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CCJ0023-WL-OO-Apostila Direito do Consumidor - 02 - 2009

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Sumário
Evolução Histórica do Direito do Consumidor
 Autores: Flávio Barbosa Quinaud Pedron e Viviane Machado Caffarate..........4
 Proteção constitucional do consumidor
 Autor: Cristian de Sales Von Rondow...............................................................15
 Princípios nucleares do Código Brasileiro de Defesa do Consumidor e sua 
extensão como princípio constitucional
 Autor: Henrique Alves Pinto..............................................................................26
 O princípio da vulnerabilidade e a defesa do consumidor no direito 
brasileiro: origem e conseqüências nas regras regulamentadoras dos contratos e 
da publicidade
 Autores: Alírio Maciel Lima de Brito e Haroldo Augusto da Silva Teixeira 
Duarte..........................................................................................................................57
 O princípio da boa-fé no Código de Defesa do Consumidor
 Autor: Francisco José Soller de Mattos..............................................................74
 A relação jurídica de consumo: conceito e interpretação
 Autor: Marcelo Azevedo Chamone....................................................................76
 Pessoa jurídica consumidora
 Autor: Alex Sandro Ribeiro..............................................................................105
 Aspectos da responsabilidade civil no Código de Defesa do Consumidor e 
excludentes
 Autoras: Michele Oliveira Teixeira e Simone Stabel Daudt............................109
 Vícios no Código Civil e no Código de Defesa do Consumidor: diferenças
 Autor: Ricardo Canguçu Barroso de Queiroz...................................................127
2
 A responsabilidade civil do fornecedor por vícios dos produtos no Código 
de Defesa do Consumidor
 Autor: Fabrício Castagna Lunardi....................................................................129
 A prescrição e a decadência no Código de Defesa do Consumidor
 Autor: Osmir Antonio Globekner.....................................................................145
 Desconsideração da pessoa jurídica no Código de Defesa do Consumidor
 Autor: Osmir Antonio Globekner.....................................................................157
 Princípios gerais da publicidade no Código de Proteção e Defesa do 
Consumidor
 Autor: João Bosco Pastor Gonçalves................................................................175
 As cláusulas abusivas à luz da doutrina e da jurisprudência
 Autores: Carlos Cavalcante e Karla Karênina Andrade...................................184
 Inversão do ônus da prova no CDC e no CPC
 Autor: Ranieri Eich...........................................................................................206
 Alguns aspectos da dogmática processual para a defesa dos direitos do 
consumidor
 Autora: Viviane Mandato Teixeira Ribeiro da Silva........................................230
 Litisconsórcio, assistência e intervenção de terceiros nas ações coletivas 
para tutela do consumidor
 Autora: Gláucia Kohlhase Marques..................................................................248
 A competência nas ações coletivas do CDC
 Autor: Renato Franco de Almeida....................................................................274
 
3
A Evolução Histórica do Direito do Consumidor
Autores: Flavio Barbosa Quinaud Pedron e Viviane Machado Caffarate
I. A Evolução do Direito do Consumidor
O Direito do Consumidor é obra relativamente recente na Doutrina e na 
Legislação. Tem seu surgimento como ramo do Direito, principalmente, na metade 
deste século. Porém, indiretamente encontramos contornos deste segmento do Direito 
presente, de forma esparsa, em normas das mais diversas, em várias jurisprudências e, 
acima de tudo, nos costumes dos mais variados países. Porém, não era concebido 
como uma categoria jurídica distinta e, também, não recebia a denominação que hoje 
apresenta. 
Altamiro José dos Santos destaca o Código de Hamurabi (2300 a.C.). Este já 
em seu tempo regulamentava o comércio, de modo que o controle e a supervisão se 
encontravam a cargo do palácio. O que demonstrava que se existia preocupação com 
o lucro abusivo é porque o consumidor já estava tendo seus interesses resguardados. 
Santos lembra que: 
"consoante a" lei "235 do Código de Hamurabi, o construtor de barcos estava 
obrigado a refazê-lo em caso de defeito estrutural, dentro do prazo de até um ano 
(...)" (Santos, 1987. p. 78-79). 
Desta norma podemos supor uma noção dos vícios redibitórios. Havia 
também regras contra o enriquecimento em detrimento de outrem ("lei" 48), bem 
assim a modificabilidade unilateral dos desajustes por desequilíbrio nas prestações, 
em razão de forças da natureza. 
Os interesses dos consumidores já estavam resguardados na Mesopotâmia, no 
Egito Antigo e na Índia do Século XVIII a.C., onde o Código de Massú previa pena 
de multa e punição, além de ressarcimento de danos, aos que adulterassem gêneros 
("lei" 967) ou entregassem coisa de espécie inferior à acertada ou, ainda, vendessem 
bens de igual natureza por preços diferentes ("lei" 968). 
No Direito Romano Clássico, o vendedor era responsável pelos vícios da 
coisa, a não ser que estes fossem por ele ignorados. Porém, no Período Justinianeo, a 
responsabilidade era atribuída ao vendedor, mesmo que desconhecesse do defeito. As 
ações redibitórias e quanti minoris eram instrumentos, que amparadas à Boa-Fé do 
consumidor, ressarciam este em casos de vícios ocultos na coisa vendida. Se o 
4
vendedor tivesse ciência do vício, deveria, então, devolver o que recebeu em dobro. 
"no período romano, de forma indireta, diversas leis também atingiam o 
consumidor, tais como: a Lei Sempcônia de 123 a.C., encarregando o Estado da 
distribuição de cereais abaixo do preço de mercado; a Lei Clódia do ano 58 a.C., 
reservando o benefício de tal distribuição aos indigentes e; a Lei Aureliana, do ano 
270 da nossa era, determinando fosse feita a distribuição do pão diretamente pelo 
Estado. Eram leis ditadas pela intervenção do Estado no mercado ante as dificuldades 
de abastecimento havidas nessa época em Roma" (Prux, 1998. p. 79). 
De acordo com os estudos de Waldírio Bulgarelli, 
"pode-se encontrar antecedentes os mais antigos: Aristóteles já se referia a 
manobras de especuladores na Grécia Antiga, e em Roma atestam-no a Lex Julia de 
cemnoma, o Édito de Diocleciano e a Constituição de Zenon" (Bulgarelli, apud Prux, 
1998. p. 79). 
Há estudos que apontam depoimentos de Cícero (Século I a.C.) assegurando a 
garantia sobre vícios ocultos na compra-venda no caso do vendedor prometer que a 
mercadoria era dotada de determinadas qualidades e estas serem inexistentes. 
"Pirenne, no comentário de sua obra cobrindo o século XIII, é bastante 
elucidativo no subtítulo - Proteção ao consumidor - ao escrever que a disciplina 
imposta ao artesão tinha naturalmente por objeto assegurar a qualidade dos produtos 
fabricados. Neste sentido – acrescenta textualmente o mestre gaulês - também 
favorecia o consumidor" (SIDOU, apud PRUX, 1998. p. 781). 
A França de Luiz XI (1481) punia com banho escaldante aquele que vendesse 
manteiga com pedra no interior para aumentar o peso, ou leite com água para 
aumentar o volume. 
O jurista português Carlos Ferreira Almeida afirma que no Direito Português:
"os códigos penais de 1852 e o vigente de 1886 (...), reprimindo certas 
práticas comerciais desonestas, protegiam indiretamente interesses dos comerciantes: 
sob o título genérico de crimes contra a saúde pública, punem-se certos actos de 
venda de substâncias venenosas e abortivas(art. 248º) e fabrico e venda de gêneros 
alimentícios nocivos à saúde pública (art. 251º); consideram-se criminosas certas 
fraudes nas vendas (engano sobre a natureza e sobre a quantidade das coisas – art. 
456); tipificava-se ainda como crime a prática do monopólio, consistente na recusa de 
venda de gêneros para uso público (art. 275º) e alteração dos preços que resultariam 
da natural e livre concorrência, designadamente através de coligações com outros 
indivíduos, disposições revogadas por legislação da época corporativista, que 
regrediu em relação ao liberalismo consagrado no código penal" (ALMEIDA,1982. p. 
40). 
5
Na Suécia, a primeira legislação protetora do consumidor foi em 1910. 
Já nos EUA, em 1914, criou-se a Federal Trade Commission, que tinha o 
objetivo de aplicar a lei antitruste e proteger os interesses do consumidor. Também 
nos EUA, em 1773, em seu período de colônia, o episódio contra o imposto do chá no 
porto de Boston (Boston Tea Party) é um registro de uma manifestação de reação dos 
consumidores contra as exigências exorbitantes do produtor inglês. 
A Revolução americana de 1776 foi uma revolução do consumidor. Pois nas 
palavras de Miriam de Almeida Souza, foi uma revolução 
"contra o sistema mercantilista de comércio britânico colonial da época, no 
qual os consumidores americanos eram obrigados a comprar produtos manufaturados 
na Inglaterra, pelos tipos e preços estabelecidos pela metrópole, que exercia o seu 
monopólio. (...) Samuel Adams, uma figura marcante no episódio do chá no porto de 
Boston, que, já em 1785 na República, reforçou as seculares "assizes" (Leis do Pão), 
da antiga metrópole, apontando sua assinatura na lei que proibia qualquer adulteração 
de alimentos no estado de Massachusetts" (SOUZA, 1996. p. 51). 
Pode-se notar que esta lei representa um marco histórico na luta pelo respeito 
aos direitos do consumidor. 
No Brasil, o Direito do Consumidor surgiu entre as décadas de 40 e 60, 
quando foram sancionados diversas leis e decretos federais legislando sobre saúde, 
proteção econômica e comunicações. Dentre todas, pode-se citar: a Lei n. 1221/51, 
denominada Lei de Economia Popular; a Lei Delegada n. 4/62; a Constituição de 
1967 com a emenda n. 1/69, que consagrou a defesa do consumidor; e a Constituição 
Federal de 1988, que apresenta a defesa do consumidor como princípio da ordem 
econômica (art. 170) e no artigo 48 do Ato das Disposições Constitucionais 
Transitórias (ADCT), que expressamente determinou a criação do Código de Defesa 
do consumidor. 
