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1 AQUISIÇÃO DE L1 E L2 PELO SURDO Profª. ME. Viviane Damascena 2 AQUISIÇÃO DE L1 E L2 PELO SURDO PROFª. ME. VIVIANE DAMACENA 3 Diretor Geral: Prof. Esp. Valdir Henrique Valério Diretor Executivo: Prof. Dr. William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Profa Esp. Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Profa. Esp. Imperatriz da Penha Matos Revisão Gramatical e Ortográfica: Profª. Esp. Izabel Cristina Revisão técnica: Profª. Dra. Clévia Fernanda Sies Barboza Revisão/Diagramação/Estruturação: Clarice Virgilio Gomes Prof. Esp. Guilherme Prado Lorena Oliveira Silva Portugal Design: Bárbara Carla Amorim O. Silva Daniel Guadalupe Reis Élen Cristina Teixeira Oliveira Maria Eliza P. Campos Victor Lucas dos Reis Lopes © 2022, Faculdade Única. Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autoriza- ção escrita do Editor. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. 4 AQUISIÇÃO DE L1 E L2 PELO SURDO 1° edição Ipatinga, MG Faculdade Única 2022 5 Doutoranda do Programa de Estudos Linguísticos da UFU (Universi- dade Federal de Uberlândia). Mestre pelo Programa ProfLetras, na UFTM, orientada pela Profa. Dra. Carla Regi- na Rachid Otavio Murad . Pós-Gradu- ada em Educação Especial pela Uni- versidade de Uberaba (2018). Possui graduação em Letras - Português e Inglês pela Universidade de Ubera- ba (2008). Proficiência em Tradução e Interpretação pelo PROLIBRAS, ofe- recido pela Universidade Federal de Santa Catarina (2015). Por ser CODA (Child of Deaf Adults), sua convi- vência com pessoas surdas desde a tenra idade possibilitou a fluência na Libras, além da vivência na co- munidade surda. Atualmente é pro- fessora de língua portuguesa como L2 e Intérprete Formadora no Centro de Capacitação de Profissionais de Educação e de Atendimento a Pes- soas com Surdez (CAS) localizado na Escola Estadual Quintiliano Jardim. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Português como L2 e Tradução e Interpretação em Libras/ Língua Portuguesa. VIVIANE DAMACENA Para saber mais sobre a autora desta obra e suas qua- lificações, acesse seu Curriculo Lattes pelo link : http://lattes.cnpq.br/8904399967132125 Ou aponte uma câmera para o QRCODE ao lado. 6 LEGENDA DE Ícones Trata-se dos conceitos, definições e informações importantes nas quais você precisa ficar atento. Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São opções de links de vídeos, artigos, sites ou livros da biblioteca virtual, relacionados ao conteúdo apresentado no livro. Espaço para reflexão sobre questões citadas em cada unidade, associando-os a suas ações. Atividades de multipla escolha para ajudar na fixação dos conteúdos abordados no livro. Apresentação dos significados de um determinado termo ou palavras mostradas no decorrer do livro. FIQUE ATENTO BUSQUE POR MAIS VAMOS PENSAR? FIXANDO O CONTEÚDO GLOSSÁRIO 7 UNIDADE 1 UNIDADE 2 UNIDADE 3 UNIDADE 4 SUMÁRIO 1.1 Introdução ..............................................................................................................................................................................................................................................................................................10 1.2 Empirismo e o Racionalismo ....................................................................................................................................................................................................................................................13 1.3 Cognitivismo/Construtivismo .................................................................................................................................................................................................................................................14 1.4 Interacionismo ...................................................................................................................................................................................................................................................................................16 FIXANDO O CONTEÚDO .........................................................................................................................................................................................................................................................................19 2.1 Introdução ............................................................................................................................................................................................................................................................................................23 2.2 Contextos de Aquisição da Linguagem da Criança Surda .............................................................................................................................................................................24 2.3 Aquisição de L1 Pela Criança Surda ..................................................................................................................................................................................................................................26 2.4 Aquisição de L2 Pela Criança Surda ................................................................................................................................................................................................................................28 FIXANDO O CONTEÚDO .........................................................................................................................................................................................................................................................................31 3.1 Análise de Contextos Educacionais Vaiados ..............................................................................................................................................................................................................37 3.2 Currículo de Libras Como L1 ...................................................................................................................................................................................................................................................40 3.3 Materiais Didáticas Para o Ensino de Libras Como L1 ..........................................................................................................................................................................................43 FIXANDO O CONTEÚDO .......................................................................................................................................................................................................................................................................47 TEORIAS E ABORDAGENS DA AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM OBJETIVOS E METODOLOGIAS DE ENSINO DE LIBRAS COMO L1 4.1 Principais Diferenças Linguísticas Entre as Duas Línguas ...................................................................................................................................................................................51ciados por tais problemas, sai agravados pelo fato de que existe uma forte tradição, historicamente marcada na origem dos processos educativos das antigas esco- las especiais, voltada para a correção desses sujeitos e que focaliza todos os esforços na tentativa de orali- zá-los, usurpando o tempo e os recursos que deveriam ser utilizados na sua formação intelectual. Romper com essa tradição e desconstruir os preconceitos que ali- cerçam essas práticas tem se mostrado um proces- so longo e desgastante, o qual exige um permanente investimento na formação de professores e o envolvi- mento da comunidade escolar, para que posa ser re- vista a forma preconceituosa com que os surdos são perspectivados e para que sejam construídas práticas que contemplem a diferença surda na forma de apren- dizagem singular e cultural desses educandos (AN- DREIS-WITKOSKI; DOUETTES, 2014, p.42). Processo de ressignificação de concepções e práticas, no qual os educadores passem a compreender a dife- rença humana em sua complexidade, não mais com um caráter fixo e um lugar predominantemente no ou- tro, mas entendendo que as diferenças estão sendo constantemente feitas e refeitas e estão em todos e em cada um. Ao mesmo tempo, contribui para transformar a realidade histórica de segregação escolar e social das pessoas com deficiência, tomando efetivo o direito de todos à educação (SILVA; SENA, 2015, p.126) Entende-se por educação bilíngue de surdos, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida em Língua Brasileira de Sinais (Libras), como primeira língua, e em português escrito, como segunda língua, em escolas bilíngues de surdos, classes bilín- gues de surdos, escolas comuns ou em polos de edu- cação bilíngue de surdos, para educando surdos, sur- do-cegos, com deficiência auditiva sinalizantes, surdos No Brasil, a Libras foi reconhecida como língua da Comunidade Surda em 2002, pela Lei nº 10.436, enquanto que o Decreto 5.626 de 2005, decreta que a língua de instrução dos alunos surdos é a Libras, sendo a língua portuguesa utilizada na modalidade escrita. Atualmente, está filosofia educacional é a que mais se mostra promissora e apresenta resultados satisfatórios em relação ao ensino-aprendizagem da pessoa surda. Silva e Sena (2015, p. 125) afirmam que “somente no ano de 1996 foi organizada a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de modo que a nação pudesse ter uma lei que fosse condizente com a Constituição Brasileira. ” E continua: A escola bilíngue ganhou força com a Lei nº 14.191, de 3 de agosto de 2021, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996. Essa nova lei dispõe sobre a modalidade de educação bilíngue de surdos, em seu Art. 60-A, afirma que 37 com altas habilidades ou superdotação ou com outras deficiências associadas, optantes pela modalidade de educação bilíngue de surdos (BRASIL, 2021). Sendo assim, a educação bilíngue para a criança surda é prevista por lei, e com ela o surdo adquire o direito à educação tendo a sua língua materna como língua de instrução. Tendo isto em mente, é necessário considerar as possibilidades de aprendizagem da Libras como língua materna. Para que isso aconteça, os profissionais que trabalharão com essas crianças precisam ser capacitados, isto significa serem fluentes na língua e terem conhecimento da cultura dos surdos, além de terem conhecimento em metodologias e estratégias de aprendizagem para a produção de material visual que proporciona um maior aprendizado dos surdos. Ao proporcionar o aprendizado da Libras como primeira língua, a escola oferece um professor surdo para a criança. O professor surdo não apenas ensina a língua de sinais, como também demonstra a sua cultura e identidade. A criança surda se espelha no adulto surdo, pois o vê como semelhante, diferentemente, muitas vezes, dos seus familiares e amigos que são ouvintes. É através do conhecimento de mundo que a criança baseia seu aprendizado. Conhecimento este que está vinculado com sua cultura e sua identidade. Daí a importância do contato com seus pares adultos e surdos. Ainda em relação ao processo de ensino-aprendizagem da criança surda, é necessário considerar o contexto educacional em que esse aluno está inserido. Pois há o sistema educacional voltado para a inclusão, o bilinguismo ou mesmo a inserção do aluno em uma escola regular, sem nenhum apoio pedagógico. Há algumas crianças que, como já foi dito, nascem em famílias ouvintes que não tem contato com a Libras. Muitas vezes essas famílias não tem o conhecimento das questões culturais e sociais da surdez e, sendo assim, matriculam as crianças em escolas de ensino regular, sem considerarem o aporte pedagógico especializado que essa criança precisa. Essas crianças, às vezes, nem ao menos passaram pela aquisição da sua língua materna e, assim, não conseguem acompanhar as disciplinas e o conhecimento esperado pela faixa etária e, assim, acabam sendo taxados erroneamente, como incapazes apenas por serem surdos. Quando a criança surda está em uma escola sem nenhum tipo de apoio pedagógico, a sua aprendizagem torna-se praticamente nula, pois ela não utilizará sua língua, sendo assim, não terá uma comunicação efetiva nem com seus professores e nem com seus colegas de turma. Com seu aprendizado não ocorrendo e a despreparação dos profissionais para com essa criança, ela será deixada de lado, e simplesmente passará para a próxima série sem ter adquirido o conhecimento esperado. Outra situação em que a criança surda tem acesso à educação é pela escola regular, porém de uma forma inclusiva, isto é, ela adquire a Libras como sua língua materna e, ao estudar em uma escola inclusiva, conta com todo o apoio pedagógico e linguístico que necessita, isto é, a escola disponibiliza o intérprete de Libras e um Atendimento Educacional Especializado, para que a criança possa continuar utilizando sua língua como aprendizado. Entende-se como escola inclusiva aquela que providencia ensino e aprendizado a todos os seus alunos, proporcionando que todos aprendam 3.1 ANÁLISE DE CONTEXTOS EDUCACIONAIS VAIADOS 38 juntos, de forma igualitária e equitativa. Uma escola inclusiva é: Silva e Sena (2015) explicam que “a educação especial no Brasil foi se ampliando lentamente e foram criados mais institutos particulares. Os serviços públicos eram prestados através de escolas regulares, que ofereciam classes especiais para atendimento dos deficientes. ” (p.125). Vale apontar que, nesta época, a “sala para deficientes” não era separada de acordo com a necessidade do aluno, e sim, uma apenas para todos os alunos matriculados. Isto é, em uma mesma sala, haviam surdos, cegos, deficientes intelectuais, deficientes motores, etc., e nem sempre o profissional responsável por essa turma era capacitado para suprir todas as necessidades educacionais dos alunos. Silva e Sena (2015, p. 125) ressaltam ainda que Quando lidamos com a inclusão do aluno surdo, é necessário entender que essa inclusão não depende da criança, e sim de toda a sociedade e comunidade educacional. Isto significa que toda criança tem o direito à educação e cabe às instituições de ensino a providenciarem. Para que a inclusão possa acontecer realmente, é necessário que haja profissionais capacitados para esse atendimento e, entre eles, intérprete de Libras, professor surdo para ensino da língua de sinais e da cultura surda, Atendimento Educacional Especializado em salas de recurso e professor de língua portuguesa como segunda língua, na modalidade escrita. Os obstáculos são incontáveis, porém não são impossíveis de serem superados. Sendo assim, o professor precisa programar e reprogramar suas aulas pensando nas necessidades educacionais de todos os seus alunos, inclusive nos alunos surdos e, por isso, é necessário que esse professor faça planejamentos de aulas para todos. um espaço escolar precisa permitir o desenvolvimen- to e instrução de saberes a todos que estão inseridos,independente de deficiência ou incapacidade de ouvir, os surdos são seres humanos e devem ter o direito de serem respeitados pela sua identidade e forma de co- municação (ALMEIDA; QUEIROZ, 2018, p. 07). Em 1957, a educação do deficiente foi assumida em ní- vel nacional pelo Governo Federal. No ano de 1961, já es- tava vigorando a primeira Lei de Diretrizes e Casas da Educação Nacional. Nessa Lei foram escritos dois arti- gos (88 e 89) referentes à educação dos excepcionais, garantindo desta forma, o direito à educação das pes- soas deficientes. Pelo menos na letra da lei, dentro do sistema geral de ensino, objetivando a integração das pessoas deficientes na comunidade. Dessa forma o processo de construção do sistema educacional inclusivo é de responsabilidade de todos os que fazem parte da sociedade, principalmente dos órgãos públicos, dos profissionais, da família e da po- pulação em geral. No sentido de garantir um espaço comum a todas as pessoas com necessidades educa- cionais especiais a conviverem dignamente e respeito- samente na diversidade (SILVA; SENA, 2015, p.129). 39 Isto significa que, em uma escola bilíngue, a criança surda não terá apenas acesso às atividades escolares corriqueiras de um ensino regular, como também acesso à sua cultura, suas memórias e, principalmente, sua identidade. Esse artigo específico demonstra a importância da escola bilíngue na educação dos surdos, e na formação de sua pessoa como ser humano. Considerando a importância tanto da escola bilíngue quanto da escola inclusiva, alguns pesquisadores e estudiosos consideram que, para a criança, é extremamente importante frequentar uma escola bilíngue nos seus primeiros anos, para que assim possa adquirir a sua língua materna, a sua cultura e sua identidade e, posteriormente, quando já tiver o domínio na sua primeira língua e na língua oral na modalidade escrita, Cabe ao professor e professora ser consciente de seu papel de mediador do processo ensino aprendizagem e, assim, deve planejar e reajustar suas ações peda- gógicas em funções de parâmetros estabelecidos pelo ponto de partida do aluno e pelas peculiaridades que apresenta em seu processo de apreensão e construção de conhecimento (SILVA; SENA, 2015, p.132). Art. 78-A. Os sistemas de ensino, em regime de colabo- ração, desenvolverão programas integrados de ensino e pesquisa, para oferta de educação escolar bilíngue e intercultural aos estudantes surdos, surdos-cegos, com deficiência auditiva sinalizantes, surdos com altas ha- bilidades ou superdotação ou com outras deficiências associadas, com os seguintes objetivos: I - Proporcionar aos surdos a recuperação de suas me- morias históricas, a reafirmação de suas identidades e especificidades e a valorização de sua língua e cultura; II - Garantir aos surdos o acesso às informações e co- nhecimentos técnicos e científicos da sociedade nacio- nal e demais sociedades surdas e não surdas. (BRASIL, 2015) Vale lembrar que a inclusão não significa, apenas, ter um intérprete de Libras na sala de aula. Ela precisa de professores bilíngues e surdos para que possam realmente estar inclusos. Já na escola bilíngue, a criança surda tem contato com seus pares, usuários da língua de sinais, conhecendo e convivendo com a sua cultura. Em uma escola bilíngue, a língua de interação entre todos, desde área pedagógica e coordenação até os professores na sala de aula, é a Libras e, sendo assim, a criança está em contato com sua cultura todo o tempo. Inclusive, tendo todo o seu aprendizado mediado na sua língua materna. A escola bilíngue ou salas bilíngues tornaram-se realidade através da Lei nº 14.191, de 3 de agosto de 2021, como explicitado no item anterior. Através desta lei, o aluno surdo tem seu direito à educação bilíngue garantido, isto é, a criança surda obtém sua educação formal utilizando a sua língua materna como língua de interação e instrução, tendo a língua oral aprendida apenas na modalidade escrita, no formato de segunda língua ou língua não materna. Essa lei garante, ainda 40 esse aluno surdo é matriculado em uma escola de ensino regular, para que, assim, possa ter contato com outras culturas além da sua, e, tendo suas duas línguas adquiridas, a língua de sinais e a língua oral escrita, a barreira da linguagem se torna menor, o que faz com que o aprendizado do aluno seja mais eficiente. A Libras foi incluída como disciplina obrigatória nos currículos de cursos de ensino superior pelo Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que prevê o ensino de língua de sinais como disciplina obrigatória nos cursos de licenciatura, fonoaudiologia e medicina. Outros cursos de ensino superior oferecem esta disciplina como optativa em seus cursos. Sendo assim, considerando essa obrigatoriedade da oferta da disciplina, é necessário, também, considerar a formação dos professores responsáveis por essas disciplinas. Essa formação, também prevista por esse mesmo Decreto, prevê que essa formação deverá ser realizada a nível superior, através de cursos de Letras Libras ou em Libras/ Língua Portuguesa como segunda língua. Ainda afirma que professores surdos têm prioridade no ensino de Libras em relação ao professor ouvinte. Isto não significa que uma pessoa ouvinte não possa dar aula de Libras, apenas que, um professor surdo, com as qualificações educacionais de ensino superior, tem um maior conhecimento da sua cultura e da sua comunidade, além da sua língua, sendo assim, torna-se mais adequado para o cargo. Porém, encontrou-se muitos obstáculos na implementação da disciplina de Libras no ensino superior, principalmente pelo período histórico em que essa obrigatoriedade foi implantada, pois, nesta época, a comunidade surda lutava por reconhecimento linguístico e cultural. Daí a necessidade de continuarmos as discussões acerca da educação dos surdos e da formação de profissionais para atuarem com essas crianças. 3.2 CURRÍCULO DE LIBRAS COMO L1 Art. 3º A Libras deve ser inserida como disciplina cur- ricular obrigatória nos cursos de formação de profes- sores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos Estado, do Distrito Federal e dos Municípios. § 1º Todos os cursos de licenciatura, nas diferentes áre- as do conhecimento, o curso normal de nível médio, o curso normal superior, o curso de Pedagogia e o cur- so de Educação Especial são considerados cursos de formação de professores e profissionais da educação para o exercício do magistério. § 2º A Libras constituir-se-á em disciplina curricular op- tativa nos demais cursos de educação superior e na educação profissional, a partir de um ano da publica- ção deste Decreto (BRASIL, 2005). muitas universidades, compelidas a cumprir o referido decreto, implementam a disciplina de Libras nos cursos de licenciatura sem conhecimento de todas as impli- 41 Quando se considera o currículo de Libras nos cursos de licenciatura, há uma série de pressupostos a se considerar também, como as outras disciplinas do curso, o público alvo, as características da profissão, entre outros pontos. Rech, Sell e Rigo (2019, p. 160) explicitam a necessidade de rever toda a grade curricular do curso em que a disciplina será inserida. Sendo assim, implantar a disciplina de Libras requer planejamento, estudo e, principalmente, profissionais qualificados que possam ministrar não apenas um conteúdo, mas também repassar toda uma cultura e uma língua que faz parte da história de uma minoria social. Em relação ao ensino de Libras na Educação Infantil e nos Ensinos Fundamental e Ensino Médio, o Decreto prevê que o profissional Ainda tendo como prioridade o professor surdo. cações linguísticas, culturais e educacionais que en- volvem a formação de professores que atuação fren- te à Educação de Surdos. Isso porque, provavelmente, à época da implantação da referida disciplina,essas universidades não possuíam ainda em seus quadros de docentes, profissionais formados devidamente na área específica do conhecimento de Libras e envolvidos com a temática da Educação de Surdos (RECH; SELL; RIGO, 2019, p.159). Pensando a disciplina de Libras como um componen- te curricular que dialoga com as demais disciplinas do currículo e que precisa, portanto, ser oferecida conside- rando: o contexto dos estudantes; suas bases e perfis acadêmicos; as fases e semestres cursados; os conte- údos já abordados em outras disciplinas; bem como os recursos e a estrutura física que cada centro de ensino oferece. Art. 5º A formação de docentes para o ensino de Libras na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fun- damental deve ser realizada em curso de Pedagogia ou curso normal superior, em que Libras e Língua Portu- guesa escrita tenham constituído línguas de instrução, viabilizando a formação bilíngüe. § 1º Admite-se como formação mínima de docentes para o ensino de Libras na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, a formação ofertada em nível médio na modalidade normal, que viabilizar a formação bilíngüe, referida no caput. (BRASIL, 2005) O currículo da Língua de Sinais na educação de surdos ainda não contem programas estabelecidos, sendo que, na maioria das escolas, pensa-se que não é ne- cessário um ensino sistematizado da Língua. Sobre esta concepção errônea, resgata-se a justificativa de uma professora surda em uma escola denominada bilíngue (ANDREIS-WITKOSKI; DOUETTES, 2014, p. 43). 