomodeu. Ao mesmo tempo, o teto do estomodeu invagina e forma uma bolsa, a bolsa de Rathke. As duas estruturas se aproximam e se fundem, em seguida, o pedículo da bolsa de Rathke desaparece, rompendo com a cavidade oral. Contudo, o pedículo infundibular permanece na neuro-hipófise e forma a haste infundibular. Cada porção formada da hipófise também possui subdivisões. A neuro-hipófise é formada por pars nervosa e infundíbulo. Enquanto a adeno-hipófise é subdividida em pars distalis, pars tuberalis e pars intermedia. Porém, antes de falarmos de cada uma em específico, vale a pena aprofundar no sistema de irrigação e drenagem deste órgão para compreender melhor como os hormônios podem atuar neste sistema. Inicialmente, a artéria hipofisária superior penetra na haste infundibular e forma a plexo capilar primário, constituído de capilares fenestrados responsáveis por receber as secreções das células neuroendócrinas do hipotálamo. Em seguida, destes capilares partem as veias portas que formam o plexo secundário, este possui a função de irrigar a adeno-hipófise e receber as secreções das células endócrinas. Além disso, temos o plexo terciário formado pela artéria hipofisária inferior e responsável por irrigar a neuro- hipófise. O sangue das duas porções converge para a veia hipofisária que parte para o seio cavernoso. Agora, entraremos em mais detalhes sobre as subdivisões da hipófise. Dentre todas, a que mais possui funções e hormônios produzidos é a pars distalis da adeno-hipófise. Esta porção possui três tipos celulares principais: as células cromófilas acidófilas, que coram com corante ácido; as células cromófilas basófilas, que coram com corante básico; e as células cromófobas, que não possuem afinidade por qualquer corante, pois perderam sua atividade hormonal. As células acidófilas são responsáveis por secretar dois importantes hormônios: o hormônio do crescimento (GH) e a prolactina. Já as células basófilas secretam o hormônio folículo estimulante (FSH), o hormônio luteinizante (LH), o hormônio estimulante da tireoide (TSH) e o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). Hormônio do crescimento (GH) O GH, produzido pelas células somatotróficas, atua estimulando os hepatócitos a liberarem o fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1). Esta substância estimula o crescimento dos tecidos ósseos nas placas epifisárias. Este hormônio é liberado pela adeno-hipófise a partir do estímulo do hipotálamo com a liberação do hormônio liberador do hormônio do crescimento (GHRH). Já a inibição ocorre pela liberação da somatostatina também pelo hipotálamo. Algumas doenças são causadas pela produção deste hormônio. Entre elas temos o gigantismo (estatura extremamente alta); nanismo (estatura extremamente baixa); e acromegalia (crescimento exagerado das extremidades). Prolactina A função deste hormônio, produzido pelas células mamotróficas, é estimular o início e a manutenção da lactação no pós-parto. Este hormônio atua nas glândulas mamárias desenvolvidas por meio de ondas intermitentes, estimulando a síntese de leite. O estímulo para sua secreção é pelo hormônio liberador de prolactina (PRH), enquanto a inibição pela dopamina. Entre as doenças acometidas temos a hiperprolactinemia, que causa uma produção excessiva de prolactina por conta de tumores. Normalmente, esta doença está associada com quadros de galactorreia, que é a produção de leite fora do período correto tanto por mulheres quanto homens. Hormônio folículo estimulante e luteinizante (FSH e LH) Ambos hormônios são produzidos pelas células gonadotróficas na adeno-hipófise. A função destes hormônios é diferente dependendo do sexo, na mulher o FSH estimula o desenvolvimento dos folículos ovarianos e o LH estimula a produção de progesterona pelo corpo lúteo. Já no homem, o FSH estimula as células de Sertoli a secretar hormônios (ativina e inibina), enquanto o LH controla a síntese de testosterona pelas células de Leydig. A produção destes hormônios é estimulada pelo hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) e pela ativina, já a inibição é pela inibina. Entre as doenças temos uma comum, a infertilidade. Ela ocorre por tumores na hipófise que podem destruir os gonadotrofos ou por deficiência na produção de GnRH. Hormônio estimulante da tireoide (TSH) Sua produção é realizada pelas células tireotróficas da adeno-hipófise e possui a função de controle sobre a atividade e o crescimento da glândula tireoide. O estímulo para sua produção é por conta do hormônio liberador de tireotrofina (TRH), por outro lado, a inibição é por conta do excesso dos hormônios T3 e T4. Uma doença relacionada