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Questões de Direito Penal (Periclitação da Vida e da Saúde)

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Periclitação da Vida e da Saúde 
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Abandono de Incapaz
Abandonar (deixar sem assistência, afastar-se do incapaz) pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz  de defender-se  dos riscos resultantes do abandono: 
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Formas Qualificadas 
§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de 1 a 5 anos. § 2º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de 4 a 12 anos. 
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Aumento de Pena 
§ 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de 1/3: I - se o abandono ocorre em lugar ermo; II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima. (dever de guarda ou de cuidado) 
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Conduta Típica 
Pode ser praticado por ação (ex.: levar a vítima em um certo local e ali deixá-la) ou por omissão (ex.: deixar de prestar a assistência que a vítima necessita ao se afastar da residência em que moram), desde que, da conduta, resulte perigo concreto, efetivo, para a vítima.
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A lei não se refere apenas às pessoas menores de idade, mas também aos adultos que não possam se defender por si próprios, abrangendo, ainda, a incapacidade temporária (doentes físicos ou mentais, paralíticos, cegos, idosos, pessoa embriagada etc.). 
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Não havendo a relação de assistência entre as partes, o crime poderá eventualmente ser o do artigo 135 (“omissão de socorro”).
Se a intenção do agente for a de ocultar desonra própria e a vítima for um recém-nascido o crime será o previsto no artigo 134 (“exposição ou abandono de recém-nascido”).
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Figuras Típicas 
Abandonar: deixar só, sem a devida assistência. É no sentido físico.
Incapaz: não se trata de incapacidade jurídica, de idade. Qualquer um pode ser incapaz, porque o que é levado em conta é a vida ou a saúde colocada em risco.
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Exemplos 
Ex.: Na selva, um guia deixa o cliente inexperiente entregue à própria sorte. É crime de abandono de um incapaz. O perigo foi criado por quem tinha o dever de cuidar.
Ex.: Uma babá larga a criança à beira de uma piscina e sai. A criança morre. Nexo causal – abandonou a menor; resultado – a morte. 
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Elemento Subjetivo 
Dolo direto (intenção de abandonar) – o sujeito ativo quer se desvincular do passivo.
E o pai que deixa de dar alimentos ao filho? Não se enquadra neste artigo. Tem que ser abandono físico, não material.
Se o idoso for incapaz, o filho não pode abandoná-lo à própria sorte. 
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Objeto material: pessoal incapaz de se defender, que sofreu perigo de abandono.
Objeto jurídico tutelado: proteção à vida e à saúde.
Sujeitos ativo e passivo – são próprios, exigem qualidade especial.
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Classificação 
É crime próprio quanto ao sujeito ativo e ao passivo (exige-se qualidades específicas de ambos);
É de perigo concreto (tem que ser comprovada a incapacidade do passivo de defender-se ao abandono; o perigo deve ser investigado e provado);
De forma livre (qualquer meio); 
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Classificação 
Comissivo ou omissivo;
Instantâneo; de efeitos permanentes;
Unissubjetivo; plurissubsistente;
Admite tentativa na forma comissiva;
Há dolo de perigo (não há dolo específico). 
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Classificação 
Admite dolo eventual – O ativo assume o risco. Ex.: Mãe deixa o filho num carro fechado, vai fazer compras e na volta o encontra morto (por asfixia);
Pode ser crime qualificado – quando o abandono resulta em lesão gravíssima ou morte.
Há majorante (art. 3º);
É de ação penal pública incondicionada. 
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Abandono de Recém Nascido
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Omissão de Socorro
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Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: 
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Sujeitos 
Sujeito ativo: qualquer pessoa;
Sujeito passivo: pessoa inválida ou ferida em situação de desamparo, ou pessoa em grave perigo ou ainda criança abandonada ou extraviada. 
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Núcleos do Tipo 
Deixar: abandonar, largar, soltar.
Deixar de prestar assistência: não prestar socorro.
Pedir: solicitar, exigir, necessitar; no caso do texto, é acionar a autoridade pública competente para que preste o devido socorro.
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Por que a lei impõe que prestemos socorro até a desconhecidos? Porque a lei diz que temos de ser solidários. É dever de cada um. Não se trata de solidariedade sociológica, e sim jurídica. 
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A lei não impõe que corramos risco. É preciso que haja possibilidade de ação. Mas em caso de risco pessoal, se não for acionada a autoridade competente, há omissão de socorro.  
Exemplo: Não temos o dever de entrar num prédio em chamas para salvar alguém, mas temos a obrigação de pedir ajuda, convocar o Corpo de Bombeiros. 
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Criança abandonada: menor abandonado no sentido físico, que necessita de ajuda, havendo um dever geral de todos para com ela.
Criança extraviada: perdida temporariamente, devendo ser levada para autoridade competente.
