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DIREITO CONSTITUCIONAL III EMENTA Poder Executivo, Judiciário, Funções Essenciais á Justiça, Poder Legislativo, Processo Legislativo, Controle de Constitucionalidade e Ordem Social. Bibliografia Sugerida: SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Malheiros BULOS, Uadi Lammego. Direito Constitucional ao Alcance de Todos. São Paulo: Saraiva __________________. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva. MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva. SILVA Neto, Manoel Jorge. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Saraiva ......................................................................... OBS: Na compra de obras novas, verificar se estão atualizadas até a EC 66 de 13 de julho de 2010 SEPARAÇÃO DOS PODERES A idéia de que o Poder Público exerce funções de natureza diferenciada é antiga. Aristóteles falava disso. O tema ganhou relevo no séc. XVIII graças ao trabalho de um autor francês chamado Montesquieu que, em síntese disse o seguinte: não importa se há várias funções estatais, o que realmente interessa é saber quem exerce as funções estatais. E ele propôs que funções estatais distintas fossem exercidas por órgãos distintos, autônomos, independentes. De modo que um deles controlasse a atividade do outro. De modo que nenhum deles pudesse fazer tudo sozinho. Portanto a doutrina é a da Separação Orgânica do Poder. Órgãos independentes, autônomos, exercendo funções diferenciadas. Costuma-se dizer que o poder é indivisível. Haveria um único poder, portanto o correto é falar em funções estatais e não em poderes estatais. Mas na prática a própria Constituição fala em poderes da República. Essa doutrina, portanto, era a doutrina da separação orgânica do poder e o seu grande objetivo era a evitar a concentração do poder. É por isso que se diz que não há constituição se não houver a previsão da separação dos poderes. A idéia da separação dos poderes foi aprimorada a partir do momento em que passaram a exigir freios e contrapesos (conhecidos na doutrina como checks and balances). Essa idéia de freios e contrapesos se desenha de duas maneiras: 1º - Distinção entre Funções Típicas e Atípicas Função Típica é a função característica, é a função dominante. A função predominante do P. Judiciário é julgar; a função predominante do Poder Executivo é administrar; as funções predominantes do Poder Legislativo é legislar e fiscalizar. Ao lado das funções típicas os Poderes exercem também as outras, mas de maneira não predominante. É por isso que se diz que o Executivo excepcionalmente quando edita MPs (menos excepcionalmente do que se gostaria). É por isso que se diz que o P. Executivo julga quando pensamos nos recursos administrativos. O P. Judiciário legisla julga, mas quando edita, p. ex., súmulas vinculantes ou quando julga Ações de Constitucionalidade, acaba produzindo normas. Os funcionários do Judiciário são administrados pelo próprio Judiciário. Ou seja, ao lado das funções predominantes, também chamadas típicas existem funções não predominantes chamadas atípicas. Isso é um momento desse chamado sistema de Freios e Contrapesos. 2º - Mesmo no exercício de função típica o poder não consegue fazê-lo sozinho (isoladamente). Não é função típica do Legislativo legislar? É, mas quando o legislativo aprova um projeto de lei ordinária ou complementar, esse projeto vai à sanção do presidente. O presidente pode vetar o projeto. Ele, o presidente não é do legislativo, mas está intervindo para a elaboração de leis. Mesmo no exercício de função típica, no caso a legislativa, o Poder Legislativo não consegue fazê-lo sozinho (isoladamente). O Judiciário julga, é verdade, mas julga com base na lei e os seus órgãos de cúpula são nomeados pelo Presidente da República (freios e contrapesos). O Poder Executivo administra o país, mas deve fazê-lo nos termos da lei, que não é feita por ele ou não isoladamente por ele. Percebam então essa idéia fundamental da separação de poderes. Mesmo no exercício de função predominante os outros são chamados a intervir e a colaborar. Esse arranjo é que se chama de harmonia e independência entre os poderes ou sistema de freios e contrapesos. A duração da doutrina da separação dos poderes, talvez uma das doutrinas mais bem sucedidas do Direito Constitucional é justamente porque se descobriu que ela oferece uma resposta interessante para limitar o poder. A partir do momento que sozinho não consigo fazer tudo, a partir do momento em que mesmo aquilo que me for atribuído dependerá de intervenção de outros, o meu poder fica limitado e esse sempre é o objetivo da Constituição. Há sistema de separação mais rígida e menos rígida de poderes. Por exemplo, na França a separação de poderes é mais rígida: o Poder Judiciário não julga ações contra o Poder Executivo, para isso eles tem o chamado contencioso administrativo. Nos Estados Unidos a separação é mais rígida: o Judiciário não vai se imiscuir em questões políticas que estejam sendo discutidas no âmbito do Poder Legislativo. No Brasil, até em razão das características da nossa Constituição, esse sistema de separação de poderes é mais permeável, mais flexível, a coisa não é tão severa dessa maneira e é por isso que o Judiciário vai julgar ações promovidas contra o Executivo, por exemplo. Discute-se muito se esse sistema de separação de poderes continua conseguindo resolver problemas atuais. Pergunta-se: O MP integra qual poder? Há quem diga que o MP é um quarto poder, o que é totalmente desparatado. Não pode haver um poder se sua atuação, na verdade, é de propor, promover ou recorrer, mas não de decidir. Não é poder coisa nenhuma. O Tribunal de Contas da União integra qual Poder? São situações para as quais há um problema que é conseguir encaixá-las em qualquer dos poderes. O MP (para boa parte da doutrina – cuidado, não é posição pacificada) integra o Poder Executivo, embora o faça com autonomia e independência, mas é um órgão