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ESPAC¸OS ME´TRICOS (com aplicac¸o˜es) Gentil, o taumaturgo 1a edic¸a˜o Boa Vista-RR Edic¸a˜o do autor 2013 Prefa´cio Via de regra o que se faz em um prefa´cio e´ discorrer sobre o conteu´do da obra. Nos dispensamos deste of´ıcio em raza˜o de que o leitor, se assim o desejar, pode apreciar o conteu´do deste livro a partir do (extenso) suma´rio, dado logo a seguir. Aproveito esta oportunidade para alguns esclarecimentos a respeito da obra em si. Iniciei a escrita deste livro ha´ doze anos atra´s, com va´rias interrupc¸o˜es. E´ um livro escrito a “uma ma˜os”, sem nenhum apoio, inclusive institucional. Para um autor dos “grandes centros” na˜o e´ dif´ıcil encontrar motivac¸a˜o para escrever uma obra uma vez que ele, de antema˜o, ja´ tem a certeza de que sera´ publicada. Ja´ para um autor de “periferia”, como e´ o meu caso, a teimosia e´ imprescind´ıvel. Com efeito, fiz duas tentativas anteriores para publicac¸a˜o deste livro, a primeira na pro´pria editora de minha universidade (ufrr); apo´s um tempo considera´vel de espera o diretor me informou que a editora ainda estava tentando captar recursos externos. Numa segunda tentativa o submeti a` editora da unb. Aproximadamente um ano depois recebi uma carta com o parecer de um referee (a´rbitro). O livro na˜o foi aceito para publicac¸a˜o. Treˆs foram as acusac¸o˜es princi- pais contra a minha obra: (i) Muito volumosa (espessa). O a´rbitro argumentou que eu poderia transmitir o mesmo conteu´do na metade do volume; (ii) um numero excessivo de figuras; (iii) nas pro´prias palavras do referee: “Em diversos pontos do texto o autor mistura aspectos de seu pro´prio entendimento filoso´fico e religioso com a mate´ria espec´ıfica deste to´pico da matema´tica.” Pois bem, vou me permitir alguns comenta´rios a respeito das duas ten- tativas malogradas. Comec¸ando pela primeira: posteriormente descobri que para mim e´ muito mais fa´cil “captar recursos externos ”, para publicar um livro, do que para a editora de uma universidade. Com efeito, basta eu me dirigir ao caixa eletroˆnico do meu Banco e passar meu carta˜o: pronto!, o recurso externo cai direto em minhas ma˜os. De sorte que este ja´ e´ o quarto livro que publico − tomando dinheiro emprestado no Banco, reitero (consignac¸a˜o em folha). Quanto aos argumentos do referee, observo que: escrever um livro fino na˜o seria dif´ıcil, agora se resultaria em um livro dida´tico a´ı e´ uma outra esto´ria. Na˜o e´ o que se observa em relac¸a˜o aos que se encontram no mer- cado, inclusive livros com poucas ou nenhuma figura − via de regra, livros que desestimulam os estudantes. O que me parece e´ que uma grande parte de autores (e editoras) ainda na˜o se deu conta de que o pu´blico para o qual eles escrevem na˜o existe mais − em decorreˆncia do lastima´vel estado em que se encontra a educac¸a˜o brasileira, estamos falando de qualidade. Muitos alunos, como se sabe, adentram a`s universidades com deficieˆncia ate´ na matema´tica do ensino fundamental. Como ensinar a estes alunos a 3 matema´tica abstrata das disciplinas do final da graduac¸a˜o? Aqui e´ onde situo a utilidade das figuras; de sorte que nesta nova versa˜o do livro decidir con- tinuar cometendo os mesmos dois primeiros pecados assinalados pelo referee; quanto ao terceiro, achei que ele, em parte, tinha raza˜o, assim e´ que eliminei as refereˆncias religiosas e mantive da filosofia apenas o necessa´rio. Mudando de assunto, meu primeiro livro sobre matema´tica ([6]) foi publi- cado no ano 2000 − tambe´m a`s minhas expensas −, alguns anos depois esse livro chega a`s ma˜os de um renomado matema´tico brasileiro (Prof. Ubiratan D’Ambro´sio) que tece − de livre e espontaˆnea vontade, isto e´, sem que eu tenha solicitado − comenta´rios elogiosos ao mesmo. Tomei a liberdade de reproduzir aqui o email do professor Ubiratan por duas razo˜es principais. Primeiro porque na˜o creio que eu tenha piorado, como autor, nestes doze anos decorridos; segundo, porque creio que muito do que ele fala a respeito daquele livro se aplica ao presente. Ei-lo: From: Ubiratan D,Ambro´sio <ubi@usp.br> To: Gentil Lopes da Silva Sent: Saturday, November 06, 2004 10:46 AM Subject: Obrigado pelo livro Caro Gentil Muito obrigado pelo livro que voceˆ mandou pelo Chateau. Esta´ muito bom, interessante e cheio de provocac¸o˜es. Da´ oportunidade para os estudantes se iniciarem em pesquisas. Voceˆ fala que o livro destina-se a alunos de 2o e 3o graus. Eu diria que e´ tambe´m para a po´s. Aritme´tica continua sendo grande fonte de problemas de pesquisa que podem ser trabalhados com relativamente pouco da complicada linguagem, notac¸o˜es e resultados que caracterizam muitas a´reas da matema´tica. Sa˜o formulac¸o˜es simples que podem ser trabalhados com pouca te´cnica, exigindo imaginac¸a˜o e criativi- dade. Vou recomendar aos meus alunos. Mas tive um problema. Nos sites das livrarias, o livro na˜o existe. E nem esta´ no site da Thesaurus. Recomen- dar um livro implica dizer como adquirir. O que voceˆ diz? Siga em frente com suas ide´ias. As suas reflexo˜es iniciais, a sua escolha de ep´ıgrafes, e a pro´pria capa, sa˜o uma grande contribuic¸a˜o para um novo pensar na urgente renovac¸a˜o da educac¸a˜o em todos os n´ıveis. A sua trajeto´ria desde seus estu- dos, lecionando em condic¸o˜es preca´rias, e com as dificuldades para publicar o livro e´ um exemplo, muit´ıssimo frequente, do processo (certamente inten- cional) de desencorajar o florescimento dos criativos, e abrir o espac¸o para os executores de ide´ias de outros. Uma curiosidade: voceˆ sabia que o E´douard Lucas, que voceˆ cita na pa´gina 393, e´ quem fez a revisa˜o te´cnica para a publicac¸a˜o po´stuma do livro “Me´lan- ges de Calcul Inte´gral”, de Joaquim Gomes de Souza, o Souzinha, em 1882? O livro havia sido recusado por inu´meras editoras enquanto ele estava vivo. Muito obrigado. Um abrac¸o, Ubiratan Gentil, O taumaturgo/Boa Vista-RR/30.10.2012 4 Suma´rio 1 ESPAC¸OS ME´TRICOS 9 1.1 Introduc¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 1.2 Definic¸a˜o de espac¸os me´tricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 1.2.1 Exemplos de espac¸os me´tricos . . . . . . . . . . . . . . 14 1.2.2 Me´tricas sobre o R2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 1.2.3 Distaˆncia entre func¸o˜es . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 1.2.4 Espac¸os de Co´digos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 1.3 Distaˆncia entre Ponto e Conjunto . . . . . . . . . . . . . . . . 45 1.4 Distaˆncia entre conjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 1.5 Conjuntos limitados − Diaˆmetro . . . . . . . . . . . . . . . . 53 1.6 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 • Apeˆndice: Demonstrac¸o˜es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 2 CONSTRUC¸A˜O DE ESPAC¸OS ME´TRICOS 79 2.1 Me´tricas a Partir de Me´tricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 2.2 Subespac¸os . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 2.3 Espac¸os vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 2.4 Me´tricas Induzidas Por Func¸o˜es . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 2.5 Produto de espac¸os me´tricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95 2.6 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 3 BOLAS ABERTAS 105 3.1 Definic¸a˜o e Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105 3.1.1 Bolas na reta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106 3.1.2 Bolas na me´trica “zero-um” . . . . . . . . . . . . . . . 107 3.1.3 Bolas no espac¸o quaˆntico . . . . . . . . . . . . . . . . 108 3.1.4 Bolas no plano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111 3.1.5 Bolas no quadrado quaˆntico . . . . . . . . . . . . . . . 113 • Topologia quaˆntica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 3.1.6 Bolas nos espac¸os de co´digos . . . . . . . . . . . . . . 1185 3.1.7 Bolas nos espac¸os de func¸o˜es . . . . . . . . . . . . . . 118 3.1.8 Bolas em subespac¸os . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 3.1.9 Bolas no espac¸o produto . . . . . . . . . . . . . . . . . 124 3.1.10 Proposic¸o˜es sobre Bolas . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 3.1.11 Ponto isolado − Espac¸os discretos . . . . . . . . . . . 129 3.2 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134 4 SEQUEˆNCIAS EM ESPAC¸OS ME´TRICOS 137 4.1 Sequeˆncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137 4.1.1 Subsequeˆncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140 4.2 Convergeˆncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141 4.3 Sequeˆncias num Espac¸o Produto . . . . . . . . . . . . . . . . 157 4.4 Sequeˆncias em Espac¸os Vetoriais Normados . . . . . . . . . . 159 4.4.1 Sequeˆncias na reta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159 4.4.2 Sequeˆncias em espac¸os normados . . . . . . . . . . . . 161 4.5 Quando eminentes matema´ticos cometem erros elementares . 