II. O Surgimento do Direito do Consumidor do Prisma da Evolução do 
Estado Liberal
O Estado Liberal surgiu no século XVIII em contraposição ao Estado absoluto 
e veio assegurar o indivíduo em face do Estado. O Estado Liberal tem como 
características o poder limitado; os direitos individuais e políticos; a defesa da livre 
incitava e livre concorrência e a não intervenção do Estado na esfera privada. Adam 
Smith, um dos principais pensadores do liberalismo, afirmava: 
"É suficiente que deixemos o homem abandonado em sua iniciativa para que 
ao perseguir seu próprio interesse promova o dos demais. O interesse privado é o 
6
motor da vida econômica" (SMITH, apud DERANI, p.32). 
Assim, neste período, as leis eram feitas para dar sustentação ao liberalismo 
econômico. O Direito regia-se pelos Princípios da Autonomia da Vontade, do 
Consensualismo e da Obrigatoriedade Contratual.
No século XIX, com o advento da Revolução Industrial, houve uma 
substituição da maquinofatura pela máquina, as pessoas deixaram de trabalhar em 
casa e foram trabalhar nas fábricas e ao redor destas surgiram os centros urbanos. As 
fábricas, devido à automação incipiente das máquinas, não empregaram a grande 
parte da população, gerando o desemprego e a conseqüente a exclusão social daqueles 
que estavam desempregados. A grande procura por empregos gerou a desvalorização 
da mão-de-obra. A liberdade contratual, instituída na Revolução Francesa, aliada a 
grande oferta de trabalho, fazia com que as pessoas, para se manterem empregadas, se 
submetessem à exploração. Concomitante a estes fatos, a livre incitava e livre 
concorrência defendida pelos liberais não se concretizou, pois a concorrência não se 
iniciava em condições iguais e as regras do jogo não eram respeitadas. Com isso, 
algumas empresas que se enriqueceram, gerando uma concentração econômica.
O Estado Social surge no século XX como resposta à miséria e a exploração 
de grande parte da população. O Estado Social tem como características o poder 
limitado, a garantia os direitos individuais e políticos, acrescentando a estes os 
direitos sociais e econômicos. Logo, o Estado passou a intervir na Economia para 
promover justiça social. Nas Constituições promulgadas adotando esse modelo de 
Estado, os direitos individuais eram mais importantes que os direitos sociais. Estes 
foram regulados como normas pragmáticas, dependendo, então, de regulamentação. 
Assim acorreu com a Constituição brasileira de 1988 que dispõe que "o Estado 
promoverá na forma da lei, a defesa do consumidor". Portanto, a Constituição 
Federal de 1988 exigiu que o Estado abandonasse a sua posição de mero espectador 
da sorte do consumidor, para adotar um modelo jurídico e uma política de consumo 
que efetivamente protegesse o consumidor. Isso porque, o Código Civil, formulado 
segundo o pensamento liberal, trouxe o vício redibitório como meio de proteção do 
consumidor. Esse meio, no entanto, mostrou-se ineficaz para a proteção do 
consumidor. 
O Código de Proteção e Defesa do Consumidor, editado segundo os Princípios 
de um Estado Democrático de Direito, em muito inovou em comparação com o 
Código Civil. Façamos, aqui, uma comparação exemplificativa entre as regras deste e 
as do Código de Proteção e Defesa do Consumidor. O Código Civil fala em coisas, 
objeto de contratos comutativos e em bens e imóveis. Já o Código de Proteção e 
Defesa do Consumidor fala em produtos, que seriam quaisquer bens móveis ou 
imóveis, materiais ou imateriais, duráveis e não duráveis e em serviços. Outro ponto é 
que o Código Civil fala em defeitos ocultos que tornem a coisa imprópria para o uso 
ou diminuam o seu valor. Por sua vez o Código de Proteção e Defesa do Consumidor 
7
acrescenta que o defeito pode até mesmo ser de fácil constatação e que a coisa poderá 
ser enjeitada por não conferir com as especificações da embalagem, do rótulo, da 
propaganda, etc. Além disso, o prazo decadencial para substituir, devolver ou pedir 
abatimento do preço da coisa também foi ampliado no Código de Proteção e Defesa 
do Consumidor.
III. A Revolução Industrial e O Direito do Consumidor
O período da Revolução Industrial é de grande importância para o 
desenvolvimento do Direito do Consumidor. 
"Antes da era industrial, o produtor-fabricante era simplesmente uma ou 
algumas pessoas que se juntavam para confeccionar peças e depois trocar os objetos 
(bartering). Com o crescimento da população e o movimento do campo para as 
cidades, formam-se grupos maiores, a produção aumentou e a responsabilidade se 
concentrou no fabricante, que passou a responder por todo o grupo" (SOUZA, 1996. 
p.48). 
O advento da Revolução Industrial foi responsável pelo crescimento da 
chamada produção em massa. Devido a este movimento, a produção perdeu seu toque 
"pessoal" e o intercâmbio do comércio ganhou proporções ainda mais 
despersonalizadas, já que passaram a haver outros intermediários entre a produção e o 
consumo. Em conseqüência disto, 
"o produtor precisava dar escoamento à produção, praticando, às vezes, atos 
fraudulentos, enganosos, por isso mesmo, abusivos. A justiça social, então, entendeu 
ser necessária a promulgação de leis para controlar o produtor-fabricante e proteger o 
consumidor-comprador" (SOUZA, 1996.p. 48). 
Acrescenta-se, ainda, que "o produtor, via de regra, sempre se interessou mais 
pela parte monetária do que com o produto, ou mesmo em satisfazer o consumidor" 
(SOUZA, 1996. p. 48). 
O crescimento e contínuos avanços das tecnologias fizeram com que fossem 
inseridas na mente do consumidor as idéias de que ele estava precisando de mais 
objetos que até o momento nunca sentira necessidade de adquirir em sua vida 
cotidiana. O produtor estava sempre interessado em formas para escoar sua produção 
e manter o fluxo de produção-consumo. Logo, sentiu necessidade de estimular o 
consumidor a uma necessidade, ainda que artificial, para manter o processo produtivo 
em funcionamento. Criou-se, desta forma, o que o professor Thierry Bourgoignie, da 
Faculdade de Direito da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, denomina de 
"norma social do consumo", que: 
8
"faz com que o consumidor perca o controle individual das decisões de 
consumo e passe a ser parte de uma classe, a "consommariat", conferindo claramente 
uma dimensão social ao consumidor e ao ato de consumir" (BOURGOIGNIE, apud 
SOUZA, 1996. p. 48). 
IV. A Selva
O norte-americano Upton Sinclair, em 1906, escreveu um romance chamado 
The Jungle (A Selva). Este serviu para despertar no povo do seu país o mais vivo 
interesse pela problemática do consumidor. Sinclair era um jovem jornalista, dotado 
de idéias socialistas, que , no intuito de justificar e fundamentar suas reivindicações 
proletárias, consistentes de melhorias de salário e de condições de trabalho, disfarçou-
se em operário para realizar suas observações na cidade de Chicago. Em seu romance, 
ele retrata em cores ousadas e dramáticas o impacto social do capitalismo industrial 
no começo do século XX. 
"Os principais personagens eram de uma família de camponeses lituanos que 
vieram trabalhar pelos contos e fantasias de liberdade e pujança na América" (Souza, 
1996. p. 52). 
Sinclair demonstra os abusos cometidos pela industria da carne, ao descrever 
de forma bem realística os alimentos deteriorados. Um exemplo é o seguinte trecho 
de sua obra: 
"a carne misturada com pedaços de tecidos esfarrapados e sujos, pães 
mofados, moídos juntamente com os enchimentos das lingüiças vendidas em 
Chicago, embora proibidas no comércio exterior" (SINCLAIR, apud SOUZA, 1996. 
p. 52). 
O impacto da novela The Jungle foi de um modo tão avassalador, que logo 
sofreu traduções para 17 idiomas. O romance acabou, também, por inspirar a 
elaboração de duas leis federais nos EUA, que fortaleceram a fiscalização da pureza 
da carne, a Meat Inspection Act e a Pure Food and Drug Act, de 1906. 
V. O Direito do Consumidor na Segunda Guerra Mundial e no Cenário 
do Pós-Guerra
Foi em plena Segunda Guerra Mundial, quando a produção estava a serviço e 
controle do Estado, que se despontava na América Keynesiasna o movimento em prol 
dos direitos do consumidor. Mas curiosamente, foram o surgimento da mídia e as 
conquistas tecnológicas que deram causa ao ressurgimento da defesa do consumidor. 
"a guerra intensificou a produção industrial em massa, e contribuiu para as 
9
grandes invenções e o aprofundamento da produção em série. Todo o esforço da 
guerra resultou, inevitavelmente, em aumento substancial de produção no posterior 
tempo de paz. O know-how gerado para a guerra provocou, então um crescimento 
em vários segmentos industriais, gerando um arsenal de produtos surpérfulos e 
diversificados, em um mercado antes restrito somente ao essencial. Com o advento da 
televisão, resultou da propaganda informativa o marketing (desenvolvido em forma 
de propaganda de guerra), com o objetivo de escoar a produção no mercado. Com 
isso, aumentaram os problemas relacionados à produção e ao consumo, em face de 
uma competitividade altamente sofisticada por causa das novas mídias e das próprias 
complexidades dos mercados surgidos no pós-guerra, e do advento do marketing 
científico. Passou-se então a praticar uma concorrência desleal, fortalecendo a 
tendência da formação dos cartéis, trustes e oligopólios, o que sem dúvida, colaborou, 
dentre outros motivos, para o agravamento dos problemas sociais e conflitivos 
urbanos em decorrência da concentração de renda" (Souza, 1996. p. 54). 