do Poder Executivo, não do governo, cuidado, mas do Executivo. Embora tenha garantias próprias da magistratura, é um órgão do Poder Executivo. O Tribunal de contas é aquele que suscita mais dúvida. É tribunal mas não é do Poder Judiciário e é órgão auxiliar do Poder Legislativo. Pergunta-se: Órgão auxiliar do Poder Legislativo significa que ele integra o Poder Legislativo? Ou que para certos fins ele auxilia o Poder Legislativo sem integrá-lo? Dizer que é órgão auxiliar significa dizer que integra? Se fosse assim a Constituição diria: O Poder Legislativo Federal é composto pelo Senado, pela Câmara e pelo Tribunal de Contas, e ela não faz isso. E o Tribunal de contas tem atribuições que não são de auxiliar o Poder Legislativo, tem atribuições próprias. Embora esse tema seja muito controverso, para alguns autores, o Tribunal de Contas integra o Poder Executivo, embora seja órgão auxiliar o Poder Legislativo na sua tarefa de tomada de contas. Esse é o pensamento do Min. Carlos Ayres Brito que escreveu sobre isso. Mas há um segmento da doutrina que fala que ele integra o Poder Legislativo (Posição Majoritária). Há certa dificuldade, portanto, da doutrina da Separação dos Poderes conseguir resolver situações novas e controversas. E isso, em particular, ocorre nos países que adotaram o Parlamentarismo. Porque noParlamentarismo, se pararmos prá pensar, não existe exatamente uma tripartição dos poderes; existem dois poderes e meio, tendo em vista que o Executivo é exercido, na verdade, pelo Legislativo. Alguém do Legislativo é quem exerce o Poder executivo enquanto tiver maioria. Perdendo essa maioria, deixa de exercer o Executivo. Enfim, não se arranjou nada melhor, mas é uma teoria que começa a mostrar uma certa fadiga. No Brasil a separação de poderes (a independência e harmonia dos poderes) é cláusula pétrea (art. 60, §4º da CRFB). Uma das controvérsias sobre isso é até um caso interessante, disse respeito à criação do CNJ, aliás, colegas, vale a pena analisar o art. 92 que trata do Poder Judiciário. Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário: I - o Supremo Tribunal Federal; I-A o Conselho Nacional de Justiça; II - o Superior Tribunal de Justiça; III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho; V - os Tribunais e Juízes Eleitorais; VI - os Tribunais e Juízes Militares; VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios. § 1º O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça e os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal. § 2º O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm jurisdição em todo o território nacional. Há dois fatos da maior significação que podem ser extraídos desse art. 92. Quando se criou o CNJ, o órgão de controle externo do Poder Judiciário houve certo incômodo por parte do Poder Judiciário em relação a isso. Houve certo temor de que o CNJ pudesse, na verdade, se imiscuir na missão própria dos juízes que é julgar, decidir, etc. Portanto, houve uma ADI da AMB (Associação dos Magistrados do Brasil) dizendo que o CNJ ofendia o princípio da separação de poderes, ofendia a harmonia e independência entre os poderes. Essa ADI foi julgada improcedente e o Supremo usou um argumento até topográfico dizendo o seguinte: nos termos do art. 92 o CNJ é órgão do Poder Judiciário. É claro que fica uma situação meio ridícula porque se é órgão de controle externo, como é que vai integrar o Poder. Mas isso aqui chamou a atenção também por outra razão: que Tribunais estão submetidos ao CNJ? Que órgãos do Judiciário estão submetidos ao CNJ? Também com argumento topográfico diz o Supremo: todos menos ele, porque o dispositivo começa com o STF, depois o CNJ e depois os demais. Portanto o CNJ acompanha a atuação de quem está abaixo. O Supremo está acima, os atos do Supremo, se alguém por acaso ficar abespinhado com algum ato do STF, não adianta ir ao CNJ. Enfim, o Supremo julgou constitucional a EC que criou o CNJ dizendo que o arranjo entre os poderes não é intocável. A separação de poderes não engessa, não impede que atribuição de um venha para o outro e vice-versa. O que a separação dos poderes não tolera, o que a cláusula pétrea não tolera é chegar ao ponto do sufocamento de um poder ou da diminuição significativa do espaço de um poder mas isso não impede que alterações pontuais como, p. ex., a criação de um órgão de controle externo seja feita. 1 – Poder Executivo 1.1 – Funções típicas e atípicas A função típica do poder executivo é praticar atos de Chefe de Estado e de Chefe de Governo, praticar atos de administração. Além disso, é possível que o Poder Executivo exerça uma função atípica, de natureza jurisdicional (quando, por exemplo, julga em procedimento administrativo). A jurisdição no Brasil é una (e não dual como na França, onde há o jurisdição administrativa). O executivo tem ainda uma função atípica legislativa, quando, por exemplo, o Presidente da República edita MP com força de lei. 1.2 – Sistema de Governo O sistema de governo no Brasil, inclusive confirmado por plebiscito, é o presidencialismo. Como visto anteriormente, não é possível a edição de EC que institua o parlamentarismo, sem a manifestação popular, em face deste plebiscito, porque a democracia direta prevalece sobre a democracia indireta. No presidencialismo há uma marca bastante típica: acúmulo das funções de chefe de Estado e chefe de Governo nas mãos de uma única pessoa, que é o Presidente da República. Por outro lado, no parlamentarismo há uma divisão; a função de chefe de Estado é exercida pelo Presidente da República ou pelo Monarca e a função de chefe de Governo é exercida pelo Primeiro Ministro. O Primeiro Ministro tem que ter o apoio do Parlamento; se o perder, é destituído. Por esta razão diz-se que a separação de poderes é mais nítida no presidencialismo do que no parlamentarismo, quer dizer, porque no parlamentarismo há uma maior aproximação do executivo ao legislativo, uma vez que o primeiro precisa do apoio do segundo. No presidencialismo os Ministros de Estado não dependem do Parlamento, o Presidente escolhe os Ministros de Estado unilateralmente, sem qualquer controle em face de apoio do Parlamento. 