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O Direito na Pós-Modernidade e Reflexões Frankfurtianas

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL
UNIDADE DE PARANAÍBA
CURSO DE DIREITO
O DIREITO NA PÓS-MODERNIDADE E REFLEXÕES FRANKFURTIANAS
EDUARDO C. B. BITTAR
PARANAÍBA-MS
2015
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL
UNIDADE DE PARANAÍBA
 CURSO DE DIREITO
Carla Queiroz
Laura Garcia
 Maria Alice
Talita Aguiar 
Tânia Cristina
Yasmin Struziatto
Docente: Angela Aparecida da Cruz Duran 
Trabalho apresentado à professora Dra. Angela Aparecida da Cruz Duran referente à analise e interpretação do livro O direito na pós-modernidade, de Eduardo C. B. Bittar.
PARANAÍBA
2015
SOBRE O AUTOR
Advogado possui graduação pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (1996). Desenvolveu estudos de pós-graduação, e estágio doutoral-FAPESP junto à Université de Lyon (II e III) e à Université de Paris (Sorbonne-II e Sorbonne-IV), na França, tendo obtido o Doutorado em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela Faculdade de Direito da USP (1999). Obteve a Livre-Docência pela Faculdade de Direito da USP (2003). Foi Diretor Científico da Associação Brasileira de Ensino do Direito - ABEDI (2006-2008). Foi Presidente da Associação Nacional de Direitos Humanos Pesquisa e Pós-Graduação (ANDHEP), no biênio 2009-2010, entidade da qual foi também Secretário-Executivo (2007-2009). Pesquisador-Sênior do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP), no período 2006-2010. Foi membro titular do Conselho da Cátedra UNESCO de Educação para a Paz, Direitos Humanos, Democracia e Tolerância, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP), no período 2007-2010. Foi Membro do Comitê de Área do Direito - CAPES (2010) e Pesquisador de Produtividade do CNPq N-2 (2010-2013). É Parecerista Científico da Revista Direitos Fundamentais e Justiça (PUC-RS). É Professor Associado do Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). É membro do Conselho Científico da Associação Nacional de Direitos Humanos (ANDHEP) e 2º. Vice-Presidente da Associação Brasileira de Filosofia do Direito (ABRAFI IVR/ Brasil). Concentra-se na área de Filosofia e Teoria Geral do Direito, desenvolvendo pesquisas sobre "Educação em Direitos Humanos" e "Teoria da Democracia". 
INTRODUÇÃO
O livro “O Direito na Pós-Modernidade” originou-se da tese de Livre-Docência de Eduardo C. B. Bittar, apresentada em 2003 ao Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
A pós-modernidade que o livro retrata é entendida como um processo de ruptura com o período moderno, sem um início marcado, porém, caracterizado pelas grandes revoltas e manifestações das décadas de 1950 e 1960. Entende-se como um processo de ruptura mudanças de todo tipo nos âmbitos sociais, econômicos, mudanças de valores, no entanto, há ainda momentos históricos e preceitos modernos que continuam vivos entre algumas classes sociais e práticas institucionais, causando conflitos entre o moderno e o pós-moderno. Em 1968 e após a publicação do texto “A Condição Pós-Moderna” de Jean-François Lyotard que culmina em todas as partes do mundo uma agitação cultural que aponta para o pós-modernismo. 
A problematização do tema: crise de eficácia e pós-modernidade jurídica
 O papel da filosofia do direito em tempos pós-modernos 
Por não ser um movimento cultural ou intelectual e nem uma nova ideia, mas sim um período, a pós-modernidade propõe uma reflexão acerca da sociedade. Ela propõe uma reflexão sobre o pensamento progressista da modernidade ao passo que tal progresso muito se assemelha ao regresso, pois se mede pelos índices de desenvolvimento econômicos e não humanos, que no seu auge resultou em guerras e destruição de países inteiros. 
No âmbito jurídico, os reflexos da pós-modernidade são vistos como uma crise, e todas as mudanças afetam a dinâmica do mundo jurídico. Conflitos com novas características, novas situações, que precisam mais que uma legislação como instrumento da eficácia do controle social. As mudanças cotidianas e ideológicas geram situações conflituosas que precisam ser resolvidas a níveis sociais e jurídicos para que assim exista harmonia. 
Nesse sentido, é preciso destacar a necessidade de uma intervenção reflexiva para que exista eficácia novamente, e que não outra opção senão a filosofia do direito. Esta tem um papel importante com as demais ciências do direito e uma função social determinante na formação de todo e qualquer critério que define “o que é justiça” num determinado momento histórico. 
No entanto, a filosofia do direito não é a única responsável pelo exercício zetético-reflexivo, já que ela pode recorrer a outros instrumentos técnicos e científicos para concluir suas premissas teóricas. É necessário que seja dito que a eficácia do direito afeta de modo real e transversal todo o âmbito jurídico, atingindo todos os seus ramos. A filosofia do direito não pode simplesmente observar a legislação para sua pura reprodução ou interpretação, mas também como estão sendo feitas e aplicadas. A sua adoção como modus operandi de um sistema jurídico significa aproximar as reais condições sociais e a reflexão filosófica.
2. A configuração da modernidade
2.1. O espírito da modernidade
Habermas afirma que a palavra “moderno” (em latim, modernus) começa a ser usada pelos cristãos para caracterizar o novo, em oposto ao velho (no caso, os pagãos) e seu uso data do século V. O termo ganha uso vulgar sendo bem aceito e empregado para ser sinônimo de inovador, avançado, atual e vêm associado à ideia de progresso. De fato é permitido ao termo, modernidade, a associação de vários outros termos para que se contorne a dificuldade em definir modernidade.
A modernidade, portanto, é vista como um estilo ou costume de vida, ou até uma organização social que eclodiram na Europa a partir do século XVII e compreende um conjunto de mudanças sociais, culturais, políticas e econômicas que acabaram por se universalizarem. 
Com a ideia de modernidade, se instala no ambiente um movimento questionador ao passado medieval; questiona-se a castração financeira e intelectual, o anseio pela liberdade ganha força quando as primeiras universidades são criadas e intensifica-se a o comércio com o Oriente, a descoberta das Américas e contato com novos povos e costumes. No entanto, o choque da fé versus a razão se dá somente em alguns aspectos, pois, alguns positivistas fundam um templo onde louvam a “deusa da razão” com os mesmos rituais e pompa dos cultos tradicionais cristãos.
Com a ideia de liberdade pessoal, cresce a ideia de liberdade comercial. A obra de Adam Smith, “A Riqueza das Nações” torna-se o escape para os capitalistas por defender fatores que permitiu o fortalecimento e crescimento da burguesia que ascendia naquele momento histórico. Preocupado em desenvolver o comércio, Smith defende que o Estado não interfira na economia e que exista a livre concorrência, a “lei do esforço pessoal”. Em poucas palavras, países subdesenvolvidos são assim porque simplesmente não tentam o suficiente e os que são desenvolvidos são porque tentaram o suficiente. 
No entanto, o liberalismo econômico cria desigualdades sociais e exploração que foram temas abordados por Karl Marx o qual analisa criticamente a economia e a política, constatando que a riqueza das nações estaria sendo dirigida somente a uma só classe e excluída do proletariado. 
Ao se planejar e executar a ordem é essencialmente uma atividade racional, firmada em princípios da ciência moderna, e o próprio espírito. Surge também a ideia de se moldar a natureza ao “construído da razão” e construções estritamente compostas de “cimento”, os quais permitiram a eficácia do sistema e a geração de posteriores lucros, uma vez que tudo está incorporado e baseado no ideário da utilidade em prol do bem-estar do indivíduo.
Nota-se que o Estado aparecedevidamente burocratizado, construído espacialmente e sociologicamente, mecanizado e, infelizmente, tomado por doenças. Assim, manifesta-se a ideologia moderna: “domínio no sentido mais extremo da palavra que se exprime numa nova forma do mundo. Procura tocar elementos da Natureza e da existência humana. Isto significa possibilidades insuspeitadas de construir, mas também de destruir, sobretudo quando se trata da natureza humana, muito menos fixa e segura de si do que se pensa geralmente” (Guardini,O fim da Idade Moderna).
O século XX será uma consequência desastrosa da imprudência humana no que tange a perspectiva moderna, uma vez que as grandes guerras mundiais são legítimos legatários da modernidade, pois Hitler, obviamente, grande estrategista, ergue uma multidão em prol de uma ideologia. Vale ressaltar a potencialização da bomba atômica, grande causadora de devastações além de ser um produto das relações econômicas, políticas e socais.
Em síntese, o aparecimento do Estado, a configuração de direitos, a criação de leis de mercado, liberalismo, afirmações capitalistas e ideias progressistas configuram o espírito Moderno. Há de se observar que não há Estado sem a existência de Leis, em suma o direito aparece como o detentor da estruturação, estabilização e manutenção deste.
Assim, o direito dispersa insignificância medieval e abre o caminho para a modernidade, o sistema jurídico funciona como uma espécie de sistema garantidor de eficácia das pressões advindas do sistema econômico. Este aparecimento de uma noção de direito tecnizado, esvaziada de conteúdo axiológico voltado para a compreensão do direito como positivado e causando a hipervalorização da ciência dogmática do direito.
A metodologia do positivismo jurídico identifica que caso algo não seja provado racionalmente, não pode ser reconhecido. Assim, o direito assume uma dimensão temporal fundada em ordem metafísica.