167 4.6 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 178 5 A TOPOLOGIA DOS ESPAC¸OS ME´TRICOS 185 5.1 Ponto interior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 186 5.2 Conjuntos abertos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 188 5.3 Ponto fronteira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 196 5.4 Conjuntos fechados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201 5.5 Ponto aderente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 204 5.6 Densidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 216 5.7 Ponto de acumulac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 219 • Apeˆndice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223 � Representac¸o˜s bina´rias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 227 5.8 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233 6 FUNC¸O˜ES CONT´ıNUAS 237 6.1 Isometria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251 6.2 Propriedades das aplicac¸o˜es cont´ınuas . . . . . . . . . . . . . 271 6.3 Continuidade Uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 288 6.4 Homeomorfismos − Espac¸os Homeomorfos . . . . . . . . . . . 294 6.5 Me´tricas Equivalentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 310 6.5.1 Normas Equivalentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 325 6.6 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 328 • Apeˆndice: Limites em espac¸os me´tricos . . . . . . . . . . . . . . 337 7 ESPAC¸OS ME´TRICOS CONEXOS 349 7.1 Definic¸a˜o e Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 349 7.2 Conexos na reta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 355 7.3 Conjuntos conexos por caminhos . . . . . . . . . . . . . . . . 364 6 • Topologia quaˆntica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 383 7.4 Espac¸os localmente conexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 392 7.5 Componentes Conexas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 396 7.6 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 401 8 ESPAC¸OS ME´TRICOS COMPLETOS 407 8.1 Espac¸os me´tricos completos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 416 8.2 Espac¸os de Banach . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 428 8.3 Espac¸os de Hilbert . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 432 8.4 Completamento de Espac¸os Me´tricos . . . . . . . . . . . . . . 444 8.5 Espac¸os topologicamente completos . . . . . . . . . . . . . . . 456 8.6 Teorema do Ponto Fixo de Banach . . . . . . . . . . . . . . . 467 8.7 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 473 9 ESPAC¸OS ME´TRICOS COMPACTOS 475 9.1 Compacidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 477 9.1.1 Caracterizac¸a˜o de compacidade . . . . . . . . . . . . . 490 9.2 Produto Cartesiano de Conjuntos Compactos . . . . . . . . . 495 9.2.1 Compactos no Rn . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 496 9.3 Distaˆncia Entre Conjuntos Compactos . . . . . . . . . . . . . 497 9.4 Nu´mero de Lebesgue Para Coberturas . . . . . . . . . . . . . 500 9.5 Espac¸os Localmente Compactos . . . . . . . . . . . . . . . . . 504 9.6 Representac¸o˜es decimais e Curva de Peano . . . . . . . . . . . 507 9.6.1 O Mito das ambiguidades nas representac¸o˜es decimais 507 9.6.2 A curva de Peano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 516 9.6.3 O quadrado hiperma´gico . . . . . . . . . . . . . . . . . 528 9.7 A curva de Peano no cubo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 536 9.7.1 O cubo hiperma´gico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 539 9.7.2 O universo esculpido em um palito de fo´sforo . . . . . 544 9.8 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 549 • Apeˆndice: Produtos cartesianos infinitos . . . . . . . . . . . . . . 551 10 CONSULTAS 563 10.1 Elementos de Lo´gica & Demonstrac¸o˜es . . . . . . . . . . . . . 563 10.1.1 Operac¸o˜es Lo´gicas sobre Proposic¸o˜es . . . . . . . . . . 564 10.1.2 Te´cnicas (Engenharia) de Demonstrac¸a˜o . . . . . . . . 568 10.1.3 Func¸o˜es Proposicionais/Quantificadores . . . . . . . . 576 10.2 Conjuntos, Func¸o˜es e Famı´lia de conjuntos . . . . . . . . . . . 583 10.3 To´picos em Ana´lise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 600 10.3.1 Teoremas e Definic¸o˜es da Ana´lise Real . . . . . . . . . 603 10.3.2 Supremo e I´nfimo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 605 10.3.3 Espac¸os vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 615 10.3.4 Interregno: A Matema´tica como arte e engenharia . . 620 • Um desafio a quem interessar possa . . . . . . . . . . . . . . . . 621 7 Resumo das Me´tricas Conjunto Me´trica (S´ımbolo) Definic¸a˜o Pa´g. R Usual µ µ(x, y)= |x−y| 14 M “zero-um” δ δ(x, y)= { 1, se e so´ se x 6=y; 0, se e so´ se x=y. 15 [ 0, 1 [ Quaˆntica k k(x, y) =min { |x−y|,1−|x−y| } 17 R2 Usual (Euclidiana) D1 D1(x, y)= √ (x1 − y1 )2 +(x2 − y2 )2 58 Da Soma D2 D2(x, y)= |x1 − y1 |+ |x2 − y2 | 22 Do Ma´ximo D3 D3(x, y)=max{ |x1 − y1 |, |x2 − y2 | } 23 Mm×n(R) Euclidiana D1 D1(A,B)= √ (a11−b11 )2 +···+(amn−bmn )2 25 Da Soma D2 D2(A,B)= |a11−b11 |+···+ |amn−bmn | 25 Do Ma´ximo D3 D3(A,B)=max { |a11−b11 |, ... ,|amn−bmn | } 25 C[ a, b ] Da Integral Γ Γ(f, g)= ∫ b a |f(x)−g(x)| dx 27 Do Ma´ximo Υ Υ(f, g)=max{ |f(x)−g(x)| : x∈ [ a, b ]} 28 B(X,R) Do Sup Ψ Ψ(f, g)= sup{ |f(x)−g(x)| : x∈X} 32 ZN Hamming σ σ(x, y)= nu´mero de posic¸o˜es em que x e y diferem entre si. 37 roˆ ρ ρ(x, y) = |∑Nn=1 2n−1·(xn−yn )| 40 tau τ τ(x, y) =maior posic¸a˜o em que x e y diferem entre si. 41 Z∞ ni ν ν(x, y) = ∑∞ n=1 |xn−yn | 2 n 42 M1×M2 D1 D1(x, y)= √ d 2 1 (x1 , y1) + d 2 2 (x2 , y2) 95 D2 D2(x, y)= d1 (x1 , y1 ) + d2 (x2 , y2 ) 95 D3 D3(x, y)=max { d1 (x1 , y1); d2 (x2 , y2 ) } 95 8 Capı´tulo 1 ESPAC¸OS ME´TRICOS A abstrac¸a˜o desobstrui o esp´ırito, o torna mais leve e dinaˆmico. (Gaston Bachelard) 1.1 Introduc¸a˜o Na teoria dos espac¸os me´tricos busca-se a generalizac¸a˜o de alguns dos conceitos estudados no Ca´lculo e na Ana´lise Real, especialmente aqueles onde interveˆm a noc¸a˜o de distaˆncia (conceitos topolo´gicos). A definic¸a˜o de espac¸os me´tricos e´ uma abstrac¸a˜o fundamentada, quase que totalmente, na experieˆncia com os nu´meros reais. Mas esta definic¸a˜o e´ suficientemente flex´ıvel para incluir uma grande variedade de objetos, como teremos oportunidade de constatar. A citac¸a˜o a seguir∗ ajudara´ o leitor a enxergar com mais naturalidade a definic¸a˜o (postulacional) de espac¸os me´tricos, dada logo mais: Uma das contribuic¸o˜es definitivas do se´culo dezenove foi o recon- hecimento de que a matema´tica na˜o e´ uma cieˆncia natural,mas uma criac¸a˜o intelectual do homem. Bertrand Russel escreveu no Interna- tional Monthly em 1901: ‘O se´culo dezenove, que se orgulha da invenc¸a˜o do vapor e da evoluc¸a˜o, poderia derivar um t´ıtulo mais leg´ıtimo a` fama da descoberta da matema´tica pura.’ Pelo fim do se´culo era geralmente reconhecido mesmo por na˜o- matema´ticos que a matema´tica e´ pensamento postulacional, em que de premissas arbitra´rias sa˜o tiradas concluso˜es va´lidas. Que os postulados sejam ou na˜o verdadeiros num sentido cient´ıfico e´ indiferente. ∗Extra´ıda do livro: Curso Moderno de Filosofia/Denis Huisman e Andre´ Vergez. 9 Medindo distaˆncias Se num conjunto arbitra´rio temos como medir a distaˆncia entre dois ele- mentos quaisquer enta˜o o conjunto juntamente com essa distaˆncia resulta no que em matema´tica conhecemos como um espac¸o me´trico. Dados dois pontos em um plano, como a seguir • • A B a matema´tica admite na˜o apenas uma mas va´rias maneiras de se medir a distaˆncia entre estes dois pontos. Apenas para contextualizar tentaremos convencer o leitor de que surgem de maneira natural diferentes modos de se medir a distaˆncia entre estes pontos. De outro modo: em matema´tica (e tambe´m na f´ısica) na˜o existe uma u´nica maneira de se medir distaˆncias. Em outras palavras, a re´gua vendida em nossas livrarias, ou as trenas vendidas em nosso come´rcio, na˜o sa˜o os u´nicos instrumentos de medida. Vejamos um exemplo trivial do nosso dia-a-dia: o ta´xi. Suponhamos que algue´m queira se deslocar (em um ta´xi) do ponto A ao ponto B − separados por uma esquina − e que o ponto B esteja a uma distaˆncia de quatro unidades para a direita e treˆs unidades abaixo do ponto A, assim: •A •B •A 4 •B 35 Pois bem, existem duas distaˆncias entre os pontos A e B: a que e´ mais conveniente e justa para o taxista, 4+ 3 = 7; e a que seria mais conveniente para o passageiro (“em linha reta”): 5. A distaˆncia do ta´xi e´ tambe´m conhecida em matema´tica como me´trica da soma. A outra distaˆncia (“em linha reta”) e´ a distaˆncia usual ou euclidiana. Se o leitor parar para refletir um pouco se dara´ conta de que vez ou outra, mesmo numa simples caminhada, teremos que optar (por vezes ate´ por uma questa˜o de convenieˆncia) por uma ou outra destas duas me´tricas − como por exemplo, ao “cortar caminho”. 