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Turma e Ano: Flex A (2014) Matéria / Aula: Direito Constitucional / Aula 15 Professor: Marcelo Leonardo Tavares Monitora: Mariana Simas de Oliveira AULA 15 Conteúdo da aula: Estado Federal. Intervenção federal. Início de Estado de Defesa e Estado de Sitio. O ESTADO FEDERAL BRASILEIRO INTERVENÇÃO FEDERAL Na Constituição, a intervenção está prevista: Art. 34 - intervenção da União nos Estados e no DF; chamada de intervenção federal; Art.35 - intervenção dos Estados no Município e também da União nos Municípios localizados em Territórios; Art.36 - normas gerais e procedimento em matéria de intervenção. A intervenção, como instituto próprio de Estados federais, é a suspensão temporária e extraordinária da autonomia de uma entidade federativa. A intervenção é realizada pelo Chefe do Poder Executivo da entidade mais abrangente em um ou mais órgãos de Poder da entidade federativa imediatamente menos abrangente: União Executivo Legislativo Judiciário Estados Executivo Legislativo Judiciário Municípios Executivo Legislativo Note-se que a intervenção é uma exceção e deve ser minimalista: “A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto (...)” – caput do art.34. Desde 1988 não ocorreu nenhuma intervenção. Fases da Intervenção Para ser realizada, a intervenção pressupõe quatro fases: (i) Iniciativa. (ii) Judicial. Só haverá a fase judicial quando o Estado se negar a executar lei federal (art.34, parte primeira do inciso VI) ou no caso de desrespeito a um princípio do inciso VII do art.34 (princípios constitucionais sensíveis). Na prática, dificilmente a fase judicial irá ocorrer. (iii) Decretação. (iv) Controle político. O controle político só não irá ocorrer no caso de decreto simples (simplificado). Fase da Iniciativa Espontânea – de oficio Iniciativa Requerimento Provocada Requisição Espontânea O Estudo da iniciativa na intervenção é muito parecido com a iniciativa para a instauração de inquérito policial, podendo ser: (i) Espontânea, de ofício. I – Manter a integridade nacional. (Exemplo: se uma entidade federativa proclama independência – fere o art.1º, da CRFB\88). Na República, o Brasil não teve nenhum caso de intervenção por esse motivo. Ainda como Estado unitário, no entanto, sofreu alguns movimentos separatistas (Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Sul – Guerra dos Farrapos). O maior movimento interno que os EUA já sofreram foi a Guerra da Secessão, um ato de intervenção da União contra as entidades federativas que proclamaram a sua independência. II – Repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra. Essa segunda parte é uma guerra entre entidades federativas. Com relação à primeira parte, a invasão estrangeira não dará ensejo à declaração de estado de guerra, pois, se assim ocorrer, não será hipótese de intervenção, mas de estado de sítio. O Governador certamente será afastado das suas atribuições e a parte do território nacional invadida irá funcionar sob as ordens de um interventor com forte atuação militar e deslocamento das Forças Armadas. III – Para conter grave comprometimento da ordem pública. Exemplo: imagine-se que a situação de segurança pública de insegurança em determinado Estado da Federação seja crítica, com pessoas fazendo justiça com as próprias mãos, com o comércio sem funcionar em razão do crime, etc. Essa circunstância pode ser causa de intervenção federal. Esse seria um caso de utilização das Forças Armadas para a garantia de defesa da lei e da ordem (art.142, parte final, da CRFB\88 1 ). As Forças Armadas podem ser utilizadas para garantia da lei e da ordem em dois casos: (i) quando as atribuições de segurança pública dos Estados forem declaradas insuficientes ou inexistentes (de forma unilateral) ou (ii) quando houver pedido de cooperação, por forma de convênio (no último caso não há intervenção e o Governador não é afastado – é o que ocorrerá na Copa do Mundo e o que acontece, neste momento, no Rio de Janeiro na comunidade da Maré). (Ver a Lei Complementar n. 97\1999 que regulamenta o emprego das Forças Armadas). V – Reorganizar as finanças da unidade da Federação (manutenção da ordem financeira) quando o Estado da Federação não pagar dívida 1 Art. 142. CRFB\88. “As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”. fundada, cujo conceito encontra-se na Lei de Responsabilidade Fiscal 2 , ou quando o Estado não fizer repasse de receita tributária ao Município. Em os casos de iniciativa espontânea há ampla análise de oportunidade e conveniência para realizar ou não intervenção e, antes de decretá-la, o Presidente da República deve ouvir os Conselhos da República e da Defesa Nacional (arts. 89\91 da CRFB\88). Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandowski fazem uma afirmação de que quando a iniciativa for por requisição não há necessidade da oitiva dos Conselhos mencionados. Todavia, trata-se de posição minoritária, não acompanhada por outros autores de Direito Constitucional, pois mesmo quando a iniciativa é obrigatória eles não discutem apenas se será realizada a intervenção ou não, mas qual o nome do interventor, quais os órgãos serão atingidos, quais as medidas autorizadas, o tempo da intervenção, etc. (ii) Provocada por requerimento (a autoridade que irá intervir continua com discricionariedade) ou requisição (a autoridade é obrigada a intervir se a requisição for legal, sob pena de crime de responsabilidade). Requerimento: IV – Garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação. Se o Poder Executivo estiver se sentindo coagido pelo Poder Judiciário, por exemplo, o Governador pode requerer ao Presidente da República que realize intervenção no Poder que o está coagindo. Tecnicamente, o MP é um órgão integrante do Poder Executivo, mas tem autonomia funcional e, portanto, implicitamente poderia requerer ao Presidente da República a intervenção do inciso IV. Requisição IV – Para garantir o livre exercício do Poder Judiciário. Nesse caso, o STF é quem irá requisitar. Exemplo: se o TJ estiver sendo coagido, imagine-se, pelo Governo do Estado, o Tribunal requererá ao Supremo que, por sua vez, fará uma 2 Lei 101\00. Art.29, I : “dívida pública consolidada ou fundada: montante total, apurado sem duplicidade, das obrigações do ente da Federação, assumidas em virtude de leis, contratos, convênios ou tratados e da realização de operações de crédito, para amortização em prazo superior a doze meses”. sessão administrativa (e não judicial) para deliberar se vai requisitar ao Presidente da República a intervenção. A análise de oportunidade e conveniência será feita pelo Supremo. Uma vez requisitada, o Presidente deve intervir. VI – (segunda parte) Para prover ordem ou decisão judicial.O descumprimento de precatório se inclui aqui. Existem três órgãos que podem requisitar: STF, STJ e TSE. O TSE fará a requisição quando a ordem descumprida for emanada da Justiça Eleitoral. Exemplo: após ter sido diplomado e tendo tomado posse, o TRE determina a perda do cargo de um Deputado Estadual, encaminhando a ordem de perda de cargo ao Presidente da Assembleia Legislativa que não a cumpre. Tal descumprimento fará com que o TRE requeira ao TSE que requisite ao Presidente da República que intervenha na Assembleia Legislativa para fazer cumprir a ordem da Justiça Eleitoral. Se ordem for da Justiça do Trabalho ou da Militar, a requisição é do Supremo. Se for da Justiça comum Federal ou Estadual, depende: havendo questão constitucional a requisição é do STF; não sendo é o do STJ. Essa distribuição é jurisprudencial, inexistindo previsão legal de quem seja a atribuição (já caiu em concursos com questões elaboradas pelo Cespe). VI – Prover execução de lei federal: Requisição do Supremo. Ação para prover execução de lei federal. VII- Garantir aplicação dos princípios constituição sensíveis: Requisição do Supremo. Representação de inconstitucionalidade interventiva (dado histórico: foi a primeira ação de controle concentrado de competência do Supremo, prevista na Constituição de 1934 e tinha por objeto o Decreto do Presidente da intervenção. A partir de 1946, a ação muda de natureza e passa a ser condição para a intervenção para garantia de aplicação de princípios constitucionais sensíveis). Nos dois últimos casos a requisição é judicial e não administrativa. Ela se se dará após o julgamento de uma ação (ação para prover execução de lei federal ou representação de inconstitucionalidade interventiva). Proferida a decisão pelo Plenário, o Supremo emitida uma ordem judicial de cumprimento. Ambas as ações têm o mesmo rito, previsto na Lei 12562\11; são de iniciativa exclusiva do Procurador Geral da República; a competência é exclusiva do STF. Pode ser formulado requerimento liminar para suspender o ato agressor, cujo deferimento deve observar o voto da maioria absoluta dos membros do Supremo. Concedida ou não a liminar, as autoridades responsáveis pelos atos agressores são notificadas para apresentar informações no prazo de dez dias. Exemplo: Decreto do governador, apoiado em um parecer da Procuradoria Geral do Estado, determina aos órgãos estaduais que não cumpram uma ordem federal porque ele entende que ela invadiu competência do Estado. Nesse caso, o ele será notificado em dez dias para prestar informações. A partir daí, sucessivamente, pronunciam-se o AGU (defendendo a execução da lei) e o PGR (custus legis). Somente há fase judicial nessas ultimas hipóteses (em vermelho). Fase Judicial Só ocorrerá, como dito, no caso de intervenção para prover execução de lei