O positivismo dos séculos XIX e XX baseia-se em emanações de ideologias dos consensos sociais, e é neste ponto que o Poder Público se torna único e legítimo capaz de instituir regras comportamentais socialmente controláveis.
O desaquecimento das preocupações do pensamento jurídico com a justiça faz da realidade uma norma (o positivismo jurídico) e só daria créditos para o Estado de direito.
	Nesse sentido, levanta-se a questão: A legislação é uma invenção da modernidade? Não, pois há indícios de sua existência em diferentes períodos da história. No entanto, a legislação é utilizada pela modernidade como meio de realização das práticas jurídicas, vinculando-a aos procedimentos escritos que emanam do Estado.
	Para todos os efeitos, atualmente a legislação se destina mais ao acúmulo de leis escritas do que a regulamentação do Estado. Assim, percebe-se que a lei na pós-modernidade possui menos validade e mais eficácia, menos forma e mais sentido prático-social. 
	Com relação ao processo, destaca-se a promessa de realizações materiais inegáveis. Assim, a humanidade regrediu ilimitadamente se expondo à ameaça de uma condição de barbárie. Mais que isso, o processo de afirmação das etapas do Capitalismo submeteu a humanidade a um processo de alienação. Com a modernidade a razão foi instrumentada, tornando-se inoperante, o que contribui para degradação humana. Dessa forma, tornou-se comum em nosso tempo manifestações de violência, genocídios e guerras.
	Trata-se, portanto, de desmascarar a falsa ideia de progresso trazida pela modernidade. Essa ideia se associa a uma imagem de “andar para frente”. Tal discurso promoveu uma ideia de vitória da civilização, no entanto, “andando para frente” também se “marcha para trás”. O progresso deve ser analisado não do ponto de vista material e econômico, mas sim pelos fatores relacionados à dignidade humana. 
	É de extrema importância a contextualização do surgimento da pós-modernidade:
“O século XX é um século da guerra, com número de conflitos militares sérios envolvendo perdas substanciais de vidas, consideravelmente mais alto do que em qualquer um dos dois séculos precedentes. No presente século, ate agora, mais de cem milhões de pessoas foram mortas em guerras, uma proporção mais alta da população do mundo que no século XIX, mesmo considerando-se o crescimento geral da população” (Giddens, As consequências da modernidade, 1991, p.19).
Portanto, os antecedentes históricos são evidências da falência do que se pregou como solução para a humanidade. 
3. A descrição da pós-modernidade
3.1. O surgimento da pós-modernidade: o contexto histórico de maio de 1968
Maio de 1968: movimento estudantil que, inicialmente, foi movido pela reforma de universidades, em Paris, na França. Não obstante, reivindicações sociais envolvendo operários, mulheres e minorias, também se somaram ao movimento. Influenciada pelos ideais de Karl Marx e pela Escola de Frankfurt, a revolução de 1968 seria, para alguns estudiosos, o estopim para o surgimento da pós-modernidade. 
Foi um período marcado pela partição bipolar do mundo entre capitalismo e socialismo. Uma época de tensões que envolvem temas como a guerra, a fome, a injustiça, a ditadura, o conservadorismo, o machismo, entre outros.
Dentre os acontecimentos de 1968, pode-se destacar o assassinato de Martin Luther King, líder do movimento pelos direitos da minoria negra nos Estados Unidos; a respeito do feminismo, Robin Morgan queima sutiãs em praça pública em Nova Iorque; o movimento hippie e suas filosofias de vida dão nascimento à lógica da contracultura, assim como também o movimento do tropicalismo brasileiro.
Portanto, diante de tantos episódios, esse momento histórico foi marcado pela redefinição do papel da moral em direção ao pluralismo ético, de luta por redemocratização e pelo reconhecimento da diferença. Hoje, as mulheres têm lugar no mundo do trabalho, as minorias reivindicam por seus direitos e os movimentos sociais têm demonstrado grandes conquistas.
3.2. A pós-modernidade: conceituação e definição
Primeira característica da pós-modernidade: a incapacidade de gerar consensos.
Não há data que seria um marco para o início deste processo. A pós-modernidade então, teria sido gerada a partir da modernidade. Ela chega para se instalar definitivamente, mas a modernidade ainda não deixou de estar presente entre nós.
A pós-modernidade vem sendo esculpida na realidade a partir da própria mudança de valores, dos costumes, dos hábitos sociais e das instituições. Foi efetivamente identificada a partir da conscientização das mudanças que vinham acontecendo e dos rumos tomados pela cultura contemporânea.
O direito é concebido como um processo em transformação, permeável às novas demandas e adaptado aos novos atores sociais.
A pós-modernidade é o estado reflexivo da sociedade ante as suas próprias mazelas. É um amadurecimento social, político, econômico e cultural, que haverá de alargar-se por muitas décadas até a sua consolidação. Ela não encerra a modernidade, e sim, inaugura sua mescla com o resto da mesma. 
3.3. A diversidade dentro da pós-modernidade: a formação filosófica do discurso pós-moderno
Friedrich Nietzsche: filósofo e crítico cultural que vai decompor a certeza no relativismo, a hegemonia moral na imperfeição do caráter, a hipocrisia por trás da moral social, a ilusão do projeto racional da modernidade e a derrocada da mediocridade dos valores modernos.
Herbert Marcuse: denuncia o caráter altamente consumista e desapropriador da sociedade contemporânea, demonstrando as fragilidades das estruturas que cooptam o indivíduo em direção à sedução e ao prazer do ter.
Max Horkheimer: visão crítica do reducionismo provocado pela intersecção da modernidade na instrumentalização da razão, algo que acaba por provocar fortes abalos na compreensão dos resultados do projeto moderno para a humanidade.
Michel Foucault: denuncia a associação entre a modernidade e o surgimento de uma ideia de poder enquanto controle disciplinar (prisão, hospital, escola e clínica).
3.4. Jean-Fraçois Lyotard: referencial e marco teórico para a pós-modernidadeEstudar a pós-modernidade para Lyotard é, fundamentalmente, desapegar-se das influências e fontes de inspiração medievais ou modernas, dedicando-se à compreensão das práticas de linguagem, uma vez que isto redunda em capacidade para produzir compreensão e entendimento sociais. 
Corresponde ao conjunto de processos de mutação cultural ocorridos no final do século XX, e este vem acompanhado de um processo de modificação das relações econômico-produtivas.
Sua teoria está direcionada à discussão da emergência de certos valores e modificações nas sociedades contemporâneas, ocidentais e economicamente abertas para a vivência capitalista.
Superado o sistema político totalitário, a pós-modernidade traz consigo a necessidade de se pensar o coletivo na figura do povo, agente da legitimidade e detentor de toda a soberania.
Portanto, Lyotard identifica o surgimento de uma nova cultura a partir de novas referências e paradigmas, desmotivados de causas modernas, geralmente fundadas no mito do consenso.
3.5. Pós-modernidade, modernidade reflexiva, modernidade líquida, modernidade radicalizada, ou hipermodernidade: diálogos inacabados
Jürgen Habermas: a pós-modernidade é fruto contestado da própria modernidade, como decorrência direta da fragmentação dos modelos construídos ao longo de sua jornada de avanços conquistados nestes últimos séculos. 
Ulrich Beck: predomina uma mudança substancial da sociedade industrial em uma sociedade pós-industrial, que seria uma nova etapa da modernidade, intitulada de modernidade reflexiva. 
Zygmunt Bauman: o que faz é afirmar a contraposição entre duas modernidades: uma, que antes era sólida e fixa; e outra, que agora é alterada e enfraquecida, denominada modernidade líquida. 
Anthony Giddens: sua crítica se detém a dizer que o fenômeno da globalização, seria a realização das ambições modernas, a que chama de modernidade radicalizada, caracterizada pela dissolução do evolucionismo.
Gilles Lipovetsky: problematiza a dimensão da desconstituição do duradouro, em meio ao surgimento da fluidez volátil dos tempos contemporâneos. Esta nova concepção para descrever os tempos hodiernos, ele qualificou como hipermodernidade. 
3.6. O que é a pós-modernidade?
Theodor Adorno: a pós-modernidade é a crítica da modernidade, a consciência da necessidade de emergência de outra visão de mundo, a consciência do fim das filosofias da história e da quebra das grandes metanarrativas, desmandando novos arranjos que sejam capazes de ir além dos horizontes fixados pelo discurso da modernidade. A pós-modernidade é sintoma de um processo de transformações que estão profundamente imersas em uma grande revolução cultural, que desenraiza paradigmas ancestralmente fixados.
Trata-se de um fenômeno que se manifesta em diversos níveis (econômico, político, social, institucional, familiar etc.) do relacionamento humano, exatamente em função de mudanças profundas na caracterização das crenças e dos valores fundantes das relações que anteriormente sustentavam as feições modernas da intersubjetividade. 
Notórias transformações sobre a armadura das crenças modernas: supervalorização das ideias de progresso e ordem, pela criação de uma disciplina capaz de segregar os apenados do convívio social; a defesa da razão instrumental, a serviço da produtividade e das estratégias de crescimento; a identificação da razão como instrumento; a crença na justiça de mercado, capaz de promover igualitarismo, juntamente com a ideia de justiça social; aposta no investimento de indústria e sua substituição pelo investimento de serviços; e centralização das atividades sociais na atuação do Estado como principal ente gerenciador das atividades sociais. 