10 Resumindo, entre os pontos A e B no plano a seguir A B − Distaˆncia usual (euclidiana) A B − Distaˆncia do ta´xi mostramos dois modos de medir a distaˆncia entre os mesmos. Na verdade, podemos ter muitas alternativas para medir a distaˆncia entre dois pontos em um conjunto qualquer. Um ponto importante a ser observado e´ que do ponto de vista da matema´- tica, isto e´, da lo´gica, todas as me´tricas (distaˆncias) gozam do mesmo status. Ou ainda, na˜o existe uma distaˆncia mais ou menos verdadeira que outra, existe sim uma mais conveniente que outra para um determinado propo´sito. Por oportuno, acontece − no que diz respeito a`s me´tricas − o mesmo que ocorre no aˆmbito das geometrias euclidiana e na˜o-euclidianas. A de Euclides na˜o e´ nem mais nem menos verdadeira que as outras; pode ou na˜o ser a mais conveniente a determinados propo´sitos; por exemplo, Einstein ao formular sua Teoria da Relatividade Geral teve que optar por uma das geometrias na˜o-euclidianas. (geometria riemanniana) O que acontece e´ que a me´trica (re´gua) usual, vista a seguir 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 IN M E T R O e´ a mais conveniente para, por exemplo: o pedreiro, o carpinteiro, o en- genheiro civil, etc., porque esta e´ suficiente para resolver todos os seus problemas de medida. Ja´ para o matema´tico e o f´ısico, estes profissionais teˆm necessidade de “outras re´guas”, as quais na˜o se encontram no come´rcio, pois sa˜o, por assim dizer, abstratas. Um outro fato importante que o leitor deve ter em mente e´ que o matema´tico (ou o f´ısico) para resolver um dado problema que se lhe apre- senta pode, das duas uma: ou escolher uma dentre as va´rias distaˆncias (re´guas) ja´ existentes ou, caso seja necessa´rio, podera´ ate´ criar uma nova. Se ele decidir criar uma nova re´gua esta deve satisfazer alguns crite´rios, sob pena de na˜o ser validada pela comunidade matema´tica. Aqui so´ e´ necessa´rio o leitor lembrar de que qualquer instrumento de aferic¸a˜o candidato a receber o selo do Inmetro tera´ que passar por uma bateria rigorosa de testes. 11 Como dissemos, o matema´tico e o f´ısico lidam com outros tipos de re´gua ale´m da usual. O mais importante: qualquer que seja a nova re´gua proposta esta deve, na comunidade dos matema´ticos, passar por uma bateria rigorosa de testes. Ao todo deve ser testado um conjunto de cinco ı´tens − cinco crite´rios lo´gicos −, dados a seguir: 1.2 Definic¸a˜o de espac¸os me´tricos Definic¸a˜o 1 (Espac¸o Me´trico). Seja M 6= ∅ um conjunto qualquer. Consi- deremos uma aplicac¸a˜o d : M ×M −→ R, que associa a cada par ordenado (x, y) ∈M ×M um nu´mero real d(x, y) satisfazendo as seguintes condic¸o˜es (para quaisquer x, y e z em M): (M1) d(x, y) ≥ 0 e d(x, y) = 0 ⇐⇒ x = y ; (M2) d(x, y) = d(y, x) ; (M3) d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y). Nestas condic¸o˜es dizemos que d e´ uma me´trica sobre M e que d(x, y) e´ a distaˆncia do elemento x ao elemento y. Podemos dizer tambe´m que uma aplicac¸a˜o d : M×M −→ R satisfazendo as condic¸o˜es anteriores adquire status de me´trica. O par (M, d ) e´ o que entendemos por espac¸o me´trico. Nota: Chamamos a atenc¸a˜o do leitor para o fato de que espac¸o me´trico e´ uma “estrutura” e na˜o um conjunto, tanto e´ que o mesmo conjunto munido com me´tricas distintas da´ origem a espac¸os me´tricos distintos, isto e´: d 6= d′ ⇒ (M, d ) 6= (M, d′ ) Doravante cada elemento de um espac¸o me´trico sera´ referido como ponto desse espac¸o, independentemente de sua natureza. A exigeˆncia feita em (M1) e´ bastante intuitiva: uma distaˆncia nunca e´ negativa; se a distaˆncia entre dois pontos e´ nula enta˜o, obrigatoriamente, estes pontos sa˜o o mesmo (sa˜o iguais), e; reciprocamente: a distaˆncia de um ponto para si mesmo deve ser nula. A exigeˆncia feita em (M2), tambe´m assaz intuitiva, foi tomada de empre´s- timo do dito popular que todos conhecemos: “fulano!! vem ca´! E o fulano responde: vem ca´ tu, pois a distaˆncia daqui pra´ la´, e´ a mesma de la´ pra´ ca´”. Como se veˆ, qualquer um ja´ possui intuitivamente os rudimentos para iniciar-se nos espac¸os me´tricos. s s s y x z d(x, y) d(x, z) d(z, y) A exigeˆncia feita em (M3), a menos intuitiva, e´ conhecida como desigualdade triangular e se inspira no fato de que na geometria elementar cada lado de um triaˆngulo tem sempre medida menor que a soma das medidas dos outros dois lados. 12 Alternativamente, pode ser u´til vermos um espac¸o me´trico como um sistema de processamento de informac¸o˜es, onde temos: (M, d) hardware software O conjunto de instruc¸o˜es (software) e´ passado atrave´s da me´trica. Observe que se no par (M, d) mudarmos apenas a me´trica (algoritmo, software) teremos um outro sistema de “processamento de informac¸o˜es”; um outro espac¸o me´trico que − na maioria das vezes − pouco tera´ a ver com o primeiro. A citac¸a˜o a seguir ajudara´ o leitor a enxergar com mais naturalidade a definic¸a˜o de espac¸os me´tricos, dada anteriormente: (rodape´ p. 9) As definic¸o˜es matema´ticas parecem opor-se radicalmente a`s definic¸o˜es emp´ıricas porque os seres matema´ticos na˜o sa˜o objetos que se descubram na natureza. As definic¸o˜es emp´ıricas, no fundo, sa˜o simples descric¸o˜es de coisas ja´ existentes . . . . O naturalista que define o pa´ssaro, na˜o o cria: descobre-o. Contrariamente, o c´ırculo na˜o designa um objeto existente, mas e´ a definic¸a˜o do c´ırculo que o cria. Tambe´m poder´ıamos dizer que “se a definic¸a˜o emp´ırica na˜o passade uma co´pia, a definic¸a˜o matema´tica e´ um modelo”. A definic¸a˜o matema´tica na˜o e´ descritiva e´ criadora. A relac¸a˜o entre o matema´tico e os seres matema´ticos e´ a mesma existente entre um deus e suas criaturas. A definic¸a˜o matema´tica e´ uma regra operato´ria. Na˜o e´ mesmo necessa´rio que alguma coisa de concreto lhe corresponda (cf. o nu´mero negativo, os “imagina´rios”), basta, como diz Le Roy, que o conceito por ela proposto “fornec¸a ao esp´ırito mate´ria de exerc´ıcio efetivo e operato´rio. (Grifo nosso) Um aparte: E´ uma discussa˜o pertinente a` filosofia da matema´tica se os objetos matema´ticos − a exemplo dos nu´meros − de fato existem; ou ainda, se podem ser encontrados na Natureza. Gostaria de expor meu parecer a este respeito. No meu entendimento os objetos matema´ticos sa˜o abstrac¸o˜es que na˜o encontram-se em parte alguma da Natureza e, para existirem, necessitam do homem. Se um meteorito se chocasse com a terra e os homens − a exemplo dos dinossauros, por suposto − deixassem de existir, os nu´meros concomitantemente desapareceriam. E afirmo mais: se na suposta hecatombe mencionada acima sobrevivessem apenas alguns homens “primitivos” e alguns livros de matema´tica, ainda as- sim os nu´meros deixariam de existir . . . por falta de um “instrumento” (ce´rebro, mente) apropriado que pudesse decodifica´-los a partir dos livros. Uma analo- gia: se um bebeˆ engatinhando numa sala encontra as pec¸as de um xadrez para ele estas constituem-se em meros brinquedos − na˜o um jogo de xadrez (estrutura) propriamente. 13 1.2.1 Exemplos de espac¸os me´tricos 1) A reta usual (oficial) Considere o conjunto R dos nu´meros reais. A seguinte func¸a˜o d : R× R −→ R, dada por d(x, y) = |x− y|, e´ uma me´trica sobre R. Vamos provar isto: (M1) d(x, y) ≥ 0 e d(x, y) = 0 ⇐⇒ x = y. Enta˜o d(x, y) ≥ 0 ⇐⇒ d(x, y) = |x− y| ≥ 0 e d(x, y) = 0 ⇐⇒ |x− y| = 0 ⇐⇒ x− y = 0 ⇐⇒ x = y. Observe que (M1) se desdobra em treˆs condic¸o˜es a serem provadas. (M2) d(x, y) = d(y, x) ⇐⇒ |x− y| = |y − x|. (M3) d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y) ⇐⇒ |x− y| ≤ |x− z|+ |z − y|. Vamos precisar da desigualdade triangular do mo´dulo, isto e´ (p. 602) |x+ y| ≤ |x|+ |y| Para tanto vamos nos valer do seguinte artif´ıcio x− y = (x− z) + (z − y) Sendo assim, temos |x− y| = ∣∣(x− z) + (z − y)∣∣ ≤ |x− z|+ |z − y| Por exemplo d(5, 3) = |5− 3| = 2 ; d (3 2 , −1 ) = ∣∣∣3 2 − (−1) ∣∣∣ = 5 2 . Geometricamente, temos Rssss d(5, 3)=|5−3|=2 ⊢ ⊣-ff d ( 3 2 ,−1 ) = ∣∣ 3 2 −(−1) ∣∣=2,5 ⊢ ⊣-ff q q q q q q q−1 0 1 2 3 4 5 14 2) A me´trica “zero-um” Uma importante me´trica − aplica´vel a qualquer conjunto − e´ dada a seguir: Seja M um conjunto qualquer. Consideremos d : M ×M −→ R definida por d(x, y) = 1, se e so´ se x 6= y;0, se e so´ se x = y. Vamos mostrar que d, assim definida, e´ uma me´trica. De fato, esta aplicac¸a˜o, da maneira como foi definida, claramente satis- faz (M1) e (M2). Vamos mostrar que (M3) tambe´m e´ satisfeita: Dados x e y em M temos duas alternativas, x = y ou x 6= y: ( i ) Se x = y enta˜o d(x, y) = 0. Substituindo este resultado em (M3) devemos provar que 0 ≤ d(x, z) + d(z, y) Como, pela definic¸a˜o de d, d(x, z) ≥ 0 e d(z, y) ≥ 0, temos que esta de- sigualdade e´ trivialmente satisfeita. ( ii ) Se x 6= y enta˜o ou x 6= z ou z 6= y (caso contra´rio, isto e´, se x = z e z = y enta˜o x = y, contrariando a hipo´tese); sendo assim temos d(x, y) = 1 e ou d(x, z) = 1 ou d(z, y) = 1. Em qualquer situac¸a˜o a desigualdade d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y) 1 ≤ d(x, z) + d(z, y) estara´ satisfeita. Observe que esta prova na˜o depende da natureza dos elementos de M , o que implica que o par (M, d) e´ um espac¸o me´trico independentemente de quem seja o conjunto M . • Por exemplo considere o conjunto das vogais A = { a, e, i, o, u }, enta˜o o par (A, d) e´ um espac¸o me´trico onde, por exemplo, temos as seguintes distaˆncias d(a, e) = 1 ; d(o, u) = 1 ; d(u, u) = 0. uma vez que a 6= e, o 6= u e u = u. Nota: Como neste livro trabalharemos com muitas me´tricas, vamos adotar s´ımbolos especiais para algumas e numerar (indexar) outras. Por exemplo a me´trica “zero-um” sera´ denotada por δ e a me´trica usual sobre R por µ. Novamente enfatizamos que os espac¸os me´tricos (R, µ) e (R, δ) sa˜o distintos, inclusive por que para um mesmo par de pontos eles fornecem distaˆncias diferentes, por exemplo: µ(5, 3) = |5− 3| = 2 e δ(5, 3) = 1. 