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Ameaças à Biodiversidade Enrico Bernard Laboratório de Ciência Aplicada à Conservação da Biodiversidade Depto. de Zoologia - UFPE 5 eventos de extinção em massa 25% Fam. 60% Gên. 22% Fam. 57% Gen. 18% Fam. 47% Gen. 95% spp. A sexta extinção em massa? "Current rates of extinction are about 1000 times the likely background rate of extinction. Future rates depend on many factors and are poised to increase." Ricketts et al. Nos últimos 100 anos há pelo menos 100 eventos bem documentados de extinção de espécies de aves, mamíferos, anfíbios e plantas. Extinções atuais A sexta extinção em massa? O termômetro das listas vermelhas Grupo % ameaçada Anfíbios ~33 Tubarões e arraias 17 Corais 27 Pássaros marinhos 27,5 Pássaros terrestres 11,8 Mamíferos ~25 Coníferas 34 • 70.294 spp. analisadas pela IUCN 2013 (~3% das spp. conhecidas): – 799 extintas – 61 extintas na natureza – 290 possivelmente extintas – 20.934 ameaçadas de extinção → 31% das espécies Para proteção da biodiversidade e dos serviços ambientais: → identificar quais são as ameaças e suas causas Principais ameaças à biodiversidade 1- Perda e transformação de habitats 2- Poluição e degradação ambiental 3- Superexploração de espécies 4- Introdução de espécies exóticas 5- Mudanças climáticas Não estão isolados e frequentemente interagem entre si. Principais fatores de mudança na biodiversidade e nos ecosistemas Millennium Assessment UN Millennium Assessment UN Principais fatores de mudança na biodiversidade e nos ecosistemas 1 em 1800 4 em 1975 2 em 1920 6.5 em 2005 População mundial (bilhões) Source: UN Population Div ision 2004; Lee, 2003; Population Reference Bureau Boom populacional 1- Perda e transformação de habitats Source: NASA 1- Perda e transformação de habitats 1- Perda e transformação de habitats Verde = alimentos consumidos diretamente por humanos Laranja = quantidade igual de alimentos para humanos e animais Vermelho = terras para produção de ração animal Verde = alimentos para humanos Laranja = quantidade igual Vermelho = produção de ração animal Impacto humano sobre ecossistemas marinhos Halpern et al. 2008. Science 319(5865):948-952. Temperate Grasslands & Woodlands Temperate Broadleaf Forest Tropical Dry Forest Tropical Grasslands Tropical Coniferous Forest Mediterranean Forests Tropical Moist Forest 0 50 100 % do bioma remanescente Perda de habitat até 1950 a 1990 Source: Millennium Ecosy stem Assessment 1- Perda e transformação de habitats A história dos processos de conversão varia entre biomas. Para uns, é mais antiga. Para outras, está acontecendo. 1- Perda e transformação de habitats Para qual finalidade a paisagem natural está sendo alterada? energia agricultura Florestas plantadas __ pecuária __ pesca __ construções e infraestrutura 1- Perda e transformação de habitats A Terra vista do espaço à noite 1- Perda e transformação de habitats 1- Perda e transformação de habitats % da terra de cada município brasileiro ocupado por atividades rurais. O peso do agronegócio na alteração da paisagem natural do Brasil 1- Perda e transformação de habitats Expansão da população rural no Brasil 1- Perda e transformação de habitats Perda de habitat nas regiões brasileiras 1- Perda e transformação de habitats Quais são as forças e agentes (drivers) envolvidas no desmatamento? São várias. E frequentemente interagem. . Vetores de ordem econômica (Mercados cada vez mais globalizados) . Vetores de ordem social (migração, pobreza e acesso à terra) . Vetores de infraestrutura (estradas, UHEs, grandes pólos minerais, estruturas de comercialização) . Falhas de Comando & Controle 1- Perda e transformação de habitats Relação entre área desmatada na Amazônia Brasileira e valor do dólar frente ao real Mercados cada vez mais globalizados Destino da venda de carne de frigoríficos da Amazônia (2000) Pecuária e desafios para a conservação ambiental na Amazônia. P. Barreto, E. Arima & M. Brito O Estado da Amazônia 5. 2005 1- Perda e transformação de habitats Fearnside, P.M. 2008. Ecology & Society 13(1) Atores envolvidos no desmatamento da Amazônia 1- Perda e transformação de habitats Fearnside, P.M. 2008. Ecology & Society 13(1) Dinâmica das transformações entre atores do desmatamento na Amazônia Brasileira 1- Perda e transformação de habitats 1- Perda e transformação de habitats Falhas no sistema de fiscalização e punição 2 anos após a Operação Curupira (2005/06), somente 4% dos crimes ambientais foram julgados culpados. Somente 1% das multas foram pagas. 