3.7. A ética na pós-modernidade: axiologia em transformação
Após as revoluções do século XX, a pós-modernidade instaurou a descrença absoluta em padrões éticos estanques. Iniciou-se então, uma luta pela liberdade moral de escolha dos indivíduos, bem como a superação das visões de mundo paradigmáticas por valores passados. A ética, no entanto, ressurge consciente da relatividade dos valores, da flexibilidade dos padrões de conduta e da porosidade das relações do homem com o mundo.
Com a pós-modernidade, em lugar de uma ética individualista e patriarcal, tem-se uma pluralidade de éticas emergentes, para as toleráveis formas de saber e ser diferente. Respondendo, assim, à diversidade de pensamentos, ideias e crenças que emergem no panorama do discurso ético contemporâneo.
As lutas morais mais gigantescas da pós-modernidade giram em torno da presença de excluídos no mapa da humanidade, em meio às ruas das grandes metrópoles, que atravessam perigosamente fronteiras em busca de socorro em face dos flagelos da guerra. E quando a erosão no terreno dos valores causa abruptas mudanças, ocorre de os valores e as pessoas serem substituídos por objetos, produzindo uma sociedade oca de valores e identidades éticas, e recheadas de cultos e formas de apego material.
Enquanto a lógica aniquiladora de que “vença o melhor” presidir as relações sociais, estar-se-á mais próximo de um modelo de darwinismo social, ou de hobbesianismo relacional, do que um modelo de uma sociedade consciente de sua tarefa na garantia da preservação da dignidade da pessoa humana. 
3.8. Os abalos da pós-modernidade: uma radiografia
Há um reaproveitamento nas práticas pós-modernas, operando a reciclagem de valores, ideias, conceitos, objetos, paradigmas e estruturas, que a tornam um processo ainda mais complexo de estudo do que se pode imaginar.
As marcas da pós-modernidade são a polimorfia, a polifonia, a policromia e a polissemia.
Um dos mais profundos abalos provocados pela pós-modernidade deu-se sobre o sistema de crenças estruturadas como hegemônicas da cultura.
A pós-modernidade irrompe a consciência crítica do passado moderno e de seus modos de fragmentar e dispersar as identidades e as minorias. Tudo isso virá a ser, no século XX, o conjunto de fatores que produzirá o colapso dos paradigmas modernos, dos arquétipos universais, e trará as consequências mais evidentes sobre a vida quotidiana das pessoas.
David Harvey: “A fragmentação, a indeterminação e a intensa desconfiança de todos os discursos universais ou ‘totalizantes’ são o marco do pensamento pós-moderno.”
3.9. A eclosão dos diversos paradoxos: provas históricas do momento pós-moderno
Há uma indiscutível intervenção da ciência em fatores sociais e na definição dos destinos do século na medida em que a posse de conhecimento, informações, tecnologia, centros de pesquisa e indústrias, determinaram os destinos e a divisão das fronteiras não somente entre riqueza e pobreza, mas, sobretudo entre dependência e independência econômica, política, social, cultural, tecnológica, intelectual etc.
As abismais distorções e diferenças socioeconômicas provocaram a existência de seríssimas desigualdades, heranças do passado histórico da humanidade se somaram a novos desejos de grandeza e produziram os catastróficos índices de pobreza, marginalidade, miséria, violência jamais vivenciada pela humanidade.
Os sinais mais vertiginosos de desmoronamento da modernidade são a insuficiência de seus paradigmas para a orientação do modo de vida e da racionalidade com a qual se orientavam as principais decisões sociais. 
3.10. Os reflexos da pós-modernidade sobre o direito: entre modernidade e pós-modernidade
A pós-modernidade trouxe consigo uma série de modificações, que, em parte, trouxeram benefícios diretos e imediatos aos sistemas jurídicos contemporâneos e, em parte, causou o abalo ainda não plenamente solucionado de estruturas tradicionais, nos âmbitos das políticas públicas, da organização do Estado e na eficácia do direito como instrumento de controle social.
De qualquer forma, a primeira percepção do advento da pós-modernidade e de sua projeção no âmbito jurídico é a de crise não só econômica, mas principalmente, do Estado. Enfraquecido capitalisticamente, o Estado perdia um de seus maiores arcabouços de manutenção da hegemonia social e de monopólio daviolência: a legislação.
Os tradicionais paradigmas que serviram bem ao Estado de direito do século XIX não se encaixam mais para formar a peça articuladora de que necessita o Estado contemporâneo para a execução de políticas públicas efetivas. Assim, perdem significação: o princípio da objetividade do direito, a ideia de contenção do arbítrio pela lei, a garantia dos direitos universais.
Eis o quadro da pós-modernidade na caracterização do sócio-jurídico, procurando-se acentuar a importância da revitalização de valores perdidos durante a modernidade como modo de aquietação de diversas questões candentes no plano da justiça social. 
4. O Direito na pós-modernidade: a questão da eficácia 
4.1. A questão da validade: a ordem moderna e a ordem do sistema jurídico 
	No início do capítulo ressalta-se a ideia de validade como consagração conceitual da norma. Nesse sentido, destaca-se que o sistema teórico mais marcante do século XX foi o normativista-positivista de Hans Kelsen, especialmente a Teoria Pura do Direito, que se concentra no conceito de validade. 
	O pensamento teórico Kelseniano se baseia na ideia de validade como chave do direito que se limita a ser norma jurídica, e que se fundamenta em uma norma jurídica principal (Grundnorm). Desta forma, caminha no sentido da máxima idealização sistêmica do Direito. 
	A norma válida define-se a partir de três aspectos: a expedição por autoridade competente, obediência da forma procedimental prevista e publicação de acordo com os parâmetros legais superiores a ela. Parte-se deste conceito de validade para se compreender a Grundnorm, que fundamenta o ordenamento jurídico em um todo.
	Para Kelsen, o ordenamento jurídico se resume a um complexo emaranhado de normas que estabelecem uma reciprocidade entre si, um “sistema hierárquico de normas legais”, no qual as normas superiores são fundamento de validade para as normas inferiores. 
	Em síntese, na teoria Kelseniana a questão da eficácia é tratada marginalmente, de forma que a postura do jurista deve valorizar o aspecto da científica compreensão do Direito, o que se faz através da compreensão de sua perspectiva normativa. 
4.2. A questão da eficácia: o desafio da pós-modernidade
	A partir do século XX, a teoria jurídica passou a se ocupar de problematizar questões de fundo real, social e econômico, de um modo cada vez mais intenso, sendo que sua própria mudança de valores irá demonstrar a mudança do objeto do direito. No entanto, este objeto do direito deixa de ser a justificação da ordem pela validade e passa a ser a possibilidade de produzir efeitos num campo real cada vez mais coalhado de problemas eficaciais. 
Desta maneira, a dimensão do que é torna-se mais relevante do que deve ser. O foco de atenção das investigações deixa de ser a questão da validade e se direciona para questão da eficácia. 
Além de desafiar historicamente o tema, é preciso enfrentar sua dimensão conceitual. Definir a palavra eficácia não é uma tarefa fácil, visto que são muitos os sentidos alcançados pelo termo, bem como são muitas as projeções teóricas que já se fizeram sobre o mesmo. 
A análise etimológica do termo, derivado do latim (efficio, is feci, fectum, ficere), revela em seu substrato significacional os sentidos de fazer, efetuar, causar e ocasionar, ressaltando uma forte tendência operativa, ligada ao plano de ação. 
Analisando o termo como parte integrante do vocabulário jurídico, tem-se a seguinte definição para o mesmo: “Propriedade que tem um ato ou fato para produzir o efeito desejado” (Sidou, Dicionário Jurídico, 1997, p.302, verbete eficácia). 
O termo eficácia tem aplicação em diversas áreas do Direito. É possível que uma norma jurídica inexista para o ordenamento jurídico (invalida e não vigente) e que possua eficácia. Também se pode dizer que é possível que uma norma esteja regularmente constituída dentro do ordenamento (válida e vigente) e que seja incapaz de eficácia. Portanto, a eficácia corresponde a uma qualidade específica da norma, distinta das demais que a caracterizam, e que pode aparecer conjunta ou separadamente às demais (validade, vigência, vigor...). 
A crise da eficácia compromete a própria existência do contrato social, pois a inoperância prática das instituições conduz a um profundo abismo entre legalidade e faticidade das regras jurídicas, e é deste abismo que se nutrem os problemas sociais. 
Assim, há três grandes questões a enfrentar no debate acerca da eficácia: uma primeira corresponde ao questionamento conceitual; uma segunda investiga quando e como é afetada a eficácia da norma e quando e como a eficácia de todo o ordenamento é comprometida; uma terceira investiga quais são os fatores que colaboram para o decréscimo da eficácia de um ordenamento jurídico e que determinam sua inoperância prática. 
4.3. A conceituação de eficácia: conceitos e ideias
4.3.1. Hans Kelsen: eficácia como condição de validade
	As reflexões de Kelsen se concentram na validade do ordenamento, sendo a questão da eficácia relegada a segundo plano. Isso se explica pelo seguinte fato: o aspecto do ser é secundariamente estudado na Teoria Pura do Direito. 
