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05/11/2009 1 Comecemos pelas definições Definições Um estado clínico psiquiátrico: Corresponde a um conjunto de sintomas e sinais que Não existiam anteriormente em dado indivíduo. Afetam particularmente uma área do funcionamento mental (memória, juízo e raciocínio, percepção, etc.). Um transtorno da personalidade: Corresponde a um conjunto de traços e atitudes. Têm um caráter permanente. Contribuem para o desajustamento repetitivo de determinado indivíduo. Definições Na prática clínica é útil usar a seguinte fórmula: Significa: a “Doença” varia em função do “Stress” e da “Personalidade”. Quando um indivíduo descompensa perante fatores insignificantes de stress, a ênfase deve ser posta num “defeito da personalidade”. Não se esqueçam! Definições - A Personalidade pode ser definida como a totalidade dos traços emocionais e do comportamento que caracterizam a maneira habitual de viver de determinada pessoa. - Um Transtorno da Personalidade corresponde a: padrões mal-adaptativos de comportamento, profundamente marcados, que usualmente se reconhecem a partir da adolescência e se mantém ao longo da vida adulta. Definições Eixo II da classificação multiaxial A DSM-IV-TR (2000) da A.P.A., estabelece seis critérios diagnósticos para um Transtorno de Personalidade. 05/11/2009 2 Definições A. - Um padrão persistente de experiência interna e de comportamento que se desvia marcadamente das expectativas da cultura onde o indivíduo se insere. Este padrão manifesta-se em duas ou mais do que duas das áreas seguintes. - Cognição: forma do indivíduo perceber e interpretar os acontecimentos, as outras pessoas e a si mesmo. - Afetividade: conjunto, intensidade, labilidade e adequação da resposta emocional. - Funcionamento interpessoal. - Controle do impulso. Definições B. - O padrão persistente é inflexível e estende-se a uma ampla variedade de situações sociais e pessoais. C. - Este padrão persistente leva a uma alteração ou a um prejuízo clinicamente significativo nas áreas de funcionamento social ou profissional ou outras áreas igualmente importantes. D. - Este padrão é estável e de longa duração e o seu começo pode ser reconhecido pelo menos desde a adolescência ou início da idade adulta. Definições E. - O padrão persistente não pode ser explicado como uma manifestação ou conseqüência de outro transtorno mental. F. - O padrão persistente não pode ser devido aos efeitos fisiológicos diretamente determinados por dada substância (abuso de drogas ou medicação) ou por uma situação médica geral (por exemplo, um traumatismo crânio-encefálico). Definições • Ego-sintônicos: aceitáveis para o EGO; • Rigidez; • Fixação do desenvolvimento = imaturo. Consideremos agora os agrupamentos de transtornos da personalidade Agrupamentos A DSM-IV-TR (2000) engloba os diversos transtornos da personalidade em 3 Clusters distintos: A, B e C. 05/11/2009 3 Agrupamentos Cluster A Corresponde ao grupo excêntrico. Engloba três tipos de transtornos: Personalidade Paranóide Personalidade Esquizóide e Personalidade Esquizotípica Agrupamentos Cluster B Corresponde ao grupo dramático. Engloba quatro tipos de transtornos: Personalidade Histriônica Personalidade Borderline Personalidade Narcísica e Personalidade Anti-social Agrupamentos Cluster C Corresponde ao grupo “com medo”. Engloba três tipos de transtornos: Personalidade Obsessivo-Compulsiva (anancástica) Personalidade Evitante (esquiva) e Personalidade Dependente Vamos descrever os diversos tipos de transtornos da personalidade Transtornos da Personalidade Cluster A O grupo excêntrico, esquisito. Engloba três tipos de transtornos: Personalidade Paranóide Personalidade Esquizóide e Personalidade Esquizotípica 05/11/2009 4 Personalidade Paranóide Corresponde a pessoas que: - São muito desconfiadas e ficam facilmente ofendidas (Casey e Kelly, 2007). - Suspeitam, sem base de apoio suficiente, que os outros os tentam explorar, lesar ou enganar. - Têm dúvidas injustificadas sobre a lealdade ou confiança que podem ter em amigos ou associados. - Têm receio em transmitir aos outros qualquer informação, com medo de vir a ser utilizada contra