42 Como já foi dito anteriormente, é crucial que entendamos a diferença entre o currículo de ensino de língua de sinais como segunda língua para ouvintes e o currículo de ensino de Libras para crianças surdas no período de aquisição linguística. No ano de 2021, com a aprovação da Lei nº 14.191, de 3 de agosto, as escolas e salas bilíngues se tornam uma realidade e, sendo assim, a necessidade da criação de um currículo de Libras para a educação básica se tornou primordial. Pensando nisso, a BNCC criou um currículo para o ensino de Libras como primeira língua nos anos iniciais, fundamental e médio, para que os alunos surdos possam passar pela aquisição da sua língua materna e utilizá-la em seu ambiente de educação. Logo no primeiro parágrafo a respeito da área da linguagem, no BNCC, a Libras é citada como forma de comunicação e linguagem, dizendo que Infelizmente, essa é praticamente a única menção à Libras como língua. No BNCC não há nenhuma menção sobre as estratégias, metodologias e habilidades esperadas para o ensino de Libras como língua materna para crianças surdas, ou mesmo sobre o ensino de língua portuguesa na modalidade escrita como língua não materna. Isto demonstra que ainda há uma série de dificuldades e desafios que a educação dos surdos ainda enfrenta, até mesmo nos dias atuais. Há inúmeros empecilhos para que o aluno surdo possa se desenvolver na escola, porém o mais preocupante e o mais comum é a barreira linguística que ainda existe, mesmo com a realidade e a constante luta da comunidade surda por conhecimento. Para que um currículo de ensino de Libras como L1 seja construído, é necessário considerar a Pedagogia Surda que, de acordo com Strobel e Perin (2008), baseia-se na As atividades humanas realizam-se nas práticas so- ciais, mediadas por diferentes linguagens: verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, vi- sual, sonora e, contemporaneamente, digital. Por meio dessas práticas, as pessoas interagem consigo mes- mas e com os outros, constituindo-se como sujeitos sociais. Nessas interações, estão imbricados conhe- cimentos, atitudes e valores culturais, morais e éticos (BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR, 2021, p. 63) Outro agravante que precisa ser enfocado é a grande defasagem com que os alunos surdos chegam à es- cola. Isso é explicado pelo fato de que estes são, ma- joritariamente, filhos de pais ouvintes e usuários da lín- gua oral, os quais dificilmente, ao terem diagnosticada a surdez, buscam aprende4r a Língua de Sinais. Como consequência, as trocas comunicativas e informacio- nais, usuais no contexto familiar das crianças ouvintes, estão ausentes, fazendo com que as crianças surdas não tenham sequer o domínio da Libras e apresentem um atraso no desenvolvimento cognitivo. Deste modo, a escola de surdos passa a ter ampliado seu papel, vendo-se obrigada a suprir uma formação basal que deveria ter sido propiciada pela família (ANDREIS-WI- TKOSKI, DOUETTES, 2014, p.43) 43 Observa-se que o discurso acima ecoa nessa mesma linha de abordagem que reforça a importância do cur- rículo em pautar a diferença surda, de modo a clamar pelo reconhecimento da cultura surda, legitimando um ensino de qualidade e com conteúdos transversais, sin- gulares a este alunado, tais como: a história do povo surdo, de sua língua, dos movimentos sociais e políti- cos de reivindicação por direitos, da literatura visual, das piadas surdas, dos recursos tecnológicos de aces- sibilidade informativa e/ou adaptação do cotidiano a elementos visuais (como campainhas luminosas, te- lefones para surdos, babá eletrônica etc.), da poesia e do teatro surdos e todas as formas de expressão dos artefatos culturais do povo surdo (ANDREIS-WITKOSKI; DOUETTES, 2014, p. 45-46). Destaca-se que, além da escassez e do desconheci- mento acerca do material bilíngue existente, sua utili- zação encontra resistência por parte de uma parcela dos professores, os quais têm sua prática arraigada na tradição de um ensino voltado para o uso do giz e do quadro-negro. A ausência de inovação é ainda mais perceptível nas dinâmicas avaliativas, pois dificilmen- te encontram-se educadores adequados ao sistema; contudo, como previsto no Decreto de 2005, o uso dos interculturalidade e na teorização da cultura surda. Sendo assim, o currículo do ensino surdo enfatiza a necessidade de ter conteúdos relativos ao surdo, isto é, da mesma forma que um currículo voltado para ouvintes abordam temas e culturas ouvintes, um currículo voltado para o ensino surdo precisa ter uma abordagem voltada para temas e culturas surdas. Quando o currículo apresenta essa abordagem, a criança surda adquire toda uma identidade voltada para a sua comunidade, reconhecendo sua suas particularidades e suas diferenças, o que faz com que o cresça e se desenvolva de forma mais confiante e conhecedor de si mesmo e da comunidade que o cerca. Isto demonstra a importância de um currículo de Libras como língua materna para crianças surdas baseado na sua vivencia, na sua cultura e, principalmente, na sua língua, isto é, com políticas públicas linguísticas que abranjam todos os seus direitos. O material didático é essencial no ensino-aprendizagem de todo e qualquer aluno em processo de desenvolvimento. Em relação ao aluno surdo, esse material se torna essencial, pois servirá de base, apoio e contato com sua cultura e língua. Sendo assim, se torna imprescindível a produção de um material didático bilíngue, que abranja todas as necessidades educacionais que esse aluno necessita. Não há uma literatura ampla acerca de produção de material voltado para o ensino de Libras como primeira língua para surdos. Essa escassez de material bilíngue apenas demonstra a luta no aprendizado que o surdo. 3.3 MATERIAIS DIDÁTICAS PARA O ENSINO DE LIBRAS COMO L1 44 recursos tecnológicos deveria ser corrente. Deste modo, inclusive na disciplina de Libras em escolas de surdos, a avaliação muitas vezes se dá, quase que exclusiva- mente, por meio de provas em Língua Portuguesa escri- ta, prática avaliativa que se repete também em grande parte das outras disciplinas (ANDREIS-WITKOSKI, DOUET- TES, 2014, p. 46). Nesse sentido, nossa expectativa é de que a Libras se constitua cada vez mais viva e respeitada nos espaços educacionais onde ela é objeto de estudo e de ensino, sejam estes, formais e informais, contribuindo para a formação de ambientes bilínguese para seu fortaleci- mento como língua nacional. Os jogos e as brincadeiras são uma forma de lazer nos quais estão presentes as vivências de prazer e despra- zer. Representam uma fonte de conhecimento sobre o mundo e sobre si mesmo, contribuindo para o desen- volvimento de recursos cognitivos e afetivos que fa- vorecem o raciocínio, tomada de decisões, solução de problemas e o desenvolvimento do potencial criativo. ” (BRITO, et.al., 2019, p.04) A utilização de atividades lúdicas é uma alternativa que visa facilitar o aprendizado. Desta forma, entende-se que esses materiais adaptados se tornam aliados no processo de inclusão dos alunos surdos, atuando como ferramentas facilitadoras da aprendizagem. Além dis- so, auxiliam a promover a interação entre alunos surdos Adaptar ou produzir um material bilíngue voltado para o aprendizado do surdo é mais do que apenas interpretá-lo em Libras. Um material é pensado e realizado considerando todo o contexto em que esse surdo está inserido, isto é, todo o processo de letramento e de conhecimento de mundo que esse aluno passou ou ainda está passando. Além disso, ao utilizar a língua de sinais como base para a produção e base didática, há uma valorização da língua e do surdo, como afirmam Cordeiro et al. (2018, p. 03) O surdo é visual, isto é, reconhece e assimila o aprendizado através da imagem, e não das palavras, principalmente por ter a língua portuguesa escrita como sua língua não materna. Porém, essa visualidade não é realizada apenas com o uso da Libras ou mesmo o uso de imagens. É necessário um leque de estratégias para que essa visualidade do material não caia na monotonia e, assim, produza um efeito contrário ao desejado no aluno surdo. Pensando nisto, a ludicidade também deve estar presente no material didático utilizado pelo surdo. Isto significa que, através da ludicidade, as crianças surdas conseguem interagir com o mundo que as cercam. É importante considerar, também, que a ludicidade no material didático proporciona o desenvolvimento das crianças surdas tanto quanto das crianças ouvintes. 45 e ouvintes, e destes com o professor. Isso porque além de auxiliar no aprendizado do conteúdo pelo aluno sur- do, promovem o conhecimento de LIBRAS para os alu- nos ouvintes (MENDES, 2018, p. 04) É também o trabalho com leitura e interpretação de histórias que contribui para o desenvolvimento cogniti- vo e biopsicossocial, auxiliando no processo de ensino- -aprendizagem, já que as crianças passam a vivenciar os conteúdos atitudinais discutindo/discernindo as re- gras do mundo dos adultos, aprendendo a agir ade- quadamente às exigências sociais cotidianas de cada grupo em que elas se inserem (BASSO; CAPELLINI, 2012, p. 493). Além da ludicidade em que o aluno surdo aprende brincando, a tecnologia também precisa ser uma aliada na produção de material didático de Libras como língua materna para crianças surdas. Com o advento da tecnologia, a produção de um material visual torna-se mais acessível, tanto ao professor que irá produzi-lo quanto ao aluno que terá acesso a ele. Produção de vídeos em Libras, demonstrando situações reais em que as crianças possam conhecer e se reconhecer na sua identidade, cultua e comunidade tornam-se imprescindível para o desenvolvimento desse aluno. Atividades voltadas para a contação de histórias que consideram o cotidiano das crianças também possibilita a formação identitária dela, colaborando com o seu desenvolvimento social. Além da ludicidade em que o aluno surdo aprende brincando, a tecnologia também precisa ser uma aliada na produção de material didático de Libras como língua materna para crianças surdas. Com o advento da tecnologia, a produção de um material visual torna-se mais acessível, tanto ao professor que irá produzi-lo quanto ao aluno que terá acesso a ele. Produção de vídeos em Libras, demonstrando situações reais em que as crianças possam conhecer e se reconhecer na sua identidade, cultua e comunidade tornam-se imprescindível para o desenvolvimento desse aluno. Atividades voltadas para a contação de histórias que consideram o cotidiano das crianças também possibilita a formação identitária dela, colaborando com o seu desenvolvimento social. Isto demonstra que, quanto mais o aluno surdo tem acesso a um material inclusivo, bilíngue e que tenha um conteúdo voltado para a sua cultura e língua, como acontece com o aluno ouvinte, mais esse aluno surdo tem acesso a um aprendizado completo. Porém, é preciso perceber que apenas o material didático acessível não é o suficiente para que o aluno tenha todo o conhecimento esperado. O professor precisa adotar, também, em consonância com esse material produzido, uma estratégia e metodologia apropriada para o seu uso, pensando, principalmente, no seu aluno. 46 A produção de um material bilíngue não é o mesmo que a adaptação de um material já existente. Um material bilíngue significa um material produzido especificamente para alunos surdos, enquanto que um material adaptado é produzido para alunos ouvintes e sinalizado para os surdos. FIQUE ATENTO As metodologias de ensino de Libras como língua materna para surdos mostram-se dife- rentes das metodologias de ensino de Libras como L2. O aprendizado de Libras pelo surdo mostra-se extremamente importante não apenas para a sua aquisição linguística, mas também para a sua identidade, cultura e contato com a Comunidade Surda. VAMOS PENSAR? O ensino-aprendizagem de língua materna é um assunto complexo quando relacionado ao surdo, pois uma variante de situações estão envolvidas nes- se processo. Sendo assim, alguns textos complementares colaboram para que possamos entender um pouco mais sobre o assunto. • Ensino de Libras como L1. Disponível em: https://bit.ly/3PVcdUI. Acesso em: 20 jan. 2022. • L1 didática e metodologia do ensino da Libras. Disponível em: https://bit.ly/3P- Q33c9. Acesso em: 20 jan. 2022. • Aquisição da Libras como língua de instrução. Disponível em: https://bit. ly/3arnGex. Acesso em: 20 jan. 2022. • Ensino de libras: aspectos históricos e sociais para a formação didática de professores – Neiva de Aquiles Albre • Libras: conhecimento além dos sinais – Maria Cristina da Cunha Pereira (Org.) BUSQUE POR MAIS 47 FIXANDO O CONTEÚDO 1. No Brasil, o ensino da Libras: a) é ofertado, prioritariamente, à comunidade surda. b) não está regulamentado. c) deve ser ofertado em cursos de licenciaturas e de fonoaudiologia. d) está em fase de discussão nas instâncias legislativas. e) é ministrado, em caráter exclusivo, no nível superior de ensino. 2. “As aulas [...] eram preparadas e apresentadas em língua portuguesa (predominante no ambiente escolar) e essa língua era inacessível às crianças surdas. A LIBRAS era usada apenas como instrumento para dar acesso ao que a professora ensinava falando e não circulava efetivamente em sala de aula como uma língua, circunscrevendo a intérprete de língua de sinais a um papel secundário. ” (LACERDA, Cristina B. Intérprete de Libras: em atuação na educação infantil e no ensino fundamental. Porto Alegre: Mediação/ FAPESP, 2009). Com base no excerto apresentado, infere-se que a metodologia adotada na instituição previa o ensino de Libras e de Língua Portuguesa numa perspectiva: a) monolíngue. b) bilíngue. c) trilíngue. d) plurilíngue. e) multilíngue. 3. Considerando a filosofia bilíngue de educação de surdos, assinale a opção correta. a) A língua de sinais pressupõe a leitura labial. b) O professor deve, preferencialmente, ser usuário da Libras ou bilíngue. c) O bilinguismo consiste na utilização simultânea da língua de sinais e da língua oral. d) Na perspectiva do surdo, a língua de sinais é sua segunda língua, e o português escrito, a primeira. e) A língua de sinais deve ser aprendida após a aquisição do português escrito. 4. Considerando a filosofia bilíngue de educação de surdos, assinale a opção correta. a) A língua de sinais pressupõe a leitura labial. b) O professordeve, preferencialmente, ser usuário da Libras ou bilíngue. c) O bilinguismo consiste na utilização simultânea da língua de sinais e da língua oral. d) Na perspectiva do surdo, a língua de sinais é sua segunda língua, e o português escrito, a primeira. e) A língua de sinais deve ser aprendida após a aquisição do português escrito. 5. Assinale a opção que apresenta um princípio da comunidade de surdos na defesa de 48 uma educação bilíngue. a) Respeitar os princípios da experiência visual dos surdos, com a presença exclusiva de professores ouvintes. b) Adotar a LIBRAS como língua de instrução, privilegiando o ensino de libras e de português oral. c) Optar pela LIBRAS como língua de instrução e com metodologia e estratégias que privilegiem a cultura surda e a experiência visual dos surdos. d) Suprimir conteúdos que os surdos não são capazes de aprender. e) Privilegiar o acesso à cultura ouvinte, garantindo a presença de ouvintes como modelo cultural. 6. Na realidade atual, a educação bilíngue envolve o ensino e a comunicação em LIBRAS e em língua portuguesa no ambiente escolar e demanda um profissional tradutor e intérprete de LIBRAS que tenha fluência, principalmente, em: a) Libras (sinalizada e escrita). b) Língua Portuguesa (falada e escrita). c) Libras (sinalizada) e língua portuguesa (escrita). d) Libras (escrita) e a língua portuguesa (falada). e) Libras (sinalizada) e língua portuguesa (falada e escrita). 7. Pensando nas particularidades do aprendizado do Surdo, qual a principal característica que é necessária ter em um material didático de L1? a) Atividades visuais. b) Atividades escritas. c) Atividades em língua portuguesa. d) Atividades orais. e) Atividades voltadas à cultura ouvinte. 8. Em relação ao ensino de Libras como L1 para crianças, é correto afirmar que: a) a criança aprende em contato com ouvintes. b) a criança aprende em contato com fonoaudiologistas. c) a criança não consegue aprender a língua portuguesa por ser surda. d) a criança aprende Libras em contato com seus pares surdos. e) a criança surda não precisa de aprender a Libras como L1. 49 LÍNGUA PORTUGUESA COMO L2 PARA SURDOS 50 Como já dito nos capítulos anteriores, a criança surda tem como sua língua materna a língua de sinais e a língua oral como sua segunda língua, apenas na modalidade escrita. No caso dos surdos brasileiros, a língua materna dessas crianças é a Libras enquanto que a sua segunda língua é a língua portuguesa, apenas na modalidade escrita. A Lei 10.436, de 2002, a mesma que reconhece a Libras como língua da comunidade surda, também expõe que a Libras não substitui a língua portuguesa escrita, como mostrado no seu “Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais – Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa. ” (BRASIL, 2002). Sendo assim, as escolas e sistemas de ensino precisam estar preparadas e seus profissionais serem capacitados para oferece a esse aluno a língua oral na modalidade escrita, com metodologias e estratégias de ensino de segunda língua. Isto significa que não basta ensinar o aluno surdo a ler e a escrever, é necessário, principalmente, ensinar a esse aluno surdo a dar significado naquilo que está lendo e escrevendo, para que, assim, a língua portuguesa escrita não se torne apenas um aglomerado de palavras e letras, passando a ser um discurso com significado e sentido. Para que a criança tenha um aprendizado na língua portuguesa escrita, primeiramente ela necessita já ter passado pela aquisição da Libras, pois o aluno surdo usará a sua língua materna como base no aprendizado da segunda língua, isto é, utilizará o seu conhecimento prévio e a gramática da língua de sinais como facilitador da língua escrita, pois, como já foi dito, ele não aprenderá, apenas, a ler e escrever, devendo, também, aprender o significado daquilo que está lendo e escrevendo. Sendo assim, quando é dito que o professor necessita ser capacitado para o ensino de língua portuguesa para alunos surdos, significa que é necessário que esse profissional, em um primeiro momento, seja fluente em Libras, pois as aulas precisam ser ministradas na língua materna do aluno, para que ele possa, assim, ter uma melhor compreensão do conteúdo. Em um segundo momento, é interessante que o professor tenha conhecimento acerca de estratégias e metodologias de ensino de língua não materna, isto é, a língua portuguesa modalidade escrita, pois, assim, conseguirá um melhor resultado com esse aluno. Vale lembrar, ainda, que o professor precisa ter, também, conhecimento da cultura e da comunidade surda, além da literatura surda, pois é através dessa contextualização que esse aluno dará sentindo na língua portuguesa escrita. Enfim, apesar das inúmeras dificuldades que, tanto o professor de língua portuguesa como segunda língua para surdos quanto os próprios alunos surdos passam, é imprescindível a aprendizagem da língua nativa do país na modalidade escrita pelo surdo, pois é através dela que ele terá contato com a cultura ouvinte, fazendo parte da sociedade majoritária e, assim, tornando-se uma pessoa verdadeiramente bilíngue. Pensando no aprendizado do surdo, faz-se necessário aprender a Língua de Sinais, conhecer a estrutura da língua, tanto da Língua Portuguesa quanto da LIBRAS, pois entendemos que a língua está em constante evo- lução, que os sentidos das palavras são formações di- nâmicas, e não estáticas, são modificados à medida que a criança se desenvolve; e também de acordo com as várias formas pelas quais o pensamento funciona (SOUZA; ASSUNÇÃO, 2015, p. 158). 51 Percebe-se que a língua de sinais Libras é uma língua natural assim como o Português, cheia de regras e combinações de elementos estruturais; ou seja, ambas seguem princípios básicos gerais, porém, não deixam de ter suas especificidades (SILVA; NOGUEIRA, 2014, p. 08) A Língua Brasileira de Sinais apresenta todas as características reconhecidas de uma língua, isto é, a Libras apresenta gramática, morfologia, fonologia, é mutável e viva, sendo assim, é reconhecida como língua, não como linguagem. Outro ponto a ser reconhecido é que a língua de sinais não é universal, isto é, cada país apresenta a sua própria língua de sinais, com características específicas, e, assim como as línguas orais, podem apresentar características semelhantes de acordo com a língua em que foi baseada, da mesma forma como ocorrem com as línguas orais. Partindo do pressuposto de que a Libras é uma língua com características específicas, precisamos considerar as principais diferenças linguísticas e gramaticais entre ela e a língua portuguesa, pois essas diferenças serão importantes no aprendizado desta segunda língua pelo aluno surdo, principalmente ao considerarmos que a criança surda utilizará a base gramatical da sua língua no processo de aprendizagem, fazendo uso da interlíngua, que será tratada mais adiante. Pensando nisso, a primeira diferença linguística necessária a ser considerada é que a Libras é uma língua visuo-espacial enquanto que a língua portuguesa é uma língua oral-auditiva. Isto significa que a criança surda não está apenas aprendendo uma língua não materna, e sim que ela está adquirindo uma segunda língua que apresenta uma modalidade diferente da sua, o que torna esse aprendizado ainda mais complexo. Como também afirmam Silva e Nogueira, 2014, p.08, “a diferença básica entre as línguas por si só já é de extrema beleza: para estruturar os significados lexicais e gramaticais, enquanto a língua portuguesa faz uso do meio acústico, LIBRAS usa o espaço. ” Reconhecer que a Libras é uma língua visuo-espacial e que o surdo é visual, possibilita que o professor faça uma escolha adequada na preparação da sua aula, isto é, considerando a visualidade do aluno surdo, esse professor pensa em materiais e em estratégias visuais voltadas especificamente para esse aluno. Alguns exemplos de atividades que podem ser realizadas são atividades lúdicas, comojogos de tabuleiros confeccionados pelo próprio professor, jogos de memória, associando a Libras com a Língua Portuguesa, textos e histórias escritas com apoio de vídeos ou mesmo apoio visual de encenações, entre muitas outras atividades. Nesse momento, é hora do professor pensar e colocar a sua criatividade em prática. Uma diferença gramatical básica que existe entre a Libras e a língua portuguesa é a estruturação das sentenças de uma frase. Essa característica baseia-se, principalmente, no fato de a língua de sinais brasileira ter como língua base a língua de sinais francesa, que apresenta as estruturas gramaticais da língua oral francesa. Isto é, a Libras não teve sua gramática baseada na língua portuguesa oral, o que faz com que a estrutura gramatical da primeira tenha como prevalência a sequência de objeto-sujeito-verbo (OSV) ou sujeito-objeto-verbo (SOV). Já a língua portuguesa, detém uma estrutura 4.1 PRINCIPAIS DIFERENÇAS LINGUÍSTICAS ENTRE AS DUAS LÍNGUAS 52 com sujeito-verbo-objeto (SVO). Na Libras, é possível ver estruturas semelhantes ao da língua portuguesa, como SVO, porém é necessário analisar a situação em que é utilizada, pois há a possibilidade de ser utilizado o que conhecemos como “português sinalizado”, isto é, o espelhamento da gramática da língua oral na língua sinalizada. O fonema, na língua oral, é a manifestação mínima, sem significado autônomo, que é responsável pela organização interna da língua, proporcionando, ao serem combinadas, a formação de palavras e seus significados. Já na Língua de Sinais, o fonema é marcado pelo uso de configurações mínimas de sinais, que exercem a mesma função do fonema das línguas orais. Pensando nisso, observa-se, então o alfabeto, que é uma combinação de letras e sons que possibilitam o entendimento de todo e qualquer léxico, enquanto que na língua de sinais, o alfabeto é produzido através da datilologia, que são sinais icônicos, isto é, semelhantes ao das línguas orais, mas que, em Libras, apenas de darem significado às palavras, nem sempre apresentam sentido ao surdo, pois, na língua de sinais, cada uma dessas palavras apresentam um sinal específico e, apesar de formar uma palavra através da datilologia, nem sempre essa palavra apresenta significado ao surdo, pois a datilologia está ligada às línguas