15 3) A Me´trica Quaˆntica Quando o esp´ırito se apresenta a` cul- tura cient´ıfica, nunca e´ jovem. Alia´s e´ bem velho, porque tem a idade de seus preconceitos. Aceder a` cieˆncia e´ reju- venescer espiritualmente, e´ aceitar uma brusca mutac¸a˜o que contradiz o passado. (Gaston Bachelard) Introduc¸a˜o: A me´trica que estaremos apresentando agora nos per- mitira´ demonstrar, oportunamente, a plausibilidade matema´tica de alguns fenoˆmenos contraintuitivos observados no aˆmbito da f´ısica quaˆntica.∗ O que e´ f´ısica quaˆntica? A f´ısica quaˆntica (tambe´m conhecida como mecaˆnica quaˆntica e teoria quaˆntica) e´ principalmente o estudo do mundo microsco´pio. Nesse mundo muitas grandezas f´ısicas sa˜o encontradas apenas em mu´ltiplos inteiros de uma quantidade elementar; quando uma grandeza apresenta essa propriedade, dizemos que e´ quantizada. A quantidade elementar associada a` grandeza e´ chamada quantum da grandeza (o plural e´ quanta). Uma grandeza quantizada que esta´ presente no nosso dia-a-dia e´ o din- heiro. O dinheiro no Brasil e´ quantizado, ja´ que a moeda de menor valor e´ a de um centavo (R$ 0, 01), e os valores de todas as outras moedas e notas sa˜o obrigatoriamente mu´ltiplos inteiros do centavo. Em outras palavras, o quan- tum de dinheiro em espe´cie e´ R$ 0, 01, e todas as quantias maiores sa˜o da forma n× (R$ 0, 01), onde n e´ um nu´mero inteiro. Na˜o e´ poss´ıvel, por exem- plo, pagar com dinheiro vivo uma quantia de R$ 0, 755 = 75, 5 × (R$ 0, 01). Em 1905 Einstein propoˆs que a radiac¸a˜o eletromagne´tica (ou, simples- mente, a luz) era quantizada; a quantidade elementar de luz e´ hoje chamada de fo´ton. [. . . ] O conceito de quantum de luz, ou fo´ton, e´ muito mais sutil e miste- rioso do que Einstein imaginava. Na verdade, ate´ hoje na˜o e´ compreendido perfeitamente. Segundo Einstein, um quantum de luz de frequeˆncia f tem uma energia dada por E = hf (energia do fo´ton) onde h e´ a chamada constante de Planck, que tem o valor h = 6, 63 × 10−34 J · s (Halliday&Resnick/Vol. 4) ∗Como por exemplo, o de que uma part´ıcula pode encontrar-se em muitos lugares ao mesmo tempo; ou ainda: “ele´trons que se movem de A para B sem nunca passar entre esses pontos”. 16 Consideremos o conjunto M = [ 0, 1 [ e a seguinte aplicac¸a˜o k : [ 0, 1 [× [ 0, 1 [−→ R definida por k(x, y) = min {|x− y|, 1− |x− y|} Deixamos como exerc´ıcio ao leitor provar que k e´ uma me´trica em [ 0, 1 [. Como funciona a me´trica quaˆntica? Funciona de modo bem simples, na˜o e´ necessa´rio nenhum manual de instruc¸a˜o, veja: dados dois pontos x e y, ambos no intervalo [ 0, 1 [, entre chaves obteremos dois valores, escolhemos o menor deles como sendo a distaˆncia entre os pontos x e y. Por exemplo, k(0; 0, 4) = min {|0− 0, 4|, 1− |0− 0, 4|} = min{0, 4; 0, 6} = 0, 4 k(0; 0, 6) = min {|0− 0, 6|, 1− |0− 0, 6|} = min{0, 6; 0, 4} = 0, 4 k(0; 0, 8) = min {|0− 0, 8|, 1− |0− 0, 8|} = min{0, 8; 0, 2} = 0, 2 Observe a localizac¸a˜o geome´trica destes pontos: q 0 12 1 t t t 0, 4 0, 6 0, 8 Por oportuno, observe que, k (0; 0, 4) = k (0; 0, 6) > k (0; 0, 8). (1.1) E´ isto mesmo que o leitor testemunha!: os dois primeiros pontos (0, 4 e 0, 6) esta˜o a uma mesma distaˆncia da origem, e, como se na˜o bastasse, o terceiro ponto (0, 8) esta´ mais pro´ximo da origem que os dois primeiros . . . pasme´m!Poder´ıamos, com inteira raza˜o, chama´-la de “me´trica maluca” ou ate´, quem sabe, “me´trica hipermaluca”. No entanto, vejamos o que o eminente filo´sofo tem a nos dizer a este respeito: Tudo isso, que a` primeira vista parece excesso de irraza˜o, na verdade e´ o efeito da finura e da extensa˜o do esp´ırito hu- mano e o me´todo para encontrar ver- dades ate´ enta˜o desconhecidas. (Voltaire) Oportunamente estaremos provando que, desta vez, o filo´sofo esta´ coberto de raza˜o. As palavras do filo´sofo me serviram, amiu´de, de apoio psicolo´gico quando − a princ´ıpio − me sentir tentado a desdenhar da “me´trica maluca”! 17 Distaˆncia de um ponto arbitra´rio a` origem Vamos necessitar da distaˆncia de um ponto arbitra´rio x ∈ [ 0, 1 [ a` origem: k(x, 0) = min {|x− 0|, 1− |x− 0|} = min{|x|, 1− |x|} Como 0 ≤ x < 1, temos |x| = x, logo, k(x, 0) = min{x, 1−x}. Temos, x ≤ 1− x ⇐⇒ x ≤ 1 2 Sendo assim, podemos escrever: k(x, 0) = x, se 0 ≤ x ≤ 12 ; 1− x, se 12 ≤ x < 1. (1.2) Esta equac¸a˜o nos diz, simplesmente, que se x e´ um ponto na primeira metade do intervalo, enta˜o sua distaˆncia para a origem e´ igual “a ele pro´prio”. Se x e´ um ponto na metade direita do intervalo, enta˜o sua distaˆncia para a origem e´ 1− x. Veja: k(x, 0) = min{x, 1− x} s x q1 2 0 1 x 1−x s xq1 2 0 1 x 1−x A seguir esboc¸amos o gra´fico da func¸a˜o dada por (1.2): q 11 2 q q1 1 2 0 x k(x, 0) s xq1 2 0 1 Este gra´fico nos mostra como varia a distaˆncia de um ponto arbitra´rio x, do intervalo [ 0, 1 [, a` origem. Na figura a seguir acrescentamos ao gra´fico anterior (para efeito de com- parac¸a˜o) a distaˆncia usual, d(x, 0) = |x− 0|, restrita ao intervalo [ 0, 1 [ : 18 q 11 2 q q1 1 2 0 x k(x, 0) A partir do gra´fico de k(x, 0) (ou da equac¸a˜o (1.2)) constru´ımos a re´gua oficial do universo ( [ 0, 1 [, k ) , assim: 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 1 IN M E T R O - Re´gua quaˆntica Nota: Observamos que a re´gua (“trena” ) acima e´ ta˜o leg´ıtima quanto a usual, vendida em nossas livrarias, tanto e´ que ja´ a homologamos junto ao Inmetro. O que confere status cient´ıfico a esta re´gua e´ justamente o fato de ela satisfazer a todas as condic¸o˜es para uma me´trica. (p. 12) Esta re´gua nos sera´ bastante u´til para destrinchar (e produzir) alguns paradoxos (patologias), inclusive na f´ısica quaˆntica como ja´ mencionamos. E mais: Pelo ao menos no aˆmbito da topologia podemos assegurar aos ce´pticos que milagres existem sim!, como estaremos provando a seu tempo. Por oportuno, adiantamos uma surpreendente igualdade: 0, 999 . . . = 0. Nota: Um espac¸o me´trico e´ tambe´m um espac¸o topolo´gico. (p. 280) Retomando: a re´gua quaˆntica nos fornece diretamente a distaˆncia de um ponto qualquer do intervalo [ 0, 1 [ para a origem 0, graficamente: 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 1 IN M E T R O 0 1p p p 1 4 1 2 3 4 19 Vejamos como fica a patologia exibida anteriormente (p. 17) com o uso da re´gua anterior, veja: 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 1 IN M E T R O s s sA B C ր Origem Os pontos A e B encontram-se a` mesma distaˆncia da origem . . . Pasme´m! Podemos escrever: k(A, 0) = 0, 4 = k(B, 0) E, o que e´ “pior”, o ponto C encontra-se mais pro´ximo da origem que qualquer dos pontos A e B . . . pasme´m !! Podemos escrever: k(C, 0) = 0, 2 < 0, 4 = k(A, 0) = k(B, 0) (1.3) Adverteˆncia: Aconselhamos ao estudante de topologia excessiva prudeˆncia: Esta re´gua na˜o devera´ cair nas ma˜os de profissionais na˜o devidamente ha- bilitados, ainda aqui vale recordar do mestre Jesus: (Mt 7 : 6) Na˜o deiteis aos porcos as vossas pe´rolas, para que na˜o suceda que eles lhes ponham os pe´s em cima, e tornando-se contra vo´s, vos despedacem. Na figura a seguir colocamos as duas re´guas − usual e quaˆntica − lado a lado para efeitos de comparac¸a˜o, veja: 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 IN M E T R O 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 1 IN M E T R O U s u a l Q u a^ n t i c a Nota: Reescalonamos (dividimos por 10) a re´gua usual, para efeitos de comparac¸a˜o. Observe que a re´gua quaˆntica coincide com a re´gua usual so´ ate´ a metade, a partir da´ı as duas diferem radicalmente. 20 Tornando a re´gua quaˆntica menos indigesta Dissemos que a re´gua quaˆntica mede a distaˆncia, para a origem, de qualquer ponto do intervalo [ 0, 1 [. O leitor podera´ “digerir” melhor o funcionamento desta re´gua se imaginar que ela produz uma curvatura no espac¸o, digo, no intervalo [ 0, 1 [. Imagine este intervalo feito de arame flex´ıvel, curve-o segundo um c´ırculo, assim: 1 0 pp p 1 4 3 4 1 2 1 0 pp p 1 4 3 4 1 2 ss s AB C Na figura da direita assinalamos os pontos A, B e C na relac¸a˜o (1.3) (p. 20). Agora fica mais fa´cil de entender por que d (C, 0) < d (A, 0) = d (B, 0). Nota: A rigor a me´trica quaˆntica na˜o curva o intervalo unita´rio. Vejamos uma analogia: Ao redor de um ima˜ existe um campo magne´tico que “curva o espac¸o” em sua volta. A presenc¸a do campo altera a geometria − ou me´trica − da regia˜o em volta do ima˜. Pore´m, o pro´prio ima˜ na˜o e´ curvado. De igual modo, a presenc¸a da me´trica k no universo [ 0, 1 [ e´ responsa´vel pela “geometria” da estrutura ( [ 0, 1 [, k ) , que e´ curva. Podemos buscar uma outra analogia para o espac¸o quaˆntico na teoria da relatividade geral de Einstein: segundo essa teoria o espac¸o e´ uma estrutura cujas propriedades dependem da pre- senc¸a da mate´ria. Mate´ria e energia em movimento curvam o espac¸o-tempo. Essa deformac¸a˜o muitas vezes e´ comparada a que ocorre em uma rede esticada quando nela se deposita uma esfera macic¸a e pesada. q1 2 0 1ր “massa” De modo ana´logo, como veremos oportuna- mente, a origem “0” do intervalo [ 0, 1 [ e´ que faz o papel da massa e e´ responsa´vel pela cur- vatura do espac¸o topolo´gico ( [ 0, 1 [, k ) . 21 1.2.2 Me´tricas sobre o R2 Vamos agora definir algumas me´tricas sobre o conjunto R×R = R2 dos pares ordenados de nu´meros reais. 