1.3 – Classificação do Executivo Há uma classificação de Maurice Duverger, segundo a qual o Poder Executivo pode ser classificado em 4 grandes grupos. i) executivo monocrático. Isto confirma a afirmação de que as funções de chefe de estado e de governo estão na mesma pessoa. Este seria o executivo brasileiro. ii) executivo dual ou dualista. É o executivo parlamentarista, no qual uma pessoa é chefe de estado e outra é chefe de governo. iii) executivo colegial. É aquele exercido por dois homens com poderes iguais. Ex.: cônsules romanos. iv) executivo diretorial. É o exercício da função por um grupo de homens, um grupo de pessoas. Ex.: ex-URSS e, hoje o que se verifica na Suíça. Dentro desta idéia é necessário chamar a atenção para os Executivos da Federação: i) Federal: Presidente da República ii) Distrital: Governador do Distrito Federal iii) Estadual: Governador do Estado iv) Municipal: Prefeito v) Território: Governador de Território Federal. O importante é lembrar dos Territórios. Nestes casos, o Governador não é eleito, ele é indicado e nomeado pelo Presidente da República, nos termos do art. 84, XIV: Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...) XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o presidente e os diretores do banco central e outros servidores, quando determinado em lei; 1.4 – Atribuições do Presidente da República Estão previstas no art. 84. Neste dispositivo estão as funções de chefe do Estado (ex.: quando o Lula viaja pelo mundo para representar o País, por exemplo) e chefe de Governo (ex.: administrar, inaugurar obras e etc.). As funções de chefe de Estado estão nos incisos VII, VIII e XIX e, as demais são funções de Governo: Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: I - nomear e exonerar os Ministros de Estado; II - exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração federal; III - iniciar o processo legislativo, na forma e nos casos previstos nesta Constituição; IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução; V - vetar projetos de lei, total ou parcialmente; VI - dispor, mediante decreto, sobre:(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos;(Incluída pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) VII - manterrelações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos; VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional; IX - decretar o estado de defesa e o estado de sítio; X - decretar e executar a intervenção federal; XI - remeter mensagem e plano de governo ao Congresso Nacional por ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a situação do País e solicitando as providências que julgar necessárias; XII - conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei; XIII - exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá-los para os cargos que lhes são privativos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 02/09/99) XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o presidente e os diretores do banco central e outros servidores, quando determinado em lei; XV - nomear, observado o disposto no art. 73, os Ministros do Tribunal de Contas da União; XVI - nomear os magistrados, nos casos previstos nesta Constituição, e o Advogado-Geral da União; XVII - nomear membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII; XVIII - convocar e presidir o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional; XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional; XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional; XXI - conferir condecorações e distinções honoríficas; XXII - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente; XXIII - enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas de orçamento previstos nesta Constituição; XXIV - prestar, anualmente, ao Congresso Nacional, dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa, as contas referentes ao exercício anterior; XXV - prover e extinguir os cargos públicos federais, na forma da lei; XXVI - editar medidas provisórias com força de lei, nos termos do art. 62; XXVII - exercer outras atribuições previstas nesta Constituição. Parágrafo único. O Presidente da República poderá delegar as atribuições mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte, aos Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República ou ao Advogado-Geral da União, que observarão os limites traçados nas respectivas delegações. Estas atribuições são delegáveis ou não? O parágrafo único do art. 84 diz que o Presidente poderá delegar apenas as atribuições mencionadas nos incisos VI, XII e XXV, primeira parte. E, poderá fazê-lo para: (i) os Ministros de Estado, (ii) Procurador Geral da República e, (iii) Advogado Geral da União. Decorar estes dispositivos. O inc. XXV, primeira parte fala em prover e extinguir cargos públicos federais; o que pode ser delegado é prover, o ato de extinguir os cargos públicos federais não pode ser delegado. 