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AO DOUTO JUIZO DA XX VARA CÍVEL DA COMARCA DE ÁGUAS DE LINDÓIA/SP Processo nº: MARIA DAS DORES PEDREIRA, brasileira, aposentada, portadora do RG nº XXXX e CPF nº XXXX, residente e domiciliada na XXXX, por seu advogado infra-assinado, com escritório profissional situado à XXXX, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 560 e 561 do Código de Processo Civil, bem como nos artigos 1.196, 1.225 e 1.228 do Código Civil, propor a presente: AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE C/C PEDIDO LIMINAR em face de JOÃO XXXX e ANA XXXX, brasileiros, casados, caseiros, portadores dos documentos de identificação nº XXXX e CPF nº XXXX, residentes e domiciliados na Rua XV de Novembro, nº 202, Bairro das Laranjeiras, Águas de Lindóia/SP, pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos. 1. DA PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO A REQUERENTE possui atualmente 80 (oitenta) anos de idade, conforme comprovante de documento anexo, fazendo jus ao direito de prioridade na tramitação do presente feito, conforme preceitua o artigo 1.048, inciso I, do Código de Processo Civil, que assim dispõe: "Art. 1.048. Tem direito à tramitação prioritária: I - a pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos..." Considerando que a REQUERENTE já atingiu a idade de 80 anos, faz jus à prioridade na tramitação do processo, conforme expressamente previsto na legislação vigente, razão pela qual requer que seja concedida a devida prioridade na tramitação do presente feito. 2. DA JUSTIÇA GRATUITA Outrossim, a REQUERENTE não possui condições financeiras de arcar com as custas processuais, honorários advocatícios e demais despesas sem prejuízo do seu sustento e de sua família. Dessa forma, conforme o disposto no artigo 5º, LXXIV, da Constituição da República e no artigo 4º da Lei nº 1.060/50, requer a concessão do benefício da Justiça Gratuita. "Art. 5º, LXXIV - O Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos." A REQUERENTE anexa aos autos declaração de hipossuficiência, conforme estabelece a Lei nº 1.060/50, e se coloca à disposição para a apresentação de documentos que Vossa Excelência entender necessários para comprovação de sua situação. 3. DOS FATOS A REQUERENTE é legítima proprietária do imóvel situado na Rua XV de Novembro, nº 202, Bairro das Laranjeiras, Águas de Lindóia/SP, conforme demonstram a matrícula do imóvel e a escritura pública de propriedade anexas. O bem foi adquirido em conjunto com seu ex-marido no ano de 2000. Após o divórcio, ocorrido em fevereiro de 2010, a partilha de bens conferiu à REQUERENTE a propriedade exclusiva do referido imóvel. Desde 2008, os RÉUS, JOÃO e ANA, juntamente com seus filhos, residem no imóvel a título precário, sendo que a posse lhes foi concedida de maneira meramente tolerada, para desempenharem a função de caseiros. Em fevereiro de 2010, após a formalização do divórcio, a REQUERENTE buscou usufruir plenamente do imóvel, momento em que foi impedida de ingressar na propriedade pelos RÉUS. Diante dessa resistência, a REQUERENTE propôs ação trabalhista para o reconhecimento do vínculo empregatício, a qual restou favorável, sendo a rescisão do contrato de trabalho devidamente formalizada em fevereiro de 2011. Apesar das reiteradas solicitações para que os RÉUS desocupassem o imóvel, estes permaneceram indevidamente no local, alegando posse sobre o bem. Em janeiro de 2011, os RÉUS ingressaram com ação de usucapião (Processo nº 22344), a qual foi julgada improcedente em março de 2015, decisão essa confirmada pelo Tribunal de Justiça. Mesmo diante da improcedência da ação de usucapião, os RÉUS continuam na posse indevida do imóvel, impedindo a REQUERENTE de exercer plenamente seus direitos sobre o bem. 4. DO DIREITO 4.1. O artigo 1.196 do Código Civil conceitua possuidor como aquele que exerce, de fato, poderes inerentes à propriedade, o que não se verifica no presente caso, pois a posse dos RÉUS sempre foi concedida de maneira precária. "Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade." 4.2. O artigo 1.225, inciso I, do Código Civil, estabelece o direito de propriedade como um dos direitos reais, sendo garantido ao proprietário o pleno gozo do bem. "Art. 1.225. São direitos reais sobre coisas: I - o direito de propriedade..." 