federal e para garantir a observância dos princípios constitucionais sensíveis. O rito já foi mencionado anteriormente, com previsão na Lei 12562\11. Fase de Decretação O Decreto é ato exclusivo do Chefe do Poder Executivo e definirá o âmbito da intervenção, quem será o interventor, quais medidas são autorizadas para o interventor adotar e o tempo da intervenção. Uma vez publicado no DO, o Decreto entra imediatamente em vigor, sendo apreciado pelo Congresso já produzindo seus efeitos. Observe-se o art.49, IV, da CRFB\88: Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: (...) IV - aprovar o estado de defesa e a intervenção federal, autorizar o estado de sítio, ou suspender qualquer uma dessas medidas; (...) Se a intervenção for decretada no período de recesso, o Congresso será convocado para aprova-la. Caso ele não aprove, o Decreto tem seu efeito suspenso imediatamente. Fase do Controle Político O controle político encontra-se no art.49, IV, da CRFB\88, acima mencionado. Nas hipóteses dos incisos VI e VII do art.34, o Presidente pode editar um decreto simplificado, apenas suspendendo o ato agressor, sem nomear interventor. Nessa hipótese não haverá controle político. Exemplo: Decreto do governador, apoiado em um parecer da Procuradoria Geral do Estado, determina aos órgãos estaduais que não cumpram uma ordem federal porque ele entende que ela invadiu competência do Estado. Proposta a ação, o Supremo julga e requisita a intervenção ao Presidente, que edita um Decreto de intervenção suspendendo os atos do Decreto Estadual. Se essa suspensão fizer com que, automaticamente, a lei federal seja cumprida, não há necessidade de interventor ou de controle político. Art.36. § 3º - Nos casos do art. 34, VI e VII, ou do art. 35, IV, dispensada a apreciação pelo Congresso Nacional ou pela Assembleia Legislativa, o decreto limitar-se-á a suspender a execução do ato impugnado, se essa medida bastar ao restabelecimento da normalidade. (O interventor é escolha exclusiva do Presidente da República). O próprio Supremo pode suspender o Decreto por vício formal, através de mandado de segurança. ESTADO DE DEFESA E DE SÍTIO (136\141, CF) Bibliografia sugerida sobre o tema: Estado de emergência, Editora Lumem Juris, Marcelo Leonardo Tavares O Estado de Direito é apoiado em dois princípios importantes: de equilíbrio entre a atuação do Estado e a liberdade do indivíduo e da harmonia entre os podres. O estado de defesa é medida mais branda do que o estado de sítio, ambas são emergenciais e alteram as relações de força. O espaço de liberdade do indivíduo em relação ao Estado diminui e este toma medidas que normalmente não poderiam ser adotadas, como a decretação de busca e apreensão por ordem administrativa e prisão de pessoas por ordem administrativa. Com relação ao equilíbrio de Poderes há uma hipertrofia do executivo com relação aos demais. Existem dois modelos de Estado de emergência no mundo: (i) Lei marcial: adotado por países de tradição anglo-saxônica (EUA, Inglaterra, África do Sul, Austrália). Características: suspensão do HC; ausência de previsão normativa prévia do que o Executivo pode fazer, ficando livre para adotar medidas; análise posterior pelo Poder Legislativo, que responsabilizará, ou não, o Executivo. (ii) Estado de sítio: tem tradição francesa, imaginado por Napoleão. Características: há previsão normativa anterior do que o Executivo pode fazer; não há suspensão de HC; não há controle posterior de responsabilização, pois, em princípio, ele é feito concomitantemente aos atos praticados. No Brasil, adota-se o Estado de Sítio francês com temperamento, havendo controle posterior do Congresso. A Constituição não prevê se esse controle afasta as questões do conhecimento do Poder judiciário em eventual ação judicial de indenização, por exemplo, ao contrário do que ocorre na Lei Marciana que, uma vez controlado o ato pelo Poder Legislativo, não pode ter controle judicial. O art. 136 da CRFB\88 trata do estado de defesa; os artigos 137 e 138 dizem respeito ao estado de defesa e, por último, os artigos 140 e 141 trazem normas de emprego comum. Estado de legalidade ordinária Estado democrático de Direito - Funcionamento regular das instituições, em especial os públicos atuam nas atribuições para o qual foram afetados (escola como escola, hospital como hospital, etc.) - Respeito aos direitos fundamentais com amplo funcionamento das garantias constitucionais. - Equilíbrio entre Poderes. Estado de legalidade extraordinária - Há restriçãonos direitos fundamentais, com a possibilidade de suspensão de garantias constitucionais. - Utilização de bens e serviços públicos em atividades para as quais não foram afetados - Hipertrofia do Poder Executivo.
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