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1 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO OCEANOGRÁFICO CURSO DE PÓS- GRADUAÇÃO EM OCEANOGRAFIA FÍSICA IOF – 5850 -1 OCEANOGRAFIA FÍSICA OBSERVACIONAL PROF. DR. ILSON CARLOS ALMEIDA DA SILVEIRA PROF. DR. BELMIRO MENDES DE CASTRO FILHO ELABORAÇÃO – PROFa. SUELI SUSANA DE GODOI São Paulo – março de 2000 2 1- INTRODUÇÃO O objetivo do oceanógrafo físico é obter uma descrição quantitativa e sistemática das características das águas do oceano e de seus movimentos. Para tanto, teoria e observação devem caminhar juntas para que os erros decorrentes de cada uma sejam minimizados. Uma teoria é simplesmente uma explicação baseada na observação, medida e fundamentos. Uma observação de qualidade possibilita fornecer informações para o desenvolvimento de novas teorias; consequentemente, novas teorias sugerem melhores formas de efetuar observações. Em Oceanografia , os navios, plataformas e bóias atuam como base para a instalação e ou operação dos instrumentos destinados às medições. Estes instrumentos são usados, por exemplo, para medir as propriedades da água do mar como temperatura e salinidade na coluna de água, correntes, marés, ondas e também as propriedades do ar sobre os oceanos. A presente apostila tem por finalidade introduzir alguns aspectos básicos relacionados com a intrumentação oceanográfica, destinada às medições de propriedades da água do mar tais como, temperatura, salinidade, pressão , correntes e nível do mar A seguir é feita uma breve descrição das características de alguns instrumentos associados as propriedades de medição. São colocados também alguns aspectos relacionados com esquemas de fundeio de equipamentos. É dado enfoque não só ao princípio de funcionamento dos equipamentos e métodos de coletas, mas também a sua evolução e limitações de uso prático. Algumas considerações gerais são feitas abordando os seguintes aspectos: 2 - Hidrografia 2.1 - Instrumentos para Medição Discreta de Temperatura e Salinidade 2.1.1 - Garrafas de coleta de água Garrafas de Nansen Garrafas de Niskin 2.1.2 -Termômetros de Reversão Termômetros de reversão de mercúrio e digital 2.1.3 - Salinômetros Salinômetro Indutivo “AUTOSAL “ 3 2.2 - Instrumentos para Medição Contínua de Temperatura e Salinidade 2.2.1 - BT – Batitermógrafo 2.2.2 - XBT – Batitermógrafo Descartável 2.2.3 - CTD – Conductivity, Temperature and Depth – Perfilador de condutividade e temperatura em função da profundidade 2.3 - Rosette 3 - Calibração dos sensores de temperatura e salinidade 4 - Velocidade 4.1 - Instrumentos para Medição de Velocidade 4.1.1 - Instrumentos com rotores 4.1.2 - Instrumentos com sensores eletromagnéticos 4.1.3 - Instrumentos com sensores acústicos 5 - Nível do mar 5.1 – Marégrafo / Ondógrafo 4 2 - HIDROGRAFIA O levantameno hidrográfico de uma região consiste em obter informações sobre as propriedades físico/química da água do mar. A região de estudo é amostrada, geralmente, em radiais compostas por estações oceanográficas, cujo espaçamento é escolhido em função do fenômeno de interesse. Em cada estação oceanográfica obtém-se perfis verticais das propriedades de interesse para o estudo. Com isso, se várias radiais forem realizadas é possível conhecer as características da região em uma visão tri-dimensional. Normalmente, são realizados cruzeiros oceanográficos em diferentes épocas do ano, com a finalidade de observar as variações sazonais das propriedades. Uma das técnicas de amostragem em hidrografia consiste em utilizar garrafas de coleta de água, tais como, Nansen ou Niskin, equipadas com termômetros de reversão. O CTD – Conductivity Temperature and Depth é um perfilador de condutividade e temperatura em função da profundidade. Este equipamento permite que as informações sejam obtidas em tempo reduzido. No primeiro caso, a amostragem da coluna de água é feita em profundidades padrão espaçadas de tal forma a monitorar com maior resolução zonas de maior estratificação, como a termoclina principal. No segundo caso, o uso do CTD possibilita obter um perfil vertical dos parâmetros de estado da água do mar quase que contínuo, como será visto na descrição das características deste instrumento. Entretanto, recomenda-se que para efeitos de calibração dos dados deste instrumento sejam usadas simultaneamente medições efetuadas, por exemplo, por garrafas de Niskin. Na sequência são apresentadas algumas características desses ins trumentos. 2.1 – Instrumentos para Medição Discreta de Temperatura e Salinidade 2.1.1 - Garrafas de amostra de água Garrafa de Nansen A garrafa de Nansen é usada para coleta de água do mar ; simultaneametne, a medição da temperatura in situ pode ser efetuada por termômetros de reversão acoplados às garrafas. As primeiras garrafas de Nansen foram construídas em metal (Fig. 2.1 a). Conforme ilustra a Figura 2.1 a , apresentam formato tubular com comprimento de aproximadamente 50 cm e 10 cm de diâmetro.Suas extremidades possuem válvulas, as quais são acionadas por um dispositivo mecânico enviado da superfície, permitindo a retenção do volume de água contido no interior da garrafa. 5 O processo inicial de lançamento consiste em conectar as garrafas ao cabo de um guincho oceanográfico, em posições pré determinadas. Um ponto a notar é que, a estrutura vertical das propriedades oceânicas variam mais bruscamente nas camadas superficiais. Portanto, nestas camadas é recomendável que se tenha um menor espaçamento entre as garrafas. Em regiões mais profundas, onde as mudanças das propriedades são bem menores o espaçamento pode ser aumentado. As profundidades de amostragem tradicionalmente usadas em Oceanografia Física são 10, 20, 30, 50, 75, 100, 150, 200, 300, 400, e 500 metros para amostragens em águas rasas, e em 600, 700, 800, 1000, 1200, 1500, 2000, 2500, 3000, 4000,..., metros para amostragens em águas profunda e de fundo. No caso de análises químicas específicas, como de metais, deve-se optar por garrafas construídas com materiais inertes, como o policarbonato. Este tipo de garrafa de Nansen está ilustrado na Figura 2.1b. Estas garrafas possuem uma válvula para equilibrar a pressão pois, uma vez as garrafas fechadas em altas profundidades, estas sofrem uma certa expansão ao serem içadas para bordo. (b) (a) Figura 2. 1 - (a) Garrafa de Nansen de metal (b) Garrafa de Nansen - material sintético ( Fonte: LIO - USP/ Foto:Pimenta ) (c) Garrafa de Nansen sendo liberada por um mensageiro: antes da inversão; durante e após a inversão. (Fonte: Neumann and Pierson, 1966) (c) 6 Uma vez lançado todo o cabo, com as garrafas todas armadas, posicionadas nas profundidades específicas (abertas, com os termômetros de reversão posicionados e mensageiros presos à base), pode-se iniciar o processo de fechamento das garrafas. É recomendável que se considere um tempo de ajuste da ordem de 2 – 3 minutos para o equilíbrio térmico do equipamento. Uma garrafa de Nansen equipada com termômetros de reversão está representada na Figura 2.1c. O esquema mostra a garrafa presa em um cabo antes da inversão, durante a inversão e após a inversão. O acionamentoda garrafa de Nansen é efetuado pelo operador a partir da superfície. Um peso de metal, denominado mensageiro, é preso ao cabo e liberado para deslizar pelo mesmo (Fig. 2.1 c ). Este mensageiro faz com que a garrafa de Nansen seja liberada e invertida. Assim que a primeira garrafa é invertida, um segundo mensage iro é liberado indo deslizando em direção a segunda garrafa e invertendo-a . Esta segunda garrafa de Nansen então libera o terceiro mensageiro indo liberar a próxima e assim sucessivamente. Assim que a garrafa de Nansen inverte, esta se fecha coletando então a amostra de água em uma dada profundidade e registrando a temperatura “ in situ “ , através do uso de termômetros de reversão.A amostra de água coletada pela garrafa permite estimar, dentre outras propriedades, a salinidade da água do mar através de salinômetros indutivos, por exemplo. Garrafa de Niskin A garrafa de Niskin possui a mesma função da garrafa de Nansen. A configuração desta garrafa pode ser observada na Figura 2.2. Nota-se que esta garrafa possui duas tampas nas suas extremidades que são ligadas uma a outra por meio de um elástico, o qual passa pelo interior da mesma. Os termômetros ficam alocados em um estojo junto a garrafa, só que sua reversão ocorre pela rotação de seu dispositivo de apoio ( Fig. 2.2 ). Estas garrafas possuem uma grande variedade de volume, entre 1,2 e 30 litros, e são feitas de material inerte, como policarbonato. Também possuem válvulas de pressão e torneiras para retirar a amostra de água. Ainda, podem ser utilizadas tanto em cabos ligados à guinchos isoladamente, quanto em equipamentos denominados de Rosettes. Fig. 2. 