Podemos perceber que esses problemas influenciaram sensivelmente a vida 
dos consumidores, quer seja pela alta dos preços, queda na qualidade de vida ou 
aumento da poluição. 
Após o período do pós-guerra acontece o ressurgimento da cláusula rebus sic 
stantibus, o que enfraquece o princípio da força obrigatória dos contratos. Esta 
restauração se deu sob o nome de "teoria da imprevisão" e visava a quebra do 
princípio do pacta sunt servanda. Esta quebra possibilitou o surgimento do Direito do 
Consumidor, que se fundamentava a partir da responsabilidade civil objetiva e do 
reconhecimento dos interesses e direitos difusos. 
Orlando Gomes afirma que: 
"o princípio da força obrigatória das convenções, pelo qual o juiz estava 
obrigado a fazer cumprir os efeitos do contrato, quaisquer que fossem as 
circunstâncias ou as conseqüências, está abalado. O legislador intervém, a cada 
instante, na economia dos contratos, ditando medidas que, tendo aplicação imediata, 
alteram os efeitos dos contratos anteriormente praticados, e vai se admitindo o poder 
do juiz de adaptar seus efeitos às novas circunstâncias (cláusula rebus sic stantibus), 
ou de exonerar o devedor do seu cumprimento, se ocorrer imprevisão. Por fim, desde 
que os contratos são fonte de obrigações e estas importam limitação da liberdade 
individual, entendia-se que os seus efeitos não deveriam atingir a terceiros. O 
contrato era res inter alios acta. Mas as necessidades sociais impuseram a quebra, 
ainda que excepcional, desse princípio da relatividade dos efeitos do contrato, para a 
satisfação de certos interesses coletivos privados" (GOMES, 1979. p. 105-106).
A partir das iniciativas do presidente americano John Fitzgerald Kennedy, na 
década de 60, houve a consolidação do Direito do Consumidor nos Estados Unidos. 
Dirigindo-se por meio de uma mensagem especial ao Congresso Americano, em 
10
1962, Kennedy identificou os pontos mais importantes em torno da questão:
"(1) os bens e serviços colocados no mercado devem ser sadios e seguros para 
os uso, promovidos e apresentados de uma maneira que permita ao consumidor fazer 
uma escolha satisfatória; 
(2) que a voz do consumidor seja ouvida no processo de tomada de decisão 
governamental que detenha o tipo, a qualidade e o preço de bens e serviços colocados 
no mercado;
(3) tenha o consumidor o direito de ser informado sobre as condições e 
serviços; 
(4) e ainda o direito a preços justos" (SOUZA, 1996. p. 56). 
Seguindo o exemplo de Kennedy, a Comissão de Direitos Humanos das 
nações Unidas, na sua 29ª Sessão em 1973, em Genebra, também reconheceu os 
princípios e chamou-os de Direitos Fundamentais do Consumidor. Por sua vez, o 
programa Preliminar da Comunidade Européia para uma Política de Proteção e 
Informação dos Consumidores dividia os direitos fundamentais em cinco categorias:
"(1) proteção da saúde e da segurança;
(2) proteção dos interesses econômicos;
(3) reparação dos prejuízos;
(4) informação e educação;
(5) representação (ou direito de ser ouvido)" (SOUZA, 1996, p. 56). 
Em 1985, as Nações Unidas, por meio da Resolução n.º 39/248, estabelece 
objetivos, princípios e normas para que os governos membros desenvolvam ou 
reforcem políticas firmes de proteção ao consumidor. Esta foi, claramente, a primeira 
vez que, em nível mundial, houve o reconhecimento e aceitação dos direitos básicos 
do consumidor. O Anexo 3 da Resolução mostra quais são os princípios gerais que 
serão tomados como padrões mínimos pelos governos:
"(a) proteger o consumidorquanto a prejuízos à sua saúde e segurança;
(b) fomentar e proteger os interesses econômicos dos consumidores;
(c) fornecer aos consumidores informações adequadas para capacita-los a 
fazer escolhas acertadas, de acordo com as necessidades e desejos individuais;
(d) educar o consumidor;
11
(e) criar possibilidade de real ressarcimento ao consumidor;
(f) garantir a liberdade para formar grupos de consumidores e outros grupos e 
organizações de relevância e oportunidade para que estas organizações possam 
apresentar seus enfoques nos processos decisórios a elas referentes" (SOUZA, 1996. 
p.57). 
Miriam Souza lembra, ainda, que: 
"as Nações Unidas também entendem como medida para a proteção dos 
consumidores o Código de Conduta para as Firmas Transnacionais, projeto de ONU 
desde meados dos anos 60, ponto de vista compartilhado pela Organização 
Internacional das Associações de Consumidores (International Organization of 
Consumers Unions – IOCU), com sede em Haia" (Souza, 1996. p. 57).
O IOCU é amplamente respeitado entre as associações de consumidores no 
mundo. E sobre os direitos do consumidor enumera:
"(1) segurança – proteção contra produtos, processos e serviços nocivos à 
saúde ou à vida;
(2) informação – conhecimento dos dados necessários para fazer escolhas e 
decisões informadas;
(3) escolha – acesso a uma variedade de produtos e serviços com qualidade e 
preços competitivos; 
(4) a ser ouvido – exposição e consideração das perspectivas dos 
consumidores na formação das políticas nacionais;
(5) indenização – solução justa de queixas justas;
(6) educação – aquisição dos conhecimentos e das habilidades necessárias 
para ser um consumidor informado ao longo da vida;
(7) ambiente saudável – ambiente físico apto a proporcionar melhor qualidade 
de vida agora e no futuro" (SOUZA, 1996. p. 58). 
A proteção do Direito do Consumidor é de tamanha relevância, que muitos 
dos ordenamentos jurídicos, inclusive o brasileiro, pela Constituição Federal de 1988, 
já consagram, acolhendo a Resolução da ONU. 
VI. A Constituição Brasileira e O Direito do Consumidor
A questão dos Direitos do Consumidor é tão importante que em três 
12
oportunidades distintas é tratada na Constituição Federal vigente. A primeira vez, já 
em seu Capítulo I do Título II, que trata dos direitos e deveres individuais e coletivos 
estabelece a Carta magna, no artigo 5º, XXXII que "o Estado promoverá, na forma da 
lei, a defesa do consumidor" o que quer dizer, em outras palavras, que o Governo 
Federal tem a obrigação de defender o consumidor, de acordo com o que estiver 
estabelecido nas leis. 
A segunda vez que a Constituição menciona a defesa do consumidor é quando 
trata dos princípios gerais da atividade econômica no Brasil, citando em seu artigo 
170, V, que a defesa do consumidor é um dos princípios que devem ser observados no 
exercício de qualquer atividade econômica.
Finalmente, o artigo 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias 
(ADCT), determina que o Congresso Nacional elabore o Código de Defesa do 
Consumidor. 
Estes três dispositivos constitucionais são mencionados no artigo 1º do 
Código de Defesa do Consumidor. 
José Geraldo Brito Filomeno lembra que a sensibilização dos 
"constituintes de 1887/88, foi obtida por unanimidade na oportunidade do 
encerramento do VII Encontro Nacional das (...) Entidades de Defesa Do 
Consumidor, desta feita realizado em Brasília, por razões óbvias, no calor das 
discussões da Assembléia Nacional Constituinte, e que acabou sendo devidamente 
protocolada e registrada sob n.º 2.875, em 8-5-87, trazendo sugestões de redação, 
inclusive aos então artigos 36 e 74 da Comissão "Afonso Arinos", com especial 
destaque para a contemplação dos direitos fundamentais do consumidor (ao próprio 
consumo, à segurança, à escolha, à informação, a ser ouvido, à indenização, à 
educação para o consumo e a um meio ambiental saudável)." (FILOMENO, 1991. p. 
21-22). 
Mas, o Código do Consumidor é só o início. É o que alerta o jurista Fábio 
Konder Comparato: "na verdade, a dialética produtor x consumidor é bem mais 
complexa e delicada do que a dialética capital x trabalho" (grifo nosso) 
(COMPARATO, apud SOUZA, 1996. p. 59). 
Bibliografia
ALMEIDA, Carlos Ferreira. Os direitos dos consumidores. Coimbra: 
Almeida, 1982. 
13
DERANI, Cristiane. Política Nacional das Relações de Consumo e o Código 
de Defesa do Consumidor. Revista de Direito do Consumidor. n. 29.
FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de Direitos do Consumidor. São 
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GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil. Rio de Janeiro:Forense, 1979. 6 
ed. 
PRUX, Oscar Ivan. Responsabilidade Civil do Profissional Liberal no Código 
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SANTOS, Altamiro José dos. Direitos Do Consumidor. Revista do IAP. 
Curitiba, Instituto dos Advogados do Paraná, 1987. n. 10. 
Souza, Miriam de Almeida. A Política legislativa do Consumidor no Direito 
Comparado. Belo Horizonte: Edições Ciência Jurídica, 1996. 
14
Proteção constitucional do consumidor
Autor: Cristian de Sales Von Rondow
Sumário: 1. As relações de consumo e o surgimento da tutela do consumidor. 
2. Terminologia. 3. A proteção no direito alienígena (Direito Comparado e 
Internacional). 4. O por quê da tutela? 5. A evolução legislativa brasileira. 6. A 
tutela do consumidor a nível constitucional
As relações de consumo e o surgimento da tutela do consumidor
Antes de adentrarmos ao tema propriamente dito, necessário se faz explicitar 
como foi o caminho trilhado do "movimento consumerista" que teve nuanças 
15
próprias, embates acirrados e por fim uma difusão mundial da consciência de que o 
consumidor, diante do avanço tecnológico dos meios de produção passara a ser a 
parte fraca da relação de consumo necessitando de uma legislação que resguardasse 
não apenas os direitos básicos, mas também que punisse aqueles que o 
desrespeitassem.
