Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
INSTITUTO UFC VIRTUAL CURSO DE LETRAS PROFª THAIS LOIOLA AULA 01: QUESTÕES PRELIMINARES LITERATURA COLONIAL Fragilidade da instituição literária: “O conceito de literatura colonial é diferente do indicado pela mesma expressão no Brasil. Em África, significa a literatura escrita e publicada, na maioria esmagadora, por portugueses de torna-viagem, numa perspectiva de exotismo, evasionismo, preconceito racial e reiteração colonial e colonialista, em que a visão de mundo, o foco narrativo e as personagens principais eram de brancos, colonos ou viajantes, e, quando integravam os negros, eram estes avaliados superficialmente, de modo exógeno, folclórico, sem profundidade cultural, psicológica, sentimental e intelectual.” (LARANJEIRA, p. 26) LITERATURA COLONIAL “Os assimilados introjetam a imagem do dominador e passam mesmo a auxiliar a dominação posta em prática pelo colonizador, havendo inúmeros exemplos do ora afirmado nas literaturas de que nos ocupamos no momento. Os assimilados tinham acesso à escolarização e à leitura mínimas, mas, para facilitar a introjeção da imagem antes referida e reforçar sua condição de assimilados, eram sujeitados a uma educação europeia e à leitura de textos europeus, naturalmente, de autores portugueses.” (PONTES, p. 10) LITERATURA AFRICANA INSUBMISSA DURANTE O COLONIALISMO Recusa ao exótico como definidor da identidade africana; Opção pelo drama humano (social, político, econômico, cultural) como matéria da Literatura; Condenação da arte poética dos assimilados, em razão do envenenamento ideológico que portava; Adesão à negritude com todo o seu peso de pertencimento. LITERATURA PÓS-COLONIAL Manifestações literárias publicadas nas ex-colônias portuguesas após as independências, ocorridas entre 1973 e 1975; A produção literária manteve uma vertente baseada na oratura e no caráter insubmisso; Vertente de literatura produzida por ex-militantes desencantados com os rumos políticos das revoluções; Vertente de literatura que procurava imitar os padrões das literaturas europeias; Vertente de literatura descomprometida socialmente. Línguas nativas e o crioulo. RENASCIMENTO NEGRO, INDIGENISMO E NEGRITUDE Movimentos iniciados na América; Influência do Romantismo: a luta pela abolição da escravatura e a valorização da alma popular; Renascimento negro: ressurgimento da cultura negra, matriz da cultura mundial; Indigenismo: valorização do elemento indígena, isto é, os originários do Novo Mundo e os nativos da África; Negritude: termo criado pelo poeta negro Aimé Césaire, natural da Martinica, designa os movimentos de valorização da cultura negra ocorridos no século XX. RENASCIMENTO NEGRO, INDIGENISMO E NEGRITUDE O objetivo dos movimentos da Negritude era “lutar contra a assimilação de modelos externos e a alienação [...] cultural e política dos africanos, para fazer surgir uma consciência crítica capaz de render frutos políticos e culturais conforme um projeto de libertação nacional. Esta ligação é que vai permitir social e ideologicamente a busca da identidade, a defesa do patrimônio cultural negro, a da riqueza nacional em cada país que realiza a independência, a elaboração de um estilo próprio e bem diverso do seguido pelas literaturas do Ocidente.” (PONTES, p. 31-32) AULA 02: ANGOLA PERÍODOS LITERÁRIOS EM ANGOLA Taxionomia de Manuel Ferreira: *Literatura colonial: sentimento nacional no século XIX; *Literaturas africanas de expressão portuguesa: consciência nacional no século XX. PERÍODOS LITERÁRIOS EM ANGOLA Taxionomia de Pires Laranjeira: *Incipiência: das origens até 1848; *Primórdios: de 1849 até 1902; *Prelúdio: de 1903 até 1947; *Formação: de 1948 até 1960; *Nacionalismo: de 1961 até 1971; *Independência: de 1972 até 1980; *Renovação: de 1981 até 1993. PERÍODOS LITERÁRIOS EM ANGOLA Taxionomia de Roberto Pontes: *Literatura colonial: do século XVI até 1975, datas entre as quais ocorreram as Independências nacionais; *Literatura