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Pessoa inválida: invalidez no caso é física, não jurídica; sem condição de se deslocar sem ter assistência; falta de condições de saúde para ir e vir.
Pessoa ferida: não é qualquer ferimento; tem que gerar incapacidade própria; estar sem condição até mesmo de telefonar para pedir ajuda.
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Ao desamparo: pode ser material; não é só na situação física; precisa gerar situação de necessidade.
Em grave e iminente perigo:  está efetivamente para acontecer, de forma concreta. 
Não pedir socorro a autoridade pública: Ex.: Numa rodovia privatizada, deixar de recorrer aos “anjos do asfalto”, que atuam como autoridade pública. 
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Objeto material: é a pessoa que deixa de ser atendida diante da omissão do agente, sofrendo com isso o efeito direto da conduta criminosa.
Objeto jurídico: a vida e a saúde da pessoa humana.
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Alguém que ignore o pedido de socorro de alguém deve ser sujeito ativo do crime de omissão de socorro, mesmo que o ferido venha a ser, a tempo, socorrido por terceiros? 
Não, porque embora falte com seu dever de solidariedade, não chega a colocar em risco a vida ou a saúde da vítima, pois foi esta socorrida por outras pessoas. 
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Atropelou, causando a morte imediata da pessoa, e em seguida fugiu. Houve omissão de socorro? Não. Vai socorrer um morto?
Se num ato coletivo de omissão de socorro uma pessoa voltar atrás e socorrer a vítima, livra os demais do crime. 
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Omissão imprópria: tem que gerar resultado;
Omissão própria: não precisa gerar resultado (é o caso da omissão de socorro).
Há possibilidade de haver crime de omissão de socorro em co-autoria (duas pessoa se omitindo)? Há. 
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Duas mulheres estão se afogando e só uma delas é socorrida por um homem, com o auxílio de outro. Em relação à mulher que se afogou, o que socorreu atua como autor na omissão (conduta normativa) e outro como co-autor (auxilia nessa conduta). Para que os dois fossem co-autores (omissos ao mesmo tempo), teria que haver vínculo subjetivo, com prévio ajuste de conduta).
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Omissão coletiva:
Quatro homens combinam para não interferir no afogamento de uma pessoa. Temos aí: o não fazer, a relevância e a combinação. Eles são co-autores. 
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Qual a diferença entre crime de homicídio realizado por conduta imprópria e um crime de omissão própria qualificada pelo resultado morte?
Ex.: Uma mãe não quer o filho, quer matá-lo mas não tem coragem. Aí, deixa-o sem alimento e isso provoca a morte da criança (animus necandi).
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Ex.: Uma criança está extraviada, uma pessoa que está por perto se omite em ajudá-la e ela acaba sendo atropelada por um carro, morrendo (animus omitenti).
Resposta: A diferença está no dolo. No primeiro exemplo, há vontade de matar. No segundo não há. 
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Crime formal; de forma livre; próprio; instantâneo; omissivo; de perigo concreto;
é comum quanto ao agente; unissubjetivo; unissubsistente ou plurissubsistente, conforme o caso; de dolo direto;
Não se admite a forma tentada; de ação penal pública e incondicionada;
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Figuras preterdolosas: se a omissão de socorro levar a lesão corporal grave ou à morte, a pena será consideravelmente aumentada. 
Só se admite culpa no resultado mais gravoso.
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Omissão de Socorro no Trânsito
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Lesão corporal culposa na direção de veículo automotor
Art. 303 - Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor: Penas - detenção, de 6 meses a 2 anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. 
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Aumento de Pena 
Parágrafo único - Aumenta-se a pena de 1/3 à 1/2, se ocorrer qualquer das hipóteses do § único do artigo anterior (não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada; deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente; no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros)
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Omissão de Socorro no Trânsito
Art. 304 - Deixar o condutor do veículo (que agem sem culpa, agindo com culpa aplica-se o artigo 303, § único), na ocasião do acidente, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública: 
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Penas - detenção, de 6 meses a 1 ano, ou multa, se o fato não constituir elemento de crime mais grave.
§ único - Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou com ferimentos leves. 
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O Art. 304 do CTB não poderá ser aplicado ao condutor do veículo que, agindo de forma culposa, tenha lesionado alguém, pois tal condutor responderá pelo crime especial do artigo 303 do CTB e se havendo omissão de socorro terá a pena agravada (§ único).
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Quem não agiu culposamente na condução do veículo envolvido em acidente e não prestou auxílio à vítima, responderá pelo crime do artigo 304 do CTB (“omissão de socorro de trânsito”).
Qualquer outra pessoa que não preste socorro, responderá pelo crime do artigo 135 (“omissão de socorro”). 
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Maus Tratos
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Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina: 
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Conduta Típica 
Expor: colocar em risco, sujeitar alguém a uma situação que inspira cuidado, sob pena de sofrer um mal.