é o hipotireoidismo, ele é causado por uma deficiência de TSH que leva a uma redução do metabolismo celular, da temperatura e letargia mental. Hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) Este hormônio é produzido pelas células corticotróficas e sua principal função é estimular o crescimento e a síntese de esteroides nocórtex da suprarrenal. O estímulo de produção é por conta do hormônio liberador de corticotrofina (CRH), enquanto a inibição é por índices altos de cortisol. Um excesso de ACTH pode causar a doença de Cushing, pois o córtex da suprarrenal passa a produzir cortisol em excesso. Outra porção da adeno-hipófise é a pars tuberalis. Esta porção envolve a haste infundibular e possui uma população pequena de células gonadotróficas. Ainda temos a pars intermedia, que é uma fina faixa que separa a pars distalis da pars nervosa, não se sabe ao certo sua função, mas sabe-se que há uma quantidade baixa de células basófilas. Na neuro-hipófise temos principalmente a pars nervosa. Esta porção possui: os pituícitos, células semelhantes a astrócitos; neurônios magnocelulares, células amielínicas que ajudam a formar o trato hipotálamo-hipófise; e os núcleos supraóptico e paraventricular. Os neurônios destes dois núcleos, chamados neurônios parvocelulares, secretam hormônio antidiurético (ADH) e ocitocina. O ADH diminui a excreção de água nos rins. A estimulação para produção deste hormônio é causada pela queda do volume sanguíneo, todavia, a inibição é causada pela retenção excessiva de água. Já a ocitocina participa da contração da musculatura lisa do útero e da ejeção do leite. Quando ocorre a queda de secreção de ADH, temos um caso de diabete insípido neurogênico, em que o paciente urina excessivamente. PINEAL A pineal é um órgão endócrino localizado próximo ao terceiro ventrículo como uma projeção do epitálamo. Suas funções não recebem influência direta do cérebro, mas são controladas pela inervação simpática. Seu desenvolvimento inicia-se com uma evaginação sacular no teto do diencéfalo, formando um divertículo contendo cordões de pinealócitos, que são as células secretoras, e células de sustentação semelhante às da glia, chamada de células intersticiais. O principal hormônio secretado é a melatonina. Ela é mais produzida nos períodos de escuridão para induzir a sonolência, sendo assim, variações de luminosidade podem afetar o desempenho desta glândula. Isto ocorre porque quando o sinal luminoso chega até o núcleo supraquiasmático ocorre a transmissão do sinal para medula espinhal, em seguida, é estimulado o gânglio cervical superior que emite fibras simpáticas até a pineal, causando sua inibição. Tumores na glândula pineal podem causar uma puberdade precoce, tendo em vista a influência da melatonina no hipotálamo. TIREOIDE A glândula tireoide desenvolve-se a partir de uma invaginação do endoderma, na região ventral da faringe primitiva, próxima a raiz da língua. Inicialmente, a glândula liga-se ao forame cego pelo ducto tireoglosso, contudo esta estrutura desaparece e permite o desenvolvimento da tireoide como uma glândula sem ducto. Cada lóbulo da glândula tireoide é constituído de numerosos folículos. Estes são formados por uma única camada de células epiteliais cúbicas, que formam o epitélio folicular. Este epitélio delimita um lúmen central rico em uma substância coloide, a tireoglobulina, um pró-hormônio. O que ocorre é que o iodeto é captado por um transporte ativo conhecido como sequestro de iodeto. Em seguida, ele é convertido em iodo pela enzima tireoide peroxidase e liberado no lúmen dos folículos. Este iodo se liga a tireoglobulina formando os hormônios T3 e T4. Por fim, pela ação do TSH a gotícula de coloide é transformada em vesícula e liberada nos capilares fenestrados. Estes hormônios possuem função fundamental na regulação do metabolismo celular. Contudo, esta função pode ser comprometida por duas doenças: o hipertireoidismo e o hipotireoidismo. O hipertireoidismo, também conhecido como doença de Graves, é causado por uma produção de autoanticorpos que se ligam aos receptores de TSH e simulam seu efeito nas células foliculares, desse modo, uma grande quantidade de hormônio é liberado na corrente sanguínea, levando a aspectos clínicos como o bócio. Já o hipotireoidismo pode causar no feto uma queda nos níveis dos hormônios tireóideos, por conta de uma deficiência em iodo, levando a um quadro chamado de cretinismo. Outra causa de hipotireoidismo está na doença de Hashimoto, em que o organismo produz autoanticorpos contra a enzima tireoide peroxidase, acarretando na diminuição da atividade da glândula. Além disso, próximo ao