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Trabalho de antropologia finalizado

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Trabalho de Antropologia: Os usuários do Tinder sob uma ótica multidisciplinar.
Alunas: Aline Munhoz Marques
Cassiane Talita da Silva Vieira
Juliane Fernandes Ferreira
Shayla Calil de Barros
Professor: Rodrigo Ayupe
Curso: Psicologia
AGOSTO/2015
Índice
Introdução ...................................................................................................................... 3 
Como os homens se comportam no Tinder ................................................................. 4
Como as mulheres se comportam no Tinder ............................................................... 4
Primeiro encontro .......................................................................................................... 5
Análise multifocal dos resultados obtidos na pesquisa de campo ............................. 5
Conclusão ....................................................................................................................... 8
Bibliografia ..................................................................................................................... 9
Introdução
	A partir de uma preocupação em direcionar nossa pesquisa antropológica a uma temática contemporânea e a um assunto duplamente original e passível de um olhar crítico, optamos por investigar as novas tecnologias e a maneira como a sociedade as pensa e utiliza. Preferimos dar um enfoque especial ao aplicativo Tinder, que possui a proposta de conectar pessoas próximas a você, possibilitando a criação e desenvolvimento de diversos tipos de relacionamento. Em seu primeiro acesso é necessário logar com uma conta do Facebook e criar um perfil com suas preferências e fotos. A partir desse momento, o usuário deverá escolher itens como idade, sexo e distância das pessoas com quem quer se relacionar. Ao se deparar com outros perfis que se encaixam na descrição supracitada, pode-se optar por deslizar para direita, isto é, dar like (pressionar o coração verde) ou então deslizar para a esquerda (pressionar o “X”) caso se queira dispensar a pessoa. Quando ocorre uma troca de likes mútuos, o aplicativo notifica a combinação e a partir daí, podem iniciar uma conversa.
	Em nosso trabalho utilizamos o método da observação participante proposto por Malinowski em seu livro Os Argonautas do Pacífico Ocidental, onde o pesquisador se infiltra em seu próprio campo de pesquisa, vivendo, observando e aprendendo com o pesquisado. Portanto, optamos por criar perfis no Tinder com o objetivo de experienciar a utilização do programa e como se estabelecem conversas e relacionamentos através dele. Além disso, realizamos entrevistas com usuários do aplicativo, para ampliar nosso ponto de vista e acrescentar novas informações ao estudo. Para Malinowski, se deve orientar a pesquisa etnográfica por uma questão, que deve ser elaborada com base em teorias e conhecimentos acumulados sobre o tema. Então, direcionamos nosso trabalho à seguinte pergunta: De que maneira o Tinder se torna uma ferramenta necessária em nossa sociedade e como essa pode ser analisada com base nas informações adquiridas com o uso do aplicativo?
Para nos auxiliar com a análise, escolhemos como base teórica a obra de Badiou. Freud e de Margaret Mead, respectivamente uma ótica filosófica, psicanalítica e antropológica, com o intuito de investigar nosso tema por contextos disciplinares diferentes. Dessa forma, pudemos criar um vínculo em nosso trabalho com a Antropologia, Filosofia e Psicanálise, evidenciando o caráter interdisciplinar que pode existir entre esses três ramos do conhecimento.
Como os homens se comportam no Tinder
Em nosso trabalho, foi notório que os homens* não só dão mais likes do que as mulheres, como o fazem sem muitos critérios. Atribuímos a esse comportamento observado a denominação de “metralhadora de likes”.[1: *É importante ressaltar que nesta pesquisa de campo, nós consideramos homens como ungidos falicamente e as mulheres como ausentes de falo, mas não necessariamente em seu aspecto biológico e sim, pelo ponto de vista psicanalítico.]
Vale mencionar que os indivíduos do sexo masculino são os primeiros a puxar conversa, apesar disso, não procuram um relacionamento duradouro e acabam agindo de maneira lúdica compartilhando suas conversas e fotos com amigos. Essa atitude parece se refletir na hora de chamar a mulher para sair, pois da mesma forma que são rápidos para conversar, também possuem pressa para conhecer a pessoa.
Devido à timidez dos homens, eles se veem mais seguros para pedir fotos de conteúdo sexual através dessa plataforma de comunicação. Todavia, a mesma não possibilita o envio a uma única pessoa e por isso, faz-se necessário a utilização de meios de comunicação alternativos como: WhatsApp, Skype, Facebook e Instagram. Em geral essas redes sociais são utilizadas para criar uma proximidade maior entre os usuários, contudo pode ter como objetivo apenas conseguir seguidores.