4) O plano usual (oficial) A func¸a˜o, D1 : R 2 × R2 −→ R, dada por D1(x, y) = √ (x1 − y1)2 + (x2 − y2)2 onde x = (x1 , x2) e y = (y1 , y2), e´ uma me´trica sobre R 2. D1 e´ conhecida como me´trica euclidiana ou usual do R 2 e naturalmente se inspira na fo´rmula da distaˆncia entre dois pontos da geometria anal´ıtica. No apeˆndice provamos que D1 e´ de fato uma me´trica sobre R 2. (p. 68) Exemplo: Calcular a distaˆncia entre os pontos x = (1, 1) e y = (4, 5). Soluc¸a˜o: Temos x = (x1 , x2) = (1, 1) e y = (y1 , y2) = (4, 5). Enta˜o D1(x, y) = √ (x1 − y1)2 + (x2 − y2)2 D1 ( (1, 1), (4, 5) ) = √ (1− 4)2 + (1− 5)2 = 5. Geometricamente temos R R p p p p p p p p p 0 s s ⊡ (1, 1) (4, 5) ⇒ s s D1 D1 e´ a medida da hipotenusa. 5) A me´trica da soma (ou do ta´xi) A func¸a˜o, D2 : R 2 × R2 −→ R, dada por D2(x, y) = |x1 − y1 |+ |x2 − y2 | onde x = (x1 , x2) e y = (y1 , y2) e´ uma me´trica sobre R 2. D2 e´ conhecida como me´trica da soma (ou do ta´xi). No apeˆndice provamos que D2 e´ de fato uma me´trica sobre R 2. (p. 69) Exemplo: Calcular a distaˆncia entre os pontos x = (1, 1) e y = (4, 5). 22 Soluc¸a˜o: Temos x = (x1 , x2) = (1, 1) e y = (y1 , y2) = (4, 5), enta˜o D2(x, y) = |x1 − y1 |+ |x2 − y2 | D2 ( (1, 1), (4, 5) ) = |1− 4|+ |1− 5| = 7. Geometricamente temos R R p p p p p p p p p 0 s s ⊡ (1, 1) (4, 5) ⇒ s s D2 D2 e´ a soma das medidas dos catetos. 6) A me´trica do ma´ximo A func¸a˜o, D3 : R 2× R2 −→ R, dada por D3(x, y) = max {|x1 − y1 |, |x2 − y2 |} onde x = (x1 , x2) e y = (y1 , y2) e´ uma me´trica sobre R 2. No apeˆndice provamos que D3 e´ de fato uma me´trica sobre R 2. (p. 70) Exemplo: Calcular a distaˆncia entre os pontos x = (1, 1) e y = (4, 5). Soluc¸a˜o: Temos x = (x1 , x2) = (1, 1) e y = (y1 , y2) = (4, 5), enta˜o D3(x, y) = max {|x1 − y1 |, |x2 − y2 |} D3 ( (1, 1), (4, 5) ) = max {|1− 4|, |1− 5|} = max{ 3, 4 } = 4. Geometricamente temos R R p p p p p p p p p 0 s s ⊡ (1, 1) (4, 5) ⇒ s s D3 D3 e´ a medida do maior dos catetos. 23 Como era de se esperar, os treˆs espac¸os nos fornecem diferentes distaˆncias para um mesmo par de pontos. Para efeitos de comparac¸a˜o, temos R R p p p p p p p p p 0 s s ⊡ (1, 1) (4, 5) R R p p p p p p p p p 0 s s ⊡ (1, 1) (4, 5) R R p p p p p p p p p 0 s s ⊡ (1, 1) (4, 5) As treˆs distaˆncias vistas para o R2 sa˜o facilmente generalizadas para o Rn, do seguinte modo: D1(x, y) = √ (x1 − y1)2 + · · · + (xn − yn)2 (1.4) D2(x, y) = |x1 − y1 | + · · ·+ |xn − yn | (1.5) D3(x, y) = max {|x1 − y1 |, . . . , |xn − yn |} (1.6) onde x = (x1 , x2 , . . . , xn) e y = (y1 , y2 , . . . , yn) ∈ Rn. 7) Distaˆncia entre matrizes Seja Mm×n(R) o conjunto das matrizes reais de ordem m por n. Para calcular a distaˆncia entre duas matrizes lanc¸aremos ma˜o de um ar- tif´ıcio: Identificaremos uma matriz do conjunto Mm×n(R) com um ponto do conjunto Rm×n do seguinte modo A = a11 . . . a1n a21 . . . a2n . . . . . . . . . . . . . . am1 . . . amn ↔ a = (a11 , . . . , a1n , a21 , . . . , a2n , . . . , am1 , . . . , amn) B = b11 . . . b1n b21 . . . b2n . . . . . . . . . . . . . bm1 . . . bmn ↔ b = (b11 , . . . , b1n , b21 , . . . , b2n , . . . , bm1 , . . . , bmn) Feito isto definiremos a distaˆncia entre as matrizes A e B como sendo a distaˆncia entre os respectivos pontos a e b. 24 Sendo assim temos as seguintes distaˆncias entre matrizes D1(A, B) = √ (a11 − b11)2 + · · ·+ (amn − bmn)2 (1.7) D2(A, B) = |a11 − b11 |+ · · · + |amn − bmn | (1.8) D3(A, B) = max {|a11 − b11 |, . . . , |amn − bmn |} (1.9) Exemplo: Calcule a distaˆncia entre as matrizes A = [ 2 1 3 3 0 2 ] e B = [ 0 2 1 3 4 5 ] Soluc¸a˜o: Temos A = [ 2 1 3 3 0 2 ] ↔ a = (2, 1, 3, 3, 0, 2) B = [ 0 2 1 3 4 5 ] ↔ b = (0, 2, 1, 3, 4, 5) Ainda, A−B = [ 2 −1 2 0 −4 −3 ] ↔ a− b = (2, −1, 2, 0, −4, −3) Vamos calcular a distaˆncia entre as matrizes A e B em cada um dos espac¸os me´tricos ( M2×3(R), D1 ) , ( M2×3(R), D2 ) e ( M2×3(R), D3 ) onde D1 , D2 e D3 sa˜o dadas pelas equac¸o˜es (1.7), (1.8) e (1.9). Pois bem: D1 ( A, B ) = √ 22 + (−1)2 + 22 + 02 + (−4)2 + (−3)2 = √ 34; D2 ( A, B ) = |2|+ | − 1|+ |2|+ |0| + | − 4|+ | − 3| = 12; D3 ( A, B ) = max { |2|, | − 1|, |2|, |0|, | − 4|, | − 3|} = 4. A fo´rmula a seguir n = N(i− 1) + j (1.10) nos permite transferir os elementos de uma matriz de ordem M × N para um ponto de RM×N . (para a prova desta fo´rmula veja [6]) A fo´rmula nos diz em que coordenada n (do ponto) devemos guardar o elemento aij da matriz. Por exemplo, para a matriz[ a11 a12 a13 a21 a22 a23 ] de ordem 2× 3, procedemos assim: 25 a11 ⇒ n = 3(1 − 1) + 1 = 1 ⇒ ( a11 , ? , ? , ? , ? , ? ) a12 ⇒ n = 3(1 − 1) + 2 = 2 ⇒ ( a11 , a12 , ? , ? , ? , ? ) a13 ⇒ n = 3(1 − 1) + 3 = 3 ⇒ ( a11 , a12 , a13 , ? , ? , ? ) a21 ⇒ n = 3(2 − 1) + 1 = 4 ⇒ ( a11 , a12 , a13 , a21 , ? , ? ) a22 ⇒ n = 3(2 − 1) + 2 = 5 ⇒ ( a11 , a12 , a13 , a21 , a22 , ? ) a23 ⇒ n = 3(2 − 1) + 3 = 6 ⇒ ( a11 , a12 , a13 , a21 , a22 , a23 ) Portanto: [ a11 a12 a13 a21 a22 a23 ] ( a11 , a12 , a13 , a21 , a22 , a23 ) A fo´rmula a seguir (tambe´m uma contribuic¸a˜o minha): i = ⌊ n−1 N ⌋ + 1 j = n−N⌊ n−1N ⌋ e´ a inversa da func¸a˜o dada em (1.10) e nos diz, caso desejemos, como trans- ferir de volta as coordenadas do ponto para a matriz. N e´ o nu´mero de colunas na matriz. ⌊ x ⌋ e´ chamado o maior inteiro que na˜o supera x (func¸a˜o piso). Por exemplo, para a situac¸a˜o anterior temos: a5 ⇒ i = ⌊ 5−1 3 ⌋ + 1 = 2 j = 5− 3⌊ 5−13 ⌋ = 2 Ou seja, a quinta coordenada do ponto (n = 5) corresponde a posic¸a˜o (i, j) = (2, 2) da matriz, assim: (a1 , a2 , a3 , a4 , a5 , a6 , ) [ − − − − − − ] Em [6] mostramos aplicac¸o˜es destas fo´rmulas na computac¸a˜o. ∗ ∗ ∗ Para muitos pensar e´ uma tarefa fastidiosa. Para mim, nos meus dias felizes, uma festa e uma orgia. (Nietzsche, F. Vontade de poder, XIV, 24) 26 1.2.3 Distaˆncia entre func¸o˜es − Espac¸o das func¸o˜es reais cont´ınuas definidas num intervalo fechado 8) O espac¸o (C[a, b], Γ) Seja C[a, b] o conjunto das func¸o˜es reais cont´ınuas definidas no intervalo fechado [a, b]. Isto e´ C[a, b] = { f : [a, b] −→ R / f cont´ınua } A aplicac¸a˜o Γ: C[a, b]× C[a, b] −→ R definida por Γ(f, g) = ∫ b a ∣∣f(x)− g(x)∣∣ dx e´ uma me´trica sobre C[a, b]. Isto esta´ demonstrado no apeˆndice. (p. 72) Exemplos: (a) Calcule a distaˆncia entre as func¸o˜es f, g : [ 0, 1 ] −→ R dadas por f(x) = 3x e g(x) = x. Soluc¸a˜o: Γ(f, g) = ∫ b a ∣∣f(x)− g(x)∣∣ dx = ∫ 1 0 |3x− x| dx = 1 Interpretac¸a˜o geome´trica: A distaˆncia entre as func¸o˜es f e g e´ dada pela a´rea da regia˜o entre seus gra´ficos; no caso a a´rea do triaˆngulo em destaque na figura a seguir x y 0 q q q q q 1 2 1 2 3 g f (0, 0) (1, 1) (1, 3) 27 Para efeito de verificac¸a˜o, podemos calcular a a´rea deste triaˆngulo, subtraindo da a´rea do triaˆngulo sob o gra´fico de f a a´rea do triaˆngulo sob o gra´fico de g, assim 1× 3 2 − 1× 1 2 = 1 = Γ(f, g). (b) Calcule a distaˆncia entre as func¸o˜es f, g : [−1, 1] −→ R dadas por f(x) = x3 e g(x) = x. Soluc¸a˜o: Γ(f, g) = ∫ b a ∣∣f(x)− g(x)∣∣ dx = ∫ 1 −1 ∣∣x3 − x∣∣ dx = 1 2 . Interpretac¸a˜o geome´trica: A distaˆncia entre as func¸o˜es f e g e´ dada pela a´rea da regia˜o entre seus gra´ficos: x y −1 1 −1 1 � � � � � � f g g f ⊢ ⊢ ⊥ ⊥ q q (−1,−1) (1,1) Vejamos uma outra distaˆncia no conjunto C[a, b]. 9) O espac¸o (C[a, b], Υ) Sabemos (da Ana´lise∗) que toda func¸a˜o cont´ınua definida em um intervalo fechado assume valores ma´ximo e mı´nimo nesse intervalo. Sendo assim a aplicac¸a˜o Υ: C[a, b]× C[a, b] −→ R dada por Υ(f, g) = max { |f(x)− g(x)| : x ∈ [ a, b ] } (1.11) estara´ bem definida. No apeˆndice mostramos que Υ e´ uma outra me´trica sobre C[a, b]. (p. 74) ∗Teorema de Weierstrass, [AR]1 (p. 603) 28 Exemplos: (a) Calcule a distaˆncia entre as func¸o˜es f, g : [ 0, 1 ] −→ R dadas por f(x) = 3x e g(x) = x. Soluc¸a˜o: Υ(f, g) = max { |f(x)− g(x)| : x ∈ [ a, b ] } = max { |3x− x| : x ∈ [ 0, 1 ]} = max { 2x : x ∈ [ 0, 1 ]} = 2. Porquanto 0 ≤ x ≤ 1 ⇒ 0 ≤ 2x ≤ 2 ⇒ 2x ∈ [ 0, 2 ] Observe que os espac¸os (C,Γ) e (C,Υ) nos fornecem distaˆncias diferentes para o mesmo par de pontos (f, g). Interpretac¸a˜o geome´trica: A distaˆncia Υ entre as func¸o˜es f e g e´ o comprimento da maior corda vertical que se pode trac¸ar ligando o gra´fico de f ao gra´fico de g. x y 0 q q q q q 1 2 1 2 3 g f ←Υ(f,g)=2 (0,0) (1,1) (1,3) � � � � � � � � � � �� (b) Calcule a distaˆncia entre as func¸o˜es f, g : [−1, 1 ] −→ R dadas por f(x) = x3 e g(x) = x. Soluc¸a˜o: Υ(f, g) = max { |f(x)− g(x)| : x ∈ [ a, b ]} = max { |x3 − x| : x ∈ [−1, 1 ]} 29 Esta u´ltima igualdade nos diz que devemos encontrar o ma´ximo da func¸a˜odada por h(x) = |x3−x| para x percorrendo o intervalo [−1, 1 ]. Com o intuito de eliminar o mo´dulo, obtemos a seguinte decom- posic¸a˜o h(x) = ∣∣x3 − x∣∣ = x3 − x, se x ∈ [−1, 0 ]; −x3 + x, se x ∈ [ 0, 1 ]. Inicialmente vamos pesquisar no “ramo direito” da func¸a˜o; enta˜o, h(x) = −x3 + x. Igualando a derivada desta func¸a˜o a zero, temos h′(x) = −3x2 + 1 = 0 =⇒ x = ± 1√ 3 enta˜o h ( 1√ 3 ) = − ( 1√ 3 )3 + ( 1√ 3 ) = 2 √ 3 9 . A outra alternativa nos conduz ao mesmo resultado, portanto Υ(f, g) = max { |x3 − x| : x ∈ [−1, 1 ] } = 2 √ 3 9 ≈ 0, 38 Interpretac¸a˜o geome´trica: A distaˆncia entre as func¸o˜es f e g e´ o comprimento da maior corda vertical que se pode trac¸ar ligando o gra´fico de f ao gra´fico de g. x y −1 1 −1 1 f g 0⊢ ⊢ ⊥ ⊥ q ←−Υ(f, g)= 2 √ 3 9 √ 3 3 30 Func¸o˜es Limitadas Seja X um conjunto qualquer. Uma func¸a˜o f : X −→ R se diz limitada quando existe k ∈ R tal que |f(x)| ≤ k para todo x ∈ X. Exemplos a) Um exemplo de func¸a˜o limitada em toda a reta (X = R) e´ a func¸a˜o seno, pois −1 ≤ senx ≤ 1, para todo x real. R y q q q q q q q q −1 1 −π −pi 2 0 pi 2 π 3pi 2 2π Uma func¸a˜o pode na˜o ser limitada em um domı´nio D, mas sim em um seu subconjunto D′ ⊂ D. E´ o que veremos agora. b) Das func¸o˜es abaixo f : [−1, 1 ] −→ R e g : R −→ R x 7−→ x x 7−→ x apenas a primeira e´ limitada, uma vez que −1 ≤ x ≤ 1 ⇒ −1 ≤ f(x) ≤ 1 ⇒ |f(x)| ≤ 1. Por outro lado, na˜o existe k ∈ R de modo que |g(x)| = |x| ≤ k para todo x ∈ R. q q 1−1 1 −1 x f(x) • f e´ limitada em seu domı´nio, g na˜o. qq q q 1−1 1 −1 x g(x) Sejam f e g func¸o˜es limitadas, isto e´, existem constantes k1 , k2 ∈ R tais que |f(x)| ≤ k1 e |g(x)| ≤ k2 , enta˜o as func¸o˜es f ± g sa˜o ainda limitadas, devido a que |f(x)± g(x)| ≤ |f(x)|+ |g(x)| ≤ k1 + k2 . 