orais. A sintaxe, na Libras, envolve todos os aspectos espaciais, como o local em que o sinal é realizado, incluindo o uso dos classificadores. Já a sintaxe da língua oral preocupa- se com a linearidade e o sentido do discurso. Falando sobre a produção textual, a língua oral limita-se à transcrição de acordo com as regras gramaticais, na Libras, percebe-se repetições sistemática de termos já utilizados, além de referências anafóricas a termos que nem sempre estão presentes no diálogo, o que pode tornar-se um pouco confuso para pessoas que não apresentam fluência e conhecimento da gramática da Libras. Outra diferença gramatical envolve o uso de pronomes, artigos e flexão de gênero e número. Na língua portuguesa, há o uso constante de artigos, de pronomes, demarcação de gênero, como feminino e masculino, e demarcação de número, que são os plurais. Na Libras, não há artigos, como o uso de “na”, “no”, “o”, “a”. Há momentos em que os usuários da língua de sinais utilizam sinais como “para”, “ou”, mas são empréstimos linguísticos da língua oral. Quanto à demarcação de gênero, a Libras utiliza os sinais de “homem” e “mulher” apenas em relação a seres humanos e animais, porém, para objetos, utiliza-se apenas o sinal do mesmo, sem especificar questões de feminino e masculino, já que não há a utilização de artigos. O mesmo ocorre com a demarcação de número, pois quando é necessário demonstrar plural ou uma grande quantidade de objetos, utiliza-se repetidamente o sinal do objeto, mostrando, assim, a existência de da pluralidade. Na Língua Portuguesa, as unidades mínimas respon- sáveis pela diferenciação de significados de palavras idênticas (pares mínimos) são os fonemas. Segundo Pereira (s.d., p. 17), em LIBRAS as palavras são forma- das a partir de parâmetros principais ou maiores e de parâmetros menores. Os parâmetros maiores são a Configuração da (s) mão (s) (CM), o Movimento (M) e o Ponto de Articulação (PA). Os parâmetros menores são Orientação de Mão (OM) e as Expressões Não Manuais (ENM) – faciais ou corporais (SILVA; NOGUEIRA, 2014, p. 01-02) 53 Em LIBRAS também é usado como intensificador a pa- lavra MUITO, porém, nesta língua, são ainda possíveis alterações no parâmetro Configuração de Mão para se obter o efeito de intensidade na ação. Outra forma de se obter uma ideia de maior intensidade em LIBRAS é utilizar a repetição do sinal, realizando-o várias vezes seguidamente. A trajetória de luta para garantir o direito a sua língua, a Libras, a adentrar os espaços de direito usando a língua de sinais, para conseguir respeito frente a sociedade, criou uma marca na comunidade surda, marca essa que afasta a língua portuguesa. Não obstante que os alunos surdos tenham mesmo dificuldade de aprender a língua portuguesa escrita, nem mesmo esquecendo que, as instituições de ensino não possuem recursos adequados para um bom aprendizado de português como L2. Todavia, existe um “mas” nos discursos que demonstram que mesmo que tudo fosse, no proces- so de escolarização, como se deve ser, ainda assim, aprender uma L2 seria algo complexo no imaginário dessas pessoas (DAMACENA, GONÇALVES, 2021, p. 26) De acordo com Silva e Nogueira (2014, p. 05) afirmam que “esses verbos apresentam direcionalidade indicando, assim, a fonte (o sujeito que executa o sinal) e a meta (objeto/alvo) ” e, em continuidade, que “nessa hipótese é que os verbos com concordância se diferenciam dos verbos sem concordância por possuírem a marca da direcionalidade inerente”. Marcadores de intensidade também apresentam diferenças entre essas duas línguas, pois, na língua portuguesa, a intensidade é demonstrada através, principalmente, por sufixos e palavras como “muito” e “pouco”. Já na Libras, a intensidade é demonstrada através das expressões faciais e corporais, como afirmam Silva e Nogueira (2014, p. 07- 08): Enfim, percebe-se que a Língua Brasileira de Sinais e a Língua Portuguesa são duas línguas distintas, pois apresentam características e estruturas gramaticais diferentes, comprovando o status de Língua para a Libras e não apenas de linguagem, como erroneamente ainda está implícito na cultura das pessoas ouvintes, mas que constantemente é motivo de reconhecimento pela comunidade surda. Pensando nas dificuldades no aprendizado de Línguas, tanto a língua materna quanto na língua não materna, Damacena e Gonçalves, 2021, na página 26, afirmam que Aprender uma língua não materna não é fácil para nenhum aprendiz, seja ele ouvinte ou surdo. Porém, ao se tratar do aluno surdo, essas dificuldades se tornam mais evidentes devido a uma série de questões, entre eles a diferença as diferenças 4.2 DESAFIOS NO APRENDIZADO DE L2 54 gramaticais explicitadas anteriormente. Mas é necessário compreender, em um primeiro momento, que essas dificuldades de aprendizado normalmente não são do aluno surdo e sim de situações e ambientações que o cercam, principalmente em relação ao ambiente escolar e a capacitação dos professores que estão envolvidos com essa aquisição de língua não materna. Aprender uma segunda língua que apresenta uma modalidade diferente da sua língua materna se torna um desafio maior pois, no caso do aluno surdo, ele aprenderá não apenas a ler e a escrever em uma outra língua, ele irá, também, dar significado naquilo que está aprendendo, sem nunca ter conhecido a estrutura da língua alvo. Devido a essa complexidade, o surdo apresenta dificuldade na língua portuguesa não por causa das suas diferenças linguísticas, apesar de este ser um dificultador, mas também devido a uma resistência que apresentam por terem tido um contato, de certo modo, errôneo, quando passavampelo processo de aquisição linguística. Isto demonstra que, quando a criança surda começou a passar pelo seu processo de aquisição de aprendizado da língua portuguesa na modalidade escrita, o professor, quando não é capacitado para o ensino desta língua como língua não materna, utiliza- se de metodologias e estratégias de ensino voltadas para o ensino de língua materna. Esse professor parte do pressuposto de que a criança já apresenta os conhecimentos prévios necessários para a aprendizagem da língua oral escrita, isto é, o professor considera que esse aluno já apresenta os conhecimentos fonéticos e de significados do discurso, pensando naquilo que a criança já sabe ao começar a sua vida acadêmica. Porém, se tratando de um aluno surdo, nem sempre esse conhecimento prévio ocorre da mesma forma do aluno ouvinte e, sendo assim, o professor de língua portuguesa precisa apresentar ao aluno tanto a transcrição do código na forma escrita quanto o significado daquilo que está sendo escrito. Dar sentido naquilo que está lendo e escrevendo em língua portuguesa escrita também é um dificultador no aprendizado do aluno surdo, pois, muitas vezes, a criança surda tem uma aquisição linguística tardia, por não ter contato com a língua de sinais desde os primeiros momentos de vida, o que faz com que ela possa ter uma espécie de defasagem em relação ao conhecimento de mundo que a criança surda apresenta. Por não ter um conhecimento prévio nem mesmo na língua de sinais, pois não tiveram uma motivação familiar, como normalmente acontece com uma criança ouvinte. Além da memória discursiva, a resistência do surdo com a língua portuguesa também aparece quando fa- lamos nas diferenças linguísticas entre as duas línguas, a sinalizada e a oral. A língua oral, para o surdo, é ofer- tada apenas na modalidade escrita, sendo considera- da como segunda língua, o que faz com que as meto- dologias e estratégias de ensino sejam relacionadas à essa modalidade. Assim, a pessoa surda, ao utilizar a língua portuguesa na modalidade escrita, muitas vezes não a utiliza de forma natural, necessitando de esforço que, normalmente, só seriam necessários em situações mais complexas (DAMACENA, GONÇALVES, 2021, p. 25). 55 A formação do profissional que irá trabalhar com o aluno surdo no ensino de língua portuguesa como língua não materna pode agir, também, como um ponto de desafio para o aprendizado dessa língua pelo aluno surdo. Todo professor necessita de formação específica na disciplina em que atua, porém ao consideramos o profissional que atua diretamente com alfabetização do aluno surdo, essa formação se torna essencial, pois, além de dominar a língua portuguesa, precisa ser fluente em Libras, pois é a língua de instrução do aluno surdo, além de ser a base de aprendizado do mesmo. Além disso, é necessário, também, capacitação no ensino de língua portuguesa como segunda língua, pois as estratégias e metodologias de ensino diferem das metodologias e estratégias de primeira língua. Outro ponto a ser considerado é o conhecimento e a inserção deste professor na Comunidade Surda. Apenas ser fluente em Libras não é o suficiente para que o professor realmente conheça a cultura surda. Ter esse conhecimento se torna importante pois, ao ensinar uma língua não materna à criança, baseamo-nos na sua língua materna e na sua cultura, considerando o ambiente em que está inserida, o seu conhecimento prévio, sua literatura. Considerando a Libras como uma língua e a surdez como um movimento social e cultural, precisamos considerar, também, todas as implicações que advém com a língua e a sociedade. Gesueli (2006, p. 280) afirma que “o papel do professor surdo e da língua de sinais no ambiente escolar é essencial para que haja construção da identidade surda e, consequentemente, para chegarmos a uma educação eficiente”. Art. 60-B. Além do disposto no art. 59 desta Lei, os sis- temas de ensino assegurarão aos educandos surdos, surdo-cegos, com deficiência auditiva sinalizantes, O conhecimento prévio que o leitor surdo tem de mundo é assimilado e transmitido através da língua de sinais. É no uso dessa língua que se torna possível a compre- ensão do texto fazendo da leitura uma atividade carac- terizada pelo engajamento e uso do conhecimento, em vez de uma mera recepção passiva. O conhecimento linguístico, textual e de mundo ao ser ativado com a lín- gua de sinais durante a leitura possibilita a compreen- são da notícia escrita (ROSA; TREVIZANUTTO, 2002, p. 02) Aprender uma língua não materna, como já demonstrado, significa enfrentar uma série de obstáculos e, em relação ao aluno surdo, torna-se ainda mais complexo por se tratar de línguas de modalidades distintas, além de ter o agravante de, muitas vezes, o professor dessa segunda língua não dominar a primeira língua do aluno. Sendo assim, pensando no ensino de língua portuguesa para alunos surdos, o primeiro ponto a se considerar, como já dito anteriormente, é que a língua oral é ensinada apenas na modalidade escrita, pois respeita-se a língua materna do surdo, que é a Língua de Sinais, no caso, a Libras. Esse respeito está assegurado por lei, que explicita, claramente, que a Libra não substituirá a língua portuguesa escrita, além de demarcar, legalmente, a formação do profissional e o direito da criança surda de ter a aquisição dessa língua oral apenas na modalidade escrita. 4.3 A LÍNGUA PORTUGUESA NA MODALIDADE ESCRITA 56 surdos com altas habilidades ou superdotação ou com outras deficiências associadas materiais didáticos e professores bilíngues com formação e especialização adequadas, em nível superior (BRASIL, 2021). Assim, pensando no aprendizado do surdo, quando este se depara com uma palavra descontextualizada e desconhecida, não consegue fazer a leitura, pois des- conhece o seu sentido, vendo a palavra apenas como um amontoado de letras, portanto, sabemos que a pa- lavra deve ser contextualizada, compreendida em sua história viva e concreta (SOUZA; ASSUNÇÃO, 2015, p. 159). Partindo do pressuposto de que a língua oral só poderá ser ensinada na modalidade escrita, percebemos, que o professor não ensina ao aluno apenas a decodificar os códigos fonéticos. A língua portuguesa para a criança surda precisa ser, principalmente, repleta de significados e sentidos, não apenas transcrição de letras. Pensando nisso, percebe- se a importância do conhecimento cultural e social e linguístico voltado à surdez, pois é através dessa ambientação que que o aluno irá basear o seu aprendizado e, sendo assim, conseguir dar sentido no discurso elaborado na língua em que está aprendendo. Tendo em vista essas considerações, analisa-se a importância do aprendizado de língua portuguesa como segunda língua na modalidade escrita para surdos. É através desta língua que o indivíduo surdo se insere culturalmente e socialmente em uma comunidade ouvinte, pensando, principalmente, no bilinguismo da pessoa surda. O ensino de língua portuguesa como segunda língua para surdos requer metodologias específicas de segunda língua, pois é necessário considerar a língua materna do aluno. Sendo assim, precisa-se perceber as dificuldades e desafios que esse aprendiz enfrenta na sala de aula, quando tratamos da aquisição da sua língua não materna. FIQUE ATENTO A língua portuguesa como língua não materna para o surdo enfrenta uma série de desa- fios ao ser ensinada. Um deles, e mais comum, é a aquisição da Libras como Língua ma- terna. A Libras, então, pode funcionar como dificultador do aprendizado da segunda língua, quando essa criança não apresenta a aquisição completa da sua primeira língua, mas também pode trabalhar como facilitador do aprendizado da língua portuguesa escrita, pois, ao ter a aquisição da Libras de forma completa, essa criança consegue se basear em uma língua que já conhece para, assim, fazer associações gramaticas considerando aquilo que já conhece. VAMOS PENSAR? 57 Pensar em Língua Portuguesa como L2 é um tema que nãohá propostas pron- tas, pois, pesquisadores constantemente desenvolvem teorias e conceitos que possibilitam e colaboram com o aprendizado o do aluno. Considerando isso, é necessário que estudos e capacitações sejam realizadas de forma constante pelo professor. A seguir, segue alguns materiais que podem colaborar com essa capacitação. • Live: Ensino de Língua Portuguesa como L2 para surdos. Disponível em: ht- tps://bit.ly/3GIeIWn. Acesso em: 20 jan. 2022. • Livro com ideias de atividades de PL2 para surdos. – Ideias para ensinar por- tuguês para alunos surdos, de Ronice Muller de Quadros e Magali L. P. Sch- miedt. • Livro do acervo – Linguagem, surdez e educação, de Maria Cecília Rafael de Góes. BUSQUE POR MAIS 58 FIXANDO O CONTEÚDO 1. Os surdos usam a Libras, que apresenta todas as propriedades específicas das línguas humanas e é utilizada em espaços criados pelos próprios surdos. Seu uso é muito importante na escola, pois possibilita melhor qualidade de ensino para os surdos, ampliando as conquistas da comunidade surda e estimulando reflexões sobre o papel social dos surdos em nosso país. O ensino adequado do sujeito surdo deve seguir um paradigma educacional que: a) Apresente a Libras como segunda língua (L2) e a Língua Portuguesa como primeira língua (L1). b) Inclua a Libras como L2, sem que haja a substituição da modalidade escrita da Língua Portuguesa. c) Apresente a Libras como primeira língua (L1) e a Língua Portuguesa como segunda língua (L2). d) Exiba a Libras como L1 e, se quiser, tenha a Língua Portuguesa escrita como L2. e) Possa escolher a Libras como L1 e a Língua Portuguesa preferencialmente como L2. 2. O surdo passa por diversos desafios ao considerar o seu aprendizado em língua portuguesa escrita. Pensando nisso, qual desses motivos proporciona ao surdo um desafio a esse aprendizado? a) As diferenças linguísticas e gramaticais entre a Libras e a Língua portuguesa. b) Professores bilíngues capacitados ao ensino de língua portuguesa como L2. c) Escolas bilíngues que possibilitam o aprendizado do aluno surdo. d) A aquisição da sua primeira língua colabora com o aprendizado da sua segunda língua. e) Situações envolvendo a língua portuguesa e a língua de sinais facilitam o aprendizado do surdo. 3. A Libras e a português são duas línguas distintas, que apresentam gramaticas, estrutura e funcionamento próprios. Considerando essa informação, qual a principal diferença linguística entre essas duas línguas? a) A Libras não apresenta substantivos. b) A língua portuguesa não apresenta artigos. c) A língua portuguesa apresenta situações reais enquanto a Libras apresenta situações irreais. d) A Libras é visuo-espacial enquanto a Língua Portuguesa é oral-auditiva. e) A Libras não é considerada uma língua enquanto o português é uma língua. 4. A legislação brasileira disserta sobre a capacitação do profissional que tratará do ensino de língua portuguesa para o surdo. Qual dessas afirmações é verdadeira? 59 a) O professor de PL2 não necessita de capacitação para ministrar essa aula. b) O professor de PL2 precisa ser fluente em Libras e ser capacitado em ensino de língua portuguesa com L2. c) O professor de PL2 ministra suas aulas da mesma forma que abordaria às pessoas ouvintes. d) O professor de PL2 utiliza a língua portuguesa apenas na modalidade oral, sem considerar a sua forma escrita. e) Não há professores de PL2 para surdos. 5. Qual a principal característica do ensino de língua portuguesa para surdos? a) A língua portuguesa é ensinada na modalidade oral, considerando a Libras como base para esse aprendizado. b) A língua portuguesa é ensinada como primeira língua, desconsiderando a Libras. c) A língua portuguesa é ensinada tanto na modalidade oral quanto na escrita. d) A língua portuguesa é ensinada com metodologias de primeira língua, apenas na modalidade escrita. e) A língua portuguesa é ensinada na modalidade escrita, com características de ensino de segunda língua. 6. Em relação às diferenças linguísticas entre a Libras e a língua portuguesa, qual afirmativa é considerada verdadeira? a) A Libras e a língua portuguesa apresentam uma variedade de diferenças gramaticais, incluindo a sua modalidade e usos de artigos, pronomes e conjugações verbais. b) A Libras e a língua portuguesa não apresentam diferenças gramaticas, visto que uma é representação da outra. c) A Libras não é considerada uma língua, por isso não apresenta uma gramática. d) A língua portuguesa é a representação escrita da Libras, por isso não apresentam diferenças. e) O português não é uma língua, portanto não apresenta estruturas gramaticais. 7. Qual o papel do professor em relação à língua portuguesa como segunda língua para surdos? a) O professor não apresenta nenhuma importância em relação à língua portuguesa para o surdo. b) Dependendo da metodologia de ensino escolhida por esse professor, ele torna-se responsável pela forma como o surdo verá essa língua, sendo positiva ou negativa. c) O aluno surdo considera o professor apenas como mediador da aprendizagem, não tendo um papel relevante. d) O professor tem o papel de ensinar a língua portuguesa oral para o surdo, para que assim ele possa aprender a falar. e) O aluno surdo considera o professor como parte da família, fazendo com que ele seja visto como um pai ou como uma mãe para esse aluno. 60 8. Quando falamos em ensino de língua portuguesa para surdos, qual é a principal metodologia que o professor utiliza que faz com que o aluno tenha um aprendizado mais completo? a) Metodologia de língua oral. b) Metodologia de língua materna. c) Metodologia de segunda língua. d) Metodologia de língua de sinais. e) Metodologia de língua auditiva. 61 ABORDAGENS E METODOLOGIAS DE ENSINO DE L2 62 Ensinar a língua portuguesa como segunda língua na modalidade escrita para pessoas surdas é uma atividade complexa. É uma área em que ainda está se desenvolvendo, sendo objeto de estudos por diversos pesquisadores que ainda procuram as melhores abordagens e metodologias de ensino. Considerando essas pesquisas, não há como prever ou assumir que há uma metodologia correta, porém podemos pensar em algumas estratégias, metodologias e abordagens mais adequadas a esse aprendizado. Em relação aos sistemas de ensino, como o PCN e o BNCC, o ensino de língua portuguesa na modalidade escrita para surdos começou a tomar forma no ano de 2021, com a legalização do ensino bilíngue através da Lei nº 14.191, de 3 de agosto, que, no seu Artigo 79-C, afirma que é necessário Assim, a produção de material bilíngue torna-se legal e extremamente importante para que o surdo possa se desenvolver linguisticamente. Considerando isto, algumas novas abordagens, metodologias e estratégias de ensino estão sendo consideradas e analisadas e até mesmo adaptadas e inventadas. Porém, pensando nessa variedade, também é necessário que não há apenas acertos em relação a essas metodologias e que o professor precisa se reinventar para que o aluno surdo realmente possa passar por um processo de ensino-aprendizagem eficiente. Pensando nisso, a utilização de metodologias e estratégias de ensino de língua portuguesa como segunda língua mostram-se bastante eficazes em relação ao ensino do aluno surdo, pois essa, também, é sua segunda língua, porém ainda são necessárias algumas adaptações devido às diferenças linguísticas entre a Libras e a língua portuguesa. Alguns estudos relativos ao ensino de PL2 como língua estrangeira e língua não materna, na maioria dessas vezes, é voltado para ouvintes, não para surdos, porém adaptações podem ser feitas e o objetivo alcançado. Baseando-se, também, no papel da língua como instrumento social, abordagens III - desenvolver currículos, métodos, formação e pro- gramas específicos, neles incluídos os conteúdos cul- turais correspondentes aos surdos; IV - Elaborar e publicar sistematicamente material di- dático bilíngue, específico e diferenciado (BRASIL, 2021). A tradição de ensino de línguasorais para surdos, em suas modalidades escritas, prevê seu tratamento se- gundo o rótulo de L2. Obviamente, tal posicionamen- to consiste em um movimento político salutar em prol da educação do surdo, posto que busca considerar a realidade desse aluno para fins de maior adequação de seu ensino. Por outro lado, esse mesmo posiciona- mento pode se configurar em um grande problema, se pensarmos em questionamentos inseridos em dois grandes eixos, a saber, expectativas sobre níveis de proficiência escrita e definição de aspectos que ca- racterizam a escrita desse público-alvo, determinantes para direcionamento das práticas de ensino (FREITAS JR et al. p. 08-09, 2018) 63 É preciso nesse momento, porém, pensarmos, talvez, de modo ainda mais direcionado, sobre as questões rela- cionadas ao seu letramento, especialmente, em tem- pos de reformulação do próprio conceito de letramen- to, se pensarmos em termos de inclusão digital e de suas possibilidades de inclusão para os surdos (FREITAS JR et al. p. 08-09, 2018). A língua de sinais ajuda a criar as referências, a estru- tura mental, pois ela vai reproduzir o mundo para o su- jeito surdo. Por meio da língua de sinais a criança sur- da pode ter um desenvolvimento linguístico e cognitivo paralelo ao da criança ouvinte, além da possibilidade de convivência harmoniosa entre as comunidades ou- vinte e surda. voltadas para o uso real da língua alvo são consideradas, pois é necessário que o surdo, além de saber escrever e ler, dê um significado a essa decodificação. Como já foi dito anteriormente, o conhecimento prévio do aluno surdo normalmente encontra- se limitado pelo atraso na aquisição da sua língua materna, mas essa defasagem é facilmente diminuída quando a criança surda, ao adquirir a sua língua materna, apresenta conhecimentos e percepções do mundo que ainda não tinha. Ainda em relação aos autores citados anteriormente, Essas percepções e conhecimentos de mundo são adquiridas através da interação entre os pares, isto é, interações entre a criança e o adulto ou mesmo a criança e outra criança. Souza e Assunção (2015, p. 163) afirmam que Isto significa que ensinar a língua portuguesa como segunda língua na modalidade escrita à criança surda é mais do que apenas ensinar a ler e escrever. É ensinar toda uma cultura que não a dele, além de ser uma língua que apresenta uma modalidade diferente da língua que ele está acostumado a usar. E para que o processo e ensino- aprendizagem aconteça, o professor precisa pensar em várias situações específicas, incluindo as especificidades de cada aluno, considerando o conhecimento prévio que ele possui, incluindo o conhecimento linguístico na sua língua materna, sua identidade e sua cultura, pensando, como já foi dito, na inclusão dessa criança surda de forma bilíngue, tanto na comunidade surda quanto na comunidade ouvinte. Adquirir uma língua, como já foi explicitado anteriormente, não é apenas aprender a decodificar um código linguístico, principalmente quando nos referimos a uma língua oral pertencente à comunidade majoritária de um local. No caso, a língua portuguesa, que é a língua majoritária da comunidade do país em que a minoria surda brasileira, usuária da língua de sinais, no caso, a Libras. A segunda língua, ou língua não materna da pessoa surda, passa pelo mesmo processo de aquisição da primeira língua, considerando a interação entre pares, o contato com a língua real e social, para que o aprendiz possa usar e utilizar a língua alvo em todas as suas formas e situações. 