2 – Garrafa de Niskin. Observar receptáculo giratório dos termômetros (Fonte: LIO – USP/ Foto:Pimenta) 7 Pelo uso da Rosette, a ser discutida posteriormente, várias garrafas de Niskin podem ser lançadas simultaneamente, otimizando desta forma o tempo de amostragem da coluna de água. Neste caso, o fechamento da garrafa é comandado da superfície eletronicamente. Este equipamento permite o acoplamento simultâneo de um CTD junto ao cabo de lançamento, como será ilustrado no decorrer do texto. 2.1.2 - Termômetros de Reversão Termômetros de reversão de mercúrio Termômetros de reversão foram desenvolvidos especialmente para uso em oceanografia, por Negretti & Zambra em 1874, em Londres, e aperfeiçoados na Alemanha na década seguinte. A precisão destes instrumentos chegam a 0,01 0 C (Neumann and Pierson, 1966 ) . Estes termômetros se constituem de um sistema termométrico, que utiliza a dilatação diferencial mercúrio-vidro para medir a temperatura da água do mar. Os detalhes da construção de termômetros oceanográficos podem ser observados na Figura 2.3, à esquerda o termômetro de reversão protegido e à direita o termômetro de reversão desprotegido. O primeiro fornece a temperatura in situ da água do mar e o segundo fornece a profundidade termométrica. Na Figura 2.3 os termômetros estão na posição quando içados à superfície. O esquema mostra um detalhe do capilar do termômetro na parte do apêndice. Na posição de medição o termômetro de reversão funciona como um termômetro comum, com a coluna de mercúrio do tubo capilar atingindo um comprimento que depende da temperatura. Depois de atingido o equilíbrio térmico, o que ocorre em um período de 30 segundos a um minuto, o processo de inversão das garrafas faz com que o termômetro gire em 1800 . Nesta etapa, a coluna de mercúrio separa-se do capilar, na posição denominada apêndice, fluindo para a sua extremidade oposta e indicando desta forma a temperatura in situ ( T ). Tecendo alguns comentários quanto a correção dos valores de temperatura in situ (T), baseado em Miranda (1998). Primeiramente, a leitura da temperatura in situ (T) é efetuada pelo uso de uma lupa ótica no laboratório do navio. Como esta leitura é efetuada à uma temperatura ambiente t, a dilatação ou contração térmica do sistema termométrico fará com que a coluna de mercúrio passe da indicação T para um valor T ', em decorrência da variação da temperatura ambiente de T para t. Este valor da temperatura ambiente, na qual a leitura T ' é efetuada, é medida por um termômetro comum denominado termômetro auxiliar, localizado ao lado do termômetro de reversão. Prosseguindo, as leituras efetuadas por estes termômetros devem ser corrigidas devido aos erros decorrentes da dilatação diferencial do sistema termométrico mercúrio-vidro (? T) e índice I. Correção do Índice I é necessária devido as imperfeições do diâmetro ao longo do tubo capilar e efeitos decorrentes do envelhecimento do sistema termométrico. Esta correção é determinada experimentalmente pelo fabricante do instrumento. A aferição é feita pela comparação com um termômetro padrão. Cada termômetro possui um certificado de aferição. Importância dessas correções é que os trabalhos em oceanografia requerem uma precisão de ± 0.02 0C , na camada superior do oceano e ± 0.001 0C em regiões 8 profundas e altas latitudes. Os instrumentos de mercúrio, embora sejam um dos mais antigos utilizados em Oceanografia, são ainda usados atualmente para a medição da temperatura da água do mar. Estes instrumentos são utilizados, também, na comparação e correção de valores obtidos com sensores mais sofisticados, tais como termistores e termômetros de platina A seguir são apresentadas as principais fórmulas de correção para os termômetros de reversão protegido e desprotegido, baseado em Miranda (1998). Definindo primeiramente: T temperatura in situ T’ leitura do termômetro de reversão no laboratório t temperatura do termômetro auxiliar I índice de correção experimental ?T correção da dilatação volumétrica V0 volume de mercúrio separado no bulbo termométrico a 00 C VT volume de mercúrio separado no bulbo termométrico quando da reversão e medição de T Vt volume de mercúrio contido no bulbo termométrico a temperatura de leitura t. ? Hg coeficiente de expansão volumétrica do mercúrio ? v coeficiente de expansão volumétrica do vidro K = ( ? Hg - ? v ) -1 inverso do coeficiente de expansão volumétrica diferencial do sistema termométrico Entre as quantidades acima definidas, I, V0 e K são dadas pelo fabricante no Certificado do termômetro. Os volumes V0 , VT e Vt são expressos em unidade de 0 C , visto que são proporcionais ao comprimento da coluna de mercúrio no tubo capilar. Termômetro protegido Segundo Miranda (1998) e Keyte ( 1965) segue-se que a temperatura in situ T é dada em função de uma leitura T’, de acordo com a seguinte equação: T = T’ + ? T + I Primeiramente, assume-se que a correção experimental I tenha sido adicionada algebricamente a T’ e portanto, ? T = T – T’ E após uma série de considerações e manipulações algébricas obtém-se a seguinte expressão deduzida por Hansen ( 1934) : ?T = [( V 0 + T’ ) (T’ – t )] [ K – ( T’ + V 0 ) – ½ ( T’- t ) ] -1 9 Termômetro desprotegido A correção do comprimento do cabo lançado e consequente estimativa da profundidade termométrica ( z T ) é realizada através da utilização do termômetro desprotegido. Definindo T = T n temperatura corrigida do termômetro desprotegido T’ = T’n leitura do termômetro desprotegido no laboratório Analogamente, ?T = T n - T’n Da mesma forma, através de uma série de considerações e manipulações algébricas obtém- se a seguinte fórmula deduzida por Keyte (1965): ? T = [ ( V 0 + T’n) ( T – t ) ] [ K – ½ ( T - t ) ] - 1 De acordo com Miranda (1998) , a fórmula para a estimativa de ( z T ) parte do princípio que o oceano é essencialmente hidrostático : ? -1 ? p / ? z = - g onde: ? densidade g aceleração da gravidade p pressão z profundidade A variação da pressão entre a superfície e a de um ponto à profundidade z é : ?p = ? g ?z A estimativa de ?p é feita por : ?p = 1 0 ( T n - T ) Q – 1 onde: Q – coeficiente de compressibilidade do termômetro não protegido ( o C Kgf -1 cm -2 ) 10 Entretanto, historicamente ?p = ? g ?z · 10 4 dinas cm –2 onde ? [ cgs] g [ SI ] ? z [ SI ] como 1 dbar = 10 5 dinas cm -2 ?p = ? g ?z 10 – 1 dbar e ?p ˜ ?z numericamente Assim, combinando as equações hidrostática e de correção, tem-se : 1 0 ( T n - T ) Q –1 = ? g ?z 10 – 1 ?z = z T = 1 0 ( T n - T ) Q -1 ? -1 m Precisão : +/- 5 m entre 200 e 1000 m 0,5% para profundidades maiores que 1000 m Termômetros de reversão digitais Com a finalidade de apresentar algumas características dos termômetros de reversão digitais será tomado como exemplo o tipo RTM 4002 (Fig.2.4). Este termômetro tem as mesmas características do termômetro de reversão clássico, mas com algumas vantagens conforme consta em seu Manual de Instruções (SIS, s.d.) - O valor lido no visor é o valor real da amostra, e não é necessário avaliar o valor real sob considerações de um termômetro secundário. - Leitura do valor com precisão máxima não necessita de lupa ótica. - O valor da amostra é protegido contra indesejáveis inversões posteriores. - Um instrumento com um intervalo entre - 2 0C e 40 0C substitui um conjunto de termômetros de reversão de mercúrio de alta precisão. O RTM 4002 atua em um intervalo de profundidade superior a 10 000 metros. O compartimento de pressão é feito de um tubo de vidro selado em suas extremidades por uma tampa de metal. Um lado contém o sensor de platina e no outro está o compartimento da bateria. A precisão destes termômetros é de aproximadamente ± 0.015 oC entre 20o e 40o C e de ±0.005oC para temperaturas medidas no intervalo de –2o C a 20o C. 11 O instrumento é acionado por um interruptor magnético programado para operar seqüencialmente nos modos "HOLD", "CONT" & "SAMP" ( Miranda, 1998) : - Modo “HOLD” : É ativado por um simples acionamento da chave magnética. O mostrador indica digitalmente o último valor amostrado e depois de 10 segundos o instrumento desliga automaticamente. - Modo “CONT”: É ativado magneticamente após o modo “HOLD”. Neste modo, o instrumento registra a temperatura por 60 segundos, indicando o seu valor digitalmente no mostrador. Depois desse intervalo de tempo o mesmo desliga automaticamente, e o último valor é registrado na memória. - Modo “SAMP” : Este modo é acionado seqüencialmente após o modo “CONT “. Este modo prepara o instrumento para medir a temperatura quando da inversão do termômetro. Portanto, neste modo o instrumento estará operando como um termômetro de reversão e quando for revertido e permanecer por mais de 10 segundos nessa posição, um valor de temperatura será registrado na memória do instrumento. 