si. - Interpretam acontecimentos ou observações inofensivas como sendo uma ameaça que lhes é dirigida. Personalidade Paranóide Corresponde a pessoas que: - Percebem que há ataques contra o seu caráter ou reputação que não são aparentes para as outras pessoas; reagem colericamente e contra-atacam. - Desenvolvem facilmente ciúme mórbido a respeito do cônjuge ou companheira(o) sexual e desconfiam das intenções dos outros a este respeito. - Envolvem-se facilmente em querelas judiciais por motivos relativamente insignificantes. - Devido à sua maneira de ser os amigos tendem a afastar-se. Personalidade Paranóide - Prevalência: 0,5 a 2,5%. - Diagnósticos diferenciais: transtorno delirante, esquizofrenia paranóide e outros transtornos da personalidade. - Tratamento: AP em baixas doses e psicoterapia individual. Personalidade Esquizóide Corresponde a pessoas que: - Têm pouco interesse no relacionamento interpessoal, inclusive fazer parte de uma família. - São introspectivos, com maior interesse pela filosofia ou pela arte do que pelas pessoas em geral. - Não constituem relacionamentos de longa duração e preferem atividades isoladas. - São indiferentes aos elogios ou críticas dos outros. - Têm pouco interesse em qualquer envolvimento sexual com outra pessoa. Personalidade Esquizóide Corresponde a pessoas que: - Revelam frieza emocional, distanciamento dos outros e uma afetividade superficial. - Para além dos familiares em primeiro grau, não têm amigos ou confidentes. - Prevalência: 7,5 %. - Tratamento: semelhante a personalidade paranóide. 05/11/2009 5 Personalidade Esquizotípica Corresponde a uma pessoa estranha, com um discurso vago, circunstancial, sobrelaborado ou estereotipado. Distancia-se dos outros e gosta de se isolar. Contudo “sente” que desempenha um papel no mundo em que vive e, até certo ponto, é capaz de estabelecer alguns relacionamentos interpessoais. Em certas alturas sente-se desprendida do mundo, manifesta sintomas de despersonalização e maior isolamento. Nestes períodos comunica de uma forma mais estranha com os outros e revela um afeto inadequado. Personalidade Esquizotípica Pode desenvolver idéias de referência e crenças estranhas que não chegam a ser delirantes. Costuma manifestar um pensamento mágico que influencia o comportamento: acredita em fenômenos de telepatia, de clarividência e desenvolve fantasias bizarras. O comportamento ou a aparência tornam-se estranhas, excêntricas ou peculiares. Revela experiências perceptivas pouco comuns, nas quais se incluem ilusões corporais. - Prevalência: 3%, sendo maior em famílias de esquizofrênicos. Transtornos da Personalidade Cluster B O grupo dramático, emotivo, instável. Engloba quatro tipos de transtornos: Personalidade Histriônica Personalidade Borderline Personalidade Narcisista e Personalidade Anti-social Cheguei! Personalidade Histriónica Caracteriza-se por: - Um padrão de emocionabilidade excessiva e busca de atenção. - Surge no início da idade adulta e revela-se pelo menos em 5 dos contextos que a seguir vão ser indicados. 05/11/2009 6 Personalidade Histriónica - A pessoa sente-se desconfortável nas circunstâncias em que não se torna o centro das atenções. - A interação com os outros caracteriza-se frequentemente por um comportamento inadequado, sexualmentesedutor ou provocativo. - Revela uma oscilação rápida de emoções, que são usualmente de natureza superficial. - Utiliza habitualmente a aparência física para chamar a atenção sobre si. Personalidade Histriônica Se acrescenta ainda: - Um estilo de falar que procura impressionar os outros e que costuma ser pobre em pormenores. - Um estilo de dramatização pessoal, teatralidade e expressão exagerada das emoções. - Sugestionabilidade, sendo uma pessoa facilmente influenciada pelos outros ou pelas circunstâncias. - Considera as interações pessoais mais íntimas do que aquilo que realmente são. Personalidade Histriônica A estes aspectos podem ainda associar-se as características de: - Egocentricidade - Auto-indulgência - Um desejo permanente de ser apreciada, - Sentir-se facilmente ferida nos seus sentimentos - Um comportamento manipulativo, freqüentemente utilizado para atingir os seus fins. Personalidade Histriônica • Prevalência: 2 a 3%. • Mais comum em mulheres que homens. • Psicodinâmica: – Fantasia, emotividade e estilo dramático; – Defesas comuns: regressão, identificação, somatização, conversão, dissociação, negação, externalização; – Identificação falha e relacionamento ambivalente com genitor do sexo oposto; – Fixação em nível genital primitivo; – Traços orais proeminentes; – Medo da sexualidade, apesar de muito sedutores. Não são nada fáceis estes casos! 