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TEORIA E PRÁTICA DA NARRATIVA JURIDICA Classificação dos fatos Narrar significa mostrar, no texto, a ação de um personagem, que opera uma transformação em seu meio. Aquele que escreve o texto deve definir, dentre os fatos que vai narrar: os que são juridicamente relevantes; os que contribuem para a compreensão dos fatos juridicamente relevantes; os que dão ênfase aos outros fatos, mais importantes e os que satisfazem a curiosidade do leitor ou despertam interesse na leitura. Os fatos juridicamente relevantes são aqueles que importam diretamente para a aplicação da norma jurídica: um acidente de automóvel, por exemplo. As denúncias penais, normalmente, vão pouco além dos fatos juridicamente relevantes. Os fatos que contribuem para a compreensão dos fatos juridicamente relevantes são os que dão o contexto em que se desenrolaram. São elementos fáticos que não impõem, necessariamente, uma conseqüência jurídica, por eles mesmos. Exemplo: o motorista guardava distância do veículo que vinha à sua frente. Entre os fatos relevantes e os secundários, deve-se procurar responder à estas questões: O quê - o fato, a ação. Exemplo: o acidente. Quem - os personagens. Exemplo: dois motoristas; autor e réu. Como - o modo como se desenrolou o fato. Exemplo: de onde vinham, para onde iam, mecânica da acidente. Quando - o momento ou a época em que se deu o fato. Exemplo: na noite do dia 15 de maio de 2003. Onde - o local onde se deu o fato. Exemplo: na avenida 23 de Maio. Por quê - as razões desencadeadoras do fato. Exemplo: pista molhada, velocidade excessiva. Por isso - a conseqüência dos fatos. Exemplo: danos causados ao veículo. Os fatos que dão ênfase aos demais devem ser bem sopesados, antes de serem inseridos no texto: podem tornar a narrativa longa e desinteressante. O ideal do texto narrativo é criar uma expectativa no leitor, fazer progredir o conflito de modo a prender a atenção de quem lê. Para esse fim alguns fatos que não estão no cerne da narrativa podem auxiliar: “o automóvel, um potente Audi A4, turbinado, feito para as autobahns alemãs, antes de colidir com o automóvel do autor, vinha ziguezagueando na avenida, até que…” Os fatos que satisfazem a curiosidade do leitor têm que ser ainda mais criteriosamente escolhidos: a idade dos motoristas, o que faziam antes do acidente, etc.. A narrativa, enfim, não é só um encadeado objetivo de fatos. O advogado mais atento aproveita-se dela para, sem escapar à verdade, iniciar a exposição do seu ponto de vista, e começar a persuadir o leitor. A par da narrativa dos fatos - que terá lugar, no mais das vezes, apenas nas iniciais e nas contestações e defesas - o advogado não pode, nunca, deixar de enfrentar fatos narrados pela parte contrária. Pode tentar tirar-lhes a relevância, mas deve enfrentá-los, não só para que não fiquem incontroversos, mas especialmente para demonstrar a força dos seus próprios argumentos.
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