5.1 AQUISIÇÃO DE L2 NA CONCEPÇÃO SOCIOINTERACIONISTA 64 Na concepção sociointeracionista de aquisição da linguagem, a criança adquire uma língua ao ter contato com seus pares mais experientes, isto é, em contato com pessoas mais experientes e fluentes na língua que ela está adquirindo, pois, assim, aprenderá a língua de forma mais didática e social. Vygotsky (1979) afirma que a criança, ao ter um contato com pessoas usuárias da língua, ela passa a considerar o uso real dessa língua. Isto significa que a criança apresenta uma aquisição voltada, principalmente, para o sentido que a língua apresenta em um discurso, não apenas da forma como é ensinada nas escolas, de forma sistemática e autoritária, voltada para o ensinamento de regras gramaticais. Esse tipo de suporte voltado para o aprendizado relacionado à interação entre pares faz com que a criança não aprenda a língua alvo de forma sistemática e sim, tendo uma visão repleta de significados, pois não haverá, apenas um amontoado de letras. Aprender uma língua reconhecendo seu significado demonstra que a criança percebe o motivo de estar usando aquela língua. Essa abordagem não utiliza textos pré-programados que não retratam a realidade do aluno. Isto é, os textos são escolhidos de acordo com o ambiente em que o aluno está inserido, tanto linguístico quanto social, pois essa criança não estará apenas visualizando diálogos estruturados e irreais, voltados para o ensino da gramática normatizada e engessada. Radaelli (2011, p. 30), afirma que “essas abordagens conferem à linguagem uma natureza social, deslocando a atenção na alfabetização de aspectos puramente formais para aspectos enunciativos-discursivos”. Aprender uma língua através da interação significa, primeiramente, aprender a dar sentido em um discurso que não significa, apenas, um amontoado de palavras e letras, pois essa criança percebera, em um primeiro momento, que poderá utilizar esta língua para poder, principalmente, se comunicar e pensar nesta língua alvo. A abordagem sociointeracionista vai de encontro com os conceitos de aquisição de linguagem propostas por Bakhtin e Vygotsky. Bakhtin (1979) afirma que a língua é um instrumento vivo e mutável, que sofre variação de acordo com o momento histórico e a sociedade. Sendo assim, ao considerarmos a língua portuguesa na modalidade escrita para surdos, em um primeiro momento, é necessário considerar a sua função comunicativa, pensando, especialmente, na forma como a pessoa surda irá se comunicar com falantes nativos da língua oral, na modalidade escrita, a fim de que consiga se expressar e se fazer entender no discurso. Sendo assim, “o aluno passa a ser visto como sujeito de interação, com condições para ‘transitar’ por diferentes discursos, em diferentes A linguagem então constitui o sistema de mediação simbólica que funciona como instrumento de comu- nicação, planejamento e autorregulação. É justamen- te pela sua função comunicativa que o indivíduo se apropria do mundo externo, pois é pela comunicação estabelecida na interação que ocorrem ‘negociações’, reinterpretações das informações, dos conceitos e sig- nificados até ocorrer internalização destas informações e conhecimentos ao longo de toda vida, de forma con- tínua, porém não-linear dada a particularidade do ser psicossocial (DAMACENA, 2020, p. 23). 65 Tomar a palavra, falar, escrever uma língua é enunciar, há muito mais do que palavras envolvidas neste pro- cesso. Falamos com o corpo, gestos, postura, e em situ- ações e contextos diversos. A língua constitui o sujeito, sua identidade, seu pensamento e sua consciência e, consequentemente, ideologia, por meio das relações sociais, entre grupos, no coletivo, propiciando o desen- volvimento do consciente humano, do conhecimento (DAMACENA, 2020, p. 23). A linguagem, com a qual o homem se comunica, ad- quire importância primordial nas relações professor/ aluno/escola/relações sociais, pois a educação como prática social é uma atividade ligada às relações entre as classes e se constitui como forma concreta dessas relações (RADAELLI, 2011, p.30). modalidades (oral, escrita) para construir um próprio. ” (RADAELLI, 2011, p.30) É em uma situação real que a língua ganha significado, deixando de ser palavras soltas e formando um discurso em que tanto o locutor quanto o interlocutor possam se entender. É através da interação que esses significados são formados e o discurso produzidode forma constante e real. Isto é, é através do contato entre seus pares que a criança consegue dar significado àquilo que está sendo dito, lido ou escrito, independente da língua que está utilizando. Em relação à criança surda, o papel da língua portuguesa escrita se torna ainda mais importante, por se tratar do mecanismo que essa criança utilizará para se introduzir na comunidade ouvinte, utilizando-a para que possa se comunicar, entender e se fazer entender em uma comunidade que não utiliza a sua língua materna. Costa (2000) defende que “na linha socioconstrutivista, sob uma perspectiva enunciativo-discursiva, a interação social é origem/gênese da aquisição/aprendizagem. ” (p. 12). De acordo com ele, a língua só é construída e entendida através da interação, pois apenas assim é possível a construção de sentidos únicos e específicos para aquele contexto, podendo ser, como afirma Bakhtin, mutável e variável, de acordo com a posição necessária naquele momento específico. Vygotsky propõe um processo de aprendizagem voltado para a andaimagem, isto é, em que a criança que ainda está em processo de aquisição da linguagem se apoia em um par mais experiente, possibilitando, assim, que ela possa aprender através do outro, de forma social e real, voltado para a sua realidade e a sua necessidade e, assim, utilizar a língua portuguesa na modalidade escrita de acordo com seus reais interesses. Isto demonstra que a concepção sociointeracionista preza pela aquisição e o aprendizado da língua através da interação social, proporcionando, assim, que a criança possa se desenvolver linguisticamente de forma real, baseada na sua realidade e no ambiente em que está inserido, considerando o seu conhecimento prévio e proporcionando a ampliação do mesmo, para que, assim, essa criança possa ser sujeita do seu discurso e, assim, possa se inserir de forma completa na comunidade ouvinte na qual está tornando-se participante. 66 Como já foi dito em diversos momentos, a língua portuguesa, para o surdo, é uma língua não materna. Isto significa que, quando falamos na aquisição dessa segunda língua, devemos pensar nas características das mesmas. Em relação ao aprendizado de uma língua não materna, algumas características tornam-se visíveis, não apenas em relação ao aluno surdo, mas também em relação ao ouvinte, significando que todo e qualquer aprendiz de uma outra língua apresentam etapas semelhantes no momento da aquisição linguística. Durante esse processo, alguns “erros” podem ser percebidos. Linguisticamente falando, eles são normais e aceitáveis, pois fazem parte do processo de aquisição de uma língua não materna, percebendo, assim, que as línguas não são iguais e cada uma apresenta a sua característica específica. Porém, cabe ao professor servir de apoio para que esse aluno consiga utilizar, não apenas de forma sistemática, mas também de forma real, a língua alvo Em relação à língua portuguesa na modalidade escrita para o surdo, o primeiro passo é, como já dito anteriormente, reconhecer que a língua materna do surdo, a língua de sinais, apresenta uma modalidade oposta à língua oral, isto é, uma é visuo- espacial enquanto que a outra é oral-auditiva. Esse reconhecimento proporciona ao professor um pensamento voltado a metodologias mais adequadas ao ensino para surdos, considerando, principalmente, o uso de materiais e estratégias visuais, para que assim o aluno possa ter amplo conhecimento e acesso ao que está sendo ensinado. Quando se fala em materiais visuais, não se pensa apenas em imagens. Alguns exemplos de atividades visuais podem ser vistos em jogos pedagógicos organizados pelo próprio professor, como jogos de tabuleiro, memória, forca, palavras cruzadas, caça-palavras e vários outros jogos. Pode-se, também, utilizar suportes tecnológicos, como vídeos em língua de sinais, histórias e contos em Libras, teatros sinalizados. Em relação ao material didático físico, o uso de imagens ilustrativas, gráficos e até mesmo imagem de sinais de Libras, como forma de elaborar um material bilíngue em língua portuguesa e língua de sinais. Vale lembrar que material visual não é apenas o uso de imagens em atividades e explicações. A visualidade precisa se encontrar em todos os aspectos do ensino- aprendizagem do surdo. Outro aspecto a se considerar é a língua materna desse aluno. A primeira língua servirá como base no aprendizado da segunda língua. Daí a importância da fluência do professor de PL2 também em Libras, pois assim ele conseguirá perceber as diferentes características interlinguisticas e, assim, percebendo o real desenvolvimento do aluno nessa nova língua. Um grande desafio encontrado pelo professor de língua portuguesa para surdo é, principalmente, o conhecimento das estratégias e das metodologias mais adequadas ao ensino de língua portuguesa como segunda língua pois, quando esse profissional passa por programas de graduação, normalmente não há disciplinas e capacitações específicas para que ele possa ministrar essas aulas. Quando o professor utiliza metodologias e estratégias voltadas ao ensino de língua portuguesa como primeira língua, normalmente as crianças surdas não conseguem obter um desempenho adequado no aprendizado linguístico pois esse professor 5.2 OS “ERROS” E “ADEQUAÇÕES” NA APRENDIZAGEM DE PL2 PELO SURDO 67 baseia-se nos conhecimentos linguísticos prévios que essa criança apresenta, isto é, baseado na audição, o aluno que está aprendendo a língua portuguesa como primeira língua já a conhece, percebendo suas estruturas gramaticais, fonológicas e discursivas, utilizando-as de forma relativamente correta, antes mesmo de adquirir a idade da alfabetização escolar. Já a criança surda, quando está adquirindo a língua portuguesa escrita, não possui esse conhecimento linguístico prévio, sendo assim, esse professor necessita de estratégias e metodologias que possibilitem que essa criança consiga não apenas a ler e escrever na língua portuguesa e sim, também, estratégias que deem significado em tudo o que ela está aprendendo na língua não materna. Com a implantação das escolas e turmas bilíngues, no ano de 2021 foi implementado, também, o currículo de língua portuguesa como segunda língua, no ensino regular, através do BNCC. Com a escrita desse novo protocolo, as diretrizes acerca do ensino de PL2 tornam- se mais palpáveis e específicas, dando uma direção ao professor, não sobre a forma de ensinar, mas esclarecendo algumas das características de aprendizado da criança surda, além da sua percepção sobre a língua portuguesa escrita, explicitando algumas metodologias e estratégias que podem ser utilizadas por esse professor. Ainda no mesmo documento, o caderno introdutório acerca do ensino de PL2 para surdos, disserta que Temos um histórico profissional que se funde à luta his- tórica da comunidade surda. Enquanto profissionais das diversas esferas de atuação na educação de estu- dantes surdos, não visamos fórmulas e nem verdades absolutas, mas nos reunimos em um esforço conjunto para complementar uma política nacional, educacio- nal e linguística, que venha orientar o ensino do por- tuguês escrito como segunda língua para estudantes surdos em todos os níveis, etapas e modalidades de ensino (FARIA-NASCIMENTO, 2021, p.10). A proposta curricular apresentada respeita a legisla- ção vigente voltada à educação brasileira, a saber, a Constituição da República Federativa do Brasil (CF), de 1988; a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei nº 9394/1996; o Plano Nacional de Educação (PNE), Lei nº 13.005/2014; a Lei Brasileira de Inclusão (LBI), Lei nº 13.146/2015; a Política Nacional de Alfabetização (PNA), instituída pelo Decreto 9.765/2019; a Lei de Libras, Lei nº 10.436/2002 e o Decreto que a regulamenta, o De- creto nº 5.626/2005, toma como base a Base Nacional Comum Curricular (BNCC – 2017), além de teorias vol- tadas ao ensino de segunda língua e ao ensino de se- gunda língua para surdos, que4.2 Desafios no Aprendizado De L2 ...........................................................................................................................................................................................................................................53 4.3 A Língua Portuguesa na Modalidade Escrita .............................................................................................................................................................................................................55 FIXANDO O CONTEÚDO .......................................................................................................................................................................................................................................................................58 LÍNGUA PORTUGUESA COMO L2 PARA SURDOS 5.1 Aquisição de L2 na Concepção Sociointeracionista .............................................................................................................................................................................................63 5.2 Os “Erros” e “Adequações” na Aprendizagem de Pl2 Pelo Surdo ................................................................................................................................................................66 5.3 A Presença da Interlíngua No Texto Surdo ..................................................................................................................................................................................................................68 FIXANDO O CONTEÚDO .........................................................................................................................................................................................................................................................................71 ABORDAGENS E METODOLOGIAS DE ENSINO DE L2 UNIDADE 5 6.1 A Concepção de L2 no Currículo Bilíngue ......................................................................................................................................................................................................................77 6.2 O Uso Dos Gêneros Textuais no Ensino de L2 .............................................................................................................................................................................................................79 6.3 Sequências Didáticas No Ensino De L2 ............................................................................................................................................................................................................................81 FIXANDO O CONTEÚDO.........................................................................................................................................................................................................................................................................85 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO.....................................................................................................................................................................................................................................88 REFERÊNCIAS ..............................................................................................................................................................................................................................................................................................88 ANÁLISE DE MATERIAIS DIDÁTICOS UNIDADE 6 8 UNIDADE 1 Na Unidade 01, apresentaremos as principais teorias de aquisição linguística, que são importantes para o desenvolvimento do aluno, tanto ouvinte quanto surdo. Faremos uma breve abordagem voltada ao Empirismo e o Racionalismo, ao Cognitivismo/ Construtivismo, e o Interacionismo, ressaltando seus principais conceitos e autores. UNIDADE 2 Na Unidade 02, estudaremos os conceitos de aquisição da linguagem pela criança surda, considerando seu ambiente de aprendizado, a sua aquisição de língua materna e a aquisição da língua não materna, pensando, principalmente, nas etapas e nos conceitos que é necessário para que o surdo possa estar inserido em uma sociedade linguística. UNIDADE 3 A Unidade 03 é voltada para o ensino de língua materna, L1, analisando as metodologias e abordagens de ensino, o ambiente em que está inserido que proporcione essa aquisição, os currículos voltados ao ensino de Libras e, também, o material didático disponível para o ensino de L1 ao aluno surdo. UNIDADE 4 A Unidade 04 é voltada para o ensino de L2 ao aluno surdo, considerando as principais diferenças linguísticas entre as duas línguas, a língua portuguesa na modalidade escrita e as dificuldades e desafios de aprendizado do aluno surdo em relação à sua língua não materna. UNIDADE 5 A Unidade 05 apresenta as principais abordagens e metodologias de ensino de L2, voltada para a concepção sociointeracionista, pensando nos “erros” e “adequações” que apresentam durante o aprendizado, além da presença e da importância da interlíngua no texto do aluno surdo. UNIDADE 6 A Unidade 06 é voltada para o material didático voltado para o ensino-aprendizagem do aluno surdo, pensando nas concepções de L2 no currículo bilíngue, a importância dos gêneros textuais na adaptação e na produção do material didático, pensando nas principais abordagens e metodologias visuais. C O NF IR A NO LI VR O 9 TEORIAS E ABORDAGENS DA AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM 10 1.1 INTRODUÇÃO A língua e a linguagem são tão naturais para a comunicação, a socialização e a interação do ser humano que mal pensamos em como e quando ela acontece, nem ao menos na importância que ela adquire na relação entre nós e a sociedade. Preocupados com isso, alguns estudiosos, como Chomsky, Piaget, Vygotsky e outros linguistas passaram a estudar os estágios de aquisição da linguagem, como ocorre e o desenvolvimento que a criança apresenta ao estar em contato com a língua. A aquisição linguística ocorre de forma que não se torne sistemática e forçada, considerando todos os tipos de língua, sendo ela oral ou gestual, além de ocorrer para todas as crianças, independentemente de ser uma criança ouvinte ou surda. Ao pensar em língua e linguagem, é necessário entender a diferença entre esses dois termos, que, de acordo com Milani (2008): Essa aquisição tem seu início em ambientes informais, como na própria casa da criança, em contato com seus familiares falantes da língua. Essa situação demonstra ser bastante comum quando pensamos em crianças ouvintes em contato com seus pares, possibilitando que a aquisição linguística ocorra de forma tão natural que nem pensamos nela, pois é “na linguagem, no diálogo, na interação, estão o tempo todo, o sujeito e o outro” (RADAELLI, 2011, p. 30) É necessário considerar, também, que “o processo de aquisição de linguagem, além de ser universal, é também rápido, uma vez que, por volta dos 4 anos de idade, quase toda a complexidade de uma língua é aprendida” (GROLLA, 2009, p. 03). Ela tem a característica de ser universal, uniforme e rápida, porém é necessário considerar, também, que a criança apresenta estágios de desenvolvimento linguístico, que são caracterizados pelos “erros” que pode cometer no decorrer da aprendizagem. Esses estágios, apesar de estarem relacionados com a idade da criança, nem sempre seguem E em relação à linguagem: A língua funciona como uma fórmula que ajuda os in- divíduos a interagirem entre si e com o mundo real. Ela é um elemento nacional: é reflexo do espírito do povo, ou espírito-nacional. Porém, o espírito-nacional só exis- te na mente dos indivíduos, porque ele é a organização cultural da nação. Desse modo, a língua, que é cole- tivamente nacional, só existe na mente dos indivíduos falantes. Ela faz parte do espírito-nacional, porém, ele só existe porque o falante faz uso da língua para dis- cursar. (p.124) Os aspectos dosenvolve peculiaridades dos aprendizes incluídos na Educação Bilíngue de Sur- dos (EBS). Desta forma, acrescenta-se aos referenciais citados, o Quadro Europeu Comum de Referência de Línguas (QECR), apresentado como referencial para o 68 ensino de segunda língua, como é o caso do português para os estudantes surdos e que foi adequado às es- pecificidades dos estudantes surdos e ao Sistema Edu- cacional Brasileiro por meio do Quadro de Referência para o Ensino de Português Escrito para Surdos (QREPS) (FARIA-NASCIMENTO, 2021, p.12). Sendo assim, em relação à língua portuguesa como segunda língua para alunos surdos, apesar de ainda ser um campo com pouco desenvolvimento, está passando por um processo que leva tempo, porém que já está se tornando uma realidade no aprendizado do surdo com a educação bilíngue que inclui a Libras como a primeira língua do surdo e a língua portuguesa na modalidade escrita como sua segunda língua. Com a implantação do Currículo Bilíngue para o surdo, o ensino de língua portuguesa como segunda língua para surdos toma forma e, assim, as características da escrita tornam-se evidentes, o que proporciona um melhor entendimento aos pesquisadores sobre a escrita da pessoa surda. Como já dito anteriormente, a língua portuguesa na modalidade escrita para o surdo é a sua segunda língua. Isso significa que, quando o surdo precisa utilizar essa língua, ele acaba utilizando o que conhecemos por interlíngua, que é uma característica que a maioria dos aprendizes de uma outra língua apresentam quando estão no processo de aquisição dessa língua alvo. A interlíngua é um processo que o aprendiz de uma língua não materna passa no decorrer do seu desenvolvimento linguístico na língua alvo. Essa característica não é especifica ao aprendiz surdo, estando presente, também, nos aprendizes ouvintes que estão aprendendo uma outra língua, ou mesmo que estão aprendendo uma língua de sinais. O aprendiz de uma língua não materna, ao passar pelo processo de aquisição linguística, utiliza a sua língua materna como base no aprendizado da língua-alvo. Este apoio linguístico possibilita ao aluno ter maior segurança na utilização da língua outra. Esse processo leva o nome de processo interlinguístico, e é o responsável pelos “erros” e “desvios” que aparecem na escrita e na fala desse aprendiz. Em relação à escrita em língua portuguesa do aluno surdo, a interlíngua se torna mais evidente, percebendo, mais claramente, as diferenças estruturais e gramaticais entre essas duas línguas. 5.3 A PRESENÇA DA INTERLÍNGUA NO TEXTO SURDO Dessa forma, é na escrita do surdo que está o efeito do seu conhecimento de libras, que é denominado de interlíngua na teoria de aquisição de segunda língua, constituindose a língua de transição entre a língua ma- terna do aluno e a língua alvo, semelhante à aquisição da escrita pela criança ouvinte.