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Tema 1 - Fundamentos Dos Contratos Itens iniciais Propósito Essa é uma das principais matérias das quais resultam demandas discutidas em ações judiciais, sendo, portanto, um assunto de grande viés prático e operabilidade para o exercício das profissões jurídicas que o aluno irá exercer no futuro. Preparação Tenha o Código Civil atualizado em mãos, pois você precisará consultá-lo para compreender a disciplina jurídica. Objetivos ● Reconhecer os conceitos básicos da matéria contratual. ● Analisar os principais elementos e requisitos de validade do contrato. ● Identificar os princípios contratuais e as consequências da teoria da imprevisão. Introdução O contrato é um instrumento importante para o desenvolvimento social e econômico, pois a partir dele ocorre a circulação e a produção de bens e serviços (riquezas), base do sistema capitalista. As consequências sociais e jurídicas dos contratos servem de campo fértil para o desenvolvimento profissional do aluno que está sendo formado. Apresentaremos um panorama geral do contrato, abordando como constituí-lo de forma válida e mostrando quando ele está de acordo com a legislação. Por fim, veremos o regime jurídico dos princípios contratuais, de modo a resumir e sistematizar as principais regras sobre a matéria. 1. Evolução histórica, fontes, ato, fato e negócio jurídico e conceito Conceito de contrato No vídeo a seguir, o especialista Gilberto Fachetti Silvestre, Doutor em Direito Civil, apresenta uma definição contemporânea de contrato. Vamos assistir! Fontes dos contratos O contrato, para o Direito, é um negócio jurídico bilateral, um ato não lesivo, ato jurídico em sentido estrito, que, por sua vez, é um fato jurídico. Fato jurídico é o evento (dependente ou não da vontade humana) que recebeu qualificação de norma jurídica, caracterizando-se pela possibilidade de produzir efeitos jurídicos. Esses efeitos jurídicos têm a ver com o surgimento, modificação ou extinção de relações jurídicas. Veja o esquema de classificação dos fatos jurídicos: Fato jurídico stricto sensu (ou fato jurídico em sentido estrito) São os eventos que decorrem de fenômenos naturais e que produzem efeitos jurídicos. Tais fatos não podem ser controlados pela vontade humana e ocorrem por força da natureza. São considerados: ● Lesivos: se tais fatos naturais ocasionam prejuízos (ex.: incêndio, tempestade, furacão, que destroem propriedades e ensejam o pagamento de seguro). ● Não lesivos: se tais fatos não causam prejuízo (ex.: o nascimento de um filho, que cria o vínculo de filiação; a morte, que abre a sucessão legítima e testamentária). Ato jurídico lato sensu (ou em sentido amplo) São aqueles acontecimentos sobre os quais o ser humano tem controle e consciência sobre sua realização. Por isso, são chamados de atos de vontade, pois resultam da vontade da pessoa envolvida. Desse modo, toda vez que se desejar dizer que algum acontecimento foi produzido pela ação humana, deve-se chamar tal fenômeno de “ato”. Ou seja, “ato” designa aquilo que é realizado pela vontade humana. São chamados de: ● Lesivos: se desse ato decorrem danos. Suas subcategorias são: ● Ato ilícito (ex.: arts. 186 e 187 do Código Civil); ● Ato lícito ou benéfico (ex.: art. 188 do Código Civil). ● Não lesivos: se não há danos, pois o objetivo é produzir efeitos jurídicos normais.Suas subcategorias são: ● Ato jurídico stricto sensu (ex.: art. 185 do Código Civil); ● Negócio jurídico (ex.: arts. 104 a 184 do Código Civil). Ato-fato É quando alguém pratica um determinado ato sem intenção de obter os resultados que acabam surgindo daquele ato. O indivíduo assume determinada conduta dirigida a algum objetivo. Porém, na realização do ato, acaba por praticar outro acontecimento que não havia planejado inicialmente. Por isso, é um ato sem vontade, pois o resultado obtido não era o planejado. Quanto ao negócio jurídico, trata-se de um tipo de ato jurídico lato sensu que corresponde a uma manifestação de vontade de uma ou mais pessoas. Assim, o negócio jurídico é um ato voluntário, o que significa dizer que ele é produzido por acordo de vontade de uma ou mais pessoas. A constituição de um negócio jurídico pode ocorrer a partir da manifestação de uma pessoa ou de mais interessados. Por isso, os negócios jurídicos podem ser assim classificados: Unilaterais São aqueles negócios que passam a existir pela manifestação de vontade de uma pessoa. Ou seja, basta um sujeito manifestar sua vontade para que exista negócio jurídico com outra pessoa. Bilaterais Nesses atos deve ocorrer um acordo de vontades