O autor considera que a eficácia não é fundamento de validade, mas sim uma condição externa de validade para o sistema, de forma que uma ordem jurídica que não possua um mínimo de eficácia não poderá ganhar substrato de validade. Nesse sentido afirma que “a eficácia é condição no sentido de que uma ordem jurídica como um todo e uma norma jurídica singular já não são consideradas como válidas quando cessam de ser eficazes. Mas também a eficácia de uma ordem jurídica não é tampouco como o fato que a estabelece, fundamento de validade” (Kelsen, Teoria Pura do Direito, 1976, p. 230) 
4.3.2. Norberto Bobbio: eficácia como sentido fenomenológico do direito
Quanto à questão da eficácia jurídica, Bobbio apresenta uma posição muito coerente, relacionando-a com a crise enfrentada contemporaneamente pelo ordenamento jurídico. 
Segundo o autor, uma norma jurídica pode ser analisada sobre um tríplice enfoque, discutindo eixos diferentes: 1) justiça da norma (justa ou injusta); 2) validade da norma (válida ou inválida); 3) eficácia da norma (eficaz ou ineficaz).
Assim, quando se pergunta sobre a eficácia da norma, se está a questionar se se trata de norma que é ou não seguida por seus destinatários. O fato de a norma existir como norma jurídica não significa que esta seja seguida por todos. Nesse sentido, destaca-se a importância da sanção, item imprescindível não só do ponto de vista da validade normativa, mas também do ponto de vista da eficácia, por se caracterizar como garantia do sistema contra a negação. 
4.3.3. Miguel Reale: eficácia como adesão social à norma 
	Miguel Reale afirma que o termo eficácia designa algo de muito particular que pode se dar com a norma jurídica. A eficácia possui um viés experimental, pois se trata do cumprimento, reconhecimento, efeito, da norma jurídica no plano social. Nesse sentido, o autor considera que “a eficácia se refere, pois à aplicação ou execução da norma jurídica, ou por outras palavras, é a regra jurídica enquanto momento da conduta humana. A sociedade deve viver o direito e como tal reconhecê-lo. Reconhecido o direito, é ele incorporado à maneira de ser de agir da coletividade” (Reale, Ligações preliminares de direito, 1976, p.112-113). 
4.3.4. Tercio Sampaio Ferraz Junior: eficácia semântica e eficácia sintática 
	Na perspectiva de Tércio Sampaio Ferraz Junior, a eficácia é discutida sobre dois enfoques, o semântico (eficácia social ou efetividade) e o sintático (eficácia técnica). A eficácia é definida como a capacidade da norma de produzir efeitos, sempre condicionados ao atendimento de certas condições, umas de natureza fática, outras, de natureza técnico-normativa. 
	No que tange ao atendimento dos requisitos fáticos, pode-se dizer que “uma norma se diz socialmente eficaz quando encontra na realidade condições adequadas para produzir efeitos. Essa adequação entre a prescrição e a realidade defato tem relevância semântica” (Ferraz Junior, Introdução ao estudo do direito, 3. ed., 2001, p.195)
	Tercio ainda afirma que a carência de efetividade não afeta a validade da norma, pois a norma editada entrou para o ordenamento, ainda que nunca tivesse produzido efeitos. Também afirma que a obediência não é o único elemento que caracteriza a eficácia social de uma norma. 
Ainda tratando da eficácia técnica, o autor distingue as chamadas funções eficaciais (função de bloqueio; função de programa; função de resguardo), ressaltando que nem sempre as normas jurídicas podem atender da mesma forma as três funções.
	Distingue também o grau de eficácia das normas: eficácia plena – quando a concretização da função eficacial é imediata, sem necessidade de outra norma, não podendo ser restringida; eficácia limitada – quando há necessidade de outras normas; eficácia contida – quando a norma plena tem a possibilidade de sofrer restrições futuras por determinação legal. 
4.4. Eficácia jurídica: atributos, condições e caracterização
	Após a discussão sobre o aspecto conceitual, há que se pormenorizar o tratamento da questão da eficácia jurídica.
 As qualidades de uma norma jurídica são: Validade - entrada da norma no sistema jurídico, sendo para isto necessário a observação de critérios formais em sua produção, formulação e expedição; Vigência – tem a ver com a temporalidade da norma, pois no tempo em que é vigente, é invocável para a produção de efeitos práticos e para a aplicabilidade; Vigor – tem a ver com uma qualidade da norma que a torna invocável mesmo depois de cessada sua validade e sua vigência, por ser aplicável aos fatos que regulou enquanto se manteve incidente sobre certos fatos da vida social; Eficácia – trata da questão da projeção da norma em direção à sociedade e à produção de efeitos; Efetividade – fato da observância efetiva da norma por parte das autoridades e de seus destinatários; e Exequibilidade – a norma depende da existência de certas condições para sua aplicação.
4.5. O consequente lógico: o conceito de ineficácia 
	No vocabulário jurídico, a palavra ineficácia passará a ser entendida em dois sentidos, na linha proposta por Ferraz Junior: Ineficácia social ou efetividade; Ineficácia técnica. 
Pode-se dizer que uma norma é ineficaz quando: (1) Houver insucesso normativo, em absoluto, podendo corresponder a uma norma obedecida ou não obedecida; (2) quando no cumprimento das funções normativas (bloqueio, programa e resguardo), não consegue, em absoluto, cumprir qualquer delas, fator que não afeta necessariamente a validade da norma;
É importante ressaltar que ineficácia (social) não é mera decorrência da desobediência da norma. É necessário mais que isso para que ela se torne absolutamente ineficaz. É preciso que seus destinatários não a sigam espontaneamente, e nem mesmo os órgãos aplicadores da norma exijam que ela seja seguida. 
A norma pode ser ineficaz por que: não produz efeitos sobre seus destinatários; não possui as condições técnicas necessárias para a produção de efeito; as autoridades não a aplicam nem no plano administrativo, nem no plano judicial; prevê um comportamento impossível de ser cumprido, ou prevê uma exigência que não pode ser facilmente observada.
4.6. A crise do direito na pós-modernidade e a ineficácia do ordenamento jurídico 
	O sistema jurídico brasileiro está diretamente relacionado com os demais sistemas (social, cultural, político, econômico, cientifico,...), e por isso sofre os impacto e abalos da pós-modernidade em sua configuração, visto que as modificações das últimas décadas acabaram por produzir uma profunda desestruturação nos modos tradicionais e modernos de concepção do mundo. 
	Tais modificações tornam o ordenamento jurídico ainda mais complexo, em seu operar, e ainda mais instável, na sua durabilidade e na sua capacidade de interação com a sociedade. Mais que isso, essa transição paradigmática gera uma fragilidade do sistema jurídico, o ameaçando a condição de ineficácia e aos riscos de inoperância prática.
	O sistema jurídico não perderá sua validade devido à inobservância de leis ou comportamentos antijurídicos. A norma jurídica que se encontra violada ativa a possibilidade de aplicação do consequente normativo, ou seja, a sanção. A validade do sistema jurídico só é afetada a partir do momento em que sua inoperância se torna crônica. 
	A questão da crise da eficácia do sistema jurídico não se limita a mera crise pontual de certas normas inclusas no ordenamento. Quando se trata essa questão, está a falar dos modos pelos quais o sistema se torna incapaz de responder as necessidades sociais, e, mais do que isto, está a discutir se o sistema jurídico não é representativo e significativo no contexto da pós-modernidade. 
5. Direito e pós-modernidade na realidade brasileira
5.1. A pós-modernidade e a questão brasileira
		A insuficiência da política brasileira determina o status da noção de cidadania que se possui, a inexperiência democrática é a principal causa de uma vivência ambígua de direitos na realidade brasileira, na medida em que fatores econômicos, culturais e sociais de base é o principal fator de carências elementares para a estruturação de uma cidadania plena. A ideia de legalidade, jamais adentrou o espírito corporativo daqueles que se encontravam e se encontram apadrinhados pelo poder. Ora, traços culturais como estes definem os modos pelos quais os ilegalismos e as arbitrariedades sejam praticadas e as políticas públicas se articulem de modo a destinar recursos públicos para fins particulares e porque o sistema nunca foi legitimamente pensado para abranger a todos.
		Portanto, pensar a pós-modernidade para o Brasil é pensar o quanto a pós-industrialidade somente é parte da vivência mais concreta de pequena parcela da população nacional.
		O Brasil é um país que se ergue sobre um processo de modernização incompleto, por isso vive-se, a um só tempo, pré-modernidade, modernidade e pós-modernidade. Os contrastes são muito grandes, e de diversas naturezas, e as situações poderiam ser exploradas para demonstrar como não há uniformidade dentro das dimensões territoriais de um Estado. Sendo este um problema de natureza fundamentalmente cultural, então se pode dizer que a dimensão do desenvolvimento traz consigo diferenças no processo de impactação da realidade por mudanças pós-modernas.
		A pós-modernidade, enquanto fenômeno econômico, afeta as economias mundiais, através da globalização, estejam os países em desenvolvimento ou sejam desenvolvidos. Enquanto fenômeno tecnológico-científico atinge as comunidades científicas brasileiras, tornando-as importantes canais de distribuição de informações, de conscientização, de problematização, resultando em mudanças na produção, na comunicação, no desenvolvimento tecnológico, na projeção empresarial, econômica, etc. A pós-modernidade, enquanto fenômeno político faz das economias nacionais instrumentos de um processo maior, de abrangência internacional, estando à frente destes debates, líderes dos processos de integração (ALCA, Nafta, OEA, OMC...)