05/11/2009 7 Classificação O tipo de Personalidade Borderline apareceu assinalado pela primeira vez, com 8 descritores considerados típicos, na DSM-III, de 1980, com o código número 301.83. Em 1992 surge igualmente na CID-10, da OMS, onde lhe corresponde o código número F60.31 Reaparece como um dos 10 transtornos da personalidade na DSM-IV, de 1994 e na DSM-IV-TR, de 2000, contendo agora 9 descritores. Corresponde-lhe o código anterior: 301.83. Descrição Krawitz e Watson (2004) referem que os critérios da DSM, em relação à PB, podem ser agrupados em 3 clusters: - Cluster da Identidade: sentimentos de vazio, medos de abandono, auto imagem ou sentido do self instáveis. - Cluster Afetivo: cólera intensa inapropriada, instabilidade afetiva, relações interpessoais instáveis e intensas. - Cluster do Impulso: lesões provocadas pelo próprio indivíduo, outros comportamentos impulsivos. Descrição A Personalidade de tipo borderline caracteriza-se por uma marcada instabilidade emocional e uma tendência acentuada para agir impulsivamente sem levar em conta as conseqüências. A impulsividade observa-se pelo menos em duas das áreas a seguir assinaladas: - Gastos, - Vida sexual, - Abuso de substâncias, - Condução perigosa ou - Comer excessivamente. Descrição As pessoas com este tipo de personalidade têm dificuldade em estabelecer planos a longo prazo e manifestam propensão para explosões de cólera intensa que podem levar a atos de violência. Estas explosões são facilmente precipitadas quando os atos impulsivos são criticados ou contrariados pelas outras pessoas. Descrição Sob o ponto de vista clínico verifica-se que: - A auto-imagem do indivíduo é pobre, - Os objetivos a atingir na vida são habitualmente pouco claros e - As preferências internas (incluindo as de natureza sexual) costumam mostrar-se perturbadas. 05/11/2009 8 Descrição Há usualmente um: - Sentimento crônico de vazio e - Uma propensão para o envolvimento em relacionamentos instáveis e intensos. Este tipo de relacionamentos pode dar origem a: - Crises emocionais repetidas, - Esforços excessivos para evitar o abandono por parte das outras pessoas - Uma série de ameaças de suicídio ou - Atos de auto-mutilação. Descrição A Personalidade de tipo borderline pode apresentar transitoriamente: - Sintomas dissociativos graves ou - Fenômenos de ideação paranóide relacionados com situações indutoras de stress. O que está descrito leva-nos a alguns comentários. Descrição Stone (2005) salienta: “A Personalidade Borderline difere em relação aos critérios usualmente utilizados para a descrição dos restantes transtornos da personalidade”. Descrição De uma forma metodologicamente correta, um traço de personalidade é, num sentido estricto: - Uma forma de funcionamento psicológico habitual, - Profundamente marcada, que - Emerge durante os anos de desenvolvimento e - Cristaliza na vida adulta. Descrição Curiosamente, na DSM-IV-TR, apenas 3 dos 9 descritores da Personalidade Borderline são verdadeiros traços de personalidade: - Impulsividade - Labilidade do humor e - Cólera intensa, inapropriada, difícil de controlar Cada um deles leva a um comportamento sintomático, altamente perturbador, que se torna parte da definição. Descrição A conseqüência de uma descrição baseada em sintomas e não exclusivamente em traços leva a que a Personalidade Borderline varie consoante as culturas. No Japão ou na Escandinávia, povos mais contidos nas suas emoções, os doentes típicos são menos coléricos e menos tempestuosos do que em Portugal ou nos EUA. 05/11/2009 9 Descrição Skodol et al. (2002) referem que: - A dependência da descrição de uma Personalidade Borderline, - Baseada em sintomas bastante inespecíficos