(DAMACENA, 2020, p. 42) A interlíngua seria um recorte adaptado de um siste- ma linguístico, o qual é, potencialmente falando, um modelo a ser adquirido/aprendido. Seria ela construída em diferentes fases e com características fonético-fo- 69 Isto demonstra que o aprendiz, ao se deparar com toda a carga gramatical de uma nova língua, no início do seu desenvolvimento, utiliza a base gramatical a qual está mais confortável, isto é, a sua língua materna. Através da presença da interlíngua no texto do aluno, o professor consegue perceber em qual ponto no desenvolvimento linguístico na língua alvo que o aluno está aprendendo. Essa influência da língua materna demonstra, não apenas, uma transcrição linguística, mas também cultural. Porém, algumas dessas influencias podem se mostrar negativas se o aprendiz não conseguir, em algum momento da aprendizagem, deixar essa influência de lado e passar a dominar a gramática da língua que está se desenvolvendo. Freitas Jr, et.al. (2018, p. 11), afirma que “a influência da língua materna representaria a influência de hábitos anteriores do aprendiz, alguns potencialmente úteis e outros potencialmente perigosos para o processo de aquisição de L2”. Quando falamos dos processos potencialmente úteis, nos referimos àqueles em que os alunos utilizam como suporte para a outra gramática, mas que irá desaparecer durante o seu desenvolvimento, proporcionando o uso da outra língua de forma mais completa. Já as interferências negativas são aquelas que os aprendizes se recusam a abrir mão, fazendo com o que não consigam se adaptar a essas novas estruturas. Esse processo possibilita ao professor de segunda língua perceber as dificuldades do aluno acerca da língua alvo, pois esse apoio linguístico demonstra os pontos em que o aluno ainda não se sente confiável a utilizar, faltando, assim, maior apoio e, muitas vezes, a utilização de outras estratégias de ensino, para que, assim, esse aprendiz realmente internalize a gramática e a estrutura da língua alvo, tendo uma aquisição eficaz. Assim, quanto mais ele tem segurança na utilização da língua materna, mais a interlíngua tende a desaparecer, dando espaço ao uso irrestrito da segunda língua. Vale ressaltar, também, que o processo de interlíngua é gramatical, isto é, não interfere no sentido que o aprendiz pretende dar àquele discurso e sim apenas na forma estrutural como esse discurso está sendo realizado. Sendo assim, a presença da interlíngua no texto do aluno não interfere ou modifica o sentido daquilo que está sendo dito. nológicas, lexicais, morfossintáticas e discursivas, que muitas vezes sai distorções e agramaticalidades na L2, podendo comprometer a inteligibilidade do processo comunicativo (FREITAS JR, et al., 2018, p.10). O sociointeracionismo é uma abordagem que proporciona ao aprendiz a aquisição de uma língua através do contato com seus pares usuários da língua-alvo, possibilitando que o aprendiz tenha contato com a língua real, de forma social. Enquanto o aluno sur- do passa por essa aquisição, apresenta, na sua escrita, a presença da interlíngua, pois, durante esse processo, ele utiliza a sua língua materna como base para a aquisição da segunda língua, mesmo sendo na modalidade escrita. FIQUE ATENTO 70 Considerando que a língua portuguesa, para o surdo, é tão importante quanto a língua de sinais, por se tratar de uma língua de interação com a comunidade ouvinte, a sua aquisi- ção precisa ser baseada em situações reais e sociais para que, assim, o aprendiz possa ter um entendimento completo da sua importância e dos seus usos. VAMOS PENSAR? Considerar o aprendizado de uma segunda língua vai muito além de apenas ter uma outra língua. Em relação ao surdo, essa aquisição é voltada, também, para o cultural e o social, pois é através da língua portuguesa escrita que ele se insere em uma comunidade ouvinte. Sendo assim, apresentamos outras bibliografias que podem colaborar com o seu aprendizado. • Vygotsky e a interação na aquisição da linguagem. Disponível em: https://bit. ly/3M8308u. Acesso em: 20 jan. 2022. • Leitura, escrita e surdez, de Maria Cristina da Cunha Pereira. • A linguagem e o outro no espaço escolar: Vygotsky e a construção do co- nhecimento, de Ana Luiza B. Smolka; Maria Cecília R. de Góes; Ana Lúcia Horta Nogueira; Cristina B. Feitosa de Lacerda; Ivone Martins de Oliveira; Roseli A.C. Fontana. BUSQUE POR MAIS Interlíngua: é o processo de aquisição linguística que o aprendiz apresenta ao utilizar a gramática da sua língua materna como base do aprendizado da língua alvo. Sociointeracionismo: abordagem sobre aquisição da linguagem proposta por Vygotsky que considera a língua como fator social, sendo assim, a interação com seus pares é o que proporciona essa aquisição. GLOSSÁRIO 71 FIXANDO O CONTEÚDO 1. O surdo, durante o processo de aprendizagem da língua portuguesa escrita, passa por um processo em que utiliza a sua língua materna como base dessa aprendizagem. Esse processo é conhecido por: a) erros e desvios ortográficos. b) interlíngua. c) língua de sinais escrita. d) espelhaçãoda língua oral. e) gramática normativa da língua alvo. 2. Qual a visão da língua na abordagem sociointeracionista? a) A língua é mortal e não precisa de interação para o seu aprendizado. b) Para aprender a língua portuguesa, é necessário apenas ter oralidade. c) A língua é vista como fator social e importante para a interação com o outro. d) A língua só tem importância para a leitura de textos literários. e) A língua tem um processo de aprendizado fixo e constante. 3. A Lei nº 10.436/02 trata especificamente da oficialização, aplicação e uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras e, ao estabelecer relação com a Língua Portuguesa, determina que: a) a Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a língua portuguesa em hipótese nenhuma. b) a Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa. c) a Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a modalidade oral da língua portuguesa. d) a Língua Brasileira de Sinais - Libras deve substituir a modalidade escrita da língua portuguesa. e) a Língua Brasileira de Sinais – Libras não é reconhecida como língua para a comunidade surda. 4. Qual é a tendência da interlíngua quando aparece no texto surdo? a) A interlíngua tende a desaparecer a medida em que o aluno se desenvolve linguisticamente na língua alvo. b) A interlíngua não desaparece de nenhuma forma do texto do aluno surdo. c) O aluno surdo não apresenta a presença da interlíngua no seu texto. d) Quanto maior o desenvolvimento linguístico na língua alvo do aluno, mais a presença da interlíngua se torna constante. 72 e) Quanto menor o desenvolvimento linguístico do aluno na língua alvo, menor a presença da interlíngua no texto surdo. 5. Considerando o texto do aluno surdo, o que é possível considerar? a) O surdo não consegue escrever em língua portuguesa. b) O surdo não consegue nem ler e nem escrever em língua portuguesa. c) O surdo só consegue escrever em língua portuguesa apresentando erros na sua escrita. d) O surdo apresenta a presença da interlíngua como indicador do seu desenvolvimento linguístico. e) O texto do surdo segue a norma culta da língua portuguesa nos seus mínimos detalhes. 6. Qual a importância da interlíngua no texto do aluno surdo? a) Nenhuma. b) O texto surdo não apresenta interlíngua. c) A interlíngua demonstra que o surdo apenas consegue escrever de forma errada. d) A interlíngua demonstra que o surdo não consegue escrever na língua portuguesa. e) A interlíngua possibilita ao professor perceber o estágio de desenvolvimento na língua alvo que o aluno se encontra. 7. Em relação à educação para surdos, o Plano Nacional de Educação (PNE) dispõe sobre a garantia da oferta de educação bilíngue, em escolas e classes bilíngues, para estudantes surdos. Nesse contexto, as escolas e classes bilíngues são aquelas que a) objetivam capacitar o surdo na compressão e produção do português oral e escrito. b) utilizam a LIBRAS e o português oral simultaneamente nas aulas. c) oferecem AEE em LIBRAS em sala de recursos multifuncional. d) têm a presença de um profissional tradutor e intérprete da LIBRAS. e) utilizam, no desenvolvimento de todo o processo educativo, a LIBRAS e a modalidade escrita da língua portuguesa como língua de instrução. 8. Leia as afirmativas a seguir: I. A aprendizagem de uma língua estrangeira não permite ao aluno comparar sua língua materna com o novo idioma em estudo. II. A Libras é um sistema linguístico de natureza visual-motora com estrutura gramatical própria. III. A Libras apresenta a mesma estrutura da língua portuguesa. Marque a alternativa CORRETA. a) As três afirmativas são verdadeiras. b) A afirmativa I é verdadeira, e a II e III são falsas. c) A afirmativa II é verdadeira, e a I e III são falsas. 73 d) As três afirmativas são falsas. e) A afirmativa III é verdadeira, e a I e II são falsas. 74 ANÁLISE DE MATERIAIS DIDÁTICOS 75 Como já foi visto anteriormente, o ensino de língua portuguesa na modalidade escrita como língua não materna ao estudante surdo é um processo novo, ainda estando em desenvolvimento pelos pesquisadores e estudiosos da área, o que faz com que os materiais desenvolvidos ainda sejam escassos e, algumas vezes, não cumpram com o objetivo do professor naquele momento. Quando falamos em material didático para o ensino de língua portuguesa não materna, nos deparamos, principalmente, com materiais voltados ao ensino para alunos ouvintes, mas, apesar de serem necessárias algumas adaptações para o ensino de alunos surdos, essas as abordagens e estratégias demonstram certa eficiência. Pesquisadores e estudiosos voltados para a educação de surdos, com a lei 14.191, de 2021, que possibilita a abertura de escolas e turmas bilíngues, alguns materiais estão sendo produzidos, principalmente voltados para o ensino de língua portuguesa como segunda língua para surdos. São materiais que abrangem, desde o ensino infantil, ao ensino médio, provendo a esse aluno a aquisição da língua portuguesa como segunda língua na modalidade escrita, como é seu direito garantido pela lei 10.436, de 2002 e reforçado pelo decreto 5.626, de 2005, que deixam claro que a língua brasileira de sinais, Libras, não substitui a língua portuguesa escrita. Mesmo havendo algumas semelhanças com o aprendizado do ouvinte, ainda há a necessidade de adaptações e programações voltadas para o ensino do aluno surdo. Como afirmam Guimarães e Silva (2016) Sendo assim, propostas e abordagens voltadas para o ensino de PL2 para surdos estão sendo inclusas nos programas de alfabetização e ensino de línguas, e, assim, materiais didáticos estão sendo produzidos para que, assim, possam cumprir com seus objetivos. Produzir ou adaptar um material didático voltado para o ensino de língua portuguesa como segunda língua para surdos vai muito além de ter um material com imagens e em Língua de Sinais. É necessário pensar em estratégias e metodologias de ensino de línguas que possibilite o aprendizado e o desenvolvimento do aluno surdo, demonstrando o uso da língua não apenas como decodificação de signos, mas também ensinando e mostrando que a língua não é apenas um amontoado de palavras, e sim que há significado no discurso proferido. Para isso, o professor precisa analisar e avaliar alguns pontos em relação ao aluno, inclusive questões voltadas à faixa etária, desenvolvimento linguístico na sua língua materna, desenvolvimento linguístico na língua alvo, conhecimento prévio entre outros. Além de considerar, também, a abordagem e o conceito que serão utilizados. Considerando o público alvo que será agraciado com o material didático produzido, a visualidade precisa ser considerada de forma completo, abrangendo não apenas imagens, utilizando percepções, situações e textos que façam parte da realidade do aluno surdo. O advento da tecnologia também colabora para a produção de material voltado para a visualidade e a língua de sinais. Apesar de comparável com o aprendiz ouvinte de PL2, o aprendiz surdo apresenta algumas especificidades re- lativas a sua condição sensorial, ao uso de uma língua espaço-visual e ao pertencimento a uma comunidade linguística minoritária é muito importante que o ensino de PL2 para esses aprendizes considere de forma ade- quada tais especificidades. 76 Esse material não poderá utilizar apenas uma língua, pois, por ser bilíngue, é necessário que tanto a língua de sinais quanto a língua oral escrita sejam valorizadas, com atividades que as incluam, pensando, em textos sinalizados e escritos. Basso e Capellini (2012), na página 498, afirmam que “cabe destacar a importância da LIBRAS para que o aluno surdo tenha acesso à cultura escolar, cultura essa baseada na modalidade escrita do Português. ” Isto demonstra que o material didático voltado para o surdo necessita ser visual, utilizando a Libras como base e fonte de ensino. Sendo assim, ao escolher ou produzir um material, é necessário considerar não apenas oseu conteúdo teórico, mas também a forma como esse material é produzido, a importância que dá para a língua de sinais e, principalmente, a forma como trata a língua portuguesa escrita. Isto é, a língua portuguesa, como forma de interação, além da Libras, valorizando, também, o seu uso real e social, possibilitando ao aluno a inserção na comunidade ouvinte. Sendo assim, os gêneros textuais e os textos precisam ser selecionados de acordo com o objetivo do aprendizado, incluindo situações reais que estão dentro do contexto do aluno surdo, isto é, situações textuais que façam sentido ao aluno surdo, estando dentro da sua realidade, em que ele possa se reconhecer na história. A leitura e a contação de histórias colaboram para o desenvolvimento cognitivo e social do aluno, pois possibilitam que essa criança possa conhecer e reconhecer situações que para ela façam sentido e a ajudem a entender seus sentimentos e necessidades. Os mesmos autores assumem que “não importa se a criança é surda ou ouvinte, a contação de histórias é um dos fatores fundamentais em sua educação estimula a leitura e a escrita. ” (BASSO, CAPELLINI, 2012, p.500) Em uma sociedade multicultural, há uma gama de movimentos e diversidades que tornam a particularidade da surdez apenas mais um ponto a ser considerado, pois, antes de serem surdos, esses alunos são seres humanos e, como tal, apresentam particularidades e especificidades que incluem uma personalidade, o ambiente em que está inserido, além das diversidades sociais que se tornam cada vez mais evidentes na sociedade atual. Neste cenário, há um currículo da escola brasileira, cujos documentos oficiais, tais como Referencial Curricular Nacional, para a Educação Infantil (RCNei), e Parâme- tros Curriculares Nacionais - Língua Portuguesa (PCN), para o Ensino Fundamental, destacam a importância da “Roda da história”, ou seja, um momento para que o professor leia histórias aos seus alunos. Além disso, a leitura de histórias é um dos aspectos fundamentais para o início do letramento das crianças, constituindo- -se em um dos objetivos para toda a Educação Infantil (BASSO; CAPELLINI, 2012, p. 493) Quando percebemos, e sempre percebemos que algo não vai bem nessa tentativa em estabelecer uma re- lação plena com o/a estudante, recorremos à criativi- dade, à teoria ou à imaginação para transformarmos essa realidade. Numa sociedade tão desigual, marcada por diferenças sociais gritantes, que se reflete em sala, como podemos estabelecer uma troca harmônica e 77 Sendo assim, o material didático para o aluno surdo vai muito além de apenas ter um material em língua de sinais. Esse material necessita de todo o aporte pedagógico, metodológico e linguístico voltado para, principalmente, as características visuais que estão constantemente relacionadas ao aprendizado do aluno surdo. A proposta curricular apresentada não é para o bilin- guismo, mas para a educação bilíngue dos estudan- tes surdos, embora leve ao bilinguismo dos surdos. Considera-se, no contexto desta proposta, o bilinguis- mo surdo como consequência da oferta da educação bilíngue de surdos. A Educação Bilíngue de surdos, por outro lado, atende a um ensino essencialmente VISUAL das línguas envolvidas e comporta dois aspectos fun- damentais: (i) o ensino EM Libras, isto é, mediado PELA Libras, como língua de ensino, instrução, comunicação e interação e PELO português escrito, como língua de instrução, presente somente nos materiais didáticos, textos impressos e em suportes visuais; também (ii) o ensino DE duas línguas: da Língua de Sinais Brasileira - Libras ou LSB, em todas as suas formas de representa- ção (articulada e escrita), e do português, na sua re- presentação escrita, A proposta curricular apresentada nesta obra está diretamente relacionada ao ensino de Português como Segunda Língua para Estudantes Sur- dos - PSLS. (FARIA-NASCIMENTO, 2021, p.12) mais homogênea no processo de aprendizagem? Uma sociedade multicultural, de origens e conhecimentos diferenciados, que em pleno século XXI, encontra enor- mes desafios para garantir uma gama cada vez maior de conhecimentos, vê, na escola, o lugar capaz de “tra- duzir” esse turbilhão de conhecimentos e informações (PEREIRA; ARRUDA, 2016, p. 104). As concepções de língua portuguesa como segunda língua para surdos vêm passando por mudanças no decorrer dos anos, e, assim, também durante essas decorrências, foram elaboradas diversas versões acerca das diretrizes e legislações impostas ao ensino de línguas. Pensar no tipo de abordagem que utilizaremos ao escolher ou produzir um material voltado para o ensino de PL2 para surdos é essencial, pois influenciará a forma como o aluno surdo terá acesso a essa língua. Com as novas diretrizes e legislação acerca do ensino de língua portuguesa como segunda língua para surdos, algumas direções são demonstradas. Voltados a essa concepção, percebe-se que a língua, de acordo com os novos cadernos sobre o ensino bilíngue para surdos, percebemos a valorização da língua de sinais como língua base para o aprendizado e o desenvolvimento do aluno surdo, valorizando a sua cultura e, principalmente, valorizando a sua comunidade surda. 6.1 A CONCEPÇÃO DE L2 NO CURRÍCULO BILÍNGUE 78 Sendo assim, as concepções de língua portuguesa como língua não materna seguem o mesmo padrão, voltadas, principalmente, para que o aluno possa se desenvolver linguisticamente na língua alvo voltado, principalmente, para que ele possa aprender e conhecer os sentidos dos discursos, utilizando-o de forma com que cumpra com seus objetivos comunicativos e, principalmente, para que o surdo possa compreender e se fazer compreender na língua em que está se desenvolvendo. As abordagens de língua portuguesa como segunda língua precisam ser voltadas para momentos de interação entre os pares, para que, assim, o aprendiz possa, além de utilizar a língua com o seu real objetivo, pensar em situações em que essa língua seria útil, utilizando seus pares como forma de se ancorarem, baseando-se nos princípios de ancoragem propostos por Vygotsky, em que o par mais experiente servem de apoio ao par menos experiente, para que, assim, ele possa se desenvolver sem a necessidade da normatização da língua. Essa normatização da língua, voltada para o ensino de gramática e da estrutura a língua portuguesa necessita ser reconstruída, pois a gramática se internaliza no aprendiz a medida em que ele aprende os seus usos, sendo necessário, apenas, que lhe seja ensinado a decodificar, de forma escrita, aquilo que já conhece. Essa decodificação, porém, quando voltada ao aluno surdo, torna-se mais complexa ao percebemos que esse aprendiz necessita, principalmente, de ter o conhecimento também dos seus significados. Sendo assim, as concepções de língua portuguesa como segunda língua para o aluno surdo parte não apenas do ensino de gramática e estrutura normativa, mas volta- se, também, para o desenvolvimento linguístico social, dando sentido e significado à língua alvo, para que, assim, o aprendiz possa produzir e dar sentido a discursos em uma situação social, tornando-se parte efetiva da comunidade usuária da língua portuguesa, tanto na modalidade oral quanto na modalidade escrita. É interessante considerar, também, a literatura e a produção surda, que pode trabalhar concomitantemente com a língua portuguesa escrita, servindo como base e apoio para a produção escrita. Isto demonstra a importância da valorização da produção surda, que trabalha em parceria com a produção escrita, tento como único objetivo o aprendizado do aluno surdo. Essa proposta bilíngue é a proposta que está inserida no currículo educacional, percebendo o uso dessas duas línguas. Sendo assim, ainda são necessárias questões voltadas para o letramento visual, isto é, o uso de atividades e metodologias que considerem as particularidades do surdo. Ainda de acordo com os mesmos autores, As comunidades surdas possuem muitos gêneros li-terários produzidos culturalmente por surdos atuantes nestas. Essas produções levam em consideração três aspectos: a LIBRAS, a cultura surda e a identidade sur- da. Os textos literários são carregados de sinais e toda experiência visual e estrutura gramatical presente na língua de sinais (MENCATO, ÂNGELO, 2021, p. 94-95). 79 Essas duas línguas precisam coexistir no currículo, pois, assim, o aluno surdo terá direito à educação de forma completa. Assim, considerando o letramento visual, o surdo apresenta toda a capacidade de desenvolvimento linguístico. Falar de letramento visual é proporcionar ao surdo a possibilidade de compreender e entender o mundo que o cerca através de imagens, isto é, possibilitar a leitura e a compreensão de textos através de imagens e formas visuais. Sendo assim, a valorização e a utilização da Libras e o uso de estratégias visuais possibilitam a esse aluno surdo o desenvolvimento linguístico tanto na sua língua materna quanto na língua portuguesa como segunda língua apenas na modalidade escrita. A metodologia de ensino bilíngue com base prioritária a LIBRAS é a mais adequada proposta educacional, pois os alunos irão ter contato com sua língua materna e simultaneamente com a língua portuguesa (como L2, na modalidade escrita). No entanto, este ensino precisa ser realizado dentro de um contexto de letramento vi- sual (MENCATO, ÂNGELO, 2021, p. 95). Letramento não se resume somente à ação de ler e escrever, incorporado a práticas de codificação ou de- codificação, como acontece no processo de alfabeti- zação, mas também, à utilização e disposição dessas habilidades em práticas sociais cotidianas de cada indivíduo. Em outras palavras, o letramento visual é a habilidade de interpretar, ler e compreender as infor- mações através de imagens, transformando as per- cepções visuais em objetos de estudo e dispondo de estratégias e práticas de leitura e escrita do que é isto, para que o indivíduo surdo possa utilizar imagens como recurso de ensino para desenvolver a comunicação e a cognição (MENCATO; ÂNGELO, 2021, p.97). Entendendo-se que o processo de leitura e de escrita envolve a mobilização tanto de conhecimentos sobre Como já dito no item anterior, as concepções e abordagens sobre a língua portuguesa como segunda língua para surdos são, comumente, voltadas para o uso social e real da língua. Sendo assim, por ser visual e ter acesso à língua portuguesa apenas na modalidade escrita, os gêneros textuais tomam um papel de extrema importância nessa aprendizagem. Os gêneros textuais são utilizados no ensino de PL2 para surdos torna-se essencial para a aprendizagem do aluno surdo devido a sua visualidade e variabilidade de informações que possibilitam a esse aprendiz o acesso não apenas a língua portuguesa escrita, como também acesso a situações do cotidiano que pode, inclusive, possibilitar o desenvolvimento do conhecimento prévio e do conhecimento de mundo desse aprendiz. 