		A desintegração de características fundamentais que regiam o sistema social provocou profundo abalo nos modos de organização da vida, em suas diversas projeções. Não há de se negar que isso afetou de modo decisivo os modos pelos quais a sociedade lida com suas patologias. O estado atual do ordenamento jurídico brasileiro se atribui grande parte da defasagem cultural brasileira que se apegou aos modelos positivistas do século XIX. Mas seria ilusório pensar em uma única causa para a erosão do ordenamento jurídico brasileiro. Sem dúvida alguma, somam-se as diversas causas históricas, ideológicas, sociais, econômicas, políticas, para que se chegue a um tema quando completo sobre o assunto. Assim, não se trata de falar de uma realidade brasileira que enfrenta uma crise setorial, mas sim uma crise que afeta diversos e múltiplos setores da vida social simultaneamente.
		Aumento das taxas de criminalidade, inacessibilidade da justiça, morosidadedo Poder Judiciário, escândalos de corrupção na administração e no governo, e outros mais, não são meramente problemas de países periféricos ao capitalismo central, pois são, em verdade, problemas reais de uma sociedade subdesenvolvida num contexto pós-moderno.
		O estado atual da crise do direito projeta amplas outras crises, que reproduzem preocupações infindáveis, a partir do surgimento encadeado de novas questões e novos problemas a serem tratados pelo ordenamento jurídico. Por isso, está-se diante da necessidade de se construir um quadro afirmativo das diversas confluências que redundam na perda de eficácia do sistema como um todo. Portanto, formará um quadro de relevantes sintomas da referida erosão do ordenamento jurídico brasileiro:
Abundância de normas editadas afoitamente, num processo de descaso com a importância do processo legislativo e com o inegável relevo da tomada de decisões democráticas nas casas legislativas.
Número excessivo de leis e decretos em vigor, prejudicando o cristalino tratamento das questões jurídico-aplicativas.
O uso e o emprego disseminado de uma linguagem ininteligível, o que somente gera um afastamento maior da população analfabeta ou semi-alfabetizadas das instâncias da justiça.
Políticas públicas, por vezes, bem intencionadas, mas mal direcionadas, são incapazes de gerar efeitos mais fortes que aqueles gerados por fatores negativos na sociedade.
Falta de conscientização e de participação na discussão das leis.
Uso das leis como medida política de negociação de interesses intrapartidários e interpartidários.
Forte herança colonial que contamina as altas cúpulas do poder, e os altos cargos dos serviços públicos, que pensam burocraticamente, sem real consciência dos problemas culturais e sociais a serem enfrentados no momento da aplicação de uma medida ou no momento de execução de uma determinada aderência às cores da culturalidade brasileira.
O uso de engessados modelos burocráticos de Administração Pública incapazes de absorver as demandas sociais, gera a inoperância da máquina estatal como um todo.
Elevadas taxas e altos índices de corrupção, favoritismos, desvio de poder, tráfico de influências no uso do poder.
Impunidade e ineficiência acentuam a inoperância do sistema normativo, bem como a mentalidade de descrédito institucional no povo.
Falta de uma cultura da solução alternativa de litígios.
Falta de atualização normativa para o combate a novos ilegalismos.
Revogações apressadas e republicações confusas de inúmeras normas.
Aumento indiscriminado do uso de medidas provisórias como meio de governabilidade.
		Para compreender a situação do Brasil contemporâneo é necessário não alijá-lo de um contexto maior de crises que a modernidade vem sofrendo de modo não localizado, mas globalizado. Ora, com sintomas de eclosão, rebeldia, insubordinação, admoestação social, revisão dos valores ético-comportamentais, a violência aparece como espécie de sintoma que demonstra aquilo que deve ser mudado, revisto, reorientado, rearquitetado.
		A violência que entrecorta o Brasil é a mesma que provoca o encarecimento de produtos e serviços segurados, fomenta injustiças sociais, determina políticas de segurança truculentas, degenerando os laços da vida social. No entanto, este ciclo de traumas sociais, que, remontam aos efeitos do escravismo, tende a se ampliar, na medida em que a violência cria reações de ciclos de violência.
		Assim, os mesmos estereótipos sociais vão se repetir como vítimas do processo de perseguição, o que se percebe é que, o Estado de direito incapacitado de agir eficazmente na condução de políticas consistentes para atacar as causas das crescentes estatísticas de violência, a vida social se torna um verdadeiro jogo de trocas de culpas, em que sociedade civil e Estado saem ambos perdendo.
		Quando se constatam processos sociais que revelam na superfície dos fatos sociais a mecânica profunda da dialética do esclarecimento, o que se colhe são as múltiplas faces da violência: rebeliões carcerárias sangrentas que paralisam a vida social de diversos estados brasileiros; manifestações de poder da criminalidade organizada nas ruas das grandes cidades; chacinas em subúrbios promovidas por poderes paralelos ao Estado; formação de grupos de extermínio; multiplicação de milícias privadas; o crescimento de diversas formas de abuso sexual, exploração infantil e tráfico de menores pra fins sexuais. Esse cenário insculpe uma psique social: de um lado assustada, fundada na crença em soluções finais e conservadoras; de outro, assustadora, fundada na crença no golpe como forma de violentar pela violência sofrida.
		A clássica imagem do brasileiro que se fundava no exemplo da cordialidade se torna mais e mais uma evocação de um passado empalidecido por uma realidade inóspita. A cordialidade, como traço de um caráter hospitaleiro, talvez seja algo notável do povo brasileiro, mas existe outra forma de se expressar cordialidade com o outro. Sabendo que o outro depende tanto quanto eu do que é institucional e comum, ser cordial significa contribuir para o fortalecimento das instituições públicas.
		O Estado de direito sempre teve severas dificuldades de se afirmar com independência e autonomia na realidade histórica brasileira, sem que isso representasse a necessidade de alianças e conchavos políticos com os donos do poder. Mas o uso do “jeitinho” e do “você sabe com quem você está falando?” acaba por engendrar um fenômeno muito conhecido e generalizado entre nós: a total desconfiança em relação a regras e decretos universalizantes. Nossos valores continuam a influenciar ações sociais de todo gênero, tendentes à dissolução da vida compartilhada: a do corrupto; a do criminoso; do investidor oportunista; do funcionário público; a do cidadão; do corruptor; das elites descompromissadas. Nessa medida, o Estado de direito, administra os efeitos de um processo de liquidação de sua própria legitimidade conquistada historicamente no albor da modernidade.
		Tem-se percebido que o problema da ineficácia de grande parte dos dispositivos constitucionais se constitui em problema central da reflexão contemporânea. Desse modo, ter normas democráticas e de discurso igualitário de pouco adianta, pois essas normas precisam estar asseguradas no plano de efetividade, convertendo-se em benefícios reais sobre a realidade populacional, até mesmo para que se cumpram os ideais contidos em sede constitucional. O Estado federal em cooperação parece ser a melhor fórmula para a recepção de políticas de um Estado social, desde que este Estado possua um direito efetivo, eficaz, presente, e não apenas nominal que sirvam para uma verdadeira revolução das condições de vida de sua própria população.
		A orfandade social, a falta de um olhar paterno protetor, é, portanto, a situação incongruente e paradoxal caracterizada pela ausência do Estado na gestão das necessidades sociais. É este tipo de questão que leva à consciência da impunidade, à generalização das injustiças sociais, à elevação das taxas de desobediência, a descrença crescente no poder das instituições públicas, contribuindo para um quadro onde comprometida fica a eficácia das normas jurídicas. A sensação de orfandade passa a ser a mola propulsora para um novo tipo de instituição social, surgida como iniciativa de pressão sobre as instâncias de um Estado ausente.
		Os movimentos sociais são, portanto, um indício de alternativa de mudança sinalizando em direção a uma complementação dos papéis do Estado. Os movimentos sociais, o terceiro setor, as empresas com responsabilidade socioambiental, as associações e entidades representativas, os sindicatos e órgãos de classe, vêm preencher uma notória ausência do Estado na satisfação de necessidades e reivindicações sociais. Compreende-se que os movimentos sociais carregam consigo ampla responsabilidade ético-política, na medida em que se sabe que é da união de esforços, da reivindicação, do protesto e da greve, da denúncia e da manifestação que irrompem, novas formas de justiça, novasconquistas no plano da afirmação dos direitos. Não se pode olvidar neste momento, que a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), nasceu de um dos mais sangrentos movimentos populares da história das revoluções sociais. O que deve estar presente nesta discussão é o fato de que há uma dívida social histórica com o povo brasileiro, que só poderá vir a ser preenchida após um longo processo de modificações.
		Assim, a ascensão dos movimentos sociais, corresponde a uma emergencial necessidade da sociedade de agrupar-se em torno de causas ocultadas ou marginalizadas durante anos, que se transformam em bandeiras de um novo ideário.
5.2. Pós-modernidade e direitos humanos
		A questão dos direitos humanos é de imprescindível presença no âmbito dos debates pós-modernos, pelo fato de o número de agentes, de organizações e de instituições ligadas aos direitos humanos terem crescido enormemente e estarem atuantes juntos ao Estado na consagração prática desta categoria de direitos. As conquistas de direitos humanos deram-se, ao longo da modernidade, com especial acento a partir do século XVIII.
		Apesar de seu enorme valor a constituição do espaço da cidadania e para a configuração das determinantes da pessoa humana, quando se fala em direitos humanos, no Brasil, certamente se fala de uma cultura social que, do ponto de vista mais amplo, é ainda muito recente. Estes vão ser efetivamente recepcionados pelo Brasil a partir do período da ditadura militar, como um desdobramento das manifestações populares, políticas e estudantis, que se organizam para formar movimentos de protesto que vão encontrar acolhimento reivindicatório e justificação no interior do discurso dos direitos humanos. Desde então, a politização do tema permitiu que, quando da Constituinte de 1985, o debate sobre direitos humanos ocupasse o centro da agenda política, tornando constitucional a lógica segundo a qual a dignidade da pessoa humana deve presidir a dinâmica dos valores internos do texto constitucional.