Eles costumam conversar constantemente durante um período, entretanto, com o passar do tempo, a maioria das conversas acaba se tornando rápida, curta e ainda mais superficial.
Também os homens têm o costume de apelidar as mulheres, chamando-as de gata, linda, morena, etc.; e ocorre frequentemente o esquecimento dos dados anteriormente citados por elas, como o local onde ela mora, dentre outros.
Como as mulheres se comportam no Tinder
	As mulheres em geral gostam do processo de conquista, mesmo sabendo que se trata de um meio objetivo como o Tinder. Elas também procuram sexo casual, mas isso acontece em proporção bem menor do que nos homens. 
	É comum de se encontrar perfis de casais que procuram um relacionamento a três (sendo a mulher que tem a iniciativa de procurar outra mulher para realização do ménage à trois). Já a busca pelo sexo a três com uma iniciativa masculina, ou envolvendo dois homens e uma mulher não se revela tão comum. Além disso, é notório que as mulheres preferem os homens que possuem fotos com animais de estimação e bebês (houve um conflito no resultado encontrado, algumas preferem que a criança seja um irmão ou sobrinho, outras preferem que seja seu filho).
	Assim como os homens, as mulheres buscam uma forma de se entreter ironicamente e elas requisitam grande atenção daqueles com os quais elas conversam. Para elas, a conversa é um ponto realmente crucial, pois se o homem se torna repetitivo, sem assunto ou um pouco distante, as mulheres tendem a perder o interesse.
	Outro quesito que se mostra importante é o correto uso da Língua Portuguesa, já que erros ortográficos e de concordância são um dos motivos pelos quais elas recusam alguém com que estão conversando.
Primeiro encontro
Após uma conversa onde ambos estejam em acordo de sair, normalmente o homem faz o convite e esses encontros ocorrem em locais públicos, tais como: cinema, shopping e barzinhos.
Usualmente, os homens são aqueles que se dispõe a pagar a conta, sendo alguns até impassíveis nessa decisão, não deixando a mulher dividir os custos. Em contrapartida, as mulheres devido aos seus instintos sexuais aflorados, buscam analisar os atrativos físicos e observam especialmente a ungência fálica.
Logo após o encontro, ambos costumam mentir sobre a maneira como conheceram as pessoas com quem saíram, especialmente para a família.
Análise Multifocal dos resultados obtidos na pesquisa de campo
	Alain Badiou, um dos filósofos mais conhecidos da atualidade, analisou certa vez em seu livro Elogio ao Amor o papel de um site de relacionamentos quanto ao que concerne ao amor. Para ele, o Meetic ao traçar seu perfil, avaliar seus gostos e desejos e com base neles achar seu par perfeito, acaba por se posicionar como uma ameaça ao amor. Essa esquematização acaba por retirar todo o acaso e todo o risco do encontro com o outro. Podemos estender essa interpretação ao caso do Tinder, que por ter como principal proposta achar alguém que condiga com suas expectativas, acaba por facilitar demais a procura e acaba comtodo o esforço que fazemos para conhecer uma pessoa. O Tinder, assim como o Meetic, propõe uma visão securitária do amor, aonde não precisamos nos expor ao desconhecido, não precisamos nos aventurar em alguma busca sem possibilidade de retorno. Bastaria mover os dedos para esquerda ou para a direita para encontrar seu par, no conforto proporcionado pelo mundo virtual. Portanto, ao analisarmos o aplicativo segundo a ótica proposta por Badiou, o Tinder estaria por nos incutir uma visão despreocupada, desinteressada do outro; as pessoas se tornam dispensáveis, na medida em que se é tão fácil arranjar substitutos.