Temos que a origem protecionista do consumidor se deu com as modificações 
nas relações de consumo, sendo esta, por seu turno difícil de precisar seu início. Não 
ficamos um só dia sem consumir algo, de modo que o consumo faz parte do dia-a-dia 
do ser humano. A afirmação de que todos nós somos consumidores é verdadeira. João 
Batista de Almeida(1) aduz que "independentemente da classe social e da faixa de 
renda, consumimos desde o nascimento e em todos os períodos de nossa existência. 
Por motivos variados, que vão desde a necessidade e da sobrevivência até o consumo 
por simples desejo, o consumo pelo consumo".
Hodiernamente as chamadas relações de consumo, outrora campo exclusivo 
do estudo da ciência econômica passou a fazer parte do rol da linguagem jurídica. E o 
fez, dado as alterações substanciais no panorama mundial, político, econômico e 
jurídico que permeavam época pretérita transportando-se para o cenário atual.(2) Para 
Maria Antonieta Zanardo Donato, estas alterações foram introduzidas pelo 
liberalismo emergente do século XIX, que infiltrou-se no Direito operando sua 
transformação.
Após a transformação do panorama econômico, nasce um capitalismo 
agressivo que impôs um ritmo elevado na produção, erigindo um novo modelo social, 
qual seja, a sociedade de consumo (mass consumption society) ou sociedade de 
massa. Instaura-se um novo processo econômico, causando profundas e inesperadas 
alterações sociais.(3)
Não há dúvidas de que as relações de consumo ao longo do tempo evoluíram 
drasticamente. Do primitivo escambo e das minúsculas operações mercantis tem-se 
hoje complexas operações de compra e venda, que envolvem milhões de reais ou de 
dólares.
Para trás ficou aquelas relações de consumo que estavam intimamente ligadas 
às pessoas que negociavamentre si, para dar lugar à "operações impessoais e 
indiretas, em que não se dá importância ao fato de não se ver ou conhecer o 
fornecedor. Os bens de consumo passaram a ser produzidos em série, para um número 
cada vez maior de consumidores. Os serviços se ampliaram em grande medida".(4) E 
essa produção em massa aliada ao consumo em massa, gerou a sociedade de consumo 
ou sociedade de massa.
Mas esta nova forma de vender e comprar trouxe em seu bojo o poderio 
econômico das macro-empresas de impor seus produtos e mercadorias àquele 
16
(consumidor) que ao que parecia seria "monarca do mercado"(5) ou o "rei do 
sistema".(6)
Dado a esta imposição, os consumidores começaram a enxergar que estavam 
mais para súditos do que para monarcas, bem como estavam desprotegidos e 
vulneráveis às práticas abusivas das empresas e para tanto necessitavam de proteção 
legal.
A partir dessa fundamental constatação, vários ordenamentos jurídicos do 
mundo todo passaram a reconhecer a figura do consumidor e, sobretudo a sua 
vulnerabilidade outorgando-lhes direitos específicos.
O caminho natural da evolução nas relações de consumo certamente acabaria 
por refletir nas relações sociais, econômicas e jurídicas do mundo. A partir deste 
evento, a tutela do consumidor ganhou espaço no seio jurídico, e os debates em torno 
da matéria iniciaram-se face às novas situações decorrentes do desenvolvimento.
Esse entendimento é corroborado por João Batista de Almeida(7) que citando 
Camargo Ferraz, Milaré e Nelson Nery Júnior aduzem que a tutela dos interesses 
difusos em geral e do consumidor em particular deriva das modificações das relações 
de consumo e evidenciam que: ‘o surgimento dos grandes conglomerados urbanos, 
das metrópoles, a explosão demográfica, a revolução industrial, o desmesurado 
desenvolvimento das relações econômicas, com a produção e consumo de massa, o 
nascimento dos cartéis, holdings, multinacionais e das atividades monopolísticas, a 
hipertrofia da intervenção do Estado na esfera social e econômica, o aparecimento 
dos meios de comunicação de massa, e, com eles, o fenômeno da propaganda maciça, 
entre outras coisas, por terem escapado do controle do homem, muitas vezes 
voltaram-se contra ele próprio, repercutindo de forma negativa sobre a qualidade de 
vida e atingindo inevitavelmente os interesses difusos. Todos esses fenômenos, que se 
precipitaram num espaço de tempo relativamente pequeno, trouxeram a lume à 
própria realidade dos interesses coletivos, até então existentes de forma latente 
despercebidos’.
Terminologia
Ponto interessante se mostra a terminologia jurídica de "consumidor", uma 
vez que vários autores advertem não ser tarefa fácil definir consumidor no sentido 
jurídico. O vocábulo consumidor, do verbo consumir, por sua vez oriundo do latim 
consumere, significa acabar, gastar, despender, absorver, corroer. Na linguagem dos 
economistas, consumo, seria o ato pelo qual se completa a última etapa do processo 
econômico.(8) Tal linguagem não se verificava no Direito Privado Brasileiro, passando 
a fazer parte quando da promulgação do Código de Defesa do Consumidor. Como 
17
mencionado eram expressões voltadas à ciência econômica, mas que passaram a fazer 
parte do universo jurídico e no Brasil, a conceituação legal ou o conceito standart de 
consumidor é dado pelo Código de Defesa do Consumidor em seu Artigo 2º aduzindo 
que "consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto 
ou serviço como destinatário final", incluindo-se, também, por equiparação, "a 
coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas 
relações de consumo" (art. 2º, § único).
A proteção do consumidor no direito alienígena (Comparado e 
Internacional)
O resguardo jurídico do consumidor não é tema exclusivo de um único país. 
Longe disso, é tema supranacional abrangendo a totalidade dos países desenvolvidos 
ou em desenvolvimento. É de Newton De Lucca a apresentação de quadro sintético 
desta proteção: No Direito Comparado (antecedentes legislativos) e no Direito 
Internacional.
Direito Comparado
- Discurso do presidente Kennedy ao Congresso Americano (março/62);
- Lei sobre documentos contratuais uniformes de Israel (1964);
- Lei fundamental de proteção aos consumidores no Japão (1968);
- Numerosos textos legais, a partir da década de 60, nos EUA: Consumer 
Credit Protection Act, Uniform Consumer Credit Code, Uniform Consumer Sales 
Act, Safety Act, Truth in Lending Act, Fair Credit Reporting Act e Fair Debt 
Collection Act;
- Lei de caráter geral ou específica no seguintes países: Inglaterra, Suécia, 
Noruega, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Bélgica, França, México, Portugal e 
Espanha.
Direito Internacional
- A iniciativa de cinco países (Estados Unidos, Alemanha, França, Bélgica e 
Holanda), em 1969, no sentido de criar, no âmbito da Organização para a Cooperação 
e Desenvolvimento Econômico – OCDE, uma "Comissão para a política dos 
consumidores";
- A comissão das Nações Unidas sobre Direitos do Homem, considerou serem 
4 os direitos de todo o consumidor:
18
1.o direito à segurança;
2.o de ser adequadamente informado sobre os produtos e os serviços, bem 
como sobre as condições de venda;
3.o direito de escolher sobre bens alternativos de qualidade satisfatória a 
preços razoáveis;
4.o direito de ser ouvido no processo de decisão governamental.
- A aprovação de vários documentos pela Assembléia do Conselho da Europa 
– Diretiva 85/374, de 24.7.85, no tocante aos países membros do CEE;
- No Âmbito da ONU – Resolução 39/248, de 9.4.85, apontada como a 
verdadeira origem dos direitos básicos do consumidor.(9)
Conforme denota-se, os EUA foram o grande propulsor da mensagem 
protecionista do consumidor, de modo a influenciar grandemente diversos países com 
esta doutrina. Destaca-se, também, que o mesmo tema fora debatido em praticamente 
todos os países da Europa.
O por quê da tutela?
A justificativa que se tem para o surgimento da tutela do consumidor, é que 
esta nasceu fruto dos mais variados problemas sociais "surgidos da complexidade da 
sociedade moderna e os reclamos de indivíduos e grupos".(10)
Para João Batista de Almeida, esta tutela, "não surgiu aleatória e 
espontaneamente". (11) Ao contrário, surgiu "de uma reação a um quadro social, 
reconhecidamente concreto, em que se vislumbrou a posição de inferioridade do 
consumidor em face do poder econômico do fornecedor, bem como a insuficiência 
dos esquemas tradicionais do direito substancial e processual, que já não mais 
tutelavam novos interesses identificados como coletivos e difusos. (12) E termina o 
festejado autor: "a tutela surge e se justifica, enfim, pela busca do equilíbrio entre as 
partes envolvidas".(13)
Está assentado doutrinariamente que a vulnerabilidade do consumidor, que 
para alguns é um princípio(14) foi a pedra de mote para o surgimento da tutela do 
consumidor, reconhecendo-se ser este a parte fraca, vulnerável nas relações de 
consumo, originando a hipossuficiência deste.
Para João Batista de Almeida, Luiz Antonio Rizzatto Nunes e Cláudio 
Bonatto/Paulo Valério Dal Pai Moraes, alguns são os princípios orientadores desta 
tutela protetiva, vejamos: o da isonomia ou da vulnerabilidade; o da hipossuficiência; 
19
o do equilíbrio e da boa-fé objetiva; do dever de informar; o da revisão das cláusulas 
contrárias ou da repressão eficiente aos abusos; o da conservação do contrato; o do da 
equivalência; o da transparência e o da solidariedade.(15)
Cumpre esclarecer que não trataremos dos princípios acima mencionados, 
pois, esta não fora a intenção, mas apenas trazê-los à colação com o fito de 
demonstrar ser esta tutela orientada porprincípio basilares do direito constitucional 
que se espraiaram para o direito do consumidor.
A evolução legislativa brasileira
A defesa do consumidor como tema específico é entre nós algo recente. João 
Batista de Almeida(16) aduz ser de 1971 a 1973 os discursos proferidos pelo então 
Deputado Nina Ribeiro, alertando para a gravidade do problema, densamente de 
natureza social, e para a necessidade de uma atuação mais enérgica no setor.