		Quando se fala em “direitos humanos”, normalmente se é interpelado: “Mas você é favor dos direitos dos bandidos?”. Isso revela o espírito de incompreensão do tema. Quem defende direitos humanos, na verdade, defende integralmente as diversas facetas pelas quais se afirmam a própria existência, como possibilidade de ir e vir, de trabalhar, de se comunicar, de se expressar, de exercer crença e culto, de se associar, de ir à escola, de poder se aposentar com dignidade, de poder recorrer à polícia e nela ver um lugar de realização da cidadania, prestação de serviço à comunidade e proteção da sociedade. Ora, estamos por demais acostumados a pensar autoritariamente, e não democraticamente. E aí está um registro histórico deste País: a Constituição que consagra direitos humanos em ampla escala é só de 1988; a redemocratização é pós-ditadura; a assinatura da maior parte dos pactos internacionais é da década de 90. Tudo é muito recente, e, por isso, a cultura de cidadania ainda se realiza com tropeços e dificuldades, porque, a cultura carece de tempo social de maturação e desenvolvimento.
		Mas quem pensa na linguagem dos direitos humanos, pensa por uma atitude reflexiva que valoriza a perspectiva de uma interação social que valorize a vida, de modo a apostar na integração social a partir de incentivos à democracia, à tolerância, à compreensão das diferenças, à integridade multicultural dos povos.
		Apesar de no Brasil se ter um texto constitucional profundamente discrepante com a realidade social, esta não é uma exclusividade pátria, como lamenta Norberto Bobbio:
“Sem ir tão longe, muitos artigos da Constituição Italiana não foram até hoje aplicados. O que significa a tão frequente deplorável desaplicação da Constituição? Significa que nos encontramos frente a normas jurídicas que, embora válidas, isto é, existentes enquanto normas, não são eficazes” (Bobbio, Teoria da Norma Jurídica, 2001, p.49). 
		O Brasil carece de uma linha histórica mais dilargada, dando-se passos no sentido da segurança democrática e da preservação da ordem política participativa e institucionalmente interativa com a sociedade. Diversos progressos jurídicos foram conquistados após a promulgação do texto constitucional. Isso não significa que o texto constitucional esteja satisfatoriamente adaptado à realidade brasileira. Pelo contrário, há forte distância entre a realidade discursiva e a realidade social. Esta discrepância entre o discurso jurídico-normativo constitucional e as necessidades reais de uma sociedade marcada pela diferença social e pelo desprezo tradicional aos direitos humanos é um dos maiores estigmas do constitucionalismo e da política contemporâneos.
		É necessária uma prática atuante e conjunta de diversos setores da sociedade civil, conjugados com o terceiro setor, com os esforços de cidadãos, juristas engajados e de órgãos governamentais para entrever melhorias no setor. O que se clama é pela reconstrução da cidadania, da consciência política, do desenvolvimento, da democracia real, bem como dos próprios direitos humanos.
		Se há de se postular por um sentido de mundo, por um sentido de direito, por uma perspectiva, em meio a tantas contradições, incertezas, inseguranças, distorções e transformações pós-modernas, este sentido é dado pela noção de dignidade da pessoa humana. O discurso pós-moderno desde o direito civil ao direito constitucional e à teoria do Estado, parece falar a língua da proteção irrestrita à dignidade da pessoa humana, à defesa das liberdades fundamentais e às expressões da personalidade humana. Estas preocupações são demonstradas com o crescimento da publicização do direito privado, bem como com o crescimento da discussão e do debate da importância dos movimentos teóricos em torno de direitos fundamentais, individuais, sociais, coletivos e difusos.
		Desprovida de universalismos, a palavra dignidade, parece corresponder a um importante foco, e, portanto, há um importante centro convergente de ideias e preocupações sociais, onde o destaque dado reitera a importância da conquista histórica dos direitos fundamentais. Foram necessárias diversas violações, diversas experiências de indignidade, diversas práticas de exploração da condição humana, para que a própria noção de dignidade surgisse um pouco mais clara aos olhos do pensamento contemporâneo. Só há dignidade, quando a própria condição humana é entendida, compreendida e respeitada, em suas diversas dimensões, o que impõe, a expansão da consciência ética como prática diuturna de respeito à pessoa humana. Ainda assim, apesar da vagueza da expressão, ela deve servir como norte das ações governamentais, no sentido da planificação da pessoa humana no convívio social.
		
5.2.1. A ritualidade técnica do direito e a questão da justiça
		O indivíduo pós-moderno é acostumado com a dimensão do que é tecnificado, celerizado, escasseado de profundidade, com o espectro da televisidade da vida. Tal indivíduo deseja perder algum aspecto de sua humanidade pelo fato de já ter em grande parte acostumado a substituí-la quotidianamente pela face tecnológica de que se reveste. O processo de despersonalização e de criação de uma cadeia de reconhecimentos eletrônicos da personalidade avança de vento em poupa.
		Em tempos de exaltação do homem-máquina e da apologia do tecnologismo, não é de se estranhar que a justiça seja tecnificada. Pessoas não são pessoas, são réus; processos não são demandas sociais, pois se tornaram números; sentenças não são atos humanos, pois também se tornaram textos despersonalizados e virtualizados. A despersonalização da figura do juiz é a clara demonstração do desencadeamento da desumanização da justiça. Máquinas cospem sentenças e ditam o ritmo e a qualidade da justiça que se tem. O importante é ter o documento!
		O Estado se torna um prestador de produtos de justiça, despejados em uma maré diária de processos que empanturram como incômodo oneroso às prateleiras das repartições públicas. Despachar rapidamente é enviar também rapidamentepara o incinerador o entulho processual sobressalente das prateleiras. Justiça boa é justiça célere para as partes e para os advogados. Trata-se da emergência do juiz-máquina, aquele que realiza 40 audiências-dia, despacha 30 processos-dia, expede sentenças-modelo e dá continuidade a práticas repetitivas. O melhor desempenho significa o maior número de processos despachados, então o vocabulário das práticas judiciárias passa a evocar um novo dicionário, o dicionário da justiça da era técnica, e os termos em evidência são: celeridade; quantidade; produtividade.
		A autonomia no judiciário caminha no sentido da recuperação da humanização dos procedimentos e na implementação de condições de superação do predomínio da razão instrumental no domínio das práticas judiciárias. No entanto, quando se percebe que o perfil das pessoas que buscam carreiras públicas e acorrem aos concursos públicos é de que o fazem geralmente motivadas por uma ética da estabilidade financeira, é claro que tudo isso somente contribui para empobrecer ainda mais o horizonte futuro para a possibilidade de mudanças desse quadro.
		Justiça reclama ponderação, e não mecanismo. O juiz representa a imparcial e equidistante personificação da justiça. O humanismo que se requer em sua formação não é algo que se exige desmotivadamente, pois a lógica da atividade julgadora é uma lógica humanista e do razoável, com apelo para a prudência e para a capacidade de adequação de diversos fatores.
5.3. Pós-modernidade e contexto global
		De pronto pode-se dizer que a pós-modernidade vem acompanhada pelo processo de expansão dominial do capitalismo. Sem dúvida, a expansão do mercado capitalista internacional fez com que a dominação econômica avançasse enormemente nas ultimas décadas, criando a real dependência de determinadas economias nacionais aos fluxos e refluxos do capital estrangeiro.
		A globalização corresponderia a um processo de renúncia ao regionalismo e abertura para a dimensão da integração cultural, tecnológica, educacional, axiológica, econômica etc. Acentue-se o fato de que a globalização ganha um acentuado sentido financeiro e muito menos cultural, na ênfase dada à mercantilização. Se a globalização fosse um processo de abertura e integração culturais, teria, por certo, resultados diferentes dos colhidos contemporaneamente. A globalização abre campo para a integração das formas pelas quais os povos constroem suas regras na órbita internacional.
		Não seria de se esperar nada diverso disso, na medida em que os princípios diretivos da territorialidade das leis tornam-se relativos em face dos desafios criados pelos crimes sem pátria, pelos ilícitos praticados em ambiente virtual, por provedores situados em solo estrangeiro, pelo terrorismo apátrida, pelos genocídios e uso de armas químicas de destruição em massa etc.
		Enfim, o que se quer pensar como legítima transformação em direção à integração dos povos não se relaciona com o processo em curso, ou seja, o conjunto de efeitos da globalização. A globalização que possui mera perspectiva econômica é a potencialização mundial das instabilidades de mercado necessária para a construção de status favorável à hegemonia econômica por parte dos líderes do mercado.
		O que se percebe é que, por vezes, estruturas que aparentam possuir certa legitimidade internacional, como a ONU, são, na verdade, expressões do próprio capitalismo reinante, realizando interesses econômicos de nações desenvolvidas, como os Estados Unidos, que passam a se utilizar de pseudopolíticas de direitos humanos na condução dos negócios mundiais.
“O desenvolvimento da técnica inclui o desenvolvimento de mecanismos de extermínio e perseguição do homem sobre o próprio homem.” A afirmação de Eduardo C. B. Bittar pode ser aplicada no contexto da guerra fria no qual tanto a URSS quanto os Estados Unidos tinham poder bélico suficiente para destruir diversas vezes o planeta. Quanto mais desenvolvida é a tecnologia maior é a possibilidade de destruir a humanidade. 