epitélio folicular possuímos as células C ou parafoliculares. Estas células são derivadas da crista neural e possuem como função secretar o hormônio calcitonina. Ele é responsável por diminuir os níveis de Ca2+ no sangue pela fixação deste íon nos ossos. PARATIREOIDE Esta glândula deriva do terceiro e quarto par de bolsas faríngeas. O terceiro par origina a parte superior da paratireoide, enquanto o quarto par a parte inferior. Nela podemos ressaltar dois tipos celulares: as células principais e as células acidófilas. As células principais contém grânulos de paratormônio (PTH). Sua produção é controlada pelos níveis séricos de Ca2+, sendo que uma baixa estimula a produção do PTH. Já as células acidófilas são apenas células em transição para células principais. Desse modo, temos um sistema antagonista entre PTH e calcitonina. O PTH estimula a reabsorção óssea, consequentemente, a liberação de Ca2+ no sangue. Quando os níveis deste íon se tornam elevados, é inibida a produção de PTH e estimulada a produção de calcitonina, levando a fixação de cálcio no osso e reduzindo os níveis de Ca2+ séricos. Tumores benignos funcionais na glândula podem gerar quadros de hiperparatireoidismo. Assim, é produzido hormônio paratireoideo em excesso, causando hipercalcemia. Por outro lado, há mutações que podem alterar o sistema de interpretação dos níveis de cálcio sanguíneo, levando a uma queda da liberação de PTH no sangue, neste caso, temos um quadro de hipoparatireoidismo. SUPRERRENAL A suprarrenal (ou adrenal) origina-se a partir de células do mesotélio que se proliferam e formam um córtex primitivo. Este é circundado por mais células mesoteliais que formam o córtex secundário. Em seguida, o córtex primário se degenera, enquanto o secundário se prolifera por ação do ACTH, formando o córtex definitivo da suprarrenal. Paralelo a isso, temos a migração de células da crista neural que se diferenciam em células cromafins na medula da glândula. A diferença embriológica das duas partes da adrenal leva a uma diferença de secreção. Enquanto o córtex produz hormônios esteroides, a medula produz catecolaminas. Dentro do córtex temos uma subdivisão em zonas que produzem diferentes esteroides: a zona glomerulosa, fasciculada e reticulada. A zona glomerulosa produz mineralocorticoides como a aldosterona. Já a zona fasciculada é responsável pelos glicocorticoides, principalmente o cortisol. Enquanto a zona reticulada secreta os andrógenos. Estes hormônios possuem funções variadas. A aldosterona provoca a retenção de água e Na+ nos rins. O cortisol é convertido em cortisona pelos hepatócitos e causa a gliconeogênese, além de possui ação anti-inflamatória. Por fim, os andrógenos são convertidos em testosterona e estrógeno nos tecidos periféricos. Vale ressaltar que a liberação destes hormônios é provocada pelo ACTH, hormônio que é inibido por quantidades excessivas de cortisol no sangue. Na medula da suprarrenal há células cromafins, estas recebem este nome por possuírem uma coloração castanha. Elas são neurônios pós-ganglionares simpáticos modificados, assim, possuem grânulos de secreção de epinefrina ou norepinefrina. Entre as doenças que acometem esta glândula temos a hiperplasia congênita da suprarrenal, em que um defeito genético impede a produçãode corticoides na suprarrenal. Desse modo, o ACTH permanece estimulando a adrenal e leva a sua hiperplasia. PÂNCREAS ENDÓCRINO O pâncreas surge por meio de dois brotos pancreáticos, um dorsal e um ventral, de células endodérmicas. O broto pancreático dorsal se prolifera e forma as principais estruturas do pâncreas, além do ducto pancreático acessório. Já o broto pancreático ventral se desenvolve e por rotação do duodeno, funde-se com o broto pancreático dorsal, o ventral é responsável por formar o ducto pancreático principal. A parte endócrina do pâncreas é formada pelas ilhotas de Langerhans. Cada ilhota é constituída de cordões anastomosados de células endócrinas e pelo sistema insuloacinar. Os cordões são formados pelas células A, B, D e F. As células A produzem o glucagon; as B a insulina; D gastrina e somatostatina; e F o polipeptídeo pancreático. O glucagon aumenta os níveis de glicose no sangue. A insulina reduz os níveis séricos de glicose. A somatostatina inibe a produção de insulina e glucagon, e a secreção de GH. Já os polipeptídeos pancreáticos inibem a secreção de somatostatina. Uma das doenças mais conhecidas causada por um problema nesta glândula é a diabete melito. Nesta doença, a pessoa pode desenvolver um quadro de hiperglicemia por conta de lesão ou infecção das células B.
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