Buscar

Fichamento - Political aspects of full employment - Michal Kalecki


Continue navegando


Prévia do material em texto

Evelyn Kiori Nagaoka 
KALECKI, Michal. Political Aspects of Full Employment. 
Principais Assuntos / Idéias 
Pág.322 
 Muitos economistas acreditam, mesmo no capitalismo, que o Governo deve garantir o pleno emprego através 
de investimento público (escolas, estradas, etc) e subsídios ao consumo em grande escala. Se a despesa ocorrer 
via empréstimo e não via impostos, haverá um momento em que a demanda efetiva por bens e serviços será tal 
que o pleno emprego será alcançado. 
O governo consegue dinheiro pagando seus fornecedores com títulos públicos. Os fornecedores, por sua vez, 
colocam esses títulos em circulação até chegarem a pessoas que os manterão como ativos remunerados e, em 
certo período, os títulos se igualarão aos bens e serviços vendidos para o governo. 
Pág.323 
 Se o público não quiser títulos, o Governo vende para bancos para pegar dinheiro, notas ou depósitos em 
troca. Se os bancos não aceitarem, o preço dos títulos cairá e encorajará a compra dos mesmos pelo público. 
Os gastos do governo financiados pelo empréstimo gerará inflação. A demanda efetiva criada pelo governo 
age como qualquer aumento de demanda. Se o trabalho, a agricultura e as matérias-primas estrangeiras forem 
ofertadas, o aumento na demanda gera aumento da produção. Porém, se o pleno emprego de recursos for 
alcançado e mesmo assim a demanda continuar a crescer, os preços subirão para equilibrar demanda e oferta. 
No entanto, se a intervenção do governo visa atingir o pleno emprego mas não chega a crescente demanda 
efetiva sobre a marca de pleno emprego , não há necessidade de ter medo da inflação. 
Pág.324 
Apesar de hoje em dia os economistas concordarem que o pleno emprego deve ser atingido através de gastos 
do governo, isso nem sempre foi assim. Entre os opostos a essa doutrina há os chamados “Especialistas 
Econômicos”, conectados aos bancos e indústrias. Isso sugere que há contexto político na oposição da doutrina 
do pleno emprego, apesar de os argumentos serem econômicos. 
Na Grande Depressão dos anos 30, grandes negócios em todos os países se opuseram ao aumento do emprego 
pelos gastos do governo, exceto na Alemanha Nazista. Isso podia ser claramente visto nos EUA (oposição ao 
New Deal), na França (Experimento Blum) e também na Alemanha pré-Hitler. Houve um claro aumento na 
produção e melhora nos benefícios não só para os trabalhadores, mas para os empreendedores também, visto 
que seus lucros aumentaram. A política do Pleno Emprego não afeta os lucros porque não envolve nenhuma 
taxação extra. 
As oposições das indústrias líderes ao Pleno Emprego atingido pelos gastos do Governo podem ser divididos 
em três categorias: (i) a desaprovação às interferências do Governo no problema do desemprego; (ii) a 
desaprovação ao direcionamento dos gastos do Governo; (iii) desaprovação às mudanças sociais e políticas 
resultantes da manutenção do pleno emprego. 
Pág.325 
Toda ação do Governo é vista pelos empreendimentos com suspeita, mas a criação de emprego pelos gastos do 
governo tem um aspecto especial que faz a oposição ser particularmente intensa. O nível de emprego depende 
do estado de confiança. Se esse estado se deteriora, o investimento privado cai e resulta numa queda da 
produção e emprego. Isso dá aos capitalistas um poder de controle indireto sobre as políticas do governo: tudo 
o que abala o estado de confiança precisa ser cuidadosamente evitado porque pode causar uma crise 
econômica. Mas assim que o Governo aprende o truque de aumentar o emprego via suas próprias aquisições, 
esse controle perde sua efetividade. Dessa forma, déficits orçamentários necessários para realizar a intervenção 
do governo devem ser considerados perigosos. 
A desaprovação por parte dos empreendedores à política de gastos do governo cresce ainda mais quando 
consideram os objetos nos quais o dinheiro deve ser gasto: investimento público e subsídios ao consumo em 
massa. Os princípios econômicos da invervenção estatal requer que o investimento público não seja 
concorrente ao investimento privado. Do contrário, a lucratividade do investimento privado pode ser debilitado 
e o efeito positivo do investimento público coompensa o efeito negativo do declínio do investimento privado. 
Pág.326 
Espera-se que os líderes industriais sejam mais a favor de subsidiar o consumo em massa do que do 
investimento público. Mas na prática, ocorre o oposto. Há aqui um princípio "moral" da maior importância que 
está em jogo. Os fundamentos da ética capitalista requerem que ''você deve ganhar o seu pão no suor " -a 
menos que você tenha meios privados. 
Mesmo que não houvesse oposição à política de criação de emprego pelos gastos do governo, a manutenção do 
pleno emprego causaria mudanças sociais e políticas que daria um novo ímpeto para a oposição dos líderes 
empresariais. De fato, sob pleno emprego, a posição social dos chefes seria minada e a auto-confiança e 
Pág.326 
consciência da classe trabalhadora cresceria. Greves pelo aumento de salário e melhorias nas condições de 
rabalho criariam tensão política. É verdade que os ganhos seriam maiores em pleno emprego do que o normal, 