12 Fig. 2.3 a – Detalhes da construção de termômetros de reversão – mercúrio (Fonte: Neumann and Pierson, 1966) 13 Depois de ter registrado um valor de temperatura durante a reversão, o modo “HOLD”- permite a leitura do valor registrado sem possibilitar a ativação do modo “CONT”. Logo, qualquer valor registrado quando da reversão permanece protegido contra eventuais tentativas de apagá- lo da memória. O instrumento tem dois elementos operacionais: a) Uma chave magnética é ativada passando sobre esta uma pequena barra magnética, a qual acompanha o instrumento. b) Uma chave interna de mercúrio é ativada pela reversão do instrumento. Observar que necessita-se um tempo de pelo menos 1 segundo entre dois acionamentos da chave magnética. O instrumento em seu modo normal , isto é não invertido, tem a cabeça do sensor apontada para baixo. Com a finalidade de substituir os termômetros desprotegidos clássicos, também foram desenvolvidos medidores digitais de pressão. Estes medem a pressão hidrostática por meio de um sensor de alta precisão, com uma resolução de ±0,5% do fundo de escala. Analogamente, seus sensores operam através de baterias e são acionados por chaves magnéticas. Os fundos de escala mais comuns são 2 000, 6 000 e 10 000 dbar. Assume-se erros não superiores a +/- 50 dbar para fundo de escala de 10 000 dbar 14 Fig. 2.4 – Termômetro de reversão eletrônico (Fonte: SIS – s.d. ) 15 2.1.3 – Salinômetros De acordo com Miranda (1998), para os propósitos práticos da Oceanografia Física, a água do mar é considerada como uma solução de apenas dois componentes: a água pura (solvente) e a salinidade (soluto). Segundo este autor, a concentração de sais dissolvidos nos oceanos - a salinidade - pode ser estimada através de medidas gravimétricas, químicas ou pela condutividade elétrica. A medida gravimétrica de salinidade é um método difícil devido a evaporação de alguns sais pelo efeito de aquecimento. Medidas químicas de salinidade, baseadas em titulação volumétrica para determinar a clorinidade, constituíam o procedimento padrão de medição até 1960. Entretanto, estas foram substituídas gradativamente por métodos baseados na medição da condutividade elétrica. Uma fórmula empírica é usada para converter razão de condutividade, de uma amostra de água do mar com relação a um padrão, em salinidade. Salinômetro Indutivo O Salinômetro Portátil Indutivo - Modelo Beckman – RS10 ( Fig.2.5 a) é um aparelho que mede a razão de condutividade elétrica de uma amostra de água, a uma temperatura conhecida. Como a condutividade é dependente da temperatura, os salinômetros possuem mecanismo de controle de temperatura das amostras ou sistemas que compensam possíveis variações de temperatura entre amostras diferentes. Basicamente, todos os salinômetros são constituídos de uma célula de condutividade e ponte de condutividade. As células são compostas de dois toróides montados num invólucro de resina plástica com geometria definida. Esse conjunto é montado dentro de uma cuba de plástico transparente, que possui um sistema de agitação e um sensor de temperatura. Um sinal elétrico alternado de frequência e intensidade constante é aplicado a um dos toróides, chamado de primário, produzindo um campo eletromagnético. Este campo induz uma corrente no segundo toróide, secundário, proporcional à corrente aplicada no primário em condições padrão. Quando a amostra de água do mar é colocada entre os toróides, esse campo é alterado e, consequentemente, a corrente induzida no secundário modificada. A alteração desse campo é proporcional a condutividade elétrica da amostra. Medindo-se a corrente no toróide secundário pode-se determinar a condutividade e, conseqüentemente, a salinidade. O princípio de funcionamento da ponte de condutividade se baseia no mesmo princípio da Ponte de Wheatstone (Fig. 2.5 b). Neste tipo de circuito, quando a diferença de potencial entre os pontos A e B for nula, ( R3 · R2 ) será igual a ( R4 · R1 ) e a ponte estará balanceada, com o galvanômetro ( G ) indicando valor zero. Na prática, a ponte é balanceada introduzindo-se um padrão de água do mar, com condutividade conhecida na célula , sendo este o valor de R3 . Então varia-se R1 até que o galvanômetro marque zero.16 Fig. 2.5 – Salinômetro Portátil Indutivo (Fonte: Rosemount, Inc. 1988) 01) galvanômetro 02) seletor de modo de operação ( S e T) 03) ajuste para razão de condutividade 04) ajuste da bomba de vácuo 05) termômetro 06) cuba da amostra 07 ) toróides 08) luz indicadora de que a cuba (5) está cheia 09) parafuso de fixação (6) 10) torneiras de 3 vias: fill = encher, shut = fechada, drain = esvaziar 11) stir = agitação, off = desligado fill = liga a bomba de vácuo 12) cuba para excesso de água 13) indicador de temperatura da cuba da amostra 14) calibração de condutividade 15) ligar o aparelho 16) luz indicadora de que o aparelho está ligado 17) fusível 17 18) entrada de força do aparelho 19) calibração da temperatura de compensação 20) conector de 25 pinos Fig. 2.5 b – Ponte de Condutividade O processo para análise das amostras de água do mar inicia-se pela calibração do salinômetro, com uma ampola de água normal padrão da International Associoation of Physical Sciences of the Ocean – IAPSO / Standard Seawater Service. O padrão é introduzido na célula e o instrumento ajustado de forma a fornecer uma leitura idêntica a um valor da razão de condutividade conhecido previamente, por exemplo, 34,992 ( partes por mil ) = 0,99980. Quando a célula é então drenada e recarregada com qualquer amostra de água do mar, o instrumento fornecerá a razão entre a condutividade da amostra e a da água normal. Esta razão é convertida em salinidade com a ajuda de tabelas tais como as publicadas por UNESCO (1987) ou pelo próprio manual do instrumento. Atualmente, subrotinas computacionais SEAWATER ( Morgan,1994) têm sido usadas para proceder a conversão da razão de condutividade em salinidade. Maiores detalhes quanto ao referido salinômetro pode ser encontrado em seu manual de instrução publicado por Rosemount, Inc. (1988). A seguir é apresentado um roteiro do procedimento experimental para calibração do salinômetro e aná lise das amostras da água do mar, baseado em Braga (s.d.); Ito (s.d.) e Montone (s.d.). Na sequência, é apresentada a Escala Prática de Salinidade de 1978 para estimar salinidade através das leituras da razão de condutividade, via salinômetro indutivo (Miranda, 1998). 18 Procedimento Experimental Amostragens As amostras para a Salinidade Prática devem ser coletadas em frascos de vidro de borosilicato, com capacidade de 250 ml e com tampas que as mantenham herméticas, evitando problemas de contaminação e evaporação.Durante a coleta, lava-se o frasco com a própria amostra três vezes antes da coleta final. Calibração O Salinômetro deve ser ligado pelo menos uma hora antes do início da operação para estabilização técnica do circuito elétrico. Roteiro: · Quebrar uma das pontas da ampola de água do mar padrão e adaptar na mangueira mais curta da amostra. · Colocar a torneira (10) na posição fill. · Inverter a posição e quebrar a outra ponta da mesma. · Deixar a cuba encher por gravidade e colocar a torneira (10) na posição shut. · Ligar a agitação (botão 11 - stir) e deixar agitando por algum tempo (~30 segundos). · Desligar a agitação e colocar a torneira (10) na posição drain. · Repetir a mesma operação mais uma vez. · Encher novamente a cuba com o restante da água do mar padrão, fechar a torneira e ligar a agitação. · Ajustar o aparelho com o valor de condutividade indicado na ampola com os botões (3). · Colocar o seletor (2) na posição temperatura. · Com o indicador de temperatura (13) ajustar o galvanômetro na posição zero e anotar o valor da temperatura. · Colocar o seletor (2) na posição salinidade. · Ajustar o galvanômetro na posição zero (14) e fixar este valor no painel. 19 · Antes de escoar a água da cuba, voltar o botão (2) para a posição temperatura (evitando que o ponteiro do galvanômetro fique sob tensão no fundo de escala) e desligar a agitação. · Escoar a cuba. Análise das amostras · Encher a cuba com a amostra, agitar e escoar a água duas vezes. · Ao encher a cuba pela terceira vez, deixar a água sob agitação, colocar (2) em temperatura e ajustar o galvanômetro em zero com o botão (13). · Colocar (2) em salinidade e ajustar o galvanômetro em zero através dos ajustes de condutividade (3). · Anotar os valores de temperatura e razão de condutividade na ficha de salinidade. · Antes de escoar a cuba, girar (2) para a posição temperatura e desligar a agitação. A Escala Prática de Salinidade – EPS 78 Na forma mais geral, a Salinidade Prática (Sx103) pode ser obtida pelo seguinte polinômio (Miranda, 1998): Sx103 = Sai (Rt) i /2 + DS = a0 + a1 Rt1/2 + a2 Rt + a3 Rt 3/2 + a4 Rt 2 + a5 Rt 5/2 + ( t - 15) . (b0 + b1 Rt 1/2 + b2 Rt + b3 Rt 3/2 + b4 Rt 2 + b5 Rt 5/2) 1+ A(t-15) onde: t - temperatura da amostra Rt - razão entre a condutividade da amostra e o padrão a uma temperatura t DS – correção do valor de salinidade quando a medição da razão de condutividade elétrica é feita a uma temperatura diferente de 15 o C. 20 Os coeficientes ai são dados por : a0 = 0,0080 a1 = -0,01692 a2 = 25,3851 a3 = 14,0941 a4 = -7,0261 a5 = 2,7081 Sai 35,000 A = 0,0162 Os coeficientes bi são dados por: b0 = 0,0005 b1 = -0,0056 b2 = -0,0066 b3 = -0,0375 b4 = 0,0636 b5 = -0,0144 Sbi 0,0000 Intervalo de validade: 2 £ S £ 42 -2 £ T £ 35 oC. A maioria dos salinômetros indutivos apresentam uma reprodutibilidade de ±0.003 a ±0,002x10-3S. AUTOSAL Um outro tipo de salinômetro disponível no LIO é o salinômetro Modelo 8400 A Laboratory Salinometer - Guildline, comumente conhecido com AUTOSAL (Fig. 2.6) . O instrumento é semi-portátil, semi-automático, e é usado para determinar níveis de salinidade em amostras de água pela medida da razão de condutividade equivalente, similar ao salinômetro indutivo. 