31 − Espac¸o das func¸o˜es reais limitadas 10) O espac¸o (B(X, R), Ψ) Indiquemos por B(X, R) o conjunto das func¸o˜es reais e limitadas de X em R. A aplicac¸a˜o Ψ: B(X, R)× B(X, R) −→ R dada por Ψ(f, g) = sup { |f(x)− g(x)| : x ∈ X } esta´ bem definida. (devido ao axioma do supremo p. 612) No apeˆndice mostramos Ψ e´ uma me´trica sobre B(X, R). (p. 74) Exemplo: Calcule a distaˆncia entre as func¸o˜es f, g : [ 0, 1 [−→ R dadas por f(x) = 3x e g(x) = x. Soluc¸a˜o: Ψ(f, g) = sup { |f(x)− g(x)| : x ∈ [ 0, 1 [} = sup { |3x− x| : x ∈ [ 0, 1 [} = sup { 2x : x ∈ [ 0, 1 [} = 2, Porquanto 0 ≤ x < 1 ⇒ 0 ≤ 2x < 2 ⇒ |f(x)− g(x)| = 2x ∈ [ 0, 2 [. No gra´fico fica assim x y 0 q q q q q 1 2 1 2 3 � � � � � � � � � � � � g f (0,0) (1,1) (1,3) ←Ψ(f, g)=2 Observe que enquanto o par (B(X, R), Ψ) e´ um espac¸o me´trico ja´ na˜o acontece o mesmo com o par (B(X, R), Υ). (ver p. 28) No caso do exemplo anterior as func¸o˜es f e g na˜o teˆm ma´ximo no con- junto X = [ 0, 1 [: Υ(f, g) = max { |3x− 2x| : x ∈ [ 0, 1 [} = max { 2x : x ∈ [ 0, 1 [} 32 porquanto, 0 ≤ x < 1 ⇒ 0 ≤ 2x < 2 ⇒ 2x ∈ [ 0, 2 [. Isto e´, a aplicac¸a˜o Υ: B(X, R)× B(X, R) −→ R na˜o estara´ bem definida. Porque o par (B(X, R), Γ) na˜o e´ um espac¸o me´trico Mostraremos agora que Γ (p. 27) na˜o e´ uma me´trica sobre B(X, R). Consideremos X = [ 0, 1 ] e as func¸o˜es f, g ∈ B([ 0, 1 ], R), isto e´, f, g : [ 0, 1 ] −→ R; dadas por f(x) = 1, ∀x ∈ [ 0, 1 ] e g(x) = 1, se x 6= 1 2 1 4 , se x = 1 2 . Os gra´ficos de f e g sa˜o dados a seguir: q 0 1 x 1 f(x) q 0 x g(x) q 1 1 q q q q 1 2 r121 4 Observe que f e g diferem em um u´nico ponto. Portanto pelo teorema [AR]2 : (p. 603)∫ 1 0 f(x) dx = ∫ 1 0 g(x) dx logo, ∫ 1 0 f(x) dx− ∫ 1 0 g(x) dx = 0 ⇐⇒ ∫ 1 0 ( f(x)− g(x)) dx = 0 observe que no intervalo dado f(x) ≥ g(x), isto e´, f(x)−g(x) ≥ 0. Portanto neste intervalo |f(x)− g(x)| = f(x)− g(x), logo Γ(f, g) = ∫ b a |f(x)− g(x)| dx = ∫ 1 0 ( f(x)− g(x)) dx = 0. Resumindo: tomamos dois pontos, f 6= g ∈ B(X, R) e mostramos que Γ(f, g) = 0. O que fere (M1). (p. 12) 33 1.2.4 Espac¸os de Co´digos Agora daremos um importante exemplo de espac¸o me´trico, largamente utilizado em Teoria da Informac¸a˜o (transmissa˜o de dados). Co´digos que conteˆm tanto caracteres alfabe´ticos como nume´ricos sa˜o necessa´rios quando microcomputadores se comunicam com dispositivos como fax ou um terminal de v´ıdeo, ou ainda para transformar os caracteres de um teclado em linguagem de computador. Esses co´digos sa˜o chamados co´digos alfanume´ricos. O co´digo alfanume´rico mais comumente usado em sistemas de micro- computador e´ o AMERICAN STANDARD Code for Information Interchange (Co´digo Americano Padra˜o para Troca de Informac¸o˜es) Uma listagem parcial do co´digo ASCII e´ mostrada na tabela a seguir Caracter ASCII Caracter ASCII < 00111100 > 00111110 ! 00100001 ∑ 11100100 # 00100011 $ 00100100 % 00100101 & 00100110 ( 00101000 ) 00101001 ∗ 00101010 [ 01011011 ] 01011101 + 00101011 − 00101101 / 00101111 0 00110000 1 00110001 2 00110010 3 00110011 4 00110100 5 00110101 6 00110110 7 00110111 8 00111000 9 00111001 A 01000001 B 01000010 C 01000011 D 00100100 E 01000101 F 01000110 G 01000111 H 01001000 I 01001001 J 01001010 K 01001011 L 01001100 M 01001101 N 01001110 O 01001111 P 01010000 Q 01010001 R 01010010 S 01010011 T 01010100 U 01010101 V 01010110 W 01010111 X 01011000 Y 01011001 Z 01011010 − TABELA ASCII 34 A t´ıtulo de curiosidade a seguir vemos o diagrama de blocos de uma calculadora. Teclado Entrada Display Saida + 0 − 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Codificador ր 00110001 00101011 00110010 CPU ր 00110011 Decodificador Na figura estamos simulando a soma 1+2 = 3. Ao digitarmos no teclado 1+2 existe um circuito codificador que codifica estas informac¸o˜es em bina´rio de acordo com a TABELA ASCII vista anteriormente, ou seja, 1 ↔ 00110001; + ↔ 00101011; 2 ↔ 00110010 Estes co´digos bina´rios sa˜o entregues a` CPU que executa a soma pedida, o resultado e´ colocado na entrada de um circuito decodificador que decodifica o co´digo bina´rio em sua entrada, e na saida temos o resultado na base decimal. Definic¸a˜o 2 (Co´digo). Um co´digo bina´rio e´ um conjunto de vetores bina´rios (de mesmo comprimento) chamados vetores de co´digo. O processo de con- versa˜o de uma mensagem em vetores de co´digo e´ chamado codificac¸a˜o, e o processo inverso e´ chamado decodificac¸a˜o. A transmissa˜o de dados codificados − via ondas eletromagne´ticas, pode ser − esta´ sujeita a va´rias fontes de erros, desde erros de digitac¸a˜o ate´ interfereˆncias eletromagne´ticas; os poss´ıveis erros sa˜o chamados de ru´ıdos. A teoria dos co´digos corretores de erro e´ um campo de pesquisa muito ativo atualmente, com aplicac¸o˜es em diversas a´reas tais como: matema´tica, engenharia, computac¸a˜o e estat´ıstica. Sinal Sinal Novo Informac¸a˜o de Fonte Codificac¸a˜o Canal Ru´ıdo Decodificac¸a˜o Destinata´rio 35 Co´digos bina´rios e Espac¸os me´tricos O Nosso objetivo agora sera´ contruir alguns espac¸os me´tricos sobre os co´digos bina´rios. Sequeˆncias bina´rias de qualquer tamanho podem ser obtidas tomando-se o produto cartesiano do conjunto: Z = { 0, 1 } Por exemplo: Z2 = { 0, 1 } × { 0, 1 } = { 00, 10, 01, 11 } Z3 = { 0, 1 } × { 0, 1 } × { 0, 1 } = { 000, 100, 010, 110, 001, 101, 011, 111 } Temos: Z2 = { 00, 10, 01, 11 } Z3 = { 000, 100, 010, 110, 001, 101, 011, 111 } Z4 = { 0000, 1000, 0100, 1100, 0010, 1010, 0110, 1110, 0001, 1001, 0101, 1101, 0011,1011, 0111, 1111 } O nu´mero de sequeˆncias bina´rias no conjunto Zn e´ 2n; observe que os co´digos (sequeˆncias) do teclado de um computador (Tabela ASCII) per- tencem todos ao conjunto Z8, neste conjunto podemos codificar ate´ 28 = 256 caracteres. Nota: Por questo˜es dida´ticas estaremos preferencialmente dando eˆnfase aos co´digos bina´rios de tamanho 4, entretanto o tamanho (comprimento) pode ser arbitra´rio. Vamos dispor os elementos de Z4 segundo uma tabela, assim: ⇒ 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 1 1 0 0 0 0 1 0 1 0 1 0 0 1 1 0 1 1 1 0 0 0 0 1 1 0 0 1 0 1 0 1 1 1 0 1 0 0 1 1 1 0 1 1 0 1 1 1 1 1 1 1 Z4= { 0000, 1000, 0100, 1100, 0010, 1010, 0110, 1110, 0001, 1001, 0101, 1101, 0011, 1011, 0111, 1111 } 36 11) Distaˆncia de Hamming∗ Na teoria da informac¸a˜o a distaˆncia de Hamming entre dois co´digos de mesmo comprimento e´ o nu´mero de posic¸o˜es nas quais eles diferem entre si. Mais precisamente: Tomemos dois pontos x, y ∈ Z4 e consideremos a seguinte aplicac¸a˜o σ : Z4 × Z4 −→ R dada por σ(x, y) = nu´mero de posic¸o˜es em que x e y diferem entre si. σ assim definida e´ uma me´trica sobre Z4, e´ o que estaremos provando logo mais. Exemplos: Dados x = 1000, y = 0100 e z = 1111 em Z4, calcule a distaˆncia entre x e y, e entre x e z. Soluc¸a˜o: Temos, x : 1 0 0 0 x : 1 0 0 0 y : 0 1 0 0 z : 1 1 1 1 x e y diferem em duas posic¸o˜es, enquanto x e z diferem em treˆs posic¸o˜es, portanto σ(1000, 0100) = 2 e σ(1000, 1111) = 3. Considerando xi como sendo a i−e´sima entrada da sequeˆncia x = x1 x2 x3 x4 de Z4 podemos, alternativamente, definir σ(x, y) como σ(x, y) = 4∑ i=1 |xi − yi | Forma esta mais apropriada para programac¸a˜o (e demonstrac¸o˜es). Nota: Com um pouco de reflexa˜o o leitor na˜o tera´ dificuldade em concluir que o somato´rio acima conta o nu´mero de posic¸o˜es em que as sequeˆncias x e y diferem entre si. Observe a equivaleˆncia entre as operac¸e˜s: (xi − yi) ≡ |xi − yi | onde a operac¸a˜o da esquerda verifica-se em Z (p. 84) e a da direita em R. ∗Richard W. Hamming (1915−1998) obteve seu Ph.D. em Matema´tica na Universidade de Illinois, em Urbana-Champaign, em 1942. De 1946 a 1976, trabalhou no Bell Labs, depois integrou-se ao corpo docente na US Naval Postgraduate School, em Monterey, Califo´rnia. Em 1950, publicou seu trabalho fundamental em co´digos corretores de erros, dando uma construc¸a˜o expl´ıcita para os co´digos de otimizac¸a˜o que Claude Shannon tinha provado serem teoricamente poss´ıveis, em 1948. 37 Calculemos a distaˆncia entre as sequeˆncias x = 1000 e y = 0100: σ ( 1000, 0100 ) = 4∑ i=1 |xi − yi | = |x1 − y1 |+ |x2 − y2 |+ |x3 − y3 |+ |x4 − y4 | = |1− 0|+ |0− 1|+ |0− 0|+ |0− 0| = 2. Mostremos que (Z4, σ) e´ um espac¸o me´trico: Prova: (M1) d(x, y) ≥ 0 e d(x, y) = 0 ⇐⇒ x = y. Obviamente σ(x, y) ≥ 0. Se σ(x, y) = 0 enta˜o, pela definic¸a˜o de σ, x e y diferem em 0 posic¸o˜es, isto e´ x = y. Se x = y enta˜o x e y coincidem em todas as posic¸o˜es, isto e´ σ(x, y) = 0. (M2) d(x, y) = d(y, x) : Obviamente que o nu´mero de posic¸o˜es em que x difere de y e´ igual ao nu´mero de posic¸o˜es em que y difere de x, ou seja, σ(x, y) = σ(y, x). (M3) d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y) : Devemos mostrar que σ(x, y) ≤ σ(x, z) + σ(z, y). Isto e´ que 4∑ i=1 |xi − yi | ≤ 4∑ i=1 |xi − zi |+ 4∑ i=1 |zi − yi | (1.12) Pois bem, usando a desigualdade triangular para nu´meros reais, podemos escrever: |x1 − y1 | ≤ |x1 − z1 |+ |z1 − y1 | . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . |x4 − y4 | ≤ |x4 − z4 |+ |z4 − y4 | Somando estas quatro desigualdades obtemos |x1−y1 |+ · · ·+ |x4−y4 | ≤ |x1−z1 |+ · · ·+ |x4−z4 |+ |z1−y1 |+ · · ·+ |z4−y4 | que e´ exatamente a desigualdade (1.12). � A t´ıtulo de curiosidade, as sequeˆncias em ZN sa˜o os ve´rtices de um hipercubo em dimensa˜o N , por exemplo, para Z3 = { 000, 100, 010, 110, 001, 101, 011, 111 } 100 110 000 010 011001 101 111 38 Uma fo´rmula para gerar os co´digos em ZN E´ um prazer puro da alma espalhar pelo mundo o fruto de seus es- tudos e meditac¸o˜es, ainda sem outra remunerac¸a˜o que a conscieˆncia de fazer bem. (Jose´ Bonifa´cio) Ja´ na˜o conto mais o nu´mero de fo´rmulas que deduzi (e/ou demonstrei) na matema´tica, confesso que, pela fo´rmula a seguir, tenho um carinho todo especial∗. xij = 1, se ⌊ i−1 2 j−1 ⌋ e´ ı´mpar; 0, se ⌊ i−1 2 j−1 ⌋ e´ par. (1.13) Esta fo´rmula nos permite gerar os co´digos bina´rios (ou os ve´rtices do hipercubo), onde: xij e´ o j−e´simo bit do co´digo i de ZN . Fixado N fazemos i = 1, 2, . . . , 2N e j = 1, 2, . . . , N Por exemplo, para N = 2, temos: i = 1, 2, 3, 4 e j = 1, 2. Enta˜o i = 1, j = 1 ⇒ ⌊ 1−1 21−1 ⌋ = 0 ⇒ x11 = 0 i = 1, j = 2 ⇒ ⌊ 1−1 22−1 ⌋ = 0 ⇒ x12 = 0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . i = 2, j = 1 ⇒ ⌊ 2−1 21−1 ⌋ = 1 ⇒ x11 = 1 i = 2, j = 2 ⇒ ⌊ 2−1 22−1 ⌋ = 0 ⇒ x12 = 0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . i = 3, j = 1 ⇒ ⌊ 3−1 21−1 ⌋ = 2 ⇒ x11 = 0 i = 3, j = 2 ⇒ ⌊ 3−1 22−1 ⌋ = 1 ⇒ x12 = 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . i = 4, j = 1 ⇒ ⌊ 4−1 21−1 ⌋ = 3 ⇒ x11 = 1 i = 4, j = 2 ⇒ ⌊ 4−1 22−1 ⌋ = 1 ⇒ x12 = 1 Sendo assim, temos: Z2 = { 00︸︷︷︸ i=1 , 10︸︷︷︸ i=2 , 01︸︷︷︸ i=3 , 11︸︷︷︸ i=4 } Os dois espac¸os me´tricos a seguir sa˜o tambe´m contribuic¸o˜es minha. ∗Precisamente pelos detalhes te´cnicos envolvidos em sua deduc¸a˜o e demonstrac¸a˜o. 39 12) O espac¸o ( Z4, ρ ) Tomemos dois pontos x, y ∈ Z4 e consideremos a seguinte aplicac¸a˜o ρ : Z4 × Z4 −→ R definida por ρ(x, y) = ∣∣∣∣∣ 4∑ i=1 2i−1 · (xi − yi) ∣∣∣∣∣ ρ assim definida e´ uma me´trica sobre Z4. (Apeˆndice, p. 76) Exemplos: Dados x = 1000, y = 0100 e z = 1111 em Z4, calcule a distaˆncia entre x e y, e entre x e z. Soluc¸a˜o: temos, ρ ( 1000, 0100 ) = ∣∣∣∣∣ 4∑ i=1 2i−1 · (xi − yi) ∣∣∣∣∣ = ∣∣∣20 · (1− 0) + 21 · (0− 1) + 22 · (0− 0) + 23 · (0− 0)∣∣∣ = 1. Tambe´m ρ ( 1000, 1111 ) = ∣∣∣20 · (1− 1) + 21 · (0− 1) + 22 · (0− 1) + 23 · (0− 1)∣∣∣ = 14. Compare com as distaˆncias obtidas no espac¸o (Z4, σ). (p. 37) Uma outra alternativa para se calcular a distaˆncia ρ(x, y) e´ converter as sequeˆncias x e y da base bina´ria para a base 10 e usar a me´trica µ. Na tabela seguinte a u´ltima coluna e´ o correspondente em decimal da sequeˆncia bina´ria. 20 21 22 23 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 0 1 0 0 2 1 1 0 0 3 0 0 1 0 4 1 0 1 0 5 0 1 1 0 6 1 1 1 0 7 0 0 0 1 8 1 0 0 1 9 0 1 0 1 10 1 1 0 1 11 0 0 1 1 12 1 0 1 1 13 0 1 1 1 14 1 1 1 1 15 Por exemplo: ρ(1000, 0100)= |1−2|=1. ρ(1000, 1111)= |1−15|=14. 40 13) O espac¸o ( ZN , τ ) Tomemos dois pontos x, y ∈ ZN e consideremos a seguinte aplicac¸a˜o τ : ZN × ZN −→ R definida por τ(x, y) = max { i : xi 6= yi } , 1 ≤ i ≤ N. τ assim definida e´ uma me´trica sobre ZN . No apeˆndice mostramos que τ satisfaz a desigualdade triangular. (p. 77) Nota: max { i : xi 6= yi } = maior posic¸a˜o em que x e y diferem entre si. Exemplos: Dados x = 1000, y = 0100 e z = 1111 em Z4, calcule a distaˆncia entre x e y e entre x e z. Soluc¸a˜o: Temos, x : 1 0 0 0 x : 1 0 0 0 y : 0 1 0 0 z : 1 1 1 1 Enta˜o:{ i : xi 6= yi } = {1, 2} ⇒ max {1, 2} = 2 ⇒ τ(x, y) = 2.{ i : xi 6= zi } = {2, 3, 4} ⇒ max {2, 3, 4} = 4 ⇒ τ(x, z) = 4. A tabela a seguir compara as distaˆncias vistas nos treˆs espac¸os me´tricos: (x, y) (x, z) σ 2 3 ρ 1 14 τ 2 4 x=10 0 0 y=01 0 0 z=11 1 1 Nota: No caso de duas sequeˆncias iguais estamos assumindoque max { } = 0 Esta igualdade pode ser provada por “vacuidade”, no sentido de que ela jamais podera´ ser contraditada∗. Alternativamente, poderiamos ter definido τ(x, y) = { max { i : xi 6= yi } , se x 6= y; 0, se x = y. ∗E´ semelhante a` prova de que o conjuto vazio e´ subconjunto de qualquer conjunto. 41 14) O espac¸o ( Z∞, ν ) Consideremos agora o produto cartesiano infinito Z∞ = {0, 1} × {0, 1} × {0, 1} × · · · Os elementos deste conjunto sa˜o sequeˆncias infinitas x = x1 x2 x3 . . . de 0′s e 1′s, como por exemplo x =1010101010 . . . y =1110101110 . . . z =0011001100 . . . Sendo σ(x, y) = N∑ n=1 |xn − yn | uma me´trica sobre ZN , poderiamos ser tentados a definir uma me´trica sobre Z∞ assim σ(x, y) = ∞∑ n=1 |xn − yn | Acontece que neste caso temos uma soma infinita (se´rie) que pode na˜o resultar em um valor finito. Uma distaˆncia e´ um nu´mero real. Por exemplo, seja x = 111111 . . . e y = 000000 . . ., enta˜o x− y = (x1 − y1) (x2 − y2) (x3 − y3) . . . = (1− 0) (1 − 0) (1 − 0) (1 − 0) . . . = 111 1 . . . portanto σ(x, y) = ∞∑ n=1 |xn − yn | = |x1 − y1 |+ |x2 − y2 |+ |x3 − y3 |+ · · · = 1 + 1 + 1 + 1 + · · · Esta se´rie na˜o converge. Para contornar esta situac¸a˜o vamos introduzir um “fator de convergeˆncia” na se´rie anterior. Para mostrar que a aplicac¸a˜o ν : Z∞ × Z∞ −→ R dada por ν(x, y) = ∞∑ n=1 |xn − yn | 2n esta´ bem definida, devemos mostrar que esta se´rie e´ convergente. 42 Enta˜o, observe que para quaisquer x, y em Z∞ vale 0 ≤ |xn − yn | ≤ 1. Dividindo esta dupla desiguladade por 2n, temos 0 ≤ |xn − yn | 2n ≤ 1 2n como a se´rie ∑∞ n=1 1 2n converge segue-se que a se´rie ∑∞ n=1 |xn−yn | 2n tambe´m converge. Sendo assim ν esta´ bem definida. A propo´sito observe que ν(x, y) = ∞∑ n=1 |xn − yn | 2 n ≤ ∞∑ n=1 1 2 n = 1. Resumindo: 0 ≤ ν(x, y) ≤ 1. Isto e´, a distaˆncia entre duas sequeˆncias do espac¸o me´trico ( Z∞, ν ) nunca excede a unidade. Dos requisitos para uma me´trica vamos mostrar que ν satisfaz a de- sigualdade triangular: A seguinte desigualdade |xn − yn | ≤ |xn − zn |+ |zn − yn | e´ va´lida para xn , yn e zn reais (e´ mais do que necessitamos). Dividindo a desigualdade anterior por 2n, temos |xn − yn | 2n ≤ |xn − zn | 2n + |zn − yn | 2n por conseguinte ∞∑ n=1 |xn − yn | 2n ≤ ∞∑ n=1 |xn − zn | 2n + ∞∑ n=1 |zn − yn | 2n isto e´, ν(x, y) ≤ ν(x, z) + ν(z, y) Exemplo: Calcule a distaˆncia entre x = 111111 . . . e y = 010101 . . .. Soluc¸a˜o: x− y = (1− 0) (1 − 1) (1 − 0) (1 − 1) . . . = 101 0 1 0 . . . . portanto ν(x, y) = ∞∑ n=1 |xn − yn | 2n = 1 21 + 0 22 + 1 23 + 0 24 + 1 25 + 0 26 + · · · = 1 2 + 1 8 + 1 32 + · · · = 1 2 1− 14 = 2 3 . A proposic¸a˜o seguinte assevera que se x e y sa˜o duas sequeˆncias de Z∞ coincidentes nas primeiras j posic¸o˜es, enta˜o suas distaˆncias na˜o excede 1 2 j e reciprocamente. 43 Proposic¸a˜o 1. Sejam x e y ∈ Z∞ e suponha xn = yn para n = 1, 2, . . . , j. Enta˜o ν(x, y) ≤ 1 2 j . Reciprocamente, se ν(x, y) < 1 2 j enta˜o xn = yn para n ≤ j. Prova: (⇒) Se xn = yn para n ≤ j, enta˜o ν(x, y) = ∞∑ n=1 |xn − yn | 2n = j∑ n=1 |xn − yn | 2n︸ ︷︷ ︸ =0 + ∞∑ n=j+1 |xn − yn | 2n ≤ ∞∑ n=j+1 1 2n = 1 2 j+1 + 1 2 j+2 + 1 2 j+3 + · · · = 1 2 j (⇐) (Te´cnica (T-1), p. 570) Suponha x k 6= y k para algum k ≤ j , enta˜o ν(x, y) = ∞∑ n=1 |xn − yn | 2 n ≥ k∑ n=1 |xn − yn | 2 n ≥ 1 2k ≥ 1 2j � Comenta´rios: A primeira das desigualdades acima e´ sempre va´lida (o´bvio, pois somar infinitos termos positivos resulta sempre maior ou igual ao resultado da soma de uma quantidade finita destes mesmos termos ). A segunda desigualdade se justifica pois a soma ∑k n=1 |xn−yn | 2 n e´ no mı´nimo gual a 1 2k , pois para o ı´ndice k temos x k 6= y k , isto e´ |x k − y k | = 1. A u´ltima desigualdade decorre de j ≥ k ⇒ 2j ≥ 2k ⇒ 1 2 j ≤ 1 2k A importaˆncia deste resultado e´ que podemos decidir de imediato quando ou na˜o duas sequeˆncias em Z∞ esta˜o pro´ximas uma da outra. Intuitiva- mente este resultado diz que duas sequeˆncias em Z∞ esta˜o pro´ximas se suas “primeiras” entradas coincidem. Para futuras refereˆncias, mencionaremos uma generalizac¸a˜o da desigual- dade triangular, para n pontos: d(x1 , xn) ≤ d(x1 , x2) + d(x2 , x3) + · · · + d(xn−1 , xn) (1.14) (M, d) • • x1 xn • • . . . • x2 x3 xn−1 Esta desigualdade pode ser estabelecida por induc¸a˜o sobre n. 44 A seguinte desigualdade tambe´m nos sera´ u´til futuramente: Proposic¸a˜o 2. Seja (M, d) um espac¸o me´trico. Se x, y e z sa˜o pontos quaisquer em M , enta˜o a seguinte desigualdade∣∣d(x, y)− d(x, z)∣∣ ≤ d(y, z) e´ verdadeira. Prova: Da desigualdade triangular temos d(x, y)− d(x, z) ≤ d(z, y) (1.15) Por outro lado a mesma desiguldade triangular pode ser expressa como d(x, z) ≤ d(x, y) + d(y, z) ⇒ d(x, z)− d(x, y) ≤ d(y, z) Combinando (1.15) com esta u´ltima desigualdade obtemos:∣∣d(x, y)− d(x, z)∣∣ ≤ d(y, z). � 1.3 Distaˆncia entre Ponto e Conjunto Lembramos − da geometria anal´ıtica − que a distaˆncia de um ponto p = ( x0 , y0 ) a uma reta r : ax+ by + c = 0 e´ dada por dpr = ∣∣∣∣a x0 + b y0 + c√a2 + b2 ∣∣∣∣ t ⊡ p dpr r 0 x y Este e´ um exemplo de distaˆncia entre ponto e conjunto. Ainda aqui temos uma situac¸a˜o suscet´ıvel de generalizac¸a˜o no contexto dos espac¸os me´tricos. 