Somente em 1978 surgiu em nível estadual, o primeiro órgão de defesa do 
consumidor, o Procon de São Paulo, criado pela Lei nº 1.903, de 1978. Na esfera 
federal, só em 1985 foi criado o Conselho Nacional de Defesa do Consumidor, por 
meio do Decreto nº 91.469 que posteriormente foi extinto e substituído pela atual 
Secretaria Nacional de Direito Econômico (SNDE).
Todavia, embora não fosse a defesa do consumidor tratada como tema 
específico como é hoje, verifica-se a existência de referida defesa como tema 
"inespecífico"(17) em legislações esparsas que indiretamente protegia o consumidor, 
embora essa não fosse a intenção principal do legislador. Foi o Decreto nº 22.626, de 
7 de abril de 1933 (Lei da usura) a primeira norma nesta seara que visava reprimir a 
usura. E assim, o evoluir não parou. A matéria ganhou status constitucional 
(Constituição de 1934, arts. 115 e 117), com a proteção à economia popular, que 
passamos a transcrever, verbis:
"Art. 115 – A ordem econômica deve ser organizada conforme os 
princípios da justiça e as necessidades da vida nacional, de modo que possibilite 
a todos exist~encia digna. Dentro desses limites, é garantida a liberdade 
econômica".
"Art. 117 – A lei promoverá o fomento da economia popular, o 
desenvolvimento do crédito e a nacionalização progressiva dos bancos de 
depósito. Igualmente providenciará sobre a nacionalização das empresas de 
seguros em todas as sua modalidades, devendo constituir-se em sociedade 
brasileira as estrangeiras que actualmente operam no paiz.
Parágrafo único: É proibida a usura, que será punida na fórma da lei."
20
Posteriormente veio o Decreto-Lei nº 869, de 18 de novembro de 1938, e 
depois o de nº 9.840, de 11 de setembro de 1946, que cuidaram dos crimes contra a 
economia popular, sobrevindo, em 1951 a chamada Lei de Economia Popular que 
vige até hoje. Surge a Lei de Repressão ao Abuso do Poder Econômico (nº 4.137 de 
1962), que de maneira reflexa beneficiava o consumidor, além de haver criado o 
Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE, na estrutura do Ministério 
da Justiça, ainda existente. Em 1984 editou-se a Lei nº 7.244, autorizando os Estados 
a instituírem os Juizados de Pequenas Causas, atualmente Juizados Especiais Cíveis 
(Lei 9.099/95). Com a Lei nº 7.492 de 16 de junho de 1986, passaram a ser punidos 
os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, denominado "crimes de colarinho 
branco".
Mas os passos mais significativos neste campo foram dados a partir de 1985, 
quando em 24 de julho daquele ano, foi promulgada a Lei nº 7.347 que disciplina a 
ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao consumidor, além de 
outros bens tutelados, dando início desta forma, à tutela jurisdicional dos interesses 
difusos em nosso país.
A tutela do consumidor a nível constitucional
Como já mencionado, a tutela do consumidor a nível constitucional foi posta 
na Constituição de 1934 (arts. 115 e 117), mas não como elemento contundente para a 
prática do Estado, mas apenas cuidou de forma indireta. Todavia, esta inserção não 
deixa de demonstrar ares de preocupação do constituinte com o tema, posto que 
brotava na nação a consciência da necessidade de proteção ao consumidor.
Mas sem dúvida ou medo de errar, num evoluir ascendente, a constituinte de 
1988 curvou-se ante aos anseios da sociedade e ao enorme trabalho dos órgãos e 
entidades de defesa do consumidor, com ênfase ao VII Encontro Nacional das 
referidas Entidades de Defesa do Consumidor, realizado em Brasília, por razões 
óbvias, no calor das discussões da Assembléia Nacional Constituinte, e que acabou 
sendo devidamente protocolada e registrada sob o nº 2.875, em 8-5-87, trazendo 
sugestões de redação, inclusive aos então artigos 36 e 74 da "Comissão Afonso 
Arinos", com especial destaque para contemplação dos direitos fundamentais do 
consumidor, culminando assim, na inserção de quatro dispositivos específicos e 
objetivos sobre o tema. O primeiro deles e o mais importante por refletir toda a 
concepção do movimento está grafado no artigo 5º, inciso XXXII, no capítulo 
relativo aos "direitos e deveres individuais e coletivos", onde diz que dentre os 
deveres impostos ao Estado brasileiro, está o de promover, na forma da lei, a defesa 
do consumidor.
Noutra passagem, é atribuída a competência concorrente para legislar sobre 
21
danos ao consumidor (art. 24, VIII). No capítulo da Ordem Econômica, a defesa do 
consumidor é apresentada como um dos motivos justificadores da intervenção do 
Estado na economia (art. 170, V). E, finalmente, ainda no bojo da Constituição de 
1988, diz o artigo 48 do ato de suas disposições transitórias que "o Congresso 
Nacional, dentro de cento e vinte dias da data da promulgação da Constituição, 
elaborará código de defesa do consumidor", prazo não respeitado, mas o comando 
constitucional foi respeitado com a promulgação da Lei 8.078, de 11 de setembro de 
1990 o chamado Código de Defesa do Consumidor.
O mestre Newton De Lucca assevera que "não apenas o Código de Defesa do 
Consumidor tem base constitucional (art. 48 do ADCT) como, mais amplamente, 
todos os princípios da proteção acham-se constitucionalmente assegurados".(18)
O citado autor faz observação interessante ao afirmar que ‘a consagração 
constitucional dos direitos dos consumidores não constitui a regra em termos de 
direito comparado’. E em nota, aduz: "pelo que sei, apenas Portugal e Espanha 
possuem em suas Constituições dispositivos em favor da proteção aos consumidores. 
No primeiro deles, a Constituição de 2 de abril de 1976, estabeleceu, no art. 81, caber 
prioritariamente ao Estado ‘proteger o consumidor especialmente mediante o apoio e 
a criação de cooperativas e associações de consumidores’. Já o art. 51 da Constituição 
espanhola de 1978 declara que:
"1. Los poderes públicos garantizaran la defensa de los consumidores y 
usuarios protegiendo, mediante procedimientos eficaces, la seguridad, la salud y los 
legítimos intereses económicos de los mismos.
2. Los poderes públicos promoverán la información y la educación de los 
consumidores y usuarios, fomentaran sus organizaciones y oirán a éstas en las 
cuestiones que puedan afectar a aquéllos, en los términos que la ley establezca.
3. En el marco de lo dispuesto en los apartados anteriores, la ley regulará el 
comercio interior y el régimen de autorización de productos comerciales".(19)
Finalizando o estudo em apreço, encerraremos com a "questão para debate" 
proposta pelo Doutor Newton De Lucca, a saber: O advento da Lei nº 8.078, de 
11.9.90 (Código de Defesa do Consumidor) terá representado o integral cumprimento 
da proteção constitucionalmente estabelecida em favor desse mesmo consumidor?(20)
Como resposta à questão o conceituado autor traz a lume a opinião do Prof. 
Fábio Konder Comparato (RDM nº 80, pp. 66 a 75, artigo intitulado "A Proteção ao 
Consumidor na Constituição Brasileira de 1988"):
‘Por outro lado, a defesa do consumidor é, indubitavelmente, um tipo de 
princípio-programa, tendo por objeto uma ampla política pública (public policy). A 
expressão designa um programa de ação de interesse público. Como todo programa 
22
de ação, a política pública desenvolve uma atividade, i.e., uma série organizada de 
ações, para a consecuçãode uma finalidade, imposta na lei ou na Constituição. A 
imposição constitucional ou legal de políticas é feita, portanto, por meio das 
chamadas "normas-objetivo", cujo conteúdo, como já se disse, é um 
"Zweckprogramm" ou "Finalprogramm" (Cfr. 85 e ss). Quer isso dizer que os Poderes 
Públicos detêm um certo grau de liberdade para montar os meios adequados à 
consecução desse objetivo obrigatório. É claro que a implementação desses meios 
exige a edição de normas – tanto leis, quanto regulamentos de Administração Pública; 
mas essa atividade normativa não exaure, em absoluto, o conteúdo da policy, ou 
programa de ação pública. É preciso não esquecer de que esta só se realiza mediante a 
organização de recursos materiais e humanos, ambos previstos e dimensionados no 
orçamento-programa’.
Insta asseverar que o consumidor brasileiro está legislativamente equipado à 
altura, faltando-lhe, porém, apenas a proteção efetiva, vezes por falta de vontade 
política e outras por falta de recursos técnicos e materiais, mas há que se ressaltar que 
diante das nações mais avançadas do mundo, não ficamos aquém nesta seara.
Konrad Hesse, em sua célebre obra "A Força Normativa da Constituição" 
aduz que "a força normativa da Constituição não reside, tão-somente, na adaptação 
inteligente a uma dada realidade. A Constituição jurídica logra converter-se, ela 
mesma, em força ativa, que se assenta na natureza singular do presente (individuelle 
Beschaffenheit der Gegenwart). Embora a Constituição não possa, por si só, realizar 
nada, ela pode impor tarefas. A Constituição transforma-se em força ativa se essas 
tarefas forem efetivamente realizadas, se existir a disposição de orientar a própria 
conduta segundo a ordem nela estabelecida, se, a despeito de todos os 
questionamentos e reservas provenientes dos juízos de conveniência, se puder 
identificar a vontade de concretizar essa ordem. Concluindo, pode-se afirmar que a 
Constituição converter-se-á em força ativa se fizerem-se presentes, na consciência 
geral – particularmente, na consciência dos principais responsáveis pela ordem 
constitucional -, não só a vontade de poder (Wille zur Macht), mas também a vontade 
de Constituição (Wille zur Verfassung)".(21)
Notas
1.Almeida, João Batista. A Proteção Jurídica do Consumidor, 2ª Edição, Ed. 
Saraiva-2000, São Paulo, p. 01.
2.Donato, Maria Antonieta Zanardo. Proteção ao Consumidor, Vol. 7, Ed. RT-
1993, cit. P 15.