21 Basicamente, o instrumento força a passagem da água da amostra por uma célula de condutividade, a qual efetua a medição da condutividade elétrica da amostra. A célula de condutividade contém quatro eletrodos de platina-ródio dispostos em um arranjo geométrico específico. Dois dos eletrodos forçam a passagem de corrente elétrica, através da água contida na célula . Por outro lado, os outros dois eletrodos medem a diferença de potencial na água gerada pela passagem de corrente. Desta forma, obtém-se a condutividade da amostra de água. Através de circuitos eletrônicos é obtida a razão de condutividade entre amostra sob análise e a água normal padrão, utilizada durante a padronização do instrumento. O intervalo de amostragem encontra-se entre 0,005 e 42 partes por mil – ppm (salinidade equivalente) . A exatidão é melhor que ± 0,003 ppm para 24 horas sem repadronização. A máxima resolução é melhor que 0,0002 ppm em 35 ppm. O máximo volume da amostra requerido é 100 ml incluindo o volume para lavagem da célula , aproximadamente 50 ml para uma diferença de 3 ppm entre amostras. O volume do banho é 16,8 litros.A temperatura do banho é selecionada desde 18 oC até 33 oC em intervalos de 3 o C com exatidão de ± 0,02 oC , estabilidade 0,001 o C por dia. Temperaturas selecionadas devem estar entre + 4 o C (ambiente) e – 2 o C (ambiente) . Escala linear da razão de condutividade apresenta 22 intervalos de 0 até 2,2 onde 2,0 corresponde à água do mar de 35 ppm . Máxima leitura é 2,29999, correspondendoaproximadamente 42 ppm. Fig. 2.6 – Salinômetro AUTOSAL (Fonte: LIO – USP/ Foto:Pimenta) 22 Com o advento tecnológico foram desenvolvidos instrumentos oceanográficos capazes de medir temperatura, salinidade em função da pressão, com uma resolução mais refinada. Isto vem possibilitando obter um perfilamento refinado da estrutura vertical da coluna de água ou seja, praticamente contínuo. A seguir, são apresentados algumas características de tais instrumentos, como o batitermógrafo, XBT e CTD. 2.2– Instrumentos para Medição Contínua de Temperatura e Salinidade 2.2.1 – Batitermógrafo O batitermógrafo ( Fig. 2.7 a ) ou simplesmente BT é um equipamento mecânico, inventado por Spilhaus entre 1937-1938 (Neumann and Pierson, 1966) . Este instrumento possibilita amostrar um perfil vertical de temperatura de forma praticamente contínua.Deste modo, os registros eram efetuados com grande praticidade e baixo tempo. Atualmente, este equipamento já não é tão utilizado dada a evolução da instrumentação oceanográfica. O instrumento apresenta o formato de um torpedo com cerca de 85 cm de comprimento. Basicamente, é composto por uma cabeça hidrodinâmica, onde é preso o cabo do guincho, e aletas de direcionamento na parte posterior. O instrumento possui um carretel com um grande comprimento de tubo capilar enrolado. Esta é a parte do equipamento responsável pela medição da temperatura. Este sensor possui um problema que é a relativa demora em se equilibrar com o ambiente, ou seja, este sensor possui um alto tempo de resposta às variações de temperatura ambientais. O registro de temperatura varia entre –2 e 30 oC e profundidades até 275 metros. O BT pode ser rebocado em velocidades desde 6 até 20 nós, dependendo da profundidade operacional. Normalmente, o BT é calibrado para uso na água do mar , mas também encontra-se disponível para amostragens em lagos ou reservatórios (GMMFG. & Instrument Corp. s.d.) O princípio de funcionamento do equipamento se baseia na dilatação e contração de um líquido contido no interior do tubo capilar, devidas as mudanças de temperatura da água. O registro se dá por meio de uma pena de metal, conectada ao tubo capilar, que se apoia sobre uma pequena placa de vidro recoberta por uma película de ouro. O suporte da lâmina é fixado sobre um diafragma que se deforma em função da pressão. Esta deformação causa o deslocamento da lâmina, numa direção perpendicular ao movimento da pena. O movimento da pena causa a retirada localizada da película metálica, esboçando o gráfico de temperatura em função da profundidade. O mecanismo de funcionamento está diagramado na Figura 2.7 b e as placas de registro do BT podem ser observadas na Figura 2.7 c. Embora bem rústico quando comparado aos CTDs atuais, deve-se ressaltar que este equipamento foi um precursor nas medidas de forma “contínua” da coluna de água. Entretanto, deve-se ter em mente que os registros eram discretos lidos e tomados em folhas 23 de bordo a partir de uma lâmina esfumaçada. Maiores detalhes quanto às características deste instrumento podem ser encontrados nos manuais disponíveis no LIO –USP. Fig. 2.7 – (a) Batitermógrafo -BT ; (b) um diagrama mostrando sua construção interna e (c) amostras de placas de BT. ( Fonte: Neumann and Pierson, 1966 ) 2.2. 2 - Batitermógrafo Descartável Basicamente, o batitermógrafo descartável ou XBT (Fig. 2.8) é um equipamento com a mesma função do Batitermógrafo, realizando registros contínuos da temperatura ao longo da coluna de água. Assim como o BT o XBT pode ser lançado com a embarcação em movimento, entretanto é um equipamento descartável. 24 Sua configuração constitui-se de duas partes principais. Uma consiste na base de lançamento com formato tubular, a qual contem em seu interior uma sonda de formato hidrodinâmico e que é lançada ao mar. Esta constitui a parte descartável, com aproximadamente 25 cm de comprimento. O sensor localiza-se na extremidade anterior da “cabeça” da sonda. Ao ser lançada, a ogiva se mantém ligada à base de lançamento por um finíssimo fio de cobre, através do qual envia-se continuamente sinais do sensor de temperatura para a superfície. Observar que existem dois carretéis de cobre, um na sonda e outro na base de lançamento. A velocidade de descida da sonda na coluna de água é alta e praticamente constante. Desta maneira a profundidade pode ser estimada facilmente com a medida do tempo de descida. Deve-se notar que estes instrumentos registram apenas a temperatura da coluna de água . Entretanto, a estrutura vertical de salinidade abaixo da camada de mistura pode ser estimada, com cautela, a partir de curvas de Temperatura – Salinidade teóricas, pelo conhecimento prévio das propriedades termohalinas da região (Signorini et al., 1989). Fig. 2.8 - Batitermógrafo Descartável - BT (Fonte: LIO – USP/ Foto:Pimenta) 2.2.3 - Perfilador Descartável de Condutividade e Temperatura em função da Profundidade – XCTD – Expendable Conductivity Temperature and Profiling System O Sistema Perfilador de Condutividade, Temperatura e Profundidade Descartável – XCTD – Expendable Conductivity, Temperature and Profiling System – Sippican Inc. - consiste de uma sonda descartável com sensores de temperatura e condutividade, um Sistema de Aquisição de Dados Oceanográficos MK12 e um lançador (Fig. 2.9 ). Juntos compõem um sistema que é capaz de coletar medidas de temperatura e condutividade. Estas medidas 25 são amostradas em uma taxa que fornece uma resolução vertical de um metro com uma profundidade nominal com acurácia de ± 5 metros ou 2 % da profundidade.Uma feição adicional disponível no XCTD é o ponto de pressão : um sensor interno, o qual permite que a sonda forneça uma profundidade cinco vezes mais exata, ou dentro de ± 2 m, dos XCTDs regulares. O XCTD pode ser lançado em uma velocidade média de navio de até 10 nós ( Sippican, Inc. 2000). Fig. 2.9 - Perfilador Descartável de Condutividade e Temperatura em função da Profundidade – XCTD ; Lançador e Sistema MK12. ( Fonte: Sippican, Inc.) 26 Características dos sensores - XCTD Temperatura : faixa: - 2,2 a 30 oC precisão: ± 0,035 oC Condutividade: faixa: 20 a 75 mS/cm precisão: ± 0,035 mS/cm Profundidade: faixa: 0 a 1000 m precisão: ± 5 cm ou 2% de profundidade Resolução vertical 1 m A seguir são apresentadas as características do Perfilador de Condutividade e Temperatura em função da Profundidade - CTD – Conductivity Temperature and Depth - um perfilador percursor do XCTD. Como será visto, o CTD é um equipamento cujos sensores apresentam uma melhor resolução comparada aos do XCTD. 2.2.4 - Perfilador de Condutividade e Temperatura em função da Profundidade - CTD – Conductivity Temperature and Depth O CTD SeaBird SeaCat é um perfilador de alta precisão de condutividade e temperatura em função da profundidade. A Figura 2.10 a mostra o CTD acoplado em sua estrutura de lançamento.Os dados coletados são armazenados internamente ao instrumento, em memórias semicondutoras.O instrumento é alimentado por baterias alcalinas comerciais, instaladas internamente. Em adição aossensores padrão (condutividade, temperatura e pressão) outros sensores podem ser acoplados ao CTD, tais como sensores de oxigênio ou pH, fluorômetro ou turbidímetro ( Nonato, 1997) . A Figura 2.10 b ilustra o sensor de condutividade. A taxa de amostragem é ajustada via “software”, desde 02 amostras por segundo até 01 amostra à cada 4 minutos. A utilização de baixa frequência de amostragem permite o emprego do instrumento para a coleta de séries temporais de curto período, ao redor de alguns dias. O instrumento permite o armazenamento de diversos lançamentos consecutivos, máximo de 100, podendo os dados coletados serem transferidos a posteriori para um computador. Utilizando-se a máxima taxa de amostragem, 02 amostras por segundo, é possível armazenar dados correspondentes por cerca de 03 horas de medição.As baterias permitem a operação do instrumento ao redor de 40 horas, caso se utilizem apenas os sensores-padrão. 27 Características dos sensores - CTD Temperatura: faixa : -5 a 35 0 C resolução: 0,001 0 C precisão: 0,01 0 C Condutividade : faixa : 0 a 7 S/m (aprox. 0 a 52 PSU) resolução: 0,0001 S/m (aprox. 0,0008 PSU) precisão: 0,001 S/m (aprox. 0,008 PSU) Pressão : faixa : depende do sensor instalado resolução: 0.015 % de fundo de escala precisão: 0.25 % de fundo de escala Comparando as características dos sensores do XCTD com as do CTD observa-se que este último apresenta uma precisão relativamente maior em todos os sensores. Um outro ponto a notar é que os XCTDs apresentam um custo relativamente alto ao CTD. O CTD é preso ao cabo do guincho do navio, e pode ser descido até a profundidade máxima, a qual depende da resistência do aparelho à pressão. A medida que o CTD percorre a coluna de água são realizadas as medições. Antigamente, os dados eram registrados em papel. Estes dados tinham de ser, então, digitalizados, o que é um processo bastante trabalhoso, além de introdutório de erros. Atualmente, os CTDs são providos de memória, onde os dados são armazenados na forma digital para posterior descarga. Os CTDs também podem ser ligados através de um cabo eletro-mecânico ao computador durante a perfilagem, fornecendo os dados instantaneamente. Neste caso, pode-se ter um controle maior dos dados, possibilitando a amostragem de água nas profundidades onde há alguma estrutura termohalina de interesse. O CTD pode coletar dados tanto durante a descida quanto durante a subida. Normalmente, os dados de descida é que são usados, uma vez que a coluna de água encontra-se pouco influenciada pelo volume do instrumento. Uma das formas de se medir a pressão é através de um sensor tipo strain gage. A água exerce pressão sobre uma lâmina, a qual se deforma. Medindo esta deformação, o aparelho consegue estimar a pressão ambiente. A temperatura e a salinidade são medidas internamente em um pequeno recipiente no CTD (um pequeno tubo), garantindo, desta forma, que a “mesma água” seja utilizada nas medições. 28 (b) (a) Fig. 2.10– (a) - CTD e estrutura para lançamento (b) – Sensor de condutividade (Fonte: LIO – USP/ Foto: Pimenta) Fig. 2.11 – Preparação a bordo do navio para lançamento do CTD (Fonte: LIO – USP) 29 O CTD tornou-se bem mais prático pela incorporação de mémoria e baterias ao equipamento, passando então a ser descido por guinchos simples com cabos de aço. A Figura 2.11 ilustra a preparação a bordo do navio para lançamento do CTD. Os registros dos perfis são descarregados em computadores na superfície. Estes equipamentos hoje em dia encontram-se bem versáteis, precisos e leves. Pelo uso de softwares fornecidos pelos fabricantes dos equipamentos, pode-se obter rapidamente a salinidade e calcular a densidade através da coluna de água. Também, na superfície pode-se ajustar a frequência de leitura dos sensores. 2.3 - ROSETTE De modo geral, a Rosette é um sistema de dois componentes compreendendo uma unidade de comando de bordo e um arranjo de garrafas submersíveis que, juntos, permitem um operador ativar remotamente uma seqüência de garrafas de amostras de água (General Oceanics, 1990). O corpo cilíndrico principal contém o sub-sistema eletrônico de atuação e baterias. Ao redor deste corpo estão dispostas garrafas de coleta, e um frame ou grade cilíndrica de sustentação e proteção, principalmente a choques na embarcação durante o nício de sua descida. As Rosettes variam em tamanho, mas em geral possuem cerca de 12 a 24 garrafas. Equipamentos como CTD e garrafas de Niskin podem ser acopladas à Rosette . As Figuras 2.12 e 2.13 ilustram alguns modelos de Rosette e a disposição dos equipamentos. O conjunto é lançado ao mar através de um guincho. O mecanismo de fechamento das garrafas de Niskin é eletrônico podendo ser acionado da superfície, ou programado para ser acionado em profundidades específicas. A grande vantagem do uso da Rosette está no fato da rápida coleta de amostras de água simultaneamente a coleta de dados pelo CTD. As amostras de água geralmente são destinadas a análises químicas, podendo ainda ser utilizadas para calibração dos sensores do CTD (salinidade, oxigênio dissolvido etc.). Da mesma maneira, os termômetros podem aferir os sensores de temperatura do CTD. Existem softwares fornecidos por fabricantes que possibilitam a programação da Rosette em conjunto com o CTD e a retirada dos dados e aferição dos equipamentos. 30 Fig. 2.12–Rosette equipada com garrafas de Niskin e CTD (Fonte: LIO – USP/ Foto:Pimenta) Fig. 2.13 - Modelos de Rosettes equipadas com garrafas de Niskin e CTD (Fonte : General Oceanics Inc. 1990 ) 31 3 - CALIBRAÇÃO DOS SENSORES DE TEMPERATURA, SALINIDADE E PRESSÃO De acordo com Nonato (2000), os sensores utilizados em CTDs são sub-sistemas eletrônicos que fornecem um sinal elétrico (tensão elétrica ou frequência) que é função dos valores dos parâmetros físicos a serem medidos. Assim, é de primordial importância que esta função seja conhecida com precisão. Para a determinação desta função, o procedimento mais freqüentemente utilizado, no caso de sensores de CTD, é sua calibração em condições simuladas de operação. O processo de calibração em laboratório implica, usualmente, na colocação do instrumento ou sensores a calibrar em um recipiente com água do mar ( banho de calibração ) ; a temperatura, condutividade e pressão deste banho são então modificadas de forma controlada, enquanto monitora-se a resposta do instrumento ou dos sensores. Confrontando-se os dados fornecidos pelo instrumento ou sensores e os valores dos parâmetros do banho, medidos por sensores de referência, é possível determinar a curva de calibração desejada ( Nonato, 2000 ) . Na calibração em laboratório diversos procedimentos alternativos podem ser adotados. Por exemplo, os diversos sensores do instrumento podem ser calibrados separadamente ou o instrumento completo é calibrado de uma só vez : - com relação aos sensores de condutividade pode-se calibrá-los através da variação da salinidadedo banho ou, unicamente, da condutividade – mantendo-se a salinidade constante e variando-se a temperatura; - na calibração de sensores de pressão, o instrumento completo pode ser colocado em uma câmara de pressão ou a pressão ser aplicada unicamente no sensor respectivo. O Laboratório de Instrumentação Oceanográfica - LIO - do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo – IOUSP conta com um Centro de Calibração , o qual vem sendo usado para calibrar não só os sensores que compõem o CTD bem como outros instrumentos.O Centro de Calibração do LIO possui um reservatório de água do mar natural, cuba de calibração, trocador de calor, bomba, caixa de distribuição elétrica, quadro de comando entre outros. Um tanque de calibração é um tanque com água do mar, isolado termo-halinamente do ambiente (Fig. 3.1), ou seja, um tanque adiabático. Com isso, evita- se que trocas ambientais interfiram na calibração. O isolamento da face superior do tanque é realizado através do uso de bolas de plástico, preferencialmente brancas, que flutuam na superfície do tanque. 