6.2 O USO DOS GÊNEROS TEXTUAIS NO ENSINO DE L2 80 a língua quanto sobre o contexto no qual é produzida, sobre o propósito dos interlocutores e suas habilidades no uso desta modalidade da língua e que o desenvol- vimento da leitura e da escrita ocorre através da pro- moção do potencial do aluno e da providência de input pelo professor, a abordagem do ensino a partir dos gê- neros argumenta que, ao se ensiná-los formalmente, deve-se estar atento não apenas para a realidade do texto em uso (seus porquês e para quês), mas também para as convencionalidades textuais (o modo de fun- cionamento textual) (SANTOS, 2007, p.22). É a importância de se diversificar as situações de leitura e escrita, de criar situações autenticas de produção de texto e leitura no interior da escola. É preciso que os tex- tos reais, fruto de situações reais de uso, passem a fa- zer parte do cotidiano escolar e não apenas os modelos escolares tradicionais baseados nos textos clássicos. Alega-se que não faz sentido ensinar formas textuais que não apresentam nenhuma função social e que só existem dentro dos muros da escola. Coloca-se, então, a necessidade de levar o aprendiz ao domínio dos di- ferentes textos tal qual eles aparecem nas práticas de referência. Isto porque, só a partir do domínio destes di- ferentes tipos textuais é que o aluno será capaz de res- ponder satisfatoriamente às exigências comunicativas que enfrenta no dia-a-dia. O professor, tendo em mãos essa variedade de material, precisa se orientar e saber utilizá-los de forma coerente e eficaz. Porém, escolher um gênero textual para ser utilizado como instrumento de ensino de língua portuguesa como língua não materna para surdos vai além de apenas escolher textos aleatórios, pois há uma série de critérios que há a necessidade de serem avaliados. Segundo Santos (2007, p. 18) Um dos critérios que é necessário analisar é a relevância desse gênero textual, de acordo com a concepção de língua como instrumento social, que é a principal abordagem utilizada no ensino de língua portuguesa não materna para surdos. Isto é, considerar a relevância do gênero textual abordado significa considerar todo o papel que esse texto terá na construção do conhecimento desse aluno, percebendo as suas reais necessidades de desenvolvimento linguístico. Gêneros textuais como receitas, currículos, manuais, entre outros, são gêneros considerados de utilidade pública, pois são necessários para que o surdo possa compreender processos simples existentes na sociedade. Como afirma Teixeira (2017) “os textos, além de terem grande abrangência social, precisam fazer parte do cotidiano do aluno, pois, assim, a leitura permitirá que o aprendiz faça associações com seu conhecimento prévio e infira significados”. É necessário, também, considerar a Literatura Surda. Essa literatura apresenta características específicas diferentes da Literatura ouvinte. Apesar de ser voltada para o uso da Libras, não tendo reprodução em língua portuguesa escrita, a Literatura Surda retrata um panorama social consistente com a cultura surda, possibilitando, assim, que a criança consiga se ver como participante, não apenas como espectador. 81 Como afirmado, não é difícil constatar que nos últimos dois séculos foram as novas tecnologias, em especial as ligadas à área da comunicação, que propiciaram o surgimento de novos gêneros textuais. Por certo, não são propriamente as tecnologias per se que originam os gêneros e sim a intensidade dos usos dessas tecno- logias e suas interferências nas atividades comunica- tivas diárias. Assim, os grandes suportes tecnológicos da comunicação tais como o rádio, a televisão, o jornal, a revista, a internet, por terem uma presença marcan- te e grande centralidade nas atividades comunicativas da realidade social que ajudam a criar, vão por sua vez propiciando e abrigando gêneros novos bastante ca- racterísticos. Daí surgem formas discursivas novas, tais como editoriais, artigos de fundo, notícias, telefonemas, telegramas, telemensagens, teleconferências, video- conferências, reportagens ao vivo, cartas eletrônicas (e-mails), bate-papos virtuais, aulas virtuais e assim por diante (MARCUSCHI, 2003, p. 20) A escolha dos gêneros textuais também precisa considerar a faixa etária desse aluno, além do seu desenvolvimento linguístico tanto em língua portuguesa como em Libras. Quando se fala em processos de alfabetização infantil, por exemplo, é necessário escolher um texto apropriado a essa idade, isto é, um texto que utiliza uma linguagem mais clara, com recursos imagéticos e história propícia à idade, além de considerar, também, alguns exemplos de gêneros são contos de fadas, fábulas. Da mesma forma que, se o aluno estiver no ensino médio, tendo uma idade a mais, esses gêneros textuais não terão a mesma eficiência, então é necessário a escolha de textos com uma temática mais adulta, como contos, crônicas e até mesmo currículos, receitas, e gêneros voltados para situações especificas. Além disso, é necessárioconsiderar, também, a existência de novos gêneros textuais, não apenas aqueles já conhecidos. Com o advento da tecnologia e a abrangência da internet, novos gêneros textuais estão surgindo, gêneros estes voltados ao mundo virtual, como, por exemplo, textos em redes sociais, diálogos em aplicativos de conversa e mesmo vídeos em aplicativos específicos. É necessário que esses novos gêneros textuais sejam vistos e entendidos não apenas como textos estruturados e de características especificas, mas também como forma de comunicação, pois como afirma Marcuschi (2003, p. 21) “é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum gênero, assim como é impossível se comunicar verbalmente a não ser por algum texto. Em outros termos, partimos da idéia de que a comunicação verbal só é possível por algum gênero textual”. Quando falamos de produção de material didático e de gêneros textuais no ensino de língua portuguesa na modalidade escrita para surdos, é interessante considerar, também, a sequência didática, que é o conjunto de atividades cuja sequência proporciona continuidade no aprendizado. 6.3 SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS NO ENSINO DE L2. 82 Pensando no melhor aproveitamento do aluno surdo, uma sequência didática proporciona um aprendizado dividido em partes que, ao final, colaboram para o desenvolvimento linguístico do aluno. Dividiremos essa sequência didática em três partes, que serão citadas como pré-atividade, atividade e pós-atividade. A pré-atividade é realizada em um momento inicial, acontecendo antes da realização da atividade propriamente dita. Durante a pré-atividade, o professor proporciona ao aluno uma situação voltada ao desenvolvimento do seu conhecimento de mundo, procurando “inserir o aprendiz em práticas sociais dando a ele a oportunidade de ser sujeito do discurso e vivenciar situações de uso. Isso inclui acionar o conhecimento enciclopédico assim como propiciar exposição linguística, mantendo o estado de conversa. ” (SALIÉS, 2011, p.10). Neste momento, realiza-se conversas sobre o tema que será abordado. O professor realiza perguntas de modo a atiçar a curiosidade dos alunos, fazendo com que eles consigam conversar sobre o assunto, proporcionando a possibilidade de interação programada, isto é, uma interação comandada de forma velada pelo professor. Durante esta interação, o professor se mantém no controle da exposição, direcionando o diálogo para o objetivo da sequência, apresentando outros textos do mesmo gênero que será abordado na atividade, para que, assim, o aluno possa conhecer e direcionar seus conhecimentos e seu desenvolvimento. É necessário lembrar que essa etapa é realizada em Libras, com o professor fluente em Libras ou a ajuda de um intérprete. A próxima etapa é a atividade, em que o professor escolhe um gênero textual, e um texto específico para trabalhar de forma mais detalhada com os alunos. Durante essa escolha, é necessário considerar a faixa etária e o interesse da turma sobre o tema, significando que a escolha textual precisa ser feita de forma meticulosa. Este momento é realizado tanto em língua de sinais como em língua portuguesa. O professor deixa que o aluno tenha um primeiro contato com o texto, observando seus apoios visuais, explorando o título e a estrutura do gênero escolhido. Após o primeiro contato do aluno surdo com o texto escrito, o professor passa a sinalizá-lo, para que, assim, o aprendiz possa ter um entendimento completo do texto exposto. Questões de interpretação de texto proporcionam, tanto ao professor quanto ao aluno, a percepção do desenvolvimento linguístico. Neste momento, o professor apresenta textos primários e secundários, conversando sobre eles, sua estrutura, suas principais características, apresentando atividades interpretativas e dissertativas. É durante a atividade que ocorre a primeira produção escrita do aluno, pautada nos gêneros textuais expostos e no direcionamento do professor quanto ao que é necessário ser elaborado. É interessante que o professor converse com os alunos antes da elaboração do texto, talvez, até mesmo, elaborando um exemplo com os aprendizes em um primeiro momento. Ao receber o texto produzido, é interessante que o professor faça uma análise do desenvolvimento linguístico do aluno, isto é, que ele perceba, através do texto, os pontos que ainda precisam ser trabalhados, a presença e a constância da interlíngua que ainda aparece na produção. É através de todos esses pontos que o professor se prepara para o momento da pós-atividade. Após perceber os pontos que ainda necessitam ser desenvolvidos, o professor baseia a preparação da pós-atividade nas dificuldades do aluno. Algumas atividades 83 podem ser feitas, nesse momento, considerando toda a turma, como, por exemplo, fazer uma reescrita conjunta do texto de um aprendiz específico, ou mesmo entregar os textos de forma aleatória para os alunos em duplas, para que façam a reescrita da atividade do outro. Saliés (2011, p. 12) salienta que esses momentos “são fundamentais para reforçar o peso das associações, construídas ao longo do processo, pois é o momento em que cada aluno deve se perguntar o que foi que aprendeu”. Como pode-se perceber, é durante a pós-atividade que é realizada a reescrita, que pode ser feita tanto de forma individual quanto coletiva. Com ela, o aluno consegue perceber e reconhecer as suas dificuldades, além de perceber o seu próprio desenvolvimento linguístico, o que acaba se tornando uma forma de motivação ao ver a sua mudança tornando-se um incentivo a mais para o aprendizado de língua portuguesa na modalidade escrita. Sendo assim, percebemos que, através dessa sequência didática, conseguirmos passar por todos os momentos de desenvolvimento linguístico do aluno, percebendo, claramente, o desenvolvimento linguístico do aluno, que passa pelo processo interlinguístico, deixando de utilizar a Libras como base da sua escrita e utilizando cada vez mais a estrutura da língua portuguesa. Em relação à interação interlinguística, a maior parte do desenvolvimento da pré-atividade, com conver- sas sobre os gêneros textuais, foi realizada em Libras, a língua materna dos alunos na qual se sentem mais confortáveis, sendo utilizada a língua portuguesa escri- ta para a aquisição/aprendizagem do vocabulário. Du- rante a atividade, a Libras se tornou secundária pouco a pouco e cedendo à língua portuguesa na modalidade escrita, oportunidade para que os alunos pudessem in- teriorizar a língua-alvo. A Libras se tornou mais presen- te novamente na pós-atividade, durante comparações linguísticas entre a língua de sinais e a língua portugue- sa, enquanto a língua escrita apareceu no reescrita dos textos já produzidos (DAMACENA, 2020, p.56). Com o currículo bilíngue em pauta, a produção de material didático voltado para o ensi- no de língua portuguesa como segunda língua na modalidade escrita para surdos torna- -se essencial para o aprendizado do aluno surdo. Sendo assim, o uso de gêneros textuais para a aquisição de L2 torna-se essencial para que o aprendiz consiga ter contato com a língua escrita. FIQUE ATENTO 84 Quando tratamos de língua portuguesa como segunda língua para surdos, nos depara- mos com a escassez de material didático voltado para esse ensino. Isso significa que o professor necessita pensar e considerar todo o aporte já existente e, com isso, basear-se para a produção de novos, considerando, principalmente, a variedade dos gêneros textu- ais que facilitam essa aprendizagem. VAMOS PENSAR? Considerando o uso dos gêneros textuais no material didático para o ensino de língua portuguesa como segunda língua, é necessário perceber que sempre é importante perceber diferentes estratégias de abordagem. Assim, esse material torna-se importante para o desenvolvimento didático. • Conceitos centrais sobre o ensino de línguas adicionais por meio de gêneros textuais. Disponível em: https://bit.ly/3M2tt7t. Acesso em: 20 jan. 2022. • O texto na sala deaula, de João Wanderley Geraldi • Produção de materiais didáticos para o ensino de português como Língua Estrangeira, de Jovania Maria Perin Santos. BUSQUE POR MAIS 85 FIXANDO O CONTEÚDO 1. Qual a importância do gênero textual no aprendizado em língua portuguesa do surdo? a) O gênero textual é insignificante quando tratamos do aprendizado do surdo. b) A grande variedade de gêneros textuais possibilita ao surdo um aprendizado mais amplo em relação a língua portuguesa. c) É necessário escolher apenas um gênero textual correto para que o surdo consiga aprender a língua portuguesa. d) Gêneros textuais que não fazem parte da realidade do surdo possibilita um aprendizado mais amplo. e) O professor precisa ensinar a língua portuguesa apenas com palavras isoladas, sem utilizar os gêneros textuais. 2. Em relação ao material didático voltado para o aluno surdo, é importante considerar que: a) apenas textos escritos, sem considerar a Libras. b) o material didático é voltado apenas para a Libras. c) o material didático não precisa ser adaptado, sendo o mesmo utilizado por aprendizes ouvintes. d) o material didático necessita de variedades textuais, apoio visual e suporte da língua de sinais. e) o surdo não precisa de material didático para aprender a língua portuguesa. 3. De acordo com as concepções de L2 no currículo bilíngue, a língua portuguesa é ensinada como? a) Metodologias do ensino de língua não materna apenas na modalidade escrita. b) Metodologias de ensino de língua materna, apenas na modalidade escrita. c) Metodologias de ensino de língua materna, de forma oral. d) Metodologias de ensino de língua materna na modalidade escrita. e) A língua portuguesa não é ensinada ao aluno surdo. 4. O que o professor precisa considerar quando realiza a escolha dos gêneros textuais para a aprendizagem de língua portuguesa do aluno surdo? a) Os textos podem ser escolhidos aleatoriamente. b) Quanto maior o texto, maior o aprendizado do aluno surdo. c) O professor precisa considerar textos com linguagem complexa e arcaica. d) O professor precisa considerar textos com linguagem simples, para que o surdo não precise se esforçar na leitura. e) É interessante considerar a realidade do aluno surdo e a relevância que o texto terá para o aprendiz. 86 5. Em relação a gênero textual escolhido pelo professor, considere as afirmativas. Assinale a alternativa correta. I. É necessário considerar a faixa etária do aluno ao escolher o texto. II. É necessário considerar a relevância do texto para os alunos. III. O texto pode ser escolhido sem nenhuma consideração, desde que seja interessante. a) Apenas a I é verdadeira. b) Apenas a II é verdadeira. c) Apenas a III é verdadeira. d) Apenas a II e a III é verdadeira. e) Apenas a I e II é verdadeira. 6. Os termos que completam a frase abaixo são: O ensino bilíngue, sem dúvida, pressupõe uma _________________ do currículo, a começar pela língua de instrução, que seria a Libras e não mais a Língua Portuguesa. Essa última deveria ser ensinada ___________________, com metodologia de ensino de segunda língua, de forma que ela não se torne um fator de exclusão na escola. a) Flexibilização, em sua modalidade escrita b) Adaptação, por professor ouvinte c) Adaptação, com registros d) Introdução, em sua modalidade escrita e) Flexibilização, por professor ouvinte 7. Segundo Quadros (2010), a aprendizagem da Língua Portuguesa como L2 na modalidade escrita é importante para pessoa surda, pois é através da língua oral que a pessoa surda terá informação de forma independente na sociedade. Na educação do surdo, o bilinguismo representa não só a aprendizagem da Língua de Sinais como L1, mas representa questões de ordem: a) linguística, social e cultural. b) social, cultural e cognitiva. c) política, social e cultural. d) linguística, psicológica e cognitiva. e) política, social e econômica. 8. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de referência nacional para a formulação dos currículos dos sistemas e das redes escolares dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Possui caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica, de modo a que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento (http:// basenacionalcomum.mec.gov.br). Considerando as etapas de Educação Infantil e Ensino Fundamental da Educação Básica, assinale a alternativa CORRETA referente a Estrutura Geral da BNCC: 87 a) Educação Infantil: Campos de Experiência → Direitos de aprendizagem e desenvolvimento → Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento (Bebês – Crianças bem pequenas – Crianças pequenas). b) Educação Infantil: Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento → Campos de Experiência → Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento (Bebês – Crianças bem pequenas – Crianças pequenas). c) Ensino Fundamental: Componentes Curriculares → Competências Específicas de Área → Áreas do Conhecimento → Competências Específicas de Componente: Anos Iniciais e Anos Finais: Unidades Temáticas – Objetos de Conhecimento – Habilidades. d) Ensino Fundamental: Áreas do Conhecimento → Objetivos → Componentes Curriculares → Competências Específicas de Componente: Anos Iniciais e Anos Finais: Unidades Temáticas – Objetos de Conhecimento – Habilidades. e) Ensino Fundamental: Áreas do Conhecimento → Competências Específicas de Área → Componentes Curriculares → Competências Específicas de Componente: Anos Iniciais e Anos Finais: Unidades Temáticas – Objetos de Conhecimento – Habilidades. 88 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO UNIDADE 1 UNIDADE 3 UNIDADE 5 UNIDADE 2 UNIDADE 4 UNIDADE 6 QUESTÃO 1 D QUESTÃO 2 D QUESTÃO 3 B QUESTÃO 4 A QUESTÃO 5 B QUESTÃO 6 B QUESTÃO 7 D QUESTÃO 8 D QUESTÃO 1 B QUESTÃO 2 D QUESTÃO 3 A QUESTÃO 4 D QUESTÃO 5 C QUESTÃO 6 A QUESTÃO 7 C QUESTÃO 8 B QUESTÃO 1 C QUESTÃO 2 B QUESTÃO 3 B QUESTÃO 4 B QUESTÃO 5 C QUESTÃO 6 E QUESTÃO 7 A QUESTÃO 8 D QUESTÃO 1 C QUESTÃO 2 A QUESTÃO 3 D QUESTÃO 4 B QUESTÃO 5 E QUESTÃO 6 A QUESTÃO 7 B QUESTÃO 8 C QUESTÃO 1 B QUESTÃO 2 C QUESTÃO 3 B QUESTÃO 4 A QUESTÃO 5 D QUESTÃO 6 E QUESTÃO 7 E QUESTÃO 8 C QUESTÃO 1 B QUESTÃO 2 D QUESTÃO 3 A QUESTÃO 4 E QUESTÃO 5 E QUESTÃO 6 A QUESTÃO 7 A QUESTÃO 8 E 89 ALMEIDA, M.U.; QUEIROZ, G.A. Libras como componente curricular para instrução de crianças com surdez no ensino fundamental I. Revista Científica Eletrônica de Ciências Aplicadas da FAIT, Ano VII, v. 13, n.2, dezembro 2018 ANDREIS-WITKPSKI, S.; DOUETTES, B.B. Educação bilíngue de surdos: implicações metodológicas e curriculares. In.: Educação de Surdos em Debate. 1. Ed. Curitiba: Ed. UTFPR, 2014. 264 p. BASSO, S.P.S.; CAPELLINI, V.L.M.F. Relatos de Experiência. Programa de Pós-Graduação em Educação. Revista Eletrônica de Educação, v. 6, n. 2, nov. 2012., Universidade Federal de São Carlos, Brasil. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. BRASIL, Lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002. BRASIL, Lei nº 14.191, de 3 de agosto de 2021. BRASIL, Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. BRITO, M.D.O. et al.. Adaptação de material para alunos surdos de acordo com a base nacional comum curricular – bncc.. Anais VI CONEDU... Campina Grande: Realize Editora, 2019. 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No lado da compreensão, a criança entende ordens, como por exemplo, “me dê um beijo” (GROLLA, 2009, p. 07). No caso da criança, seu desenvolvimento global sen- do extremamente complexo, é possível distinguir dife- rentes tipos de estágios, de acordo com o aspecto em análise. Na Aquisição da Linguagem, portanto, a identi- ficação de estágios é uma tarefa muito delicada: qual- quer sistema proposto produzirá estágios particulares, quanto mais específico o sub-sistema em análise, mais particulares os sub-estágios. Dessa forma, para que o pesquisador não caia em ilusões de generalidade, é esse padrão. Os estágios de desenvolvimento linguísticos foram estudados de forma detalhada pelos estudiosos, mas iremos trabalhar, agora, de forma sucinta, pois, apesar de importantes na aquisição da linguagem, nosso foco é nas teorias linguísticas e suas abordagens que explicam a sua aquisição pela criança. Nesses estágios, Oliveira e Bezerra (2018, p. 09), afirmam que “os estágios da evolução mental, apresentados por Piaget são: sensório-motor ( 0 a 18/24 meses ); pré-operatório (2 a 7 anos); operatório concreto (7/8 a 11/12 anos); operatório formal (11/12 anos em diante).” Essa aquisição linguística inicia-se nos primeiros meses de vida, com o choro e sons que não apresentam nenhum significado específico, porém baseiam-se no ritmo das línguas. Aos seis meses, as crianças começam a balbuciar algumas sílabas, além de produzir uma quantidade maior de sons e ritmos, já conseguindo distinguir palavras nos enunciados. Com dez meses, inicia-se balbucios específicos, em que tentam reproduzir sons que já conhecem e estão familiarizados, começando a dar significado naqueles sons que conhecem. Quando a criança completa um ano, aumenta seu potencial de falante da língua, adaptando-se ao input linguístico em que está inserido, sendo neste período o momento em que começa a produzir suas primeiras palavras, normalmente aquelas a que mais está em contato, como “papai” e “mamãe”. Com um ano e seis meses, ela inicia o processo de formação de sentenças, juntando duas palavras em uma frase e compreendendo as sequências frasais produzidas pelos adultos. Aos dois anos, ela comete alguns desvios de concordância ou conjugações verbais, porém já formula frases mais completas e complexas, produzindo novos temas. A partir dos três anos, a criança já possui um vocabulário extenso, com o conhecimento das estruturas gramaticais da língua. Os desvios que apresenta são menos frequentes, mostrando conhecer as sequências e usos da língua que está adquirindo. Porém, vale ressaltar a complexidade quanto à divisão linear dos estágios de desenvolvimento linguístico, pois, de acordo com Perroni (1994, p. 11): 12 preciso ter sempre em mente o lugar do sub-sistema em análise no conjunto das competências cuja cons- trução se estuda. No conceito da língua existem duas abordagens: a prescritiva que é a normativa e se aplica aos falantes da língua e usos linguísticos, já a abordagem científica está ligada ao modelo da teoria gerativa de Chomsky em que trata da língua e linguagem dentro dos concei- tos da língua E e da língua I (SOUZA, 2015, p. 02). “Os diaristas que observavam a linguagem dos seus próprios filhos, realizavam estudos com uma metodolo- gia descritiva, longitudinal, que consistia em acompa- nhar o desenvolvimento da linguagem de uma criança por um longo tempo, anotando o que a criança diz. ” (OLIVEIRA; BEZERRA, 2018, p.02) É a universalidade da linguagem que possibilita o seu desenvolvimento também por crianças surdas, que utilizam uma língua gestual. Vale considerar, também, que os estágios de aquisição da criança surda se assemelham ao da criança ouvinte, porém com a diferença de que a primeira utiliza uma língua visuo-espacial enquanto que a última, uma língua oral-auditiva. Grolla (2009, p. 12) afirma que “considerando a universalidade da linguagem, é natural que crianças surdas, expostas à língua de sinais, apresentem um paralelo em relação aos estágios de aquisição das línguas orais”. O tema abordado remete a vários estudos e pesquisas, que possibilitaram o surgimento de diversas teorias e abordagens sobre a aquisição da linguagem. Cada uma dessas abordagens apresenta teorias distintas sobre como a criança adquire a linguagem, porém, uma característica comum a todas elas é a de que todo e qualquer ser humano pode e adquire a linguagem a fim de realizar a comunicação com seus semelhantes, pois, conforme Radaelli (2011), é através da linguagem que o homem dá sentido às coisas. Ao estudarmos os processos de aquisição da linguagem, percebemos diversas teorias, que se propõem a preencher as lacunas de como a criança adquire uma língua, pois nem sempre é a mesma dos seus pais, mas sim adquire a língua da comunidade em que está inserida. A aquisição da linguagem começou a ser estudada por linguistas que utilizavam seus próprios filhos como objetos de estudos, analisando seu desenvolvimento linguísticos e os estados em que ela se encontrava, considerando seus avanços e desvios. Esses estudiosos eram conhecidos como diaristas. Com essa inicialização nas pesquisas linguísticas, iremos trabalhar com as três principais correntes teóricas e seus percussores, pensando nas características de cada uma delas e de como interfere na aquisição linguística das crianças. Essas três principais teorias são o empirismo, o racionalismo e o interacionismo social. Abordaremos detalhadamente cada uma dessas três teorias no decorrer do capítulo. 