1.5 – Condições de Elegibilidade O tema já foi tratado. Mas basicamente, é necessário observar as condições do art. 14 da CF: Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular. § 1º - O alistamento eleitoral e o voto são: I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos; II - facultativos para: a) os analfabetos; b) os maiores de setenta anos; c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. § 2º - Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos. § 3º - São condições de elegibilidade, na forma da lei: I - a nacionalidade brasileira; II - o pleno exercício dos direitos políticos; III - o alistamento eleitoral; IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; V - a filiação partidária; VI - a idade mínima de: a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador; b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal; c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz; d) dezoito anos para Vereador. § 4º - São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos. § 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 16, de 1997) § 6º - Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito. § 7º - São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição. § 8º - O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições: I - se contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade; II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade. § 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para exercício de mandato considerada vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 4, de 1994) § 10 - O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude. § 11 - A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé. Ressalte-se, ainda, que nos termos do art. 12, para ser Presidente, tem que ser brasileiro nato, assim como o Vice: Art. 12. São brasileiros: I - natos: a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãebrasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 54, de 2007) II - naturalizados: a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade,residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.(Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994) § 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.(Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994) § 2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição. § 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos: I - de Presidente e Vice-Presidente da República; II - de Presidente da Câmara dos Deputados; III - de Presidente do Senado Federal; IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; V - da carreira diplomática; VI - de oficial das Forças Armadas. VII - de Ministro de Estado da Defesa(Incluído pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999) § 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional; II - adquirir outra nacionalidade, salvo no casos: (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994) a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; (Incluído pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994) b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis; (Incluído pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994) A eleição do Presidente é no primeiro domingo de outubro e, se houver segundo turno, no último domingo de outubro, nos termos do art. 77 da CF. Ressalte-se que a eleição do Presidente importará a eleição do Vice, mas nem sempre foi assim. Antes de 88 eles eram eleitos separadamente. E, a posse deve ocorrer obrigatoriamente no dia 1º de janeiro, nos termos do art. 82. Outro dado importante é que se o Presidente e o Vice não tomarem posse no prazo de 10 dias, o cargo será declarado vago, conforme art. 78, parágrafo único. Quando o Presidente toma posse, há uma sessão solene de deputados e senadores em conjunto. Ele toma posse prestando o compromisso descrito no art. 78: Art. 78. O Presidente e o Vice-Presidente da República tomarão posse em sessão do Congresso Nacional, prestando o compromisso de manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil. Parágrafo único. Se, decorridos dez dias da data fixada para a posse, o Presidente ou o Vice-Presidente, salvo motivo de força maior, não tiver assumido o cargo, este será declarado vago. 1.6 – Impedimento e vacância O Vice é o substituto natural do Presidente da República. Entre outras atribuições, a sua função é substituí-lo. Nos termos do art. 79 o Vice substituirá no caso de impedimento (ex.: Presidente tira férias) o que é temporário e, sucederá (ex.: morte ou impeachment), no caso de vaga, o que é definitivo. Art. 79. Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e suceder- lhe-á, no de vaga, o Vice-Presidente. Parágrafo único. O Vice-Presidente da República, além de outras atribuições que lhe forem conferidas por lei complementar, auxiliará o Presidente, sempre que por ele convocado para missões especiais. O que ocorre se vagarem os dois cargos? Haverá a substituição pelos substitutos eventuais ou legais (art. 80): Art. 80. Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Presidente, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal. Ou seja, no caso de impedimento ou vaga serão sucessivamente chamados o Presidente da Câmara, o do Senado e o do STF. Estas pessoas podem fazer tudo o que está no art. 84 (ex.: editar MP e etc.). Observação: a lei que criou a TV Justiça foi sancionada pelo Presidente do STF à época; Ministro Marco Aurélio. Durante o ano de 2010 muito provavelmente será verificada esta situação, quer dizer, o Lula vai viajar o mundo inteiro e o Vice não poderá assumir em face da doença. Assim o Presidente da Câmara terá que assumir. Ocorre que aqueles que assumirem a Presidências 6 meses antes das eleições, não poderão ser candidatos. Quer dizer, se o Presidente da Câmara assumir nos 6 meses anteriores às eleições, ele não poderá concorrer ao cargo de deputado federal. Isto, em face do principio da desincompatibilização, nos termos do art. 14, parágrafo 5º e 6º: Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: (...) § 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 16, de 1997) § 6º - Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito. Por esta razão, provavelmente quem irá assumir bastante a Presidência do Brasil no ano que vem será o Presidente do STF; ressalte-se que não há para o Presidente da Câmara e do Senado uma obrigatoriedade de eles assumirem o cargo no impedimento ou vacância. E, quando a vaga é definitiva? Suponha-se a morte do Presidente e do Vice, quem assume é o Presidente da Câmara, que deverá determinar novas eleições. Se a vaga se der nos dois primeiros anos do mandato, será feita uma nova eleição no prazo de 90 dias depois de aberta a última vaga. Por outro lado, se a vaga se der nos dois últimos anos do mandato, a eleição para os cargos será feita em 30 dias. Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga. § 1º - Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei. § 2º - Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de seus antecessores. Na primeira hipótese (vacância nos dois primeiros anos) a eleição é direta (pelo próprio povo) e na hipótese de vacância nos últimos dois anos, a eleição é indireta, pelo CN, na forma da lei (lei esta que não existe até hoje). Portanto, ainda há eleição indireta no Brasil. De qualquer forma, os candidatos terão que preencher todos os requisitos de elegibilidade. Assumindo os novos Presidente e Vice, eles vão só cumprir o prazo que faltava e não um novo mandato de 4 anos; trata-se do chamado mandato tampão. Estas regras são, por simetria, aplicadas aos demais entes da Federação. 1.7 – Ministro de Estado Qual a idade mínima para ser Ministro de Estado? Nos termos do art. 87 é 21 anos: Art. 87. Os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros maiores de vinte e um anos e no exercício dos direitos políticos. Parágrafo único. Compete ao Ministro de Estado, além de outras atribuições estabelecidas nesta Constituição e na lei: I - exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da administração federal na área de sua competência e referendar os atos e decretos assinados pelo Presidente da República;II - expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos; III - apresentar ao Presidente da República relatório anual de sua gestão no Ministério; IV - praticar os atos pertinentes às atribuições que lhe forem outorgadas ou delegadas pelo Presidente da República. Isto, porque Ministro de Estado é um cargo de confiança do Presidente da República; é por ele escolhido desde que preencha os requisitos e, pode ser demitido ad nutum, ou seja, não precisa de procedimento administrativo. Para ser Ministro de Estado é necessário ser maior de 21 anos de idade, estar no exercício dos direitos políticos e ser brasileiro (nato ou naturalizado, com exceção do Ministro de Estado da Defesa, que tem que ser brasileiro nato, nos termos do art. 12, parágrafo 3o, VII, pois é chefe das forças armadas, abaixo do Presidente). Lembre-se que como visto acima, algumas matérias poderão ser delegadas aos Ministros de Estado. De qualquer forma, as suas atribuições estão previstas no art. 87, parágrafo único. Em relação ao inciso I a questão que surgiu diz respeito à referenda ministerial; se um ato ou decreto não contiver a referenda ministerial, seria ele nulo? Há divergência forte na doutrina sobre a questão. Para o Prof. Lenza, o correto é dizer que seria nulo sim, como algumas decisões tímidas do STF parecem dizer. I - exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da administração federal na área de sua competência e referendar os atos e decretos assinados pelo Presidente da República; No que diz respeito ao inciso II, o interessante é que há instruções que poderiam regulamentar um decreto que regulamenta uma lei ou, diretamente uma lei. Ressalte-se, no entanto, que existindo um regulamento presidencial, não é possível a regulamentação da mesma matéria por uma instrução ministerial, pois o regulamento prevalece sobre a instrução. II - expedir instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos; Quem julga os Ministros de Estado? Nos termos do art. 102, I, c compete ao STF processar e julgar originariamente os Ministros de Estado nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, a não ser que o crime de responsabilidade do Ministro seja conexo a um crime de responsabilidade praticado pelo Presidente da República, caso em que incidirá o art. 52, I que determina que o julgamento será realizado pelo Senado e não pelo STF: Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993) b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República; c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999) Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 02/09/99) E, ACP de improbidade administrativa em face de ato praticado pelo Ministro de Estado? O STF entendeu que ele é competente, ou seja, não se aplica para o Ministro de Estado o art. 37, parágrafo 4º, que remete a aplicação da lei de improbidade (Lei 8.429/92). Quer dizer, o Ministro não responde com base na lei de improbidade, mas sim por crime de responsabilidade com base na lei 1.079/50 (vide reclamação 2138). Os deputados federais e senadores estão tentando que este entendimento aplique- se a eles. No entanto, o STF não tem aceitado e vem determinando que eles sejam julgados mesmo em primeira instância, nos termos da lei de improbidade, porque não são agentes políticos. 1.8 – Conselho da República e Conselho da Defesa Nacional São órgãos superiores de consulta. Quem compõe estes órgãos são, no que diz respeito ao Conselho da República: Art. 89. O Conselho da República é órgão superior de consulta do Presidente da República, e dele participam: I - o Vice-Presidente da República; II - o Presidente da Câmara dos Deputados; III - o Presidente do Senado Federal; IV - os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados; V - os líderes da maioria e da minoria no Senado Federal; VI - o Ministro da Justiça; VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três anos, vedada a recondução. E, o que o Conselho da República tem de atribuição está disposto no art. 90: Art. 90. Compete ao Conselho da República pronunciar-se sobre: I - intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio; II - as questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas. § 1º - O Presidente da República poderá convocar Ministro de Estado para participar da reunião do Conselho, quando constar da pauta questão relacionada com o respectivo Ministério. § 2º - A lei regulará a organização e o funcionamento do Conselho da República. Por sua vez, o Conselho de Defesa Nacional é composto, nos termos do art. 91, pelas seguintes pessoas. E, sua competência está prevista no parágrafo primeiro: Art. 91. O Conselho de Defesa Nacional é órgão