mais do que em traços específicos - Torna-a marcadamente heterogênea, - Podendo ser encontrada em conjunto com muitos transtornos do Eixo I e - Com quase todas as outras perturbações da personalidade, com exceção da personalidade esquizóide. Descrição Em relação ao Eixo I é encontrada frequentemente associada a: - Depressão Major - Doença Bipolar tipo II - Erotomania - Transtornos alimentares - Transtornos mediados pela ansiedade - Abuso de substâncias - Transtornos dissociativos - Distúrbio de Stress Pós-Traumático - Agressão impulsiva Epidemiologia De acordo com R. Krawitz e Ch. Watson (2004): - Entre os 19-55 anos, 1,8 % das pessoas, revela características de uma Personalidade Borderline. - Deste grupo, 0,5 % experimentará dificuldades muito difíceis de ultrapassar. - 75 % das pessoas com este diagnóstico são mulheres. - Muitos autores acreditam que os homens estão sub- diagnosticados; é provável que sejam encontrados, mas não diagnosticados, nos centros de atendimento de toxicodependentes e no sistema judicial. Epidemiologia De acordo com os mesmos autores: - 70 % dos que apresentam uma Personalidade Borderline têm uma história de abuso sexual. - 75 % têm uma história de auto-mutilação pelo menos em dada altura das suas vidas. - 46 % foram vítimas de violência na idade adulta (31 %, violação e 33 %, abuso físico por parte do companheiro). - As pessoas de Personalidade Borderline têm uma considerável comorbidade com outros quadros psiquiátricos. Epidemiologia Há autores que afirmam estarmos no limiar do crescimento de indivíduos com Personalidade Borderline. Paris (1992) refere: “…os fatores sociais interagem com outros fatores de risco e promovem este tipo de personalidade baixando os limiares para os comportamentos impulsivos. Num ambiente social integrado, as estruturas sociais, que contêm e modulam a disforia, atuam como um buffer contra o transtorno interior criado por fatores como vulnerabilidade biológica, experiências traumáticas e uma família disfuncional”. 05/11/2009 10 Etiologia Têm sido valorizados: - Fatores genéticos - Histórias de abuso - Fatores neurofisiológicos. Consideremos cada um destes pontos. Etiologia Fatores genéticos: Melanie Dean (2006) menciona que a Personalidade Borderline é cerca de 5 vezes mais comum nos familiares em primeiro grau, com elos biológicos, do que na população geral. Soloff e Millward(1983) comprovaram que os pais dos indivíduos com Personalidade Borderline tinham uma baixa incidência de esquizofrenia e uma incidência elevada de transtornos afetivos. Traumas na infância Histórias de abuso: De acordo com De Bellis (2004) o abuso e negligência das crianças inclui 4 situações distintas: - Negligência, - Violência física, - Abuso emocional e - Abuso sexual. Embora possam observar-se isoladamente é freqüente coexistirem várias formas de maus-tratos infantis. Traumas na infância De acordo com Helen Kennerley (2000) os abusos físico e emocional não devem ser considerados menos importantes do que o abuso sexual. Qualquer deles pode contribuir para o aparecimento de problemas psicológicos na vida futura da vítima. Traumas na infância Segundo Pynoos et al. (1993), as formas mais comuns de violência em crianças correspondem a abuso físico e sexual, que tendem a corresponder a um padrão de comportamento repetitivo, fortemente ligado ao ambiente social, emocional e físico da família. De acordo com os autores, 1 em cada 10 crianças por ano, nos EUA, é vítima de agressão física particularmente grave por parte dos pais. Por ano ocorrem entre 150.000 a 200.000 novos casos de abuso sexual de crianças. 