32 (a) (b) Fig. 3.1 – (a) - Tanque de calibração com CTD (b) - Detalhe do isolamento do tanque de calibração (Fonte : LIO – USP/ Foto:Pimenta) O Centro de Calibração do IOUSP segue o procedimento de calibração estabelecido pelo Institut fur Meereskunde da Universidade de Kiel – Alemanha ( Nonato, 2000) . Neste procedimento são usados os seguintes instrumentos de referência, para calibrar sensores de condutividade / salinidade, temperatura e pressão. Calibração dos sensores de condutividade/salinidade A calibração dos sensores de condutividade / salinidade inicia-se pela análise de amostras da água do banho em um salinômetro de alta precisão Guildline AUTOSAL (Fig. 3.2). A calibração consiste em variar a salinidade entre valores encontrados nos oceanos, e realizar medidas simultâneas com um salinômetro padrão e com o sensor que se quer calibrar. Posteriormente, faz-se um ajuste de curvas para estimar uma equação de correção. 33 Fig. 3.2 – Salinômetro AUTOSAL (Fonte: LIO – USP/ Foto:Pimenta) Calibração dos Sensores de Temperatura Na calibração dos sensores de temperatura, o equipamento é colocado em um tanque adiabático . A temperatura do tanque é medida por um aparelho de alta precisão, a Ponte de Medida de Resistência para Termômetro de Platina (Fig. 3.3). No LIO utiliza-se um termômetro de platina de precisão Pt25 Rosemount mod. 162 CE para calibrar o sensor de temperatura do CTD. No referido tanque adiabático pode-se, também, verificar o funcionamento e acuidade de termômetros de reversão A aferição do termômetro de platina é feita através de células de ponto triplo (sólido, líquido e gasoso) da água (Fig. 3.4 ) Jarrett mod. B-16 e célula de gálio (Fig. 3.5) Isotech mod. ITL – M – 17401. Portanto, o procedimento de calibração consiste em fazer variar a temperatura da água do tanque, dentro da faixa de variação encontrada nos oceanos. Uma vez estabilizada a temperatura mede-se, simultaneamente, a temperatura da água do banho através da referida Ponte (Fig. 3.3) e do sensor de temperatura que se quer calibrar. Comparando-se os dados medidos pela ponte e pelo sensor em calibração é possível obter-se uma curva de correção para o mesmo. 34 Fig. 3.3 – Ponte de Medida de Resistência para Termômetro de Platina (Fonte : LIO – USP/ Foto:Pimenta) Fig. 3.4 – Célula de Ponto Triplo da Água (Fonte : LIO – USP/ Foto:Pimenta) Fig. 3.5 – Célula de Gálio (Fonte : LIO – USP/ Foto:Pimenta) 35 Calibração dos sensores de pressão Uma balança de peso morto (Fig. 3.6 b) Desgranges et Huot mod. 5303 é usada para calibrar o sensor de pressão. Nesta calibração conecta-se o sensor de pressão do CTD, por exemplo, à esta balança. Através de um mecanismo hidráulico, pode-se exercer pressões padronizadas com esta balança. Para tanto, utiliza-se discos de precisão aferidos com massa conhecida (Fig. 3.6 a) Mais uma vez, o procedimento de calibração é basicamente o mesmo. Varia-se a pressão , via balança de peso morto, utilizando-se massas conhecidas. Através de ajustes de curvas, estima-se uma equação que ajusta os dados medidos pelo sensor aos valores simulados pela balança. ( a ) ( b) Fig. 3.6 – (a) – Conjunto de discos de precisão (b) - Balança de Peso Morto (Fonte : LIO – USP/ Foto:Pimenta) A Tabela 3.1 apresenta os intervalos de variação, comumente encontrados nos oceanos, dos parâmetros de estado da água do mar Temperatura, Salinidade e pressão, .associados a precisão e resolução das medições. Tabela 3.1 - Parâmetros de estado da água do mar associados aos intervalos de variação, precisão e resolução. PARÂMETRO INTERVALO DE VARIAÇÃO Precisão resolução Temperatura -2 o a 35 o C 0,002 o C 0,0005 o C Salinidade 0 a 40 UPS 0,002 UPS 0,001 UPS Pressão 0 a 6000 dbar 3 dbar 1 dbar Maiores detalhes quanto a aquisição, calibração e análise dos dados de CTD podem ser encontrados em UNESCO (1988) . Também, Nonato (2000) apresenta breves comentários quanto a operação e processamento de dados do CTD. 36 4 - VELOCIDADE Há duas formas básicas de descrever o escoamento de um fluido, o método Euleriano no qual a velocidade, isto é velocidade e direção, é estabelecida em todos os pontos do fluido, e o método Lagrangeano no qual o curso seguido por cada partícula do fluido é estabelecido em função do tempo. Nos estudos teóricos o método Euleriano é mais fácil de usar, mas na descrição da circulação dos oceanos o método Lagrangeano é frequentemente mais usado (Pickard and Emery, 1990) No monitoramento do campo de velocidades pode-se utilizar instrumentos Eulerianos ou Lagrangeanos. Como exemplo de instrumentos Eulerianos pode-se citar os correntômetros e conrrentógrafos. Correntômetros são utilizados para efetuar medidas de velocidade a partir da embarcação. Por outro lado, os correntógrafos são utilizados principalmente em sistemas de fundeios. Estes últimos oferecem uma série temporal do campo de velocidades. De acordo com Castro (comunicação pessoal ) a autonomia desses instrumentos, principalmente relacionado ao correntógrafo, é limitada por: - Taxa de amostragem ( ? t ) - intervalo de tempo entre cada registro. - Capacidade de armazenamento dos dados - Vida útil da bateria , a qual depende da temperatura da água - Apesar da sofisticação eletrônica, correntógrafos e correntômetros são equipamentos robustos. A maioria dos equipamentos pode ser utilizada até 1000 – 2000 metros de profundidade. Versões especiais atingem profundidades de até 6000 metros. Outras versões de custo mais baixo têm utilização restrita à plataforma continental. A maioria dos aparelhos permite a adição de sensores para medição de outros parâmetros, como temperatura, salinidade, pressão e turbidez. As diferenças entre os instrumentos Eulerianos devem-se basicamente ao tipo de sensor utilizado para medir a intensidade e a direção da corrente e à forma de processamento e armazenamento interno dos dados. A maior parte dos aparelhos mede o módulo do vetor velocidade e a direção do mesmo, e não as componentes de velocidade zonal (u), meridional (v) e vertical (w). A direção do escoamento em relação ao eixo do instrumento é medida por um leme ou pela configuração dos sensores ao longo dos três eixos perpendiculares. A orientação do instrumento com relaçãoao campo magnético terrestre é medida por uma bússola e há necessidade de correção devida à declinação magnética. O monitoramento do campo de velocidade pode ser feito pelo uso de técnicas de fundeio de equipamentos bem como através de perfiladores de correntes. A técnica de fundeio se utiliza de instrumentos como os correntógrafos, os quais podem ser constituídos de rotores ou de sensores acústicos. Instrumentos com sensores eletro-magnéticos são também utilizados. Esta técnica de amostragem de dados necessita também de equipamentos tais como, liberadores acústicos, bóias de meia água, topo e de sinalização. 37 Aa Figuras 4.1 a ,b mostram dois tipos de esquemas de fundeio: Tipo “ U “ e Tipo “ I “. O primeiro é composto por dois ramos interligados por um cabo de fundo. O ramo que contem os instrumentos é chamado ramo principal e o outro ramo é chamado ramo secundário. Normalmente, o fundeio tipo "U" é usado no monitoramento de águas costeiras até 50 / 100 metros de profundidade , e em regiões onde há necessidade de sinalização do fundeio. O segundo tipo de fundeio é composto por um único ramo, que fica totalmente submerso. A possibilidade de manter o ramo submerso minimiza as interferências da superfície no fundeio. Este tipo é rotineiramente usado em águas oceânicas, a partir de 50 / 100 metros, e em regiões onde o fundeio não precisa ser sinalizado. Normalmente conta com um sistema liberador ( Vicentini Neto, comunicação pessoal ). Este sistema está mostrado na Figura 4.2 a. A Figura 4.2 b mostra um conjunto de bóias sinalizadoras e de topo, utilizadas em fundeios. Fig.4.1 – (a) Esquema de Fundeio tipo “U” (b) Esquema de Fundeio tipo “I “ ( Fonte : LIO – USP ) 38 ( a ) ( b) Fig. 4.2 – ( a) - esquerda : liberador acústico direita : detalhe do engate do liberador ( b ) – esquerda: bóias oceanográficas sinalizadoras ; direita: bóias oceanográficas sinalizadoras, ao fundo, e bóias oceanográficas de topo, à frente. ( Fonte : LIO – USP/ Foto:Pimenta ) 39 4. 