de consulta do Presidente da República nos assuntos relacionados com a soberania nacional e a defesa do Estado democrático, e dele participam como membros natos: I - o Vice-Presidente da República; II - o Presidente da Câmara dos Deputados; III - o Presidente do Senado Federal; IV - o Ministro da Justiça; V - o Ministro de Estado da Defesa;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999) VI - o Ministro das Relações Exteriores; VII - o Ministro do Planejamento. VIII - os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999) § 1º - Compete ao Conselho de Defesa Nacional: I - opinar nas hipóteses de declaração de guerra e de celebração da paz, nos termos desta Constituição; II - opinar sobre a decretação do estado de defesa, do estado de sítio e da intervenção federal; III - propor os critérios e condições de utilização de áreas indispensáveis à segurança do território nacional e opinar sobre seu efetivo uso, especialmente na faixa de fronteira e nas relacionadas com a preservação e a exploração dos recursos naturais de qualquer tipo; IV - estudar, propor e acompanhar o desenvolvimento de iniciativas necessárias a garantir a independência nacional e a defesa do Estado democrático. § 2º - A lei regulará a organização e o funcionamento do Conselho de Defesa Nacional. 1.9 – Crime comum e crime de responsabilidade praticado pelo Presidente da República Nos termos do art. 102, I, c, a infração penal comum é julgada pelo STF. Infração civil é julgada pela Justiça Comum. Lembre-se do princípio da reserva constitucional de competência: para ser competência do STF, tem que estar expressamente previsto na CF. Por outro lado, se o crime for de responsabilidade,quem julga é o senado federal. Ressalte-se que quem preside o processo no Senado é o Presidente do STF, sendo que quem julga são os senadores. Nas duas hipóteses, para se iniciar o processo é necessária autorização da Câmara dos Deputados, que funciona como um órgão de pronúncia. O quórum de aprovação é de 2/3. Se a Câmara não autorizar, não há como forçar um julgamento, a decisão é definitiva. Por esta razão não foi instaurado um processo de impechment contra o Lula. Se a Câmara autorizar, o Senado é obrigado a instaurar o processo. No entanto, mesmo que tenha havido autorização da Câmara o STF não é obrigado a receber a denúncia por crime comum. Nos dois casos, o Presidente ficará afastado de suas funções pelo prazo de 180 dias, nos termos do art. 86, parágrafo 1º. Findo este prazo e não tendo terminado o processo o Presidente volta às suas funções, nos termos do parágrafo 2º: Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade. § 1º - O Presidente ficará suspenso de suas funções: I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime pelo Supremo Tribunal Federal; II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo Senado Federal. § 2º - Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver concluído, cessará o afastamento do Presidente, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo. § 3º - Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da República não estará sujeito a prisão. § 4º - O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções. É possível, portanto, a vaga do cargo, pois mais de 90 dias, sem que haja novas eleições. Crime comum é todo aquele que não é de responsabilidade e está previsto na lei. O art. 86, parágrafo 4º diz que o Presidente da República, na vigência de seu mandato não poderá ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções. Ou seja, o Presidente, nesta época, só poderá ser responsabilizado por atos práticos in officio ou propter officium. Por exemplo, o caso de crimes contra administração pública. Crimes que não digam respeito a atos de ofício não serão julgados. A doutrina chamou esta situação de irresponsabilidade penal relativa, porque a persecutio criminis fica provisoriamente inibida. Ex.: se ele matar a mulher não será processado durante o seu mandato. A prescrição do crime, naturalmente, fica suspensa. Por outro lado, são crimes de responsabilidade, nos termos do art. 85, os atos do Presidente que atentem contra a CF: Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra: I - a existência da União; II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação; III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais; IV - a segurança interna do País; V - a probidade na administração; VI - a lei orçamentária; VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais. Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que estabelecerá as normas de processo e julgamento. Em tese qualquer ato do Presidente que atentar contra a CF é crime de responsabilidade, mas para tanto é necessário estar previsto em lei. No caso é a lei 1.079/50. Ressalte-se o art. 15 desta lei, segundo o qual a denúncia só poderá ser recebida enquanto o denunciado não tiver, por qualquer motivo, deixado definitivamente o cargo. Ex.: a renúncia do Collor foi posterior à instauração do processo de impeachment; então a renúncia não surtiu efeitos. Art. 15. A denúncia só poderá ser recebida enquanto o denunciado não tiver, por qualquer motivo, deixado definitivamente o cargo. São duas as penas a serem impostas em crimes de responsabilidade, nos termos do art. 52: (i) perda do cargo e, (ii) inabilitação por 8 anos para o exercício de função pública. No que diz respeito ao crime comum, a pena será aquela determinada no Código Penal e poderá ou não haver a perda do cargo, como efeito da condenação criminal. Infração penal comum (crime comum) Crime de responsabilidade Julgamento STF Senado (condenação por resolução e quórum de 2/3) Autorização da Câmara Necessária, com quórum de 2/3 e não vinculativa Necessária, com quórum de 2/3 e vinculativa Afastamento Sim, por 180 dias Sim, por 180 dias Objeto Apenas crimes por atos praticados in officio A lei 1.079/50 define os crimes de (efetivo exercício da sua função) responsabilidade. Pena Pena prevista no tipo penal do Código