entre as pessoas envolvidas. Não basta que um sujeito queira constituir o negócio; é preciso que a outra pessoa aceite celebrá-lo. Plurilaterais Nesse tipo de negócio serão necessárias as manifestações de vontade de mais de duas partes para a celebração e existência do ato. O negócio jurídico é um acordo de vontades (negócios bilaterais) ou uma vontade dirigida a produzir efeitos (negócios unilaterais). Assim como nos atos jurídicos stricto sensu, o negócio jurídico depende da vontade de querer ou não constituir o vínculo. A diferença está em como os efeitos são produzidos. Vejamos: Ato jurídico stricto sensu As partes envolvidas se submetem a efeitos já previstos e determinados na lei (eficácia ex legge). Negócio jurídico As partes têm ampla liberdade para determinar quais serão os efeitos, como eles podem ser produzidos e quais condutas devem ser assumidas pelas partes. Enfim, a eficácia é concebida e criada pelas partes e justamente por isso os negócios têm eficácia ex voluntate: os efeitos jurídicos produzidos por esse acordo de vontades ou pela simples manifestação de vontade são elaborados pelas pessoas envolvidas no ato (partes ou negociantes), tendo a lei papel limitante dessa autonomia e, às vezes, supletivo. Todo negócio é produzido pela liberdade das pessoas (autonomia negocial) de criar obrigações para seu âmbito civil. Assim, o negócio jurídico, portanto, é concebido como aquela situação em que pessoas se vinculam e criam obrigações para atender a interesses geralmente patrimoniais, promovendo a circulação de riquezas (bens e serviços). O contrato é um negócio jurídico e, portanto, um ato voluntário caracterizado como um acordo de vontades entre dois ou mais polos de interesse – as partes –, no qual ocorre uma transação econômica. O negócio jurídico, tal qual concebido pela Pandectística, comporta algumas espécies. Uma delas – talvez a mais importante ou pelo menos a socialmente predominante – é o contrato. O contrato é um acordo de vontade que promove a circulação de riquezas entre pessoas. Atenção Não é obrigatório que se trate de uma circulação recíproca entre os sujeitos contratantes (sinalagmaticidade), pois há contrato em que apenas uma parte pode ter que prestar o crédito (gratuidade-unilateralidade). Então, o que distingue o contrato de outras modalidades de negócio se em todas elas a circulação de riquezas aparece como a característica comum? O fato de que a circulação somente ocorrerá se houver consenso recíproco entre os contratantes, isto é, se uma proposta (manifestação de vontade) foi aceita pela outra parte. Quer dizer, o contrato é o “encontro” de duas manifestações de vontade dos polos de um negócio. Diferentemente de outras figuras negociais, como o testamento, o legado, o codicilo, a promessa de recompensa. Nelas, basta que uma das partes manifeste sua vontade para que o negócio se constitua, independentemente da vontade do outro sujeito, que irá adquirir seus direitos. Caso nada desejar, o adquirente dos direitos deverá renunciá-los. Resumindo As figuras negociais citadas, como o testamento, o legado, o codicilo, a promessa de recompensa, são chamadas de negócios unilaterais, pois basta a vontade de um sujeito para serem formadas; e os contratossão os típicos negócios bilaterais, já que dependem de duas vontades consonantes (proposta + aceitação). Conceito de contrato e sua evolução Individualmente, o contrato é um modo de satisfação de um interesse privado; coletivamente, é o instrumento de desenvolvimento socioeconômico da sociedade. Nesta última perspectiva, o contrato é a base do desenvolvimento econômico porque promove a circulação de riquezas (bens e serviços). Na perspectiva social, o contrato é a forma mais comum de relação entre as pessoas; é a base da relação de trabalho e, como forma de aquisição da propriedade, permite às pessoas o mínimo patrimonial e a satisfação de seus interesses legítimos. Estes são os elementos fundamentais que caracterizam o contrato e, consequentemente, ajudam em sua definição. Acordo de vontades Todo contrato representa um consenso entre pessoas (partes) a respeito determinado bem da vida de valor patrimonial. O contrato não é o papel assinado pelas partes. Autonomia das pessoas O contrato tem como causa eficiente a autonomia privada dos sujeitos, que é o poder que o direito dá às pessoas para constituir relações jurídicas. Fonte do direito Como toda relação jurídica é um complexo de direitos e deveres (situações jurídicas), tem-se que o contrato é fonte do direito, ou seja, é ato jurígeno. Lei entre as partes Como cria direitos e deveres, ou