13 À medida em que a criança tivesse um reforço positivo, a tendência era que o comportamento, nesse caso, a linguagem se mantinha; nessa mesma linha de pensa- mento, a resposta pode ter um reforço negativo cau- sando a eliminação do comportamento; e quando não há nenhum tipo de reforço (positivo ou negativo) a ten- dência é que o comportamento desapareça (OLIVEIRA; BEZERRA, 2018, p.04). a aquisição da linguagem compreendida com base no behaviorismo, apresenta alguns problemas, a saber: a aquisição do léxico, que obscurece a diferença en- tre referência e significado; a competência, pois não há uma explicação na teoria behaviorista que explique o fato de a criança, em seu processo de aquisição da lin- guagem, produz e compreende sentenças que nunca ouviram antes de seus interlocutores (OLIVEIRA; BEZER- RA, 2018, p.05) 1.2 EMPIRISMO E O RACIONALISMO O empirismo é uma teoria de aquisição linguística voltada para a experiência, sem considerar a mente como parte do funcionalismo da aquisição da linguagem, isto é, a mente não apresenta um papel significativo na aquisição. Ela ocorre, na verdade, como resultado de estímulos e respostas que fazem com que a criança consiga realizar uma aquisição linguística de forma completa. Essa teoria subdivide-se em duas outras, o behaviorismo e o conexionismo. Falaremos um pouco sobre cada uma delas. O behaviorismo tem como principal percursor Skinner, que acredita que a criança responde a estímulos, e de acordo com esses estímulos, ela desenvolve uma resposta, positiva ou negativa. Sendo assim, a criança só adquire a língua materna de acordo com os estímulos que ela recebe, significando que, se ela receber um estímulo positivo, terá um aprendizadoda língua, porém, se o estímulo for negativo, a resposta da criança em relação à essa aquisição também será negativa, o que prejudicará o aprendizado. Apesar da teoria explicar os processos de aquisição linguística, Oliveira e Bezerra (2018, p. 05) assumem que o behaviorismo não responde algumas questões da aquisição da linguagem, como a rapidez do aprendizado pela criança além de que Para tentar responder a essas questões, surge o conexionismo, ainda dentro da teoria do Empirismo. O conexionismo, ao contrário do behaviorismo, considerada que a aquisição da linguagem ocorre com a participação ativa da mente. Essa corrente estrutura que, ao invés de o estímulo vir do meio externo, ele vem dos sensores neurais, sendo os neurônios os responsáveis por ativar e reforçar todos os estímulos de aprendizagem. Oliveira e Bezerra (2018) afirmam que “a aprendizagem acontece por meio de estímulos (dados de entrada) e resposta (dados de saída) com as conexões neurais por meio das interações entre o organismo e o ambiente. ” (p.06) Sendo assim, apesar de necessitar dos estímulos externos, a aprendizagem ocorre 14 verdadeiramente na mente, em meio aos estímulos e conexões neurais que o cérebro proporciona para a fixação daquilo que é aprendido. Porém, há ainda a necessidade de esclarecimentos sobre alguns pontos, pois o conexionismo ainda não consegue explicar a rapidez com que a criança adquire a língua e nem como essa aquisição ocorre. Temos, ainda, a teoria de aquisição da linguagem conhecida como Racionalismo, que tem como seu principal representante Noam Chomsky. Essa teoria tenta preencher as lacunas deixadas pelo Empirismo, tratando, principalmente, da existência da mente e do seu papel na aquisição da linguagem. Segundo Chomsky, a língua pode ser interna ou externa, isto é, individual e social. A língua interna, ou língua – I refere-se ao entendimento pragmático, lexical enquanto que a língua externa, ou língua – E está relacionada ao uso social da língua, as situações, discursos e semânticas da língua. Souza (2015, p. 01) afirma que “a língua interna é individual cognitiva e mental e psicológica, seus aspectos são intrínsecos ao homem” enquanto que “a língua externa é sociocultural, compreendem os sons, palavras, regras gramaticais, escrita, gerando comunicação e interação, perpassando pelos aspectos cognitivos, psicológicos, socioculturais”. O cognitivismo, ao contrário do Behaviorismo que considera o desenvolvimento cognitivo como forma de aquisição da linguagem, considera, o exterior e o ambiente que o cerca, pois é através dele que os significados serão formados e idealizados. Sendo assim , o cognitivismo se opõe ao aprendizado mecanizado e arbitrário, considerando que, quando a criança aprende algo novo, ela necessita de conhecimentos prévios para que possa assimilar e armazenar a nova informação de modo a construir relações e sentidos naquilo que é desconhecido. Isto é, ocorre quando novos conhecimentos se processam juntamente com informações já existentes, formando uma teia de informação que são armazenadas de acordo com a necessidade do aprendiz. 1.3 COGNITIVISMO/CONSTRUTIVISMO O Cognitivismo contrapõe e dá ênfase ao que é igno- rado pela teoria behaviorista, que tem seu foco nos aspectos biológicos e no comportamento humano, por meio da análise da mente. É uma abordagem que implica estudar cientificamente a aprendizagem não como um fator internalizado do indivíduo mecanica- mente, mas como um produto do ambiente, das pes- soas e de fatores externos, criando assim uma rede de significados (COELHO; DUTRA, 2018, p. 59). A cognição é o processo por meio do qual o mundo de significados tem origem. Os significados não são enti- dades estáticas, mas pontos de partida para a atribui- ção de outras significações que possibilitam a origem da estrutura cognitiva sendo as primeiras equivalên- cias utilizadas como uma ponte para a aquisição de novos significados (SANTOS, 2006, p. 101) 15 Ao contrário de uma aprendizagem mecânica, que é considerada uma forma de decorar fórmulas e conceitos prontos, a aquisição linguística através do cognitivismo considera uma aprendizagem voltada para a relação entre o que já foi aprendido e o que se está aprendendo, significando que, dependendo do conhecimento prévio que cada um desses alunos apresenta, o significado da aprendizagem se torna único. É importante considerar, também, que é necessário que o aprendiz passe por momentos que possibilite a construção e a descontrução de conceitos, para que, assim, possa perceber e equilibrar os conceitos que já tinham. A criança apresenta a necessidade, a intenção e o interesse de aprendizado, o que proporciona um desenvolvimento social, emocional, racional e sensorial, isto é, a criança teria um aprendizado mais completo. Já a teoria do construtivismo tem como seu principal representante Piaget, considera o aprendiz detentor do seu conhecimento, utilizando toda o seu conhecimento prévio e conhecimento de mundo, para que possa formar uma teia de conceitos, possibilitando-o a solucionar novos problemas e situações. Nesta concepção, o aluno se torna detentor do papel ativo na aprendizagem, enquanto o professor se torna o mediador, isto é, a criança aprendiz, através de todo o conhecimento que já possui, rege o aprendizado, enquanto o professor-mediador é o responsável por guia-lo nesse caminho, considerando todo o processo dessa criança, mostrando-lhe, porém não de forma arbitrária, os conceitos apreendidos. Isto significa que, para ambos, a interação está presente no aprendizado da criança e, sendo assim, demonstra o começo da teoria do Interacionismo, como veremos a seguir. A cognição, portanto, enquanto visão de como o indiví- duo internaliza e externaliza as informações que rece- be transformando-as em conhecimento significativo, pode envolver uma grande estrutura comportamental quando transferidas para o campo do desenho instru- cional em um ambiente virtual de aprendizagem (COE- LHO; DUTRA, 2018, p. 62). O construtivismo defendido por Piaget parte do princí- pio de que o saber não é algo que está concluído, e sim um processo em constante construção e concepção em resultado da interação com o meio, a partir daí a personalidade do indivíduo vai ser formando (COELHO; DUTRA, 2018, p. 63). Compreende-se, dessa forma, que ao dimensionarem o processo de aprendizagem, tanto Piaget quanto Vy- gotsky levam em conta a interferência de aspectos bio- lógicos, cognitivos, emocionais e sociais e defendem a interação como fator essencial no processo de cons- trução do conhecimento. Este postulado conduz à con- cepção de que as interações estão sempre presentes na aprendizagem (COELHO; DUTRA, 2018, p.64) 16 O interacionismo é a teoria de aquisição da linguagem voltada para a interação entre a criança e a sociedade, pois é através dela que o aprendiz adquire a língua da comunidade em que está inserida. Um dos principais percursores desta vertente foi Vygotsky, que considera a importância do apoio nos seus pares para adquirir a linguagem. Durante essa interação, a criança começa a perceber a língua e as informações que nela estão contidas para, que assim, possam formular, eles mesmos, suas hipóteses de significado e sentido. Vygotsky assume, também, que essas hipóteses são formuladas de acordo com a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), pois “a criança, em seu processo de aquisição da linguagem passa por uma fase de transição entre o que consegue fazer sozinha e o que ainda não é capaz de fazer sozinha, a chamada Zona de Desenvolvimento Proximal. (OLIVEIRA e BEZERRA, 2018, p.10). Damacena (2020, p. 23) afirma que Em outras palavras, a criança, através da interação com o outro, consegue internalizar o aprendizado da língua, utilizando o exemplo e a experiência existente na comunidade como base, em uma situação chamada por Vygotsky de andaimagem, onde aquele mais experiente serve como apoio e base para a aquisição linguísticadaquele par menos experiente. Essa relação não é, necessariamente, a de uma pessoa mais velha em relação a uma criança. Ela pode acontecer em diversas situações, inclusive entre duas crianças em fase de aquisição linguística que estão em contato, pois vale lembrar que as crianças nem sempre estão no mesmo estágio de desenvolvimento linguístico, portanto, o simples contato de uma criança em contato com outra que esteja em um desenvolvimento linguístico mais avançado proporciona um incentivo para que ela possa aprender utilizando a língua como objeto de interação social. E é considerando essa necessidade de contato social que, baseado no interacionismo, surge o interacionismo social que é 1.4 INTERACIONISMO Percebemos, em sala de aula, estes avanços e retro- cessos no dia-a-dia escolar. Nas crianças, o contato mediado, isto é, perpassado por um outro da interação, como os familiares das crianças ou professores, um par mais experiente em determinadas funções linguísticas pode ou não favorecer os processos de internalização que vão ser estruturando e transformando linguagem em funções linguística por meio do pensamento. A perspectiva teórica baseada no interacionismo social propõe que no processo de aquisição da linguagem, a criança é um sujeito que participa ativamente do seu processo de construção do conhecimento, no caso es- pecífico, da linguagem, através da mediação do outro (OLIVEIRA; BEZERRA, 2018, p.10) 17 Sendo assim, a criança se torna o centro da aprendizagem, sendo sujeito do seu próprio desenvolvimento. Essa teoria valoriza a interação social e o papel que a sociedade tem na aquisição linguística. Porém, o outro tem um papel de fundamental importância, pois é o orientador e mediador desse conhecimento e aprendizado, além de ser o facilitador do conhecimento que a criança está adquirindo. Essa abordagem desvia a atenção do aspecto de alfabetização meramente formal, e proporciona um a visão social, voltado para pensamentos da análise do discurso e seus significados. A aquisição da linguagem apresenta diversas teorias que têm, como objetivo, compre- ender o processo de aquisição da língua e da linguagem, percebendo tanto os processos passados pela criança, quanto considerando teorias que demonstram apenas a mudan- ça comportamental relativa à idade. FIQUE ATENTO Considerar a aquisição de uma língua demonstra ser um processo detalhado, que con- sidera não apenas o indivíduo, como também questões relacionadas com o ambiente, o social, o cognitivo e o biológico. Sendo assim, ao passar pelo processo de aquisição de uma língua, a criança passa, também, pelo processo de aquisição de uma identidade, uma cultura e, principalmente, adquire um meio de se comunicar e interagir com o outro. VAMOS PENSAR? As teorias da aquisição da linguagem, tanto de língua materna quanto de lín- gua não materna demandam atenção e estudos, devido a quantidade de abor- dagens e conceitos que envolvem a língua. Sendo assim, esses são alguns ma- teriais complementares para entendermos um pouco mais sobre esse assunto. Biblioteca Person - A sociolinguística e a língua materna de Rita do Carmo Polli da Silva. Teorias da Aquisição da Linguagem, disponível em: https://bit.ly/ 38T9ISt. Acesso em: 20 jan. 2022. BUSQUE POR MAIS Linguagem: é a capacidade do ser humano de produzir formas e meios de se comuni- car, incluindo em forma de dança, música, pinturas e outras manifestações artísticas, sem desconsiderar a capacidade de utilizar a língua como forma de comunicação. Língua: é o conjunto de códigos, sejam orais ou gestuais, com regras gramaticais e es- truturas específicas que, ao se organizarem, possibilitam uma comunicação. Reforço Positivo: é o estímulo que se baseia em elementos que aumentam a probabi- lidade do recebimento de uma resposta positiva, normalmente sendo baseado em re- GLOSSÁRIO 18 compensas. Reforço Negativo: é o estímulo que se baseiam em elementos que aumentam a proba- bilidade da não realização de uma resposta negativa, baseado no término de recom- pensas. 19 FIXANDO O CONTEÚDO 1. O desenvolvimento da linguagem reflete a interação entre os fatores sociais, cognitivos e linguísticos. Nesse sentido, é CORRETO afirmar que a) a experiência da criança com o mundo social dificulta o desenvolvimento da linguagem. b) atrasos na aquisição da linguagem se devem, exclusivamente, a fatores emocionais. c) a linguagem não interfere no processo de desenvolvimento e aprendizagem da criança. d) o desenvolvimento da linguagem divide-se em dois estágios: o pré-linguístico, quando os bebês usam os sons, sem palavras e o linguístico, quando usam as palavras. e) pensamento e linguagem são processos dissociáveis e autônomos que não se relacionam. 2. As teorias que envolvem os estudos sobre a aquisição da linguagem, embora controversas, têm recebido cada vez mais espaço nas investigações dos cientistas da área. Sobre as teorias de aquisição de linguagem, é correto afirmar: a) Apesar das teorias propostas por Jean Piaget e Noam Chomsky se confrontarem, estas possuem os mesmos princípios básicos, podendo ser complementares. b) Segundo Jean Piaget, os indivíduos nascem com diversas potencialidades (capacidades), dependendo da exposição ao meio para seu pleno desenvolvimento. c) Segundo Chomsky, a base do conhecimento é a transferência e assimilação de estímulos, reorganização e acomodação deste estímulo. d) A teoria de Chomsky afirma que o indivíduo nasce com capacidades inatas e cabe ao meio apenas estimular este potencial já existente. e) Segundo Vygotsky, a criança se desenvolve linguisticamente estando isoladas da sociedade, sem a necessidade de interação entre seus pares. 3. Os estudos sobre o processo de aquisição de linguagem tiveram grande impulso no século XX. Entre as principais teorias que surgiram, podemos destacar a Inatista, a Behaviorista, o Cognitivismo Construtivista e a Sociointeracionista. Considerando as diferentes implicações dessas teorias, a aquisição da linguagem, a) segundo a teoria Behaviorista, está relacionada a um dispositivo que é acionado quando a criança é exposta à língua materna. b) de acordo com a teoria Construtivista, depende do desenvolvimento cognitivo da criança. c) se acordo com a teoria Inatista, considera a interação como um espaço em que a criança se constrói como sujeito. d) para a teoria Sociointeracionista, ocorre pelo estímulo e resposta e pelo reforço positivo e negativo. e) para a teoria Construtivista, ocorre pelo estímulo e resposta e pelo reforço positivo e negativo. 20 4. Teoria que considera a aquisição da linguagem como um processo de imitação ou um reflexo do desenvolvimento cognitivo: a) Inatismo. b) Behaviorismo. c)Bilinguismo. d) Gerativismo. e) Sociointeracionismo. 5. Teoria que supõe que a criança tem uma predisposição inata para adquirir estruturas cognitivas: a) Inatismo. b) Behaviorismo. c) Bilinguismo. d) Grafologia. e) Interacionismo. 6. Nos estudos relacionados à linguagem infantil, especialmente na teoria de Chomsky, as crianças são dotadas de um ? que lhes permite realizar corretamente a análise gramatical das sentenças com base nos dados da fala a elas apresentados. O termo que completa a lacuna(?) é: a) Estrutura remota. b) Dispositivo da aquisição da linguagem. c) Estrutura superficial. d) Estrutura profunda. e) Estrutura média. 7. Sobre as teorias de aquisição e desenvolvimento da linguagem, é correto afirmar: a) a teoria inatista parte do pressuposto de que a linguagem é um comportamento e que, como tal, pode ser aprendida e modificada. b) a teoria pragmática e a teoria dos atos de fala são desdobramentos da teoria inatista que buscam explicar a aquisição da linguagem. c) na teoria piagetiana, a linguagem é vista como uma faculdade, ou seja, um mecanismo inato, biólogico, suscetível às influências do ambiente que a fazem emergir do estado inicial, não sendo, portanto, um comportamento. d) no interacionismo de Vygotsky, o pensamento e a linguagem possuemorigens diferentes e curvas de desenvolvimento bem distintas, mas que irão se encontrar e se separar diversas vezes ao longo do desenvolvimento infantil. e) a teoria behaviorista parte do pressuposto que os atos biológicos são atos de adaptação ao meio físico e à organização do meio ambiente e os atos cognitivos são fundamentais para a organização do meio e adaptação a ele. 8. No tocante à aquisição da linguagem, a teoria de Jean Piaget afirma que: 21 a) o indivíduo nasce com capacidades inatas e existem universais cognitivos e linguísticos, cabendo ao meio apenas o estímulo a esse potencial. b) nos primeiros meses de vida, linguagem e pensamento são fenômenos de desenvolvimento que independem de estímulo do meio. c) todo indivíduo nasce com um conhecimento atávico de uma gramática geral e universal, cabendo ao meio ativar esse conhecimento. d) os indivíduos nascem apenas com a capacidade de aprender, então o desenvolvimento depende da exposição ao meio e dos estímulos que ele provê. e) por volta dos 2 anos de idade, as curvas de evolução do pensamento e da linguagem se encontram e passam a ser interdependentes. 22 AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM 23 Como visto na unidade anterior, a aquisição da linguagem ocorre de forma natural, universal e rápida para qualquer criança, porém é necessário que ela esteja inserida em um ambiente linguístico, que será o responsável para que adquira uma língua. Isto é, se o ambiente linguístico for em língua portuguesa, a criança irá adquirir a língua portuguesa. Se for um ambiente linguístico em língua de sinais, esta será a língua adquirida. Em relação ao ambiente linguístico, quando pensamos na criança surda, percebemos algumas particularidades na aquisição da linguagem. A criança surda, em um panorama geral, nasce em uma família ouvinte, com pais, avós e familiares que utilizam a língua oral, que não é natural ao surdo. Ora, mas é a universalidade da linguagem, não se aplica aqui? De forma resumida, Milani (2008) relata que “ a linguagem é uma capacidade inata nos seres humanos, enquanto a língua é uma materialização social e histórica dessa capacidade. Dessa forma, a linguagem humana não muda: o que muda é a língua, que é fruto da força do pensamento atuando na linguagem” (p. 126) Visualizando essa diferença entre língua e linguagem, voltamos ao ambiente linguístico em que a maioria das crianças surdas estão inseridas. Como já foi dito, normalmente uma criança surda nasce em uma família ouvinte, que faz parte da comunidade linguística falante da língua portuguesa na modalidade oral, que não é a língua natural desta criança. Quando falamos em língua natural, nos referimos à língua materna, pois, apesar da comunidade linguística ser de língua portuguesa, a língua materna do surdo é a língua de sinais. Isto significa que o surdo precisa adquirir uma língua diferente daquela que tem contato. Nesse sentido, as crianças surdas apresentam dificuldades em relação a aquisição de uma língua, pois, nesse contexto apresentado, ela não conta com o apoio de um par mais experiente para mediar essa aquisição, já que está inserida em uma sociedade que não utiliza a sua língua natural. Tendo isso em mente, é necessário pensar que a criança surda apresenta uma dificuldade maior em ter uma aquisição linguística, porém não é impossível que essa aquisição aconteça. Analisando uma outra realidade, a criança surda, em contrapartida, pode nascer em uma família que utiliza a língua de sinais como língua de interação. Quando isso acontece, a aquisição linguística da criança surda acontece de forma semelhante à da criança ouvinte, isto significa que, independentemente de ser surda ou ouvinte, a criança adquire uma língua, principalmente, se estiver inserida em uma comunidade que a utiliza como língua de interação. Consideramos a língua como “um meio de transmissão de ideias e informação de persuasão, conscientização, libertação e dominação, exteriorizando os pensamentos” e ainda que “o uso da linguagem perpassa por expressões e estruturas psicológicas da decodificação do código linguístico dentro das palavras, orações, texto. ” (SOUZA, 2015, p. 02-03) No decorrer do capítulo, veremos como a criança surda adquire tanto a sua língua materna, que chamaremos de Língua 1 (L1) quanto a sua língua não-materna, chamada de Língua 2 (L2), pois, apesar das semelhanças com uma criança ouvinte, apresenta suas particularidades. 2.1 INTRODUÇÃO 24 Antes de falarmos das questões sobre aquisição linguística da criança surda, é necessário entender que não existe apenas um único tipo de surdez. Isto é, o surdo não é apenas surdo, existem tipos e graus de surdez que são necessários ser considerados quando falamos de aquisição linguística pela criança surda. Cada um dos tipos de surdez apresenta características específicas em relação a essa aquisição. Há três tipos de surdez, a leve, a moderada e a profunda. Detalharemos cada uma delas e quais as características de aquisição da linguagem que cada uma apresenta. A surdez leve é uma perda auditiva mínima, que não influencia no dia a dia da criança. Esse tipo de surdez normalmente é recorrente da maioria das pessoas, já que não temos uma audição totalmente perfeita. A criança que apresenta a surdez leve, não é considerada surda, pois, como já foi dito, não influencia no dia a dia da criança. Sendo assim, a aquisição da linguística acontecerá praticamente da mesma forma da criança ouvinte, com todos os estágios de desenvolvimento da língua que ela apresenta. Um outro tipo é a surdez moderada. Essa criança apresenta uma perda auditiva em que é necessário o uso de aparelhos auditivos para que ela possa ouvir normalmente. Elas não são consideradas surdas, e sim deficientes auditivas, por apresentam resíduos auditivos, sendo assim, conseguem conhecer e reconhecer a língua oral, o que faz com que a aquisição linguística seja facilitada por conseguirem ‘ouvir’ a língua oral da sociedade em que está inserida. Com a surdez moderada, a criança pode adquirir a língua oral, além de, se estiver em contato com a comunidade surda, também adquirir a língua de sinais. 