05/11/2009 11 Etiologia Num estudo rectrospectivo de Zanarini et al. (1997) foi comprovado que os doentes com Personalidade Borderline referiam: Abuso físico na infância em 59 % dos casos. Negligência na infância em 92 % de e Separação prolongada dos pais na infância em 29 %. Etiologia Herman, Perry e Van der Kolk (1989) encontraram em pessoas com Personalidade Borderline 70 % de casos de abuso sexual. Contudo o abuso sexual não é considerado nem uma condição necessária nem suficiente para determinar uma Personalidade Borderline. Traumas na infância O stress crônico, proveniente de maus-tratos das crianças, pode dar origem a influências adversas no desenvolvimento do cérebro. Traumas na infância Estudos em crianças maltratadas revelam que podem apresentar: Um QI mais baixo. Déficits do funcionamento executivo (dificuldade em planear, organizar, seqüenciar, abstrair) e da atenção. Déficits da memória de fixação. Traumas na infância Estudos de neuroimagem em crianças maltratadas têm revelado: Volumes intracranianos e cerebrais menores. Uma área menor, sagital mediana e posterior, do corpo caloso. Volumes aumentados dos ventrículos laterais. Conseqüências desproporcionalmente negativas quando o trauma ocorre durante o começo da infância (De Bellis, 2004). Traumas na infância O impacto dos acontecimentos traumáticos sobre a neuroplasticidade cerebral pode ocorrer devido à hipersecreção dos glicocorticóides e ativação dos receptores NMDA (N-metil-D-aspartato). Este fato pode determinar uma atrofia das estruturas cerebrais e, de forma particular, das estruturas límbicas (importantes para as emoções). 05/11/2009 12 Traumas na infância Segundo Olié et al. (2004) os acontecimentos traumáticos no período de desenvolvimento ocorrem quando as estruturas cerebrais são ainda particularmente plásticas e estão a ser estabelecidas redes neurais estáveis. Estes fatos repercutem-se sobre as capacidades adaptativas do indivíduo. Traumas na infância Um indivíduo vítima de acontecimentos traumáticos no período de desenvolvimento, costuma revelar a longo prazo: Dificuldade na formação de elos afetivos, Uma auto-estima pobre, Tendência para desenvolver comportamentos de evitamento e Dificuldade na formação de relações interpessoais. Personalidade Narcísica Elsa Ronningstam (2005) refere que os termos: Narcisismo patológico. Transtorno narcísico e Transtorno narcísico da personalidade … têm sido usados como equivalentes no contexto clínico. O narcisismo varia num leque grande de dimensões que vão desde narcisismo saudável até patológico, chegando aos traços persistentes do Transtorno de Personalidade Narcísica. Personalidade Narcísica O narcisismo patológico distingue-se do saudável (ou normal) na medida em que, naquele, a regulação da auto-estima é disfuncional, servindo para proteger e apoiar um EU “grandioso” mas frágil. No narcisismo patológico a regulação do afeto está comprometida pela dificuldade em processar e modular os sentimentos, especialmente a cólera contra terceiros, a vergonha e a inveja. As relações interpessoais são também afetadas porque são usadas primariamente para proteger ou realçar a auto-estima à custa da intimidade mútua. Personalidade Narcísica Segundo a DSM-IV-TR, num Transtorno Narcísico de Personalidade, a pessoa manifesta necessidade de admiração e falta de empatia em relação aos outros. Estes traços aparecem no começo da idade adulta e revelam-se em variados contextos. 05/11/2009 13 Personalidade Narcísica Contextos em que se manifesta (I): Revela um sentido grandioso de importância pessoal (exagera talentos e realizações, de onde espera ser reconhecido como superior às outras pessoas). Preocupa-se com fantasias de ter êxito, poder, brilho, beleza ou amor ideal ilimitados. Acredita que é “especial e único” e que só pode ser compreendido por pessoas como ele ou indivíduos ou instituições de estatuto elevado. Personalidade Narcísica Contextos em que se manifesta (II): Necessita que tenham por si uma grande admiração. Tem expectativas, sem base lógica, de receber sempre um tratamento especial ou uma cooperação automática com as suas idéias. Aproveita-se dos outros para atingir os seus fins. Personalidade Narcísica Contextos em que se manifesta (III): Falta-lhe empatia: não reconhece nem identifica os sentimentos e as necessidades dos outros. Tem, com freqüência, inveja das outras pessoas ou acredita que os outros têm inveja de si. Nos seus comportamentos e atitudes mostra-se habitualmente arrogante. Prevalência: menos de 1% da população. Personalidade Anti-Social Características (I): Começa a apresentar transtornos do comportamento a partir dos 15 anos de idade. Não se conforma com as normas sociais, repetindo com freqüência atos que o podem levar à prisão. Mente, atribui a culpa aos outros em relação ao que faz; tira proveito das outras pessoas para benefício pessoal. Personalidade Anti-Social Características (II): É impulsivo e incapaz de planejar a vida a longo prazo. Irritável e agressivo, envolve-se em lutas físicas e assaltos. Negligencia a sua própria segurança e a das outras pessoas. Não aprende com as punições que lhe são impostas. 