insubmissa dentro do período colonial; *Literatura pós-colonial: de 1975 até 2000, marco final do século XX; *Literatura contemporânea: época atual. POESIA E NARRATIVA DE ANGOLA Espontaneidades da Minha Alma – José da Silva Maia Ferreira (1850); Nga Mutúri – Alfredo Troni (1882); Quissange – Saudade Negra – Tomaz Vieira da Cruz (1932); Terra Morta – Castro Soromenho (1949); Luuanda – Luandino Vieira (1963); Sagrada Esperança – Agostinho Neto (1974); A Conjura – José Eduardo Agualusa (1989); Momentos de Aqui – Ondjaki (2001); POESIA E NARRATIVA DE ANGOLA À MINHA TERRA (No momento de avistá-la depois de uma viagem) De leite o mar – lá desponta Entre as vagas sussurrando A terra em que cismando Vejo ao longe branquejar! É baça e proeminente, Tem d’África o sol ardente, Que sobre a areia fervente Vem-me a mente acalentar. Debaixo do fogo intenso, Onde só brilha formosa, Sinto n’alma fervorosa O desejo de a abraçar: É a minha terra querida, Toda d’alma, - toda – vida, - Qu’entre gozos foi fruída Sem temores, nem pesar. (Maia Ferreira) POESIA E NARRATIVA DE ANGOLA FRAGMENTO DA NOVELA NGA MUTÚRI: “Nga Ndreza (nome que tem na sociedade de Luanda, uma sociedade onde só avultam os panos, sim, mas que guarda um certo número de convivências) afirma que é livre, que foi criada em Novo Redondo, e pertenceu à família F...; e, quando muito, calasse quando lhe perguntam se é buxila [escrava].” (Alfredo Troni) POESIA E NARRATIVA DE ANGOLA SAUDADE NEGRA Não sei, por estas noites tropicais, O que me encanta... Se é o luar que canta Ou a floresta aos ais. Não sei, não sei, aqui neste sertão De música dolorosa Qual é a voz que chora E chega ao coração... Qual o som que aflora Dos lábios da noite misteriosa! Sei apenas, e isso é que importa, Que a tua voz, dolente e quase morta, Já mal a escuto, por andar ausente, Já mal escuto a tua voz dolente... [...] (Tomaz Vieira da Cruz) POESIA E NARRATIVA DE ANGOLA FRAGMENTO DO CONTO “CALENGA”: “Calenga não pode dormir durante uma noite, sentindo fortes palpitações no coração e um zumbido de vozes misteriosas que lhe segredavam as mesmas palavras bonitas que ouvira, de olhos arregalados e garganta apertada, ao velho. Só mais tarde depois de conhecer os deuses e as suas histórias fantásticas, é que compreendeu que os segredos da raça e os mistérios da terra não eram tão tenebrosos como julgava. [...] E Calenga quis ser guerreiro, como o foram seus avós que viveram na estepe, para matar todos os homens das tribos vizinhas e beber vinho de palma pelo crânio das sobas mortos por suas mãos.” (Castro Soromenho) POESIA E NARRATIVA DE ANGOLA TRÊS HISTÓRIAS EM LUUANDA: “Vavó Xixi e seu neto Zeca Santos”; “Estória do ladrão e do papagaio”; “Estória da galinha e do ovo”. “Minha estória. Se é bonita, se é feia, vocês é que sabem. Eu só juro que não falei mentira e estes casos passaram nesta nossa terra de Luanda.” (Luandino Vieira) POESIA E NARRATIVA DE ANGOLA NOITE Eu vivo Nos bairros escuros do mundo Sem luz nem vida. Vou pelas ruas Às apalpadelas Encostado aos meus informes sonhos Tropeçando na escravidão Ao meu desejo de ser. São bairros de escravos Mundos de miséria Bairros escuros. Onde as vontades se diluíramE os homens se confundiram Com as coisas. Ando aos trambulhões Pelas ruas sem luz Desconhecidas Pejadas de mística e terror De braço dado com fantasmas. Também a noite é escura. (Agostinho Neto) POESIA E NARRATIVA DE ANGOLA FRAGMENTO DO LIVRO A CONJURA: “Difícil dizer quando tudo começou. Mas tudo começou, é claro, muito antes desse dia 16 de junho de 1911. [...] Os acontecimentos se amarrariam uns aos outros – uns puxando os outros – através do confuso turbilhão das noites e dos dias. [...] É preciso, contudo, marcar data menos remota. Para o humilde autor deste relato, os casos tiveram o seu berço foi mesmo nesse esquecido ano de 1880, quando da chegada a Luana de um moço benguelense, de sua graça Jerónimo Caninguili. Vamos pois começar deste princípio [...]” (José Eduardo Agualusa)
Compartilhar