3.Donato, Maria Antonieta Zanardo. Proteção ao Consumidor, Vol. 7, Ed. RT-
23
1993, cit. p. 17.
4.Almeida, João Batista. A Proteção Jurídica do Consumidor, 2ª Edição, Ed. 
Saraiva-2000, São Paulo, p. 02.
5.Lucca, Newton De. Direito do Consumidor, 2ª Edição, Ed. Edipro, São 
Paulo-2000, cit. P. 20.
6.Donato, Maria Antonieta Zanardo. Proteção ao Consumidor, Vol. 7, Ed. RT-
1993, p. 18, Apud, Jean Calais-Auloy, Droit de la Consommation, 2ª ed., Dalloz, 
Paria, 1986, p. 6.
7.Almeida, João Batista. A Proteção Jurídica do Consumidor, 2ª Edição, Ed. 
Saraiva-2000, São Paulo, cit. p. 03. Apud, Antonio Augusto Camargo Ferraz, Édiz 
Milaré e Nelson Nery Júnior, A ação civil pública e a tutela jurisdicional dos 
interesses difusos, São Paulo, Saraiva, 1984, p.54-5.
8.Lucca, Newton De. Direito do Consumidor, 2ª Edição, Ed. Edipro, São 
Paulo-2000, cit. P. 19.
9.Lucca, Newton De. Direito do Consumidor, 2ª Edição, Ed. Edipro, São 
Paulo-2000, p. 25/30.
10.Almeida, João Batista. A Proteção Jurídica do Consumidor, 2ª Edição, Ed. 
Saraiva-2000, São Paulo, cit. p. 21.
11.Almeida, João Batista. A Proteção Jurídica do Consumidor, 2ª Edição, Ed. 
Saraiva-2000, São Paulo, cit. p. 22.
12.Almeida, João Batista. A Proteção Jurídica do Consumidor, 2ª Edição, Ed. 
Saraiva-2000, São Paulo, p. 22.
13.Almeida, João Batista. A Proteção Jurídica do Consumidor, 2ª Edição, Ed. 
Saraiva-2000, São Paulo, p. 22.
14.Bonatto, Cláudio. Questões controvertidas no Código de Defesa do 
Consumidor: principiologia, conceitos, contratos, 2ª edição, Ed. Livraria do 
Advogado-1999, Porto Alegre, cit. P.42.
15.Almeida, João Batista. A Proteção Jurídica do Consumidor, 2ª Edição, Ed. 
Saraiva-2000, São Paulo, cit. p. 45-6.
Bonatto, Cláudio. Questões controvertidas no Código de Defesa do 
Consumidor: principiologia, conceitos, contratos, 2ª edição, Ed. Livraria do 
Advogado-1999, Porto Alegre, cit. p. 30-56.
24
16.Almeida, João Batista. A Proteção Jurídica do Consumidor, 2ª Edição, Ed. 
Saraiva-2000, São Paulo, cit. p. 10.
17.Almeida, João Batista. A Proteção Jurídica do Consumidor, 2ª Edição, Ed. 
Saraiva-2000, São Paulo, p. 10.
18.Lucca, Newton De. Direito do Consumidor, 2ª Edição, Ed. Edipro, São 
Paulo-2000, cit. p. 34.
19.Lucca, Newton De. Direito do Consumidor, 2ª Edição, Ed. Edipro, São 
Paulo-2000, cit. p. 34. Apud nota nº 20.
20.Lucca, Newton De. Direito do Consumidor, 2ª Edição, Ed. Edipro, São 
Paulo-2000, p. 34. Apud nota nº 20
21.Hesse, Konrad. A Força Normativa da Constituição, Editor Sergio Antonio 
Fabris, Porto Alegre-1991, p. 19.
25
Princípios nucleares do Código Brasileiro de Defesa do Consumidor e sua 
extensão como princípio constitucional
Autor: Henrique Alves Pinto
Sumário: Resumo. Introdução. 1. Dos Princípios Gerais de Direito. 1.1. Da 
constitucionalização dos princípios gerais. 1.2. Direitos do Consumidor - previsão 
constitucional. 1.3. A defesa do consumidor e sua extensão como princípio 
constitucional. 1.4. Legislação infraconstitucional: o momento da parturição do 
Código de proteção e defesa do consumidor. 2. A Política Nacional das Relações de 
Consumo e sua abrangência. 2.1. As diretrizes gerais da política e do direito do 
consumidor. 2.2. Consumo sustentável e o princípio da integração. 2.3. Princípios 
fundamentais da política nacional das relações de consumo. 2.4. Princípio da 
vulnerabilidade do consumidor art. 4°, I. 2.5. O princípio do dever governamental 
art. 4°, II, VI e VII. 2.6. O princípio da garantia da adequação art. 4°, II, "D" e V. 
2.7. Princípio da boa fé nas relações de consumo art. 4°, III e VI. 2.8. Princípio da 
informação - art. 4°, IV e VIII. 2.9. Princípio do acesso à justiça. 3. Livre 
concorrência, Abuso do Poder Econômico e Consumidor. Conclusão. Bibliografia. 
RESUMO
O presente trabalho retrata a enorme importância do estudo a cerca do tem, 
princípios gerais de direito, em que demonstra os caminhos por eles percorridos sob 
a ótica da Teoria Geral do Direito, desde a sua constitucionalização até a sua 
irradiação por entre outros ramos do Direito, e em particular, o sistema de proteção 
e defesa do consumidor brasileiro. A análise com maior grau de aprofundamento 
recai sobre a principiologia criada com a elaboração da Lei 8.078/90, o Código de 
Defesa do Consumidor, contida de mandamentos nucleares tais como, o princípio da 
vulnerabilidade do consumidor, o princípio da eqüidade e a cláusula geral de boa-fé, 
o princípio da proibição do abuso do direito e a função social dos contratos. Dentre 
estes, chama-se a atenção do leitor para um dos mais importantes, senão o mais 
importante dos princípios do sistema de proteção consumerista, que é o da 
vulnerabilidade do consumidor.
PALAVRAS-CHAVE
Consumidor; Princípio da Vulnerabilidade; Boa-fé; Teoria Geral do Direito
RESUMÉ
26
Ce travail veut présenter l'' enorme importance de l'' etude concernant les 
principes généraux du droit dans le cadre des chemins parcouris par lui sous le 
sceau de la Théorie générale du Droit, depuis as constitution jusqu'' à sa penetration 
dans les autres branches du Droit et, en particulier, le système de protection et de 
défense du consommateur brésilien. L'' analyse plus approfondie retombe sur les 
principes créés par la loi 8.078/90, c'' est-à-dire, le code de defense duconsommateur, où il y a des points fondamentaux tels que le principe de la 
vulnérabilité du consummateur, celui de l'' égalité et la rubrique générale de bonne 
foi - le principe de la prohibition de l'' abus de droit et la fonction sociale des 
contrats. Parmi ceux-là, on attire l'' attention du lecteur sur l'' un des plus importants 
ou peut-être le plus important des principes du système de protection du 
consomateur, celui de da vulnérabilité.
MOT-CLÉ
Consommateur; Principe de la Vulnérabilité; Bonne-foi; Théorie générale du 
Droit;
INTRODUÇÃO
Todas as conclusões advindas de um princípio que não é evidente, também 
não podem ser evidentes, mesmo que tenham seguido o processo correto da dedução. 
Daí que todos os raciocínios assentes sobre tais princípios, não podem dar 
conhecimento certo de alguma coisa.
O homem equipado de sabedoria percebe facilmente a fragilidade dessa 
estrutura, inclusive nos sistemas mais bem aceitos e com as maiores pretensões de 
conter raciocínios mais elaborados.
Princípios acolhidos com base na confiança, destituídos de um conteúdo 
científico, falta de coerência entre as partes, e de evidência no todo, danificam o 
sistema podendo até mesmo levá-lo a sua ruína.
Será essa necessidade, de se ter evidentes premissas para se erguer um 
concreto sistema à base de um forte princípio, uma das propostas de desenvolvimento 
deste trabalho, além do estudo das ingressões destes princípios no Código de Defesa 
do Consumidor de 1990, sendo este, no ato de sua criação, totalmente dotado de uma 
carga manifestamente principiológica em suas normas.
1. DOS PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO
Sobre os princípios gerais de direito importa citarmos Miguel Reale (1999, p. 
27
305):
deve começar pela observação fundamental de que toda forma de 
conhecimento filosófico ou científico implica a existência de princípios, isto é, de 
certos enunciados lógicos admitidos como condição ou base de validade das demais 
asserções que compõem todo campo do saber.
Dessa abordagem lógica da palavra "princípio", pode-se dizer que "os 
princípios são ''verdades fundantes'' de um sistema de conhecimento, como tais 
admitidas, por serem evidentes ou por terem sido comprovadas." (REALE, 1999, p. 
305)
Nesse sentido, de acordo com Miguel Reale (1999, p. 306), os princípios se 
dividem em três categorias:
a) PRINCÍPIOS OMNIVALENTES: quando são válidos para todas as 
formas de saber, como é o caso dos princípios de identidade e de razão suficiente;
b) PRINCÍPIOS PLURIVALENTES: quando aplicáveis a vários campos de 
conhecimento, como se dá com o princípio de causalidade, essencial às ciências 
naturais, mas não extensivo a todos os campos do conhecimento;
c) PRINCÍPIOS MONOVALENTES: quando só valem como âmbito de 
determinada ciência, como é o caso dos princípios gerais de direito.
Será essa categoria de princípios, a dos monovalentes, que a presente 
monografia irá demonstrar: a incidência deles no âmbito das relações consumeristas 
devido à alta carga principiológica contida no texto da lei de defesa do consumidor.