05/11/2009 14 Personalidade Anti-Social Características (III): Manifesta uma constante irresponsabilidade. Não é capaz de manter numa atividade profissional regular. Não cumpre com o pagamento das dívidas que cria. Não sente remorsos em relação ao que faz. É indiferente quanto a ter ferido, maltratado ou roubado qualquer pessoa. Personalidade Anti-Social Vamos relatar um exemplo Personalidade Anti-Social Artur P. tinha acabado de sair da prisão, devido a delitos cometidos. Arranjou emprego como trabalhador da construção civil. Decidiu casar. Para o feito resolveu publicar um anúncio no Diário de Notícias: “Cavalheiro, de 39 anos de idade, boa aparência, deseja contatar com Senhora da mesma idade ou mais nova, para fins sérios e, se agradar, para futuro casamento. Enviar fotografia que será devolvida caso não interesse. Resposta ao n.º …., de …” Personalidade Anti-Social Artur P. recebeu diversas respostas e várias fotografias. Escolheu a que lhe parecia melhor e rasgou as outras. Estabeleceu então contato com a Aparecida de 32 anos de idade, que era empregada doméstica.Ao fim de algum tempo de namoro sugeriu-lhe: “Nós devíamos conhecer-nos melhor um ao outro. Devíamos começar a ter relações sexuais!” Aparecida inicialmente não aceitou a proposta mas, dias depois, cedeu. Personalidade Anti-Social Tempos depois Artur P. conheceu a Conceição, um pouco mais nova que a Aparecida e que não tinha compromissos. Propôs-lhe começarem a namorar, o que ela aceitou. Ao mesmo tempo, embora não nos mesmos dias, foi mantendo namoro e tendo relações sexuais, tanto com a Aparecida como com a Conceição. Um dia Aparecida começou a estranhar a maneira como ele se comportava, a forma diferente como se relacionava consigo, as desculpas que dava para não sair com ela tantas vezes como anteriormente. Personalidade Anti-Social Desconfiada, um dia decidiu esconder-se perto da casa dele e seguiu-o quando saiu. Descobriu então que ele havia saído com outra moça. Ficou muito aborrecida com o que viu, chorou sozinha quando chegou a casa e decidiu falar-lhe sobre o assunto quando voltaram a encontrar-se. Artur P. negou tudo. Referiu que a outra moça era conhecida sua de muitos anos, nada tinha a ver com namoro e que tinha vivido na sua terra natal. 05/11/2009 15 Personalidade Anti-Social Aparecida não acreditou. Insistiu com ele repetidas vezes que deixasse de sair com a outra e voltasse a ser como era anteriormente. Até que um dia Artur P. lhe disse: “Olha, amanhã é domingo. Vamos comigo à casa que estamos quase acabando de construir. Já disse ao patrão que queria alugar um andar que está quase pronto para lá irmos viver juntos”. Aparecida sorriu, sentiu-se feliz e concordou. A caminho de casa pensou: “Tanto desconfiei dele e afinal é um homem sério que quer casar comigo”. Personalidade Anti-Social À hora combinada de domingo dirigiram-se os dois ao andar indicado. Entraram os dois e ele fechou a porta. A certa altura disse-lhe: “Que coisa é aquela tão estranha que ali está?” Quando Aparecida olhou para o outro lado, Artur P. pegou num pé de cabra que estava encostado à parede, ergueu-o e bateu-lhe violentamente na cabeça, fazendo- a cair imediatamente esvaída em sangue. Personalidade Anti-Social Bateu-lhe mais algumas vezes na cabeça até ter a certeza que a deixava morta. Limpou os vestígios de sangue na roupa dela e depois saiu para ir lanchar com a Conceição. Dois dias depois comprou o Diário de Notícias para ver se lá aparecia qualquer relato do acontecimento. De fato viu a notícia: “Mulher, esvaída em sangue, encontrada morta num edifício ainda em construção”. Conseguida a identificação da vítima, as informações da Senhora para quem trabalhava deram algumas pistas para a descoberta do autor. Personalidade Anti-Social Este