4.3. Nos termos do artigo 1.228 do Código Civil, o proprietário tem o direito de reaver o bem de quem injustamente o possua ou detenha. "Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha." 4.4. O artigo 560 do Código de Processo Civil assegura ao possuidor o direito de ser mantido ou reintegrado na posse sempre que esta for injustamente turbada ou esbulhada. "Art. 560. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e reintegrado em caso de esbulho." 4.5. Além disso, o artigo 47, § 2º, do CPC dispõe que, quando a permanência de alguém em um imóvel decorre de relação de trabalho, sua posse cessa automaticamente com o término do vínculo empregatício, o que reforça a ilegalidade da permanência dos RÉUS no bem da REQUERENTE. "Art. 47, § 2º. A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta." 4.6. No presente caso, resta configurado o esbulho possessório desde o momento em que a REQUERENTE foi impedida de ingressar no imóvel, em fevereiro de 2010, sendo devida sua reintegração na posse do bem. Conforme a jurisprudência do TJ-MG, a proteção possessória depende da comprovação da posse anterior, esbulho e perda da posse, nos termos do artigo 561 do CPC. No caso, a permanência do réu no imóvel após a quitação dos direitos trabalhistas e a recusa em desocupar o bem foram consideradas como ato de mera permissão, configurando esbulho possessório. Esse entendimento se aplica ao presente caso, em que os réus continuam no imóvel da autora após a rescisão do vínculo de trabalho, justificando a reintegração de posse. EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - REINTEGRAÇÃO DE POSSE - IMÓVEL CEDIDO PARA MORADIA DE EMPREGADO - POSSE INDIRETA - FALÊNCIA DA EMPRESA - PERMANÊNCIA DO EMPREGADO NA MORADIA - ATO DE MERA PERMISSÃO - INOCORRÊNCIA DE TRANSMUTAÇÃO - QUITAÇÃO DOS DIREITOS TRABALHISTAS - RECUSA À DESOCUPAÇÃO - ESBULHO CARACTERIZADO - PROCEDÊNCIA MANTIDA. I - A luz do artigo 561 do CPC/2015, a proteção possessória está condicionada à demonstração da existência da posse anterior, esbulho e perda, sendo que, demonstrados esses elementos, autoriza-se a proteção reclamada por meio da ação de reintegração. II - Demonstrado, nos autos, que a posse sobre o imóvel advém de mera permissão do antigo empregador do réu, proprietário e possuidor indireto do bem em litígio, e que este, mesmo após a quitação de seus direitos trabalhistas, recusou-se a deixar o bem, restam configurados os requisitos impostos pelo art. 561 do CPC/15, impondo-se a manutenção da procedência da ação de reintegração de posse . (TJ-MG - AC: XXXXX91356193001 MG, Relator.: João Cancio, Data de Julgamento: 26/02/2019, Data de Publicação: 28/02/2019) 5. DOS PEDIDOS Diante do exposto, requer a Vossa Excelência: A concessão da prioridade de tramitação do presente processo, tendo em vista a idade avançada da Autora, conforme preconiza a legislação vigente. a) A concessão dos benefícios da justiça gratuita, nos termos do artigo 98 do Código de Processo Civil; b) A concessão da prioridade de tramitação do presente processo, tendo em vista a idade avançada da Autora, conforme preconiza a legislação vigente. c) A designação de audiência de conciliação, nos termos do artigo 334 do código de Processo Civil;d) A concessão de medida liminar, nos termos do artigo 560 do Código de Processo Civil, para reintegrar a REQUERENTE na posse do imóvel de sua propriedade, localizado na Rua XV de Novembro, nº 202, Bairro das Laranjeiras, Águas de Lindóia/SP; e) A citação dos réus para, querendo, contestarem a presente ação, sob pena de revelia; f) A procedência da presente ação, com a confirmação da reintegração de posse do imóvel à REQUERENTE, condenando os RÉUS ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios; g) A condenação dos réus ao pagamento de indenização por danos materiais e morais, caso os fatos sejam comprovados, considerando o tempo indevido em que permaneceram no imóvel após a rescisão contratual; h) A produção de todas as provas admitidas em direito, especialmente documental, testemunhal e pericial, se necessário for. Dá-se à causa o valor de R$ XXXX, conforme preceitua o artigo 292, inciso I, do Código de Processo Civil. Nestes termos, pede deferimento. LOCAL, DATA ADVOGADO OAB nº XXXX