45 A t´ıtulo de exemplo, consideremos no espac¸o me´trico (R, µ), o ponto p = 1 e o conjunto X = [ 3, 5 ]. Veja: Rt [ ]Xq q q q q q q−1 0 p=1 2 3 4 5 Desejamos calcular a distaˆncia de p a X. Inicialmente vamos calcular o seguinte conjunto { d( p, x) : x ∈ X} das distaˆncias de p aos elementos de X. Observe, Rt t↔x d( p, x) [ ]q q q q q q q−1 0 p=1 2 3 5 Enta˜o, { d( p, x) : x ∈ X} = {d(1, x) : x ∈ [ 3, 5 ]} = { |x− 1| : 3 ≤ x ≤ 5} Temos 3 ≤ x ≤ 5 ⇒ 2 ≤ x− 1 ≤ 4 ⇒ |x− 1| ∈ [ 2, 4 ] Portanto { d( p, x) : x ∈ X} = [ 2, 4 ] Este e´ o conjunto de todas as distaˆncias poss´ıveis de p aos elementos de X. Vamos tomar como distaˆncia do ponto p = 1 ao conjunto X, que deno- taremos por d(1, X), a menor das distaˆncias encontradas, isto e´: d(1, X) = min { d(1, x) : x ∈ X} = min [ 2, 4 ] = 2 No gra´fico fica assim: Rt t d(1, X) X[ ]q q q q q q q−1 0 p=1 2 3 4 5 Colocamos a seguinte questa˜o: e se tive´ssemos tomado o conjunto X aberto a` esquerda? Isto e´, X =] 3, 5 ]. Neste caso ter´ıamos obtido:{ d( p, x) : x ∈ X} = ] 2, 4 ] E este conjunto das distaˆncias na˜o possui um menor elemento. Para os nossos propo´sitos isto na˜o constitui um problema. 46 Definic¸a˜o 3. Seja (M, d) um espac¸o me´trico. Dados X ⊂ M (X 6= ∅) e p ∈ M , chama-se distaˆncia de p ao conjunto X, e indica-se por d(p, X), o seguinte nu´mero real na˜o negativo: d(p, X) = inf { d( p, x) : x ∈ X} Observe d( p, X) assim definida existe pelo fato de que o conjunto{ d( p, x) : x ∈ X} e´ limitado inferiormente por zero, pois 0 ≤ d( p, x), ∀x ∈ X.(prop. 146, p. 612) Em particular, para o questionamento anterior, temos: d ( 1, ] 3, 5 ] ) = inf { d(x, 1): x ∈ ] 3, 5 ]} = inf {|x− 1| : 3 < x ≤ 5} = inf ] 2, 4 ] = 2. Rt d(1, X) X] ]q q q q q q−1 0 p=1 2 3 4 5 Exemplos: 1) Seja M = R, p = 0 e seja X = { 1 n : n ∈ N} = { 1, 1 2 , 1 3 , 1 4 , . . . } ⊂ R. • No espac¸o (R, δ), temos d(p, X) = inf { d(p, x) : x ∈ X } = inf { δ(0, x) : x ∈ { 1 n : n ∈ N } } = inf { δ(0, 1 n ) : n ∈ N} = inf { δ(0, 1), δ(0, 1 2 ), δ(0, 1 2 ), . .. } = inf { 1, 1, 1, . . .} = 1. • No espac¸o (R, µ), temos d(p, X) = inf { d(p, x) : x ∈ X } = inf { µ(0, x) : x ∈ { 1 n : n ∈ N} } = inf { ∣∣∣∣0− 1n ∣∣∣∣ : n ∈ N} = inf { 1 n : n ∈ N } = 0. Ver exemplo 2 (p. 610). 47 2) Uma Patologia Seja M = [ 0, 1 [, seja X = [ 12 , 1 [⊂M e seja p = 0 ∈M . Veja, M 0 1 s 0 1 2 1 X Temos (ver subespac¸o, p. 81) d(0, X) = 1/2, no espac¸o ( [ 0, 1 [, µ ) d(0, X) = 0, no espac¸o ( [ 0, 1 [, k ) De fato, d(0, X) = inf { d(0, x) : x ∈ X } = inf { µ(0, x) : x ∈ X } = inf { |x− 0| : x ∈ [ 1 2 , 1 [ } = 1 2 Por outro lado, d(0, X) = inf { d(0, x) : x ∈ X } = inf { k(0, x) : x ∈ [ 1 2 , 1 [ } Temos (ver equac¸a˜o (1.2), p. 18) 1 2 ≤ x < 1 ⇒ 0 < 1− x ≤ 1 2 ⇒ k(0, x) = 1− x ∈ ] 0, 1 2 ] Portanto, d(0, X) = inf { k(0, x) : x ∈ [ 1 2 , 1 [ } = inf ] 0, 1 2 ] = 0. Olhando para a figura abaixo s 0 1 2 1 X fica dif´ıcil de “engolir” que a distaˆncia do ponto 0 ao conjunto X seja nula. Ainda bem que os filo´sofos existem para a`s vezes nos trazer algum conforto. (Voltaire, p. 17; Bachelard, p. 16) 48 3) Seja M = [ 0, 1 [× [ 0, 1 [ o quadrado unita´rio, X = [ 12 , 1 [ × [ 12 , 1 [ ; e p = (0, 0) ∈M . Vamos mostrar que, d(0, X) = √ 2/2, no espac¸o ( [ 0, 1 [× [ 0, 1 [, D1 ) d(0, X) = 1, no espac¸o ( [ 0, 1 [× [ 0, 1 [, D2 ) 0 1 1 ¬1 2 ¬ 1 2 p=0 1 1 s ←− X De fato, d(p, X) = inf { d(p, x) : x ∈ X } = inf { D1 ( (0, 0); (x, y) ) : (x, y) ∈ X} = inf {√ (x− 0)2 + (y − 0)2 : 1 2 ≤ x, y < 1 } para encontrar d(p, X) vamos encontrar o ı´nfimo da func¸a˜o, F (x, y) = √ x2 + y2 , para 1 2 ≤ x, y < 1. Enta˜o, 1 2 ≤ x < 1 ⇒ 1 4 ≤ x2 < 1 e 1 2 ≤ y < 1 ⇒ 1 4 ≤ y2 < 1, portanto, 1 2 ≤ x2 + y2 < 2 ⇒ √ 2 2 ≤ √ x2 + y2 < √ 2 Conclusa˜o: se 12 ≤ x, y < 1 implica que F (x, y) = √ x2 + y2 ∈ [ √2 2 , √ 2 [ portanto, d(p, X) = inf {√ x2 + y2 : 1 2 ≤ x, y < 1} = inf [ √2 2 , √ 2 [ = √ 2 2 49 Por outro lado, d(p, X) = inf { d(p, x) : x ∈ X } = inf { D2 ( (0, 0); (x, y) ) : (x, y) ∈ X} = inf { |x− 0|+ |y − 0| : 1 2 ≤ x, y < 1 } para encontrar d(p, X) vamos encontrar o ı´nfimo da func¸a˜o, F (x, y) = |x|+ |y| , para 1 2 ≤ x, y < 1. Enta˜o, 1 2 ≤ x < 1 e 1 2 ≤ y < 1 ⇒ 1 ≤ x+ y < 2 portanto, d(p, X) = inf [ 1, 2 [= 1. Proposic¸a˜o 3. Seja (M, d) um espac¸o me´trico. Se X ⊂M (X 6= ∅) e p, q sa˜o pontos fixados em M , tem-se∣∣ d(p, X) − d(q, X) ∣∣ ≤ d(p, q) Prova: Tomemos y ∈ X arbitra´rio. Temos d(p, X) = inf { d(p, x) : x ∈ X} ≤ d(p, y), uma vez que d(p, y) e´ um elemento do conjunto { d(p, x) : x ∈ X}. Portanto d(p, X) ≤ d(p, y) ≤ d(p, q) + d(q, y) logo, d(p, X) − d(p, q) ≤ d(q, y). Como esta desigualdade vale para y ∈ X arbitra´rio, segue que a constante (nu´mero real) d(p, X) − d(p, q) e´ uma cota inferior do conjunto { d(q, x) : x ∈ X} como inf { d(q, x) : x ∈ X} = d(q, X) e´ a maior de tais cotas, segue que d(p, X)− d(p, q) ≤ d(q, X) Esta desigualdade continua va´lida permutando-se p e q: d(q, X)− d(q, p) ≤ d(p, X) 50 Destas desigualdades decorrem, respectivamente, d(p, X) − d(q, X) ≤ d(p, q) −d(p, q) ≤ d(p, X) − d(q, X) donde −d(p, q) ≤ d(p, X) − d(q, X) ≤ d(p, q) isto e´, ∣∣ d(p, X) − d(q, X) ∣∣ ≤ d(p, q) � O pro´ximo ı´tem generaliza o anterior (Distaˆncia entre ponto e conjunto). 1.4 Distaˆncia entre conjuntos A t´ıtulo de exemplo, consideremos no espac¸o me´trico (R, µ) os conjuntos X = [ 1, 3 ] e Y = ] 5, 7 ]. Veja: R[ ] X ] ] Y q q q q q q q q q q−1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Desejamos calcular a distaˆncia de X a Y . Inicialmente vamos calcular o seguinte conjunto { d(x, y) : x ∈ X e y ∈ Y } das distaˆncias dos pontos de X aos pontos de Y . Observe, Rt↔x t↔y[ ] ] ]q q q q q q q q q q−1 0 1 3 4 5 7 8 d(x, y) Enta˜o,{ d(x, y) : x ∈ X e y ∈ Y } = {d(x, y) : x ∈ [ 1, 3 ] e y ∈ ] 5, 7 ]} = { |x− y| : 1 ≤ x ≤ 3 e 5 < y ≤ 7} Temos 1 ≤ x ≤ 3 e 5 < y ≤ 7 ⇒ |x− y| ∈ ] 2, 6 ] Portanto { d(x, y) : x ∈ X e y ∈ Y } = ] 2, 6 ] Este e´ o conjunto de todas as distaˆncias poss´ıveis entre os elementos de ambos os conjuntos. 51 Vamos tomar como distaˆncia entre os conjuntosX e Y , que denotaremos por D(X, Y ), a “menor” das distaˆncias encontradas, isto e´: D(X, Y ) = inf { d(x, y) : x ∈ X e y ∈ Y } = inf ] 2, 6 ] = 2 No gra´fico fica assim: R X Y D(X, Y ) [ ] ] ]q q q q q q q q q q−1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Definic¸a˜o 4. Seja (M, d) um espac¸o me´trico. Dados dois subconjuntos X e Y do conjunto M , ambos na˜o vazios, chama-se distaˆncia de X a Y , e indica-se por D(X, Y ), o nu´mero real obtido da seguinte forma: D(X, Y ) = inf { d(x, y) : x ∈ X e y ∈ Y } Alternativamente podemos escrever D(X, Y ) = inf { d(x, y) : (x, y) ∈ X × Y } Exemplos: 1) No conjunto Z4, sejam X,Y ⊂ Z4 dados por X = { 0001, 0100, 1100 } Y = { 0101, 0011 } No espac¸o me´trico ( Z4, σ ) temos o seguinte diagrama de distaˆncias X Y 0001 0100 1100 0101 0011 1 1 1 3 2 4 portanto, D(X, Y ) = inf { σ(x, y) : (x, y) ∈ X × Y } = inf { 1, 2, 3, 4 } = 1. 52 isto e´ D ( {0001, 0100, 1100}; {0101, 0011} ) = 1. 2) Seja M = R; sejam X = { 0 } e Y = { 1 n : n ∈ N } . s⊢ rrrrrrrrrrr 0 11 2 1 3 1 4 . . . R • No espac¸o me´trico (R, δ), temos D(X, Y ) = inf { δ(x, y) : x ∈ { 0 } e y ∈ { 1 n : n ∈ N}} = inf { δ(0, 1), δ ( 0, 1 2 ) , δ ( 0, 1 3 ) , . . . } = inf { 1, 1, 1, . . .} = 1. Portanto, D ( { 0 }; { 1 n : n ∈ N}) = 1. • No espac¸o me´trico (R, µ), temos D(X, Y ) = inf { |x− y| : x ∈ { 0 } e y ∈ { 1 n : n ∈ N}} = inf {∣∣0− 1 n ∣∣ : n ∈ N} = inf { 1 n : n = 1, 2, . . . } = 0. Observe que X ∩ Y = ∅ e, no entanto, D(X, Y ) = 0. 1.5 Conjuntos limitados − Diaˆmetro Definic¸a˜o 5 (Conjunto limitado). Seja (M, d) um espac¸o me´trico e X um subconjunto de M . Se existir uma constante c > 0 tal que d(x, y) ≤ c para quaisquer x e y em X, dizemos que X e´ um conjunto limitado no espac¸o me´trico (M, d). Exemplos: 1) R e´ limitado no espac¸o me´trico (R, δ), pois δ(x, y) ≤ 1, ∀x, y ∈ R. 2) R na˜o e´ limitado no espac¸o me´trico (R, µ), pois na˜o existe uma constante c > 0 de modo que, por exemplo, |x− 0| ≤ c, ∀x ∈ R. 53 3) O conjunto ZN das sequeˆncias de comprimento N e´ limitado no espac¸o me´trico ( ZN , σ ) , pois duas sequeˆncias quaisquer, neste conjunto, diferem em, no ma´ximo, N posic¸o˜es: σ(x, y) ≤ N, ∀x, y ∈ ZN . A propo´sito as sequeˆncias x = 000 . . . 0 e y = 111 . . . 1 diferem em N posic¸o˜es. 4) O conjunto ZN e´ limitado no espac¸o me´trico ( ZN , ρ ) , pois (p. 77) ρ(x, y) ≤ 2N − 1, ∀x, y ∈ ZN 5) O conjunto Z∞ das sequeˆncias de comprimento infinito, e´ limitado no espac¸o me´trico (Z∞, ν), pois (p. 43) ν(x, y) ≤ 1, ∀x, y ∈ Z∞ Se existir uma tal constante c > 0 de modo que d(x, y) ≤ c para quais- quer x e y em X enta˜o o conjunto { d(x, y) : x, y ∈ X } e´ limitado superior- mente e o seu supremo chama-se diaˆmetro de X e e´ denotado por diam (X). Sendo assim: diam (X) = sup { d(x, y) : x, y ∈ X} Alternativamente podemos escrever diam (X) = sup { d(x, y) : (x, y) ∈ X ×X} Se o conjunto X na˜o e´ limitado colocamos diam(X) =∞, por definic¸a˜o. Exemplos: 1) Seja M = R = X. No espac¸o me´trico (R, δ) o diaˆmetro de R fica: diam(R) = sup { δ(x, y) : x, y ∈ R} = sup { 0, 1 } = 1. 2) Seja M = [ 0, 1 [, temos: diam(M) = 1, no espac¸o ( [ 0, 1 [, µ ) diam(M) = 1/2, no espac¸o ( [ 0, 1 [, k ) De fato, diam
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