fato, juntamente com a referência do patrão da obra que mencionou que ele trabalhava para si e lhe era fácil ter acesso a uma chave, levaram a que fosse preso em prisão preventiva. Nesta situação foi escrevendo cartas para o Juiz Criminal: “Senhor Dr. Juiz, prenderam a pessoa errada. Sempre fui um homem de bem, não podia ver um pobre que não lhe desse uma esmola, a minha preocupação era só com o trabalho”. Personalidade Anti-Social Passado tempo, com o acumular das provas, mudou o tom das cartas: “Senhor Dr. Juiz, prenderam a pessoa errada. Eu namorava com uma mulher chamada Conceição. Eu era amigo da mulher que apareceu morta, a Aparecida e, por vezes, falava com ela. A Conceição era muito ciumenta e passava o tempo a me dizer: “Faz desaparecer essa mulher da minha vista. Não fico descansada enquanto a não matares e a fizeres desaparecer para sempre”. Sei que dei cabo dela. Mas a pessoa verdadeiramente culpada, não sou eu mas a Conceição. Personalidade Anti-Social • Prevalência: 3% em homens e 1 % em mulheres; • Condições predisponentes: TDAH e transtorno da conduta; • Mais comum em grupos de baixa situação sócio- econômica; • Fatores genéticos; • Abuso ou abandono pelos pais. 05/11/2009 16 Personalidade Anti-Social Passemos para outro assunto menos sangrento Agrupamentos Cluster C O grupo “com medo”, ansioso. Engloba três tipos de transtornos: Personalidade Obsessivo-Compulsiva Personalidade Evitante (Esquiva) e Personalidade Dependente É assim que gosto de ver a vida! Personalidade Obsessiva Foi descrita a primeira vez por Freud em 1908. Os seus traços são habitualmente considerados como virtudes pessoais, havendo o risco de ser sobre- diagnosticada no contexto clínico. Quando uma pessoa gosta de uma vida rotineira, de ser pontual e de ser perfeita naquilo que faz, mesmo que tais fatos não lhe tragam qualquer perturbação nem produzam um impacto negativo noutras pessoas, corre o risco de ser considerada uma Personalidade Obsessiva. Personalidade Obsessiva Características principais (I): Revela: Preocupação com pormenores. Ordem, organização e perfeccionismo na realização das tarefas. Sentimentos de dúvida e precaução em todas as atividades a que dá importância. Escrúpulo e preocupação excessiva com a sua produtividade. Afastamento das atividades de lazer e de contatos interpessoais gratificantes. Personalidade Obsessiva Características principais (II): A sua preocupação com pormenores, regras, listas, organização e horários a cumprir é tão grande que leva um tempo enorme a desempenhar qualquer tarefa. Mostra-se incapaz de concluir um projeto se não está de acordo com os padrões previamente estabelecidos. 05/11/2009 17 Personalidade Obsessiva Características principais (III): Tem relutância em delegar para os outros qualquer trabalho a não ser que cumpram rigorosamente com a sua maneira de fazer as coisas. Evita gastar dinheiro “para que um dia não lhe faça falta” em alguma situação que seja grave. É uma pessoa rígida e teimosa, propensa a considerar os aspectos da vida sempre da mesma maneira e num só sentido. Personalidade Obsessiva • Os paciente têm freqüentemente uma história de vida marcada por dura disciplina; • Diagnósticos diferenciais: TOC • Prevalência: maior em homens que em mulheres – 3%. Personalidade Esquiva Características principais (I): Desde o começo da idade adulta a pessoa revela um padrão de inibição social, sentindo-se inadequada e hipersensível à avaliação negativa que os outros lhe possam fazer. Devido ao fato tende: A evitar atividades profissionais que envolvam um contato interpessoal significativo, com medo da crítica, desaprovação ou rejeição. Personalidade Esquiva Características principais (II): A evitar conviver com pessoas, a não ser que tenha a certeza de que a estimam. A retrair-se nos relacionamentos de maior intimidade com outras pessoas, com receio de ser ridicularizada ou envergonhada. A mostrar-se preocupada em situações de convívio social, com medo de poder vir a ser criticada ou rejeitada. Personalidade Esquiva Características principais (III): - A inibir-se em situações interpessoais que sejam novas para si, devido a sentir de que “não está a se comportar adequadamente”. A considerar-se como uma pessoa socialmente desajeitada, pela qual as outras não se sentem atraídas, com o sentimento de “ser inferior” a elas. A mostrar-se relutante em se envolver em novo tipo de atividades, porque pode vir a sentir-se embaraçada. 