2.2 CONTEXTOS DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM DA CRIANÇA SURDA Pessoa com surdez leve – indivíduo que apresenta per- da auditiva de até quarenta decibéis. Essa perda impe- de que o indivíduo perceba igualmente todos os fone- mas das palavras. Além disso, a voz fraca ou distante não é ouvida. Em geral, esse indivíduo é considerado desatento, solicitando, freqüentemente, a repetição daquilo que lhe falam. Essa perda auditiva não impe- de a aquisição normal da língua oral, mas poderá ser a causa de algum problema articulatório na leitura e/ou na escrita (LIMA, 2006, p.19). Pessoa com surdez moderada – indivíduo que apre- senta perda auditiva entre quarenta e setenta decibéis. Esses limites se encontram no nível da percepção da palavra, sendo necessária uma voz de certa intensida- de para que seja convenientemente percebida. É fre- qüente o atraso de linguagem e as alterações articula- tórias, havendo, em alguns casos, maiores problemas lingüísticos. Esse indivíduo tem maior dificuldade de discriminação auditiva em ambientes ruidosos. Em ge- ral, ele identifica as palavras mais significativas, tendo dificuldade em compreender certos termos de relação e/ou formas gramaticais complexas. Sua compreensão verbal está intimamente ligada à sua aptidão para a percepção visual (LIMA, 2006, p.19) 25 Quando a criança apresenta surdez profunda, ela é considerada surda. Neste caso, ela não apresenta resíduos auditivos, o que faz com que ela não esteja inserida na comunidade linguística oral. Se essa criança não tiver contato com a comunidade linguística sinalizada, provavelmente não terá uma aquisição linguística, utilizando sinais, gestos e balbucios que não são uma língua, mas que servirão como forma de comunicação, normalmente apenas no seio familiar. Em contato com a comunidade surda, a aquisição de língua de sinais éfacilitada e ocorre de forma rápida, praticamente com as mesmas características da aquisição linguística de uma criança ouvinte. Após conhecermos os tipos de surdez, outra situação que influencia na aquisição linguística é o ambiente familiar dessa criança. A motivação e incentivo dos pais e familiares para que ela possa ter uma língua é extremamente importante, pois assim a criança mantém contato social e consegue se desenvolver linguística e socialmente. É necessário, também, compreender que a surdez não é uma questão clínica, podendo ser “curada” de forma médica e sim uma questão sociocultural, tendo uma comunidade usuária de uma língua própria que proporciona interação entre esses membros. Em uma família ouvinte, que não tem o domínio de língua de sinais, a criança apresenta dificuldade na aquisição da linguagem, porém, se a família utilizar a língua de sinais, ela pode adquirir essa mesma língua, da mesma forma que uma criança ouvinte, porém uma língua sinalizada, o que pode favorecer e colaborar, também, para a aquisição da língua escrita, que não é a mesma da sua língua materna. Há, ainda, a surdez severa, que está entre a surdez moderada e a surdez profunda. Nesse momento, o indivíduo está encaminhando para a surdez profunda. Apesar de ainda apresentar resíduos auditivos e algumas vezes fazer o uso de aparelhos auditivos para se comunicar, esse surdo também tem a necessidade de utilizar a língua de sinais como forma de comunicação. Pessoa com surdez severa – indivíduo que apresenta perda auditiva entre setenta e noventa decibéis. Este tipo de perda vai permitir que ele identifique alguns ruídos familiares e poderá perceber apenas a voz for- te, podendo chegar até aos quatro ou cinco anos sem aprender a falar. Se a família estiver bem orientada pela área da saúde e da educação, a criança pode- rá chegar a adquirir linguagem oral. A compreensão verbal vai depender, em grande parte, de sua aptidão para utilizar a percepção visual e para observar o con- texto das situações (LIMA, 2006, p.19). A surdez, sendo de grau severo ou profundo, impossibi- lita a comunicação sonora com o mundo exterior. Este tipo de surdez pode comprometer o ajustado desenvol- vimento da criança, nomeadamente se for pré-linguís- tica ou pré-locutória, ou seja, se surgir na criança antes da emergência da fala. Se a surdez ocorre depois de a criança adquirir oralidade, designa-se de pós-locutória e as suas implicações têm um impacto menor no seu desenvolvimento (MATOS, 2014, p. 53). 26 Como já dito anteriormente, para Vygotsky a aquisição linguística acontece em contato com seus pares, em uma situação de andaimagem, em que o par mais experiente colabora com o aprendizado do par menos experiente, proporcionando um desenvolvimento linguístico mais completo ao aprendiz. O surdo, naturalmente, torna-se uma pessoa bilíngue, pois possui a língua de sinais, sua língua materna, como L1 e a língua oral na modalidade escrita, sua língua não materna, como L2. Porém, para que isso acorra, vários fatores da aquisição linguística precisam ser considerados. Entre eles, o ambiente em que essa criança está inserida. A mesma autora afirma, ainda, que: Entende-se assim que, embora o surdo esteja inserido em uma sociedade e em um núcleo familiar cuja maior parte utiliza a língua oral majoritária, ele também está ligado – direta ou indiretamente – a espaços e pesso- as que se comunicam por uma língua de sinais. Reco- nhecer, portanto, a condição bilíngüe do surdo implica aceitar que ele transita por essas duas línguas e, mais do que isso, que ele se constitui e se forma a partir de- las. A língua de sinais, historicamente tão rechaçada, passa a ser percebida como parte positiva da vida do surdo, como elemento indispensável para garantir sua apropriação dos elementos culturais, de integração à sociedade e de acesso ao conhecimento – acadêmico ou não –, além de um bom desenvolvimento cognitivo e afetivo (PEIXOTO, 2006, p. 206). Reconhecer a condição bilíngüe do surdo é, portanto, apenas o começo de uma longa e intrigante travessia de descobertas e desafios. O acolhimento necessário e imprescindível da língua de sinais, como primeira lín- gua do surdo e língua escolar, devolve ao surdo a espe- rança, ao mesmo tempo em que nos convoca a pensar sobre os processos e práticas construídos – agora – à luz dessa nova condição. A subjetividade do surdo e todos os processos relacionados a ela ganham novas nuanças, delineando-se talvez de forma diferente ao que supúnhamos acontecer quando a língua de sinais era – radicalmente – negada e as práticas pedagógi- cas eram, quase exclusivamente, mediadas pela língua oral. Se for modificada a forma do mundo interagir com o surdo, entende-se que também vão se alterar os mo- dos como o surdo se relaciona com o mundo, nas apro- priações e leituras que fará da realidade ao seu redor (PEIXOTO, 2006, p.207) Antes de começarmos a falar sobre a aquisição da L1 ou língua materna pela criança surda, precisamos conhecer, primeiramente, qual é essa língua. A lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002 reconhece a Libras (Língua Brasileira de 2.3 AQUISIÇÃO DE L1 PELA CRIANÇA SURDA 27 Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expres- são, em que o sistema lingüístico de natureza visual- -motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. A língua de sinais é a via de comunicação preferencial para crianças surdas, já que ela constitui uma autên- tica linguagem em toda a riqueza de seu significado funcional, enquanto que a pronunciação das pala- vras, inculcada artificialmente carece da riqueza viva e é apenas uma cópia morta de linguagem viva (SILVA; SENA, 2015, p. 131). A LIBRAS se diferencia das línguas orais, pelo fato de utilizar o meio visual espacial, enquanto que as línguas orais utilizam do meio oral auditivo, sendo assim, a Li- bras usa o espaço e as dimensões que ele oferece, for- mulando e desempenhando os aspectos ‘fonológicos’, morfológicos, sintáticos e semânticos, e estes são per- cebidos pelos seus usuários também através do espa- ço (SILVA; NOGUEIRA, 2014, p.01). Tal experiência visual não é restrita a uma capacidade de produção e compreensão especificamente linguís- tica ou uma modalidade singular de processamento cognitivo, mas que se traduz em todos os tipos de sig- nificações, representações e/ou produções do surdo, seja no campo intelectual, linguístico, ético, estético, ar- tístico, cognitivo, cultural, etc (GESUELI, 2006, p.279). Sinais) como a língua oficial da comunidade surda, em seu “Art. 1o É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados” (BRASIL, 2002). E ainda, nesta lei, que A partir desta lei, a Libras se torna reconhecidamente a língua oficial da comunidade surda, e com isso, adquire todos os direitos e deveres que vem com ela, incluindo o seu uso na comunidade surda. Sendo assim, a criança surda, quando passa pela aquisição da linguagem, nos referimos à sua língua materna, a Libras. Ela ocorre com as mesmas características da aquisição da língua oral pela criança ouvinte. Como a criança ouvinte, a criança surda adquire a Libras ao estar em contato com seus pares, em um ambiente que utiliza essa língua como forma de interação. A língua portuguesa, no caso a L2 da criança, ou língua não-materna, é aprendida apenas na modalidade escrita. A língua de sinais, por ser visuo-espacial, tem como base o sistema motor, pensando na anatomia visual e não oral-auditiva. Para que ocorra a aquisição da língua pela criança surda, é de suma importância a participação da família nesse processo, proporcionando uma experiência visual e linguística, com a utilização de sinais da Libras juntamente com todos os seus aspectos gramaticais.28 Os estágios de desenvolvimentos linguísticos da criança surda equivalem aos estágios apresentados pelas crianças ouvintes, que já foram apresentados no capítulo anterior. Sendo assim, praticamente a única diferença é relacionada a estrutura da língua, oral ou sinalizada. Os surdos passam por referenciais linguísticos e culturais próprios, diferentes dos das crianças ouvintes, porém, ao mesmo tempo que compartilham dos mesmos referenciais linguísticos e culturais dos ouvintes, fazendo com que o surdo faça parte de duas culturas e duas sociedades, crescendo em um ambiente bilíngue. “Na interação verbal, a língua é instrumento de ação de fatores contextuais e de princípios que regulam o comportamento verbal, como a cooperação e a relevância, além de operações cognitivas de raciocínio e inferência”. (SALLES, 2004, p.81-82). Isto significa que é de acordo com o objetivo da interação que a língua é organizada e aprendida. O outro media a comunicação de acordo com os interesses do aprendiz, para que possam assimilar e adquirir a língua de uma forma completa. Sem esse contato com o outro e a interação com a sociedade falante da língua, a criança não consegue ter uma aquisição voltada para o uso real da língua, sem o entendimento dos seus significados e sentidos. Para que a aquisição aconteça, é necessário que se apresente às crianças diversas situações reais e variadas, para que ela possa entender todo o significado da língua. É preciso lembrar, ainda, que estamos falando da aquisição da língua materna da criança surda, isto é, a Libras. A língua no contexto social manifesta-se na atitude discursiva, em que os interlocutores pressupõem um conhecimento compartilhado e atualizam recursos ex- pressivos, cujos efeitos de significação são interpreta- dos de acordo com fatores psicossociais, em um mo- mento histórico. ” (SALLES, 2004, p.82) Como já foi dito anteriormente, o surdo é naturalmente bilíngue e, sendo assim, ele passa pela aquisição da sua língua materna, a Libras e pela aquisição da sua língua não materna, a língua portuguesa, que, é adquirida apenas na modalidade escrita. O fato de o surdo ter a aquisição da escrita de uma língua que não a sua, torna o processo muito mais complexo e complicado, sendo necessário considerar alguns critérios para que o surdo realmente aprenda a escrever a língua oral, não apenas em questões de ortografia, mas conseguir dar sentido àquilo que lê e escreve. O ensino da escrita para crianças surdas ainda passa por estudos e pesquisas. Atualmente, a filosofia educacional utilizada é a do Bilinguismo, em que a criança utiliza a sua língua materna como língua de instrução e interação e aprende a língua oral apenas na modalidade escrita. Bakhtin considera a língua como parte do discurso, tendo significado para aquele que a produz e aquele que a recebe. Sendo assim, não basta apenas que o surdo saiba ler e escrever, é necessário que ele consiga dar significado no discurso, pensando em quem e para quem se quer escrever. Por não ter acesso ao sistema fônico da língua oral, o processo de aprendizado 2.4 AQUISIÇÃO DE L2 PELA CRIANÇA SURDA 29 Inicialmente, o surdo irá aprender uma língua de mo- dalidade diferente, ou seja, não se trata simplesmente de aprender uma L2, mas também de aprender uma segunda modalidade de língua, uma língua oral-audi- tiva diferente da língua espaço-visual que é sua L1 (GUI- MARÃES, SILVA, 2016, p. 82). Diferente das crianças ouvintes, no entanto, a aquisição da escrita pelas crianças surdas vai ser intermediada pela língua de sinais, uma língua visual-espacial, com gramática própria, e que permite às pessoas surdas desempenharem as mesmas funções que os ouvintes por meio da linguagem oral (PEREIRA e ROCCO, 2009, p. 139) da língua escrita torna-se sistemático e não natural, diferentemente da aquisição da sua língua materna, que é natural. O processo de aprendizagem da língua escrita não deve ser voltado apenas para a transcrição e representação das unidades sonoras, nem ser um processo repetitivo de cópia de palavras isoladas, sem o contexto em que estariam inseridas. Essa metodologia colabora para o aprendizado da grafia da palavra, porém não atribui sentido a ela, visto que não considera o contexto em que essa palavra está inserida. O surdo, para adquirir a língua escrita, precisa entender o contexto e a situação em que ela é usada, isto é, é necessário entender o uso social e real da língua, utilizando uma diversidade de gêneros textuais e temas. Outro fator a se considerar é relacionado às diferenças gramaticais entre as duas línguas. A mais aparente é uma língua ser visual-gestual enquanto que a outra é oral-auditiva. Há, também, diferenças estruturais e gramaticais entre as duas, como, por exemplo, presença de artigos e conjugações verbais, que são comuns na língua portuguesa e apresentam uma configuração diferente na língua de sinais. Isto é, para que a aquisição da L2, o surdo já precisa ter passado pela aquisição da L1, pois ela servirá como base para que ele possa aprender uma língua escrita que não é a sua. Da mesma forma como ocorre com a aquisição da Libras, a criança surda precisa estar em contato com a língua para que realmente possa entender o seu funcionamento. A utilização da língua de sinais proporciona às crianças a possibilidade de aumentarem o seu conhecimento do mundo que a cerca, pois o letramento dessa crianasa é uma ponte para o aprendizado dos contextos da língua portuguesa na modalidade escrita como sua segunda língua. O surdo tem como sua língua materna, ou L1, a Libras, enquanto que a sua língua não materna, ou L2, é a língua portuguesa apenas na modalidade escrita. FIQUE ATENTO 30 Quando tratamos de aquisição de língua não materna do surdo, precisamos considerar a aquisição da sua língua materna, pois é através dela que a criança baseará o seu apren- dizado, utilizando os conhecimentos prévios que apresenta na primeira língua como base para a segunda língua. VAMOS PENSAR? A educação do surdo passou por diversos momentos e situações que acaba- ram por influenciar na aquisição linguística do surdo, tanto de língua materna quanto de língua não materna. Outros fatores, como os graus de surdez, tam- bém têm um papel importante durante esse aprendizado. Com o material a seguir, você poderá conhecer um pouco mais sobre esse assunto. • Bilinguismo para surdos. Disponível em: https://bit.ly/3MYWBOh. Acesso em: 15nov. 2021. • Filosofias na educação de surdos. Disponível em https: https://bit.ly/3NMov- gw. Acesso em: 15 nov. 2021. • SANTANA, Ana Paula. Surdez e linguagem: Aspectos e implicações neolinguís- ticas. 5ª Ed. Summus Editorial. BUSQUE POR MAIS 31 FIXANDO O CONTEÚDO 1. Leia o excerto abaixo e marque a alterativa em que estão representadas a Educação e a Escola defendidas no documento “Relatório sobre a Política Linguística de Educação Bilíngue - Língua Brasileira de Sinais e Língua Portuguesa” publicado pelo MEC em 2014. a) Educação Especial em Escolas Especiais. b) Educação Bilíngue em Escolas Bilíngues. c) Educação Tradicional em Escolas Tradicionais. d) Educação Inclusiva em Escolas Inclusivas. e) Educação Bilíngue em APAEs. 2. No processo de aquisição de linguagem por surdos, segundo Quadros, é correto afirmar que: a) os surdos profundos podem ser estimulados oralmente, pois assim conseguirão adquirir completamente uma língua. b) o surdo terá uma defasagem de aquisição de linguagem se for exposto em sua primeira infância aos sinais. c) o melhor tratamento para surdos para uma produção linguística adequada é desde cedo ter terapias de fala com fonoaudiólogos. d) os surdos, em condições favoráveis, desenvolvem os mesmos estágios de aquisição comparado, aos ouvintes com a língua oral. e) a oralização é crucial para o surdo alcançar plena maturidade linguística, seja na Libras, seja na língua majoritária oral. 3. O processo natural de aquisição de linguagem por meio da Língua de Sinais Brasileirapor uma criança surda ocorre a) por meio do contato com pessoas fluentes em Língua de Sinais, principalmente surdos. “[...] envolve a criação de ambientes linguísticos para a aquisição da Libras como primeira língua (L1) por crianças surdas, no tempo de desenvolvimento linguís- tico esperado e similar ao das crianças ouvintes, e a aquisição do português como segunda língua (L2). [...] é regular, em Libras, integra as línguas envolvidas em seu currículo e não faz parte do atendimento educa- cional especializado. O objetivo é garantir a aquisição e a aprendizagem das línguas envolvidas como condi- ção necessária à educação do surdo, construindo sua identidade linguística e cultural em Libras e concluir a educação básica em situação de igualdade com as crianças ouvintes e falantes do português” (BRASIL, 2014, p. 6). 32 b) no consultório médico por meio de tratamentos oro-faciais. c) por meio do curso de Libras como segunda língua. d) com professores, por meio do método oralista. e) na sala de aula regular, por meio do contato com outras crianças ouvintes, ou no atendimento educacional especializado, com o professor de língua portuguesa como segunda língua. 4. Das alternativas a seguir, assinale a única que corretamente refere-se às dificuldades na aquisição de linguagem pelo surdo. a) O déficit sensorial auditivo implica em deficiência intelectual, que dificulta qualquer tipo de aquisição de linguagem. b) Uma vez que o surdo não opte pelas línguas de sinais, não poderá ter acesso a nenhum outro tipo de linguagem ou forma de comunicação. c) Pelo fato de também serem mudos, os surdos não possuem referência para que se adquiram outras formas de comunicação, senão pela língua de sinais. d) Devem-se considerar as oportunidades restritas de interlocução, uma vez que o estigma da incapacidade linguística do surdo interfere em suas relações com o outro. e) Dois fatos corroboram para a incapacidade de aquisição de linguagem: a deficiência intelectual presente na surdez, e o fato de todo surdo ser mudo. 5. Evans (1987) defende que a exposição da criança surda à linguagem de sinais ocorra o mais precocemente possível, pois favorece a aquisição de linguagem interna e desenvolvimento cognitivo. Dessa forma, o autor descreve a filosofia (de): a) oralista. b) bimodalismo. c) bilíngue. d) comunicação total. e) inclusiva. 6. Em termos cognitivos-linguísticos, as pesquisas científicas apontam que: 1. o desenvolvimento linguístico do surdo depende da exposição aos sinais. 2. o uso da datilologia pelo surdo requer noções de letramento em Português. 3. o processo de aquisição de linguagem dos surdos se dá por treinamento labial. 4. a Libras é uma sinalização da estrutura do Português. 5. a incapacidade de o surdo sinalizante não falar se deve a sua falta de linguagem. Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas. a) São corretas apenas as afirmativas 1 e 2. b) São corretas apenas as afirmativas 4 e 5. c) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 3. d) São corretas apenas as afirmativas 1, 2 e 4. e) São corretas apenas as afirmativas 2, 3 e 5. 33 7. A construção da identidade do sujeito surdo está diretamente relacionada com a aquisição da linguagem por meio de uma educação inclusiva, uma vez que: a) a linguagem é a expressão do pensamento, logo se o sujeito não tem acesso a ela não lhe é permitido que produza pensamentos tampouco que adquira identidade própria. b) a linguagem permite que as pessoas se comuniquem, tenham acesso à informação, à cultura, possam se expressar e defender pontos de vistas, bem como construir visões sobre o mundo. c) apenas por meio do conhecimento linguístico o ser humano pode se conhecer e constituir-se como sujeito de uma comunidade. d) nenhuma das alternativas. e) todas as alternativas. 8. Em relação à aquisição da linguagem pela criança surda, Quadros (1997) afirma, com base em estudos sobre o processo de aquisição da Língua Americana de Sinais (ASL), que o desenvolvimento das línguas de sinais é análogo ao das línguas oralizadas. São apresentados e discutidos por Quadros quatro estágios do processo de aquisição (período pré-linguístico, estágio de um sinal, estágio das primeiras combinações e estágio de múltiplas combinações). A fase denominada estágio de um sinal é aquela em que: a) as crianças surdas apresentam a chamada “explosão do vocabulário”. b) a apontação para indicar objetos e pessoas desaparece. c) as crianças começam a usar, de forma ainda inconsistente, o sistema pronominal. d) o balbucio silábico apresenta combinações que fazem parte do sistema fonético das línguas de sinais. e) todas as alternativas. 34 OBJETIVOS E METODOLOGIAS DE ENSINO DE LIBRAS COMO L1 35 Quando pensamos em metodologias de ensino de Libras, o que se pensa, inicialmente, é no ensino de pessoas ouvintes, como uma língua estrangeira ou segunda língua. Porém, quando ensinamos a Libras para crianças surdas, precisamos pensar nas diferenças de ensino de pessoas ouvintes. Como já foi dito anteriormente, o surdo tem como primeira língua a Libras, portanto, as metodologias e estratégias de ensino precisam ser elaboradas para o ensino de L1. Seria o equivalente a ensinar a língua portuguesa a uma criança ouvinte. A educação dos surdos passou por diversos períodos em que a língua de sinais era marginalizada e proibida de ser utilizada. Este cenário dificulta o ensino, a divulgação e a valorização dessa língua, porém não a torna impossível. Na antiguidade, o surdo era tratado como uma espécie de castigo divino e muitas vezes era abandonado à própria sorte desde pequeno. Era privado da educação e sequer era considerado como ser humano. Quando o surdo finalmente teve acesso à educação, a sua língua não poderia ser utilizada. Em 1880 houve o Congresso de Milão, em que ouvintes decidiram sobre os rumos da educação da pessoa surda, concluindo que a língua de sinais, sendo utilizada e ensinada, apenas atrapalharia e atrasaria o aprendizado desse surdo em relação à língua oral, portanto tornou-se proibido o uso e ensino da língua de sinais pelo surdo, em uma filosofia educacional conhecida como Oralismo. Mori e Sander (2015) afirmam que “a partir de então, surgem diversos outros métodos orais para a reabilitação dos alunos surdos, focando aspectos clínicos em vez de pedagógicos, nas escolas orais para surdos, cuja filosofia oralista era vigente. ”(p.04-05) Quase um século depois, estudiosos conseguiram perceber que essa filosofia não trazia resultados satisfatórios no ensino-aprendizagem do surdo. Sendo assim, foi proposto um método de ensino baseado na Comunicação Total, isto é, o professor sinaliza e oraliza ao mesmo tempo, assim, o surdo teria mais possibilidade de aprendizado. Essa filosofia mostrou avanços em relação ao ensino do surdo, porém ainda não era o suficiente, pois, ao utilizar duas línguas diferentes ao mesmo tempo, resultou no uso da língua de sinais seguindo as estruturas gramaticais da língua oral, e não a sua própria gramática. Pensando nisso, em torno de 1990, a filosofia educacional voltada ao Bilinguismo adquiriu força em relação ao ensino da criança surda. No Bilinguismo, a criança surda tem a aquisição da língua de sinais como sua língua materna, a L1, e a aquisição da língua oral apenas na modalidade escrita, como sua língua não materna, L2. Isto significa que a língua de instrução e interação utilizada em uma escola bilíngue é a língua de sinais, respeitando, valorizando e difundindo a língua e a cultura da pessoa surda. Os alunos e alunas com deficiências eram encarados como obstáculos para o funcionamento tranquilo das escolas e das salas de aula, pois necessitavam de ha- bilidades para enfrentar as exigências acadêmicas disciplinares. Achava-se que a sua presença prejudi- caria a aprendizagem dos outros alunos e alunas ou até mesmo teriam uma influência moral subversiva. ” (SILVA, SENA, 2015, p.122) 36 Os desafios na educação de surdos, também influen-