A expressão princípios gerais de direito é por demais ampla e um autor de 
grande autoridade como Rubens Limongi França (apud RODRIGUES, 2002), 
entende que é aos princípios de direito natural que o legislador manda recorrer na 
lacuna da normatividade. Todavia, há de se atribuir um sentido diferente a eles, uma 
vez que o legislador quer referir-se àquelas normas que o orientam na elaboração da 
sistemática jurídica, ou seja, àqueles princípios que "baseados na observação 
sociológica e tendo como objetivo regular os interesses conflitantes, impõem-se, 
inexoravelmente, como uma necessidade na vida do homem em sociedade." 
(RODRIGUES, 2002, p. 25)
A esse respeito reportemo-nos a Washington de Barros Monteiro (1997, p. 
42), "Nada existe de mais tormentoso para o intérprete, que a aplicação dos princípios 
gerais de direito, não especificados pelo legislador."
Com base nessa posição, ressaltemos, aqui, a resolução para o eventual 
problema da aplicação dos aludidos princípios gerais, encontrada pelo direito suíço 
28
que dispõe no art. 1° do Código Civil deste país que "no silêncio da lei e não havendo 
um costume a regular uma relação jurídica, deve o juiz decidir ''segundo as regras que 
ele estabeleceria se tivesse de agir como legislador''." (RODRIGUES, 2002, p. 25)
Assim, ao se examinar o direito positivo pátrio, encontra-se, no art. 4° da Lei 
de Introdução ao Código Civil a orientação a seguir, por força do qual, quando a 
norma jurídica for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os 
costumes e os princípios gerais de direito.
Nas precisas palavras de Miguel Reale (1999, p. 306), isto significa que:
O legislador, por conseguinte, é o primeiro a reconhecer que o sistema das leis 
não é suscetível de cobrir todo o campo da experiência humana, restando sempre 
grande número de situações imprevistas, algo que era impossível ser vislumbrado 
sequer pelo legislador no momento da futura lei. Para essas lacunas há a possibilidade 
do recurso aos princípios gerais de direito, mas é necessário advertir que a estes não 
cabe apenas essa tarefa de preencher ou suprir as lacunas da legislação.
Note-se, porém, que para vários juristas essas lacunas não podem e nem 
verdadeiramente poderão existir, uma vez que o ordenamento jurídico oferece 
ferramentas para regular todos os casos possíveis, sejam eles previstos ou 
imprevistos, presentes ou futuros. Mas de maneira alguma se colocará em dúvida que 
as lacunas de fato existem no direito positivo, não merecendo acolhimento esse 
entendimento, posto que na própria há elementos para suprir essas lacunas; o certo é 
que tais elementos constituem uma breve resolução do problema, mas não a solução 
definitiva e concreta dele.
Diante desta exposição, temos a célebre noção atribuída por Miguel Reale 
(1999, p. 306), acerca do entendimento deste autor sobre os princípios gerais de 
direito em que ele nos revela o seguinte: "princípios gerais de direito são enunciações 
normativas de valor genérico, que condicionam e orientam a compreensão do 
ordenamento jurídico, quer para a sua aplicação e integração, quer para a elaboração 
de novas normas".
Ora, é evidente, portanto, que tais princípios gerais são imprescindíveis ao 
direito. Concluamos este tópico, citando as palavras do constitucionalista Paulo 
Bonavides (2002, p. 232):
Todo discurso normativo tem que colocar, portanto em seu raio de 
abrangência os princípios aos quais as regras se vinculam. Os princípios espargem 
claridade sobre o entendimento das questões jurídicas, por mais complicadas que 
estas sejam no interior de um sistema de normas.
Daí infere-se que todo sistema se quiser adquirir a qualidade de um sistema 
que se completa e se relaciona por toda a extensão de seu corpo normativo, deve estar 
29
armado de princípios que emanam de um núcleo central, formados de postulados que 
seguem os preceitos do princípio da identidade que é comum a todos os campos do 
saber. Além disso, percebe-se também que dado esse rigor necessário do corpo 
principiológico central, todo e qualquer princípio que daí se irradiar por outros 
sistemas periféricos estará sendo amparado pela base.
Assim se fixarmos o pressuposto de que o direito positivo é uma camada 
lingüística de termos prescritivos dirigidos ao comportamento social das relações de 
intersubjetividade, nada mais justo que apresentarmos a proposta de interpretação do 
direito como um sistema de linguagem, nos seus três planos fundamentais: a sintaxe, 
a semântica e a pragmática.
Por plano sintático entende-se aquele formado pelo relacionamento que os 
signos lingüísticos mantêm entre si,sem qualquer menção ao mundo exterior do 
sistema. Por plano semântico, aquele que diz respeito ao modo de referência à 
realidade, ou seja, a qualificação dos fatos para alterar normativamente a conduta. Por 
plano pragmático, aquele "tecido pelas formas segundo as quais os utentes da 
linguagem a empregam na comunidade do discurso e na comunidade social para 
motivar comportamento." (BARROS CARVALHO, 2002, p. 97)
E para se chegar ao conteúdo intelectual dos textos do Direito através da 
exegese, deverá o intérprete adotar o critério sistemático de interpretação, porque 
envolve os três planos fundamentais, ao realizar reiteradas incursões nos níveis 
sintático, semântico e pragmático da linguagem jurídica. Neste sentido será a 
interpretação um ato de vontade e um ato de conhecimento e como ato de 
conhecimento não caberá à "Ciência do Direito dizer qual é o sentido mais justo ou 
mais correto, mas, simplesmente, apontar as interpretações possíveis." (BARROS 
CARVALHO, 2002, p. 99)
1.1 Da Constitucionalização dos Princípios Gerais
Em decorrência da alta instabilidade política percebida ao longo dos tempos 
na história do Brasil, sempre foi muito comum, pelo menos até pouco tempo atrás, a 
interpretação e aplicação dos mais variados ramos do direito tomando-se por base "a 
lei ordinária principal que o regulamentava." (NERY JÚNIOR, 2002, p. 19)
Isso acontece devido à falta de um forte regime democrático, de estabilidade 
política que possam contribuir com o fortalecimento do Estado Democrático de 
Direito. Em vista disso percebe-se "porque não se vinha dando grande importância ao 
Direito Constitucional, já que nossas constituições não eram respeitadas, tampouco 
aplicadas efetivamente"(NERY JÚNIOR, 2002, p. 19).
Daí a alegação de que a ofensa à Constituição, nos países com estabilidade 
política e que se encontram num verdadeiro Estado Democrático de Direito, possui 
30
conseqüências catastróficas. No Brasil, quando este problema é declarado, ou seja, 
quando há ofensa à Constituição, "a alegação não é levada a sério na medida e na 
extensão que deveria", apresentando-se "como mais uma defesa que o interessado 
opõe à contraparte."(NERY JÚNIOR, 2002, p. 19)
Entretanto, essa situação vem apresentando uma grande mudança, em virtude 
do aumento significativo de trabalhos e pesquisas jurídicas que abordam o tema da 
interpretação e aplicação da Constituição Federal, ao declarar que o Direito 
Constitucional é a base fundamental do direito para o país.
De acordo com Nelson Nery Jr. (2002, p. 20): "O intérprete deve buscar a 
aplicação do direito ao caso concreto, sempre tendo como pressuposto o exame da 
Constituição Federal. Depois, sim, deve ser consultada a legislação 
infraconstitucional a respeito do tema."
Na verdade, o que podemos perceber dos ensinamentos deste jurista é que será 
na Constituição de determinado país que se encontrarão os mais altos valores do 
Direito Positivo, posto serem preservados pelos cidadãos orientados por uma carga 
principiológica que reside na base deste sistema. É da Constituição que se irradiam os 
princípios que irão se dispersar pelas mais variadas leis infraconstitucionais. Partindo 
desse pressuposto, Simonius tem razão quando afirma que "o Direito vigente está 
impregnado de princípios até suas últimas ramificações." (apud, REALE, 1999, p. 
306)
Deste ponto de partida, o da função interpretativa e da aplicabilidade da 
Constituição, através dos princípios contidos em seu corpo, é que podemos chegar, 
segundo Paulo Bonavides (2002, p. 246), "numa escala de densidade normativa, ao 
grau mais alto a que eles já subiram na própria esfera do Direito Positivo: o grau 
constitucional".
Revela também, este constitucionalista, que "a constitucionalização dos 
princípios compreende dessas fases distintas; a fase programática e a fase não 
programática". (2002, p. 246)
Por fase programática deve-se entender que é uma fase de concreção, dotada 
de um alto teor de abstração e de perfeição, que demandam de operações integrativas 
em que se percebe a ausência de juridicidade.
Já a fase não programática é uma fase dotada de objetividade, por ser concreta 
e completa, suscetível de imediata aplicação, e ao contrário do que se pode perceber 
na fase programática, é dotada de incontrastável juridicidade.
Ressalta ainda Paulo Bonavides (2002, p. 246) o seguinte:
Na primeira, a normatividade constitucional dos princípios é mínima; na 
31
segunda máxima. Ali, pairam ainda numa região abstrata e têm aplicabilidade 
diferida; aqui ocupam um espaço onde releva de imediato a sua dimensão objetiva e 
concretizadora, a positividade de sua aplicação direta e imediata.
Apenas nesta última fase, a fase não programática, que se fará exeqüível 
"colocar no mesmo plano discursivo, em termos de identidade, os princípios gerais e 
os princípios constitucionais." (BONAVIDES, 2002, p. 246)
Portanto, o que se pode perceber deste tópico é que, salvo o empenho da 
Filosofia e da Teoria Geral do Direito ao construírem a doutrina da normatividade dos 
princípios em que se busca uma neutralidade na qual se possa superar antinomia 
Direito Natural/Direito Positivo, tema que não é o propósito desse trabalho. Ao se 
estudar a teoria dos princípios gerais de direito proposto por Del Vecchio nas lições 
de Vicente Ráo (1999, p. 275), chega-se à seguinte conclusão:
O perigo do que se chama aequitas cerebrina, isto é, o arbítrio do juiz em 
sentido contrário ao da lei, desapareceu com o nascimento do moderno Estado de 
direito. E se, em nossos dias, certa doutrina pretende restabelecer este arbítrio sob o 
pretexto especioso da liberdade do juiz ou da jurisprudência, doutrina é esta que, 
retrógada em sua substância e contrária à liberdade apesar de seu nome, deve ser 
repelida por se opor ao mencionado princípio e às próprias bases racionais do sistema 
atualmente em vigor.