05/11/2009 18 Personalidade Esquiva • Prevalência: 0,05 a 1% da população geral; • Possíveis predisponentes: esquiva na infância e doença física deformante; • Possível depreciação parental explícita. Mãe, por favor,me diz o que eu faço! Personalidade Dependente Um indivíduo dependente desenvolveu a crença de que é incapaz de funcionar por sua própria iniciativa. Apoia-se excessivamente nos outros,a pedir ajuda em áreas em que é preciso a tomada de decisão e iniciativa em novas tarefas. Geralmente os pais não encorajaram este tipo de indivíduo a atuar de forma independente e a desenvolver confiança na sua capacidade de cuidar de si próprio. Personalidade Dependente Características principais (I): Tem grande dificuldade em tomar decisões no seu dia-a-dia, sem o auxílio dos outros. Sente a necessidade de que os outros assumam por si a responsabilidade na maior parte das áreas da sua vida (“É assim que entendes que devo fazer?”). Tem dificuldade em exprimir o seu desacordo em relação às outras pessoas com receio da perda do seu apoio ou da sua aprovação. Personalidade Dependente Características principais (II): Devido à falta de auto-confiança tem dificuldade em realizar projetos por sua conta e risco. Para obter apoio e segurança oferece-se para fazer voluntariamente pelos outros coisas que são aborrecidas e desagradáveis, subordinando as próprias necessidades às das pessoas de que dependem. Sente-se mal ou desesperado quando está sozinho devido a receios exagerados de ser incapaz de tomar conta de si. Personalidade Dependente Características principais (III): Quando é desligado de uma relação íntima procura imediatamente outra relação através da qual possa obter apoio e cuidado. Preocupa-se exageradamente com medo de ser abandonado e ficar sozinho e ter de tomar conta de si sem ninguém que o possa ajudar. 05/11/2009 19 Personalidade Dependente O que fazer para resolver uma situação destas? Personalidade Dependente D’Zurilla e Golfried desenvolveram um método de resolução de problemas para aumentar a independência. Envolve 5 estádios: Orientação geral. Definição e formulação do problema. Gênese de alternativas. Tomada de decisão e Verificação. Personalidade Dependente I. - Orientação geral: Modificar a sua atitude: Aceitar o fato de que os problemas fazem parte do contexto geral da vida e de que é possível lidar eficazmente com a maioria das situações. Reconhecer as situações problemáticas quando ocorrem. Inibir a tendência quer para responder com o primeiro impulso, quer abandonar-se e não fazer nada. Personalidade Dependente II. - Definição e formulação do problema: - O indivíduo é encorajado a: Descrever o problema de forma específica e compreensiva. Evitar termos vagos ou ambíguos. Considerar todos os fatos e informação disponível. Personalidade Dependente III. - Gênese de alternativas: – Gerar tantas soluções quantas as possíveis, de forma a maximizar a probabilidade de uma resposta eficaz. – É necessário sentido crítico. – São aceitos todos os tipos de idéias. – O indivíduo deve expor como dada idéia pode ser melhorada ou como duas idéias se podem reunir para melhorar a solução. Personalidade Dependente IV. – Tomada de decisão: – O indivíduo tenta pesar os prós e os contras de determinada alternativa, comparando as várias alternativas entre si, em função dos ganhos e das conseqüências. – É feito um julgamento de qual das alternativas é a melhor. – Ação!!! – Uma vez escolhida a melhor alternativa estabelecem-se os passos a dar para a pôr em prática. 05/11/2009 20 Personalidade Dependente V. – Verificação: Após ter sido tomado dado curso de ação o indivíduo avalia periodicamente o resultado e vai corrigindo o que for necessário. - Maior prevalência em mulheres; - Comum; - Predisponentes possíveis: doença física crônica e transtorno de ansiedade de separação na infância.
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