	Em relação aos dados obtidos, algumas considerações nos chamaram a atenção: os homens dão mais likes que as mulheres e sem muito critério; eles são os primeiros a puxarem conversa, são mais apressados quanto a iniciativa sexual e se dispõe a pagar a conta. Além do visível caráter machista que esses dados trazem quanto a nossa sociedade atual, já que é o homem que toma a frente da conquista, ao mesmo tempo que a mulher assume um papel passivo, podemos averiguar alguns desses comportamentos também sob uma perspectiva psicanalítica. Segundo a teoria de Freud, os homens, para saírem do Complexo de Édipo, devem passar pelo processo de castração, ou seja, uma saída oferecida pela figura paterna onde o filho deve abrir mão do desejo pela Mãe, ganhando uma liberdade sexual em que pode desejar todas as outras mulheres. Já a menina, ao notar a diferença sexual com os homens, se torna obrigada a renunciar à masculinidade, e a assumir sua feminilidade. Contudo, a menina não aceita o fato de não possuir um falo, voltando-se para a figura paterna, desejando que essa lhe dê um falo substitutivo do pênis: um filho. Ao desejar o pai e assumir sua mãe como rival, a menina se transforma em mulher, ficando presa no Complexo de Édipo, enquanto o menino se transforma em homem saindo dele. As consequências desse processo se revelam nas considerações obtidas em nossa pesquisa: os homens por saírem do Complexo de Édipo desejam mais que as mulheres, e pela amplitude desse desejo acabam o explorando superficialmente, levando a pressa em iniciar um relacionamento sexual e as conversas vazias e curtas por parte desses.
	Buscando uma perspectiva antropológica da questão suscitada sobre a diferença comportamental entre homens e mulheres, achamos em Margaret Mead uma quebra dos ideais conservadores que estipulam o papel feminino e masculino na sociedade. Ao investigar três tribos primitivas, os Arapesh, Mundugumor e Tchambuli, demonstrou como o que consideramos um temperamento tipicamente feminino ou masculino é fruto de uma construção social, e não de um determinismo biológico. A questão do papel do gênero advém de regras socialmente estabelecidas e de contextos culturais. Portanto, segundo a visão de Margaret, os resultados obtidos em nossa pesquisa no Tinder, são um reflexo da construção do papel da mulher e do homem em nossa sociedade. As mulheres não aguardam uma iniciativa masculina para iniciar uma conversa no Tinder porque sua condição biológica assim o diz. Há uma construção sociocultural histórica do papel da mulher como passiva, afável e frágil, que a força a cumprir esses padrões. Da mesma maneira, o homem tem um papel a cumprir, o de determinado, forte e inflexível. Quanto a sexualidade, a sociedade reprime muito a demonstração dos instintos sexuais femininos, se tornando quase um tabu. Os meninos são até incentivados pelo pais a buscarem maneiras de aliviar suas pulsões sexuais, enquanto as meninas são privadas da liberdade de falar sobre sexo com a família. Entretanto, Mead vem para mostrar como em outras sociedades a imagem do homem e da mulher são completamente diferentes. Na tribo Tchambali, por exemplo, há uma inversão dos papeis a que estamos habituados: os homens passam o tempo se ornando e se preocupando com aspectos considerados mais fúteis, em contraposição as mulheres são trabalhadoras e práticas. Portanto, se faz necessário uma mudança nas leis e regras sociais para que ocorra uma modificação nos papéis atribuídos aos gêneros.
Conclusão
	Através das informações adquiridas em nossa pesquisa de campo na plataforma Tinder e das análises realizadas com base em teóricos da Filosofia, Psicanálise e Antropologia, pudemos identificar e investigar o panorama atual em que vivemos e almejamos ter respondido a pergunta proposta na introdução. O papel do Tinder se mostrou de suma importância não só para emergirem questões relativas aos gêneros, às novas tecnologias e à sexualidade, mas como se mostrou uma ferramenta com potencial de modificar os relacionamentos e os preconceitos tradicionais. Constatamos com os resultados que a nossa sociedade, mesmo com as recentes lutas feministas, ainda se mostra ultrapassada em certos ideais, revelando uma falsa liberdade sexual. Por fim, a crítica quanto ao aspecto superficial das relações estabelecidas virtualmente diz menos sobre o aplicativo, do que sobre o contexto cultural dos usuários, demonstrando que posteriormente o Tinder possa se tornar uma ferramenta útil aqueles que tem a esperança de acharem um relacionamento mais completo.
BIBLIOGRAFIA
BADIOU, A. e TRUONG, N. Elogio ao Amor [2013]
FREUD, S. Três ensaios sobre a sexualidade [1905]
FREUD, S. Algumas consequências psíquicas da diferença anatômica entre os sexos [1925- 1931]
FREUD, S. Novas conferências introdutórias sobre Psicanálise [1932-1933]
MALINOWSKI, B. Argonautas do Pacífico Ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné melanésia [1922]
MEAD, M. Sexo e Temperamento em Três Sociedades Primitivas [1935]

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