e mesmo o aumento de salário causado pelo poder de barganha dos trabalhadores é menos provável de reduzir 
lucros do que aumentar os preços. Porém, a disciplina das fábricas e a estabilidade política são mais apreciadas 
pelos líderes industriais que os lucros. Seu instinto os diz que o desemprego é uma parte integral do sistema 
capitalista normal. 
Pág.326-
327 
Uma das principais funções do fascism era remover as objeções capitalistas do pleno emprego. A aversão à 
política de gastos do governo é superada no fascismo pelo fato de que a máquina do Estado está sob controle 
direto de uma parceria de grandes empresas de cunho fascista. Numa democracia, não se sabe como será o 
próximo Governo. No fascismo, não há próximo governo. Os gastos do governo, agora, se concentram nos 
armamentos. Finalmente, disciplina nas fábricas e estabilidade política sob pleno emprego são mantidas pela 
Nova Ordem, que vai desde a supressão de sindicatos até os campos de concentração. 
O fato de que os armamentos serem o cerne da política fascista de pleno emprego tem um grande influência 
em seu caráter econômico. Os armamentos induzem a expansão das forças armadas, a preparação de planos 
para uma guerra de conquista e o rearmamento de outros países. Como resultado, o emprego se torna saturado. 
O fascismo começa superando o desemprego, se desenvolve para uma economia armamentista e acaba 
inevitavelmente em guerra. 
Pág.327-
328 
Existem oposições por parte dos líderes industriais em três planos: (i) oposição contra os gastos do governo 
baseado no déficit orçamentário; (ii) a oposição sendo direcionada para o investimento público ou para o 
subsídio ao consumo em massa; (iii) a oposição contra a manutenção do Pleno Emprego e não somente a 
prevenção à quedas profundas e prolongadas. Porém, esses líderes não têm mais o luxo de se postar contra o 
Governo, por causa da contribuição de três fatores: (a) Pleno emprego durante a guerra; (b) o desenvolvimento 
da doutrina econômica do pleno emprego; (c) parcialmente como resultado dos dois itens anteriores, o slogan 
“desemprego nunca mais” está enraizado na consciência das massas. 
Nos atuais debates, existe a concepção de combater a queda estimulando o investimento privado. Isso pode ser 
feito diminuindo a taxa de juros, pela redução de impostos ou subsidiando o investimento privado diretamente 
de uma forma ou de outra. Esse regime é atraente para o empresário, mas se ele não sentir confiança na 
situação política, não aceitará o investimento. 
Pág.328-
329 
Isso mostra que o estímulo ao investimentoprivado não oferece um método adequado para prevenir o 
desemprego em masssa. Há duas alternativas a serem consideradas: (a) a taxa de juros ou os impostos (ou 
ambos) são reduzidos na queda e aumentados no boom. Nesse caso, tanto o periodo quanto o ciclo de negócios 
será reduzido, mas o emprego estará longe de ser pleno em qualquer situação, ou seja, o desemprego médio 
pode ser considerável, mesmo que suas flutuações sejam menores. (b) a taxa de juros ou impostos são 
reduzidos na queda mas não se elevam um boom subsequente. Nesse caso, o boom durará mais tempo, mas 
acabará numa nova queda: uma redução da taxa de juros ou nos impostos claramente não eliminam as forças 
que causa as flutuações cíclicas numa economia capitalista. Na nova queda será necessário reduzir os juros e 
impostos de novo e assim por diante. 
Há também uma dificuldade prática em combater o desemprego com o estímulo a investimento privado. Os 
empresários podem ter uma visão pessismista sobre o futuro e a redução da taxa de juros ou impostos podem 
ter pouco ou nenhum efeito sobre o investimento e, assim, sobre o nível de produção e emprego. 
Até os que acreditam no investimento privado acreditam que deveria ser associado ao investimento público, 
mas ainda são opostos à criação de emprego via consumo subsidiado e manutenção do pleno emprego. Nas 
quedas, o investimento público por empréstimos será feito para prevenir desemprego em larga escala. 
Pág.330 
O ciclo de négocios politico pode ser visto de duas formas: (i) ele não assegura um pleno emprego duradouro; 
(ii) a intervenção do Governo está ligada ao investimento público e não se liga ao consumo subsidiado. O que 
a massa quer agora é a abolição das quedas. Não querem a utilização de recursos em investimentos indesejados 
apenas para criar empregos. O resto do gasto do governo necessário para manter o pleno emprego deve ser 
usado para o consumo subsidiado. Os opostos aos gastos do governo dizem que o governo não terá mais no 
que gastar dinheiro, mas a resposta é que o resultado será um padrão de vida mais alto das massas. 
Pág.331 
O capitalism do pleno emprego terá que desenvolver novas instituições políticas e sociais que refletirão o 
maior poder da classe trabalhadora. Se o capitalismo não puder se ajustar, se mostrará um sistema que precisa 
ser demolido. Talvez a luta pelo pleno emprego leve ao fascismo. Talvez o capitalismo se ajuste para o pleno 
emprego, o que parece improvável.O fascismo se manteve na Alemanha assegurando pleno emprego enquanto 
a democracia capitalista falhou ao tentar. A luta das forças progressistas pelo pleno emprego é ao mesmo 
tempo um meio de prevenir a recorrência do fascismo.