A união de técnica, política e dominação social impede a ideia do convívio baseado nas liberdades individuais, na liberdade e na fraternidade. Muitas vezes a violência é transferida para o campo político, consequentemente a destruição acaba se tornando uma ferramenta para atingir os objetivos daqueles que são detentores do poder político. Quando a tecnologia de guerra é usada para ferir um grupo humano ocorre o processo de traumatismo da memória psicossocial de um povo. Muito mais difícil do que uma pessoa superar um trauma é um grupo de pessoas esquecerem uma violência sofrida. 
		O mundo sempre está no ápice de seu desenvolvimento tecnológico. Esta tecnologia pode ser usada tanto para melhorar o bem-estar social, quanto para potencializar o potencial destrutivo do homem. Aumentando a proporção das tragédias abrindo caminho para uma ameaça coletiva e pública, tendo em vista que essas armas possibilitam o alcance simultâneo de milhares de vítimas.
		Os desastres provocados pelo homem como o holocausto, a perseguição étnica e a tortura têm por objetivo aniquilar a existência histórica e social de um determinado grupo. Mas, como a população admite atos como genocídio? Essas tragédias são possíveis devido ao processo de servilização da razão, ou seja, o homem abandona sua consciência tornando-se servo dominado pelo poder econômico ou militar. 
		Como detecta Fucault, os germes do nazismo, do stalinismo e do totalitarismo do século XX já estavam presentes no século XIX. Diversos países buscavam hegemonia política econômica e militar, estes movidos muitas vezes por ideais do liberalismo faziam tudo que fosse necessário para alcançar seu objetivo. Esta postura leva aos extremismos e ao desrespeito dos direitos humanos. 
		“Posto que a violência distintamente do poder, força ou vigor sempre necessita de implementos como a revolução tecnológica, uma revolução na fabricação dos instrumentos, foi especialmente notada na guerra.” Na afirmação de Hannah Arendt é possível notar que o poder se instrumentalizou pela violência, que por sua vez se reforça pela tecnologia. 
		Especialmente no século XX o mundo presenciou as mais absurdas atrocidades provocadas pela infinita capacidade destrutiva do homem. Auschwitz, armas químicas, bombas atômicas, usos de pesticidas desfolhantes no Vietnã, técnicas de tortura na ditadura militar brasileira. Ainda que ao longo da história se busquem justificativas para tais atos como: necessidades sociais, fatores econômicos, fundamentos históricos, determinismos ambientais, entre outros, o desrespeito à vida e à dignidade humana é injustificável.
		A percepção do real potencial exterminador do homem é notada durante a segunda guerra mundial, onde ocorreram todas as práticas de violência, sejam elas físicas psíquicas ou morais. Durante este período ocorreu a domesticação e a coisificação do homem. Com o emprego da tecnologia multiplicaram-se as formas de terror as ações lesivas passaram a ser mais impactantes, aumentando a proporção das catástrofes e abrindo caminho para uma ameaça coletiva e política. 
		A tecnologia aliada às técnicas de compra e venda fortificou a capacidade de promover a violência entre os homens, por exemplo, a fabricação de bombas atômicas. Sendo assim, de acordo com o pensamento de Hannah Arendt: quando há cumplicidade entre ciência e militarismo não há mais vencedor ou vencido, pois a vitória de um dos lados simboliza o fim de ambos. Com a tecnologia, a possibilidade de acabar com o mundo deixou de ser ficção, esta possibilidade e este medo atordoam os chefes de estado, principalmente os chefes cujos países possuem alta tecnologia bélica. Esta insegurança só acabará quando houver uma reforma na mentalidade global, que considera seriamente a periculosidade destas armas. Assim, o campo das relações políticas internacionais será mais estável. 
		Com a globalização pós-moderna ocorreram transformações na maneira de administrar, especialmente no modelo institucional que fornece a base do conceito de estado nacional.Os conceitos de território, povo, soberania e governo autônomo passaram por mudanças. Mecanismos de integração como blocos econômicos, promoveram a fragmentação das fronteiras territoriais, estes facilitam a circulação de pessoas, moedas e produtos. 			Consequentemente, ocorre o intercâmbio político, linguístico, social e cultural. Com a globalização surge a necessidade de criar nos grupos de povos como o “cidadão do mundo” o que garante a fixação de direitos humanitários independentemente do território. Já não existe mais a concepção de soberania absoluta de um estado, uma vez que as relações políticas e econômicas ocorrem a nível mundial. Por exemplo, o FMI (fundo monetário internacional) tem como função ordenar as relações financeiras do mundo, o que gera efeito na vida dos grandes capitalistas, assim como na vida do trabalhador. Essas transformações tornam as intersecções culturais, processos inevitáveis, principalmente no que se trata da intervenção cultural promovida pelas grandes potências econômicas.
		Existem inúmeros dualismos no mundo, sejam eles ideológicos, sociais ou culturais, por exemplo, oriente X ocidente, liberalismo X estadismo, individualismo X coletivismo, entre outros. Essas diferenças levantam questionamentos acerca da universalização dos direitos humanos e do intercâmbio cultural sem o rompimento de tradições e dogmas culturais. O caminho para o convívio está na aproximação tolerante defendida por Boaventura de Souza Santos, para o pensador o diálogo e o multiculturalismo são necessários para que a globalização ganhe um sentido valorativo e aceitável no século XXI. 
5.4. Pós-modernidade razão e saber 
		Durante a segunda guerra houve o afastamento da realidade dos laboratórios e da realidade vida social, o que permitiu o desenvolvimento de armas de destruição. Durante o pós-guerra foi necessária a reavaliação do objetivo da ciência. Durante o século XIX o projeto científico-desenvolvimentista foi colocado em prática. Este tinha como ideais a ordem, o progresso, o desenvolvimento, a tecnologia e o conforto. Porém, a humanidade percebeu que o comportamento positivista levou a desastres ambientais pelo uso de produtos químicos, destruição de material genético, bombas atômicas, corrida nuclear, mortes em guerras e destruição em massa. Logo, foram levantados grandes questionamentos acerca da real finalidade da ciência. Então a ciência passou a ser vista como instrumento para promoção de uma vida decente.
		A crise da finalidade da ciência provocou fissuras nos conceitos tradicionais do direito. O positivismo na história influenciou a aplicabilidade do direito, uma vez que as leis passaram a ser vistas de forma dogmática. Com o questionamento da visão positivista no mundo o modo de interpretar a ciência jurídica passou a ser questionado por alguns estudiosos, consequentemente surgiram novas formas de enxergar as leis. Por exemplo: o direito passou a reconhecer as questões psicológicas, não somente as legais; Houve a união entre dogmática e zetética, reconhecendo as demandas sociais, culturais e regionais populares; 		O estudo do direito frente aos problemas sociais foi aprofundado, o que promoveu uma série de criações ou modificações legislativas e, principalmente, o direito passou a se preocupar com a cultura da não violência buscando alternativas para solucionar os conflitos em busca de evitar o direito vingativo.
5.5. Pós-modernidade, educação e diálogo
		Qual é o objetivo da educação? Antes de tudo é preciso entender que educar não significa formar. Educar pode ser visto como o desenvolvimento de habilidades, qualidades e competências, podendo prejudicar importantes características da personalidade do indivíduo. Toda educação introjeta valores naquele que é educado, podendo inclusive induzir teorias de coletividade que sufocam a autonomia individual, como é o caso dos regimes ditatoriais. A educação também pode ser opressiva e formadora de uma consciência opressora. 
		O educador possui uma imensa responsabilidade histórica, pois a educação deve ser desafiadora, para que promova mudanças, assim sendo emancipatórias. Do contrário, educar seria doutrinar a reproduzir ideia já conhecidas. É necessário conhecer o passado histórico para que se faça uma análise crítica dos acontecimentos, afim de que os erros do passado não sejam cometidos no presente e no futuro.
		A sociedade contemporânea é fruto das evoluções tecnológicas dos séculos XIX e XX, filha de revolução feminina, sexual, dos costumes, da revolução estudantil, religiosa, entre outras revoluções que ocorreram em um curto período de tempo. Esta sociedade passa por um choque de gerações e tenta se adaptar a condições de vida casa vez mais complexas. Vive-se em um estado de tensão, todos temem algo seja a queda do governo, o PCC ou a traição societária. A história do mundo fez o ser humano se tornar um ser individualista o que pode ser percebido em suas relações sociais. 
		A escola de Frankfurt faz uma consistente crítica à absorção de informação sem análise crítica antecipada. No mundo globalizado a quantidade de informação é infinita, porém a maioria dos homens simplesmente admite o que os veículos de comunicação informam como verdade absoluta. Esta atitude torna esta parcela do povo, massa de manobra, pois ao abrir mão do seu direito de sistematizar uma opinião crítico-reflexiva, o povo fica alheio ao processo de dominação. Por isto, é possível perceber o papel da educação emancipatória que constrói a autonomia intelectual do ser humano. 