seja, vínculo jurídico, o contrato assume caráter obrigatório, constituindo verdadeira lei para as pessoas que dele participam. Essa obrigatoriedade dá ao contrato juridicidade, isto é, exigibilidade jurídica. Relação obrigacional (obrigação) Em todo contrato, dado seu caráter patrimonial, haverá pelo menos uma prestação (obrigacional), isto é, o contrato é um acordo no qual as partes assumem o compromisso de dar, fazer ou não fazer algo. Instrumento de desenvolvimento econômico O contrato é umas formas jurídicas de relação entre as pessoas, estando na base da sociedade (contrato social) e da legítima aquisição de propriedade. Promove a circulação de bens e riquezas. Esses elementos tornam o contrato o instrumento fundamental do capitalismo. Desenvolvimento social Um país economicamente desenvolvido apresenta as melhores condições para promover o desenvolvimento social (embora, claro, essa correspondência teórica nem sempre se verifique na realidade). Espaço de liberdade O contrato serve à satisfação dos interesses particulares, sendo livre a fixação do seu conteúdo para atender a tais interesses. Contudo, tal liberdade se exerce com responsabilidade e de acordo com as proibições de ordem pública fixadas em lei. No que diz respeito a todo contrato ser uma relação obrigacional (obrigação), suas prestações, ou seja, o compromisso de dar, fazer ou não fazer algo, podem ser recíprocas ou não, classificando-se o contrato em: Unilateral Aquele em que somente uma das partes tem que dar, fazer ou não fazer algo em favor de outra parte, que apenas se beneficia, não tendo que nada prestar ao outro. Geralmente, o contrato unilateral também é gratuito, ou seja, apenas a parte que recebe a prestação em seu favor tem benefícios patrimoniais. Por isso, os contratos unilaterais e gratuitos são chamados de negócio benéfico. Exemplo: doação pura, comodato, mútuo. Bilateral Aquele em que ambas as partes assumem prestações uma para com a outra. Geralmente, a bilateralidade também representa uma onerosidade (contratos onerosos), pois há transmissão de valores patrimoniais entre as partes. A bilateralidade contratual é caracterizada pela existência de um sinalágma, ou seja, uma contraprestação para uma prestação (sinalagmaticidade). Por esse motivo, os contratos bilaterais também são chamados de contratos sinalagmáticos. Aplicam-se ao contrato as regras da parte geral das Obrigações (arts. 233 a 420) para os casos de lacuna no regime jurídico próprio dos contratos (arts. 421 a 853). Quanto ao regime jurídico dos contratos no Código Civil, as normas que se aplicam aos contratos são as seguintes: Quanto ao regime jurídico dos contratos no Código Civil, as normas que se aplicam aos contratos são as seguintes: Normas gerais (regras e princípios) para todos os contratos Artigos 421 a 480 Normas específicas de cada tipo contratual Artigos 481 a 853 Normas gerais das obrigações para caso de lacunas no regime jurídico próprio dos contratos Artigos 233 a 420 Normas (regras e princípios) do negócio jurídico Artigos 104 a 184 Atualmente, o contrato deixou de ser visto apenas como um instrumento de satisfação de interesses econômicos das partes para ser visto em uma perspectiva maior: um instrumento de desenvolvimento econômico e social. Além do interesse particular, privado, reconhece-se sobre o contrato um interesse social, público, para que o negócio traga benefícios não só para as partes mas, também, para a sociedade. No âmbito dos contratos, o Estado também passou a regulamentar a atividade negocial por meio da promulgação de leis que limitam a liberdade contratual, a submissão do contrato ao interesse público e a criação de agências fiscalizadoras e reguladoras. Fala-se, assim, em dirigismo contratual. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Negócios jurídicos unilaterais Negócios jurídicos plurilaterais 2 Elementos e validade dos contratos Planos de análise do contrato O especialista Gilberto Fachetti Silvestre, Doutor em Direito Civil, faz uma explicação geral dos planos do contrato, apontando a sua importância para a formação do negócio. A análise dos requisitos essenciais de todo contrato ocorre em três planos progressivos: Existência Validade Eficácia Verificada a existência do contrato no universo jurídico, passa-se à análise da validade desse ato, isto é, se ele se encontra de acordo com o ordenamento jurídico, não violando normas jurídicas. Sendo o contrato existente e de acordo com a lei, pode, então, produzir seus efeitos, ou seja, implementar sua eficácia, que compreende, basicamente, a aquisição, modificação, transferência