Penal. (i) perda do cargo; (ii) inabilitação por 8 anos. PONTOS IMPOTANTÍSSIMOS No Brasil, portanto, temos o sistema presidencialista e as principais características são as seguintes: 1 – Elegemos um presidente e um vice; 2 – Mandato de 4 anos, permitida uma reeleição subseqüente; 3 – Elegemos o Presidente da República (que deve ser filiado a partido político) no 1º domingo de outubro do ano anterior ao do seu mandato, se nenhum candidato obtiver a maioria absoluta (1º número inteiro superior à metade do total) dos votos válidos (fora os brancos e nulos), se faz nova eleição no último domingo de outubro; 4 – O Presidente da República é eleito pelo voto popular, voto direto, mas há uma exceção que gostam de perguntar em concursos públicos: se houver vacância do cargo (presidente e vice renunciam, p. ex) interinamente vão assumir o Presidente da Câmara, o do Senado, e o do STF; mas isso é interinamente, precisarei eleger outro para colocar lá. Se a vacância se der nos dois primeiros anos do mandato, eleições populares (o eleito vai completar o mandato, não terá mandato próprio de 4 anos) mas se a vacância ocorrer nos dois últimos anos do mandato, não haverá eleições populares, que escolherá o presidente será o Congresso Nacional, portanto, nesse caso nós temos excepcionalmente eleições indiretas. O presidente é eleito em primeiro turno desde que tenha obtido maioria dos votos válidos, se não obteve, vão ao segundo turno os dois candidatos mais votados. Se ocorrer empate, o candidato mais idoso vai ao segundo turno. No segundo turno, novamente, será eleito o que obtiver maioria dos votos válidos. 5 – O Presidente tomará posse no dia 1º de janeiro, o que é uma situação muito delicada porque é difícil convencer autoridades estrangeiras a vir prestigiar a posse do Presidente da República do Brasil, se a posse é no dia 1º de janeiro. Se o sujeito vem da Europa, ele tem de sair de lá no dia 31. É uma situação extremamente constrangedora. Precisávamos alterar isso, colocar a posse um pouco mais prá frente. O problema é que se eu prorrogar o mandato do Presidente da República prá adiar por alguns dias, estarei abrindo uma porta para prorrogar o mandato do Presidente da República por mais um mês, um ano, etc, porque o princípio é o mesmo, por isso há um grande temor com relação a essa prorrogação, mas seria razoável para evitar o referido embaraço. 6 - O Presidente da República governa sem necessidade de maioria parlamentar; 7 – Ele governa com seus ministros. Ministros não precisam de autorização do Congresso, a nomeação é feita pelo Presidente da República. Os ministros, porém, devem ter mais de 21 anos e estar no gozo dos direitos políticos; 8 – Os ministrosassessoram o presidente, dirigem as pastas respectivas, e referendam os atos do Presidente da República. Referendo em Direito constitucional tem dois sentidos possíveis: consulta popular a respeito de lei; e anuência dos Ministros de Estado para com os atos do Presidente da República. É por isso que ao final das leis assinam os Ministros de Estado, é o tal do referendo (não é condição de validade da lei, a lei vale com ou sem ele, mas ele mostra que o Ministro, de algum modo, participou daquele debate); 9 – O PR pode solicitar e, algumas vezes, tem de solicitar o aconselhamento, o parecer do Conselho da República e do Conselho de Defesa Nacional. São órgãos opinativos (o Presidente não é obrigado a acatar seus pareceres) que são convidados a participar em situação de gravidade. O Conselho da República cuida mais de questões institucionais, se houver um grave risco às instituições brasileiras, é o Conselho da República que deve ser chamado e é por isso que a sua composição, além do Vice-Presidente, do Presidente da Câmara e do Presidente do Senado, inclui também o líder da maioria e o líder da minoria na Câmara e no Senado. Ele vai opinar p. ex., na decretação de Estado de Sítio, Estado de Defesa (restrições constitucionalmente autorizadas dos direitos fundamentais como o fim de proteção e fortalecimento do Estado) e Intervenção Federal. Estado de Defesa é figura mais branda, envolve conturbações regionalizadas. Estado de Sítio é Situação mais grave, significa que o Estado de Defesa não funcionou a contento ou que a conturbação já é generalizada desde o princípio, ou em caso de guerra, invasão externa, etc. Posso até declarar Estado de Sítio sem ter passado pelo Estado de Defesa. Em havendo Estado de Sítio ou Estado de Defesa o Conselho da República tem de se manifestar. Ele se pronuncia também diante da Intervenção Federal (medida excepcional que permite que a União afaste a autonomia dos Estados para proteção do pacto federativo). Como essas medidas, Estado de Sítio e Estado de Defesa e Intervenção Federal sempre são decretadas pelo PR ele deve, antes de fazê-lo, ouvir o Conselho da República. O Conselho de Defesa se volta muito mais a situações de agressão externa, de guerra externa. É por isso que ele será integrado pelos comandantes das forças armadas e pelo Ministro da Justiça, além de outras autoridades. O Conselho de Defesa, além de se manifestar sobre essas situações de beligerância, se manifesta também no caso de Intervenção Federal, Estado de Sítio e Estado de Defesa. Como já foi dito são pareceres não vinculativos, mesmo assim é muito importante. Se o Presidente declara Estado de Sítio e não era caso, é crime de responsabilidade. Se o Presidente declara Intervenção Federal e não era caso, é crime de responsabilidade. Portanto ouvir esses pareceres, acatar esses pareceres pode fazer toda diferença. 