1 – Instrumentos para Medição de Velocidade 4.1.1 - Instrumentos com Rotores Correntômetro / Correntógrafo A Figura 4.3 mostra um tipo de correntômetro ( Fig. 4.3 a) / correntógrafo (Fig. 4.3 b) com rotor. A intensidade é medida pelo número de rotações do rotor por unidade de tempo. Estes instrumentos são sensíveis à deposições biológicas nas proximidades do rotor, alterando a resposta ou até mesmo travando. Portanto há necessidade de manutenção periódica ou até mesmo substituição do instrumento. Como exemplo, pode-se citar o rotor Savonius o qual consiste de dois meios cilindros ocos, montados sobre um eixo vertical com lâminas planas nas extremidades e tem a vantagem de produzir um grande torque mesmo em correntes pequenas (Pickard and Emery, 1990). O rotor, feito de plástico, é sensível a correntes tão pequenas quanto 2 cm/s. O rotor carrega vários pequenos imãs e assim que cada um passa numa bobina sobre a armação ele induz um pulso de corrente elétrica momentâneamente. O número de pulsos por segundo é proporcional a velocidade da corrente. A direção da corrente é determinada eletricamente com referência a bússola magnética. Os registros são armazenados internamente e recuperados posteriormente via computador. Correntógrafos com rotor Savonius não são adequados para medições em regiões afetadas por movimentos ondulatórios da superfície, particularmente ondas de gravidade ( Castro, comunicação pessoal ). Isso é devido ao chamado “bombeamento de onda “ ( wave pumping ) . A intensidade pode ser aumentada até cinco vezes devido ao bombeamento. O espectro de energia também indica aumento tanto em altas como em baixas frequências. Recomenda-se que estes não sejam usados próximo à superfície, quando a ação das ondas for grande, e também pendurados em bóias de superfície. Outro problema do rotor Savonius é a resposta imprópria em baixas intensidades, o que também acontece com outros rotores, devido ao atrito entre o eixo e o mancal ( apoio do eixo ) . Nos correntógrafos tipo AANDERAA (Fig. 4.3 c ) a intensidade mínima é de 2 cm / s. Entre 2,5 cm/s e 250 cm/s a resposta é linear e neste caso a acurácia da medição é o maior valor entre 1 cm /s e +/- 2 % da intensidade (Castro, comunicação pessoal ) . Calibrações periódicas dos dois sensores ( intensidade e direção ) são necessários. 40 (b) (a) ( c ) Fig. 4.3 – ( a ) - Correntômetro com rotor tipo Savonius ( b ) – Correntógrafo com rotor – SensorData – SD 6000 ( Fonte : LIO – USP/ Foto:Pimenta ) (c ) - Correntógrafo – AANDERAA (Fonte : AANDERAA Instruments A / S) 41 4.1.2 - Instrumentos com Sensores Eletromagnéticos Correntógrafo Os correntógrafos eletromagnéticos são baseados na Lei de Indução de Faraday. A água do mar é um condutor elétrico em movimento. Ao atravessar um campo magnético há geração de uma força eletromotriz diretamente proporcional à intensidade de corrente e perpendicular tanto ao campo magnético quanto à direção da corrente (Castro, 2000).O correntógrafo com dois eixos mede dois componentes de velocidades horizontais. A transformação para coordenadas geográficas é feita utilizando uma bússola interna. A Figura 4.4 mostra um correntógrafo tipo S4, o qual tem sido designado para medir a magnitude e direção verdadeira do movimento da corrente em qualquer meio ambiente oceânico, incluindo áreas de movimento vertical de água e regimes de baixa correntes (InterOcean, 1985). A água escoa através do campo eletromagnético criado pelo instrumento, e consequentemente produz uma voltagem a qual é proporcional a magnitude da velocidade da água. Esta voltagem é então sentida pelos dois pares de eletrodos titânicos localizados simetricamente em cada lado da cápsula esférica. Fig. 4.4 – Correntógrafo com sensor eletromagnético ( Fonte : InterOcean, 1985) 42 4.1.3 - Instrumentos com Sensores Acústicos Correntógrafo Um outro método considerado no desenvolvimento de correntógrafos é “ o tempo acústico de viagem “ . Este princípio é baseado na medida do tempo que uma onda acústica leva para viajar sobre uma distância fixada. O tempo de viagem decresce se a água está se deslocando ao longo do pulso sonoro, e vice-versa. O som é frequentemente enviado via um refletor para minimizar a influência do instrumento sobre o escoamento da água . A Figura 4.5 mostra o 3D-ACM Acoustic Current Meter – Falmouth Scientific, INC. , o qual mede a velocidade da corrente em três dimensões, temperatura da água e, opcionalmente, pode ter um sensor de pressão. Este sistema pode fazer, também, uma interface com um CTD. Detalhes quanto ao instrumento podem ser encontrados no manual do usuário (Falmouth Scientific, INC.) Fig. 4.5 - Correntógrafo com sensor acústico (Fonte: LIO – USP/ Foto:Pimenta) ADCP – Acoustic Doppler Current Profiles - Perfilador Acústico de Correntes por efeito Doppler Uma outra forma de medida acústica das correntes oceânicas tem sido desenvolvidarecentemente – o "Doppler log " ,o qual mede correntes relativa ao movimento do navio ( Pickard and Emery, 1990). O " Doppler log " mede a velocidade do navio pelo envio de um pulso acústico o qual é então refletido de volta ao navio pelas partículas na água, tais como plâncton. O deslocamento "Doppler” do sinal de retorno torna possível calcular a velocidade do navio com relação a água. Inversamente, este mesmo sistema permite medir o movimento da água com relação ao navio cujo movimento pode ser acuradamente 43 calculado através de satélite e informação de radio navegação. Pelo controle do feixe acústico, o sistema "Doppler" reflete a corrente em diferentes profundidades abaixo do navio. Alternativamente, o sistema acústico pode ser sustentado por um bóia ancorada sobre o fundo . O sistema baseado no princípio de funcionamento acima descrito denomina-se ADCP - Acoustic Doppler Current Profilers ( Fig. 4.6) . Em geral, estes sistemas são capazes de perfilar as correntes a uma distância de 300 m do instrumento. Usando um suporte com quatro sensores , um ADCP é capaz de resolver velocidade e direção dos movimentos da água com relação ao sensor. Para uso abordo de navio, todos os dados registrados precisam ser corrigidos dos movimentos do navio determinados através de satélite ou outro posicionamento de radio comunicação. Atualmente, a maioria das embarcações de pesquisas oceanográficas transportam um sistema ADCP abordo operando-o durante um cruzeiro. Detalhes deste instrumento podem ser encontrados em RD Instruments (1996). Fig. 4.6 – ADCP – Acoustic Doppler Current Profilers (Fonte : RD Instruments ) Perfilador PEGASUS O campo de velocidade pode ser monitorado pelo uso de instrumentos Lagrangeanos para perfilagem, tal como, o perfilador PEGASUS (Fig. 4.7 a) .A descrição do sistema PEGASUS que se segue é baseada em Nonato (1997). O sistema PEGASUS é um conjunto de equipamentos que permite a medição do perfil de velocidade da corrente em áreas profundas do oceano. Seu elemento principal é o PEGASUS, o qual é lançado de uma embarcação. 44 Na realização de um levantamento utilizando este sistema, inicialmente instalam-se no fundo oceânico dois transponders acústicos (Fig. 4.7 b) , distantes entre si de alguns quilômetros. Os transponders são instrumentos que, ao receberem um pulso acústico, em uma frequência específica, transmitem um segundo pulso em uma frequência diferente ( específica para cada transponder ). A função dos transponders é atuar como referência de posição para o PEGASUS. Uma vez fundeados os transponders e determinada com precisão sua posição e profundidade, lança-se o PEGASUS ao mar. Ao ser lançado, o instrumento incorpora um lastro, fazendo com que o mesmo apresente flutuabilidade negativa e acarretando sua lenta descida na coluna de água. À intervalos de cerca de 15 s, o instrumento emite um pulso sonoro. Este pulso é recebido pelos transponders , os quais transmitem pulsos de resposta; estes são, por sua vez, recebidos pelo PEGASUS (Fig. 4.8 b – direita – painel inferior ). Os intervalos de tempo decorridos entre a transmissão do pulso original e o recebimento das duas respostas são armazenados internamente ao PEGASUS, juntamente com os valores da temperatura e pressão locais. Uma vez atingida uma profundidade pré-estabelecida, um sistema de liberação por pressão causa a soltura do lastro. Caso tal não ocorra, um sistema de segurança, composto por um elemento corrosível, permite a liberação do lastro após um período de algumas horas. O PEGASUS passa, neste instante, a ter flutuabilidade positiva, retornando à superfície. Chegando à superfície, o instrumento é recolhido e os dados armazenados são transferidos à um computador; os transponders não são recuperáveis. O tempo total de permanência do aparelho na água é de algumas horas. Sua operação é esquematizada pela Figura 4.8 b (direita – painel superior) Conhecendo-se os tempos transcorridos entre a transmissão e a recepção dos pulsos sonoros e pressão local, para cada ponto do percurso do aparelho, e também as posições dos transponders, é possível determinar, com grande precisão, a posição do PEGASUS. Os perfis de velocidade horizontal, com exatidão de 1 cm/s, são estimados a partir da trajetória do PEGASUS. Os transportes de volume podem ser calculados diretamente dos perfis. Segundo Spain et al (1981), o perfilador PEGASUS se caracteriza por ser compacto, levc, barato e fácil de ser usado no mar. 45 ( a ) ( b ) Fig. 4.7 - ( a ) – Perfilador PEGASUS ( b ) – Transponder ( Fonte: LIO – USP/ Foto:Pimenta ) 46 (a ) (b) Fig. 4.8 – ( a ) – Lançamento do perfilador PEGASUS. ( b ) – esquerda : Esquema da estrutura do perfilador PEGASUS direita : Esquema do lançamento / operação do perfilador PEGAGUS / Transponders ( Fonte : LIO – USP ) Sensores conector para comunicação câmara estanque subsistema eletrônico baterias transdutor acústico liberador por pressão elemento corrosível lastro Perfilador de correntes PEGASUS Estrutura do perfilador t2 t2 t1 t1 Tr1 Tr2 t1, t2 - tempo de propagação do pulso sonoro entre o PEGASUS e um transponder PEGASUS transponder corrente Operação do perfilador Comunicação acústica entre o perfilador e os transponders (método para posicionamento do PEGASUS) Laboratório de Instrumentação Oceanográfica Instituto Oceanográfico - USP 47 5 – NÍVEL DO MAR 5.1 – Marégrafo e Ondógrafo Uma outra importante variável a ser medida para estudos dos oceanos é a varição da superfície do mar causada pela ação das marés. A seguir são apresentados algumas características dos Marégrafos de Bó ia e Contrapeso e Marégrafos / Ondógrafos de Pressão. Marégrafo de Bóia e Contrapeso Marégrafos de bóia e contrapeso são equipamentos de concepção mais antiga, próprios para instalação em estruturas fixas, tais como piers (Fig. 5.1a). Este instrumento mede o deslocamento vertical de uma bóia colocada na superfície do mar. Um sistema de cabo e contrapeso permite o acoplamento da bóia a uma polia ligada a um registrador mecânico ou eletrônico ( Fig. 5.1b). Assim, o movimento da bóia acarreta alterações na posição angular da polia, alteração esta diretamente proporcional à variação de posição da bóia. A Figura 5.2 mostra o registrador de maré. Com a finalidade de evitar que as medições sejam influenciadas por sinais de alta frequência, como ondas, a bóia é usualmente instalada dentro de um tubo fechado, com pequeno orifício, cerca de alguns milímetros de diâmetro, para ligação com o ambiente marinho externo. Este pequeno orifício não permite a passagem de elevados fluxos de água entre o interior do tubo e o meio externo, agindo como um filtro passa-baixas. 48 Laboratório de Instrumentação Oceanográfica - IOUSP (a) (b) Fig. 5.1 – (a) Esquema de instalação de um marégrafo de bóia e contrapeso (b) Detalhes do marégrafo de bóia e contrapeso ( Fonte: LIO – USP ) 49 5.2 – Registrador de maré ( Fonte: LIO – USP/ Foto:Pimenta ) Marégrafo / Ondógrafo de Pressão Marégrafosde pressão ( 5.3) podem ser utilizados tanto em regiões costeiras quanto em regiões oceânicas, e têm a vantagem de fornecer os dados na forma digital.O equipamento possui um computador interno, com baterias e memória. Esta parte eletrônica fica disposta dentro de um tubo metálico estanque. Os sensores de pressão ficam dispostos na parte exterior do equipamento. Por ser um sensor de pressão, e consequentemente medidor de variação do nível do mar, alguns destes equipamentos estão aptos para obter medidas tanto de marés quanto de ondas (Fig. 5.4). 50 Fig. 5.3 – Marégrafo de Pressão ( Fonte: LIO – USP/ Foto:Pimenta ) Fig. 5.4 – Marégrafo / Ondógrafo de Pressão ( Fonte: AANDERAA Instruments A / S) O equipamento pode ser fundeado tanto no fundo oceânico quanto em estruturas fixas próximo à superfície. Em fundeios costeiros rasos, o equipamento pode ser fundeado via mergulhadores autônomos. Por outro lado, em fundeios oceânicos o equipamento pode ser fundeado isoladamente ou em conjunto ao fundeio de correntógrafos. 51 A profundidade recomendada para medição de dados de onda é entre 5 e 15 metros, enquanto para marés pode ser instalado até grandes profundidades ( Fig. 5.5) . O instrumento pode operar continuamente, amostrando os dados ou trabalhando em ciclos. Estes ciclos são engatilhados por um relógio interno. O tempo de gravação pode ser ajustado entre 0,5 e 24 horas. Fig. 5.5 – Esquema de fundeios de marégrafo / ondógrafo de pressão. ( Fonte: AANDERAA Instruments A / S) No estudo de ondas é recomendável uma taxa de amostragem ao redor de 2 medidas / segundos. A análise espectral dos dados é realizada pelo próprio equipamento e a partir destas análises são obtidos parâmetros estatísticos como altura significativa, altura máxima, período sgnificativo, entre outros. Quanto às medidas de marés estima-se uma média de cada 40 segundos de registro. A vantagem do máregrafo de pressão é que além dos dados já estarem na forma digital e pré- processados, ainda podem ser obtidos em tempo real para regiões costeiras. Neste caso, os dados são transmitidos por cabo para uma estação, conforme esquematizado na Figura 5.5. Se o instrumento opera armazenando os dados, então a manutenção do equipamento vai depender da taxa de amostragem da coleta de dados pelo sensor. 52 6 -CONSIDERAÇÕES FINAIS Os aspectos, anteriormente, abordados tiveram a finalidade de apresentar algumas características e princípios de funcionamento de alguns instrumentos usados em Oceanografia. Como se sabe, qua lquer observação das características da água do mar, feita através dos referidos instrumentos, deve ser avaliada de tal forma a corrigir eventuais erros inerentes ao próprio meio de amostragem. Com isto, pode-se obter dados de qualidade para avaliar aspectos relacionados, por exemplo, aos campos da Oceanografia Física Observacional , Oceanografia Física Descritiva ou Oceanografia Dinâmica. 53 AGRADECIMENTOS A idéia inicial da elaboração desta Apostila teve sua origem quando se pensou em realizar uma síntese dos relatórios referentes a aula prática no LIO, durante a Disciplina IOF – 5836 – Métodos Experimentais de Estudo da Circulação Oceânica, ministrada em 1999. Desta forma, agradecimentos são feitos à esta Turma pela consulta de seus relatórios. Aos Engenheiros Francisco Luiz Vicentini Neto e Luiz Viana Nonato e à Engenheira Maria de Lourdes Bastianello Júnior pelas sugestões e revisão técnica do texto. Aos Técnicos Frederico Ribeiro de Santana, Gilberto Ivo Sarti, Wilson Soares de Macedo Júnior e Wilson Natal de Oliveira pelo apoio dado na demonstração dos princípios de funcionamento de instrumentos oceanográficos. Ao André Campos Kersten Schmidt e Leandro Calado pela colaboração no processamento de ilustrações. 54 REFERÊNCIAS AANDERAA Instruments A/S, 1988. http://www.aanderaa.com/oceanatacollect.htm Braga, E.S. s.d. Notas de aulas- IOF-209 – Ciclos Biogeoquímicos dos Sais Nutrientes nos Oceanos. . Instituto Oceanográfico. Universidade de São Paulo . São Paulo. SP. Castro, B. M. 2000 .Notas de aulas – IOF – 5850-1 - Oceanografia Física Observacional . Instituto Oceanográfico. Universidade de São Paulo . São Paulo. SP. Falmouth Scientific, INC. 3DACM97.Configuration and Acquisition Software. User Manual. GMMFG. & Instrument Corp. Manufacturing Scientific Instruments. New York. General Oceanics, 1990. Model 1015 Rosette Operating Manual . www.generaloceanics.com Gordon, R.L. 1996. ADCP Principles of Operation:A Pratical Primer, RD Instruments. Guildline Operating Manual for Model 8400 A “ AUTOSAL” InterOcean systems, inc. 1985. CATALOG.San Diego. 185p. Ito, R.G. s.d. Notas de aulas- IOF-208 – Gases Dissolvidos na Água do Mar. Instituto Oceanográfico. Universidade de Sào Paulo . São Paulo. SP. Miranda, L.B. 1998. Análise de Massas de Água dos Oceanos. Apostila do Curso IOF – 5812 - Análise de Massas de Água dos Oceanos. Instituto Oceanográfico. Universidade de São Paulo. São Paulo. 200 p. Montone, R. C. s.d. Notas de aulas- IOF-212 – Fundamentos de Oceanografia Química. Instituto Oceanográfico. Universidade de São Paulo . São Paulo. SP. Morgan, P.P. 1994. Seawater. A Library of MATLAB Computational Routines fo r the Properties of Seawater. Version 1.2. CSIRO Marine Laboratories Report 22. Austrália. 29p. Neumann, G. ; Pierson, W.J.Jr. 1966. Principle of Physical Oceanography. Prentice – Hall, INC.88-112. Nonato, L.V. 1997. Aplicação de Algorítimos Genéticos no Planejamento de Levantamentos Oceanográficos. Tese de Doutorado. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo. SP. 163p. 55 Nonato, L . V. 1997. Operação do CTD SeaBird SeaCat. Laboratório de Instrumentação Oceanográfica. Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo. São Paulo. SP. 16 p. Nonato, L . V. 2000. CTD – Operação e Processamento de Dados . Laboratório de Instrumentação Oceanográfica. Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo. São Paulo. SP. 14 p. Pickard, G.L; Emery, W.J. 1990. Descriptive Physical Oceanography. An Introduction. 5th Ed. PERGAMON PRESS. 92- 53. Pimenta, F.M. 1999. Fotografias de Equipamentos e Instrumentos Oceanográficos. Laboratório de Instrumentação Oceanográfica - LIO . Instituto Oceanográfico. Universidade de São Paulo . São Paulo. SP. RD Instruments 1996. Acoustic Doppler Current Profilers : Principles of Operation. A Practical Primer. San Diego. 51p. http://www.adcp.com/products.html Rosemount, Inc. 1988. Beckman Industrial Division.Instruction Manual. Model RS10 Portable Induction Salinometer. 114p. Signorini, S.R.; Miranda, L. B. de; Evans, D.L.; Stevenson, M.R. & Inostroza, H.M. 1989. 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