e extinção de direitos subjetivos. A verificação do atendimento a cada plano é objetiva, dependendo da presença dos seguintes elementos pré-determinados: Existência Elementos de existência 1. Agentes; 2. Manifestação de vontade; 3. Forma; 4. Objeto. Validade Requisitos de validade 1. Capacidade; 2. Liberdade; 3. Adequação; 4. Idoneidade. Eficácia Fatores de eficácia 1. Eficácia imediata; 2. Eficácia de trato sucessivo; 3. Presença de elementos acidentais. Todo contrato deverá ou poderá ser constituído de três categorias de elementos: Elementos essenciais ou essentialia negotii São os elementos que todos os contratos devem ter, sob pena de não existirem. São, portanto, os elementos de existência, verificados na análise do plano da existência. Elementos naturais ou naturalia negotii Categoria que cuida de elementos próprios de cada tipo contratual, que o caracteriza e o diferencia de outros contratos. Por exemplo, o preço na compra e venda e o aluguel na locação. A ausência desses elementos não torna o contrato inexistente, mas faz com que ele seja desvirtuado. Elementos acidentais ou acidentalia negotii São elementos apostos no contrato por vontade própria das partes e que irão interferir na eficácia, seja liberando ou bloqueando a produção dos efeitos jurídicos. Trata-se da condição, termo e encargo ou modo (arts. 121 a 137 do Código Civil). Uma das principais características desses elementos é que eles não são obrigatórios, mas, quando acordados entre as partes, tornam-se vinculantes e obrigatórios. Plano da existência Neste plano, é verificada a presença de elementos constituidores do contrato, sem os quais ele não existirá na esfera jurídica, isto é, será mero fato social sem qualquer relevância para o Direito e, portanto, sem exigibilidadejurídica. A ausência de qualquer desses elementos torna o ato inexistente ou um não-ato, o qual independe de declaração judicial para deixar de ser cumprido. O plano da existência tem a ver com o ser do contrato, ou seja, se o pacto é um contrato. Veremos a seguir os elementos de existência. Agentes Refere-se aos sujeitos que podem ser partes de uma relação jurídica. Para tanto, faz-se necessário que o agente seja um ente que tenha recebido a personalidade civil. Quer dizer: os agentes de um contrato sempre serão pessoas (naturais ou jurídicas), pois somente essas pessoas podem assumir direitos e deveres na ordem social, situação inerente a todo contrato. Atenção Excepcionalmente, em situações específicas determinadas por lei, o agente poderá ser um ente despersonalizado, como o espólio, que continua as obrigações do de cujus (tanto ativa, quanto passivamente), a massa falida, que segue as relações creditícias e debitórias da empresa. Manifestação de vontade Sendo o contrato um ato voluntário, para que exista e seja produzido, é necessário que o agente tenha vontade para celebrá-lo. Contudo, não basta ter vontade, sendo necessário manifestá-la para que seja conhecida pelo receptor e possa, assim, vincular seu emissor. Para que um contrato exista, é imprescindível que a vontade seja conhecida e, para tanto, deverá ser manifestada. Forma É a maneira como se dá a manifestação de vontade para que seja conhecida pelo seu receptor. A forma tem a ver, assim, com o processo de comunicação entre os contratantes, envolvendo uma mensagem emitida pelo emissor (proponente) e compreendida pelo receptor (aceitante). A forma é o veículo pelo qual se dá o processo de emissão da mensagem, compreendendo as formas socialmente convencionadas de comunicação, quais sejam: VERBAL É quando se assume uma comunicação falada, oral, ou por linguagem de sinais (libras), não necessariamente na presença física, porque poderá ser por telefone ou outro meio de semelhante. ESCRITA Dá-se pela produção de um documento chamado escritura ou instrumento. Tal documento poderá ser produzido pelas próprias partes e por elas assinadas, com ou sem reconhecimento de firma em cartório: trata-se do instrumento particular. Objeto Tema 1 - Fundamentos Dos Contratos Itens iniciais 1.Evolução histórica, fontes, ato, fato e negócio jurídico e conceito Conceito de contrato Fontes dos contratos Fato jurídico stricto sensu (ou fato jurídico em sentido estrito) Ato jurídico lato sensu (ou em sentido amplo) Ato-fato Atenção Resumindo Conceito de contrato e sua evolução Unilateral Bilateral Vem que eu te explico! 2 Elementos e validade dos contratos Planos de análise do contrato Elementos essenciais ou essentialia negotii Elementos naturais ou naturalia negotii Elementos acidentais ou acidentalia negotii Plano da existência Atenção