10 – No nosso país a autoridade máxima é o Chefe do Poder Executivo federal, e Presidente da República, às vezes se fala que a Presidência da República tem poderes imperiais. Entre os poderes dados ao PR destacados pelo art. 84, temos o declarar a guerra e celebrar a paz; chefiar as forças armadas; editar MPs; editar Decretos Regulamentares (ou seja, há uma lei e o PR regulamenta essa lei); editar Decretos Autônomos (PR pode gerir a Administração Pública via decreto, desde que isso não implique aumento de despesas, nem leve à extinção de órgãos). Também pela via de Decreto o PR pode julgar extintos cargos dentro da Administração Pública que não estejam sendo ocupados por ninguém, que sejam cargos vagos. Essa figura dos Decretos, chamados Decretos Autônomos, esta no art. 84, VI. O PR decreta Estado de Sítio, Estado de Defesa e Intervenção Federal. Ele concede indulto e comuta penas e; chefia a Administração Pública Federal. Então ele chefia a Administração Pública Federal; chefia as Forças Armadas; Declara Guerra; Celebra Paz; Edita MPs, Decretos Regulamentares, Decretos Autônomos; Comuta Penas; Concede Indultos; Nomeia os Ministros; participa do Processo Legislativo vetando ou não; tem iniciativa legislativa e manda para o Congresso os projetos de Leis Orçamentárias. Logo, o PR é a autoridade mais importante do país. O que não significa que não seja possível responsabilizá-la em dois casos (numa República, ninguém está isento de responsabilização): a) por crime de responsabilidade e; b) crime funcional. Crime de responsabilidade não é crime de verdade, é uma infração político-administrativa (é dizer que aquela pessoa não está em condições de continuar a exercer o cargo). Crime de Responsabilidade não é crime (fato típico, ilícito e culpável) é uma infração político-administrativo, tanto que as sanções do crime de responsabilidade são perda do cargo e inabilitação para o exercer qualquer outro por 8 anos. O Presidente, então, pode ser responsabilizado por crime de responsabilidade, mas pode ser responsabilizado, também, por crime comum. Curiosamente, não por qualquer crime, mas por crime que tenha sido praticado valendo-se das prerrogativas do cargo. Durante o seu período de mandato o PR não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções (art. 86, § 4º). Logo, se o PR for acusado de peculato (crime que para ser praticado exige a condição de funcionário público) é possível processá-lo, mas se o Presidente se envolver em uma briga de rua por causa de futebol, enquanto ele for presidente eu não posso processá-lo (art. 86, § 4º). É uma imunidade dada ao PR. Claro que terminado o mandato eu posso processá-lo. E enquanto não se pode processá-lo, não corre a prescrição. De qualquer maneira, num caso e outro, não é tão simples assim processar Sua Excelência, tanto no crime comum como no crime de responsabilidade, o processo vai exigir autorização da Câmara dos Deputados mediante 2/3 de votos. A Câmara dos Deputados funciona tanto no crime comum como no crime de responsabilidade. Ela autoriza a instauração do processo. O crime de responsabilidade será julgado pelo Senado, curiosamente numa sessão presidida pelo Presidente do STF. O Senado é obrigado a instaurar o processo se a Câmara autorizou. Já no crime comum, o PR será julgado pelo STF e este não é obrigado a instaurar o processo. A Câmara autoriza e o STF vai analisar se aquela denúncia ou queixa crime devem ser recebidas ou não. Instaurado o processo no Senado, instaurado o processo no STF, o PR ficará afastado das suas funções pelo prazo de 180 dias. Falamos em Impeachment como sendo impedimento, ou seja, retirada do sujeito do cargo, mas na verdade a expressão surgiu noutro contexto. Originalmente era esse afastamento do PR de 180 dias durante o processo (o termo é norte-americano). Então instaurado o processo no Senado, instaurado o processo no STF, o PR ficará afastado das suas funções pelo prazo de 180 dias. Terminado esse período, se o processo não terminou, ele volta para o cargo (originalmente isso era impeachment). Hoje em dia nós falamos em Impeachment não para significar esse afastamento cautelar, esse afastamento temporário, mas para significar a perda do cargo. Sua Excelência, o PR, na constância do seu mandato, não pode ser preso. Na verdade a CRFB diz assim: enquanto não sobrevier sentença condenatória nas infrações comuns o Presidente da República não estará sujeito a prisão. Significa que não é possível prender o PR nem em flagrante delito. Ora, a sentença condenatória por crime comum provavelmente implicará na perda do cargo, portanto, perdendo o cargo ele pode ser preso. Mas enquanto não perder o cargo não pode ser preso (art. 86,§ 3º). Quem tem que definiros crimes de responsabilidade é uma lei federal, não é possível fazê-lo, quer por lei estadual, quer por artigo de Constituição estadual. Só a lei federal pode prever crime de responsabilidade. Mas a CRFB já se adianta e indica alguns crimes de responsabilidade, algumas condutas que seriam crimes de responsabilidade (art. 85 da CRFB/88). Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra: I - a existência da União; II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação; III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais; IV - a segurança interna do País; V - a probidade na administração; VI - a lei orçamentária; VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais. Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que estabelecerá as normas de processo e julgamento. Portanto Presidente que pratica atos de improbidade está na verdade praticando crime de responsabilidade. Presidente que desobedece a lei orçamentária, crime de responsabilidade. Presidente que desrespeita o Poder Legislativo, Judiciário ou MP, crime de responsabilidade. Presidente que desrespeita a autonomia dos Estados, crime de responsabilidade. É o que diz o art. 85. Bibliografia Sugerida: SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Malheiros BULOS, Uadi Lammego. Direito Constitucional ao Alcance de Todos. São Paulo: Saraiva __________________. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva. MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva. SILVA Neto, Manoel Jorge. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Lumen Juris LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Saraiva
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