		A principal preocupação da educação é que Auschwitz não se repita. Por isto é necessário formar uma juventude que conheça seu passado histórico. Afinal, Auschwitz não é problema de um povo, é da humanidade. Não é apenas esta tragédia que deve ser lembrada, mas também, a ditadura militar, o onze de setembro, o impeachment do Collor, Ruanda, invasão do Iraque e tantas outras que precisam ser estudadas para que não voltem a acontecer. O ensino jurídico atual forma majoritariamente profissionais tecnicistas cuja mentalidade é formada para a aceitação e o questionamento é sempre mal visto. A maioria das faculdades de direito não formam juristas, formam operários do sistema. É importante ressaltar o poder da televisão como veículo de comunicação formador de opinião. Porém, na maioria das vezes, veicula informação carregada de ideologias formando de maneira equivocada a consciência dos espectadores. 
		É necessária uma reforma no sistema educacional jurídico. É imprescindível estimular o desenvolvimento fundador de cidadania. É preciso acabar com o modelo de pensamento unilateral, a fim de gerar um modelo de estudo provocativo e questionador. É preciso tornar a ciência do direito, mais humana, cuja formação integral retoma a consciência prática de uma razão emancipatória e, concomitantemente, crítica do modelo tecnicizante e pouco subjetivo do direito. 
5.6. Pós-modernidade, razão e afeto
		A história ocidental é marcada pelo predomínio racional masculino, especialmente como regulador de comportamentos. Assim como o homem, o direito como lei é visto como força que determina os limites da sociedade de forma vertical e imperativa do controle social. Os gregos sempre usaram figuras femininas para simbolizar a justiça. É possível notar uma separação entre os conceitos de direito e justiça, pois agir de forma justa é fazer uso do bom senso reconhecendo a singularidade do caso concreto e as particularidades humanas.
		O bom senso deve ser o norteador do direito, pois quando o direito não é ético, este pode legitimar atos opressores. Um exemplo disto é Auschwitz, afinal nada do que foi feito contrariava a lei, porém ainda sim as atitudes eram um grave desrespeito à dignidade humana. Então, é necessária a feminilização do direito para que direito e sensibilidade possam se encontrar objetivando a promoção da justiça. 
5.7. Pós-modernidade, poder e políticas públicas
		O estado tem a função de agir como regulador da ordem social, respeitando os direitos fundamentaise punindo de acordo com a lei. Ele deve ter capacidade de ordenar as metas sociais de: distribuição de riquezas; fornecimento do bem-estar social; promoção da justiça; e estabilidade econômica.
		A justiça social só pode ser alcançada em uma sociedade que possui condições plenas de uma vida digna, como: transporte, higiene e acesso à saúde. Na pós-modernidade o estado considera os aspectos democráticos de condução do poder como abertura para movimentos sociais e a abdicação do papel centralizador das normas. 
6. Razão Comunicativa, pluralismo religioso, democracia e direitos humanos
A relação entre direito e religião está em constante discurso, principalmente sobre a perspectiva pós-moderna. O debate, não sustenta a ideia de que as dogmáticas religiosas devem se sobressair ou serem condenadas, e sim, interligá-las ao direito.
Obviamente, as religiões do mundo todo possuem a função "simbólica" de responderem a questionamentos intrínsecos dos indivíduos, como: "para onde vou?”, “o que sou?". Além do fato, que é da própria natureza humana o sentimento de "culpa”, e assim, crenças sobrenaturais oferecem a "ilusão" de uma luz na escuridão, em síntese, torna-se um acalento existencial.
Contudo, é notável que no Estado Laico exista um campo de tensões entre este, autoritário e detentor de racionalismo, em contrapartida a liberdade de culto e o direito à manifestação religiosa, as quais são dispostas em lei. Ou seja, há uma razoabilidade entre Estado Laico e a Religião? Há uma adaptação aos novos pluralismos religiosos e o direito à legislação do aborto?
Em síntese, não se trata de uma negação de valores religiosos, mas sim, igualdade axiológica.
Atualmente, é notável a crescente dinamização religiosa, até mesmo do fanatismo. Bittar aborda: “não há como afirmar uma sociedade laica sob a manutenção da hegemonia espiritual e temporal da Igreja”, assim, há uma constante "guerra" entre a afirmação territorial e a espiritualidade doutrinária. Vale ressaltar, que ao longo da história, há um avanço no ateísmo, o que, porém não significará privatização ou ausência da fé. Logo, a religião torna-se uma racionalidade possível.
A modernidade possibilitou tal abertura para a transformação do indivíduo, pois há uma ruptura com o pensamento medieval e uma nova afirmação do ser humano.
Surge então a necessidade de um "direito à fé”, em função do individualismo e ideia do sujeito como portador de direito.
É importante analisar a maneira como as guerras, fundamentadas no extremismo religioso, foram responsáveis pela privação, desordem social, extermínios e até mesmo genocídios. Há uma confluência de períodos, com a formação do Estado Moderno e o fim das guerras religiosas da Europa. Há uma crescente disseminação da intolerância.
“A palavra de ordem do século XVI se torna, portanto, tolerância. O nascimento do termo é, portanto, moderno como registra Habermas. O surgimento do termo e a sua consagração jurídica estarão atrelados à necessidade de fazer face à intolerância. Motivo pelo qual a própria origem do termo, extraído que é do latim e do francês, significa uma forma de compreensão do mundo em que o infiel não mais se confunde com um inimigo da fé, mas como o portador de um direito a sua fé, ou ao direito de não exercer nenhuma fé" (p. 452).
De fato, a intolerância religiosa e o fanatismo, os quais proporcionaram guerras sanguinolentas, tornam-se insustentáveis aos olhos do discurso filosófico moderno, que considera a religião um conjunto de hipocrisias. Assim, haverá todo um direcionamento,como se observa na Declaração Universal dos Direito Humanos,no artigo 18, o qual dispõe: “Todo homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião, este direito incluiu a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular". 
Bem como, fundamenta o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, de 1966, no artigo 18 "(...) a liberdade de pensamento, de consciência e de religião (...). Os Estados-partes no presente Pacto comprometem-se a respeitar a liberdade dos pais, quando for o caso, dos tutores legais de assegurar aos filhos a educação religiosa e moral que esteja de acordo com suas próprias convicções". E por sua vez, a Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, afirma: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma de lei, a proteção aos locais dos cultos religiosos e a suas liturgias”.
O século XX possibilitou a "dilatação" do fervor religioso, e a crescente sensação de exaustão da modernidade reinstaura a retomada aos fundamentos religiosos surge então discursos apocalípticos em função da complexidade das situações de barbárie que se difundiram.
Não obstante, com o capitalismo a todo vapor, obviamente, a religião também se tornou alvo de comércio, uma vez que os desencantamentos da vida produzem um materialismo cego e desorientado, surge o conceito de "mercadurização das religiões".
O direito possui como alvo o encaminhamento dos modos pelos quais a esfera pública jurídico-constitucional da laicidade deve se constituir, em virtude do crescente pluralismo religioso. Há então, uma crise de consenso, afinal, quem é o verdadeiro detentor de uma verdade absoluta? Ou, se algum indivíduo é capaz de descrever tal verdade, seria ele capaz, também, de imprimir tal ideologia sobre os demais?
Em suma, o mundo pós-revoluções, pós-chegada na Lua, pós-bomba-atômica, pós-queda de Hitller, traz à tona o discurso sobre os direitos humanos, sendo assim, há novamente um choque, entre o discurso dos direitos humanos e a religiosidade. A diversidade é expressa, e não com rejeição ou incorporação.
Entende-se, que “a crença é uma forma de colocar margem e conferir definição aos contornos do indefinido, e permitir que sejamos convencidos racionalmente daquele ponto controvertido que se torna como inquestionável" (p.470). 
Corrobora-se, pois a existência de Estado Laico, o qual não afirme o racionalismo como detentor de verdade, e negue espaço à religião como inverdade, mas sim, aquele que possibilite a afirmação de ambas e as respectivas interpretações.
7. Natureza e barbárie no século XXI
Com o advento das revoluções e a ampliação da modernidade, o ser humano torna-se cada vez mais ambicioso e capaz de destruir a própria "casa" em função do mal do século: a ganância.
A ganância em sempre querer mais e nunca se encontrar satisfeito com aquilo que a própria natureza lhe oferece, e caso ofereça, torna-se facilmente objeto de comercialização de valores na bolsa comercial.
Se os indivíduos possuem um ordenamento jurídico, dotado de sanções, seria o caso de um ecossistema, sendo uma "sociedade organizada", também ser capaz e detentor de teor jurídico e apto para aplicar sanções ao homem que as descumprisse?
É importante analisar a maneira como a modernidade é caracterizada pela ideologia do "progresso”, e este por sua vez é sinônimo de sacrifício, algo ou alguém deverá ser aniquilado caso esbarre tal progresso.
Bittar, afirma: “Em nome do progresso, conseguiu-se um regresso tão ilimitado que ameaça colocar a humanidade toda sobre uma catastrófica e irreversível condição de barbarização “onde o progresso opera as aves não cantam”, choram, enquanto crianças soluçam".
O ser humano aniquila a natureza, e posteriormente, a torna uma "raridade" e eleva o preço desta, é o caso de condomínios luxuosos e de alto valor econômico, em função da parcela "natural" existente naqueles lugares.
Evidencia-se que "a natureza deve ser conhecida, entendida, estudada, mas com reverência, respeito e respondendo a uma ética do cuidado", para que haja um respeito até mesmo com a nossa primeira "casa", pois o homem é acima de tudo uma natureza, e nem ave, nem criança são uma ou outra, mais importantes.
A dignidade humana em perigo. 
A natureza tem suas próprias leis. Sendo assim, o homem

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