1- Perda e transformação de habitats 1988 2008 Impunidade e a evolução do desmatamento na Floresta Nacional do Bom Futuro - Rondônia Falhas no sistema de fiscalização e punição Vetores econômicos e de infraestrutura 1- Perda e transformação de habitats Vetores de infraestrutura – A interceptação de cursos d’água e a construção de reservatórios 1- Perda e transformação de habitats Vetores de infraestrutura – A abertura de estradas 1- Perda e transformação de habitats 1- Perda e transformação de habitats Proximidade de estradas e incidência de incêndios na Amazônia Brasileira ● fora de UCs ■ dentro de UCs Trends in Ecology and Evolution Vol.24 No.12. Laurance, Goosem & Laurance Quanto mais longe das estradas, menor é a incidência de incêndios 1- Perda e transformação de habitats 2- Poluição e degradação ambiental CO2 Concentration (ppm) Source: Keeling and Whorf , 2005. A atividade humana atual já produz N equivalente à capacidade natural de bactérias fixarem-no nos continentes Concentração de nitrogênio depositado pela atmosfera 1860 1990 2- Poluição e degradação ambiental Aumento do transporte de nitrogênio para rios e estuários Eutrofização de ambientes aquáticos 2- Poluição e degradação ambiental Efeitos da degradação e remoção da cobertura vegetal em Madagascar 2- Poluição e degradação ambiental 240 BACIAS DESMATAMENTO > 25 % 2- Poluição e degradação ambiental 56 BACIAS DESMATAMENTO > 60 % 2- Poluição e degradação ambiental 43 BACIAS DESMATAMENTO > 90 % 2- Poluição e degradação ambiental 3- Superexploração de recursos naturais Ano de pico da pesca Harvest peak Pre-peak Post-peak Source: Millennium Ecosy stem Assessment and Sea Around Us project Superexploração de recursos pesqueiros 3- Superexploração de recursos naturais Concentração de biomassa de peixes comerciais (ton/km2) Source: Millennium Ecosy stem Assessment; Christensen et al. 2003 19002000 3- Superexploração de recursos naturais Os peixes estão sendo capturados à profundidades cada vez maiores. 3- Superexploração de recursos naturais Source: FAO 2000 Status dos estoques de peixes marinhos 3- Superexploração de recursos naturais O sistema pode estar próximo de um colapso… 3- Superexploração de recursos naturais Colapso dos estoques de bacalhau na costa Atlântica do Canadá Pesca sazonal, costeira e de peq. escala Pesca asazonal, alto mar e industrial Colapso dos estoques Moratória Mudanças no perfil trófico das capturas de peixes (1950-2000) → Esgotamento dos predadores 3- Superexploração de recursos naturais Captura “acidental” • ~100 milhões de tubarões/ano • ~300mil cetáceos • ~100 mil albratozes 3- Superexploração de recursos naturais 3- Superexploração de recursos naturais Efeitos indiretos O desmatamento das florestas do Gabão e as tartarugas marinhas. 3- Superexploração de recursos naturais Efeitos indiretos da superexploração de recursos 3- Superexploração de recursos naturais 4- Introdução de espécies exóticas Quando as invasões biológicas se tornam um problema ecológico? Quando sua velocidade e intensidade ameaçam a integridade ecológica de um ambiente. Tráfego aéreo Tráfego aéreo Tráfego marítimo Invasões biológicas em um contexto recente Espécies que se espalham além de seus limites originais, geralmente com o auxílio humano, deslocando espécies nativas de seus habitats nativos. (Institute for Biological Invasions - U Tennessee) Duas definições importantes Espécie exótica (ou introduzida) Espécie situada em um local diferente ao de sua distribuição natural por causa de introdução mediada, voluntária ou involuntariamente, por ações humanas. COP 6 (2002) Espécie exótica invasora Espécies não nativas cuja introdução e/ou disseminação em novos ecosistemas ameaçam a biodiversidade, a segurança alimentar, a saúde humana, o comércio, o transporte e/ou o desenvolvimento econômico. Global Invasive Species Program 2008 Ou seja: Nem toda espécie exótica é invasora... Invasões biológicas • Interferem no funcionamento de ecosistemas (predação, competição, exclusão, alteração da paisagem, disponibilidade de habitat, homogeneização, extinção e hibridização). • Afetam a qualidade de vida das pessoas (alimento, água potável e abrigo, doenças para humanos e não-humanos). • Tem impactos econômicos – Plantações, criações animais – Danos à estruturas e construções – Redução de potencial turístico • Elevado custo de controle e erradicação. O sucesso do invasor depende: • Potencial invasivo (invasiveness): – Dinâmica populacional do invasor: descendentes, estratégias K (bom colonizador) e r (persistente) – Capacidade de dispersão – Resiliência do invasor (plasticidade e tolerância) Caramujo africano Achatina fulica Água de lastro • Vulnerabilidade do sistema à invasão (invasibility) = oportunidade de nicho – Presença de micro-habitats a serem ocupados – Ausência de agentes controladores (predadores, competidores, doenças) Coral sol – Tubastraea spp. Peixe-leão – Pterois spp. O