Assim, nada mais imprescindível na história contemporânea do Direito 
Constitucional do que a solidificação dos princípios contidos em seus textos de leis, o 
respeito ao Direito Constitucional como lei basilar de todo o ordenamento jurídico 
dos Estados para a estabilização política e fortalecimento do Estado Democrático de 
Direito e, por fim, a conversão dos princípios gerais em princípios constitucionais, 
entre outras categorias de princípios, já que aqueles possuem maior ou menor 
incidência nos mais variados ramos do direito, para possibilitar uma maior 
objetividade e aplicabilidade no escopo de suprir as diversas lacunas encontradas 
entre as leis.
1.2 Direitos do Consumidor - Previsão Constitucional
A Constituição Federal Brasileira de 1988 considerou como fundamental o 
direito do consumidor. Tanto é que, no art. 5°, inc. XXXII, estabeleceu em "norma de 
notório conteúdo programático" (CARVALHO FILHO, 2001, p. 19): o Estado 
promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor. Como já comentamos a respeito 
da fase programática das normas, não é necessário entrarmos em maiores detalhes 
aqui. Percebe-se, pois, que não foi sem razão que o Constituinte inseriu o direito do 
consumidor no rol dos direitos fundamentais.
Fala-se em conteúdo programático neste inciso porque antes da Lei 8.078/90 
32
de 11/09/1990, que criou o Código de Proteção e Defesa do Consumidor, o art. 5°, 
inc. XXXII da Constituição Federal, preestabelecia em si mesmo apenas um 
programa de ação, com respeito ao próprio objeto por se tratar de uma norma 
constitucional programática até então.
Sobre as normas constitucionais programáticas postula Crisafulli (1976, p. 
75):
As normas constitucionais programáticas, como se viu, não regulam 
diretamente as matérias a que se referem, mas regulam propriamente a atividade 
estatal concernente a ditasmatérias: têm por objeto imediato os comportamentos 
estatais e só imediatamente e por assim dizer, em segundo grau, aquelas determinadas 
matérias.
Acrescenta ainda Paulo Bonavides (2002, p. 222), "ostentam por igual uma 
dupla eficácia na medida em que servem de regra vinculativa de uma legislação 
futura sobre o mesmo objeto."
Além de caracterizada como direito fundamental, a defesa do consumidor "se 
qualifica também como um dos princípios da ordem econômica e financeira (art. 170, 
V, Constituição Federal)."
Por se tratar de uma sociedade capitalista, como é a brasileira, fundada na 
livre iniciativa na qual se verificam inúmeras formas de abuso de poder econômico, 
nada mais oportuno e justo do que se considerar o direito do consumidor como um 
direito fundamental.
No que diz respeito à competência normativa sobre a matéria, é da 
inteligência do art. 24, inc. VIII da Constituição Federal, serem competentes a União, 
os Estados e o Distrito Federal para legislar concorrentemente sobre responsabilidade 
por dano ao consumidor.
O produto legislativo da União deverá ater-se à edição de normas gerais, 
sendo que os Estados e Distrito Federal possuirão competência suplementar (art. 24, § 
1° e 2° da Constituição Federal).
Protege-se ainda, através da normatividade constitucional, o direito do 
consumidor (ALVIM, A.; ALVIM, T.; ALVIM, E.; SOUZA, J., 1995, p. 14):
No Título IV da Constituição Federal, destinado à tributação e ao orçamento, 
em sua Seção II, que se refere às limitações ao poder de tributar, o § 5° do art. 150 
dispõe que ''a lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos 
acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços'', determinando que se 
ofereça o devido esclarecimento acerca dos tributos incidentes sobre bens objeto de 
relações de consumo, em clara preocupação com o grau de informação que deve 
33
receber o consumidor, o que, aliás, é a tônica deste Código de Consumidor.
Como será discutido mais adiante o princípio da transparência, vale adiantar 
brevemente, como se percebe pelo fragmento supra citado, que a necessidade da 
devida informação acerca do produto que o consumidor venha adquirir, é mais do que 
uma mera necessidade, mas sim um dever que se impõe a todos os fornecedores que 
oferecem produtos ou serviços no mercado consumerista. Além disso nota-se também 
que o dever de bem informar os consumidores, nada mais é do que uma irradiação de 
um princípio basilar residente no corpo principiológico nuclear da Lei 8.078/90 
(reitere-se o Código de Defesa do Consumidor), que é o princípio da boa-fé, como 
veremos mais detalhadamente no tópico específico destinado à elucidação de sua 
aplicabilidade.
1.3 A Defesa do Consumidor e sua Extensão como Princípio 
Constitucional
Após todo este levantamento da trajetória dos princípios gerais de direito, da 
sua constitucionalização e irradiação por entre outros ramos do Direito, chega-se ao 
assunto fundamental do presente trabalho, que é o da carga principiológica contida na 
Lei 8.078/90. Todavia, antes de abordarmos os princípios específicos desta lei, 
apontaremos ainda a extensão da defesa do consumidor como princípio 
constitucional.
Dada esta destacada posição de defesa do consumidor, a de estar no ápice do 
nosso ordenamento jurídico, nos declara a importância do tema na órbita da economia 
brasileira, que possui grande parte de suas atividades baseadas nas relações de 
consumo, ou seja, entre fornecedor e consumidor que a partir do ano de 1990 devem 
estar, necessariamente, subordinadas aos ditames do Código de Proteção e Defesa do 
Consumidor no que chama a atenção pela necessidade de sua correta interpretação 
nos quadros normativos.
Daí percebe-se que os princípios que envolvem a defesa do consumidor são 
princípios jurídicos basilares, a partir do momento em que buscam introduzir uma 
nova forma de pensar nos postulados da consciência jurídica, e de acordo com os 
dizeres de José Joaquim Gomes Canotilho (1992, p. 177-178) será:
princípio político constitucionalmente conformador, na medida em que indica 
opção valorativa do constituinte; é princípio constitucional impositivo, pois que 
impõe aos órgãos do Estado, sobretudo ao legislador, a realização de uma tarefa e um 
fim a ser atingido e; princípio garantia, visto que garante, ainda que indiretamente, 
uma série de direitos ao cidadão.
Diante disso fica declarada a magnitude de sua garantia constitucional que 
possui no mínimo, disposições imediatas e emergentes, difundido de seu estado de 
34
princípio geral da atividade econômica do país, erigido por nossa Lei Maior, a virtude 
de corromper de inconstitucionalidade qualquer norma que possa ser um obstáculo à 
defesa desta figura das relações intersubjetivas de consumo, que é o consumidor.
Assim, ao se tratar de interpretação constitucional dever-se-á identificar quais 
foram as normas que receberam do legislador constitucional a categoria de princípios 
orquestradores do sistema de valoração. É preciso, pois, identificar tais princípios, 
posto que são mais do que normas dado o seu caráter de fundamentalidade no sistema 
das fontes de direito, ou à sua importância estrutural dentro do sistema jurídico, uma 
vez que irão servir "como vetores para soluções interpretativas." (TEMER, 1990, p. 
37)
Da posição do constitucionalista acima citado, nota-se que ele atribui ser 
papel do legislador apontar quais normas este erigiu à categoria de princípios, na 
busca da solução das antinomias que são encontradas nos conflitos entre as normas do 
sistema. Percebe-se portanto que, mais uma vez, será do núcleo sistêmico de onde 
emanará toda orientação no intuito de se atingir a devida interpretação normativa.
Por fim, lembra ainda Fábio Konder Comparato (1990, p. 69):
De um lado, não pode, o legislador, ou a administração pública, editar norma 
conflitante com o objetivo do programa constitucional. De outro, os Poderes Públicos 
têm o dever de desenvolver esse programa, por meio de uma ação coordenada.
Após todas essas exposições, mais do que declarado, está comprovado que a 
defesa do consumidor é uma garantia constitucional que engloba uma vasta gama de 
direitos que estão envolvidos em toda a Carta Constitucional ou em outros regimes e 
princípios colhidos por ela. "Direitos que envolvem a obrigação positiva de atuar, 
legislar e decidir, na política, na lei e na justiça, pela defesa do consumidor" 
(ZAPATER, 2001, p. 187).
1.4 Legislação Infraconstitucional - O Momento da Parturição do Código 
de Proteção e Defesa do Consumidor Brasileiro
Apesar do amplo otimismo do Constituinte, ao revelar certa pressa para que 
fosse promulgada a lei de proteção do consumidor, de acordo com a determinação do 
art. 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), quando 
consignou que o Congresso Nacional deveria elaborar, no prazo de cento e vinte dias 
da promulgação da Constituição, o Código de Defesa do Consumidor. Entretanto, 
após quase dois anos da promulgação da Carta Magna é que foi instituída a Lei 
8.078/90 de 11/09/1990, que criou o código brasileiro das relações consumeristas.
Este impôs aos órgãos estatais, sobretudo ao legislador, "a realização de uma 
tarefa e um fim a ser atingido" (ZAPATER, 2001, p. 185), ao buscar uma legislação 
mais eficiente e específica para tratar de tais situações jurídicas, enquanto o que se 
35
tinha antes era a adaptação interpretativa pelos juristas do Código Civil de 1916, nos 
mais variados casos em que eram envolvidos os sujeitos do consumo, no que quase 
sempre acabava numa decisão menos favorável aos consumidores.
2. A POLÍTICA NACIONAL DAS RELAÇÕES DE CONSUMO E SUA 
ABRANGÊNCIA
Estabelece o caput do art. 4° do Código de Defesa do Consumidor, a definição 
dos objetivos que norteiam a política das relações de consumo, buscando um alcance 
substancialmente

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