Educação: processo de desenvolvimento intelectual, moral e físico do ser humano, permitindo-lhe maior integração social e aperfeiçoamento individual. Ex.: Relação entre tutor e tutelado.
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Ensino: transmissão de conhecimentos indispensáveis ao processo educacional. Ex.: Relação entre professor e aluno.
Tratamento: processo de cura de enfermidades.
Custódia: dar proteção a algo ou alguém.
Autoridade: não se trata de abuso de autoridade no sentido de se valer do mesmo para usurpar os meios legais. 
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Privação de alimentos e cuidados especiais: Um pai que deixa o filho desordeiro privado de alimentar-se por uma noite, como forma de correção, não incorre neste tipo de crime. Para configurar maus-tratos, o pai teria que agir dessa maneira reiteradas vezes. 
Outro caso de mau-trato seria uma mãe procurar aplicar um corretivo num filho, doente, privando-o de remédio prescrito pelo médico.
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Objeto material: pessoa que sofre os maus-tratos.
Objeto jurídico: a proteção à vida e à saúde.
Sujeito ativo: quem pratica os maus-tratos.
Sujeito passivo: quem é maltratado.
OBS.: Ambos os sujeitos são qualificados – o agente precisa ser pessoa responsável por outra, que é mantida sob sua autoridade, guarda ou vigilância.
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OBS.: O sujeito passivo não pode ser a esposa, pois o marido não é pessoa que a tenha sob sua autoridade, guarda ou vigilância. Tem que haver relação de subordinação entre ativo e passivo. Se ela for maltratada, configura-se o crime do art. 132 (Perigo para a saúde ou vida de outrem). 
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Elementos subjetivos do tipo: o crime só é punido se houver dolo direto ou eventual. 
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Classificação 
Há dolo específico (finalidade – ensino, educação...) ; 
Há dolo de perigo; 
Não se concebe dolo de dano. Para compor os parágrafos 1º e 2º (lesão grave ou morte), demanda-se unicamente a culpa.
É crime formal; próprio (demanda sujeitos ativo e passivo qualificados); de perigo concreto (tem que ser provado); 
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Classificação 
Crime de forma vinculada (está vinculado a privação de alimentos ou de cuidados especiais, sujeição a trabalho excessivo etc.)
Comissivo ou omissivo; Instantâneo; Unissubjetivo; Plurissubsistente;
Não admite a forma tentada (ou expõe ou não).
É de ação penal pública incondicionada. 
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Rixa 
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Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores: Pena - detenção, de 15 dias a 2 meses, ou multa. § único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de 6 meses a 2 anos. 
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Conduta Típica 
Participar: de forma material ou moral.
Rixa: é uma luta desordenada, um tumulto, envolvendo troca de agressões entre 3 ou mais  pessoas, em que os lutadores visam todos os outros indistintamente, de forma a que não se possa definir dois grupos autônomos.
É um crime de confusão generalizada. Há confusão entre ativo e passivo. Não se sabe quem é quem. Tosos são sujeitos ativos e passivos ao mesmo tempo. 
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Uma rixa resulta, por exemplo, em dois mortos. Se o autor não for identificado, todos respondem pelo crime.
E se for identificado? Aí trabalha-se em dois crimes: rixa e homicídio (concurso material). 
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Todos os envolvidos na “rixa” sofrerão uma maior punição, independentemente de serem eles ou não os responsáveis pela lesão grave ou morte; se for descoberto o autor do resultado agravador, ele responderá pela “rixa qualificada” em concurso material com o crime de “lesões corporais graves” ou “homicídio” (doloso ou culposo, dependendo do caso), enquanto todos os demais continuarão respondendo pela “rixa qualificada”. 
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Se o agente tomou parte na “rixa” e saiu antes da morte da vítima, responde pela forma qualificada, mas se ele entra na “rixa” após a morte, responde por “rixa simples”. 
Tipo penal aberto: depende da interpretação das autoridades (delegado, juiz...). 
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Elemento subjetivo do tipo: dolo de perigo, consistente na vontade de fazer parte da rixa, conhecendo os perigos que essa conduta pode trazer para todos os integrantes. 
Não se pune a forma culposa (resultante da improdência dos participantes).
Objeto material: pessoa que sofre a conduta criminosa.
Objeto jurídico: a incolumidade da pessoa humana. 
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Classificação 
Crime comum; de perigo abstrato (presumido em lei); de forma livre; comissivo; excepcionalmente, é comissivo por omissão  (omissivo impróprio); instantâneo; plurissubjetivo (somente pode ser praticado por mais de duas pessoas); plurissubsistente;
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Classificação 
Admite participação (presença de um indivíduo que, sem tomar parte na rixa, fica de fora incentivando os demais).
Admite tentativa na hipótese de a rixa ser preordenada (quando surge de improviso)
É de ação penal pública incondicionada
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