sucesso do invasor depende: Atributos que favorecem espécies invasoras • Fecundidade elevada • Tamanho corporal reduzido • Reprodução vegetativa ou assexuada • Diversidade genética elevada • Plasticidade fenotípica elevada • Ampla amplitude geográfica • Tolerância fisiológica • Generalismo de habitat • Comensalismo com humanos • Reduzido número de inimigos naturais • polifagia Fonte: Global Invasive Species Program Um estudo de caso • Ilha de Guam: território americano na Micronésia (Pacífico) • ~1950: introdução acidental da serpente australiana Boiga irregularis • Presente: 80 milhões de B. irregularis em Guam. • 1998: avaliação do status das espécies locais Grupo Espécies sobreviventes Espécies extintas por B. irregularis Aves 6 em 21 (28%) 12 (57%) Mamíferos 1 em 3 (33%) ? Répteis 6 em 10-12 (50-60%) 3-5 (25-50%) Fritts & Roda. 1998. Ann. Rev. Ecol. Syst. 29:113-140. 1 2 3 4 5 6-7 8-11 12-13 14-15 16 17-21 22-23 24-25 † † 3 † † † † † 14-15 16 †††† †† †† 16 spp. extintas em 50 anos † A “síndrome do nariz branco” e mortalidade de morcegos Quando invasões biológicas ameaçam todo um grupo... A “síndrome do nariz branco” e mortalidade de morcegos Causada pelo fungo invasor Geomyces destructans Dignóstico inicial na Europa. Primeiro registro nos EUA em Fev/2006, possivelmente trazida por espeleólogos. Já matou mais de 6 milhões de morcegos nos EUA e Canadá. Apontada como a maior ameaça já detectada para morcegos. ► Impactos ecológicos e econômicos Espécies exóticas invasoras (EEI) no Brasil • 386 spp. identificadas • 11.263 registros de invasão no Brasil (RIAIB) • FIOCRUZ 2005: 98 EEI afetam a saúde humana (helmintos, vírus, plantas, artrópodes, bactérias) • EMBRAPA 2005: – 50 EEI já afetam a agropecuária no Brasil – 104 spp. tem potencial de se tornarem invasoras • 75% introduções intencionais (ex. caramujo africano, javali, braquiária, pinus, tilápia...) • DNOCS: 42 spp. de peixes e crustáceos em 1000 reservatórios no NE Fontes: Insituto Hórus/TNC 2008; MMA 2011 EEI no Brasil: arcabouço legal • Lei de Crimes Ambientais (LF 9605/1998) - crime ambiental disseminar doença, praga ou espécies que possam causar dano à agricultura. pecuária, fauna, flora ou ecossistemas. • Política Nacional da Biodiversidade: recomenda a adoção de medidas preventivas, de erradicação e controle de invasoras. • SNUC, Art. 31: É proibida a introdução, nas UC, de espécies não autóctones. Desafio: conceito ainda não difundido entre profissionais de agricultura, quarentena e população em geral. 4- Introdução de espécies exóticas Mudança global no clima do planeta Mudanças climáticas → alterações de barreiras biogeográficas históricas Invasões biológicas em um planeta em mudança Ampliação da passagem Norte Pacífico – Atlântico → Nova zona de contato entre biotas Invasões biológicas em um planeta em mudança • Acacia spp. na Austrália: • A) cenário atual • B) + 2°C, + 10% umidade • C) + 2°C, - 10% umidade Extraído de Begon et al. 2007 Mudanças climáticas → Alterações de termoclinas → expansão de EEI A B C Mudanças climáticas globais afetam tanto o potencial invasivo das espécies, quanto a vulnerabilidade dos sistemas à invasão 5- Mudanças climáticas Temperatura global da superfície da Terra (oC) em relação à média de 1890 a 1900. Source: Hadley Centre for Climate Prediction and Research A temperatura do planeta está mudando 5- Mudanças climáticas A conexão entre mudanças climáticas e a biodiversidade • Alterações nas condições dos ambientes – Temperatura e stress térmico – Pluviosidade – Produtividade – [CO2] na atmosfera – Propensão à incêndios – Lixiviação e erosão → estrutura física – % e frequência de áreas alagadas – Abertura de nichos – disponibilidade de sítios reprodutivos – demanda por água para irrigação ??? Índice de verdor da floresta: em vermelho áreas onde a floresta ficou mais seca (UBoston/Nasa 2011) Em verde, áreas com redução da área foliar da floresta (UBoston/Nasa 2011) Mudanças climáticas e a potencialização de agentes de alteração do ambiente Enchentes 5- Mudanças climáticas Mudanças climáticas e a potencialização de agentes de alteração do ambiente Incêndios 5- Mudanças climáticas A conexão entre mudanças climáticas e a biodiversidade • Alterações em organismos e populações – Reprodução – Estrutura etária e recrutamento – Custos de termorregulação – Fitness e sobrevivência – Proporção entre machos e fêmeas – Disponibilidade de presas – Sazonalidade e migração – Genética ≠ ??? ≠ ≠ ≠ V u l n e r a b i l i d a d e Exposição Sensibilidade Capacidade adaptativa Tolerância Mudança de habitat Migração Extinção + + = Baseado em Dawson et al. 2011. Science 332:53-58 e/ou e/ou e/ou Quem fica? Como fica?
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